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SIMULAÇÃO VIRTUAL: uma proposta de programa de adestramento

para os Batalhões de Infantaria Mecanizados, com emprego de simuladores


de apoio de fogo.
Rodolfo Leonardo Borges Carneiro Amorim1
Prof. Dr. Ana Luiza Bravo e Paiva2

RESUMO

O artigo proposto é o resultado de uma versão preliminar da pesquisa em andamento no curso


de mestrado em Ciências Militares da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
(ECEME).
A simulação militar é um excelente instrumento para a manutenção dos níveis de
adestramento das Forças Armadas, permitindo economia de recursos e redução dos riscos
inerentes às atividades militares. A Simulação Virtual é uma modalidade para treinamento de
militares, com o uso do próprio equipamento, inseridos em ambiente simulado. O Exército
Brasileiro ampliou o uso de simuladores, através da aquisição de modernos equipamentos de
simulação virtual, e assim contribuir para o processo de modernização da Força Terrestre e
capacitação de seus recursos humanos. O contínuo processo de adequar as Organizações
Militares operacionais dotando-as de grande mobilidade estratégica e poder de combate para
atuarem como elementos de dissuasão e de pronta resposta são objetivos explicitados na
Política e na Estratégia Nacional de Defesa. Assim, as Organizações Militares de Infantaria
Motorizada estão sendo transformadas em Infantaria Mecanizada, que passaram a ser dotado
com Morteiros Pesados 120 mm, armamento de fabricação nacional, capaz de fornecer um
amplo apoio de fogo, e que requer uma técnica de tiro apurada. Portanto, o uso adequado dos
meios de simulação virtual existentes no país colabora com o adestramento das Unidades de
Infantaria Mecanizada no Sistema de Apoio de Fogo. Buscando contribuir para processo de
transformação do Exército Brasileiro é que se insere a presente pesquisa, com vistas a analisar
as vantagens do desenvolvimento de um programa básico de instrução militar para o
adestramento eficiente das Organizações Militares de Infantaria Mecanizada no Sistema de
Apoio de Fogo, com o uso dos modernos equipamentos de simulação virtual disponíveis no
Brasil.
Palavras-chave: Simulação. Transformação. Infantaria Mecanizada. Adestramento.

ABSTRACT

The proposed article is the result of a preliminary version of the ongoing research in the
master's degree course in Military Sciences of the School of Command and General Staff of
the Army (ECEME).
The military simulation is an excellent instrument for the maintenance of the levels of training
of the Armed Forces, allowing economy of resources and reduction of the inherent risks to the
military activities. Virtual Simulation is a modality for military training, with the use of the

1
Mestrando do Instituto Meira Mattos, ECEME, amorimrodolfo@yahoo.com.br.
2
Orientadora.
equipment itself, inserted in a simulated environment. The Brazilian Army expanded the use
of simulators, through the acquisition of modern virtual simulation equipment, and thus
contribute to the process of modernization of the Earth Force and training of its human
resources. The continuous process of adjusting operational Military Organizations, equipping
them with great strategic mobility and combat power to act as deterrents and prompt response
are explicit objectives in the National Defense Policy and Strategy. Thus, the Military
Organizations of Motorized Infantry are being transformed into Mechanized Infantry, which
have been endowed with Heavy Mortar 120 mm, armament of national manufacture, able to
provide a wide support of fire, and that requires a technique of accurate shooting. Therefore,
the proper use of the virtual simulation means in the country collaborates with the training of
the Mechanized Infantry Units in the Fire Support System. In order to contribute to the
process of transformation of the Brazilian Army, this research is inserted in order to analyze
the advantages of developing a basic program of military instruction for the efficient training
of Military Organizations of Mechanized Infantry in the Fire Support System, with the use of
modern virtual simulation equipment available in Brazil.

Keywords: Simulation. Transformation. Mechanized Infantry. Training.

