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AS CAPACIDADES

REQUERIDAS PARA
AS FRAÇÕES DE
RECONHECIMENTO
DO CORPO DE TROPA

3
Gabriel Esper Neto
Cap de Infantaria do
Exército Brasileiro - 1 INTRODUÇÃO

S
Academia Militar das
Agulhas Negras 2009.
egundo a Nota Doutrinária Nr 01/2021- O Emprego
Mestre em Operações do conceito IRVA, publicada na Portaria COTER/C
Militares - Escola de Ex Nº 039, de 20 de Maio de 2021, a execução das
Aperfeiçoamento ações do conceito IRVA demandam o emprego de sen-
de Oficiais. Pós-
graduado em Gestão
sores de todas as capacidades operativas disponíveis,
de Organizações de visando à obtenção de dados necessários, em ações
Inteligência – Escola de integradas e sincronizadas com o Processo de Integra-
Inteligência Militar do ção do Terreno, Condições Meteorológicas, Inimigo e
Exército.
Considerações Civis (PITCIC), relacionado com o Ciclo
da Inteligência e com o Processo de Planejamento e
Condução das Operações Terrestres (PPCOT), ligado
ao Ciclo das Operações.
Corroborando com o escopo do presente trabalho,
a ND atesta que as Unidades de todas as naturezas,
que, por sua localização ou missão, possam obter da-
dos e informações que atendam às NI (Necessidades
de Inteligência), poderão ser acionadas, em conso-
nância com o Plano de Obtenção de Conhecimentos
Gabriel Carlos Fagundes (POC), participando, assim, da fase de obtenção do Ci-
Cap de Infantaria do clo da Inteligência, caracterizando o emprego do con-
Exército Brasileiro - ceito IRVA (grifo nosso).
Academia Militar das
Agulhas Negras. Pós- Tendo por objetivo atuar como sensor de inteligên-
graduado em Operações cia, reconhecidamente por sua doutrina, destacam-se
Militares - Escola de os Pelotões de Exploradores e os Pelotões de Reco-
Aperfeiçoamento nhecimento (Pel Rec) orgânicos das Organizações Mi-
de Oficiais. Pós-
graduado em Gestão litares (OM) do Exército Brasileiro (EB). Tais frações em-
de Organizações de pregam Técnicas, Táticas e Procedimentos (TTP), bem
Inteligência – Escola de como armamentos, aparelhos optrônicos e equipa-
Inteligência Militar do mentos de comunicações/transmissão de dados, que
Exército.
possibilitam ao elemento, desdobrado no terreno, fer-
ramentas ideais para obter dados e, com oportunidade
transmiti-los, visando assessorar a tomada de decisão
do escalão superior.

4 A Lucerna
Diante do exposto, e da necessidade de dos por meio de reconhecimento, patrulha-
que a “ponta da linha” das grandes forma- mento, interação com a população local,
ções dos elementos de manobra participe exploração tática de uma área, questio-
do ciclo da inteligência, surge o problema namentos táticos, debriefing e relatórios
que norteará a presente pesquisa: Quais as de prisioneiros, nas diversas operações
capacidades requeridas para as frações de em que estejam sendo empregados (pa-
reconhecimento do corpo de tropa? trulhas, Postos de Bloqueio e Controle de
Vias (PBCV), Postos de Bloqueio e Contro-
2 RECONHECIMENTO E VIGILÂNCIA le Fluviais (PBCFlu) e outras missões onde
Segundo Brasil (2016b) o reconheci- os militares irão interagir com a população
mento é a missão empreendida para se local) (EUA, 2009).
obter informações sobre as atividades,
instalações ou meios de forças oponentes, 3 PELOTÃO DE RECONHECIMENTO
atuais ou potenciais, mediante a obser- DO BATALHÃO DE INFANTARIA
vação visual e o emprego de outros mé- LEVE DE MONTANHA
todos ou para confirmar dados relativos à Segundo o Caderno de Instrução EB-
meteorologia, à hidrografia ou a caracte- 70-CI-11.435 (2020), o Pelotão de Re-
rísticas geográficas de uma área definida. conhecimento do Batalhão de Infantaria
Desta forma, é uma atividade limitada no Leve de Montanha, Pel Rec, é uma fra-
tempo e no espaço. ção de grande flexibilidade, apta a exe-
A vigilância é definida como a observa- cutar tarefas que exijam técnicas espe-
ção sistemática do Ambiente Operacional, ciais (Tec Esp) específicas do ambiente
tendo por objetivo áreas, pessoas, instala- (Ambi) operacional de Montanha (Mth).
