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DISCIPLINAS COMPLEMENTARES

Rafael Costa
Estatuto da Criança e do Adolescente
Aula 1

ROTEIRO DE AULA

Apresentação do Professor
• Promotor de Justiça no Estado de São Paulo.
• Professor na Escola Superior do Ministério Público.
• Professor Visitante na Universidade da Califórnia-Berkeley (EUA).
• Doutor em Direito pela UFMG.
• Mestre em Direito pela UFMG.
• Graduado em Direito pela Universidade de Wisconsin (EUA) / UFMG.
• Revisor de periódicos, incluindo o Athens Journal of Law.

Apresentação da Disciplina

• Aspectos importantes:
– 1) Tirem as dúvidas.
• Errar nas aulas não é problema; não se pode errar na prática e prejudicar o interesse das
pessoas.
– 2) Iremos aprofundar!
• A aula não será básica, mas aprofundada.

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• Busca pela excelência!
– 3) O Direito da Criança e do Adolescente é complexo e sistemático!
• Há uma conexão entre as várias normas, o que não ocorre normalmente em outros
ramos.
– 4) O material de aula é fruto da fusão de inúmeros livros, artigos e estudos!
– 5) Alguns conceitos serão lançados e posteriormente explicados.

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

▪ O que é o Direito da Criança e do Adolescente: “Conjunto de normas que disciplinam a tutela dos direitos
das crianças e dos adolescentes, em suas relações com a família, a sociedade e o Estado”.

▪ Disciplina autônoma, fundada em princípios e regras peculiares e que tem como finalidade proteger uma
categoria especial de sujeitos de direitos vulneráveis: as crianças e os adolescentes.

Trazido esse conceito inicial, como se desenvolveu a ideia de um Direito da Criança e do Adolescente?

▪ Direito Internacional da Infância e Juventude

Caso Mary Ellen Wilson (EUA – 1874)


❖ Filha de imigrantes Irlandeses – pai falece na guerra civil e a mãe é forçada a trabalhar.
❖ Diante da inadimplência da mãe, a babá leva Mary Ellen para uma entidade de crianças abandonadas.
❖ Adotada.
❖ Sofre maus-tratos por parte dos Connelly (desnutrição e agressões físicas e psicológicas).
❖ Etta Angell, missionária metodista, constata os maus tratos, mas não obtém êxito em suas denúncias,
tendo em vista que a criança era vista como direito de propriedade dos pais.

A mãe de Mary Ellen é forçada a trabalhar diante do falecimento de seu esposo na guerra civil e, naquela época,
as mulheres tinham remuneração muito inferior aos homens e não consegue pagar a babá que ela havia
contratado de forma correta. A babá leva Mary Ellen para entidade de crianças abandonadas e a criança é adotada,
sofrendo maus tratos pela família Connelly. Os vizinhos dos Connelly acionam uma missionária metodista de nome

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Etta Angell que comparece ao local e constata os maus tratos, que denuncia para diversos órgãos, sem êxito.
Nessa época, as crianças eram vistas como decorrência de um direito de propriedade dos pais adotivos.

• Etta Angell recorre à Sociedade Americana para a Prevenção da Crueldade contra os Animais (Herny
Bergh).
• Ao sustentar oralmente em favor de Mary Ellen, Bergh afirmou que: “[...] represento a American Society
for the Prevention of Cruelty to Animals - ASPCA. Essa criança é um animal, um animal humano. Se não há
justiça para ela como criança, então pelo menos a protejamos como devemos proteger um animal que
vive nas ruas [...].”

• Em 10 de abril de 1874, a pequena Mary Ellen atestou o seguinte:

"Meu pai e minha mãe estão mortos. Eu não sei quantos anos tenho. Não tenho lembrança de minha vida
antes dos Connelly'. Mamãe tinha o hábito de me bater quase todos os dias com um chicote e ele sempre deixava
marcas azuis em meu corpo. Tenho agora uma marca dessas no meu rosto e uma cicatriz de quando mamãe me
golpeou com uma tesoura. Não tenho lembrança de jamais ter sido beijada por quem quer que seja e nunca beijei
a minha mãe. Nunca fiquei no seu colo e ela nunca me fez carinho. Nunca tive coragem de falar isso com outras
pessoas porque seria castigada. Não sei porque era castigada. Minha mãe nunca dizia nada quando me batia. Não
quero voltar a viver com mamãe porque ela me bate. Não me recordo de jamais ter ido à rua em toda a minha
vida”.

• Consequência: primeira punição por maus-tratos contra criança da história.

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• O episódio envolvendo Mary Ellen serviu também para motivar a fundação da primeira organização
destinada a proteger legalmente os direitos das crianças nos Estados Unidos da América, criada por Henry
Bergh e Elbridge Gerry, intitulada “Sociedade Protetora da Crianças” (SPCC), em 1874.
• No seu primeiro ano de atuação, investigou mais de trezentos casos relacionados ao abuso infantil e
ajudou a introduzir legislação específica para proteger e punir os maus tratos.

⮚ Cenário internacional até o final do século XIX:


• As crianças eram tidas como direito de propriedade dos pais;
• Crianças como meio de produção;
• A educação não era um dever da família;
• Os maus-tratos eram socialmente tolerados.

⮚ Fatores que mudaram esse cenário:


1) Descontentamento da classe operária com as condições de trabalho;
2) Os horrores das duas grandes guerras mundiais, implicando em um significativo aumento no número de
crianças e adolescentes órfãos, caracterizando um problema no contexto mundial.

NORMATIVIDADE INTERNACIONAL

I – Instrumentos de alcance geral (sistema homogêneo, porque se aplica a qualquer pessoa). Não se aplicam
exclusivamente às crianças e adolescentes.

▪ Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU, 1948)


• Introduz a concepção contemporânea de direitos humanos (universalidade, indivisibilidade e
interdependência);
• Consolida uma ética universal;
• A infância passa a ter direito a cuidados e assistência especiais;
• Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, passam a gozar da mesma proteção social.

▪ Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (ONU, 1966)


• Direito à não discriminação;

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• Direito à aquisição de nacionalidade;
• Direito ao nome;
• Direito à proteção da família* (filme: “A troca” – LA, 1929 – retrata a ausência de proteção à família natural
nos EUA em 1929).

▪ Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (ONU, 1966)


• Proibição de trabalhos nocivos à saúde e à moral das crianças;
• Proteção contra a exploração econômica e social;
• Direito de desfrutar de vida e saúde.

Esses dois últimos instrumentos formam um complexo de tutela da pessoa humana que também incide em
relação às crianças e adolescentes. Temos ainda um instrumento regional:

▪ A Convenção Americana dos Direitos Humanos de 1969 (“Pacto de San Jose da Costa Rica”)
• Direito a julgamento das crianças e adolescentes por tribunais especializados (ideia de construção de uma
justiça especializada em resguardar os direitos das crianças e adolescentes);
• Direito à separação dos maiores (prisão de menores com maiores passa a ser proibida);
• Direito à aplicação de medidas de proteção de caráter ressocializatório;

• Direito de petição perante o Sistema Interamericano de Direitos Humanos - Se um infante ou sua família
entendem que o Estado não o protegeu suficientemente, poderão peticionar para pedir a intervenção do
órgão internacional, inclusive com a punição do Estado-membro.

II Instrumentos de Alcance Especial (sistema heterogêneo, ou seja, que incide exclusivamente para crianças e
adolescentes).

▪ Declaração de Genebra – Carta da Liga sobre a Criança, de 1924


• Primeiro instrumento internacional voltado especificamente à proteção da criança;
• Soft law (ou seja, não tem “força normativa”, não tem caráter vinculante, é uma recomendação aos
Estados);
• Reconhece a vulnerabilidade da criança;
• Prevê o desenvolvimento material e espiritual das crianças;

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• Estabelece a prioridade de atendimento em tempos de dificuldades (mais adiante veremos que o ECA traz
uma regulamentação mais ampla sobre esta prioridade);
• Abrange uma série de aspectos da vida da criança (alimentação, convivência familiar, primazia de
socorro);
• Crianças como objeto de proteção.

▪ A Declaração dos Direitos da Criança (ONU, 1959)


• Mudança de paradigma: criança como sujeito de direitos (inaugura a doutrina da PROTEÇÃO INTEGRAL).

▪ O que é a doutrina da proteção integral?


i. crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, permitindo a oposição até mesmo aos
seus responsáveis legais (o detentor da guarda de uma criança pode se opor inclusive aos
seus pais);
ii. abrange todas as necessidades do ser humano para o pleno desenvolvimento de sua
personalidade;
iii. abrange os direitos humanos dos adultos + direitos especiais (ex. direito de brincar),
independentemente de sua condição - ou seja, não apenas aqueles que se encontram em
situação de delinquência ou carência de recursos.

• Instrumento de soft law, com forte conteúdo ético, moral e humanista.

• Princípio da universalização (aplicação para todas as crianças e adolescentes) – “Todas as crianças,


absolutamente sem qualquer exceção, serão credoras destes direitos, sem distinção ou discriminação
por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou
social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição, quer sua ou de sua família”.
• Princípio do interesse superior da criança (será estudado mais à frente);
• Princípio da prioridade;

• Direito ao nome e à nacionalidade; Direito a assistência social;


• Direito à convivência familiar – a criança deve ser criada em ambiente harmonioso e amoroso e, sempre
que possível, deverá ser mantida com sua família; na falta desta, caberá ao Estado e à sociedade zelar por
seu bem-estar (somente em casos excepcionais haverá a colocação em família substituta);

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• Direito à educação - obrigatória e gratuita, pelo menos nos anos iniciais;
• Direito à proteção contra o abandono e a exploração no trabalho.

▪ Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça Juvenil (Regras de Beijing, 1985)
• Foco: situações de julgamento de crianças e adolescentes por ilícitos penais;
• Especialização da Justiça da Infância (junto com a Convenção de 1959);
• Existência de uma polícia especializada;
• Garantias processuais básicas: juiz imparcial e ampla defesa;
• Possibilidade de concessão de remissão;
• Excepcionalidade da internação provisória;
• Brevidade das medidas restritivas de liberdade, com menor prazo de duração possível.

Essa convenção não traz a diferenciação entre crianças e adolescentes, como é feito pelo nosso ECA.

▪ CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA (ONU, 1989)

• Esta convenção foi ratificada pela quase totalidade dos Estados-membros das Nações Unidas (196 países),
com a exceção dos Estados Unidos da América.
• É composta de um preâmbulo, seguido por 54 artigos.

– A criança é definida como todo ser humano com menos de 18 anos de idade, a não ser que, pela
legislação nacional, a maioridade seja atingida mais cedo - Adota o critério cronológico (Artigo 1
- Para efeitos da presente Convenção considera-se como criança todo ser humano com menos de
dezoito anos de idade, a não ser que, em conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade
seja alcançada antes.)
– Reconhece a condição peculiar de ser humano em desenvolvimento.

– Criança como sujeito de direitos (permitindo a intervenção do Estado em face dos próprios
pais), que exige proteção especial e absoluta prioridade.

– Direito a expressar sua opinião - Toda criança que for capaz de manifestar seu próprio ponto de
vista possui do direito de manifestar sua opinião. Além disso, deve ser dada a oportunidade de

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ser ouvida em qualquer procedimento judicial e administrativo que lhe diga respeito, seja
diretamente ou por meio de representante legal (art. 12).

– Não discriminação - Todos os direitos aplicam-se a todas as crianças, sem exceção. O Estado tem
obrigação de proteger a criança contra todas as formas de discriminação e de tomar medidas
positivas para promover os seus direitos (art. 2º).

– Previsão de mais de 40 direitos específicos (individuais e coletivos). Com essa Convenção, tivemos
a consolidação de um sistema de controle, de cumprimentos das regras desta Convenção pelos
Estados signatários.

SISTEMA DE CONTROLE DO CUMPRIMENTO DAS REGRAS DA CONVENÇÃO

• Comitê sobre os Direitos da Criança:


i. Examina relatórios encaminhados pelos Estados-Partes (“prestações de contas” em relação ao
cumprimento da Convenção);
ii. Expede recomendações quando constatar o descumprimento de alguma diretriz da Convenção.

❖ Obs. O Comitê não tem competência para sancionar!

• Protocolos Facultativos à Convenção sobre os Direitos da Criança (2000)


i. Protocolo Facultativo sobre a venda de crianças, prostituição infantil e pornografia infantil
ii. Protocolo Facultativo sobre o Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados

* Os dois protocolos facultativos não inovam no sistema de controle, prevendo apenas o encaminhamento de
relatórios e expedição de recomendações.

iii. Protocolo Facultativo relativo aos procedimentos de comunicação, denúncias ou petições individuais

• Aprovado em Genebra, 19.12.2011.


• Inova no sistema de controle, estabelecendo o direito de petições individuais: permite a apresentação
de queixas por particulares que se sintam vítimas de violação de qualquer dos direitos previstos na

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Convenção ou seus Protocolos Facultativos, inclusive pela própria criança (ex. criança torturada pode
solicitar a apuração dos fatos).
• Estabelece o sigilo dos denunciantes.

▪ Incorporação da Convenção sobre Direitos das Crianças no Brasil


• A Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em
20/11/1989, foi ratificada pelo Brasil em 24/09/1990.

– CESPE-TJDFT - A Convenção dos Direitos da Criança não foi ratificada pelo Brasil, embora tenha
servido como documento orientador para a elaboração do ECA. - Resposta: errada!

• Os Dois primeiros Protocolos Facultativos à Convenção - sobre a Venda de Crianças, Prostituição e


Pornografia Infantil e sobre o Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados, ambos de 25 de maio de
2000 - foram ratificados pelo Brasil em 27 de janeiro de 2004.
• O terceiro protocolo facultativo (de petições individuais pela própria criança) foi ratificado pelo país em
29 de setembro de 2017.

▪ Convenção sobre os aspectos civis do sequestro internacional de crianças (1980)


– Ratificada pelo Brasil em 1999.
– Aplica-se apenas aos menores de 16 anos.
– Possui como objetivos (art. 1º):

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• a) Assegurar o retorno imediato de crianças ilicitamente transferidas para qualquer
Estado Contratante ou nele retidas indevidamente;
• b) Fazer respeitar, de maneira efetiva, os direitos de guarda e de visita existentes num
Estado Contratante.

Em regra, essa convenção busca evitar que crianças sejam indevidamente transferidas para outro Estado, que
sejam retidas indevidamente em outros Estados e que seja garantido o direito de guarda e visita previsto nas
convenções internacionais.

– Considera-se transferência ou retenção ilícita da criança quando (art. 3º):


• a) Tenha havido violação a direito de guarda atribuído a pessoa ou a instituição ou a
qualquer outro organismo, individual ou conjuntamente, pela lei do Estado onde a criança
tivesse sua residência habitual imediatamente antes de sua transferência ou da sua
retenção;
• b) Esse direito estivesse sendo exercido de maneira efetiva, individual ou conjuntamente,
no momento da transferência ou da retenção, ou devesse está-lo sendo se tais
acontecimentos não tivessem ocorrido.

– Obs. Art. 16 - A competência para o julgamento de questões relacionadas à guarda e pedido de


visitas é do local de residência habitual da criança.

• No Brasil, a competência é da Justiça Federal em casos de envolvimento de sequestro e


retenção ilícita de crianças.

• Importante! No caso em que criança tenha sido supostamente retida ilicitamente no


Brasil por sua genitora, não haverá conflito de competência entre (a) o juízo federal no
qual tramite ação de busca e apreensão da criança ajuizada pelo genitor e fundada na
Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças e (b) o juízo
estadual de vara de família que aprecie ação ajuizada pela genitora que verse sobre o
fundo do direito de guarda. Diante da prejudicialidade externa à ação ajuizada na Justiça
Estadual, deve-se promover a suspensão deste processo até a solução final da demanda

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ajuizada na Justiça Federal (STJ. 2ª Seção. CC 132.100-BA, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 25/2/2015 - Info 559).

» Em suma, o juízo federal que aprecia a ação de busca e apreensão não irá
examinar quem tem direito à guarda (Justiça Estadual), mas tão somente
se é devida ou não a restituição.
» Se o juízo federal deferir a restituição da criança ao país de origem, será
no país de destino que se decidirá a respeito do direito de guarda.
» De outro modo, caso seja indeferido o pleito de restituição, a decisão
sobre a guarda será do juízo da Vara (Estadual) de Família no Brasil.

Apenas se for indeferido pelo juízo da Justiça Federal a restituição dessa criança para outro país, é que nós vamos
ter o prosseguimento da ação ajuizada na esfera Estadual relacionada ao direito de guarda daquela criança ou
daquela adolescente. Não há conflito de competência entre essas duas ações, decidiu o STJ.

▪ Outros diplomas normativos relevantes no plano internacional:

▪ Diretrizes das Nações Unidas para a prevenção da delinquência juvenil (Diretrizes de Riad –
ONU, 1990)
▪ Objetivo: prevenção da prática de atos infracionais (ex. fortalecimento da família, direito
à educação, dentre outras).

▪ Princípio da normalidade dos desvios de conduta (Juarez Cirino): as condutas desviadas


são naturais em crianças e adolescentes, sendo superadas naturalmente, sem que seja
necessária a internação (Item 4, e) reconhecimento do fato de que o comportamento dos
jovens que não se ajustam aos valores e normas gerais da sociedade são, com frequência,
parte do processo de amadurecimento e que tendem a desaparecer, espontaneamente,
na maioria das pessoas, quando chegam à maturidade.

▪ Convenção relativa à proteção das crianças e cooperação em matéria de adoção internacional


(1993)
▪ Incorporada ao ordenamento nacional pelo Decreto n° 3.087/99.

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▪ Objetivos:
– Estabelece garantias para que as adoções internacionais sejam feitas segundo o
interesse superior da criança e em respeito aos direitos humanos;
– Instaura um sistema de cooperação entre os Estados que assegura o respeito às
garantias, prevenindo o sequestro, a venda ou o tráfico de crianças;
– Assegura o reconhecimento nos Estados Contratantes das adoções realizadas
segundo a Convenção.

▪ Obs. O reconhecimento de uma adoção só poderá ser recusado em um Estado Contratante se a


adoção for manifestamente contrária à sua ordem pública, levando em consideração o interesse
superior da criança. Se isso não ocorrer, esse Estado deve reconhecer a adoção internacional.

▪ Incorporação das normas de direito internacional (STF)

• Obs. Como as Convenções/Protocolos mencionados até o presente momento não foram objeto de
emenda, têm status de norma supralegal.

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EVOLUÇÃO DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NO BRASIL

1 – FASE DA ABSOLUTA INDIFERENÇA – Não havia proteção da criança e do adolescente. Sujeitas exclusivamente
ao pátrio poder (exercido exclusivamente pelo pai). Eram consideradas objetos, como direito de propriedade de
seus genitores, sem proteção estatal. Aqui, iniciou a “roda dos enjeitados” em que as crianças eram descartadas
às ruas sem qualquer responsabilidade.

2 - FASE DA MERA IMPUTAÇÃO CRIMINAL OU DO DIREITO PENAL DIFERENCIADO - Havia referência a crianças e
a adolescentes, mas inexistia qualquer tratamento diferenciado ou protetivo especialmente destinado a eles; as
normas cuidavam apenas da imputação criminal de acordo o Direito Penal. Tanto o Código Criminal do Império
de 1830 quanto o Código Penal de 1890 previam idade diferenciada para punição (9 e 14 anos, respectivamente),
além de estabelecimento prisional diferenciado.

3 - FASE TUTELAR - não houve preocupação em consagrar direitos protetivos; ao contrário, havia forte repressão
e uma mentalidade higienista. Ou seja, preocupava-se em fazer uma “limpeza social”, retirando-os do convívio
social (“situação irregular”).

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3.1. CÓDIGO DE MELLO MATTOS – 1927 - Foi inspirado na atuação do Juiz Mello Mattos que trabalhou no 1º
Juizado de Menores do Brasil, o qual funcionava junto a um abrigo. A criança passou a ser objeto de tutela, mas
sob uma perspectiva assistencialista. Adotava a doutrina da situação irregular.

3.2. CÓDIGO DE MENORES, 1979 - É praticamente uma reprodução do Código de Mello Mattos. Criança e
adolescente continuaram como um mero objeto de direito.

3.3 CARACTERÍSTICAS DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR:

⚫ Previa apenas medidas de recuperação: aplicava tais medidas para atos e comportamentos desviantes,
ainda que não fossem considerados crimes quando praticados por adultos.

⚫ Abrangência relativa (“caráter assistencialista”): não visava à proteção de todas as crianças e


adolescentes, mas apenas daqueles que estivessem em situação irregular. Não havia aplicação ampla e
irrestrita do Código de Menores.

⚫ Discriminatória: o sistema não entrava em ação contra atitudes de adolescentes de famílias abastadas,
pois estes não eram considerados em situação irregular. Em outras palavras, aplicava-se apenas aos
pobres.

⚫ Amplos poderes do juiz “de menores”:

⚫ Possibilidade de afastamento das crianças por impossibilidade financeira dos pais:

⚫ Direitos menos amplos que os dos adultos (atos desviantes): sob o argumento de que as medidas eram
tomadas para proteger e não para punir, não eram necessariamente respeitados os direitos e garantias
fundamentais do indivíduo. As crianças e adolescentes não tinham todos os direitos dos adultos.

⚫ “Superior interesse da criança” – conceito abstrato, com significado definido pelo juiz.

O juiz tinha amplos poderes para decidir qual medida tomar em relação àquela criança ou adolescente, decidindo
seu destino e como esse código era chamado de Código de Menores, a doutrina, de forma geral, repudia a

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expressão “menor”. Então se vocês estiverem redigindo sobre o tema, em prova discursiva, evitem a expressão
“menor” porque faz referência a esse Código de Menores.

4. FASE DA PROTEÇÃO INTEGRAL (SÉC. XX-XXI)

4.1. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 - Com a inauguração da Fase de Proteção Integral, criança e
adolescente passam efetivamente a ser sujeitos de direitos. E o MP tem papel fundamental para que seja
garantida uma proteção efetiva.

- Objetivo: assegurar a esse ser humano em condição peculiar todos os direitos necessários ao seu pleno
desenvolvimento (tanto os direitos fundamentais dos adultos, como os direitos fundamentais especiais), bem
como em todas as instâncias (civil, administrativa e penal).

4.2. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 1990 - O ECA foi publicado em 16 de julho de 1990 e
sua vigência iniciou-se em 14 de outubro de 1990.

Medidas de institucionalização = colocação da criança ou adolescente em abrigo porque os pais não têm condições
de cuidar deles. Medidas de internação = prática de atos infracionais por criança ou adolescente.

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NORMATIVIDADE INTERNA

▪ CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988


▪ Competência: de acordo com o art. 24, XV da CF, a competência para legislar sobre a proteção
aos direitos da criança e do adolescente é concorrente entre a União (normal geral), Estados
(normas específicas) e Municípios (interesse local). - Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao
Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: XV - proteção à infância e à juventude;

Obs. A Lei 12.594/2012 (SINASE) trouxe de forma detalhada as competências de cada ente e será
abordada mais à frente no nosso curso.

NORMATIVIDADE INTERNA
▪ Direitos sociais - O caput do art. 6º da CF consagra como um direito social a proteção à infância -
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

▪ A proteção à infância, por estar inserida nos direitos sociais, é um direito fundamental de segunda
geração/dimensão, impondo ao Estado uma obrigação de fazer – direito prestacional. Sua
implementação deve se dar através das políticas públicas.

NORMATIVIDADE INTERNA
Obs. Destacam-se três institutos relacionados à implementação dos direitos sociais:

a) Teoria da reserva do possível: atua como uma limitação à plena realização dos direitos prestacionais, tendo
em vista a escassez de recursos orçamentários. Não incide, em regra, em relação à proteção na seara da infância.
O STJ relativiza essa teoria em algumas hipóteses, conforme veremos adiante;

b) Mínimo existencial: dentre os direitos sociais pode ser destacado um subgrupo imprescindível a uma vida
humana digna e é aqui que não se admite de forma alguma a teoria da reserva do possível;

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c) Vedação ao retrocesso ou efeito cliquet: não pode haver redução do patamar mínimo de tutela já consagrado
em relação a um determinado direito.

NORMATIVIDADE INTERNA
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

❖ Obs. Prioridade absoluta: apenas na área da infância e juventude.

▪ SISTEMA DE ESPECIAL PROTEÇÃO


§ 3º O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII;

Obs. Proibição do trabalho:


a) Menor de 18 anos - Proibido trabalho insalubre e noturno.
b) Menor de 16 anos, a partir de 14 anos - Não pode trabalhar, salvo como aprendiz.
c) Menor de 14 anos - Não pode trabalhar, em nenhuma hipótese.

▪ SISTEMA DE ESPECIAL PROTEÇÃO


II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;
III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à escola;
IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, igualdade na relação processual e
defesa técnica por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar específica;
V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade;
VI - estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao
acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado (acolhimento familiar);
VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de
entorpecentes e drogas afins.

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§ 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente.

Obs. Art. 218-B, do CP - Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém
menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento
para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez)
anos.

Para além do §4º, que estabelece esse mandado de criminalização, a CF ainda contém §§5º e 6º.

§ 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua
efetivação por parte de estrangeiros.
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações,
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação (em conformidade com a Declaração de 1959,
que tem como um de seus pilares a vedação à discriminação).

A ideia aqui é afastar qualquer forma de discriminação em face de crianças e de adolescentes.

▪ Os “Sujeitos” envolvidos no art. 227 da CF – sujeitos de direitos e de deveres

▪ Sujeitos de direitos: crianças, adolescentes e jovens (15-29 anos – Lei n° 12.852/2013 – Estatuto da
Juventude (Art. 227, § 8º A lei estabelecerá: I - o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos
dos jovens; II - o plano nacional de juventude, de duração decenal, visando à articulação das várias esferas
do poder público para a execução de políticas públicas.)

▪ Sujeitos de deveres:
a. Família: art. 226, da Constituição – concepção aberta de família – “O conceito de "família"
adotado pelo ECA é amplo, abarcando tanto a família natural (comunidade formada pelos pais ou
qualquer deles e seus descendentes) como a extensa/ampliada (aquela constituída por parentes

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próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e
afetividade), sendo a affectio familiae o alicerce jurídico imaterial que pontifica o relacionamento
entre os seus membros, essa constituída pelo afeto e afinidade, que por serem elementos
basilares do Direito das Famílias hodierno devem ser evocados na interpretação jurídica voltada
à proteção e melhor interesse das crianças e adolescentes.” (STJ - REsp 1911099/SP, Rel. Ministro
MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 29/06/2021, DJe 03/08/2021)

a. Sociedade.
b. Estado: Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
c. Comunidade (Art. 4º, do ECA - É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do
poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.).

▪ A INIMPUTABILIDADE AOS 18 ANOS


CF, Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.

✔ É cláusula pétrea (CF, art. 60, § 4º. Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a
abolir: (...) IV - os direitos e garantias individuais)?

1ª) corrente. Não pode ser modificada, por ser cláusula pétrea (concursos de Defensoria).

2ª) corrente. Pode ser modificada. O art. 60 veda a PEC tendente a abolir direito e garantia individual. Isso não
significa, contudo, que a matéria não possa ser modificada. Qualquer modificação será legítima se restar
preservado o “núcleo essencial” desta garantia, qual seja, a inimputabilidade penal do indivíduo que, em razão de
sua idade, não reúne as condições necessárias para ser considerado penalmente capaz.

Obs. O art. 228, da Constituição, gera três efeitos. A pessoa que tenha idade inferior a 18 anos e que cometa crime
ou contravenção estará sujeita a:
1) Lei especial (o ECA, independentemente do ato praticado);
2) Juízo especial (quem julga é o juiz da Vara da Infância e Juventude, o qual tem sua competência fixada
pelo art. 148, do ECA);

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3) Resposta estatal especial:

- Criança = sujeitas às medidas protetivas. NÃO APLICA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA;


- Adolescente = sujeitos às medidas socioeducativas e/ou medidas protetivas.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - (LEI 8069/1990)

ECA, Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.
❑ Doutrina da Proteção Integral
▪ Constituição Federal de 1988
▪ Estatuto da Criança e do Adolescente

▪ Definição de criança e adolescente


Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente
aquela entre doze e dezoito anos de idade.

❖ Obs. O ECA inovou frente à Convenção de 1989, visto que esta não previa a distinção.

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Atenção para a recente alteração legislativa, permitindo que os adolescentes façam viagens domésticas sem a
companhia de pais ou responsáveis e independentemente de autorização judicial.

PRIMEIRA INFÂNCIA E JOVEM

▪ Primeira infância: primeiros 6 anos completos ou 72 meses de vida da criança (art. 2º, da Lei
13.257/2016).
▪ Jovem: pessoa com idade entre 15 e 29 anos de idade (art. 1º, § 1º, da Lei 12.852/2013 - Estatuto da
Juventude).

EJ, Art. 1º, § 2º Aos adolescentes com idade entre 15 (quinze) e 18 (dezoito) anos aplica-se a Lei nº 8.069, de 13
de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, e, excepcionalmente, este Estatuto, quando não conflitar
com as normas de proteção integral do adolescente.

Obs. Na hipótese de conflito entre o ECA e o Estatuto da Juventude, prevalece a norma mais protetiva que, em
regra, é o ECA.

