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ROTEIRO TEÓRICO-PRÁTICO
Braga | 2019
Isabel Celeste M. Fon
João Vilas Boas P
DIREITO ADMINISTRATIVO II
ROTEIRO TEÓRICO-PRÁTICO
2019
ELSA UMINHO
Escola de Direito da Universidade do Minho
Campus de Gualtar, sala 10, 4710-057 Braga
geral@elsauminho.com
ISBN: 978-989-99646-4-8
NOTA PRÉVIA
Este texto procura ser um roteiro de estudo dos temas mais signifi-
cativos do segundo semestre do Programa da Unidade Curricular de Di-
reito Administrativo do Curso de Licenciatura em Direito da Escola de Di-
reito da Universidade do Minho, servindo de guia aos Estudantes, tanto
na seleção de fontes normativas, jurisprudenciais e dogmáticas como na
atualização das mesmas.
Não obstante o desígnio didático, este trabalho pode ser útil tam-
bém a todos os que se aventuram em domínios estruturais do direito ad-
ministrativo e sentem necessidade de atualizar os respetivos quadros jurí-
dicos, revisitar os temas e reaprender conceitos e ferramentas, tendo em
conta as alterações legislativas recentemente introduzidas no Código do
Procedimento Administrativo.
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
DIREITO AMINISTRATIVO II
PROGRAMA SUCINTO
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Programa sucinto e bibliografia
BIBLIOGRAFIA DE BASE
FREITAS DO AMARAL, Diogo, Curso de Direito Administrativo, Vol. II, 4.ª ed.,
Coimbra: Almedina, 2018
VIEIRA DE ANDRADE, José Carlos, Lições de Direito administrativo, 5.ª ed., Coim-
bra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017
AROSO DE ALMEIDA, Mário, Teoria Geral do Direito Administrativo, 5.ª ed., Coim-
bra: Almedina, 2018
CAETANO, Marcello, Manual de Direito Administrativo, Vol. II, 10.ª ed., Coimbra:
Almedina, 2017
CAUPERS, João/EIRÓ, Vera, Introdução ao Direito Administrativo, 12.ª ed., Lisboa:
Editora Âncora, 2016
COLAÇO ANTUNES, Luís Filipe, A Ciência Jurídica Administrativa. Noções funda-
mentais, 3.ª reimpressão, Coimbra: Almedina, 2016, com a colaboração de
Juliana Ferraz Coutinho
FERREIRA DE ALMEIDA, Francisco António, Direito Administrativo, Coimbra: Al-
medina, 2018
FONTES, José, Curso sobre o Código do Procedimento Administrativo, 2.ª ed., Coimbra:
Almedina, 2018
OLIVEIRA, Fernanda Paula/FIGUEIREDO DIAS, José Eduardo, Noções Fundamen-
tais de Direito Administrativo, 5.ª ed., Coimbra: Almedina, 2018
OTERO, Paulo, Manual de Direito administrativo, Vol. I, Coimbra: Almedina, 2014
_____, Direito do Procedimento administrativo, Vol. I, Coimbra: Almedina, 2016
REBELO DE SOUSA, Marcelo/SALGADO DE MATOS, André, Direito Administra-
tivo Geral – Atividade Administrativa, Tomo III, 2.ª ed., Lisboa: Dom Qui-
xote, 2009
SÉRVULO CORREIRA, José Manuel, Noções de Direito Administrativo I, Lisboa: Edi-
tora Danúbio, 1982
SOARES, Rogério, Direito Administrativo, 2 volumes, 1.ª ed., texto policopiado, 1984
SOUSA, António Francisco de, Administração Pública e Direito Administrativo. Novos
paradigmas, Porto: Vida Económica, 2016
VILHENA DE FREITAS, Lourenço, Direito do Procedimento Administrativo e Formas
de Atuação da Administração – Parte Geral, Lisboa: AAFDL Editora, 2016
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
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Programa sucinto e bibliografia
LEGISLAÇÃO PRINCIPAL
LEGISLAÇÃO COMENTADA
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
AULA N.º 1
BIBLIOGRAFIA DE BASE
BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICA
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Parte I – A Administração e o Direito
OUTRA BIBLIOGRAFIA
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
0. Introdução
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Parte I – A Administração e o Direito
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Parte I – A Administração e o Direito
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Parte I – A Administração e o Direito
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cessariamente uma lei que forneça a medida e o conteúdo dos seus atos
concretos. (…) Até onde está a Administração autorizada a afirmar-se co-
mo um poder independente?»4.
Face à escassez de leis existentes, o que conduzia à parca subordina-
ção da Administração ao Direito e à necessidade de traçar as linhas fron-
teiriças entre a lei e a Administração, emerge um segundo subprincípio: a
reserva de lei.
Este princípio expressa-se em três vertentes (ROGÉRIO SOARES e
VIEIRA DE ANDRADE):
i. Orgânico-formal – revelando que a função legislativa, isto é, o
poder de fazer leis, compete em exclusivo ao Parlamento;
ii. Funcional – a função legislativa é uma função específica, cujos
limites são esboçados pela lei do Parlamento (lei como criação de direito);
iii. Material – a lei entende-se como as normas jurídicas que exclusi-
vamente se referiam à esfera da liberdade e da propriedade dos cidadãos.
Neste sentido, não existindo uma lei vinculativa da atuação da Ad-
ministração, a sua atuação configurava-se livre, entendendo-se o poder
discricionário como um poder originário da Administração, que não podia
ser objeto de controlo pelos tribunais.
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Parte I – A Administração e o Direito
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Parte I – A Administração e o Direito
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Parte I – A Administração e o Direito
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Outros princípios:
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Parte I – A Administração e o Direito
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Parte I – A Administração e o Direito
a. A Lei Formal
Muito embora, tal como anteriormente destacado, tenha perdido a
sua omnipotência, a lei formal não deixa de se configurar como uma das
mais importantes fontes de Direito Administrativo, encontrando na legiti-
mação democrática a base da sua essência e fundamentação.
Não obstante já termos tecido considerações sobre o princípio da le-
galidade, a Lei Formal, enquanto fonte de Direito Administrativo, corpo-
riza, portanto, um ato jurídico, isto é, uma manifestação de vontade ten-
dente à produção de um efeito jurídico. Desse modo, as normas possuem
valor de lei formal em virtude da sua capacidade de inovação e resistên-
cia face a outras normas derivadas, bem como pela subordinação ao juízo
constitucional (ROMANO-TASSONE).
E se, no passado, a lei do Parlamento era a única expressão do poder
normativo-legislativo, hoje é perfeitamente aceitável que outros atos nor-
mativos se encontrem igualmente dotados de força de lei. Aliás, no nosso
ordenamento jurídico, tal é claramente notório, pois possuem valor ou for-
ça de Lei Formal tanto as leis da Assembleia da República como os decre-
tos-lei do Governo e os decretos legislativos regionais9.
RA, Princípios de Direito da União Europeia, 2.ª ed., Quid Juris, 2011.
9 Para um desenvolvimento mais aprofundado, vd. JORGE MIRANDA, Atos Legisla-
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
b. Os Regulamentos
Por um lado, são fontes de Direito, mas, ao mesmo tempo, são uma
das principais manifestações da atividade da AP (ainda que, uma vez publica-
dos, sujeitem a AP e é nesse aspeto que são fontes de Direito).
Dada a sua extrema importância, será objeto de uma análise autóno-
ma, na Parte II do presente Manual.
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Parte I – A Administração e o Direito
AULA N.º 2
BIBLIOGRAFIA DE BASE
BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICA
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Parte I – A Administração e o Direito
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
11Sobre este assunto, em geral, vide PEDRO COSTA GONÇALVES, Reflexões sobre o
Estado Regulador e o Estado Contratante, Coimbra Editora, 2013, e A Concessão de Serviços Públi-
cos, Almedina, 1999.
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Parte I – A Administração e o Direito
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Parte I – A Administração e o Direito
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Parte I – A Administração e o Direito
12 A Fuga para o Direito Privado – Contributo para o estudo da atividade de direito privado
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
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Parte I – A Administração e o Direito
A DISCRICIONARIEDADE ADMINISTRATIVA
AULA N.º 3
BIBLIOGRAFIA ESSENCIAL
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
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JURISPRUDÊNCIA
A lei, por vezes, fixa o conteúdo dos atos que a AP deve praticar, de
modo que não cabe aos agentes administrativos qualquer possibilidade
conformadora. A esta determinação do conteúdo dos atos designamos vin-
culação administrativa. E chamamos ato vinculado ao ato praticado ao
abrigo desse comando legal. O ato vinculado é, portanto, aquele que tem
o seu conteúdo fixado na lei, não cabendo ao agente qualquer possibili-
dade conformadora [exemplo: nos termos da lei, têm direito de ser contra-
tados como professores auxiliares, logo que obtenham o doutoramento, os
assistentes com, pelo menos, cinco anos de vínculo à Escola. Assim, o ato
que vier a ser praticado ao abrigo desta norma, terá carácter vinculado].
À vinculação opõe-se a discricionariedade, sendo esta uma situação
em que a lei deixa aos agentes administrativos (às autoridades administrativas,
à Administração) uma liberdade conformadora. O ato discricionário é aquele
que a AP emana utilizando poderes conferidos pelo legislador de fixar o
grau das modificações pretendidas, sendo certo que os agentes da Admi-
nistração têm assim uma possibilidade de conformação, uma vez que não
estão estritamente vinculados como na situação antes referida [exemplo:
nos termos da lei, «sempre que o exijam os superiores interesses da saúde
pública, o Ministro da Agricultura pode proibir, sujeitar a inspeção prévia
ou a um período de quarentena a importação de aves vivas provenientes
da Ásia». Ora, o ato que vier a ser praticado ao abrigo desta norma é um
ato discricionário. Outro exemplo: nos termos da lei, «Declarando-se uma
epidemia de gripe, os serviços do Ministério da Saúde tomarão as medidas
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Parte I – A Administração e o Direito
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
nistração para proteção dos direitos dos cidadãos e tende a ver na discri-
cionariedade um perigo nas mãos da Administração, pensando-se, aliás,
que a AP, no contexto do poder discricionário, tende a atuar de forma ar-
bitrária e injusta. É por isso que se advoga reduzir ao mínimo os espaços
discricionários do agir administrativo, exigindo quer uma maior determi-
nação legislativa do conteúdo dos atos, quer uma mais intensa fiscalização
judicial da AP. Nesta lógica, a discricionariedade tende a ser vista como
um «mal necessário».
