Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Vamos falar sobre uma das etapas mais trabalhosas de uma revisão sistemática, que é a
extração.
Trata-se de um processo em que é feita a coleta das informações dos artigos incluídos,
pois bem, para evitar o viés de aferição, essa etapa é feita por dois pesquisadores, de
uma maneira independente, ou seja, um pesquisador vai coletar as informações
dos artigos e outro pesquisador também vai coletar as informações dos artigos.
Essas informações, então, são confrontadas e são resolvidas as concordâncias e
discordâncias para avaliar se a extração foi bem realizada.
É uma etapa muito trabalhosa e precisa de uma equipe engajada. Podemos utilizar papel
e caneta, softwares específicos, criar um banco de dados, usar planilhas eletrônicas para
o processo de extração, cada uma delas vai ter diferença de custo, na forma de
organização desses instrumentos, no planejamento, vai também determinar o processo
de análise e, não menos importante, também vai influenciar em como as concordâncias
e discordâncias serão realizadas.
Pois bem, também é possível usar softwares que façam a extração automática desse
conteúdo, entretanto, há uma evidência ainda escassa a respeito do desempenho desses
instrumentos.
Além do óbvio, ou seja, informações a respeito da população, intervenção ou exposição,
comparador, desfecho e tipo de estudo, há algumas nuances que é importante destacar
para facilitar o processo de concordância e discordância.
Por exemplo, no que se refere à população, faça um trabalho mais minucioso na coleta
de informações a respeito de critérios de inclusão e de exclusão, ou seja, os critérios de
elegibilidade usados nos artigos selecionados.
No que se refere à intervenção e à exposição, faça uma anotação cuidadosa a respeito,
por exemplo, da dose utilizada nos produtos que estão sendo analisados ou a respeito da
intensidade da exposição.
No que se refere ao desfecho, faça uma mensuração adequada a respeito de que critérios
foram utilizados, os parâmetros utilizados para aferir os desfechos e no que se refere aos
tipos de estudo, faça uma anotação minuciosa a respeito do delineamento, e isso
facilitará no processo de avaliação crítica.
É possível, também, na extração, um pesquisador coletar e outro conferir o
resultado, mas isso exige uma maturidade da equipe.
Estudos vs publicações
Dados faltantes
Registro da extração
É boa prática prezar pelo registro seguro e organizado dos dados extraídos, bem como o
permitir o acesso e compartilhamento de dados futuros. Para essa tarefa, usualmente se
trabalha com planilhas, formulários eletrônicos ou softwares específicos (ex: Microsoft
Excel, Google forms etc). Criar um dicionário de variáveis e detalhar procedimentos e
transformações adotadas auxilia nesse processo.
O melhor cenário para a extração de dados exige a criação de formulários de fácil
manipulação, compartilhamento e seguros. A informação coletada deve representar
fielmente o que foi relatado nos estudos incluídos de maneira estruturada e organizada.
Um bom planejamento dessa etapa permitirá identificar os dados necessários para as
sínteses quantitativas.
Compartilhamento do banco de dados
Referência
1. Deeks JJ, Higgins JPT, Altman DG (editors). Chapter 10: Analysing data and
undertaking meta-analyses. In: Higgins JPT, Thomas J, Chandler J, Cumpston M, Li T,
Page MJ, Welch VA (editors). Cochrane Handbook for Systematic Reviews of
Interventionsversion 6.0 (updated July 2019). Cochrane, 2019. Available from
www.training.cochrane.org/handbook.
T: é relativamente comum, então a gente tem visto bastante estudos na área de revisão
sistemática que não procedem para a próxima etapa que é a combinação estatística
dessas estimativas porque os pesquisadores têm algum receio, ou algum tipo de
inabilidade metodológica de converter todos os dados disponíveis naqueles dados que
nós precisamos usar metanálise, então só pra gente exemplificar, tipicamente quando a
gente conduz uma metanálise de dados contínuos a gente precisa do tamanho
amostral, da média, e do desvio padrão de cada grupo tipicamente isso é, relativamente,
frequente. Ocorre que os trials, os estudos clínicos, eles não relatam exatamente essas
três entidades estatísticas mas eles relatam outras formas, por exemplo, a diferença
média comparado com o baseline, a mediana, o intervalo interquartil, entre outras
estatísticas. Quando os revisores não tem uma expêriencia tão aprofundada na área de
metanálise a tendência é excluir esses dados que não são prontamente aplicáveis dentro
do contexto meta-analítico, e a gente sabe que excluir estudos que deveriam ser
incluídos causa viés, causa a modificação na estimativa sumária e reduz o nosso poder
estatístico.