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Classificação e Sistemas Protetivos

A) CRIANÇA - Até 12 anos incompletos - Proteção do ECA (com especial proteção da Lei da Primeira
Infância até os seis anos).
B) ADOLESCENTE - De 12 anos até 18 anos incompletos - Proteção do ECA.
C) JOVEM ADOLESCENTE - De 15 anos completos até 18 anos incompletos - Proteção do ECA e do Estatuto
da Juventude, valendo-se da norma mais protetiva.
D) JOVEM ADULTO - De 18 anos até 29 anos - Proteção do Estatuto da Juventude.
E) ADULTO - De 30 anos até 59 anos - Sem proteção especial, tendo apenas a proteção geral dos Direitos
Humanos de forma genérica.
F) IDOSO - A partir dos 60 anos- Estatuto do Idoso.

▪ HIPÓTESES DE APLICAÇÃO DO ECA A MAIORES DE 18 ANOS E MENORES DE 21 ANOS

⮚ Prática de ato infracional: ação socioeducativa e correspondente execução

Art. 2º, Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre
dezoito e vinte e um anos de idade.

Art.104, parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do adolescente à data do fato
(teoria da atividade – ex. adolescente que atira contra terceira pessoa enquanto tinha 17 anos, mas a pessoa vem
a falecer seis meses depois, quando já completou 18 anos – incide o ECA).

Art. 121, § 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade (internação).

Art. 120, § 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à
internação (semiliberdade).

✔ É possível execução das medidas em meio aberto em face de pessoas maiores de 18 anos e menores de 21
anos?

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⮚ STJ, Súmula 605: “A superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de ato
infracional nem na aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade
assistida, enquanto não atingida a idade de 21 anos.”

Fica claro que, embora não exista disposição normativa expressa no ECA admitindo sua aplicação para pessoas
que já atingiram 18 anos, é possível a sua incidência para aqueles que praticaram medidas em meio aberto e que
tenham entre 18 e 21 anos.

⮚ Lei 12.594/2012, art. 46, § 1º. “No caso de o maior de 18 (dezoito) anos, em cumprimento de
medida socioeducativa, responder a processo-crime, caberá à autoridade judiciária decidir sobre
eventual extinção da execução, cientificando da decisão o juízo criminal competente”.
⮚ Existe doutrina questionando a constitucionalidade.

⮚ Adoção

Nesse o caso, o ECA incide para adoção de adultos - Art. 1.619, do CC: A adoção de maiores de 18 (dezoito) anos
dependerá da assistência efetiva do poder público e de sentença constitutiva, aplicando-se, no que couber, as
regras gerais da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.

PRINCÍPIOS DO DIREITO CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – APLICAÇÃO PECULIAR

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DISCIPLINAS COMPLEMENTARES
Rafael Costa
Estatuto da Criança e do Adolescente
Aula 2

ROTEIRO DE AULA

A. Postulado normativo do interesse superior da criança e do adolescente (CSDC, art. 3º, 1; ECA, art. 100,
IV), incidente em caso de lacunas:

ECA, Art. 100, parágrafo único, IV: “a intervenção deve atender prioritariamente aos interesses e direitos da
criança e do adolescente, sem prejuízo da consideração que for devida a outros interesses legítimos no âmbito da
pluralidade dos interesses presentes no caso concreto”;

Esse postulado é basilar na interpretação e na aplicação das normas relacionadas às crianças e adolescentes.

▪ Definição de interesse superior: critério primário para a interpretação de toda a legislação atinente a
crianças e adolescentes, sendo capaz, inclusive, de retirar a peremptoriedade de qualquer texto legal.

▪ Obs. Permite a mitigação de regras do ECA.

• Aplicação do princípio do interesse superior pelo STJ:


(a) retratação do genitor biológico acerca do consentimento para adoção antes da sentença, mas a
manutenção da criança com a família que buscava a adoção;

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Nesse julgado, o STJ entendeu que, embora o genitor biológico tenha se retratado do consentimento para que
seu filho fosse submetido à adoção, no caso concreto, a criança deveria ser mantida no bojo da família que buscava
a adoção porque esta tinha melhores condições de resguardar os interesses daquela criança.

(b) permanência de criança em ambiente familiar em vez de acolhimento institucional;

Aqui o STJ entendeu ser possível manter a criança junto à sua família natural em vez de proporcionar seu
acolhimento institucional em um caso que estava relacionado à suposta desnutrição desta criança.

(c) adoção por família não inscrita no cadastro de adoção quando existente vínculo afetivo consolidado;

Vamos estudar mais adiante de forma aprofundada o instituto da adoção. O STJ entendeu aqui ser possível
relativizar a obrigatoriedade de que a família esteja inscrita no cadastro de adoção para que venha a adotar uma
criança, uma vez que a medida resguardaria o superior interesse da criança.

(d) restrição ao direito de visitação do pai ou mãe que não tenha a guarda do filho, em caso de risco à
integridade física e emocional do infante;

Em regra, embora uma terceira pessoa tenha a guarda do filho, é possível que os pais venham a exercer seu direito
de visitas e tenham contato com o filho. Ocorre que, neste caso concreto, o STJ entendeu que na tutela do superior
interesse da criança, os pais não deveriam ter qualquer contato com o filho porque eles representavam risco à
integridade física e emocional do infante, não só pelas agressões que a criança já havia sofrido, mas também pelo
fato de serem usuários contumazes de drogas.

(e) mitigação do princípio da perpetuação da jurisdição em caso de mudança de endereço do infante;

Sabemos que uma das regras básicas do processo civil é a perpetuação da jurisdição, ou seja, não é possível a
mudança superveniente da competência após a propositura da demanda. Ocorre que, relativizando o princípio da
perpetuação da jurisdição, o STJ tem entendido que, com a mudança de endereço do infante, é possível que o
feito mude de endereço.

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Se a ação de guarda foi proposta em determinado local e posteriormente ocorre a mudança de endereço da
criança para outra cidade, é possível a remessa dos autos à comarca competente em que atualmente se encontra
residindo o guardião da criança.

O STJ também tem entendido ser possível a mitigação do princípio da perpetuação da jurisdição no caso em que
é ajuizada um cumprimento de sentença fundado em alimentos e ocorre posteriormente a mudança de endereço
da criança, do alimentando, que estava pleiteando o pagamento dos alimentos.

(f) manutenção do vínculo registral entre o filho e o pai (ações negatórias de paternidade) quando não
comprovado o erro ou falsidade do registro de nascimento (art. 1.604 do CC);

Não comprovado o erro ou falsidade do registro de nascimento, o STJ entendeu possível a manutenção do vínculo
entre o pai e filho na tutela do superior interesse da criança.

(g) possibilidade de adoção de neto por avós, desde que demonstrado o melhor interesse do infante – “É
possível autorizar a adoção avoenga em situações excepcionais, mitigando a norma geral impeditiva
contida no § 1º do artigo 42 do ECA” (STJ - REsp 1.587.477-SC).

O STJ, relativizando a regra prevista no art. 42, §1º do ECA que veda a adoção por ascendentes, entendeu possível
a adoção pelos avós quando a medida vier a resguardar o superior interesse da criança.

(h) mitigação do requisito da diferença mínima de 16 anos entre adotante e adotando, previsto no artigo 42,
§ 3º, do ECA - A diferença etária mínima de 16 anos entre adotante e adotado (art. 42, § 3º, do ECA) não
tem caráter absoluto, sendo possível a sua relativização à luz do princípio da socioafetividade (STJ. 3ª
Turma. REsp 1.785.754-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 08/10/2019 - Info 658).

Nesse julgado, o STJ entendeu que, inobstante o ECA, em seu art. 42, §3º, exija uma diferença mínima de idade
entre o adotante e o adotado de 16 anos, a regra pode ser relativizada em atenção ao superior interesse da
criança.

▪ Funções garantistas do princípio do interesse superior da criança e do adolescente:


i. Critério hermenêutico, ou seja, de interpretação das demais normas;

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ii. Criação de deveres para o Poder Público – o Executivo deve adotar políticas públicas em prol de crianças
e adolescentes e Legislativo devem aprovar diplomas que atendam ao interesse da categoria;
iii. Máxima operatividade e mínima restrição dos direitos;
iv. Conformadora do exercício do poder familiar – o poder familiar deve atender ao superior interesse da
criança e do adolescente.

b. Metaprincípio da proteção integral (CF, art. 227; e ECA, art. 1°)

Abordamos esse metaprincípio na aula anterior, em que fizemos a distinção entre a doutrina da situação irregular
e a doutrina da proteção integral.

c. Metaprincípio da prioridade absoluta (CF, art. 227; ECA, art.4º, parágrafo único) – crianças e adolescentes são
a única categoria de vulneráveis que merece prioridade absoluta. Quando nos debruçamos sobre os artigos da CF,
vimos que a CF estabelece expressamente a prioridade absoluta no resguardo dos interesses das crianças e dos
adolescentes, regulamentando minuciosamente esse metaprincípio temos:

ECA, art. 4º. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:


a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias (unidade de emergência em igualdade de
condições, situação de gravidade similar);
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.

d. Princípio da responsabilidade primária e solidária do Poder Público (ECA, art. 100, III) – a responsabilidade
pela concretização dos direitos de crianças e adolescentes é da União, Estados e Municípios, em caráter solidário
(ex. falta de vagas para tratamento médico).

Na hipótese de falta de vagas para tratamento médico, teremos a responsabilidade solidária entre todos os entes
públicos, de forma simultânea. Suponhamos que não existam vagas para que uma determinada criança venha a
receber o tratamento no hospital. A responsabilidade não fica restrita ao município.

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“A plena efetivação dos direitos assegurados a crianças e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal,
salvo nos casos por esta expressamente ressalvados, é de responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas
de governo, sem prejuízo da municipalização do atendimento e da possibilidade da execução de programas por
entidades não governamentais.”

e. Princípio da privacidade (ECA, art. 100, IV)

“A promoção dos direitos e proteção da criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela intimidade,
direito à imagem e reserva da sua vida privada.”

Aspectos relevantes:

1) Arts. 15, 17 e 18 - Direito ao respeito e à dignidade – serão estudados mais à frente.

2) Art. 143. É vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a
crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional (art. 247). Caso determinada criança ou
adolescente venha a cometer ato infracional, fica vedada a divulgação de aspectos relacionados à prática deste
ato infracional.

RECURSO ESPECIAL. INFÂNCIA E JUVENTUDE. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE DO
MINISTÉRIO PÚBLICO. DIREITO À INFORMAÇÃO. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - ECA. VEICULAÇÃO
DE IMAGENS CONSTRANGEDORAS. IMPEDIMENTO.
1. O Ministério Público é parte legítima para, em ação civil pública, defender os interesses individuais, difusos ou
coletivos em relação à infância e à adolescência.
2. Por não serem absolutos, a lei restringe o direito à informação e a vedação da censura para proteger a imagem
e a dignidade das crianças e dos adolescentes.
3. No caso, constatou-se afronta à dignidade das crianças com a veiculação de imagens contendo cenas de
espancamento e tortura praticada por adulto contra infante.
4. Recurso especial não provido (STJ, 3ª T., REsp 509.968-SP)

Nesse julgado, o STJ entendeu que houve a divulgação por uma determinada rede de mídia de cenas de
espancamento e de tortura em face de uma criança e fixou-se o entendimento de que o MP tem legitimidade para

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ingressar com ação civil pública para resguardar os interesses dessa criança e, por não serem absolutos, é possível
a restrição do direito à informação e a vedação à censura de modo a se evitar a divulgação de quaisquer aspectos
relacionados àquelas agressões perpetradas em face da criança.

f. Princípio da intervenção precoce (ECA, art. 100, VI)

“A intervenção das autoridades competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo seja conhecida.”.
Não se deve aguardar a ocorrência efetiva de danos, a intervenção deve ser precoce, tão logo se tenha notícias
da situação de perigo.

▪ Ex. caso do menino Bernardo – assassinato por meio de superdosagem do medicamento Midazolam, que
lhe foi dado pela madrasta – deu ensejo à provação da “Lei da Palmada”.

g. Princípio da intervenção mínima (ECA, art. 100, VII) – intervém a instituição competente e apenas no limite do
necessário para afastar o risco ou a lesão ao direito.

“A intervenção deve ser exercida exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação seja indispensável à
efetiva promoção dos direitos e à proteção da criança e do adolescente;”

▪ Ex. evasão escolar – intervenção (inicial) apenas do Conselho Tutelar – medida de proteção para promover
o acompanhamento psicológico. Nesses casos, a intervenção, pelo menos inicial, deve se dar pelo
Conselho Tutelar.

h. Princípio da proporcionalidade e atualidade (ECA, art. 100, VIII)

“A intervenção deve ser a necessária e adequada à situação de perigo em que a criança ou o adolescente se
encontram no momento em que a decisão é tomada;”

▪ Ex.: baixa frequência escolar – não é possível, em regra, que implique em acolhimento institucional.
Devem ser adotadas medidas protetivas para garantir o acesso adequado às aulas.

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i. Princípio da responsabilidade parental (ECA, art. 100, IX) – busca promover o exercício dos deveres dos pais
para com os filhos.

“A intervenção deve ser efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres para com a criança e o
adolescente;”. Os pais não podem querer “se livrar” dos deveres de cuidado ou atenção em relação à criança ou
ao adolescente.

j. Princípio da prevalência da família natural ou extensa (ECA, art. 100, X)

“Na promoção de direitos e na proteção da criança e do adolescente deve ser dada prevalência às medidas que
os mantenham ou reintegrem na sua família natural ou extensa ou, se isto não for possível, que promovam a sua
integração em família substituta;”

▪ Ex.: manutenção de adoção por parentes colaterais, ainda que fora da ordem do cadastro – “Em hipóteses
como a tratada no caso, critérios absolutamente rígidos previstos na lei não podem preponderar,
notadamente quando em foco o interesse pela prevalência do bem estar, da vida com dignidade do
menor, recordando-se, a esse propósito, que no caso sub judice, além dos pretensos adotantes estarem
devidamente habilitados junto ao Cadastro Nacional de Adoção, são parentes colaterais por afinidade do
menor "(...) tios da mãe biológica do infante, que é filha da irmã de sua cunhada" e não há sequer notícias,
nos autos, de que membros familiares mais próximos tenham demonstrado interesse no acolhimento
familiar dessa criança.” (STJ - REsp 1911099/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em
29/06/2021, DJe 03/08/2021)

k. Princípio da obrigatoriedade da informação (ECA, art. 100, XI)

“A criança e o adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e capacidade de compreensão, seus pais
ou responsável devem ser informados dos seus direitos, dos motivos que determinaram a intervenção e da forma
como esta se processa;”. São três as bases do princípio da obrigatoriedade da informação: as crianças e
adolescentes têm o direito de serem informados de seus direitos, dos motivos que determinaram certa
intervenção e, por últimos, informados da forma como vai se processar a intervenção.

L. Princípio da oitiva obrigatória e participação (ECA, art. 100, XII)

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“A criança e o adolescente, em separado ou na companhia dos pais, de responsável ou de pessoa por si indicada,
bem como os seus pais ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar nos atos e na definição da medida
de promoção dos direitos e de proteção, sendo sua opinião devidamente considerada pela autoridade judiciária
competente, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei;”

CRITÉRIOS DE INTERPRETAÇÃO

▪ O ECA deve ser interpretado seguindo alguns critérios definidos expressamente em seu art. 6º:

a) Fins sociais a que ele se destina: considerar a criança e adolescente como sujeito de direitos;
implementar políticas públicas.

b) Exigências do bem comum: a liberdade, a paz, a justiça, a segurança, a utilidade social e a solidariedade.
– Justiça de Transição (uma perspectiva que busca atentar para a necessidade de responsabilização de pessoas
que praticaram atoa em conformidade com o ordenamento jurídico vigente, mas que, de alguma forma, violam
princípios e interesses básicos da sociedade, como as atrocidades perpetradas na Segunda Guerra Mundial)?

c) Direitos individuais e coletivos: atentar, em especial, para o art. 5º, da CF.

d) Condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento: corolário da


doutrina da proteção integral.

Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem
comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como
pessoas em desenvolvimento.

DIREITOS FUNDAMENTAIS DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES

➢ Classificação dos direitos fundamentais:

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A) Direitos humanos homogêneos: tem aptidão para ser direito de todos os membros da espécie
humana. Ou seja, não são direitos humanos peculiares da criança e do adolescente. Ex.: direito à vida.

B) Direitos humanos heterogêneos: são aqueles direitos humanos que pertencem a um grupo específico.
Neste caso, pertencem às crianças e adolescentes. Ex.: direito à convivência familiar e comunitária.

ANÁLISE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS (HETEROGÊNEOS) DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES

▪ Direito à igualdade
✓ A Lei 13.257/2016 (Estatuto da Primeira Infância) acrescentou o parágrafo único ao art. 3º do ECA, a fim
de consagrar o princípio da igualdade no tratamento às crianças e aos adolescentes.

✓ Art. 3°, Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes,
sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença,
deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social,
região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em
que vivem.

▪ Direito à vida
✓ CF: art. 5º, caput; art. 227, caput

✓ ECA: arts. 7º a 14 - Art. 7º. A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a
efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e
harmonioso, em condições dignas de existência.

❖ Em sede de controle difuso de constitucionalidade (HC 124.306), o STF entendeu que a


interrupção voluntária da gestação até o terceiro mês (período no qual não está formado o córtex
cerebral, fator que inviabiliza a vida extrauterina) não deve ser tipificada como crime de aborto.

• Dimensões de proteção do direito à vida (José Afonso da Silva):

a) Existência;

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b) Integridade física e psíquica;
c) Integridade moral.

✓ O ECA se aplica ao nascituro? Divergência:


1ª) Não.
2ª) Sim. Doutrina majoritária e STJ. – Fundamentos:

a) Art. 8º. É assegurado a todas as mulheres o acesso aos programas e às políticas de saúde da
mulher e de planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à gravidez, ao
parto e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito do Sistema Único de Saúde.
§ 1º O atendimento pré-natal será realizado por profissionais da atenção primária. (Obs. Profissionais da saúde
primária - profissionais dos “postos de saúde”).

❖ STJ: a Corte Especial tem afirmado que o direito à vida e à assistência pré-natal são tanto
da mãe quanto do nascituro.

b) Lei n. 13.257/2016 (Lei da Primeira Infância) - reforçou a tese de incidência do ECA ao nascituro, pelos
seguintes argumentos:

1. há garantia de assistência psicológica à gestante e em caso de manifestação de


vontade de entrega de seu filho para adoção (art. 8º, § 5º);
2. há previsão de acompanhamento saudável durante toda a gestação (art. 8º, § 8º);
e
3. afirma-se a busca ativa da gestante que não iniciar ou abandonar as consultas de
pré-natal, bem como da puérpera que não comparecer às consultas de pós-parto
(art. 8º, § 9º).

Obs. O ECA prevê a vinculação aos profissionais de saúde no último trimestre:

Art. 8º, § 2º Os profissionais de saúde de referência da gestante garantirão sua vinculação, no último trimestre da
gestação, ao estabelecimento em que será realizado o parto, garantido o direito de opção da mulher.

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✓ Cabe indenização por danos morais em favor de nascituro?

– STJ e doutrina majoritária: sim – teoria “concepcionista” - o nascituro é pessoa humana, tendo
direitos resguardados por lei desde a concepção (CC, art. 2º). Exemplos:

❖ Danos morais em caso de atropelamento do pai por composição férrea (REsp


399.028/SP).
❖ Danos morais em caso de morte do pai por acidente de trabalho (REsp 931.556/RS).

ATENÇÃO! A Lei n° 14.138/21 acrescentou um § 2º ao art. 2º-A da Lei nº 8.560/92, para permitir, em sede de ação
de investigação de paternidade, a realização do exame de pareamento do código genético (DNA) em parentes do
suposto pai. A regra da presunção relativa da paternidade não incide exclusivamente em relação ao suposto pai
que se recusa a comparecer ao local destinado à realização do exame de DNA. A lei entende que essa presunção
relativa também alcança os sucessores do suposto pai.

O nosso ordenamento jurídico não admite a condução coercitiva do suposto pai para a coleta do material
genético, visto tratar-se de medida que viola a liberdade de locomoção. Tem-se, contudo, uma presunção relativa
de que aquele que se recusa a realizar o exame é realmente o pai do autor da demanda. Vejamos:

Súmula 301, do STJ: “Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz
presunção juris tantum de paternidade.”

Contudo, a Súmula 301, do STJ, não deve ser interpretada de modo a incidir apenas para o suposto pai, mas
alcança, também, os seus sucessores (ex. filhos e genitores) que se recusem a realizar o “exame de DNA”.

Assim, a Lei nº 14.138/2021 acrescentou um § 2° ao art. 2º-A, da Lei nº 8.560/92, prevendo expressamente que a
presunção de paternidade também se aplica aos sucessores do suposto pai. Vejamos:

Art. 2º-A, § 2º - Se o suposto pai houver falecido ou não existir notícia de seu paradeiro, o juiz determinará, a
expensas do autor da ação, a realização do exame de pareamento do código genético (DNA) em parentes
consanguíneos, preferindo-se os de grau mais próximo aos mais distantes, importando a recusa em presunção
[relativa] da paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto probatório.

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▪ Direito à saúde
✓ CF: arts. 6º e 196 a 200; ECA, arts. 7º a 14.

Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas
sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de
existência.

➢ Trata-se de direito social; portanto, exige prestações positivas, através da implementação de políticas
públicas.

✓ É possível o controle judicial de políticas públicas de saúde voltadas para a infância? Sim, com base no
mínimo existencial e no princípio da prioridade absoluta (ECA, art. 4º, parágrafo único (...) c) preferência
na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos
nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude).

✓ Exemplo da judicialização da saúde na área da infância: ACP – obrigação de fazer - prestar assistência
médica (consultas e cirurgias) satisfatória e prioritária às crianças e aos adolescentes, com imposição de
cronograma para conferir celeridade aos atendimentos. (CF, art. 227, caput, e ECA, arts. 7.º e 11) REsp
577.836/SC, 1.ª Turma, rel. Min. Luiz Fux.

Embora não seja tema de nossa aula, o professor chama à atenção para a relevância da temática dos processos
estruturais ou processos com medidas estruturais porque esse tema é um dos principais em discussão no âmbito
dos MP do Brasil de uma forma geral com grande probabilidade de ser cobrado em concursos públicos.

▪ Aspectos relevantes do direito à saúde de crianças e adolescentes (arts. 11 e 14)

a) Acesso integral e princípio da equidade de acesso – Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado
voltadas à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, observado o princípio
da equidade no acesso a ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde.

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O ECA estabelece não só que o acesso deve ser fornecido de forma igual, isonômica, à todas as crianças e
adolescentes, aos tratamentos de saúde, mas também que esse acesso deve se dar de forma integral, de forma a
superar toda e qualquer mazela, doença, que possa a vir afetar as crianças e adolescentes.

b) Vedação à discriminação - § 1o A criança e o adolescente com deficiência serão atendidos, sem discriminação
ou segregação, em suas necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e reabilitação.

c) Atendimento odontológico – Art. 14, § 2o O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à saúde bucal das
crianças e das gestantes, de forma transversal, integral e intersetorial com as demais linhas de cuidado
direcionadas à mulher e à criança.

d) Fornecimento de medicamento, órteses e próteses: Art. 11, § 2o Incumbe ao poder público fornecer
gratuitamente, àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses, próteses e outras tecnologias assistivas
relativas ao tratamento, habilitação ou reabilitação para crianças e adolescentes, de acordo com as linhas de
cuidado voltadas às suas necessidades específicas.

✓ Aspectos relevantes sobre o fornecimento de medicamentos:

a) a responsabilidade é solidária dos entes federados (União, Estados e Municípios), podendo figurar no
polo passivo qualquer um deles, em conjunto ou isoladamente. Contudo, é vedado o chamamento ao processo
da União quando a ação judicial for manejada apenas em desfavor do Estado, do Município ou de ambos (STF,
Tema de Repercussão Geral 793);

b) os entes federados devem fornecer os medicamentos necessários para o tratamento da doença


mencionada na petição inicial, ainda que supervenientes ao ingresso da ação, desde que constantes em receita
médica (STJ AgInt no Resp 1.597.584/RJ);

Suponhamos que a parte (crianças ou adolescente) tenha entrado com a ação pedindo determinados
medicamentos. No curso do processo, o médico entende que a dosagem do medicamento que foi solicitada na
inicial não é adequada, sendo necessário aumentar a dosagem. Nesses casos, o STJ entendeu que óbice algum
existe ao prosseguimento do feito com a superveniente modificação do medicamento a ser fornecido, desde que
a medida venha a resguardar e atender a receita médica acostada aos autos.

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c) caso não seja fornecido o medicamento ou tratamento, é possível o bloqueio de valores dos entes
federados e a fixação de multa (astreintes) para garantir a efetivação da decisão judicial (STJ, Resp 1650762);

d) o STF, no julgamento do RE 657.718/MG (Tema 500), com repercussão geral reconhecida, decidiu sobre
dois assuntos: i) medicamentos experimentais; e ii) ausência de registro de medicamento na Agência Nacional
de Vigilância Sanitária – ANVISA.

i) É possível que o Poder Público seja condenado a fornecer medicamentos experimentais (ou seja, sem
comprovação científica de eficácia e segurança)? Não. Um conhecido exemplo de medicamento experimental é
a fosfoetanolamina sintética (a chamada “pílula do câncer”). O Estado não pode ser obrigado a fornecer
medicamentos experimentais. (STF. Plenário. RE 657718/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Roberto Barroso, julgado em 22/5/2019 (repercussão geral) (Info 941).

ii) A ausência de registro na ANVISA impede o fornecimento de medicamento por decisão judicial? Sim.
Excepcionalmente, é possível a concessão judicial de medicamento sem registro sanitário, em caso de mora
irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao previsto na Lei 13.411/2016 – 120 dias e 60 para
categoria prioritária e 365 dias e 180 dias para a categoria ordinária), quando preenchidos três requisitos:

a) a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de medicamentos órfãos


para doenças raras e ultrarraras, pois não há interesse econômico em registrar);

b) a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no exterior (ex. Food


and Drug Administration – FDA, nos EUA; European Medicine Agency – EMEA, responsável pela regulação dos
medicamentos nos países da União Europeia; Japanese Ministry of Health & Welfare, do Japão).

c) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil. (STF. Plenário. RE 657718/MG, rel. orig.
Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 22/5/2019 (repercussão geral) (Info 941).

✓ Atenção! Há obrigatoriedade de vacinação de crianças e adolescentes, inclusive contra a COVID-19?

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1) Sim - Art. 14, § 1°, do ECA: É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas
autoridades sanitárias. Abrange a vacinação pelo COVID, sendo essa a posição mais adequada para concursos.
2) Não – liberdade de consciência e crença.

▪ Aleitamento materno (art. 9.º)


▪ O aleitamento materno é essencial para o desenvolvimento sadio dos filhos, razão pela qual o
ECA regulamenta a matéria. - Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores
propiciarão condições adequadas ao aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães
submetidas a medida privativa de liberdade.

✓ Mães presas: art. 5º, L, CF (período de amamentação – “às presidiárias serão asseguradas
condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de
amamentação”); art. 83, § 2º, LEP (Os estabelecimentos penais destinados a mulheres
serão dotados de berçário, onde as condenadas possam cuidar de seus filhos, inclusive
amamentá-los, no mínimo, até 6 (seis) meses de idade.).

✓ Mães internadas: art. 63, §2º, Lei SINASE (Lei 12.594/12 – Serão asseguradas as condições
necessárias para que a adolescente submetida à execução de medida socioeducativa de
privação de liberdade permaneça com o seu filho durante o período de amamentação).

✓ Mães empregadas: art. 396 da CLT (2 descansos especiais, de meia hora cada, para
amamentação, até 6 meses de idade).

▪ Obs. Obrigação de acolhimento de filhos de mães submetidas a medidas privativas de liberdade durante
a primeira infância: Art. 8º, § 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à mulher com filho na
primeira infância* que se encontrem sob custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência que
atenda às normas sanitárias e assistenciais do Sistema Único de Saúde para o acolhimento do filho, em
articulação com o sistema de ensino competente, visando ao desenvolvimento integral da criança.

– Crítica ao dispositivo: se a estrutura atual dos nossos sistemas penitenciário e de acolhimento


não garante um mínimo de condições às detidas/internadas, é possível manter esse filho com a
genitora?

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Embora exista a obrigação de acolhimento dos filhos das mães submetidas às penas privativas de liberdade, não
se tem sequer uma estrutura adequada para acolhimento delas, muito menos para o acolhimento dos filhos.
Assim, precisamos interpretar esse dispositivo com certo cuidado, de modo a evitar que a situação venha a expor
essa criança ou adolescente à uma situação de risco, uma situação que poderia trazer mais prejuízos do que
benefícios em razão da convivência com sua genitora.

Obs. 2 – Substituição da prisão preventiva pela domiciliar - STF- Habeas Corpus Coletivo 143.641 (Rel. Min.
Lewandowski, Info 891)

CPP, Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for:
IV - gestante;
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos;

▪ Critérios para a substituição:


REGRA. Em regra, deve ser concedida prisão domiciliar para todas as mulheres presas que sejam:
• Gestantes;
• puérperas (que deu à luz há pouco tempo);
• mães de crianças (isto é, mães de menores até 12 anos incompletos); ou
• mães de pessoas com deficiência.

EXCEÇÕES. Não deve ser autorizada a prisão domiciliar se:


• a mulher tiver praticado crime mediante violência ou grave ameaça;
• a mulher tiver praticado crime contra seus descendentes (filhos e/ou netos);
• em outras situações excepcionalíssimas, as quais deverão ser devidamente
fundamentadas pelos juízes que denegarem o benefício.

