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A torre REMAX no Pelotão de Cavalaria Mecanizado

A torre REMAX no Pelotão de Cavalaria Mecanizado


João Carlos Machado de Oliveira – 2º Sgt

O presente artigo aborda as diversas peculiaridades e possibilidades de


emprego, pelos Pelotões de Cavalaria Mecanizado (Pel C Mec), do novo Reparo
para Metralhadora Automatizado X (REMAX).
Partindo da adoção das novas VBTP-MR Guarani, o REMAX oferece um imenso
ganho em potencial para o desempenho das diversas missões as quais estas
frações estão inseridas. Destacando as missões de reconhecimento, onde
existe a importância de execução de maneira rápida e agressiva, além da
coleta de informações confiáveis, o REMAX aumentaria de maneira significativa
a capacidade de execução cada vez mais precisa e oportuna pelos Pel C Mec,
auxiliando tanto na detecção como no apoio de fogo durante o transcorrer das
mais diversas operações.
O artigo também destaca que além de aumentar a capacidade de observação
deste pelotão, o REMAX, através de seu eficiente e preciso sistema de armas,
oferecerá de maneira excepcional um aumento significativo na capacidade de
seleção e precisão durante o engajamento de alvos, utilizando-se do seu eficaz
sistema de tiro, podendo ainda, ser integrado em outras frações pertencentes
aos Pel C Mec, adicionando não somente uma melhor ferramenta de
observação, mas também como um aumento significativo no poder de fogo
destas frações.
Introdução

O Exército Brasileiro (EB) passa, atualmente, por um profundo processo de


transformação, estruturado em Projetos Estratégicos que buscam criar novas
capacidades para a Força Terrestre. Um desses Projetos Estratégicos é o
desenvolvimento da Nova Família de Blindados Médios sobre Rodas, que tem
na Viatura Blindada de Transporte de Pessoal Média de Rodas (VBTPMR) 6x6
Guarani como seu grande produto. Essa viatura está atendendo as demandas
de implantação da Infantaria Mecanizada e de modernização da Cavalaria
Mecanizada no Brasil.
Paralelamente ao desenvolvimento da viatura, o EB busca a integração da
mesma com os sistemas de armas que permitirão o emprego tático da VBTP-
MR Guarani. Dentre esses sistemas, destaca-se o Reparo para Metralhadora
Automatizado X (REMAX), produzido no Brasil pela empresa ARES. O 16º
Esquadrão de Cavalaria Mecanizado (Esqd C Mec), tropa orgânica da 15ª
Brigada de Infantaria Mecanizada (Bda Inf Mec), opera a VBTP-MR Guarani
desde 2014.
Dentro do quadro de Experimentação Doutrinária da Bda Inf Mec, o 16º Esqd C
Mec está recebendo as torres REMAX para dotar suas viaturas. Para isso,
militares de seus quadros já passaram pela capacitação no material. As VBTP-
MR Guarani, com a torre REMAX, estão sendo incorporadas aos Pelotões de
Cavalaria Mecanizados (Pel C Mec), exigindo profundos estudos para melhor
emprego e aproveitamento de suas potencialidades.

