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Graduando em Psicologia pela Unichristus - E-Mail de contato: Nicolasfmfernandes@gmail.com.
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Graduanda em Psicologia pela Unichristus - E-Mail de contato: Camilansmarques@gmail.com.
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Mestre em Psicologia Clínica e Doutoranda em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento pela
Universidade de São Paulo (USP) e docente no curso de graduação em Psicologia da Unichristus -
E-Mail de contato: Rebecca.arrais@gmail.com
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Palavras-Chave: Psicoterapia. Grupo. Apoio. Acolhimento. Acompanhantes.
Hospital. Psicossocial.
ABSTRACT
This article presents itself as a bibliographic review aimed at group
psychotherapeutic interventions to support companions of hospitalized patients,
taking as reference the historical and social investigation regarding alternative
support methodologies, in which we seek to identify the concepts and methods
applied to a psychosocial perspective of support in the spaces of health production,
as well as to know the contributions of the psychologist in the health-disease process
as mental health professional. In response to the objectives of the study and aiming
at the identification and systematization of the data obtained, the following categories
of analysis were proposed: (i) "From Brazilian Hospital Care to Psychosocial Care: A
psychosocial perspective of alternative hospital care modalities"; (ii) "Variety of Group
Care Methodologies in the hospital environment: Dynamics, potentialities and
limitations" and (iii) "Psychotherapeutic Support Groups for accompanying patients in
hospital: Psychotherapeutic interventions, their contributions and their challenges". It
was evidenced that the support group provides therapeutic factors that are based on
the group's identity and emotional cohesion, and with this the strengthening of a
collective support network to face the adversities shared or brought from previous
experiences. Although the relevance of the theme is notorious, there remains a great
need for research in the area of support groups for hospital companions. Thus, it was
verified that the psychologist must have an active role, which comes in the support
and facilitation of group dynamics, to perceive and intervene in the emotional
constructions irelated to individual involvement with support groups.
Keywords: Psychotherapy. Group. Support. Reception. Companions. Hospital.
Psychosocial.
1. INTRODUÇÃO
A produção de cuidado constitui um campo prático-teórico multidisciplinar de ação
assistencial e transformadora que se reflete nos modelos representativos e
simbólicos culturalmente predispostos de ação e reflexão sobre o ambiente e os
sujeitos-históricos, e reverbera nas formas de significação saúde-doença
persistentes sob o assoalho simbólico existente nas cosmovisões sócio-temporais
(Rocha, 2017). As formas de representação Saúde-Doença, no entanto,
despontam-se como um saber-poder taxativo ilustrado numa consciência comum,
endossada por saberes epistemologicamente concernentes, e conformizado em
dispositivos de produção de poder e de verdade sobre os corpos, mentes e
condutas, a respeito de paradigmas de “normalidades” impositivas sobre os sujeitos,
enunciados nos discursos de verificação normal-patológico (Dimenstein et al., 2010).
O efeito descrito compreende o sistema de medicalização do mundo da vida em
discursos normativos e patologizantes de discriminação dos sujeitos, empreendendo
um modelo reducionista e apático de produção de cuidado. Por sistema médico
eminentemente “apático”, refere-se à concepção de Dimenstein et al (2010),
segundo a qual se caracteriza um modelo técnico-assistencial burocratizado que
privilegia uma hierarquia de saberes 1) entre as próprias áreas de conhecimento em
saúde e 2) na relação médico-paciente; relação esta na qual se denota uma
prerrogativa silenciadora da verdade médica perpetrada impositivamente sobre as
verdades trazidas pelo próprio sujeito da doença, reduzindo-o à casta de seu
adoecimento, entre a vasta taxonomia médico-psiquiátrica disponível, no valor de
que a verdade em poder do Outro incide sobre o Eu.
A réplica a esses modelos normativos se atina entre as diversas produções teóricas
compenetradas às perspectivas dos próprios sujeitos, e inclinadas a uma correlação
profissional-usuário propriamente bilateral e mais democratizada, priorizando a
participação e integração dos usuários em seu próprio processo terapêutico, bem
como a de seus familiares e de suas comunidades. Essas metodologias alternativas
de produção de cuidado, voltadas à Atenção Psicossocial, compreendem
integradamente reconhecimentos mais sensíveis de aspectos ambientais, simbólicos
e, entre outros, emocionais ativos na trajetórias de vida dos sujeitos, e aplicam esse
entendimento a um sistema técnico-assistencial orientado à noção mais ampla de
saúde-adoecimento, trazida na medida da máxima de “saúde não igual à ausência
de doença” (Benevides et al., 2010).
