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2T JOÃO LUZ
RESUMO
Esse artigo visa contextualizar sobre dois projetos que a Marinha do Brasil está a frente nos
dias atuais, o do Projeto Míssil Antinavio de Superfície (MANSUP) e o dos Navios Classe
“Tamandaré” (NCT), ressaltando a importância de cada um deles. No primeiro será
apresentado o surgimento da ideia de se ter um míssil nacional, desde a nacionalização do
motor propulsor de mísseis estrangeiros, até os prótipos em lançamento do MANSUP,
salientando os resultados obtidos, o trabalho de cada empresa envolvida, e um pouco da
engenharia por traz dos testes e lançamentos. No segundo será apontado a relevância da
renovação dos meios navais para a Esquadra desempenhar sua missão, mostrando o
surgimento dos NCT como solução. Será revelado as circunstâncias desde o projeto inicial até
o contrato oficial firmado entre as empresas, que trabalharão em prol da transferência
tecnológica e da nacionalização de componentes navais desse projeto. Também será
elucidado um pouco sobre o histórico da indústria naval brasileira, as últimas transferências
de tecnologias realizadas, e as contruções de meios em solo nacional. Por fim, um desfecho
sobre a viabilização e integração desses dois temas pela indústria de Defesa do Brasil e as
principais consequências.
1 INTRODUÇÃO
Diante dos avanços tecnológicos da atualidade, cada vez mais armas vêm sendo
sofisticadas e modernizadas ao redor do mundo tais como mísseis balísticos, canhões
magnéticos e lasers, entre outras. Uma indústria bélica nacional forte contribui em
*dissuasão para defesa de interesses estratégicos de um Estado, tornando-o soberano e
independente. (BAPTISTA, 2019).
Justamente por esse motivo que existe um certo cerceamento tecnológico de países que
detém o conhecimento nesse segmento, criando barreiras ao acesso por parte de nações,
com pouco ou nenhum entendimento nesse campo, ou até gerando dependência de
fornecedores estrangeiros. Um grande exemplo pode ser buscado na história, no caso da
dependência argentina em relação a mísseis franceses Exocet 1, durante a Guerra das
Malvinas/Falklands (1982) (VIDIGAL,1985 apud SILVA, 2015).
Em virtude da relevância que esse tema traz, o Brasil vem desenvolvendo por meio de
empresas nacionais o Projeto Míssil Antinavio de Superfície (MANSUP). O MANSUP será
um míssil do tipo fire-and-forget, guiagem autônoma, para emprego contra alvos na
superfície do mar, sendo utilizado nas instalações de tiro dos navios da Esquadra. Já está
sendo desenvolvido pela Marinha em parceria com as empresas AVIBRAS, SIATT,
OMNISYS e Fundação EZUTE (DEFESANET,2019).
Em paralelo a esse programa, a Marinha do Brasil segue renovando seus meios navais
com a compra das quatro novas Fragatas Classe “Tamandaré” de construção em território
nacional, nos estaleiros Oceana de Itajaí, por meio do consórcio Águas Azuis, formado por
três empresas: a alemã Thyssenkrupp Marine System (TKMS), associada com as brasileiras
ATECH e EMBRAER Defesa & Segurança proporcionando uma excelente oportunidade
para desenvolvimento da indústria naval brasileira. Serão máquinas de guerra equipadas
com lançadores de mísseis e torpedos pesados, recursos stealth2, deslocando cerca de 3500
toneladas e medindo 107 metros. Terão capacidade para 136 tripulantes, munidas de
helicóptero e um veículo aéreo não tripulado (GODOY, 2020).
1
Exocet é um míssil de fabricação francesa disparado de plataformas navais, aéreas e terrestres a uma velocidade
transônica de guiagem autônoma (BAPTISTA, 2019).
2
Tecnologia usada para ocultar navios, mísseis e aviões da detecção de radares (OXFORD, 2013).
4
A ideia do projeto de um míssil antinavio nacional remete desde a década de 70, nas
circunstâncias que se tinha na época com o recebimento das Fragatas Classe “Niterói”
armadas com mísseis superfície-superfície Exocet MM38, de origem francesa. Porém,
apenas a partir de 2001 o projeto do míssil antinavio brasileiro ganhou força na agenda da
MB, devido a anunciação da empresa europeia MBDA de que os mísseis MM38 da MB não
teriam mais assistência, no contexto da promoção comercial de suas versões MM40, mais
modernas, e de maior custo (CASTRO, 2009; RIBEIRO, 2012 apud SILVA, 2015).
