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Arquitetura e expografia modernistas: o caso do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Ilka Moura da Silva

Aluna do Curso de Pós-Graduação em Museologia, colecionismo e curadoria do Centro Universitário


Belas Artes de São Paulo; Arquiteta e Urbanista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ,
especialista em Restauração de Arquitetura pelo Centro Técnico Templo da Arte de São Paulo.
ilka.moura@hotmail.com

Mauricio Candido da Silva

Professor da disciplina de Concepção, Planejamento de Exposições do curso de Pós-Graduação Museologia,


Curadoria e Colecionismo do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo; Doutor em Arquitetura e
Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo; coordenador técnico
do Museu de Anatomia Veterinária da FMVZ USP. maumal@usp.br

Resumo

Este artigo visa analisar a relação entre a arquitetura e expografia modernistas. Estudaremos aqui o
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e sua arquitetura modernista assim como o sistema expositivo
criado pelo designer Karl Heinz Bergmiller no fim da década de 1960 para o MAM Rio e os desdobramentos
desse projeto. Esse trabalho se propõe a criar um novo padrão de leitura das exposições, dividindo-o em
quatro momentos - projeto original de 1967, projeto pós-incêndio de 1979, projeto de 2002 e projetos
vigentes no primeiro semestre de 2016. Em cada momento estuda-se o sistema expositivo e a relação entre
ele e o espaço para o qual foi planejado. O objetivo principal desse trabalho é levantar os projetos desses
sistemas expositivos, identificando suas propostas e características principais, iniciando um mapeamento
dessa produção expográfica que foi criada especificamente para um museu modernista, tanto na proposta
como na interação com a arquitetura.

Palavras-chave: Sistemas expositivos. Exposição. Expografia. Museu. Modernismo.

Abstract

The aim of this article is to analyze the relation between Modernist architecture and exhibit design.
The object of this study is the Museum of Modern Art of Rio de Janeiro (MAM Rio) and its modernist
architecture, as well as the setting created by designer Karl Heinz Bergmiller in the end of the 1960s for the

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museum and the deployment of this project. This work proposes the creation of a new reading pattern for
the exhibitions, dividing it in four different moments — the original 1967 project, the project after the fire
from 1979, the 2002 project and the projects from the first semester of 2016. On each moment the setting
and its relation to its space is studied. The main goal of this work is to collect the projects of these settings,
identifying their objectives and main characteristics, mapping the production of these settings specifically
created for a modernist museum regarding both its purpose and its interaction with the architecture.

Key-words: Exhibition settings. Exhibition. Exhibit design. Museum. Modernism.

Introdução
O presente artigo se propõe a estudar os projetos arquitetônico e expográfico do Museu de Arte
Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), e tem por finalidade discutir os processos de elaboração desses
projetos e como forma de compreender a relação entre arquitetura e expografia. O edifício que abriga o
museu é de autoria de Afonso Eduardo Reidyi, 1953. O sistema de exposição original é assinado pelo
designer alemão Karl Heinz Bergmiller ii, desenvolvido em 1967.

Um dos objetivos desse artigo é entender como se constitui a relação entre arquitetura e
expografia, tomando o MAM Rio como estudo de caso. Dessa forma, buscamos evidenciar aqui as
transformações, adaptações e, sobretudo, as permanências nessa relação ao longo da história, com
aproximadamente cinquenta anos e centenas de exposições apresentadas. Esse trabalho propõe um novo
padrão de análise da expografia do MAM Rio, demarcando quatro momentos, são eles: o projeto original
de 1967, marcando a inauguração do Bloco Exposições; o projeto pós-incêndio, de 1979; o projeto
desenvolvido pela Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI) em 2002 e a expografia atual (primeiro
semestre de 2016). O presente artigo explora as características dos primeiros sistemas de exposição de um
museu moderno e analisa as mudanças ocorridas nos projetos e no diálogo arquitetura-expografia ao longo
do tempo.

Como procedimento metodológico, foi realizada pesquisa bibliográfica, levantamento fotográfico


no Centro de Pesquisa e Documentação do museu, entrevistas com setores de Pesquisa e Design da
instituição e foram consultados diferentes autores, tais como Yves Bruand, Brian O’Doherty e Josep Maria
Montaner, que trabalharam temas como arquitetura modernista, museus contemporâneos e museologia.

Definições iniciais

Visando maior precisão no enquadramento do assunto e do recorte proposto, cito aqui algumas
definições consideradas importantes dentro desse trabalho.

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Segundo definição do Conselho Internacional de Museus (ICOM), um museu pode ser definido
como :

Uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu


desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, estuda, expõe e transmite o
patrimônio material e imaterial da humanidade e do seu meio, com fins de estudo, educação,
e deleite. (UNESCO, 2009, p.64)

Para Waldisa Russio Camargo Guarnieri, a Museologia é a ciência do fato museológico, que “é a
relação profunda entre o Homem, sujeito que conhece, e o Objeto, parte da Realidade à qual o Homem
também pertence e sobre a qual tem o poder de agir”. Relação esta que se processa “num cenário
institucionalizado, o museu.” Guarnieri ainda completa: “O museu, como instituição, é a base necessária à
atividade museológica, é uma condição na qual o fato se processa, se realiza.” (GUARNIERI, 2010, p.204)
Neste artigo nos deteremos ao cenário museal.