Contudo, o entendimento da discricionariedade a partir do princí-
pio da separação dos poderes revela-se outro. Neste sentido, partindo da
Constituição, considera-se que a AP tem uma dignidade igual à do poder
legislativo e à do poder judicial, cabendo-lhe a prossecução do interesse
público (de acordo com a lei, é certo) como tarefa própria, autónoma e se-
parada, ainda que interdependente. A AP deve desempenhar devidamen-
te as tarefas que o Estado Social de Direito põe a seu cargo. E, por isso,
compreende-se bem que ela não deve (nem pode) exercer uma atividade
meramente executiva da lei. Antes pelo contrário, a lei deve conceder-lhe
espaço de conformação. Por outras palavras, o legislador deve confiar na
Administração, sem que isso signifique demissão do seu papel determina-
dor. E o papel do legislador é muitas vezes o de estabelecer de forma geral
e abstrata os fins a prosseguir pela AP e indicar os órgãos com competência
para tal, deixando espaço à Administração para resolver da forma mais
adequada os casos concretos e as tarefas que lhe são atribuídas. O juiz, por
sua vez, não deve pretender substituir-se à Administração, isto é, não deve
administrar. Deve, portanto, respeitar as decisões tomadas pela Adminis-
tração, controlando apenas as decisões tomadas de acordo com a lei. Fala-
mos, assim, de um controlo que se deseja atenuado, pois, de outro modo,
correr-se-ia o risco de o juiz se substituir à Administração.
Se é verdade que o fundamento do poder discricionário está na lei,
esta confere-o tendo em conta o respeito pelo princípio da separação dos
poderes e o papel que cabe à AP dentro dessa separação/equilíbrio de po-
deres. Ainda, como fundamento deste papel próprio da AP, deve ter-se em
atenção a legitimidade democrática (direta ou indireta) dos órgãos admi-
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Parte I – A Administração e o Direito
3. A atribuição da discricionariedade
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Parte I – A Administração e o Direito
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Parte I – A Administração e o Direito
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Parte I – A Administração e o Direito
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AULA N.º 4
BIBLIOGRAFIA ESSENCIAL
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICA
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
Preceitua o n.º 1 do art. 2.º do CPA que «as disposições deste Código
respeitantes aos princípios gerais, ao procedimento e à atividade adminis-
trativa são aplicáveis à conduta de quaisquer entidades, independente-
mente da sua natureza, adotada no exercício de poderes públicos ou regu-
lada de modo específico por disposições de direito administrativo».
Do ponto de vista subjetivo, o CPA adota, no n.º 4 do referido artigo,
um conceito restrito de Administração Pública, entendendo que, para efei-
tos do Código, integram a AP os órgãos do Estado e das regiões autónomas
que exercem funções administrativas a título principal; as autarquias locais
e suas associações e federações de direito público; as entidades adminis-
trativas independentes; e os institutos públicos e as associações públicas.
Uma vez que o artigo configura uma natureza tendencialmente taxativa
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
1. A FASE PREPARATÓRIA:
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
jeições que possam ser conformados pelas decisões que nesse âmbito fo-
rem ou possam ser tomadas, ou quando lhes caiba defender interesses di-
fusos que possam ser beneficiados ou afetados por tais decisões (cfr. art.
68.º, n.º 4, do CPA).
Repare-se que o legislador traça, em rigor, duas categorias distin-
tas: ao passo que trata os sujeitos públicos enquanto verdadeiros sujeitos
procedimentais, os restantes são por ele denominados «interessados no
procedimento» (cfr. art. 65.º, n.º 2, do CPA). Se se pugna por um procedi-
mento personificando uma verdadeira relação jurídica procedimental,
porquê tratar os particulares como meros interessados? Mais uma vez, a
epígrafe do artigo não corresponde, em plenitude, ao conteúdo do mes-
mo.
De acordo com o art. 67.º, n.º 1, do CPA, os particulares têm o direito
de intervir pessoalmente no procedimento administrativo ou de nele se fa-
zer representar ou assistir através de mandatário.
No que toca à legitimidade procedimental dos interessados, encon-
tra-se regulada no art. 68.º. Para que os particulares se encontrem legitima-
dos para intervir no procedimento administrativo, isto é, de nele se cons-
tituírem como interessados, devem ser titulares de direitos, interesses le-
galmente protegidos, deveres, encargos, ónus ou sujeições das decisões
que nele forem ou possam ser tomadas, bem como as associações, para de-
fender interesses coletivos ou para proceder à defesa coletiva de interesses
individuais dos seus associados (n.º 1). Destarte, o legislador conferiu legi-
timidade não apenas aos titulares de direitos ou interesses legalmente pro-
tegidos como também àqueles que possam ver os seus interesses jurídicos
afetados pelo procedimento.
De igual modo, têm legitimidade procedimental particulares, asso-
ciações e fundações e as autarquias locais para proteção de interesses difu-
sos e os cidadãos residentes numa dada circunscrição para assegurar a de-
fesa de bens do Estado, das regiões autónomas e das autarquias locais que
se localizem nessa respetiva circunscrição (n.os 2 e 3).
Passemos agora à iniciativa procedimental propriamente dita.
Sendo o procedimento desencadeado por um órgão administrativo,
é-o através de ato público de iniciativa, devendo distinguir-se os procedi-
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
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co-constitucional», cit.
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2. FASE CONSTITUTIVA
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
Depois de um ato ter sido praticado, ele deve ser comunicado ao in-
teressado. É certo que a regra no Direito Administrativo português é a de
que os atos administrativos não são recetícios e, assim sendo, a notificação
não é sempre exigível. Ela só é exigível quando a lei o determinar ou quan-
do a execução do ato suponha uma colaboração do destinatário, nomeada-
mente quando cria deveres (cfr. art. 114.º do CPA).
Nesses moldes, os atos administrativos, uma vez praticados, são co-
municados aos interessados através da publicação (no DR, no boletim in-
formativo da autarquia, nos lugares de estilo, conforme disposto na lei) ou
por notificação, tratando-se de dar conhecimento pessoal, oficial e formal
do ato aos seus destinatários, através de notificação pessoal, carta registada
ou outro meio previsto na lei.
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O REGULAMENTO ADMINISTRATIVO
AULA N.º 5
BIBLIOGRAFIA DE BASE
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
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vd. ANA RAQUEL MONIZ, Estudos sobre os regulamentos administrativos, 2.ª ed., Coimbra: Al-
medina, 2016.
21 Para uma visão aprofundada, vd. ISABEL BIRMANN, O Poder regulamentar das au-
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
22 Em sentido contrário, ANA RAQUEL MONIZ, que o considera fruto de uma dele-
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
23 Sobre este aspeto em específico, CARLOS BLANCO DE MORAIS, cit., p. 33: «Va-
leria a pena alterar, com urgência, a última parte do preceito, substituindo-o por uma regra
que disponha sobre a necessidade de, na nota justificativa, contar uma estimação dos encar-
gos administrativos que com o regulamento são reduzidos ou acrescidos, prevendo-se apenas
uma avaliação prévia do impacto da norma, que contenha uma ponderação dos seus even-
tuais custos e benefícios, sempre que a Administração o julgue necessário».
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
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emissão (n.º 1), mas não podem ser derrogados por atos administrativos
de caráter individual e concreto (n.º 2) – princípio da inderrogabilidade
singular.
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5. Invalidades do regulamento
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O ATO ADMINISTRATIVO
AULA N.º 6
BIBLIOGRAFIA DE BASE
BIBLIOGRA COMPLEMENTAR
ALMEIDA, Mário Aroso de, Teoria Geral do Direito Administrativo, 5.ª ed.,
Coimbra: Almedina, 2018, pp. 219 a 392
BOCANEGRA SIERRA, Raúl, La teoría del acto administrativo, Madrid: Iustel,
2005
COLAÇO ANTUNES, Luís Filipe, A Ciência Jurídica Administrativa, 3.ª ed.,
Coimbra: Almedina, 2016, pp. 329 a 480
COLAÇO ANTUNES, Luís Filipe, A Teoria do Ato e a Justiça Administrativa,
O Novo Contrato Natural, Coimbra: Almedina, 2015
OLIVEIRA, Fernanda Paula/FIGUEIREDO DIAS, José Eduardo, Noções
Fundamentais de Direito Administrativo, 5.ª ed., Coimbra: Almedina, 2018, pp. 179 a
281
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
substantivo e adjetivo. Seguimos, aqui, Fernanda Paula OLIVEIRA e JOSÉ EDUARDO FI-
GUEIREDO DIAS, Noções Fundamentais de Direito Administrativo, cit., p. 185. «(…) um ato ad-
ministrativo não eficaz, sendo um verdadeiro ato administrativo, nem sempre é imediata-
mente impugnável (54.º CPTA); o indeferimento expresso, sendo ato administrativo do ponto
de vista substancial, não é diretamente impugnável (a sua eliminação da ordem jurídica é fei-
ta pela via da condenação à prática do ato devido); as decisões materialmente administrativas
de outros poderes públicos ou entidades privadas são impugnáveis (51.º, n.º 1 CPTA), mas
não são substancialmente atos administrativos».
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
trativa, cit., p. 425. O autor descreve o ato final do procedimento como o ato administrativo
por natureza que contém um «comando unilateral destinado a produzir imediatamente efei-
tos jurídicos externos».
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
mental, os atos produzidos que possam produzir efeitos externos, por con-
tenderem com os direitos e interesses dos seus destinatários, assumem re-
levância para o ordenamento jurídico geral e, nessa medida, consideram-
-se atos administrativos, suscetíveis de impugnação contenciosa.
(3) O ato administrativo destina-se a uma situação individual e con-
creta. Esta característica, intimamente ligada com a anterior, permite-nos,
desde logo, distinguir um ato administrativo de um regulamento adminis-
trativo que, nos termos do art. 135.º do CPA, se configura como norma ju-
rídica geral e abstrata. Em bom rigor, como nos elucida COLAÇO ANTU-
NES32, sobretudo em confronto com o ato administrativo geral, «o caráter
individual do ato alude mais à natureza concreta da medida do que pró-
priamente aos seus destinatários (…)». Nesse sentido, MÁRIO AROSO DE
ALMEIDA conclui, confrontando ato administrativo/regulamento admi-
nistrativo, que «a abstração, a vocação imanente de execução permanente,
é o critério verdadeiramente distintivo do ato normativo, que determina
os traços essenciais do regulamento»33.
(4) O ato administrativo é praticado no exercício de poderes jurídico-
-administrativos. O Direito da União Europeia produziu alterações não só
ao nível das funções e da natureza das entidades público-administrativas
como também ao nível dos institutos jurídico-administrativos. Trata-se,
pois, de aferir se sujeitos privados, desprovidos de uma qualificação pú-
blica formal, podem praticar atos administrativos. Mais uma vez, a capa-
cidade jurídica, traduzida no exercício de um poder de autoridade regu-
lado pelo direito público, nomeadamente, pelo Direito Administrativo, as-
sume-se como critério determinante. Parece ser este o critério consagrado
pelo legislador no art. 51.º do CPTA: «(…) são impugnáveis todas as deci-
sões (…) incluindo as proferidas por autoridades não integradas na Admi-
nistração Pública e por entidades privadas que atuem no exercício de po-
deres jurídico-administrativos».