INTRODUÇÃO

A simulação militar é um excelente instrumento para a manutenção dos níveis de


adestramento das Forças Armadas em diversos países. A utilização deste meio proporciona a
racionalização de recursos e a redução dos riscos inerentes às atividades militares. Nesse
cenário é que também se encontra a simulação virtual baseada em tecnologia aplicada em
ambiente simulado.
A simulação virtual é uma modalidade3 de exercício para o treinamento dos militares,
com o seu próprio equipamento, inserido em um cenário proposto, ou gerado por
computador. A finalidade é que o militar adquira a destreza no emprego do material. Ela
apresenta-se como uma Metodologia Ativa de Aprendizagem atrativa para o processo de
ensino-aprendizagem.
Nos últimos anos, o Exército Brasileiro tem buscado ampliar o uso de simuladores.
Modernos equipamentos de simulação virtual foram adquiridos, e atualmente compõem os
meios de instrução nas principais escolas militares do país, como exemplo, o simulador do
carro de combate Leopard 1A5 do Centro de Instrução de Blindados (CIBld), o simulador de
helicóptero do Centro de Instrução de Aviação do Exército (CIAvEx), o simulador de tiro de

3
Existem três modalidades de simulação: construtiva, viva e virtual.
armas leves (STAL) desenvolvido pelo Centro Tecnológico do Exército (CTEx), o
simulador de ataques cibernéticos do Centro de Defesa Cibernética do Exército (CDCiber) e
os modernos simuladores de apoio de fogo presentes no Centro de Adestramento – Sul (CA -
Sul) e na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN).
A aquisição destas novas tecnologias tem cooperado para a manutenção da eficiência
e aprimoramento profissional do efetivo do Exército. Desta forma, contribuindo para a
transformação da Força Terrestre, capaz de projetá-la para o futuro: da Era Industrial para a
Era do Conhecimento (BRASIL, 2014).
Neste contexto de modernização, o Exército Brasileiro está implantado as Brigadas
de Infantaria Mecanizada, a partir da transformação das Organizações Militares (OM) de
Infantaria Motorizada em Mecanizada. Desta forma, contribuindo para dotar o país de uma
Força Terrestre com capacidade operacional de atender as exigências de defesa do seu
território.
Os novos Batalhões de Infantaria Mecanizados (BI Mec) estão sendo mobiliados de
modernos equipamentos militares. Dentre eles, está o Morteiro Pesado (Mrt P) 120 mm, o
primeiro morteiro fabricado no país, sendo um armamento atual, de grande mobilidade, e
apreciável precisão (BASTOS, 2005). Este Mrt P é capaz de fornecer um amplo apoio de
fogo as tropas de infantaria no teatro de operações.
O Mrt P 120 mm requer uma técnica de tiro apurada, que envolve diversos
subsistemas de apoio de fogo para que seja alcançado o efeito desejado sobre o alvo. Neste
sentido, a utilização de simuladores virtuais, como ferramenta no processo ensino-
aprendizagem, contribuirá com o adestramento das unidades de infantaria mecanizada no
sistema de apoio de fogo.
Para tanto, é necessário que haja um planejamento adequado para o uso do simulador.
Assim, um programa básico de instrução militar, com um roteiro de atividades a ser seguido,
e a definição dos objetivos a serem atingidos, favorecerá a otimização do tempo e da
utilização da munição por ocasião do tiro real.
É no contexto acima descrito que surge a problemática da pesquisa que ora se
