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BASTIDORES: UM ESPETÁCULO FORA DE CENA

CENA 1- PLATEIA.

(LUISA em cena com Rudá no palco)

LUISA- Boa noite! Eu sou (inventa uma função relacionada ao teatro).


RUDÁ- Eu também sou artista, mas ainda não estou criando nada.
LUISA- Bem...Essa peça é... Essa peça...
RUDÁ- O que vocês vão ver hoje... Não me levem a mal... Sabe quando tudo parece que vai dar errado? O
elenco esquece o texto e as marcas, um dos Atores adoece, acontecem problemas com o figurino, na
maquiagem, no som, enfim… em tudo! Sejam bem-vindos ao universo da estreia! Não importa o tempo de
carreira, não importa a idade, aliás, não importa nada, estreia é estreia e tudo pode acontecer…
LUISA- (Noutro tom) Trabalhar com grupo é difícil, viu? Eu entrei achando que seria uma troca saudável,
uma conversa amistosa. Eu até aceito as dinâmicas (que detesto) mas eu sinto que não há afeto...
RUDÁ- É que nem todo mundo tem talento para estar em grupo. As pessoas têm dificuldade de expressar
o que sente...
LUISA- Minha vontade mesmo era...
RUDÁ- É melhor a gente ir andando... Daqui a pouco vão achar que estamos nos aproveitando, querendo
uns minutinhos de fama.
OS DOIS- Bom espetáculo!

AMIGA 1- oxe...
AMIGA 2- Que foi?
AMIGA 1- Que doideira.
AMIGA 2- Que doidera o que?
AMIGA 1- To impressionada, parece que o negócio tá acontecendo aqui na minha frente agora. Que
tecnologia doida! Amiga, as roupinhas, cabelo, tudo parece gente que nem gente assim...
AMIGA 2- Amiga, você está atrapalhando a peça.
AMIGA 1- É que eu porque eu sinto que se eu esticar minha mão eu vou tocar neles...
AMIGA 2- Você vai.
AMIGA 1- Mentira! Sério? (sobe no palco) Eitaaaa! Car****** Eitaaa!
AMIGA 2- Bianca... Bianca!

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AMIGA 1- Gente olha esse figurino. Perfeito! É pele sintética? Meu Deus, que loucura, cara que surto isso...
Olha essa maquiagem. Nossa, que trabalho bem-feito, amiga! E é 360°. (toca no braço de um ator que
empurra ela) e ainda é 4D.
AMIGA 2- Sai daí, Bianca!
RUDÁ- Produção, tira ela daqui!

AMIGA 1- Gente, melhor que Disney! Eu quero ser artista também!!!!

(Não saem de cena. Entra a diretora ignorando que são pessoas da plateia)

CENA 2- AUDIÇÃO

HELENA- Então, vocês vieram para a seleção de Atores para o próximo espetáculo. Muito bem, vocês estão
aqui porque foram indicados, disseram que vocês são grandes Atores, só esqueci os nomes…

Atores Falam juntos os seus nomes.

HELENA – (se referindo a um dos Atores) Estava analisando aqui 4 currículos... Excelente, hein?

RUDÁ – Desculpa, eu tenho uma vasta experiência.

RAFA- Eu fiz 2 espetáculos no colégio.

LIZ- É... Eu descobri que o teatro é a minha vida. Eu tenho uma página no Tik Tok. Eu canto desde os 3 anos
pra minha família. Eu nunca... (RUDÁ interrompe a Liz)

RAI- Olha, eu não tenho interesse...

HELENA – Bem...Nilson fez Dramadanza, Foco- usina de arte Cênica...

LUISA– Eu fiz Wolf Maia.

GABI- Novos Arteiros...

HELENA – E pelo que vejo aqui trabalhou com Augusto Boal no teatro do oprimido.

LUISA – Gerald Thomas, Abujamra..

LIZ- Eu não tenho artista na minha família, mas a tia dela trabalhou numa peça bem legal.

RAI- (sem graça) Ér, ela era modelo.


