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A HABITAÇÃO DE MADEIRA COMO OPÇÃO PARA O SÉCULO XXl: PROJETO

MODULAR EM MADEIRA DE REFLORESTAMENTO

STINGHEN, Andréa Berriel Mercadante


Professora auxiliar substituta UFPR, mestre em Arquitetura/arquiteta – e-mail: andreaberriel@aol.com; Rua
Benjamin Constant, 350 / ap. 501. Bairro Alto da Glória – CEP 80060-020 – Curitiba-PR - Tel/Fax + 41 362-
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RESUMO
O déficit habitacional brasileiro, somado à incessante degradação do meio ambiente, demandam soluções
tecnológicas para moradia que agreguem habitabilidade e economia; esta vista não apenas como economia
financeira, mas sobretudo como economia de recursos naturais. Nesse contexto, a madeira de reflorestamento
surge como uma alternativa para o desenvolvimento de tecnologias mais adequadas à produção habitacional,
visando a um modelo de produção que utilize recurso renovável. Objetivando o desenvolvimento de moradias de
baixo custo e baixo impacto ambiental, para a região rural de Curitiba, desenvolveu-se um projeto, em parceria
com a EMBRAPA, com os seguintes objetivos: a) ser construído pelo pequeno proprietário rural, com o uso de
uma serraria portátil, em sistema de autoconstrução ou mutirão; b) atender aos quesitos de segurança, conforto,
flexibilidade e economia. O modelo foi desenvolvido usando coordenação dimensional, com sistema estrutural
independente, gerado a partir de uma malha tridimensional e construído em eucalipto, e com vedação por meio
de painéis de bracatinga que se encaixam à estrutura. O sistema construtivo proposto mostra que através de
decisões projetuais simples, pode-se melhorar o desempenho e durabilidade deste material renovável e de grande
potencial para o futuro que é a madeira de reflorestamento.
Palavras-chave: casa de madeira modular, painéis, EMBRAPA, desenvolvimento sustentável.

ABSTRACT
The Brazilian dwelling shortage, in addition to the permanent degeneration of the environment, requires
tecnological housing solutions that associates housing conditions and economy: this economy must be seen not
only as a financial economy, but over all as natural resources economy. In this setting, reforestation wood
appears as an alternative for the development for more sentable tecnology for housing production, seeking a
model of production that makes use of a renewer resource. Having as purpose the development of low price and
low environmental impact housing, for the rural area of Curitiba, it has been developed a project in partneroship
with EMBRAPA (Brazilian Enterprise of Agropecuary Search) with the following purpose: a) a house to be built
by the small landowner using a portable sawmill, in self or mutual building; b) attending security, comfort,
flexibility and economic requirements. The model was developed using dimentional coordination, with an
independent structural system, produced from a tridimentional mesh and built in eucalyptus, and the blocking
through bracatinga panels that cases to the structure. The proposed constructive system shows that through
simple projectual decisions, one can improve the performance and remaining of this renovating material of great
potential for the future that is reforestation wood.
Keywords: modelar wooden house, panels, EMBRAPA, sustained development.