delineia: Que atividades seriam necessárias em um programa básico de instrução militar para
que os objetivos de adestramento no sistema de apoio de fogo sejam alcançados por uma
unidade de infantaria mecanizada, com a utilização de simulação virtual?
Diante desse quadro, o presente trabalho tem por finalidade analisar a simulação
virtual como ferramenta de adestramento das unidades de infantaria mecanizada no sistema
de apoio de fogo. Através de análise crítica, será sugerido um programa básico de instrução
para utilização do meio de simulação virtual de apoio de fogo existente no país.
A fim de viabilizar a consecução do objetivo geral deste artigo, foram formulados os
seguintes objetivos específicos, de forma a encadear logicamente o raciocínio teórico
apresentado neste estudo: apresentar a simulação como ferramenta do processo-ensino
aprendizagem, destacando os atuais meios de simulação virtual em apoio de fogo adquiridos
pelo Exército Brasileiro; estudar o apoio de fogo nas Organizações Militares de Infantaria
Mecanizada, concluindo sobre a atuação do Morteiro Pesado 120 mm no Sistema de Apoio
de Fogo; propor um programa básico de instrução militar para o adestramento das
Organizações Militares de Infantaria Mecanizada no Sistema de Apoio de Fogo, com o uso
de simulação virtual.
No alinhamento dos objetivos citados acima, a presente pesquisa justifica-se à medida
que as novas tecnologias presentes no mundo atual, as mudanças no ambiente operacional e as
significativas alterações nas formas de emprego das forças militares são indutores para
transformação dos atuais meios militares e a construção de um novo instrumento de defesa
terrestre, mais efetivo e compatível a esse novo cenário e a evolução da estatura político-
estratégica que o Brasil crescentemente adquire (BRASIL, 2013).
O espaço de batalha do futuro não deixa transparecer que o poder letal de um exército
deverá ser reduzido, mas que deverá ser mais eficiente e eficaz. Desta forma, a Concepção de
Transformação do Exército reconhece que:
A evolução para a Era do Conhecimento pressupõe uma Força com novas
capacidades e competências, integrada por pessoal altamente capacitado, treinado e
motivado, apta a empregar armamentos e equipamentos com alta tecnologia
agregada e sustentada em uma doutrina autóctone, efetiva e em constante evolução.
(BRASIL, 2013)
Do exposto, a simulação virtual é uma importante ferramenta no Processo Ensino-
Aprendizagem, pois motiva instrutores e instruendos, com o uso de equipamento de alta
tecnologia, que permite reforçar o adestramento militar através da repetição, com redução de
riscos, e gerando economia de meios, principalmente, quando o resultado é o emprego mais
eficiente dos materiais de emprego militar (MEM).
Diante desse quadro, essa pesquisa será qualitativa, uma vez que privilegiará, em fase
inicial, análise de documentos, através de uma revisão da literatura de base, buscando
aprofundar os conhecimentos a respeito do uso da simulação no ensino, da doutrina nacional
no tocante ao uso de simuladores virtuais, da infantaria mecanizada e apoio de fogo. Seguindo
a taxionomia de Vergara (2009), essa pesquisa será descritiva, explicativa, bibliográfica,
documental e de campo.
De um modo geral, verificar-se-á em quais níveis se encontram as discussões e a
produção de material e pesquisas acadêmicas sobre com as quais o presente trabalho pretende
dialogar.

