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Falsas Memórias – Fundamentos científicos e suas

aplicações clínica e jurídicas – Lilian Milnitsky Stein,


Org. Todos os trechos e afirmações são cópias ou
foram baseados nesta obra.

Falsas
memórias
Falsas Memórias

• Uma jovem americana perde sua mãe afogada


na piscina de casa aos 14 anos. Passados 30
anos, um tio comenta em uma reunião de
família que a jovem foi a primeira a encontrar o
corpo da mãe boiando na piscina. A partir desse
momento ela passa a lembrar vividamente a
impactante cena que teria presenciado. Alguns
dias depois, ela recebe um telefonema do
irmão, desculpando-se pelo tio, informando que
ele havia se confundido e que na realidade
quem encontrou sua mãe na piscina for a sua
tia.
Falsas Memórias

• Essa foi uma experiência vivida por Elisabeth


Loftus pesquisadora do campo da falsa
memória.
• Ela experimentou o fato de podermos
lembrar eventos que na realidade nunca
aconteceram.
• As falsas memórias podem parecer muito
brilhantes, contudo mais detalhes, ou até
mesmo mais vívidas do que as memórias
verdadeiras.
Falsas Memórias

• Esse fenômeno que tem implicações


clínicas também pode nos auxiliar a
compreender e avaliar testemunhos e
depoimentos na polícia e na justiça.
Nesta última temos um grande
número de exemplos.
• Vejamos um a seguir:
Falsas memórias
Falsas memórias

• Cabe ressaltar que as FM não são mentiras ou


fantasias das pessoas, elas são semelhantes às
MV (memórias verdadeiras), tanto no que tange à
sua base cognitiva quanto neurofisiológica. No
entanto, diferenciam-se das verdadeiras, pelo fato
de as FM serem compostas no todo ou em parte
por lembranças de informações ou eventos que
não ocorreram na realidade. As FM são frutos do
funcionamento normal, não patológico, de nossa
memória.

• Stein, Lilian M.. Falsas Memórias: Fundamentos Científicos e Suas


Aplicações Clínicas e Jurídicas (p. 22). Edição do Kindle.
Falsas memórias

• Além dos estudos de Theodule Ribot em 1881 sobre o


caso de Louis, um homem de 34 anos, com
lembranças de acontecimentos que nunca haviam
ocorrido, os erros de memória foram estudados
também por Freud, que ao revisar sua teoria da
repressão, em uma carta a Fliess, em 21 de setembro
de 1897, descreve sua descoberta de que as
lembranças de suas pacientes poderiam ser
recordações não de um evento, mas de um desejo
primitivo ou de uma fantasia da infância e, portanto,
seriam falsas recordações.

• Stein, Lilian M.. Falsas Memórias: Fundamentos Científicos e Suas Aplicações Clínicas e
Jurídicas (p. 23). Edição do Kindle.
Falsas Memórias

• Alfred Binet, na França, conduziu estudos com crianças, em


que investigou os efeitos de uma entrevista nas respostas
de crianças para seis objetos apresentados por dez
segundos. As memórias das crianças foram acessadas
comparando recordação livre, perguntas diretas, perguntas
fechadas (sim ou não) ou perguntas sugestivas. Os
resultados da pesquisa indicaram que as recordações livres
produziram o mais alto índice de respostas corretas,
enquanto as perguntas sugestivas foram responsáveis pelos
mais altos índices de erros.

• Stein, Lilian M.. Falsas Memórias: Fundamentos Científicos e Suas Aplicações Clínicas e Jurídicas (p. 23). Edição do Kindle.
Falsas Memórias

• Em relação a estudos sobre as FM com adultos, cabe destacar


as pesquisas pioneiras de Bartlett (1932), na Inglaterra. Ele
foi o primeiro a estudar as FM utilizando materiais com
maior grau de complexidade para memorização. Seus
estudos foram precursores da Teoria dos Esquemas.
• Bartlett descreveu a recordação como sendo um processo
reconstrutivo, baseado em esquemas mentais e no
conhecimento geral prévio da pessoa, salientando o papel da
compreensão e a influência da cultura nas lembranças. Ele
ressaltou a importância das expectativas individuais para o
entendimento dos fatos e como as lembranças poderiam ser
afetadas por essas expectativas.
• Stein, Lilian M.. Falsas Memórias: Fundamentos Científicos e Suas Aplicações Clínicas e Jurídicas (p. 24). Edição do Kindle.
Falsas Memórias