Assim, entre 2003 e 2005, os primeiros estudos com relação ao MANSUP foram
iniciados no âmbito de um projeto da MB denominado de “munição inteligente”. Segundo
Castro (2009 apud SILVA, 2015), a MB aceitou utilizar os MM38, mas optou por
nacionalizar o motor foguete dos mísseis MM40, o que envolveu negociação com a MBDA.
Segundo Ribeiro (2012, p.39 apud SILVA, 2015) em 2007 o projeto MANSUP passou a ser
priorizado com a seleção da Avibras para desenvolver, certificar e produzir o novo motor de
propulsão do míssil Exocet da Marinha do Brasil.
3
Definida como o “conjunto das empresas estatais e privadas, bem como organizações civis e militares, que
participem de uma ou mais das etapas de pesquisa, desenvolvimento, produção, distribuição e manutenção de
produtos estratégicos de defesa”. (BRASIL, 2016 apud SILVA, 2015)
5
Cada uma dessas empresas ficou responsável por uma parte do armamento, AVIBRAS
pelo motor-foguete, SIAAT pelo Sistema de Guiagem, Navegação e Controle, OMNYSIS
pelo sistema autodiretor, que é responsável pelo direcionamento do míssil na fase final de
aproximação por meio de um radar de detecção, e por fim a Fundação EZUTE que faz a
gestão integrada articulando e supervisionando o processo de desenvolvimento.
(DEFESANET, 2018)
O terceiro lançamento também realizado pelo mesmo navio em 10 de julho de 2019 tendo
como alvo o casco do **ex-Rebocador de Alto Mar “Tridente” triunfou novamente. Foi
observado o desempenho e precisão do Autodiretor, o radar na cabeça de guiamento do
míssil, frente a um alvo de casco relativamente pequeno. Vale ressaltar que intenção do
exercício não era acertar o alvo e sim passar a uma distância próxima programada, de forma a
aproveitar os dados telemétricos do lançamento para posterior análise de parâmetros. É
esperado que no próximo protótipo seja utilizado a carga explosiva na cabeça de combate, e
uma vez bem sucedido, será então iniciado a produção desse míssil em larga escala.
7
http://www.defesanet.com.br/prosuper/noticia/33514/MANSUP---Marinha-do-Brasil-
lanca-terceiro-prototipo-do-Missil-Antinavio-de-Superficie/
A idade avançada dos navios da Esquadra brasileira, juntamente com a limitação da vida útil
de seus equipamentos e sistemas, torna o custo operacional desses meios elevado e
acarretando um estado inoperante. No intuito de buscar a modernização dos meios navais, a
*****MB estabeleceu como segunda prioridade principal a aquisição de meios, a obtenção,
através da construção em território nacional, das ***4 Corvetas Classe “Tamandaré” (CCT),
inicialmente chamadas dessa forma. Terá um grande potencial de nacionalização de
equipamentos e irá favorecer o desenvolvimento da nossa BID, além de contribuir para a
redução da dependência estrangeira. { tirei do capacidade de construção naval} referenciar
BID
Em 2013, o então projeto das CCT, surgiu por meio de uma orientação ao Centro de Projetos
Navais (CPN) de forma que essa instituição elaborasse os Estudos de Exequibilidade (EE) *
de uma corveta que fosse semelhante a Corveta “Barroso” porém com atualizações
tecnológicas e sistemas e equipamentos de primeira linha, manteria o mesmo casco somente.
No projeto inicial das CCT teriam um deslocamento máximo de 2790 toneladas, cerca de
400 toneladas a mais que a Corveta “Barroso”, e poderiam alcançar a velocidade máxima
de 25 nós, com uma tripulação básica de 116 militares. (CAMARGO,2016) (ARAUJO;
CAMARGO; SOUZA NETO, 2016).
