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rfnib JVKIS ET DEJVSE

Nos vime anos «ta Faculdade de Direito


da Universidade Católica Portuguesa - Porto

coontaaçâo MANUEL AFONSO \ftZ


J. A. AZEREDO LOPES
Edição UN1VERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA (PORTO)
Coorf. Gráfica MANUELA COSTA
Depósito Usa) 128704/98

ISBN 972-8069-21-9

Dota de salda 20 . Novembro . 1998

Tiragem 1500 exemplares

Execução gráfica Secçio de Anes Gráficas das Oficinas


de Trabalho Protegido da APPACDM Distrital de Braga
Tal. (053) 67 63 93 - Fax (053) 67 97 58
4710 BRAGA

Distribuidora Coimbra Editora, Lda.


Rua do Amado - Apartado 101
3002 Coimbra Codex
8 0 1 ( 2

JÚRIS ET
DE JURE
Nos vinte anos da Faculdade de Direito
da Universidade Católica Portuguesa - Porto

Coordenação

MANUEL AFONSO VAZ


J. A. AZEREDO LOPES
822 Raquel Carvalho

Ac. n.° 160/92, de 5 de Maio, publicado no D.R., II.' Série, de 19 de Agosto de 1992
(Fundamentação de actos administrativos);
Ac. n." 176/92, de 7 de Maio, publicado no D.R., II.' Série, de 18 de Setembro de 1992
(Direito à informação);
Ac. n." 177/92, de 7 de Maio, publicado no 22." Vol. dos Acórdãos do Tribunal Cons-
titucional (Direito à informação);
Ac. n.° 594/93, de 16 de Junho, publicado no D.R. I.* Se'rie, de 29 de Setembro çje
1993 (Direito à informação);
Ac. n.° 226/94, de 8 de Março, publicado no D.R., II.' Série, de 13 de Julho de 1994
(Recorribilidade de actos confirmativos); ,
Ac. n.° 249/94, de 22 de Março, publicado no D.R., II.' Série, de 27 de Agosto de
(Duplo grau de jurisdição na suspensão de eficácia de acto administrativo);
Ac. n.° 303/94, de 24 de Março, publicado no D.R., II." Se'rie, de 27 de Agosto de 1994
(Suspensão de eficácia de actos negativos);
Ac. n." 9/95, de 11 de Janeiro, publicado no D.R., II.* Série, de J4 de Março de 199S
(Constitucionalidade do artigo 25." LPTA);
Ac. n.° 80/95, de 21 de Fevereiro, publicado no D.R., II.' Série, de 14 de Junho de
1995 (Confidencialidade de actas de concurso);
Ac. n." 527/96, de 28 de Março, publicado no D.R., I.* Série, de 14 de Maio de 1996
(Direito à informação).
Ac. n.° 603/95, de 7 de Novembro, publicado no D.R., II.* Série, de 14 de Março de
1996 (Inconstitucionalidade do artigo 25." LPTA);
Ac n.° 115/96, de 6 de Fevereiro, publicado no D.R., II.* Série, de 6 de Maio de 1996
(Inconstitucionalidade do artigo 25.° LPTA);
Ac. n." 564/97, de 22 de Janeiro, publicado no D.R., II.' Série, de 19 de Março de 1998
(inconstitucionalidade do artigo 25.° da LPTA).
O AMBIENTE: UMA QUESTÃO JURÍDICA
OU UMA PREOCUPAÇÃO DA HUMANOADE

SANDRA FLÁVIA CORREIA BATISTA *

1. Introdução

Um dos rituais da espécie humana é o de procurar em cada meta


temporal um ponto de refexão em que o balanço se impõe e exige uma
súmula do que foi feito, e um projecto para os tempos vindouros. Esta-
mos às portas de um novo milénio e com a sua chegada muitos se dedi-
cam à percepção dos novos desafios que a humanidade enfrentará com
o início dos anos 2000. E um desses desafios é, certamente, o ambiente.
De facto, se algo entrou na consciência jurídica e da opinião pública
mundial recentemente, foi a questão do ambiente, do desenvolvimento
sustentável e da situação não só, nem principalmente do nosso futuro
individual, mas do modus vivendi que será legado às gerações futu-
ras na medida em que herdarão ou não um ambiente saudável.

* Assistente da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa


- Porto.

JUEIS ET DSJttZ
Mn 10 i t m it Fatuidade 4c Direito dl UCF - Porto
Parto. 1M8
824 Sandra Flávia Correia Batista

Ê impossível escamotear a actualidade e a prioridade desta ques-


tão ou fugir a uma pesquisa séria e consciente de esquemas conceptuais
e legais de enquadramento do ambiente. O desenvolvimento da ciência
e o progresso das técnicas refletem-se numa sociedade em crescimento
a um ritmo cada vez mais acelerado e mais ecologicamente compro-
metido, pelo crescimento industrial, pela macrocefalia urbana, pelo alto
grau de tecnicização dirigido à produção de massas, pela consagração
desabrida de uma sociedade que se auto-intitula «de consumo».'
As constantes agressões ao ambiente e seu impacto óbvio na saúde
e nos ecossistemas decompõem-se em várias vertentes: alterações climá-
ticas globais; destruição progressiva da camada de ozono; convivência
quotidiana com o smog; poluição atmosférica, principalmente urbana; •
radioactividade; deficiente gestão dos resíduos (nomeadamente indus-
triais ou urbanos, sendo a opinião pública particularmente sensível aos
resíduos radioactivos ou, noutra escala, aos resíduos hospitalares); des-/
perdício e consequente escassez de recursos naturais (como se pode ver
pelo empacotamento lem massa a que não correspondem efectivos esfor-
ços de reciclagem); degradação das paisagens, erosão dos solos e suã
improdutividade por sucessivos incêndios que fazem desaparecer man-
chas florestais apreciáveis e servem interesses económicos e comerciais
muitas vezes duvidosos, como as explorações agrícolas e pecuárias,
o fornecimento de matéria prima à industria do papel, ou o usa da
madeira como combustível de populações locais. Paralelamente, háum&
escassa implementação das energias renováveis e não se concretizam
outros pontos de inflecção indispensáveis, o que nos poderá levar, se nad?
fôr feito, a atingir um trágico ponto de não retorno. ^

2. Breves apontamentos sobre o ambiente na história 4a


humanidade

Apesar da candência do tema não nos devemos iludir com a apa-


rente modernidade (ou até mero modismo) do tema. Esta é uma pro-
blemática que vem de longe e que, com as atinências próprias de cada
época, sempre preocupou a humanidade, sendo fácil atestar a perenir
dade da questão.
O Ambiente: Uma Questão Jurídica ou Uma Preocupação da Humanidade 825

