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Capa Cult-27.03.24-P Capa-1
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Março Mulher
fotos dr
Esperança M.
N
Luieca Ferraz*
angolana empoderada
quero falar das empoderadas dos
escritórios nem das famosas mu-
lheres socialmente bem sucedi-
das, pois o termo em si adequa-
se a elas. Assim, busquei um
pouco mais e quero trazer aqui A maioria dessas empodera- lo que é o quotidiano da mulher Luanda no nosso dia a dia, de Ja- É recomendável que sejamos
a minha humilde compreensão. das é mãe solteira, sem apoio ne- angolana e a sua forma de sobre- neiro a Dezembro, desde o ama- solidários com as outras mulhe-
Se olharmos para o dicionário, o nhum do pai das crianças; outras vivência nas periferias de Luanda nhecer a altas horas da noite com res, não só no mês de Março,
significado de empoderada está possuem um parceiro que não “Empoderamento Feminino colec- bacias à cabeça, uma imagem de mas também noutras etapas da
relacionado com “poder”, isto é, “bumba”, mas que lá no bairro tem tânea de textos de uma autora jo- autoridade, apesar da sua condi- vida, assim estaremos a cami-
alguém que conseguiu adquirir mais duas empoderadas que par- vem da praça angolana. ção de pequenez, condição caren- nhar para um verdadeiro “Em-
poder de alguma coisa; alguém tilham a comida a fim de os kan- Ao ler esta colectânea, obser- te de dependência, de submissão; poderamento Feminino”.
poderoso que possui o domínio dengues terem pelo menos a bi- vei que no texto, a fala da autora no entanto, arregaça as mangas Querida mãe, quero te mos-
da sua própria vida, que conse- lada e o conduto. Por conta des- reflecte a cosmovisão da mulher e sai em busca da sua subsistên- trar o que Irene A’mosi escreve
gue ter o autodomínio, ou seja, se cenário, fiquei inquieta elem- periférica, aquela que me reveste cia. São essas empoderadas sem no seu texto. Vê só estes peque-
que ganha o seu auto-sustento, brei-me de olhar para uns textos este Março Mulher, aquela que, a medo da vida, que enfrentam as nos extractos da narração da te-
dona da sua própria vida. Em con- angolanos que condizem com a meu ver, enfeita a cidade de Luan- vias e muitas vezes trazem lágri- mática “MULHER-AÇO”, em que
sequência disso, resolvi olhar e minha humilde forma de “galar” da às primeiras horas do dia e ali- mas de tristeza aos seres sensíveis se busca aquilo que a mulher da
caminhar com aquela mulher que este “mambo” de empoderadas menta os transeuntes. De acordo que as vêem circular pelas ruas periferia faz no seu dia a dia e co-
sai à rua com negócios peque- que enche a boca de muitas gari- com o que quero compreender de com crianças ao colo a chorar; é mo ela se empodera.
nos, que começa, muitas vezes, nas aqui na banda, mas que não “O Empoderamento Feminino”, a elas que, na vertente Março Mu- A partir do título Mulher-a-
com mil Kwanzas, ou procura conhecem o seu real significado. compilação de textos de Irene lher, quero com elas caminhar e ço, vê como ela usa a figura do
vender o negócio de outrem pa- Quero, por isso, partilhar con- A’mosi, esta jovem escritora do fazer a minha devida vénia, neste aço, que é um material resis-
ra poder ganhar e dar de comer vosco uma colectânea muito inte- Slam Poetry angolano, com qua- mês em que as festividades ocor- tente, versátil e durável, um
aos seus filhos à custa de muito ressante do nosso contexto luan- tro textos, sendo que os dois pri- rem muitas vezes com as “empo- elemento fundamental em vá-
sacrifício, com este nível de vi- dense que condiz com a minha for- meiros acarretam uma carga nar- deradas” que já são “poderosas” rios sectores-chave para o de-
da cada vez mais apertado para ma de perceber este “mambo” do rativa da imagem figurativa das no meio circundante em que fun- senvolvimento de uma socieda-
qualquer uma. “empoderamento feminino”, aqui- personagens que circulam por cionam e convivem. de. Trata-se de uma compara-
Ideias Quarta-feira, 27 de Março de 2024 | Jornal Angolano de Artes e Letras 19
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