O cenário institucionalizado que estudaremos aqui é o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
que foi projetado na época do Movimento Moderno que pregava funcionalidade e racionalidade, quando
“a forma segue a função”. Essa nova arquitetura do Século XX apresenta novos conceitos também aos
museus. Dentre tais transformações, destacamos nessa análise o fim da caixa opaca e compartimentada e a
chegada de um ambiente contínuo, de leitura fluida e volume transparente.

De acordo com Sabino, a exposição deve ser entendida como meio de comunicação, do objeto ou
patrimônio, e para uma comunicação efetiva, “a exposição utiliza diversos fatores e elementos entre os
quais estão o ambiente, a organização do espaço, os sons, as imagens e os objetos expostos” (SABINO,
2011). Para Lisbeth Rebollo Gonçalves o termo exposição vem do latim – exponere - significando “por para
fora”, “entregar à sorte” (GONÇALVES, 2004, p.13). Para Desvallées (1998), expografia é:

a arte de expor. O termo foi proposto em 1993, em complemento ao termo museografia,


para designar a colocação e m exposição e tudo aquilo que concerne unicamente à
ambientação, e a ela está subordinado, nas exposições (excluindo outras atividades
museográficas, como a conservação, a segurança etc.), situadas em um museu ou em um
local não museal (DESVALLÉES, 1996: 174). A expografia visa à pesquisa de uma linguagem e
de uma expressão fiel para traduzir o programa científico de uma exposição. Nisto se
distingue da decoração, que utiliza os objetos expostos em função de simples critérios
estéticos, e da cenografia, que, salvo certas aplicações particulares, se serve dos objetos
expostos ligados ao programa científico como instrumentos de um espetáculo, sem que
iii
sejam necessariamente os objetos centrais desse espetáculo (DESVALLÉES, 1998: 221).

No recorte que fizemos do tema pesquisado, os conceitos de museu, museologia, exposição e


expografia aqui apresentados são fundamentais para o desenvolvimento do presente artigo.

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Arquitetura Modernista

Na primeira metade do século XX, Le Corbusier iv entendeu que era necessário adequar a
arquitetura as novas necessidades de praticidade para a nova sociedade que estava se formando.
Condenou os excessos decorativos e exaltou o purismo geométrico e a clareza visual. Le Corbusier publicou
um artigo na revista “L’Esprit Nouveau”, em 1926, com Os Cinco Pontos da Nova Arquitetura. Com o tempo,
estes conceitos, que resultaram numa maior liberdade de criação, deixaram de ser associados apenas a Le
Corbusier e se tornaram características da Arquitetura Moderna em si:

1. Planta Livre: por meio de uma estrutura independente permite a livre locação das
paredes, por não precisarem exercer a função estrutural;

2. Fachada Livre: resulta da independência da estrutura. A fachada pode ser projetada sem
empecilhos; Utilização de vidro em grandes proporções;

3. Pilotis: Pilares que elevam o edifício do solo, criando um espaço coberto para uso público,
ou para circulação de carros.

4. Terraço-Jardim: Recria o espaço do solo ocupado pelo edifício colocando jardim habitável
na cobertura.
5. Janelas em Fita: a planta livre possibilita grandes janelas, que por sua vez, permitem a
relação entre exterior e interior e a entrada de uma luz mais uniforme.

A Arquitetura Moderna brasileira surge no ano de 1928, com a construção da Casa Modernista de
Gregori Warchavchik, em São Paulo. (CAVALCANTI, 2001, p.108)

Imagem 1. Casa Modernista ou Casa da Rua Santa Cruz – Vila Mariana, São Paulo.
Projeto de Gregori Warchavchik, 1928. Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br

Marcos Konder Netto afirma que esse movimento passou por três fases distintas:

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A primeira, que vai de 1930 até metade da década de 1940, é a fase pioneira, da luta pela
implantação dos ideais modernistas. A Segunda fase, que vai da parte final dos anos 40 até o
início dos anos 1960, é o período de consolidação dessa arquitetura contemporânea, quando
ela atinge seu apogeu, tornando-se famosa mundialmente. Finalmente, dos anos 1960 até o
momento presente, a arquitetura moderna brasileira perde muito de sua identidade e de seu
prestigio no plano internacional. (NETTO, 2006, p. 29)

Levando em consideração as fases do modernismo propostas por NETTO, o MAM Rio é um belo
exemplar da segunda fase do Movimento Moderno Brasileiro, tendo sua concepção em 1953. Foi projetado
seguindo diversos preceitos estéticos desse movimento, como a planta livre, um espaço o mais amplo
possível, com uma grande flexibilidade, integrando-se à cidade. Essa flexibilidade atinge também a
expografia, tanto para o desenho do ambiente quanto para a colocação das peças no espaço.

