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1 WRIGHT, Frank Lloyd. The Guggenheim Correspondance. Selected and with commentary by
Bruce Brooks Pfeiffer. Fresno: The Press at California State University/ Carbondale and
Edwardsville: Southern Illinois University Press, 1986, p. 242 (trad. da autora).
77
Este projeto de Frank Lloyd Wright foi um dos escolhidos para estudo de
caso, por diversas razões. É o exemplo de museu mais significativo dentro do
movimento moderno, ao propor uma nova relação entre arte e arquitetura. Trata-se
de uma proposta singular, se comparada com os paradigmas de formas retilíneas
de Le Corbusier e de Mies van der Rohe, tornando-se ela própria um novo
paradigma, o da forma curvilínea.
2.1
O Empreendimento
2.1.1
PUC-
Durante o período inicial de convivência, o arquiteto e a curadora
Rio -
Certific compartilharam muitas afinidades. A paixão pela música e pela abstração na arte
ação
Digital os unia. Desde 1913, Frank Lloyd Wright já havia manifestado sua falta de
Nº
991616
interesse pela representação na Arte, que ele nomeava de realismo, argumentando
1/CA que a linha reta e o plano literal já faziam parte de seus edifícios desde o início de
sua carreira, nas casas de pradaria.5 Com concepções distantes do significado de
abstração, Hilla Von Rebay e Frank Lloyd Wright conciliavam-se nos aspectos
espirituais da obra de Wassily Kandinsky. No entanto, a partir da primeira
apresentação do projeto, as divergências começaram a surgir.
Para ele, a pintura não-objetiva dizia mais respeito à relação entre forma
e espaço, o que explicava sua determinação em não construir um museu
simplesmente para “pendurar pinturas nas paredes”, mas que pudesse relacionar a
idéia de espaço na pintura com espaço arquitetônico. Ele propunha uma estrutura
cuja qualidade espacial poderia enaltecer a arte abstrata.
4 Hilla Rebay apud MASSU, Claude. Le dessein contourné de Frank Lloyd Wright. Le Solomon
R. Guggenheim et les artistes. Les Cahiers du Musée National d’Art Moderne. Paris : Centre
Georges Pompidou, n. 39, printemps, 1992, p. 81.
5 WRIGHT, Frank Lloyd. An Autobiography. New York: Horizon Press, 1932, 1943, 1977, p.
204.
81
Tal como para Wright, para Kandinsky a estreita ligação entre teoria e
prática é uma característica essencial de sua obra. Do Espiritual na Arte, o
primeiro livro de Kandinsky, escrito em 1910, foi uma espécie de manifesto.
7 A coleção de SRG estava exposta temporariamente em um edifício alugado para este fim. Hilla
von Rebay era a responsável pela exibição.
83
desejava este impacto, e o arquiteto abraçou sua causa durante mais de uma
década, apostando no aspecto inovador do projeto, não somente arquitetônico e
construtivo, mas também museológico. No entanto, a proposta museológica de
Frank Lloyd Wright provocou um enorme ceticismo em Guggenheim e em Hilla
von Rebay, bem como em seus sucessores, Harry Guggenheim e James Sweeney,
respectivamente, e ainda mais amplamente no mundo das artes.
2.1.2
As etapas do empreendimento
Em 1946, Wright foi acusado por Hilla von Rebay de ter concebido um
museu que desfavorecia a pintura, submetendo-a à arquitetura. Wright defendeu-
se em carta a Solomon Guggenheim, explicando que não havia pinturas
representativas [grifo meu] no interior de seus projetos por sua própria escolha,
mas que ele era apreciador da arte chinesa antiga e do período Momoyama
japonês, assim como a arte não-objetiva também era bem-vinda em interiores por
ele planejados.
85
levou a uma total revisão do projeto. A rampa principal, ao lado da 89th Street, foi
relocada ao lado da 88th Street, como no projeto original de 1944. A proposta do
apartamento de alto luxo destinado ao diretor foi retirada do programa.
10 Carta de Wright a James Sweeney em 07/10/1954. In: WRIGHT, Frank Lloyd. The
Guggenheim Correspondance, op. cit., p. 209.