Em vistas à construção de novas abordagens voltadas ao enlace democrático das
produções de saúde e cuidado, os modelos assistenciais voltados à dimensão
psicossocial do adoecimento se direcionam ao fomento da cidadania e dos
protagonismos, no encalço de metodologias terapêuticas participativas que efetivam
estratégias e intervenções resolutivas empenhadas no recrudescimento de
mecanismos autônomos de enfrentamento e de manejo nos próprios sujeitos
(Benevides, 2010). Não obstante, o reforçamento de perspectivas humanizadas de
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autonomia e protagonismo, com os pressupostos por trás da elaboração do SUS,
favorecera modalidades de apoio grupais em novas formas de atuação e
intervenção em saúde, considerando política, cultura e inserção socioeconômica no
planejamento biopsicossocial e multidisciplinar da práxis em saúde.
As modalidades de atendimento grupais surgiram como uma alternativa aos
modelos de atenção centrados no sujeito adoecido e em formas tradicionais de
cuidado. Um modelo alternativo, nesse contexto, significa dizer uma proposta
terapêutica de acolhimento aliado ao potencial educativo e “existencial” da partilha
de experiências e perspectivas, e em consonância com os princípios doutrinários do
SUS de integralidade, universalidade e equidade. Ademais, segundo Benevides
(2010), a psicoterapia grupal favorece a troca dialogada e a exposição emotiva e
experiencial, potencializando a partilha de conhecimento e o suporte emocional em
formas mais sensíveis de adaptação ao mundo da vida, na diversidade de formas do
viver e na expansão das condições de possibilidade dos sujeitos nas diversas
modalidades de sofrimento e adoecimento.
O Hospital, na condição de “uma organização moderna e complexa, local de
ancoragem de processos sócio-históricos recentes” (CARAPINHEIRO, 1998, pp.
45), constitui-se à função biopolítica de depositório social das degenerescências
físicas, mentais e morais que, aliado ao fator da expectativa de morte vinculado à
imagem do Hospital, submete ao sofrimento tanto usuários, quanto acompanhantes.
A hospitalização, nesse sentido, provoca medo não apenas pela expectativa
emocional carregada sobre o ambiente, mas principalmente por afastar o paciente
de sua rede social e familiar, no sentido de hospitalização como uma ameaça à
integridade emocional e corpórea do paciente, do acompanhante e de sua família,
conforme Moreno e Jorge (2005). O acompanhante participará, entretanto, como
alguém que também fornece cuidados neste contexto de vulnerabilidade. Ele provê
suporte emocional, mantém uma referência de estabilidade em meio à mudança,
responde por custos econômicos e sociais, fornece cuidados concretos, divide a
responsabilidade das decisões sobre tratamento, frequentemente atua enquanto
intermediário paciente-equipe e vivencia o adoecimento junto ao paciente (RAIT e
LEDERBERG, 1989; RODRIGUES et al., 2010; FERREIRA et al., 2012; SILVA et al.,
2012).
Diante disso, o foco deste artigo aborda justamente as intervenções grupais
psicoterapêuticas em grupos de apoio a acompanhantes de pacientes
hospitalizados, tomando como referência o objetivo geral de investigar as
intervenções de grupo de apoio voltados a acompanhantes nos hospitais. Propõe-se
a identificar as potencialidades das dinâmicas grupais no apoio a acompanhantes
hospitalares, bem como a reconhecer as contribuições do fazer-pensar psicológico
no espaço hospitalar.
2. MATERIAS E MÉTODOS
O presente estudo caracteriza-se como uma revisão bibliográfica narrativa
com base na temática das intervenções grupais de apoio a acompanhantes de
pacientes hospitalares, realizada em base de dados como Google Acadêmico,
Scielo (Scientific Eletronic Library On-line), BVS (Biblioteca Virtual em Saúde),
PePSIC, bem como análises de revistas, livros, resumos e trabalhos publicados. Da
mesma maneira, os descritores: “Acompanhantes”, “grupos de apoio”, “psicossocial”
e “psicologia” foram escolhidos na intenção de contemplar as diferentes variáveis
que compõem o amplo objeto de estudo abordado.
