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RESUMO
O Exército Brasileiro vem-se modernizando nos últimos anos. Nesse contexto, um de
seus Projetos Estratégicos é o Astros 2020, uma plataforma de lançamento de mísseis
e foguetes de excepcional capacidade de prestar o apoio de fogo. Particularmente,
quando esse material é dotado com o Míssil Tático de Cruzeiro (MTC) AV-TM 300,a
questão de sua subordinação vem à baila. A Nota de Coordenação Doutrinária (NCD)
Nr 03, de 2015 –Emprego da Artilharia de Mísseis e Foguetes de longo alcance, que é
o documento doutrinário mais atualizado sobre o Sistema, vislumbra-o como devendo
estar subordinado à FTC (Força Terrestre Componente). No entanto, este é um sistema
com possibilidades de emprego mais estratégicas e operacionais que, propriamente,
de nível tático. Tal ponto de vista decorre do fato de que a logística para o MTC e seu
desdobramento, as coordenações para o emprego, os alvos de interesse e as medidas
de coordenação que permitem sua utilização com segurança e eficiência, indicam como
possível e viável a subordinação desse Sistema diretamente ao COM TO (Comandante
do Teatro de Operações), sob a forma de um Comando de Artilharia do TO, por exemplo.
Demonstrar isso é o objetivo desse artigo, que não exclui a subordinação à FTC em
determinados casos, mas propõe outra opção aceitável.E, para chegar a esse intento,
segue-se uma metodologia que se utiliza da comparação da NCD com manuais que já
estão em uso e aprovados pelo Ministério da Defesa (MD) e pelo Exército Brasileiro (EB),
aprovados mediante processo técnico de construção, como preconizado no Sistema de
Doutrina Militar Terrestre (SIDOMT, EB10-IG-01.005) e nas Instruções Gerais para as
Publicações Padronizadas do Exército (EB10-IG-01.002).
Palavras-chave: Astros 2020. Míssil Tático de Cruzeiro. Logística. Coordenação.
Medidas de coordenação.
ABSTRACT
The Brazilian Army has been modernizing in recent years. In this context, one
of its Strategic Projects is the Astros 2020, a launching platform for missiles
____________________
* Especialista em Artilharia de Costa e Antiaérea pela EsACosAAe (2000), Mestre em Ciências Militares
pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (2006) e Especialista em Ciências Militares pela ECEME
(2014), onde é, atualmente, instrutor. Contato: <haryangoncalvesdoas@gmail.com>.
** Doutor em Ciências Militares pelo Programa de Pós-Graduação da Escola de Comando e Estado-Maior
do Exército (ECEME) foi o orientador deste artigo. Contato: < tulioendres@gmail.com >
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https://doi.org/10.21826/01021788326506
Haryan Gonçalves Dias / Túlio Endres da Silva Gomes
RESUMEN
El Ejército Brasileño se ha modernizado en los últimos años. En ese contexto, uno
de sus Proyectos Estratégicos es el Astros 2020, una plataforma de lanzamiento de
misiles y cohetes de excepcional capacidad de prestar el apoyo de fuego. En particular,
cuando este material está dotado con el misil táctico de crucero (MTC) AV-TM 300 la
cuestión de su subordinación viene a la baila. La nota de Coordinación Doctrinaria
(NCD) Nr 03, 2015 - Empleo de la Artillería de misiles y cohetes de largo alcance,
que es el documento doctrinal más actualizado sobre el sistema, lo vislumbra como
debiendo estar subordinado a la FTC (Fuerza Terrestre Componente). Sin embargo,
este es un sistema con posibilidades de empleo más estratégicas y operativas que,
propiamente, de nivel táctico. Este punto de vista se deriva del hecho de que la
logística para el MTC y su desdoblamiento, las coordinaciones para el empleo, los
objetivos de interés y las medidas de coordinación que permiten su utilización con
seguridad y eficiencia, indican como posible y viable la subordinación de ese Sistema
directamente al COM TO (Comandante del Teatro de Operaciones), en forma de
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un Mando de Artillería del TO, por ejemplo. Demostrar esto es el objetivo de este
artículo, que no excluye la subordinación a la FTC en determinados casos, sino que
propone otra opción aceptable.
Palabras clave: Astros 2020; Misil táctico de crucero; Logística; Coordinación;
Medidas de coordinación. Y para solicitar un intento, se sigue una metodología
que se utiliza de la comparación de la NCD con manuales que ya están en uso y
aprobado por el Ministerio de Defensa (MD) y el Ejército Brasileño (EB), aprobado
al proceso de construcción técnica, como preconizado en el Sistema de Doctrina
Militar Terrestre (SIDOMT, EB10-IG-01.005) y en las Instrucciones Generales para las
Publicaciones Estandarizadas del Ejército (EB10-IG-01.002).