1. DESENVOLVIMENTO

Esta seção é dividida em subseções que permitem apresentar os fundamentos


conceituais necessários ao cumprimento dos objetivos que são propostos na pesquisa em tela.
Também serão explicados os procedimentos metodológicos que serão utilizados para que ao
final do projeto chegue-se a uma resposta ao problema.

1.1 A Simulação Virtual no Apoio de Fogo


A proposição de exercícios de simulação não é uma ideia nova, sempre foram usados
para medir, observar e entender diferentes fenômenos, sem que estes precisem ocorrer
(BELLEMAIN, BELLEMAIN E GITIRANA, 2006).
No ensino militar, a simulação sempre representou uma excelente forma de
adestramento para as tropas. Clausewitz, no Livro Um da sua obra Da Guerra, adverte que:
Planejar manobras que envolvam alguns elementos de fricção, que irão adestrar o
discernimento, o bom senso e a coragem dos oficiais, é muito mais valioso do que as
pessoas inexperientes podem pensar. É imensamente importante que nenhum
soldado, qualquer que seja o seu posto ou graduação, deva esperar pela guerra para
ficar exposto àqueles aspectos do serviço ativo que o deixarão aturdido e confuso
quando defrontar-se pela primeira vez com eles. Se ele já tiver se deparado com eles
pelo menos uma vez antes, eles começarão a tornar-se familiares para ele.

