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DIREITO ADMINISTRATIVO
Docente:
Moreira Rêgo
INTRODUÇÃO
Competências a desenvolver:
- Competência normativa
- Competência de investigação
- Competência de aplicação da Informação
- Competência contenciosa
OBJECTIVOS DA DISCIPLINA
Objectivos Gerais
No fim desta disciplina os estudantes devem ser capazes de:
Identificar o modo de funcionamento e as manifestações do poder administrativo;
Determinar a existência de uma relação jurídica administrativa;
Conhecer a relevância da relação jurídica administrativa no âmbito das relações
entre o poder administrativo e os particulares
Conhecer o processo de formação da vontade da administração pública
Analisar o regime jurídico do contrato administrativo
Analisar o regime das relações de emprego público
Dominar o regime de arguição dos vícios dos actos administrativos
Conhecer o âmbito da garantia dos particulares;
c) Sistema de avaliação
1. A avaliação da frequência semestral será feita com base em:
o Dois testes escritos (TE) sem consulta;
o Um exame (E) sem consulta
o Uma segunda época de exame (Escrita ou Oral, dependendo da disponibilidade do
júri)
Notas Importantes:
MS = Teste1+teste2:2
MS+E
2
17/09/2019 - 1º Teste
22/10/2019 - 2º Teste
PROGRAMA TEMÁTICO
Temas
Teórica Prática Total
1 O PODER ADMINISTRATIVO
s
Bibliografia básica:
- Diogo Freitas do Amaral, Curso de Direito
Administrativo, Vol. II, Almedina...
- João Caupers, Introdução ao Direito 2 3 5
Administrativo, 11ª ed., Âncora Editora;
- Marcello Caetano, Manual de Direito
Administrativo, Vol. I;
- Jean Rivero, Direito Administrativo,...
3 O PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO 2 3 5
Bibliografia:
- Mário Aroso de Almeida, O procedimento
administrativo, Almedina;
- Diogo Freitas do Amaral, Curso de Direito
Administrativo, vol. II, Almedina;
- José Eduardo Figueiredo Dias e Fernanda Paula
Oliveira, Noções Fundamentais de Direito
Administrativo, Almedina;
- Marcelo Rebelo de Sousa e André Salgado Matos,
Direito Administrativo. Actividade administrativa,
Dom Quixote;
- João Caupers, Introdução ao Direito
Administrativo, 11ª ed., Âncora Editora;
- Marcello Caetano, Manual de Direito
Administrativo, Vol. I
- Mário Esteves de Oliveira, Direito Administrativo,
Vol. I, Almedina;
O PROCEDIMENTO CONTRATUAL
2 3 5
4 Bibliografia:
- Mário Aroso de Almeida, O procedimento
administrativo, Almedina;
- Diogo Freitas do Amaral, Curso de Direito
Administrativo, vol. II, Almedina;
- José Eduardo Figueiredo Dias e Fernanda Paula
Oliveira, Noções Fundamentais de Direito
Administrativo, Almedina;
- Marcelo Rebelo de Sousa e André Salgado Matos,
Direito Administrativo. Actividade administrativa,
Dom Quixote;
- João Caupers, Introdução ao Direito
Administrativo, 11ª ed., Âncora Editora;
- Marcello Caetano, Manual de Direito
Administrativo, Vol. I
- Mário Esteves de Oliveira, Direito administrativo,
Vol. I, Almedina;
VALIDADE E EFICÁCIA DO ACTO
5 ADMINISTRATIVO 2 3 5
Bibliografia:
- Mário Aroso de Almeida, O procedimento
administrativo, Almedina;
- Diogo Freitas do Amaral, Curso de Direito
Administrativo, vol. II, Almedina;
- José Eduardo Figueiredo Dias e Fernanda Paula
Oliveira, Noções Fundamentais de Direito
Administrativo, Almedina;
- Marcelo Rebelo de Sousa e André Salgado Matos,
Direito Administrativo. Actividade administrativa,
Dom Quixote;
- João Caupers, Introdução ao Direito
Administrativo, 11ª ed., Âncora Editora;
- Marcello Caetano, Manual de Direito
Administrativo, Vol. I
- Mário Esteves de Oliveira, Direito Administrativo,
Vol. I, Almedina;
O FUNCIONALISMO PÚBLICO
2 3 5
6 Bibliografia:
- José Eduardo Figueiredo Dias e Fernanda Paula
Oliveira, Noções Fundamentais de Direito
Administrativo, Almedina;
- Marcello Caetano, Manual de Direito
Administrativo, Vol. II;
- Marcello Caetano, Princípios Fundamentais do
Direito Administrativo, Almedina...