88
Este último dispositivo já havia sido colocado em cheque por Hilla von
Rebay e Solomon Guggenheim. Quando o colecionador visitou a fazenda-escola
Taliesin em Wiscosin, Wright demonstrou-lhe a eficiência de seu princípio de
iluminação, mostrando-lhe, em sua própria cozinha, como a janela alta em fita era
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14 As pranchas eram: Reception, Watercolor Society, The Average – Sculpture and Painting, The
Middle of the Road e The Masterpiece. Wright enviou o book aos grandes jornais e revistas
americanos europeus, entre os quais Andre Bloc, da Architecture d’Aujourd’hui, e Bruno Zevi, do
Architettura.
91
Wright faleceu em abril de 1959, e não pôde ver sua obra, inaugurada em
outubro. Foram o projeto e a construção que mais exigiram sua atenção,
continuamente alterados desde a sua feição inaugural, e com muitos percalços
políticos, monetários e construtivos.
nove meses após a inauguração, foi substituído em 1961 por Tomas Messer, que
ocupou a direção até o ingresso de Thomas Krens, em 1988. As fendas de
iluminação não foram abertas na inauguração, permanecendo fechadas até a
restauração realizada durante a construção do anexo (1990-92). Outros itens foram
restaurados nessa época: a rampa do topo da espiral foi restituída ao espaço
expositivo, fez-se a iluminação zenital, o restaurante foi removido para a 88th St.,
o auditório foi restaurado, mas a rotunda foi repintada de branco e não de creme,
conforme o projeto de Wright 15 .
15 Segundo NEWHOUSE, Victoria. Towards a new museum. New York: The Monacelli Press,
1998, p. 167.
92
2.2
Arquitetura
2.2.1
A espiral
Ben, sempre me pareceu que, quando você vai a um museu de arte, como tem sido
projetado e construído nos últimos quatrocentos ou quinhentos anos, você anda,
anda, anda olhando para várias pinturas, esculturas, coleções, o que quer que seja.
Ao terminar, você tem que refazer seus passos e ver tudo de novo, somente para
voltar ao ponto de partida. O que eu quero atingir com este Museu é, de uma vez
por todas, eliminar o ir e vir, o para frente e para trás, e prover uma circulação
melhor para ver pinturas. Veja você, neste edifício você vem da rua principal e
entra em um átrio de proporções generosas e bem iluminado, pega um elevador até
o topo e começa sua descida de maneira gradual por uma confortável rampa. Em
qualquer ponto do seu passeio, você pode parar e ver o saguão, olhar para onde
esteve e para onde está indo. Se o seu olho se detém em uma determinada pintura
adiante, você pode se dirigir ao elevador, sempre tangencial em relação à rampa, e
pedir ao ascensorista que o conduza dois andares acima ou abaixo, ou o que quer
que você deseje. Uma vez terminada a sua visita, você está de volta ao lugar de
partida. Você pode ir à cafeteria e tomar um café ou um chá, comprar cartões ou
livros, se assim o quiser, tudo no nível de entrada, e finalmente sair em direção à
16 Carta a Hilla von Rebay em 06/10/1944. In: WRIGHT, Frank Lloyd. The Guggenheim
Correspondance, op. cit.
93
Quinta Avenida. Não há retorno no seu circuito. Uma vez o tendo feito, só há uma
direção, para frente, e ao fim você se encontra novamente na entrada.17
Claude Massu sugere que a idéia de construir a espiral era uma obsessão
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do arquiteto, sem chegar a analisar seus propósitos18 . O interesse pela espiral pode
estar pautado na associação entre forma e função, tão cara a Louis Sullivan, uma
das referências iniciais do jovem Frank Lloyd Wright. Historicamente, é uma
forma derivada da antiga Mesopotâmia, o zigurat, assumidamente empregada pelo
arquiteto, que se interessava abertamente por formas de culturas distintas como as
pré-hispânicas, a japonesa e as indígenas americanas. A espiral é capaz de integrar
espaço e circulação a partir de sua unidade, e é neste aspecto que reside o
interesse de Wright por essa forma. Posteriormente, ele voltou a empregar a
espiral, no projeto do Self-Service Garage (1949). A rampa espiralada em
concreto foi utilizada na loja Morris, em São Francisco (1948).
