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o arquiteto e a sociedade

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www.feevale.br/bloco
bloco@feevale.br

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Associação Pró-Ensino Superior em Novo Hamburgo - ASPEUR
Centro Universitário Feevale

o arquiteto e a sociedade

Novo Hamburgo - Rio Grande do Sul - Brasil


2008
PRESIDENTE DA ASPEUR
Argemi Machado de Oliveira

REITOR DA FEEVALE
Ramon Fernando da Cunha

PRÓ-REITORA DE ENSINO
Inajara Vargas Ramos

PRÓ-REITOR DE PESQUISA,
TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
Cleber Cristiano Prodanov

PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO E
ASSUNTOS COMUNITÁRIOS
Angelita Renck Gerhardt

COORDENAÇÃO EDITORIAL
Inajara Vargas Ramos

REALIZAÇÃO
Instituto de Ciências Exatas e Tecnológicas - ICET
Diretora: Cláudia Gonçalves Pereira
Curso de Arquitetura e Urbanismo
Coordenador: Leandro Manenti

EDITORA FEEVALE
Celso Eduardo Stark
Helena Bender Hennemann
Maiquel Délcio Klein
Maurício Barth
Moris Mozart Musskopf

CAPA, EDITORAÇÃO ELETRÔNICA


e REVISÃO TEXTUAL
Ana Carolina Pellegrini e Juliano Caldas de Vasconcellos

IMPRESSÃO
Gráfica Nova Prova

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Centro Universitário Feevale - RS/Brasil
Bibliotecária responsável: Rosângela Terezinha Silva – CRB 10/1591 ian Amorim
Pinheiro CRB 10/1574

© Editora Feevale – TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É proibida a reprodução


Bloco (4): o arquiteto e a sociedade / Organizadores: Ana Carolina Pellegri- total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio. A violação dos
ni, Juliano Caldas de Vasconcellos – Novo Hamburgo : Feevale, 2008. direitos do autor (Lei n.º 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do
224 p. il. ; 21 cm. Código Penal.

ISBN 978-85-7717-085-2 CENTRO UNIVERSITÁRIO FEEVALE


Editora Feevale
l. Arquitetura – Estudo e ensino. 2. Arquitetura contemporânea. 3.
Arquitetura e sociedade. 4. Habitação popular. I. Pellegrini, Ana Carolina Campus I: Av. Dr. Maurício Cardoso, 510 – CEP 93510-250 – Hamburgo Velho –
II. Vasconcellos, Juliano Caldas de. Novo Hamburgo – RS
Campus II: RS 239, 2755 – CEP 93352-000 – Vila Nova – Novo Hamburgo – RS
CDU 72 Fone: (51) 3586.8800 – Site: www.feevale.br/editora

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O Bloco mudou.

Depois de três volumes, a coleção Mantivemos o tradicional formato no âmbito da Feevale daquela gerada
Bloco(s) passa a se apresentar com quadrado, mas abandonamos a fora dos muros da instituição. O
outra cara. Agora, tetra, ficou com divisão em apenas duas partes. equilíbrio entre elas é o segredo
mais jeito de livro. Ou de revista? Agora, o livro organiza-se em seções deste volume, já que acreditamos no
Pois é... mudou, mas manteve suas que reúnem textos cujos temas conhecimento, ainda que produzido
ambigüidades. Afinal de contas, a apresentem afinidades entre si. em âmbito privado, como bem
verdade é que ser ambíguo pode ser A organização do Bloco(4) visa a público. E essa é uma via de mão
muito interessante. diferenciar (mas, ao mesmo tempo, dupla. O Bloco, portanto, é pretexto
integrar) a produção desenvolvida para produzir, registrar e disseminar
o conhecimento.

“ – Eu não estou certo se isso é um livro ou uma revista.


– Na verdade, eu acho a tensão entre as duas coisas super
interesante.” (KOOLHAAS, Rem. Content. Alemanha: Taschen, 2004)

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Apresentação do Bloco(1) na PUC do Chile. Apresentação do Bloco na UIA 2008, na Apresentação do Bloco na UIA 2008, na Lançamento do Bloco(3), na 53ª Feira do
Santiago, 2006. Itália. Torino, 2008. Itália. Torino, 2008. Livro de Porto Alegre, 2007.
Foto: Renata Marques Foto: Leandro Manenti Foto: Leandro Manenti Foto: Leandro Manenti

O Bloco ficou mais leve. O Bloco coloriu. O Bloco amadureceu.

O Bloco(4) tornou-se mais portátil. Depois de três volumes em preto e Da mesma forma que nós e nossos as contribuições sob uma linha em
A supressão das capas duras internas branco, agora o Bloco vem a cores. leitores, desde que a coleção comum. Além disso, mantivemos a
possibilitou-nos uma publicação Uma importante conquista, já que a começou, o Bloco amadureceu. prática de convidar colaboradores
fisicamente mais leve – o que é bem cor é condição fundamental para o Nosso livro perdeu um pouco da externos, os quais gentilmente nos
importante, já que nossos Blocos entendimento da arquitetura. Não cara despojada com a qual se cedem suas contribuições, tão caras
viajam o mundo conosco, visitando é novidade que Le Corbusier definia apresentou nos três anos que para a ratificação de nossa busca
bibliotecas não apenas brasileiras, a arquitetura como “o jogo sábio, passaram. Depois de encerrar a pelo intercâmbio de conhecimento
mas também internacionais. Essa correto e magnífico dos volumes primeira trilogia bem-sucedida, com outras instituições de ensino.
espécie de “apostolado” – ao qual reunidos sob a luz”. E não é verdade partimos agora para uma nova fase, Desta vez, tivemos a honra de
nos referimos na apresentação que luz e cor são interdependentes e em busca de aprimoramento da receber, em âmbito local, os
do Bloco(2) – tem contribuído que, às vezes, até se confundem? O forma e do conteúdo, sem perder o colegas Cicero Alvarez, Barbara
não apenas para a difusão do Bloco, enfim, iluminou-se. caráter descontraído que, segundo Mello, Rodrigo Rosinha e Edson
conhecimento produzido aqui acreditamos, ajuda na conquista de Mahfuz. De São Paulo, Ruth Verde
na Feevale, mas também para a nossos leitores, tão desabituados do Zein animadamente enviou-nos seu
divulgação de nossa instituição, mundo analógico das letrinhas. texto. O convidado internacional é
que, diga-se de passagem, vem Os textos, cada vez mais o renomado crítico de arquitetura
nos apoiando e incentivando qualificados, continuam Josep Maria Montaner, que, desde
incondicionalmente nos últimos apresentando experiências o primeiro contato, mostrou-
anos. Agora, portanto, ficou mais desenvolvidas no âmbito do curso, se disposto e comprometido,
fácil levar nosso livro para conhecer além de artigos sobre temas de colaborando generosamente para
(e ser conhecido por) outros mundos. interesse pessoal dos seus autores. qualificar ainda mais o nosso livro. A
Desta vez, entretanto, voltados todos estes – e aos colegas da casa,
para um tema que visa a unificar evidentemente – nosso sincero e
profundo agradecimento.

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O arquiteto e a sociedade.

Desta vez, o Bloco tem um tema arquitetura; experiências acadêmicas; A idéia deste Bloco(4), portanto, é
central. O arquiteto e a sociedade. etc. Os textos distribuem-se em cinco reforçar a necessidade da reflexão a
Ao encontro da linha de atuação seções, de acordo com os assuntos respeito de tema de tanta relevância,
que nosso curso tem adotado, do desenvolvidos e o com o caráter dos que, apesar de constituir – segundo
encaminhamento das disciplinas no artigos: acreditamos – o cerne do ofício do
âmbito do ensino, e das atividades Do lado de dentro: apresenta um arquiteto, por repetidas e históricas
de extensão, a idéia foi publicar ponto de vista pessoal a respeito de vezes caiu no esquecimento. Sempre
textos que abordassem, de alguma experiência realizada no âmbito do é hora de ratificar o fim maior de
maneira, a fundamental relação do curso. nossa profissão – o bem estar da
arquiteto com a sociedade. De dentro para fora: visa a socializar sociedade – e de lembrar que o
Assim, selecionamos as contribuições atividades relevantes desenvolvidas termo “sociedade”, evidentemente,
que mais se adequaram a esse viés, com a participação dos acadêmicos não se restringe à fatia carente de
e contamos com a colaboração de do curso, nas dimensões de ensino, nossa população, mas sim envolve
professores e estudantes da casa, pesquisa e extensão. (inclusive através dos textos) seus
além de nossos seis convidados, De fora para dentro: a seção mais diferentes grupos e indivíduos:
autores de quatro textos que também apresenta os textos dos professores estudantes, turistas, comunidades
passam pelo tema central escolhido convidados. carentes (também), professores,
para o Bloco(4). Lá fora aqui dentro: reúne os textos arquitetos, leigos, leitores... e você.
O tema “o arquiteto e a sociedade” de professores do curso a respeito de Boa leitura e até o próximo Bloco!
foi desenvolvido à luz de variadas outras cidades e outras arquiteturas.
abordagens, desde as mais diretas, Botando para fora: depoimentos Ana Carolina Pellegrini e Juliano
até as mais sutis, as quais abrangem de professores, em tom pessoal, a Caldas de Vasconcellos.
campos do conhecimento como respeito de assuntos pertinentes à
educação; teoria, história e crítica da temática do livro.

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sumário

DO LADO DE DENTRO DE FORA PARA DENTRO

12 Pão e circo 90 O arquiteto como sociólogo: Le Corbusier, Louis Kahn,


Ana Carolina Pellegrini Robert Venturi, Denise Scott Brown e Rem Koolhaas
Josep Maria Montaner
DE DENTRO PARA FORA
118 De 1968 a 2008 - ou noves fora, nada
30 Arqfeevale na internet: o nosso curso em rede, (inter) Ruth Verde Zein
agindo socialmente
Juliano Caldas de Vasconcellos 122 Projeto de habitação coletiva apresentado ao Prêmio
Caixa-IAB 2006
46 Vila Palmeira: proposta de reurbanização e habitação Edson Mahfuz
social - Experiência do curso de Arquitetura e Urbanismo
da Feevale 136 O projeto de recuperação, restauração e readequação do
Alessandra Migliori do Amaral Brito e Vinicius de Moraes Palácio da Justiça de Porto Alegre e o papel social do
Netto arquiteto
Barbara Mello, Cicero Alvarez e Rodrigo Rosinha
66 Cidade acessível e inclusão social: futuros arquitetos,
futuro da arquitetura
Luciana Néri Martins

76 Projeto Mãos à Obra: Aliando capacitação profissional ao


trabalho social
Alessandra Migliori do Amaral Brito

82 I-TOTEM
Informação livre + Conectividade + Mobilidade
Thaís Luft

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LÁ FORA AQUI DENTRO BOTANDO PARA FORA

152 Arquitetura e identidade: A proposta de Hundertwasser 200 Cinco aspectos de arquitetura para a sociedade
em Viena contemporânea
Leandro Manenti José Arthur Fell

160 Aprendendo com São Paulo: A imagem da cidade limpa 210 Caminhos em arquitetura e sociedade
Juliano Caldas de Vasconcellos Vinicius de Moraes Netto

170 Arquitetura de Porto Alegre no Período Positivista: A


cidade mudando de cara no início do século XX
Rinaldo Ferreira Barbosa

188 Os conflitos espaciais urbanos em Novo Hamburgo:


confronto entre a cidade tradicional e a cidade
modernista em Hamburgo Velho
Suzana Vielitz de Oliveira

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Do lado de dentro

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Pão e circo
ANA CAROLINA PELLEGRINI

A
lgum dia, dos muitos deste costumam levar-me às lágrimas. do museu paulista. Entretanto, esta
ano nos quais tive o prazer Juliano, então, falou-me sobre o vão não havia sido uma experiência
de desfrutar da companhia do MASP. Relatou-me sobre como exclusivamente arquitetônica. Aos
de meus colegas de trabalho, eu aqueles 74 metros livres de apoios poucos, e com o tempo, comecei a
conversava com meu amigo, Juliano, foram capazes de emocioná-lo. E foi vasculhar a mente e o coração em O vão do MASP, o Museu de Arte de
parceiro de Bloco, sobre arquitetura aí que me dei conta de que uma das busca de “emoções arquitetônicas”. São Paulo. Projeto de Lina Bo Bardi.
e emoção. Recém-chegado de mais recentes – e fortes – emoções Encontrei, então, minha primeira Fonte: http://farm2.static.flickr.com
um feriadão em São Paulo, ele que eu senti aconteceu justamente vez na Grand Place, em Bruxelas; /1113/1392372862_6d42f1a056_o.jpg
falava, empolgado, sobre como a ali, depois do almoço no restaurante um fim de tarde de tirar o fôlego Acesso em 19 de outubro de 2008.
arquitetura, dentre todas as artes,
era a que mais o emocionava. Eu, em
silêncio, admirava a sua empolgação
e pensava sobre o quão dura havia
me tornado nos últimos tempos.
Perguntei o que ele sentia quando
experienciava essa tal emoção –
afinal, considero-me sempre tão
insensível em relação ao belo…
Ele respondeu que, quando algo o
emocionava, não conseguia parar
de pensar. Quando se tratava de
arquitetura, lembrava do edifício
a toda hora, como uma idéia
fixa. A resposta, de certa forma,
surpreendeu-me. É que mulheres
costumam associar a emoção às
lágrimas. Aliás, emoção dessas,
de mulherzinha, eu senti mesmo
foi quando vi ao vivo “O Beijo”,
de Gustav Klimt. Fiquei paralisada
na frente do quadro exposto no
Belvedere, em Viena. Com um nó
na garganta, segurei-me para não
chorar, porque meu irmão estava
junto. E eu não sei bem o porquê,
mas não choro na frente de ninguém
da família. Agora, edifícios não

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Do lado de dentro

A Grand Place, em Bruxelas. Espetacular conjunto de Fim de tarde no Capitólio. Roma.


edifícios Art Nouveau. no Capitólio, todas as vezes em que
entrei no Pantheon; um passeio
pelos Mercados de Trajano; a Fábrica
de Turbinas do Peter Behrens, em
Berlim (como é difícil de chegar!);
o Convento de La Tourette; o
Pavilhão do Mies, minha espetacular
e inesquecível estada na Unité de
Marseille...

Só que todas essas impressões fortes


poderiam ser atribuídas ao fato de
que eu sou professora de História
da Arquitetura, e que visitar os
edifícios que mostramos em aula é
sempre muito legal, além de render
excelentes fotos para mostrar
aos estudantes. Aliás, esse certo
ceticismo ou ar blasé perante uma
situação dessas é que faz a gente ter
frieza e competência para fazer as
tais fotos ao invés de ficar babando,
inerte, na frente do prédio.

No sábado, dia 26 de abril,


entretanto, a coisa foi diferente. Fui
visitar o recém-inaugurado Museu
do Pão, na cidade de Ilópolis, com
um grupo de estudantes e colegas da
Feevale.

Acostumada a viajar por lugares


como Roma, Paris, Berlim, Barcelona,
Viena, etc. fiquei muito surpresa e
encantada por ter encontrado, na
O canhão de sol nas paredes internas do Pantheon romano. interiorana cidadezinha gaúcha, uma
jóia da arquitetura brasileira.

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O Convento de La Tourette. Projeto de Le Corbusier em L’Arbresle, no vale do Ródano, próximo a Lyon, na França.

Mercados de Trajano. Recentemente reaberto ao


público em Roma, precioso testemunho dos tempos
imperiais da, então, capital do mundo.
Fonte: http://www.panoramio.com/photo/5709203
Acesso em 19 de outubro de 2008.
Fábrica de Turbinas AEG. Berlim, Peter Behrens.

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Do lado de dentro

O terraço-jardim da Unité
de Marseille, projeto de
Le Corbusier. Não resisti e
coloquei uma foto em que eu
também aparecia...

Reconstrução do Pavilhão Alemão de Mies van der Rohe para Barcelona.

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Cartaz do Sabadarq

O Mapa do Caminho dos Moinhos, localizando a cidade de Ilópolis na região.


Fonte: A imagem foi retirada do livro “Museu do Pão: caminho dos moinhos”, coordenado por João Grinspum Ferraz.

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Do lado de dentro

Sr. Roarke e Tatoo, da Ilha da Fantasia. O tempo não estava ajudando:


Fonte: http://www.maggiemaggie.com/ chuvoso e frio, para surpresa da
files/page0_blog_entry6_1.jpg maioria, que tinha deixado, de
Acesso em 19 de outubro de 2008. mangas curtas, uma quente Novo
Hamburgo, cerca de três horas
antes. Só que, mesmo debaixo
de mau tempo, os olhos de todos
A turma embaixo de iluminaram-se por causa da tal
chuva, mas iluminando emoção sobre a qual me falava o
o dia com sua empolgação. Juliano alguns dias antes.
Fonte: Leandro Manenti.
Abril de 2008. O grupo de estudantes era
formado por alunos de diversos
adiantamentos no curso. Os mais
velhos, na ida, reclamavam porque
já não conheciam quase ninguém. E
os mais novos, debutando em grande
estilo. Todos, entretanto, pareciam
estar em igualdade de condições para
entender a importância daquele dia.

Na chegada, fomos recebidos


pelo simpático Ismael. Ismael é
uma espécie de Tatoo da “Ilha
da Fantasia”1 de Ilópolis. É
extremamente atencioso com
todos, demonstra competência e
conhecimento da arquitetura, do
museu, do pão, das boas maneiras.
Transformou-se num verdadeiro
mestre de cerimônias da cidade e,
1. A Ilha da Fantasia, para que entendam
os mais jovens que eu – que já são tantos,
era um seriado americano que passou no
Brasil durante os anos 1980, cuja ação
se dava em uma exótica ilha que recebia
milionários em busca da realização de seus
desejos mais fantásticos. A série tinha como
protagonistas o Sr. Roarke, misterioso dono do
empreendimento, e Tatoo, seu fiel escudeiro.