- Mário Esteves de Oliveira, Direito Administrativo,
Vol. I, Almedina...
- João Caupers, Introdução ao Direito
Administrativo, 11ª ed., Âncora Editora;
- Paulo Comoane, Ensaio sobre o regime jurídico da
relação de trabalho no aparelho do Estado no Direito
Moçambicano. Problematização e teorização. Versão
preliminar, Maputo, 2004.
7 A RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO 3 5
2
PÚBLICA
Bibliografia:
- Marcelo Rebelo de Sousa e André Salgado Matos,
A Responsabilidade Civil Administrativa, Dom
Quixote;
- João Caupers, Introdução ao Direito
Administrativo, 11ª ed., Âncora Editora;
- Diogo Freitas do Amaral, Curso de Direito
Administrativo, Vol. IV;
- Fausto de Quadros, Responsabilidade Civil
Extracontratual da Administração Pública, 2.ª ed.,
Almedina;
- Rui Medeiros, Responsabilidade Civil dos Poderes
Públicos, Ensinar e Investigar, Universidade
Católica Editora, 2005.
- Marcello Caetano, Responsabilidade da
Administração Pública, in O Direito, Revista da
Faculdade de Direito de Lisboa, Lisboa, Edições
Jurídicas, 2012.
- Moreira Rêgo, A Responsabilidade Civil do
Legislador, Maputo, 2016
O CONTROLO DA ACTIVIDADE 2 3 5
8 ADMINISTRATIVA
Bibliografia:
- Marcelo Rebelo de Sousa e André Salgado Matos,
Direito Administrativo Geral. Parte Administrativa,
D. Quixote;
- Marcello Caetano, Princípios Fundamentais do
Direito Administrativo, Almedina;
- Paulo Otero, Legalidade e Administração Pública.
O sentido da vinculação administrativa à
juridicidade...
- Jean Rivero, Direito Administrativo, Almedina;
- José Carlos Vieira de Andrade, Lições de Direito
Administrativo, disponível em
https://digitalis.uc.pt/files/previews/106638_preview.pdf,
acesso 1/08/2017
- António Augusto Costa, A erosão do princípio da
legalidade e a discricionariedade administrativa,
disponível em
http://www.cedipre.fd.uc.pt/publicacoes/online/public_12.p
80
Sub-Total
PLANO TEMÁTICO
1. O PODER ADMINISTRATIVO
2. TEORIA GERAL DA RELAÇÃO JURÍDICO ADMINISTRATIVA
3. O PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
5. O PROCEDIMENTO CONTRATUAL
6. VALIDADE E EFICÁCIA DO ACTO ADMINISTRATIVO
7. O FUNCIONALISMO PÚBLICO
8. A RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
9. O CONTROLO DA ACTIVIDADE ADMINISTRATIVA
SINOPSE DO PLANO TEMÁTICO
1. O PODER ADMINISTRATIVO
O Princípio da Separação dos Poderes. Este princípio consiste numa dupla distinção: a distinção
intelectual das funções do Estado, e a política dos órgãos que devem desempenhar tais funções –
entendendo-se que para cada função deve existir um órgão próprio, diferente dos demais, ou um
conjunto de órgãos próprios.
No campo do Direito Administrativo, o princípio da separação de poderes visou retirar aos
Tribunais a função administrativa, uma vez que até aí, havia confusão entre as duas funções e os
respectivos órgãos. Foi a separação entre a Administração e a Justiça.
São três os corolários do princípio da separação dos poderes:
1) A separação dos órgãos administrativos e judiciais: Isto significa que têm de existir órgãos
administrativos dedicados ao exercício da função administrativa, e órgãos dedicados ao exercício
da função jurisdicional. A separação das funções tem de traduzir-se numa separação de órgãos.