Face a esta característica, os atos praticados por entidades adminis-
trativas privadas ou por sujeitos privados investidos de poderes públicos
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
inicial, seja por força da lei seja por cláusula acessória aposta ao ato pelo
seu autor (termo suspensivo – art. 157.º, alínea b), in fine, do CPA). Trata-se,
pois, de atos que, embora já tenham passado a fase constitutiva, sendo, em
regra, perfeitamente válidos, carecem de um evento integrador de eficácia.
Os atos possuem eficácia condicionada quando o seu procedimento
inclui uma fase integrativa de eficácia ou quando a produção dos efeitos do ato
depender da verificação de uma condição, seja legal ou por cláusula acessória
aposta pelo autor do ato (art. 157.º, alíneas a), b), 1.ª parte, e c), do CPA).
Podemos, no entanto, estar perante atos inválidos, mas que produ-
zam igualmente efeitos jurídicos, isto é, possuam eficácia jurídica. É o caso
dos atos anuláveis que possuem eficácia provisória, mas caso se tornem
insuscetíveis de impugnação contenciosa, por decurso do respetivo prazo,
a eficácia converte-se em definitiva. Por sua vez, aos atos nulos podem ser
reconhecidos efeitos putativos, relevando-se juridicamente as situações de
facto por ele criadas, face ao decurso do tempo e com fundamento em prin-
cípios jurídicos fundamentais, como seja o princípio da proteção da con-
fiança legítima.
Os atos possuem eficácia instantânea quando os seus efeitos se pro-
duzem e se esgotam num determinado momento (ex.: ato de nomeação).
Apesar de poderem dar lugar a situações duradouras, a operatividade do
ato esgota-se no momento em que se torna eficaz.
Ao invés, os atos possuem eficácia duradoura no caso de a sua ope-
ratividade se prolongar no tempo, criando e suportando relações contí-
nuas entre a Administração e os particulares (ex.: concessão). Podem aqui
suscitar-se questões relativas à alteração das circunstâncias de facto du-
rante a vigência do ato, permitindo à Administração, sobretudo nos espa-
ços de discricionariedade ou de autonomia decisória, determinar a modi-
ficação, anulação ou revogação do ato. Os atos de eficácia duradoura po-
dem ver os seus efeitos sujeitos a suspensão ou cessação.
A suspensão reporta-se aos atos administrativos de eficácia dura-
doura que, estando a produzir normalmente os seus efeitos, em virtude de
um dado acontecimento, deixa temporariamente de os produzir. A sus-
pensão da eficácia termina ou com a renovação da eficácia ou com a extin-
ção do ato cujos efeitos se haviam suspendido.
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
f. Ato que ofenda caso julgado – nulidade (art. 161.º, n.º 2, alínea j),
do CPA);
g. Ato que tenha por objeto a renúncia à titularidade ou ao exercício
da competência – nulidade (art. 36.º, n.º 2, do CPA);
h. Atos praticados com erro e dolo – anulabilidade;
i. Atos praticados sob coação física ou moral – nulidade (art. 161.º,
n.º 2, alínea f), do CPA);
j. Atos cujo conteúdo não integre as menções obrigatórias (art. 151.º
do CPA): falta de indicação da autoridade que praticou o ato; falta de iden-
tificação do destinatário; falta de indicação do conteúdo ou do sentido da
decisão e respetivo objeto; falta de assinatura do ato administrativo; – ine-
xistência (ex vi art. 155.º, n.º 2, do CPA).
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
34 Sobre este assunto, para uma visão de conjunto e para uma identificação do rol
bibliográfico relativo ao tema, vd. ISABEL CELESTE FONSECA, Processo temporalmente justo
e urgência, Coimbra, 2009.
35 Vejamos: i) de precarização de direitos e de reconhecimento de situações jurídicas;
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
37 Por todos, vd. CARLA AMADO GOMES, Contributo para o estudo das operações materiais
-121-
Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
dimento Administrativo Anotado, Coimbra, 3.ª ed., 1999, pp. 264 e ss.
40 A título de exemplo, vd. J. C. VIEIRA DE ANDRADE, Lições de Direito Administra-
tivo, 3.ª ed., Coimbra, 2013, pp. 158 e ss.; D. FREITAS DO AMARAL, Curso de Direito Adminis-
trativo, Vol. II., 2.ª ed., Coimbra, 2011, pp. 477 e ss. Sobre o privilégio da execução prévia, vd.
R. MACHETE, «Privilégio da Execução prévia», in Dicionário Jurídico da Administração Pública,
Vol. VI, 1994, pp. 448 a 470.
-123-
Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
pode ser sempre objeto de execução coerciva por via administrativa, salvas
as exceções legais. São as posições perfilhadas por MARCELLO CAETA-
NO e MARQUES GUEDES41. Segundo a corrente ultramoderna ou mais
garantística, a execução coerciva por via administrativa só seria legítima
em matéria de polícia administrativa e para além desta, nas hipóteses em
que a lei expressamente a autorizasse, caso a caso42. Esta perspetiva corres-
ponde à visão de ROGÉRIO SOARES, SÉRVULO CORREIA, MARIA DA
GLÓRIA GARCIA, CARLA AMADO GOMES e VASCO PEREIRA DA
SILVA43.
A Comissão que trabalhou o Projeto de Código do Procedimento
Administrativo apresentado ao Governo em 1989 acolheu uma solução in-
termédia, tendo em conta que a primeira perspetiva iria ao encontro da
atribuição de poderes excessivos à Administração e a segunda iria no sen-
tido inverso. Assim, parece ter vingado a regra: a Administração pode
sempre executar coercivamente os seus atos por via administrativa, mas,
ao executar as suas decisões, só pode fazê-lo pelas formas e nos termos
previstos no Código ou admitidas por outras leis. Por outras palavras, vin-
gou assim o princípio de que a execução coerciva por via administrativa é
legítima em todos os casos em que exista ato executório, mesmo que não
esteja prevista em qualquer texto legal. E, por força desse mesmo enten-
I, 10.ª ed., Lisboa, 1973, pp. 15, 16 e 448 e ss.; MARQUES GUEDES, «Administração Pública»,
in Boletim da Direcção Geral das Contribuições e Impostos, novembro, 1959, n.º 11, pp. 1628 e 1629.
42 Não se pode deixar de evidenciar o pensamento de VIEIRA DE ANDRADE a pro-
pósito da conceção de executoriedade dos atos administrativos. O Autor considera que tal
conceção tradicional é insustentável de manter no quadro de uma administração democráti-
ca, em que os administrados são cidadãos titulares de direitos perante autoridades adminis-
trativas, sendo certo que, no seu entender, não se pode mais falar de uma verdadeira presun-
ção de legalidade dos atos administrativos, nem faz sentido reconhecer à Administração um
poder geral de uso da força, fora das situações excecionais ou de urgência. Refere, aliás, que
a execução coerciva só é legítima em situações de urgência devidamente fundamentada (por
estar em causa prejuízo para o interesse público inequivocamente demonstrado) ou em casos
expressa ou inequivocamente previsto da lei. Mais: afirma que o princípio geral está consa-
grado no n.º 1 do art. 149.º, mas limita-o severamente para as situações de execução coativa
de obrigações ou limitações (nos termos do n.º 2 do art. 149.º), quer por força das limitações
decorrentes do CPA quer por força das situações previstas em legislação especial. Vd. J. C.
VIEIRA DE ANDRADE, Lições de Direito Administrativo, op. cit., pp. 183 e 184.
43 Por todos, vd. CARLA AMADO GOMES, Contributo para o estudo das operações ma-
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
OS CONTRATOS PÚBLICOS
(EM ESPECIAL, O CONTRATO ADMINISTRATIVO)
AULA N.º 7
BIBLIOGRAFIA DE BASE
45 Sobre o tema, vd. o nosso Direito da Contratação Pública. Estudos Reunidos, NEDIP/
-130-
Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
1. Enquadramento
-131-
Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
2. Conceito e tipos
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4.0. Introdução
-145-
Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
11 de março de 1910, Compagnie générale française des tramways, Rec. 216, Concl. Blum, a propó-
sito de um dos principais aspetos identitários do regime substantivo do contrato administra-
tivo, mais propriamente o que concerne ao regime dos pressupostos e dos limites do poder
de modificação unilateral do contraente público, no quadro de uma concessão de um serviço
de transporte. Sobre o tema, vd. Les grands arrêts de la jurisprudence administrative, coord. M.
LONG, P. WEIL, G. BRAIBANT, P. DELVOLVÉ, B. GENEVOIS, 14ème édition, Dalloz, Paris,
2003, pp. 135 e ss.
-146-
Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
-147-
Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
4.0.1.
No que respeita às invalidades, vamos apenas enunciar o regime
substantivo de invalidades dos contratos públicos (e não já somente dos
contratos administrativos): nos termos do art. 283.º, e quanto à invalidade
derivada ou consequente, i) os contratos públicos são nulos se a nulidade
do ato procedimental em que tenha assentado a sua celebração tenha sido
judicialmente declarada ou ainda possa sê-lo (n.º 1); ii) os contratos públi-
cos são anuláveis se tiverem sido anulados ou se forem anuláveis os atos
procedimentais em que tenha assentado a sua celebração e se demonstre
que o vício determina a invalidade do contrato, designadamente por im-
plicar uma modificação subjetiva do contrato celebrado ou uma alteração
do seu conteúdo essencial (n.º 2). O efeito anulatório previsto no n.º 2 pode
ser afastado por decisão judicial ou arbitral, quando, ponderados os inte-
resses públicos e privados sem presença e a gravidade de ofensa geradora
do vício do ato procedimental em causa, a anulação do contrato se revele
desproporcionada ou contrária à boa fé ou quando demonstre inequivoca-
mente que o vício não implicaria uma modificação subjetiva do contrato
celebrado nem uma alteração do seu conteúdo essencial. Ainda a propósito
do regime relativo às invalidades, mantém-se o disposto no art. 283.º-A.
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
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Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
Não se duvida de que o art. 72.º da Diretiva 2014/24 tem como prin-
cipal objetivo limitar a autonomia da vontade das partes e a respetiva in-
tenção de procederem à renegociação livre do contrato durante a execução
do mesmo, particularmente quando se vislumbre que isso traduza viola-
ção da concorrência, por desvirtuação da adjudicação. Invoque-se o consi-
derando 107 da Diretiva 2014/24: «tais alterações demonstram a intenção
das partes de renegociar termos ou condições essenciais desse contrato.
Isso verifica-se, em particular, nos casos em que as condições alteradas po-
deriam ter tido influência no resultado do procedimento, se tivessem sido
inicialmente contempladas».