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Na parte esquerda da foto, o Conjunto do
Museu do Pão, Oficina de Panificação e
Moinho restaurado.
Fonte: A imagem foi retirada do livro
“Museu do Pão: caminho dos moinhos”,
coordenado por João Grinspum Ferraz.

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Do lado de dentro

Planta baixa do conjunto. 1 – Museu


do Pão; 2 – Oficina de Panificação; 3 –
Bodega; 4 – Moinho.
Fonte: A imagem foi retirada do livro
“Museu do Pão: caminho dos moinhos”,
coordenado por João Grinspum Ferraz.

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A fachada do pequeno auditório do Museu
do Pão.
Fonte: A imagem foi retirada do livro
“Museu do Pão: caminho dos moinhos”,
coordenado por João Grinspum Ferraz.

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Do lado de dentro

Pavilhão Alemão em Barcelona. Mies van


der Rohe. Reconstrução.

O Pavilhão de Barcelona, de Mies,


repousa sobre a austera base de mármore
travertino.

O concreto e a madeira ao alcance dos


dedos, no Museu do Pão.
Fonte: Leandro Manenti. Abril de 2008.

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A fachada sul do Museu do
Pão apresenta o logotipo,
inspirado numa antiga
pintura de uma das casas
da região.
Fonte: Leandro Manenti.
Abril de 2008.

mantendo a analogia com o seriado


da década de 80, representa à altura
seu “Sr. Roarke”, Marcelo Ferraz.

E foi Ismael que nos pegou pela mão


e conduziu pelo belo conjunto de
Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz,
que inclui o Museu do Pão, a Oficina
de Panificação e a restauração do
Moinho Colognese.

Vendo de fora, talvez por causa das


cortinas vermelhas, um Pavilhão
Alemão de concreto, em plena colônia
italiana. Mas isso se a arquitetura
só se percebesse com os olhos.
Aprendi com meu caro amigo Ricardo,
entretanto, que a arquitetura se vê
também com os olhos da pele. E é aí
que o singelo Museu do Pão ganha do
renomado projeto de Mies. À lisura
dos planos neoplasticistas, opõe-se
a variedade de texturas do concreto
combinado à madeira. Tudo bem
que no Pavilhão tem o travertino
(e eu, como moro em Roma, adoro
travertino!). Só que a pedra porosa,
no prédio de Barcelona, está mais ao
alcance dos pés do que das mãos. E
no museu gaúcho a riqueza do tato
está francamente entregue ao toque
dos dedos. Eu não me arriscaria a
dizer qual dos edifícios é melhor.
Acho a comparação injusta. Mas só O Museu do Pão, ainda em construção.
o fato de saber que nosso estado Note-se a laje apoiada em apenas três
possui um prédio capaz de suscitar pilares.Fonte: “Museu do Pão: caminho
uma dúvida dessa natureza já é razão dos moinhos”, coordenado por João
para ficar orgulhosa. Grinspum Ferraz.

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Do lado de dentro

Tudo ali parece ter sido pensado com


carinho. E é isso que faz a diferença,
já que o cuidado dispensado à
arquitetura transpira a cada detalhe
do projeto: seja na escolha do
logotipo do museu – uma antiga
pintura encontrada numa das casas
da região, na peraltice de optar por
apenas três apoios para segurar a
laje da sala de exposições, no projeto
do corredor avarandado que margeia
a oficina de panificação, no desenho
das maçanetas, ou em tantos outros
pormenores dos edifícios.

E é o Ismael que transforma o


museu em teatro. Manipula as
cortinas vermelhas do pequeno
auditório como se as estivesse
abrindo para permitir o início de um
grande espetáculo. Promove cada
elemento do projeto a protagonista
de uma mise en scène do pão e da
arquitetura. Desliza os painéis de
madeira que protegem a fachada de
vidro de maneira a preparar o prédio
para as fotos, fazendo questão de
melhorar o que já parecia irretocável.
No antigo moinho, transforma
a demonstração da moagem de
milho numa excitante experiência,
elevando os espectadores a agentes
do processo. Tudo com muita alegria
O prédio do Moinho Colognese visto desde o e empolgação. E é aí que o pão
corredor avarandado que conecta o museu à encontra o circo. Não da maneira
oficina de panificação. alienante preconizada pela política
Fonte: Leandro Manenti. Abril de 2008. dos antigos imperadores romanos,
mas sim na melhor acepção da

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Ismael encaminha a turma
para a visita ao Moinho.
Fonte: Leandro Manenti.
Abril de 2008.

expressão, que alude, neste caso, à


diversão proporcionada pela cultura
e identidade de um povo associadas
à boa arquitetura e ao respeito pelo
lugar.

Disposto a conversar com todos o


tempo todo, nosso anfitrião, que é
nativo de Ilópolis, tem um discurso
surpreendente sobre os critérios de
excelência da arquitetura, mas não
se limita a falar do edifício. Conta
sobre a importância do processo
de restauração do moinho e de
construção dos novos edifícios, do
envolvimento das pessoas do lugar
com o trabalho, de como o projeto
todo contou com o comprometimento
da comunidade. Ainda que boa parte
dos moradores da cidade tenha
estranhado as formas dos novos
edifícios e muitos ainda hoje pensem
que o museu está inacabado (afinal,
não tem reboco, revestimento, e
tal…), quase todo mundo por lá já
reconhece a importância do novo
Museu do Pão.

No final do passeio, fomos


conduzidos à Bodega do Moinho.
Enquanto no Pavilhão do Mies
deparamo-nos com as belíssimas
e clássicas Poltronas Barcelona A Bodega do Moinho. De cima, os móveis
(nas quais não se pode sentar), de Lina Bo Bardi e Marcelo Ferraz.
ali podemos nos acomodar em Fonte: “Museu do Pão: caminho
cadeiras de Lina Bo Bardi. Marcelo dos moinhos”, coordenado por João
trabalhou com a arquiteta no Grinspum Ferraz.
começo da carreira e hoje produz

25
Do lado de dentro

26
móveis projetados com ela em sua
Marcenaria Baraúna. Acho lindos
esses encontros! Certamente a
arquiteta ítalo-brasileira teria ficado
satisfeita de ver uma cidade 98%
descendente de italianos tornar-se
palco para a arquitetura brasileira
de melhor qualidade. Itália e
Brasil, neste caso, unidos também
pelo convênio internacional que
possibilitou a restauração do museu.

“Cadeiras de Lina Bo Bardi”. A última


vez que havia me sentado numa
delas foi justamente naquele almoço
do MASP. Dei-me conta de que não
sou tão empedernida como pensava.
Afinal, daquele dia em diante não
consegui “parar de pensar” por um
bom tempo. Pensar no surpreendente
museu, no belo dos encontros da
vida, como aquele dos italianos
com os brasileiros. No encontro
de Marcelo e Lina, e na chegada
da arquiteta a Ilópolis através
de Marcelo e Francisco. E do meu
encontro com o pão. E com o circo da
boa arquitetura.

Sobre o pão, o museu e a arquitetura,


acho que os Titãs é que tinham
mesmo razão: “a gente não quer
só comida, a gente quer comida,
A turma da Feevale diante do Museu diversão e arte.”
do Pão. Ao fundo o Moinho Colognese.
Fonte: Acervo do Curso de Arquitetura [Imagens não creditadas pertencem
e Urbanismo da Feevale. ao acervo da autora]

27
www.feevale.br/arquitetura bloco@feevale.br
De dentro para fora
Arqfeevale na internet
O nosso curso em rede, (inter)agindo socialmente
JULIANO CALDAS DE VASCONCELLOS

D
esde março de 2003, e Arquitetura e Comunidade (www. lá). Mesmo que a maioria dos
quando foi “inaugurado” feevale.br/aec), além de oferecer, assinantes não pariticipe de
o grupo arqfeevale no na íntegra, todas as edições do forma efetiva, não é raro ver a
Yahoogrupos, as discussões sobre Bloco gratuitamente, em PDF, com ressonância do que é dicutido
arquitetura e temas correlatos do o layout original do livro (www. virtualmente nos corredores e
nosso curso têm, cada vez mais, O SITE OFICIAL feevale.br/bloco). salas de aula. Este é o ciclo mais
utilizado a internet como meio www.feevale.br/arquitetura saudável em tempos de informação
de comunicação e propagação Como acontece com a maioria das digital nos meios acadêmicos: os
de idéias, muito mais do que o intituições de ensino superior, a debates devem extrapolar o espaço
tradicional “quadro de avisos” Feevale também possui uma parte virtual e colaborar para o processo
ou as discussões isoladas em do site intitucional dedicado para de aprendizagem no âmbito real.
sala de aula. Com as ações do cada um dos cursos que oferece, GRUPO ARQFEEVALE
curso na internet, iniciou-se um com as informações básicas sobre http://br.groups.yahoo.com/
processo de publicações online perfil profissional, mercado de group/arqfeevale/
que alcançou muito mais que trabalho, nomes dos professores O grupo de discussões arqfeevale é,
apenas a comunidade acadêmica. e suas respectivas disciplinas, sem nenhuma dúvida, o canal mais
A possibilidade de se comunicar estrutura curricular além de ágil e eficiente de se comunicar
em rede através de algumas notícias relacionadas. A estrutura com os professores e com os COMUNIDADE NO ORKUT
ferramentas gratuitas (disponíveis do site (não só da arquitetura, estudantes do curso. Iniciado em www.orkut.com.br/
para qualquer pessoa que queira mas de toda a instituição) março de 2003, o grupo conta com Main#Community.
utilizá-las) abrange aspectos de ainda não permite maiores aproximadamente 90% dos alunos aspx?cmm=55627
hipermídia no seu mais amplo desdobramentos (como comentários cadastrados e com a totalidade A maior rede social entre os
sentido, utilizando a rede de ou interatividade dos leitores), mas dos professores do curso. Além brasileiros também possui uma
maneira inteligente e com feedback já está em andamento um projeto da agilidade, a lista de discussão comunidade oficial do curso. O
quase que instantâneo. São essas para que estes aspectos sejam por e-mails é um intrumento objetivo principal desse canal é
ferramentas que irei, rapidamente, flexibilizados, principalmente de agregação social, onde as utilizar os recursos do Orkut como
explicar aqui neste artigo, além para que professores e acadêmicos principais questões do curso um fórum de discussões entre os
de, na sequência, demonstrar possam produzir mais informações são divulgadas e discutidas. Mas estudantes e professores, já que
uma parcela do que tal advento e se amplie o banco de dados os assuntos não ficam restritos é uma comunidade que tem uma
pode acrescentar à discussão de cada um dos cursos. Dentro apenas aos recados e eventos proposta semelhante ao grupo
arquitetônica em um curso superior desta estrutura, o que se procura do curso. Na lista acontecem os no Yahoogrupos (porém pode ser
de arquitetura e urbanismo. fazer, desde 2005, é ampliar este principais debates coletivos sobre visualizada por qualquer um), mas
conteúdo, adicionando não só as arquitetura e urbanismo. Certas só os cadastrados podem participar
informações de ensino mas também discussões possuem uma densidade das discussões.
dos projetos de extensão do curso de informações muito interessante
de Arquitetura e Urbanismo, como o (veja no final deste artigo uma
Mãos à Obra (www.feevale.br/mo) reprodução do que acontece por

31
De dentro para fora

BLOG ARQFEEVALE FLICKR pelos professores e estudantes. DEL.ICIO.US


www.arqfeevale.wordpress.com www.flickr.com/arqfeevale Recentemente, foram adicionados http://delicious.com/arqfeevale
O blog do curso sempre foi uma O Flickr nada mais é do que um site ao canal os audiovisuais produzidos De pouco adianta encontrar
idéia de um site que pudesse ser de compartilhamento de imagens pelas disciplinas de Teoria e História “aquele” site com forte potencial
atualizado a qualquer momento, de enorme aceitação e utilização na da Arquitetura e do Urbanismo III, para discussões em sala de aula
de qualquer computador, por internet. A facilidade e as diversas tendo como tema a vida e a obra de (ou simplesmente para utilizar
qualquer professor, sobre assuntos possibilidades de gerenciamento arquitetos contemporâneos. Vídeos da como referência) se não temos
que interessam aos estudantes (principalmente de fotografias) são visita ao Museu do Pão, em Ilópolis como compartilhá-lo com as outras
do curso. Assim sendo, no início o seu maior atrativo e, também e da viagem promovida pelo curso pessoas. É essa a função principal
de 2008 foi introduzido o blog por essa razão, é referência nesse até as Missões Jesuíticas também do site del.icio.us, que guarda,
do curso, utilizando os serviços tipo de serviço. Foi adotado por estão por lá, com audiência variada classifica e compartilha os links
do Wordpress (na época, um dos nós juntamente com o blog, com e inclusive de pessoas de fora do que lá forem postados. É uma
poucos serviços de blog que não o objetido de abrigar o acervo país o que pode ser observado pelos ferramenta extremamente útil e
eram bloqueados dentro da rede do curso (registros dos eventos). comentários postados no canal). dinâmica, pois estes links também
acadêmica). Essa talvez seja uma Lá estão praticamente todas as são automaticamente atualizados
das ações de maior impacto em viagens promovidas pelo curso no site oficial e no blog.
termos de interação de arquitetos desde 2002, como fonte de
e arquitetos em formação (nossos consulta pública e aberta a todos
estudantes) com a sociedade em que estiverem interessados em
geral. Como qualquer blog hoje conhecer os eventos que acontecem
em dia, todos os “posts” (como dentro e fora da Feevale. WIKIPÉDIA GOOGLE MAPAS
se chama um artigo dentro de um http://pt.wikipedia.org/wiki/Curso_ http://maps.google.com.br
blog) podem ter comentários de de_Arquitetura_e_Urbanismo_da_ Buscamos utilizar os recursos do
qualquer leitor, seja ele quem for. Feevale Google Mapas (mapas e fotos de
Com isso, mais gente começou a A maior enciclopédia online também satálite) não só para localizar o prédio
acompanhar as notícias e artigos possui um verbete sobre o nosso no Campus II (onde são ministradas
do blog, comentando no próprio curso. A possibilidade de qualquer a maioria das disciplinas do curso),
post ou gerando, mais uma vez, YOUTUBE “wikipedista” incrementar o artigo mas também como referência para
debates dentro da sala de aula www.youtube.com/arqfeevale não é a única razão de se ter um qualquer um que queira chegar até o
(ou simplesmente servindo como O Youtube é referência no verbete, mas também por este ser um local, através da rota que o próprio
referência de algum assunto compartilhamento de vídeos ponto de referência em consultas na site disponibiliza. Este recurso
pertinente). na internet. Assim como na TV rede. Um artigo na Wikipédia é algo está presente apenas no blog, mas
convencional, o site possui divisão que vai além da simples opinião, é o link para ele é universal, sendo
em canais (cada usuário pode ter o uma construção coletiva que remete possível observar em qualquer tipo
seu). Dentro dessa idéia, o “canal aos princípios mais do mais puro de dispositivo com um navegador de
arqfeevale” exibe vídeos produzidos anarquismo digital. internet.

32
As próximas páginas deste artigo
reproduzem um debate iniciado no
Grupo Arqfeevale do Yahoogrupos
em 26 de março de 2008. O tópico
teve suas quase 20 mensagens
especialmente compiladas para a
publicação nesta edição do Bloco.

33
arquitetura x construção comercializada
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Mensagem #3869 de 4006 < Ant | Próximo >

Por que as grandes construtoras e incorporadoras se deixam vender por


modismos (neocrásticos) cada vez mais constantes em meio à urbe?

Por que o sentido exploratório da arquitetura não pode ser implantado nesse
meio “político” da construção civil?

Esse link é um exemplo de boa arquitetura (vide o individualismo da proposta)


em prol da revitalização das cidades!

http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/arquitetura833.asp

Uma boa dica para quem está fazendo projeto 6.


Leonardo Giovenardi

--------------------------

ENC: [arqfeevale] arquitetura x construção comercializada


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Mensagem #3874 de 4006 < Ant | Próximo >
RE: ENC: [arqfeevale] arquitetura x construção comercializada

Sobre a pergunta se um dia no Brasil uma arquitetura decente vai ser


disponibilizada para as pessoas, eu já matutei a mil, mas não consegui
resolver.

Olhar o plataforma arquitectura é algo animador. Porque fica engraçado


pensar como num país como o Brasil, que teoricamente é o mais desenvolvido
na América Latina, não tem uma arquitetura decente, ao menos em número
expressivo, inexiste. Daí tu olhas os projetos que tem no Chile, tem tanta
coisa boa que aparece no site, que daí a pessoa se conforta. Pensa assim: bah,
qualquer coisa eu me mudo pra lá.

É triste pensar assim, mas, a não ser que se queira trabalhar como desenhista
de luxo (daqueles arquitetos que não pensam muito, fazem o que o investidor
quer, recebe bem e adios), a possibilidade de sair do Brasil não deve ser
descartada.

Pois, como disse o sujeito que batia à máquina no interrogatório do Niemeyer


há uns quantos anos atrás, mudar a sociedade “Vai ser dificil, hein?”

Marcelo Becker

34
ENC: [arqfeevale] arquitetura x construção comercializada
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Mensagem #3875 de 4006 < Ant | Próximo >
Re: [arqfeevale] arquitetura x construção comercializada

Bom dia! Gostaria de criar um debate em cima disso; acho que é um assunto
interesante, mas que o pessoal não faz muita questão de discutir e eu não sei
o porquê. Esses dias mesmo, brincamos em uma aula de história que deveria
se criar uma cadeira optativa só para discutir textos, projetos, etc; voltados à
arquitetura comercial.