Obs. Nos parece que a mesma lógico do art. 318 deve incidir também para adolescentes que tenham praticado
atos infracionais.

▪ OBRIGAÇÕES DOS HOSPITAIS (art. 10)

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Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são
obrigados a:
I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;
II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital e da impressão digital da
mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade administrativa competente;
III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nascido,
bem como prestar orientação aos pais;
IV - fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente as intercorrências do parto e do
desenvolvimento do neonato;
V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanência junto à mãe.
VI - acompanhar a prática do processo de amamentação, prestando orientações quanto à técnica adequada,
enquanto a mãe permanecer na unidade hospitalar, utilizando o corpo técnico já existente.
VII – Atentar para o Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) que, atualmente, estabelece rol mínimo de
doenças a serem rastreadas pelo teste do pezinho, tendo sido significativamente ampliado pela Lei n° 14.154/21.

Essa lei é recente, com grande probabilidade de cobrança nas provas de concursos, estabelecendo um rol mínimo
de doenças a serem objeto de análise pelo teste do pezinho e o art. 10 do ECA prevê um rol ampliativo e sucessivo
de doenças a serem objeto de análise pelo teste do pezinho. É um rol que vai sendo ampliado gradativamente
pelo Poder Público na detecção de doenças que possa portar o bebê.

✓ Art. 10, 3º - O rol de doenças do teste do pezinho poderá ser expandido pelo poder público com
base em evidências científicas, considerados os benefícios do rastreamento, do diagnóstico e do
tratamento precoce, priorizando as doenças com maior prevalência no País, com protocolo de
tratamento aprovado e com tratamento incorporado no Sistema Único de Saúde.

✓ Art. 10, § 4º Durante os atendimentos de pré-natal e de puerpério imediato, os profissionais de


saúde devem informar a gestante e os acompanhantes sobre a importância do teste do pezinho
e sobre as eventuais diferenças existentes entre as modalidades oferecidas no Sistema Único de
Saúde e na rede privada de saúde.

Descumprimento das obrigações (I a IV): crimes dos arts. 228 e 229 do ECA.

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▪ Encaminhamento à Justiça da Infância e Juventude das mães que manifestarem interesse em entregar
seus filhos para adoção (art. 13, parágrafo único)

Art. 13. (...) §1º. As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção serão
obrigatoriamente encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infância e da Juventude.

✓ Direito ao “parto anônimo” - é o direito da mãe em permanecer desconhecida, sem qualquer imputação
civil ou penal na entrega da criança para adoção.

✓ Descumprimento do dever: infração administrativa (Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente
de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar imediato encaminhamento à autoridade
judiciária de caso de que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada em entregar seu filho para
adoção: Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais).)

✓ Procedimento caso a gestante ou mãe manifeste interesse em entregar o filho para adoção:

1º Encaminhamento à Justiça da Infância - Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste interesse em entregar seu
filho para adoção, antes ou logo após o nascimento, será encaminhada à Justiça da Infância e da Juventude.
2º Oitiva por equipe interprofissional;
3º Atendimento especializado – O magistrado poderá determinar o encaminhamento da gestante ou mãe,
mediante sua expressa concordância, à rede pública de saúde e assistência social para atendimento especializado;
4º Preferência que a criança fique com o pai ou com algum representante da família extensa;
5º Na impossibilidade de ficar com o pai ou com a família extensa, o juiz deverá:

a) decretar a extinção do poder familiar; e


b) determinar a colocação da criança sob a guarda provisória de quem estiver habilitado a adotá-la ou de
entidade que desenvolva programa de acolhimento familiar ou institucional.

6º Prazo para a ação de adoção - Quem receber a guarda da criança terá o prazo de 15 dias para propor a ação de
adoção, contado do dia seguinte à data do término do estágio de convivência.

▪ Direito à liberdade (arts. 15 e 16)

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Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em
processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e
nas leis.

Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:


I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais.

Obs. 1 – De modo a combater as violações ao direito à liberdade de crianças e adolescentes, o art. 230, do ECA,
estabelece o seguinte tipo penal - Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão
sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente: Pena
- detenção de seis meses a dois anos. Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão
sem observância das formalidades legais.

Obs. 2 O STF, no julgamento da ADI 3446, afirmou que não se vislumbra qualquer inconstitucionalidade no direito
de liberdade de ir e vir previsto no art. 16, I, da Lei nº 8.069/90. Em outras palavras, o STF fixou que o direito de
ir, vir também deve ser garantido às crianças e adolescentes e que é constitucional a disposição contida no art.
16, I do ECA.

✓ Toque de recolher/acolher? Art. 149 do ECA.

✓ Portaria judicial 01/2011, Vara Infância e Juventude de Cajuru – determinou o recolhimento de


crianças e adolescentes das ruas, desacompanhados dos pais ou responsáveis, quando: (i)
encontrados, após às 23h, próximos a prostíbulos e pontos de venda de drogas; (ii) na companhia
de adultos que estejam consumindo bebidas alcoólicas; e (iii) mesmo que em companhia dos pais,
quando estejam consumindo álcool ou na companhia de adultos que consumam entorpecentes.

✓ A Defensoria Pública impetrou HC coletivo, ao argumento de que a portaria ofendia o direito de


ir e vir de uma coletividade de crianças.
✓ TJ/SP: não conheceu do HC, pois não seria sucedâneo da ADIn.
✓ STJ: declarou a ilegalidade da portaria, pelo seu conteúdo genérico, caráter abstrato e prazo
indeterminado, excedendo os poderes normativos previstos no art. 149 do ECA (HC 207.720).

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Rolezinho?
▪ Conceito: movimentos que começaram a acontecer a partir de 2013, em que milhares de adolescentes
começaram a marcar encontros virtuais e a situação acabava gerando problemas para os comerciantes.
▪ Qual a medida foi tomada? Proibição a que adolescentes frequentem shoppings desacompanhados.

▪ O STJ, ao julgar HC impetrado pela DPE/SP, concedeu a ordem de ofício para a anulação da portaria
editada pelo juiz da infância de Ribeirão Preto, que proibia crianças e adolescentes de frequentarem, de
forma desacompanhada, shoppings centers locais, sob o argumento de violação frontal ao direito de
liberdade de ir e vir, bem como em função do preconceito em relação àqueles que não possuíam
condições financeiras para usufruir de outras formas de lazer, diversão e brincadeiras.

(art. 16, cont ...)


II - opinião e expressão;

III - crença e culto religioso;

Vale a pena atentarmos para a recente modificação empreendida no art. 7º-A da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação, que passou a prever prestações alternativas à aplicação de provas e à frequência a aulas realizadas em
dia de guarda religiosa.

✓ Prestações alternativas à aplicação de provas e à frequência a aulas realizadas em dia de guarda


religiosa - Art. 7º-A, da LDB - Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou
privada, de qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito
de, mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em que,
segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir,
a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações alternativas, nos termos
do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:

I - prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de estudo do aluno
ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;
II - trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos
pela instituição de ensino.

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§ 1º A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da ausência do
aluno.
§ 2º O cumprimento das formas de prestação alternativa de que trata este artigo substituirá a obrigação original
para todos os efeitos, inclusive regularização do registro de frequência.

(art. 16, cont ...)


IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;

V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;

VI - participar da vida política, na forma da lei: a criança e o adolescente podem organizar e participar em
entidades estudantis (art. 53, IV); o adolescente, a partir dos 16 (dezesseis) anos, tem a faculdade de exercitar o
direito constitucional do voto (art. 14, § 1º, II, “c”, da CF).

VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.

▪ Direito ao respeito
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do
adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças,
dos espaços e objetos pessoais.

Art. 143. É vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a crianças e
adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional.
Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se
fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentesco, residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome.

• A infringência a esta proibição caracteriza:

Obs. A infringência ao art. 143, do ECA, caracteriza:

1) a infração administrativa do art. 247, do ECA (Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização
devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou documento de procedimento policial, administrativo

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ou judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua ato infracional: Pena - multa de três a vinte salários
de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.);

2) reparação por danos morais (in re ipsa – Resp 1.795.572).

Obs. Em matérias jornalísticas, nem mesmo as iniciais do adolescente podem ser divulgadas.

▪ Comunicação de maus-tratos e atendimento na primeira infância


Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-
tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva
localidade, sem prejuízo de outras providências legais (grifou-se).

✓ O dever de comunicação ao CT também existe para os profissionais da rede de ensino? Sim.

✓ Consequência do descumprimento do dever de comunicação: infração administrativa (art. 245, do ECA -


Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino
fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que tenha
conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente: Pena
- multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.).

Art. 13. § 2 o Os serviços de saúde em suas diferentes portas de entrada, os serviços de assistência social em seu
componente especializado, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e os demais órgãos
do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente deverão conferir máxima prioridade ao
atendimento das crianças na faixa etária da primeira infância com suspeita ou confirmação de violência de
qualquer natureza, formulando projeto terapêutico singular que inclua intervenção em rede e, se necessário,
acompanhamento domiciliar.

✓ Quem deve garantir a máxima prioridade? 1) Serviços de saúde; 2) Serviços de assistência social; e 3)
órgãos do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente.

▪ Proteção contra o Bullying

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✓ Lei 13.185/2015: Institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying).

Art. 1º, § 1º. No contexto e para os fins desta Lei, considera-se intimidação sistemática (bullying) todo ato de
violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo
ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à
vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvida.

✓ Etimologia: inglês Bully = brigão, valentão ou acossador. Assim, bullying significa violentar, intimidar.

✓ Sujeitos do bullying:
a) intimidador;
b) vítima; e
c) espectador.

Requisitos para a caracterização do bullying:


a) Ato de violência física ou psíquica: a violência psíquica pode ocorrer, por exemplo, com o isolamento
proposital da vítima;
b) Intencional e repetitivo;
c) Sem motivo evidente: a violência, geralmente, ocorre por ter a vítima um padrão comportamental ou
características destoantes da maioria (excesso de peso, boas notas);
d) Por indivíduo ou grupo;

Obs. a violência psíquica, em regra, é feita por um grupo de pessoas;


e) Que causa dor ou angústia;
f) Relação de desequilíbrio de poder entre as partes.

O que pode acompanhar os atos de violência física ou psicológica? Art. 2o Caracteriza-se a intimidação
sistemática (bullying) quando há violência física ou psicológica em atos de intimidação, humilhação ou
discriminação e, ainda:
I - ataques físicos;
II - insultos pessoais;
III - comentários sistemáticos e apelidos pejorativos;

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IV - ameaças por quaisquer meios;
V - grafites depreciativos;
VI - expressões preconceituosas;
VII - isolamento social consciente e premeditado;
VIII – pilhérias (“piadas”).

✓ Cyberbullying: art. 2°, parágrafo único. Há intimidação sistemática na rede mundial de computadores
(cyberbullying), quando se usarem os instrumentos que lhe são próprios para depreciar, incitar a
violência, adulterar fotos e dados pessoais com o intuito de criar meios de constrangimento psicossocial.
(Ocorre, por exemplo, quando são usadas redes sociais, e-mails, programas, chats, etc.).

▪ Espécies de Bullying (art. 3º):


a) Verbal;
b) Moral;
c) Sexual;
d) Social;
e) Psicológico;
f) Físico;
g) Material;
h) Virtual.

Quem deve adotar medidas para evitar o bullying? Art. 5º É dever do estabelecimento de ensino, dos clubes e
das agremiações recreativas assegurar medidas de conscientização, prevenção, diagnose e combate à violência e
à intimidação sistemática (bullying).

• Obs. A Lei não tipificou a prática de bullying como crime, de forma que a sua adequação típica é realizada
com os tipos penais existentes, tais como vias de fato (art. 21 da LCP), lesão corporal (art. 129 do CP),
difamação (art. 139 do CP), injúria (art. 140 do CP), ameaça (art. 147 do CP), invasão de dispositivo
informático (art. 154-A do CP), divulgação, por qualquer meio, de fotografia, vídeo ou outro registro que
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente (art. 241-A do ECA)
etc.

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▪ Direito à dignidade

ECA, Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer
tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

CF, art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Obs. O STJ (RESP 1.517.973) condenou determinada emissora ao pagamento de danos morais coletivos, tendo em
vista a exibição de um quadro chamado “Investigação de Paternidade”, pois essa conduta poderia criar situações
discriminatórias, vexatórias, humilhantes às crianças e aos adolescentes.

▪ Proteção contra castigos físicos (Lei 13.010/2014 - “Lei da Palmada” ou “Lei do Menino Bernardo”)

1) A Lei n° 13.010/14 alterou o ECA e estabeleceu que as crianças e os adolescentes têm o direito de serem
educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante.

2) Castigo físico: é a ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física que cause na
criança ou adolescente:
a) sofrimento físico; ou
b) lesão.

Obs. A “palmada” dada em uma criança, mesmo que não cause lesão corporal, poderá ser considerada “castigo
físico” se gerar sofrimento físico.

3. Tratamento cruel ou degradante é aquele que:


a) humilha,
b) ameaça gravemente; ou
c) ridiculariza a criança ou o adolescente.

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4. Quem deverá respeitar as vedações estabelecidas pela “Lei da Palmada”?
a) Os pais;
b) Os integrantes da família ampliada (ex.: padrasto, madrasta);
c) Os responsáveis (ex.: tutor);
d) Os agentes públicos executores de medidas socioeducativas (ex.: funcionários dos centros de
internação);
e) Qualquer pessoa encarregada de cuidar, tratar, educar ou proteger as crianças e adolecentes (ex.:
babás, professores).

5. Consequências: os infratores estarão sujeitos, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, às seguintes medidas,
que serão aplicadas de acordo com a gravidade do caso:
I - Encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família;
II - Encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
III - Encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
IV - Obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado;
V – Advertência – poder familiar não está sendo exercício de forma adequada.

Obs. As medidas acima previstas serão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras providências
legais. Ou seja, para além das medidas protetivas, os sujeitos também podem responder nos âmbitos:
administrativo (se agente público), civil e penal.

6 – A conduta configura crime? Depende. A Lei n° 13.010/2014 não prevê nenhum crime. No entanto, a depender
do caso concreto, o castigo físico aplicado ou o tratamento cruel ou degradante empregado poderá configurar
crime previsto no Código Penal ou no ECA.

Ex.: se o castigo físico provocar lesão corporal, poderá caracterizar a conduta prevista no art. 129, § 9º, do CP.

7 - O pai ou mãe agressor poderá perder o poder familiar? Sim. Embora a Lei n° 13.010/2014 não disponha
expressamente sobre o tema, se ficar provado que houve extremo excesso por parte do pai ou da mãe na
imposição da disciplina, é possível a perda do poder familiar (art. 1638, inciso I, do CC: Perderá por ato judicial o
poder familiar o pai ou a mãe que: I - castigar imoderadamente o filho).

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▪ DIREITO À EDUCAÇÃO

CF, Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada
inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria;
IV – educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 anos de idade.

▪ EDUCAÇÃO BÁSICA (0 a 17 anos) E SUPERIOR

▪ Programas suplementares à educação:

CF, Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares
de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.

✓ Não basta garantir o direito à educação: é preciso fornecer uma estrutura mínima para que a criança e
adolescente possa estudar. Daí a importância dos programas suplementares.

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▪ Atendimento educacional especializado aos infantes com deficiência
Regra geral: Ensino Inclusivo - CF, Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia
de:
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de
ensino;

Exceção: LDB, art. 58, § 2º. O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados,
sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns
de ensino regular.

Obs. O STJ já garantiu contratação de profissional habilitado em libras para alfabetização de criança com
deficiência auditiva.

▪ Direitos previstos no ECA

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa,
preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;

▪ Proximidade da escola para o estudante:


Art. 53, A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa,
preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência, garantindo-se vagas no mesmo estabelecimento
a irmãos que frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica.

▪ Critério do georreferenciamento - as crianças possuem o direito de estudar em escolas localizadas


próximas a sua casa.

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▪ Obs. 1 - O STJ analisou um caso que se questionava a possibilidade de uma criança permanecer em escola
que se tornou mais longe da sua residência, em razão de mudança de endereço. Entendeu que o
georreferenciamento é um direito da criança, uma escolha sua, podendo permanecer em sua escola ou
escolher outra distante. Este critério visa facilitar a vida escolar, não impedir a escolha. Trata-se de um
benefício para o aluno, e não uma imposição (STJ, REsp 1.194.905/PR, 2010).

▪ Obs. 2 - O direito de irmãos de estudarem na mesma escola exige o preenchimento cumulativo dos
seguintes requisitos:
1) Que os irmãos frequentem escola pública;
2) Que ambos estejam na mesma etapa ou ciclo de ensino; e
3) Que estejam na educação básica (infantil, fundamental ou médio).

▪ EDUCAÇÃO INFANTIL E RESERVA DO POSSÍVEL

CF, Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade.
➢ ECA, art. 54, IV (idem)

LDB, Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de:
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) anos de idade;

▪ Creche e reserva do possível: em regra, não é possível a alegação da reserva do possível. Devem ser
alocados recursos para a construção de creches.

▪ Exceção: quando houver a alocação de recursos e ainda implicar em real insuficiência


orçamentária - STJ, REsp 1.185.474/SC – “Porém é preciso fazer uma ressalva no sentido de que
mesmo com a alocação dos recursos no atendimento do mínimo existencial persista a carência
orçamentária para atender a todas as demandas. Nesse caso, a escassez não seria fruto da escolha
de atividades não prioritárias, mas sim da real insuficiência orçamentária. Em situações limítrofes
como essa, não há como o Poder Judiciário imiscuir-se nos planos governamentais, pois estes,
dentro do que é possível, estão de acordo com a Constituição, não havendo omissão injustificável.
Todavia, a real insuficiência de recursos deve ser demonstrada pelo Poder Público, não sendo

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admitido que a tese seja utilizada como uma desculpa genérica para a omissão estatal no campo
da efetivação dos direitos fundamentais, principalmente os de cunho social. No caso dos autos,
não houve essa demonstração.”

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DISCIPLINAS COMPLEMENTARES
Rafael Costa
Estatuto da Criança e do Adolescente
Aula 3

ROTEIRO DE AULA

▪ Obrigação dos pais de matricularem os filhos:


ECA, Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de
ensino.

LDB, Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4
(quatro) anos de idade.

✓ Descumprimento desses dispositivos, não realização de matrícula? Infração administrativa (art. 249, do
ECA) e crime de abandono intelectual (art. 246, do CP).

▪ Obs. Competência para julgar ações que envolvam matrícula em escolas - É absoluta a competência da
Vara da Infância e da Juventude para julgar causas envolvendo matrícula de menores em creches ou
escolas, nos termos dos arts. 148, IV, e 209, da Lei nº 8.069/90 (STJ. 1ª Seção. REsp 1.846.781/MS, Rel.
Min. Assusete Magalhães, julgado em 10/02/2021 (Recurso Repetitivo – Tema 1058) (Info 685).

▪ Educação domiciliar ou homeschooling

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✓ Homeschooling – consiste na prática por meio da qual os pais ou responsáveis pela criança ou adolescente
assumem a obrigação pela sua escolarização formal e deixam de delegá-la às instituições oficiais de
ensino. Os pais passam a ser responsáveis pelo ensino dos filhos.

✓ Espécies principais de ensino domiciliar:

a) a desescolarização radical (unschooling - nega a instituição escolar e coloca a própria criança como
agente diretivo do aprendizado, escolhendo o que estudar, quando estudar e até mesmo se quer estudar.);

b) a desescolarização moderada (admite que o Poder Público ofereça educação formal, embora entenda
que compete exclusivamente aos pais optar pelo ensino institucionalizado ou o domiciliar);

c) o ensino domiciliar puro (compete primeiramente à família o dever de educação formal, e só


subsidiariamente aceita-se a participação estatal, que oferecerá de forma alternativa o ensino). O Estado
oferecerá de forma alternativa o ensino;

d) o homeschooling (ensino domiciliar utilitarista ou por conveniência circunstancial) - a criança ou


adolescente aprende na sua casa as matérias que os demais estudam na escola, ou seja, deve-se seguir a grade
programática disponibilizada pelo poder público.

▪ Posição da jurisprudência:
❑ STJ, não admite: MS 7.407/DF, 1ª Seção, j. 24.04.2002:
❑ STF, não admite - RE 888815 (repercussão geral) – embora não exista uma vedação absoluta ao ensino
domiciliar na Constituição, não há legislação que regulamente os preceitos e as regras aplicáveis a essa
modalidade de ensino. Em outras palavras, deve-se aguardar a edição de lei que regulamente a matéria,
sendo esta lei indispensável.

▪ O ensino religioso em escolas públicas pode ter natureza confessional (ou seja, pode seguir a doutrina
de uma religião específica)?

Sim. Interpretando de forma sistemática os preceitos constitucionais que dispõem sobre a laicidade do Estado
(art. 19, I, da Constituição) e a liberdade religiosa (art. 5º, VI, Constituição), o STF entendeu que incumbe ao Estado

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assegurar o cumprimento do art. 210, § 1º, da Constituição, permitindo aos alunos, desde que de forma voluntária
e expressa, se matriculem, sem qualquer ônus para o Poder Público, em ensino religioso, garantida a oportunidade
a todas as doutrinas (STF. Plenário. ADI 4439/DF, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 27/9/2017).

O STF deixou claro dois aspectos importantes: o aluno poderá se matricular em escolas públicas no ensino religioso
seguindo determinada doutrina, desde que o faça voluntariamente e essa matrícula em disciplina relacionada ao
ensino religioso só poderá ocorrer se for garantida a oportunidade de apresentarem todas as doutrinas religiosas.

✓ Aluno aprovado em vestibular, mas sem ter concluído o ensino médio, pode se matricular no ensino
superior?

a) TRFs: não têm admitido a matrícula no nível superior. Fundamento: LDB, art. 44. A educação superior
abrangerá os seguintes cursos e programas: (...) II - de graduação, abertos a candidatos que tenham concluído o
ensino médio ou equivalente e tenham sido classificados em processo seletivo;

b) STJ – em regra, o julgamento ocorre após a consolidação fática de eventual liminar concedida pelas
instâncias inferiores, aplicando a teoria do fato consumado (RESp. 1.361.926). Mantém-se a matrícula.

▪ Deveres dos dirigentes de estabelecimentos de ensino

Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de:
I - maus-tratos envolvendo seus alunos;

Obs.: Esse dever se estende aos professores de ensino fundamental, creche e pré-escola, sob pena de incorrerem
na infração administrativa do art. 245, do ECA.

II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares;

✓ Em que momento deve ser feita essa comunicação? LDB, art. 12. Os estabelecimentos de ensino,
respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: (...) VIII – notificar

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ao Conselho Tutelar do Município a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de
30% (trinta por cento) do percentual permitido em lei.

Esse tema foi objeto de recente modificação legislativa, razão pela qual devemos ter especial atenção à esta nova
redação. O dispositivo legal reduziu o percentual de faltas para que ocorra a notificação e estabeleceu
expressamente que a notificação deve ocorrer ao Conselho Tutelar, exclusivamente e em primeiro lugar.

Obs. Em regra, não é necessária a notificação ao juiz competente da Comarca e ao respectivo representante do
Ministério Público. Infrutíferas as diligências realizadas pelo Conselho Tutelar, deverá comunicar o ocorrido ao
Ministério Público.

III - elevados níveis de repetência.

▪ DIREITO À CULTURA, ESPORTE E LAZER

Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e
espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude.

▪ DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO E À PROTEÇÃO NO TRABALHO

CF, art. 7º, inciso XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer
trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos;

Formas lícitas de trabalho:


a) Aprendizagem - formação técnico-profissional metódica.
b) Estágio - ato educativo escolar supervisionado e que segue legislação própria.
c) Trabalho educativo – finalidade pedagógica prevalente sobre o aspecto produtivo. Ex: adolescente que
ensaia com orquestra. Em primeiro lugar, o objetivo é aprender uma profissão; subsidiariamente, auferirá os
lucros divididos entre os membros da orquestra.
d) Trabalho normal - aquele que não se enquadra nas hipóteses anteriores.

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▪ Competência para expedição de alvarás para participação em representações artísticas
Competente à Justiça Comum apreciar pedidos de alvará visando a participação de crianças e adolescentes em
representações artísticas, sendo vedada a criação de juízo auxiliar da infância e da juventude no âmbito da Justiça
do Trabalho. (ADI 5326/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 27.9.2018)

O que foi submetido ao julgamento do STF é se seria de competência da Justiça Estadual (Infância e Juventude)
apreciar os pedidos de alvarás para que adolescentes venham a realizar apresentações artísticas ou se seria
necessária a criação junto à Justiça do Trabalho de um juízo auxiliar da Infância e Juventude e prevaleceu o
entendimento de que, em relação à essa temática, é competência da Justiça Comum expedir os alvarás.

▪ Autorização para participação de apresentações artísticas em várias comarcas distintas


Não sendo possível a concessão de autorização judicial ampla e irrestrita para que adolescente participe de
apresentações artísticas, incumbe ao juízo da comarca de domicílio do adolescente (art. 147, do ECA) autorizar a
participação em espetáculos públicos em outras comarcas (STJ. 3ª Turma. REsp 1.947.740-PR, julgado em
05/10/2021).

Muita atenção para este julgado porque é de 2021. Atente para o fato de que o que ficou decidido, a ratio
decidendi, está relacionada com o fato de que o adolescente só precisa pedir a concessão de alvarás para realizar
apresentações em outras comarcas para o juízo da Infância e Juventude da comarca em que atualmente exerce

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seu domicílio. Suponha que um adolescente irá se apresentar em 15 municípios, somente precisará solicitar o
alvará para o juízo da Infância e Juventude da comarca de seu domicílio.

DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA

• Fundamento Constitucional: Art. 227, caput, da CF.

• Fundamento legal: ECA, Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua
família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em
ambiente que garanta seu desenvolvimento integral.

✓ Convivência familiar: proporciona amparo emocional e aprendizado de valores morais, éticos, políticos e
sociais.

▪ Convivência da criança ou adolescente com os pais privados de liberdade

ECA, Art. 19 (...) § 4o Será garantida a convivência da criança e do adolescente com a mãe ou o pai privado de
liberdade, por meio de visitas periódicas promovidas pelo responsável ou, nas hipóteses de acolhimento
institucional, pela entidade responsável, independentemente de autorização judicial.

✓ O juiz pode restringir as visitas? Sim, quando restar devidamente comprovado que estão sendo
prejudiciais aos interesses da criança/adolescente.

▪ Definição de entidade familiar - classificação trinária do ECA

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*Obs. A família extensa poderá evoluir para família substituta, com algumas ressalvas (adoção por irmãos e
ascendentes).

▪ Poder familiar:
✓ Definição: “Conjunto de deveres e direitos, irrenunciáveis e indelegáveis, que os pais têm em relação os
filhos menores de 18 anos, que devem ser exercitados para conferir-lhes condições para um
desenvolvimento sadio”.

Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser
a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade
judiciária competente para a solução da divergência.

O poder familiar é exercido tanto pelo pai quanto pela mãe, ambos tendo igualdade de condições de o exercer.
Na hipótese de discordância, em que os pais não entrem em um acordo sobre como exercer o poder familiar, irá
competir à autoridade judiciária a solução da divergência.

▪ Deveres dos pais (art. 22 do ECA c/c. art. 1634 do CC):

ECA, Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda,
no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.

✓ Descumprimento do dever de sustento: crime de abandono material (art. 244, do CP).

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✓ Descumprimento do dever de educação: crime de abandono intelectual (art. 246, do CP).

No que tange à guarda prevista no art. 22 do ECA, estamos falando em dever de guarda e não em uma das
modalidades de colocação dessa criança/adolescente em família substituta. As modalidades de colocação dessa
criança/adolescente em família substituta são a guarda, tutela e adoção.

CC, Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder
familiar, que consiste em, quanto aos filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação;
II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584;
III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;
IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior;
V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência permanente para outro Município;
VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o
sobrevivo não puder exercer o poder familiar;
VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após
essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;
VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.

▪ DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR


• Conceito: A perda ou suspensão do poder familiar ocorre mediante ação proposta pelo Ministério Público
ou por alguma pessoa que tenha legítimo interesse (ex.: um avô) contra um ou ambos genitores.

Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão decretadas judicialmente, em procedimento contraditório,
nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e
obrigações a que alude o art. 22.

▪ Hipóteses de destituição do Poder Familiar:

1) descumprimento injustificado das determinações judiciais ou dos deveres de sustento, guarda e educação do
filho (arts. 22 e 24);

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2) condenação por crime doloso, sujeito à pena de reclusão, contra outrem igualmente titular do mesmo poder
familiar ou contra filho, filha ou outro descendente (art. 23, § 2º, com a redação dada pela Lei 13.715/2018);

3) art. 1.638, do CC:


“I – castigar imoderadamente o filho;
II – deixar o filho em abandono;
III – praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;
IV – incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no art. 1637, do CC; e
V – entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de adoção”.

4) art. 1.638, parágrafo único, do CC:


I – praticar contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar:
a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de morte, quando se
tratar de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de
mulher;
b) estupro ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de reclusão;
II – praticar contra filho, filha ou outro descendente:
a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de morte, quando se
tratar de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de
mulher;
b) estupro, estupro de vulnerável ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de
reclusão.

5) abusar, reiteradamente, de sua autoridade, faltando com os deveres a eles inerentes ou arruinando os bens
dos filhos (arts. 1.638, IV, c. c. 1.637, caput, do CC).

