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Questões de Literatura – ENEM 2023

UNEB campus X
ALUNO(A)________________________________________________________________________________

PROFESSORA: Bárbara Rodrigues DATA: _________________

(Questão 1) Duma pitada de morte se reforce,


Exmº Sr. Governador: Trago a V. Exa. um resumo dos Que um amor de poeta assim requer.
trabalhos realizadospela Prefeitura de Palmeira dos
Índios em 1928. SARAMAGO, J. Os poemas possíveis. Alfragide: Caminho,
1997.
[…] ADMINISTRAÇÃO
Os gêneros textuais caracterizam-se por serem
Relativamente à quantia orçada, os telegramas relativamente estáveis e podem reconfigurar-se em
custaram pouco. De ordinário vai para eles dinheiro função do propósito comunicativo. Esse texto
considerável. Não há vereda aberta pelos matutos que constitui uma mescla de gêneros, pois
prefeitura do interior não ponha no arame. proclamando
a) introduz procedimentos prescritivos na composição
que a coisa foi feita por ela; comunicam-se as datas
do poema.
históricas ao Governo do Estado, que não precisa disso;
todos os acontecimentos políticos são badalados. b) explicita as etapas essenciais à preparação de uma
Porque se derrubou a Bastilha – um telegrama; porque receita.
se deitou pedra na rua – um telegrama; porque o
deputado F. esticou a canela – um telegrama. Palmeira c) explora elementos temáticos presentes em uma
dos Índios, 10 de janeiro de 1929. receita.
GRACILlANO RAMOS RAMOS, G.Viventes das Alagoas .São d) apresenta organização estrutural típica de um poema.
Paulo: Martins Fontes, 1962.
e) utiliza linguagem figurada na construção do poema.
O relatório traz a assinatura de Graciliano Ramos, na
época, prefeito de Palmeira dos Índios, e é destinado
ao governo do estado de Alagoas. De natureza
(Questão 3)
oficial, o texto chama a atenção por contrariar a
norma prevista para esse gênero, pois o autor — Recusei a mão de minha filha, porque o senhor
é...filho de uma escrava.
a) emprega sinais de pontuação em excesso.
— Eu?
b) recorre a termos e expressões em desuso no
português. — O senhor é um homem de cor!... Infelizmente esta é
a verdade...
c) apresenta-se na primeira pessoa do singular, para
conotar intimidade com o destinatário. Raimundo tornou-se lívido. Manoel prosseguiu, no fim
de um silêncio:
D) privilegia o uso de termos técnicos, para demonstrar
conhecimento especializado. — Já vê o amigo que não é por mim que lhe recusei Ana
Rosa, mas é por tudo! A família de minha mulher sempre
e) expressa-se em linguagem mais subjetiva, com forte
foi muito escrupulosa a esse respeito, e como ela é toda
carga emocional.
a sociedade do Maranhão! Concordo que seja uma
asneira; concordo que seja um prejuízo tolo! O senhor,
porém, não imagina o que é por cá a prevenção contra
(Questão 2) Receita os mulatos!... Nunca me perdoariam um tal casamento;
além do que, para realizá-lo, teria que quebrar a
Tome-se um poeta não cansado, promessa que fiz a minha sogra, de não dar a neta
Uma nuvem de sonho e uma flor, senão um branco de lei, português ou descendente
direto de portugueses!
Três gotas de tristeza, um tom dourado,
AZEVEDO, A. O mulato. São Paulo: Escala, 2008.
Uma veia sangrando de pavor.
Influenciada pelo ideário cientifista do Naturalismo,
a obra destaca o modo como o mulato era visto pela
Quando a massa já ferve e se retorce sociedade de fins do século XIX. Nesse trecho,
Manoel traduz uma concepção em que a
Deita-se a luz dum corpo de mulher,
a.) miscigenação racial desqualificava o indivíduo.
b.) condição econômica anulava os conflitos raciais. trazia o velho escovado e liso, cerzido, abotoado, de
uma elegância pobre e modesta. Era lido, posto que de
c.) discriminação racial era condenada pela sociedade. atropelo, o bastante para divertir ao serão e à
d.) escravidão negava o direito da negra à maternidade. sobremesa, ou explicar algum fenômeno, falar dos
efeitos do calor e do frio, dos polos e de Robespierre.
e.) união entre mestiços era um risco à hegemonia dos Contava muita vez uma viagem que fizera à Europa, e
confessava que a não sermos nós, já teria voltado para
brancos. lá; tinha amigos em Lisboa, mas a nossa família, dizia
ele, abaixo de Deus, era tudo.
(Questão 4) Capítulo lll Machado de Assis, Dom Casmurro.
Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, No texto, o narrador diz que José Dias “sabia opinar
enquanto lhe deitava açúcar, ia disfarçadamente obedecendo”. Considerada no contexto da obra, essa
mirando a bandeja, que era de prata lavrada. Prata, característica da personagem é motivada,
ouro, eram os metais que amava de coração; não principalmente, pelo fato de José Dias ser
gostava de bronze, mas o amigo Palha disse-lhe que era
matéria de preço, e assim se explica este par de figuras a.um homem culto, porém autodidata.
que aqui está na sala: um Meflstófeles e um Fausto.
b.homeopata, mas usuário da alopatia.
Tivesse, porém, de escolher, escolheria a bandeja, -
primor de argentaria, execução fina e acabada. O criado c.pessoa de opiniões inflexíveis, mas também um
esperava teso e sério. Era espanhol; e não foi sem homem naturalmente cortês.
resistência que Rubião o aceitou das mãos de Cristiano;
por mais que lhe dissesse que estava acostumado aos d.um homem livre, mas dependente da família
seus crioulos de Minas, e não queria línguas proprietária.
estrangeiras em casa, o amigo Palha insistiu,
demonstrando-lhe a necessidade de ter criados e.católico praticante e devoto, porém perverso.
brancos. Rubião cedeu com pena. O seu bom pajem, (Questão 6) Nunca tinha ido ao teatro, e mais de uma
que ele queria por na sala, como um pedaço da vez, ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi-lhe
província, nem o pode deixar na cozinha, onde reinava que me levasse consigo. Nessas ocasiões, a sogra fazia
um francês, Jean; foi degradado a outros serviços. uma careta, e as escravas riam à socapa; ele não
ASSIS, M. Ouincas Borba. In: Obra completa. V.1. Rio de respondia, vestia-se, saía e só tornava na manhã
Janeiro: Nova Aguilar, 1993 (fragmento). seguinte. Mais tarde é que eu soube que o teatro era um
eufemismo em ação. Meneses trazia amores com uma
Quincas Borba situa-se entre as obras-primas do senhora, separada do marido, e dormia fora de casa
autor e da literatura brasileira. No fragmento uma vez por semana. Conceição padecera, a princípio,
apresentado, a peculiaridade do texto que garante a com a existência da comborça; mas, afinal, resignara-
universaIização de sua abordagem reside se, acostumara-se, e acabou achando que era muito
direito.
a.)no conflito entre o passado pobre e o presente rico,
que simboliza o triunfo da aparência sobre a essência. ASSIS, M. et al Missa do galo: variações sobre o mesmo tema.
São Pauto: Summus, 1977 (fragmento).
b.no sentimento de nostalgia do passado devido à
substituição da mão de obra escrava pela dos No fragmento desse conto de Machado de Assis, "ir
imigrantes. ao teatro" significa "ir encontrar-se com a amante".
O uso do eufemismo como estratégia argumentativa
c.na referência a Fausto e Meflstófeles, que significa
representam o desejo de eternização de Rubião.
a.) exagerar quanto ao desejo em "ir ao teatro".
d.na admiração dos metais por parte de Rubião. Que
metaforicamente representam a durabilidade dos bens b.) personificar a prontidão em "ir ao teatro".
produzidos pelo trabalho.
c.) esclarecer o valor denotativo de "ir ao teatro".
e.na resistência de Rubião aos criados estrangeiros, que
reproduz o sentimento de xenofobia. d.) reforçar compromisso com o casamento.
e.) suavizar uma transgressão matrimonial

