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GUSTAVO DINIZ LEITE DE AQUINO

SISTEMA DE DEFESA DE PONTO DAS FRAGATAS CLASSE


TAMANDARÉ: COMPARAÇÃO COM OUTROS SISTEMAS

CIAW – MARÇO 2020


1

2º TENENTE GUSTAVO DINIZ LEITE DE AQUINO

SISTEMA DE DEFESA DE PONTO DAS FRAGATAS CLASSE


TAMANDARÉ: COMPARAÇÃO COM OUTROS SISTEMAS

Artigo científico apresentado ao Curso de


Aperfeiçoamento em Armamento para Oficiais.

Orientador: CMG (RM1) Luiz Carvalho

CENTRO DE SISTEMAS DE ARMAS


MARÇO 2020
2

AUTOR: GUSTAVO DINIZ LEITE DE AQUINO


ORIENTADOR: CMG (RM1) LUIZ CARVALHO

RESUMO
A maior ameaça para um navio de guerra na atualidade é de origem aérea. A alta velocidade
dos mísseis antinavio e das aeronaves de ataque torna imperioso que as embarcações possuam
defesa adequada. Os Sistemas de Defesa de Ponto representam a última linha de defesa dos
navios na Guerra Antiaérea e, portanto, devem fornecer capacidade detecção e resposta rápida
e eficaz às ameaças. Esse artigo estabelece uma análise comparativa breve entre o Sistema de
Defesa de Ponto previsto para as Fragatas Classe Tamandaré com os sistemas em operação
pelas marinhas da Rússia, Estados Unidos da América, Holanda e China. As Fragatas Classe
Tamandaré serão os mais novos escoltas da Marinha do Brasil, o que torna relevante o estudo
e comparação de seus sistemas com correlatos de outras marinhas, a fim de avaliar
capacidades e limitações. O artigo aborda os sistemas como um todo, mas foca sua análise nos
canhões de baixo calibre e elevada cadência de tiro. A metodologia utilizada é a pesquisa
exploratória.

PALAVRAS-CHAVE: Sistema de Defesa de Ponto, Close-In Weapon Systems, Defesa


Antiaérea.
3

1 INTRODUÇÃO

“Um navio de guerra é uma bateria flutuante.”

(Hendrik Willem Van Loon, Historiador)

O projeto de construção das Fragatas Classe Tamandaré (FCT) tem como principais
objetivos contribuir para o aparelhamento e renovação da Marinha do Brasil (MB) e atender
as necessidades do Poder Naval (ARAUJO; CAMARGO; SOUZA NETO, 2016).

Foi aberta uma licitação com base nas especificações estabelecidas pela MB, na qual
sagrou-se vencedora a proposta do Consórcio Águas Azuis1. Os navios serão construídos
com base na classe MEKOA100, de propriedade intelectual da empresa alemã
ThyssenKrupp Marine Systems (GARBINO, 2019).

Essas unidades serão empregadas em proveito das Operações Navais e deverão possuir,
dentre outras capacidades, a de empreender Ações de Defesa Aeroespacial2. O sistema de
defesa de ponto previsto para essas plataformas será dotado de um radar de direção de tiro,
duas alças optrônicas, um canhão de 76 mm e um canhão de 40 mm (GARBINO, 2019).
Todos esses sensores e armamentos irão se integrar com o sistema de combate.

Atualmente as marinhas mais abastadas utilizam sistemas de defesa de ponto que tem a
capacidade fazer busca, aquisição, acompanhamento, engajamento e destruição de forma
autônoma. Alguns desses sistemas possuem sensores dedicados, que se localizam junto ao
reparo do canhão, aumentando sua velocidade de reposta a ameaças (FONG, 2008).

Esse estudo visa comparar o sistema de defesa de ponto previsto para as FCT com sistemas
utilizados por outros países. Será dada ênfase nos canhões de baixo calibre e elevada
cadência de tiro, responsáveis pela última linha de defesa dos navios. O artigo visa verificar
capacidades e limitações do armamento a ser instalado nas Fragatas Classe Tamandaré. A
metodologia adotada é a pesquisa exploratória.