2) A incompatibilidade das magistraturas: não basta porém, que haja órgãos diferentes: é
necessário estabelecer, além disso, que nenhuma pessoa possa simultaneamente desempenhar
funções em órgãos administrativos e judiciais.
3) A independência recíproca da Administração e da Justiça: a autoridade administrativa é
independente da judiciária: uma delas não pode sobrestar na acção da outra, nem pode pôr-lhe
embaraço ou limite. Este princípio, desdobra-se por sua vez, em dois aspectos: (a) independência
da Justiça perante a Administração, significa ele que a autoridade administrativa não pode dar
ordens à autoridade judiciária, nem pode invadir a sua esfera de jurisdição: a Administração
Pública não pode dar ordens aos Tribunais, nem pode decidir questões de competência dos
Tribunais. Para assegurar este princípio, existem dois mecanismos jurídicos: o sistema de
garantias da independência da magistratura, e a regra legal de que todos os actos praticados pela
Administração Pública em matéria da competência dos Tribunais Judiciais, são actos nulos e de
nenhum efeito, por estarem viciados por usurpação de poder. (b) independência da
Administração perante a Justiça, que significa que o poder judicial não pode dar ordens ao poder
administrativo, salvo num caso excepcional, que é o do contenciosos.
O Poder Administrativo
A Administração Pública é um poder, fazendo parte daquilo a que se costuma chamar os poderes
públicos. A Administração Pública do Estado corresponde ao poder executivo: o poder
legislativo e o poder judicial não coincidem com a Administração Pública.
Falar em poder executivo, de modo a englobar nele também as autarquias locais e outras
entidades, não é adequado. Assim, preferível usar a expressão poder administrativo, que
compreende de um lado o poder executivo do Estado e do outro as entidades públicas
administrativas não estaduais.
A Administração Pública é, efectivamente, uma autoridade, um poder público – é o Poder
Administrativo.
Manifestações do Poder Administrativo
As principais manifestações do poder administrativo são quatro:
a) O Poder Regulamentar:
A Administração Pública, tem o poder de fazer regulamentos, a que chamamos “poder
regulamentar” e outros autores denominam de faculdade regulamentaria.
Estes regulamentos que a Administração Pública tem o Direito de elaborar são considerados
como uma fonte de Direito (autónoma).
A Administração Pública goza de um poder regulamentar, porque é poder, e com tal, ela tem o
direito de definir genericamente em que sentido vai aplicar a lei. A Administração Pública tem
de respeitar as leis, tem de as executar: por isso ao poder administrativo do Estado se chama
tradicionalmente poder executivo. Mas porque é poder, tem a faculdade de definir previamente,
em termos genéricos e abstractos, em que sentido é que vai interpretar e aplicar as leis em vigor:
e isso, fá-lo justamente elaborando regulamentos.
b) O Poder de Decisão Unilateral
Enquanto no regulamento a Administração Pública nos aparece a fazer normas gerais e
abstractas, embora inferiores à lei, aqui a Administração Pública aparece-nos a resolver casos
concretos.
Este poder é um poder unilateral, quer dizer, a Administração Pública pode exercê-lo por
exclusiva autoridade sua, e sem necessidade de obter acordo (prévio ou à posteriori) do
interessado.
A Administração, perante um caso concreto, em que é preciso definir a situação, a
Administração Pública tem por lei o poder de definir unilateralmente o Direito aplicável. E esta
definição unilateral das Administração Pública é obrigatória para os particulares. Por isso, a
Administração é um poder.
Por exemplo: é a Administração que determina o montante do imposto devido por cada
contribuinte.
A Administração declara o Direito no caso concreto, e essa declaração tem valor jurídico e é
obrigatória, não só para os serviços públicos e para os funcionários subalternos, mas também
para todos os particulares.
Pode a lei exigir, e muitas vezes exige, que os interessados sejam ouvidos pela Administração
antes desta tomar a sua decisão final.