17 Carta de Frank Lloyd Wright a seu editor, Ben Raeburn da Horizon Press, quando perguntado
porque havia feito o MSRG em espiral. WRIGHT, Frank Lloyd. The Guggenheim
Correspondance. Op. cit., p. 111.
18 MASSU, Claude. Op. cit.
94
19 Segundo PFEIFFER, Bruce Brooks; LARKIN, David. Frank Lloyd Wright – The
Masterworks. New York: Rizzoli, 1993, p. 110.
20 BANHAM, Reyner. Age of the Masters: a personal view of Modern Architecture, apud
COHEN, Jean-Louis. Monuments pour un culte de masse – Le Solomon R. Guggenheim Museum
et le Centre Georges Pompidou. Les Cahiers du Musee National d’Art Moderne. Paris: Centre
Georges Pompidou, n. 67, p. 12, printemps 1999.
21 COHEN, Jean-Louis. Op. cit., p. 5-29.
22 RICO, Juan Carlos. Los espacios expositivos. Op. cit., p. 241-242.
23 O arquiteto americano foi excluído da Exposição Estilo Internacional, organizada por Philip
Johnson e Henry-Russel Hitchcock em 1932 no MoMA-NY.
95
2.2.2
Sigfried Giedion afirma que Frank Lloyd Wright foi mais do que um
arquiteto, impondo-se, ao lado dos grandes missionários norte-americanos, através
de sua vontade de protestar e de perseverar na rebeldia. Ele manteve na
arquitetura a tradição literária da segunda metade do século XIX, de Walt
Whitman e de Henry Thoreau. Para Giedion, a base da obra de Wright apoia-se
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Lloyd Wright foi o único arquiteto de sua geração a superar os limites impostos
pela estrutura de pensamento do século anterior. Buscou referências que
evidenciassem as imagens da permanência na natureza, fora da cultura americana
e fora da arte ocidental – inicialmente no Japão e posteriormente na América pré-
hispânica27 .
Frank Lloyd Wright realizou a maior parte de sua obra já no fim de sua
carreira. O MSRG representa um marco na sua história, e faz parte da última fase.
A partir da década de 1930, o arquiteto começou a utilizar as formas curvas. São
nítidas as influências do projeto da S. C. Johnson & Son Company Administration
(1936), como a criação de uma unidade interna, consubstanciada na ambientação
iluminada zenitalmente, e na associação entre arquitetura e engenharia, em formas
escultóricas orgânicas e unificadas.
2.2.3
Nova York
de monumento não é estabelecida pelos valores agregados, mas por algo novo,
algo que não remete ao passado, mas ao futuro: o arranha-céu. Símbolo de força e
potência, o arranha-céu tornou-se o modelo arquitetônico moderno americano,
viabilizado pelo desenvolvimento da técnica. Na modernidade americana, não se
dissocia cultura e técnica; a arquitetura é sinônimo de construção, sendo portanto
definida pelos limites da técnica39 .
39 Ibid.
40 Em projetos de William Lescaze (1934) e Morris Sanders (1935), segundo KRINSKY, Carol H.
Architecture in New York City. In: WALLOCK, Leonard. New York – Culture Capital of the
World 1940-1965. New York: Rizzoli, 1988, p. 89.
102
41 Veja-se o exemplo de Stuyvesant Town, de Irwin Clavan, 1940, que segue o modelo de Le
Corbusier de torres habitacionais situadas em parques.
103
42 Como o Seagram Bulding (1958), o Chase Manhattan Bank (1960), o Corning Glass Building
(1959) e o Time & Life Building (1959).
43 A comparação é feita por KRINSKY, Carol H. Op. cit., p. 111.
104
44 WRIGHT, Frank Lloyd apud MUSCHAMP, Herbert. Man about town. Frank Lloyd Wright
in New York City. Cambridge/London: The MIT Press, 1985, p. 2.
45 Em 1934, Frank Lloyd Wright desenvolveu o projeto de uma cidade utópica, Broadacre City,
através do qual acreditava que os EUA poderiam salvar-se do caos urbano organizando-se em
unidades rurais de pelo menos um acre, dispersas ao longo do território entre áreas eminentemente
rurais e agrícolas. Uma sociedade voltada para a terra, força da energia vital humana e econômica,
seria, segundo ele, a salvação da América contra a urbanização desenfreada. Em Broadacre City,
prevalece o princípio de dispersão urbana (pequenas unidades industriais, fazendas, residências)
integradas pelas vias de circulação e pela mobilidade. As vastas planícies do território americano
são organizadas e recortadas por Wright pelas auto-estradas. O espaço aéreo é ocupado por
helicópteros particulares, cujo design, desenvolvido por ele, assemelha-se a um pião com asas no
topo.