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INTRODUÇÃO
O crescente déficit habitacional brasileiro está ligado a aspectos políticos, tecnológicos, econômicos e sociais. O
estudo e desenvolvimento tecnológico, podem auxiliar para que se produza habitações mais dignas e de custo
menos elevado. Dentro desse contexto, o desenvolvimento de sistemas construtivos e componentes que utilizem
a madeira de reflorestamento como componente básico se apresenta bastante promissor, respaldado em baixo
consumo de energia no processo de produção e por se tratar de recurso renovável.
Através de parceria entre a autora e a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária / Centro
Nacional de Pesquisas de Florestas), realizou-se pesquisa que permitiu esboçar as diretrizes projetuais para um
modelo de habitação, a ser construído na escala 1:1. O modelo foi projetado de modo a ser construído pelo
pequeno e médio produtor rural, com o uso de uma serraria portátil, em sistema de autoconstrução ou mutirão.
Tal sistema foi desenvolvido usando coordenação dimensional, com sistema estrutural independente, gerado a
partir de uma malha tridimensional e construído em Eucalyptus dunni. A vedação acontece a partir de painéis
leves, construídos com bracatinga ou Mimosa scabrella Benth que são encaixados e pregados à estrutura de
eucalipto. Este projeto faz parte de um projeto da EMBRAPA que visa fornecer tecnologia para o pequeno e
médio produtor rural, evitando assim o êxodo para as cidades, um dos fatores agravantes do déficit habitacional.
O sistema construtivo proposto atende à demanda de flexibilidade na habitação visto que pode ser facilmente
ampliado ou reduzido como também a planta pode ser engendrada de diversas maneiras de acordo com as
necessidades dos usuários e características do terreno.
De acordo com MASCARÓ (1998), dificilmente se encontrará uma doutrina arquitetônica que refute a
necessidade ou conveniência de serem adotadas, no projeto arquitetônico, critérios de racionalização construtiva.
Na prática do ensino de projeto, no entanto, costuma-se negligenciá-los. Aparentemente, há uma convicção, nem
sempre respaldada por uma sustentação teórica consistente, de que a excelência arquitetônica e a economia na
construção não são convergentes.
Este trabalho tem o objetivo de mostrar que economia e qualidade podem ser convergentes e que através de
decisões projetuais simples pode-se melhorar o desempenho e durabilidade deste material renovável e de incrível
potencial para o futuro que é a madeira de reflorestamento. Espera-se demonstrar que a madeira é uma
alternativa viável para habitação no século XXl.

SISTEMA CONSTRUTIVO MODULAR PARA A CONSTRUÇÃO DE CASAS DE MADEIRA


Diretrizes projetuais
O projeto deverá adequar-se ao fato de que a casa será construída pelo próprio morador, com o uso de uma
serraria portátil modelo Woodmizer LT30HD (Figura 1) para o desdobro da madeira dentro da propriedade rural.
Desta maneira, deverão ser evitados no projeto encaixes complicados, que demandem mão-de-obra
especializada, bem como materiais complementares que não sejam encontrados facilmente em qualquer loja de
materiais de construção.

Figura 1 – Serraria portátil Woodmizer LT30HD.

Segundo MASCARÓ (1998), “o uso racional das formas e materiais de construção sempre foi uma das
características mais importantes dos edifícios e assentamentos vernaculares, geralmente produzidos em situações
de escassez econômica, na qual a necessidade de sobreviver e de otimizar ao máximo os recursos disponíveis,
exerce forte influência nas decisões arquitetônicas. O desperdício não existe na tradição dessas culturas que
deixaram exemplos paradigmáticos de edificações economicamente corretas.”
Este trabalho, numa etapa que antecedeu ao projeto, fez um levantamento histórico, construtivo e tipológico das
casas de madeira no Paraná. Tanto o repertório tipológico estudado, quanto as características das madeiras
empregadas transformaram-se em ferramentas de design e, portanto, o resultado formal do modelo proposto
condensa algumas das características encontradas na pesquisa.