2 FRAGATA CLASSE TAMANDARÉ – SISTEMA DE DEFESA DE PONTO

1
O Consórcio Águas Azuis é formado pelas empresas ATECH Negócios em Tecnologia S.A., EMBRAER S.A. e
THYSSENKRUPP Marine Systems GmbH (GABINO, 2019).
2
As Ações de Defesa Aeroespacial são definidas como aquelas adotadas para se opor à ameaça aeroespacial,
reduzir ou anular a sua eficácia (BRASIL, 2014).
4

O sistema de defesa de ponto das FCT será composto por diversos armamentos e sensores
integrados por um sistema de combate. O sistema tático será responsável pela detecção e
avaliação de alvos, de acordo parâmetros estabelecidos. Caso o alvo cumpra os requisitos e
seja caracterizado como hostil, a designação irá passar para o sistema de armas, que passará a
acompanhar o alvo com seus sensores3.

A seção de vante do navio será equipada com um radar de direção de tiro, uma alça optrônica
e um canhão de 76 mm, que serão responsáveis pela autodefesa da embarcação neste setor. A
seção de ré será dotada de uma alça optrônica e um canhão de 40 mm (GARBINO, 2019).

O radar de direção de tiro previsto para as Fragatas Classe Tamandaré é o Thales STIR 1.2
EO MK2 (GARBINO, 2019). O equipamento irá atuar como canal de fogo primário para a
bateria principal, o canhão de 76 mm. É improvável que esse radar seja associado ao canhão
de 40 mm, devido a coincidência entre o arco cego do sensor e o arco de fogo do armamento
ser considerável. Esse radar pode ser empregado em modo de busca setorial, o que faz com
que todo o processo de detecção até o engajamento ocorra no sistema de armas, reduzindo
assim o tempo de resposta (THALES, 2017).

As duas alças optrônicas que serão instaladas na plataforma são as Safran Paseo XLR. O
equipamento francês será instalado nas seções de vante e ré dos navios, proporcionando
cobertura em 360°. Esse equipamento é capaz de fornecer informações precisas para o cálculo
do problema de tiro, e poderá ser associado aos dois canhões do navio (SAFRAN
ELECTRONICS & DEFENSE, 2016). Dadas as configurações apresentadas no projeto do
sistema de combate, o equipamento será utilizado como canal de fogo principal para o canhão
de 40 mm.

O canhão OTO 76/62 Super Rapid Gun Mount será responsável pela defesa de ponto do setor
de vante dos futuros escoltas da MB. Esse armamento, de calibre 76 mm, possui a cadência de
120 tiros por minuto e alcance máximo de 16000 jardas com munição padrão 4. Esse
armamento destaca-se por sua flexibilidade, sendo descrito pelo fabricante como um canhão
com alta performance em ações de defesa antiaérea e de superfície, em especial na defesa
antimíssil (LEONARDO COMPANY, 2018).

3
Foi considerado que os radares de busca fazem parte do sistema tático, enquanto o radar de direção de tiro e as
alças optrônicas integram o sistema de armas.
4
O alcance máximo desse canhão pode chegar a 40000 jardas com o uso de munições especiais (LEONARDO
COMPANY, 2018).
5

2.1 Canhão 40mm Bofors MK4

O canhão Bofors5 40 mm MK4 Naval Gun System teve seu desenvolvimento concluído no
final de 2012 e representa a modernização do canhão Bofors 40 mm MK3, do qual as Fragatas
Classe Niterói são dotadas. Dentre as alterações, destaca-se a substituição dos motores eletro-
hidráulicos por motores elétricos, diminuindo o seu peso e facilitando a automação e
manutenção (CAIAFA, 2014).

O armamento possui cadência 300 tiros por minutos, a uma velocidade inicial de 1012 m/s 6. O
equipamento possui um radar doppler em seu tubo alma, que realimenta o sistema de armas
com informações, a fim de aumentar a precisão do tiro (BAE SYSTEMS, 2018).

A câmera de TV instalada no tubo alma serve como auxílio ao operador, e pode ser utilizada
para atirar em condições indisponibilidade dos canais de controle de fogo convencionais.
Também é possível que o tiro seja conduzido por um operador em modo local, por meio de
um console interno ao reparo do canhão (BAE SYSTEMS, 2018).