Basta lembrarmos as preocupações higiénicas que se podem extrair


da lei mosaica, apostada na pureza e educação moral do povo hebreu
e que acautelava preocupações sanitárias concretas como o evitar de
certas carnes, nomeadamente pela proibição de ingerir carne de porco
como modo de evitar maleitas como a cistercose (comummente ape-
lidada de «lombrigas») ou a hidatose entre outras, ou a proibição de
ingerir carne de animais encontrados m o r t o s o u também a preven-
ção da desinteria e de febres tifóides pela imposição de enterrar os
excrementos2.
Um momento histórico de grandes implicações ambientais foi a
revolução industrial. Com a industrialização surgiu o trabalho orga-
nizado e uma exigência brutal de mão de obra plenamente disponível
e eficiente. Ocorreram migrações em massa para as cidades, em busca
de trabalho e de melhores remunerações, o que gerou altas taxas de
concentração e de ocupação em urbes que se tornaram autênticos ninhos
de promiscuidade, pobreza e sujidade, com consequências calamitosas
a nível da saúde humana e da convivência social. O ambiente fabril tor-
nava-se cada vez mais poluido, o abastecimento de água era feito por
cisternas, poços ou mecanismos públicos precários e rudimentares e a
água consumida era insufuciente, de má qualidade, poluida e con-
taminada por todo o tipo de bactérias. Não existiam esgotos e muito
menos qualquer sistema organizado de recolha do lixo. As casas eram

1 « 0 porco que tem o pé córneo e até o casco bifurcado, mas que não rumina,
será impuro para vós. Não comereis carne de nenhum deles nem tocareis nas seus
cadáveres: são impuros para vós.» [ . . . ] «Se morrer um dos animais que vos é lícito
comer, quem tocar no seu cadáver ficará impura até à tarde. Aquele que comer essa
carne morta, lavará as suas roupas e ficará Impuro até à tarde; e aquele que a trans-
portar lavará as suas roupas e ficará impuro até à. tarde.» [ . . . 1 «Esta é a doutorina
relativa aos quadrúpedes, às aves, a todos os seres vivos que se movem nas águas e a
todos aqueles que rastejam sobre a terra, a fim de que destlnga o que é impuro do
que é puro, o animal que se pode comer daquele que se não deve comer.» In BÍBLIA
SAGRADA, Livro do Levítico U, 7-8, 39-40 e 46-47.
1 «Reservarás um sítio fora do acampamento, para as tuas necessidades; terás
também, no teu acampamento, uma pá, e, quando para ali fores, cavarás a terra com
esse instrumento, cobrindo as tuas dejecções.» in BÍBLIA SAGRADA, Livro do
Deuteronómio 23, 13-14.
826 Sandra Flávia Correia Batista

improvisadas pelos próprios moradores, de má qualidade, mal arejadas


e construídas com os piores matérias; eram sobre-ocupadas e inseridas
em ambientes poluídos, não tendo condições de salubridade. 0 tra-
balho era feito num ambiente tóxico, insalubre, perigoso para a saúde.
Os factores de risco acumulavam-se e, de início, nada foi feito para
os combater; a saúde publica além de não funcionar como um eficiente
serviço público, dispunha de meios escassos para garantir o saneamento
e a higiene. Foi neste período de forte industrialização que surgiu o
«movimento sanitário» que se apoiou em progressos técnicos e cientí-
ficos de múltiplas vertentes para revolucionar a compreensão dos pro-
blemas da saúde das população. Este movimento teve início na Ingaterra
(e foi progressivamente absorvido por outros países com iguais preo-
cupações) por reformadores sanitários como Smith que procederam ao
estudo e melhoramento d u condições higiénicas e do saneamento do
meio ambiente, como reacção à degradação operada pela Industriali-
zação. Os estudos efectuados eram apoiados por dados estatísticos das
populações deslocadas, por meio de censos periódicos e inquéritos sociais
que permitiam o relacionamento das taxas de morbilidade e mortali-
dade com as condições de vida e com as reais causas de doença. Deu-
-se início à utilização de novos meios de protecção contra a doença,
nomeadamente pela modificação das condições ambientais deslavará?
veis, o que contou com a ajuda de áreas científicas como a Física ou a
Química. E, se de início as preocupações sanitárias dedicaram-se em
exclusivo às condições de trabalho nas oficinas e fábricas, posteriormente
foram elaborados relatórios relativos à correcção dos problemas de saúde
pública do meio industrial como um todo (é o caso do relatório de
Chadwick Tbe sanitary condition of tbe laboring population of tbe
Great Britain datado de 1842), numa luta global que envolveu vários
quadrantes, desde a Igreja aos técnicos sanitários.

3. Alguns tópicos da história da questão ambiental em


Portugal

Uma breve incursão no universo histórico-ambiental português per--


mite-nos constatar que as doenças profissionais ligadas à expansão,
industrial foram uma das grandes fontes de patologias até finais do
O Ambiente: Uma Questão Jurídica ou Uma Preocupação da Humanidade 827

século XIX. Instrumentos oficiais de regulamentação e de investigação


ligados a aspectos concretos da higiene industrial podem, aliás, ser
encontrados desde tempos relativamente recuados. Em 1707 o Regimento
do Provedor-mor de Saúde remetia para fora da cidade de Lisboa o enxa-
guar de couros e «outras coisas de maus cheiros», de modo a não pre-
judicar a saúde dos populares; era uma medida de prevenção da poluição
atmosférica que colocava em realce uma indústria, a de curtumes, que
ainda hoje e significativamente, continua a ser altamente poluente.
O «Ensaio» datado de 1843 e resultante de uma ordem do Conselho de
Estado criado em 1837, aborda a topografia médica de Lisboa à época,
definindo-a como dedicada ao comércio e à indústria, sendo que os esta-
belecimentos fabris contribuíam para a impureza do ar, já de si pouco
salubre por acção conjugada de ruas estreitas, dos fumos das habita-
ções, da deficiente rede de esgotos, da pouca limpeza dos pavimentos e
dos hábitos pouco higiénicos dos próprios habitantes. Sucessivamente
foram surgindo regulamentos dedicados a actividades insalubres, incó-
modas e perigosas, com preocupações ambientais evidentes e que de
modo algum se podem considerar como emitidos avant la lettre.
A classe médica é por tradição sensível à problemática ambiental
sendo pacífico para a mesma que as origens da doenças são ambien-
tais, genética ou acidentais, e que, mesmo nestas últimas intervêm, por
vezes, factores ambientais. A medicina do trabalho como especialidade
médica surgiu apenas no nosso século, nomeadamente com a função
de vigiar as condições do ambiente como o aquecimento, a ventilação,
a iluminação, as próprias instalações e a sua estrutura sanitária. No
campo específico da saúde pública, â. qual cabe intervir na classicamente
apelidada questão da «salubridade», o ambiente e a necessidade de o
tutelar é um dado adquirido, como se pode retirar por exemplo do
Decreto-Lei 413/ 71, de 27 de Setembro, dedicado à reorganização dos
serviços do Ministério da Saúde e Assistência e que apontava para a inte-
gração da política ambiental nas demais políticas. Neste decreto foram
consagradas atribuições ambientais a cargo da actividade médica, no
pressuposto de que a política da saúde se tem que integrar no contexto
mais vasto da política social globalmente considerada, pela importân-
cia fundamental dos serviços de prevenção da doença e promoção da
saúde para o desenvolvimento social e económico da Nação. Assim ao
longo dos diferentes graus hierárquicos do Ministério eram repartidas
828 Sandra Flávia Correia Batista

as tarefas de promoção do saneamento do meio e das condições de


higiene do meio ambiente; de prevenção e luta contra a poluição do
ar, do solo, das águas e contra os ruídos; de garantia da higiene das
embalagens de produtos alimentares ou outros produtos com aqueles
relacionados; de estabelecimento de normas de higiene, salubridade e
segurança dos locais de trabalho e fiscalização da sua observância
de Intervenção no licenciamento de indústrias insalubres, incómodas,
perigosas ou tóxicas; finalmente, de actividades de apoio à educação
sanitária.