Pode também a lei facultar, e na realidade faculta, aos particulares a possibilidade de
apresentarem reclamações ou recursos graciosos, designadamente recursos hierárquicos, contra
as decisões da Administração Pública.
Pode a lei, e permite, que os interessados recorram das decisões unilaterais da Administração
Pública para os Tribunais Administrativos, a fim de obterem a anulação dessas decisões no caso
de serem ilegais. A Administração decide, e só depois é que o particular pode recorrer da
decisão. E não é a Administração que tem de ir a Tribunal para legitimar a decisão que tomou: é
o particular que tem de ir a Tribunal para impugnar a decisão tomada pela Administração.
c) O Privilégio da Execução Prévia
Consiste este outro poder, na faculdade que a lei dá à Administração Pública de impor
coactivamente aos particulares as decisões unilaterais que tiver tomado.
O recurso contencioso de anulação não tem em regra efeito suspensivo, o que significa que
enquanto vai decorrendo o processo contencioso em que se discute se o acto administrativo é
legal ou ilegal, o particular tem de cumprir o acto, se não o cumprir, a Administração Pública
pode impor coactivamente o seu acatamento.
Isto quer dizer, portanto, que a Administração dispõe de dois privilégios:
- Na fase declaratória, o privilégio de definir unilateralmente o Direito no caso concreto,
sem necessidade duma declaração judicial;
- Na fase executória, o privilégio de executar o Direito por via administrativa, sem qualquer
intervenção do Tribunal. É o poder administrativo na sua máxima pujança: é a plenitude
potestatis.
d) Regime Especial dos Contractos Administrativos:
Um contracto administrativo, é um acordo de vontades em que a Administração Pública fica
sujeita a um regime jurídico especial, diferente daquele que existe no Direito Civil.
E de novo, nesta matéria, como é próprio do Direito Administrativo, esse regime é diferente para
mais, e para menos. Para mais, porque a Administração Pública fica a dispor de prerrogativas ou
privilégios de que as partes nos contractos civis não dispõem; e para menos, no sentido de que a
Administração Pública também fica sujeita a restrições e a deveres especiais, que não existem
em regra nos contractos civis.
Corolários do Poder Administrativo
a) Independência da Administração perante a Justiça: existem vários mecanismos jurídicos
para o assegurar.
Em primeiro lugar, os Tribunais Comuns são incompetentes para se pronunciarem sobre
questões administrativas.
Em segundo lugar, o regime dos conflitos de jurisdição permite retirar a um Tribunal Judicial,
uma questão administrativa que erradamente nele esteja a decorrer.
Em terceiro lugar, devemos mencionar aqui a chamada garantia administrativa, consiste no
privilégio conferido por lei às autoridades administrativas de não poderem ser demandadas
criminalmente nos Tribunais Judiciais, sem prévia autorização do Governo.
b) Foro Administrativo: ou seja, a entrega de competência contenciosa para julgar os litígios
administrativos não já aos Tribunais Judiciais mas aos Tribunais Administrativos.
c) Tribunal de Conflitos: é um Tribunal Superior, de existência aliás intermitente (só
funciona quando surge um conflito), que tem uma composição mista, normalmente paritária, dos
juízes dos Tribunais Judiciais e de juízes de Tribunais Administrativos, e que se destina a decidir
em última instância os conflitos de jurisdição que sejam entre as autoridades administrativas e o
poder judicial
2. TEORIA GERAL DA RELAÇÃO JURÍDICO ADMINISTRATIVA
"O direito administrativo tem a seu cargo a delicada tarefa de encontrar o equilíbrio possível
entre as atribuições e competências fundamentais da Administração discriminadas no direito
europeu, na Constituição, nas convenções internacionais e na lei ordinária e os direitos
fundamentais do indivíduo.
