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APROFUNDE-SE
CAPÍTULO 3
REGIÃO
CENTRO-OESTE
Sobre os
autores
Claudio Miranda
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras
5
PARA MAIS
Articulando o ensino, a pesquisa e a extensão, o Grupo INFORMAÇÕES
Épura/UFMT vem consolidando uma metodologia4 SOBRE O TEMA
para identificar e reconhecer os assentamentos precá- VER TAMBÉM O
rios5 como parte da estrutura urbana, considerando di- MÓDULO 5.
3
territórios urbanos a partir do reconhecimento PARA MAIS
INFORMAÇÕES
preliminar por imagem de satélite em software livre
SOBRE O TEMA
(Google Earth, Maps, entre outros). São apuradas VER TAMBÉM O
variáveis primárias de setores censitários, como a MÓDULO 3.
condição de renda por domicílio, a inadequação da
infraestrutura urbana e do edificado. São compiladas
plantas de loteamentos aprovados na prefeitura numa
leitura secundária junto à administração municipal nas 5. A Política Nacional de
respectivas Secretarias de Planejamento Urban para Habitação (PNH) adotou a
expressão assentamentos
identificar áreas formais para fins institucionais, áreas precários para caracterizar
verdes e áreas de preservação permanente. Quando os assentamentos urbanos
possível, reúne-se também as informações munici- inadequados, que têm em
comum: “[...] o fato de serem
pais dos registros em cartórios e cadastros das loca- áreas predominantemente
lidades reconhecidas pela prefeitura para fins fiscais. residenciais, habitadas por
Essa identificação é sistematizada e mapeada, depois famílias de baixa renda; a
precariedade das condições
comparada com dados, definições e demarcações de de moradia, caracterizada
dispositivos oficiais (federal e municipais) por meio por inúmeras carências e
de análise de dados georreferenciados em Sistema de inadequações; [...] a origem
histórica, relacionada
Informações Geográficas (SIG). às diversas estratégias
utilizadas pela população de
A prática tem avançado no mapeamento detalhado de baixa renda para viabilizar,
casos de estudo para entender melhor as realidades de modo autônomo, solução
locais por meio de leituras comunitárias, sempre que para suas necessidades
habitacionais” (BRASIL,
possível em conjunto com as associações e lideranças 2010, p. 9).
locais. São verificadas as reais poligonais dos núcleos,
demarcação e contagem dos domicílios/equipamentos, 6. Por exemplo, Matupá,
Araputanga e Nova Ubiratã.
histórico e características da ocupação, número de fa-
mílias e população residente. Desde 2017, o Grupo vem
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras
Figura 4: Diversos
momentos das atividades
de campo em conjunto
com as associações de
moradores, professores,
alunos e pesquisadores
associados para verificar
as demarcações e
particularidades locais.
4a. Domicílio do residente
em São João Del Rey,
Cuiabá, 2014; 4b. Sede
4a 4b
da União Coxiponense
das Associações de
Bairro, Cuiabá, 2015; 4c.
Equipamento Comunitário
no Vila Verde, Cuiabá, 2018;
4d. Domicílio do residente
em Distrito de Entre Rios,
Município de Nova Ubiratã,
2021.
Fonte: Acervo Épura/UFMT.
4c 4d
5a 5b 5c 5d
Figura 5: Uso de novas tecnologias para demarcação dos núcleos urbanos informais com drone e marcação de
pontos com RTK para Reurb
5a. Marcação de pontos em RTK no parcelamento informal Salim Felício, Cuiabá, 2017; 5b. Demonstração do voo
com moradores no Vila Verde, Cuiabá, 2017; 5c. Planejamento do voo com drone e verificação de pontos em RTK
com alunos no Jardim Ubirajara, Cuiabá, 2017; 5d. Planejamento do voo com drone e marcação de pontos com RTK
com pesquisadores associados no distrito de Entre Rios, Município de Nova Ubiratã, 2021.