O Desenvolvimento

O Pelotão de Cavalaria Mecanizado


O Pel C Mec é a fração básica de emprego da Cavalaria Mecanizada. Ele está
organizado em cinco grupos ou seções:
- Grupo de Comando: tem a missão de possibilitar ao comandante do pelotão o
exercício do comando (BRASIL, 2006). É composto por três homens
(Comandante de Pelotão, Motorista e Rádio-Operador), embarcados em uma
Viatura Blindada Leve (atualmente, o Exército Brasileiro emprega a Viatura
Tática Leve – VTL);
- Grupo de Exploradores (G Exp): apto a executar ações de reconhecimento a
pé ou embarcado, prover segurança nos flancos, realizar golpes de sonda,
atuar como seção de metralhadoras em base de fogos, realizar o ataque a pé
como grupo de combate (GC) e desempenhar diversas funções especiais, como
mensageiro e elemento de ligação (BRASIL, 2006). Possui um efetivo de doze
homens, divididos em duas patrulhas. Cada patrulha possui duas Viaturas
Blindadas Leves (VBL), atualmente substituídas por VTL;
- Seção de Viaturas Blindadas de Reconhecimento (Seç VBR): é o elemento de
choque do Pel C Mec, estando apta a realizar ações de reconhecimento, de
segurança, de defesa e de ataque (BRASIL, 2006). É dotada, atualmente, de
duas viaturas EE-9 Cascavel;
- Grupo de Combate (GC): é o elemento de combate a pé do Pel. Destina-se
basicamente a formar o combinado Seç VBR – GC, tanto para ações ofensivas
quanto defensivas. Pode ser empregado na realização de pequenas ações de
reconhecimento, balizamento e limpeza de eixos, particularmente quando o G
Exp estiver empenhado em outras missões (BRASIL, 2006).
- O GC é embarcado em uma VBTP e possui, além dos nove integrantes do
grupo, um motorista e um atirador, totalizando onze homens. É nessa pequena
fração que se enquadra a nova VBTP-MR Guarani no contexto da Cavalaria
Mecanizada;
- Peça de Apoio (Pç Ap): é o elemento de apoio de fogo indireto do Pel C Mec.
Normalmente, por ser a última fração, é responsável pela segurança da
retaguarda (BRASIL, 2006). O Caderno de Instrução CI 2- 36/1 (BRASIL, 2006)
estabelece as possibilidades do Pel C Mec:
“- participar de operações de reconhecimento; - participar de missões de
segurança; - realizar operações de contra reconhecimento; - realizar
operações ofensivas e defensivas, particularmente durante a execução de
ações de Rec e Seg, nos Movimentos Retrógrados e na aplicação do princípio
de economia de meios; - realizar ligações de combate; - ser empregado na
segurança da área de retaguarda – SEGAR; - realizar operações de junção; -
executar ações contra forças irregulares; - cumprir missões num quadro de
garantia da lei e da ordem, mesmo atuando de forma descentraliza, em reforço
aos Batalhões de Infantaria; e - Operações tipo Patrulha.”
No entanto, deve haver o entendimento de que a organização e a dotação do
Pel C Mec o tornam especialmente apto para as operações de segurança e para
os movimentos retrógrados. Em ambas, destaca-se o emprego de técnicas de
reconhecimento, ação básica e vocação natural da Cavalaria Mecanizada.
Nesse sentido, o adestramento e a dotação de material do Pel C Mec deve
objetivar, sempre que possível, a ampliação de sua capacidade de reconhecer o
campo de batalha, aumentando a possibilidade de obtenção de informações
confiáveis sobre o terreno e o inimigo em prol dos escalões superiores.

O Reparo para Metralhadora Automatizado X

O REMAX foi desenvolvido a partir do ano de 2006, quando o Centro


Tecnológico do Exército (CTEx), em conjunto com a Empresa ARES, iniciou o
Projeto REMAX, com o objetivo de desenvolver uma estação de armas que
seria integrada à nova VBTP-MR Guarani. Foram desenvolvidos, então,
protótipos para os mais diversos testes de funcionalidade e operação,
utilizando, inicialmente, como veículo integrador desta estação a VBTP Urutu.

No ano de 2010, iniciaram-se as avaliações do CTEx e, em 2012, foi assinado o


contrato com a Diretoria de Fabricação (DF) para o fornecimento de 81
unidades.
Em 2013, a integração do REMAX e da VBTP-MR Guarani foi concretizada,
dando início ao período de testes no Centro de Avaliação do Exército (CAEx).
No ano de 2015, foi realizado, na 15° Bda Inf Mec, o Estágio de Operação e
Manutenção (1° Escalão), seguido de sua avaliação operacional sob a
coordenação do CAEx.
O REMAX é uma estação de armas remotamente controlada e de giro
estabilizado que possui configuração para utilizar as metralhadoras MAG
7,62mm ou M2HB-QCB.50.
Seu Sistema de Emprego (SE) possui um peso de 210 kg (sem armamento e
munição), azimute de 360°; capacidade de 100 munições de 12,7mm (.50) ou
de 200 munições de 7,62mm; ângulos de elevação de -20° e + 60°;
velocidade de elevação e azimute de 45° por segundo; possui como funções de
sua câmera diurna e termal o campo de visão estreito, campo de visão largo e
“zoom” óptico e ainda o telêmetro laser (LRF) classe 1, com distância de
utilização de 30m a 5000m, podendo ser operado no modo manual, modo
potência, modo estabilização e modo observação.
Finalizando sua descrição, o REMAX possui três funções principais: a
OBSERVAÇÃO, através das câmeras diurna e termal; a PROTEÇÃO com sua
metralhadora MAG 7,62mm ou M2HB-QCB.50; e a MEDIÇÃO DE DISTÃNCIAS
com o LFR.

