Você está na página 1de 16

EXPERIÊNCIAS

APROFUNDE-SE

CAPÍTULO 3

REGIÃO
CENTRO-OESTE
Sobre os
autores

Andréa Arruda é professora da Faculdade de Arquitetura,


Engenharia e Tecnologia da Universidade Federal de Mato Grosso
(UFMT). Pesquisadora do Grupo de Pesquisa e Extensão Estudos de
Planejamento Urbano e Regional (Épura/UFMT). Em 2020, passou
a integrar o Grupo de Estudos Socio-Territoriais Urbanos e de Ação
Local (Gestual), CIAUD/FAULisboa.
Para conhecer o currículo detalhado acesse:
http://lattes.cnpq.br/3284899564422318

Andréa Arruda Para mais informações acesse:


https://www.linkedin.com/in/andr%C3%A9a-arruda/

Doriane Azevedo é professora da Faculdade de Arquitetura,


Engenharia e Tecnologia da UFMT. Desde 2009 é líder do Grupo de
Pesquisa e Extensão Estudos de Planejamento Urbano e Regional
(Épura/UFMT) e do Programa de Extensão EPURAinQUADRANTES.
Seu foco são pesquisas-ações relacionadas à teoria e à história da
urbanização, do urbanismo e do planejamento do território e da
paisagem mato-grossense. Assim como a análise crítica e propositiva
de políticas territoriais em suas incidências/impactos multiescalares.

Doriane Azevedo Para conhecer o currículo detalhado acesse:


http://lattes.cnpq.br/7822387235315790

Claudio Miranda é professor aposentado da Faculdade de Arquitetura,


Engenharia e Tecnologia da UFMT, e pesquisador do Grupo de Pesquisa
e Extensão Estudos de Planejamento Urbano e Regional (Épura/
UFMT). Desde 2019 é diretor-geral do Instituto Cidade Legal (ICL) e
idealizador da MIRAR Arquitetura e Tecnologia, atuando na área de
regularização fundiária e geotecnologias.
Para conhecer o currículo detalhado acesse:
http://lattes.cnpq.br/5634812340817448

Claudio Miranda
39
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

3. CARACTERIZAÇÃO DOS TERRITÓRIOS


URBANOS E DAS NECESSIDADES HABITACIONAIS
EM MATO GROSSO: RELATO DE EXPERIÊNCIA
DA PRÁTICA CONTINUADA DO GRUPO
DE PESQUISA ÉPURA / UFMT
Cuiabá-MT

3.1 PRINCIPAIS QUESTÕES


O estado de Mato Grosso tem 141 municípios, a maior parte de pequena e média dimen-
são demográfica. Apenas cinco deles ultrapassam 100.000 habitantes. A maioria apre-
senta uma estrutura institucional frágil e que precisa ser consolidada, exigindo, entre
outras, ações de regularização fundiária, melhorias ur-
banas e do edificado.

A capital Cuiabá, Várzea Grande e, em outra escala,


Sinop e Rondonópolis, apresentaram uma tendência
de supervalorização da resolução do déficit quantita-
tivo, voltando-se para a produção de novas unidades
habitacionais, em geral desconectadas de políticas
urbanas mais amplas. Nota-se ainda a falta de reco-
nhecimento das inadequações urbanas e habitacio-
nais dos assentamentos precários, o que ficou claro
na subestimação dos dados oficiais sobre esses ter-
ritórios nos primeiros Planos Locais de Habitação PARA MAIS
(PLHIS) elaborados pelos municípios. Há muitos de-
safios na estrutura institucional local/estadual, par-
INFORMAÇÕES
SOBRE O TEMA
VER TAMBÉM OS
2,5
ticularmente quanto à capacidade técnico-política MÓDULOS 2 E 5.
para capturar e aplicar instrumentos jurídicos e ur-
banísticos inovadores. Isso exige arranjos e esforços
de diversos agentes para promover políticas públicas
adequadas às demandas locais.