1 INTRODUÇÃO
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Assim, da própria NCD decorre o principal foco de análise deste artigo, pois a
subordinação à FTC é, justamente, aquilo que se questiona quando da ativação de
um TO ou AO. Adiciona-se a isso o fato de a mesma afirmar que o Sistema Astros
2020 requer elevado grau de coordenação para o seu emprego.
Da mesma forma, quanto aos alvos a serem batidos pelo MTC AV-TM 300, a
NCDexplicita que podem ser táticos, operacionais e até mesmo estratégicos, como:
instalações de comando e controle (C2), bases logísticas, zona de reunião de grandes
unidades, bases de aviação inimigas, além daqueles de grande valor estratégico ou
de elevada importância militar. (NCD 03, 2015, p. 5 e 8).A própria NCD visualiza que
os alvos devem ter caráter estratégico.
No que se refere ao Míssil Tático de Cruzeiro, conforme a NCD, tem-se que seu
alcance é de até 300 (trezentos) quilômetros, com uma precisão de 80 (oitenta) metros
de raio em relação a um objetivo e com uma flecha (ponto mais alto da trajetória) da
ordem de 1000 (mil) metros. Além disso, tem-se como alcance mínimo de utilização
do mesmo é 30 quilômetros.
Eis o texto da NCD Nr 03:
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A Logística para o Sistema Astros 2020, quando dotado do MTC, há que ser
diferenciada. Sobretudo, porque seu desdobramento dá-se, prioritariamente, na
ZA. Dessa forma, a partir dos conceitos de Base Logística Conjunta (Ba Log Cj) ou de
Base Logística Terrestre (BLT) é que se deve pensar nas estruturas logísticas a apoiar
o GMF ou uma Bateria MF.
O manual MD 30-M 01, em seu 1º volume, enuncia os conceitos de Ba Log Cj
e Grupo Tarefa Logístico (GT Log).
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e, até mesmo das BLT, na maioria das vezes desdobradas a distâncias em torno
de 30 km da LP/LC ou do LAADA, na área de retaguarda dos Grandes Comandos
Operativos e à distância de segurança da artilharia de foguetes inimiga, motivo pelo
que, não poderá ser por elas apoiado, salvo se optar em suprir para a retaguarda.
(ME 101-0-3, 2014, p. 89).Pensar-se em um GT Log ou mesmo na própria Ba Log CJ
para realizar esse apoio, parece mais viável.
Desse modo, não há motivo, do ponto de vista logístico, para subordinar-lhe
à FTC, quando quem lhe presta o apoio logístico é um escalão superior, a partir
de uma estrutura dele próprio. Fazer diferente disso exige uma necessidade de
coordenação em cada procedimento de suprimento, retirando liberdade de ação e
flexibilidade do comandante que o enquadra.
Isso demonstra, quanto ao desdobramento no terreno do Astros 2020
dotado de MTC, cumpre observar que, aparentemente, seu alcance mínimo de
30 quilômetros indica que deve estar posicionado em faixa do terreno na área de
retaguarda dos Grandes Comandos Operativos, ainda naZC, ou já fora dela, na Zona
Administrativa (ZA). Ou seja, a ZA é a área de desdobramento mais provável ao
desdobramento do Astros 2020 empregado com MTC.
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Assim, a fim de corroborar com o foi dito, pode-se dizer que isso é mais
evidente, conforme menor seja a estrutura da própria FTC. Se a FTC for uma Brigada,
então o (CAF) Coordenador de Apoio de Fogo será o Cmt do GAC; se for apenas um
Grande Comando Operativo, será o ECAF do Grande Comando; e se for dois ou
mais Grandes Comandos Operativos, será o ECAF FTC. Assim, observe-se que, nas
primeiras opções é bem menos provável que seja o CAF do escalão empregado o
coordenador do emprego dos mísseis de cruzeiro para todo o TO, caso venham a
serem estes utilizados. A decisão, como se disse, sempre recairá no COM TO, sob
coordenação do D5.
Da mesma forma, o tiro realizado entre Brigadas não é coordenado entre
elas, mas sim, por uma estrutura superior, o ECAF do Grande Comando Operativo.
Diante disso, há que se ressaltar também que, havendo a FAC e o Astros, com
MTC, muito provavelmente, o emprego desses meios será coordenado no TO. Ou
seja, como arma estratégica e operacional, nada mais coerente que o próprio COM
TO decidir sobre o seu emprego, donde se justifica a ele estar subordinado o Astros
dotado de MTC.