Lauro Cavalcanti afirma que o estilo moderno “chegou entre nós graças à imigração, visita de
europeus, retorno de brasileiros que estudaram na Europa e, principalmente, entusiasmo pelo novo estilo
por parte das gerações mais jovens de arquitetos” (CAVALCANTI, 2001, p.12). Para Cavalcanti, Afonso
Eduardo Reidy, foi “um de nossos mais importantes arquitetos, dono de uma linguagem concisa, exata e
inconfundível. Mesclava domínio da questão estrutural com a visão humanista da arte e sociedade ”
(Ibidem, p.24).

Imagem 2. Vista geral do segundo e terceiro pavimento. Fonte: http://vozerio.org.br/Museu-faz-bem-a-saude.

Museus Modernos

Em Museos para el siglo XXI Josep Maria Montaner apresenta um “panorama da condição
contemporânea da arquitetura de museus” nele destaca exemplos para o século XXI e considera que as
ideias modernas de museu se materializaram no fim dos anos 30 e início dos anos 40. Essa tendência

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modernista veio dos museus norte-americanos, segundo Montaner pelo fato da Europa estar enfrentando
a II Guerra, a instituição museu não teve grandes mudanças, que só vieram a ocorrer no final dos anos 50.

O recipiente inicial evoluiu no século XX para o volume neutro em que a flexibilidade e altos
recursos tecnológicos do espaço interior (energia, climatização, informação, circulações),
facilitaram a resolução dos problemas e transformações de umas coleções em crescimento e
v
critérios museograficos em evolução. (MONTANER, 2003, p.28).

De acordo com Montaner, o MAM Rio se adequa à tipologia elaborada e proposta por ele mesmo,
denominada A Evolução da Caixa, com elementos como planta livre, transparências, relação entre interno e
externo e novas experiências expositivas. O autor também afirma:

Buscava-se as formas da transparência, a planta livre e flexível, a máxima acessibilidade, o


predomínio dos elementos de circulação, a luz natural no espaço moderno e universal, a
extrema funcionalidade, a capacidade de crescimento, a precisão tecnológica como elemento
de identificação do destino do edifício, naturalidade e ausência de mediação entre o espaço e
vi
obra a expor. (MONTANER, 2003, p.9)

O MAM Rio é um museu de concreto armado, suspenso e que se integra a baía de Guanabara e ao
parque urbano projetado por Roberto Burle Marx.

Imagem 3. Fachada do Museu de Arte do Rio de Janeiro.


Fonte: http://guiaculturalcentrodorio.com.br/museu-de-arte-moderna-mam-rio

O MAM Rio

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o MAM Rio, foi fundado em 1948, por iniciativa do
empresário Raymundo Castro Maya, teve sua primeira sede provisória em 1952, num anexo do edifício do
Ministério da Educação e Cultura, na Rua da Imprensa. A primeira exposição foi entre os pilotis do Palácio
da Cultura, reunindo as obras premiadas na 1ª Bienal de São Paulo e trabalhos de artistas brasileiros. Em

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nove de dezembro de 1954, o Presidente Café Filho cravou a estaca fundamental; na ata do acontecimento
fazia votos para que o “Museu atinja a perfeição de sua finalidade de ser útil para o Brasil.” (Jornal do Brasil
09/07/1978).

A obra de Reidy é essencialmente arquitetônica: são os edifícios em si que contam em


primeiro lugar, são eles que pontuam o local por sua implantação e sua plástica,
contribuindo para dar a esse sítio seu sentido definitivo, da mesma maneira ou mais do que
são definidos por ele. (BRUAND, 1999, p. 224)

O projeto do MAM Rio é do arquiteto Affonso Eduardo Reidy (1909-1964) com paisagismo de
Roberto Burle Marx. Reidy criou um conjunto arquitetônico de três blocos:

- o Bloco Escola, sendo o primeiro a ser inaugurado, em 1958 pelo Presidente Juscelino
Kubitschek;

- o Bloco de Exposições, sendo este o maior, com 14 mil m², inaugurado em 1967 onde todo
o espaço ficou disponível para a efervescência artística e cultural não apenas carioca como
nacional (CASTILLO, 2008, p.132).

- o Teatro, inaugurado somente no ano de 2006, chamado atualmente de Vivo-Rio.

Imagem 4. Implantação do conjunto arquitetônico constituído por três blocos.


Fonte: Site de Arquitetura ArchDaily vii com interferência da autora.

Deteremos nossos estudos ao Bloco de Exposições e ao sistema modular de exposição criado


especificamente para ele. Este Bloco tem três andares, sendo o segundo um espaço livre de 130 metros de
extensão por 26 metros de largura, que confere máximo de flexibilidade às montagens. Possuí alturas

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internas diversas, que variam entre oito, 6,40 e 3,60 metros, possibilitando uma maior flexibilidade vertical.
O MAM apresenta áreas com especificidades próprias que atendem diferentes demandas das coleções:
com e sem iluminação natural, com pés-direitos variáveis, grande área contínua, com comunicação entre os
andares, com acesso a áreas externas. Nesse prédio, Reidy desenvolveu uma arquitetura racionalista,
empregando uma estrutura independente, um “plano livre” apoiado em colunas.

Sistemas de pilares em V, de braços desiguais, um sustentando a laje do andar e o outro a


cobertura, determinando uma espécie de projeção dinâmica da fachada, ao mesmo te mpo
que lhe conserva o equilíbrio seguro. (BRUAND, 1999, p. 237)

Uma das diretrizes exemplares desse edifício é a sua integração com a paisagem e o
aproveitamento da luz natural.