É hoje impensável um direito administrativo sem a consideração do indivíduo como centro de
imputação de direitos e reciprocamente como destinatário de deveres. A Constituição da
República de Moçambique consagrou claramente direitos dos administrados extensíveis a toda a
actividade administrativa, com amplas repercussões. Aos direitos dos particulares correspondem
deveres da Administração. Consequentemente, o direito administrativo desenvolve-se todo ele no
interior de uma relação jurídica entre a Administração e o indivíduo sujeito de autonomia. É esta
a marca distintiva do sistema do actual direito administrativo, o todo ao qual ficam sujeitas as
partes e mediante o qual fica esclarecido o sentido destas; um sistema de relações ou
«relacional». O cidadão deixou de ser mero súbdito da Administração. Muito embora sujeito ao
poder, o cidadão é visto como um titular de direitos perante a Administração ficando esta, por
sua vez, vinculada aos mesmos e, consequentemente, numa posição de tendencial paridade com
aquele. A relação jurídica administrativa é o sintoma da proximidade do cidadão da
Administração1.
Ao mesmo tempo, a dogmática deve deixar de fazer do acto administrativo o seu centro, o que
não significa a ele renunciar, como se verá, e assimilar uma nova lógica da Administração
preparada para a regulação da actividade privada, a criação de infra-estruturas, o fornecimento de
prestações aos cidadãos e, de um modo geral, para a curadoria da existência do cidadão através
da criação de todo um conjunto de condições para o bem-estar geral. Tudo isto é bem conhecido.
Mas as coisas não ficam por aqui. A atenção do direito positivo e da dogmática que lhe
corresponde está cada vez mais desperta para a realidade dos efeitos múltiplos ou multilaterais
dos actos administrativos a ponto de a relação jurídica deles emergente transcender o seu
destinatário directo ao mesmo tempo que gera efeitos que transcendem o caso concreto e
individual, o que faz perder alguma consistência à distinção entre o regulamento e a actividade
1
Texto integral da autoria de MONCADA, Luís Solano Cabral de, A Relação Jurídica Administrativa – Para um
novo paradigma de compreensão da actividade, da organização e do contencioso administrativos Coimbra Editora,
Coimbra, 2009. pp. Intr.
administrativa individual e concreta, tais as repercussões dos actos administrativos na
conformação geral da actividade dos cidadãos. Esta realidade da multilateralidade das relações
engendradas pela prática de meros actos administrativos tem óbvias repercussões procedimentais
e processuais faltando apenas dela retirar as últimas consequências ao nível dogmático. Apontam
estas para a substituição no centro da dogmática da figura do tradicional acta administrativo (e
do contrato administrativo) pela da relação jurídica administrativa. Só esta é capaz de recortar
com realismo a situação do cada vez mais paritário contacto bilateral e multilateral ou poligonal
da Administração com os particulares, à medida dos efeitos externos dos actos administrativos,
dos contratos administrativos e da actividade meramente material da Administração. Só aquela
noção é capaz de retratar um direito administrativo como um direito regulador dos recíprocos
direitos e deveres da Administração e dos cidadãos e não como um direito apenas da
Administração.
A relação jurídica administrativa analisa-se na disciplina do contacto entre a Administração e os
cidadãos pelo direito administrativo. Acontece que esta disciplina tem evoluído numa direcção
dupla. Por um lado, acentua-se uma posição cada vez mais paritária entre os intervenientes, a
ponto de a podermos hoje caracterizar em larga medida como uma relação entre partes
tendencialmente iguais, pois que o cidadão surge perante a Administração dotado de direitos ao
mesmo tempo que aquela surge perante o cidadão dotada de deveres que lhe impõem o estrito
cumprimento das vinculações legais com implicações procedimentais, orgânicas e processuais.
Longe vão os tempos em que a Administração era apenas poder e o cidadão mero súbdito. Pode
dizer-se que hoje, perante a ordem jurídica, a posição- da Administração e do cidadão é
tendencialmente igual, o que não quer dizer, como se verá, que seja igualitária. Por outro lado,
como se disse, a disciplina jurídica tem de ter em consideração a realidade dos efeitos externos
ou múltiplos da actividade administrativa mesmo da que tem destinatários individuais e
concretos, sabendo acautelar e valorizar a posição dos destinatários reais das medidas
administrativas muitas vezes alheios aos que são directamente visados pelos actos praticados e
pelos contratos celebrados. Os efeitos externos ou multilaterais dos actos administrativos (e dos
contratos) demonstram-nos que a relação jurídica em que estão envolvidos é, na realidade,
multilateral e não apenas bilateral, o que não pode deixar de ter a maior influência na respectiva
disciplina jurídica. A disciplina jurídica deve estar atenta a esta realidade insofismável.