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HELENA – Muito bom, tudo muito ótimo. Bom, vamos lá! Vocês leram o texto?

BELA– Pra ser sincera não olhei.

NILSON- Vou dar uma olhada agora.

RAI- Eu, quer dizer, nós não recebemos.

GABI- Eu vou ver se chegou no meu email.

BELA– Diretora, é isso que você chama de artistas profissionais?

(Diretora entrega uma cópia do texto e os Atores olham o texto e percebem que se trata de um texto ruim)

LIZ- Amei esse texto!

RAFA- Tem quantas páginas?

BELA – Me desculpem, ta? Mas eu sou uma atriz séria, eu fiz Shakeaspeare, fiz Nelson Rodrigues, Plinio
Marcos...

RUDÁ- Esse texto é de Martins Pena?

LIZ- Martina Pimenta? Eu conheço! Uma ótima professora!

RAI- Cala a boca, amiga!

NILSON – Então, é isso aí.

HELENA – Olha só, vocês estão aqui por indicação. Se estão insatisfeitos com o texto, não é problema meu.

RUDÁ – Mas pode ter certeza de que eu vou reclamar, é um absurdo isso.

GABI- Um absurdo! Pra quem a gente reclama? Produção!

BELA – Isso é ridículo, eu fiz Macbeth, Hamlet, peças clássicas...

HELENA – Então tá ótimo, você já pode sair, boa tarde pra você, tá dispensado, eu vou arrumar outros
Atores. Ah, Esqueci de dizer que o cachê será muito bom, 600 reais!

RAI- Estou pronta!

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RUDÁ – Tudo bem, vamos ler então.

LIZ- Onde assino o contrato?

NILSON – Podemos agendar logo as datas dos ensaios?

LUISA – Ok...Já to com o texto aberto aqui, tá bom?

BELA- Já quero ensaiar o meu monologo.

HELENA - Perfeito! Vejo vocês amanhã!

CENA 3- INÍCIO DOS ENSAIOS.

(Atores chegam para mais um dia de ensaio. Um Vai até o palco, senta-se numa cadeira, pega o texto e
começa a folheá-los. Outro depois de algum tempo fica impaciente. Um Retira um aparelho celular do
bolso e olha as horas. Cada um fazendo uma ação)

NILSON - Todo mundo atrasado! Engraçado é que todos deram a certeza de que não se atrasariam pro
ensaio hoje... (Espera durante um bom tempo) não aguento mais... Pra mim foi a gota d’água! (Fica de pé)
Não dá mais, tô cansado de trabalhar com amador!

LUISA- É, depois chegam dizendo (Imitando alguém) “Pode deixar, diretor vou atuar como se minha vida
dependesse disso!” “Ah, meu sonho sempre foi ser atriz, amanhã eu estou aqui pra dar tudo de mim!”

LIZ- Uma atriz que não sabe nem lê direito e sonha em trabalhar na novela das oito! Nem sabe o que é
teatro!

RUDÁ - Mas isso é comum, basta falar em ser ator e quase todo mundo pensa em novela ou pior ainda, em
malhação... (Em outro tom) Gente, a coisa mais difícil de entender, apreciar nesse país é o teatro! Fazer
então e quase impossível!

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LUISA- Vocês podem achar que eu estou exagerando, mas não, não é exagero nenhum. Quando vocês
virem uma peça de teatro por aí, assistirem de fato um espetáculo podem sair dizendo que viram um
milagre.

RUDÁ- É necessária tanta coisa pra se fazer uma peça de teatro que se torna quase impossível montar
uma!

NILSON- O ensaio é pra começar as sete, o primeiro ator que vem, chega às sete e meia, vem outro oito,
outro oito e quarenta e mais outro nove... Dez horas o elenco todo tá reunido, mas o que chegou sete e
meia precisa ir embora. Tem como?

RUDÁ- Mas acho que o culpado de tudo é a diretora... Ela ainda fica dando uma chance a essa gente
ingrata! Eu, um cara com um currículo artístico que só pode ser apreciado e compreendido num lugar onde
as pessoas tenham um mínimo de conhecimento, ficar se sujeitando a isso.