E: E qual abordagem metodológica que você recomenda então frente a esses casos,
frente a ausência de dados prontamente utilizáveis para a metanálise?
T: Aí é uma decisão que varia de caso a caso, mas antes de nos discutirmos qualquer
tipo de metodologia, é super importante pra quem ta começando na área, pra quem ja
conduz revisões sistemáticas saber que não devemos excluir estudos pertinentes mas
que não relatam os dados úteis metanálise, então a primeira metodologia, ou neste
caso, a minha primeira recomendação é incluir todos os estudos e discute aqueles onde
não foi possível extrair os dados, termos de metodologia e estatística existem
vários métodos existem metodologias frequentistas, existem metodologias bayesianas e
todas são relativamente acuradas quando nós assumimos as premissas corretas, o que
nem sempre é o caso na prática.
T: Sim, a gente sabe que quando a gente usa algum tipo de metodologia
adequada, quando aplicada de modo consciente, a gente consegue obter estimativas que
são confiáveis. Quando a gente inclui todos esses estudos, aqueles com
dados prontamente disponíveis e aqueles com dados imputados, a gente obtém
estimativas menos enviesadas com uma precisão mais aprimorada e, portanto, poder
estatístico maior. Existem alguns estudos na literatura, todos apontam para a mesma
direção, é melhor imputar do que excluir, qual que é a recomendação prática que a gente
faz dentro das nossas atividades?
A gente usa duas ou mais metodologias de imputação, quando pertinente, quando
apropriado, e compara a robustez dos nossos resultados. Se os resultados após a
imputação forem consistentes nos dois ou mais diferentes métodos de imputação, a
gente tem uma maior credibilidade de que aqueles resultados gerados estão adequados.
E: Então Tiago, pros nossos alunos que querem aprender pouco mais, entender pouco
mais sobre essas técnicas ou entender o impacto delas, que sugestões você daria?
T: É uma área que, a gente sabe Thaís, que demanda mais investigação. Tanto
metodológica quanto empírica, então é uma área que poderia ser mais bem explorada no
contexto nacional, dentro das revisões sistemáticas do Brasil. E pra quem quer aprender
mais existem basicamente os artigos científicos que discutem mais a fundo essas
metodologias, e o handbook da Cochane que dá uma visão bastante pragmática do que a
gente deve fazer e não fazer na prática.
RISCO DE VIÉS DE ESTUDOS PRIMÁRIOS
Risco de viés
Avaliação da qualidade
Revisões sistemáticas são utilizadas para orientar processos de tomada de decisão. Uma
forma de distinguir revisões sistemáticas das outras formas de síntese justamente é
averiguar se houve algum processo de apreciação crítica dos estudos que foram
incluídos.
Esse escrutínio é conhecido como avaliação do risco de viés. Viés, aqui, refere-se a
erros sistemáticos, ou seja, a ocorrência de uma tendência (proposital ou não) de se
desviar da verdade.
Tenha como analogia um controle de qualidade de um processo industrial: o que
aconteceria em uma fábrica de suco se não houvesse uma separação daquelas
inapropriadas para consumo? Em uma linha de produção, a qualidade é baseada no
cumprimento de requisitos. Tais propriedades satisfazem, pelo menos em princípio, as
expectativas do usuário final e de órgãos de regulação.
Ao exemplificamos com o processo fabril de um suco o entendimento do controle de
qualidade é fácil de compreender, pois se refere a características que são inspecionáveis,
como aspectos físico-químicos (% de polpa, acidez), propriedades organolépticas
(sabor, cor, aroma), quantificação microbiológica (bactérias, fungos) e averiguação das
práticas de produção (uso de agrotóxicos, aditivos). São critérios definidos a priori e
que são testados para garantir a qualidade.
O segundo desafio trata-se de que muitos dos conceitos usados na apreciação crítica
exigem qualificação prévia da equipe de revisão. Assim como o controle de qualidade, a
apreciação crítica da evidência tem sua técnica específica. Revisores pouco
familiarizados tem percepção abstrata da relevância e da potencial influência que
eventuais desvios na condução do estudo impactam nos resultados finais.
Os autores de revisões sistemáticas devem julgar como eventuais vieses influenciam os
resultados encontrados, ou seja, avaliar como essa tendência de erro pode submestimar
ou superestimar os achados. A forma de investigar o risco de viés depende da pergunta
de interesse e precisa ser previamente especificada no protocolo da revisão sistemática.