Aliás: não obstante ser a primeira vez que o legislador europeu aco-
lhe uma solução para o momento relativo à execução dos contratos públi-
cos, este tema já há muito foi identificado no quadro europeu. Uma primei-
ra solução foi apresentada de forma clara no Ac. Pressetext, de 19.06.2008,
proc. C-454/06, depois, foi muito discutida no Livro Verde (sobre a Moder-
nização da Política de Contratos Públicos), tendo inclusive sido reconhe-
cido um conjunto de fragilidades à jurisprudência entretanto ditada pelo
-152-
Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
4.1.0.1.
A introdução de modificações aos contratos públicos abrangidos pe-
las Diretivas Europeias/2014, durante a sua execução, que sejam conside-
radas substanciais, traduzem renegociação do contrato inicial e, por isso,
tal alteração obriga o contraente público a pôr-lhe fim e a desencadear um
novo procedimento de adjudicação. Confronte-se a alínea a) do art. 73.º da
Diretiva 2014/24, que expressamente comina tal sanção. Assim, caso isso
aconteça, deve haver lugar à respetiva rescisão do contrato. Avança neste
sentido a Comissão de Revisão do CCP, ao propor no n.º 4 do art. 196.º (da
Proposta de Transposição das Diretivas Contratos Públicos 2014) que «as
modificações que não respeitem os limites estabelecidos no presente Có-
47 Aliás, a jurisprudência inicial sobre o tema data de 2000, tendo sido inaugurada
com o Acórdão de 05.10.2000, proc. C-337/98, Comissão versus França. Impõe-se ainda lembrar
o Acórdão de 29.04.2014, Comissão/CAS Succhi di Frutta SpA, proc. C-496/99; o Acórdão de
13.04.2010, proc. C-91/08, Wall AG; o Acórdão de 22.04.2010, Comissão/Espanha, proc. C-423/07;
e o Acórdão de 08.05.2014, Idrodinamica Apurgo Velox Srl, proc. n.º C-161/13. Contudo, é no
Acórdão de 19.06.2008, proc. C-454/06, Pressetext Nactrichtenagentur, que o TJUE foi mais mar-
cante, dando a conhecer que «as alterações das disposições de um contrato público em vigor,
caso apresentem características significativamente diferentes do inicial, obrigam a lançar um
novo procedimento de adjudicação do contrato em causa», sendo certo que, quanto ao con-
ceito de alteração substancial, o TJUE foi explicando que isso acontece designadamente quan-
do «se introduzem condições de suscetíveis de permitir a participação ou a qualificação de
outros proponentes», ou «de alargar consideravelmente o âmbito do contrato» ou de «alterar
o respetivo equilíbrio económico».
-153-
Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
4.1.0.2.
No que concerne às situações referentes a alterações substanciais do
contrato inicial, sempre se pensou que estas poderiam traduzir alterações
ao seu âmbito de aplicação, alterações relativas ao conteúdo dos direitos e
obrigações mútuos das partes ou alterações que, ao tocarem nas condições
essenciais do contrato, poderiam ter tido influência no resultado do proce-
dimento, caso tivessem sido inicialmente consideradas. Vejamos o que sig-
nifica alteração substancial para este efeito.
Para o legislador europeu, a modificação é considerada substancial
quando dê lugar a um contrato diferente do celebrado inicialmente e por
se verificar uma ou mais das seguintes condições:
-154-
Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
-155-
Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
-156-
Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
muito semelhante nos dois sistemas jurídicos48, e, sendo certo também que,
como se compreende, é nos sistemas jurídicos onde a regulação da execu-
ção dos contratos é mais pormenorizada que as dificuldades são patentes 49
⎼ o que se aceita, tendo em conta a figura do contrato administrativo e do
seu regime de matriz francesa, caracterizado pela exorbitância de poderes
do contraente público, mormente de modificação unilateral das prestações
contratuais.
Pois bem, aqui chegados, e depois de termos estudado a proposta
legislativa ao CCP, confirmamos as dificuldades de harmonização do re-
gime nacional com o europeu e registamos os receios que na altura já eram
visíveis, uma vez que naquela Proposta não havia a intenção de se fazer
desaparecer os traços identitários do regime substantivo do contrato ad-
ministrativo – e isto, pese embora o legislador dos Estados ainda estar au-
torizado a manter algum espaço de opção quanto aos quantitativos abaixo
dos quais não se pode considerar que haja impacto financeiro da alteração
introduzida.
Destarte, e em clara sintonia com o Direito Europeu (incluindo a ju-
risprudência do TJUE), teria sido suposto acolher um preceito que consi-
derasse legitimamente possível proceder à alteração do contrato durante a
sua vigência, nos termos das condições nele próprio previstas, fazendo
alusão à prévia antecipação da previsão da alteração nas peças do proce-
dimento (cadernos de encargos), com objetividade e clareza. Esta solução
foi integrada na versão trabalhada pela Comissão e acabou por ter apenas
uma pequena referência no n.º 1 do art. 31.º, 2.ª parte. Deste modo, o legis-
lador nacional teria permitido que a alteração acontecesse quando, inde-
pendentemente do valor que representasse em relação ao preço inicial,
fosse prevista no próprio contrato, tendo essas cláusulas (incluindo cláu-
contrato público existente: um velho tema, novas dificuldades», in A transposição das Diretivas
Europeias de 2014 e o Código dos Contratos Públicos, Coordenação MARIA JOÃO ESTORNI-
NHO, ICJP, CIPD, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, 2016.
49 E veja-se o caso francês, art. 65.º : «Les conditions dans lesquelles un marché public peut
être modifié en cours d'exécution sont fixées par voie réglementaire. Ces modifications ne peuvent
changer la nature globale du marché public. Lorsque l'exécution du marché public ne peut être pour-
suivie sans une modification contraire aux dispositions prévues par la présente ordonnance, le marché
public peut être résilié par l'acheteur.».
-157-
Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
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-159-
Parte II – A atividade administrativa – Formas típicas de atuação
-160-
Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
AULA N.º 8
BIBLIOGRAFIA DE BASE
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICA
-163-
Parte III – As garantias administrativas
1. Enquadramento
2. As garantias administrativas
-164-
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Parte III – As garantias administrativas
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
-167-
Parte III – As garantias administrativas
A) Regime comum
-168-
Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
-169-
Parte III – As garantias administrativas
vii) Quanto aos efeitos sobre os prazos – art. 190.º do CPA: a recla-
mação de atos ou omissões sujeitas a recurso administrativo necessário
suspende o prazo da sua interposição (n.º 1); nos restantes casos, a recla-
mação não suspende o prazo de interposição dos recursos administrativos
(n.º 2).
ix) Quanto aos efeitos sobre atos – art. 189.º do CPA: as impugna-
ções administrativas necessárias suspendem os respetivos efeitos (n.º 1); as
impugnações administrativas facultativas não têm, em regra, efeito sus-
pensivo, com exceção dos casos em que o autor do ato ou o órgão compe-
tente para conhecer do recurso considere que a sua execução imediata cau-
sa prejuízos irreparáveis ou de difícil reparação ao destinatário e a suspen-
são não cause prejuízos para o interesse público (n.os 2 e 3). A possibilidade
de ser decidida pela Administração a suspensão de eficácia do ato não pre-
judica o pedido de suspensão de eficácia perante os tribunais administra-
tivos (n.º 5).
-170-
Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
B) Regime específico
1. Da reclamação
2. Do recurso hierárquico
-171-
Parte III – As garantias administrativas
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
-173-
Parte III – As garantias administrativas
Havendo lugar a recurso tutelar, apenas nos casos em que a lei con-
ferir ao órgão tutelar poderes de tutela substitutiva, e no âmbito desses
poderes, é que este poderá modificar ou substituir o ato recorrido ou omi-
tido (n.º 4).
-174-
Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
AULA N.º 9
BIBLIOGRAFIA DE BASE
BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICA
-175-
Parte IV – A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado
-176-
Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
-177-
Parte IV – A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado
ponsabilidade Civil do Estado e dos seus órgãos ou agentes», in Boletim do Ministério da Jus-
tiça, n.º 85, Lisboa, 1959, p. 446. O autor explicita que, para que haja responsabilidade solidá-
ria, é necessário que o funcionário exceda ou incumpra as disposições da lei, respondendo o
Estado unicamente se o funcionário proceder dentro das suas atribuições ou funções e por
causa delas.
-178-
Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
tual do Estado e Demais Entidades Públicas e o Direito da União Europeia, Almedina, 2009, pp. 9 e
10.
-179-
Parte IV – A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado
pública Portuguesa anotada, Vol. I, 4.ª ed., Coimbra: Coimbra Editora, 2007, p. 425, e RUI ME-
DEIROS, Ensaio Sobre a Responsabilidade Civil do Estado por Atos Legislativos, Coimbra: Alme-
dina, 1992, p. 121.
-180-
Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
demnizar do legislador, Coimbra: Coimbra Editora, 1998, pp. 439 a 444, e JOSÉ CARLOS VIEIRA
DE ANDRADE, Os direitos fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976, 5.ª ed., Coimbra:
Almedina, 2012, p. 136.
63 JOSÉ MELO ALEXANDRINO, Direitos Fundamentais – Introdução Geral, Principia,
2007, p. 36.
64 RUI MEDEIROS, Ensaio Sobre a Responsabilidade Civil do Estado por Atos Legislativos,
cit., p. 121.
-181-
Parte IV – A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado
bilidade Civil dos Poderes Públicos, 1.ª ed., Coimbra: Coimbra Editora, 2013, p. 17.
66 JORGE PEREIRA DA SILVA, Dever de Legislar e Proteção Jurisdicional contra Omissões
-182-
Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
tões a propósito da responsabilidade extracontratual por (f)actos ilícitos e culposos praticados no exer-
cício da função administrativa: da responsabilidade civil à responsabilidade pública. Ilicitude e presun-
ção de culpa, pp. 2 e 3, disponível online em http://www.icjp.pt/sites/default/files/media/artigo-
responsabilidade2.pdf.
-183-
Parte IV – A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado
71 JOÃO CAUPERS, Notas sobre a nova lei da responsabilidade civil do Estado, p. 6, dispo-
-184-
Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
dade Civil Administrativa, Direito Administrativo Geral, Tomo III, Dom Quixote, 1.ª ed., 2010,
p. 11.
-185-
Parte IV – A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado
vil do Estado e demais entidades públicas pelo exercício da função administrativa, p. 7, disponível
online em https://www.csm.org.pt/ficheiros/eventos/encontroscsm/06eacsm/6encontrocsm_
carloscadilha2.pdf.
76 MARCELLO CAETANO, Manual de Direito Administrativo, 9.ª ed., Coimbra: Alme-
-186-
Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
78 DIOGO FREITAS DO AMARAL, Curso de Direito Administrativo, Vol. II, 2.ª ed.,
Estado, cit., p. 9.