6) Código Penal, Art. 92 - São também efeitos da condenação: (...) II – a incapacidade para o exercício do poder
familiar, da tutela ou da curatela nos crimes dolosos sujeitos à pena de reclusão cometidos contra outrem
igualmente titular do mesmo poder familiar, contra filho, filha ou outro descendente ou contra tutelado ou
curatelado;

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➢ Em regra, a condenação criminal do pai ou da mãe NÃO implica em incapacidade para o exercício do
poder familiar.

➢ Exceção:
A) condenação por crime doloso (não basta ser crime culposo);
B) sujeito à pena de reclusão;
C) praticado contra o próprio filho ou filha, ou quando o crime for praticado contra outra pessoa que detém o
poder familiar ou, ainda, contra outro descendente, contra tutelado ou curatelado.

➢ Importante: efeito não automático! Precisa ser devidamente motivado na sentença.

▪ Falta ou a carência de recursos materiais justifica a destituição (um pai extremamente humilde que não
tenha boas condições financeiras pode ser destituído do poder familiar exclusivamente por conta dessa
ausência de boas condições financeiras)? Não - Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não
constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar.

▪ Caráter excepcional da destituição: Art. 23, §1º - Não existindo outro motivo que por si só autorize a
decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido em sua família de origem, a qual deverá
obrigatoriamente ser incluída em serviços e programas oficiais de proteção, apoio e promoção.

▪ Ações de perda ou suspensão do poder familiar


➢ Regulamentação legal: regras processuais previstas no ECA (arts. 155-163). Subsidiariamente, aplicam-se
as normas do CPC (art. 152).

➢ Legitimidade para propositura de ação de perda ou suspensão do poder familiar - A legitimidade ativa
para o ajuizamento de ação de perda ou suspensão do poder familiar não exige vínculo familiar ou de
parentesco (STJ. 4ª Turma. REsp 1.203.968-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 10/10/2019 -Info 659).

Para a propositura da ação de perda ou suspensão do poder familiar, pode o MP ingressar com a ação ou pode
um terceiro e não necessariamente precisará ter vínculo familiar ou de parentesco com aquele que está sendo
destituído do poder familiar.

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➢ Competência:
• Vara da Infância e Juventude: se o menor estiver em situação de risco (art. 148, parágrafo único, do
ECA); ou
• Vara de Família: se não houver situação de risco (este conceito será estudado com mais profundidade
adiante em nossas aulas).

➢ Suspensão liminar do poder familiar - Se houver motivo grave, após ouvir o Ministério Público, o juiz
poderá decretar a suspensão liminar do poder familiar até o julgamento definitivo da causa (art. 157).

O ECA não definiu o que seria motivo grave, então se concede uma ampla liberdade para o juiz interpretar o
dispositivo e fixar se o caso concreto se enquadra ou não na expressão “motivo grave”.

➢ Determinação de realização de estudo social ou perícia - Art. 157, § 1° Recebida a petição inicial, a
autoridade judiciária determinará, concomitantemente ao despacho de citação e independentemente de
requerimento do interessado, a realização de estudo social ou perícia por equipe interprofissional ou
multidisciplinar para comprovar a presença de uma das causas de suspensão ou destituição do poder
familiar, ressalvado o disposto no § 10 do art. 101 desta Lei, e observada a Lei no 13.431, de 4 de abril de
2017.

➢ Obs. A Lei n° 14.340/22 incluiu no art. 157, do ECA, dois parágrafos:


– § 3º A concessão da liminar será, preferencialmente, precedida de entrevista da criança ou do
adolescente perante equipe multidisciplinar e de oitiva da outra parte, nos termos da Lei nº
13.431, de 4 de abril de 2017.
– § 4º Se houver indícios de ato de violação de direitos de criança ou de adolescente [castigos
imoderados, pais não cumprirem com o dever de sustento, etc.], o juiz comunicará o fato ao
Ministério Público e encaminhará os documentos pertinentes.

A Lei n. 14.340/22 estabelece expressamente que, sendo possível, antes de determinar a suspensão liminar do
poder familiar, o juiz vai proceder à realização da oitiva da criança/adolescente por meio da equipe multidisciplinar
e vai também realizar a oitiva da outra parte. Em regra, o juiz não vai conceder a liminar sem antes permitir que
a criança/adolescente se submetam à entrevista pela equipe multidisciplinar e sem antes ouvir a outra parte,
normalmente os pais daquela criança/adolescente, mitigando o caput do art. 157 do ECA.

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• Obs. 2 - É possível a suspensão/destituição do poder familiar em demanda que verse exclusivamente
sobre alienação parental? Em regra, não. A Lei n° 14.340/22 revogou o inciso VII do artigo 6º. da Lei
12.318/2010 (“Lei da Alienação Parental), que possibilitava ao juiz, em ação autônoma ou incidental,
suspender a autoridade parental. Assim, o pedido de suspensão/destituição precisa ser formulado em
demanda própria.

Suponhamos que tenha sido ajuizada uma ação que busque responsabilizar um dos genitores pelas práticas de
atos de alienação parental. A dúvida que surge é: seria possível, no bojo desta ação que versa exclusivamente
sobre a temática da alienação parental, que o juiz delibere sobre a suspensão/destituição do poder familiar? Até
recentemente, sim. Ocorre que a Lei n° 14.340/22 trouxe a importante modificação, conforme acima.

➢ Citação - O requerido (pai e/ou mãe) será citado para, no prazo de 10 dias (e, não, em 15 dias), oferecer
resposta escrita, indicando as provas a serem produzidas e oferecendo desde logo o rol de testemunhas
e documentos (art. 158).

➢ Obs. Como é a citação do requerido se ele estiver preso? A citação deverá ser PESSOAL (art. 158 (...) § 2º
O requerido privado de liberdade deverá ser citado pessoalmente).

➢ Oitiva dos pais - Em um processo de perda ou suspensão do poder familiar é obrigatória a oitiva dos pais
do menor sempre que esses forem identificados e estiverem em local conhecido (§ 4º do art. 161).

➢ Obs. Se o pai ou mãe estiverem presos, mesmo assim será obrigatória a sua oitiva? Sim. (Art. 161, § 5º
Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberdade, a autoridade judicial requisitará sua apresentação para
a oitiva.)

➢ Aspecto temporal - prazo máximo de 120 dias para que o procedimento seja encerrado, tendo em vista a
prioridade absoluta - Art. 163. O prazo máximo para conclusão do procedimento será de 120 (cento e
vinte) dias, e caberá ao juiz, no caso de notória inviabilidade de manutenção do poder familiar, dirigir
esforços para preparar a criança ou o adolescente com vistas à colocação em família substituta.

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▪ Ação de guarda e possibilidade de intervenção de genitora destituída do poder familiar - Antes da
adoção, a genitora biológica poderá recorrer em ação de guarda da filha da qual já tenha perdido o poder
familiar, tendo em vista que persiste o interesse fático e jurídico sobre a criação e destinação da criança
(STJ. 4ª Turma. REsp 1.845.146-ES, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 19/11/2019 - Info 661).

Suponha que a mãe e o pai foram destituídos do poder familiar. Um avô entrou com ação de guarda, pedindo a
guarda da criança. A mãe deve figurar em algum dos polos desta ação de guarda, tendo em vista que já foi
previamente destituída do poder familiar? Atenção ao julgado acima. A mãe poderá recorrer.

FAMÍLIA SUBSTITUTA

▪ Espécies: Guarda, Tutela e Adoção.


▪ Consentimento da criança e do adolescente - Princípio da autonomia progressiva (a depender da idade
da criança/adolescente, sua opinião será levada em consideração segundo peso menor ou maior):

▪ Critérios para colocação em família substituta


Art. 28, § 3o Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de parentesco e a relação de afinidade ou de
afetividade, a fim de evitar ou minorar as consequências decorrentes da medida.

✓ Critérios:
✓ Grau de parentesco;
✓ Relação de afinidade ou afetividade.

*Obs. Doutrina: não basta a existência de parentesco. A primazia deve ser dada à afinidade e afetividade!

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▪ Manutenção do grupo de irmãos (art. 28, § 4º)
Art. 28, § 4o Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta,
ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que justifique plenamente a
excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos
vínculos fraternais.

▪ Em regra, devem ser mantidos os grupos de irmãos. Exceções:


a) esgotamento das tentativas;
b) risco de abuso;
c) outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa.

❖ Dica de seriado: Três estranhos idênticos (Netflix) - Três irmãos gêmeos são separados e adotados por
três famílias diferentes.

▪ Criança ou adolescente indígena ou de origem quilombola (art. 28, § 6º)

Exigências adicionais:
I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade social e cultural, os seus costumes e tradições, bem como
suas instituições, desde que não sejam incompatíveis com os direitos fundamentais reconhecidos por esta Lei e
pela Constituição Federal;
II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente no seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma
etnia;
III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão federal responsável pela política indigenista*, no caso de
crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos*, perante a equipe interprofissional ou multidisciplinar que
irá acompanhar o caso.

* Fundação Nacional do Índio (FUNAI).


* Órgão federal que trata da questão quilombola: Fundação Cultural Palmares, ligada ao Ministério da Cultura.

▪ É possível a colocação em família substituta estrangeira?


• Sim. Aspectos relevantes da colocação em família substituta estrangeira:

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– Medida excepcional;
– Só admitida na modalidade adoção.

Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira constitui medida excepcional, somente admissível na
modalidade de adoção.

✓ E em relação à família de brasileiros residentes no exterior?

➢ Deve prevalecer o critério territorial (família situada no Brasil), evitando-se a colocação em família
substituta estrangeira.

➢ Contudo, é preciso atentar para o Art. 51, § 2º, do ECA: Os brasileiros residentes no exterior terão
preferência aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional de criança ou adolescente brasileiro.

▪ GUARDA

▪ Conceito: “Modalidade de colocação em família substituta destinada a regularizar a posse de fato. O


detentor da guarda pode se opor, inclusive, em relação aos pais, decidindo sobre sustento, educação,
etc.”.
▪ Deveres do guardião:
i. Assistência material;
ii. Assistência moral;
iii. Assistência educacional.

Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente,
conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais.

▪ Natureza provisória - a guarda antecede:


(i) a restituição à família natural (ex. acolhimento institucional temporário em virtude de desnutrição da criança);
ou
(ii) a colocação em tutela ou adoção.

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Art. 33, § 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos casos de tutela e adoção, para atender a situações
peculiares ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável, podendo ser deferido o direito de representação
para a prática de atos determinados.

✓ Obs. Não confundir com o dever de guarda (também incumbe aos pais, desde que não destituídos do
poder familiar), que é inerente ao poder familiar.

▪ É possível o exercício da guarda por avós?


▪ Sim, pois trata-se de família extensa.

▪ É possível pedir a guarda apenas para fins exclusivamente previdenciários? Não. STJ (REsp
696.204/RJ).

▪ Obs. O STJ entendeu que a Vara de Violência Doméstica ou Familiar é competente para decidir
guarda de criança e autorizar viagens quando a causa de pedir estiver relacionada com a violência
sofrida pela mãe da criança. – REsp. 1.550.166. Esse julgado excepciona a regra.

▪ Revogabilidade da guarda (art. 35):


Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado, ouvido o
Ministério Público.

✓ A sentença que fixa a guarda faz coisa julgada material? Sim. Contudo, trata-se de relação jurídica
continuativa – com alteração dos fatos, pode haver modificação da guarda (coisa julgada rebus sic
standibus).

✓ A guarda suspende o direito de visitas e o dever de prestar alimentos pelos pais?


• Regra: não suspende.

• Exceções:
(i) quando for aplicada em preparação para adoção.
(ii) quando houver determinação judicial expressa e fundamentada em contrário.

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Art. 33, § 4o Salvo expressa e fundamentada determinação em contrário, da autoridade judiciária competente, ou
quando a medida for aplicada em preparação para adoção, o deferimento da guarda de criança ou adolescente a
terceiros não impede o exercício do direito de visitas pelos pais, assim como o dever de prestar alimentos, que
serão objeto de regulamentação específica, a pedido do interessado ou do Ministério Público.

▪ Guarda e condição de dependente para fins previdenciários


Art. 33, § 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de
direito, inclusive previdenciários.

✓ A partir de 1997, a Lei 8213/91 excluiu a condição de dependente do infante sob guarda.

✓ Conflito aparente de normas (1ª Seção do STJ – ECA – RESp 1.411.258-RS, j. 11.10.2017) - O STJ firmou
entendimento no sentido de que o menor sob guarda tem direito ao benefício da pensão por morte,
sendo considerado dependente para fins previdenciários, tendo em vista o teor do art. 33, § 3º, do ECA,
e o princípio da proteção integral (art. 227, da Constituição).

▪ Guarda “Subsidiada” ou “Assistida”


Introdução - Se a criança ou o adolescente estiver em situação de risco (art. 98), o juiz da infância e juventude
poderá estabelecer as medidas protetivas elencadas no art. 101, do ECA. Durante o acolhimento familiar, teremos
o pagamento de determinado subsídio para que essa família venha a exercer os cuidados da criança.

Destacam-se duas importantes e frequentes medidas de proteção:


• o acolhimento institucional (art. 101, VII); e
• o acolhimento familiar (inciso VIII). - Ex.: Felipe vive em uma família desestruturada (pai alcoólatra e
mãe prostituta), razão pela qual é prolatada decisão em que o infante é entregue a uma família acolhedora. Essa
família pode receber incentivos do Poder Público (ex. R$ 200,00 por mês). - Guarda subsidiada ou assistida!

▪ Regulamentação legal da matéria: Art. 34 ECA. O poder público estimulará, por meio de assistência
jurídica, incentivos fiscais e subsídios (GUARDA SUBSIDIADA), o acolhimento, sob a forma de guarda, de
criança ou adolescente afastado do convívio familiar.

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§ 1º A inclusão da criança ou adolescente em programas de acolhimento familiar terá preferência a seu
acolhimento institucional, observado, em qualquer caso, o caráter temporário e excepcional da medida, nos
termos desta Lei.
§ 2º Na hipótese do § 1º deste artigo a pessoa ou casal cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá
receber a criança ou adolescente mediante guarda, observado o disposto nos arts. 28 a 33 desta Lei.

▪ Programa de Apadrinhamento
Conceito: O apadrinhamento consiste em proporcionar à criança ou ao adolescente que estejam em “abrigos”
(acolhimento institucional) ou em acolhimento familiar vínculos afetivos com pessoas de fora da instituição ou da
família acolhedora onde vivem e que se dispõem a ser “padrinhos”.

- Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de acolhimento institucional ou familiar poderão participar de
programa de apadrinhamento. § 1º O apadrinhamento consiste em estabelecer e proporcionar à criança e ao
adolescente vínculos externos à instituição para fins de convivência familiar e comunitária e colaboração com o
seu desenvolvimento nos aspectos social, moral, físico, cognitivo, educacional e financeiro.

• Como funciona na prática o apadrinhamento: as crianças ou adolescentes têm encontros com seus
“padrinhos”, fazem passeios, frequentam a casa, participam de aniversários, datas especiais, como Dia
das Crianças, Natal, Ano Novo etc. A intenção do programa de apadrinhamento é fazer com que a criança
ou adolescente receba afeto.

• Perfil da criança que se submete ao programa - Art. 19-B (...) § 4º O perfil da criança ou do adolescente a
ser apadrinhado será definido no âmbito de cada programa de apadrinhamento, com prioridade para
crianças ou adolescentes com remota possibilidade de reinserção familiar ou colocação em família
adotiva.

▪ O padrinho ou madrinha detém a guarda da criança/adolescente? Não. O apadrinhamento é diferente da


colocação em acolhimento familiar. O padrinho ou a madrinha são apenas uma referência afetiva na vida
da criança, mas não possuem a sua guarda.

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▪ Somente pessoas físicas podem apadrinhar crianças ou adolescentes? Não. Pessoas jurídicas também
podem apadrinhar criança ou adolescente a fim de colaborar para o seu desenvolvimento (art. 19-B, §
3º).

▪ Guarda legal
Art. 92, § 1o O dirigente de entidade que desenvolve programa de acolhimento institucional é equiparado ao
guardião, para todos os efeitos de direito.

TUTELA
Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos.

▪ Definição: modalidade de colocação em família substituta que, além de regularizar a posse de fato da
criança ou adolescente, também confere direito de representação ao tutor, permitindo a administração
de bens e interesses do pupilo, até seus 18 anos incompletos.

Se a guarda nos remete à situação de regularização da posse de fato da criança/adolescente, a tutela vai além:
não só regulariza a posse de fato, como ainda concede o direito de representação ao tutor.

▪ Base normativa: arts. 36 a 38, do ECA; e arts. 1728 a 1766, do CC.

▪ Característica: encargo público e obrigatório, apenas podendo ser recusado nas hipóteses previstas nos
arts. 1736 e 1737, do CC (mulheres casadas, maiores de sessenta anos, aqueles que tiverem sob sua
autoridade mais de três filhos, dentre outros).

▪ Finalidade: suprir a ausência do poder familiar.

▪ Deveres do tutor:
a) Assistência material;
b) Assistência moral;
c) Assistência educacional;
d) Representação legal; e
e) Guarda.

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❖ Há direitos sucessórios entre tutor e tutelado? Não.
❖ Obs. Diferentemente da guarda, a tutela é incompatível com o exercício do poder familiar, exigindo a
prévia destituição/suspensão.

▪ Hipóteses de cabimento:
a) Suspensão ou destituição do poder familiar (art. 38, p. único);
b) Falecimento dos pais;
c) Reconhecimento de ausência dos pais.

▪ Restrições:
a) Não pode emancipar o tutelado sem sentença judicial (CC, art. 5º, parágrafo único, I);
b) Exerce o encargo sob fiscalização do juiz; e
b) Precisa de autorização judicial para a prática dos atos descritos no art. 1748 do CC (ex.: pagamento das dívidas
do menor, venda de bens imóveis etc.).

▪ Tutela provisória?
• Como regra, não se admite a tutela provisória, porquanto incompatível com o exercício do poder familiar.
• Excepcionalmente, nos casos de pais falecidos, ausentes ou já suspensos ou destituídos do poder familiar,
a jurisprudência tem concedido a tutela provisória.

▪ Tutela compartilhada?
Possível, por meio de exegese analógica do art. 1.775-A, do CC: “Na nomeação de curador para a pessoa com
deficiência, o juiz poderá estabelecer curatela compartilhada a mais de uma pessoa.”

▪ Tutela testamentária:
▪ Conceito: instituto que visa preservar os interesses dos pais na nomeação do tutor.

▪ Previsão legal: Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qualquer documento autêntico,
conforme previsto no parágrafo único do art. 1.729 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 -
Código Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias após a abertura da sucessão, ingressar com

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pedido destinado ao controle judicial do ato, observando o procedimento previsto nos arts. 165
a 170 desta Lei.

▪ É indispensável que a medida seja vantajosa ao tutelando, mesmo partindo dos pais? Sim (Art. 37,
Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão observados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29
desta Lei, somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada na disposição de última vontade, se restar
comprovado que a medida é vantajosa ao tutelando e que não existe outra pessoa em melhores condições
de assumi-la).

▪ Requisito para a tutela testamentária: exercício do poder familiar pelo nomeante (CC, Art. 1.730. É nula
a nomeação de tutor pelo pai ou pela mãe que, ao tempo de sua morte, não tinha o poder familiar.).

Obs. Nos casos em que o patrimônio da criança ou do adolescente é elevado, é possível que o juiz fixe uma caução
pelo tutor.

▪ Cessação da tutela:
CC, Art. 1.763. Cessa a condição de tutelado:
I - com a maioridade ou a emancipação do menor;
II - ao cair o menor sob o poder familiar, no caso de reconhecimento ou adoção.

CC, Art. 1.764. Cessam as funções do tutor:


I - ao expirar o termo, em que era obrigado a servir;
II - ao sobrevir escusa legítima;
III - ao ser removido.

Obs. Aplica-se à destituição da tutela as hipóteses de perda e suspensão do poder familiar.

ADOÇÃO
▪ Definição: “modalidade de colocação em família substituta que estabelece parentesco civil entre
adotantes e adotados.”

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▪ Base normativa: arts. 39 a 52-D, do ECA; arts. 1618 e 1619, do CC; Lei 12010/2009 (Lei da Adoção); e a Lei
13.509/2017 (Minirreforma da convivência familiar).

▪ CARACTERÍSTICAS

a) Personalíssima - É necessária a presença do adotante.


Art. 39, § 2 o É vedada a adoção por procuração.

b) Excepcional e irrevogável
Art. 39, § 1º. A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas quando esgotados os
recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural ou extensa, na forma do parágrafo único do
art. 25 desta Lei.

❖ Atenção - para o STJ, a irrevogabilidade é uma regra protetiva, não absoluta, que pode pode ser
flexibilizada em atenção aos superiores interesses do adotando (REsp 1892782/PR, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 06.04.2021).

❖ Ex. “Revogabilidade da adoção unilateral – caso de adoção unilateral por padrasto, que perdeu o
vínculo com o filho adotivo” (REsp 1.545.959/SC).

c) Incaducável
Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o poder familiar dos pais naturais.

d) Plena - A adoção rompe com todos os vínculos familiares anteriores, salvo os impedimentos matrimoniais.

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Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios,
desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais.

e) Incompatível com o poder familiar.

f) Judicial - A adoção apenas será constituída por sentença judicial.


Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no registro civil mediante
mandado do qual não se fornecerá certidão.

Obs. Aspecto relevante na sentença na adoção: Art. 47, 4º Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá
constar nas certidões do registro.

▪ CLASSIFICAÇÃO:

I. Quanto ao rompimento de vínculo anterior:


a) Unilateral, singular ou semiplena (ECA, art. 41, § 1º) – rompe-se apenas um vínculo. Hipóteses:
I. Em caso de destituição de um dos pais — trata-se de uma hipótese de jurisdição contenciosa.
b) Bilateral - rompe-se os dois vínculos (pai e mãe biológicos).
c) Alateral – hipótese em que a criança/adolescente tenha apenas um vínculo registral e surja o pleito pelo
reconhecimento de novo vínculo, sem que ocorra qualquer rompimento.

Hipóteses:
I. O adotado encontra-se registrado somente em nome de um dos pais (família monoparental). Não
há necessidade de prévia destituição do poder familiar — jurisdição voluntária.
II. Quando um dos pais vier a falecer (família monoparental). Não há necessidade de prévia
destituição do poder familiar — jurisdição voluntária.

▪ CLASSIFICAÇÃO:

✓ Na hipótese de adoção unilateral em virtude de genitor falecido, há necessidade de inclusão de parentes


no polo passivo?
1) Não – inexiste interesse processual – Corte Especial do STJ;

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2) Sim – proteção dos avós biológicos e da memória do pai – STF, decisão monocrática do Min. Ricardo
Lewandowski (AI 840.484/RS).

✓ Atenção! Adoção multiparental, pluriparental ou aditiva: é aquela em que há adição de mais uma mãe
ou mais de um pai, sem que haja a destituição do poder familiar, o que temos é o acréscimo de mais um(a)
responsável por exercer o poder familiar sobre a criança/adolescente.

II. Quanto à formação de novo vínculo:


a) Singular: por uma única pessoa.
b) Conjunta (art. 42, § 2º): exige o casamento ou união estável.

Art. 42, § 2o Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou mantenham
união estável, comprovada a estabilidade da família.

➢ Exceção 1 - Adoção por ex-cônjuges ou ex-companheiros – requisito: quando já houver sido iniciado o
estágio de convivência e haja acordo quanto à guarda e quanto aos regimes de visitação (art. 42, § 4°).

➢ Exceção 2 - Ampliação do conceito de família – relativização da necessidade de casamento ou união


estável - Ex.: STJ admite a adoção por família anaparental, ou seja, a adoção por dois irmãos (REsp
1.217.415/RS).

III. Quanto ao vínculo entre os adotantes:


a) Heteroafetiva.
b) Homoafetiva (STJ, REsp 889.852, 2010/RS; STF RE 846/102, 2015).
c) Poliafetiva ou pluriafetiva (Ex: RS – casal homossexual + amigo; relação afetiva plural entre 3 pessoas).

IV. Quanto ao consentimento dos pais registrais ou do representante legal:


a) Não consentida.
b) Consentida - Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do
adotando.
➢ Quem é o representante legal? Tutor ou curador.

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V. Quanto ao momento:
a) Em vida;
b) Póstuma ou post mortem (Art. 42, § 6o A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca
manifestação de vontade, vier a falecer no curso do procedimento, antes de prolatada a sentença.)

– Requisitos para a adoção póstuma:


• (i) manifestação inequívoca da vontade de adotar;
• (ii) preexistência de laço de afetividade;
• (iii) óbito após o ajuizamento da ação de adoção.

✓ É possível a adoção póstuma se o adotante falecer antes da propositura da ação de adoção? Sim, desde
que tenha havido manifestação inequívoca da vontade de adotar e tratamento como se filho fosse (STJ,
REsp 166337/MG).

▪ Obs. Ação declaratória de reconhecimento de paternidade socioafetiva post mortem - o STJ a admite a
quem desejar possuir o estado de filho de pessoa falecida, com fundamento no art. 1.593, do CC (“O
parentesco é natural ou civil, conforme resulte da consanguinidade ou outra origem”). Na expressão
“outra origem”, funda-se a socioafetividade.

➢ Para o sucesso desta demanda, há a necessidade de comprovação de dois requisitos:


i) tratamento do autor como se filho fosse; e
ii) o conhecimento público dessa condição (REsp 1.663.137/MG, 3ª T, j. 22.08.2017).

▪ REQUISITOS DA ADOÇÃO

I – Subjetivos:
a) Idoneidade do adotante;
b) Motivos legítimos;
c) Reais vantagens para o adotando.

Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos
legítimos

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II – Objetivos
a) Idade;

Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, independentemente do estado civil. § 3º O adotante há
de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando.

✓ STJ: excepcionalmente, já flexibilizou tal requisito, em observância aos princípios da socioafetividade e do


melhor interesse do infante (REsp 1785754/RS, j. 11.10.2019).

b) Consentimento do adolescente com a adoção (Art. 45, § 2º);


c) Consentimento dos pais ou destituição do poder familiar;
d) Prévio cadastramento;

✓ STJ – não cabe HC para impugnar liminar de busca e apreensão de criança para o acolhimento em família
cadastrada em programa de adoção (HC 329.147 – Info 574).

e) Estágio de convivência.

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▪ EFEITOS DA ADOÇÃO

I- Efeitos pessoais:
a) Condição de filho ao adotado (art. 41);
b) Nome do adotado (art. 47);

Art. 47. (...) § 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais, bem como o nome de seus ascendentes.
§ 5o A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a
modificação do prenome.
§ 6o Caso a modificação de prenome seja requerida pelo adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado
o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.

c) Perda do poder familiar pelos pais biológicos (CC, art. 1635, IV; ECA, art. 41);
d) Manutenção dos impedimentos matrimoniais (ECA, art. 41; CC, art. 1521).

Art. 1.521. Não podem casar:


I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;

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II - os afins em linha reta;
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
VI - as pessoas casadas;
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.

II - Efeitos patrimoniais:
a) Direito a alimentos
CC, Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os
ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros.

Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios,
desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais.

✓ Em caso de ação de investigação de paternidade proposta pelo adotado, poderá o pai biológico ser
condenado a prestar alimentos? Sim - STJ , REsp 813604 – SC, 3ª Turma, Rel. Nancy Andrighi, j. 16.08.2007
(paternidade alimentar).

b) Direitos Sucessórios (ECA, art. 41, § 2º)


Art. 41, § 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus descendentes, o adotante, seus ascendentes,
descendentes e colaterais até o 4º grau, observada a ordem de vocação hereditária.

Obs. Princípio da não distinção entre filhos consanguíneos e adotivos - Art. 227, § 6º, CF: “Os filhos havidos ou
não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer
designações discriminatórias relativas à filiação”.

c) Administração dos bens do adotado


CC, art. 1689. O pai e a mãe, enquanto no exercício do poder familiar:
II - têm a administração dos bens dos filhos menores sob sua autoridade.

d) Responsabilidade civil

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Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;

Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte,
responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos (responsabilidade objetiva).

Art. 942, parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas designadas
no art. 932.

▪ DOS IMPEDIMENTOS PARA A ADOÇÃO

1) Impedimento total

Art. 42, § 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando.


➢ O STJ, excepcionalmente, já autorizou a adoção por avós:
1) REsp 1.448.969/SC, 3ª T. (2014) – de adotanda grávida.
2) REsp 1.635.649, 3ª T. (2018) – em caso de estupro da genitora, gerando rejeição da criança.
3) Resp 1.587.477, 4ª T. (2020) – de pais dependentes químicos.

✓ Fundamento: interesse superior da criança.

✓ Requisitos para a adoção por avós (STJ):


(i) a necessidade de que o pretenso adotando seja menor de idade;
(ii) os avós exerçam o papel de pais, com exclusividade, desde o nascimento da criança;
(iii) não haja conflito familiar a respeito da adoção;
(iv) parentalidade socioafetiva atestada por estudo psicossocial;
(v) apresente reais vantagens para o adotando; e
(vi) ausência de perigo de confusão mental e emocional para o adotando.

Obs. Os tios podem adotar, mesmo sem a permissão dos pais, já que têm parentesco colateral (3ª Câmara Cível
do TJ/GO — Apelação Cível 87.053-2/188 – 2005.00.57225-3).

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2) Impedimento parcial
Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o curador adotar
o pupilo ou o curatelado.