Seu magazine tem a capacidade de armazenamento para 100 munições, que podem ser
separadas em dois diferentes tipos. O operador pode selecionar a munição que desejar para
efetuar os disparos. Os motores elétricos permitem que o canhão passe do modo de alerta para
o modo de combate em menos de meio segundo (BAE SYSTEMS, 2018).

No caso do sistema que emprega o canhão de 40mm, a detecção, identificação e


acompanhamento de alvos será determinada de acordo com parâmetros do sistema de tático,
que irá então passar a indicação do alvo ao sistema de armas. O armamento é facilmente
integrado ao sistema de combate e apresenta grande flexibilidade, podendo ser usado em
operações de paz, patrulha naval e em cenários de guerra litorânea. Seu reparo utiliza
geometria furtiva, diminuindo a assinatura radar da plataforma (BAE SYSTEMS, 2018).

A empresa brasileira Ares possui contrato com a BAE Systems para a produção local e
serviços de manutenção do canhão (BAE SYSTEMS, 2015). A construção das FCT tem como
um dos seus alicerces o alto índice de conteúdo nacional (MARINHA DO BRASIL, 2020). A
parceria entre essas empresas é uma vantagem comparativa para a seleção desse canhão.

5
A BAE Systems, empresa britânica, tornou-se proprietária da sueca Bofors, por meio de um processo de fusões e
aquisições (SALLES, 2014).
6
A velocidade inicial apresentada refere-se ao uso de munição 3P (BAE SYSTEMS, 2018).
6

O canhão Bofors 40mm MK4 já se encontra em operação na Marinha do Brasil. A Força


encomendou cinco unidades junto a BAE Systems para equipar seus Navios Patrulha Classe
Macaé (BAE SYSTEMS, 2015).

Cabe citar que a Fábrica de Munições da Marinha tem a capacidade de produzir diversas
munições de usadas por esse canhão, tais como EX-T7, AE-T-AD8, EX-AA9, PFAE10 e 3P11.

3 SISTEMAS UTILIZADOS POR OUTRAS MARINHAS

O desenvolvimento dos mísseis antinavio, notadamente na década de 1960, forçou as


Marinhas a criar mecanismos para se opor à ameaça dessa tecnologia. Os sistemas de defesa
de ponto existentes são fruto de diversas pesquisas e aprimoramentos. Chegou-se num certo
padrão: canhões de baixo calibre e elevada cadência de tiro, aliados aos sensores e às estações
de processamento de dados capazes de fornecer reação imediata às ameaças.

3.1 Tulamashzavod AK-630

O primeiro sistema de defesa de ponto desenvolvido na União Soviética foi o AK-630, na


década de 1960. Quando esse sistema entrou em operação tornou-se um dos armamentos
padrão para os navios da União Soviética (URSS). Mais de 1000 unidades já foram
construídas tanto para uso interno da URSS quanto para exportação. Sabe-se que o sistema é
operado por mais de 12 marinhas, dentre as quais a Marinha do Exército de Liberação Popular
da China e a Marinha Indiana (ROGOWAY, 2014).

O sistema é composto de um canhão com seis canos rotativos de 30 mm. Efetua rajadas com a
cadência de cinco mil tiros por minuto a uma velocidade inicial de 900 m/s, seu alcance eficaz
é de 4 km e o alcance máximo 5 km (FONG, 2008). O canhão utiliza munição alto-explosiva
fragmentada ou fragmentada com traçador (AK-630, 2010).

7
Munição de exercício traçante (EMGEPRON, 2018).
8
Munição alto-explosiva, traçante, com autodestruição (EMGEPRON, 2018).
9
Munição de exercício, antiaérea, com espoleta de proximidade (EMGEPRON, 2018).
10
Munição alto-explosiva, com espoleta de proximidade e granada pré-fragmentada (EMGEPRON, 2018).
11
Munição programável, com espoleta de proximidade e pré-fragmentada (EMGEPRON, 2018).
7

O sistema de controle de fogo armamento pode ser controlado por radar de direção de tiro ou
por uma alça optrônica. Uma única antena radar consegue ter o controle simultâneo de dois
canhões, aumentando a probabilidade de interceptações e reduzindo a quantidade necessária
de canais de fogo (AK-630, 2010).