Este relato apresenta a prática do Grupo de Pesquisa e


Extensão Estudos de Planejamento Urbano e Regional
(Épura/UFMT) em identificar e reconhecer as inade-
quações e necessidades urbano-habitacionais, assim
como as demandas por regularização fundiária nos
municípios mato-grossenses, trazendo como referên-
cia sobretudo o caso de Cuiabá.
40
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

3.2 PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS


ADOTADAS

5
PARA MAIS
Articulando o ensino, a pesquisa e a extensão, o Grupo INFORMAÇÕES
Épura/UFMT vem consolidando uma metodologia4 SOBRE O TEMA
para identificar e reconhecer os assentamentos precá- VER TAMBÉM O
rios5 como parte da estrutura urbana, considerando di- MÓDULO 5.

ferentes escalas de aproximação. Chamamos atenção


para a demanda por regularização fundiária nos muni-
cípios de pequenas dimensões demográficas, no terri- 4. Cf. BRASIL, 2010;
tório de suas sedes ou nas sedes de seus distritos6. Isso DENALDI, 2013; e MORAIS
vale tanto para municípios mais antigos quanto para os et al., 2016.

mais recentes, criados pelas políticas de colonização


pública, mista ou privada.

É feita uma aproximação em escala municipal dos

3
territórios urbanos a partir do reconhecimento PARA MAIS
INFORMAÇÕES
preliminar por imagem de satélite em software livre
SOBRE O TEMA
(Google Earth, Maps, entre outros). São apuradas VER TAMBÉM O
variáveis primárias de setores censitários, como a MÓDULO 3.
condição de renda por domicílio, a inadequação da
infraestrutura urbana e do edificado. São compiladas
plantas de loteamentos aprovados na prefeitura numa
leitura secundária junto à administração municipal nas 5. A Política Nacional de
respectivas Secretarias de Planejamento Urban para Habitação (PNH) adotou a
expressão assentamentos
identificar áreas formais para fins institucionais, áreas precários para caracterizar
verdes e áreas de preservação permanente. Quando os assentamentos urbanos
possível, reúne-se também as informações munici- inadequados, que têm em
comum: “[...] o fato de serem
pais dos registros em cartórios e cadastros das loca- áreas predominantemente
lidades reconhecidas pela prefeitura para fins fiscais. residenciais, habitadas por
Essa identificação é sistematizada e mapeada, depois famílias de baixa renda; a
precariedade das condições
comparada com dados, definições e demarcações de de moradia, caracterizada
dispositivos oficiais (federal e municipais) por meio por inúmeras carências e
de análise de dados georreferenciados em Sistema de inadequações; [...] a origem
histórica, relacionada
Informações Geográficas (SIG). às diversas estratégias
utilizadas pela população de
A prática tem avançado no mapeamento detalhado de baixa renda para viabilizar,
casos de estudo para entender melhor as realidades de modo autônomo, solução
locais por meio de leituras comunitárias, sempre que para suas necessidades
habitacionais” (BRASIL,
possível em conjunto com as associações e lideranças 2010, p. 9).
locais. São verificadas as reais poligonais dos núcleos,
demarcação e contagem dos domicílios/equipamentos, 6. Por exemplo, Matupá,
Araputanga e Nova Ubiratã.
histórico e características da ocupação, número de fa-
mílias e população residente. Desde 2017, o Grupo vem
41
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

incorporando novas tecnologias, usando aeronaves não tripu- 7. Particularmente o que


ladas (drones) e técnicas de posicionamento relativo utilizando prescreve o art. 29, do
Decreto nº 9.310, de 15 de
receptores GNSS (RTK) para levantamento planialtimétrico e março de 2018.
cadastral georreferenciado, de acordo com as especificações da
norma técnica específica7. A inovação desse processo aumentou
consideravelmente a produtividade do processo cadastral, a de-
marcação de pontos inacessíveis do(s) assentamento(s) e a ges-
tão das soluções para o projeto urbanístico. Isso teve um impacto
direto na agilidade do processo de regularização fundiária urba-
na (Reurb), como recomenda a Lei nº 13.465/17.