Na concepção do projeto, tiveram grande influência o local e suas condições paisagísticas,


estando sempre presente a preocupação de incorporar o edifício ao ambiente físico e de
evitar que ele constituísse um elemento perturbador da paisagem. Dai a ideia adotada, com
o predomínio da linha horizontal e o emprego de uma estrutura extremamente vazada e
transparente, que permite manter a continuidade dos jardins até o mar. (MAM, 1967)

O MAM Rio não se tornou um Cubo Brancoviii, não se isolou do exterior como era feito até então na
maioria dos museus do mundo. Em sua proposta, oferecia ao visitante um “repouso intelectual e visual
para revigorar a acuidade de seu interesse” (MAM, 1967) ao invés de um ambiente neutro e controlado. As
obras não ficam confinadas, o fechamento por panos de vidros traz a natureza para o interior do museu e
promove diálogo entre as obras e o espaço interno.

Imagem 5. Planta livre: flexibilidade horizontal. Os diferentes pés-direitos conferem flexibilidade vertical.
Fonte: Acervo da autora Ilka Moura da Silva

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Imagem 6. Instalação "Contos sem Reis" de Laercio Redondo: Obra de arte relacionando-se com o exterior.
Fonte: Acervo da autora Ilka Moura da Silva

Sistemas de Exposição

A expografia só foi assim denominada a partir de 1993 por André Desvallées. Antes disso o termo
usado era Museografia, Design de Exposição ou Sistema de Exposição. Usaremos Sistema de Exposição para
os projetos de 1967 e 1979 e Projeto Expográfico para os projetos de 2002 e de 2016. Analisaremos o
sistema expositivo modernista proposto em 1967 pelo designer alemão Karl Heinz Bergmiller e que até
hoje, quase meia década depois, ainda se faz presente nas exposições do MAM Rio.

Sistema de Exposição original de Bergmiller - 1967

O cenário artístico carioca e a “atuação dinâmica do museu [de Arte Moderna do Rio de Janeiro],
abrangendo as mais variadas manifestações das artes dos nossos dias” (MAM, 1967) pedia uma arquitetura
de grande flexibilidade. Essa dinâmica, somada ao programa museológico para um museu fluido e flexível
foi atendida pela arquitetura proposta por Reidy, e pedia suportes que pudessem assumir diversas
configurações. O projeto expositivo foi confiado ao designer alemão Bergmiller que desenvolveu um
sistema modular, composto de meios painéis e painéis montantes em forma de L, U, Z que poderiam ser
agrupados e combinados de forma a “destacar, isolar ou juntar as obras.” (MAM, 1967) . Além desses
aspectos, havia também uma proposta clara de:

[...] fixação dos quadros seguindo uma diagramação; estandardização das legendas e textos;
painéis em pintura plástica branca-fosca; iluminação indireta através de lâmpadas
fluorescentes[...] e iluminação indireta com foco regulável; exposição programada, ou seja
um sistema de planejamento e montagem em forma racional, de modo a permitir que,
definidos o esquema do agrupamento e a ordem cronológica das obras, a exposição passa a
ser montada com relativa facilidade. (MAM, 1967.)

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Mauricio Roberto, arquiteto que dirigiu o MAM Rio entre o ano de 1966 até 1971, chamou
Bergmiller para fazer um estudo de um sistema de montagem de obras de arte, segundo matéria do Jornal
do Brasil, intitulada O MAM tem sistema próprio para exposições, no ano de 1969. Segundo consta, o
designer levou cinco meses para chegar ao resultado de elementos que serviram para as exposições no
prédio modernista. Nesta matéria, que apresenta uma entrevista de Bergmiller, ele conta como solucionou
a demanda:

Primeiro era preciso resolver graficamente toda a relação entre o te mpo e o espaço (tempo
contado em dias e o espaço que ocupa a exposição). Foi feito um gráfico horizontal para o
espaço, com os dias (tempo) marcados verticalmente. Foram feitos os painéis com a forma e
dimensões desejadas – alguns vão até o solo, e outros apoiam-se sobre os pés – auto-
estruturais. O painel, mais um montante, podem ser agrupados em reta, curva, plano, e
ziguezague, ou ainda formando espaços livres para a circulação. (Jornal do Brasil, 1969).

Para resolver o problema das esculturas há os cubos pretos, que podem ser dispostos um sobre os
outros, ou lado a lado, conforme necessita a escultura. De acordo com essa reportagem as grandes
novidades do sistema do MAM Rio são:

- A mobilidade dos painéis, de pé, é absoluta, são empurrados para qualquer parte do salão
com a maior facilidade, pois possuem deslizadores.
- A estocagem dos elementos não é feita em depósitos. Fica dentro do salão de exposições,
encaixados, formando um bloco que se integra perfeitamente no conjunto arquitetônico do
Museu. (Jornal do Brasil, 1969)

Esse conjunto proposto era assim apresentado:

Nomenclatura Dimensões (em cm)


- Painel alto 244 x 244 x 60
- Painel Baixo 122 x 244 x 60
- Vitrine Alta 200 x 256 x 60
- Vitrine Baixa 120 x 120 x 60
- Pedestal Alto 120 x 40 x 40 (3 cubos de 40 cm)
- Pedestal Baixo 80 x 80 x 20

Karl Heinz Bergmiller projetou um sistema expositivo a partir do conceito de painéis removíveis,
através de um sistema modular.