Pareamento, análise
Incidência Coorte Representatividade Instrumento*
multivariada
Pareamento, análise
Fatores de risco Caso-controle, coorte Representatividade Instrumento*
multivariada
Pareamento, análise
Etiologia Caso-controle, coorte Representatividade Instrumento*
multivariada
Ensaio clínico
Prevenção Sigilo da alocação Cegamento Randomização
randomizado
Ensaio clínico
Tratamento Sigilo da alocação Cegamento Randomização
randomizado
Ferramentas para avaliação crítica de estudos
Há esforços em avaliar quais instrumentos são os mais adequados para cada tipo de
delineamento, considerando a grande diversidade de checklists disponíveis. Vale a pena
avaliar os resultados dessas pesquisas para elencar a ferramenta mais adequada para
avaliar criticamente cada tipo de estudo¹ ².
Referências
1. Quigley JM, Thompson JC, Halfpenny NJ, Scott DA. Critical appraisal of
nonrandomized studies-A review of recommended and commonly used tools. J
EvalClin Pract. 2018;25(1):44-52. doi: 10.1111/jep.12889.
Referências
1. Banzi R, Cinquini M, Gonzalez-Lorenzo M, Pecoraro V, Capobussi M, Minozzi S.
Quality assessment versus risk of bias in systematic reviews: AMSTAR and ROBIS had
similar reliability but differed in their construct and applicability. J Clin Epidemiol.
2018;99:24-32. doi: 10.1016/j.jclinepi.2018.02.024.
2. Pieper D, Puljak L, González-Lorenzo M, Minozzi S. Minor differences were found
between AMSTAR 2 and ROBIS in the assessment of systematic reviews including
both randomized and nonrandomized studies. J Clin Epidemiol. 2019;108:26-33. doi:
10.1016/j.jclinepi.2018.12.004.
E: É, a sua carreira de pesquisa então iniciou na pesquisa básica, como você falou,
farmacologia. E como se deu esse processo então de passar dessa área para realizar
pesquisas aplicadas, pesquisas em seres humanos, pesquisas com revisões sistemáticas?
L: Então, isso aconteceu durante o meu convite para trabalhar junto ao Ministério da
Saúde e, na realidade, a gente já vinha buscando trabalhar com a parte clínica. Por
quê? Porque quando você é professor de farmacologia ou farmacodinâmica, você não
pode só ficar trabalhando com mecanismo de ação. Meu Deus do céu. Nenhum paciente
vai chegar na farmácia lá: " eu quero saber o mecanismo de ação desse fármaco". Então,
você tem que saber, você tem que saber linkar quando que o conhecimento biológico do
mecanismo de ação, ele é importante para tomada de decisão clínica com base nos
estudos epidemiológicos. Então, eu sentia muita, muita vontade de conhecer pouco
melhor os desenhos epidemiológicos que pudessem subsidiar o conhecimento da parte
farmacológica que eu tinha, que na realidade eu conhecia e conheço ainda pouco do
mecanismo de ação dos fármacos. Mas tem gap, tem uma janela muito grande entre
você ter um medicamento que reduza a pressão arterial porque ele é vaso dilatador e
realmente ele reduz ... alguns disfechos que são importantes, como a
mortalidade. Então, por exemplo, nifedipino, que a gente usou muito tempo Adalat
para diminuir a pressão arterial, a gente sabe hoje que ele é fármaco que aumenta o risco
de mortalidade, principalmente em determinados grupos de pacientes. É mesma coisa
que tratar qualquer dor e tal. Então, não basta você ter o conhecimento da categoria do
fármaco, do mecanismo de ação dele. Você tem que saber interpretar estudos
clínico, avaliar criticamente e a aplicabilidade dele para a saúde pública.
E: Que aprendizados você tira então? Porque eu acho que é uma coisa muito completa
de ter tido experiência nessa área básica e agora na avaliação de tecnologias e
saúde, condução de revisões sistemáticas...