Figura 4: Diversos
momentos das atividades
de campo em conjunto
com as associações de
moradores, professores,
alunos e pesquisadores
associados para verificar
as demarcações e
particularidades locais.
4a. Domicílio do residente
em São João Del Rey,
Cuiabá, 2014; 4b. Sede
4a 4b
da União Coxiponense
das Associações de
Bairro, Cuiabá, 2015; 4c.
Equipamento Comunitário
no Vila Verde, Cuiabá, 2018;
4d. Domicílio do residente
em Distrito de Entre Rios,
Município de Nova Ubiratã,
2021.
Fonte: Acervo Épura/UFMT.

4c 4d

5a 5b 5c 5d

Figura 5: Uso de novas tecnologias para demarcação dos núcleos urbanos informais com drone e marcação de
pontos com RTK para Reurb
5a. Marcação de pontos em RTK no parcelamento informal Salim Felício, Cuiabá, 2017; 5b. Demonstração do voo
com moradores no Vila Verde, Cuiabá, 2017; 5c. Planejamento do voo com drone e verificação de pontos em RTK
com alunos no Jardim Ubirajara, Cuiabá, 2017; 5d. Planejamento do voo com drone e marcação de pontos com RTK
com pesquisadores associados no distrito de Entre Rios, Município de Nova Ubiratã, 2021.
Fonte: Acervo Épura/UFMT.
42
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

3.3 PRINCIPAIS RESULTADOS E IMPACTOS


Cuiabá e Várzea Grande são os maiores municípios em termos 8. Sendo para Cuiabá 21%
de dimensão demográfica da Região Metropolitana do Vale do e para Várzea Grande 55%,
número consideravelmente
Rio Cuiabá. Os dados de inadequação urbana e habitacional des- superior aos dados do déficit
ses municípios indicam que 328 dos domicílios são considera- habitacional quantitativo
dos inadequados (de um total de 240.416) e 42% são ocupados para o município (FJP, 2013).

por famílias com renda de 0-3 salários mínimos (FJP, 2013). As 9. Verificadas em conjunto
ocupações informais se concentram principalmente em áreas com as associações de
públicas reservadas em loteamentos formais para fins institu- moradores a partir de
observações, levantamento
cionais, áreas verdes e áreas de preservação permanente. As em campo e entrevistas com
demandas habitacionais9 são evidentes também nas soluções as famílias ocupantes.
da coabitação, adensamento excessivo e nas quitinetes, como
resposta ao aluguel pouco acessível do mercado formal.

Para entender as demarcações oficiais em Cuiabá, foram analisadas as informações do PLHIS


sobre precariedade e irregularidade, a Composição de Bairros e a Lei de Uso e Ocupação do
Solo (LUOS). Também foram incorporadas as localidades definidas como aglomerado sub-
normal pelo Instituto Brasileiro De Geografia e Estatística (IBGE) e as do Programa Terra
Legal, consideradas pelo Sistema da Gestão Fundiária (SIGEF) do governo federal.

Mapa 2 – Sobreposição das


informações e dados dos
dispositivos oficiais (PLHIS,
Composição de Bairros,
LUOS, IBGE e SIGEF)
Fonte: Elaborado por Andréa
Arruda. Acervo Épura/UFMT
(2022).
43
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

Em 2010, o IBGE identificou apenas dez aglomerados subnor- 10. Observados a partir da
mais na capital, num total de 14.789 domicílios. A análise com- classificação e mapeamento
preliminar dos aglomerados
parativa demonstra incoerência entre as poligonais apesar do subnormais, como
aumento de domicílios e demarcações em 201910. O mesmo preparação para a realização
acontece com a subestimação do número de domicílios quando do Censo Demográfico 2020
(IBGE, 2020).
comparado com os dados sobre inadequações dos domicílios
urbanos já citados11. 11. Foram contados na
capital 36.250 domicílios
O PLHIS identificou apenas sete assentamentos precários com- urbanos com pelo menos
preendidos como aqueles “[...] parcialmente urbanizados que um componente de
inadequação e 18.089 deles
precisam de obras complementares de infraestrutura e urbani- eram ocupados por famílias
zação simples, sem remoção”. A Lei de Uso e Ocupação do Solo com renda de 0 a 3 salários
definiu as Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) I12 como mínimos (FJP, 2013).