Após alguns anos de operação com a versão original desse armamento foram feitas
modernizações, que culminaram nas versões AK-630M e AK-630M-2. A primeira representa a
versão com correções referentes a erros no projeto inicial, enquanto a segunda representa a
variante uma torreta dupla e tecnologia stealth12 (ROSOBORONEXPORT, 2020).

O sistema pode ser controlado por operadores, porém possui modo autônomo, no qual a
intervenção humana é necessária apenas para o municiamento (ROGOWAY, 2014).

3.2 MK-15 Phalanx Close-In Weapon System

O sistema de defesa de ponto mais difundido atualmente é o MK-15 Phalanx Close-In


Weapon System. Sua primeira versão foi desenvolvida na década de 1970 pela General
Dynamics Pomona Division, que foi adquirida pela Raytheon Systems Company (FONG,
2008). Está presente em todas classes de navio da United States Navy, bem como em navios
de 24 outros países (RAYTHEON, 2020).

Desde que entrou em operação, passou por diversos aprimoramentos. A versão mais moderna
é a Block 1B que utiliza processadores mais potentes, algoritmos que consideram possíveis
mudanças de trajetória dos mísseis e aprimorou a defesa contra ameaças assimétricas 13. O
sistema também possui uma versão baseada em terra que é utilizada pelo United States Army
(RAYTHEON, 2020).

O sistema tem a capacidade de busca, detecção, acompanhamento e engajamento. Seu reparo


engloba o canhão, um radar dedicado e o subsistema de alimentação, algumas versões
possuem sensores eletro-ópticos (UNITED STATES NAVY, 2019).

12
O design do AK-630M-2 utiliza geometria furtiva a fim de diminuir sua assinatura radar.
13
“Ameaça decorrente da possibilidade de serem empregados meios ou métodos não ortodoxos, que incluem
terrorismo, ataques cibernéticos, armas convencionais avançadas e armas de destruição em massa para anular ou
neutralizar os pontos fortes de um adversário, explorando suas fraquezas, a fim de obter um resultado
desproporcional” (BRASIL, 2007, p. 25).
8

Em sua versão mais moderna, o canhão tem a cadência de 4500 tiros por minuto, capacidade
para 1550 munições em seu magazine e possui um alcance eficaz de 3 km. A munição
utilizada é a perfurante (UNITED STATES NAVY, 2019).

O sistema possui três modos de operação. O modo automático habilita o sistema a conduzir
todo o processo de busca, detecção, avaliação e engajamento sem intervenção do operador. O
modo semiautomático também conduz todo o processo de forma autônoma, porém é
necessário que o operador autorize o engajamento, e no modo manual o operador pode
controlar o armamento utilizando-se do seu sensor optrônico como referência (ROGOWAY,
2014).

Durante a fase de projeto das Corvetas Classe Inhaúma, na década de 1980, foi considerada a
possibilidade de equipá-las com esse armamento. Foi solicitada a compra de oito sistemas
MK-15 Phalanx, porém a venda foi barrada pelo Congresso Norte-Americano14 (GALANTE,
2011).

No ano de 2018, o Brasil fez uma nova tentativa de adquirir o sistema, na ocasião da compra
de oportunidade do Porta-Helicópteros Multipropósito Atlântico, atual navio capitânia da
Esquadra Brasileira. A negociação que a MB fez junto à Royal Navy estabeleceu que os três
sistemas Phalanx que integravam o inventário do navio seriam retirados antes de transferir o
navio ao Brasil (CAIAFA, 2019).

3.3 Thales Goalkeeper

A empresa Thales15 apresentou ao mercado o sistema Goalkeeper no ano de 1979. O sistema é


composto por um canhão de 30mm, um radar de vigilância, um radar de direção de tiro e uma
unidade de processamento. O equipamento é capaz de conduzir todo o processo de vigilância,
detecção e engajamento de forma autônoma, o que inclui a seleção de alvo prioritário
(THALES, 2020).