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DISCIPLINAS COMPLEMENTARES
Rafael Costa
Estatuto da Criança e do Adolescente
Aula 4

ROTEIRO DE AULA

▪ Adoção conjunta por casais separados

Art. 42, § 4o Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros podem adotar conjuntamente,


contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio de convivência tenha sido
iniciado na constância do período de convivência e que seja comprovada a existência de vínculos de afinidade e
afetividade com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade da concessão.

➢ Requisitos:
(a) existência de acordo sobre a guarda e regime de visitas;
(b) que o estágio de convivência tenha se iniciado durante a constância do casamento ou da união estável
do casal; e
(c) existência de vínculos de afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda.

Art. 42, § 5o Nos casos do § 4o deste artigo, desde que demonstrado efetivo benefício ao adotando, será
assegurada a guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584, do Código Civil.

▪ Adoção de nascituro
➢ Dois entendimentos:

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1º) possível: (i) existência de vínculos entre os adotantes e a gestante traz benefícios para a criança; (ii)
tratando-se o nascituro de sujeitos de direitos (CC, art. 2º), há possibilidade de adoção condicionada ao
nascimento com vida.

2º) impossível: (i) ausência de previsão legal; e (ii) incompatibilidade com a sistemática legal da adoção,
haja vista que o ECA exige a qualificação do adotando (art. 165, III), estágio de convivência (art. 46) e só confere
valor ao consentimento quando ofertado após o nascimento da criança (art. 166, § 6º).

▪ ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA
Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivência com a criança ou adolescente, pelo prazo máximo de
90 (noventa) dias, observadas a idade da criança ou adolescente e as peculiaridades do caso.

✓ Pode ser dispensado? Sim, nos casos de tutela ou guarda legal por tempo suficiente para aferir a
conveniência da constituição do vínculo (§ 1º).

✓ Guarda de fato autoriza a dispensa? Não (§ 2º - A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a dispensa
da realização do estágio de convivência).

➢ Prazo para o estágio de convivência:


a) Adoção nacional: máximo de 90 dias, prorrogável por até igual período (§2º-A);

b) Adoção internacional: mínimo de 30 (trinta) dias e máximo 45 (quarenta e cinco) dias, prorrogável por até
igual período, uma única vez, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária.

➢ Acompanhamento do estágio de convivência: pela equipe interprofissional a serviço da Justiça da


Infância e Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política
de garantia do direito à convivência familiar, que apresentarão relatório minucioso acerca da
conveniência do deferimento da medida (§ 4º).

➢ Local de cumprimento do estágio de convivência: § 5o O estágio de convivência será cumprido no


território nacional, preferencialmente na comarca de residência da criança ou adolescente, ou, a critério

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do juiz, em cidade limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, a competência do juízo da comarca de
residência da criança.

▪ CADASTROS DE ADOÇÃO (art. 50)

➢ Espécies de cadastro:
I. Quanto aos sujeitos:
a) crianças e adolescentes;
b) pessoas interessadas na adoção;

II. Quanto ao território:


a) Local (da Comarca ou foro regional);
b) Estadual;
c) Nacional.

III. Quanto ao tipo de adoção


a) Pessoas ou casais residentes no país (adoção nacional);
b) Pessoas ou casais residentes fora do país (adoção internacional).

Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um registro de crianças e adolescentes
em condições de serem adotados e outro de pessoas interessadas na adoção.
§ 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Ministério
Público.
§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não satisfizer os requisitos legais, ou verificada qualquer das
hipóteses previstas no art. 29.
§ 3o A inscrição de postulantes à adoção será precedida de um período de preparação psicossocial e jurídica,
orientado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos
responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar.

• A adoção produz efeitos que modificam consideravelmente a vida do casal.

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§ 4o Sempre que possível e recomendável, a preparação referida no § 3o deste artigo incluirá o contato com
crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou institucional em condições de serem adotados, a ser realizado
sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, com apoio dos
técnicos responsáveis pelo programa de acolhimento e pela execução da política municipal de garantia do direito
à convivência familiar.

§ 5º Serão criados e implementados cadastros estaduais e nacional de crianças e adolescentes em condições de


serem adotados e de pessoas ou casais habilitados à adoção.
§ 6º Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais residentes fora do País, que somente serão consultados na
inexistência de postulantes nacionais habilitados nos cadastros mencionados no § 5o deste artigo.
§ 7º As autoridades estaduais e federais em matéria de adoção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo-
lhes a troca de informações e a cooperação mútua, para melhoria do sistema.
§ 8º A autoridade judiciária providenciará, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e
adolescentes em condições de serem adotados que não tiveram colocação familiar na comarca de origem, e das
pessoas ou casais que tiveram deferida sua habilitação à adoção nos cadastros estadual e nacional referidos no §
5o deste artigo, sob pena de responsabilidade.

• A autoridade judiciária e autoridades competentes para inscrição no cadastro vão ter o prazo de 48 horas
para a inscrição desde o momento em que foi deferida essa inscrição pelo juízo.

§ 9º Compete à Autoridade Central Estadual (Secretarias) zelar pela manutenção e correta alimentação dos
cadastros, com posterior comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira (Ministério).
§ 10. Consultados os cadastros e verificada a ausência de pretendentes habilitados residentes no País com perfil
compatível e interesse manifesto pela adoção de criança ou adolescente inscrito nos cadastros existentes, será
realizado o encaminhamento da criança ou adolescente à adoção internacional (caráter subsidiário da adoção
internacional).
§ 11. Enquanto não localizada pessoa ou casal interessado em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre
que possível e recomendável, será colocado sob guarda de família cadastrada em programa de acolhimento
familiar. (Preferência pelo acolhimento familiar em detrimento do institucional)
§ 12. A alimentação do cadastro e a convocação criteriosa dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo
Ministério Público.

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§ 15. Será assegurada prioridade no cadastro a pessoas interessadas em adotar criança ou adolescente com
deficiência, com doença crônica ou com necessidades específicas de saúde, além de grupo de irmãos.

▪ HIPÓTESES DE ADOÇÃO FORA DO CADASTRO (art. 50, § 13)

1) adoção unilateral;
2) adoção pela família extensa ou ampliada – pelos tios – (vínculos de afinidade e afetividade);
3) adoção por quem já possui a guarda ou tutela da criança maior de 3 anos ou adolescente, desde que o lapso de
tempo de convivência comprove a fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a ocorrência
de má-fé ou qualquer das situações previstas nos arts. 237 ou 238 do ECA.

– Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de
lei ou ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto: Pena - reclusão de dois a seis
anos, e multa.

– Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga ou
recompensa: Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.

▪ ADOÇÃO PERSONALÍSSIMA, INTUITU PERSONAE OU DIRIGIDA


➢ Os pais escolhem uma pessoa ou casal e entregam seu filho para adoção.

✓ Autoriza-se a relativização da obrigatoriedade do prévio cadastramento dos pretendentes?

– Em regra, não. Excepcionalmente, contudo, desde que com base no superior interesse da criança
-Precedentes do STJ: REsp 1.172.067/MG (Info 508); REsp 1.911.099-SP - Diante da regra contida
no art. 50, § 13, II, do ECA, que permite a adoção por parentes (consanguíneos, colaterais ou por
afinidade) que possuem afinidade/afetividade para com a criança, é possível relativizar a ordem
cronológica de preferência das pessoas previamente cadastradas para adoção, em atenção ao
princípio do melhor interesse da criança e do adolescente.

❖ Atenção – para o STJ não se admitirá a adoção:


a) Se houver indícios de fraude ou suspeita de tráfico de criança; ou

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b) Se a criança foi recém-entregue pela genitora em favor de terceiros sem vínculo de parentesco.

❖ Adoção personalíssima e direito ao conhecimento da origem biológica - Art. 48. O adotado tem
direito de conhecer sua origem biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no
qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos.
Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá ser também deferido ao adotado menor
de 18 (dezoito) anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica.

❖ A adoção “à brasileira” impede a propositura de ação de investigação de origem genética?

❖ Não, sendo possível inclusive o reconhecimento da paternidade biológica e a


anulação do registro de nascimento (STJ, REsp 833.712/RS), sempre que o filho
manifestar o seu desejo de desfazer o liame jurídico advindo do registro ilegal.

▪ Prazo máximo para conclusão da ação de adoção: 120 dias, prorrogável uma única vez por igual período
(ECA, art. 47, §10) – se trata de prazo impróprio.

▪ Sentença
➢ Natureza jurídica: constitutiva.
➢ Efeitos:
➢ Regra: “ex nunc” – a partir do trânsito em julgado (art. 47, § 7º);
➢ Exceção: adoção póstuma – retroage à data do óbito (art. 47, § 7º, c.c. o art. 4, § 6º).

ADOÇÃO INTERNACIONAL

▪ Conceito - Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na qual o pretendente possui residência
habitual em país-parte da Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à Proteção das Crianças e
à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21 junho de
1999, e deseja adotar criança em outro país-parte da Convenção.

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▪ Critério territorial: o pedido é feito por postulante que possui residência habitual em um país e deseja
adotar criança em outro país, independentemente da sua nacionalidade. O que interessa é o local de
residência do postulante à adoção, não interessando a nacionalidade.

✓ Brasileiro residente no exterior? Adoção internacional.


✓ Estrangeiro residente no Brasil? Adoção nacional.

▪ Preferência para os brasileiros dentre os postulantes - Art. 51, § 2o Os brasileiros residentes no exterior
terão preferência aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional de criança ou adolescente
brasileiro.

▪ Caráter subsidiário ou residual (art. 51, § 1º, II) – só deve ser aplicada caso não se logre êxito nas demais
modalidades de colocação em família substituta. Sendo possível, iremos colocar a criança/adolescente
em guarda e, não sendo possível, iremos submetê-la à tutela. Apenas em não sendo possível a colocação
em guarda ou tutela, iremos estar diante de uma situação de adoção da criança/adolescente.

▪ Intervenção das autoridades centrais estaduais e federal - Art. 51, § 3o A adoção internacional pressupõe
a intervenção das Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria de adoção internacional.

▪ Requisitos da adoção internacional (art. 51, § 1º):

I - que a colocação em família substituta seja a solução adequada ao caso concreto;


II - que tenham sido esgotadas todas as possibilidades de colocação da criança ou adolescente em família adotiva
brasileira, com a comprovação, certificada nos autos, da inexistência de adotantes habilitados residentes no Brasil
com perfil compatível com a criança ou adolescente, após consulta aos cadastros;
III - que, em se tratando de adoção de adolescente, este foi consultado, por meios adequados ao seu estágio de
desenvolvimento, e que se encontra preparado para a medida, mediante parecer elaborado por equipe
interprofissional, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.

▪ Procedimento (art. 52) – Brasil como país de origem, deferida a estrangeiros

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1) Habilitação no país de acolhida - a pessoa ou casal estrangeiro interessado em adotar criança ou adolescente
brasileiro deverá formular pedido de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em matéria de adoção
internacional no país de acolhida, assim entendido onde está situada sua residência habitual (inciso I).

2) Relatório pela autoridade competente - caso a Autoridade Central do país de acolhida considerar que a
pessoa ou casal está habilitado e apto para adotar, emitirá um relatório que contenha informações sobre a
identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitantes para adoção, sua situação pessoal, familiar e
médica, seu meio social, os motivos que os animam e sua aptidão para assumir uma adoção internacional (incisos
II e III).

3) Avaliações das normas dos países envolvidos e emissão de laudo - a Autoridade Central no Brasil poderá fazer
exigências e solicitar complementação sobre o estudo psicossocial do postulante estrangeiro à adoção, já
realizado no país de acolhida (inciso VI). Verificada a compatibilidade da legislação estrangeira com a nacional,
além do preenchimento por parte dos postulantes dos requisitos objetivos e subjetivos necessários ao seu
deferimento, tanto à luz do que dispõe o ECA como da legislação do país de acolhida, será expedido laudo de
habilitação à adoção internacional, que terá validade por, no máximo, 1 (um) ano, podendo ser renovada (inciso
VIII e § 13).

Obs. A decisão da Autoridade Central é de natureza administrativa.

Obs. 2. Embora o art. 52 seja omisso, no procedimento de habilitação há necessidade de participação do


Ministério Público.

4) De posse do laudo de habilitação, o interessado será autorizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo
da Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança ou adolescente (inciso VIII).

5) Estágio de convivência: deverá ser observado o estágio de convivência, no prazo mínimo de 30 dias e máximo
de 45 dias, prorrogável por igual período, uma única vez, a ser cumprido no território nacional (art. 46, §§ 3º e
5º).

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6) Sentença de adoção: enquanto a sentença que concedeu a adoção internacional não transitar em julgado, não
será permitida a saída do adotando do território nacional (art. 52, § 8º) e eventual recurso de apelação será
recebido no duplo efeito (art. 199-A).

7) Saída para o país de acolhida: transitada em julgado a decisão, a autoridade judiciária determinará a expedição
de alvará com autorização de viagem, e para obtenção de passaporte (art. 52, § 9º).

➢ Linha de excepcionalidade da colocação em família substituta:

➢ 1) Em regra, crianças e adolescentes devem permanecer junto à família natural;


➢ 2) Em não sendo possível, junto à família extensa.
➢ 3) Na impossibilidade, serão encaminhados à família substituta.

➢ 3.1) Preferencialmente, junto a um parente (guarda/tutela).


➢ 3.2) Não sendo possível, junto a pessoas estranhas (guarda/tutela).
➢ 3.3) Não sendo possível, será deferida a adoção.

➢ 3.3.1) Preferencialmente, teremos a adoção nacional.


➢ 3.3.2) Não sendo possível, será realizada a adoção internacional.

➢ 3.3.2.1) A adoção internacional deverá ser preferencialmente realizada


por brasileiros.
➢ 3.3.2.2) Em não sendo possível, teremos a adoção por estrangeiros.

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▪ PROCEDIMENTO DE COLOCAÇÃO DE FAMÍLIA SUBSTITUTA - Pode ser por jurisdição voluntária ou
contenciosa:

A) Jurisdição Voluntária (art. 166, ECA) – Ocorrerá quando os pais forem falecidos, ou destituídos do
poder familiar ou se os pais CONCORDAM com a colocação na família substituta. O requerimento será formulado
diretamente no cartório, sem a necessidade de advogado. - Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido
destituídos ou suspensos do poder familiar, ou houverem aderido expressamente ao pedido de colocação em
família substituta, este poderá ser formulado diretamente em cartório, em petição assinada pelos próprios
requerentes, dispensada a assistência de advogado.

A.1) O consentimento dos pais deve ser dado perante a autoridade judicial, porém antes desta ratificação,
estes pais devem ser devidamente orientados pela equipe técnica. – art. 166, § 2º O consentimento dos titulares
do poder familiar será precedido de orientações e esclarecimentos prestados pela equipe interprofissional da
Justiça da Infância e da Juventude, em especial, no caso de adoção, sobre a irrevogabilidade da medida.

Obs. 1 - O consentimento só pode ser prestado após o nascimento da criança (nunca durante a gravidez). – art.
166, § 6º O consentimento somente terá valor se for dado após o nascimento da criança. Não se esqueça da

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discussão que vimos anteriormente acerca da possibilidade de adoção de nascituro. Esse dispositivo vem no
sentido contrário da possibilidade de adoção de nascituro.

Obs. 2 - O consentimento é retratável até a data da realização da audiência judicial. Direito de arrependimento
dos pais ou responsáveis.

Obs. 3 - Os pais podem exercer o arrependimento no prazo de 10 dias, contado da data de prolação da sentença
de extinção do poder familiar. Trata-se de medida inovadora (2017), atentando para as peculiaridades desses
tipos de procedimento. – art. 166, § 5º O consentimento é retratável até a data da realização da audiência
especificada no § 1º deste artigo, e os pais podem exercer o arrependimento no prazo de 10 (dez) dias, contado
da data de prolação da sentença de extinção do poder familiar.

✓ Se houver o trânsito em julgado, vai ser possível exercer esse direito de arrependimento? Temos várias
correntes na doutrina, mas prevalece que o direito de arrependimento poderá ser exercido mesmo que
ocorra o trânsito em julgado, desde que no prazo de 10 dias da prolação da sentença, conforme o disposto
no art. 166, §5º do ECA.

B) Jurisdição Contenciosa - Ocorre quando NÃO HÁ CONSENTIMENTO dos pais. Exige-se aqui o
procedimento de suspensão/perda do poder familiar em cumulação própria sucessiva com a colocação em família
substituta - Art. 169 ECA. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, a perda ou a suspensão do pátrio poder
constituir pressuposto lógico da medida principal de colocação em família substituta, será observado o
procedimento contraditório previsto nas Seções II e III deste Capítulo.

DA PREVENÇÃO

▪ PREVENÇÃO GERAL: arts. 70 a 73


Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente.

Art. 73. A inobservância das normas de prevenção importará em responsabilidade da pessoa física ou jurídica, nos
termos desta Lei.

✓ A responsabilidade poderá ser:

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a) criminal (arts. 228 a 244-B); e
b) administrativa (arts. 245 a 258-C).

Atenção! Responsabilidade solidária da pessoa jurídica e do responsável pelo estabelecimento (STJ) - Art. 258.
Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre o acesso de
criança ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre sua participação no espetáculo: Pena - multa de três a
vinte salários de referência; em caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o fechamento do
estabelecimento por até quinze dias.

▪ PREVENÇÃO ESPECIAL: arts. 74 a 85

▪ Conteúdo:
a) Regulação de diversões e espetáculos públicos (“classificação indicativa”);
b) Proibição de adquirir determinados produtos e serviços;
c) Autorização para viajar.

a) Acesso a diversões e espetáculos públicos

Art. 74. O poder público, através do órgão competente, regulará as diversões e espetáculos públicos, informando
sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se
mostre inadequada.
Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e espetáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e de fácil
acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada sobre a natureza do espetáculo e a faixa etária
especificada no certificado de classificação.

✓ Classificação meramente indicativa - estabelecida pelo Ministério da Justiça.

✓ A violação à classificação indicativa caracteriza a infração administrativa prevista no art. 254, do ECA
(Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diverso do autorizado ou sem
aviso de sua classificação: Pena - multa de vinte a cem salários de referência; duplicada em caso de
reincidência a autoridade judiciária poderá determinar a suspensão da programação da emissora por até
dois dias.).

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✓ A expressão em “em horário diverso do autorizado” é constitucional? Não, pois o Estado não pode
impor que determinados programas só sejam exibidos em determinados horários (isso
caracterizaria censura), mas apenas recomendar os horários adequados (STF, ADI 2404).

Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às diversões e espetáculos públicos classificados como
adequados à sua faixa etária.
Parágrafo único. As crianças menores de dez anos somente poderão ingressar e permanecer nos locais de
apresentação ou exibição quando acompanhadas dos pais ou responsável.

▪ DOS PRODUTOS

Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de:


I - armas, munições e explosivos; (descumprimento: crime do art. 16, parágrafo único, V, da Lei 10.826/2003 –
revogação parcial do artigo 242, do ECA, que incide apenas para armas brancas)
II - bebidas alcoólicas (descumprimento: infração administrativa do art. 258-C e crime do art. 243);
III - produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica ainda que por utilização
indevida; (descumprimento: crime do art. 243)
IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que pelo seu reduzido potencial sejam incapazes de
provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida; (descumprimento: crime do art. 244, sendo que
as crianças comumente se utilizam do “estalinho”, o que não entra nesta vedação)
V - revistas e publicações contendo material impróprio e inadequado (ex. pornografia - descumprimento:
infração do art. 257).

✓ De quem é o dever de zelar pela correta comercialização de revistas pornográficas através de embalagens
opacas, lacradas e com advertência de conteúdo? De todos os integrantes da cadeia de consumo, inclusive
aos transportadores e distribuidores, não se limitando, portanto, aos editores e comerciantes (STJ. 1ª
Turma. REsp 1.584.134-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/02/2020 - Info 666).

VI - bilhetes lotéricos e equivalentes.

▪ Dos serviços

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Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou adolescente em hotel, motel, pensão ou estabelecimento
congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos pais ou responsável.

➢ Todo estabelecimento que realiza hospedagem deve manter ficha nacional de registro de hóspede (art.
26 do Decreto Federal n. 7.381/2011 e Portaria n. 177/2011 do Ministério do Turismo).

➢ Descumprimento: infração administrativa (art. 250, ECA).

▪ AUTORIZAÇÃO JUDICIAL PARA VIAJAR – tema muito cobrado em concursos

I. VIAGEM NACIONAL (ECA, art. 83)


a) Adolescente com 16 anos completos: mesmo que desacompanhado dos pais ou responsável, não precisa
de autorização judicial.

b) Criança e adolescente com 16 anos incompletos: se desacompanhada dos pais ou responsável, precisa
de autorização judicial. A autorização não será exigida quando:
1. tratar-se de comarca contígua à da residência da criança, se na mesma unidade da
Federação, ou incluída na mesma região metropolitana;
2. a criança estiver acompanhada: (i) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau,
comprovado documentalmente o parentesco; (ii) de pessoa maior, expressamente
autorizada pelo pai, mãe ou responsável.
✓ Obs. Primo – parentesco em quarto grau. Logo, é necessária autorização
judicial.

Resolução 295/2019 – CNJ sobre Viagem nacional de crianças e adolescentes

▪ Acrescenta mais duas situações que independem de autorização judicial:

1. a criança ou o adolescente menor de dezesseis anos viajar desacompanhado expressamente


autorizado por qualquer de seus genitores ou responsável legal, por meio de escritura pública ou de documento
particular com firma reconhecida por semelhança ou autenticidade (art. 2º, inciso III): segue-se o tratamento
dispensado à viagem ao exterior;

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2. a criança ou o adolescente menor de dezesseis anos apresentar passaporte válido e que conste
expressa autorização para que viajem desacompanhados ao exterior (art. 2º, inciso IV):

❑ Obs. o art. 3º da Resolução n. 295/2019 do CNJ prevê que a autorização concedida pelos genitores ou
responsáveis nas situações anteriores deverá fazer constar o prazo de validade, compreendendo-se, em
caso de omissão, que será válida por dois anos.

II. VIAGEM INTERNACIONAL (ECA, arts. 84 e 85)

Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a autorização é dispensável, se a criança ou adolescente:
I - estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável;
II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente pelo outro através de documento com firma
reconhecida.

Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, nenhuma criança ou adolescente nascido em território
nacional poderá sair do País em companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no exterior.

Resolução 131/2011, CNJ

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POLÍTICA DE ATENDIMENTO

▪ O ECA contempla uma séria de normas voltadas à disciplina dos programas de atendimentos às crianças
e adolescentes.

Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:


I - municipalização do atendimento (descentralização político-administrativa- CF, art. 204, I).
IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da
criança e do adolescente: FIA – Resolução 137/2010 Conanda.
II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e do adolescente, órgãos
deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, assegurada a participação popular paritária por meio
de organizações representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais (participação popular – CF, art. 204,
II).

▪ Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCAs)

✓ Órgãos deliberativos e controladores das ações no plano municipal.

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✓ Não possuem função de execução.
✓ Membros do Conselho exercem função não remunerada.
✓ A função de conselheiro é considerada de interesse público relevante.
✓ Seus atos possuem força normativa (REsp 493.881/SP).

✓ Atribuições principais:
✓ Organizam as eleições dos Conselhos Tutelares;
✓ Registram as inscrições dos programas de atendimento das entidades governamentais e não
governamentais.

✓ E se não existir CMDCA? Os registros e inscrições serão efetuados perante a autoridade


judiciária da comarca a que pertencer a entidade (art. 261).

▪ Normatização de destaque do CONANDA: Resolução nº 113, do CONANDA (alterada pela Resolução nº


117): trata do sistema de garantia dos direitos humanos de criança e adolescente.

✓ O que é este sistema de garantia? Propõe o fortalecimento das ações articulares para a defesa
dos direitos humanos de crianças e adolescentes, baseando-se em três eixos:

a) eixo de DEFESA dos direitos humanos: caracterizado pelo acesso à Justiça, tendo como
principais atores o Juiz da Vara de Infância e Juventude, Ministério Público, Defensoria Pública, Procuradoria e
Polícia.
b) eixo de CONTROLE dos direitos humanos: as políticas públicas são objeto de controle
pelo Conselho de Direitos.
c) eixo de PROMOÇÃO dos direitos humanos: trata da promoção de políticas públicas
voltadas aos autores de atos infracionais, que se submetem às medidas socioeducativas e medidas protetivas.

▪ ENTIDADES DE ATENDIMENTO

O que são entidades de atendimento? São entidades responsáveis pelo planejamento e execução de programas
de proteção e socioeducativos (ou seja, “executam” as medidas de proteção e socioeducativas).

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Art. 90. As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das próprias unidades, assim como pelo
planejamento e execução de programas de proteção e socioeducativos destinados a crianças e adolescentes, em
regime de:
I - orientação e apoio sociofamiliar;
II - apoio socioeducativo em meio aberto - é um regime de apoio social e educativo, não destinado aos
adolescentes que praticam ato infracional.
III - colocação familiar;
IV - acolhimento institucional;
V - prestação de serviços à comunidade;
VI - liberdade assistida;
VII - semiliberdade;
VIII - internação.

• Missão: planejamento e execução de programas de proteção e socioeducativos destinados a crianças e


adolescentes (ECA, art. 90)
• Registro (CMDCAS): obrigatório para as entidades não-governamentais, pelo prazo máximo de 4 anos.
• Inscrição (CMDCAS): obrigatório para programas de atendimento (governamentais e não
governamentais*, com reavaliação, no máximo, a cada 2 anos (art. 90, §§ 1º e 3º).

* Obs. Entidades destinadas a internação e semiliberdade: programas inscritos no Conselho Estadual ou Distrital
dos Direitos da Criança e do Adolescente (arts. 4º, II e 9º, da Lei do SINASE – Lei 12.594/2012).

▪ Fiscalização das entidades e medidas aplicáveis


Art. 95. As entidades governamentais e não-governamentais referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo Judiciário,
pelo Ministério Público e pelos Conselhos Tutelares.

➢ Descumprimento das obrigações previstas no artigo 94 (ex. observar os direitos e garantias das crianças
e adolescentes) - sanções:

1) às entidades governamentais (inciso I): advertência, afastamento provisório de seus dirigentes,


afastamento definitivo de seus dirigentes e fechamento de unidade ou interdição de programa.

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✓ O foco deve ser nas medidas que alcancem os dirigentes em detrimento da própria
entidade, sob pena de punir a população, que ficará sem a prestação do serviço.

2) às entidades não governamentais (inciso II): advertência, suspensão total ou parcial do repasse de
verbas públicas, interdição de unidades ou suspensão de programa e cassação do registro.

▪ Quem tem competência para aplicar as penalidades às entidades governamentais e não-governamentais?


Apenas o juiz da Vara de Infância e Juventude, seguindo um procedimento próprio (art. 97, §1º ECA).

ENTIDADES DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL OU FAMILIAR

▪ Princípios (art. 92, ECA)


I - preservação dos vínculos familiares e promoção da reintegração familiar;

Obs. Recebida uma criança ou adolescente e inexistindo notícia de abuso ou maus tratos, a entidade deve primar
pela reintegração na família (natural/extensa).

II - integração em família substituta, quando esgotados os recursos de manutenção na família natural ou


extensa;
III - atendimento personalizado e em pequenos grupos (Resolução Conanda/CNAS n. 01/2009 – recomenda
máximo de 20 infantes por entidade de acolhimento institucional);
IV - desenvolvimento de atividades em regime de coeducação (ou seja, ampliando a capacidade de integração);
V - não desmembramento de grupos de irmãos;
VI - evitar, sempre que possível, a transferência para outras entidades de crianças e adolescentes abrigados (busca
evitar novos traumas);
VII - participação na vida da comunidade local;
VIII - preparação gradativa para o desligamento;

Obs. Prazo máximo de permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional: 18


meses (Lei n° 13.509/17), salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente
fundamentada (art. 19, § 2º).

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IX - participação de pessoas da comunidade no processo educativo → programa de apadrinhamento.

▪ As entidades de acolhimento familiar e institucional podem receber o repasse de recursos públicos?


Art. 92, § 5o As entidades que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou institucional somente poderão
receber recursos públicos se comprovado o atendimento dos princípios, exigências e finalidades desta Lei.

▪ Guarda e dirigente de entidade


Art. 91, § 1º. O dirigente de entidade que desenvolve programa de acolhimento institucional é equiparado ao
guardião, para todos os efeitos de direito (art. 92, § 1º, ECA)

✓ Qual o prazo para envio do relatório para o juízo da infância?

1) Semestral - Art. 92, § 2o Os dirigentes de entidades que desenvolvem programas de acolhimento


familiar ou institucional remeterão à autoridade judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses, relatório
circunstanciado acerca da situação de cada criança ou adolescente acolhido e sua família, para fins da reavaliação
prevista no § 1o do art. 19 desta Lei.

2) Trimestral - Art. 19. § 1o Toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de
acolhimento familiar ou institucional terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 3 (três) meses, devendo a
autoridade judiciária competente, com base em relatório elaborado por equipe interprofissional ou
multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela possibilidade de reintegração familiar ou pela colocação em
família substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei (Redação dada pela Lei nº 13.509,
de 2017).

* Prevalece na jurisprudência que os relatórios devem ser trimestrais, em razão do critério cronológico: a redação
dada ao art. 19, § 1°, do ECA, é mais atual que a do art. 92, § 2°, do ECA.