“[...] parcelamentos irregulares, conjuntos habitacionais públi- 12. Além da ZEIS I, a LUOS
cos ou privados irregulares, ocupados por população de baixa definiu a ZEIS II, sendo
renda que, por seu grau de consolidação, são passíveis de re- consideradas como “[...] áreas
não urbanizadas destinadas
gularização parcial ou integralmente”. A legislação também re- à ampliação da oferta
gistrou 52 localidades. Entretanto, conferiu-se que a demarca- habitacional para população
ção oficial municipal dos dois importantes dispositivos não é a de baixa renda e para o
mercado popular” (CUIABÁ,
mesma da demarcação reconhecida por algumas associações 2015).
de moradores. Desse modo, ficou clara a necessidade de se re-
definir os polígonos e confrontantes. Além disso, muitas loca- 13. Cf.: ARRUDA, 2015;
AZEVEDO; ARRUDA, 2015;
lidades com infraestruturas precárias não estão demarcadas. ARRUDA et al., 2017 para
Portanto, não são reconhecidas oficialmente e nem objeto de maiores informações sobre
política habitacional local. Isso demonstra a fragilidade institu- o processo de criação da
legislação e dos planos
cional ao nível municipal para identificar tais necessidades, em específicos.
especial para estimular e conduzir processos participativos ma-
duros e comprometidos com as realidades dos territórios.13

A análise a partir da escala territorial urbana vem pos-


PARA MAIS

1,4
sibilitando reflexões propositivas para revisão da Lei
INFORMAÇÕES
de Uso do Solo e do Plano Diretor (em curso), princi-
SOBRE O TEMA
palmente a revisão da demarcação das ZEIS. Em escala VER TAMBÉM OS
intraurbana, a aproximação aos territórios vem per- MÓDULOS 1 E 4.
mitindo um avanço qualitativo na produção de dados
detalhados por localidade. Isso foi possível graças ao
mapeamento e caracterização de diversos assenta- 14. Conforme a Lei nº 13.465, de
mentos, dentre eles os Núcleos Urbanos Informais14 2017, o assentamento passa a ser
Getúlio Vargas e Novo Paraíso II. definido como Núcleo Urbano Informal,
sendo considerado como “[...] aquele
clandestino, irregular ou no qual não foi
possível realizar, por qualquer modo, a
titulação de seus ocupantes”. Este relato
e o grupo utilizam o termo nos estudos
e procedimentos de regularização
fundiária urbana, realizados e em curso.
44
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

Mapa 3 – Identificação e demarcação dos dispositivos oficiais, situação cadastral e contagem de domicílios no
Núcleo Urbano Informal Getúlio Vargas
Fonte: Elaborado por Andréa Arruda. Acervo Épura/UFMT (2022).
45
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

Mapa 4 – Processamento de imagem georreferenciada do Núcleo Urbano Informal Novo Paraíso II


Fonte: Épura/UFMT (2022).

O Núcleo Getúlio Vargas é uma ocupação informal situada predominantemente em


área de preservação permanente dos Córregos do Machado e São Gonçalo. Ocupa tam-
bém a área verde e institucional dos loteamentos formais Residencial Coxipó e Jardim
Presidente I e foi parcialmente demarcado como ZEIS I. Entretanto, é subdividido in-
ternamente pelos moradores e associações entre Getúlio Vargas, Presidente III e Santa
Terezinha, englobando uma poligonal mais ampla do que a oficial definida pela LUOS.
Foram estimadas 700 edificações pela contagem dos domicílios por meio de imagens de
satélite. A associação de moradores registrou um total de 1.300 famílias residentes, com
indícios de coabitação e de adensamento excessivo, em levantamento presencial feito na
mesma época (2015).
46
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

O levantamento aerofotogramétrico realizado pelo Grupo Épura em 2022 contou 1.700


lotes no assentamento Novo Paraíso II. O núcleo ainda precisa de rede de esgoto e al-
guns equipamentos, apesar das obras de infraestrutura viária recentes (pavimentação
do asfalto e drenagem). É demarcado por todos os instrumentos oficiais (federal e mu-
nicipais), ainda que haja conflitos entre as poligonais. A localidade está cadastrada no
SIGEF e inicialmente era área da União que foi transferida para o município. Trata-se de
um dos estudos-piloto do Grupo Épura/UFMT em parceria com a Rede Amazônica.