O emprego da torre REMAX no Pel C Mec

A estação de armas de giro estabilizado REMAX, juntamente com a VBTP-MR


Guarani, agrega ao EB um grande salto tecnológico relativo ao emprego de
tropas mecanizadas nos dias atuais.
A incorporação deste novo Material de Emprego Militar (MEM) irá proporcionar
um grande ganho no fator operacional de reconhecimento, sendo que este
potencializará em largas proporções a forma de emprego das técnicas de
reconhecimento utilizadas, principalmente, pela Arma de Cavalaria.
Inserido nos Pel C Mec, o reparo poderá ser usado não somente como apoio de
fogo, mas principalmente como um excelente meio de observação e detecção
em uma ação de reconhecimento.
Aos Pel C Mec são atribuídas missões de segurança e reconhecimento em um
teatro de operações, sendo que o reconhecimento torna-se uma missão de
grande vulto em relação ao planejamento, o que gera uma grande necessidade
de emprego de meios que ajam como facilitadores desta ação.
Inserido neste contexto, o REMAX atuaria como um eficaz sistema de armas e,
principalmente, como um grande meio de observação e detecção, a partir do
uso de seu moderno módulo optrônico. Esse módulo permite uma grande
capacidade de observação, identificação e medição de distâncias.
Empregado em um reconhecimento, tanto de zona, área ou eixo, auxilia a ação
do G Exp. A partir da utilização de suas câmeras diurna e termal, a torre
instalada na VBTP Guarani ou na futura VBL poderá detectar alvos a até 5.000
metros de distância de sua posição, usufruindo de seu “zoom” de 26 vezes de
magnitude.
Pode, ainda, determinar com precisão a distância da posição inimiga, utilizando
o seu telêmetro laser, aglutinando assim informações a serem repassadas para
elementos de apoio de fogo, como por exemplo, a Pç Ap do Pel C Mec, o
Pelotão de Morteiro Pesado do Regimento de Cavalaria Mecanizado ou a
Artilharia de Campanha.
Em um reconhecimento empregando técnicas especiais, como o de ponte, este
moderno sistema poderá apoiar o reconhecimento sumário e pormenorizado
realizado pelo G Exp, oferecendo maior proteção de fogos e maior rapidez em
sua execução.
Assim como em um reconhecimento de localidade, uma VBTP possuidora deste
reparo poderá não somente oferecer sua proteção blindada, mas sim um
grande meio de obtenção de alvos compensadores e de execução de fogos com
extrema precisão.
Destaca-se que seu atirador permanece no interior de uma célula de
sobrevivência, podendo, assim, diminuir em muito seu nível de stress de
combate, selecionando e abatendo alvos com muito mais precisão, diminuindo
o gasto de munição, aumentando de maneira excepcional a proteção ao
atirador e reduzindo o risco de fratricídio e danos colaterais.
O subsistema de segurança, denominado de Zona de Inibição de Tiro, previne
que a estação realize disparos na própria viatura, e até mesmo na tropa,
enquanto esta realiza a proteção aproximada da viatura.
Possui, ainda, o modo observação, no qual o sistema de armas é desabilitado,
mas seu módulo optrônico continua ativo, podendo ser empregado em uma
situação em que o pelotão esteja inserido como uma Força-Tarefa (FT) em
ambiente urbano e a presença de civis não combatentes seja um risco ao
sucesso da operação. Essa ferramenta mostra-se extremamente útil para o
emprego do Pel C Mec, também, em Operações de Garantia da Lei e da Ordem.
O REMAX pode utilizar tanto a metralhadora MAG como a metralhadora .50,
sendo sua escolha feita após o estudo das diversas peculiaridades das missões
em que o pelotão for empregado, tendo ainda como componente deste reparo,
o sistema de lançadores de granadas fumígenas.
Um grande aspecto a ser destacado é o cálculo de compensação balístico
oferecido por meio de seu programa já instalado, possuindo algumas funções
que auxiliam o atirador, como por exemplo, sensores de temperatura do ar, de
velocidade do vento e de velocidade do alvo, entre outros.
Por meio dessas funções, o atirador poderá apoiar de maneira mais rápida e,
principalmente, eficaz sua fração, sendo utilizado como meio de proteção da
progressão de seu pelotão.
Em um reconhecimento em que haja a necessidade de uma observação
minuciosa, o REMAX poderá atuar de maneira objetiva, utilizando-se das
diversas funções que o módulo oferece.
No reconhecimento de áreas boscosas, a viatura, utilizando-se do
desenfiamento de couraça e do “zoom” ótico de sua câmera diurna ou termal,
pode detectar de maneira mais rápida a posição do inimigo e, caso seja
necessário, pode abatê-la com disparos precisos, poupando tanto esforços
relativos a pessoal, dinamizando o emprego do tempo e o consumo de
munição, fatores de extrema importância para a progressão do Pel C Mec.
No período noturno, o reconhecimento de um Pel C Mec normalmente não será
utilizado, mas dependendo da situação em que estiver inserido poderá receber
ordens para tal.
Nesse contexto, o REMAX poderá exercer função primordial, auxiliando ainda
mais o pelotão, principalmente pelo seu modo de observação termal, sendo de
grande valia a sua utilização para a observação do terreno localizado a frente
da tropa, e tendo como resposta o pronto emprego de fogos.
No estabelecimento de posições de bloqueio, o REMAX fornece uma nova
forma de realizar o planejamento de fogos do Pel C Mec. A imagem termal
facilita o estabelecimento de roteiros de tiros e a designação de alvos para as
armas coletivas do Pel C Mec no período noturno.