CENA 4- CAMARIM

GABI- Oi, você poderia me dizer... Não acredito! Que incrível! Não tenho palavras! Saiba que é um grande
prazer estar com uma atriz tão genial. Acompanho sua carreira com o maior entusiasmo!
BELA- O que quer? Um autógrafo, é isso?
GABI- Bem... Quer dizer, aceito seu autógrafo, mas... Não é bem por isso que... Quer dizer... Estou aqui
para fazer a audição...
BELA - Toda a imprensa já sabe que para falar comigo só com hora marcada! Que coisa! Estou me
preparando para o teste.
GABI - Não está me reconhecendo? A gente fez a primeira fase da audição juntas, há um mês.
BELA - (sem se lembrar, querendo ver-se livre) Ahhh tudo bem? A quanto tempo? Qualquer hora a gente se
vê e conversa com mais calma, tá?
GABI - Poxa você não se lembrou! Meu nome artístico é ...
BELA - (sem convicção) Me lembro sim...
GABI- Não, você não está lembrando...
BELA- lembro sim... A gente fez a audição juntas, no mesmo horário, naquele teatro lá.
GABI - Poxa, você ainda não se lembrou.
BELA - Já disse que lembrei!

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GABI - Então, cadê o meu abraço?
BELA - (constrangida, abraça-o) Como vão a coisas?
GABI - Se melhorar estraga. Mas, com essa chance que a diretora está me dando na companhia, não posso
pretender mais nada.
BELA - Chance???
GABI - Será uma honra pra mim.
BELA - Não estou entendendo.
GABI- Falo do papel que a diretora tem pra mim.
BELA- Papel??? Desculpa, mas você chegou atrasada... Você é atriz?
GABI - Viu como não tinha me reconhecido? A muitos anos que luto pelo teatro nacional.
BELA - Mas... Em que peças trabalhou?
GABI - Quer saber todas? É impossível.
BELA - Não, só as mais importantes.
GABI- Modéstia parte, foram tantas...
BELA - Você deve trabalhar sempre muito maquiada, né? Fala pelo menos uma!
GABI- Seria indelicado. Você sabe como são nossos colegas. Então, sobre o papel...
BELA - A coisa não é bem assim... Já temos 6 candidatos, inclusive com tipos físicos mais adequados...E,
depois, eu nunca o vi no palco...
GABI - Está me vendo no palco agora. (faz alguma coisa)
BELA - (Ela ri desdenhosamente)
GABI - Se você está rindo, imagine o público? Quando subo no palco é um delírio!
BELA - Que gracinha.
GABI- Na minha última apresentação, o público riu tanto, que teve gente que se mijou, nem pude acabar o
espetáculo. (vai desanimando) Teve gente que desmaiou de tanto rir. Mas como é mesmo a próxima peça?
BELA - Olhe, não é querendo te desanimar, mas a diretora é muito exigente.
GABI - (representa um personagem)
BELA - Mas o que é isso?
GABI - Um tipo misterioso engraçado.
BELA - Não sou palhaça. Sou uma atriz.
GABI -E qual a diferença?
BELA - Isso não é misterioso. É desconfiada. Misterioso é isso. (mostra)
GABI - Agora, veja “a que pensa que sabe tudo”.

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BELA - Teatro precisa de alma. Sabe, seu empenho merece até uma chance. Vi no roteiro que existe um
pequeno papel e acho que você faria muito bem... Na hora que a personagem, (com fé), será interpretada
por mim, vai passear no bosque. Você poderia fazer o papel da árvore.
GABI - Esse é o papel que você acha que eu posso fazer?
BELA - Pode ser, mas... Eu acho que você terá que fazer mais alguns testes.

CENA 5- O ESPETÁCULO

RUDÁ – Nossa, melhorou bastante esse texto.

BELA- Obrigada! A gente só passou 1 vez o texto. Agora posso dizer que estou preparada.

HELENA – Vamos lá! Em seus lugares, Atores. Passagem do texto para afinação da luz. Faltam 2 horas para

nossa tão esperada estreia.