4. A importância do enquadramento jurídico do ambiente

a) Instituições internacionais

Dizer que o ambiente é um tema apenas dos dias de hoje é uma


afirmação que peca, pelo menos, por falta de perspectiva. Em diferea-
tes épocas foram conceptualizados e activados planos cuidados e deta-
lhados de actuação em aspectos ambientalmente relevantes. No entanto,
também não podem restar dúvidas de que o direito a uma vida sã é um
bem jurídico actualmente merecedor da mais digna tutela jurídica e
realização concreta, nomeadamente pela consciencialização crescente
da temática ambiental e pelo aprofundamento de tentativas de o abar-
car e proteger.
O tema ambiental é hoje um tema técnico, político e de necessário
enquadramento ideológico. É um teraa urgente que exige uma revolur
ção de consciências (que, felizmente, já se iniciou), que estime os efeitos
nefastos da actuação humana inconsciente ou conscientemente agres-
siva que quotidianamente ameaça o nosso meio ambiente, numa degra-
dação progressiva e a um ritmo cada vez mais acelerado. Há pois que
começar por científica e objectivamente se refectir sobre a questão
ambiental para, num segundo momento, se procurarem as melhores
vias de implementação de melhorias, sejam técnico-jurídicas, educar
cionais ou ideológicas, que garantam o nosso futuro comum. E estas
melhorias se por um lado se definem por macro-decisões a nível mun-
dial, passam também pela atitude íntima de cada indivíduo e pelo seu
micro-contributo concreto para a tutela ambiental.
O Ambiente: Uma Questão Jurídica ou Uma Preocupação da Humanidade 829

As Nações Unidas, organização internacional de vocação universa-


lista, no seu tratado constitutivo, a Carta das Nações Unidas, embora
não fixe expressamente objectivos ambientais a desenvolver, enuncia
logo no preâmbulo a preocupação dos povos em promover «o progresso
social e melhores condições de vida dentro de um conceito mais amplo
de liberdade», o que é sintomaticamente reafirmado no preâmbulo da
Declaração Universal dos Direitos do Homem. É certamente esse o objec-
tivo plasmado no texto da Carta quando concede à Assembleia Geral a
competência para promover estudos e fazer recomendações com vista
ao fomento da cooperação social e da saúde (art. 13 " n.° 1 al. b);
quando aponta, no âmbito da cooperação económica e social interna-
cional, a solução dos problemas internacionais de saúde e conexos, com
£ o fim de criar condições de estabilidade e bem-estar necessárias às rela-
\ ções pacíficas e amistosas entre as Nações (art. 55.° al. b); ou, final-
mente, quando inclui nas funções e poderes do Conselho Económico e
Social a elaboração ou início de estudos e relatórios a respeito da saúde
e assuntos internacionais conexos, a emissão de recomendações à Assem-
bleia Geral, aos membros das Nações Unidas e às organizações espe-
cializadas interessadas, a preparação de projectos de convenções e serem
submetidos à Assembleia Geral ou a convocação de conferências inter-
nacionais sobre esses mesmos assuntos (art. 62.° n.° 1, 3 e 4).
As Nações Unidas sempre partiram da constatação que assegurar a
I paz, no sentido mais amplo do termo, transcende em muito o mero evi-
tar de conflitos ou o solucionar daqueles que se vão desencadeando, e
que as actividades em prol da paz internacional se desdobram num vasto
campo que inclui, nomeadamente o meio ambiente e o desenvolvimento
sustentável. Assim têm vindo a tornar-se guardiãs da questão ambiental
ao seu nível abrangente, fazendo da mesma um dos seus grandes
empreendimentos, enquadrando-o na esfera de questões relevantes para
a vizinhança global aspirante de democracia, paz e prosperidade. O pro-
gresso tecnológico, enquanto transforma a natureza e prolonga a espe-
rança de vida a nível mundial, traz também novos e acrescidos riscos
para a estabilidade global como os danos ecológicos, o crescimento
demográfico, o buraco da camada de ozono, a seca ou a propagação
de doenças e, estas ameaças directa ou indirectamente ligadas a um
padrão de desenvolvimento de costas voltadas para o ambiente, podem
ser tão ou mais faiais que a acção militar de um exército inimigo bem
830 Sandra Pldvta Correia Batista

apetrechado e ideologicamente compacto. As Nações Unidas englobara


pois necessariamente nas suas tarefas as preocupações ecológicas, para
também assim se consolidar a paz e se construir a estabilidade myn-,
dial e a segurança colectiva. E basta ver um pequeno aspecto concreto,
o esforço de desminagem que se impõe a nível global, para se clarifi-
car como a paz e segurança internacionais são um tema de intricadas
relações: os espaços minados não só são uma ameaça permanente à vida
humana, como impedem a prática da agricultura e assim o desenvol-
vimento económico e o culminar do flagelo da fome, como são ainda
uma ameaça constante ao meio ambiente; a tudo isto cabe às Nações
Unidas prover, pela implementação de programas globais diferenciados.
O sistema institucional das Nações Unidas desmultiplica-se em
plúrimas vertentes ambientais. O Programa das Nações Unidas para
o Ambiente (PNUA) tem como objectivo principal encorajar as agên-
cias especializadas das Nações Unidas a lançar programas relativos ao
ambiente e a coordenar os respectivos trabalhos; preparou a Conven-
ção das Nações Unidas para o Ambiente e o Desenvolvimento (CNUAD)
e desenvolve um papel de secretariado junto da Convenção de Viena
sobre a Protecção da Camada de Ozono. Entre as agências das Nações
Unidas com preocupações ambientais contam-se a Organização Mun-
dial de Saúde ( O M S ) a Organização para a Alimentação e a Agricul-,
tura (FAO), que no intuito primeiro de melhorar a produção alimentar
e a vida das populações rurais desenvolve uma actividade ambientai
trifacetada (recursos naturais, gestão de ambientes específicos e polui-
ção, principalmente por pesticidas), a Organização Metereológica Mun-
dial (OMM), dedicada ao estudo das variações climáticas, a Organização
Marítima Mundial (OM1) que estuda a poluição marinha, ou a 0rgani2a-
ção das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
que, em conjunto com outras agências, administra o programa MAB
(O Homem e a Biosfera). E pode-se ainda realçar a Comissão Econó-