(Questão 5) [José Dias] teve um pequeno legado no


testamento, uma apólice e quatro palavras de louvor. (Questão 7) O bonde abre a viagem,
Copiou as palavras, encaixilhou-as e pendurou-as no
quarto, por cima da cama. “Esta é a melhor apólice”, No banco ninguém,
dizia ele muita vez. Com o tempo, adquiriu certa
autoridade na família, certa audiência, ao menos; não Estou só, ‘stou sem.
abusava, e sabia opinar obedecendo. Ao cabo, era
amigo, não direi ótimo, mas nem tudo é ótimo neste
mundo. E não lhe suponhas alma subalterna; as Depois sobe um homem,
cortesias que fizesse vinham antes do cálculo que da
índole. A roupa durava-lhe muito; ao contrário das No banco sentou,
pessoas que enxovalham depressa o vestido novo, ele
Companheiro vou. a.) que se misturaram em grandes adultérios!
O bonde está cheio, b.) O vento desarruma os teus cabelos soltos
De novo porém c.) As florestas ergueram braços peludos para esconder-
te
Não sou mais ninguém.
d.) e então te entregas à água preguiçosamente,
ANDRADE, M. Poesias completas. Belo Horizonte: Vila Rica,
1993. e.) E erras sem rumo assim, pelas beiras do rio,
O desenvolvimento das grandes cidades e a
consequente concentração populacional nos centros (Questão 9) Vei, a Sol
urbanos geraram mudanças importantes no
comportamento dos indivíduos em sociedade. No Ora o pássaro careceu de fazer necessidade, fez e o
poema de Mário de Andrade, publicado na década de herói ficou escorrendo sujeira de urubu. Já era de
1940, a vida na metrópole aparece representada pela madrugadinha e o tempo estava inteiramente frio.
contraposição entre a Macunaíma acordou tremendo, todo lambuzado. Assim
mesmo examinou bem a pedra mirim da ilhota para vê
A.a solidão e a multidão. si não havia alguma cova com dinheiro enterrado. Não
havia não. Nem a correntinha encantada de prata que
B.a carência e a satisfação.
indica pro escolhido, tesouro de holandês. Havia só as
C.a mobilidade e a lentidão. formigas jaquitaguas ruivinhas.