GABI- Vai passar o ensaio com o figurino?

HELENA- Não! O figurino só vai chegar daqui a 1 hora. Vamos lá... 5,6,7, 8...

RAFA – A companhia de teatro “Vai que dá” apresenta: Branca de neve e os sete anões. Em uma cidade

grande... Bela entra e interrompe.

BELA- Não, deixa eu ver se entendi. Você que vai narrar?

RAFA - Sim, porque?

BELA - Só pode ser piada isso, você fazer narração com essa voz ridícula? Me dá isso aqui que eu leio.

Senhoras e senhores, A companhia de teatro “Vai que dá”, orgulhosamente apresenta: Branca de Neve e

Sete anões. Com vocês, eles, que estão recém-chegados de Dubai, Do bairro de Castelo white. Branca de

neve e os sete anões. Em uma cidade grande, chamada Belmiro Braga. Vivem em plena harmonia, Branca

de neve e a sua madrasta. Mas tudo muda, quando um dia a Madrasta resolve matar branca de neve que

imediatamente foge para uma cidade maior, chamada, Chácara.

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Entram no palco, primeiro o espelho e logo em seguida a madrasta.

LUISA - Espelho, espelho meu. Existe alguém mais bela do que eu?

RUDÁ - Opaaa, o que que isso. Rs... Assim, Você quer sinceridade? Ou podemos dizer realmente o que

pensamos nessa peça?

HELENA - Rudá, a gente combinou que era pra fazer igual o roteiro.

RUDÁ - Sim! Mas é que pensei que como a gente está em um mundo moderno, podemos dizer a verdade,

mostrar um lado mais realista da coisa.

HELENA - Mas no roteiro diz que você tem que dizer que a branca de neve é a moça mais bela e não a

madrasta com cara de harmonização facial.

RUDÁ – Eu entendi! É que queria ser um pouco mais engraçado mesmo mais verdadeiro. Porque se for pra

falar a realidade, essa madrasta ta desaplaudida coitada. Olha esse cabelo, parece a noiva do Chuck, essa

pele toda esticada igual da Ana Maria Braga. Na boa, colocar a (Luisa) pra fazer o papel de Madrasta

Bonita, foi (Algazarra)! Feia demais! Se isso fosse real e ela perguntasse se existe alguém mais bela do que

ela, acho que esse espelho quebrava na hora, explodia na cara dela.

HELENA – Pois é, mas não temos dinheiro para contratar influencers.

LUISA – Se pensarmos que, você me paga R$ 600,00 pra fazer esse papel ridiculo, e se dividíssemos esse

valor pela hora trabalhada, seria um favor que você me faria de me substituir.

HELENA – Rudá e Luisa, por favor, fiquem quietos e façam a parte de vocês, entenderam?

RUDÁ - É para responder? Porque você falou que é para eu ficar quieto.

GABI– Já está na minha hora?

HELENA – Ai minha mãe, minha senhora!

LUISA – Diga!

HELENA – Dizer o que, Madrasta! Só falei minha nossa Senhora... Caçadora, não falei que você iria entrar

só quando ela te chamar?

RAFA - Eu sei. É que eu achei que era agora!

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HELENA – Não, caçadora! Você não está vendo que estou discutindo ainda a parte da Madrasta?

caçadora olhando pra madrasta

RAFA– Nossa! Ficou incrível essa maquiagem de madrasta senior, hein!

RUDÁ – Madrasta senior? (todos riem)

HELENA – Elenco! Caçadora vai lá para trás, na hora que ela chamar a CAÇADORA, você entra.

RAFA – Está bom, (vai saindo do palco, mas retorna de supetão). Aqui, eu estou apertada para ir ao

banheiro, será que dá tempo?

HELENA - (desanimado) Dá, dá. Só não demora! Em 2 horas estreamos o espetáculo.

RAFA – (importunando)Deixa comigo, não quero atrapalhar a peça não.