3 Quanto ao tabor das agências especializadas das Nações Unidas em torno do


ambiente há que reaçar o papel da OMS pela ligação que tradicionalmente se esta-
belece entre o ambiente, a promoção da saúde e a prevenção da doença, ligação que
só recentemente se tem vindo a esbater por uma certa autonomização e promoção
funcional da temática ambiental.
O Ambiente: Uma Questão Jurídica ou Uma Preocupação da Humanidade 12

mica das Nações Unidas para a Europa, composta por praticamente


todos os países europeus e ainda o Canadá, os Estados Unidos e Israel,
e que trabalha em torno de uma cooperação de índole regional em
matéria ambiental, de racionalização do uso dos recursos naturais e do
desenvolvimento sustentável, tendo um papel activo na negociação,
adopção e supervisão da aplicação de acordos internacionais, coorde-
nando ainda investigações sobre poluição.
A atenção mundial em relação aos problemas ambientais suscitou-
-se com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente
que teve lugar em Estocolmo em 1972. No entanto a temática ambiental
era já da preocupação da Organização Mundial de Saúde desde o seu
surgimento, tendo esta procedido a um exame alargado da mesma na
24.* Assembleia Mundial da Saúde realizada em 1971 As conclusões
desse exame levaram à constatação da necessidade de melhorar as con-
dições fundamentais de higiene do meio e do saneamento à escala mun-
dial, de estabelecer critérios e códigos de boa prática a aplicar a factores
ambientais nocivos à saúde por meio de acordos internacionais, de esti-
mular a vigilância sanitária epidemiológica que permitisse uma com-
pleta base de dados dos efeitos nefastos desses factores ambientais na
saúde humana e de encorajar, suportar e coordenar todo o tipo de pes-
quisas e este nível, nomeadamente pela formação de pessoal espe-
cializado. E se este foi o primeiro passo de abertura às preocupações
ambientais generalizadas, a Conferência das Nações Unidas sobre o
Ambiente e o Desenvolvimento5 (CNUAD), realizada no Rio de Janeiro
em Junho de 1992 (e, por isso, também chamada de Rio 92 ou Cimeira
da Terra) foi ura novo marco que reuniu os países na adopção de uma
Declaração de Princípios e de um documento conhecido como Agenda
21, um esquema básico em prol do desenvolvimento sustentável, que
aposta no crescimento económico com respeito dos recursos naturais,
e que teve como resultado próximo a assinatura de convenções relati-
vas às alterações climáticas e à biodiversidade.

4 Resolução WHA 24. 47 - Actas da Organização Mundial de Saúde, 1971,


n." 193.
5 V CONF. 151/ 26 (5 volumes) 1992, Organização das Nações Unidas.
832 Sandra Flávia Correia Batista

A Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento compõe-se


de 27 princípios e começa por reafirmar a Conferência de Estocolmo
de 1972 e propõe-se dar-lhe seguimento, reconhecendo a «natureza inte-
gral e interdependente da Tterra, nossa casa». Entre os princípios expres-
sos na Declaração são de apontar o realce dado ao ser humano, a busca
de um desenvolvimento sustentável e harmónico com a natureza, a
tutela equitativa das necessidades das gerações actuais e futuras face
ao desenvolvimento e ao ambiente, a integração da política ambiental
no processo global de desenvolvimento, a erradicação da pobreza e dos
desníveis de desenvolvimento dos países como condição prévia ao desen-
volvimento sustentável, a regulamentação eficaz a nível estadual de
padrões aceitáveis de produção, de consumo e de políticas demográficas,
a pesquisa científica em prol do ambiente, a participação dos cidadãos,
a responsabilização civil dos poluidores e a intemalização dos custos
ambientais no poluidor, sem restringir no entanto, a actividade econó-
mica, a cooperação célere e de boa fé entre os Estados em casos de desas-
tres naturais ou actividades transfronteiriças que possam apresentar desT
valor ambiental e a paz como valor inseparável da protecção ambiental
A Agenda 21, por sua vez, desdobra-se em dezenas de programas espe-
cíficos pelos quais estes princípios deverão ser realizados, nomeadamente,
com apelo à dinâmica das instituições internacionais, da cooperação
internacional para o desenvolvimento sustentável, das organizações não
governamentais, das iniciativas das autoridades locais, dos instrumen-r
tos e mecanismos jurídicos internacionais, da integração do meio
ambiente na adopção de decisões que o transcendam, dos mecanismos
de financiamento e muitos outros programas dinamizadores, •
As próprias Nações Unidas são uma instituição internacional cujas
sinergias devem ser rentabilizadas em prol do ambiente. A resolução
44/228 da Assembleia Geral concede mandato à CNUAD para elabora
estratégias que invertam os efeitos da degradação do meio ambiente
(a par com os esforços nacionais), devendo ser feito uso do sistema ins-
titucional das Nações Unidas na sua capacidade multisectorial e nas
esferas de competência respectivas dos seus órgãos, programas e agên-
cias especializadas, cuja actuação deve ser optimizada em relação a
novas exigências de actuação que surjam. Todo o sistema das Nações
Unidas se deve revitalizar face à questão ambiental com transparência,
universalidade, eficácia e ponderação custo/benefício. Deve, nomeada-
O Ambiente: Uma Questão Jurídica ou Uma Preocupação da Humanidade 833

mente, ser prestado um serviço de assessoria aos governos na concreti-


zação dos programas da Conferência, numa partilha de tarefas que evite
a duplicação de esforços. A Assembleia Geral como centro inter-
governamental de alto nível deve fazer um exame dos progressos que
surjam, apoiada nomeadamente pela competência específica do Con-
selho Económico e Social em sede ambiental. Ao secretário geral caberá
um papel coordenador firme, podendo nomeadamente fazer recomen-
dações à Assembleia Geral. O Programa das Nações Unidas para o
Ambiente (PNUA) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) devem ter um papel fulcral, dentro das respectivas esferas de
acção, vigiando o meio ambiente, fomentando a necessária investigação
cientifica, sensibilizando a opinião pública e dando assistência a situa-
ções de emergência, para o que será indispensável o apoio do Banco
Mundial. Há finalmente que garantir que as execuções governamentais
dos programas sejam concretizadas de modo coerente e integrado. Tam-
bém às Organizações Não Governamentais deve ser atribuído um papel
específico nessas concretizações internas, dando a Conferência relevo a
comunidades científicas, ao sector privado, a grupos de mulheres e a
agrupamentos de jovens.
Mas há que transpor as fronteiras internas delineadas pela Confe-
rência e prever a realização de acordos internacionais em matéria
ambiental que a concretizem ou até complementem. Quanto aos ins-
trumentos e mecanismos jurídicos internacionais há que ter em conta
aspectos fundamentais da elaboração de tratados de carácter universal,
multilateral e bilateral. Há que reforçar o papel do direito internacio-
nal do ambiente, que passa nomeadamente pela sua codificação, com
o auxílio qualificado da Comissão de Direito Internacional. Há que ter
em conta uma efectiva participação e contribuição dos diferentes acto-
res internacionais na elaboração de acordos internacionais de modo a
que se levem em conta as circunstâncias concretas de cada região e,
em concreto, dos países em vias de desenvolvimento. Os esforços inter-
nacionais de criação jurídica devem passar por uma prévia assistência
técnica aos países mais fracos de molde a que possam melhorar a capa-
cidade jurídica em matéria ambiental. Além da questão da criação jurí-
dica há também que refletir sobre a sua aplicação concreta e, mais uma
vez, sobre as dificuldades que serão sentidas por parte de alguns Esta-
dos, mais uma vez os mais frágeis e em vias de desenvolvimento, o que
834 Sandra Flávia Correia Batista