Sobre projetos exemplares e mercado profissional, acredito que a “culpa”


por tal situação nos dias de hoje, se deve principalmente aos meios de
comunicação.

Não podemos negar que, se estes apresentassem melhores leituras,


bons projetos, que, além daquele “envolope” que todo mundo irá gostar,
apresentasse uma idéia inteligente, não só formalmente, mas funcionalmente,
sustentavelmente, estruturalmente(...), teríamos muito mais “pessoas leigas”
finalmente exigentes que entedessem realmente o que é morar bem. Quando
falo “morar bem”, refiro-me a um único exemplo. Poderíamos falar de projetos
urbanísticos, paisagísticos, porque afinal todas as áreas estão deficientes
nesse aspecto.

Mudando a maneira de falar, de apresentar, de qualificar um projeto, assim que


“vendido” à população em forma de encartes, revistas, sites, estas pessoas
leigas estariam automaticamente acostumadas a exigir boa arquitetura dos
profissionais.

Logo o mundo arquitetônico seria “dos bons” e o restante seria restante,


disputando a tapa os clientes, sendo obrigado a se adaptar ao que o mundo
cobra...Aí sim, nós alunos não discordaríamos dos professores quando estes
falam que não podemos projetar arquitetura comercial... Até lá, vivemos do
que né?

O nome do filme? À espera de um milagre....

hehehe
abraço

Lucas Prates

35
Re: [arqfeevale] arquitetura x construção comercializada
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Mensagem #3878 de 4006 < Ant | Próximo >

Apesar de achar que isso provém de um problema muito mais profundo - a falta
de cultura e educação de base em geral, deva ser discutido mesmo assim!

Os meios de comunicação com certeza fazem a sua parte para piorar a situação,
mas nós deveríamos – e podemos – fazer muito mais. Essa semana eu recebi
um e-mail do tipo que foi encaminhado diversas vezes “Enc:Fwd:En:Fwd:
...” mostrando várias fotos das ilhas artificiais de Dubai e suas residências
gigantescas de alta classe - CARIMBADAS - umas ao lado de outras. Os
comentários de cada um que encaminhava eram do tipo “Nossa, que coisa
linda! Pra mim só uma bastava... Ah, se no Brasil as favelas fossem assim!”

Então, para as pessoas isso é Arquitetura! O supérfluo, o luxo pela simples


ostentação. Quem conseguir juntar uma grana na vida vai querer construir
uma casa igual a essa que viu no e-mail, na TV, na revista... Porque quem tem
é “O cara”. Não interessa se funciona, se é confortável, se é sustentável, se
representa alguma coisa... É revoltante, mas não adianta não fazer nada.
Nós temos que tentar identificar e divulgar a Arquitetura de QUALIDADE
Realmente, falta conhecimento dos meios de comunicação, da grande maioria
da população! Mas e se começássemos a espalhar bons exemplos? Criticar o que
existe por aí? o que a Arquitetura pode ser, e não o que ela é... Já seria uma
grande coisa!

Mas “À espera de um Milagre” é muito bom! heuhehehe

Guilherme Osterkamp

---------------------

RES: [arqfeevale] arquitetura x construção comercializada


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Mensagem #3879 de 4006 < Ant | Próximo >

Penso que o Guilherme tocou no ponto chave: educação.

Desde os governos militares, o nível cultural do brasileiro tem caído MUITO.


Tínhamos nas décadas de 30/40 uma arquitetura vanguardista de alta
qualidade, que foi aplaudida no mundo inteiro. E isso não foi uma coisa que
aconteceu por acaso; foi algo que se estabeleceu a partir de uma base sólida,
que teve o apoio dos governos e das elites (financeira e intelectual). Estas
“lideranças” eram encabeçados por pessoas que tinham um nível cultural bem
acima da média do que temos hoje.

Daí ficamos chorando as pitangas de “inveja” dos vizinhos sul-americanos (com


razão), pois não conseguimos nem chegar perto do que estão fazendo (com
raras exceções). Apesar de quase todos os países terem passado por um
processo de ditadura e tal, no Brasil a seqüela foi muito mais profunda.

36
Mas e daí? O que vocês acham que como arquitetos temos que fazer para mudar
isso? Ainda dá tempo? Ou ficaremos apenas com o filme estrelado pelo Tom
Hanks indicado pelo Lucas :P ?
---
Prof. Juliano Vasconcellos (Arq. Ms.)
Coord. Laboratório Computação Gráfica
Arquitetura | Design - Feevale

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RES: [arqfeevale] arquitetura x construção comercializada


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Mensagem #3880 de 4006 < Ant | Próximo >
RE: RES: [arqfeevale] arquitetura x construção comercializada

Buenas, como já disse o Lucas, nem os próprios estudantes de arquitetura se


interessam pelo assunto.

Mas, vamos escrever...


Eu acho que os meios de comunicação nada têm a ver com a situação da
arquitetura. Na minha opinião, a função deles seria noticiar o que acontece
de relevante. Claro que hoje em dia a mídia forma opinião, mas só forma
opinião porque as pessoas atingidas pela mídia se deixam manipular. Aliás,
os próprios jornalistas devem se sentir frustrados também, pois noticiar que
a fulaninha (normalmente uma destas personalidades sem noção) foi almoçar
com uma amiga e comeu salada com atum, deve ser um tanto broxante para os
profissionais sérios. Dá para perceber que a situação é geral. A arquitetura é só
mais uma área prejudicada. Isso só reforça que o problema é a educação.
Agora, sobre o que fazer para reeducar o povo, minha opinião é meio radical,
mas acho que funcionaria.

A arquitetura, assim como meios de comunicação, advocacia, publicidade, só


são toscos porque profissionais das respectivas áreas são toscos. Se existisse
algum órgão que regulamentasse o que pode ser feito, as coisas seriam mais
organizadas, a meu ver.

Podem vir com aquele papo de que isso é voltar à ditadura, mas, se o prédio
“neocrasso” de 50 andares que o cara quer construir vai ser visto todos os
dias por todos os cidadãos, acho mais que do justo que tenha alguém que
defenda o interesse da população de ver algo que tenha fundamento. Para
se ter noção, isso não está tão fora da realidade, pois, quando se quer lotear
uma área de terra, é a notícia sobre o empreendimento é publicada em algum
meio de comunicação, qualquer pessoa que se sentir prejudicada pode solicitar
esclarecimentos. Se realmente o empreendimento vier a prejudicar alguém, o
projeto é embargado. Isso significa proibir.

A minha solução acaba aqui. Mas, como proibir não é algo que as pessoas vejam
com bons olhos hoje em dia, iremos cair naquele papo de conscientização...

O problema é que a maioria das pessoas não se importa. A maioria dos


estudantes de arquitetura não se importa com arquitetura; não vê relevância

37
na própria profissão. Não querem pensar sobre arquitetura, sobre a cidade.
Isso me leva a crer que a maioria dos arquitetos não são ARQUITETOS, estão
fazendo um curso pela formalidade de ter diploma superior, achando que
vão ganhar muito dinheiro com isso, sem nem se importar com o exercício da
profissão. O pior é que as chances de alguém assim ter “sucesso” na profissão é
muito maior do que um carinha que faça tudo de forma extremamente correta.

Aí está o paradigma: como conscientizar os arquitetos de que eles devem


arriscar-se a perder clientes para mudar a faceta atual da arquitetura? Eu não
consigo convencer nem a mim mesmo sobre isso...

Marcelo Becker

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RES: [arqfeevale] arquitetura x construção comercializada


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Mensagem #3881 de 4006 < Ant | Próximo >
Re: RES: [arqfeevale] arquitetura x construção comercializada

Bom dia.

Ainda temos uma outra opção, que me parece interessante, mas um pouco
difícil...hehehehe

Como a Ana Carolina mesmo disse em uma aula de história: “hoje em dia o
cliente entra dentro da casa...sabe demais do projeto”...

E não é que é? Damos muita informação sobre o projeto para os clientes... O


cliente entra dentro da casa, caminha, vê seu quarto com sua foto na parede,
vê sua garagem com o seu carro dentro, sem dizer dele mesmo renderizado
sorrindo frente a sua FUTURA casa....

Isso complica também... Aí o cliente começa a saber muito da casa dele,


e começa a dar pitaco...fala sério né...? E tem coisa mais chata do que
seu projeto se transformar, deixando de ser tudo aquilo que você projetou
empolgadamente, para se tornar um projeto digamos assim, “casa e cia”?

E, se você “teimar” com o cliente certas coisas, ele te manda pastar... Ou


seja, nós também temos nossa culpa. Criamos nossos próprios monstros....
hehehehehe

É difícil, mas a minha idéia seria projetar, apresentar plantas e fachadas, tudo
em CAD, ou Vector (homenagem ao Juliano), e o cliente sem entender vai dizer
“aham”....

Vamos lá pessoal, eles não precisam entrar em seus projetos...

Acho que assim conseguimos dominar o mundo de novo...BOA ARQUITETURA


NOVAMENTE???

38
SERÁ? SERÁ?

E olha que antigamente era mais ou menos isso hein...Pouca informação pra o
cliente, muito projeto bom...

Indicação de filme: “De volta para o futuro”

Exageros à parte,
abraços e bom findi....

Lucas Prates

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RES: [arqfeevale] arquitetura x construção comercializada


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Mensagem #3883 de 4006 < Ant | Próximo >
Re: RES: [arqfeevale] arquitetura x construção comercializada

Bom dia! Estou acompanhando a discussão e resolvi dar a minha singela


opinião.

Concordo que a base de muitos problemas está na educação que se tem


no nosso país. Antigamente a elite que detinha dinheiro também detinha
conhecimento e o tal do “bom-gosto”. Infelizmente, hoje em dia nao é mais
assim. Muitas vezes, quem tem dinheiro não tem conhecimento e o mesmo
“bom-gosto”. As coisas mudaram. E nós, ficamos à mercê?

Acreidto que não. Esse assunto é delicado. Seria ótimo não ter interferência
alguma em nossos projetos – não gostamos nem das interferências dos nossos
professores – mas acho que não devemos ter medo disso, porque tanto com
o cliente ou como professor, se temos um bom motivo, temos como defender
nosso ponto de vista e o que fizemos. Isso vai da consciência de cada um, já
que muitas vezes temos que vender o tal projeto, mas é a nossa vitrine o nome
que aparece lá.

E quanto a proibir tais projetos, não é o caminho. Já existe diretrizes que


devemos respeitar na hora de construir, e a cidade tem responsabilidade nisso,
em escolher bem as interferências que querem ter. Acho que nas prefeituras,
além de analisarem o projeto do ponto de vista técnico, ele deveria ser
analisado teoricamente, quanto a suas referências e etc., ou setorizar a cidade
por funções, estilos, sei lá. Mas é complicado definir estilos e preferências
porque na verdade tudo é questão de gosto, e sempre dizem q gostos, sabores
e amores não se discute.
Não sei qual seria o nome desse filme.

Bom findi,
Karen Kussler

39
RES: [arqfeevale] arquitetura x construção comercializada
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Mensagem #3884 de 4006 < Ant | Próximo >
Re: RES: [arqfeevale] arquitetura x construção comercializada

Bom dia!

Nossa! Quanta informação... quanta coisa para opinar....


Vou começar pela deixa do profe Juliano...

Na quarta à noite eu estava assistindo ao programa Saia Justa, do GNT e


um dos temas abordados foi: o que você faria que, se todo mundo fizesse,
melhoraria o mundo atual? E eu pensei: boa arquitetura! E pq não?

As pessoas, de uma forma geral, costumam dizer que não gostam daquilo que é
desconhecido. Quantas vezes dizemos: não como isso pq não gosto. Não como
aquilo pq não gosto.

Mas tu já experimentaste?

Não!

Não é assim que funciona?

E é assim em todos os aspectos da nossa vida. E quanto à arquitetura, não é


diferente. Ok, os meios de comunicação influenciam as pessoas. E muito! Mas
os coitados só estão fazendo o trabalho deles... vendendo o que está sendo
produzido.

Mas agora, como é que a criatura leiga vai gostar de um negócio que não é
apresentado a ela?

Minha mãe é o mais real exemplo... não entendia nada de arquitetura, não dava
a mínima importância para os edifícios neoqualquercoisa nascendo, amaaaava
baywindows, paredes chanfradas, e blábláblá. Depois de algumas conversas e
explicações, ela está doutrinadíssima! Agora, sai na rua e até se dá o direito de
opinar a respeito das edificações, se é boa arquitetura ou não.

Não concordo com a idéia de que teremos que abrir mão de clientes para tentar
mudar a opinião em massa. Talvez eu tenha tido sorte, mesmo, até agora, mas
sempre consegui “vender meus peixes” sem maiores problemas. Poxa vida!
Passamos quantos anos dentro de uma instituição, ralando muito, e quando
saímos não conseguimos explicar um bom projeto a ponto de conquistar o
cliente? Vamos combinar que, daí, o problema é outro...

Desculpem, mas, penso eu que os maiores culpados dessa história toda somos
nós, arquitetos (ou projetos de). Precisamos valorizar a nossa profissão! E
essa mentalidade não é construída dentro da faculdade. Por mais que os
profes tentem, a opinião da maioria é diferente e, pior, não estão abertos a
mudanças. Como disse o Lucas, a galera não gosta muito de falar sobre isso.
Claro! Não convém!

40
Tudo bem! O cliente seeeeempre tem razão. Mas nós, aaahhh, nós temos a
formação e, como conseqüência, muitas, muitas condições e obrigação de
apresentarmos opções, no mínimo, plausíveis.

E é tão fácil! A gente aprende e testa tudo dentro da faculdade. Precisamos


apenas aplicar aí fora.

Temos tantas boas produções arquitetônicas de anos atrás, no Brasil, que, por
motivo ou outro se perderam-se no caminho da história. Mas são nossas raízes!
Precisamos também, bater no peito e nos orgulharmos desses exemplares.

O Léo e eu, sempre que vemos um desses, nos perguntamos: será que um dia
faremos produções tão boas assim? Aaaahhh, meu filho, te prepara, pq nós
vamos! Hehehe!!! Brincadeirinha! E viva a boa arquitetura! Eu acredito nela!

Arq. Maria Rita Soares

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RES: [arqfeevale] arquitetura x construção comercializada


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Mensagem #3885 de 4006 < Ant | Próximo >
Re: RES: [arqfeevale] arquitetura x construção comercializada

Muito bom o que falaste, Rita!


Ótimo ótimo ótimo!
Concordo em tudo.

Essa questão de “doutrinar” as pessoas ao nosso redor funciona... E não sou só


eu que diz isso. Minha “panela” do curso, como não vive junto somente dentro
da instituição, já trouxe para o meio, assim como já influenciou e modificou
várias opiniões de pessoas... Pais, amigos, namorados, namoradas, afins...

Perguntar se seremos capazes de produzir algo tão bom ou melhor?


Pois é, me pergunto sempre tb. Quase entro em depressão por achar que
não conseguirei. Mas daí me lembro de todas as cadeiras, e vejo que é
muuuuuuuuuuuito simples. Não é difícil projetar. É bom, é ótimo. E falo de
projeto bom, hein...

Só mais uma coisa (no geral): não me venham dizer pelos corredores que tal
cadeira é dificil, que esse ou aquele professor é um chato e nunca está nada
bom... Que isso me irrita... hehehehe... (até hoje não conseguiram me fazer
desistir do curso). O que existem são matérias que uns gostam mais, outros
menos.

Cuidado, aí podem estar surgindo os profissionais que tomam conta do mundo


hoje em dia...

abraço

Lucas Prates

41
Re: RES: [arqfeevale] arquitetura x construção comercializada
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Mensagem #3888 de 4006 < Ant | Próximo >

Só pra dizer um sincero “É ISSO AÍ!” para o e-mail da Maria Rita.


:-)

Prá começarmos a mudar a situação, nada melhor do que acreditar nas nossas
convicções e princípios.
Pôxa, estamos aqui prá quê? Não só para aprender, mas para criticar, mudar,
opinar, pensar e sermos ouvidos.

Essa discussão tem muito o que render ainda! \o/

Guilherme Osterkamp

---------------------------

RES: RES: [arqfeevale] arquitetura x construção comercializada


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Mensagem #3892 de 4006 < Ant | Próximo >

Lucas e outros...
Assunto bem complicado

Nós profissionais da construção, assim como os médicos, dentistas, advogados,


temos o dever de explicar tudo direitinho para o nosso cliente - não tem outro
jeito não! O mundo mudou e não tem como voltar atrás quanto ao acesso às
informações, midias, etc...

Sempre apresentei para meus clientes um bom projeto, bem explicado,


constando de plantas baixas, muitos cortes e as 4 fachadas, acompanhados de
uma perspectiva - no máximo duas. Poucas vezes – e só quando sentia dúvida
deles – apresentava uma maquete! É claro que isto precisava também constar
no escopo de meu contrato com eles!

Hoje também utilizo do 3D que permite levá-los e conduzi-los pelo interior das
suas casa e acho que a ferramenta só ajuda a vender o projeto e ganhar o
cliente. Não concordo que, quando o cliente conhece demais, dá mais “pitaco”.
Acho que é o contrário e, sempre que ele tiver dúvida, vai solicitar mudanças,
sem explicar muito bem o porquê! Isto é real e incomoda muito mais! Portanto,
acho mesmo, nos meus 24 anos como profissional e atuando com projetos
residenciais, clinicas médicas, interiores residenciais e comercias, que o nosso
ganho vai estar em fazer um projeto adequado às necessidades de nossos
clientes, sem perder nossas características projetuais e sem deixar se envolver
por “tendências ou modismos” e, principalmente, passar segurança para
quem nos contrata, evidenciando a responsabilidade que temos ao sermos
contratados para desenvolver o espaço onde nosso cliente precisa atuar, quer
seja em seus momentos de lazer ou de trabalho ou ainda o mais importante: o
espaço onde vive. Pense nisto e continue mostrando bem os seus projetos!