GABI- Senhora diretora, eu sei que você está gastando muito dinheiro nessa produção, seria injusto eu

atrapalhar. Essa parte eu entendi... Mas quando for a minha hora de entrar você me avisa?

HELENA – (com toda a calma do mundo) Você já está atrapalhando. Some!

HELENA - Vamos recomeçar então? Que dificuldade!

LUISA – Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?

RUDÁ (com olhos fechados) – Você é bela, Rainha, isso é verdade, tem entrado na melhor idade com muito

esmero. Mas Branca de Neve possui mais beleza!

LUISA - Como assim? Isso não é verdade. Todos aguardam Branca de neve entrar. E por alguns segundos,

ninguém aparece.

LUISA - Quando ela chegar você verá que BRANCA DE NEVE não é mais bela do que eu.

HELENA – Tá fogo hein, moçada. Cadê a Branca de neve que já era para ter entrado?

Entra NILSON vestido ridiculamente de Branca de neve e comendo uma maçã.

HELENA - Ô Nilson que (algazarra) é essa? Qual a parte do “BRANCA DE NEVE” você não entendeu?

NILSON - É que a Bela não está se sentindo bem, então ela pediu pra eu fazer o papel dela...

HELENA – (interrompendo) Essa maçã era pra ela comer lá no meio da peça. Você está comendo a maçã,

sendo que essa é a única que compramos para estreia.

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NILSON – Poh, “tava” morrendo de fome! Não tinha nada para eu comer no camarim.

HELENA – Pronto, agora você estragou a cena que seria ela comendo a maça.

NILSON – Foi mal. Se for o caso acho outra ou entra a caçadora no lugar...

Entra novamente a CAÇADORA (lendo o papel, porque não decorou o texto), dirigindo a palavra a Branca

de neve.

RAFA - Mandou me chamar, minha rainha?

NILSON – Eu? Ta doida?

HELENA - Você escutou alguém CHAMAR a CAÇADORA? Você só entra quando a madrasta disser, “tragam

a caçadora até mim”, você ouviu alguém dizer isso?

RAFA - Não mano, mas eu pensei que fosse minha vez já. Escutei alguém falar CAÇADORA. Muito chato

brincar de fazer teatro, nunca chega a minha vez.

RUDÁ- Vamos continuar já que a atriz está enrolada lá atrás?

HELENA- Então vamos pular essa parte e ir para a parte dos anões na floresta. Nilson, você conseguiu os 7

anões?

NILSON – Então, foi bom você tocar nesse assunto. Anão, não é uma coisa assim tão fácil de arrumar, não

é? Na realidade você não sai na rua pensando, “nossa, vou pegar 7 anões aqui e vou levar pra casa”. Não é

tão fácil de arrumar assim.

HELENA – (sátira)Muito bem pensado da sua parte, “não tem anão, vou colocar Rai, Já que ela não entra

nessa cena”. Que gênio você! Como vamos fazer a peça, sem Madrasta bonita, Sem A Branca de neve e

Sem os Anões. Não sei se vocês sabem, a peça chama, Branca de neve e os 7 anões.

GABI e LIZ- Tá demorando muito essa peça.

RAFA – Diretor, Quem eu vou matar mesmo?

HELENA - Eu desisto! Essa peça não sai!

GABI – Galera, na moral, impossível fazer peça com vocês. Vocês não decoram texto, vestem personagem

dos outros, será que é tão difícil entender? (Bela volta pra cena)

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BELA – Foi bom você tocar nesse assunto. Estamos querendo sair da peça.

RAFA – Estamos, quem?

LIZ – Todo mundo!

TODOS- Até você?

HELENA – (Olha pra todo mundo e ninguém fala nada, por último, olha pra Rudá) Até você, Rudá?

RUDÁ – Uai, diretora.

BELA – Eu dando aqui meu sangue para a gente fazer essa peça e fazer turnê pelo Brasil e vocês

Arquitetando tudo.

RAI – Fala sério Bela, essa peça é chata pra caramba!

GABI - Só na sua cabeça que a gente ia fazer sucesso fazendo peça infantil de Branca de Neve.