Os casos apresentados são do início do processo de in-


tensificação da urbanização na capital. Os dois foram
parcialmente demarcados como ZEIS I e já passaram
por diversos cadastros para sua regularização fundiá-
ria, entretanto nunca foram finalizados. Esse fato re-
vela a lentidão do poder público em resolver a situação
e aumenta o sentimento de insegurança e indignação PARA MAIS
das pessoas que moram na região. A organização e sis-
tematização de dados primários e secundários em con-
INFORMAÇÕES
SOBRE O TEMA
VER TAMBÉM OS
3,7
junto com as associações está sendo um dos resultados
MÓDULOS 3 E 7.
positivos da experiência, essencial para a reconstruir a
história das localidades e exigir que as administrações
municipais melhorem as condições dos locais.

3.4 IMPREVISTOS, DESAFIOS E


DESDOBRAMENTOS
O processo gerou um rico diálogo e aprendizado entre
o Grupo Épura, as associações de moradores e diversas
instituições locais - subsidiando a todas as instâncias
com informações relevantes. Ao mesmo tempo, cria e
atualiza os bancos de dados locais com as condições
e caracterizações das localidades. Essa metodologia
orienta e conduz a atuação dos professores, dos alu-
nos e das equipes de pesquisa para entender e refletir
sobre a habitação e a regularização fundiária no esta-
do de Mato Grosso.

O investimento em novas tecnologias possibilitou um PARA MAIS


INFORMAÇÕES
1,3,7
grande salto e amadurecimento da equipe. Isso permi-
SOBRE O TEMA
tiu que ela fizesse um levantamento mais preciso dos
VER TAMBÉM OS
limites reais do núcleo urbano e do edificado existente,
MÓDULOS
bem como das características físicas e ambientais im- 1, 3 E 7.
portantes na área, fundamental para validar a demar-
cação urbanística e as análises urbanística e ambiental.
47
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

A experiência vem possibilitando resultados positivos, como a aproximação com agen-


tes locais externos à universidade, gerando uma relação de confiança para conduzir e
aprimorar os trabalhos. Destacamos a colaboração no primeiro programa municipal de
melhorias habitacionais de maior importância em Cuiabá, o Programa Bem Morar. Seu
objetivo era criar propostas de reforma e adequação das necessidades habitacionais de
300 unidades em quatro bairros da capital. A experiência foi importante para consolidar
o atual grupo de pesquisadores associados do Épura, potencializando a crítica reflexiva
sobre o tema.

A atuação do grupo possibilitou coordenar e executar o “Curso de Formação em


Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social (ATHIS): perspectivas da Lei nº
11.888/2008 para o estado de Mato Grosso”, a partir do edital de fomento do CAU-
MT/2019. Seu objetivo era divulgar a Lei 11.888/2008 e o campo da ATHIS no esta-
do, e estimular o debate sobre a consolidação dos direitos à moradia digna e à cidade.
Posteriormente, o grupo fez parte da comissão de criação do edital ATHIS/2021, flexibi-
lizando diversos enquadramentos do objeto, das modalidades e das condições para par-
ticipação. Dessa forma, possibilitou os diversos arranjos dos agentes envolvidos com a
ATHIS em Mato Grosso.

Membros do Grupo Épura e de outros Grupos de Pesquisa e Núcleos da UFMT criaram


a ONG Instituto Cidade Legal (ICL) com o apoio do Ministério Público Estadual. Um dos
seus objetivos é apoiar a construção de um banco de dados sobre a irregularidade ur-
banística e fundiária das cidades mato-grossenses. Outro objetivo é assessorar associa-
ções legitimadas pelo novo estatuto legal no processo de regularização fundiária.

A articulação do Grupo com outros parceiros contribuiu para a incubação da start-up


MIRAR Arquitetura e Tecnologia, no setor do Escritório de Inovação Tecnológica (EIT/
UFMT). A start-up é composta principalmente por pesquisadores associados e formados
no curso de arquitetura e urbanismo. Ela incorporou as práticas em desenvolvimento,
abrindo novas possibilidades de atuação profissional.