42
E, claro, cada vez com mais qualidade, pois, se somos pagos para pensar e
projetar, temos o dever de fazer o melhor para quem nos paga e também temos
o dever de dizer a verdade, assim como o médico também diz. Isto não é para
ti ou isto não tem nada a ver com o que estamos pensando para tua casa, etc...
se o cliente confia, ele delega. Se não, temos a opção de não fazer!
Penso que isto é melhor do que trabalhar pelo dinheiro apenas! Certamente
não nos tornaremos um profissional feliz e realizado se deixamos os leigos nos
comandarem - sei que não foi isto que quiseste dizer!
um abraço.

Profª Suzana Vielitz de Oliveira

-------------------------

RES: RES: [arqfeevale] arquitetura x construção comercializada


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Mensagem #3893 de 4006 < Ant | Próximo >
Re: RES: [arqfeevale] arquitetura x construção comercializada

Bom dia a todos.

Acredito que com boa parte do que já falamos aqui todos concordem.

Porém, uma coisa parece não ter ficado clara sobre a minha opinião em relação
à arquitetura dos dias de hoje.

Sei o papel que devemos cumprir e, como futuro profissional, tentarei cumpri-
lo. Mas acho que isso é uma coisa que não depende somente de nós, arquitetos.
Concordo com o fato de “doutrinar” as pessoas ao nosso redor, concordo com o
fato de “seduzirmos” os clientes e fazê-los aceitar nossa opinião, concordo que
será a melhor saída; interpretemos assim.

Mas eu diria que isso ocorre em um a cada dez projetos.

Aos profissionais, parem e pensem em quantos projetos realizados vocês


conseguiram aplicar todo seu conhecimento, fazendo o cliente aceitar e
entender que vocês realmente estão certos. Nenhuma dessas vezes o cliente
reclamou de custos? Formas? Tendências? Modismos?

O que vocês falaram? Eles mudaram de opinião? Aceitaram seu projeto?

O que eu vejo é que o cliente muitas vezes tem um sonho, as vezes esse sonho
é ter uma casa “neoqualquercoisa” como diz a Rita. E aí, quem brinca com
sonhos? Quem modifica sonhos? Eu não consigo....

E quem aqui está disposto a perder cliente para o concorrente, que além de
fazer o projeto que o cliente quer, fará um preço mais baixo?

Picaretas? Podem ser, mas também podem ser profissionais dispostos a


aceitar a idéia do cliente, para poder “fechar negócio” a fim de resultados
financeiros...E outra, picareta pra mim é aquela pessoa “desenhista’ que não

43
tem formação, e manda um profissional apenas assinar... O que resto são todos
profissionais.. Uns qualificados, outros não...

Sei que temos o poder de mudar algumas idéias do cliente, mas em poucas
das vezes. Muitas vezes eles chegam com a casa na revista, e sabem que esta
pode se adaptar ao seu terreno, sim. Aceitam nossas idéias, mas no final você
não fica satisfeito. E aí, não projeta? Indica um outro “profissional” para seu
cliente?

É dificil não se preocupar com dinheiro, e somente com a realização


profissional. Se fosse assim eu estaria fazendo trabalhos voluntários ajudando
pessoas nas ruas em busca de uma satisfação própria. Não é ironia de minha
parte, e sim, grande vontade que tenho. Porém, o mundo me obriga a ser um
profissional para que um dia tenha condições de ajudar a outros, sem que eu
precise depender de alguém, muito menos de qualquer órgão público para
estabelecer essas conquistas.

Trabalho principalmente com arquitetura popular, e não vejo problema em


questionar o cliente e fazê-lo mudar. Eles aceitam muitas idéias. Mas nós
nunca deixaremos um projeto 100% nossa cara.

Me questiono e questiono todos vocês, mas não a partir de minha experiência,


que é muito pouca. E, sim, em relação ao mundo arquitetônico que se ergue ao
nosso redor.

Óbvio que todos aqui vão tentar projetar arquitetura de qualidade. Isso é mais
que óbvio. Não venho aqui para desvalorizar a instituição e o canudo que nos
é dado no final. Mas, infelizmente, não adianta ignorarmos as “necessidades”
reais que os clientes nos apresentam.

Eu me preocupo com a situação, e espero poder mudar. Mas pra isso eu não
serei um arquiteto que me negarei a projetar “arquitetura comercial” por
“ética” profissional.

Isso se eu não ganhar na Mega Sena. Caso contrário, como não poderei viver
somente de felicidade, vou aceitar muitas coisas.
Como já dizem “CLIENTE SEMPRE TEM RAZÃO”.

Abraço a todos e boa semana...

Lucas - aquele que gosta de falar, debater, aceita criticas, e não, não fica
bravo...

hehehehehehehe

[As imagens deste artigo pertencem ao acervo do autor]

44
De dentro para fora

46
Vila Palmeira:
proposta de reurbanização e habitação social
Experiência do curso de Arquitetura e Urbanismo da Feevale
ALESSANDRA MIGLIORI DO AMARAL BRITO E VINICIUS DE MORAES NETTO

respeito de atividades de ensino

O
tema do Bloco (4), Arquiteto que buscassem proporcionar aos
e Sociedade, vem ao encontro acadêmicos o contato com uma
de um trabalho interdisciplinar demanda real de projeto e cuja
que as turmas de Planejamento produção projetual pudesse servir
Urbano 3 e Projeto Arquitetônico 7 para melhorar as condições de vida
desenvolveram ao longo do segundo de populações de baixa renda.
semestre de 2007.
Por vocação, as disciplinas
As atividades versaram sobre acima citadas, ambas do nono
a questão da reurbanização de semestre, que já se ocupavam do
assentamentos precários, bem como tema “habitação social”, foram
sobre a habitação social – dois selecionadas para a realização da
temas de fundamental importância primeira experiência, que será
num momento histórico mundial apresentada a seguir.
em que a população urbana é
maior do que a população rural. Em 1. A área de intervenção
países do chamado Terceiro Mundo A seleção da área de intervenção
o crescimento exacerbado das foi feita a partir de reuniões com
cidades é mais problemático, pois o Arquiteto e o Assistente Social
se dá sem nenhum planejamento, da Secretaria de Habitação da
criando espaços de pobreza e miséria Prefeitura de Novo Hamburgo.
(FAVARO, 2008). Logo, a recuperação Buscávamos grandes áreas públicas
de assentamentos degradados para o desenvolvimento de projetos
em áreas urbanas representa um de urbanização e de conjuntos
desafio para a nova geração de habitacionais populares. Entretanto,
arquitetos, já que as favelas e para nossa surpresa, estas áreas são
assentamentos precários têm crescido praticamente inexistentes na cidade.
consideravelmente, tornando inviável Além disso, muitas das praças
uma remoção generalizada (ABIKO et alocadas nos bairros periféricos
al., 2002) como acontecia no início do e populares foram invadidas e
século passado. constituem áreas degradadas,
faveladas e com péssimas condições
Dentro deste contexto e aliadas ao de habitabilidade, necessitando
caráter comunitário desta instituição de intervenções urgentes. Foi-nos
de ensino, foram fomentadas, no apresentado, naquele momento,
curso de Arquitetura, discussões a um desafio: trabalhar com a re-

47
De dentro para fora

Figura 1 – Localização da Vila Palmeira


em Novo Hamburgo/RS (PREFEITURA,
2007)

48
urbanização na Vila Palmeira, no desempregada em função da crise
Bairro Santo Afonso. no setor calçadista, e/ou vive da
coleta do lixo. Por estes motivos, e
Esta área, de propriedade privada, pela complexa configuração da sua
encontra-se situada quase na divisa malha, atualmente a Vila Palmeira
com a cidade de São Leopoldo, é considerada pela população de
tendo sido ocupada há cerca de 20 Novo Hamburgo um dos bairros mais
anos por pessoas vindas das cidades violentos da cidade. Isto representou
vizinhas, e também do oeste do uma dificuldade a mais a ser
Estado, em busca de emprego no enfrentada.
setor calçadista. Estes trabalhadores,
sem acesso à “cidade legal”, viram Pela complexidade social e
na Área de Preservação Ambiental morfológica da Vila e devido à
(APA Sul) uma maneira barata de se sua extensa área de ocupação,
estabelecer, e assim o fizeram, nas concluímos que um semestre letivo
proximidades do arroio Luiz Rau, não seria suficiente para desenvolver
em área baixa, alagadiça e sujeita a o projeto arquitetônico e urbanístico
inundações. da vila como um todo, que
apresentasse nível de detalhamento
Primeiramente, a ocupação compatível com o tema e exigência
aconteceu próxima à malha urbana das disciplinas de nono semestre.
existente e, com o passar do Optamos, então, por trabalhar em
tempo, foi-se expandido sobre a dois quarteirões com características
Área de Preservação. Assim, a vila diferentes. Devido aos seus
é constituída por quadras auto- formatos, os identificamos como o
produzidas, com traçado orgânico, “Quarteirão Gordo” e o “Quarteirão Figura 2 – Imagem aérea: Bairro x Vila (adaptado pelos acadêmicos do
o qual origina alguns quarteirões Magro”. O primeiro possui 24.200m², GOOGLE EARTH, 2007)
com becos, arranjados segundo configurando-se como um quarteirão
o conhecimento dos moradores, com geometria irregular de centro
que densificaram o local com sub- bastante largo. O segundo possui
habitações. geometria quase retangular,
assemelhada a uma fita, com área de
Ocupada inicialmente por 11.307m².
trabalhadores, a Vila Palmeira
abriga hoje cerca de 2000 famílias e
aproximadamente 7000 habitantes.
Grande parte destas pessoas está

49
De dentro para fora

1.1 O Quarteirão Gordo razão, também não se observam


Encontra-se implantado em uma vielas ou becos. Nesta parte da
área mais consolidada da Vila, Vila, de habitações mais recentes
apresentando mescla de casas em e, portanto, frágeis, moram os
bom e mau estado de conservação, catadores de lixo, que sobrevivem da
além de possuir vários becos que reciclagem. O acúmulo de detritos,
dão acesso às habitações situadas carroças, cavalos e o esgoto a céu
no seu miolo, em geral, em más aberto, próximo às residências,
condições de habitabilidade. contribuem para criar uma imagem
Conforme entrevistas realizadas urbana bastante degradada
pelos professores e acadêmicos com nesta parte da vila. No projeto
os moradores, a ocupação deu-se da de requalificacão do quarteirão
borda para o centro do quarteirão Magro, as habitações são de difícil
em virtude do banhado ali existente. aproveitamento devido ao péssimo
A necessidade de aterro no centro estado de construção, conservação e
deste foi um empecilho para a rápida habitabilidade.
ocupação, mas com a chegada de
novas famílias isto acabou tornando- 2. O Método de Trabalho
se inevitável. Definidas as áreas a serem estudadas,
os professores das disciplinas
Conforme relato de um antigo trabalharam conjuntamente no
morador, para resolver a questão sentido de alinhar os conteúdos e
de acesso ao ponto central do cronogramas das aulas. Os textos
quarteirão, vielas e becos foram para propiciar o embasamento teórico
abertos, com o consentimento dos trabalhos estiveram relacionados
dos vizinhos, através de acordos a Estudos de Caso e Projetos
de camaradagem, demonstrando o Referenciais relativos a situações de
espírito de solidariedade entre eles. re-urbanização semelhantes à da Vila
Palmeira, Regularização Fundiária,
1.2 O Quarteirão Magro Avaliação Pós-Ocupação em Conjuntos
Está localizado na parte de baixo Habitacionais, bem como a textos
da Vila, na área mais recentemente sobre dinâmicas de produção e
invadida, mostrando a direção de estruturação urbana e análises críticas
Figura 3 – O quarteirão Gordo e seus becos (adaptado pelos acadêmicos do GOOGLE expansão. A forma longilínea do de projetos de habitação social.
EARTH, 2007) mesmo configura uma ocupação em Workshops para discussão dos textos
fita, que não enseja a formação de e projetos, além do compartilhamento
área residual no centro. Pela mesma de idéias, também foram realizados.

50
As Visitas à Vila tiveram por cópias no mercado mais freqüentado
objetivo conhecer o local, levantar do bairro. Mesmo com a pequena
informações e conversar com os participação popular, os resultados
moradores. Entretanto, como foram muito proveitosos. A oficina
cuidado antes de realizarmos os foi realizada em cinco etapas. A
levantamentos in loco, agendamos primeira consistiu em explanação
reunião com o Presidente da das nossas intenções a fim de
Associação dos Moradores para não gerar falsas expectativas. Na
explicar a proposta de trabalho e seqüência, foi destinado um tempo
para pedir seu auxílio na divulgação para que os moradores falassem
da nossa presença na vila. O uso de sobre a Vila. Primeiramente,
carro e jalecos com identificação dos aspectos negativos e,
da Feevale, o acompanhamento do posteriormente, dos positivos. A
Arquiteto e/ou Assistente Social e a terceira etapa organizou-se em
escolta do carro da Prefeitura, foram função de dinâmica que propiciou
também as soluções encontradas mostrar aos habitantes, através
para anunciar nossas visitas. Desta de cartazes e fotos, imagens de
maneira, conseguimos realizar tipologias arquitetônicas, questões
os levantamentos necessários e de infra-estrutura e equipamentos
percorrer com segurança todos os urbanos, bem como alternativas de
becos do Quarteirão Gordo, já que as fonte de renda para os moradores
imagens aéreas disponíveis através da vila. Cada morador assinalou
da ferramenta Google Earth não nos as imagens de seu interesse,
davam uma clara noção da extensão as quais foram posteriormente
destes. agrupadas e tabuladas segundo
“tipos”. A quarta etapa consistiu
A oficina com os moradores foi na aplicação de um questionário.
uma etapa muito importante, Finalmente, organizamos uma
embora não tenha tido uma confraternização. Posteriormente,
participação tão expressiva quanto todas as informações coletadas
gostaríamos. A atividade foi foram reunidas e discutidas, e nos Figura 4 – O quarteirão Gordo e seus becos (adaptado pelos acadêmicos do GOOGLE
realizada na sede da Associação dos serviram como aporte nas decisões EARTH, 2007)
Moradores. Convidamos as pessoas de projeto.
a participarem através de carta
informal, entregue para alguns
moradores líderes a fim de distribuí-
los para seus vizinhos, além de fixar

51
De dentro para fora

Figura 5 - Um dos becos do Quarteirão


Gordo.

52
Figura 6 - No quarteirão Magro, a casa
de um catador de lixo.

53
De dentro para fora

Figura 7 - O Esgoto a céu aberto na


frente das casas do Quarteirão Magro.

54
Em virtude do tamanho pequeno da e o âmbito da vila poderia implicar
turma, 4 alunos, decidimos montar o reforço dos laços sociais entre
duas estratégias de projeto. Na moradores? E, pelo contrário, o
disciplina de “Projeto Arquitetônico aumento das conexões físicas entre
7”, portanto, foram formadas vila e cidade poderia dissipar a
duas duplas, de forma que cada vida social da vila? Nosso estudo
uma trabalhasse num quarteirão, baseou-se em algumas constatações
propiciando, assim, a experiência alimentadas por estudos da relação
de se projetar em equipe, bem como entre sociedade e espaço, segundo
uma maior produtividade, já que o os quais diferentes socialidades
nível de detalhamento exigido é alto. produzem estruturas espaciais
Para a disciplina de planejamento (arranjos de quarteirões e ruas) para
urbano, o trabalho envolveu um sua própria reprodução (HILLIER E
único grupo. HANSON, 1984). Grupos mais auto-
centrados produzem estruturas que
2.1 Planejamento Urbano terminam por intensificar o contato
3 - Reconexão urbana e interno, e enfraquecer o contato com
experimentação em habitação outras agências da cidade – uma
coletiva forma de controlar, naturalmente, o Figura 8 – Equipe da Feevale acompanhada do Assistente Social, de
Um dos desafios do grupo foi o de volume de encontros com estranhos, seu auxiliar e do presidente da Associação de Moradores no dia do
enfrentar, diante de exercício de por exemplo. Essa forma de controle levantamento in loco.
projeto geral para a requalificação do seu território através da baixa
da Vila Palmeira, um dos problemas acessibilidade para o exterior
mais graves encontrados em áreas parece também favorecer as redes
de ocupação irregular: as relações criminosas, que se valem dessas
entre vila e cidade formal. Vilas e propriedades espaciais para manter
favelas costumam ter vida social cativa, inclusive, a própria população
interna intensa, enquanto suas da área.
conexões com a cidade (socialmente
e espacialmente) costumam ser Uma ligação vila-cidade
mais frágeis. Uma das perguntas problemática – difíceis conexões,
que nos colocamos relaciona essas ruas tortuosas, interrompidas, como
duas observações – se a socialidade nas curtas ruas e baixa visibilidade
da vila intensifica-se exatamente na entrada da Vila Palmeira – gera
em função da redução de amarras baixa acessibilidade e desestimula
com socialidades da cidade formal. naturalmente o movimento de
O contato dificultado entre cidade estranhos na área. Logo, depois

55
De dentro para fora

Figura 9 – Pesquisa da célula:


Regra Associativa (MARQUES,
2007)