LUISA – Mais da metade do grupo nem estava atuando. Só fazendo trabalho de contrarregra, iluminador

ou sonoplasta.

RAFA – Todo mundo vai sair do grupo?

LIZ – Logo agora que eu iria estrear minha primeira peça profissional de teatro.

RAI- Não gente, vamos conversar e tentar melhorar isso. Vamos analisar o que está de errado?

RUDÁ - Você ainda pergunta? A Luisa como madrasta já começou errado.

NILSON - Calma gente, tudo vai dar certo. O que vocês sugerem?

GABI - Quem sabe se a gente esquecer esse negócio de fábula e mudamos o gênero do texto?

(Todos olhando um para os outro e concordando: “é verdade.. tem razão”)

NILSON - Pode ser, mas eu quero um papel maneiro hein, senão eu estou fora.

BELA - E se a gente fizesse um drama, tipo Machado de Assis.

Nesse momento BELA se ajoelha no chão e diz: ser ou não ser, eis a questão.

LUISA - Isso é Shakespeare, jesus!

RAFA - Por mim, a gente faria a branca de neve mesmo.

LIZ - e se a gente fizesse um musical?

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RUDÁ – Isso, musical é ótimo, eu sei imitar o Michael Jackson perfeitamente.

RAI – É mesmo, o Rudá imita muito o Michael Jackson.

RUDÁ- Isso é teatro!

LUISA - E se a gente fizer algo mais maneiro, revolucionário, tipo uma ficção cientifica, com alguns efeitos

especiais, futurista, tiros.... (EU SOU SEU PAI)

HELENA - Aaaaa e a gente tem muito recuso mesmo né.

LIZ- GENTEEE, a gente não consegue fazer uma branca de neve e vocês estão querendo fazer um STAR

WARS?

GABI - Não! Perai! Terror ou suspense é uma boa hein, está na moda.

BELA - Até que a pedida é boa hein.

RAFA – Podíamos fazer Romeu e Julieta.

RAI – Melhor fazermos um musical!

LUISA – Eu tenho uma ideia. Já que não temos uma unanimidade, cada grupo escolherá um trecho de uma

peça que querem encenar. Vamos RUDÁ que se preze faz qualquer papel.

RUDÁ – Porque não improvisamos?

NILSON - Eu não estou pronto!

RAI – Gente, por que não paramos com tudo isso e continuamos a fazer o que o público gosta de ver?

LIZ- (olham pra plateia) E o que é que o público gosta de ver?

TODOS- Ser ou não ser...

Blackout

CENA 7- MONÓLOGOS.

CENA NILSON

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O universo... Ahahahahahahaha o universo! Como se fosse necessário falar sobre a questão de se
questionar sobre o que é o universo! Ahahaha... Bom, mas como é a necessidade da maioria e diga-se de
passagem, não há nada mais prazeroso do que se esbarrar da pior forma possível na necessidade do
outro... Ah bom, então... Perdão gente. Voltando. Você ai! Sim, você mesmo... Crianças, idosos... Como é
que se chamam aqueles mesmos? Ah sim! Os adultos. Burros de carga, camaleão de estimação, ônibus
desgovernado, até mesmo a mais pura e insignificante poeira. E claro, por último mas com certeza menos
importante os adolescentes. Agora sim... Sobre o universo! Sempre que se sentirem tristes apenas se
lembrem que eu tô sempre assistindo vocês enquanto dormem! No final de tudo, o seu cérebro é só um
computador de carne em uma central de comando feita de ossos pilotando um robô feito de pele. Você
acha que o mundo faz sentido?! Nada faz sentido! Então sua mente, obviamente também não vai fazer
sentido nenhum! Pensem sobre isso!