Os recursos humanos limitados representam sempre um desafio


para consolidar os trabalhos e acolher novos alunos e pesquisa-
dores associados. As ações relacionadas ao tema amadurecem
mais nas fases em que há mais recursos disponíveis (bolsas para
estudantes, custos diretos/indiretos). As recentes ausências e
cortes para pesquisa e extensão universitária do governo federal
são desafios para o trabalho e continuidade da equipe.

Ademais, a Lei 13.465, de 11 de julho de 2017 alterou os pro-


cedimentos da Reurb. A atualização da legislação de regulari-
zação fundiária exigiu que o grupo, as associações e as admi-
nistrações públicas atualizassem e verificassem os alcances e
as limitações das leis no contexto das estruturas institucionais
locais e regionais.
48
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

3.5 PRINCIPAIS AGENTES


ENVOLVIDOS
2
PARA MAIS
INFORMAÇÕES
Este relato apresentou a prática continuada do Grupo SOBRE O TEMA
de Pesquisa e Extensão Épura/UFMT, que atua em di- VER TAMBÉM O
versas frentes desde 2009. Especialmente desde 2013, MÓDULO 2.
o grupo passou a identificar e reconhecer as inadequa-
ções e necessidades urbano-habitacionais, trabalhan-
do com a população local, associações de moradores,
Ministério Público Estadual, ONGs locais, Defensoria
Pública e Secretarias Municipais de Habitação. A prá-
tica vem contribuindo para demarcar os núcleos urba-
nos informais em situação de precariedade para fins
de políticas de regularização fundiária nos municípios
mato-grossenses.

A parceria da universidade com associações e instituições locais


trouxe conquistas no campo da habitação e regularização fun-
diária no estado. Além da criação do banco de dados locais, três
estudos-piloto de Reurb foram concluídos: i) Distrito de Entre
Rios, viabilizado pelo Programa Rede Amazônia, com apoio do
Ministério do Desenvolvimento Regional, e a adesão da UFMT/
Grupo Épura e da Prefeitura de Nova Ubiratã (2021); ii) Novo
Paraíso II, também viabilizado pelo apoio/parceria do Programa
Rede Amazônia (2022); e iii) Núcleo Urbano Vila Verde, resulta-
do das pesquisas do Grupo e executado pela Mirar com a cola-
boração de Rebojo e apoio do CAU/MT (2022).

O Grupo Épura passou a participar de redes de pesquisa e ex-


tensão nacionais, como a Rede Moradia e Assessoria e a Rede
Amazônia. Com isso, foi possível trocar experiências sobre a di-
versidade das realidades locais e acompanhar ações correlatas.
A Rede Amazônia possibilitou um amplo alcance coletivo para
reflexões críticas e propositivas sobre as demandas das cidades
da Amazônia Legal.

A experiência mostra que é fundamental costurar novos arran-


jos e articular em rede os diversos agentes do processo de pla-
nejamento urbano com incidência no território, quando há fra-
gilidade institucional. Isso ajuda a preencher lacunas no campo
da capacidade técnico-política das diferentes instituições e ge-
rar políticas públicas adequadas às realidades locais ou regio-
nais, indo ao encontro da consolidação dos direitos à moradia
e à cidade.
49
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

Rede local / estadual Rede Nacional

Universidade Rede Moradia-Assessoria


FEMAB + UCAM
ensino pesquisa extensão Rede Amazônia

Associação de moradores Grupo Épura / UFMT

Ministério
Público
ONGs e Grupos locais Administração Local
Estadual

Banco de dados sobre necessidades


urbanas e habitacionais
(Épura + FEMAB + UCAM + ICL) Reurb Novo Paraíso
(apoio Rede Amazônia)
Levantamento pormenorizado das ICL
localidades Regional Sul Cuiabá Reurb Distrito Entre Rios
(Épura + FEMAB + UCAM) (Pref. Nova Ubiritã + Rede
Mirar
Amazônia)
Reurb Santa Terezinha
(Épura + MP + ICL + UCAM) Rebojo Programa Bem Morar
(Pref. de Cuiabá + SMHARF)
Reurb Vila Verde
(Épura + UCAM + Mirar/Rebojo +
CAU-MT)

Figura 6 – Organograma agentes e instituições.