poderá aconselhar à revisão dos acordos internacionais de molde a


torná-los exequíveis. Há que definir prioridades claras de legiferação e
efectividade no plano mundial, regional e subregional dando sempre
preferência a processos que espelhem o consenso internacional em vez
de medidas unilaterais. Qualquer esforço de juridificação tem que pas-
sar necessariamente pelo respeito de princípios como a não discrimi-
nação, a transparência das medidas comerciais que possam intervir com
o ambiente, a notificação cuidada das normas nacionais que se forem
adoptando e a necessidade de ter em conta a situação especial dos paí-
ses em vias de desenvolvimento, É necessário garantir a aplicação efi-
caz e célere dos mecanismos jurídicos criados e melhorar a eficácia das
instituições e procedimentos que os administrem. É também fulcral evi-
tar conflitos reais ou potenciais entre acordos ambientais e comerciais
que se devem, aliás, reforçar mutuamente. Há que prevenir as contro-
vérsias internacionais fazendo apelo ao sistema das Nações Unidas e,
em especial, ao Tribunal Internacional de Justiça quando a gravidade
da situação o exigir, devendo à partida qualquer acordo elaborado em
matéria ambiental incluir cláusulas atributivas de competência ao
mesmo. Devem ser definidos com rigor os direitos e deveres de cada
Estado em matéria ambiental e, nomeadamente, ser criado um corpo
de peritos jurídicos que periodicamente analisem a aplicação gradual
ou específica dos acordos nos países em vias de desenvolvimento. Deve-
-se tutelar em concreto o perigo que os conflitos armados trazem para
o meio ambiente e evitar a destruição massiva em situações de guerra,
com o apoio salutar do Comité Internacional da Cruz Vermelha, no
âmbito das suas competências e tarefas. Não se pode esquecer, final-
mente, a urgência de acordos que tutelem a energia nuclear e a sua
utilização sem riscos e ecologicamente racional.
Uma das áreas em que a cooperação internacional para o desen-
volvimento sustentável é fulcral é a economia (especificamente a pro-
dução, o comércio e o financiamento), com uma chamada de atenção
especial para os países em vias de desenvolvimento. Só um comércio
plenamente liberalizado permite uma utilização eficiente dos recursos
e assim a sua não exaustão, poupança e libertação para outras produ-
ções que, por sua vez, incrementem o crescimento económico, podendo
O Ambiente: Uma Questão Jurídica ou Uma Preocupação da Humanidade 16

o comércio crescer sem ser à custa do depauperamento ambiental. Esta


colaboração pode ser referida em diferentes tópicos:

- produção e comercialização - há que criar uma economia mun-


dial mais justa, aberta, não discriminatória, segura e eficiente
em que a colaboração e a solidariedade internacionais sejam efec-
tivas e potenciem as políticas internas de desenvolvimento; há que
optimizar a distribuição, o acesso de todos os países aos merca-
dos de exportação e acabar com distorções que impeçam impor-
tações, e proteccionismos que imponham exportações Ineficientes;
há que criar um equilíbrio entre a produção para o mercado
interno e externo de acordo com a mais racional afectação de
recursos; há que conduzir o comércio em prol da melhoria das
condições económicas e sociais das populações, a par com um
desenvolvimento que se mostre sustentável; há que pôr em realce
a produção, distribuição, dinamização e diversificação dos mer-
cados de produtos básicos; há que estruturar uma melhor admi-
nistração dos recursos naturais; há que fazer incluir no preço dos
produtos acabados os seus custos sociais e ambientais; há que
estabelecer acordos internacionais de produtores e consumido-
res que definam as tendências de mercado e criem grupos de
estudo, em especial acordos sobre o cacau, o café, o açúcar e as
madeiras tropicais; há que criar uma economia mais produtiva
e competitiva; finalmente, as medidas ambientais tomadas têm
que respeitar as obrigações internacionais dos Estados, não
podendo de modo algum funcionar como restrições injustificadas
à actividade comercial, ou como novas distorções e proteccionis-
mos encapotados;
— financiamento — há que impedir o alastramento do individa-
mento externo e as restrições ao financiamento dos países que
dele precisara sob pena de se verificar um entorpecimento da eco-
nomia pela menor importação (até de matérias primas) e con-
sumo e consequente diminuição da produção, nunca se conse-
guindo o íake o#da economia e a fuga à pobreza endémica; a
comunidade internacional deve apoiar os países em vias de desen-
volvimento por donativos ou pela concessão de empréstimos em
condições de favor; há que libertar os países em vias de desen-
836 Sandra Flávia Correia Batista

volvimento do peso da dívida externa, nomeadamente do serviço


da dívida que os faça incorrer em transferências líquidas de recur-
sos financeiros para o estrangeiro, permitindo-se a renegociação
da dívida a níveis de pagamentos aceitáveis, sendo fornecidos
apoios adicionais a reformas económicas estruturais e não se
permitindo o desinvestimento em sectores como a saúde, a edu-
cação ou a protecção ambiental; o clima internacional deve criar
uma estabilidade monetária e cambial que crie segurança, pre-
visibilidade e um crescimento não inflacionário;
— administração pública — a administração pública tem que ser
transparente e eficaz, integrando as questões ambientais nas polí-
ticas globais de molde a adequar a sua actuação às condições
concretas dos países e com a participação democrática de todos
os interessados, acabando com qualquer suspeita de corrupção;
devem ser eliminados os obstáculos ao progresso gerados por
excessos burocráticos desnecessários como formalidades e certos
tipos de controlos que fazem de qualquer iniciativa empresarial
um processo moroso, complexo e desmotivante.