▪ Estímulo ao contato com os pais ou parentes


Art. 92, § 4o Salvo determinação em contrário da autoridade judiciária competente, as entidades que desenvolvem
programas de acolhimento familiar ou institucional, se necessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos órgãos
de assistência social, estimularão o contato da criança ou adolescente com seus pais e parentes, em cumprimento
ao disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo.

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▪ Regra geral: deve-se estimular o contato do acolhido com os pais ou parentes.
▪ Exceção: determinação em contrário do juiz (ex. criança abusada sexualmente pelo genitor).

▪ Princípio da incompletude institucional


Art. 94, § 2º No cumprimento das obrigações a que alude este artigo as entidades utilizarão preferencialmente os
recursos da comunidade.

➢ As entidades que desenvolvem programas de internação, acolhimento institucional ou familiar devem


explorar da melhor maneira possível os serviços fornecidos pelo mundo exterior (rede municipal - saúde,
educação, lazer, etc.), de maneira a possibilitar a plena integração dos infantes.

➢ Ex. a criança frequenta a escola municipal e, no contraturno, participa de um projeto de música e de


futebol.

MEDIDAS DE PROTEÇÃO

▪ Fundamento das medidas de proteção: afastar uma lesão ou ameaça de lesão a direito de criança ou
adolescente (ex. ausência de vaga em creche).

Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos
nesta Lei forem ameaçados ou violados:
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado (ex. tortura em instituição de acolhimento);
II - por falta, omissão (ex. desnutrição) ou abuso dos pais ou responsável;
III - em razão de sua conduta (ex. envolvimento com drogas).

▪ ART. 98 – CONTEMPLA A IDEIA DE “SITUAÇÃO DE RISCO”:


a) Definição: toda situação de ofensa ou ameaça de ofensa a direitos da criança ou do adolescente.

b) Agentes:
▪ Sociedade;
▪ Estado;
▪ Pais ou responsável;

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▪ Criança ou adolescente.

c) Importância:
i. Autoriza a aplicação de medida específica de proteção;
ii. É critério de fixação de competência (art. 148, parágrafo único) – embora determinadas demandas não
sejam de competência da Justiça da Infância e Juventude, a existência de situação de risco poderá atribuir
o feito à Vara especializada.

✓ Ex: ação de guarda e tutela; ação de alimentos; pedido de retificação de registro de nascimento.

▪ MEDIDAS ESPECÍFICAS DE PROTEÇÃO


▪ Previsão legal: art. 101 – rol exemplificativo.

▪ Hipóteses autorizadoras:
a) Crianças ou adolescentes em situação de risco;
b) Prática de ato infracional por criança ou adolescente.

▪ Finalidade: atender as necessidades pedagógicas, bem como fortalecer os vínculos familiares e


comunitários (art. 100).

▪ Princípios: art. 100, par. único (já analisamos na Aula 01)

▪ Parâmetros:
1) As necessidades pedagógicas do infante;
2) Fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.

▪ Forma de aplicação:
Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como
substituídas a qualquer tempo.

▪ Pode ser aplicada de ofício? Sim (STF, AgRg no RE 410.715-SP; e STJ, RESp 1.185.474-SC - conferir
informativo n. 493 do STJ).

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▪ Natureza jurídica: medidas não punitivas – natureza administrativa.

▪ Competência para aplicação das medidas de proteção:


a) Juízo da Infância e da Juventude (todas);
b) Conselho Tutelar (art. 101, I a VI): não pode aplicar as medidas de acolhimento institucional,
acolhimento familiar e colocação em família substituta.

Obs.1: Ato infracional praticado por criança (ou seja, menor de 12 anos) - competência exclusiva do Conselho
Tutelar (art. 136, I), salvo se houver necessidade de seu afastamento do convívio familiar.

Obs.2: Em caráter excepcional e de urgência, o CT poderá realizar o acolhimento institucional sem prévia
determinação judicial (art. 93) – O tema será abordado mais à frente.

▪ Competência para execução (art. 90) das medidas de proteção:


a) Entidades governamentais;

b) Entidades não governamentais.

✓ O Ministério Público detém competência para aplicar medida específica de proteção? Dois entendimentos:

1) Sim. Fundamento: art. 201, incisos VIII (zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais
assegurados às crianças e adolescentes, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis); e XII
(requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços médicos, hospitalares, educacionais e de
assistência social, públicos ou privados, para o desempenho de suas atribuições). Corrente a ser adotada
pelos alunos que irão prestar para o MP.

2) Não. Ausência de previsão legal. Poderá provocar o Conselho Tutelar; em caso de omissão deste órgão,
ou havendo necessidade de afastamento do convívio familiar, poderá o MP solicitar ao Juízo da Infância
e Juventude.

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✓ O Conselho Tutelar detém competência para executar medida de proteção? Art. 22 da Res. CONANDA n.
174/2014: “ É vedado ao Conselho Tutelar executar serviços e programas de atendimento, os quais devem
ser requisitados aos órgãos encarregados da execução de políticas públicas”.

▪ Medidas proteção em espécie (art. 101):


I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental*;

* A obrigatoriedade da matrícula se inicia aos 4 anos, na pré-escola (art. 208, I, CF - EC 59/2009 e art. 6º da LDB).

✓ Poderia haver encaminhamento para matrícula e frequência obrigatória em creche? Sim, visto que o rol
do art. 101 é exemplificativo e a matrícula em pré-escola é obrigatória.

IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente;


V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
VII - acolhimento institucional;
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar;
IX - colocação em família substituta.

Obs. As três últimas são de competência exclusiva do Juiz da Infância e Juventude, porque importam em
afastamento do convívio familiar.

▪ ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL OU FAMILIAR

Definições:
a) Acolhimento institucional “abrigos”: é a medida de proteção consistente na inserção da criança ou adolescente
em entidade de atendimento, governamental ou não. Ex. pais envolvidos com drogadição.

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b) Acolhimento familiar: consiste na medida de proteção de colocação da criança ou adolescente em família
previamente cadastrada, a qual pode receber incentivos fiscais e subsídios, e visa cuidar da criança ou
adolescente, mediante expedição de termo de guarda (art. 34).

➢ Características comuns entre o acolhimento institucional e o familiar:

i. Medidas excepcionais e provisórias;


ii. O acolhimento familiar tem preferência ao acolhimento institucional (arts. 34, § 1º e 50, § 11) ;
iii. Devem ser executadas no local mais próximo da residência do infante (art. 101, § 7º);
iv. Transição: preparam para a reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para a colocação em família
substituta (art. 101, § 1º);
v. Não implicam em privação de liberdade (art. 101, § 1º);
vi. Exigem autorização judicial; excepcionalmente, em caso de urgência, dispensa a autorização judicial (art.
93): posterior comunicação do fato, em 24h, ao juiz da Infância e Juventude.

▪ Acolhimento emergencial
▪ Em regra, o acolhimento institucional pressupõe autorização judicial.
▪ Exceção: acolhimento emergencial.

Art. 93. As entidades que mantenham programa de acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional e
de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação da autoridade competente, fazendo
comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da Infância e da Juventude, sob pena de
responsabilidade.
Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público e se necessário
com o apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas necessárias para promover a imediata reintegração
familiar da criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for isso possível ou recomendável, para seu
encaminhamento a programa de acolhimento familiar, institucional ou a família substituta [...].

▪ Acolhimento emergencial (cont ...)


Art. 101, § 2o Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de vítimas de violência ou abuso
sexual e das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da criança ou adolescente do convívio
familiar é de competência exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, a pedido do Ministério

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Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual se garanta aos pais
ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa.

❖ Redação originária do ECA – CT tinha competência para aplicar o acolhimento institucional em qualquer
hipótese. Agora, é necessário procedimento contencioso.

▪ Prazo máximo do acolhimento institucional:


Art. 19. (...) § 2o A permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional não se
prolongará por mais de 18 (dezoito meses), salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse,
devidamente fundamentada pela autoridade judiciária.

➢ Prazo:
➢ Redação originária – sem prazo.
➢ Primeira reforma – Lei 12.010/2009: prazo máximo de 2 anos.
➢ Segunda reforma – Lei 13.509/2017: 18 meses.

➢ Obs. Infante acolhido há mais de 18 meses, sem que tenha sido encontrada uma família substituta – o
prazo máximo pode ser ampliado.

▪ EXPEDIÇÃO DE GUIA DE ACOLHIMENTO

Art. 101, § 3o Crianças e adolescentes somente poderão ser encaminhados às instituições que executam
programas de acolhimento institucional*, governamentais ou não, por meio de uma Guia de Acolhimento,
expedida pela autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre outros:
I – sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou de seu responsável, se conhecidos;
II – o endereço de residência dos pais ou do responsável, com pontos de referência;
III – os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-los sob sua guarda;
IV – os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio familiar.

* Obs. A mesma lógica incide no acolhimento familiar, em que pese a omissão do legislador.

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▪ Elaboração do Plano Individual de Atendimento (PIA) - art. 101, § 4º:
❖ Responsabilidade da equipe técnica do programa de atendimento da entidade de acolhimento
institucional ou familiar;
❖ Colhe-se a opinião da criança ou adolescente;
❖ Colhe-se a oitiva dos pais ou responsáveis;

❖ Constarão do plano:
I - os resultados da avaliação interdisciplinar;
II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsável; e
III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a criança ou com o adolescente acolhido e seus
pais ou responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja esta vedada por expressa e fundamentada
determinação judicial, as providências a serem tomadas para sua colocação em família substituta, sob direta
supervisão da autoridade judiciária.

▪ Reintegração à família (art. 101, § 8º e 9º)


❖ Verificada a possibilidade de reintegração familiar, o programa de acolhimento deve comunicar o Juízo da
Infância e Juventude, que dará vista ao MP por 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo;

❖ Verificada a impossibilidade de reintegração, o programa enviará relatório ao MP, com recomendação


expressa para a destituição do poder familiar;

❖ Recebido o relatório, o Ministério Público terá o prazo de 15 (quinze) dias para o ingresso com a
ação de destituição do poder familiar, salvo se entender necessária a realização de estudos
complementares ou de outras providências indispensáveis ao ajuizamento da demanda.

▪ Regularização de registro civil (art. 102)


▪ Quando uma criança ou adolescente está em situação de risco, para além da adoção de medidas
específicas de proteção, devem os agentes do sistema protetivo, quando for o caso,
providenciarem a regularização do registro civil.

Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Capítulo serão acompanhadas da regularização do
registro civil.

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§ 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o assento de nascimento da criança ou adolescente será feito à
vista dos elementos disponíveis, mediante requisição da autoridade judiciária (“registro tardio”).
§ 2º Os registros e certidões necessários à regularização de que trata este artigo são isentos de multas, custas e
emolumentos, gozando de absoluta prioridade.

§ 3o Caso ainda não definida a paternidade, será deflagrado procedimento específico destinado à sua
averiguação, conforme previsto pela Lei no 8.560, de 29 de dezembro de 1992 (averiguação oficiosa de
paternidade).
§ 4o Nas hipóteses previstas no § 3o deste artigo, é dispensável o ajuizamento de ação de investigação de
paternidade pelo Ministério Público se, após o não comparecimento ou a recusa do suposto pai em assumir a
paternidade a ele atribuída, a criança for encaminhada para adoção.

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DISCIPLINAS COMPLEMENTARES
Rafael Costa
Estatuto da Criança e do Adolescente
Aula 5

ROTEIRO DE AULA

MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU RESPONSÁVEIS

▪ Previsão legal: art. 129, do ECA.


▪ Definição: medidas aplicáveis aos pais ou “responsáveis” que estiverem desrespeitando direitos das
crianças ou adolescentes.

▪ Medidas aplicáveis aos pais ou responsáveis (art. 129)

➢ Natureza assistencial:
I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família;
II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua frequência e aproveitamento escolar;
VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado;
Obs. Medidas “preferenciais”: incisos de I a VI do art. 129, pois tutelam a convivência familiar e comunitária.

➢ Natureza sancionadora:

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VII - advertência;
VIII - perda da guarda;
IX - destituição da tutela;
X - suspensão ou destituição do poder familiar.

➢ Competência para aplicação das medidas:


a) Autoridade judiciária: todas (art. 148, VIII).

Obs.: VIII a X – exigem ação própria.

b) Conselho Tutelar: incisos I a VII (art. 136, III).

➢ Consequência do descumprimento doloso ou culposo das medidas pelos pais ou


responsáveis: infração administrativa prevista no art. 249, do ECA.

▪ Medida cautelar de afastamento do agressor


Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a
autoridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum.

➢ Natureza jurídica: tutela de urgência acautelatória, podendo ser concedida em caráter antecedente ou
incidental (art. 294, par. único, do CPC).

➢ Objetivo: manter a vítima em seu ambiente familiar.

✓ Pode ser concedida de ofício? Dois entendimentos:


1) Sim, ante o permissivo legal.
2) Não. Exige-se provocação do MP ou de quem tenha legítimo interesse, nos termos do art. 153, do ECA, e
do art. 299, do CPC.

Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não corresponder a procedimento previsto nesta ou em outra lei, a
autoridade judiciária poderá investigar os fatos e ordenar de ofício as providências necessárias, ouvido o
Ministério Público.

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Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica para o fim de afastamento da criança ou do adolescente
de sua família de origem e em outros procedimentos necessariamente contenciosos.

▪ Fixação de alimentos na hipótese de afastamento do agressor:


Art. 130. Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ainda, a fixação provisória dos alimentos de que
necessitem a criança ou o adolescente dependentes do agressor.

PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL


▪ Definição
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal.

✓ O elemento culpabilidade integra o conceito de ato infracional?

1) Não, por se tratar de pressuposto de aplicação da pena.

2) Sim. Por se tratar de juízo de censura ou de reprovação social da conduta, sendo afastado apenas o elemento
biológico da imputabilidade penal. Assim, os demais elementos devem ser considerados (potencial consciência
da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa), de forma que, presente excludente de culpabilidade (ex. erro de
proibição, coação moral irresistível etc.), não haverá ato infracional.

✓ Tipicidade delegada: o ECA não estabelece expressamente as condutas consideradas ato infracional. Elas
estão previstas na legislação penal.

▪ Sujeito ativo:
a) criança (art. 105);
b) adolescente (art. 112).

▪ Início da maioridade penal: dia exato em que o agente completa 18 anos, independentemente do horário
de seu nascimento (STJ – REsp 133.579/SP).

✓ E se ele nasceu no dia 29 de fevereiro?

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Caso o adolescente tenha nascido no dia 29 de fevereiro, a sua maioridade penal será atingida no primeiro dia
subsequente, ou seja, na data de 1º de março, na forma do art. 3º, da Lei n. 810/1949.

▪ A criança e a prática de ato infracional


Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as medidas previstas no art. 101.

▪ Competência: as medidas específicas de proteção às crianças autoras de ato infracional podem e devem
ser aplicadas, preferencialmente, pelo Conselho Tutelar (art. 136, I), em consonância com o princípio da
intervenção mínima.

➢ Exceções:
1) Inexistência de Conselho Tutelar (art. 262);
2) Necessidade de afastamento do convívio familiar (art. 101, VIII, IX e X).

*Atenção: enquanto as medidas socioeducativas devem ser aplicadas, necessariamente, pelo juiz da infância e
juventude, as medidas específicas de proteção às crianças autoras de ato infracional podem e devem ser aplicadas,
preferencialmente, pelo Conselho Tutelar.

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*Atenção 2: é aconselhável que o CT lavre Boletim de Ocorrência mesmo quando uma criança pratica ato
infracional.

▪ Tempo do ato infracional: teoria da atividade.


Art. 104, Parágrafo único. “Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do adolescente à data do fato.”

Caso 1: Ação aos 17 anos e consumação aos 18 anos (ex. disparo aos 17 anos e óbito da vítima aos 18 anos) –
incide o regime do ECA;

Caso 2: ação iniciada aos 17 anos e que permanece mesmo após os 18 anos (crime permanente – ex. ocultação
de cadáver) – incide o regime do Código Penal.

▪ Ato infracional cometido no exterior:


➢ Caso prático: adolescente alemão de 17 anos pratica ato infracional análogo aos crimes de roubo e
extorsão, em país cuja maioridade penal começa aos 16 anos. Muda para o Brasil e tem o pedido de
extradição feito pela Alemanha, onde foi processado criminalmente. Cabe extradição?

✓ STF: não cabe a extradição, pois falta um dos requisitos, a saber, a dupla tipicidade (art. 82, II, da Lei
13.445/2017 - RE 1.135, Pleno).

➢ Artigo 10 do Acordo de extradição entre os Estados-partes do Mercosul: não se concederá a


extradição for fato cometido quando a pessoa era menor de 18 anos. Admite-se apenas a
aplicação de medidas corretivas que, de acordo com cada ordenamento jurídico, seriam aplicáveis
a menores inimputáveis.

✓ Aplica-se o princípio da insignificância aos atos infracionais?

STF: Sim. Ausente a tipicidade material, o fato é atípico. Se a conduta não pode ser considerada criminosa,
tampouco poderá ser considerada ato infracional. Requisitos:
(a) mínima ofensividade da conduta do adolescente;
(b) nenhuma periculosidade social da ação;
(c) reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento; e

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(d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada.

✓ A reiteração de atos infracionais afasta a incidência do princípio da insignificância?

1) STF: decisões divergentes;


2) STJ: pacífico no sentido de que a reiteração de atos infracionais impede o reconhecimento do princípio da
insignificância.

✓ As escusas absolutórias (CP, art. 181) se estendem aos adolescentes?


1) Sim. Por se aplicar aos imputáveis, também se estendem aos adolescentes, sob pena de dar a estes um
tratamento mais severo em relação àqueles. Este é o posicionamento do STJ, majoritário.

2) Não. A aplicação das medidas socioeducativas escapa do conceito restrito de crime, tendo em vista a natureza
eclética das medidas.

▪ Prática de atos infracionais e consequências na maioridade penal:

(i) Não importa em maus antecedentes (STJ, RHC 76.721, 5ª T.);


(ii) Pode justificar a decretação da prisão preventiva para a garantia da ordem pública (STJ, RHC 63.855/MG, 3a
Seção, j. 11/05/2016);
(iii) Afasta a possibilidade de reconhecimento do princípio da insignificância (HC 381.316/PR, 5ª T.).

DIREITOS INDIVIDUAIS DO ADOLESCENTE INFRATOR

1) Liberdade
Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem
escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.

➢ Hipóteses de privação da liberdade:

a) Flagrante de ato infracional (art. 302 do CPP);

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b) Ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária:
(a) internação provisória;
b) internação por prazo indeterminado;
c) internação-sanção;
d) busca e apreensão por não ter sido localizado para audiência de apresentação ou para justificar
descumprimento de medida socioeducativa.

2) Identificação dos responsáveis pela apreensão


Art. 106, parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua apreensão,
devendo ser informado acerca de seus direitos.

3) Comunicação à família e à autoridade judiciária:


Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local onde se encontra recolhido serão incontinenti
comunicados à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada.
Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de responsabilidade, a possibilidade de liberação
imediata.

➢ ATENÇÃO: A comunicação deve ocorrer em até 24h, sob pena do crime do art. 231, do ECA.

4) Não ser submetido a identificação compulsória


Art. 109. O adolescente civilmente identificado não será submetido a identificação compulsória pelos órgãos
policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação, havendo dúvida fundada.

➢ Dúvida fundada? Aplicação da Lei 12.037/09, por analogia. Ex: documento apresentar rasura ou indício
de falsificação (art. 3º, I).

5) Não ser conduzido em compartimento fechado de veículo policial (art. 178);

6) Não ser internado em estabelecimento prisional (art. 185).

▪ Garantias processuais do adolescente infrator


Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido processo legal.

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➢ Súmula 342 do STJ: “No procedimento para aplicação de medida sócio-educativa, é nula a desistência de
outras provas em face da confissão do adolescente”.

➢ Súmula 265 do STJ: “É necessária a oitiva do menor infrator antes de decretar-se a regressão de medida
socioeducativa.”

➢ Ex. adolescente que descumpre medida socioeducativa e o juiz aplica internação-sanção –


necessária prévia oitiva. Mesmo que o adolescente confesse, é nula a desistência de outras provas
por parte da defesa.

▪ Rol exemplificativo de GARANTIAS PROCESSUAIS:

Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as seguintes garantias:


I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou meio equivalente;
II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas
necessárias à sua defesa;
III - defesa técnica por advogado;
IV - assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da lei;
V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente;
VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do procedimento.

▪ Defesa técnica por advogado – aspectos relevantes:


✓ Na hipótese de remissão concedida pelo MP, antes do processo, faz-se necessária a presença de
advogado, quando aplicada medida socioeducativa (STJ, HC 67826/SP);

✓ Obs. Na hipótese de remissão sem medida socioeducativa (“pura e simples”), não é necessária a
presença de advogado.

✓ Advogado não pode concordar com a medida de internação, sob pena de nulidade (STF, RE 285.571,
2001).

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▪ Uso de algemas em adolescentes

✓ Em relação ao uso de algemas, tem prevalecido a posição que admite a sua utilização em adolescentes
nas hipóteses previstas na Súmula Vinculante nº 11, do STF (resistência, risco de fuga ou perigo à
integridade física própria ou alheia).

INTERNAÇÃO PROVISÓRIA (similar à prisão preventiva)

Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.
Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e basear-se em indícios suficientes de autoria e
materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida.

▪ Requisitos:
a. Indícios suficientes de autoria e materialidade (fumus boni iuris);
b. Necessidade imperiosa da medida (periculum in mora).

A internação provisória exige a presença de um dos incisos do artigo 122, do ECA (Art. 122. A medida de internação
só poderá ser aplicada quando: I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a
pessoa; II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves)? Dois entendimentos:

1) Sim. Seria ilógico aplicar-se a medida provisória se, ao final, não fosse cabível aplicar a medida de
internação por prazo indeterminado (jurisprudência majoritária do STJ – HC 369.894/SE);

2) Não. Basta demonstrar a necessidade imperiosa da medida (garantia da ordem pública ou risco à
normalidade da instrução). Necessidade de conjugação do artigo 108 com o artigo 174. – Exemplo:
adolescente que praticou furto e está ameaçando testemunhas e ocultando provas: pode ter sua
internação provisória decretada.

▪ Prazo máximo da internação provisória: 45 dias.


➢ O prazo de internação provisória é computado para o cálculo dos 3 anos máximos de internação;

➢ Trata-se de prazo improrrogável: no STJ, HC 192.563/ES, j. 07.04.2011; no STF, HC 93784/PI, j. 16.12.2008;

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➢ Esse prazo não se suspende em feriado, final de semana e recesso, sendo iniciada a contagem do dia da
apreensão (art. 16, § 2º, da Res. CNJ 165/2012);

➢ Se, antes do prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, o adolescente for liberado e, dentro do mesmo processo,
surgir a necessidade de nova decretação de internação provisória, ele apenas poderá permanecer
internado até completar o prazo faltante da primeira internação (art. 16, § 3º, da citada Resolução).

➢ A inobservância do prazo máximo de 45 dias, injustificadamente, pode caracterizar o crime do art. 235,
do ECA (Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta Lei em benefício de adolescente
privado de liberdade: Pena - detenção de seis meses a dois anos.)

✓ Há necessidade de prévia apresentação da representação para a decretação de internação provisória?


Dois entendimentos:

1) Sim. A internação provisória não pode ser decretada sem o oferecimento de representação, uma vez que
os requisitos (indícios de autoria e prova da materialidade) são idênticos para ambas.

2) Não. O artigo 184, do ECA, deixa clara a possibilidade de decretação da internação provisória antes do
oferecimento da representação. Nesse sentido: STJ, HC 193.614/RJ.

Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judiciária designará audiência de apresentação do adolescente,
decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção da internação, observado o disposto no art. 108 e
parágrafo.

▪ Cumprimento de internação provisória em entidade de atendimento

Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele
destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da
infração.
Parágrafo único. Durante o período de internação, inclusive provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas.

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O acolhimento institucional e a internação provisória se dão em entidades distintas.

Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela autoridade judiciária, não poderá ser cumprida em
estabelecimento prisional.
§ 1º Inexistindo na comarca entidade com as características definidas no art. 123, o adolescente deverá ser
imediatamente transferido para a localidade mais próxima.
§ 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adolescente aguardará sua remoção em repartição policial, desde
que em seção isolada dos adultos e com instalações apropriadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de
cinco dias, sob pena de responsabilidade.

MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

▪ Definição: medidas jurídicas que podem ser aplicadas pelo Estado em resposta ao ato infracional
praticado por adolescente.

▪ Natureza jurídica: impositiva*, pedagógica (ressocializadora) e sancionatória**.

* Salvo na hipótese de remissão imprópria, hipótese em que a medida é acordada.


** Efeito secundário da medida (STJ).

▪ Objetivos (Lei 12.594/2012 - SINASE, art. 1º, § 2º):


a) Responsabilização do adolescente quanto às consequências lesivas do ato infracional, sempre que
possível incentivando sua reparação;
b) Integração social e garantia de seus direitos individuais e sociais, por meio do cumprimento de seu plano
individual de atendimento;
c) Desaprovação da conduta infracional.

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as
seguintes medidas:

▪ Competência para aplicação: exclusiva da autoridade judicial, o MP não pode aplicar medidas
socioeducativas, senão vejamos:

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✓ Pode o Ministério Público aplicar medida socioeducativa? Não. Súmula 108 - STJ: “A aplicação de medidas
socioeducativas ao adolescente, pela prática de ato infracional, é de competência exclusiva do juiz”.

▪ Critérios para a aplicação das medidas (arts. 112, § 1º):


1. Capacidade de cumprimento (avaliada em estudo psicossocial);
2. Circunstâncias da infração;
3. Gravidade da infração.

▪ Vedação de trabalhos forçados:


Art. 112, § 2º. Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho forçado.

▪ Aplicação isolada ou cumulativa das medidas


Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como
substituídas a qualquer tempo.

✓ Possibilidade de cumulação: desde que haja compatibilidade - Ex: advertência + PSC.


✓ Possibilidade de substituição: “progressão” ou “regressão”, segundo as necessidades do caso concreto.

▪ Princípios: os mesmos previstos no art. 100, parágrafo único, do ECA (Art. 113. Aplica-se a este Capítulo
o disposto nos arts. 99 e 100.).

▪ É possível a execução provisória da medida socioeducativa (ou seja, antes do trânsito em julgado)? Sim.
Baseado no princípio da intervenção precoce e ainda que o adolescente interponha recurso de apelação,
desde que demonstrada a necessidade da segregação do adolescente infrator (art. 100, parágrafo único,
inciso VI).

▪ Para o STJ, a exigência do trânsito em julgado é óbice ao escopo ressocializador da medida e


permite que o infante permaneça em situação de risco.

▪ REQUISITOS

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Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos II a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas
suficientes da autoria e da materialidade da infração, ressalvada a hipótese de remissão, nos termos do art. 127.
Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada sempre que houver prova da materialidade e indícios
suficientes da autoria.

➢ Regra: exige-se prova suficiente de autoria e materialidade.

➢ Exceções:
a) Advertência: bastam indícios suficientes da autoria e prova da materialidade (art. 114, par. único).
b) Remissão e/ou aplicação de medidas específicas de proteção: bastam indícios suficientes de autoria e de
materialidade (art. 114, caput).

• Substituição por outra medida:


Art. 116, parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser substituída por outra
adequada.

▪ Adolescente com distúrbio mental:


Art. 112, § 3º. Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e
especializado, em local adequado às suas condições.

✓ Não há previsão de aplicação de medida de segurança para adolescente deficiente mental.

✓ Não cabe internação de adolescente nessa condição (STJ, HC 72.364/SP, DJ 14.05.2007).

✓ Pode ser aplicada, por exemplo, liberdade assistida cumulada com a medida de proteção do art. 101, V
(tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial).

✓ E se o adolescente estiver em fase de execução de medida socioeducativa? O adolescente deverá ser


avaliado por equipe técnica, com a possibilidade de suspensão da execução da medida socioeducativa,
com vistas a incluí-lo em programa de atenção integral à saúde mental que melhor atenda aos objetivos
terapêuticos estabelecidos para o seu caso específico (Lei 12.594/2012, art. 64).

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DAS MEDIDAS EM ESPÉCIE

1. ADVERTÊNCIA (art. 115)

Definição: admoestação verbal (repreensão) feita ao adolescente pela autoridade judiciária.


Requisitos: prova da materialidade e indícios suficientes de autoria.
Forma: deve ser reduzida a termo e assinada.

Momento para a aplicação:


(i) antes do processo - remissão imprópria concedida pelo MP;
(ii) no curso do processo – remissão imprópria concedida pelo juiz (audiência de apresentação);
(iii) na sentença.

Execução: nos próprios autos, quando aplicada isoladamente.

2. OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO (art. 116)

• Requisitos:
a) prova suficiente de autoria e materialidade;
b) ato infracional com reflexo patrimonial.

• Formas:
a) Restituição do bem;
b) Ressarcimento do dano;
c) Compensação do prejuízo, por qualquer outra forma (ex. adolescente que pichou um muro pode ser
condenado a pintar o local).

• Execução: se aplicada isoladamente, faz-se nos próprios autos (Lei do SINASE, artigo 38).

3. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE (art. 117)

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• Definição: consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral junto a entidades assistenciais,
hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres.

• Requisitos: prova suficiente de autoria e materialidade.


• Prazo máximo: 6 meses.
• Aptidão: as tarefas devem ser atribuídas ao adolescente em conformidade com suas aptidões.

• Jornada: 8 horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar
a frequência à escola ou ao trabalho.