Siglas: FEMAB – Federação Mato-grossense das Associações de Moradores de Bairros; UCAM – União Coxipoense
das Associações de Moradores de Bairro; MP – Ministério Público Estadual; ICL – Instituto Cidade Legal; CAU/
MT – Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso; SMHRF – Secretaria Municipal de Habitação e
Regularização Fundiária.
Fonte: Épura/UFMT. Elaboração gráfica: LabHab (2022).

REGIÃO Região Centro-Oeste: caracterização dos


CENTRO-OESTE territórios urbanos e das necessidades
habitacionais em Mato Grosso – relato
MÓDULO 8
de experiência da prática continuada do
Grupo de Pesquisa ÉPURA /UFMT
Apresentação da Dra. Andrea Arruda,
professora da Faculdade de Arquitetura,
Engenharia e Tecnologia da Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT).
50
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

APROFUNDE-SE
A experiência da CODHAB-DF em ATHIS enquanto política pública
A experiência da Companhia de Desenvolvimento Habitacional
do Distrito Federal (CODHAB) no Programa de Melhorias
Habitacionais tem três eixos: concursos públicos de projeto,
assistência técnica em arquitetura e urbanismo e ateliê de projetos
(urbanismo, regularização e edificações). Essa apresentação da
coordenadora do Programa de Assistência Técnica da CODHAB
realizada no Seminário do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de
Santa Catarina apresenta e detalha a experiência.
Disponível em: https://www.causc.gov.br/wp-content/
uploads/2019/01/CODHAB-Uma-Experi%C3%AAncia_
Outubro-2018_Sandra_CAU-SC.pdf

APROFUNDE-SE
Parâmetros Urbanísticos e a Preservação do Conjunto
Arquitetônico e Urbanístico da Cidade de Goiás/GO
O trabalho propõe uma reflexão sobre a interação entre o planejamento
e a preservação urbana. Busca realizar isso por meio da análise de como
os parâmetros urbanísticos contribuem para a preservação do Conjunto
Arquitetônico e Urbanístico da cidade de Goiás, tombado pelo Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Observa-se a
necessidade de ampliar e integrar as discussões entre os campos do
planejamento e da preservação urbana, especialmente na gestão dos bens
culturais urbanos.
OLIVEIRA, K. C. Parâmetros Urbanísticos e a Preservação do Conjunto
Arquitetônico e Urbanístico da Cidade de Goiás. 2014. 156 f. Dissertação
(Mestrado em Preservação do Patrimônio Cultural) – Iphan, Rio de
Janeiro, 2014.
Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/451

VOCÊ SABIA ?
Iniciativa do projeto ANDUS em Anápolis/GO:
Programa Pró-Água
Apoio ao Programa Pró-Água e implantação de jardim de chuva e trincheira
de infiltração em espaços públicos. Aliado à criação de uma estratégia para
preservar, articular e recuperar áreas verdes, baseada na organização de um
Sistema de Áreas Verdes.
Rede de Desenvolvimento Urbano Sustentável (ReDUS): iniciativa
“Municípios-piloto ANDUS” e “Semana Nacional de Desenvolvimento
Urbano Sustentável”
Disponível em: https://www.redus.org.br/iniciativas/semana-
dus-2021/biblioteca/e7592de3-0d10-4c4c-801d-
5507630f37bd
51
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARRUDA, A. Entre o lugar de origem e o lugar de destino: pela consolidação do direito à
habitação na estrutura social urbana de Cuiabá. Espaços Vividos e Espaços Construídos,
[s.l.], v. 1, p. 42-53, 2008. Disponível em: http://biblioteca.fa.ulisboa.pt/images/revistas/
espacos_vividos/v1n6/6.4_Entre_o_lugar_de_origem_e_o_lugar_de_destino.pdf.