Mas, as Nações Unidas não são a única organização internacio-


nal em que o ambiente merece um realce específico, Também o espaço
europeu que nos engloba não fugiu à questão. Basta ter em conta a Con-
venção de Lugano de 1993 sobre a responsabilidade civil por activida-
des que causem danos ao ambiente ou o Livro Verde do Ambiente do
mesmo ano, também sobre a reparação de danos causados ao ambiente.
Para lá das questões de responsabilidade é de realçar o reforço da polí-
tica ambiental com o Tratado de Maastricht, em que a sustentabilidade
passou a ser um dos objectivos da União Europeia. Em 1994, a Agên-
cia Europeia do Ambiente iniciou a sua instalação em Copenhaga, com
o propósito de restar informações à União e aos Estados membros para
implementação de políticas ambientais mais eficazes, servindo como
prova no terreno da absorção da política ambiental como objectivo da
União, e do aprofundamento de uma tentativa séria de cooperação
ambiental europeia. Mas, já em 1973 fôra lançado o Programa de Acção
para o Ambiente pelo qual a, agora, União passou a assinar conven-
ções e se tornou membro de diferentes organizações de cariz ambien-
tal, como se de um Estado se tratasse.
O Ambiente: Uma Questão Jurídica ou Uma Preocupação da Humanidade 837

Ainda em termos institucionais podem-se apontar outras figuras


com relevo na área do ambiente. A Organização de Cooperação e Desen-
volvimento Económico (OCDE) é dotada de uma Comissão do Ambiente
apoiada por uma Direcção do Ambiente, tendo como estratégia a inte-
gração das decisões dos domínios económico e ambiental. Também o
Acordo Geral sobre Pautas Aduaneiras (GATT) dispõe de uma Comis-
são do Ambiente. A Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA) esta-
beleceu normas-padrão ambientais para os produtos transaccionados,
com base nas legislações internas dos Estados membros, e que, em geral
eram bastante rigorosas, estando agora, com a abrangência do Espaço
Económico Europeu aos países membros da organização, sujeitas ainda
a normativos ambientais da legislação comunitária. Finalmente, o Con-
selho da Europa além das reuniões ministeriais que realiza sobre assun-
tos específicos (e que incluem também o ambiente), dispõe desde 1962
de uma Comissão Europeia para a Conservação da Natureza e dos Recur-
sos Naturais que se ocupa nomeadamente da conservação da natureza,
do património arqultectural, do planeamento urbano e regional e do
controlo da poluição.
É interessante, como nota final, referir a posição de instituições
financeiras internacionais quanto ao ambiente. O Banco Mundial criou
em 1985 a Divisão do Ambiente e a Global Environment Facility apos-
tada em analisar por exemplo a destruição da camada de ozono e a
degradação dos recursos hídricos. O Banco Europeu de Investimento
financia projectos de incidência ambiental, como o tratamento de águas
residuais. Os estatutos do Banco Europeu para a Reconstrução e o Desen-
volvimento obrigam-no a impôr regras ecológicas rigorosas aos projectos
a financiar.

p) O direito interno português

Independentemente da quantidade e da indesmentível qualidade dos


instrumentos jurídicos e políticos internacionais (universalistas ou regio-
nais) de base ambiental, também a nível interno se exige uma qual-
quer actuação. Os governos dos diferentes Estados não se podem demitir
na função vital da tutela do nosso habitat comum, e é hoje indispen-
838 Sandra Flávia Correia Batista

sável a criação de plú rimas garantias jurídicas de protecção do ambiente,


que sejam suficientemente claras e próximas dos cidadãos para que estes
possam confiar e sentir-se tutelados nas concretas esferas das suas vidas
quotidianas. Impõem-se pois medidas concretas, seja pela criação de
instituições adequadas (o que pode passar pela reformulação do qua-
dro institucional existente), seja pela implementação de múltiplos e
novos instrumentos jurídicos que clarifiquem as responsabilidades
assacáveis a danos ambientais, a nível colectivo e individual, nas áreas
civil, administrativa, penal e constitucional.
Claro que a regulamentação interna não torna desnecessária uma
regulamentação internacional integrada. É hoje pacífico que as sobe-
ranias se limitam pela actuação do direito internacional, e este tem
vindo a tomar nas suas mãos a preservação do património comum da
humanidade, nomeadamente pela constatação da incapacidade dos Esta-
dos se oporem à degradação do melo ambiente6.
A tutela nacional do ambiente é, no nosso ordenamento jurídico,
assumida logo na Constituição que concede protecção jurídica expressa
aos valores ambientais. E sendo a Constituição a unidade de sentido da
nossa ordem jurídica e o ponto de partida de qualquer raciocínio jurí-
dico-posítivo, não só como matriz do direito feito, mas também como
enquadramento necessário do direito a fazer, não se pode deixar de mos-
trar o realce constitucional concreto que o ambiente merece. O ambiente
é consagrado como um direito fundamental do cidadão e um dever jurí-
dico constitucionalmente imposto ao nosso legislador.
O art. 66.° 7 é explícito ao consagrar como direito fundamental de
cari2 social o direito de todos ao ambiente e à qualidade de vida e impõe
diferentes incumbências ao Estado em ordem a assegurar o direito ao
ambiente no quadro de um desenvolvimento sustentável. É logo no
art. 9." ais. d) e e) que se prescreve que a efectivação dos direitos ambien-
tais é uma tarefa fundamental do Estado cabendo-lhe também a defesa
da natureza e do ambiente, a preservação dos recursos naturais e asse-

' A foimação do direito internacional do ambiente iniciou-se com a Declara-


ção de Estocolmo de 1972, aprovada na Conferência das Nações Unidas sobre o
Ambiente da mesma data (e já referida).
7 Os artigos de seguida enunciados referem-se à Constituição da República
Portuguesa.
O Ambiente: Uma Questão Jurídica ou Uma Preocupação da Humanidade 839