Os escritos incluídos foram publicados no idioma português e disponíveis na
extensão compreendida entre o período de 1967 a 2020. A coleta dos dados
literários foi realizada entre os meses de Maio e Junho de 2020, somando-se em um
total de dezenove produções, selecionadas entre livros, artigos e manuais.
Atendendo aos objetivos do estudo e visando à identificação e sistematização
dos dados obtidos, foram propostas as seguintes categorias de análise: (i) “Entre a
Assistência Hospitalar Brasileira e a Atenção Psicossocial: Uma perspectiva
psicossocial das modalidades de cuidado hospitalar alternativas”; (ii) “Variedade de
Metodologias de Assistência Grupais no âmbito hospitalar: Dinâmicas,
potencialidades e limitações” e (iii) “Grupos de Apoio psicoterapêuticos a
acompanhantes de pacientes em hospital: As intervenções psicoterápicas, suas
contribuições e seus desafios”. A primeira tópica auxiliará na identificação do
processo histórico circundante às metodologias participativas e grupais, à
configuração simbólica dos modelos assistenciais e à produção de uma identidade
brasileira de cuidado e manejo dos corpos e psiques. Na segunda tópica,
categoriza-se a especificidade dos modelos teórico-metodológicos grupais
envolvidos no campo hospitalar de cuidado, nos objetivos e técnicas aplicadas nas
metodologias alternativas, até a introdução ao modelo específico pelo qual se motiva
este trabalho, voltado aos acompanhantes de pacientes, e discutidos mais
profundamente à frente. Por fim, na terceira tópica será realizada uma discussão
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sobre os Grupos de Apoio para Acompanhantes de pacientes, como ocorre nos
grupos realizados por psicólogos no âmbito hospitalar.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. ENTRE A ASSISTÊNCIA HOSPITALAR BRASILEIRA E A ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL: UMA PERSPECTIVA PSICOSSOCIAL DAS MODALIDADES DE
CUIDADO HOSPITALAR ALTERNATIVAS.
A perspectiva de uma instituição terapêutica de assistência e produção de
saúde é uma ideia moderna de atividade hospitalar, remetente, como delineia Rocha
(2017), a toda uma formulação histórica do pressuposto de Hospital; um
pressuposto, porém, nada fixo e, ao contrário, extremamente mutável de ação em
saúde que se reverbera ao linear do tempo e das concepções sócio-históricas de
vida, natureza, saúde e doença, reverberando-se, inclusive, através das
perspectivas teológicas circunstancialmente hegemônicas. Nesse sentido, em
Rocha, percebe-se que a predominância de uma determinada perspectiva
tratamental diz respeito ao assoalho simbólico concernente a conceitos centrais da
ação em saúde, predispostos sobre formulações culturais de saúde, doença e
assistência, e implicados nas perspectivas de vida e cuidado dos sujeitos, conforme
em: “Mudou a compreensão de saúde, doença e assistência, mudou o papel dos
hospitais” (Rocha, 2017, pp. 87).
Segundo o mesmo autor, manifestações ancestrais de ação curativa se
percebem por toda a trajetória humana, e incorrem entre todas as grandes
civilizações, doravante vestígios muito singelos de atividade medicinal desde o final
do paleolítico, tão logo quanto o próprio início da trajetória dos povos humanos.
Assim, infere-se, o ato de produção da cura, em torno dos imaginários objetivos e
dos rituais de cura que se apresentam culturalmente, emana de um valor ancestral
no “coletivo” para a constituição e evolução das comunidades humanas
permanentes em seus espaços de inserção física; permeada, então, a própria
cultura pela inerência de processos curativos na ação comunal humana, em modos
de assistência em saúde culturalmente fundamentados como estruturas muito
particulares de ação coletiva e terapêutica, e configurados nos espaços simbólicos
de cura constituídos das representações historicamente elaboradas por cada
comunidade humana.