L: Olha, eu tenho uma opinião bastante crítica nisso. Por exemplo, a minha
formação, ela foi aquém daquilo que o farmacêutico precisa hoje, entendeu? Naquela
época, a gente voltava muito para o conhecimento da área básica. Hoje, eu vejo que
falta na formação, principalmente do farmacêutico, eu não posso dizer dos outros
cursos, mas no curso que eu estou mais envolvida, uma formação forte em avaliação de
tecnologia e saúde, forte em estudos epidemiológicos e forte em sabe no quê? De uma
farmacoterapia baseada evidência. Eu acho que farmacêutico fica muito preocupado
follow-up de farmacoterapia, mas o que ele tem que entender é fazer uma boa análise
crítica da literatura e usar os formulários que existem padronizados e validades para
fazer o seguimentos do paciente, mas ele tem que saber, ele tem que saber de clínica, ele
tem que saber daquilo que realmente funciona, e qual é a primeira, a segunda, a terceira
linha de tratamento? Embora isso seja trabalho do médico, não é só do médico. Quando
você faz follow-up do paciente, você precisa ter na sua cabeça o guideline, você tem
que ter na sua cabeça aquilo que realmente tem evidência, aquela evidência que foi
produzida com base conflito de interesse. Eu acho que eu resgato de todo esse
conhecimento é quais são os cursos hoje que no Brasil a gente pode dizer que o
professor de farmacologia, de farmacodinâmica realmente conhece esse trabalho clínico
e não fica trabalhando só com mecanismo de ação? Quais são os cursos que integram a
epidemiologia ou a avaliação tecnologia e saúde na farmacoterapia ou na
farmacodinâmica? Então, eu acho que isso para mim, por exemplo, eu revi toda a minha
forma de dar aula na graduação. Hoje, o meu formato de aula na graduação implica que
eu trabalho farmacocinética, farmacodinânica, mecanismo de ação, mas eu tenho,
necessariamente, que trabalhar quais são os desfechos que existe benefício no
tratamento usando aquele grupo farmacológico ou, especificamente, se não for efeito de
classe ou efeito daquele fármaco sobre a doença do paciente.
E: É, e o que é que você acha dessa área, então, juntando as duas áreas, aplicar revisões
sistemáticas na pesquisa básica, né? Você acha que é comum, por exemplo, antes de
delinear projeto de pesquisa original, de bancada, os grupos, por exemplo, se
debruçarem sobre a literatura e também planejarem uma revisão sistemática para então
desenhar melhor esse projeto dentro de uma lacuna de conhecimento, por
exemplo? Você acha que tem demanda desse tipo de revisões nessa área?
L: Nossa, se você olhar pouco a literatura que é produzida na bancada. Tem, eu posso
até te mostrar alguns slides, eu não sei se você vai querer ver os resultados, mas, por
exemplo, os estudos de bancada, eles têm viéses imensos e eles não conversam entre
si. O que pesquisador usa de dose ou o modelo que ele usa... ele pode até usar modelo
padronizado para estudar edema, que é dos sintomas do processo inflamatório, como
edema de pata ou efeito analgésico em cauda, etcetera. Então, tem vários modelos
experimentais aí. Ou úlcera induzida por etanol, úlcera induzida por algum
antinflamatório e tal. O que acontece é, você não tem ensaios animais
cegos, randomizados, é com análise estatística cega, realmente controlado a análise
como ela precisa ser feita e há uma preocupação que o modelo esteja seguindo o certo,
mas não há uma preocupação... E que todo o estudo esteja correto. Então o que a gente
percebe? Eu ja fiz umas duas, três revisões sistemáticas, a gente tá terminando de
rodar. É muito difícil você fazer uma metanálise disso. Porque a forma de coletar o
dado, ou de colocar o dado na tabela, ela é muito diferente de grupo pro outro, os
experimentos faltam informações que são importantes. O pesquisador acabou matando o
animal ou não reportando quando o animal morreu devido ao tratamento, os tratamentos
são administrados antes da indução, então você não tem realmente certeza se aquele
efeito se comportaria novamente da mesma forma depois que a pessoa já está com a
doença instalada. Então na realidade você tem, enquanto os estudos em animais são
feitos em um único laboratório, quando voce compara com o estudo clínico voce tem
estudos que são multicêntricos, voce tem uma consistência, uma robustez de estudo
clínico maior, então eu acho que é uma carência muito grande de estudos de revisões
sistemáticas consistentes, para que isso balize o próximo experimento do pesquisador
que vai para a bancada, e isso diminui o número de animais, diminui o número de
esforço jogado ao vento, já que pode existir uma literatura melhor sobre isso.