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O Sistema Construtivo
A idéia, ao se optar por trabalhar com coordenação dimensional, era de criar um sistema construtivo flexível, que
pudesse variar amplamente, desde a habitação mínima para uma pessoa, até programas mais complexos de
habitação uni e multifamiliar. O objetivo é que a casa possa ser modificada quantas vezes forem necessárias,
com acréscimo e subtração de módulos, para atender às necessidades dos usuários.
A elaboração dos módulos do protótipo partem da idéia de “containers”de espaço, cubos com a medida interna
de 226x226x226cm; que é a medida do homem em pé com o braço erguido, do modulor, série azul, de Le
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Corbusier que dá origem à uma série áurea de medidas.Um módulo tem 5,10m . A partir daí, é possível
estabelecer um grande número de composições, respondendo às mais variadas demandas.
Uma vez definido o espaço de cada módulo, partiu-se para a elaboração de seus componentes. De acordo com a
JUNTA DEL ACUERDO DE CARTAGENA (1980), a coordenação modular caracteriza projetos e construções
de edifícios racionalizados e produzidos segundo as bases de um sistema industrial. Têm grande importância
para construções com madeira, pois sua aplicação melhora a eficiência e economia de produção, comercialização
e transporte e evita desperdícios. Este sistema foi desenhado de modo a permitir que sua construção seja
feita tanto pelo próprio usuário, como também por processos semi - industriais e industriais.
O mais conveniente seria então, usar painéis constituídos por elementos de madeira, montados previamente e
apenas encaixados uns aos outros no canteiro de obras. O sistema escolhido foi o de CONSTRUÇÃO POR
PAINÉIS. No entanto, existe uma estrutura independente, na qual os painéis são encaixados. A medida dos
módulos estabelece uma malha tridimensional, que será materializada pela estrutura de eucalipto. Os painéis
serão executados em bracatinga.
Inicialmente foram trabalhados painéis de 113x226cm, mas com o passar do tempo, chegou-se à conclusão de
que painéis menores seriam mais facilmente montados e transportados, mesmo que o transporte se resumisse a
poucos metros, do barracão em que são confeccionados ao canteiro de obras. Finalmente, os painéis foram
definidos : 75x226cm. Essas medidas dos painéis também são mais adequadas à bracatinga, cujo desdobro
resulta em peças de seção reduzida. Cada vão de 226x226cm é preenchido por três painéis. Com esta medida de
painéis também será possível montar espaços com 3,00x3,00x2,26m, onde, ao invés de três são utilizados quatro
painéis em cada lado.
Foram elaborados três tipos de painéis:
a)Painel cego a-) externo
b-) interno
b)Painel brise soleil
c)Painel janela de guilhotina e ventarola.
O esqueleto dos três tipos de painéis é o mesmo, constituído por caibros (5x5cm) como pode ser observado nos
esquemas que se seguem.
a) Painel cego
Para a vedação externa do painel cego é utilizado o sistema de tábuas e mata-junta, pois o posicionamento da
madeira na vertical, proporciona maior durabilidade, possibilitando a secagem mais rápida do painel após ser
atingido pelas chuvas. A Figura 2 ilustra este tipo de painel.

Figura 2 – Painel Cego para paredes externas.

A face interna é revestida por tábuas pregadas na horizontal, pois não entram em contato com as chuvas e assim,
em seções reduzidas, há um melhor aproveitamento da bracatinga, ou outra madeira qualquer utilizada no

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processo. Para a construção de cada painel cego para paredes externas são necessários 0,137m3 de madeira e
para os internos 0,122m3. Os painéis cegos internos têm os dois lados revestidos por tábuas pregadas na
horizontal, como pode ser observado na Figura 3.

Figura 3 – Painel Cego para paredes internas.

Através da formação de um “colchão de ar” entre as duas faces dos painéis, obtém-se um componente isolante,
uma vez que o ar é um isolante térmico. A capacidade isolante – tanto a térmica quanto a acústica – pode ser
incrementada, pela colocação de alguns materiais neste espaço, como lãs de vidro, o isopor, a cortiça. Esses
materiais apresentam um custo elevado, mas podem ser reciclados.
b) Painel brise soleil
Nesse painel, que pode ser observado na Figura 4, a estrutura de caibros é preenchida por ripas dispostas na
horizontal, que servem para diminuir o ofuscamento ocasionado pelos raios solares, bem como conferir uma
permeabilidade dosada no contato entre algumas áreas da casa e o exterior.
Esse tipo de painel necessita ainda de uma vedação interna, pois não é hermético com relação à chuvas e ao
vento. Há várias possibilidades de se proceder a esse fechamento interno, das quais serão descritas três: a
primeira e mais cara é a colocação de painéis de vidro, deslizantes, do lado interno dos painéis, a segunda é a
colocação de painéis feitos com a própria madeira, que podem ter aberturas quadradas de vidro (75x75cm) em
qualquer das três alturas dos vãos do painel, e a terceira é a utilização de telhas onduladas translúcidas, dispostas
na face interna dos painéis, permitindo a passagem de luz . Para este tipo de painel são necessários 0,037m3 de
madeira.