-187-
Parte IV – A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado
n.º 3). Contrariamente, quando o autor da conduta ilícita tenha atuado com
dolo ou culpa grave, no exercício das suas funções e por causa desse exer-
cício, o Estado e as demais pessoas coletivas públicas são solidariamente
responsáveis com os respetivos titulares de órgãos, funcionários e agentes
(art. 8.º, n.º 2)80.
Como último apontamento neste âmbito, o Estado e as demais pes-
soas coletivas públicas gozam de direito de regresso relativo às quantias
que deveriam ter sido pagas pelos titulares dos órgãos, agentes ou funcio-
nários, sendo esse direito de regresso obrigatório e, como tal, um poder
vinculado (arts. 6.º, n.º 1, e 8.º, n.º 3)81.
80 Alguma doutrina criticava a formulação do art. 7.º, n.º 1, por, também para os casos
de culpa leve, por força do art. 22.º da Constituição, não consagrar a solução da responsabili-
dade solidária do ente público com o trabalhador responsável, no plano das relações externas.
Neste sentido, CARLA AMADO GOMES, A responsabilidade civil extracontratual da administra-
ção por facto ilícito, Reflexões avulsas sobre o novo regime da Lei 67/2007, de 31 de Dezembro, texto
policopiado, p. 86, disponível online em http://julgar.pt/wp-content/uploads/2016/05/07-
Carla-Amado-Gomes-Responsabilidade-civil-adm-facto-ilicito.pdf.
Com outra visão, DIOGO FREITAS DO AMARAL, «Problemas Gerais – Conferência
sobre “A Responsabilidade civil extracontratual do Estado”», in Responsabilidade Civil Extra-
contratual do Estado – trabalhos preparatórios da reforma, 2002, pp. 44 e ss. Para o autor, a ideia
de responsabilidade exclusiva do Estado em caso de culpa leve e de responsabilidade solidá-
ria propriamente dita para os casos de dolo ou culpa grave resulta não do art. 22.º da Consti-
tuição de República Portuguesa, mas antes do art. 271.º da CRP.
81 Parece ter-se aqui seguido a linha de pensamento de FAUSTO DE QUADROS. Nos
sabilidade Civil Extracontratual do Estado e Demais Entidades Públicas Anotado, Coimbra: Coimbra
Editora, 2008, pp. 174 e 175. O autor refere algumas inovações relativamente ao art. 8.º do DL
-188-
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-189-
Parte IV – A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado
bilidade Civil Extracontratual do Estado e Demais Entidades Públicas Anotado, cit., p. 180.
-190-
Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
-191-
Parte IV – A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado
demnização, previsto no art. 29.º, n.º 6, da CRP, implica a instauração de um processo prévio
de revisão da sentença condenatória, nos termos do CPP, no que se refere aos fundamentos e
requisitos de admissibilidade.
92 LUÍS FÁBRICA, «Responsabilidade por erro judiciário», in Comentário ao Regime da
tracontratual do Estado e Demais Entidades Públicas Anotado, cit., p. 210. O autor aponta como
erros de direitos o erro de qualificação jurídica, o erro de subsunção jurídica, o erro de esta-
tuição ou, ainda, a aplicação de uma norma que devesse ser tida como inconstitucional.
-192-
Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
-193-
Parte IV – A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado
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cit., p. 86.
104 Ibidem, p. 131.
-195-
Parte IV – A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado
rais, esta definição apenas se aplique à responsabilidade pela função político-legislativa (art.
15.º, n.os 1 e 3) e à indemnização pelo sacrifício (art. 16.º).
107 Cfr. arts. 161.º, 164.º, 165.º, 182.º, 198.º, n.º 1, alíneas a) e b), e 225.º a 234.º da CRP.
108 Ressalve-se que a invalidade ou ineficácia da lei não tem necessariamente de ser
-196-
Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
283.º», in JORGE MIRANDA e RUI MEDEIROS, Constituição Portuguesa Anotada, III, 2007, pp.
868 e 869.
-197-
Parte IV – A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado
112 RUI MEDEIROS, Ensaio Sobre a Responsabilidade Civil do Estado por Atos Legislativos,
do Estado e demais entidades públicas pelo exercício da função administrativa, cit., p. 11.
114 Neste sentido e por todos, J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Consti-
tuição da República Portuguesa anotada, cit., p. 431. Os autores entendem que o art. 22.º não in-
clui a responsabilidade por facto lícito, não querendo tal significar que a Constituição a deixe
de tutelar, visto prever outros institutos compensatórios que densificam o direito geral à re-
paração dos danos, como, por exemplo, o art. 83.º, referente à nacionalização e apropriações
públicas.
-198-
Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
115 FERNANDO ALVES CORREIA, Manual de Direito do Urbanismo, Vol. I, 4.ª ed.,
Coimbra: Almedina, 2008, pp. 730-731.
116 Por oposição aos danos comuns ou normais, isto é, respetivamente, àqueles danos
que recaiam genericamente sobre todos os cidadãos ou categorias amplas e abstratas de pes-
soas e àqueles danos que se possam considerar habituais e aceitáveis dentro do mínimo de
risco que é próprio da vida em sociedade. Seguidos a classificação avançada em DIOGO
FREITAS DO AMARAL, Curso de Direito Administrativo, cit., p. 747. Assim sendo, o facto vo-
luntário que despoleta a indemnização pelo sacrifício tanto pode ser um ato administrativo
como um ato material, mas não um regulamento por não cumprir a característica da especia-
lidade do dano.
117 Neste sentido, vide FERNANDO ALVES CORREIA, «A Indemnização pelo sacrifí-
cio: contributo para o esclarecimento do seu sentido e alcance», in Revista de Legislação e Juris-
prudência, Ano 140.º, n.º 3966, 2011, pp. 154 e 155.
118 JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE, «A responsabilidade indemnizatória por
poderes públicos em 3D: Estado de Direito, Estado Fiscal, Estado Social», in Revista de Legis-
lação e Jurisprudência, Ano 140.º (2011), n.º 3969, pp. 354 a 356.
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AULA N.º 10
BIBLIOGRAFIA DE BASE
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Parte IV – A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado
120 Sobre o tema, vd. MARIA JOSÉ RANGEL MESQUITA, «Irresponsabilidade do Es-
tado-juiz por incumprimento do Direito da União Europeia: um acórdão sem futuro», in CJA,
n.º 79, 2010, pp. 29 e ss., e «O novo regime da responsabilidade do Estado por danos decor-
rentes do exercício da função jurisdicional», in Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor Martim
de Albuquerque, II, Lisboa, 2010, pp. 415 e ss.; CARLA AMADO GOMES, «ABC da (ir)respon-
sabilidade dos juízes no quadro da lei n.º 67/2007, de 31 de Dezembro», in SI, tomo LIX, 2010,
n.º 322, pp. 261 e ss.; ALESSANDRA SILVEIRA, «A Responsabilidade do Estado-juiz por vio-
lação do Direito da União Europeia à luz da Jurisprudência do Tribunal de Justiça», in Scientia
Iuridica, Braga, n.º 315, abril/junho 2008, pp. 427 e ss.; «Da (ir)responsabilidade do Estado-juiz
por violação do Direito da União Europeia – Anotação ao Acórdão do STJ de 3 de Dezembro
de 2009», in Scientia Iuridica, Braga, n.º 320, outubro/dezembro 2009, pp. 773 e ss.
121 A este propósito, vd. MARIA JOSÉ RANGEL DE MESQUITA, «Irresponsabilidade
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Parte IV – A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado
Estado por incumprimento do Direito da União Europeia: um princípio com futuro», in CJA,
n.º 60, 2006, pp. 52 e ss.
123 Seguimos MARIA JOSÉ RANGEL DE MESQUITA, «Responsabilidade do Estado
por incumprimento do Direito da União Europeia: um princípio com futuro», cit., p. 64.
124 Expressão de MARIA JOSÉ RANGEL DE MESQUITA, «Irresponsabilidade do Es-
tado-juiz por incumprimento do Direito da União Europeia: um acórdão sem futuro»», cit.,
p. 39.
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
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Parte IV – A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
da Administração por facto ilícito e as novas regras de repartição do ónus da prova», in CJA,
n.º 69, 2008, pp. 30 e ss.
127 A Diretiva Recursos (n.º 89/665/CE, entretanto alterada pela 2007/66/CE do Parla-
mento Europeu e do Conselho, de 11.12.2007) vem impor ─ no art. 2.º, n.º 1, alínea c) ─ a
obrigação de os Estados-Membros garantirem, no âmbito dos procedimentos de adjudicação
de contratos públicos, as medidas destinadas a tornar eficazes os recursos interpostos de de-
cisões das entidades adjudicantes, incluindo a previsão de poderes que permitam conceder
indemnizações às pessoas lesadas nesses procedimentos adjudicatórios.
128 Assim, o TJUE, por Acórdão de 14.10.2004 (proc. n.º C-275/03) condenou Portugal
por infração ao direito comunitário precisamente por o Decreto-Lei n.º 48 051, de 21 de no-
vembro de 1967, prever a culpa como pressuposto autónomo de responsabilidade civil da
administração por facto ilícito. Com efeito, de acordo com o entendimento dos juízes do Lu-
xemburgo, ainda que a legislação portuguesa consagrasse a possibilidade de os lesados
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Parte IV – A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado
Esta é, pois, a razão pela qual nasceu o n.º 2 do art. 7.º do atual
RRcivilEEE. De facto, tendo em conta estes acontecimentos, foi aprovada
a primeira alteração ao RRcivilEEE, tendo-se procurado alinhar o regime
português, no âmbito dos contratos públicos inseridos no escopo das Di-
retivas Recursos, com o entendimento da Comissão Europeia nesta maté-
ria, adotando-se uma redação idêntica à consagrada na alínea c) do n.º 1
do art. 2.º daquela Diretiva.
Neste sentido, preceitua o art. 7.º, n.º 2, do RRcivilEEE que é conce-
dida indemnização às pessoas lesadas por violação de norma ocorrida no
âmbito de procedimento de formação dos contratos referidos no art. 100.º
do CPTA, de acordo com os requisitos de responsabilidade civil extracon-
tratual definidos pelo Direito comunitário. Trata-se, pois, de uma respon-
sabilização sem culpa.
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
130 Vd., a este propósito, o aresto do STA de 09.10.2008, proc. n.º 319/08.
131 Foi determinante, neste caso, ter em conta os acórdãos proferidos pelo TEDH no
caso Riccardi Pizzati c. Itália, de 29.03.2006, processo n.º 62361/00, e Apicella c. Itália, de
29.03.2006, processo n.º 64890/01.