Ora, é precisamente para retratar essas situações da cada vez maior paridade entre a
Administração e os cidadãos e dos referidos efeitos multilaterais da respectiva actividade
individual e concreta que a noção de relação jurídica administrativa é particularmente apta. A
perspectiva é, portanto, horizontal e não apenas vertical […].
3. O PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
5. O PROCEDIMENTO CONTRATUAL
CAPÍTULO I
O PODER ADMINISTRATIVO
Noção
Características
Princípios do Poder administrativo
Conformação constitucional do poder administrativo
Manifestações do poder administrativo
a) O poder regulamentar
b) O poder de decisão unilateral
c) O privilégio de execução prévia
d) O regime especial dos contratos administrativos
Corolários do poder administrativo
a) Independência da Administração Pública perante a Justiça
b) Existência dos Tribunais Administrativos, constituindo o chamado foro administrativo.
Princípios fundamentais do Poder Administrativo
CAPÍTULO II
Noções gerais
Elementos da relação jurídica administrativa
Os caracteres e funções gerais da relação jurídico-administrativa
Carácter estruturante da RJA
Os elementos constitutivos da relação jurídico-administrativa
A tipologia da relação jurídico-administrativa.
As manifestações da relações jurídico-administrativa.
Acto administrativo
Contrato
Comportamento fáctivo
Simples pedido apresentado pelo particular e dirigido à Administração
Intervenção no procedimento
Acontecimento natural
Do sujeito da relação juridico-administrativa
Do objecto da relação juridico-administrativa
Do facto da relação juridico-administrativa.
Do facto da relação juridico-administrativa.
A competência
O acto administrativo
O contrato administrativo
A decisão administrativa
CAPÍTULO III
O PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
Noção
Espécies de procedimentos administrativo
A “codificação” das regras do procedimento administrativo — O Decreto n.º 30/2001, de 15 de
Outubro?
Trabalhos preparatórios do novo CPA
A marcha do procedimento
O arranque do procedimento
A instrução
A audiência dos interessados
A decisão
A problemática da decisão tácita
CAPÍTULO IV
O PROCEDIMENTO CONTRATUAL V
CAPÍTULO VI
Noções gerais
Requisitos de validade
Requisitos de eficácia
A invalidade do acto administrativo — suas causas
Regimes da invalidade
Âmbito de aplicação dos regimes da nulidade e da anulabilidade
Correspondência entre as causas da invalidade e os respectivos regimes
Sanação dos actos anuláveis
CAPÍTULO VII
O FUNCIONALISMO PÚBLICO
Noções fundamentais
Constituição da relação de emprego público
O provimento
O contrato
Tipos de contrato
As funções de direcção e chefia – O contrato
Vicissitudes da relação de emprego público
Actos do agente da administração pública
Cessação da relação de emprego público
CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO IX
Bibliografia
Segundo Diogo Freitas do Amaral a atividade da Administração está sujeita a vários tipos de
controlo, que podem ser classificados como controlo de legalidade (determinam se a
Administração agiu ou não de acordo com a lei) e controlo de mérito (avaliam o fundamento das
decisões tomadas pela Administração). Por outro lado, há os controlos jurisdicionais (efetuados
pelos Tribunais) e administrativos (realizados pelos órgãos da própria Administração). No
presente estudo, abordaremos então os controlos realizados pelos Tribunais e pela Administração
Pública, quais sejam, o externo e o interno.
Assim, temos a considerar com precedência sobre os demais, por sua permanência e amplitude,
o controlo da própria Administração sobre seus atos e agentes (controlo administrativo ou
executivo) e, a seguir, o do Legislativo sobre determinados atos e agentes do Executivo
(controlo legislativo ou parlamentar) e, finalmente, a correção dos atos ilegais de qualquer dos
Poderes pelo Judiciário, quando lesivos de direito individual ou do patrimônio público
(controlo judiciário ou judicial. Esses controlos, conforme seu fundamento