Esse projeto possuía conceitos e critérios importantes e estão aqui descritos:

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1. Harmonia formal e estrutural coma obra arquitetônica;


2. Versatilidade no sentido de atender corretamente às peculiaridades da expressão criativa
contemporânea;
3. Facilidade de manipulação e montagem;
4. Rigidez estrutural;
5. Obedecer a um conceito racional de sistema, ou seja, devem ser estabelecidas relações de
ordem formal, material e construtiva de tal forma entre seus componentes, que permitam
sua identificação com um todo, sem interferir com o meio ou com as obras.[...]

A adoção de um critério de sistema permite várias qualidades de uso:


- Padronização e racionalização de elementos construtivos, portanto maior economia de
fabricação;
- Menor presença visual ou menor interferência possível no meio ou nas obras, na medida em
que se padronizam materiais e detalhes;
- Possibilidade de adoção de uma sistemática de planejamento de exposições , em vista da
adoção de paramentos adequados de coordenação modular, tipos de conexão e outros
ix
aspectos técnicos. (MAM, 1979)

Em 1967, foi inaugurado o Bloco de Exposição com uma mostra de Lasar Segall com os suportes e
vitrines propostos por Bergmiller.

Imagem 7. Exposição de inauguração do Bloco de Exposição, em 1967.


Fonte: Acervo do Centro de Pesquisa e Documentação do MAM

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Imagens 8 e 9. Exposição de Inauguração do Bloco de Exposição do MAM Rio, com uma mostra de Lasar Segall.
Arquitetura, expografia e arte modernistas. Fonte: Acervo do Centro de Pesquisa e Documentação do MAM.

No dia 08 de julho de 1978, um incêndio atingiu o prédio do MAM Rio, danificando parte de suas
instalações. O fogo devorou cerca de mil peças do acervo e as 200 obras que estavam sendo exibidas na
exposição “Geometria sensível”, incluindo 80 telas do uruguaio Torres-García. Obras de Picasso e Miró
também foram destruídas pelas chamas. No ano seguinte o IDI projeta um novo sistema expositivo, que
veremos a seguir.

Sistema de exposições para o MAM Rio – 1979

Esse projeto de 1979, desenvolvido pelo Instituto de Desenho Industrial, foi feito avaliando o
sistema anterior, que esteve exposto durante mais de dez anos (1967 a 1978). Muitos conceitos e critérios
do primeiro projeto foram preservados, porém, o incêndio ocorrido no MAM Rio no ano anterior fez com
que um item novo fosse levado em consideração: a utilização de materiais não combustíveis.

Desse segundo sistema há tanto a descrição das peças como também o manual de montagem. E
um caderno completo, onde encontramos organogramas, cronograma, técnicos necessários para a
montagem.

O sistema removível consiste em dois tipos de painéis (grandes e pequenos), montantes e


acessórios, dois tipos de vitrines (altas e baixas) e pedestais em forma de unidade modulares.
Os painéis são conectados com montantes em forma de “L”, “U”, “Z” e tornam-se auto-
estruturais. O painel grande é apoiado no solo, sendo destinado para obras de maiores
dimensões, assim como para “isolar o espaço”. O painel pequeno fica elevado do solo, sendo
destinado para obras menores. Os conjuntos de painéis pequenos formam “espaços
transparentes”. O sistema permite “destacar-isolar e ou juntar visualmente as obras”. (MAM,
1979)

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Os painéis podem ser ampliados sem interrupção de montante colocando-se dois, um ao lado do
outro no sentido horizontal (total de 7,50 m) e no sentido vertical por mais 60 cm (total de 3 metros). Para
os quadros grandes foi recomendado colocar, preferencialmente, nas próprias paredes do salão. As
esculturas grandes devem ser colocadas nos salões que tem pé-direito alto.

Esse Sistema Modular era composto por 12 elementos com as seguintes dimensões:

Nomenclatura Dimensões (em cm)


PD - Painel duplo 250 x 360 x 60
VA - Vitrine Alta 250 x 120 x 120
VB - Vitrine Baixa 75 x 120 x 120
SA – Suporte Alto 50 x 60 x 120
SB – Suporte Baixo 25 x 120 x 120
CA – Coluna Alta 125 x 40
CM – Coluna Média 100 x 40
CB – Coluna Baixa 75 x 40
CV – Coluna Vitrine 75 x 40
CAC – Coluna Alta Capitel 125 x 40 x 60
CMC – Coluna Média Capitel 100 x 40 x 60
CBC – Coluna Baixa Capitel 75 x 40 x 60

Tabela 2. Quadro desenvolvido pela autora Ilka Moura da Silva.

Imagem 10. Esquema dos painéis e suas diversas possibilidades de agrupamento.


Fonte: Acervo do Centro de Pesquisa e Documentação do MAM.