56
Figura 10 – Experimentação em geometrias para habitação social:
conceituação, celularização, associação e a proposta de unidade com máxima
compactação e flexibilidade de arranjo - Análise: Depthmap© (KRAKE, 2007)

dessa sutil desconexão física a hierarquia natural das ruas da vila, de “serpentina” e fragmentação 2.2 Projeto Arquitetônico 7
(portanto, visual e de mobilidade), e suas diferentes capacidades de da malha (desconexão entre – Reurbanização e Projeto da
uma trama de ruas internas, de concentrar movimento e atividades. ruas internas da área e ruas do Unidade Habitacional
geometria de angulações variadas, Assim, preserva-se a distribuição entorno), e quarteirões de grão Enquanto a disciplina de
converge pedestres e concentra espacial e níveis de co-presença e menor que o usual em tecidos Planejamento Urbano 3 tratou de
atividades (comércio e serviços) encontros que constituem a vida do entorno – elementos de uma intervenção mais geral no
em uma hierarquia natural de social intensa da comunidade. fratura entre áreas, e de geração traçado viário da vila visando à
ruas e áreas, uma distribuição Seguindo a estratégia de integração de guetos urbanos projetados integração com o bairro, assim como
eficiente ao longo das ruas mais vila-cidade, o estudo do traçado acidentalmente (AGUIAR, 2003). propiciou a livre experimentação de
acessíveis – uma estrutura de malha estendeu-se na pesquisa tipológica novas tipologias habitacionais, a
e atividades não-planejada – auto- habitacional. Os objetivos foram o Outro objetivo foi a pesquisa de disciplina de Projeto Arquitetônico
organizada. Coube ao grupo propor, de experimentar com tipologias que celularização e regra associativa 7 buscou entender a ótica da
no seu exercício de intervenção não estigmatizem o futuro morador, (GALVÃO, 2002) no que chamamos requalificação urbana e a habitação
projetual, elementos de integração através de uma integração visual jogos combinatórios ­– estudos da de interesse social com uma
vila-cidade sem afetar esse tecido com as tipologias da cidade, e que geometria do layout da habitação  e abordagem mais realista, próxima
sócio-espacial particular. Uma série atendam os seguintes requerimentos: sua composição (tanto tridimensional de uma situação exeqüível. Estas
de propostas de conectividade e quanto na implantação) em conjuntos duas estratégias possibilitaram
acessibilidade foi desenvolvida a) Densificação em taxa adequada que também previssem o rápido aos acadêmicos, circular num
no atelier, tendo seus diferentes à demanda por habitação social crescimento familiar e conversão espectro de situações extremas: da
impactos de acessibilidade, na região. entre atividade residencial e atividade experimentação à concretização.
integração e segregação espacial comercial, apresentando assim
simulados em software específico, b) Compacidade do arranjo flexibilidade na sua geometria para As principais premissas de projeto
o Mindwalk©; e seus impactos de (relação entre perímetro de futuras ampliações ou troca de usos foram as de manter a comunidade
visibilidade para o pedestre testados fachadas e área dos conjuntos). sem perda de qualidade de conjunto no local e não desprezar o histórico
no Depthmap©. Assim, o grupo – contemplando os requerimentos de ocupação da vila. Dessa maneira,
pôde pesquisar modificações no c) Celularização não perdulária mencionados. Pesquisou-se também a o novo traçado viário levou em
traçado da malha, com aberturas (relação entre testada e geometria interna da célula, incluindo consideração, quando possível, os
pontuais de ruas que provocassem profundidade da habitação), visibilidade e acessibilidade interna, percursos já estabelecidos, as redes
mínima relocação de habitações através de: no sentido de entender que partes da de água e energia implantadas e
pré-existentes, frente à intenção de habitação teriam maior centralidade as habitações em bom estado de
integração vila-cidade, reduzindo d) Controle da extensão de em relação às demais. Parece conservação, buscando, também,
problemas de acessibilidade e fachadas e canais de acesso desejável que ambientes coletivos reduzir os custos da reurbanização.
visibilidade, de forma a reforçar através de regras associativas (sala e circulação) tenham esse papel. Os registros das visitas e dos
as ruas internas da vila que já entre células que reduzam Essa pesquisa deu-se de forma crítica, levantamentos foram instrumentos
apresentam papel fortemente custos de infra-estrutura e a e desvinculada da cultura construtiva fundamentais para a tomada de
distributivo no movimento pedestre extensão das ruas (GALVÃO, local em habitação social. decisão do que deveria permanecer
e veicular. Sem prejudicar, portanto, 2002), evitando rua em forma e daquilo que deveria ser relocado.

57
De dentro para fora

Figura 11 – A célula: a regra Frear a ocupação na área de de carros e o uso recorrente do de projeto tende a ser maior do
associativa, a visibilidade e o exame Preservação Ambiental também foi fogão à lenha, principalmente nos que os custos para prover espaços
de acessibilidade interna da unidade uma estratégia adotada. quarteirões estudados. As pesquisas semelhantes nos projetos originais.
habitacional - Análise: Depthmap© Contudo, outros princípios de Avaliação Pós-ocupação em SZUCS (1998) verificou que um dos
(MARQUES, 2007) norteadores foram levados em conjuntos habitacionais populares problemas freqüentes nos projetos é
consideração no processo de projeto também nos ajudaram a conhecer que a cozinha e o banheiro, em geral,
da habitação social, como o público os acertos e erros em projetos já encontram-se na parte posterior
alvo, a ampliação da casa, tamanho x construídos. Uma das questões da casa, justamente no sentido da
custo, o conforto térmico e o uso de recorrentes nestas pesquisas é que, ampliação. Isto acarreta a demolição
processo construtivo racionalizado, inevitavelmente, as residências e a relocação de dois ambientes
que serão brevemente comentados unifamiliares sofrem alterações com importantes da residência devido à
a seguir. o passar do tempo e estas ocorrem sua função e ao valor construtivo.
por diversos fatores, dentre os quais: Estes ambientes, quando mal
As pesquisas de Avaliação Pós- tamanho reduzido da edificação planejados e reconstruídos, podem
Ocupação em Habitações de para o número de moradores e suas se tornar insalubres devido à pouca
Interesse Social têm mostrado que necessidades; a possibilidade de a ou ineficiente insolação e ventilação.
as residências unifamiliares, em casa deixar de contar exclusivamente Logo, a solução é não projetá-los
geral, sofrem alterações em função com a função de moradia e passar no sentido da expansão da casa de
dos projetistas não conhecerem o a abrigar comércio ou serviço; o modo a preservar as instalações e a
perfil e as necessidades dos futuros casamento dos filhos e a agregação salubridade dos mesmos.
moradores (MEIRA E OLIVEIRA, da nova família; a necessidade de
1998; REIS, 1995; SZUCS, 2002) abrigo para o carro, entre outras. Outro fator determinante na
Logo, o arquiteto projeta para um As alterações em residências habitação social é o seu tamanho,
cliente “imaginário”, do qual ele multifamiliares também ocorrem, que geralmente não supre as
conhece apenas a sua faixa de renda mas são menos freqüentes devido necessidades dos usuários. Embora
salarial. Tentando modificar este à pouca flexibilidade da planta. entidades de países europeus
paradigma, buscou-se propiciar Mas, quando acontecem situam- recomendem uma área útil mínima
aos acadêmicos diversas formas de se principalmente no térreo, nas de 10 a 13,7 m2/morador para
conhecer melhor o público alvo áreas de ajardinamento, pátios ou uma casa de 4 pessoas (ORNSTEIN
do projeto. Para tanto, utilizamos áreas públicas residuais próximas e CRUZ, 2000), no Brasil esta
entrevistas com os moradores da às edificações. Portanto, se as metragem tem se apresentado
vila, bem como informações obtidas modificações são inevitáveis, a inferior, cerca de 9,0 a 10,5 m2/
na oficina. As visitas in loco também chave do problema é planejá-las no morador em empreendimentos do
nos ajudaram a coletar informações projeto original, a fim de que possam tipo PAR (Programa de Arrendamento
importantes que não obtivemos ser realizadas sem causar prejuízos Residencial) e PSH (Programa de
através do contato direto com os à habitabilidade da edificação. Subsídio à Habitação de Interesse
moradores, como a pequena presença Sabe-se que o custo das alterações Social). Tendo como base uma

58
metragem útil mínima de 10m2/ Este método de trabalho oportunizou
morador, foram propostos os projetos aos alunos o exercício de várias
pelos acadêmicos. Mas, para áreas do conhecimento durante o
otimizarmos o uso desta restrita semestre (arquitetura, urbanismo e
área, estudamos o conceito de tecnologia), encerrando o ciclo de
Flexibilidade. projeto com um nível de maturidade
projetual bastante satisfatório.
O estudo do conforto térmico e
da ventilação cruzada, geralmente Assim como as ruas orgânicas
negligenciados em projetos de e labirínticas dos becos da Vila
habitação social, foi um item exigido Palmeira foi o nosso semestre em
neste trabalho. Para tal, foram relação ao planejamento das aulas.
realizados os mapas de insolação Inicialmente, as nossas “visuais” do
das unidades habitacionais em dois processo projetual eram limitadas,
horários nos períodos de inverno e pois não conhecíamos o território
verão de modo a estudar as situações e os moradores. Mês a mês, em
mais críticas. Outras estratégias conjunto, fomos “descobrindo” o
adotadas foram o uso de ventilação caminho para a solução do dilema.
cruzada e a coleta e re-uso da água da O envolvimento, a dedicação e o
chuva para abastecimento das bacias comprometimento dos alunos foram
sanitárias e torneiras de jardim. fundamentais neste processo de
construção do conhecimento. O
A etapa final da disciplina propôs desafio foi vencido!
o desenvolvimento do projeto
executivo da unidade habitacional Os textos e as imagens a seguir
utilizando um sistema construtivo mostram as soluções em relação
racionalizado, neste caso, os à reurbanização e à unidade
blocos de concreto. Também foi habitacional do Quarteirão Gordo,
solicitado aos acadêmicos que os desenvolvida pelos acadêmicos
projetos complementares fossem Leonardo Giovenardi e Márcia
compatibilizados com o de alvenaria Marques.
buscando verificar a exigüidade
do projeto dentro do orçamento O projeto urbanístico do Quarteirão Figura 12 – Mapa Figura/Fundo do Quarteirão Gordo (GIOVENARDI E MARQUES,
e sistema propostos. Assim, Gordo: 2007)
foram desenvolvidas plantas das O projeto visou a urbanizar a malha
fiadas, elevações, detalhamentos existente através do alargamento
pertinentes ao sistema construtivo. dos becos (vias preferenciais de

59
De dentro para fora

60
Figura 13 (página anterior) –
Proposta de parcelamento do
solo, abertura de vias e criação de
área verde central (GIOVENARDI E
MARQUES, 2007)

pedestres), transformando-as em por lotes irregulares e elementos


ruas. Para tanto, foi necessário edificados com a mesma altura, Quantitativo de Unidades Habitacionais
remover algumas edificações contando com grande variedade de
em estado regular e todas as materiais, que transmitem a sensação Residências contabilizadas 115
residências em estado precário foram de irregularidade e desorganização.
substituídas por novas. As remoções Este “Patchwork” criado pelos Residências existentes (que permaneceram) 48
foram avaliadas após estudos de moradores é visível através da
viabilidade de abertura de vias, a diferenciação dos materiais e Residências removidas 67
fim de proporcionar melhor conexão texturas das edificações e acabou por
entre os moradores do quarteirão e inspirar-nos para o desenvolvimento Residências implantadas 67
as vias de principal fluxo. Também do conceito do projeto arquitetônico.
a análise de habitabilidade das Assim, o projeto foi intitulado
residências foi importante para “Alegria do Movimento”. Alegria,
decidir o que deveria permanecer e o por estar valorizando o próximo,
que deveria ser substituído. proporcionado, através da
arquitetura, mais humanidade e
Através da setorização da área, dignidade. As cores escolhidas para
novas quadras foram criadas. as fachadas tiveram por objetivo
Estas são separadas por ruas de colorir o quarteirão enchendo-o de
passagem de veículos e de pedestre vida, assim como o “Patchwork”. O
que se encontram no centro da Movimento foi proporcionado pela
grande quadra em duas praças que junção de tipologias de diferentes
integram os habitantes do local. alturas, dispostas duas a duas.
A intenção de criar as praças no Outros elementos importantes na
centro do quarteirão é fazer com que volumetria da edificação foram
os moradores voltem seus olhares as adições laterais relativas aos
para o local de morada, além de banheiros. A intenção de destacá-
proporcionar um espaço de convívio los na fachada foi o ponto chave no Figura 14 – Perspectiva de um quarteirão reurbanizado: edificações novas e
para as pessoas. Servem como um desenvolvimento da proposta. A sua existentes (GIOVENARDI E MARQUES, 2007)
espaço de “respiro” no quarteirão, lateralidade na planta justifica-se
visto que a vila possui raros espaços não só pelo aspecto formal, mas
públicos de lazer. também permite a ampliação da
residência para o fundo do lote,
O projeto arquitetônico do sem a necessidade de demolição do
Quarteirão Gordo: mesmo.
Após as visitas in loco, verificamos
que este quarteirão é formado

61
De dentro para fora

Figura 15 - Planta baixa do


pavimento térreo das casas
geminadas. À direita casa de
2 pavimentos (GIOVENARDI E
MARQUES, 2007)

62
3. Conclusões – principalmente nas instituições
A partir desta experiência ditas públicas e comunitárias. Os
interdisciplinar concluímos próximos tempos serão favoráveis
que oportunizar o contato dos às questões sociais devido à sua
acadêmicos com a comunidade fez grande demanda, e é necessária e
com que os estudantes adquirissem urgente a mudança do paradigma
nova compreensão sobre o de que os pobres não precisam de
problema da habitação popular e ARQUITETURA!
da reurbanização de assentamentos
informais, uma face da sociedade que Agradecimentos:
ainda não lhes tinha sido revelada. Aos acadêmicos Jordana Jacks,
Verificamos que a atividade Márcia Marques, Leonardo
projetual deixou de ser um exercício Giovenardi e Marlon Krake pelo
meramente racional, para ser um empenho e dedicação na realização
exercício mais consciente e humano. dos trabalhos.
Assim, o Beco do Pescador não era
apenas o nome de uma rua, mas Ao Arquiteto Fernando Costa e ao
sim, um local com significado, pois Assistente Social Jairo Peralta,
conhecíamos a sua morfologia, sua da Secretaria de Habitação,
ambiência, seus problemas e seus pelo apoio, incentivo e por
moradores – por exemplo. Logo, nos proporcionarem conhecer
a compreensão deste conjunto de e vivenciar experiências tão
elementos resultou em decisões de enriquecedoras.
projeto mais consistentes.
Ao morador “Dilar” que, na sua
Uma vez que o resultado desta simplicidade e visão, elucidou
experiência foi bastante satisfatório, questões fundamentais que nos
pretendemos adotar a Vila Palmeira auxiliaram a entender a dinâmica
como área de estudo nos próximos de ocupação e formação da Vila;
semestres de maneira a compreendê-
Figura 16 - Planta baixa do la como um todo. Ao Sr. Borguetti, Presidente da
pavimento superior (GIOVENARDI E Associação dos Moradores da
MARQUES, 2007) Sendo a Regularização Fundiária Vila Palmeira, pelo seu apoio e
uma política habitacional recente, empréstimo da Associação para a
é necessário que formemos, dentro realização da oficina;
da academia, profissionais mais
comprometidos com esta realidade

63
De dentro para fora

Figura 17 – Vista das edificações


propostas – casas geminadas com
1 e 2 pavimentos (GIOVENARDI E
MARQUES, 2007)

Ao Mateus Henrique da Silva, Referências: Popular. Centro Universitário Edusp, 1992.


motorista da Feevale, pelo ABIKO, Alex et al. Custos Básicos de Feevale. Imagens em JPG. Escala ORNSTEIN, Sheila; CRUZ, Antero de
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2007/2, que auxiliaram os colegas vitruvius.com.br/arquitextos/autor/ Feevale. Imagens do Depthmap. Hamburgo. Imagem em JPG. Escala
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o levantamento da infra-estrutura DEPTHMAP .VR Centre. UCL Roberto. O usuário da habitação alterações realizadas pelo usuário
e equipamentos urbanos no bairro Depthmap: Spatial Network Analysis no contexto da APO. Disponível no projeto original da habitação
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ao acervo dos autores] FAVARO, Thomaz. O planeta Urbano. MARQUES, Márcia. Estudo da SZUCS, Carolina Palermo.
Veja, São Paulo: n. 15, abril de 2008. regra associativa. Disciplina de Flexibilidade aplicada ao projeto da
GALVÃO, Eduardo. Vila Planetário: Planejamento Urbano 3 – Centro habitação social. In: Anais do VII
Estigma ou paradigma. Dissertação Universitário Feevale. Imagens do Encontro Nacional de Tecnologia do
de Mestrado (2002). Disponível em: < Depthmap. Escala indeterminada. Ambiente Construído, 1998.
http://www.ufrgs.br/propar> . Acesso 2007. SZUCS, Carolina Palermo. Habitação
em 06 de junho de 2007. ORNSTEIN, Sheila Walbe, ROMÉRO, social: alternativas para o terceiro
GIOVENARDI, Leonardo; MARQUES, Marcelo de Andrade (colaborador). milênio. In: Anais do IV Seminário
Márcia. Projeto Arquitetônico. Avaliação Pós-ocupação do ambiente Ibero-Americano da Rede CYTED
Disciplina de Projeto 7 – Habitação construído. São Paulo: Studio Nobel, XIV.C, 2002.