Conclusão

A incorporação do REMAX ao material de dotação do Pel C Mec ampliará as


capacidades dessa fração no cumprimento de suas missões peculiares.
O aumento da capacidade de observação do terreno permitirá uma sensível
melhora na qualidade do reconhecimento executado pela tropa. A telemetria e
a visão noturna fornecerão dados mais precisos, capazes de apoiar a tomada
de decisão com mais propriedade.
Além disso, o alto grau de precisão apresentado pelo equipamento permitirá a
execução de tiros mais precisos, colaborando para a segurança da tropa amiga
no terreno e para a economia de munição com um efeito mais eficaz.

As viaturas foram entregues à 15ª Brigada de Infantaria Mecanizada, sediada em Cascavel/PR, para mobiliar uma das
Companhias de Fuzileiros do 33º Batalhão de Infantaria Motorizado, Unidade orgânica da Brigada, em processo de
transformação para 33º Batalhão de Infantaria Mecanizado.

É importante destacar, ainda, a versatilidade do REMAX, permitindo seu uso


numa grande gama de missões, desde operações ofensivas e defensivas, até
operações de Garantia da Lei e da Ordem e Forças de Pacificação.
Futuramente, o REMAX poderá também ser inserida no próprio G Exp, podendo
ser instalado em uma VBL que possa receber tal estação de armas,
aumentando assim de maneira significativa, não somente a proteção blindada
do atirador, mas principalmente a sua capacidade de reconhecimento em
determinada faixa do terreno e o aumento do seu poderio de fogo, já que
atualmente o principal armamento do Grupo de Exploradores é a metralhadora
MAG.
Partindo do principio de que, a partir da aquisição de novas tecnologias, haverá
também a adaptação à doutrina atual de reconhecimento da Cavalaria
Mecanizado, afetando em alguns aspectos a mudanças de algumas técnicas de
reconhecimento já utilizadas, os novos MEM incorporados abrem uma nova
perspectiva de debate acerca do emprego da Cavalaria Mecanizada do Exército
Brasileiro.

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