Figura 4 – Painel Brise Soleil.

Os painéis brise soleil podem ser utilizados de duas maneiras nos projetos: fixos ou basculantes. No primeiro
caso, eles serão fixados na estrutura principal e uns aos outros através de pregação e no segundo caso, eles terão
um sistema de roldanas que os faz abrir para o exterior, transformando-se assim em “pergolados” ou ripados,
muito agradáveis no verão, como é visto na Figura 5.

Figura 5 – Painéis Brise Soleil basculantes, paredes que se abrem.

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c) Painel janela de guilhotina e ventarola.
Esse painel possui um espaçamento diferente dos dois primeiros na estrutura de caibros, como pode ser
observado na Figura 6. Utiliza-se, no entanto, das mesmas peças. Até um terço da altura, o painel é fechado com
tábuas e mata-junta. Dali para cima, estão as aberturas, a de baixo, janela de guilhotina, numa analogia com as
casas de madeira do Paraná, estudadas anteriormente. Em cima, uma janela basculante, cujas dimensões e
posicionamento também trazem reminiscências das bandeiras fixas sobre portas e janelas das casas de madeira
de araucária de Curitiba. Para este painel são necessários 0,068m3 de madeira.

Figura 6 – Painéis Janela de guilhotina e“ventarola”.

Para o cálculo das tolerâncias dimensionais no projeto desenvolvido durante esta pesquisa, utilizaram-se as
medidas nominais, que são medidas preliminares adotadas na fase de projeto. Essas medidas são acrescidas e
deduzidas de valores para se chegar às medidas de serviço dos espaços e componentes. Para se estipular um
número a ser adotado em projeto para as tolerâncias, partiu-se da medida nominal horizontal do vão estrutural
226cm e, adotando-se como variação dimensional (+ e -) 1cm para o vão estrutural, respectivamente tem-se
como medida máxima 227cm e mínima 225cm horizontalmente. Para a escolha do módulo horizontal, adotou-se
a menor medida do vão estrutural (225cm). Esse vão dividido em três módulos resulta em uma medida de 75cm.
Admite-se, portanto, uma junta entre os módulos e entre estes e o vão estrutural de 0,5cm até 0,225cm. Para a
escolha do módulo vertical (medida do vão vertical 226cm), subtraiu-se o mesmo valor (0,3cm) da diferença do
módulo horizontal adotado como medida do vão horizontal resultando na medida de 225,7cm.

O Sistema Construtivo Aplicado a uma casa de 60m2

Figura 7 – Perspectiva
da casa de 60m2

Foi-nos oferecido, para a construção do protótipo, um terreno dentro da EMBRAPA, em Colombo, região
metropolitana de Curitiba. O terreno tem uma declividade no sentido noroeste de ~7%, e as visuais para o Norte
são as mais belas, abrindo-se para um gramado com bosques de araucárias ao fundo. Estas condições favoráveis
quanto à insolação, indicaram que se optasse por um eixo de circulação no sentido leste-oeste, que possibilitasse
que todos os ambientes da casa se abrissem para o norte..
A planta se organiza de forma tal que as áreas de convívio e repouso são separadas por um pátio. Os módulos,
inicialmente dispostos de maneira linear, ganharam recortes por causa do pátio. Um grande deck de madeira
abraça a área de convívio, convidando para que se visite a paisagem e aos banhos de sol.
A fundação segue a tradição da maioria das casas de madeira vernaculares: pilares de tijolos onde se apóiam as
vigas do quadro inferior. Esse tipo de fundação se adapta a terrenos planos ou não, são pilaretes de tijolos,
apoiados em brocas, distanciados a cada 226cm em ambas direções. Apesar de trabalhoso, CRUZEIRO e INO
(2000) ressaltam que esse tipo de fundação permite a ventilação inferior da edificação, inibindo a umidade por

