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História Militar

Guerra Colonial (1961-1974)


Reorganização do Exército em África

COR CAV Amado Rodrigues


Professor de História Militar
Guerra Colonial 1961-1974

História Militar
Guerra Colonial 1961-1974

• Agenda

• Guerra Colonial (1961-1974)


– Reorganização do exército em África
– Teatros de Operações
• Angola
• Guiné
• Moçambique
Guerra Colonial 1961-1974
• Antecedentes
• Com o fim do conflito da 2ª Guerra Mundial, o domínio
colonial da Potências Europeias sobre os territórios
Africanos e Asiáticos começam a ser postos em causa
pelos Movimentos de Emancipação e Nacionalistas.
Guerra Colonial 1961-1974

• Portugal em contra corrente com o resto do Mundo, considerava


que os territórios não eram colónias mas que faziam parte de um
sistema multirracial e multicultural e integrante do país. Era o
“Portugal do Minho a Timor”.

• “Orgulhosamente só”, Portugal optou por uma política belicista de


manutenção dos territórios, que não viria a resultar na Índia, que
apesar de tentar os meios diplomáticos, encontrou o governo de
Salazar irredutível, levando à invasão de Goa, Damão e Diu em
dezembro de 1961.
Guerra Colonial 1961-1974
Guerra Colonial 1961-1974

• Esta derrota serviu para demonstrar dois factos importantes da


política salazarista:

– Privilégio da vertente militar para resoluções das questões


ultramarinas (assumiu pessoalmente a pasta da Defesa), sem
olhar a sacrifícios humanos e materiais, económicos e sociais.

– Enfraquecimento da diplomacia nacional e isolamento


internacional, depois da retirada de apoio da velha aliada –
Inglaterra.
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• Após o Congo, Angola passa a ser palco de violentos confrontos,


dando-se inicio ao conflito africano, conhecido como “Guerra
Colonial”.
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• Com uma conjuntura internacional que nos era desfavorável


em relação à política ultramarina levada a cabo pelo Estado
Novo o regime português previu a possibilidade de um
conflito armado nos territórios ultramarinos.

• Neste conflito as FA portuguesas tiveram que abandonar o


modelo convencional, de guerra clássica (onde se planeia as
operações com vista a um objetivo definido no terreno),
adaptar o dispositivo e organizar as forças para a guerra
subversiva ,revolucionária, onde o objetivo é a população,
cuja afetação ou desafetação é essencial para a vitória.

• A ação dos elementos subversivos não visa atingir objetivos


de forma direta, mas sim utilizar as ações surpresa, de
desgaste, e a sabotagem, vencendo pelo cansaço e pela
pressão o adversário, até o levar, num tempo dilatado, à
aceitação da derrota.
Guerra Colonial 1961-1974
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1. Decorreu então por parte das FA uma reorganização das forças estacionadas nas “províncias
ultramarinas” baseada em três pontos:

1. Implantação das Forças Militares em todo território, com unidades fixas, designadas por
unidades de quadrícula, que tinham como missões:
a) Ações de Nomadização dentro da sua quadrícula;
b) Patrulhamentos;
c) Proteção de Itinerários, permitindo neste caso a liberdade de movimentos e de ação;
d) ações que garantissem o bem-estar e a segurança das populações que nos era afetas;
e) evitar o apoio da população à guerrilha;
f) estabelecimento de bases no território.

2. Constituição de unidades com grande mobilidade e autonomia, possibilitando a sua atuação em


tempo contra o inimigo, perseguindo-o e batendo-o numa lógica de contraguerrilha.