D.a amizade e a indiferença Então passou Caiuanogue, a estrela da manhã.


Macunaíma já meio enjoado de tanto viver pediu pra ela
E. a mudança e a estagnação. que o carregasse pro céu.
(Questão 8) Tapuia Caiuanogue foi se chegando porém o herói fedia muito.
As florestas ergueram braços peludos para esconder-te - Vá tomar banho! - ela fez. E foi-se embora.
com ciúmes do sol. Assim nasceu a expressão "Vá tomar banho" que os
brasileiros empregam se referindo a certos imigrantes
E a tua carne triste se desabotoa nos seios, europeus.
recém-chegados do fundo das selvas. ANDRADE, M. Macunaíma: o herói sem nenhum
Pararam no teu olhar as noites da Amazônia, mornas e caráter. Rio de Janeiro: Agir, 2008.
imensas. O fragmento de texto faz parte do capítulo VII,
No teu corpo longo intitulado "Vei, a Sol" do livro Macunaíma, de Mário
de Andrade, pertencente à primeira fase do
ficou dormindo a sombra das cinco estrelas do Cruzeiro. Modernismo brasileiro. Considerando a linguagem
empregada pelo narrador, é possível identificar
O mato acorda no teu sangue
sonhos de tribos desaparecidas a.) resquícios do discurso naturalista usado pelos
escritores do século XIX.
– filha de raças anônimas
b.) ausência de linearidade no tratamento do tempo,
que se misturaram em grandes adultérios! recurso comum ao texto narrativo da primeira fase
modernista.
E erras sem rumo assim, pelas beiras do rio,
c.) referência à fauna como meio de denunciar o
que teus antepassados te deixaram de herança primitivismo e o atraso de algumas regiões do país.
O vento desarruma os teus cabelos soltos d.) descrição preconceituosa dos tipos populares
e modela um vestido na intimidade do teu corpo exato. brasileiros, representados por Macunaíma e
Caiuanogue.
À noite o rio te chama
e.) uso da linguagem coloquial e de temáticas do
e então te entregas à água preguiçosamente, lendário brasileiro como meio de valorização da cultura
popular nacional.
como uma flor selvagem
ante a curiosidade das estrelas.
(Questão 10)
(Raul Bopp apud Mário da Silva Brito. “Tapuia”. In:
Poesia do Modernismo, 1968.) Quando Deus redimiu da tirania

A metáfora é uma figura de linguagem em que um Da mão do Faraó endurecido


termo substitui outro, em vista de uma relação de
semelhança entre os elementos designados por tais O Povo Hebreu amado, e esclarecido,
termos. Essa figura ocorre no verso: Páscoa ficou da redenção o dia.
Páscoa de flores, dia de alegria
Àquele Povo foi tão afligido
O dia, em que por Deus foi redimido;
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia.
Pois mandado pela alta Majestade
Nos remiu de tão triste cativeiro,
Nos livrou de tão vil calamidade.
Quem pode ser senão um verdadeiro Deus,
que veio estirpar desta cidade
O Faraó do povo brasileiro.
DAMASCENO, D. (Org.). Melhores poemas: Gregório de Matos. São
Paulo: Globo, 2006.

Com uma elaboração de linguagem e uma visão de


mundo que apresentam princípios barrocos, o
soneto de Gregório de Matos apresenta temática
expressa por
a.) visão cética sobre as relações sociais.
b.) preocupação com a identidade brasileira.
c.) crítica velada à forma de governo vigente.
d.) reflexão sobre os dogmas do cristianismo.
e.) questionamento das práticas pagãs na Bahia.

ANOTE AQUI O GABARITO:

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