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MONITORIA DE LINGUAGENS

WILLYAM CASSIMIRO (09/10/2023)

1- (Enem 2020) — É possível afirmar que muitas expressões idiomáticas transmitidas pela
cultura regional possuem autores anônimos, no entanto, algumas delas surgiram em
consequência de contextos históricos bem curiosos. “Aquele é um cabra da peste” é um
bom exemplo dessas construções.

Para compreender essa expressão tão repetida no Nordeste brasileiro, faz-se necessário
voltar o olhar para o século 16. “Cabra” remete à forma com que os navegadores
portugueses chamavam os índios. Já “peste” estaria ligada à questão da superação e
resistência, ou mesmo uma associação com o diabo. Assim, com o passar dos anos,
passou-se a utilizar tal expressão para denominar qualquer indivíduo que se mostre
corajoso, ou mesmo insolente, já que a expressão pode ter caráter positivo ou negativo.
Aliás, quem já não ficou de “nhenhe-nhém” por aí? O termo, que normalmente tem
significado de conversa interminável, monótona ou resmungo, tem origem no tupi-guarani e
“nhém” significa “falar”.

Disponível em: http:///leiturasdahistoria.uol.com.br. Acesso em: 13 dez. 2017

A leitura do texto permite ao leitor entrar em contato com

A) registros do inventário do português brasileiro.


B) justificativas da variedade linguística do país.
C) influências da fala do nordestino no uso da língua.
D) explorações do falar de um grupo social específico.
E) representações da mudança linguística do português.

2 - (Enem PPL 2014) O mulato

Ana Rosa cresceu; aprendera de cor a gramática do Sotero dos Reis; lera alguma coisa;
sabia rudimentos de francês e tocava modinhas sentimentais ao violão e ao piano. Não era
estúpida; tinha a intuição perfeita da virtude, um modo bonito, e por vezes lamentara não
ser mais instruída. Conhecia muitos trabalhos de agulha; bordava como poucas, e dispunha
de uma gargantazinha de contralto que fazia gosto de ouvir.

Uma só palavra boiava à superfície dos seus pensamentos: "Mulato". E crescia, crescia,
transformando-se em tenebrosa nuvem, que escondia todo o seu passado. Ideia parasita,
que estrangulava todas as outras ideias.

— Mulato!
Esta só palavra explicava-lhe agora todos os mesquinhos escrúpulos, que a sociedade do
Maranhão usara para com ele. Explicava tudo: a frieza de certas famílias a quem visitara; as
reticências dos que lhe falavam de seus antepassados; a reserva e a cautela dos que, em
sua presença, discutiam questões de raça e de sangue.

(AZEVEDO, A. O Mulato. São Paulo: Ática, 1996)

O texto de Aluísio Azevedo é representativo do Naturalismo, vigente no final do século XIX.


Nesse fragmento, o narrador expressa fidelidade ao discurso naturalista, pois:

A) Relaciona a posição social a padrões de comportamento e à condição de raça.


B) Apresenta os homens e as mulheres melhores do que eram no século XIX.
C) Mostra a pouca cultura feminina e a distribuição de saberes entre homens e mulheres.
D) Ilustra os diferentes modos que um indivíduo tinha de ascender socialmente.
E) Critica a educação oferecida às mulheres e os maus-tratos dispensados aos negros.

3 - (Enem 2020) — Na sua imaginação perturbada sentia a natureza toda


agitando-se para sufocá-la. Aumentavam as sombras. No céu, nuvens colossais e
túmidas rolavam para o abismo do horizonte… Na várzea, ao clarão indeciso do
crepúsculo, os seres tomavam ares de monstros… As montanhas, subindo
ameaçadoras da terra, perfilavam-se tenebrosas… Os caminhos, espreguiçando-se
sobre os campos, animavam-se quais serpentes infinitas… As árvores soltas
choravam ao vento, como carpideiras fantásticas da natureza morta… Os aflitivos
pássaros noturnos gemiam agouros com pios fúnebres. Maria quis fugir, mas os
membros cansados não acudiam aos ímpetos do medo e deixavam-na prostrada
em uma angústia desesperada.

ARANHA, J. P. G. Canaã. São Paulo: Ática, 1997.

No trecho, o narrador mobiliza recursos de linguagem que geram uma


expressividade centrada na percepção da

A) relação entre a natureza opressiva e o desejo de libertação da personagem.


B) confluência entre o estado emocional da personagem e a configuração da
paisagem.
C) prevalência do mundo natural em relação à fragilidade humana.
D) depreciação do sentido da vida diante da consciência da morte iminente.
E) instabilidade psicológica da personagem face à realidade hostil.

4 - (Enem PPL 2011) O nascimento da crônica


Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor!
Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um
touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos
fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua,
outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e La glace est
rompue; está começada a crônica.

Mas, leitor amigo, esse meio é mais velho ainda do que as crônicas, que apenas
datam de Esdras. Antes de Esdras, antes de Moisés, antes de Abraão, Isaque e
Jacó, antes mesmo de Noé, houve calor e crônicas. No paraíso é provável, é certo
que o calor era mediano, e não é prova do contrário o fato de Adão andar nu. Adão
andava nu por duas razões, uma capital e outra provincial. A primeira é que não
havia alfaiates, não havia sequer casimiras; a segunda é que, ainda havendo-os,
Adão andava baldo ao naipe. Digo que esta razão é provincial, porque as nossas
províncias estão nas circunstâncias do primeiro homem.

(ASSIS, M. In: SANTOS, J .F. As cem melhores crônicas brasileiras. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2007)

Um dos traços fundamentais da vasta obra literária de Machado de Assis reside na


preocupação com a expressão e com a técnica de composição. Em O nascimento
da crônica, Machado permite ao leitor entrever um escritor ciente das características
da crônica, como:

A) Texto breve, diálogo com o leitor e registro pessoal de fatos do cotidiano.


B) Texto ficcional curto, linguagem subjetiva e criação de tensões.
C) Priorização da informação, linguagem impessoal e resumo de um fato.
D) Linguagem literária, narrativa curta e conflitos internos.
E) Síntese de um assunto, linguagem denotativa, exposição sucinta.
GABARITO

1- A
2- A
3- A
4- A

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