Ainda, conforme o mesmo autor, a secularização do etimologicamente
ambíguo “Hospital(idade) Cristão” e medieval, progredido à noção e aos contornos
civis de uma gradual sociedade de produção capitalista a partir da ideia do “Hospital
Romano”, herdada pela Europa Católica, emerge a partir do século ⅩⅧ, nos países
europeus mais industrializados, em um contexto de avanço e consolidação dos
saberes científicos em vários campos, marcando a transição dos Sujeitos da doença
pecaminosa e da cura religiosa aos Sujeitos da razão e das causas naturais e
exatas, e efetivando a atividade hospitalar em um espaço de assistência terapêutica
e multidimensional em saúde, progredindo ao escalar do conhecimento
técnico-científico em especialidade e qualidade de atendimento.
Ao Brasil, no séc. ⅩⅥ, a assistência hospitalar é importada do continente
europeu junto ao seus povos, culturas e conceitos, derramados sobre as terras
locais e seus povos nativos, e suas culturas e seus próprios conceitos. Como a tudo
que era chegado, os hospitais não eram exceção quanto aos estigmas culturais e
simbólicos europeus, e eram, então, impregnados de suas formulações
representacionais e, particularmente, religiosas. No Brasil, portanto, mesmo de
quando, futuramente, há muito expulsa a Companhia de Jesus, as instituições de
saúde ainda estariam consistentemente integradas às ordens religiosas e
filantrópicas, e desde logo subordinadas aos imperativos econômicos e produtivos
da ordem crescente sobre o território. Outrossim, não haveria grande modificação na
assistência hospitalar brasileira entre os séculos ⅩⅧ e ⅩⅨ, sendo unicamente
notável o registro das primeiras escolas médicas, quando da chegada, em 1808, da
coroa portuguesa, e a instalação das instituições asilares, bem como de outras
associações “beneficentes”, ao decorrer do mesmo século.
Embora configure um panorama de avanço da amplitude e do
conhecimento em Saúde, em uma completa reformulação da política sanitária, os
primeiros anos da jovem República Velha, adentro do século XX, marcaram
condições sanitárias e sociais extremamente cruas e desiguais no acesso aos
serviços e, efetivamente, à própria cidadania, adidas a uma conjuntura de grande
antiufanismo e desilusão no cenário político e social.
Diversas crises, no entanto, já a partir da República Nova, nos sistemas
de saúde da Medicina Previdenciária, privada, sucederiam-se crescentemente de
1934 à 1966; configurando o extremo com o conjunto de medidas expedidas pelo
regime militar, com a centralização do poder e exclusão dos trabalhadores ao
acesso e à gestão do sistema, que estaria diretamente associado à alvorada dos
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movimentos democratizantes, engendrados com posturas reformistas ao
pressuposto de saúde, às práticas profissionais concernentes e aos sistema e
gerência institucionais em saúde, com a pactuação de uma nova política nacional
profusora de profundas transformações aos sistemas de assistência e de amplas
reformas nos campos da saúde (Reforma Sanitária e Reforma Psiquiátrica),
resultando em modalidades alternativas de cuidado e intervenção reiterantes à
dimensão psicossocial do adoecimento.
Como mostra a literatura, a atenção psicossocial prevê uma estrutura
ético-social de cuidado que pressupunha mudanças na concepção do processo
Saúde-Doença, em abordagens terapêuticas entendidas na promoção do sujeito e
da cidadania, na subjetividade e na inclusão social, e empreendida, no campo da
saúde mental, pelo contexto da Reforma Psiquiátrica, conforme Benevides et al
(2010); em uma reorganização do modelo técnico-assistencial vigente “que organiza
e sustenta as práticas dos profissionais, que orienta e sustenta o arcabouço jurídico
e o universo de práticas e valores culturais” (YASUI, S.; COSTA-ROSA, A., 2008, pp.
28). As novas abordagens compreenderam uma distinta interpretação do processo
de adoecimento, vislumbrando a dimensão psicossocial, “com ênfase na pessoa
doente, na sua forma de vida, na realidade em que está inserida, e não na doença
em si” (BENEVIDES et al. 2010, pp. 128 apud AMARANTE, 1996), com vistas a
recrudescer o manejo e o enfrentamento dos sujeitos, famílias e comunidades em
ações que efetivassem sua participação e protagonismo no próprio processo
terapêutico.