Seu canhão possui sete canos rotativo de 30mm que permitem a cadência de 4200 tiros por
minuto. A capacidade de armazenamento é de 1190 munições em seu magazine (THALES,
2008).
14
Na época, a Marinha do Brasil, por meio do IPqM, estava desenvolvendo um canhão rápido de 20mm. Tal fato
pode ter sido o motivo do veto à aquisição brasileira ao equipamento (GALANTE, 2011).
15
Originalmente o sistema foi desenvolvido pela empresa Signaal, que posteriormente foi adquirida pela
empresa holandesa Thales (COWAN, 2018).
9

O Goalkeeper possui alta capacidade de detecção por conta da utilização de dois radares. O
seu radar de busca opera na banda I e possui capacidade de compressão de pulso. O radar de
direção de tiro possui antena do tipo Cassegrain, com feixe pencil beam, diversidade em
frequência. Sua varredura é monopulso, o que lhe confere certa resistência à Medidas de
Ataque Eletrônico. Também é possível integrar o sistema a sensores optrônicos (THALES,
2008).

Uma vez ativado, o sistema centraliza todo o processo de defesa antiaérea interna. Dentro do
alcance de 8 milhas náuticas, o sistema tem a capacidade de acompanhar 30 alvos e realizar o
engajamento nos quatro alvos considerados prioritários, de acordo com os parâmetros
estabelecidos (FRIEDMAN, 1994). Durante os testes no mar, o Goalkeeper abateu três tipos
diferentes de mísseis que foram lançados em sua direção, comprovando as capacidades do
equipamento (THALES, 2020).

No ano de 2012 a Royal Netherlands Navy contratou a empresa Thales para uma
modernização no equipamento, a fim de aumentar seu ciclo de vida. Essa marinha também
possui contrato de apoio logístico com os mantenedores, visando uma boa disponibilidade do
equipamento (COWAN, 2018).

3.4 Type 730B

O sistema de defesa de ponto Type 730B é de origem chinesa. É considerado uma cópia do
Thales Goalkeeper, devido a suas semelhanças, e possui uma variante terrestre que é montada
sobre uma viatura especial 8x8 (ANDREW, 2012).

O sistema é capaz de acompanhar 48 alvos simultaneamente e estabelecer uma relação de


prioridade para o engajamento. O tempo de resposta do sistema, desde a fase de busca e
aquisição até a fase de engajamento é de 9.8 segundos. Para uma cobertura completa é
necessário que os navios possuam duas unidades do sistema, uma na proa e uma na popa
(FONG, 2008).

O seu canhão de sete canos rotativos de 30mm tem a cadência de 4200 tiros por minuto com
uma velocidade inicial de 1150 m/s para a munição APDS16 e 920 m/s para munição alto-

16
Munição perfurante com cinta descartável (FONG, 2008).
10

explosiva (FONG, 2008). O canhão possui um alcance de 3 km, porém os alvos são engajados
a uma distância de aproximadamente 1,5 km, normalmente.

O canhão é carregado com dois magazines com capacidade para 500 munições cada. É
adotado como padrão que um dos magazines utilize munição perfurante e o outro munição
alto-explosiva (FONG, 2008). O seu radar é capaz de detectar um alvo com seção reta de 0,1
m a uma distância de 8 km e o sistema é capaz de interceptar alvos com velocidade mach 2 ou
menor (ANDREW, 2012).

No ano de 2017 a China revelou a atualização do sistema, o Type 730C. As principais


diferenças consistem na retirada dos sensores da mesma plataforma do armamento, a fim de
adicionar lançadores de mísseis. Essa mudança permite que seus dois sensores acompanhem
diferentes alvos ao mesmo tempo, para que o engajamento ocorra de forma sequencial
(CHINA, 2017).

4 COMPARAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS

O Quadro 1 apresenta um quadro comparativo entre os sistemas citados. Percebe-se a


discrepância entre a cadência de tiro e a capacidade do magazine quando se compara o canhão
Bofors com os demais apresentados. Essas desvantagens são parcialmente compensadas pelo
maior calibre do armamento sueco.