Monólogo LUISA

Quando eu te deixar Não sinto falta do teu cheiro Enfio os meus dez dedos na
Vou levar papel em branco De perfume importado garganta
Espalhar por cada canto Que exportou de mim Pra ver se vomito teu ser
Um barco de papel Não sinto falta do teu R Da minha alma
Sei que o amor é fácil de puxado Quando eu te deixar
afogar Nem do teu beijo, gosto de Vou levar papel em branco
E se você tem um barco dente Espalhar por cada canto
Maior chance de se salvar Que morde coração Um barco de papel
Mas, ora, você partiu antes de envenenado Eu tô perdida num mar
mim Não sinto tua falta, não sinto De ondas suas
Nem me deixou barco frágil Nem lembro de você E remo sem destino
P'reu me salvar do naufrágio Nem da tua respiração Esse barco de papel
Que foi te dar meu coração ofegante Mas, ora, você partiu antes de
Por isso canto todo o poema Eu não sinto falta, eu sinto mim
em ode sua ânsia Nem me deixou barco frágil
E recorto em dobraduras Distância P'reu me salvar do naufrágio
Mais um barco de papel Do teu signo-preto Que foi te dar meu coração
Para mim Do teu silêncio-grito Por isso canto todo o poema
Não sinto tua falta Sinto ânsia e a provoco em ode sua

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E recorto em dobraduras Mais um barco de papel Para nós

MONOLOGO HELENA
Você é como um daqueles dias que começam de forma comum mas tem algo inexplicável que o torna
incomparável um dia que não se esquece que fica preso na mente um dia que não envelhece, não perde a
graça mas não se repete um daqueles dias que a gente tenta refazer mas não consegue não importa se
esse dia te faz sorrir até chorar ou chorar até sorrir... vagando na loucura esse dia é e sempre será o dia da
sua vida ecoando nas ruas de uma mente sem cura como em uma montanha russa após ir vai até final da
fila para repetir essas frases, as fases da mesma lua.

CENA GABI PAIXÃO E LUIZA


Gabi - o céu tava tão lindo ontem.
Luísa - e o céu de hoje? Luisa - o hoje tá indo embora!!!
Gabi- amanhã vai ser melhor. Gabi - ele sempre me deixa pra trás, por isso
Luisa - o ontem já se foi, ne? que eu corro tão rápido
Gabi -Tô esperando o amanhã. Luisa - luta pelo hoje
Luisa - Pra falar sobre hoje... Gabi - mas e o amanhã?
Gabi- Você não entende Luisa - deixa ele te surpreender ou
Luisa - E você não percebe decepcionar...
Gabi - O amanhã vai chegar... Gabi - e o ontem?
Luisa - E você vai continuar se perguntando Luisa - Vai continuar no mesmo lugar.
o que fez de errado.
Gabi - mas amanhã eu não vou fazer
Luisa - mas fez ontem.
Gabi - ontem foi bom, queria que voltasse...

MUSICAL- LIZ, RAFA E RAI ( vinheta)

MONÓLOGO BARBIE- BELA

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A gente sempre tem que ser extraordinária, mas de alguma forma, tá sempre fazendo errado. Tem que ser
magra, mas não demais, e nunca pode dizer que quer ser magra, tem que dizer que quer ser saudável, mas
também tem que ser magra. Tem que ter dinheiro, mas não pode pedir dinheiro, porque aí é grosseiro.
Tem que ser chefe, mas não cruel. Tem que liderar, mas não pode detonar a ideia dos outros. Você tem
que adorar ser mãe, mas não pode falar dos seus filhos o tempo todo. Você tem que ter uma carreira, mas
também tem que cuidar dos outros o tempo todo. Você é responsabilizada pelo mal comportamento dos
homens, o que é absurdo, mas se disser isso, é acusada de reclamar demais. Você tem que ser bonita pros
homens, mas nunca tanto que provoque eles e isso ameace outras mulheres, porque você tem que ser
parte da sonoridade, mas também sempre se destacar, e sempre ser agradecida; mas nunca esquecer que
o sistema é falho, ou então tem que reconhecer isso, mas estar sempre agradecida. Você nunca pode
envelhecer. Nunca ser grosseira. Nunca se exibir. Nunca ser egoísta. Nunca vacilar. Nunca falhar. Nunca
mostrar medo. Nunca passar do limite. É difícil demais, é contraditório demais, e ninguém te dá uma
medalha ou te agradece, e na verdade não é só você que faz tudo errado, mas também tudo sempre é
culpa sua. Eu tô tão cansada, de ver a mim mesma e de ver todas as outras mulheres fazendo de tudo para
que as pessoas gostem da gente. E se tudo isso for igualzinho pras bonecas que só representam mulheres,
então eu nem sei mais…