132 Em França, como se apontou, foram dados alguns passos. Com efeito, o Conseil
d’Etat, em 28.06.2002, através do processo Garde des Sceaux c. Magiera, atribuiu a um sexage-
nário uma indemnização de 30 000 Francos, por julgar o Estado «responsável pelo funciona-
mento defeituoso do serviço público da justiça». E, pela primeira vez, o juiz administrativo,
aplicando o conjunto de critérios/parâmetros europeus de avaliação da razoabilidade da du-
ração do processo, considerou ter ocorrido a violação do direito à justiça em prazo razoável,
uma vez que o processo administrativo em causa, não obstante não apresentar especial com-
plexidade, havia demorado mais de sete anos a definir-se, tendo causado danos morais (an-
gústias, depressão e ansiedade) ao particular de avançada idade. Sobre este assunto, vd. o
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Parte IV – A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado
acórdão do Conseil d’État, de 28.06.2002, Garde des Sceaux c. Magiera, publ. DA-EJC, 2002, pp.
27 e ss.
133 PAULO OTERO, Legalidade e Administração Pública. O sentido da vinculação adminis-
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
135 E a primeira decisão que reconheceu essa falha data de 27.03.2003, no processo
Scordino c. Itália. Neste processo, o particular veio alegar ter recebido uma quantia irrisória a
título de reparação por danos morais: € 600/por ano de excessiva demora, quando o TEDH,
em casos semelhantes, fixava um valor variável entre € 5 000 e € 7 000, por cada ano de atraso.
E o Tribunal de Estrasburgo, não obstante ter reconhecido alguma margem de apreciação ao
foro interno, afirmou claramente que o «juiz nacional deve conformar a sua jurisprudência
com a da Corte (europeia) também no que respeita à quantificação do dano e à fixação da
reparação».
136 Esses nove processos que foram apreciados pelo TEDH e onde se conclui por una-
nimidade que tinha existido violação do prazo razoável e do art. 6, § 1, CEDH são: Scordino c.
Itália; Riccardi Pizzati c. Itália, processo n.º 62361/00; Musci c. Itália, processo n.º 64699/01; Giu-
seppe Mostacciuolo c. Itália; Cocchiarella c. Itália; Apicella c. Itália, processo n.º 64890/01; Ernestina
Zullo c. Itália, processo n.º 64897/01, e Giuseppina et Orestina Procaccini c. Itália, processo n.º
65075/01.
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Parte IV – A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado
àquele que é fixado normalmente, em casos deste tipo, pelo TEDH137. As-
sim, não obstante no que respeita ao dano moral não ser possível quantifi-
car exatamente o valor da indemnização, já que se deve tratar de uma ava-
liação por equidade, e não obstante o juiz nacional ter uma certa autono-
mia que deve ser preservada, ainda assim, o Tribunal de Estrasburgo jul-
gou que as quantias eram insuficientes e por isso aceitou considerar que as
vítimas ainda não estavam razoavelmente ressarcidas pelo dano decor-
rente da violação do respetivo direito à emissão de sentença em prazo ra-
zoável138.
E, nesta sequência, houve alteração na jurisprudência italiana. E é
exatamente no contexto do dano e do cálculo da reparação que surge essa
novidade: assim, quanto ao dano, importa dizer que este pressuposto pas-
sou a incluir tanto o dano patrimonial como o moral, sendo certo que se
passou a entender que ao requerente deveria caber a prova em juízo do
primeiro tipo de dano, provando também que o dano emergente e o lucro
137 Além disso, o TEDH aproveitou para expressar o seu descontentamento pelo facto
de em Itália continuar a existir demora excessiva dos processos, sendo certo que a Lei Pinto
não foi capaz de impedir que os requerentes fossem ainda considerados como vítimas do
mau funcionamento dos serviços de justiça italianos — constituindo um facto agravante. En-
fim, em todos estes nove processos, o TEDH considerou ter existido demora excessiva do
processo e violação do art. 6, § 1, da CEDH. Sobre este tema, vd. A. VERDIN, «Droit à un
procès équitable», in L’Europe des Libertés, n.º 20, Université Robert Schuman.
138 Sobre este assunto, é interessante verificar uma tabela elaborada por MAURIZIO
DE STEFANO, onde se compara o valor das quantias fixadas pelas entidades jurisdicionais
italianas para compensar o dano moral decorrente da violação do prazo razoável e o valor
das quantias indemnizatórias do prejuízo não patrimonial fixado pelo TEDH. Assim, por
exemplo, no caso Riccardi Pizzati c. Itália, que obteve sentença emitida pelo TEDH em
10.11.2004, o valor atribuído no foro doméstico, de acordo com a Lei Pinto, correspondeu a
€ 5 000 e no foro europeu foi fixado um suplemento de € 20 000, sendo certo que, no total, o
requerente, cujo processo demorou nos tribunais italianos 26 anos, foi indemnizado no valor
de € 25 200, por danos não patrimoniais. E, aplicando a mesma lógica, no caso Apicella c. Itália,
o dano não patrimonial foi indemnizado pelos tribunais italianos com a quantia € 2 500, apli-
cando a Lei Pinto, e o TEDH fixou um suplemento no montante de € 7 300, sendo certo que,
no total, o particular, cujo processo demorou 12 anos, foi indemnizado pelos danos morais,
no valor de € 9 800. E por aí diante: no caso Giuseppe Mostacciuolo: € 2 000 nos Tribunais italia-
nos => suplemento europeu € 10 900 => total € 11 900 por danos morais, decorrentes de 15
anos de demora; Ernestina Zullo: € 1 200 nos tribunais italianos => suplemento europeu
€ 5 164 => total de € 6 364 por danos morais decorrentes de 9 anos que demorou o processo;
Concchiarella: € 1 000, nos tribunais italianos => suplemento europeu € 4 600 => total € 5 600
por danos morais decorrentes de 8 anos de demora processual.
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
139 Como refere F. PETROLATI, a Sezione Unite da Corte di Cassazione reconheceu que
o dano moral integra a consequência normal que, à luz do id quod plerumque accidit, resulta da
violação da duração razoável do processo e, como tal, a sua existência deve presumir-se, na
falta de situações concretas que levem a excluí-lo. Ora, se houve um dia em que a Corte di
Cassazione considerou que o dano moral não poderia considerar-se como «dano-evento», ne-
cessariamente ínsito no dano decorrente da violação do direito a emissão de sentença em
prazo razoável (id est: dano in re ipsa) e se exigia a prova de que a duração excessiva do pro-
cesso havia causado um «dano psíquico seguramente sofrido em consequência da demora»,
essa corrente foi substituída por uma que pressupõe a aplicação de Lei Pinto em conformi-
dade com a jurisprudência europeia e o princípio da subsidiariedade.
140 Sobre o tema, vd. ISABEL FONSECA, Processo temporalmente justo e urgência, Coim-
bra, 2009.
141 Neste sentido, LUÍS GUILHERME CATARINO, «Responsabilidade Civil Extra-
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Parte IV – A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado
142 Sobre esta temática, vd. intervenções durante o V Seminário de Justiça Adminis-
trativa, publicadas nos CJA, n.º 40, 2003, especialmente a intervenção de RUI MEDEIROS,
«Apreciação geral dos projectos…», cit., p. 14.
143 Neste sentido, quanto à analogia entre as duas situações, vd. DIOGO FREITAS DO
AMARAL, «Intervenção», cit., p. 51. Quanto ao novo regime de responsabilidade por danos
decorrentes da atividade administrativa, vd. MARCELO REBELO DE SOUSA e ANDRÉ SAL-
GADO DE MATOS, Responsabilidade civil administrativa, Direito administrativo geral, cit.
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
144 Sobre este assunto, vd. especialmente JOÃO CAUPERS, «Responsabilidade pelo
do direito internacional, art. 6, § 1, da CEDH, como na das normas de natureza interna, so-
bretudo nos termos do art. 20.º, n.º 4, da CRP, o direito a decisão judicial em prazo razoável é
parte integrante do direito de acesso aos tribunais e à tutela jurisdicional efetiva. E é para tais
normativos que em última instância se deverá remeter a aferição da ilicitude. É certo que, a
propósito do direito a decisão judicial em prazo razoável, o TC ainda não precisou parâme-
tros de valoração do conceito que o legislador empregou para concretizar uma das dimensões
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Parte IV – A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado
do direito fundamental de acesso aos tribunais, não obstante não deixar de concluir que tal
direito deve servir de parâmetro de racionalidade no cumprimento da imposição legiferante
de criação de um sistema de proteção jurisdicional eficaz – uma vez que o legislador ordinário
está proibido de consagrar no processo atos e formalidades inúteis, principalmente tratando-
-se de processos que o legislador constituinte destaca como devendo ser obrigatoriamente
simplificados e prioritários – e deve servir como princípio orientador da atuação de qualquer
funcionário, agente ou juiz zeloso e cumpridor, principalmente quando este tem poderes sig-
nificativos no processo. Assim, um primeiro parâmetro de aferição da ilicitude deve buscar-
-se no acórdão n.º 248/02 (processo n.º 89/2002) do TC, já que este afirmou que «o princípio
da obtenção de uma decisão judicial em prazo razoável (…) aponta para que, quando os cida-
dãos recorram aos tribunais para defenderem os seus direitos ou interesses legalmente pro-
tegidos, venham a obter, da parte destes, uma decisão sem dilações indevidas», sendo certo
que haverá ilicitude se existirem dilações processuais, pois um parâmetro de medição aponta
para a consideração «dos prazos que se encontrarem estabelecidos para formação e proferi-
mento da decisão nas cabidas leis processuais». Afinal, trazendo à colação um acórdão mais
antigo (n.º 223/95, processo n.º 721/93), para o TC, o conceito de direito ao prazo razoável é
sinónimo de direito a «obter do órgão jurisdicional competente uma decisão dentro dos pra-
zos legais pré-estabelecidos». A ser assim, não se vê como certos juízes possam continuar a
sustentar que o não respeito pelos magistrados dos prazos estabelecidos na lei processual não
traduz por si só ilicitude. É certo que a valoração em concreto do pressuposto de ilicitude
pressupõe sempre o apelo ao conceito de razoabilidade da demora na administração da jus-
tiça, quer pela vinculação decorrente das normas constitucionais (mormente ex vi arts. 20.º,
n.º 1, n.º 4 e n.º 5, e 268.º, n.º 4 e n.º 5), quer das normas constantes da Convenção e da juris-
prudência do TEDH. E, é certo que, de um modo ou de outro, é necessário proceder à valo-
ração, em concreto, do conceito indeterminado de que o legislador se serve para garantir e
densificar esta dimensão do direito fundamental de acesso ao tribunal. Enfim, ainda que se
deva ter presente o respeito pelo jus dicere (autonomia e independência) dos juízes, não deixa
de ser questionável que a «vaga e tabeliónica invocação de acumulação de serviço», e a con-
sequente prática de atos fora do prazo legal, possa justificar no foro nacional a recorrente
invocação de funcionamento anormal do serviço, e a consequente responsabilidade direta e
exclusiva do Estado (e de todos nós, os contribuintes), ou a ausência por si só de ilicitude ou
violação do direito dos particulares – o que seria ainda pior. Bem como não pode aceitar-se a
afirmação jurisprudencial de que «os preceitos legais que fixam o prazo para os magistrados
praticarem, no processo, os respetivos atos, sejam eles pareceres, despachos ou sentenças,
[são] normas disciplinadoras da atividade processual (…)» e «consequentemente a sua não
observância pelos magistrados não constitui facto ilícito», tanto mais quanto, à luz das preo-
cupações de ordem político-legislativa da sociedade tardo-moderna, do legislador experi-
mental – que não deixa de ser aceite pelo Tribunal Constitucional (vd. acórdão do TC n.º
69/2008) – se criam processos especiais, nos quais as fases e os prazos são tipicamente previs-
tos e se dá atenção à duração do processo em função de certos valores, incluindo o tipo de
situação jurídica que é carente de tutela. Na verdade, não compreendemos como pode consi-
derar-se que, especialmente em relação a tais processos, o desrespeito pelos prazos proces-
suais não se traduza imediatamente em ilicitude. De resto, imperioso se torna que quanto à
valoração do grupo de conceitos referentes à violação do direito à emissão de sentença em
prazo razoável (ou ilicitude) se considere, por um lado, a complexidade/simplicidade da
causa – id est, que se aplique o primeiro critério do método seguido pelos órgãos de Estras-
burgo para avaliar da duração razoável do processo – e que se examine o assunto sobre que
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
o processo versa e se avalie da urgência que as partes podem ter na prolação da sentença –
usando o quarto critério do método seguido pela jurisprudência da Convenção: «l’enjeu du
litige». E, claro, lembrando a jurisprudência do TEDH, cumpre ter sempre presente que o
Tribunal de Estrasburgo já afirmou que a duração razoável corresponde em princípio à du-
ração média de um processo, sendo certo que – em princípio, sublinhe-se – a duração média
em 1.ª instância deve corresponder a 3 anos, ou dois anos e sete meses, se atendermos a causas
em matéria laboral ou relativas a pessoas. E a duração média de todo o processo – em princí-
pio, sublinhe-se de novo – deve corresponder a um período que vai de 4 a 6 anos, salvo casos
especiais em que a demora de 2 anos pode significar duração excessiva, tendo em conta par-
ticulares direitos ou interesses próprios do caso.