ções, materiais e equipamento, utilizando Administrativamente é vinculado à Com-
o auxílio de meios eletrônicos, cibernéticos, panhia de Comando e Apoio (Cia C Ap),
fotográficos, óticos ou acústicos, entre ou- porém seu emprego é subordinado ao
tros (BRASIL, 2016b). Como exemplo de planejamento conjunto do Oficial de In-
missões, pode-se citar o monitoramento teligência (S2) e do Oficial de Operações
de eixos de progressão e/ou corredores (S3) do BIL Mth.
de mobilidade, de possíveis posições de De maneira geral, o Pel Rec é emprega-
ameaças e de regiões de interesse para a do para assessorar o comandante (Cmt)
Inteligência (RIPI). tático no planejamento e execução das Op
A principal diferença entre as missões de em Ambi de Mth, através da coleta de in-
reconhecimento e vigilância é que o primei- formes sobre o inimigo e a A Op, além de
ro pode ser limitado na duração da missão prover limitada segurança às operações
atribuída, porém é ativo na coleta de dados; desenvolvidas. Pode, ainda, compor o Es-
enquanto a vigilância é sistemática, poden- calão de Reconhecimento e Segurança
do ser passiva ou ativa na coleta dos da- (ERS) nas operações de infiltração tática
dos, e exercida de forma contínua. em Mth, conduzir tropas de qualquer na-
As frações não especializadas em In- tureza, possuidoras do Estágio Básico do
teligência que possuem capacidade Combatente de Montanha (EBCM) e equi-
operativa e adestramento para realizar par vias de escalada para transposição de
Reconhecimentos são os Pelotões de Re- obstáculos.
conhecimento Aeromóvel e de Montanha Alinhado com as demandas operacionais
e o Pelotão de Exploradores. Porém, toda dos conflitos assimétricos de Quarta Gera-
fração desdobrada na A Op necessita ter ção, o Caderno de Instrução do Pel Rec Mth
militares capazes de buscar e fornecer da- preconiza em sua doutrina o cumprimento

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de missões de Reconhecimento. A mobilida- 5 PELOTÕES DE EXPLORADORES
de reduzida, o Terreno compartimentado, a O Pelotão de Exploradores (Pel Exp) é
visibilidade limitada e as rápidas mudanças uma fração orgânica de Batalhões de In-
nas condições meteorológicas aumentam a fantaria Blindados, de Regimentos de Car-
importância das Op Rec em A Mth. A faci- ros de Combate e de Regimentos de Ca-
lidade que o inimigo tem para ocultar suas valaria Blindados.
Forças nesse ambiente operacional exige É concebido, basicamente, para cumprir
que meios adicionais sejam empregados missões limitadas de reconhecimento, tais
nessas operações. O reconhecimento do como o reconhecimento de itinerários de
terreno assume, também, grande importân- progressão, zonas de reunião, bases de fo-
cia, em virtude da falta de detalhes nas car- gos, posições de retardamento, passagens
tas normalmente disponíveis. em cursos d’ água e outros (BRASIL, 2002).
Possui em sua composição 01 (um) grupo
4 PELOTÃO DE RECONHECIMENTO de comando e 02 (dois) grupos de explora-
DO BATALHÃO DE INFANTARIA dores. Por isso, como consequência de sua
LEVE (AEROMÓVEL) estrutura, é capaz de conduzir, também
O Pel Rec Aeromóvel (Amv) é uma fra- com pequena envergadura, operações de
ção dotada de grande flexibilidade, apta a segurança e outras complementares tais
executar tarefas que exijam a aplicação de como escolta de comboios, ligações, patru-
técnicas especiais. Administrativamente lhas, estabelecimento de PO, etc. Ressalta-
está vinculado à Companhia de Comando -se a necessidade desta fração atuar den-
e Apoio (CCAp) dos Batalhões de Infanta- tro do apoio cerrado, seja logístico, seja de
ria Leve (BIL), porém seu emprego está di- proteção e fogos, de outras Unidades.