gurar o correcto ordenamento do terrritórlo. Além disso, e ao longo de


diferentes artigos, são enunciadas tutelas específicas do ambiente: o
art. 59 ° consagra a direito dos trabalhadores a prestarem o seu traba-
lho em condições de higiene, segurança e saúde, e impõe ao Estado que
assegure tais condições, nomeadamente face a trabalhadores que desem-
penhem actividades em condições insalubres, tóxicas ou perigosas; o
art. 60.® concede aos consumidores o direito à qualidade dos bens ou
serviços consumidos e à protecção da saúde; o próprio direito à protec-
ção da saúde é realizado, nos termos do art. 64°, nomeadamente pela
criação de condições ambientais, pela melhoria sistemática das condi-
ções de vida e de trabalho e pelo desenvolvimento da educação sanitá-
ria do povo e de práticas de vida saudável; finalmente o art. 81.°
ais. a), h), 1) e m) enuncia como incumbências prioritárias do Estado
no âmbito económico e social a promoção da qualidade de vida das pes-
soas, no quadro de uma estratégia de desenvolvimento sustentável) a
garantia e defesa dos interesses e direitos dos consumidores, a adoptção
de uma política nacional de energia, com preservação dos recursos natu-
rais e do equilíbrio ecológico e a adopção de uma política nacional da
água, com aproveitamento, planeamento e gestão racional dos recur-
sos hídricos. E, como a própria Constituição consagra no art. 52.° (maxime
52.° n.° 3 al. a), não é só ao Estado que incumbem tarefas concretas
de protecção do ambiente, como também a sociedade civil pode e deve
ter um papel concreto e, no caso, constitucionalmente enquadrado, no
intuito aliás da plena realização de uma democracia que se quer par-
ticipativa (art. 2.', in fine) e em que as decisões sejam caracterizadas
pela transparência dos processos. As organizações não governamentais
(nomeadamente científicas, ambientalistas e de consumidores) são,
como é aliás sua função, uma voz crítica e um foco de mobilização das
comunidades, que muito podem fazer no campo político como
enformadoras das decisões governamentais.
Ainda no campo constitucional é certamente relevante constatar que
o legislador parece querer impôr a protecção de diferentes bens ambien-
tais ou diferentes facetas de uma realidade ambiental abrangente: depa-
ramo-nos pois com conceitos como «direitos ambientais» (art. 9 C
al. d), «natureza», «ambiente» e «recursos naturais» (art. 9 ° al. e),
«ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado» (art. 66."
n.° 1) ou «equilíbrio ecológico» (art. 81.° al. 1), por exemplo. Será
840 Sandra Flávia Correia Batista

que temos enquanto indivíduos direito a um ambiente de vida humano,


sadio e ecologicamente equilibrado (numa perspectiva antropocêntrica),
mas a imcumbência de protecção da natureza e do ambiente é já algo
que não passa pela subjectividade de todos e de cada um de nós mas
apenas por uma tarefa que ao Estado se coloca, cora o intuito de con-
servação e preservação do habitat ecológico em si mesmo e como valor
autónomo? Se foi ou não este o intuito do legislador ao adiantar dife-
rentes conceitos, este é certamente uma questão que valerá a pena
aprofundar.
Ainda com apelo à Constituição, o art. 165.® n.° 1 al. g) remete para
a reserva relativa da Assembleia da República a competência para legis-
lar sobre as bases do sistema de protecção da natureza, do equilíbrio
ecológico e do património cultural; ora a Lei de Bases do Ambiente8,
decretada ao abrigo daquele artigo, vem também, tal como o Tfexto Fun-
damental a mencionar diferentes bens a tutelar ou, então, as diferen-
tes vertentes do bem «ambiente», determinando e dando concretização
legal ao direito que constitucionalmente é enunciado, para que, sem
dúvidas se possa limitar o que é, ou não, ambiente para o nosso orde-
namento jurídico. Numa leitura superficial do texto da Lei de Bases
deparamo-nos com conceitos como «qualidade de vida», «recursos natu-
rais» ou «ambiente propício à saúde e bem-estar das pessoas e ao desen-
volvimento social e cultural das comunidades»; além disso há um
entrecruzar de objectivos e preocupações como o desenvolvimento auto-
-sustentado, o crescimento económico e social, o ordenamento do ter-
ritório, a cooperação internacional com vista à gestão dos recursos
naturais, a descentralização da produção, a racionalização do consumo
e a defesa do consumidor, a saúde, a ocupação dos tempos livres, as con-
dições de trabalho, as regras dos anúncios luminosos, a vegetação das
margens dos cursos de água, o ensombramento dos espaços públicos ou
privados, a protecção da saúde pública, a importação de espécies ani-
mais exóticas, a elucidação e sensibilização da opinião pública ou limi-
tes de tolerância da presença de elementos poluentes. Ou seja, e em
conclusão, ficam concretamente determinadas quais as preocupações
ambientais do legislador português e que constituem uma paleta

* Lei 1 1 / 8 7 , de 7 de Abril.
O Ambiente: Uma Questão Jurídica ou Uma Preocupação da Humanidade 841

multifacetada que em nada se confunde com declarações de intenções


vazias ou meros «modismos ambientais».
É ainda a Lei de Bases do Ambiente que no seu art. 37." remete para
o Governo a competência para conduzir uma política global nos domí-
nios do ambiente, da qualidade de vida e do ordenamento do território
e a coordenação das políticas do ordenamento regional do território e
desenvolvimento económica e progresso social e a adopção das medi-
das adequadas à aplicação dos instrumentos previstos na mesma lei;
remete ainda para o Governo, a administração regional e a adminis-
tração local a articulação entre si das medidas a implementar qu se
mostrem necessárias à prossecução da própria lei. Ou seja, o objectivo
de protecção ambientai fica largamente a cargo da administração e do
direito administrativo o que aliás é perfeitamente legítimo e adequado,
quando se parte do paradigma do Estado intervencionista, activamente
dedicado à actividade económica e que englobe nas suas preocupações
o ambiente.
0 ambiente pressupõe uma regulamentação coerente, sistemática
e integrada; além disso é um tema eminentemente ligado à evolução e
ao devir tecnológico, pela rapidez com que se alteram os critérios de
avaliação da salubridade ambiental, se dá relevo a novos agentes poluen-
tes e se implementam novas técnicas antipoluentes, sendo-lhe inerente
uma grande dose de mutabilidade. Ora só o legislador administrativo
tem a mobilidade e plasticidade exigidas a um tema de tal índole. Cabe
pois ao administrador, por intermédio de prescrições administrativas,
fiscalizar o estado do ambiente e enquadrar as actividades que conten-
dam com o mesmo e assim, regulamentar, autorizar, limitar e proibir
actividades poluentes, criando normas de índole essencialmente técnica
a aplicar aos agentes poluentes; definir valores que funcionem como
limites de tolerância às emissões poluentes; concretizar uma adequada
distribuição e organização dos recursos ambientais.
Por outro lado a administração actuará de molde a equilibrar a luta
contra a poluição com o progresso económico. A limitação dos danos
ao ambiente, pela proibição das actividades que os causem ou pela puni-
ção dos danos efectivos, não pode paralizar a economia e, nomeada-
mente, o progresso económico, ou reduzir a sociedade contemporânea
a uma letergia pseudo-salutar e escrava de fundamentalismos ambien-
tais. Há necessariamente que adequar as exigências ambientais ao pro-
842 Sandra Flávia Correia Batista