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Imagem 11. Uso dos painéis na horizontal ou na vertical.


Fonte: Acervo do Centro de Pesquisa e Documentação do MAM.

Imagem 12. Painéis Duplos (PD): em utilização nos sentidos Imagem 13. Combinação de painel duplo (PD) com o conjunto
horizontal e vertical. Maquetes de estudo volumétrico. de vitrines: Vitrine alta, Vitrine Baixa e Coluna Vitrine.

Fonte: Acervo do Centro de Pesquisa e Documentação do MAM.

O desenho para os pedestais para esculturas seguia a modulação de 40 x 40 x 40cm, que poderiam
ser empilhadas ou justapostas, de acordo com as características das escultura a ser exposta:

Imagem 14. Modulação Cúbica de 40cm. Pintados de preto fosco.


Fonte: Acervo do Centro de Pesquisa e Documentação do MAM.

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A coordenadora do setor de Design do MAM Rio, Carla Marins, nos concedeu uma entrevista e
disse que com o tempo foi-se notando o aumento no tamanho das obras de arte, portanto foi preciso
readequar a expografia para poder atender as demandas do novo acervo e das exposições itinerantes. Em
virtude disso, em 2002, o MAM Rio contatou a Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (ESDI/UERJ), onde Bergmiller lecionou, e pediu uma proposta de um sistema
versátil que atendesse as necessidades do museu naquele. No capítulo a seguir, estudaremos essa nova
proposta.

Projeto Expográfico da ESDI – 2002

Em 2002 o MAM Rio contatou a ESDI para que essa fizesse um projeto que renovasse o mobiliário
expositivo do museu. Segundo Frank Barral Dodd, coordenador do projeto, a nova proposta precisava
“gerar um sistema que atendesse de maneira versátil o que o Museu esperava deste tipo de equipamento.”
(ESDI, 2002).

A ampliação do acervo e as mudanças no cenário da arte clamavam por uma readequação dos
suportes. Em entrevista concedida à autora, a coordenadora do setor de design do MAM Rio, Carla Marins,
comentou a respeito dessas mudanças de dimensão.

As medidas das obras (telas) aumentaram. Isto nos levou a aumentar a altura de
nossos painéis há aproximadamente 10 anos, o suficiente para alcançar a maior parte das
telas e exatamente perfeito para que passasse por portas, elevador de carga e abaixo de
x
dutos de ventilação. (informação verbal)

Essa proposta não abandona de forma alguma o projeto até então vigente, pelo contrário, propõe um
redenho e reforma. No encarte de apresentação do projeto, Dodd esclarece:

O desenvolvimento do projeto resultante baseou-se em duas premissas: a primeira no


aproveitamento, via redesenho e reforma, das estruturas dos painéis de exposição já
existentes no MAM. A segunda premissa era a de criar um sistema de fácil fabricação e baixo
custo sem prejuízo da qualidade e da multiplicidade de usos. O resultado foi baseado em
módulos cúbicos de 40 x 40 x 40cm. Vitrines, bases, praticáveis, todos têm em comum essa
modulação. (ESDI, 2002)

O novo mobiliário de exposição era composto dos seguintes mobiliários:

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Arquitetura e expografia modernistas: o caso do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Nomenclatura Dimensões (em cm)


Módulo cúbico 40 x 40 x 40
Vitrine de topo para cubo 40 x 40 x 15
Painel de exposição 243 x 250 x 70,5
Painel de exposição com complemento de topo 243 x 320 x 70,5
Vitrine inclinada 120 x 80 x 40
Vitrine vertical 210 x 160 x 80
Praticável 120 x 120 x 120
Vitrine para praticável 120 x 120 x 30

Tabela 3. Quadro desenvol vido pela autora Ilka Moura da Silva.

A seguir temos cada item e sua descrição conforme projeto de 2002:

Imagem 15. Cubos. Módulo Cúbido 40 x 40 x 40 para apoio de Imagem 16. Vitrine de cubo usado para exposição de pequenos
objetos tridimensionais em geral. Podem ser conectados objetos planos ou quase planos.
lateralmente por parafusos e verticalmente por encaixe.

Imagem 17. Painel de exposição. Funciona como uma parede Imagem 18. Vitrines inclinadas servem para expor originais
para exibição para objetos bidimensionais. Pode ser usado planos de pequena espessura, que podem ou não ser
como divisórias para criar ambientes e suportar objetos apresentados com uma inclinação discreta, colocados a uma
tridimensionais, inclusive alguns embutidos. altura confortável de leitura para o visitante.

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Imagem 19. Praticáveis. Bases de apoio para objetos volumosos Imagem 20. Vitrines verticais servem para expor
e/ou pesados. Podem ser conectados entre si e também com os objetos tridimensionais que serão vistos
cubos. lateralmente, protegidos por planos de vidro
transparente ou policarbonato. Quando usada, a
iluminação instalada de baixo para cima, permite a
exposição de objetos transparentes ou translúcidos.

Imagem 21. Modulação fica evidente a modulação entre cubos Imagem 22. Modulação também funciona
e praticável. Podem se ligar lateralmente por parafusos. verticalmente.