64
De dentro para fora
Cidade acessível e inclusão social:
futuros arquitetos, futuro da arquitetura
LUCIANA NÉRI MARTINS

A
inclusão social vem sendo de nada em especial para 2. As cidades estão implantadas Este trabalho teve a colaboração
sensivelmente discutida estas pessoas, ainda mais se em sítios variados, nasceram dos acadêmicos
entre todos os segmentos da os ambientes forem pensados e cresceram de formas e em do Curso de Arquitetura e
sociedade, uma vez que este tema corretamente; há, claro, pessoas períodos diversos e possuem Urbanismo da Feevale
tem sido proposto com maior ênfase com deficiências específicas que (possuíram) governantes Stefânia Beretta Lenz e Vagner
desde os anos de 1990 até hoje. irão necessitar de condições totalmente diferentes nos Einsfeld.
especiais de tratamento para se modos de pensar e agir.
Cidade... Acessibilidade... Inclusão garantir a acessibilidade.
Social... conceitos importantes que 3. A mesma cidade abriga pessoas
precisam ser trabalhados dentro dos Porém, há também um grupo com variadas características e
cursos de arquitetura e urbanismo... de indivíduos que, por uma com necessidades diferentes.
Afinal, o arquiteto urbanista tem razão ou outra, estão com as
um grande papel e responsabilidade atividades motoras reduzidas e/ O que se quer dizer é que qualquer
neste contexto. ou comprometidas, seja no acesso, pessoa, com deficiência ou não,
no deslocamento, na permanência, deve ter a liberdade de ir e vir, e
Mas qual é o melhor termo a na utilização, no manuseio, na a ela deve ser garantido o poder
ser utilizado quando queremos comunicação ou na compreensão de de transitar por toda cidade,
referenciar o sujeito deste tema? informações. Como, por exemplo, usufruindo de seus próprios direitos
Os novos documentos lesionados, gestantes, obesos, etc. civis, políticos, sócio-econômicos,
governamentais estão utilizando Estas pessoas são chamadas de culturais, bem como em cumprimento
o termo: Pessoas com deficiência, pessoas com mobilidade reduzida. de seus deveres de cidadania. Ou
pois admite o fato de que a seja, independentemente de qual
deficiência não pode ser retirada Bem, definido o termo para o “nosso a cidade, ela deve ser acessível a
(na maioria dos casos); logo, o sujeito”, agora precisamos entender todos.
indivíduo não a porta, e sim, a o que é uma CIDADE ACESSÍVEL... Segundo alguns dados divulgados
possui. É algo que está com ele. Ou pelo Censo de 2000 do IBGE,
seja, tornou-se inadequado utilizar Para produzirmos uma cidade 14,5% da população têm alguma
termos como: “pessoas portadoras acessível, temos que respeitar alguns deficiência; isso quer dizer que
de deficiência”, ou mesmo “pessoas pontos básicos: aproximadamente 24,5 milhões de
com necessidades especiais”... brasileiros contam com algum tipo
termos que costumavam ser 1. As cidades, embora tenham de deficiência. Destes, 70% vivem
adotados em tempos passados. um conjunto de ações abaixo da linha da pobreza; 33%
semelhantes entre si, possuem são analfabetos ou possuem até 3
O que se quer dizer é que não particularidades e oferecem anos de escolaridade; 90% estão
há pessoas com necessidades aos seus usuários situações fora do mercado de trabalho; 8,6%
especiais, pois, na maioria dos diferenciadas e com grande possuem mais de 60 anos; e cerca
casos, não há a necessidade poder de atração e interesse. de 55 milhões de cidadãos possuem

67
De dentro para fora

alguma limitação na mobilidade. de suas características físicas, 1. Barreiras Físicas: Os acessos – daquelas com deficiência
Consideremos, agora, que se sensoriais e mentais.” Lerner (2008) ao meio físico não podem e dos demais indivíduos da
contarmos mais duas pessoas (pais, ser considerados questões sociedade; o treinamento dos
amigos, cônjuges e filhos) envolvidas Para trabalhar com conceitos tão simples porque as pessoas técnicos que fiscalizarão obras
com a pessoa com dificuldades de importantes, referencia-se alguns são heterogêneas e possuem de uso público também se torna
locomoção, teremos em torno de 165 autores: Segundo Lanchotti, 1998, necessidades diferentes; o necessário para a garantia
milhões de brasileiros relacionados as Barreiras Arquitetônicas ocorrem meio físico trata as pessoas de acessibilidade a todos os
direta ou indiretamente com a toda vez que a circulação de uma de maneira desigual porque os usuários.
acessibilidade. pessoa for interrompida por qualquer profissionais que o produzem
tipo de obstáculo, ou quando o limitam-se, em muitos casos, às Tais barreiras são resolvidas
Ou seja, há necessidade real de UMA acesso a imóveis de utilização propostas convencionais; através da Acessibilidade. Assim,
CIDADE PARA TODOS... pública estiver impedido pela mesma para Rovira-Beleta (2003), a
razão. Em virtude desse motivo, 2. Barreiras Tecnológicas: acessibilidade característica
Mas de quem será esta o presente trabalho apresenta a Os elementos tecnológicos do urbanismo, da edificação,
responsabilidade técnica e social? escolha de uma instituição de ensino são inseridos na vida do transporte e dos meios de
O que se quer dizer aqui é que, sem como protagonista do exercício contemporânea para facilitar comunicação permite que qualquer
dúvida, esta responsabilidade, cabe didático-pedagógico. o dia-a-dia das pessoas. pessoa a utilize com máxima
também ao arquiteto urbanista, e, Entretanto, nem sempre são autonomia. Ou seja, uma boa
se este ainda não está consciente Segundo Cardoso (1996), as barreiras acessíveis a todos; acessibilidade, é aquela que existe,
desta atribuição, cabe às escolas arquitetônicas são obstáculos físicos mas que passa despercebida para a
de aquitetura, a inserção dos que erroneamente fazem parte do 3. Barreiras Sociais: A cidade maioria dos usuários, excetuando-se,
conceitos de Acessibilidade, ambiente construído, pois dificultam perde seu poder de democracia evidentemente, aquelas pessoas com
Barreiras Arquitetônicas e do ou impedem a livre circulação de a partir do momento em que graves problemas em sua mobilidade
Desenho Universal junto aos futuros pessoas portadoras de deficiência não oferece a equiparação e/ou com limitações sensoriais,
profissionais, para que esses sirvam e ou incapacidades. O mesmo autor de oportunidades a todos os virtuais e/ou auditivas.
de multiplicadores culturais e classifica-as em quatro tipos de usuários do espaço urbano; a
executores reais deste tema. barreiras, a saber: barreiras físicas, humanidade é desigual. Suas Para Ely (apud Dalanhol, 2004), a
barreiras tecnológicas, barreiras necessidades também. Os acessbilidade engloba dimensões
“...Aprender a lidar com as limitações sociais e barreiras atitudinais. profissionais responsáveis pela físicas, estruturais e sociais e trata
impostas por séculos de barreiras melhorias na qualidade de vida da possibilidade dos indivíduos
arquitetônicas, que endurecem a Assim, dentro da temática das pessoas precisam entender terem acesso a, e fazer uso de,
percepção de projetistas e os leva “Acessibilidade” encontramos isto; um ambiente, equipamento, ou
a desperdiçar na Arquitetura sua 4 questões básicas que devem ambos, de maneira independente.
vocação como veículo de integração ser analisadas como “barreiras” 4. Barreiras “Atitudinais”: O autor afirma, ainda, que esse
social, e as possibilidades de ocupação existentes na vida e no dia-a-dia Muitas vezes, as barreiras que conceito está ligado à qualidade do
democrática dos espaços construídos das pessoas com dificuldades de impedem a Inclusão Social Projeto Arquitetônico, baseando-se
para todos indivíduos, independente movimentação. advêm das atitudes das pessoas num conjunto de especificações,

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de normas, de legislação e, limitações independentemente de beneficiando todas as idades e Inclusão Social das pessoas com
principalmente, na conscientização a suas manifestações, temporárias ou capacidades. deficiências ou com dificuldade de
respeito das diversidades. permanentes, sutis ou severas, em locomoção nas atividades diversas
qualquer caso. Trata-se, portanto, da concepção de de um cidadão (cidadania), há a
Na NBR 9050/2004, a acessibilidade espaços, artefatos e produtos que necessidade de discussão com a
é a possibilidade e a condição Podemos concluir, então, que a visam a atender simultaneamente sociedade e do estabelecimento de
de alcance para utilização com responsabilidade dos Arquitetos, todas as pessoas, com diferentes Políticas Públicas de Mobilidade, de
segurança e autonomia de Engenheiros, Designers, Urbanistas, características antropométricas forma atuante e participativa.
edificações, espaços, mobiliários e Profissionais da Saúde é grande, e sensoriais, de forma autônoma,
elementos. já que, antes de tudo, esses segura e confortável, constituindo- Conclui-se, portanto, que, tão logo o
profissionais são seres sociais, se nos elementos ou soluções espaço de uso comum utilizado por
Para Mazzoni et all (2001), a que desfrutam dos espaços como que compõem a acessibilidade todas as pessoas - com deficiência
acessibilidade é um processo qualquer outro homem, com a (Lanchotti,1998). ou não - seja projetado com base
dinâmico, associado, principalmente, diferença de que possuem formação nesses conceitos, com o foco
ao desenvolvimento da sociedade. acadêmica para mudar o meio em que Ou seja: a Acessibilidade e o principal na preocupação física
Uma sociedade que se preocupa em vivemos. Desenho Universal são a resposta da acessibilidade, evitar-se-ão as
garantir às pessoas portadoras de para eliminação das barreiras barreiras arquitetônicas e, desta
deficiência o direito de participar Neste contexto, o Desenho arquitetônicas. forma, teremos a inclusão social que
da produção e disseminação do Universal faz-se de máxima tanto se almeja.
conhecimento certamente contará relevância. Em ambientes urbanos Para Cardoso (1996), criar acessos
com a participação dessas pessoas, inclusivos, segundo Prado (2003), é o mesmo que remover barreiras É sabido que, no passado, as pessoas
de forma ativa, em todos os seus o conceito de Desenho Universal físicas, ambientais, edificáveis, e com deficiência costumavam ser
demais setores. terá sido totalmente difundido essa tarefa demanda uma integração ‘escondidas’ dentro de casa, sem
quando qualquer pessoa, idosa ou de uma equipe multidisciplinar. Para direito a circular livremente; os
Desta forma, não se pode esquecer não, com perdas funcionais, puder projetar e desenhar nesta área do idosos viviam pouco devido ao
que, partindo do presuposto de transitar pela cidade, deslocar-se conhecimento é imperativo que as atraso da medicina; as mulheres
que todos nós podemos vir a ser ou pelas calçadas, atravessar ruas, regras sejam rígidas no conjunto, (principalmente as grávidas) e as
nos tornarmos temporariamente desfrutar das praças, acessar os permitindo uma produção que crianças não tinham vida ativa,
incapacitados em algum momento edifícios e utilizar o transporte vá ao encontro das necessidades passando quase todo o tempo
de nossas vidas – como, por público com autonomia e emergentes de criação de novos dentro de casa. Assim, em busca da
exemplo, ao nascer (não sabendo independência. Segundo Lopes Filho acessos físicos, ambientais, urbanos INCLUSÃO SOCIAL, o Programa de
falar, caminhar, comer sozinhos), (2002), Desenho Universal vem a e/ou edificáveis. Ação Mundial para as pessoas com
enquanto gestantes, ao envelhecer, ser a forma de conceber produtos, deficiência - OMS/ONU objetiva a
na eventualidade de um acidente, meios de comunicação e ambientes Assim, para transpormos o simples constituição de uma CIDADE PARA
considerando inclusive, as deficiêcias para serem utilizados por todas as ato de identificação/eliminação TODOS, trabalhando com uma equipe
visuais, auditivas, físicas, mentais e pessoas, pelo maior tempo possível, das Barreiras Arquitetônicas e multidisciplinar na construção de
múltiplas – estaremos abordando tais sem a necessidade de adaptação, começarmos a proporcionar a cidades mais justas, mais acessíveis

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De dentro para fora

e mais democráticas. Para isto, vale- A vida das cidades é, evidentemente, construção da acessibilidade, pois etapa das oficinas, bem como as
se de um tripé fundamental: protagonizada por pessoas, as quais, envolve a formação de distintas cidades de Manaus, Niterói, Natal,
em sua maioria, não são modelos categorias de profissionais, e, além Salvador, Curitiba e São Paulo. As
1. PREVENÇÃO: adotar medidas perfeitamente proporcionais, assim disso, as condições de acessibilidade oficinas tiveram como público-alvo
que evitem o aparecimento de como o Homem Vitruviano (1490) que adota possuem um efeito reitores, diretores, coordenadores,
novas deficiências físicas, mentais de Leonardo da Vinci (1452-1519); multiplicador, já que funcionam professores e funcionários de
e sensoriais; e, caso elas sejam e o Modulor (1953) de Le Corbusier como um modelo para várias outras Instituições de Ensino, com especial
inevitáveis, que produzam os (1887-1965). São pessoas com suas instituições de ensino superior. enfoque para a formação de
menores efeitos possíveis, tanto de identidades tangíveis e intangíveis, multiplicadores deste conhecimento
ordem pessoal quanto social; que apresentam necessidades Assim, surge... A OFICINA como conceito básico para a
variadas, e é para todas elas que a A idéia deste trabalho surge com produção de cidades planejadas
2. REABILITAÇÃO: desenvolver as cidade deve ser constituída. a Oficina sobre o Ensino da para possibilitarem acesso a toda
potencialidades das pessoas com Acessibilidade nos Cursos de população, inclusive às pessoas
deficiências para que elas reduzam Infelizmente, o desinteresse pela Arquitetura e Urbanismo, destinada com deficiências ou com mobilidade
ao mínimo suas limitações; se questão “barreiras Arquitetônicas” à capacitação de professores na reduzida.
necessário, ampliar este potencial muitas vezes acontece pela não- área de acessibilidade. A Oficina
através de ajuda técnica e utilização convivência com o problema. Da para os professores foi realizada Assim, o Programa Brasileiro de
de instrumentos; mesma maneira, o desconhecimento entre os dias 13 e 14 de março Acessibilidade Urbana - BRASIL
das questões técnicas do problema, deste ano de 2007, na Pontifícia ACESSÍVEL (2007) prevê ações para
3. EQUIPAÇÃO DE OPORTUNIDADES: implicam o aparecimento de soluções Universidade Católica do Rio implementação de discussão a
oferecer às pessoas com dificuldades algumas vezes não-funcionais. Grande do Sul, em Porto Alegre. respeito do conceito “Acessibilidade”
de movimentação condições de Esta atividade foi realizada pelo em todo o país. Desta maneira,
acesso e permanência a diferentes Ou seja, a ausência de Políticas que Ministério das Cidades, em parceria em consonância com um destes
locais e manifestações, participando estabeleçam condições de habitação, com a Secretaria Nacional de objetivos, que é estimular e
da vida coletiva sem discriminação e lazer, cultura, educação, tanto na Transportes e da Mobilidade Urbana apoiar os governos municipais
impedimentos. esfera passiva, quanto na ativa, - SeMob/MinCidades, a Associação e estaduais a cumprirem suas
acaba por promover a total exclusão Brasileira de Ensino de Arquitetura e prerrogativas e desenvolver ações
social das pessoas com dificuldades Urbanismo – ABEA, e com apoio da que garantam acesso para pessoas
de locomoção. O tratamento deste Secretaria de Educação Superior do com restrições de mobilidade
assunto nas universidades pode, além Ministério da Educação –SESu/MEC. aos sistemas de transportes,
de aumentar a abrangência social equipamentos urbanos e a circulação
do problema, formar pesquisadores O encontro integra o Programa em áreas públicas, acredita-se
de novas soluções para a questão e Brasileiro de Acessibilidade Urbana que, capacitando docentes como
possibilita que os novos profissionais – BRASIL ACESSÍVEL (2007) e, por agentes multiplicadores do tema – os
“desenvolvam-se”. A universidade, determinação dos parceiros do quais, por sua vez, capacitarão os
portanto, é um espaço privilegiado Programa, Porto Alegre foi uma das acadêmicos, futuros profissionais
para que ocorra o processo de cidades escolhidas para a primeira desta área – se estará dando um