retamente subordinado ao planejamento Suas possibilidades de emprego são: Re-
conjunto do S2 e do S3 do BIL. conhecer 01 (um) eixo, em situação normal,
Segundo o Caderno de Instrução CI 7- ou até 02 (dois) eixos, excepcionalmente;
10/2 – Pelotão de Reconhecimento (2011), reconhecer uma zona de até 2 Km de fren-
o Pel Rec, em função de seu adestramen- te; realizar escolta de um comboio de pe-
to e de seu material de dotação, possui quenas dimensões (10 a 25 viaturas); vigiar
algumas características, tais como: ser a uma frente de até 3 (três) Km; estabelecer
fração mais apta para cumprir missões e manter até 04 (quatro) pontos de liga-
de busca de dados no âmbito da Unida- ção; mobiliar e operar até 03 (três) Postos
de (grifo nosso); poder atuar em proveito de Observação; solicitar e ajustar missões
de tiro para elementos de apoio de fogo;
de uma Companhia de Fuzileiros Leve (Cia
realizar patrulhas; realizar a segurança de
Fuz L), sendo empregado sob o Comando
instalações de pequeno vulto; e controlar o
da Unidade; preceder o assalto aeromó-
trânsito em um eixo (BRASIL, 2002).
vel do BIL, sendo componente do Escalão
Avançado, no qual tem por missão princi-
6 INFLUÊNCIAS DOUTRINÁRIAS
pal reconhecer, mobiliar e operar a Zona
de Pouso de Helicópteros (ZPH); possuir
6.1 Soldado sensor
excelente mobilidade em terreno restri- Tendo em vista a rápida capacidade
to e sob condições de pouca visibilidade; de movimentação de tropas e de reorga-
operar independentemente de eixos de nização das frações no terreno, cresce de
suprimento e de comunicações; e possuir importância que o soldado das frações do
homens dotados de elevada iniciativa e corpo de tropa, que está na Área de Ope-
criatividade (BRASIL, 2011). rações (A Op), seja capaz de coletar da-

6 A Lucerna
dos e transmitir o que obteve a quem seja pontes entre a atividade de reconheci-
útil. Portanto, ao realizar diversas tarefas mento por frações do corpo de tropa e o
e, após receber treinamento para ser um IRVA, são: a execução de reconhecimento
eficiente sensor na zona de ação em que contínuo para coletar informações sobre
está sendo empregado, o soldado coletará dispositivo, composição, valor, atividades
o máximo de dados possíveis e este po- recentes, peculiaridades (DICOVAP) do
tencial deve ser explorado em sua pleni- inimigo do terreno, e das condições me-
tude. Nesse sentido, a tropa deverá estar teorológicas, em todas as fases de uma
pronta para cumprir a missão sabendo o operação, na qual esteja inserido; a orien-
que coletar e como fazê-lo, pois improvi- tação e reorientação dos objetivos a se-
sos podem comprometer a qualidade do rem reconhecidos a fim de atender os EEI
dado a ser obtido, além de poder ferir os estabelecidos; e a informação com rapidez
princípios da oportunidade e segurança e precisão para que os comandantes nos
(EUA, 2009). Nesse último caso, o solda- diversos níveis possam tomar decisões
do sensor deve possuir a mentalidade de tempestivas, crescendo de importância
contrainteligência para proteger a opera- relatórios rápidos e quando o tempo per-
ção e a si próprio. mitir, conhecimentos formulados a partir
No intuito de bem desempenhar a ta- da análise de um Estado-Maior ou de ati-
refa de reconhecer, o soldado das frações vidade especializada.