Em março de 2019 foi escolhido pela Marinha do Brasil o Consorcio “Águas Azuis” para a
construção dos 4 Navios Classe “Tamandaré”5. Um ano após, foi oficializado o contrato com
a MB da aquisição desses meios por 9.1 bilhões de dólares, modificando o projeto inicial de
corvetas para Fragatas Classe “Tamandaré”, por conta da aplicação como unidades de escolta,
vigilância do mar e controle de área, o comando da força tomou essa decisão e a plataforma
de referência será a família MekoA100, da Thyssenkrupp. 6.
O modelo usado pela empresa alemã tem referência mundial em construção naval, seu design
facilita a integração local e a transferência de tecnologia, culminando numa redução dos
custos de aquisição, manutenção e modernização, além de possuir qualidades excepcionais de
autonomia e robustez. Como prova disso tem-se, desde 1982, 82 corvetas e fragatas da Classe
MEKO, entregues a Marinhas de 14 nações diferentes, 37 fora da Alemanha, ressaltando que
elas oferecem um ciclo de vida de mais de 40 anos5.
A Thyssenkrupp Marine Systems faz parte do consorcio Águas Azuis, que trabalha em
conjunto com a EMBRAER Defesa & Segurança, ATECH e ATLAS ELEKTRONIK Group
subsidiárias respectivamente dos Grupos EMBRAER e Thyssenkrupp. Será citado um pouco
do trabalho de cada uma dessas empresas ao longo dos anos.
Seguindo para a EMBRAER Defesa & Segurança, uma líder na indústria aeroespacial
e de defesa da América Latina, oferece uma linha completa de soluções integradas e
aplicações de Comando e Controle, radares e Inteligência, Vigilância e Reconhecimento
***(ISR). Seus produtos e soluções faz presença em ao menos 60 países. Sua subsidiaria, a
ATECH, detém uma expertise única em engenharia de sistemas e tecnologias de consciência
situacional e apoio a tomada de decisão. Essa empresa é responsável pelo desenvolvimento e
modernização de todo o sistema para gerenciamento e defesa do espaço aéreo brasileiro e, por
conta de seu desempenho, foi certificada como Empresa Estratégica de Defesa pelo Ministério
de Defesa do Brasil5.
Em trabalho cooperativo entre a ATECH e a Atlas Elektronik será fornecido o Sistema
de Gerenciamento de Combate (CMS) dos navios. “Está previsto também que a engenharia e
o software da Atlas apoiem e desenvolvam a engenharia local, equipamentos, integração de
sistemas e gerenciamento de projetos pela ATECH”5.
A Empresa Gerencial de Projetos Navais, EMGEPRON, é uma empresa pública, que
possui vínculo direto com o Ministério da Defesa por intermédio do Comando da Marinha do
Brasil, e tem por finalidade a promoção da Industria Naval Brasileira, o gerenciamento de
projetos e a promoção e a execução de atividades vinculadas à obtenção e manutenção de
material militar naval. (https://www.marinha.mil.br/emgepron/pt-br/quem-somos)
Existe interesse por parte do governo em apoiar esse projeto uma vez que o Presidente
da República Jair Bolsonaro aprovou o aporte suplementar de 4.25 bilhões de reais para a
capitalização da Emgepron iniciada em 2018. Segundo depoimento do Almirante Petrônio
Augusto Siqueira de Aguiar, chefe da Diretoria de Gestão de Programas, “esse modelo vai
conferir a necessária agilidade de execução ao programa Tamandaré”.
<http://www.defesanet.com.br/cct/noticia/35979/CCT---Fragatas-Tamandare-
Contrato-de-R%24-9-1-Bi/>
10
Fi
<http://www.defesanet.com.br/cct/noticia/35979/CCT---Fragatas-Tamandare-
Contrato-de-R%24-9-1-Bi/>
<http://www.defesanet.com.br/prosub_s40/noticia/31511/S40-Riachuelo---
Primeiro-submarino-de-classe-Riachuelo-da-MB-e-lancado-ao-mar/>
Embora esse grupo tenha suas qualidades, não possui expertise para a construção de
navios militares, por conta disso existe um grande interesse por parte da Thyssenkrupp Marine
Systems* em assumir o controle do Estaleiro Oceana pelo prazo mínimo de 8 anos. Na
condição de controladora do estaleiro, a indústria naval alemã será capaz de importar com
muito mais desenvoltura o maquinário e a aparelhagem necessários para a fabricação desses
meios. A TKMS também vislumbra em sua futura base um ponto de apoio privilegiado para
investidas comerciais junto às marinhas da Argentina, África do Sul e Chile.