Recrudescidas pela reforma nas políticas de saúde, portanto, uma grande
variedade de metodologias de cuidado alternativas constituíram a divergência ao
modelo de prática tradicional, e biomédico, centrado na clínica hospitalar e na
legitimidade médica sobre as verdades, constituindo uma vasto campo interventivo
de produção de cuidado dentre o qual aqui se cabe destacar o pressuposto das
práticas grupais psicoterápicas ou multidisciplinares. Segundo Veríssimo e Valle
(2005), no sentido dos grupos operativos ou psicoterápicos, as dinâmicas grupais
potencializam as trocas dialogais e simbólicas, a partilha de experiências e a
elaboração das vivências, coletivamente, no enriquecimento das condições de
manejo e adaptação aos modos de vida, possibilitando aos indivíduos, nas relações
estabelecidas no grupo, transformarem a si mesmos e ao próprio grupo, porquanto
na condição das identidades que se vinculam à unidade grupal.
No imperativo dos processos da consciência humana, caberia, então, à
Psicologia atender ao “saber das pessoas sobre si mesmas, enquanto indivíduos e
enquanto membros de uma coletividade” (MARTÍN-BARÓ, 1997, pp. 14-15),
permeando ao sentido da operação dos grupos segundo o qual se sustenta a ênfase
no sujeito do sofrimento, em suas formas de representação da realidade, das
circunstâncias da enfermidade e de sua própria forma de vida (Benevides, 2010); na
apreensão integral do sujeito pelos seus contextos de existência e pela sua
constituição empírica e relacional.
3.2. VARIEDADE DE METODOLOGIAS DE ASSISTÊNCIA GRUPAIS NO ÂMBITO
HOSPITALAR.
Como demonstram Veríssimo e Valle (2005), a perspectiva de instalação
dos grupos implica em uma proposta de cuidado que envolve diversas atividades
operativas, sociais, educacionais ou psicoterapêuticas associadas às perspectivas
de promoção de saúde e prevenção de doença, e correlatas aos princípios de
universalidade do acesso, integralidade do cuidado e controle social preconizados
pelas políticas nacionais de saúde. Os grupos, nesse sentido, são instrumentos
terapêuticos que configuram espaços de apoio social relacionados à elaboração
consciente de vivências sobre uma realidade empiricamente objetiva, constituída da
rede de partilha que veicula uma identificação grupal sob uma condição de
vulnerabilidade comum, aliando o pressuposto de um modelo de cuidado voltado à
partilha coletiva ao potencial de acolhimento de um quantitativo maior de usuários.
A intensa profusão das intervenções grupais no campo interdisciplinar e
multiprofissional da Saúde incorre em vistas à grande multicidade de contextos e
atuações às quais foram implementadas, estendendo-se a todas as redes de
atenção, por todo o Sistema Único de Saúde. Variando conforme as perspectivas de
cuidado predominantes a cada contexto profissional, as atividades e ferramentas
aplicadas proporcionam uma grande diversidade prático-teórica e possibilitam a
existência de uma ampla abrangência terapêutica nos equipamentos de assistência
em saúde, a par das propostas e das demandas sob as quais as modalidades
profissionais se implementam no sistema.
Quanto ao delineamento das intervenções psicológicas, em sentido
amplo, existem distintas maneiras de seguir a um conceito de “psicoterapia”; no
entanto, exprime-se, nesse trabalho, como toda aquela ação que propõe uma forma
de cuidado em psicologia; naturalmente, entendo a intervenção em psicologia,
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voltada enquanto oferta de cuidado, como uma terapia de base psicológica, e,
portanto, uma psicoterapia. Nesse sentido, a dinâmica de uma psicoterapia grupal
permite a extensão do apoio, para além da rede afetiva, ao campo do cuidado na
partilha e acolhimento envolvidos no suporte e facilitação da expressão emocional,
promoção da adaptação e de novas habilidades geradas à condição da
vulnerabilidade, reforço da auto-imagem, oferta de acolhimento, apoio e atenção,
transmissão de informações concernentes, estímulo à recuperação física e
emocional, mediação equipe-usuários e incentivo à adesão aos tratamentos, como
indicam Veríssimo e Valle (2005, apud CAMPOS, 1992).