Observa-se no Brasil, na década de 1920, o planejamento de manobras de campanha


na região do Rio Grande do Sul, ambiente no qual se enfatizava a simulação de uma
contraofensiva diante uma invasão imaginária liderada pela Argentina (MCCANN, 2009,
p.328-329).
No meio acadêmico, Belhot, Figueiredo e Malavé (2001), em estudo sobre o uso da
simulação no ensino de engenharia, esclarecem que a simulação consiste em emular uma
situação real, a partir de um modelo que corresponde a uma representação da realidade,
permitindo a experimentação e a solução de problemas, ao passo que estimula a
aprendizagem.
A simulação pode ser então definida como o método de representar artificialmente
um evento real, através de um modelo. Com o uso de meios mecânicos, informatizados, ou
ambos combinados, é possível simular as características e evoluções de um fenômeno ao
longo do tempo (BRASIL, 2011).
A Portaria Nº 55, do Estado Maior do Exército (EME), de 27 de março de 2014,
aprovou as diretrizes para o funcionamento do Sistema de Simulação do Exército (SSEB).
O sistema tem por finalidade definir a obtenção, a modelagem, o emprego e o
gerenciamento de simuladores para treinamento militar no âmbito da força, proporcionando
economias de recursos financeiros, adequando o treinamento aos limites impostos pelo
orçamento (BRASIL, 2014b).
A simulação para fins militares tem por objetivo reproduzir aspectos atinentes as
atividades de combate, se valendo de equipamentos, software e infraestruturas. Quando se
tratando de simulação virtual, são envolvidos agentes reais, operando sistemas simulados,
ou gerados por computador.
A simulação virtual adequa-se a desenvolver técnicas e habilidades individuais, para
o manejo de armas, veículos, aeronaves e demais equipamentos que exijam alto grau de
adestramento. Essa modalidade de simulação permite a redução dos riscos e a diminuição
dos custos para operação destes materiais de emprego militar (BRASIL, 2011).
No Exército Brasileiro, o Centro de Instrução de Blindados (CIBld) utiliza
dispositivos de simulação virtual da empresa alemã Krauss-Maffei Wegmann (KMW), o
Live Firing Monitoring Equipament BR. Esses avançados dispositivos colaboram para o
treinamento com os modernos carros de combate Leopard 1A5.
Na mesma vertente da simulação, o Centro de Aviação do Exército conta com o
Simulador de Helicóptero Esquilo / Fennec (SHEFE), desenvolvido pela empresa Spectra
Tecnologia. Simulação de última geração que contribui para o adestramento das tripulações
da Aviação do Exército.
Assim também, o Sistema de Simulação de Apoio de Fogo (SIMAF), presentes no
CAA – Sul e na AMAN, é a concretizando do projeto iniciado em 2010, com a assinatura
da portaria do Estado Maior do Exército que aprovou a diretriz de planejamento para
aquisição de simulador de tiro real para a artilharia de campanha (RODRIGUES et al.,
2017).
O SIMAF é um sistema computadorizado, composto por armamentos,
equipamentos e softwares, com capacidade de simular os trabalhos realizados pelos
militares, para a execução dos tiros de obuseiros e morteiros pesados. O simulador
possibilita trabalhar os diversos subsistemas do Sistema de Apoio de Fogo, em acordo com
a doutrina terrestre brasileira (RODRIGUES et al., 2017).
O SIMAF é baseado no Simulador de Artilharia de Campanha (SIMACA) do
Exército de Terra da Espanha. O simulador é amplamente utilizado pelas unidades de
artilharia para adestramento de tropas, e na academia militar espanhola na formação de seus
oficiais. Assim como o SIMAF, o SIMACA também é desenvolvido pela empresa
espanhola TECNOBIT (CANES, 2014).
Semelhantemente, na escola de artilharia do exército norte-americano em Fort Sill,
os militares contam com o Joint Fire Effects Training Simulator (JFETS), cuja tradução
para o português é Simulador de Treinamento de Efeitos de Fogo Conjunto. O simulador é
equipado com os mesmos equipamentos utilizados no campo de batalha, inseridos em um
cenário que simula o ambiente de um combate no Iraque. Trata-se de uma infraestrutura de
simulação virtual para preparo e adestramento continuado dos soldados de artilharia
americanos (JASON, 2011).
No Exército Brasileiro, o Programa de Instrução Militar (PIM) do Comando de
Operações Terrestre (COTER)4 traz a diretrizes para o adestramento das organizações
militares utilizando os simuladores virtuais presentes no CAA – Sul e na AMAN, de forma
a aprimorar o ensino militar de seus oficiais e praças que operam os meios de apoio de fogo
presentes no Exército Brasileiro.
A concepção do SIMAF, como também a aquisição dos demais equipamentos de
simulação virtual pelo Exército, são parte do processo de transformação da Força Terrestre
(F Ter).
Para o Estado-Maior do Exército (EME) as bases para a transformação da doutrina
militar terrestre “destina-se a orientar a introdução de fundamentos, concepções e conceitos
doutrinários com vistas à incorporação, na F Ter, das capacidades e das competências
necessárias ao emprego na Era do Conhecimento” (BRASIL, 2014c).
No processo de modernização da F Ter, está incluída também a criação da Infantaria
Mecanizada. Está tropa, em função de sua mobilidade tática, potência de fogo, proteção
4
Sobre COTER acessar: www.coter.eb.mil.br
blindada e ação de choque, é capaz de proporcionar, “o poder de combate compatível com
as potenciais ameaças ao país, de modo que possa atuar como elementos de dissuasão e de
pronta resposta, no amplo espectro dos conflitos” (DEUS, 2013).
A base doutrinária para implantação das unidades de infantaria mecanizada foi
aprovada pela Portaria nº 041, do Estado-Maior do Exército, em 09 de junho de 2010, e
desde então a implantação da doutrina de combate da Infantaria Mecanizada vem sendo
executada de forma progressiva (DEUS, 2013).
Ainda em experimentação doutrinária, os batalhões de infantaria mecanizados serão
dotados, como armamento de apoio de fogo, do Morteiro Pesado (Mrt P) 120 mm. Segundo
BASTOS (2005), esta arma proporcionará alta mobilidade, grande poder de fogo com
alcance de até 13 km, além de simplicidade e rapidez para entrada e saída de posição, com
grande eficácia e precisão.
Contudo, tendo em vista de a aquisição do Mrt P pelos batalhões de infantaria
mecanizados ainda ser recente, poucas OM dominam a técnica de tiro do material, a qual é
mais complexa do que dos já conhecidos Morteiros Leves e Médios.