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capilaridade. O bloco de serviço é construído em alvenaria. A Figura 8 ilustra a seqüência de montagem de um
da casa de 60m2

Figura 8 – Perspectiva da seqüência de montagem (da esquerda para direita/de cima para baixo): A- Fundação;
B- Vigas principais; C- Vigas secundárias; D- Vigas e caibros de travamento; E- Assoalho; F- Esteios; G-
Cobertura; H- Painéis.

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Serão sugeridas, na cartilha para o proprietário rural, alternativas com bambu, para uso como telhas e manilhas
coletoras de água dos telhados. As telhas poderão ser feitas com bambu cortado e serrado ao meio e utilizadas
como capa e canal. Zenitais poderão ser abertos entre elas, com materiais translúcidos reciclados, como garrafas
pet cortadas ao meio e também colocadas como capa e canal. Como esse modelo foi desenvolvido para o
pequeno e médio proprietário rural, fez-se oportuno que houvesse a possibilidade de que a maior parte dos
componentes construtivos fossem produzidos na própria propriedade em que é produzida a madeira e onde será
construída a casa.

Figura 9 – Perspectiva
da casa, fachada norte

A necessidade atual de poupar energia trouxe uma reavaliação do papel da envolvente, começando a ser
entendido como um limite dinâmico, onde interagem as energias naturais exteriores e o ambiente interior. A
solução dos espaços habitáveis não é mais um problema fechado em si mesmo. Analisa as manifestações
climáticas circundantes e delas se protege ou tira vantagens, exp lorando-as para obter um máximo de conforto
com um mínimo de consumo. Coloca-se assim, uma dimensão operativa diferente, de natureza interdisciplinar,
para a qual concorrem todas as definições, os dados do entorno, sem excluir os dados culturais que provêm das
estratificações históricas do sítio. Todos os dados passam a se comunicar dentro do processo de decisões e
retroações.
Segundo MENDONÇA et al. (2000), “a maximização das potencialidades associadas a um correto estudo da
envolvente dos edifícios, com a otimização dos ganhos solares no inverno e minimização destes no verão,
permite atingir níveis de conforto aceitáveis durante todo o ano, reduzindo e, em algumas situações, eliminando
na totalidade, o recurso a sistemas mecânicos de controle ambiental.” A “pele” dos edifícios terá de ganhar
inteligência, não aquela inteligência complexa pela introdução de sistemas mecânicos, como sucede na fachada
do “Instituto do Mundo Árabe”, de certa forma incompatível com a intenção de sustentabilidade e de redução de
peso da envolvente exterior (MENDONÇA et al., 2000), mas uma inteligência que leve à maior simplificação e
maior eficiência.
É o mesmo que se pensar em uma janela: quanto maior o número de folhas – uma de vidro, uma persiana, outra
ainda totalmente escura e, se além disso, ainda houver cortinas do lado de dentro, mais flexibilidade e controle
haverá. Análogo à janela, o edifício deverá ter flexibilidade, paredes que se abrem como janelas e se fecham
completamente quando for preciso. A luz deve entrar às vezes pelo teto, outras pelas paredes, para colaborar com
as atividades ali praticadas, sem ofuscar. O Universo não é estático, move-se continuamente. O Sol segue sua
rota, move-se o dia todo, o ano todo. Uma casa deve ser capaz de interagir com o meio continuamente, captar
aquilo que a “alimenta” e se proteger daquilo que lhe é hostil.
A água será coletada por calhas e reservada numa cisterna, localizada embaixo das áreas úmidas. Será possível,
também, implantar um coletor solar de baixo custo sobre a cobertura do bloco de serviço, voltado para o Norte.