Isso respaldaria pesquisas que são translacionais, ou seja, onde a gente revê o uso de
medicamento que aparece efeito um pouquinho diferente, como foi o caso da
Talidomida, que a gente reinventou o uso da Talidomida. Acho que se a gente tivesse
prestado atenção pouco nos experimentos em animais ou feito uma boa revisão
sistemática avaliando a qualidade do estudo, que já mostravam esses aspectos
antes, agente pouparia tempo enorme e avançariamos em termos de ciência. Se você
olhar, tem pouca revisão sistemática feita em animal, você tem dois grupos importantes
no mundo, você tem o grupo do SYRCLE, que é na Holanda, e é junto com o pessoal da
Inglaterra e da Austrália, fundaram o grupo dos CAMARADES, e eles pularam alguns
checklists, algumas ferramentas para fazer a avaliação crítica de estudos em animais.
O nosso grupo está se capacitando para isso. Quais são os desafios para isso? Formar
pesquisador competente em fazer essa análise crítica. Sim. Entender, porque uma coisa
é o epidemiologista olhar pro estudo clínico, você ter médico ali ou especialista naquela
área e te ajudar a enxergar que desfechos além daqueles importantes de
hospitalização, mortalidade, seriam importantes para uma determinada
condução, porque os experimentos animais trabalham muito com desfechos
substitutos, que é medir epidemia, que é medir pressão arterial, e isso a gente sabe que a
gente precisava trabalhar, por exemplo, com indução de pressão. Até existem ratos já
modificados geneticamente que são hipertensos, mas precisava estudar pouquinho os
desfechos que são importantes. Ou seja, quanto tempo demora pro rato desenvolver uma
lesão renal, quanto tempo demora para uma mortalidade devido a evento cardiovascular
no animal, não tem quase estudos dessa natureza. Os estudos são, 14 dias, 20 dias, tudo
controlado no laboratório, e para medir desfecho substituto. Então falta gente
competente para desenhar os estudos da área básica, se você olhar alguns papers da área
básica você vê que falta objetivo, falta pergunta na pesquisa, e se você olhar teses,
dissertações, faltam perguntas nessas teses, dissertações que envolvam uma pesquisa
que pode ser por ventura utilizada mais adiante num estudo clínico e daria origem a
estudo clínico
E: É, e eu fico imaginando Lu, do mesmo jeito que você teve então, ao longo da sua
carreira, o contato com isso e percebendo essas fragilidades, eu vejo também o grande
potencial de uma pessoa, que ela pesquisa a base, que vai elaborar uma revisão
sistemática, de ela se apropriar disso e perceber que essa variabilidade é grande. Porque
muitas vezes está, como você falou, inserido num contexto de laboratório, e é assim que
é feito, mas vamos verificar a comparabilidade e vamos verificar as lacunas de
conhecimento, então eu vejo que aí tem potencial muito grande de a área crescer e ter
esse aprendizado, se a gente for ver lá atrás a área de epidemiologia clínica também era
super heterogênea, até aparecer os checklists, enfim. Você falando aí eu até me lembrei
de comentário que o professor Douglas Altman, que já faleceu, ele fala que ele fazendo
no Journal Club dele sobre ensaio clínico que disse assim: "os pacientes foram mais ou
menos randomizados". E aí ele escreveu pro editor da revista e falou "olha, não dá pra
ser isso", e o editor meio que ignorou, e isso ai lá atrás, e ai depois então o Douglas
Altman liderou, por exemplo, a iniciativa CONSORT para ajudar no relato de ensaios
clínicos, e hoje dia ninguém vai conseguir escrever que os pacientes foram "mais ou
menos randomizados". Então eu acho que é uma evolução natural, e eu acho que a sua
carreira também mostra isso, que é possível a gente melhorar, aprender com as outras
áreas também. Assim como a área da saúde também pode aprender com outras áreas
que, por exemplo, fazem a análise totalmente cega, faz a análise estatística sem
saber qual é o grupo, que é uma forma também da gente super induzir os resultados.
E: Verdade. Lu, gostei muito de conversar com você, e eu queria que você deixasse
então algum comentário adicional, alguma dica, sugestão, pros nossos alunos aqui do
curso.
L: Então, olha só, a gente tá tentando desenvolver metodologias nessa área, a gente tá na
3ª revisão sistemática com nosso grupo, e se vocês quiserem se associar a nós serão
super bem-vindos. É um trabalho de formiguinha, porque na realidade precisa formar,
capacitar, para depois essas pessoas talvez trabalharem no laboratório, ou com seus
grupos, capacitá-los para formar uma equipe que faça os ensaios experimentais pré-
clínicos de forma adequada para poder ser utilizado nessas revisões que vão subsidiar
outros pesquisadores, mas deixo meu contato aí e vamos trabalhar juntos.