• Lembrar a experiencia da lenda dos índios americanos,


guerra dos fantasmas, que os estudantes ingleses
reconstruíram a história com base em expectativas e
suposições, frutos de sua experiência de vida,
adicionando à história original fatos inexistentes, mas que
eram relacionados à sua própria cultura, ao invés de
lembrá-la literalmente como havia sido apresentada. Por
exemplo, ainda que na lenda original o texto relatasse que
“dois jovens tinham ido caçar focas”, no teste de memória
muitos alunos lembravam ter lido que “dois jovens
tinham ido pescar”.
Falsas Memórias

• Os pesquisadores das falsas memórias


autobiográficas desenvolveram procedimentos
criativos para poder comparar a lembrança
dos participantes aos eventos originais.

• No estudo das memórias autobiográficas


temos o famoso experimento “perdidos no
shopping center”.

• Stein, Lilian M.. Falsas Memórias: Fundamentos Científicos e Suas Aplicações Clínicas
e Jurídicas (p. 103). Edição do Kindle.
Falsas Memórias

• A ideia básica aqui é buscar por outras fontes de informação acerca dos
eventos vivenciados (ou não vivenciados) pelos participantes, o que
permite a comparação entre as lembranças relatadas e os fatos realmente
vividos (Loftus, 1997). Uma maneira para obter fontes independentes de
informação sobre determinado fato é questionar os pais dos participantes
de uma pesquisa sobre eventos por eles vividos na infância.
• Em um estudo clássico, Loftus e Pickrell (1995) entrevistaram os pais dos
participantes sobre eventos ocorridos na infância de seus filhos. Nessas
entrevistas, os pesquisadores registraram três fatos que fizeram parte da
vida dos participantes. Posteriormente, os participantes receberam uma
carta em suas casas. Nessa correspondência, havia uma explicação sobre
os objetivos da pesquisa – estudar por que as pessoas conseguem
lembrar alguns eventos na infância e outros não.

• Stein, Lilian M.. Falsas Memórias: Fundamentos Científicos e Suas Aplicações Clínicas e Jurídicas (p. 104). Edição do Kindle.
Falsas Memórias

• Além da apresentação dos objetivos da pesquisa, a carta continha


quatro breves descrições de eventos supostamente ocorridos com os
participantes na sua infância. Dos quatro eventos, três ocorreram de
fato (pelo menos segundo o relato dos pais).
• Um deles, contudo, foi criado pelos pesquisadores – que o participante
havia se perdido em um shopping quando tinha em torno de 5 anos
(obviamente os pesquisadores se certificaram junto aos pais de que
isso não havia ocorrido).
• A carta instruía os participantes a escreverem tudo que se lembravam
sobre cada episódio, fazendo a ressalva de que poderiam escrever “eu
não me lembro disso”, quando apropriado. Em entrevistas posteriores
sobre os eventos da infância, os pesquisadores detectaram que 25%
dos participantes aceitaram a sugestão de falsa informação, ou seja,
lembraram ter ficado perdidos no shopping – algo que, em princípio,
nunca aconteceu.

• Stein, Lilian M.. Falsas Memórias: Fundamentos Científicos e Suas Aplicações Clínicas e Jurídicas (p. 104). Edição do Kindle.
Falsas Memórias

• Beth Rutherford , uma norte-americana de 19


anos, buscou terapia por motivo de estresse no
trabalho. Ao começar o tratamento, acreditava
ter uma família maravilhosa e ter tido uma
ótima infância. Entretanto, nos dois anos e e
meio seguintes de terapia Beth começou, com
ajuda da terapeuta e recuperar memórias de ter
sido repetidamente abusada sexualmente por
seu pai, dos 7aos14 anos, sendo a mãe
cumplice, segurando-a. Ela então, acusou o seu
pai publicamente, de ter abusado dela, além de
tê-la engravidado duas fezes e a feito abortar
com agulhas de tricô.
• Stein, Lilian M.. Falsas Memórias: Fundamentos Científicos e Suas
Aplicações Clínicas e Jurídicas (p. 240). Edição do Kindle.
Falsas memórias