Em face disso, há a necessidade de se incrementar as instruções de Mrt P na


Infantaria Mecanizada, tendo em vista que o emprego eficaz e eficiente deste meio de apoio
de fogo necessita de conhecimento básico de técnica de tiro, de observação e condução de
fogos, direção e coordenação de tiro e linha de fogo (BRASIL, 2017).
Assim, o uso da simulação virtual colabora para reforçar o adestramento do pessoal
no armamento, diminuindo esta lacuna na doutrina de emprego do Mrt P.
Para tanto, o Sistema de Simulação de Apoio de Fogo (SIMAF) é composto
softwares, sistemas computadorizados e equipamento, que quando adaptados ao
armamento, são capazes de simular os trabalhos realizados pela guarnição do morteiro.
Deste modo, aprimorando o adestramento de oficiais e praças responsáveis pelos meios de
apoio de fogo em uma OM de infantaria mecanizada.
O PIM COTER (2017) regula o adestramento de unidades do Exército Brasileiro no
SIMAF. Nele é proposto um programa de atividades com o uso do simulador, cujos
objetivos de instrução foram retirados do Programa Padrão de Adestramento de Artilharia
de Campanha5 (BRASIL, 2005). Não há previsão, neste programa do PIM, objetivos de

5
O Programa Padrão se assemelha a um Plano de Disciplina, com objetivos de instrução a serem atingidos.
adestramento para a Infantaria Mecanizada.
Essa questão pode ser explicada, no fato que o SIMAF foi inicialmente concebido
para ser um simulador de tiro real para a Artilharia de Campanha, conforme Portaria Nr
040, do Estado-Maior do Exército, Reservada, de 08 de junho de 2010. Contudo, com a
capacidade de serem incluídos diversos materiais de apoio de fogo, inclusive morteiros,
ampliou-se a possibilidade para o adestramento também de tropas de Infantaria (CANES,
2014).
No âmbito da Força Terrestre, as Armas dividem-se em dois grupos: as Armas-
Base, que são a Infantaria e a Cavalaria; e as Armas de Apoio ao Combate, como
Artilharia, Engenharia e Comunicações (BRASIL, 2014a).
Cabe, primordialmente, à Artilharia de Campanha prestar o apoio de fogo aos
elementos da Arma-Base. Por isso, é a artilharia o principal sistema de apoio de fogo na F
Ter. Suas unidades podem ser dotadas de obuseiros e lançadores de mísseis e foguetes
(BRASIL, 2015).
Por outro lado, a Infantaria é o elemento de manobra, que por meio da combinação
do fogo e do movimento e do combate aproximado, mais vocacionado a cerrar sobre o
inimigo, para destruí-lo ou captura-lo (BRASIL, 2003).
Contudo, apesar de serem Armas diferentes, conforme doutrina, a ação dos
morteiros da Arma-Base completa a dos obuseiros da Arma de Apoio. Assim, a Infantaria
Mecanizada, através dos fogos do Mrt P 120 mm, contribui também no sistema de apoio de
fogo no combate, juntamente com os fogos da Artilharia de Campanha (BRASIL, 2015).
Como consequência desta situação, é importante o planejamento de exercícios com
os simuladores de apoio de fogo para a Infantaria Mecanizada, mas com objetivos de
adestramento mais vocacionados a esta Arma. E com isso, a Infantaria Mecanizada
contribuirá de forma eficiente com seus fogos de morteiro no sistema de apoio de fogo.

1.2. Os Procedimentos Metodológicos


Com o intuito de confirmar o que é apresentado na literatura sobre o tema, formulou-
se o seguinte problema: que atividades seriam necessárias em um programa básico de
instrução militar para que os objetivos de adestramento no sistema de apoio de fogo sejam
alcançados por uma unidade de infantaria mecanizada, com a utilização de simulação virtual?
Pretende-se partir da hipótese que o uso da simulação virtual, com objetivos mais
vocacionados a Infantaria Mecanizada, influencia no adestramento desta tropa no sistema de
apoio de fogo.
Assim, pretende-se trabalhar com duas variáveis: o uso de simuladores virtuais como
variável independente, e o adestramento da Infantaria Mecanizada como variável
dependente, de acordo com objetivos de adestramento mais vocacionados a esta tropa.
O objetivo será propor um Programa Básico de Instrução Militar para o adestramento
em Sistema de Apoio de Fogo para as Unidades de Infantaria Mecanizada, com a utilização
da simulação virtual.
Para operacionalizar o presente trabalho, a pesquisa será qualitativa, uma vez que
privilegiará: relatos de lições aprendidas e observações realizadas nos exercícios de
adestramento feitos no SIMAF-SUL em Santa Maria e no SIMAF-AMAN em Resende;
análise documentos, como artigos de acesso livre ao público em geral; análise de manuais
doutrinários que versam sobre o apoio de fogo, assim o Programa-Padrão de Qualificação da
Infantaria, as Instruções Gerais para o Tiro com o Armamento do Exército (IGTAEx), e o
Manual de Campanha do Mrt P 120 mm, servirão de referência para montagem do programa
de adestramento.
2. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
Da análise dos dados, até então realizada, primeiramente constata-se que a Infantaria
Mecanizada no Exército ainda está em fase de implantação e desenvolvimento de doutrina.
Existem muitos trabalhos de conclusão de curso editados, mas poucas obras publicadas até o
momento.
Como o advento da simulação virtual em apoio de fogo no Brasil é recente, não existe
muita bibliografia produzida. Contudo, embora não sejam muitas as fontes nacionais sobre o
tema, elas possuem boa qualidade quanto ao conteúdo, destacando-se pela pertinência do
assunto e atualidade.
Porém, sobre a aplicação e influência da simulação virtual no processo ensino-
aprendizagem, as fontes são variadas, abrangendo o ensino acadêmico civil, e também a
instrução militar de exércitos de outros países, sobretudo Estados Unidos da América e
Espanha.
Em síntese, pode-se concluir parcialmente que, a simulação virtual contribuirá com o
adestramento da Infantaria Mecanizada no sistema de apoio de fogo, desde que com objetivos
bem definidos.
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