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Assim sendo, a opção mais viável para se pensar, é que a regra é o Astros
dotado de MTC compor o TO como, por exemplo, um Comando de Artilharia do
TO. A exceção sim passa a ser a subordinação à FTC. Não significa que não possa
esta ocorrer, mas sim que a primeira opção apresentada, parece ser a mais viável
doutrinariamente, do ponto de vista da coordenação do apoio de fogo e do espaço
aéreo.
Para reforçar esse entendimento, basta se observar a natureza dos alvos
a serem batidos por esse meio nobre.A NCD Nr 03 que trata do Astros traz o
entendimento,já apresentado, de que os alvos podem ser táticos, operacionais ou
estratégicos, sobretudo estruturas estratégicas, centros de gravidade ou alvos de
grandes dimensões e longos alcances. (2015, p. 5)
Nesse sentido:
Assim, vê-se que ela traz como alvos a serem batidos por essa arma aqueles de
natureza não só tática, mas também estratégicos e operacionais, isto é, de elevada
importância militar. Os exemplos citados denotam a Capacidade Crítica (CC) que
esse meio proporciona a todo o esforço do TO, sendo capaz de atuar, diretamente,
sobre o centro de gravidade (CG) inimigo.
É de se observar, também, o que diz o manual do Exército sobre Fogos, ao
referenciar aos ataques a alvos de natureza estratégica através de fogos cinéticos,
como é o MTC:
E, mais adiante, o mesmo manual ratifica o nível dos alvos a serem batidos:
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MEDIDAS PERMISSIVAS
Linha de Segurança de Apoio de Artilharia (LSAA)
A LSAA é uma linha que define o limite curto, além do qual os
meios de apoio de fogo de superfície (unidades de artilharia de
campanha e os navios de apoio de fogo) podem atirar livremente
na zona de ação de determinada força, sem necessidade de
coordenação com o comando da força que a estabeleceu.
Linha de Coordenação de Apoio de Fogo (LCAF)
A LCAF é uma linha além da qual todo alvo pode ser atacado por
qualquer meio de apoio de fogo, sistema de armas ou aeronave,
sem afetar a segurança e sem necessidade de coordenação
adicional com a força que a estabeleceu.
Essa medida suplementa a LSAA e proporciona maior rapidez
e simplicidade para o ataque a alvos pelos meios aéreos e pela
artilharia de mísseis e foguetes.
Área de Fogo Livre (AFL)
A AFL é uma área específica na qual qualquer meio de apoio
de fogo pode atuar sem necessidade de coordenação adicional
com o comando da força que a estabeleceu. [...]
Quadrícula de Interdição (QI)
A QI, também conhecida como Kill Box, é um volume utilizado
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Diante disso, no caso do Sistema Astros 2020 empregado com MTC, cabe
também analisar-se, brevemente, as MCCEA. De fato, elas abordam como o
nível operacional conjunto entende que devam acontecer essas necessárias
coordenações.
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O Emprego dos Astros 2020 e sua Subordinação: Uma Opção Viável
Portanto, pensa-se como opção mais viável, a que aqui se procurou vislumbrar,
qual seja a de que o material dotado de mísseis de cruzeiro deve ser subordinado
ao próprio COMTO, na forma, quiçá, de um Comando de Artilharia Estratégica.
Afinal, quanto mais graus de coordenação forem necessários, mais limitado será o
emprego do MTC.
Ademais, armas de semelhante emprego, como os mísseis Tomahawk (EUA),
IAI-LORA (Israel), Roketsan-SOM (Turquia), DRDO-Brahmos (Índia) e MBDA-Perseus
(UK e França), são consideradas estratégicas e empregadas como um comando
próprio por seus países de origem.
Derradeiramente, por ser o Astros 2020 e seu MTC a mais nova arma estratégica
brasileira, cumpre pensar, sem desmerecer a possibilidade de subordinação à FTC,
como opção considerável e que será poderá ser requerida na maioria das vezes, a
de ver essa nova capacidade da Defesa Nacional, sob a subordinação direta ao COM
TO. É uma sugestão possível, a se pensar.
REFERÊNCIAS
______. MD35-G-01: Glossário das Forças Armadas. 5. ed. Brasília: MD, 2015.
BRASIL. Ministério da Defesa. Exército Brasileiro. C Dout Ex. NCD Nr 03/2015: Emprego
da Artilharia de Mísseis e Foguetes de Longo Alcance. Brasília: C DoutEx, 2015.
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