CONCLUSÕES E OBSERVAÇÕES
A sustentabilidade na construção, tal como em outras áreas, assenta-se basicamente numa estratégia que pode ser
subdividida em três pontos de intervenção: a reciclagem, a reutilização e a redução. Os dois primeiros já foram
assimilados, mas sobre a redução, talvez o mais importante, pois é o que gera o problema, muito pouco se faz.
Segundo MENDONÇA et al. (2000), a redução do peso dos materiais de construção e dos sistemas construtivos
pode, de fato, ter uma grande influência em construir edifícios mais sustentáveis, se se puderem salvaguardar os
aspectos de segurança (estrutural e resistência ao fogo) e muito especialmente os comportamentos térmico e
acústico.

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O uso de sistemas modulares pré-fabricados leves, que não exijam gruas e outros equipamentos pesados para
apoio à construção, pode também conduzir a uma redução significativa dos impactos ambientais. A redução do
peso próprio que uma construção de madeira permite é mais um fator que deve ser levado em consideração na
hora da escolha.
A região metropolitana de Curitiba possui 60.000 hectares plantados com bracatinga, atualmente. Com essa
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quantidade, é possível ter uma produção anual de 14000m de madeira serrada, apenas 1/4 da madeira
produzida, mas o suficiente para a produção de aproximadamente 1400 casas por ano, dentro de um manejo
sustentável. A bracatinga tem – apesar de a madeira serrada constituir um subproduto da sua produção – enormes
vantagens, como, por exemplo, o baixo custo inicial de manejo: 1/10 do valor inicial necessário para plantar
eucalipto. Além disso, por se tratar de planta nativa, ela representa uma maneira de se reduzirem desequilíbrios
ambientais provocados por reflorestamentos exclusivamente com plantas exóticas. Esta pesquisa, ao buscar
formas de utilização para a bracatinga, para painéis de vedação, pretende estimular esse tipo de reflorestamento.
Com apenas 2.400 hectares plantados com eucalipto, num ciclo de doze anos, em que 200 hectares são cortados
e 200 plantados por ano, pode-se construir a parte portante e vedações horizontais (piso e forro) das 1400 casas,
também dentro de uma forma de produção sustentável.
Este trabalho está, na realidade, apenas começando. Com a construção da unidade habitacional experimental é
que poder-se-á verificar os erros cometidos durante a concepção e projeto para corrigi-los. A simples escolha de
um material de construção renovável e leve, não constitui em si um grande passo no caminho que nos levará a
construções mais sustentáveis. Mas, é importante lembrar que apenas a soma de uma série de pequenos passos
poderá levar-nos a resolver os complexos problemas da atualidade.
Desse modo, num encontro que trata de Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo, devem mais do que coexistir,
interagir diversas áreas do conhecimento. Pois, transcendendo o valor científico das pesquisas, os pesquisadores
têm o dever social de unir e tecer juntos o saber que poderá tornar não apenas viável, mas feliz e equilibrada a
vida terrestre no futuro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CRUZEIRO, Eloá de Castro; INO, Akemi (2000). Casa Modular Padrão IF, Sistema Construtivo Utilizando
Pinus. São Carlos: VII EBRAMEM – Encontro Brasileiro em Madeiras e Estruturas de Madeira, Anais.
JUNTA DEL ACUERDO DE CARTAGENA (1980). Cartilla de Construccion com Madera. Proyectos de
Desarrolo Tecnologico en el Area de los Recursos Forestales Tropicales. Lima, PADT-REFORT. 3ed.
MASCARÓ, Juan Luis (1998). O Custo das Decisões Arquitetônicas. São Paulo, edição Nobel.
MENDONÇA, Paulo; BOUKEROU, Reda; BRAGANÇA, Luis (2000). Construções Solares Passivas de
Madeira em Clima Temperado. São Carlos: VII EBRAMEM – Encontro Brasileiro em Madeiras e
Estruturas de Madeira, Anais.

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