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1- (Enem 2020) — É possível afirmar que muitas expressões idiomáticas transmitidas pela
cultura regional possuem autores anônimos, no entanto, algumas delas surgiram em
consequência de contextos históricos bem curiosos. “Aquele é um cabra da peste” é um
bom exemplo dessas construções.
Para compreender essa expressão tão repetida no Nordeste brasileiro, faz-se necessário
voltar o olhar para o século 16. “Cabra” remete à forma com que os navegadores
portugueses chamavam os índios. Já “peste” estaria ligada à questão da superação e
resistência, ou mesmo uma associação com o diabo. Assim, com o passar dos anos,
passou-se a utilizar tal expressão para denominar qualquer indivíduo que se mostre
corajoso, ou mesmo insolente, já que a expressão pode ter caráter positivo ou negativo.
Aliás, quem já não ficou de “nhenhe-nhém” por aí? O termo, que normalmente tem
significado de conversa interminável, monótona ou resmungo, tem origem no tupi-guarani e
“nhém” significa “falar”.
Ana Rosa cresceu; aprendera de cor a gramática do Sotero dos Reis; lera alguma coisa;
sabia rudimentos de francês e tocava modinhas sentimentais ao violão e ao piano. Não era
estúpida; tinha a intuição perfeita da virtude, um modo bonito, e por vezes lamentara não
ser mais instruída. Conhecia muitos trabalhos de agulha; bordava como poucas, e dispunha
de uma gargantazinha de contralto que fazia gosto de ouvir.
Uma só palavra boiava à superfície dos seus pensamentos: "Mulato". E crescia, crescia,
transformando-se em tenebrosa nuvem, que escondia todo o seu passado. Ideia parasita,
que estrangulava todas as outras ideias.
— Mulato!
Esta só palavra explicava-lhe agora todos os mesquinhos escrúpulos, que a sociedade do
Maranhão usara para com ele. Explicava tudo: a frieza de certas famílias a quem visitara; as
reticências dos que lhe falavam de seus antepassados; a reserva e a cautela dos que, em
sua presença, discutiam questões de raça e de sangue.
Mas, leitor amigo, esse meio é mais velho ainda do que as crônicas, que apenas
datam de Esdras. Antes de Esdras, antes de Moisés, antes de Abraão, Isaque e
Jacó, antes mesmo de Noé, houve calor e crônicas. No paraíso é provável, é certo
que o calor era mediano, e não é prova do contrário o fato de Adão andar nu. Adão
andava nu por duas razões, uma capital e outra provincial. A primeira é que não
havia alfaiates, não havia sequer casimiras; a segunda é que, ainda havendo-os,
Adão andava baldo ao naipe. Digo que esta razão é provincial, porque as nossas
províncias estão nas circunstâncias do primeiro homem.
(ASSIS, M. In: SANTOS, J .F. As cem melhores crônicas brasileiras. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2007)
1- A
2- A
3- A
4- A