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Parte IV – A Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
AULA N.º 11
BIBLIOGRAFIA DE BASE
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BOAS PINTO, Introdução ao Direito do Domínio Público, Braga: AEDUM/NEDIP, 2019, aí se en-
contrando em maior grau de desenvolvimento.
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Parte V – Direito Administrativo especial
147 Neste sentido e para um estudo mais aprofundado do domínio privado, CARMEN
CHINCHILLA MARÍN, Bienes patrimoniales del Estado, Madrid, Marcial Pons, 2001, p. 91.
-220-
Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
148 PARADA VÁZQUEZ, Derecho Administrativo. Urbanismo y Bienes Públicos, Vol. III,
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Parte V – Direito Administrativo especial
150 ANA RAQUEL MONIZ, Domínio Público – O Critério e o Regime Jurídico da Dominia-
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
beiras e outros cursos de água, com os respetivos leitos e margens e, bem assim, os que por
lei forem reconhecidos como aproveitáveis para produção de energia elétrica ou para irriga-
ção; b) As valas e os canais de irrigação abertos pela Região e as barragens de utilidade pú-
blica; c) Os jazigos minerais; d) Os recursos hidrominerais, incluindo as nascentes de águas
minerais naturais e as águas mineroindustriais; e) As cavidades naturais subterrâneas exis-
tentes no subsolo, com exceção das rochas, terras comuns e outros materiais habitualmente
usados na construção; f) Os recursos geotérmicos; g) As estradas regionais, vias rápidas e
autoestradas com os seus acessórios e obras de arte; h) As redes de distribuição pública de
energia; i) Os portos artificiais, as docas e os ancoradouros; j) Os aeroportos e aeródromos de
interesse público; l) Os palácios, monumentos, museus, bibliotecas, arquivos e teatros; m) Os
direitos públicos sobre imóveis privados classificados ou de uso e fruição sobre quaisquer
bens privados; n) As servidões administrativas e as restrições de utilidade pública ao direito
de propriedade».
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Parte V – Direito Administrativo especial
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
153 Estas alíneas constituem, pois, «um mínimo integrante do domínio público», utili-
tituição da República Portuguesa Anotada, 4.ª ed. revista, Vol. I, Coimbra Editora, 2007, p. 1001.
155 Para maiores desenvolvimentos relativos à reserva de lei em matéria de domínio
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Parte V – Direito Administrativo especial
Anotada, 4.ª ed. revista, cit., p. 1004. Também SÉRVULO CORREIA, apud JORGE MIRANDA
e RUI MEDEIROS, Constituição da República Portuguesa Anotada, cit., p. 82, esclarece que, não
obstante a existência de uma cláusula aberta, o legislador ordinário não dispõe de uma liber-
dade irrestrita, isto porque, embora a autonomia privada não valha igualmente de forma ili-
mitada, a verdade é que a consagração constitucional de um princípio que tutela a autonomia
privada (cfr. arts. 26.º, 61.º e 62.º da CRP) limita a liberdade do legislador na ingerência na
esfera da autonomia privada.
157 Cfr. JOÃO MIRANDA [et al.], Comentário ao Regime Jurídico do Património Imobiliário
Público, cit., p. 84, e J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República
Portuguesa Anotada, 4.ª ed. revista, cit., p. 1002. Não se confunda esta classificação com a que
distingue o domínio público natural do domínio público artificial. Entende-se o domínio pú-
blico natural as coisas que resultam de fenómenos naturais, ao passo que o domínio público
artificial decorre de uma intervenção humana.
158 MARCELLO CAETANO, Manual de Direito Administrativo, cit., p. 880.
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
há bem dominial sem lei159. Em suma, a afetação não pode ser exercida
isoladamente, não se assumindo como critério exclusivo da dominialidade
pública. A previsão legal, enquanto elemento normativo, e a afetação, en-
quanto elemento teleológico, afirmam-se como critérios cumulativos na
determinação da dominialidade160, acabando a afetação por preencher a
previsão normativa que determina a potencialidade de certo bem ou tipo
de bens a integrar o domínio público.
Cumpre, no entanto, esclarecer que firmar a obrigatoriedade da pre-
visão legal não significa sustentar a sua suficiência, uma vez que a lei é sem-
pre necessária ou obrigatória na determinação da dominialidade, mas nem
sempre se assume suficiente para tal. Impõe-se, portanto, distinguir con-
soante estejamos perante bens reservados e bens de destinação pública. Quan-
tos aos primeiros, pelas suas características intrínsecas, a sua dominiali-
dade é determinada pelo legislador, não carecendo de uma posterior atua-
ção administrativa. Já os segundos encontram-se dependentes da efetiva
destinação do bem à prossecução do fim que justificou a previsão legal.
Por conseguinte, se para os bens reservados a previsão legal se assume
obrigatória e suficiente, para os bens de destinação pública, tal previsão
assume-se apenas obrigatória, carecendo de ato posterior de destinação,
figurando a afetação, nesses termos, como condição necessária.
blica – Ac. do STA de 26/06/2014, Proc. 1174/2», in Cadernos de Justiça Administrativa, n.º 122
(março-abril), CEJUR, 2017, p. 77, di-lo claramente: «(…) a existência de base legal é um pres-
suposto de verificação obrigatória para que um bem possa ser tido como pertencente ao do-
mínio público».
160 Não é, aliás, uma resposta/solução inédita, visto que a Constituição de 1933 já a
havia consagrado no seu art. 49.º, n.º 8. Referente à atual CRP, ANA RAQUEL MONIZ, Do-
mínio Público – O Critério e o Regime Jurídico da Dominialidade, cit., p. 128: «ao determinar que
pertencem ao domínio público outros bens como tal classificados por lei, a Constituição pre-
tende ressaltar a imprescindibilidade de uma base (pelo menos) legal para que uma coisa seja
submetida ao regime do domínio público» (sublinhado nosso).
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Parte V – Direito Administrativo especial
161 Assim também o Ac. do STA de 08.09.2011, proc. n.º 0277/11: «(…) a lei não impede
a alteração do regime de dominialidade das coisas públicas, alteração que se fará através da
desafetação do bem integrado no domínio público e da sua integração no domínio privado».
162 MARCELLO CAETANO, Manual de Direito Administrativo, cit., p. 956.
163 Seguimos aqui a exposição de JOÃO MIRANDA [et al.], Comentário ao Regime Jurí-
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Direito Administrativo II – Roteiro Teórico-Prático
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Parte V – Direito Administrativo especial
167 A contrario, o Código Civil determina, nos arts. 1385.º, 1386.º e 1387.º, as águas que
se consideram particulares
168 ANA RAQUEL MONIZ, Domínio Público – O Critério e o Regime Jurídico da Dominia-
lidade, cit., p. 169. Sobre a história e evolução do domínio público hídrico em Portugal, vide
MÁRIO TAVARELA LOBO, Manual de Direito de Águas, Vol. I, 2.ª ed., Coimbra: Coimbra Edi-
tora, 1999.
169 No mesmo sentido, art. 4.º, alínea g), do DL n.º 477/80, de 15 de outubro.
170 Cfr. J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Constituição da República Por-
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cit., p. 76.
178 Ibidem, p. 79.
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eliminar um obstáculo que limitava o exercício desse direito 180. Para FREI-
TAS DO AMARAL, não existe um único tipo de uso extraordinário, mas
diversos tipos autónomos que, grosso modo, identificar-se-ão com as exce-
ções aos princípios da generalidade, da liberdade, da gratuitidade, isto é,
«cada uma dessas exceções deve constituir, portanto, uma espécie ou mo-
dalidade de uso comum extraordinário»181.
Importa de igual modo ressalvar que a utilização limitada ou condi-
cionada do domínio público resulta da sua própria natureza, na medida
em que tais limites personificam uma forma de preservar a utilidade pú-
blica da coisa pública182.
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AULA N.º 12
BIBLIOGRAFIA DE BASE
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
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0. Nota introdutória
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184 Alguns dos exemplos são apresentados por DIOGO FREITAS DO AMARAL («O
Poder Sancionatório da Administração Pública», cit., p. 218) como atos sancionatórios sem
que sejam precedidos de procedimento.