ARRUDA, A.; MIRANDA, C. Regularização Fundiária na Prática: Possibilidades da Lei


nº 13.465/2017 nos Assentamentos Getúlio Vargas e Salim Felício. In: SEMINÁRIO
NACIONAL SOBRE URBANIZAÇÃO DE FAVELAS, 3., 2018, Salvador. Anais eletrôni-
cos... [s.l.]: [s.n.], 2018. Disponível em: http://www.sisgeenco.com.br/sistema/urbfavelas/
anais2018a/ARQUIVOS/GT4-293-210-20181115004313.pdf.

ARRUDA, A.; HENRIQUES, C. D.; MIRANDA, C. Counter-Mapping practices in Land


Regularization through Geoinformation Technologies: The ÉPURA Group Experience
in Cuiabá, Brazil. In: TENEDÓRIO, J. A.; ESTANQUEIRO, R.; HENRIQUES, C. (Ed.).
Methods and Applications of Geospatial Technology in Sustainable Urbanism.
IGIGlobal, 2021.

ARRUDA, A. Zonas de Interesse Ambiental. In: AZEVEDO, D. Diagnóstico e Proposta


de Revisão e Criação Instrumentos Urbanísticos para Anteprojeto da Lei de Uso,
Ocupação e Urbanização do Solo do Município de Cuiabá/MT. [s.l.]: [s.n.], 2015.

ARRUDA, A. et al. Relatório da Oficina Regional Centro-Oeste: Regularização Fundiária


Urbana – quadro atual e perspectivas a partir da Lei nº 13.465/2017. [s.l.]: Grupo de
Pesquisa e Extensão ÉPURA/UFMT.

AZEVEDO, D.; ARRUDA, A. Oficinas de Leitura Comunitária nas Regiões Administrativas


de Cuiabá/MT: Contribuições para Elaboração de Anteprojeto da Lei de Uso, Ocupação
e Urbanização do Solo do Município de Cuiabá /MT. [s.l.]: ÉPURA/UFMT: IAB/MT, 2015.
Relatório Síntese.

BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação. Guia para o mapea-
mento e caracterização de assentamentos precários. Brasília: Ministério das Cidades.
2010.

CUIABÁ. Lei Complementar nº 389/2015, de Uso e Ocupação do Solo (LUOS), de 3 de


novembro de 2015. Cuiabá, 2015.

DENALDI, R. (Org.). Planejamento habitacional: notas sobre precariedade e terra nos


planos locais de habitação. São Paulo: Annablume, 2013.

FJP – Fundação João Pinheiro. Déficit habitacional municipal no Brasil. Belo Horizonte,
2013.
52
Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Base de informações do Censo


Demográfico 2010: resultados do universo por setor censitário. Rio de Janeiro, 2011.

. Censo Demográfico 2010: resultados do universo agregados por setor censitário.


Rio de Janeiro, 2011.

MORAIS, M. P.; KRAUSE, C.; LIMA NETO, V. C. (Ed.). Caracterização e tipologia de as-
sentamentos precários: estudos de caso brasileiros. Brasília: IPEA, 2016.

MIRANDA, C. S. et al. Fórum Estadual Rede Amazônia em Mato Grosso: ambiente de


articulação, integração de saberes e práticas sobre regularização fundiária urbana.
In: SEMINÁRIO REGIONAL DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DA REGIÃO CENTRO-
OESTE, 2021, Local. Anais... Local: Editora, data. Paginação.

Épura/UFMT. Formação em Assistência Técnica em Habitação de Interesse


Social - ATHIS, no âmbito do Chamamento Público CAU/MT n. 01/2019,
2020. Disponível em: https://linktr.ee/athis_mt; https://youtube.com/
playlist?list=PLUTBKiRwtNjp_j7_3QptENOrEXB-NhYnS

Épura/UFMT. Fórum Estadual Rede Amazônia - Regularização Fundiária (Urbana) em


Mato Grosso, Possibilidades (d)e Ação.Rede Amazônia: Morar, Conviver e Preservar -
Grupo de Trabalho Mato Grosso (GT/MT), 2021. Disponível em: https://youtube.com/
playlist?list=PLUTBKiRwtNjpujwBXJpHdDjAERCsXi94b

Você também pode gostar