O mobiliário feito pela ESDI ainda é usado no terceiro andar do museu enquanto que no segundo
andar são usados os antigos painéis, que tiveram todas as chapas de cimento-amianto substituídas por
MDF, conferindo leveza e praticidade.

Mesmo com a necessidade de renovação do mobiliário em relação às mudanças no campo da arte,


o projeto modernista continuou presente no MAM Rio, uma vez que a essência do projeto proposto por
Bergmiller não foi modificado. Foi adaptado a nova realidade e segue vivo nesse projeto de 2002.

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Projeto Expográfico Atual

Os painéis propostos por Bergmiller e redesenhados pela ESDI ainda podem ser identificados nas
exposições atuais do MAM Rio. Porém, o museu não se limita somente a essa expografia. O MAM Rio conta
com um setor de Design, cuja equipe é responsável por todas as exposições atualmente em cartaz. A
coordenadora desse setor, Carla Marins, informa que recebe projetos externos para mostras que não
pertencem à coleção do museu e afirma ser salutar a troca de saberes entre o setor e os designers externos
(informação verbal) xi. Dependendo da mostra, peças são feitas exclusivamente para ela e eventualmente
são adequadas a uma segunda ou terceira exposição, sendo posteriormente recicladas ou doadas.

Castillo diz que o MAM Rio teve um importante papel no âmbito expositivo, contribuindo tanto
para a construção da história da arte mais recente, quanto para a expografia atual (CASTILLO, 2008, p.133).
Castillo afirma ainda que as características expositivas criadas por Bergmiller em 1967 são usadas até hoje,
para “obtenção de melhores condições de espacialização, fixação e montagem em favor da fruição das
obras em exposição.” (Ibidem, p.134)

Observe-se que os paradigmas expográficos lançados naquela ocasião continuariam sendo


utilizados até os dias atuais, constituindo um modelo museográfico adotado em quase todos
os espaços de exposições modernos, cujas características arquitetônicas relacionam espaço
interno e externo, como, por exemplo, o MAM paulista (antigo Pavilhão Bahia), o MAM de
Berlim, o Museu da Pampulha Mineiro, entre outros.
Os elementos dessa nova museografia podem ser assim resumidos: cubos, praticáveis e
painéis autoportantes distribuídos estrategicamente no salão de exposição, tanto como
recurso para aumentar a metrage m linear expográfica, quanto como alternativa para
minimizar a interferência da paisagem no espaço expositivo, que esse tipo de arquitetura
moderna propicia, em razão de seus extensos panos de vidro laterais. (CASTILLO 2008, p.134)

Analisaremos duas exposições distintas que estiveram expostas no primeiro semestre do ano de
2016. A primeira, Genealogias do contemporâneo, está exposta no terceiro andar do museu com a coleção
de Gilberto Chateaubriand. A segunda, O Design e a Madeira, esteve exposta no segundo andar entre 12 de
dezembro de 2015 a 14 de fevereiro de 2016 e tinha uma proposta diferente do sistema expositivo que
estudamos até o momento.

A exposição Genealogias do Contemporâneo apresenta o mobiliário modular, com os parâmetros


propostos por Bergmiller e readequados pela ESDI em 2002. Painéis autoportantes de linhas retas definem
e organizam os ambientes, sem vedar o interior. A relação com o entorno ainda acontece, como foi
proposto em 1967 pelo Reidy.

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Imagem 23. Exposição Genealogias do Contemporâneo faz uso de painéis e suportes cúbicos para esculturas.
Fonte: Acervo da autora Ilka Moura da Silva

Imagem 24. Uso de Painéis autoportantes, delimitação e Imagem 25. Vitrine vertical como o projeto de 2002.
organização dos espaços sem perder a relação com o exterior. Uma tela é usada para amenizar a incidencia solar,
Fonte: Acervo da autora Ilka Moura da Silva. na área onde tem projeção audiovisual.
Fonte: Acervo da autora Ilka Moura da Silva.

A exposição O Design e a Madeira apresentou uma expografia diferente da tradicional, assinada


pelo Setor de Design do próprio museu. Essa diversificação é, na maioria das vezes, uma proposta do
próprio Setor de Design, mas dependendo da exposição, o curador propõe a linha projetual que se deve
seguir. Marins conta (informação verbal)xii que “quando se trata de uma mostra individual de artista vivo,
ele é a primeira pessoa que ouvimos para a elaboração da exposição.”

Essa expografia era composta de grandes expositores de compensado cru coberta por um laminado
branco fosco. Havia também praticáveis percorrendo quase todo o perímetro da exposição, pintados de

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cinza, onde foram colocados móveis menores. O mobiliário apresentava-se em linhas retas, mas com
volumetria própria. Numa alusão de que nada se perde quando se usa a madeira, a barreira usada entre
obra e visitante foi a serragem.

Imagem 26. Exposição faz uso de mobiliário específico, que dialoga diretamente com o tema da exposição.
Fonte: http://www.lattoog.com/ index.php/exposicoes

Imagem 27: Imagem 28: Praticável rente à parede,


Serragem é usada como barreira publico-obra. com pintura neutra e legenda próxima as peças.