Quadro 1 – Comparativo entre Sistemas de Defesa de Ponto


Sistema de Canhão 40mm AK-630 MK-15 Phalanx Thales Type 730B
Defesa de Ponto Bofors MK4 Close-In Goalkeeper
Weapon System

País de origem Suécia Rússia Estados Unidos Holanda China


da América

Calibre do 40mm 30mm x 6 20mm x 6 30mm x 7 30mm x 7


canhão

Cadência de tiro 300 tpm 5000 tpm 3000 ou 4500 4200 tpm 4600 a 5800
tpm tpm

Alcance 12,5 km 5 km 3 km 2 km17 3 km


17
Alcance efetivo.
11

máximo

Capacidade do 100 munições 2000 munições 1550 munições 1190 munições 1000 munições
magazine

Sensores Alça Radar de Radar de Radar de busca, Radar de


Optrônica 18
direção de tiro e direção de tiro e radar de direção direção de tiro e
Alça Optrônica Alça optrônica de tiro Alça Optrônica

Fonte: Próprio autor.

O sistema de defesa de ponto das Fragatas Classe Tamandaré apresenta um sistema com
arquitetura diferenciada em relação aos outros, podendo causar alterações na velocidade dos
cálculos do problema de tiro. Enquanto os demais sistemas utilizados possuem sensores
dedicados, com exceção do equipamento russo, e os cálculos são realizados pelo próprio
sistema, nas FCT há necessidade de receber as informações dos sensores e repassá-las ao
sistema de armas, a fim de realizar os cálculos. Esse processo pode reduzir a velocidade de
resposta do sistema, o que é algo primordial por tratar-se da oposição a alvos aéreos.

Na opinião do autor a maior fragilidades do sistema é a carência de radar de direção de tiro


que possa ser associado com o canhão 40mm, como pode ser observado no Quadro 1. O canal
de fogo principal desse canhão será a alça optrônica, que é dependente das condições
meteorológicas e tem menor precisão quando comparada com um radar de direção de tiro.

As principais vantagens apresentadas pelo canhão da Bofors são de cunho logístico, além de
seu alcance. O canhão já se encontra em operação na Marinha do Brasil (BAE SYSTEMS,
2015). Para que o mesmo seja instalado nas Fragatas Classe Tamandaré, é necessária apenas a
expansão do pacote logístico existente. No caso da aquisição de um novo sistema toda uma
estrutura logística de testes, manutenção, instrução e sobressalentes teria que ser montada.

Atualmente a Fábrica de Munições da Marinha produz todas as munições utilizadas pela


Marinha do Brasil (EMGEPRON, 2018). No caso da escolha de um canhão de outro calibre
para equipar as Fragatas Classe Tamandaré, aliado à vontade da Força de confeccionar suas
próprias munições, um novo transtorno logístico seria gerado, aumentando os custos totais de
aquisição desses sistemas. A capacidade da MB de conceber suas próprias munições reduz
sua dependência externa.

18
O canhão pode ser associado a um radar de direção de tiro (BAE SYSTEMS, 2018).
12

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aquisição das Fragatas Classe Tamandaré representa grande avanço tecnológico para a
Marinha do Brasil. A escolha dos sistemas que farão parte da plataforma foi ser feita de forma
cautelosa e sensata, a fim de assegurar que o navio possua grandes capacidades.

Para a função de canhão de pequeno calibre foi selecionado o canhão Bofors 40mm MK4. Na
opinião do autor escolha da Marinha do Brasil prioriza os aspectos logísticos, sendo esse
canhão considerado o mais adequado para equipar a nova classe de navios da Força.

A ausência de radar de direção de tiro para controlar o canhão, uma das limitações do sistema,
poderia ser sanada com mudanças no projeto. A adição desse sensor para o setor de ré do
navio iria fornecer um canal primário de fogo mais confiável ao canhão, aumentando o
desempenho do Sistema de Defesa de Ponto.

O fato da infraestrutura de apoio logístico para o canhão de 40mm já existir na Marinha do


Brasil contou positivamente para a sua escolha. A longa parceria entre Marinha do Brasil e a
empresa sueca Bofors certamente influenciou a favor do canhão escolhido.

A Marinha do Brasil foi coerente em sua escolha, priorizando um equipamento que possui
capacidade de produção de munição e apoio logístico de empresas nacionais. A empresa que
produz o armamento possui amplo histórico de negócios com a MB. Tal escolha irá manter
baixos os custos do ciclo de vida do equipamento e assegurar alta disponibilidade do sistema.

REFERÊNCIAS

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