• O caso acima ilustra um fenômeno surgido no início


dos anos de 1990, nos Estados Unidos, quando muitos
casos de pessoas adultas acusando seus pais de tê-las
abusado sexualmente na infância começaram a
aparecer de repente. Vários desses casos foram parar
nos tribunais e na imprensa. Essas pessoas haviam
passado anos de suas vidas sem recordar os abusos até
que, muitos anos após, via psicoterapia, as lembranças
afloraram.
• Entretanto, apesar de não serem histórias inventadas,
mas sim “recordadas”, foi provado em muitos casos que
nenhum abuso havia ocorrido de fato, pois essas
recordações tratavam-se de falsas memórias (FM). Esta
situação chamou a atenção de pesquisadores da área
da memória e passou a ser bastante investigada, e o
fenômeno ficou então conhecido popularmente como
Síndrome das Falsas Memórias (SFM) (Davis, 2005).
• https://youtu.be/Bj-7axay48w

• Stein, Lilian M.. Falsas Memórias: Fundamentos Científicos e Suas Aplicações Clínicas e Jurídicas (p. 240). Edição do Kindle.
Falsas memórias

• O fenômeno aqui discutido não implicaria, necessariamente, na


existência de uma síndrome, visto que não há dados científicos
suficientes que o sustentem como tal. Existem poucos estudos acerca
do assunto que se arriscam a sugerir, sem ressalvas, a existência de
uma SFM (Gleaves et al., 2004). Sendo assim, muitos estudiosos
argumentam não ser possível legitimar a SFM como um constructo a
ser considerado no meio científico. Para estes, a SFM seria, portanto,
uma denominação pseudocientífica, criada com a finalidade de
defender pessoas de acusações, injustas ou não, de abuso infantil
(Dallam, 2001).
• A utilização do termo “síndrome”, contudo, é defendida por outros
autores (Kaplan e Manicavasagar, 2001), que propõem que a SFM seja
diagnosticada como tal quando memórias de abuso sexual surgem
no contexto da terapia, na ausência de qualquer outra evidência.

• Stein, Lilian M.. Falsas Memórias: Fundamentos Científicos e Suas Aplicações Clínicas e Jurídicas (p. 241). Edição do Kindle.
Falsas memórias
• Esses autores também salientam que o uso do termo síndrome não é exclusivo da
medicina e, deste modo, sua definição médica não necessitaria ser literal (Kihlstrom,
1998). Apesar da controvérsia sobre o termo, ele tem sido utilizado para definir a
lembrança que um indivíduo traz acerca de um abuso sexual cometido contra ele na
infância, sendo que posteriormente verifica-se que tal abuso não aconteceu (Raitt e
Zeedyk, 2003).

• Geralmente, a pessoa afligida pelas lembranças acaba tendo sua identidade e seus
relacionamentos interpessoais abalados devido à recuperação dessa traumática (e
falsa) memória, e que crê fortemente ser verdadeira. Uma forma de terapia
praticada nos Estados Unidos, que ficou especialmente conhecida por centrar seu
tratamento na recuperação de memórias esquecidas por um longo período de
tempo, foi a Terapia de Memórias Recuperadas (Recovered Memory Therapy)
(Kaplan e Manicavasagar, 2001).
• Essa terapia ganhou maior destaque, de um modo geral, porque passou a ser
vinculada à produção de FM. E, na verdade, acabou sendo ela a principal origem do
que depois ficou sendo chamado de SFM.

• Stein, Lilian M.. Falsas Memórias: Fundamentos Científicos e Suas Aplicações Clínicas e Jurídicas (p. 241). Edição do Kindle.
Alienação Parental

• Alienação Parental e falsa acusação de abuso sexual é questão


importante e de prova difícil.
• A avaliação da criança ou adolescente, possível vítima de abuso, é
extremamente delicada e depende do procedimento de análise
entre a consistência da acusação e da revelação do abuso. Dessa
forma, as denúncias tendem a ser vistas por profissionais com
desconfiança.
• Utilização maliciosa da alienação parental nos processos que
envolvam abuso sexual intrafamiliar.
• Proposto pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos maus-
tratos e de relatoria da Senadora Leila Barros (PSB-DF), o projeto
498/2018 tem como argumento principal a afirmação de que a
legislação tem sido utilizada para beneficiar pais acusados de abuso
sexual e desacreditar as mães que denunciaram o crime após a
separação (SENADO FEDERAL, 2019).
Alienação Parental

• Os críticos da lei consideram que mesmo tendo a


finalidade de proteger crianças vítimas do abuso
intrafamiliar há quem considere que a sua revogação abre
brechas para que as vítimas de abuso sexual intrafamiliar
sejam obrigadas a conviver com o genitor suspeito do
crime.
• Efetivamente a alienação parental traz prejuízos para o
desenvolvimento psicossocial de crianças e adolescentes.

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