Fonte: Acervo Épura/UFMT.
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras
por famílias com renda de 0-3 salários mínimos (FJP, 2013). As 9. Verificadas em conjunto
ocupações informais se concentram principalmente em áreas com as associações de
públicas reservadas em loteamentos formais para fins institu- moradores a partir de
observações, levantamento
cionais, áreas verdes e áreas de preservação permanente. As em campo e entrevistas com
demandas habitacionais9 são evidentes também nas soluções as famílias ocupantes.
da coabitação, adensamento excessivo e nas quitinetes, como
resposta ao aluguel pouco acessível do mercado formal.
Em 2010, o IBGE identificou apenas dez aglomerados subnor- 10. Observados a partir da
mais na capital, num total de 14.789 domicílios. A análise com- classificação e mapeamento
preliminar dos aglomerados
parativa demonstra incoerência entre as poligonais apesar do subnormais, como
aumento de domicílios e demarcações em 201910. O mesmo preparação para a realização
acontece com a subestimação do número de domicílios quando do Censo Demográfico 2020
(IBGE, 2020).
comparado com os dados sobre inadequações dos domicílios
urbanos já citados11. 11. Foram contados na
capital 36.250 domicílios
O PLHIS identificou apenas sete assentamentos precários com- urbanos com pelo menos
preendidos como aqueles “[...] parcialmente urbanizados que um componente de
inadequação e 18.089 deles
precisam de obras complementares de infraestrutura e urbani- eram ocupados por famílias
zação simples, sem remoção”. A Lei de Uso e Ocupação do Solo com renda de 0 a 3 salários
definiu as Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) I12 como mínimos (FJP, 2013).
“[...] parcelamentos irregulares, conjuntos habitacionais públi- 12. Além da ZEIS I, a LUOS
cos ou privados irregulares, ocupados por população de baixa definiu a ZEIS II, sendo
renda que, por seu grau de consolidação, são passíveis de re- consideradas como “[...] áreas
não urbanizadas destinadas
gularização parcial ou integralmente”. A legislação também re- à ampliação da oferta
gistrou 52 localidades. Entretanto, conferiu-se que a demarca- habitacional para população
ção oficial municipal dos dois importantes dispositivos não é a de baixa renda e para o
mercado popular” (CUIABÁ,
mesma da demarcação reconhecida por algumas associações 2015).
de moradores. Desse modo, ficou clara a necessidade de se re-
definir os polígonos e confrontantes. Além disso, muitas loca- 13. Cf.: ARRUDA, 2015;
AZEVEDO; ARRUDA, 2015;
lidades com infraestruturas precárias não estão demarcadas. ARRUDA et al., 2017 para
Portanto, não são reconhecidas oficialmente e nem objeto de maiores informações sobre
política habitacional local. Isso demonstra a fragilidade institu- o processo de criação da
legislação e dos planos
cional ao nível municipal para identificar tais necessidades, em específicos.
especial para estimular e conduzir processos participativos ma-
duros e comprometidos com as realidades dos territórios.13
1,4
sibilitando reflexões propositivas para revisão da Lei
INFORMAÇÕES
de Uso do Solo e do Plano Diretor (em curso), princi-
SOBRE O TEMA
palmente a revisão da demarcação das ZEIS. Em escala VER TAMBÉM OS
intraurbana, a aproximação aos territórios vem per- MÓDULOS 1 E 4.
mitindo um avanço qualitativo na produção de dados
detalhados por localidade. Isso foi possível graças ao
mapeamento e caracterização de diversos assenta- 14. Conforme a Lei nº 13.465, de
mentos, dentre eles os Núcleos Urbanos Informais14 2017, o assentamento passa a ser
Getúlio Vargas e Novo Paraíso II. definido como Núcleo Urbano Informal,
sendo considerado como “[...] aquele
clandestino, irregular ou no qual não foi
possível realizar, por qualquer modo, a
titulação de seus ocupantes”. Este relato
e o grupo utilizam o termo nos estudos
e procedimentos de regularização
fundiária urbana, realizados e em curso.