185 O STA, por Acórdãos de 30.092004 e de 03.11.2004, classifica como infração admi-
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Estado relativas a contribuições ou impostos, punida com multa ou, quando a gravidade da
infração o justifique, com rescisão do contrato de concessão.
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188 Notar bem a classificação que DIOGO FREITAS DO AMARAL faz deste tipo de
atos («O Poder Sancionatório da Administração Pública», cit., pp. 218 e ss.).
189 Sobre estes problemas, vd. ANTÓNIO CÂNDIDO DE OLIVEIRA, O poder sancio-
natório da Administração Pública, aula de 11 de abril de 2011, pol. da Escola de Direito da Uni-
versidade do Minho, ano letivo 2010/2011.
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190 Sobre este assunto, DIOGO FREITAS DO AMARAL («O Poder Sancionatório da
Administração Pública», cit., p. 225) considera que o poder sancionatório encerra três grandes
áreas: a do ilícito disciplinar administrativo, a do ilícito de mera ordenação social (ou contra-
ordenacional) e a do controlo administrativo da ilicitude de certas atividades públicas e pri-
vadas, que implicam uma colaboração especial do particular com a Administração Pública.
Sobre este tema, vd. VITAL MOREIRA, Apontamentos Curso de Estudos Avançados em Gestão
Pública, INA.; Direito Administrativo, 2.ª turma, 2003. Por seu lado, MARGARIDA E. L. M
DE FARIA (O sistema de sanções e os princípios do direito administrativo sancionador, cit., p. 32),
na senda de E. GARCÍA DE ENTERRÍA, distingue a sanção administrativa geral da sanção
administrativa especial, elegendo como critério de diferenciação o tipo de relação jurídica
estabelecida entre a Administração sancionadora e o administrado sancionado. Assim, no
primeiro caso, fala a autora de uma sanção que se impõe no âmbito de uma relação geral de
poder, que é aquela que se estabelece entre a Administração e todos os cidadãos, indepen-
dentemente da sua vontade, na medida em que todos estão sujeitos à sua autoridade ius pu-
niendi, visando com a sua efetivação a proteção do interesse público a que a Administração
está adstrita no exercício da sua atividade. A sanção administrativa especial incide sobre
aquelas pessoas que voluntariamente (ou por força da lei ou de uma decisão judicial) estabe-
lecem uma ligação específica com a Administração, uma relação especial de poder, manten-
do-se o contacto e sob o controlo da entidade administrativa a que se vinculam, afetando com
os seus ilícitos interesses públicos mais específicos, enquanto mais orientados à tutela da or-
dem administrativa interna, ao seu funcionamento interno.
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191 Ver diploma legal: Decreto-Lei n.º 265/79, de 1 de agosto, designadamente, arts.
128.º e ss.
192 Vd. diploma legal e, por exemplo, Regulamento de visitas do Hospital de S. Mar-
cos, em Braga.
193 Desafio: cfr. Regulamento Geral de uma Biblioteca (consultar por exemplo o sui
ções de Regantes.
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Autoridade da Concorrência (art. 7.º, n.º 2); Estatutos da Entidade Reguladora para a Comu-
nicação Social (arts. 67.º e ss.).
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197 Como se sabe, há uma longa tradição, que vem já desde a Revolução Liberal, no
sentido de que os tribunais judiciais são mais credíveis para a defesa das liberdades e valores
mais caros ao cidadão, como sejam a liberdade individual e a propriedade privada.
198 Como afirma DIOGO FREITAS DO AMARAL («O Poder Sancionatório da Admi-
nistração Pública», cit., p. 223), «não se estranhe, entretanto, que incluamos o chamado “di-
reito de mera ordenação social” como parte do Direito Administrativo: é a solução que há
anos temos defendido no nosso ensino». Vd., do mesmo autor, Manual de Introdução ao Direito,
I, Coimbra, Almedina, 2004, pp. 277 a 281. Sobre este assunto, escrevem HANS J. WOLFF/
/OTTOBACHOF/ROLF STOBER (Direito administrativo, Vol. I, tradução de António F. de
Sousa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2006, p. 255): «O direito administrativo destina-se a
ser respeitado por aqueles que por ele são atingidos. Por isso, o direito das contra-ordenações,
ao ocupar-se das circunstâncias de facto e da punição do ilícito administrativo, é parte essen-
cial do direito administrativo. (…) A relação com o direito administrativo resulta sobretudo
da competência das autoridades administrativas e da posição das circunstâncias de facto que,
por via de regra, se encontram no capítulo final das leis respectivas. A literatura dos manuais
ignora geralmente este aspecto».
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199 «A medida de restrição ao uso de cheque a que o presente capítulo se refere é uma
providência de natureza administrativa que envolve a proibição às pessoas a quem for apli-
cada de movimentar por meio de cheques as contas de depósito de que sejam titulares em
quaisquer instituições de crédito. A competência para a aplicar é do Banco de Portugal». E o
Tribunal Constitucional chegou a sustentar que o «programa constitucional relativo ao di-
reito público sancionatório» estava definido nas alíneas c) e d) do actual art. 165.º da CRP só
admitindo, ao lado do direito penal e do direito disciplinar, o direito contraordenacional e
submetendo-o a reserva relativa de competência legislativa por parte da Assembleia da
República. O Decreto-Lei em questão seria, assim, duplamente inconstitucional: criava ilícitos
administrativos diferentes do ilícito disciplinar e do ilícito contraordenacional contrariando
a Constituição e, por outro lado, violava a reserva relativa de competência legislativa da AR,
pois era um decreto-lei sem autorização legislativa. O Tribunal Constitucional, porém, aca-
bou por considerar apenas que havia uma inconstitucionalidade orgânica e não material. Ou
seja, só por lei da AR ou Decreto-Lei por esta autorizado poderia ser regulada a medida
restritiva de uso do cheque.
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203 A este propósito, DIOGO FREITAS DO AMARAL («O Poder Sancionatório da Ad-
ministração Pública», cit., p. 225.) refere o seguinte: «a revogação sancionatória tem a parti-
cularidade singular de corresponder ao único caso em que um acto administrativo válido e
constitutivo de direitos pode ser revogado pela Administração sem o consentimento do seu
destinatário, ou até contra a vontade dele, e sem que ele tenha direito a qualquer indemniza-
ção», sendo certo que o autor dá carácter genérico à revogação sancionatória.
204 Neste sentido, VITAL MOREIRA, Apontamentos Curso de Estudos Avançados em Ges-
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205 De facto, o primeiro diploma sobra a matéria (o Decreto-Lei n.º 232/79, de 24 de ju-
lho) reconhecia que as instâncias judiciais naturalmente competentes deveriam ser as judi-
ciais administrativas. Contudo, também veio estabelecer que só por razões pragmáticas, pon-
deradas as vantagens e desvantagens de qualquer das soluções, se optou pelos tribunais co-
muns, sendo certo que a opção teria um carácter provisório.
206 De facto, diz-se aí o seguinte: após algumas hesitações, optou-se por atribuir aos
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ções, Anotação ao Regime Geral, 6.ª ed., Áreas Editora, 2011, pp. 479 a 481) consideram que, nos
termos daqueles preceitos, cabe ao legislador constituinte definir a formação, a composição,
a competência e o funcionamento dos órgãos de soberania, sendo certo que o legislador cons-
tituinte estabelece que os tribunais judiciais, não obstante serem os tribunais comuns em ma-
téria cível e penal, exercem jurisdição em áreas não atribuídas a outras ordens jurisdicionais.
Ora, nos termos do art. 212.º, n.º 3, o legislador constituinte estabelece que os tribunais admi-
nistrativos são competentes para dirimir os litígios emergentes das relações jurídicas admi-
nistrativas, sendo certo que, nestes casos, falamos de um verdadeiro processo administrativo,
de competência de autoridades administrativas, com o qual se prosseguem fins de interesse
público incluídos nos objetivos das entidades que exercem a função administrativa e que ter-
minam com a emissão de uma ato administrativo. Isto é, o que resulta da leitura do preâm-
bulo do diploma que introduziu o ilícito de mera ordenação em Portugal. Além disso, o di-
reito de mera ordenação social visa assegurar a realização de interesses públicos cuja prosse-
cução se integra no âmbito funcional da AP. Ora, como atividade administrativa que é,
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que este dispõe que a decisão apenas se torna definitiva e exequível se não
for judicialmente impugnada nos termos do art. 59.º do RGCO.
Chegados aqui, questionamo-nos se o efeito suspensivo do recurso
acionado contra a decisão que aplica a coima também abrange o recurso
da decisão pela qual se aplicam as medidas acessórias. De facto, o efeito
suspensivo não deverá acontecer apenas em relação à decisão que aplica a
coima, pois as sanções acessórias podem tratar-se de medidas de enorme
ingerência nos direitos fundamentais dos sancionados, de que pode resul-
tar um enorme sacrifício, tal como a limitação temporária da capacidade
civil do exercício de direitos, a proibição do exercício de profissão, a proi-
bição do exercício de atividades económicas, o encerramento de estabele-
cimentos ou perda de bens209.
Uma outra dúvida tem que ver com a impugnação das decisões in-
termédias do procedimento sancionatório. Vejamos melhor: é possível ao
arguido, ou às pessoas contra as quais se dirijam, impugnar as decisões
com eficácia externa, tomadas no decurso do processo de contraordenação
(arts. 55.º e 61.º do RGCO)? Neste caso, falamos, pois, de decisões, despa-
chos e demais medidas tomadas pelas autoridades administrativas no de-
curso do processo que são suscetíveis de impugnação judicial. Por isso, a
contrario, consideramos que não são suscetíveis de impugnação as medidas
que, não colidindo com os direitos e interesses das pessoas, se destinem a
preparar a decisão final de arquivamento ou a aplicação da coima. O re-
curso aos tribunais judiciais deverá seguir a forma do recurso previsto no
art. 59.º, uma vez que não tem previsão própria. Contudo, a questão é saber
se tal recurso de decisões com eficácia externa tomadas no decurso do
209 O art. 21.º estabelece que a «lei pode, simultaneamente com a coima, determinar
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Para uma visão sobre o assunto e para consulta da sucinta bibliografia, vd. o nosso «Incertezas
em torno do poder sancionatório da Administração Pública: certezas em torno das fragili-
dades das garantias do sancionado», in Anuário de Direito Público, Escola de Direito da Uni-
versidade do Minho, 2012.
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214 AFONSO RODRIGUES QUEIRÓ, Lições de Direito Administrativo, Vol. I e II, Coim-
bra, 1959, pp. 78 e ss.
215 É certo que AFONSO RODRIGUES QUEIRÓ (Lições de Direito Administrativo, cit.,
p. 82) também cita doutrina que defende posição distinta e que considera que «o direito penal
administrativo é autêntico direito penal».
216 AFONSO RODRIGUES QUEIRÓ, Lições de Direito Administrativo, cit., p. 83.
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