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Paul Valéry1
1 VALÉRY, Paul. Œuvres II. Pièces sur l’art. Paris: Gallimard, 1960.
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pelos teóricos de museus (conforme será exposto ao longo deste trabalho) assume
não a dialética adorniana, mas a contradição entre os dois autores (Valéry e
Proust) apontada no início do texto de Adorno, e resumida a seguir.
Valéry demonstrou o seu caráter objetivo [das obras do espírito], a coerência interna
da obra de arte e a contingência do sujeito em face dela, pois sua intuição é fruto de
sua experiência subjetiva, do constrangimento experimentado ao longo do trabalho
do artista.3
Para Valéry, as obras de arte são objetos únicos e raros, distintos entre si,
e não devem ser amontoadas umas ao lado das outras. Ele choca-se com o aspecto
caótico do museu. Valéry é um poeta, artista, crítico e teórico das artes. Seu ponto
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5 POMIAN, Krzysztof. Le Musée face a l’art de son temps. Les Cahiers du MNAM. L’art
conrtemporain et le musée. Paris: Centre Georges Pompidou, Hors-série, p. 5-10, [s. d.].
6 Ibid.
7 POMIAN, Krzysztof. Op. cit., p. 6.
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na época.
Na França, o primeiro museu que acolheu a arte que estava sendo feita
em sua época foi o Museu dos Artistas Vivos8 . Inaugurado no Palácio de
Luxembourg em 1818, esse museu estatal guarda semelhanças com os museus de
arte herdada. As obras eram escolhidas nos Salões e permaneciam no Museu dos
Artistas Vivos até dez anos após a morte do artista – período prolongado
posteriormente para cinqüenta anos, após os quais a obra era encaminhada ao
Louvre, aos museus regionais ou aos palácios, que garantiam sua perpetuação.
Tais procedimentos geraram, em uma parte da classe artística desejosa de sentir-se
ao lado dos grandes mestres do passado, obras produzidas que atendessem ao
gosto acadêmico dos jurados das competições dos Salões.
8 Sobre a história do Museu dos Artistas Vivos, ver Capítulo 3 deste trabalho.
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9 Para maior compreensão das práticas expositivas das vanguardas, ver ALTSHULER, Bruce. The
avant-garde in exhibition – New Art in the 20th Century. Los Angeles: University of
California Press, 1998.
10 Dados fornecidos por POMIAN, Krzysztof. Op. cit., p. 9.
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Pomian afirma que, a partir dos séculos XIV e XV, a pintura e escultura
ocidentais tinham finalidade quádrupla: podiam ser decorativas, comemorativas,
cognitivo-educativas e litúrgicas. Essas finalidades definiam a função da obra e as
condições de inserção no espaço apropriado. Essas funções tinham relação direta
com o tempo: a decorativa correspondia ao presente; a comemorativa (cenas de
batalha e outros episódios da história), ao passado; a cognitivo-educativa (grandes
pinturas históricas e míticas) orientava-se para o futuro; e a litúrgica (quadros
religiosos e retábulos destinados a participarem do culto), para a eternidade. As
obras podiam ainda acumular tais funções12 .
Este modelo foi assumido até o Iluminismo, quando houve uma ruptura
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14 HUYSSEN, Andreas. Memórias do Modernismo. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1996, p. 231. O
termo “museal” é um neologismo na língua portuguesa, empregado por Huyssen na obra referida.
15 SEROTA, Nicholas. Experience or interpretation - The dilemma of museums of modern
Art. New York: Thames and Hudson, 1996, p. 7.
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seqüência cronológica. Esse novo modelo foi adotado por todos os museus de arte
moderna e prevaleceu até a década de 198016 .
Nesse período final, começa a esboçar-se uma nova forma de expor, com
ênfase no trabalho individual do artista, e os museus de arte moderna e
contemporânea adotam a prática de expor artistas em salas únicas. Diversos
fatores foram responsáveis por esta transformação nas concepções museológica e
museográfica, entre eles o início da prática de grandes exposições temporárias
individuais – pois, até 1950, as exposições coletivas eram o mais comum.
já era destinada aos museus, prática esta que triunfou nos anos 1950, sobretudo
nos EUA.
uma delas implica triplo declínio, o que ocorreu a partir dos anos 198019 .
A posição de Damisch é menos fatalista. Para ele, por mais que o museu
tenha aprendido a acolher a arte moderna – por exemplo, o radicalismo dos ready-
made de Duchamp –, a força atual do museu reside em sua capacidade de
recolocar em cena uma arte que se pretendia independente da arte acadêmica e,
por perversão da máquina da instituição, finaliza por institucionalizar a própria
arte. Caberia à arte contemporânea fornecer as provas, através de seus próprios
meios, de sua capacidade de dispor dessa máquina para servir a seus fins, sem se
deixar levar por ela. Damisch conclui que é importante substituir a crítica feita à
instituição pela utilização lúdica de que sua máquina corresponderia à prática real
da arte moderna e contemporânea.
ao público em 1997.