Fonte: http://umolhar.net/pinceladas/laercio-redondo-no-mam-com-exposicao-o-que-acaba-todos-os-dias/

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Conclusão

Após estudo em documentações de época e material publicado sobre o assunto em questão,


verificamos que MAM Rio teve um o sistema expositivo próprio e inovador para a época. O projeto
arquitetônico do MAM Rio é extremamente versátil, permite a construção de arquiteturas dentro da
própria arquitetura, dada sua generosidade, liberdade e limpeza estética de elementos.

A periodização apresentada nesse artigo foi criada com o intuito de entender o desenvolvimento
do sistema expográfico e assim poder comparar as permanências e adaptações. O projeto de 1967 foi
também baseado na racionalização e purismo estético que estavam vigentes no período. O sistema
proposto em 1979 faz uma revisão do projeto original, adicionando características que faltaram no projeto
original. O projeto de 2002, feito pela ESDI é uma releitura do projeto existente, sendo fácil reconhecer as
referências. Em visitas ao Museu, no primeiro semestre de 2016, pudemos notar ainda a presença do
desenho modernista de Bergmiller na expografia usada.

O MAM Rio não ficou refém do passado, recorre às outras expografias, mas não abandonou o
sistema de traçado moderno que dialoga tão harmoniosamente com seu invólucro, também de traços
modernistas. Importante notar que essa expografia esteve no museu desde sua inauguração, sofrendo
ajustes, mas não foi desclassificado e muito menos trocado por displays com desenho contemporâneo.
Podemos concluir que o projeto com quase cinquenta anos não ficou datado, segue modernista, assim
como sua arquitetura, apresentando linhas retas, marcantes, que sobreviveram ao tempo, mostrando
versatilidade e imponência. A relação entre arquitetura e expografia modernistas aconteceu no MAM Rio
de forma clara, sem sobreposição de uma sobre a outra, funcionaram juntos, se complementando, desde
sua criação até hoje.

Referências
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CASTILLO, Sonia Salcedo Del. Cenário da arquitetura da arte: montagem e espaços de exposições. São Paulo: Martins
Fontes, 2008. 347 p.

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MARINS, Carla: depoimento [abr. 2016]. Entrevistadora: Ilka Moura da Silva. Rio de Janeiro. Entr evista concedida à
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Comitê Brasileiro e Comitê Português do ICO M. International Council of Museums: Comitê Brasileiro. São Paulo:
Imprensa Oficial, 2009.

Notas

i
Afonso Eduardo Reidy, arquiteto nascido em Paris, 1909, mas teve sua formação acadêmica na Escola de Belas Artes
do Rio de Janeiro. Em 1929, trabalhou no Plano Diretor da cidade do Rio de Janeiro, auxiliando Alfred Agache. No ano
de 1932 começou a trabalhar como arquiteto na Pr efeitura da cidade do Rio de Janeiro e ali desenvolveu sua carreira,
ocupando diferentes cargos. É autor de diversos projetos modernistas no Brasil, como os conjuntos residenciais da
Gávea (1954) e do Pedr egulho (1947-1952) e o MAM Rio em 1953, um de seus mais importantes trabalhos.
ii
Karl Heinz Bergmiller, Designer alemão com formação na Hochschule für Gestaltang - HfG, escola modernista de
Ulm, na Alemanha. Foi aluno de Max Bill e um dos mentores da Escola Superior de Design Industrial – ESDI. Veio par a
o Brasil em 1959, trabalhou em São Paulo e mudou-se para o Rio de Janeiro em 1967, trabalhando na estruturação do
Instituto de Desenho Industrial – IDI-MAM. Além de ser coordenador das exposições e autor do projeto do Sistema de
exposição do MAM Rio.
iii
Tradução nossa.
iv
Le Corbusier, Arquiteto francês de origem suíça. É considerado um dos nomes mais importantes da Arquitetura
Moderna. Fez grandes e notáveis projetos como a Villa-Savoye (França), o edifício sede da ONU (EUA) juntamente com
o brasileiro Oscar Niemeyer. Foi também pintor purista e teórico da arte.
v
Tradução nossa
vi
Tradução nossa.
vii
Disponível em: http://www.ar chdaily.com.br/br/758700/classicos-da-arquitetura-museu-de-arte-moderna-do-rio-
de-janeiro-affonso-eduardo-reidy/5483c826e58ecef0 ed000070-implantacao
viii
Cubo Branco - expressão que se r efer e à neutralidade do espaço, onde o mundo exterior não deve entrar, de modo
que as janelas geralmen te são lacradas. As paredes são pintadas de b ranco. O teto torna-se fon te de luz. (O´Doher ty,
1976, p.4)
ix
Esses critérios estão em um catálogo domam de 1979, porém refere-se ao projeto de 1967.
x
Entrevista concedida por MARINS, Carla. Entr evista [abr. 2016]. Entrevistadora: Ilka Moura da Silva. Rio de Janeiro,
2016.
xi
Entrevista concedida por MARINS, Carla. Entr evista [abr. 2016]. Entrevistadora: Ilka Moura da Silva. Rio de Janeiro,
2016.
xii
Entrevista concedida por MARINS, Carla. Entr evista [abr. 2016]. Entrevistadora: Ilka Moura da Silva. Rio de Janeiro,
2016.

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