Não obstante, a necessidade de considerar os acompanhantes que
vivenciam o adoecimento junto ao paciente, enquanto modelo de cuidado, tem
ganhado espaço nacional e internacionalmente e, tem no alívio do sofrimento, na
compaixão, no controle de sintomas e na busca pela preservação da autonomia e da
vida ativa alguns de seus princípios; suscitando a atenção de profissionais da
psicologia a ações que efetivem alguma resolução no sentido das condições de
vulnerabilidade de acompanhantes nos hospitais, expostos ao cansaço físico e
psicológico, expressando suas próprias necessidades de cuidado.
No que se refere ao trabalho de intervenção grupal, é importante que se
compreenda as variedades de metodologias grupais. Dentre esses tipos de
metodologias grupais, segundo Fernandes (2003), classifica os grupos de diferentes
tipo, dentre os quais, grupos com finalidade operativos e grupos com finalidades
terapêuticas. onde podemos destacar, os grupos operativos, grupos
psicoeducativos, grupos de sala de espera e grupos de apoio.
Os grupos operativos são caracterizados por serem grupos centrados na
tarefa. A tarefa é o essencial do processo grupal, portanto, temos nesta
caracterização os três tipos: a)centrados no indivíduo, b)centrados no grupo como
um conjunto total, o c)os grupos centrados na tarefa. Abordam-se através do grupo,
centrando-se na tarefa, os problemas da tarefa, da aprendizagem e problemas
pessoais relacionados com a tarefa e com a aprendizagem, conforme Fernandes
(2003).
Os grupos psicoeducativos possibilitam novos conhecimentos referente
às demandas do grupo e auxiliam diretamente no vínculo entre terapeuta e paciente,
esclarecendo dúvidas, facilitando o entendimento de suas queixas e tem como
principal objetivo educar (Andretta & Oliveira, 2011).
O grupo de sala de espera utiliza o espaço informal já existente na
instituição de forma potencializada para atender a pessoas que não
necessariamente apresentam uma demanda específica por atendimento
psicológico.(MOREIRA Jr., 2001) . Nesses atendimentos, ocorrem identificações de
situações, nas quais podem ser situações de risco individual, onde facilitam o
encaminhamento desse sujeito para atendimento de forma específica para esse
indivíduo.
Outra variedade de metodologia é o grupo de apoio que busca oferecer
alívio para os sintomas do paciente(DEWALD, 1981). O grupo oferece apoio aos
participantes pelo sentimento de pertencimento. Desta forma, valoriza-se o contato
interpessoal como promotor de apoio. Neste sentido, o sujeito se sente aceito pelos
outros participantes e profissional condutor do grupo, livre para expressar seus
conflitos e angústias, favorecendo um fator terapêutico, conforme Foulkes e Anthony
(1967).
REFERÊNCIAS
LAPREGA, Milton Roberto; Rocha, Juan Stuardo Yazlle. Assistência Hospitalar. In:
ROCHA, Juan Stuardo Yazlle. Manual de saúde pública e saúde coletiva no
Brasil. 2ª Ed. Atheneu, 2017. pp. 87-102.
15
FOULKES, S. E.; ANTHONY, E. J. Psicoterapia de grupo. Rio de Janeiro:
Biblioteca Universal Popular, 1967.
Mello Filho, J. (2004). Doença e família. In J. Mello Filho & M. Burd (Orgs.), Doença
e família (pp. 43-55). São Paulo: Casa do psicólogo.
Muniz, J. R., & Taunay, M. (2000). Grupos de enfermaria no hospital geral. In J. Mello
Filho. Grupo e corpo: psicoterapia de grupo com pacientes somáticos. Artes
Médicas, Porto Alegre, pp. 145-162.
Rufatto, A. T. (2004). Um facilitador (do), (no), (o) grupo. Vínculo, 1 (1), 4-10.
RAIT, D.; LEDERBERG, M. The family of the cancer patient. In: HOLLAND, J. e
ROWLAND, J. H. (Ed.). Handbook of psychooncology. New York: Oxford University
Press, 1989. p.585-597.