105
2.3
2.3.1
49 O Works Progress Administration, sob o Federal Arts Project, foi estabelecido em 1935 com a
intenção de empregar artistas. Estavam incluídas as artes visuais, a arte mural, a pintura de
cavalete, e escultura, segundo ASHTON, Dore. The City and the Visual Arts. In: WALLOCK,
Leonard (ed.). New York. Culture Capital of the World 1940-1965. New York: Rizzoli, 1988.
107
galeria.
50 A partir de 1974, Peggy Guggenheim instalou-se em Veneza, e em 1976 sua coleção passou aos
cuidados da Fundação Guggenheim. Para maiores informações, ver MESSER, Thomas. Peggy
Guggenheim Art of this century. In: HEGEWISCH, Katharina. L’art de l’exposition. Une
108
Art of This Century era dividida em quatro áreas, três fixas, apresentando a coleção
de arte moderna de Peggy Guggenheim, e uma galeria para exposições temporárias
de artistas de Nova York, com ambientes projetados no estilo da arte exibida. A
galeria de arte cubista e abstrata dava a sensação de se estar num mundo cubista,
com pinturas sem moldura penduradas tanto paralelas como perpendiculares às
paredes, em linhas formando um grande V entre o piso e o teto. [...] As paredes da
galeria eram de tela azul escuro esticada e o chão era pintado da cor favorita de
Peggy, turquesa. A galeria cinética continha uma correia de transporte exibindo
cerca de nove Klees [...] junto com uma grande roda que virou outro dispositivo,
mostrando quatorze objetos do museu miniatura do trabalho de Duchamp, seu
recém-finalizado Boite en Valise, vistos, um de cada vez, através de um orifício de
observação. [...] A sala mais notável era totalmente dedicada ao Surrealismo, e nela
as pinturas ficavam em suportes como os de cestas de baseball, em vários ângulos,
presos às paredes curvas de madeira, coladas sobre a parede real. A iluminação
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documentation sur trente expositions exemplaires du XXe. Siècle. Paris : Regard, 1998, p. 189-
199.
51 ALTSHULER, Bruce. The avant-garde in exhibition – New Art in the 20th Century.
California: University of California Press, 1998, p. 150-151.
109
52 Entre os lugares freqüentados, estavam a Cedar Tavern, um bar americano comum, e O Clube
(The Club), fundado em 1949, este uma instituição informal, formada pelos artistas que se
encontravam para debater. As reuniões eram freqüentadas por artistas, psicanalistas, literatos e
críticos, contribuindo para a idéia de um movimento ou escola de Nova York. As galerias que
expunham estes artistas, como Charles Egan, Betty Parsons e Samuel Kootz, também promoviam
debates.
53 A residência de Gertrude Vanderbilt Whitney na W. 8th. St. foi convertida em galeria em 1931,
e em 1936 foi convertida no Whitney Museum, posteriormente removido para espaço próximo ao
jardim do MoMA e, em 1966, para o Upper East Side, na Madison Av., projeto de Marcel Breuer
& Assoc., onde se encontra até hoje (WILLENSKY, Elliot and WHITE, Norval. New York
Chapter, American Institute of Architecture. AIA Guide to New York City (1978). Third ed. San
Diego/New York/London: Harvest Book/Harcourt Brace & Co., 1988).
54 O grupo inicial compunha-se principalmente de Arshile Gorky, Mark Rothko, Jackson Pollock,
Robert Motherwell, Willem de Kooning, Barnett Newman, Philip Guston, James Brooks, Bradley
Walker Tomlin, Jack Tworkov, David Smith, Franz Kline, Theodoros Stamos, Clyfford Still e
mais uma dúzia de outros pintores.