do corpo de tropa deve possuir noções de Devido o número de meios e capacida-
técnicas operacionais, tais como: observa- des operativas não orgânicas, mas que
ção, memorização e descrição (OMD), en- são empregadas junto às frações de ex-
trevista, vigilância e reconhecimento, pois ploradores e de reconhecimento é possível
ajudam na obtenção de dados que aten- verificar a modularidade do exército dos
dam os Elementos Essenciais de Inteligên- EUA. Dessa forma, as frações de reconhe-
cia (EEI) (EUA, 2009). cimento dos corpos de tropa desse exérci-
to ampliam e potencializam sua aquisição
6.2 RECONHECIMENTO NO de dados, confecção e difusão de produ-
EXÉRCITO tos de forma precisa e rápida, se integram
NORTE-AMERICANO ao conceito IRVA e assim, contribuem de
maneira oportuna para a criação da cons-
O Exército dos EUA demonstra na sua
ciência situacional do decisor nos diversos
doutrina que as Operações de reconhe-
níveis. Tudo isso, participando do ciclo de
cimento são de fundamental importância
produção do conhecimento sempre reo-
para subsidiar os decisores dos diversos
rientando o esforço de busca de acordo
níveis com a consciência situacional ne-
com o EEI.
cessária, colaborando para a tomada da
decisão no campo de batalha. Tais opera-
6.3 RECONHECIMENTO
ções de reconhecimento devem responder
NO EXÉRCITO ESPANHOL
aos Requisitos de Informações Críticas
(CCIR), conhecidos na doutrina brasileira Conforme o manual OR5-007 Orienta-
como os Elementos Essenciais de Inteli- ciones, Seguridad, Reconocimiento y Ex-
gência (EEI). ploración, as operações de reconhecimen-
A doutrina norte americana estabelece to do exército espanhol buscam, na A Op,
fundamentos que norteiam as atividades informações sobre o inimigo, seus meios e
de reconhecimento de suas Forças. Os im- dispositivo, terreno, condições meteoroló-
portantes para este trabalho, pois criam gicas, características da população civil e

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do ambiente aonde habitam. Tais dados mento tático para impor o ritmo ao inimigo
são obtidos com a finalidade de fornecer e executar o seu desbordamento ou envol-
ao decisor a correta consciência situacio- vimento (DO NASCIMENTO, 2020).
nal, colaborando com o processo de toma- Da observação da doutrina Francesa,
da da decisão. infere-se que o reconhecimento é uma
O reconhecimento realizado pelo exér- ação válida no contexto das operações
cito da Espanha é direcionado para ob- desenvolvidas por aquele Exército. No
jetivos pontuais, limitados no tempo e combate moderno, marcado pelo am-
empregado em ações específicas com a biente de incertezas e pelas operações
finalidade de obter dados para o emprego de amplo espectro, cresce de importân-
de tropas ou de garantir segurança, visto cia o conhecimento das capacidades do
que dá o alerta quando da aproximação inimigo e de como ele se apresentará no
do inimigo. teatro de operações, ressaltando a utili-
As frações de reconhecimento do exér- dade das ações de reconhecimento. Por
cito espanhol, quando há necessidade, são fim, observa-se que o reconhecimento é
apoiadas por meios de observação não uma ação essencial prevista na doutrina
orgânicos, anteriormente expostos, e se francesa. Com o objetivo final de obter in-
integram ao sistema de inteligência, pois formações sobre o inimigo e o terreno, o
estão inseridas no conceito IRVA. Assim, reconhecimento é referenciado nos ma-
ressalta-se a característica das tropas de nuais do exército de terra francês (Armée
reconhecimento espanholas de serem mo- de Terre) como uma missão fundamental
dulares, tendo essa particularidade sido e indispensável para o êxito nas opera-
batizada com o termo “estructura opera- ções de qualquer natureza.
tiva” (GRECO, 2009).
7 CONCLUSÃO
6.4 RECONHECIMENTO NO Este trabalho se propôs a complemen-
EXÉRCITO FRANCÊS tar os estudos doutrinários relativos às
Segundo o manual Francês FT 02 Tacti- frações de Rec do corpo de tropa como
que Generale, o reconhecimento busca in- sensor de inteligência de combate, desta-
formações sobre o inimigo e o terreno que cando-se os Pelotões de Reconhecimento
serão úteis às forças amigas. Esse ganho e os Pelotões de Exploradores orgânicos
de consciência situacional tem um impac- das OM, bem como a complementação
to significativo na percepção do disposi- da doutrina para as frações dos corpos
tivo dessas tropas, bem como das suas de tropa com o conceito “Soldado Sensor”
possibilidades e no tempo necessário para (SS-2). A fim de sugerir novas capacida-
executar as missões recebidas pelo esca- des operativas para os pelotões citados
lão superior. realizarem suas atividades de reconheci-
A doutrina francesa preconiza o mo- mento, o estudo centrou-se nas contribui-
vimento tático a fim de contribuir com a ções doutrinárias dos exércitos dos EUA,
surpresa, por meio de aproximação pelos da Espanha e da França acerca do tema.