gresso económico da sociedade até porque os valores ambientais são


Indissociáveis do progresso tecnológico acelerado. Não se deve nunca
cair na tentação de criar leis ambientais menos rígidas como meio de
reforço da competitividade em desfavor da protecção do ambiente; esse
é um logro que deve ser evitado a todo o custo sendo certamente mais
adequado aplicar instrumentos económicos que desencorajem ofensas
ao ambiente e recompensem serviços ambientais positivos prestados à
sociedade (como incentivos financeiros e fiscais). E isto sem esquecer
que dar ao ambiente preponderância clara face à economia pode ser,
inclusivamente, economicamente vantajoso, como se pode constatar com
o êxito da agricultura biológica ou orgânica, quando adequadamente
publicitada nos consumidores e dotada de eficazes canais de distribui-
ção, ou com a exploração económica do turismo sustentável em áreas
protegidas.
Uma baliza que sempre se deve impor à administração na sua tarefa
(ou batalha) ambiental será a comunicação e a coordenação multifa-
cetadas. Deve-se respeitar a coordenação vertical que a legislação impo-
nha na distribuição de tarefas entre os diferentes graus hierárquicos
decisórios (administração local, regional ou centalizada; legislação
comunitária; enquadramento das imposições constitucionais). Deve-se,
por outro lado, permitir e reforçar uma alargada cooperação horizon-
tal entre as diversas áreas políticas, com o reforço da integração da
dimensão ambiental nas outras dimensões políticas, evitando situações
de antagonismo e conflituosidade; outra dimensão da cooperação hori-
zontal também a promover é a cooperação entre os poderes públicos e
os cidadãos, com uma melhor informação e participação a conceder
nomeadamente a organizações ambientalistas e a associações de con-
sumidores.
A. abordagem administrativa das tarefas ambientais impõe, mais
uma vez, a sensibilidade da classe médica a esta questão. No campo de
intervenções da autoridade sanitária, funcionalmente adstrita à tutela
da saúde pública já «Há muito se ultrapassou o conceito médico-sani-
tário e ambientalista, enformado pelo padrão da patologia por longo
tempo dominante, a das doenças infecto-contagiosas.», tornando neces-
sária a participação do Ministério da Saúde em áreas específicas como
«0 limiar do desenvolvimento, com o cotejo de problemas de saúde ine-
rente, o binómio saúde/ ambiente, presente na multiplicidade de abor-
O Ambiente: Uma Questão Jurídica ou Uma Preocupação da Humanidade 843

dagens ambientais, ecológicas e ergonómicas...» ou «A progressiva


exigência de qualidade nos equipamentos colectivos e nos desempenhos
e procedimentos relativos a direitos fundamentais dos cidadãos...
[como] . . . a qualidade de vida e dos locais de trabalho.. . * 9 . Um marco
da legislação médica em termos de atribuições administrativas foi o já
referido Decreto-Lei n.° 413/ 71 de 27 de Setembro. Este normativo, dedi-
cado à reorganização dos serviços do Ministério da Saúde e Assistência,
apesar de já não estar em vigor, apresenta nos seus princípios orienta-
dores linhas estruturantes que até hoje se mantêm em toda a legisla-
ção subsequente relativa ao sistema de saúde português.

5. Conclusão

De tudo o que foi dito e do muito que ficou por dizer, conclui-se
que preocupações ambientais sempre existiram e que o desafio hoje
enfrentado pela humanidade se não é inovador tem, no entanto, que
enfrentar ameaças que são próprias da nossa época. A resposta a este
desafio tem que confiar na normatividade e coercibilidade jurídicas mas
tem que contar, anjtes de tudo, com a adesão íntima de todos nós à pre-
servação do meio que nos é imprescindível à vida. E esta adesão íntima
não cabe ao direito assegurar mas, antes de tudo, às virtualidades da
educação. E tanto o direito como os esforços da educação têm que se
conjugar não apenas em prol do bem estar actual da humanidade, antes
pelo contrário, têm que se projectar numa acção de longo alcance que
inclua as gerações vindouras. O ambiente é um bem que pertence à
humanidade como ente intemporal que permanece para lá das vidas
concretas dos seus componentes e as gerações vindouras têm tanto
direito (a herdar) a uma vida saudável, como aquela que hoje nos cabe
construir para nós e, simultameamente, legar para o futuro.
É imperioso criar mecanismos legais que reforcem as preocupações
ambientais e ponham em prática o ideal pró-ambiental, na consagra-

' Preâmbulo do Decreto-Lei n.° 336/ 93 de 29 de Setembro, que clarifica, sis-


tematiza e unifica as disposições respeitantes à organização, nomeação e atribuições
da autoridade de saúde.
844 Sandra Flávia Correia Batista

ção de uma linha de atitude que se mostre favorável à implementação


de uma adequada política ambiental. No campo ambiental a via jurí-
dica depara-se com problemas específicos e de difícil resolução: a res-
ponsabilidade é individual, colectiva ou de ambos os tipos? E, se assim
fôr onde acaba uma e começa a outra? Como se enquadram os com-
portamentos nos esquemas tradicionais do raciocínio jurídico, de mol-
de a estarem a coberto de uma qualquer responsabilização (nomeada-
mente a nível da causalidade e da imputação?).
O que é indubitável é que os desiquilíbrios ambientais actuais
impõem uma qualquer intervenção legislativa que tutele as agressões
sofridas pela cada vez mais depauperada realidade ambiental. E essas
intervenções tanto têm cabimento a nível estadual como internacional,
devendo ser regulamentados tanto aspectos técnicos parcelares, como
objectivos de longo alcance e, nomeadamente, a conciliação entre a
economia e o ambiente, ou os Interesses particulares de cada pais em
confronto com os parâmetros internacionais.
A educação é, sem dúvida, a palavra chave, já que só esta pode cons-
truir nações e formar os seus cidadãos com os contributos do passado
histórico e em vista das responsabilidades futuras que se impõem na
construção de uma vizinhança global, um sonho colectivo e não utó-
pico de coexistência mundial. Dm qualquer processo de reformismo
ambiental (pois é disso que se trata) será necessariamente beneficiado
através da elucidação franca das consciências individuais já que pou-
cas alterações serão bem sucedidas a não ser que cada um dos mem-
bros da comunidade esteja consciente a título individual das implicações
de um processo pró-ambiental. A educação ambiental tem que ser de
índole a abranger a multidisciplinaridade e a auto-promover-se na
mobilização de indivíduos, grupos e organizações, levando-os a ocupar
um papel activo, o seu papel activo, na implementação de políticas que
respeitem os direitos dos homens e sejam económica e socialmente res-
ponsáveis face às gerações vindouras.
Impõe-se nomeadamente a solidariedade entre gerações e o direito
das gerações vindouras herdarem um ambiente saudável, como a pró-
pria Agenda 21 impõe, ou o art. 66.°, n.a 2, al. d), CRP consagra, já que
a humanidade 6 composta por uma pluralidade de membros cujos direi-
tos são comuns e intergeracionais. A humanidade é uma colectividade
que transcende a individualidade de cada um e transcende também as
O Ambiente: Uma Questão Jurídica ou Uma Preocupação da Humanidade 845

fronteiras espacio-temporais, é um todo orgânico, sujeito à titularidade


de direitos colectivos.
Há, finalmente, que ter consciência da urgência em actuar respon-
savelmente agora, de modo a assegurar a paz e o desenvolvimento sus-
tentável de geração para geração. E só o uso inteligente dos nossos
esforços e recursos pode levar à eliminação dos problemas que actual-
mente ameaçam a nossa vida.

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