3. Finalmente, implementação de um sistema de informações integrado e coordenado, com o


objetivo de recolher, tratar e utilizar em proveito das nossas tropas as notícias recolhidas.
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• Com estes componentes conjugados, pretendia-se que as ações levadas a cabo no


terreno servissem para criar pressão, punir e expulsar os opositores para fora das zonas
economicamente vitais para Portugal.
• Neste sentido, a reorganização do dispositivo levou à criação dos chamados Comandos
Territoriais, distribuídos por quadriculas e em que a unidade base tipo era o Batalhão.
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• No entanto, como as unidades de quadrícula ficavam imobilizadas nas áreas de


aquartelamento, próximo das populações, houve necessidade de criar outro tipo de
unidades que pudessem ser empregues em operações de segurança interna e em ações
diretas de contra subversão, perseguindo a guerrilha nos seus redutos, utilizando as
mesmas táticas dos guerrilheiros na lógica de guerra de contraguerrilha, como foram os
Caçadores Especiais.
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• Mais tarde por pressão de alguns setores do exército foram extintos, passando
as unidades em África, a constituírem-se em Batalhões de Caçadores e as
ações fora da quadrícula a serem executadas por forças especiais do tipo
Comandos, e com os denominados Grupos Especiais (GE), constituídos por
nativos afetos e ex-guerrilheiros.
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Guerra Colonial
Operações em África
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• Os teatros de Operações em África


• Isolado internacionalmente, com a economia gravemente afetada pela guerra e com
uma política de intransigência característica do Estado Novo, Portugal viu-se
arrastado para uma guerra de treze anos num Teatro de Guerra repartido em três
Teatros de Operações diferentes e distantes.
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Angola
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• Angola
– Sem possibilidade de um fim político no sistema colonial da administração do território,
ocorreu em Luanda algumas ações levadas a cabo pelo Movimento para a Libertação de
Angola (MPLA) em 04 de fevereiro de 1961, tentando tomar de assalto algumas esquadras
de polícia.

– Mais tarde a União dos Povos de Angola (UPA) depois Frente Nacional de Libertação de
Angola (FNLA), lançam uma série de ataques mortíferos a quintas e plantações isoladas no
Norte de Angola, tentando erradicar a população branca, tendo como apoio o Ex-Congo
Belga de onde saíram para perpetrar o ataque em 15 de março de 1961.

– Com o alastrar dos ataques, cada vez mais selváticos e com origem étnica, Salazar decide
reforçar o contingente em Angola em abril de 1961: “Para Angola rapidamente e em força!”
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• Angola
• Operação Viriato
• A UPA havia-se instalado no chamado "Reino de Nambuangongo", cuja
fronteira Sul era definida pelo Rio Lifune, depois de destruída a ponte sobre o
mesmo rio, em Anapasso.
• Em consequência o Comando Chefe ordenou a imediata ocupação de
Nambuangongo e os estrategas começaram a delinear as táticas e as
manobras operacionais, no sentido de conseguir o desiderato do poder político.
Foi assim estabelecido um plano de ocupação de Nambuangongo (Operação
Viriato), que seria conseguida do seguinte modo: Três forças autónomas
avançariam sobre Nambuangongo por três itinerários convergentes naquela
povoação.
• Após atravessaram um itinerário densamente arborizado e de serem fustigados
pelo inimigo pelo caminho, conseguem reconstruir a ponte e chegar a
Nambuangongo que foi libertada em 09 de Agosto de 1961.
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Operação Viriato
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Operação Viriato
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Guiné
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• Guiné
• A situação encontrada na Guiné-Bissau ou Guiné Portuguesa como era
denominada na altura, é diferente da de Angola, pois no terreno só se encontra
uma única força de guerrilha o Partido Africano para a Independência da Guiné
e Cabo-Verde (PAIGC), que inicia o conflito em 23 de janeiro de 1963 através
do ataque ao quartel em Tite.

• Em 1969 a luta que o PAIGC nos impunha era muito dura tendo em conta os
fatores apontados, os apoios logísticos e militar não só em armamento como
em treino e santuários na Guiné-Conacry, além do clima, da densa rede de
canais e rios, da arborização cerrada, a escassez de alimentos e a guerrilha
que nos era imposta que permitia a fuga rápida para a fronteira.
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Em 1973, a guerrilha com equipamento rádio russo, armamento


checo e morteiros de 120mm que permitiam bater os
aquartelamentos à distância e fora do território, veio juntar os
mísseis terra-ar SA7 Grail Strella que colocam a supremacia aérea
do campo de batalha em causa.
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• Guiné
• Operação Tridente
• A Operação Tridente foi o nome dado a uma operação militar combinada de forças do Exército,
Marinha e Força Aérea, decorrida em Janeiro de 1964, no decurso da Guerra Colonial na
Guiné-Bissau, que tinha como finalidade ocupar as três ilhas que constituem a região do
Como: Caiar, Como e Catungo, que desde 1963, estavam sob domínio dos guerrilheiros do
Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde.