flancos ou retaguarda do inimigo. Este O Exército Brasileiro possui como fra-
movimento visa a colocar as forças em ções de reconhecimento dos corpos de
posições vantajosas escolhidas para ata- tropa os Pelotões de Reconhecimento dos
car o adversário em um ponto decisivo ou Batalhões de Infantaria Leve de Montanha
mesmo escapar da agressão inimiga. A e Aeromóvel e os Pelotões de Explorado-
velocidade é outra característica do movi- res dos Batalhões de Infantaria Blindados,

8 A Lucerna
de Regimentos de Carros de Combate e passado por processo de análise, uma vez
de Regimentos de Cavalaria Blindados. que o tempo para a tomada de decisões
Apesar de pertencerem a Unidades de no nível tático e operacional é curto) que
diferentes Armas, com diferentes mis- subsidiam decisões de comandantes.
sões específicas no combate, estão todos Portanto, este trabalho verificou que há
enquadrados na Função de Combate (F a necessidade de se desenvolver e esti-
Cmb) Movimento e Manobra e contribuem mular a capacidade no Soldado do corpo
com a F Cmb Inteligência. de tropa, enquadrado em uma fração que
Do estudo das frações de reconheci- realiza reconhecimento, de atuar como
mento do Exército Brasileiro, é possível sensor individualmente e/ou enquadrado
observar as seguintes características co- em uma fração para perceber ou buscar
muns: são empregadas em proveito de dados do Ambiente Operacional no qual
suas Unidades enquadrantes; durante os é empregado. Para a consecução de tal
seus empregos, utilizam os seus meios or- objetivo (capacitar o soldado do corpo
gânicos ou aqueles à disposição de suas de tropa a atuar como sensor), sugere-se
Unidades; os objetivos a serem levantados a implantação de um “Estágio de Solda-
durante o reconhecimento são fixados, vi- do Sensor”, a ser ministrado pela EsIMEx
sando atender os Elementos Essenciais em todos os Comandos Militares de Área,
de Inteligência (EEI); podem buscar o con- garantindo a capilaridade e absorção do
tato com o inimigo como forma de obter conhecimento de maneira sistemática por
o DICOVAP, porém não se engajam deci- toda a Força Terrestre.
sivamente no combate; devem estar em Estudando a composição, as caracte-
condições de realizar interrogatório de rísticas e a forma de emprego das frações
prisioneiros de guerra e de interagir com a de reconhecimento dos corpos de tropa
população local caso sirvam como fontes dos exércitos norte americano, espanhol e
de dados; e integram-se ao sistema IRVA, francês, é possível observar que possuem
com a intenção de gerar dados precisos, em comum a modularidade. Tal capaci-
relevantes e oportunos, criando consciên- dade possibilita à fração ser empregada
cia situacional, a fim de subsidiar de ma- em proveito de outra unidade à qual não
neira tempestiva a tomada de decisão do está diretamente subordinada; aumenta a
comandante. possibilidade de busca de dados, uma vez
O conceito SS-2 vem ao encontro da que, se for julgado necessário em plane-
necessidade de desenvolver a expertise jamento, disporá de meios aéreos como
no militar componente da fração de reco- SARP, aeronaves de asa rotativa ou fixa;
nhecimento do corpo de tropa, no sentido preserva pessoal e meios de superfície no
desse ser capaz de realizar ações volta- cumprimento da missão; gera dados pre-
das para a busca de dados úteis para a cisos e relevantes no espaço da A Op; e,
sua fração. Assim, é preciso que seja feita quando necessário, são apoiados/reforça-
a correta fotografia do ambiente operacio- dos por elementos especializados em in-
nal no qual se inseriu, para então reportar teligência de sinais, imagens e humanas,
de maneira fidedigna, precisa e rápida os gerando produtos de maior credibilidade
elementos que viu ou viveu, com riqueza que atendam oportunamente às deman-
de detalhes fundamentais para uma cor- das do comandante.