https://www.naval.com.br/blog/2019/04/30/exclusivo-tkms-planeja-assumir-o-
controle-do-estaleiro-oceana/
5 CONCLUSÃO
Os dois grandes projetos apresentados nesse artigo têm um potencial muito grande na
garantia da soberania nacional e autonomia na indústria de Defesa. A renovação dos meios
navais impacta diretamente na eficácia do cumprimento da missão da Marinha e manutenção
de sua capacidade operativa. Assim como a tecnologia bélica atua em dissuasão de poder
frente a outras nações. Conforme foi apresentado o desenvolvimento desses programas
demanda investimento e tempo para obter progresso.
Quanto ao Projeto das Fragatas Tamandaré existe um forte reconhecimento por parte
do Governo Federal da importância desse tema, fato comprovado pelo investimento bilionário
feito. Por meio do Consórcio “Águas Azuis” o Brasil num futuro não muito distante contará
com navios de tecnologia de ponta junto a sua Esquadra, construídos em território nacional. A
13
Industria Naval irá adquirir o complexo conhecimento de uma empresa que possui a expertise,
e é referência mundial com seu modelo de implantação. Vale ressaltar que experiencias
anteriores comprovam que a transferência de tecnologia de fato funciona, exemplo mais
recente que se tem é o Submarino Classe “Riachuelo”.
REFERÊNCIAS
GABINO, Anderson. Marinha do Brasil escolhe consórcio ‘Águas Azuis’ como vencedor do
projeto “Classe Tamandaré”. DefesaTV, 28 mar. 2019. Disponível em:
<https://www.defesa.tv.br/marinha-do-brasil-escolhe-consorcio-aguas-azuis-como-vencedor-
do-projeto-classe-tamandare/>. Acesso em: 29 fev. 2020.
GODOY, R. (05 de março de 2020). CCT - Fragatas Tamandaré Contrato de R$ 9,1 Bi.
Acesso em 06 de março de 2020, disponível em defesanet:
http://www.defesanet.com.br/cct/noticia/35979/CCT---Fragatas-Tamandare-
Contrato-de-R%24-9-1-Bi/
14
GABINO, Anderson. Marinha do Brasil escolhe consórcio ‘Águas Azuis’ como vencedor do
projeto “Classe Tamandaré”. DefesaTV, 28 mar. 2019. Disponível em:
<https://www.defesa.tv.br/marinha-do-brasil-escolhe-consorcio-aguas-azuis-como-vencedor-
do-projeto-classe-tamandare/>. Acesso em: 29 fev. 2020.
FONG, Kelvin. CIWS: The Last-ditch Defense. Naval Forces, jul. / ago. 2008. Disponível
em: <http://www.military.ir/gallery/albums/userpics/CIWS_article.pdf>. Acesso em: 02 fev.
2020.
(DEFESANET, 2012)
1
Fonte site<http://www.defesanet.com.br/bid/noticia/32377/MANSUP---Lancado-o-
segundo-Missil-Antinavio-Nacional-de-Superficie/> acesso em: 1 março 2020.
3
<https://www.naval.com.br/blog/2012/05/03/missil-mar-mar-exocet-mm40-ja-tem-motor-brasileiro/> acesso
em: 08/03/2020
4
Conjunto integrado de empresas públicas e privadas, e de organizações civis e militares, que realizam ou
conduzam pesquisa, projeto, desenvolvimento, industrialização, produção, reparo, conservação revisão,
conversão, modernização ou manutenção de produtos de defesa no País(BRASIL, 2016a).
3
Fonte site<http://www.defesanet.com.br/cct/noticia/35979/CCT---Fragatas-Tamandare-Contrato-de-R%24-9-1-Bi/> acesso
em: 7 março 2020
5
http://www.defesanet.com.br/cct/noticia/32448/CCT---Consorcio-Aguas-Azuis-
vencedor-com-a-MEKO100/
6
http://www.defesanet.com.br/cct/noticia/35979/CCT---Fragatas-Tamandare-
Contrato-de-R%24-9-1-Bi/