110
Com a Guerra Fria, a partir da década de 1950, na era Nixon, cresceu nos
meios intelectuais um conformismo que, segundo Harold Rosemberg, não atingiu
a classe artística, que encontrava na diversidade da cidade de Nova York uma
tolerância em relação a seu comportamento não-convencional. Ao contrário, o
meio dos artistas expandiu-se, incorporando músicos, como John Cage, Earle
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Brown e Morton Feldman, e literatos, como Allen Ginsberg. Emergiu uma nova
geração de pintores que renunciava ao materialismo americano e tinha como líder
Willem de Kooning56 .
2.3.2
A pintura modernista
2.3.3
A galeria ideal
qual o olho penetra impulsionado pelo ilusionismo criado pela perspectiva. O olho
abstrai o corpo no qual se encontra, projetando-se para dentro do quadro. A
estabilidade da moldura reforça a segurança da experiência no interior do mesmo.
A borda como limite absoluto está presente na pintura de cavalete até o século
XIX, quando, em pinturas de Gustave Courbet, Caspar Friedrich e James
Whistler, a forte convenção do horizonte começou a atravessar o limite da
moldura. O surgimento da fotografia acentuou a decisão da localização das
margens da composição, tendo em vista que o enquadramento é uma questão
fundamental para a nova linguagem. Os novos limites internos da pintura
tornaram a moldura obsoleta. No século XIX, o interesse maior era o tema da
pintura, não suas margens. A análise dos limites com a intenção de ampliá-los é
um costume do século XX.
associada uma questão ainda mais importante para a definição do seu limite: o
achatamento ou planificação da superfície pictórica. A partir do final do século
XIX, o aplainamento da pintura concluiu o mito da superfície pictórica, forjado na
tradição secular da pintura ilusionista. Na primeira metade do século XX, a busca
da planaridade tornou-se o principal elemento de sua autodefinição.
Feito este breve resumo da formação da galeria ideal tal como a entende
Brian O’Doherty, o passo seguinte é conectar o processo de formação da galeria
ideal com o do expressionismo abstrato, e compará-los com a proposta do MSRG
de Frank Lloyd Wright.
2.3.4
das artes não tem origem no Romantismo do século XIX, como a de grande parte
dos artistas das vanguardas européias, mas diretamente na unidade medieval, na
qual pintura e escultura tinham suas funções relacionadas à arquitetura. Foi a
partir da leitura do romance Notre Dame, do francês Victor Hugo, que Frank
Lloyd Wright definiu seu ponto de partida, como arquitetura mãe das artes65 .
Em 1913, em Midway Gardens, um complexo de jardins, restaurantes,
salões de dança e de chá em Illinois, Chicago, Frank Lloyd Wright buscou realizar
a chamada obra de arte total, projetando o programa arquitetônico, o edifício, as
esculturas, as pinturas, os ornamentos, o mobiliário, e exercendo sua função na
melhor tradição Arts & Crafts, que propunha indistinção entre as artes maiores e
menores. A abstração e a forma pura foram tomadas como pontos de partida para
a criação dos ornamentos66 . O projeto coincidiu com a exposição Armory Show, e
arquiteto afirmou que os escultores e pintores americanos foram incapazes de
63 Carta dos pintores. In: WRIGHT Frank Lloyd. The Guggenheim Correspondance, op, cit., p.
242 (grifo meu).
64 WRIGHT, Frank Lloyd. Ibid., p. 243.
65 Id. A testament apud MUSCHAMP, Herbert. Op. cit., p. 27.
66 WRIGHT, Frank Lloyd. The tale of the Midway Gardens. In: _____. An Autobiography, p.
204.
117
realizar a síntese das artes que ele havia completado em Midway Gardens,
harmonizando todas as artes com a arquitetura67 .
ciumenta de outra grande arte). O problema é que ele não considerava o que
estava sendo feito na sua época como grande arte. O conservador conceito de arte
de Wright chocava-se com a arte de seu tempo.
2.3.5
Frank Lloyd Wright dedicou sua longa vida a demonstrar que arquitetura
é a mais importante das artes e, portanto, a única capaz de representar os ideais da
modernidade americana. O confronto surgiu na medida que, ao invés do
reconhecimento como precursor de uma nova interpretação da concepção
americana de espaço, Wright foi criticado, no seu próprio país, por artistas que ele
considerava praticarem uma arte menor, a pintura. Por sua vez, os artistas
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