MONÓLOGO GABI
Somos presos, castrados ao terceiro toque da liberdade já nos vemos atordoados, sufocados
tudo tem um preço não tava disposta a pagar *somos livres* e a liberdade grita do alto de um
morro onde alguém nunca vai chegar a liberdade vem de baixo fica embaixo e me persegue onde
quer que eu vá ela foge e eu não alcanço feliz com a corrida mas cansada de lutar em uma
súplica tola sem resposta me diga quantas doses de arte você necessita para terminar o dia em
uma súplica tola sem resposta me diga você consegue me ouvir ou apenas se vê em minhas
palavras perdidas quem prende o pé no chão não tá disposto a pular no quinto toque da liberdade
ela vai te perguntar por mim, até a sexta badalada quanto você tá disposto a pagar?

GABI– É Verdade... Não sei quem teve essa ideia de fazer teatro.

CENA FINAL: A ESTRÉIA

RUDÁ- Sabe quando tudo parece que vai dar errado? O elenco esquece o texto e as marcas, um dos Atores
adoece, acontecem problemas com o figurino, na maquiagem, no som, enfim… em tudo! Sejam bem-
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vindos ao universo da estreia! Não importa o tempo de carreira, não importa a idade, aliás, não importa
nada, estreia é estreia e tudo pode acontecer…

GABRIELA- Na semana da estreia do espetáculo, um conselho: se benza, se cuide, alimente-se bem, faça o
mínimo de esforço para não se estressar, pois o dia da primeira apresentação é mais importante e…
caótico!

LUISA- O texto? Estude. Assim como nos grandes vestibulares, relaxe um pouco com assuntos alheios à
peça. Até parece que a gente consegue, mas não custa nada tentar…

BELA- Cada profissional tem a sua forma de exercitar a concentração pré-peça, chegando de duas a três
horas antes, relaxando com os olhos fechados, inertes e com pensamentos positivos, ou até mesmo,
limpando todo o espaço de apresentação. Mas, claro, o diretor (aquele que deve elevar sua calma ao
máximo, mas é pouco provável que isso ocorra), certamente irá passar algumas orientações e aquecimento
de corpo e voz.

RAI- Aquecimento é fundamental, pois, a personagem pode ser uma histérica e falar sem aquecer acaba
com a voz e com o corpo antes do final da peça.

NILSON- E a ansiedade? Os Atores ficam na expectativa, aguardando o público! Amigos, familiares, e


pessoas não próximas e conhecidas, a fim de um entretenimento teatral.

TODOS- Será que a casa estará cheia?

LIZ- Tentam espiar pela brecha da cortina, mas para alunos de teatro, isso é normal e saudável, porém para
Atores profissionais, nem tanto!

HELENA- Por isso, cuidado! É recomendável não andar pelos corredores do teatro com as roupas e
maquiagens do personagem, a não ser que seja uma intervenção, como a distribuição de panfletos do
espetáculo, por exemplo.

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RAFA- Foram meses, talvez anos de ensaios, muitos esforços e sacrifícios ocorreram. Não importa se a
produção é grande ou pequena, se tem Atores famosos ou anônimos, as sensações antes da estreia são as
mesmas.

GABI- Será que haverá algum jornalista? O que ele vai dizer?! Vai detonar o nosso trabalho? Estes críticos…
importantes e desafiantes ao mesmo tempo.

BELA- O momento chegou! O segundo sinal tocou, não temos mais como fugir. Com erros e tropeços
comuns a uma apresentação, mas com uma gloriosa entrega e emoção...

TODOS- Que somente a estreia nos traz.

Terceiro sinal. Fecham as cortinas! Volta ao inicio da peça. Agradecimento com Musical da Barbie.

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