• Forma de execução: abertura de processo de execução, com expedição de guia de execução, ainda que
decorra de remissão como forma de suspensão do processo (artigo 39, parágrafo único, da Lei do SINASE).

• PIA: é necessária a elaboração de um plano individual de atendimento pela equipe técnica (art.
52 da Lei 12.594/2012).
• Conceito de PIA: instrumento de previsão, registro e gestão das atividades a serem
desenvolvidas no cumprimento da medida.
• Prazo para elaboração do PIA: 15 dias do ingresso do adolescente no programa.
• Havendo impugnação ao PIA, é possível a designação de audiência (art. 41, § 3°).

• Acompanhamento: é feito por entidade de atendimento responsável pela execução do respectivo


programa, com remessa de relatórios.

4. LIBERDADE ASSISTIDA

• Finalidade: integração familiar e comunitária do adolescente (“medida de ouro”).


• Requisitos: prova suficiente de autoria e materialidade.
• Prazo mínimo: 6 meses.

• Prazo máximo: 3 anos – aplicação, por analogia, do prazo máximo previsto para a internação (STJ, HC
172.017/SP, rel. Min. Laurita Vaz, j. 05.05.2011)

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✓ O Juiz deve estabelecer um prazo certo para a LA? Não.

• Orientador: em havendo entidade de atendimento de liberdade assistida, a escolha do orientador será


feita pela direção do programa (Lei do SINASE, art. 13). Todavia, na hipótese de inexistência de tal
entidade, competirá ao juiz a escolha deste para acompanhar o adolescente (ECA, art. 118, § 1º).

• Responsabilidade do orientador:
I. Promoção social do adolescente e família;
II. Supervisionar frequência e aproveitamento escolar do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula;
III. Profissionalização do adolescente;
IV. Relatórios do caso.

• Forma de execução: abertura de processo de execução, com expedição de guia de execução.

• PIA: é necessária a elaboração de um plano individual de atendimento (art. 52 da Lei


12.594/2012).
• Prazo para elaboração do PIA: 15 dias do ingresso do adolescente no programa.

• Reavaliação: deve ser feita, no máximo a cada seis meses (art. 42, Lei SINASE).

➢ Obs.1: se a medida for fixada pelo prazo certo de 6 meses, não haverá reavaliação. Inclusive sobre tal
prazo certo será calculada a prescrição (STJ);

➢ Obs.2: se a sentença não estipular prazo certo, será necessária sua reavaliação para fins de análise da
manutenção, substituição ou extinção da medida. Neste caso, a prescrição considerará o prazo máximo
abstrato de 3 anos, resultando a perda do direito punitivo estatal em 4 anos (Na aplicação de medida
socioeducativa sem termo final, o prazo prescricional deve ter como parâmetro a duração máxima da
internação (3 anos) - STJ - AgRg no REsp 1.856.028-SC).

5. SEMILIBERDADE

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• Implica privação parcial da liberdade.
• Requisitos: prova suficiente de autoria e materialidade.
• Prazo de cumprimento: indeterminado.
• Prazo máximo: 3 anos (arts. 120, § 2º, c.c. o art. 121, § 3º).

• Condições da semiliberdade: inclui-se o adolescente em unidade específica para recebê-lo durante a


noite, permitindo-se que ele estude e trabalhe fora = restrição parcial ao direito de liberdade.

• Fixação como início (originária), por regressão ou por progressão (derivada).


• Obs.: quando aplicada por progressão, é vista como forma de transição para o meio aberto.

• Estudo e profissão: atividades obrigatórias, devendo, sempre que possível, ser utilizados recursos
existentes na comunidade (art. 120, §1º).

• Atividades externas: prescindem de autorização judicial (ex. prática de esportes).

✓ Pode o juiz restringir essas atividades externas? Dois entendimentos:


1) Como regra, não (STF, HC 95.518, 25.05.2010).
2) Sim, uma vez que o ECA não exclui do magistrado a possibilidade de controlar as atividades
externas (STJ, HC 67845/RJ).

• Reavaliações periódicas: no máximo, a cada 6 meses (ECA, art. 121, §2º; e Lei do SINASE, art. 42).
• Internação para aguardar vaga no regime de semiliberdade: ilegalidade (TJPR, HC 5713497, 30.04.2009).
• Liberação compulsória: aos 21 anos de idade (art. 120, § 2º, c/c. o art. 121, § 5º).
• Não pode ser concedida em sede de remissão (art. 127).

• Forma de execução: abertura de processo de execução, com expedição da correspondente guia.


• Prazo para elaboração do PIA: 45 dias do ingresso do adolescente no programa.

6. INTERNAÇÃO

▪ Implica privação total da liberdade do infante.

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▪ Espécies:
1) Internação por prazo indeterminado (art. 122, I e II): prazo máximo de 3 anos, com reavaliações no
máximo a cada 6 (seis) meses;

▪ Obs. O período de tratamento médico a adolescente internado (art. 64, da Lei n° 12.594/12) deve
ser computado no prazo trienal máximo de internação (art. 121, § 3°, do ECA), sob pena de a
medida poder assumir caráter perpétuo (STJ. 5ª Turma. REsp 1.956.497-PR, Rel. Min. Ribeiro
Dantas, julgado em 05/04/2022 - Info 732).

2) Internação-sanção (art. 122, III): prazo máximo de 3 meses (para o STJ, o juiz deve fixar prazo certo);
3) Internação provisória (art. 108): prazo máximo de 45 dias.

▪ Princípios* (CF, art. 227, § 3º, V; art.121 do ECA):


a) Brevidade – a medida deverá ter a menor duração necessária ao cumprimento de seus objetivos;
b) Excepcionalidade (art. 122, § 2º) – Informativo 733 STF - a imposição de medida socioeducativa de
internação deve ser aplicada apenas quando não houver outra medida adequada;
c) Respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.

• Obs. Também aplicáveis à semiliberdade (art. 120, § 2º).

▪ Requisitos: provas suficientes de autoria e materialidade.

▪ É possível a internação de adolescente gestante ou lactante? “É legal a internação de adolescente


gestante ou que esteja amamentando o filho, desde que assegurada: 1) a atenção integral à sua saúde e
à do feto; 2) as condições necessárias para que permaneça com seu filho durante o período de
amamentação” (STJ. 5ª Turma. HC 543.279-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
10/03/2020 - Info 668).

▪ HIPÓTESES AUTORIZADORAS (artigo 122 – rol taxativo)

Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:

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I. Ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa (ex. roubo, latrocínio, dentre
outros):

✓ Tentativa? Admite internação (STJ, HC 251716/DF).


✓ Violência doméstica? Admite internação (STJ HC 219.465/DF).

• Vias de fato, ameaça e lesão corporal leve? Por serem infrações penais de menor potencial ofensivo, não
admitem internação (STJ – HC 338.517 - art. 35, I, Lei do SINASE: Art. 35. A execução das medidas
socioeducativas reger-se-á pelos seguintes princípios: I - legalidade, não podendo o adolescente receber
tratamento mais gravoso do que o conferido ao adulto;).

– Cuidado: se cumulada com outros atos infracionais, podem autorizar a internação (ex.: ameaça
+ incêndio + porte de drogas + porte de arma - STJ – HC 403.518)

✓ Estupro de vulnerável? Admite internação (STJ, AgRg 774.961).


STJ, Súmula 593: O crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato
libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua
experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente.

✓ Cabe a internação por tráfico de drogas quando se tratar de fato isolado?


STJ, Súmula 492. “O ato infracional análogo ao tráfico de drogas, por si só, não conduz obrigatoriamente à
imposição de medida socioeducativa de internação do adolescente”

➢ No mesmo sentido: STF (HC 129.148/SP).

II. Por reiteração no cometimento de outras infrações graves:


✓ Reiteração não é sinônimo de reincidência - Basta sentença em primeiro grau anterior à prática do
segundo ato infracional.

✓ Exige-se a prática anterior de dois atos infracionais graves? Não, bastando um ato infracional anterior
(STF e STJ).

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• O que são infrações graves? STJ: são aqueles análogas ao crime apenado com reclusão. Os atos
infracionais análogos aos crimes de furto, porte ilegal de arma de fogo, tráfico de drogas, receptação,
associação criminosa, lesão corporal, ameaça, direção de veículo automotor sem habilitação em concurso
com desobediência, dentre outros.

✓ Porte de droga para consumo próprio? Não pode ser considerada infração grave (STF).

✓ Exige-se o trânsito em julgado da primeira sentença? Dois entendimentos:


1) Sim, sob pena de se conferir tratamento mais gravoso ao adolescente do que ao adulto.
2) Não, pois quando o ECA quis exigir o trânsito em julgado, o mencionou expressamente (arts. 47,
§ 7º; 52, § 9º; 197-E, § 5º; 213, § 3º; 214, § 1º; 217). Basta a sentença de procedência da prática
de outro ato infracional. STJ adota este entendimento.

✓ Remissão cumulada com medida socioeducativa implica reiteração? Não (STJ) - Art. 127. A remissão não
implica necessariamente o reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem prevalece para
efeito de antecedentes.

III. Por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta:


➢ Internação-sanção.
➢ Prazo máximo de 3 meses (para o STJ, deve ser fixada em prazo certo).
➢ Descumprimento reiterado: a partir do segundo descumprimento.

➢ STJ, súmula 265. “É necessária a oitiva do menor infrator antes de decretar-se a regressão da medida
socioeducativa”.

➢ Se devidamente intimado, o adolescente não comparece, poderá ser aplicada a internação-sanção? Sim.

➢ Se não encontrado? O juiz deve expedir mandado de busca e apreensão.

✓ Cabe internação em caso de descumprimento de medida aplicada em sede de remissão? Não, pois é
necessário contraditório e ampla defesa (STJ, RHC 73.558/MG).

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• Prazo de cumprimento da internação:
1) Hipóteses dos incisos I (se decorreu de ato infracional cometido com violência ou grave ameaça a pessoa)
e II (por reiteração no cometimento de infrações graves) do artigo 122: a medida é fixada por prazo
indeterminado, possuindo prazo máximo de 3 anos de duração;

2) Hipótese do inciso III do artigo 122 (descumprimento reiterado e injustificável de medida anteriormente
imposta): a medida é fixada por prazo certo, possuindo prazo máximo de 3 meses de duração.

✓ Cabe substituição da semiliberdade por internação?

1) Para o Supremo, não. Fundamento: a possibilidade de substituição só se aplica às medidas específicas de


proteção (HC 84603/SP);

2) Para o STJ, sim. A Lei 12.594/2012, em seu art. 43, § 4º, possibilita a substituição da medida, por outra
mais gravosa, precedida de parecer técnico fundamentado e audiência prévia. Neste caso, a internação
será por prazo indeterminado, com reavaliação no máximo a cada seis meses. Para o cabimento dessa
substituição é necessário, apenas, que o ato infracional se enquadre em alguma das hipóteses do art. 122,
I e II, do ECA.

• Atividades externas: dependem de autorização da equipe técnica da entidade e podem ser proibidas pelo
juiz (art. 121, § 1º).
• Obs. Na semiliberdade, as atividades externas independem de autorização judicial.

• Reavaliações periódicas: no máximo, a cada 6 meses (art. 121, §2º).

✓ É correto dizer que o prazo mínimo de internação é de 6 meses? Não, pois a reavaliação pode ocorrer em
prazo inferior.

✓ Atingido o prazo de 3 anos de internação, a liberação do adolescente infrator é imperativa? Sim, mas o
juiz poderá fazer a progressão para outras medidas (semiliberdade ou liberdade assistida). - Art. 121, § 4º

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Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em
regime de semiliberdade ou de liberdade assistida.

✓ Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de autorização judicial, ouvido o Ministério


Público (art. 121, § 6º).

• Liberação compulsória: aos 21 anos de idade (art. 121, § 5º).

• Transtorno mental e interdição no cível (Lei 10.216/2001) – Caso “Champinha”: adolescente infrator que,
em 2003, manteve em cárcere privado um casal de namorados, tendo estuprado a menina e matado a
ambos. Ao atingir 21 anos, foi liberado, mas acabou transferido para unidade de tratamento psiquiátrico
em regime de internação compulsória.

• Suspensão da execução de medida socioeducativa: Lei do SINASE, art. 64, § 4o Excepcionalmente,


o juiz poderá suspender a execução da medida socioeducativa, ouvidos o defensor e o Ministério
Público, com vistas a incluir o adolescente em programa de atenção integral à saúde mental que
melhor atenda aos objetivos terapêuticos estabelecidos para o seu caso específico. § 6o A
suspensão da execução da medida socioeducativa será avaliada, no mínimo, a cada 6 (seis) meses.

• Direito de visitas aos adolescentes internados: deve ser garantido, podendo ser suspenso se
devidamente comprovado que estão sendo prejudiciais à criança/adolescente.

• Há direito à visita íntima? Sim, apenas ao adolescente casado ou que viva, comprovadamente,
em união estável (art. 68).

• Prazo para elaboração do PIA: 45 dias do ingresso do adolescente no programa.

▪ Internação domiciliar – TEMA NOVO

O ECA prevê expressamente três espécies de internação:


(1) por prazo indeterminado;
(2) sanção; e

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(3) provisória.

▪ Contudo, a partir do julgamento do HC 143.988/ES, realizado em 24/8/2020, o STF autorizou a conversão


da medida em internação domiciliar, podendo ser cumulada com a imposição de medidas protetivas e
acompanhada de advertência ao adolescente em conflito com a lei.

▪ O objeto do HC foi a superlotação das unidades (ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL) de internação


e as condições de cumprimento da medida em meio fechado, em clara violação à legislação nacional (CF,
ECA e Lei do Sinase) e internacional (Convenção sobre os Direitos da Criança, Regras Mínimas das Nações
Unidas para Administração da Justiça Juvenil, Regras de Beijing e Regras Mínimas das Nações Unidas para
a Proteção dos Jovens Privados de Liberdade).

Para as unidades que estivessem operando com número de adolescentes acima da capacidade, o Supremo fixou
os seguintes critérios e parâmetros a serem seguidos pelos juízes:

i) a adoção do princípio numerus clausus como estratégia de gestão, significando que para possibilitar a
entrada de um adolescente deverá haver a saída de outro;
ii) reavaliação dos adolescentes que estivessem internados exclusivamente em razão de reiteração em
infrações cometidas sem violência ou grave ameaça à pessoa;
iii) transferência dos adolescentes para outras unidades que não estivessem com a capacidade máxima,
desde que a localidade fosse próxima à residência dos familiares do adolescente;
iv) a inclusão do adolescente em programa de meio aberto quando inexistir vaga para o cumprimento de
medida de privação da liberdade, exceto quando o ato infracional tenha sido cometido com violência ou grave
ameaça à pessoa, situação na qual o adolescente deverá ser internado em outra unidade mais próxima da
residência de seus familiares (art. 49, II, da Lei do Sinase);
v) na impossibilidade de adoção das medidas anteriores, a conversão da medida de internação em
internação domiciliar, sem qualquer prejuízo ao escorreito cumprimento do plano individual de atendimento –
PIA;
vi) a internação domiciliar poderá ser cumulada com a imposição de medidas protetivas e/ou
acompanhada da advertência ao adolescente de que o descumprimento injustificado do PIA ou a reiteração em
atos infracionais poderá acarretar a sua volta ao estabelecimento de origem;

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vii) a fiscalização da internação domiciliar poderá ser deprecada ao domicílio dos responsáveis do
adolescente, caso não coincida com o da execução da medida de internação;
viii) alternativamente, a adoção de outras medidas, desde que adequadas.

▪ Prescrição das medidas socioeducativas

✓ Incide o instituto da prescrição em relação a atos infracionais? Duas correntes:

1) não incide a prescrição em ato infracional, porque o ECA não prevê e porque as medidas
socioeducativas não são pena.

2) (MAJORITÁRIA): incide a prescrição de ato infracional. Embora medida socioeducativa não seja pena,
ela tem caráter retributivo e repressivo (caráter punitivo). Súmula 338, do STJ: “A prescrição penal é aplicável nas
medidas socioeducativas.”

✓ Contagem do prazo prescricional: incidem as regras do Código Penal, sendo todos os prazos reduzidos
pela metade em decorrência da menoridade (art. 115, do CP) - STF HC 88.788:

A) Prescrição da pretensão punitiva do ato infracional: regula-se pelo máximo da pena cominada
ao crime ou contravenção ao qual corresponde o ato infracional;

B) Prescrição da pretensão executória regula-se pelo prazo da medida socioeducativa aplicada na


sentença. Caso a medida seja aplicada por prazo indeterminado, a prescrição regula-se pelo prazo máximo cabível
para a medida.

REMISSÃO

▪ Definição: trata-se de um perdão dado ao adolescente.

▪ Características:
a) Não importa no reconhecimento da responsabilidade;
b) Não prevalecerá para efeito de antecedentes;

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c) Poderá ser cumulada com qualquer medida socioeducativa não restritiva de liberdade;
d) Quando cumulada com MSE, depende de concordância do adolescente e representante legal, ouvida a
defesa técnica.

e) Na remissão pré-processual, o Ministério Público pode propor a aplicação cumulativa de medida


socioeducativa, mas a aplicação da medida é feita exclusivamente pelo juiz. - STJ, súmula 108. A aplicação
de medidas socioeducativas ao adolescente, pela prática de ato infracional, é da competência exclusiva
do juiz.

▪ Critérios:
i. Circunstâncias e consequências do ato;
ii. Contexto social;
iii. Personalidade do agente;
iv. Maior ou menor participação do adolescente.

REMISSÃO PRÉ-PROCESSUAL OU MINISTERIAL

• A ação sócio educativa é pública incondicionada.


• Remissão pelo MP = mitigação ao princípio da obrigatoriedade.

1) Remissão própria:
• pura e simples, não cumulada com medida socioeducativa;
• independe do consentimento do adolescente;
• prescinde de defesa técnica;
• depende de homologação judicial (ECA,art. 181).

✓ E se o juiz discordar? Deve remeter os autos ao Procurador-Geral de Justiça. O PGJ oferecerá


representação, designará outro membro do Ministério Público para apresentá-la, ou ratificará o
arquivamento ou a remissão, que só então estará a autoridade judiciária obrigada a homologar (ECA, art.
181, § 2º).

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Obs. O Magistrado pode modificar, ainda que parcialmente, proposta de remissão como forma de exclusão do
processo apresentada pelo MP?

Não, tendo em vista que o Ministério Público é o titular da representação pela prática de ato infracional, sendo
vedado ao magistrado intervir na proposta ministerial. (STJ. 6ª Turma. REsp 1.392.888-MS, Rel. Min. Rogerio
Schietti, julgado em 30/6/2016).

2) Remissão imprópria:
✓ Cumulada com medida socioeducativa, exceto internação e semiliberdade;
✓ Depende do consentimento do adolescente e de seu representante legal;
✓ É obrigatória a participação da defesa técnica (STJ, RHC 102.132/DF);
✓ Depende de homologação judicial (ECA,art. 181).

✓ E se o juiz discordar? Mesmo procedimento: deve remeter os autos ao Procurador-Geral de Justiça (ECA,
art. 181, § 2º).

Remissão processual ou judicial


1) Extinção do processo: quando não cumulada com medida socioeducativa (remissão pura e simples) ou
quando cumulada com medida socioeducativa que se esgota em si mesma (ex: advertência).

2) Suspensão do processo: quando cumulada com medida socioeducativa que demanda acompanhamento
(ex: prestação de serviços à comunidade e liberdade assistida) – implica na suspensão do feito.
✓ É obrigatória a participação do Ministério Público (STJ - RESp. 1.025.004).
✓ Há necessidade de defesa técnica.

▪ Descumprimento da remissão imprópria:


• Oitiva prévia do adolescente é obrigatória;
• Decisões possíveis: manutenção, substituição por outra de meio aberto ou revogação.

➢ Em caso de revogação, convém distinguir:


a) Pré-processual: início do processo mediante oferecimento de representação (há posição em sentido
contrário, entendendo que não é possível o prosseguimento do feito).

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b) Processual: retomada do curso do processo, pois as sentenças de suspensão ou extinção do processo não
são alcançadas pela coisa julgada material (STJ).

▪ Revisão judicial da remissão:


Art. 128. A medida aplicada por força da remissão poderá ser revista judicialmente, a qualquer tempo, mediante
pedido expresso do adolescente ou de seu representante legal, ou do Ministério Público.

➢ Na revisão das medidas, a autoridade judiciária poderá:


a) cancelar a medida aplicada, com retorno à situação processual anterior;
b) substituí-la por outra, com exclusão dos regimes de semiliberdade e internação; ou
c) convertê-la em perdão puro e simples.

REMISSÃO – QUADRO RESUMO

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DISCIPLINAS COMPLEMENTARES
Rafael Costa
Estatuto da Criança e do Adolescente
Aula 6

ROTEIRO DE AULA

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▪ Princípios da execução (Lei 12.594/2012, art. 35):

I - legalidade, não podendo o adolescente receber tratamento mais gravoso do que o conferido ao adulto;
II - excepcionalidade da intervenção judicial e da imposição de medidas, favorecendo-se meios de
autocomposição de conflitos;
III - prioridade a práticas ou medidas que sejam restaurativas (JUSTIÇA RESTAURATIVA) e, sempre que possível,
atendam às necessidades das vítimas;
IV - proporcionalidade em relação à ofensa cometida;
V - brevidade da medida em resposta ao ato cometido, em especial o respeito ao que dispõe o art. 122 da Lei
no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente);
VI - individualização, considerando-se a idade, capacidades e circunstâncias pessoais do adolescente;
VII - mínima intervenção, restrita ao necessário para a realização dos objetivos da medida;
VIII - não discriminação do adolescente, notadamente em razão de etnia, gênero, nacionalidade, classe social,
orientação religiosa, política ou sexual, ou associação ou pertencimento a qualquer minoria ou status; e
IX - fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários no processo socioeducativo.

▪ O que é SINASE?

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▪ Art. 1o § 1º, da Lei n° 12.594/12: Entende-se por Sinase o conjunto ordenado de princípios, regras
e critérios que envolvem a execução de medidas socioeducativas, incluindo-se nele, por adesão,
os sistemas estaduais, distrital e municipais, bem como todos os planos, políticas e programas
específicos de atendimento a adolescente em conflito com a lei.

▪ Composição do SINASE

▪ Art. 2º O Sinase será coordenado pela União e integrado pelos sistemas estaduais, distrital e
municipais responsáveis pela implementação dos seus respectivos programas de atendimento a
adolescente ao qual seja aplicada medida socioeducativa, com liberdade de organização e
funcionamento, respeitados os termos desta Lei.

➢ Juízo competente para o julgamento e a execução das medidas socioeducativas:

Art. 147. A competência será determinada:


I - pelo domicílio dos pais ou responsável;

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II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à falta dos pais ou responsável.
§ 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as
regras de conexão, continência e prevenção.
§ 2º A execução das medidas poderá ser delegada à autoridade competente da residência dos pais ou
responsável, ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a criança ou adolescente.

➢ Regra geral: lugar da ação ou omissão.


➢ Exceção: residência dos pais ou responsável ou, ainda, sede da entidade que abrigar a criança ou
adolescente.

▪ Reavaliação
• Hipóteses: liberdade assistida, semiliberdade e internação.
• Periodicidade: no máximo a cada 6 (seis) meses.

• Consequências:
1) extinção: quando se entender que foi atingida a finalidade da medida socioeducativa (art. 46, II);
2) manutenção: na situação na qual o adolescente ainda não apresentou evolução no plano individual de
atendimento e há necessidade de continuar no cumprimento da medida socioeducativa, desde que respeitado o
prazo máximo de 3 (três) anos das medidas de internação, semiliberdade e liberdade assistida;
3) progressão: o adolescente apresentou evolução e merece ser inserido em medida socioeducativa mais
branda; e
4) regressão: o adolescente não atendeu ao plano individual de atendimento, devendo ser inserido em
medida socioeducativa mais grave.

✓ Em caso de regressão para a internação, precisam estar presentes as hipóteses previstas no artigo 122, I
e II do ECA?

➢ Convém distinguir:

a) Se o fundamento da regressão é o artigo 122, III (descumprimento reiterado e injustificado de medida


socioeducativa anteriormente imposta), é possível a internação-sanção pelo prazo de até 3 meses,
independentemente das hipóteses dos incisos I e II;

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b) Se o fundamento da regressão for os arts. 99 e 113 (substituição, quando verificada a insuficiência da
medida mais branda à ressocialização do adolescente), há a imprescindibilidade da presença das hipóteses dos
incisos I ou II do artigo 122 para a decretação da internação por prazo indeterminado (STJ).

❖ Lembrando que o STF não admite a substituição de medidas socioeducativas.

✓ O adolescente que pratica falta grave em cumprimento de medida de internação poderá ser punido com
isolamento?
✓ Em regra, não.

✓ Exceção: quando a medida for imprescindível para garantia da segurança de outros internos ou
do próprio adolescente. - Art. 48 § 2º É vedada a aplicação de sanção disciplinar de isolamento a
adolescente interno, exceto seja essa imprescindível para garantia da segurança de outros
internos ou do próprio adolescente a quem seja imposta a sanção, sendo necessária ainda
comunicação ao defensor, ao Ministério Público e à autoridade judiciária em até 24 (vinte e
quatro) horas.

▪ Unificação das medidas socioeducativas


Art. 45. Se, no transcurso da execução, sobrevier sentença de aplicação de nova medida, a autoridade judiciária
procederá à unificação, ouvidos, previamente, o Ministério Público e o defensor, no prazo de 3 (três) dias
sucessivos, decidindo-se em igual prazo.
§ 1o É vedado à autoridade judiciária determinar reinício de cumprimento de medida socioeducativa, ou deixar de
considerar os prazos máximos, e de liberação compulsória previstos na Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente), excetuada a hipótese de medida aplicada por ato infracional praticado
durante a execução.

▪ Distinção:

1) Se o adolescente já vem cumprindo medida socioeducativa e sobrevém nova condenação por fato anterior: o
Magistrado deve proceder à unificação, sem desconsiderar os prazos já cumpridos e o limite de cumprimento
previsto pelo ECA;

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2) Se o adolescente vem cumprindo medida e pratica novo ato infracional durante a execução: deverá ser
reiniciado o prazo e considerado novo limite para cumprimento. – Vamos detalhar as situações mais à frente!

Art. 45, 2o É vedado à autoridade judiciária aplicar nova medida de internação, por atos infracionais praticados
anteriormente, a adolescente que já tenha concluído cumprimento de medida socioeducativa dessa natureza, ou
que tenha sido transferido para cumprimento de medida menos rigorosa, sendo tais atos absorvidos por aqueles
aos quais se impôs a medida socioeducativa extrema.

▪ Vedação à aplicação de nova internação por fato anterior: o § 2° estabelece que se o adolescente acabou
de cumprir uma medida socioeducativa de internação, julgada extinta porque atendeu satisfatoriamente
aos seus requisitos e foi ressocializado, não é possível a aplicação de nova internação por ato infracional
anterior ao início da execução. Isso porque a nova medida de internação fica absorvida pela cumprida: a
finalidade precípua é ressocializar e, não, punir (Informativo 562, do STJ).

A finalidade precípua da medida de internação é ressocializar e não punir. Se o adolescente já está ressocializado,
não tem sentido em aplicar nova medida de internação.

PROCEDIMENTO DE UNIFICAÇÃO

▪ Prevenção do primeiro Juízo de Execução.

▪ As medidas de meio aberto são absorvidas pelas medidas de meio fechado (ex. a condenação por
liberdade assistida resta absorvida pela medida de internação).

▪ Com a unificação, as medidas serão reunidas num único processo e haverá a expedição de guia
unificadora, com o arquivamento dos processos unificados (art. 11, § 3º, da Res. 165/2012 CNJ).

▪ Sistemática da unificação:
a) Medidas em meio aberto (PSC e LA):

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(i) Medidas distintas: possibilidade de cumulação, quando compatíveis entre si. Ex: PSC + LA.

(ii) Medidas iguais, e a segunda é aplicada por fato anterior ao início da execução da primeira medida:
unificam-se as medidas e o prazo não é reiniciado, vale dizer, o adolescente continua do mesmo ponto,
aproveitando-se o tempo já cumprido e respeitando-se o prazo máximo. Ex: PSC 4 meses (dois já
cumpridos) + PSC 4 meses - unificam-se as medidas, restando 6 meses para serem cumpridos.

(iii) Medidas iguais, e a segunda é aplicada por fato posterior ao início da execução da primeira medida:
unificam-se as medidas e o prazo é reiniciado, ignorando-se o tempo já cumprido da primeira medida,
respeitando-se o prazo máximo. Ex: LA (1 ano já cumprido) + LA – unificam-se as medidas, podendo
cumprir mais 3 anos de LA a partir da unificação.

b) Medidas em meio fechado (I e SL):


(i) Medidas distintas: impossibilidade de cumulação, porquanto incompatíveis entre si. Ex: I + SL. O que deve
fazer o juiz? Aplicar a medida mais grave, que acaba absorvendo a menos grave.

(ii) Medidas iguais, e a segunda é aplicada por fato anterior ao início da execução da primeira medida:
unificam-se as medidas, aproveitando-se o tempo já cumprido e respeitando-se o prazo máximo. Ex: 1ª
internação (dois anos já cumpridos) + 2ª Internação - unificam-se as medidas, restando 1 ano para ser
cumprido.

(iii) Medidas iguais, e a segunda é aplicada por fato posterior ao início da execução da primeira medida:
unificam-se as medidas, ignorando-se o tempo já cumprido da primeira medida e respeitando-se o prazo
máximo. Ex: 1ª semiliberdade (2 anos já cumpridos) + 2ª semiliberdade – unificam-se as medidas,
restando 3 anos para serem cumpridos.