reta interpretação. É observado que na Tomando por base o exposto, resta con-
maioria das vezes, são as observações cluir que os Pelotões de Reconhecimento e
dos elementos na ponta da linha (sem ter de Exploradores do Exército Brasileiro são

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frações dos corpos de tropa aptas a reali- de Instrução: Assalto Aeromóvel e In-
zarem operações de reconhecimento úteis filtração Aeromóvel CI 90-1/1.1ª ed.
para suas frações enquadrantes. Ape- Brasília, DF.
sar de fazerem parte do conceito IRVA, é 4. BRASIL. Ministério da Defesa. Coman-
observado que as informações geradas do de Operações Terrestres. Caderno
pelas frações executantes do reconheci- de Instrução: O Pelotão de Recolhi-
mento são difundidas em parte para o es- mento do Batalhão de Infantaria Leve
calão superior. A difusão seletiva dos da- de Montanha EB 70 CI-11.435. ed. Ex-
dos gerados pela “ponta da linha” impede perimental. Brasília, DF, 2020.
o aprofundamento do assunto por tropa 5. BRASIL. Ministério da Defesa. Coman-
especializada em inteligência, bem como do de Operações Terrestres. Caderno
que o escalão de análise produza conheci- de Instrução: Pelotão de Exploradores
mento útil para os comandantes dos níveis CI 17-1/1. 1ª ed. Experimental. Brasí-
operacional e estratégico. Considerando- lia, DF, 2002.
-se o exposto, fica caracterizada a quebra 6. BRASIL. Ministério da Defesa. Comando
do ciclo da produção do conhecimento. de Operações Terrestres. Caderno de
Por fim, sugere-se como forma de am- Instrução: Pelotão de Reconhecimento
pliar a sua capacidade de obtenção, ob- CI7-10/2. 1ª ed. Brasília, DF, 2011.
jetivando contribuir efetivamente com o 7. BRASIL. Ministério da Defesa. Co-
sistema IRVA e com o ciclo da produção mando de Operações Terrestres. Pla-
do conhecimento, adotar a característica nejamento e emprego da Inteligência
de ser modular, agregando, quando ne- Militar EB 70-MC-10.307. 1ª ed. Bra-
cessário, meios aéreos e especializados sília, DF. 2016b.
8. ESPANHA. EJÉRCITO DE TIERRA
em inteligência em sua composição. Assim
ESPAÑOL. Orientaciones, Seguri-
sendo, adapta-se uma estrutura de pelo-
dad, Reconocimiento y Exploración
tão já consagrada no Exército Brasileiro, a
OR5- 007. Granada: Mando de Adies-
fim de possuir maior utilidade no fluxo de
tramento y Doctrina. Madrid, ES, 01
informações, flexibilidade e efetividade de
juillet, 2003.
emprego, potencializando sua capacidade
9. ESPANHA. EJÉRCITO DE TIERRA ES-
operativa em prol da Força Terrestre.
PAÑOL. Grupo de Reconocimiento
PD4-202. Granada: Mando de Adies-
REFERÊNCIAS
tramento y Doctrina. Madrid, ES, 2009.
1. BRASIL. Exército Brasileiro. Centro de 10. ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA.
Instruções de Blindados. Nota experi- Headquarters. Department of the Amy.
mental de Instrução Técnicas, Táticas Reconnaissance and Surveillance
e procedimentos de Combate (TTP) Leader course 2E F173 011 – ASAI6B.
Nível SU e Pel. 3ª ed. Santa Maria, RS, Fort Benning, 1ª. ed. EUA, 2009.
2015. 11. FRANÇA. Armée de Terre. Centre de
2. BRASIL. Exército Brasileiro. DECEX. Doctrine d’Emploi de Forces. Tactique
Funções de Combate. Publicado em 21 Générale FT-02. Paris, 2008.
de outubro de 2016a. Disponível em: 12. NASCIMENTO, Tiago Henrique Alves.
<http://www.manobraescolar.decex.eb. As operações de reconhecimento no
mil.br/programas/88-funcoes-de com- combate moderno segundo os prin-
bate> Acesso em: 13 de julho de 2021. cipais exércitos do mundo. Escola de
3. BRASIL. Ministério da Defesa. Coman- Comando e Estado - Maior do Exérci-
do de Operações Terrestres. Caderno to. Rio de Janeiro, 2020.

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