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grande passo na construção da alcance, percepção e entendimento A ATIVIDADE REALIZADA – http://www.leme.org.br), os quais
cidade acessível e da verdadeira para a utilização de edificações, Conscientização sobre uma cidade deram seu depoimento e contaram
inclusão social. espaço, mobiliário, equipamento acessível suas histórias de vida, ratificando
urbano e elementos, com segurança A atividade, que teve como objeto de a relevância da acessibilidade na
Há dez anos, Lanchoti (1998) havia e autonomia (NBR 9050/2004). estudo as instalações do Campus II cidade. Discutiu-se a importância
iniciado reflexão propondo trazer Desta forma, o curso vem propondo do Centro Universitário Feevale, foi da presença do arquiteto urbanista
as discussões sobre Acessibilidade exercícios acadêmicos visando à dividida em três etapas, com base na no projeto das cidades, na tomada
para dentro das instituições de valorização do desenho universal. metodologia apresentada no Caderno de decisões e na conscientização
ensino superior (IES). Nesta 7 do Programa Brasil Acessível de desenho universal no espaço
ocasião, já afirmava que muitas A partir do incentivo de nova (2007): edificado. Um dos depoimentos
das interferências espaciais estão consciência de cidadania e com trazidos pelos cadeirantes lembrava
ligadas às questões projetuais e de o fortalecimento da capacitação Etapa 1 – Aula teórica para que todos nós podemos vir a ser
execução, o que justificaria interferir recebida na Oficina sobre Ensino sensibilização e conscientização ou nos tornar incapacitados em
diretamente na formação do da Acessibilidade, criou-se a dos acadêmicos quanto à algum momento de nossas vidas.
arquiteto urbanista, visto que, diante oportunidade para a realização de acessibilidade e ao desenho Este aspecto deve ser trabalhado,
destes temas, ele normalmente se faz uma vivência induzida como um universal: inicialmente, realizou- visto que não estamos a salvo da
presente. A partir daí, acreditando exercício didático-pedagógico, se aula expositivo-dialogada eventualidade de alguma fatalidade,
na potencialidade para melhorar experiência registrada neste contemplando as definições e infelizmente, vir a acontecer.
a qualidade de vida da população, trabalho. A sensibilização e conceituações sobre a acessibilidade
e, principalmente, das pessoas percepção de alunos de uma e a mobilidade, sobre o desenho Etapa 3 – Vivência da
com deficiência e com dificuldade disciplina do quinto semestre do universal, a aplicação do acessibilidade dentro do espaço
de locomoção, Lanchoti (1998) Curso de Arquitetura e Urbanismo Decreto Federal nº 5.296/04 e da físico do Centro Universitário
procurou estudar de que maneira as do Centro Universitário Feevale, no NBR9050:2004 da ABNT, a respeito Feevale – Nesta etapa foi utilizado o
questões de eliminação de barreiras semestre 2008-01, visou ao início do dimensionamento básico roteiro de vistoria elaborado por um
arquitetônicas poderiam ser tratadas de um trabalho de sensibilização (parâmetros antropométricos), grupo de profissionais do Grupo de
desde os bancos acadêmicos. e conscientização a respeito orientações voltadas ao Símbolo Trabalho Acessibilidade a Edificações,
da importância de se pensar Internacional de Acesso, Mobiliário, Espaços e Equipamentos
1
Ao encontro do pensamento de na acessibilidade e no desenho equipamentos urbanos, e adequação Urbanos do CREA-RS .
Lanchoti, o Curso de Arquitetura e universal em todos os projetos do mobiliário (interno e externo).
1. O roteiro de vistoria utilizado na vivência
Urbanismo do Centro Universitário arquitetônicos será a ferramenta da acessibilidade foi elaborado pelo Grupo
Feevale sustenta que o Ensino de para mobilização frente ao tema Etapa 2 – Depoimento de pessoas de Trabalho Acessibilidade a Edificações,
Arquitetura deve ser diretamente proposto e apresentação do método com deficiências da Associação Mobiliário, Espaços e Equipamentos Urbanos do
focado na inclusão social, sendo aqui utilizado. LEME: nesta fase do trabalho, os CREA-RS, com o objetivo de auxiliar na busca
de obstáculos no ambiente edificado, desde
capaz de oferecer oportunidades alunos da Feevale receberam a visita o passeio público até o interior da Sede e das
iguais a todos os usuários da de três cadeirantes da Associação Inspetorias da Instituição. O roteiro aponta as
arquitetura. Ou seja, permitir iguais LEME (Associação de Lesados principais verificações a serem observadas em
possibilidades e condições de Modulares do RS – página web: edificações, no sentido de assegurar fisicamente
o uso e o acesso indiscriminado aos espaços

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De dentro para fora

CIRCULAÇÕES – Participante do RAMPAS – Participantes do exercício


exercício com dificuldade de circulação com dificuldades em rampas de
pelo campus, deparando-se com pisos acesso com inclinações erradas e sem
irregulares após rampa inadequada - patamares de final da rampa – como o
diferentes pavimentações e desníveis. acesso à biblioteca, que também possui
porta com sistema pneumático.

Os acadêmicos foram divididos em do dia-a-dia de uma pessoa contam com acesso à Central de O principal obstáculo para as pessoas
equipes, e cada grupo foi induzido dentro do Campus II da Feevale. atendimento, assim como, outros que necessitam utilizar andadores é
a uma limitação de mobilidade. Um A vivência, ainda que temporária, espaços públicos do Campus. o acesso aos sanitários, visto que as
dos acadêmicos (de cada equipe) das dificuldades enfrentadas pelos portas utilizam sistema pneumático.
descreveu no roteiro do exercício portadores de deficiência ensejou Quanto ao mobiliário, os acadêmicos Já para as pessoas obesas, as portas
as observações que foram surgindo a efetiva percepção das barreiras (participantes do exercício) internas dos sanitários são o maior
a partir da vivência dos demais arquitetônicas impostas a estas sentiram dificuldades em utilizar problema, por serem muito estreitas,
colegas. Durante o percurso, os pessoas. tanto os telefones públicos como os dificultando o acesso (Figura 11).
estudantes foram identificando quais bebedouros, por contarem com altura
elementos são os responsáveis pela Depois da aula prática, a discussão inadequada. Ao longo do percurso Com as pessoas com baixa visão
dificuldade na locomoção e as causas em sala de aula fundamentou- realizado, não foi encontrado ou cegas , não há praticamente
às quais se deviam: erro de projeto, se nas observações e anotações nenhum telefone público ou nenhum cuidado no Campus II:
equívoco de construção, falta de feitas no roteiro sobre a atividade bebedouro, acessível. não há existência de pisos táteis;
manutenção, situação consciente desenvolvida, dentre as quais os elevadores não possuem teclas
e proposital. Posteriormente ao descrevemos algumas, a seguir: Os sanitários, em sua grande maioria, em braile, nem avisos sonoros;
exercício didático-pedagógico apresentam-se “aparentemente” as calçadas são irregulares, o
realizado, discutiu-se em sala de aula Ao longo do percurso, os acadêmicos acessíveis para usuários de cadeiras que dificulta a identificação de
as considerações e observações dos foram identificando quais elementos de rodas, porém algumas portas obstáculos.
acadêmicos sobre a atividade. dificultaram a sua locomoção. externas de acesso são estreitas,
Na figura acima, observa-se a como é o caso do banheiro feminino. Contudo, observa-se que as
Assim, conduzindo cadeiras de rodas, dificuldade quanto à circulação Nos banheiros masculinos observa-se barreiras atitudinais se encontram
andando com o auxílio de muletas pelas calçadas, por possuírem que um cadeirante tem acesso ao praticamente superadas, visto que
ou com vendas nos olhos, este grupo revestimentos com desníveis e box, faz o giro necessário com sua inúmeras pessoas se mostraram
de estudantes experimentou, por obstáculos. cadeira, porém as barras de apoio interessadas em auxiliar os
algumas horas, como é estar na pele não estão corretas. O cadeirante tem acadêmicos em zonas de difícil
de uma pessoa com deficiência. Outro fator importante que foi fácil acesso aos equipamentos de acesso dentro do Campus.
Desta maneira, após a indução observado quanto à circulação é que higiene nos sanitários, pois estes se
à limitação de mobilidade, os a grande maioria das rampas possui encontram em altura adequadas. Considerações finais
acadêmicos buscaram desenvolver inclinação superior à permitida pela Apesar de a análise sobre os espaços
em suas equipes atividades comuns norma NBR 9050, a qual descreve que Um ponto positivo é que se observa físicos do Campus II ter revelado,
calçadas, passeios e vias exclusivas a existência de vagas de automóveis principalmente, pontos negativos
condominiais e de uso público. Revisado em de pedestres que tenham inclinação destinadas às pessoas com deficiência do mesmo, acredita-se que a IES
2007 para ser utilizado como check-list em superior a 8,33% não podem compor adequadamente distribuídas pelos está comprometida em adaptar-
espaços edificados. Almejamos conscientizar e
sensibilizar a comunidade profissional sobre a
rotas acessíveis. estacionamentos do Campus. Sua se a acessibilidade e ao desenho
importância de implantar espaços e de tomar localização permite fácil acesso e a universal, visto que, nos últimos
atitudes que permitam a inclusão sócio-espacial É possível observar que pessoas sinalização as identifica com o Símbolo anos, inúmeras iniciativas visando
das edificações pelas quais passam a ser usuárias de cadeiras de rodas não Internacional de Acesso. à adaptação e reformulação dos
responsáveis.

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PORTA DE ACESSO - a Central de
Atendimento aos Acadêmicos, local
onde os acadêmicos encontram
todas as informações do Campus – 1ª
porta para quem chega para pedir
informações sobre à Instituição.

A B

SANITÁRIOS - Participantes do exercício


com dificuldade de acesso ao sanitário
MOBILIÁRIOS – como TELEFONES feminino (porta externa – foto A).
PÚBLICOS e BEBEDOUROS – muito No sanitário masculino a principal
altos e de difícil acesso. Os telefones dificuldade são as barras de apoio,
não possuem identificação em braile. colocadas erroneamente a 45º. Quanto
aos equipamentos de higiene (papeleiras
e saboneteiras) contam com alturas
adequadas (fotos B).

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De dentro para fora

ESTACIONAMENTO – há vagas ANDADORES: Participantes do


destinadas a pessoas com exercício com andadores e peso de
deficiências em todos o Campus, areia preso às pernas, para simular a
sendo identificadas pelo Símbolo dificuldade de movimento dos idosos.
Internacional de Acesso.

espaços vêm sendo implementadas. com mobilidade reduzida” (BRASIL Terminologia importante a ser trabalhada segundo Lanchotti (1998) e a NBR
A meta, entretanto, deve ser a de ACESSÍVEL, 2007). 9050/2004:
eliminar toda e qualquer barreira,
seja ela física, estrutural ou até Finalizando com o pensamento 1. Deficiência Física: alteração completa ou parcial de um ou mais
mesmo comportamental. geral que surgiu durante a segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da
reflexão e discussão em sala função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia,
Para isto, é importante salientar que de aula, salienta-se que os monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia,
a IES deve continuar incentivando acadêmicos passaram a se mostrar hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro,
a promoção de ações institucionais verdadeiramente preocupados paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou
que objetivem a implantação com acessibilidade dos espaços, adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam
da “acessibilidade” para todos pois, conforme afirma Bittencourt dificuldades para o desempenho de funções.
os espaços, pois, uma vez que (2004), “(...) os espaços e os
a sociedade está mudando de usuários fazem parte de uma 2. Deficiência auditiva: perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um
paradigma em relação às pessoas prioridade que o arquiteto precisa decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500Hz,
com deficiência, no sentido relacionar de forma sensata, justa 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz.
da inclusão social, é dever das e plural”.
IES propiciar aos acadêmicos, 3. Deficiência visual: cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor
professores, funcionários e que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão,
comunidade externa, a livre que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com
circulação e o total acesso as suas a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida
dependências. do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a
ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores.
Infelizmente, é sabido que a
batalha pelo tema “acessibilidade” 4. Deficiência mental: funcionamento intelectual significativamente
está longe de chegar ao fim. A inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações
busca pela “cidade democrática” associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como:
compete a todos os seus potenciais 1. comunicação; 2. cuidado pessoal; 3. habilidades sociais; 4. utilização
usuários. Acredita-se, porém, dos recursos da comunidade; 5. saúde e segurança; 6. habilidades
que uma semente foi plantada em acadêmicas; 7. lazer; e 8. trabalho.
cada acadêmico (futuro arquiteto
urbanista) que participou do 5. Deficiência múltipla: associação de duas ou mais deficiências.
exercício proposto. As ações isoladas
também são importantes passos
para se alcançar o que acreditamos
ser o ideal: “a produção da cidade
acessível a todas as pessoas,
inclusive as com deficiência ou

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PESSOA OBESA: Participante do Participante do exercício com os
exercício simulando obesidade, olhos vendados, sendo guiado por
tendo dificuldade no acesso ao box colega. Logo atrás, outro estudante
de sanitário – problemas com o mantém os olhos vendados e utiliza
fechamento da porta. bengala para auxiliar locomoção.

Referências: ensino da eliminação de barreiras


ABNT NBR 9050:2004. Acessibilidade arquitetônicas nos cursos de
a edificações, espaços, mobiliário arquitetura e urbanismo. Dissertação
e equipamentos urbanos. Rio de de Mestrado. Orientador: Dr. Ricardo
Janeiro: ABNT, 97 p., 2004. Martucci. 1998, São Carlos – SP: USP.
BITTENCOURT, L. S. ; CORRÊA, A. L. LE CORBUSIER. El Modulor. Buenos
M. ; MELO, J. D. de ; MORAES, M. C. Aires: Poseidon, l953. Disponível
de ; RODRIGUES, R. F. Acessibilidade também na página web. http://www.
e cidadania: Barreiras arquitetônicas educ.fc.ul.pt/icm/icm2000/icm33/
e exclusão social dos portadores de Corbusier.htm (março, 2008).
deficiências físicas. In: 2o. Congresso LERNER, Fani. Acessibilidade nos
Brasileiro de Extensão Universitária, Meios Arquitetônico e Urbano.
2004, Belo Horizonte. MG. Disponível na página web. http://
BRASIL ACESSÍVEL. Ministério das paginas.terra.com.br/saude/
Cidades. Programa Brasileiro de auproam/0%20-%204.htm. (março,
Acessibilidade Urbana. Caderno 2008).
7: Ensino da Acessibilidade nos PRADO, A. R. de A. Acessibilidade e
Cursos de Arquitetura e Urbanismo. desenho universal. In: 3o. Congresso
Cadernos Programa Brasil Acessível: Paulista de Geriatria e Gerontologia,
SeMob/MinCidades. Brasília: 2003, Santos. SP.
Ministério das Cidades, 2007. MAZZONI, A. A.; TORRES, E. F.;
Também disponível em: http://www. OLIVEIRA, R. de; ELY, V. H. M.
abea-arq.org.br/evento005.html. B.; ALVES, J. B. da M. Aspects
(março, 2008). that interfere in structuring the
DALANHOL, Fabiana. A acessibilidade accessibility at public libraries.
físico-estrutural de uma Instituição Ciência da Informação, 2001,
de Ensino Superior da Vale do Rio vol.30, n. 2.
do Sinos aos usuários de cadeira de
rodas do Corpo Discente. Trabalho de
Conclusão do Curso de Fisioterapia.
Orientadora: Ms. Jacinta Sidegum
Renner. 2004, Novo Hamburgo – RS:
Centro Universitário Feevale.
JACOBS, Jane. Morte e vida de
grandes cidades. São Paulo, SP:
Martins Fontes, 2001.
LANCHOTI, José Antônio. O

75
De dentro para fora

76
Projeto Mãos à Obra
Aliando capacitação profissional a trabalho social
ALESSANDRA MIGLIORI DO AMARAL BRITO

O
curso de Pintor Predial – efeitos concretos da exclusão social.
realizado no início do ano de Esta realidade é também agravada
2008 – foi um dos temas de pela ausência de infra-estrutura,
qualificação oferecidos pelo projeto falta de assistência médica,
de extensão Mãos à Obra que mais abandono social e pelo baixo nível
se prestou ao desenvolvimento de de escolaridade dos moradores
um trabalho de cunho social. A (LIMA, 2007). O projeto de extensão
necessidade de uma extensa área “Construindo Saberes Pedagógicos
de pintura para propiciar adequado e Psicopedagógicos”, vinculado aos
treinamento e relativa experiência cursos de Pedagogia, Psicopedagogia
aos alunos levou-nos a concretizar e Educação Física da Feevale,
um sonho antigo – o de contribuir visa a interferir nesta realidade,
para a melhoria do espaço físico de contribuindo no âmbito educacional
uma entidade carente. de crianças entre um e cinco anos,
em situação de vulnerabilidade
Assim, verificamos junto aos líderes social, abarcando também seus
de Projetos de Extensão do Centro familiares.
Universitário Feevale se havia
interesse e necessidade, dentre O salão da igreja foi construído pelos internas de madeira estavam sem A Vila Iguaçu e a
as comunidades com as quais moradores da Vila com muito esforço. pintura e as janelas de metal com o Igreja Nossa Senhora
trabalhavam, de um serviço de Atualmente a comunidade recebe acabamento bastante comprometido. Aparecida
recuperação de pintura. Foram-nos o auxílio dos Irmãos Maristas do Os banheiros de uso das crianças
apresentadas várias alternativas, bairro Canudos. Durante a semana, estavam sem iluminação e reboco
mas a que melhor se adaptou – em no salão em que é celebrada a missa e com a presença de infiltrações,
função de critérios como adequação e no turno inverso ao escolar, são ocasionando dificuldade de limpeza
do espaço físico, condições para o realizadas atividades que garantem e higiene.
desenvolvimento das aulas práticas “o aprender a aprender, bem como
e também real necessidade da resgate do brincar por brincar, o Como as condições dos sanitários
recuperação da pintura – foi a Igreja lúdico e a fantasia onde as crianças eram bastante precárias, achamos
Nossa Senhora Aparecida, situada na possam expressar-se através dos necessário providenciar o reboco e
Vila Iguaçu, no Bairro Canudos, em simbolismos próprios à sua idade o revestimento do box do chuveiro,
Novo Hamburgo/RS. por meio de diferentes recursos além da recuperação da pintura
metodológicos” (LIMA, 2007). interna do salão principal. Duas
A população da Vila Iguaçu vivencia Entretanto, este espaço apresentava- empresas associadas ao Sinduscon
no dia-a-dia o desemprego, os se com uma pintura deteriorada doaram portas de madeira para
furtos, a violência, o consumo de e com umidade ascensional em os banheiros e azulejos para o
álcool e drogas e as incertezas, todo o seu perímetro. As portas revestimento do box. O serviço

77
De dentro para fora

de reboco foi patrocinado pelos Constatar que o inverno estava


parceiros do Mãos à Obra. As novas chegando e que as crianças faziam
áreas rebocadas foram pintadas algumas atividades e descansavam
posteriormente, sendo que em parte no chão levou a equipe do Mãos à
delas foi aplicada uma tinta que Obra a pensar em uma Ação entre
substitui o azulejo para garantir a Amigos a fim de arrecadar dinheiro
higiene. para a compra de colchonetes.
Posteriormente, em conversas com
Para o desenvolvimento da os demais professores, chegamos
recuperação da pintura interna, à conclusão de que a aquisição de
tanto da alvenaria quanto das tatames seria mais proveitosa porque
esquadrias (de madeira e metal), serviria não só para o descanso
foram destinados três sábados. Os e atividades pedagógicas, como
alunos pintores demonstraram- também para a prática da educação
se muito receptivos à proposta física. Participaram desta Ação entre
comunitária. A iniciativa e o espírito Amigos os professores e acadêmicos
solidário estiveram presentes em do Curso de Arquitetura da Feevale,
todos os momentos, visto que se bem como os alunos do Mãos à Obra.
Pintura deteriorada ocasionada por mostravam interessados em melhorar Roupas e brinquedos também foram
infiltração na entrada dos banheiros ao máximo as condições existentes. doados por comerciantes das cidades
de Novo Hamburgo e Campo Bom.
A entrega da obra à comunidade
foi o momento para proporcionar Assim, no dia 29 de maio foi
o encontro das crianças com os planejada uma pequena cerimônia
pintores. Chegar à igreja todas as de entrega da obra e das doações
segundas-feiras e ver que as paredes arrecadadas. Entretanto, fomos
estavam se transformando parecia surpreendidos com uma bela
mágica aos olhos das crianças: homenagem.
“quem fez isso?”, relatou-me a
professora. Por outro lado, a cada Inicialmente, as crianças entraram
detalhe no serviço de pintura o trazendo cartazes confeccionados
pensamento estava direcionado por elas com dizeres, tais como:
às crianças: o cuidado com os “ficou linda a capela”, “obrigado por
pregos das esquadrias, a fixação consertar o chuveiro”, “o NACC está
Box do chuveiro construído de forma dos espelhos dos interruptores, o lindo” – ao som da música “Amizade”.
improvisada e sem revestimento conserto do chuveiro que estava
estragado, etc.