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras
Mapa 3 – Identificação e demarcação dos dispositivos oficiais, situação cadastral e contagem de domicílios no
Núcleo Urbano Informal Getúlio Vargas
Fonte: Elaborado por Andréa Arruda. Acervo Épura/UFMT (2022).
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras
Ministério
Público
ONGs e Grupos locais Administração Local
Estadual
APROFUNDE-SE
A experiência da CODHAB-DF em ATHIS enquanto política pública
A experiência da Companhia de Desenvolvimento Habitacional
do Distrito Federal (CODHAB) no Programa de Melhorias
Habitacionais tem três eixos: concursos públicos de projeto,
assistência técnica em arquitetura e urbanismo e ateliê de projetos
(urbanismo, regularização e edificações). Essa apresentação da
coordenadora do Programa de Assistência Técnica da CODHAB
realizada no Seminário do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de
Santa Catarina apresenta e detalha a experiência.
Disponível em: https://www.causc.gov.br/wp-content/
uploads/2019/01/CODHAB-Uma-Experi%C3%AAncia_
Outubro-2018_Sandra_CAU-SC.pdf
APROFUNDE-SE
Parâmetros Urbanísticos e a Preservação do Conjunto
Arquitetônico e Urbanístico da Cidade de Goiás/GO
O trabalho propõe uma reflexão sobre a interação entre o planejamento
e a preservação urbana. Busca realizar isso por meio da análise de como
os parâmetros urbanísticos contribuem para a preservação do Conjunto
Arquitetônico e Urbanístico da cidade de Goiás, tombado pelo Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Observa-se a
necessidade de ampliar e integrar as discussões entre os campos do
planejamento e da preservação urbana, especialmente na gestão dos bens
culturais urbanos.
OLIVEIRA, K. C. Parâmetros Urbanísticos e a Preservação do Conjunto
Arquitetônico e Urbanístico da Cidade de Goiás. 2014. 156 f. Dissertação
(Mestrado em Preservação do Patrimônio Cultural) – Iphan, Rio de
Janeiro, 2014.
Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/451
VOCÊ SABIA ?
Iniciativa do projeto ANDUS em Anápolis/GO:
Programa Pró-Água
Apoio ao Programa Pró-Água e implantação de jardim de chuva e trincheira
de infiltração em espaços públicos. Aliado à criação de uma estratégia para
preservar, articular e recuperar áreas verdes, baseada na organização de um
Sistema de Áreas Verdes.
Rede de Desenvolvimento Urbano Sustentável (ReDUS): iniciativa
“Municípios-piloto ANDUS” e “Semana Nacional de Desenvolvimento
Urbano Sustentável”
Disponível em: https://www.redus.org.br/iniciativas/semana-
dus-2021/biblioteca/e7592de3-0d10-4c4c-801d-
5507630f37bd
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARRUDA, A. Entre o lugar de origem e o lugar de destino: pela consolidação do direito à
habitação na estrutura social urbana de Cuiabá. Espaços Vividos e Espaços Construídos,
[s.l.], v. 1, p. 42-53, 2008. Disponível em: http://biblioteca.fa.ulisboa.pt/images/revistas/
espacos_vividos/v1n6/6.4_Entre_o_lugar_de_origem_e_o_lugar_de_destino.pdf.
BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação. Guia para o mapea-
mento e caracterização de assentamentos precários. Brasília: Ministério das Cidades.
2010.
FJP – Fundação João Pinheiro. Déficit habitacional municipal no Brasil. Belo Horizonte,
2013.
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras
MORAIS, M. P.; KRAUSE, C.; LIMA NETO, V. C. (Ed.). Caracterização e tipologia de as-
sentamentos precários: estudos de caso brasileiros. Brasília: IPEA, 2016.