➢ CASO PRÁTICO:

▪ Adolescente “A” é condenado à medida de internação, pela prática de ato infracional análogo ao crime
de roubo. Ele inicia o cumprimento da medida e, depois de um ano, obtém a progressão para a
semiliberdade. Depois disso, o Juízo da execução recebe uma guia de execução referente a outra medida

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de internação, aplicada em outra ação socioeducativa, pela prática de ato infracional anterior ao início da
execução da primeira internação. Como deve ser feita a unificação dessas medidas?

▪ Como a nova internação foi decorrência de ato praticado antes do início da execução da primeira medida
socioeducativa, ela é absorvida e o adolescente continua cumprindo a semiliberdade. - Lei SINASE, art.
45, § 2o É vedado à autoridade judiciária aplicar nova medida de internação, por atos infracionais
praticados anteriormente, a adolescente que já tenha concluído cumprimento de medida socioeducativa
dessa natureza, ou que tenha sido transferido para cumprimento de medida menos rigorosa, sendo tais
atos absorvidos por aqueles aos quais se impôs a medida socioeducativa extrema.

▪ EXTINÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS:


I - pela morte do adolescente;
II - pela realização de sua finalidade;
III - pela aplicação de pena privativa de liberdade, a ser cumprida em regime fechado ou semiaberto, em
execução provisória ou definitiva;

Obs. Se o agente foi condenado na esfera penal, após completar 18 anos, sendo aplicada uma pena em regime
fechado ou semiaberto, extingue-se a medida socioeducativa, pois perde o seu objeto. - Art. 46. (...) § 1° No caso
de o maior de 18 (dezoito) anos, em cumprimento de medida socioeducativa, responder a processo-crime, caberá
à autoridade judiciária decidir sobre eventual extinção da execução, cientificando da decisão o juízo criminal
competente. – Inconstitucionalidade?

Obs. 2 Pena em regime aberto e pena de multa não extinguem a medida socioeducativa.
IV - pela condição de doença grave, que torne o adolescente incapaz de submeter-se ao cumprimento da medida;
e
V - nas demais hipóteses previstas em lei.* Ex: art. 45, § 1º, Lei 12.594/2012.

ACESSO À JUSTIÇA

▪ Acesso à justiça sob duplo viés: 1) garantia de acesso a todas as instituições do Sistema de Justiça que
têm por responsabilidade a promoção da defesa dos interesses de crianças e adolescentes; 2) assistência
judiciária gratuita.

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Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao
Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos.
§ 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos que dela necessitarem, através de defensor público ou
advogado nomeado.
§ 2º As ações judiciais da competência da Justiça da Infância e da Juventude são isentas de custas e emolumentos,
ressalvada a hipótese de litigância de má-fé.

➢ Isenção de custas e emolumentos: STJ – aplicação restrita às crianças e adolescentes enquanto partes,
não alcançando outras pessoas que eventualmente participem dessas demandas. (AgRg no AREsp
66.306/GO). Essa isenção fica restrita a crianças e adolescentes enquanto partes, e não às pessoas
jurídicas. Pode ser afastada em caso de litigância de má-fé.

▪ SEGREDO DE JUSTIÇA
➢ Hipóteses do segredo de justiça:
a. Procedimentos destinados a aplicar medidas socioeducativas pela prática de atos infracionais (desde a
instauração na Delegacia). - Art. 143. É vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos
que digam respeito a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional.
b. Reconhecimento do estado de filiação, guarda, tutela adoção e alimentos (CPC, art. 189, II);
c. Preservação da intimidade, privacidade e imagem, visando não colocar a criança ou adolescente em
situação vexatória.

Abrangência do segredo de justiça: Art. 143, Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não poderá
identificar a criança ou adolescente, vedando-se fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentesco,
residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome.

▪ Viola o princípio da separação dos poderes a decisão judicial que determina ao Estado que implante
plantão de 24 horas em Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e à Juventude?

Não, sendo plenamente possível que o Judiciário promova a medida por meio de decisão judicial, ficando, ainda,
afastada a tese abuso de poder (STJ. 1ª Turma. REsp 1.612.931-MS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado
em 20/6/2017).

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JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE

▪ Varas especializadas
Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar varas especializadas e exclusivas da infância e da
juventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por número de habitantes, dotá-las
de infraestrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões.

➢ Obs. O Pacto de São José da Costa Rica e as “Regras de Beijing” também preveem a necessidade de criação
de Varas especializadas.

▪ TÉCNICA PARA FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA

a) COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA (dividida em originária ou derivada)

1. Competência originária da Vara da Infância (exclusiva):


Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para:

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I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração de ato infracional atribuído a
adolescente, aplicando as medidas cabíveis;

✓ E se for ato praticado contra interesse da União? A competência permanece sendo da Vara da Infância e
Juventude – Justiça Estadual (STJ, CC 145.166/MG).

II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo;


✓ Inclui a remissão como forma de exclusão do processo? Sim.

III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes;


✓ E se o pedido de adoção for cumulado com pedido de destituição do poder familiar? A competência será
da Vara da Infância e Juventude.

✓ A ação de destituição do poder familiar só será da competência da Vara da Infância e da Juventude


se estiver presente uma situação de risco. Já a ação de adoção será da competência da Vara da
Infância se houver menor.

✓ E se o adotando atingir a maioridade civil no curso da ação de adoção? A competência continua sendo da
Vara da Infância (CPC, art.43)

✓ E se o adotando for maior de 18 anos? A competência será da Vara de Família.

IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos [ações coletivas] afetos à
criança e ao adolescente, observado o disposto no art. 209;

Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação
ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas a competência da Justiça
Federal e a competência originária dos tribunais superiores.

➢ Fator determinante: proteção a direito fundamental da criança e adolescente.

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Ex.: fornecimento de medicamentos, construção de creches, recusa de matrícula, ampliação dos leitos nas UTIs
infantis – competência da Infância e Juventude, ainda que o Poder Público figure no polo passivo da ação.

Ex. 2 Reformas em estabelecimento de ensino e competência da Justiça da Infância e Juventude - É competente


a Justiça da Infância e Juventude para julgar ação civil pública em que se pleiteai a reforma de estabelecimentos
de ensino de crianças e adolescentes (STJ. 2ª Turma. AREsp 1.840.462-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em
15/03/2022 - Info 729).

✓ Ação meramente indenizatória (ex.: dano sofrido no interior da Fundação Casa)? Não é da competência
da Vara da Infância e Juventude.

V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em entidades de atendimento, aplicando as medidas


cabíveis;

VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações contra norma de proteção à criança ou adolescente;
✓ Ex. Representação apresentada pelo MP ou Conselho Tutelar para aplicação de sanção administrativa em
face de estabelecimento que vende bebidas alcóolicas para crianças.

VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar, aplicando as medidas cabíveis.
✓ A competência da Justiça da Infância e Juventude pode abarcar o julgamento de crimes praticados contra
crianças e adolescentes? Se previsto na lei de organização judiciária local, sim (STF e STJ).

2. Competência Derivada (concorrente entre a Vara da Infância e outras Varas):

▪ Fundamento para incidência da competência concorrente: situação de risco.


Art. 148. Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adolescente nas hipóteses do art. 98 [situação de risco],
é também competente a Justiça da Infância e da Juventude para o fim de:

a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;

❖ Atenção: Convenção de Haia (aspectos civis do sequestro internacional de menores de 16 anos) -


competência da Justiça Federal para a ação de busca e apreensão (STJ, CC 133.010/MG, 2ª Seção).

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b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, perda ou modificação da tutela ou guarda – se não houver
situação de risco, a competência será da Vara de Família.

c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento;


✓ Ex. adolescente em situação de abandono, sem responsável legal, que precisa ingressar com ação de
suprimento de consentimento para casar.

d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna ou materna, em relação ao exercício do poder


familiar;

e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando faltarem os pais;

f) designar curador especial em casos de apresentação de queixa ou representação, ou de outros procedimentos


judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ou adolescente;

g) conhecer de ações de alimentos;


✓ Ex. Situação de acolhimento institucional em que é proposta ação pelo MP em desfavor dos pais.

h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento dos registros de nascimento e óbito.

▪ Competência do Juizado de Violência Doméstica e Familiar

✓ Em hipótese de violência doméstica e familiar, o Juizado de Violência Doméstica e Familiar tem


competência para os pedidos cíveis (ex.: suprimento judicial de autorização para viagem de filho,
alimentos, divórcio, guarda etc.).

✓ No contexto de violência doméstica contra a mulher, é o juízo da correlata Vara Especializada que
detém, inarredavelmente, os melhores subsídios cognitivos para preservar e garantir os
prevalentes interesses da criança, em meio à relação conflituosa de seus pais (STJ: 3ª T., REsp
1.550.166-DF, j. 21.11.2017)

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✓ E onde não existirem os referidos Juizados? Competência das Varas Criminais, inclusive para a matéria
cível (art. 33, da Lei 11.340/2006)

b) COMPETÊNCIA TERRITORIAL

Art. 147. A competência será determinada (ordem preferencial):


I - pelo domicílio dos pais ou responsável;
II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à falta dos pais ou responsável. (ex. ação proposta pelo
Ministério Público em face do município para compeli-lo a fornecer medicamentos para criança acolhida
institucionalmente - Foro competente: o do juízo em que criança está acolhida).

❖ Atenção: para o STJ, trata-se de competência absoluta (logo, o juiz pode declará-la de ofício, a qualquer
tempo - art. 64, § 1º, CPC).

✓ Se a guarda está com terceiro, qual o foro competente? O do guardião - Súmula 383 – STJ: “a competência
para processar e julgar as ações conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro do detentor de
sua guarda”). Serão remetidos os autos ao domicílio do detentor da guarda do menor.

Perpetuação da jurisdição X Juízo imediato


Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo
irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem
órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta.

✓ Para o STJ, na colidência entre a regra da perpetuação da jurisdição (CPC, art. 43) e a regra de competência
do art. 147, I e II, do ECA, esta deve prevalecer, para permitir que o juízo imediato tenha contato com a
criança ou adolescente (CC 119.318/DF, 2ª Seção).

✓ Ex. Os pais entram com uma ação buscando o fornecimento de medicamentos e mudam de cidade
durante a tramitação do feito. Pela regra da perpetuação da jurisdição, continuaria competente o juízo
da comarca em que ajuizada a demanda. Contudo, essa regra é relativizada e o feito deve ser
encaminhado para o novo município de residência, com base no princípio do juízo imediato.

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▪ Apuração de ato infracional
Art. 147, § 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a autoridade do lugar da ação ou omissão,
observadas as regras de conexão, continência e prevenção.

➢ Teoria da atividade (lugar da ação ou omissão).

▪ Execução de medida socioeducativa


Art. 147. (...) § 2º A execução das medidas poderá ser delegada à autoridade competente da residência dos pais
ou responsável, ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a criança ou adolescente.

✓ Ex. Adolescente pratica um ato infracional equiparado a um crime de roubo na cidade “A”. A
representação tramita nessa cidade. Contudo, a execução da medida poderá ocorrer no local em que
residem os pais ou responsável ou onde estiver sediada a entidade em que o adolescente cumpre a
medida de internação (Resolução 165/2012 CNJ, art. 12: “Em caso de transferência do adolescente ou de
modificação do programa para outra comarca ou estado da federação, deverão ser remetidos os autos da
execução ao novo juízo responsável pela execução, no prazo de 72 (setenta duas) horas”.)

▪ Infração cometida por rádio e televisão


Art. 147, § 3º Em caso de infração cometida através de transmissão simultânea de rádio ou televisão, que atinja
mais de uma comarca, será competente, para aplicação da penalidade, a autoridade judiciária do local da sede
estadual da emissora ou rede, tendo a sentença eficácia para todas as transmissoras ou retransmissoras do
respectivo estado.

➢ Quais as infrações administrativas que podem ser praticadas?


A) Art. 247, do ECA (divulgação de procedimento policial, administrativo ou judicial relativo a criança
ou adolescente a que se atribua ato infracional) – ex. a emissora divulga o nome do adolescente
que praticou ato infracional); ou

B) Art. 254, do ECA (transmissão de programa sem aviso de classificação etária) do ECA.

▪ Ações civis públicas

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Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação
ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas a competência da Justiça
Federal e a competência originária dos tribunais superiores.

➢ Competência de foro:
➢ Nas ACPs de forma geral: LACP, Art. 2º (local do dano);
➢ Nas ACPs que tutelam direitos coletivos de crianças e adolescentes: local onde ocorreu ou deva
ocorrer a ação ou omissão

PROCEDIMENTOS
▪ Aplicação subsidiária da legislação processual pertinente

Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei aplicam-se subsidiariamente as normas gerais previstas na
legislação processual pertinente (em primeiro lugar, incide o ECA).
I. Apuração de ato infracional – CPP;
II. Apuração de irregularidades em entidade de atendimento – CPC;
III. Apuração de infrações administrativas – CPC;

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IV. Perda e suspensão do poder familiar – CPC;
V. Destituição de tutela – CPC;
VI. Colocação em família substituta – CPC;
VII. Infiltração cibernética de agentes de polícia – CPP;
VIII. Habilitação de pretendentes à adoção – CPC.

▪ Contagem dos prazos

Art. 152, § 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos seus procedimentos são contados em dias
corridos, excluído o dia do começo e incluído o dia do vencimento, vedado o prazo em dobro para a Fazenda
Pública e o Ministério Público.

➢ Não se aplica a regra do artigo 219, do CPC (contagem em dias úteis). Logo, os prazos são contados em
dias corridos;
➢ Vedado o prazo em dobro para o MP e a Fazenda Pública;

✓ E a Defensoria Pública? Regra do artigo 186, do CPC (prazo em dobro);

✓ Ações civis públicas e outras ações individuais não disciplinadas no ECA? Contagem em dias úteis e aplica-
se o prazo em dobro para MP, Fazenda Pública e Defensoria (CPC).

PROCEDIMENTO DE APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL

▪ Disciplina normativa (art. 152):


1) ECA, primariamente.
2) CPP, subsidiariamente (ex. O ECA não estabelece um prazo para conclusão das investigações; logo, aplica-
se, analogicamente, o prazo do CPP para conclusão de inquérito de indiciado solto - 30 dias).

▪ Fases:
a) Policial ou investigativa;
b) Ministério Público;
c) Judicial.

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a) Fase policial ou investigativa
Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade
policial competente.
Parágrafo único. Havendo repartição policial especializada para atendimento de adolescente e em se tratando de
ato infracional praticado em coautoria com maior, prevalecerá a atribuição da repartição especializada, que, após
as providências necessárias e conforme o caso, encaminhará o adulto à repartição policial própria.

▪ Apreensão do adolescente em situação de flagrância:


a) ato infracional cometido com violência ou grave ameaça: lavratura de auto de apreensão (art. 173, I,
ECA);

b) demais hipóteses de flagrância: a lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de ocorrência
circunstanciada (art. 173, parágrafo único)

▪ Providências a serem adotadas pela autoridade policial:


I – ouvir as testemunhas e o adolescente;
II - apreender o produto e os instrumentos da infração;
III - requisitar os exames ou perícias necessários à comprovação da materialidade e autoria da infração.

▪ Liberação do adolescente infrator (regra)


Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, o adolescente será prontamente liberado pela
autoridade policial, sob termo de compromisso e responsabilidade de sua apresentação ao representante do
Ministério Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato, exceto quando, pela
gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva o adolescente permanecer sob internação para
garantia de sua segurança pessoal ou manutenção da ordem pública.

▪ Não liberação do adolescente infrator (exceção):


o Requisitos: ato infracional grave + repercussão social;
o Finalidade: segurança pessoal do adolescente ou garantia da ordem pública.

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Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade policial encaminhará, desde logo, o adolescente ao representante
do Ministério Público, juntamente com cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência.
§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a autoridade policial encaminhará o adolescente à entidade de
atendimento, que fará a apresentação ao representante do Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas.
§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade policial.
À falta de repartição policial especializada, o adolescente aguardará a apresentação em dependência separada da
destinada a maiores, não podendo, em qualquer hipótese, exceder o prazo referido no parágrafo anterior.

➢ Formas de comunicação ao MP:


a) apresentação imediata do adolescente apreendido e não liberado (24h);
b) apresentação do adolescente apreendido e liberado (no mesmo dia, ou sendo impossível, no primeiro dia útil
imediato);
c) quando não houver situação de flagrância, encaminhamento do relatório das investigações e demais
documentos. - Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver indícios de participação de adolescente na
prática de ato infracional, a autoridade policial encaminhará ao representante do Ministério Público relatório das
investigações e demais documentos.

Obs. Não existe regime de fiança em relação a atos infracionais.

b) Fase do Ministério Público

▪ Oitiva informal
Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante do Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de
apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial, devidamente autuados pelo cartório judicial e com
informação sobre os antecedentes do adolescente, procederá imediata e informalmente à sua oitiva e, em sendo
possível, de seus pais ou responsável, vítima e testemunhas.
Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o representante do Ministério Público notificará os pais ou
responsável para apresentação do adolescente, podendo requisitar o concurso das polícias civil e militar.

❖ A oitiva informal não é condição de procedibilidade;


❖ Ato discricionário do Ministério Público;

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❖ Natureza jurídica: procedimento administrativo que antecede a fase judicial, não se aplicando os
princípios do contraditório e ampla (STJ, 5ªT HC 109242 04/03/2010).
❖ Não realização: ausência de nulidade (STJ);
❖ Ato “informal”;
❖ Presença de advogado: dispensável.

▪ Providências
Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo anterior, o representante do Ministério Público poderá:
I - promover o arquivamento dos autos (quando não houver elementos mínimos para responsabilizar o
adolescente por ato infracional – ex. conduta atípica; ato infracional prescrito; fato inexistente, dentre outros);
II - conceder a remissão (remissão como forma de exclusão do processo);
III - representar à autoridade judiciária para aplicação de medida socioeducativa.

➢ Outras providências passíveis de serem adotadas:


a) Complementação de diligências;
b) Pedido de internação provisória;
c) Suscitar conflito de competência.

▪ Remissão ou arquivamento
Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou concedida a remissão pelo representante do Ministério Público
(como forma de exclusão), mediante termo fundamentado, que conterá o resumo dos fatos, os autos serão
conclusos à autoridade judiciária para homologação.
§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a autoridade judiciária determinará, conforme o caso, o
cumprimento da medida.
§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa dos autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante
despacho fundamentado, e este oferecerá representação, designará outro membro do Ministério Público para
apresentá-la, ou ratificará o arquivamento ou a remissão, que só então estará a autoridade judiciária obrigada a
homologar. (similar ao art. 28, do CPP)

▪ Representação

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Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do Ministério Público não promover o arquivamento ou
conceder a remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária, propondo a instauração de procedimento
para aplicação da medida socioeducativa que se afigurar a mais adequada.
§ 1º A representação será oferecida por petição, que conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato
infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas, podendo ser deduzida oralmente, em sessão diária
instalada pela autoridade judiciária.
§ 2º A representação independe de prova pré-constituída da autoria e materialidade (é necessário, contudo, que
existam indícios mínimos de autoria e materialidade).

➢ Qual o número máximo de testemunhas que podem ser arroladas na representação? Embora exista
divergência, prevalece o entendimento de que podem ser arroladas até oito testemunhas, por analogia
ao art. 401, do CPP.

c) Fase Judicial
▪ Audiência de apresentação – destinada à oitiva do adolescente/responsáveis.

▪ Situações possíveis quanto ao comparecimento do adolescente à audiência de apresentação:

1) Art. 182, § 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade judiciária expedirá mandado
de busca e apreensão, determinando o sobrestamento do feito, até a efetiva apresentação.

2) Art. 187 Se o adolescente, devidamente notificado, não comparecer, injustificadamente à


audiência de apresentação, a autoridade judiciária designará nova data, determinando sua condução coercitiva.

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❖ Audiência de custódia? Não é realizada no âmbito da Infância. O procedimento do ECA já dispõe de rito
próprio, sendo mais benéfico ao adolescente do que o previsto na Res. 213/2015 do CNJ, que disciplina a
audiência de custódia, porquanto possibilita a pronta liberação do adolescente apreendido em flagrante,
tanto pela autoridade policial, quanto pelo MP, prescindindo de intervenção judicial.

❖ Súmula 342, do STJ: No procedimento para aplicação de medida socioeducativa, é nula a desistência de
outras provas em face da confissão do adolescente. – Assim, se o adolescente confessar na audiência de
apresentação, a defesa não pode desistir da instrução.

❖ É possível a figura do assistente de acusação em feito infracional? Não (STJ – REsp 1.089.564-DF, Info 493).

▪ Defesa prévia
Art. 185, § 3º. O advogado constituído ou o defensor nomeado, no prazo de três dias contado da audiência de
apresentação, oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas.

▪ Audiência de continuação
Art. 186, 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas arroladas na representação e na defesa prévia,
cumpridas as diligências e juntado o relatório da equipe interprofissional, será dada a palavra ao representante
do Ministério Público e ao defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos para cada um, prorrogável por
mais dez, a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá decisão.

➢ Defesa técnica obrigatória (mesmo diante da redação do art. 186, § 2°, do ECA).

➢ Realização do estudo pela equipe interprofissional (relatório polidimensional): não é obrigatória para a
prolação da sentença se o juiz dispuser de outros elementos para a fixação da medida socioeducativa (STF
e STJ).

➢ Importante! Ainda que o pedido formulado na representação seja julgado improcedente (“absolvição”),
a Autoridade Judiciária poderá aplicar medidas protetivas, nos moldes do art. 101, do ECA.

SISTEMÁTICA RECURSAL

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A) Procedimentos previstos nos artigos 152 ao 197-E (ação socioeducativa, ação de apuração de irregularidade
em unidade de atendimento, ação de infração administrativa, ação de adoção, ação de destituição/suspensão
do poder familiar): aplicam-se as normas do CPC, com as adaptações previstas nos artigos 198 a 199-E, das quais
destacamos:

Art.198 (...)
I - os recursos serão interpostos independentemente de preparo - Segundo o STJ, há isenção do preparo, SALVO
quando se tratar de pessoa jurídica de direito privado que recorrer perante a Vara de Infância e Juventude (AgReg
em AG 955.493/RJ);
II - em todos os recursos, salvo nos embargos de declaração, o prazo para o Ministério Público e para a defesa
será sempre de 10 (dez) dias;
III - os recursos terão preferência de julgamento e dispensarão revisor;
VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior instância, no caso de apelação, ou do instrumento, no
caso de agravo*, a autoridade judiciária proferirá despacho fundamentado, mantendo ou reformando a decisão,
no prazo de cinco dias (juízo de retratação);

* Obs. O agravo de instrumento será processado perante o Tribunal e, apenas com a juntada da cópia do agravo
no processo, o juiz poderá modificar a sua decisão (art. 1.018, § 1º, do CPC).

✓ Prazo dos embargos de declaração? 5 dias (art. 1003, § 5º CPC).

✓ Prazo em dobro para o MP? Não. Art. 152, § 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos seus
procedimentos são contados em dias corridos, excluído o dia do começo e incluído o dia do vencimento,
vedado o prazo em dobro para a Fazenda Pública e o Ministério Público.

Art. 199-D. Parágrafo único. O Ministério Público será intimado da data do julgamento e poderá na sessão, se
entender necessário, apresentar oralmente seu parecer.

❖ Obs. São cabíveis todos os recursos previstos no art. 994, do CPC.

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B) Ação civil pública e demais ações individuais (arts. 208 e 224): seguem a sistemática do CPC, com as
adaptações do Microssistema Processual Coletivo nas demandas coletivas.

Ex. LACP, Art. 14. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano irreparável à parte.

▪ Prazo para apelação e agravo de instrumento: 15 dias (CPC, art. 1003, § 5º), contado em dobro para o MP,
a FP e a DP (arts. 180, 183 e 186, CPC).

Obs. Incide a técnica de julgamento para decisões não unânimes no âmbito da infância (artigo 942, do Código de
Processo Civil)?

A) 5ª Turma do STJ - admite-se a incidência do art. 942, do CPC, para complementar o julgamento da
apelação por maioria (Info 627);
B) 6ª Turma do STJ – depende:

1) Se a decisão não unânime foi favorável ao adolescente infrator: não se deve aplicar o art. 942
do CPC.

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2) Se a decisão não unânime foi contrária ao adolescente infrator: deve-se aplicar o art. 942 (Info
626).
Obs. 2 – Qual o prazo para colocação do recurso em pauta para julgamento? 60 dias, devendo ser o prazo
fiscalizado pelo Ministério Público.

Ministério Público
▪ Atribuições (rol exemplificativo – art. 201, § 2º: § 2º As atribuições constantes deste artigo não excluem
outras, desde que compatíveis com a finalidade do Ministério Público.)

Art. 201. Compete ao Ministério Público:


I - conceder a remissão como forma de exclusão do processo;
II - promover e acompanhar os procedimentos relativos às infrações atribuídas a adolescentes; (O MP detém
legitimidade exclusiva para a propositura das ações socioeducativas, cuja peça vestibular é a representação)
III - promover e acompanhar as ações de alimentos e os procedimentos de suspensão e destituição do poder
familiar, nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem como oficiar em todos os demais
procedimentos da competência da Justiça da Infância e da Juventude;

Súmula 594 -STJ: “O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de
criança ou adolescente independentemente do exercício do poder familiar dos pais, ou do fato de o menor se
encontrar nas situações de risco descritas no artigo 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente, ou de quaisquer
outros questionamentos acerca da existência ou eficiência da Defensoria Pública na comarca”.

✓ O promotor pode propor ação de alimentos: a) se houver situação de risco, a ação vai tramitar na
Justiça da Infância e da Juventude; b)não havendo risco, tramitará em uma Vara de Família.

Obs.1: Nas ações propostas pelo MP, não há necessidade de nomear curador especial ao infante (STJ).

Obs.2: A competência da Justiça da Infância e Juventude pressupõe a existência de situação de risco (art. 148,
parágrafo único, “a”, “b” e “g”).

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IV - promover, de ofício ou por solicitação dos interessados, a *especialização e a inscrição de hipoteca legal e a
prestação de contas dos tutores, curadores e quaisquer administradores de bens de crianças e adolescentes nas
hipóteses do art. 98;
* O CC/02 substituiu a especialização da hipoteca pela caução (art. 1745).

V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses individuais*, difusos ou coletivos
relativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal;

✓ Interesses individuais? Indisponíveis – PA (Resolução 174/2017 – CNMP).


✓ IC é imprescindível? Não. O MP pode propor diretamente a ação civil pública se já reunir elementos
probatórios suficientes.
✓ Concluídas as investigações, o que fazer? (a) TAC; (b) ACP; (c) recomendação ou (d) arquivamento.

VI - instaurar procedimentos administrativos e, para instruí-los: a) expedir notificações para colher depoimentos
ou esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela
polícia civil ou militar; b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades municipais,
estaduais e federais, da administração direta ou indireta, bem como promover inspeções e diligências
investigatórias; c) requisitar informações e documentos a particulares e instituições privadas;

• Resolução 174/2017 – CNMP: Os procedimentos administrativos podem ter os seguintes objetos: I –


acompanhar o cumprimento das cláusulas de TAC; II – acompanhar e fiscalizar políticas públicas ou
instituições; III – apurar fato que enseje a tutela de interesses individuais indisponíveis; IV – embasar
outras atividades não sujeitas a inquérito civil.

VII - instaurar sindicâncias (no âmbito criminal, instaura-se um PIC – Res 181/2017, CNMP), requisitar diligências
investigatórias e determinar a instauração de inquérito policial, para apuração de ilícitos ou infrações às normas
de proteção à infância e à juventude (STF: admite investigação de crime sexual contra adolescente pelo MP);
VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados às crianças e adolescentes, promovendo
as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis (ex. expedição de recomendação);
IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e habeas corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal, na
defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à criança e ao adolescente; (STJ: MS solicitando
vaga em creche)

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X - representar ao juízo visando à aplicação de penalidade por infrações cometidas contra as normas de proteção
à infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da responsabilidade civil e penal do infrator, quando cabível;
(Infrações administrativas: arts. 245 a 258-C do ECA – podem ser deflagradas pelo MP ou pelo CT).
XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os programas de que trata esta Lei,
adotando de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias à remoção de irregularidades porventura
verificadas; (Res. 67/11 e 71/11 – CNMP – impõem a obrigação aos Membros do MP de inspecionarem
periodicamente as instituições de acolhimento institucional e cumprimento de medidas de internação e
semiliberdade)
XII - requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços médicos, hospitalares, educacionais e de
assistência social, públicos ou privados, para o desempenho de suas atribuições (ex.: condução coercitiva;
prontuário médico; relatórios de acompanhamento social, dentre outros.)

▪ FISCAL DA ORDEM JURÍDICA


Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não for parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na
defesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipótese em que terá vista dos autos depois das partes,
podendo juntar documentos e requerer diligências, usando os recursos cabíveis.

Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qualquer caso, será feita pessoalmente.

▪ Nulidade relativa
Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício
pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.

➢ Essa nulidade é relativa (STJ) - CPC Art. 279, § 2º A nulidade só pode ser decretada após a intimação do
Ministério Público, que se manifestará sobre a existência ou a inexistência de prejuízo.

Obs. Se os interesses da criança e adolescente forem preservados, a ausência de manifestação em 1º grau poderá
ser suprida pela manifestação em 2º grau.

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