78
Após, os cartazes foram entregues brinquedos e uma sensação muito boa
pelas crianças aos pintores. Com no coração.
lágrimas nos olhos, fomos brindados
com a música do Vinícius de Moraes, A entrega da obra foi motivo de
“A casa”, adaptada e cantada por alegria para todos: para as crianças,
elas, que dizia assim: o recebimento de um local mais
alegre e com melhores condições
“Era uma casa muito engraçada de ensino e higiene; para os alunos
Não tinha teto, não tinha nada pintores, significou mais experiência
Ninguém podia entrar nela, não profissional e uma experiência cidadã;
Porque na casa não tinha chão para as entidades conveniadas e
Ninguém podia dormir na rede patrocinadores, o fortalecimento da
Porque na casa não tinha parede sua responsabilidade social; para a
Ninguém podia fazer pipi Feevale, o reforço de sua identidade
Porque penico não tinha ali comunitária e integração entre
Mas era feito com muito esmero diferentes projetos de extensão
Na rua dos bobos número zero. corroborando, através deste Preparação das superfícies
trabalho, a importância das redes
Então aparecem pessoas muito de cooperação tendo em vista o
especiais, que encheram nosso desenvolvimento local.
espaço de alegria e cor.
Agradecimentos:
Hoje é uma casa iluminada - Primeiramente, aos alunos do
Por essa gente empenhada Curso de Pintor Predial, pelo
Que moveu uma ação profissionalismo, empenho e
E trabalhou com o coração   dedicação na recuperação da pintura
E você pode entrar e sair do salão.
Porque o futuro está aqui
Agora pode fazer pipi - À Professora Jozilda Lima, às
Porque o banheiro está logo ali estagiárias Ana Daiane Betta,
Que foi feita com muito esmero Ana Paula M. Cunha, Lélia Maria
Na Gonçalves Ledo 657.” Gonçalves Landvoigt, Queli Wagner
e Rosana Silveira Dorneles, à
Recebemos, ainda, pequenas caixas Funcionária Salete, assim como a
com bombons pintadas pelas crianças. diretoria da comunidade, que nos
Muito emocionados, encerramos deram o suporte para que esta Preparação da tinta
a cerimônia com a doação dos reforma acontecesse.

79
De dentro para fora

As doações As crianças e os brinquedos

- À Roselene de Paula e aos Profissionais Formados:


professores Rodrigo Toson Dias e Luis Adair Martins
Gustavo Cappra, das Tintas Killing, Adelar Ortiz da Silva
que abraçaram este sonho conosco. Airton Lopes Da Silva
Alcione Franck
- Às Tintas Killing, Pincéis Atlas e A. Alex Sandro Madruga da Rosa
Moraes por nos apoiarem no curso e Aloísio Davino Reis Heck
na reforma da pintura contribuindo Cláudio de Azevedo e Castro
com os insumos e ferramentas Cleber Alaur Wagner
necessários. Clemir Carlos da Silva
David Adrian Kislo
- Às empresas Escolta e Tekne pela Jeferson Pires da Silva
doação das portas e azulejos que Juliano Pires da Silva
foram colocados nos banheiros. Luiz Carlos Romero Pires
Maikel Monteiro
- Ao Jairo Luiz Kwiatkowski, Márcio Araújo Noronha
funcionário do Curso de Arquitetura Moisés Atílio Hoffmann
e Urbanismo da Feevale, pela Paulo Adelir Proença de Souza
disposição, comprometimento e Paulo César Flores da Silva
dedicação despendidos na reforma Renan da Silva Ferreira
A equipe do curso de Pintor dos banheiros. Roberto Pereira da Luz
Silvane Souza Leão
Parceiros: - À Deise Eloi, pelo empenho e Valmir César Mendonça
dedicação, mostrando que realmente Valmir Pereira de Souza
é uma estagiária “Mãos à Obra”. Vilson Antonio Flores da Rosa

Referências:
[As imagens deste artigo pertencem LIMA, Jozilda Berenice
ao acervo do Projeto Mãos à Obra] Fogaça. Projeto de Extensão
Empresas Apoiadoras: Construindo Saberes Pedagógicos
e Psicopedagógicos. Relatório
PROACOM. Feevale, 2007.

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De dentro para fora

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I-TOTEM
Informação livre + Conectividade + Mobilidade
THAÍS LUFT

O
texto a seguir apresentará iniciaram o processo de criação do
o projeto desenvolvido por projeto chamado I-TOTEM.
equipe de acadêmicos para Já escolhido o sub-tema info-
a Competição Internacional de metropolis, um turbilhão de
Idéias para estudantes de Escolas pensamentos começou a fundir-se
de Arquitetura, evento promovido nas reuniões da equipe: conceitos
pelo XXIII Congresso Mundial da UIA de arquitetura, pesquisas sobre
(União Internacional de Arquitetos), materiais e tecnologias de
que se realizou entre os dias comunicação, estudos de formas
28/06/08 e 03/07/08, na cidade de e implantações, referências
Turim, Itália. bibliográficas. E foi no esforço
de unir características como
Apresentando o tema “Transmitting conectividade, informação livre,
Architecture” o escopo do concurso identidade visual e mobilidade
era a criação de um totem de que surgiu a intenção de criar um
informações. No edital havia, totem que não fosse um elemento
ainda, 3 sub-temas, dentre os quais estático (no sentido de movimento e
deveria se escolher apenas um para atualização) na malha da cidade, mas
fundamentar o projeto: info-poverty, que pudesse acompanhar o constante
info-ecology e info-metropolis. O ritmo de mutação característico de
sub-tema tratava do local onde o uma metrópole.
projeto estaria inserido e da função
dele neste contexto, bem como
de sua adaptação ao entorno. O
totem deveria transmitir e receber
informações simultaneamente.
Vistas as diretrizes do concurso,
os acadêmicos José Valdir Reinehr
Júnior, Leonardo Giovenardi, Rodrigo
Silva e Thaís Luft, do curso de
Arquitetura e Urbanismo Feevale, e
Vinícius Marques, acadêmico do curso
de Design da Uniritter, orientados
pelos professores Ana Carolina
Pellegrini e Leandro Manenti, com
a colaboração dos docentes Juliano
Vasconcellos e Rinaldo Barbosa, Imagem apologia da deriva

83
De dentro para fora

MISCELÂNEA DE IDÉIAS... do fluxo no movimento da


metrópole, da deriva que se distancia
Inspirada nos textos da do planejamento programático
Internacional Situacionista, uma das puramente visual e das regulações
principais intenções projetuais foi preestabelecidas, de modo a
incentivar o indivíduo a construir experimentar outros acontecimentos,
situações e descobrir outros outras performances, é um dos
territórios, além dos já conhecidos desafios fundamentais da arquitetura
e divulgados. Isto seria possível que visa o futuro”.
através de experiências efêmeras e
pessoais, utilizando o meio urbano Mas de que maneira um elemento
como terreno de ação, seguindo, arquitetônico seria capaz de
segundo Guy Debord (apud JACQUES, transmitir e receber informações?
2003, p.87), um “comportamento Como ser uma peça eficiente num
lúdico-construtivo, o que torna mundo onde a informação pode
absolutamente oposto às tradicionais tornar-se obsoleta em segundos?
noções de viagem e de passeio”. Um totem convencional poderia
Para a equipe autora do projeto, o oferecer informação escrita,
totem deveria conter informações em panfletos, cartazes, mapas
mais reais e atualizadas do que os já explicativos. Mas esses não são
convencionais manuais turísticos, os meios, por excelência, que
igualmente confeccionados em podem transmitir informação
várias línguas, contêm. Deveriam personalizada e específica sobre o
ser informações geradas por meios lugar que você deseja visitar, uma
originais de apreensão do espaço determinada programação cultural,
urbano, por quem já visitou o local ou sobre alguma comida que você
alvo da pesquisa do usuário do deseje comer. É ai que se insere
totem, ou até mesmo por quem vive a idéia de unir a arquitetura às
lá. Assim, os habitantes e visitantes tecnologias de telecomunicação já
passariam de expectadores a existentes. Ora, se há ferramentas
vivenciadores e construtores de seus como telefones celulares, GPS,
próprios espaços. internet, entre outros, que
otimizam e intensificam o processo
De forma sintética, Solá-Morales de envio e recepção de informações
(apud BARBIERI e EICHEMBERG, e a comunicação entre pessoas de
2004) descreve esta dinâmica como todas as partes do planeta, por que
“dar forma à experiência sinestésica não utilizá-las no totem?

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Bicicletas para locação em Bruxelas. Cena do filme 2001: Uma Odisséia no Telefones celulares são atualmente difundidos pelo mundo todo, na maioria das
Foto: Ana Carolina Pellegrini Espaço. culturas.

Assim, determinou-se que o totem


deveria ser capaz de receber
informações via wireless, do mundo
todo, e também possuir meios
de receber “in loco”, diretamente
de seus usuários, informações
de GPS, MP3, celulares e demais
equipamentos transmissores de
dados. Um totem estabelecendo a
interface entre cidadão e cidade.
Mas para que o conceito almejado
de informação livre – que faculta
a todos o direito de comunicar o
que acharem relevante – seja, de
fato, democrático, é necessário
interpretar a cidade como uma rede
que não possui comando central,
sem hierarquia, “uma teia sem
aranha”, como descreve Barabási
(apud BARBIERI e EICHEMBERG,
2004). Uma rede compartilhada
por inúmeras ações, na qual há
constantes intercâmbios de vivências
e tráfegos, contaminada por fluxos
diversos e contínuos. Caso contrário,
se correria o risco de transformar
o totem numa simplória versão dos
manuais anteriormente citados,
elaborados e editados por uma única
pessoa, equipe ou órgão, de opinião
geralmente unilateral.

Ainda de acordo com esta visão,


está o que diz Steven Johnson, a
respeito da estrutura das cidades,
comparando-as à sociedade formada
pelas formigas e ao cérebro humano,

85
De dentro para fora

“A fixidez de pontos distribuídos Inglês= Information


na malha urbana se fundiria Espanhol= Información
com a fluidez dos movimentos Italiano= Informazione
característicos da cidade.” (Barbieri Alemão= Informationen
e Eichemberg, 2004) Francês= l’Information
Holandês= Informatie
Discutido e estabelecido o conceito Além da semelhança com os
do totem, já passava da hora de nomes de aparelhos ligados à
se desenvolver uma forma para telecomunição, como I-phone e I-pod,
ele. Reconhecendo a importância conhecidos mundialmente.
da transmissão de informação e
conhecimento como meio para a ... E O PROJETO!
evolução humana, veio às nossas
mentes a clássica seqüência de Interpretando a cidade
imagens do filme “2001: uma contemporânea como uma rede de
odisséia no espaço”, na qual um fluxos contínuos e de conexões
primata depara-se com um monolito físicas, digitais e cognitivas, o
negro. Pensou-se a respeito do projeto propõe um sistema auto-
significado que aquele objeto teve organizável, coletivo e aberto,
para a evolução humana, segundo o implantado no tecido urbano,
filme, e de como a forma monolítica composto por três partes: TOTEM
que são estruturas absolutamente estático, e que seria complicado era universal, facilmente reconhecida + CÉLULA MÓVEL (telefone celular,
organizadas, mas que funcionam sem fazê-lo mover-se pela cidade, e semelhante a diversos objetos i-phone, palmtop, GPS, etc.) +
liderança alguma. Assim é a cidade: tornou-se imprescindível especular de comunicação como celulares, USUÁRIO (visitante, habitante).
não se deixa comandar por um único sobre algum recurso que pudesse i-phones, televisores e computadores.
líder, tampouco se deixa prever. funcionar como parte móvel do Rapidamente, adotou-se a forma O sistema funciona da seguinte
“A cidade é complexa porque projeto. Logo se chegou a um monolítica apresentada no filme, forma: o usuário vai até o totem,
surpreende, sim, mas também consenso sobre a implantação para servir como “corpo” ao nosso onde pode solicitar qualquer
porque tem uma personalidade de um sistema de locação de totem. Pronto! O totem era um informação geográfica ou indicações
coerente, uma personalidade que se bicicletas, desta vez com foco monolito!!! sobre a cidade. Se possuir celular
auto-organiza a partir de milhões principal nos turistas. Sabendo-se com GPS ou aparelho semelhante,
de decisões individuais, uma que na Europa iniciativas deste Já o nome I - TOTEM alude ao ícone pode conectá-lo ao totem e fazer
ordem global construída a partir tipo já são amplamente difundidas de “informações”, geralmente o download das informações
de intervenções locais” (JOHNSON, – e com muito sucesso, decidiu- encontrado em placas em lugares solicitadas. Caso não o tenha, o
2003, p.29) se que, além das informações, o públicos, que traz a letra “I” no próprio totem dispõe destas células
totem disporia de um sistema de centro. Também se considerou o fato móveis, que podem ser alugadas
Voltando ao preceito de que o locação de bicicletas diretamente de a palavra “informação” iniciar na hora. O usuário então conecta
totem não deveria ser um elemento conectado a ele. com a letra “I” em várias línguas. o aparelho à bicicleta, cadeira de

86
rodas ou leva-o consigo em trajeto
à pé e, durante o percurso, deixa
registrado o caminho percorrido e
suas impressões pessoais. No final
do passeio, re-conecta a célula
móvel a qualquer um dos totens
espalhados pela cidade, realizando
o upload de todo tipo de informação
coletada ao longo do percurso,
tornando-a disponível a todos outros
interessados.

Com esta dinâmica, o projeto seria


capaz de transformar atividades
ordinárias e cotidianas - como
andar de bicicleta ou o trajeto
a pé para o trabalho - em novas
formas de leitura do espaço urbano,
convergindo com o que afirma Duarte
(apud BARBIERI e EICHEMBERG,
2004): “nessa trama de conexões
entre pólos informacionais é que se
originam as novas possibilidades da
arquitetura”.

Além do intuito principal de receber


e transmitir informação livre para
servir aos usuários do totem, as
células móveis com GPS, teriam
a função de rastrear e mapear os
caminhos percorridos, além de
coletar informações que pudessem
ser relevantes para órgãos como
prefeituras, visto que, através dos
dados coletados, seria possível
detectar deficiências da cidade e
planejar a mobilidade da mesma.

87
De dentro para fora

A informação intangível a serviço das Referências:


transformações tangíveis. JACQUES, Paola Berenstein. Apologia
da Deriva: escritos situacionistas
A implantação do totem teria, em sobre a cidade. Rio de Janeiro: Casa
qualquer parte do mundo, o mesmo da Palavra, 2003.
alinhamento pelo eixo norte- JOHNSON, Steven. Emergência: A
sul, a fim de orientar os usuários dinâmica de rede em formigas,
a respeito de sua localização cérebros, cidades e softwares. Rio
geográfica, aludindo, por exemplo, à de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.
implantação das catedrais góticas, JOHNSON, Steven. Cultura da
que possuíam o braço do transepto Interface: como um computador
disposto segundo o sentido norte- transforma nossa maneira de criar
sul, cumprindo, entre outras coisas, e comunicar. Rio de Janeiro: Jorge
com a função de orientar viajantes. Zahar Ed., 2001.
BARBIERI, Maria Julia; EICHEMBERG,
O sistema construtivo, materiais e André Teruya. Espaço e cotidiano:
tecnologias que compõem o projeto fluxos, redes, freqüências. 1 grão =
já existem e podem ser facilmente 1 ticket. Arquitextos 050. Disponível
encontrados nas metrópoles. em: <http http://www.vitruvius.com.
Contudo, foram aqui utilizados e br/arquitextos/arq000/esp242.asp>.
reunidos sob um ponto de vista Acesso em 17 mar. 2008.
diferenciado: buscando a valorização
da arquitetura e visando a uma
urbanização integrada.
Inteiramente revestido de
células fotovoltaicas, o totem [As imagens deste artigo foram
é energeticamente autônomo, produzidas pela equipe de
contemplando a questão da estudantes participante do concurso
sustentabilidade, e faz parte de uma promovido pelo XXIII Congresso
rede de transmissão de informações Mundial da UIA, em 2008]
que sintetiza e compatibiliza
tecnologias já conhecidas à luz de
uma nova interpretação, na qual o
usuário é o protagonista.

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www.feevale.br/arquitetura

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