• Esta operação foi dividida em três fases:


– a. A primeira iniciou-se em 15 de Janeiro e consistiu nos desembarques dos agrupamentos,
apoiados pela Força Aérea e pela artilharia, a partir de uma base em Catió;
– b. Na segunda fase, as forças portuguesas efetuaram operações de patrulhamento das
ilhas, de 17 a 24 de Janeiro;
– c. Uma terceira fase, de 24 de Janeiro a 24 de Março, em que se concentraram os esforços
na ilha do Como, tendo sido nesta última que se travaram os recontros mais intensos,
novamente apoiados pela artilharia e Força Aérea.
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• Segundo um relatório médico de uma das companhias «Dos 151 homens que
participaram na Operação Tridente, encontram-se em tratamento 132», o que descreve
as péssimas condições sanitárias e climatéricas a que estiveram sujeitos os militares.
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Operação Tridente
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Moçambique
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• Moçambique
• Em Moçambique a guerra é desencadeada em 1964 nos distritos de Cabo
Delgado, Niassa e Tete, pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO)
que entram no território da província ultramarina vindos de bases levantadas
fora das fronteiras, nomeadamente, na Tanzânia e Malawi.

• Além da luta armada contra Portugal pela autodeterminação, a FRELIMO leva a


cabo uma querela interna pela tomada do poder após a morte do seu
presidente Eduardo Mondlane, que, juntamente com o aumento do dispositivo
português no território, leva a um enfraquecimento das suas ações.

• Em 1970, mediante os reforços das tropas portuguesas em Tete e em Mueda,


a FRELIMO fica confinada a ações de minagem de estradas e linhas de caminho
de ferro, assim como emboscadas e ataques isolados às nossas tropas.
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• Moçambique
• A Operação Nó Górdio
– Foi a maior e mais dispendiosa campanha militar portuguesa na província ultramarina de
Moçambique, na África Oriental. Decorreu em 1970, durante a Guerra Colonial Portuguesa
(1961 - 1974). Os objetivos desta campanha consistiam em erradicar as rotas de infiltração
das guerrilhas independentistas ao longo da fronteira com a Tanzânia e destruir as suas bases
permanentes em Moçambique. A Nó Górdio durou sete meses, mobilizou no total trinta e cinco
mil militares e foi parcialmente bem-sucedida.

– A operação consistia num cerco intenso com vista ao isolamento do núcleo central do Planalto
dos Macondes, onde se encontravam as grandes bases de Gungunhana (objetivo A),
Moçambique (objetivo B) e Nampula (objetivo C). Após conseguido o isolamento, estava
programado o assalto e destruição destes objetivos. Atingindo estes objetivos, esperava-se
uma desarticulação e desmoralização da FRELIMO, embora esta não tenha sido impedida de
atuar em qualquer dos teatros de operações, conforme se verificou posteriormente.
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Operação Nó Górdio
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• A ação militar em África tem um Balanço trágico, com perto de 9000 mortos, 30000
feridos e com cerca de 140000 ex-combatentes com stress pós-traumático, além das
inúmeras vítimas civis para ambos os lados.

• Após o fim da guerra com Portugal, as ex-províncias ultramarinas, envolveram-se em


lutas fratricidas pela posse do poder o que levou a muitos mais anos de guerra e muitas
mortes até que conseguissem finalmente consolidar a sua independência.
Dúvidas?
Próximo Aula:
Capitulo 11. Forças Armadas no 25 de abril de 1974

25 de abril de 1974, “Dia da Liberdade”


Guerra Colonial 1961-1974

• Próxima aula:

• Capitulo 11 Forças armadas no 25 de abril de


1974
– 25 de abril de 1974, “Dia da Liberdade”

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