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CONTOS

QUE
OUVI
O NAVIO DE PEDRA
Era sexta feira, final de dia, me sentei no banco embaixo de uma mangueira, isso eram umas quatro horas da tarde, fiquei ali
a observar o rio que bailava com suas ondas com o passa do vento sobre as águas, olhava a gaivota e a ariramba que
sobrevoavam a beira do rio na tentativa de apanhar uma berere, as horas se passavam e já quase de tardezinha, se
aproximou um senhor por nome Antonio, cujo apelido era pixaxau, um senhor de idade que suspirara inveja pela sabedoria
que carregava em sua memória.

Começamos a conversar sobre as coisas que já haviam deixado de existir naquele belo lugar bem distante da cidade, mas
que apresentava ainda uma beleza exuberante feito por Deus e dado de presente ao homem, ele me falava dos igarapés,
das cabeceiras de rio, das nascentes, onde brotava a água que trazia vida e alimento aqueles ribeirinhos, lugar onde criou
seus filhos com a divina graça do céu.

Depois de muito me narrar a beleza daquele lugar, lembrou de uma de suas andanças em busca de alimento para o sustento
de sua família, em uma noite de madrugada saiu de sua casa, embarcou em seu casco feito de itaúba, e remou ate o destino
de uma cabeceira de rio, muito acima de um lugar chamado Varre Vento, onde eram aproximadamente dois dias de viagem a
remo, este lugar era farto de caça e peixe, esta era uma das razões o qual fazia percorrer toda aquela distancia, pois sabia
que ali encontraria alimento com fartura para o sustento de seus filhos.

Remou incansavelmente, sempre fumando um porronca tecido na palha do tauari e tirando gosto de vez em quando com um
gole de café, justo aquilo que lhe dava a tal paciência para não sentir a tão longa viagem, depois de muito remar chegou à
metade de seu destino, amarrou seu casco agasalhou seu remo, pegou sua boroca, sua espingarda, seu caniço, arpoeira,
flecha e caminhou mais um dia mata adentro, as vezes parava sentava pelo toco do pau que encontrava no caminho que lhe
se servia de banco para descançar.
Lá pelo cair da tarde já no terceiro dia de viagem, finalmente chegou ao lugar desejado, amarrou sua rede no moitar feito de
jará do igapó, ali se deitou e dormiu para que no dia seguinte pudesse realizar sua jornada.

Ao raiar do sol, se levantou orou e se recomendou a Deus, caminhou pela capoeira baixa e adentrou na mata fechada onde
se ouvia o canto dos pássaros de varias espécies, o canto da guariba que pulavam de uma árvore para outra se escondendo
de seu predador, a cada caminho que abria deixava sua marca nas árvores com o golpe de seu facão afiado, para que não
perdesse o seu caminho de volta.

Muitos passos foram dados, chegou ao lago onde escorria uma água fria, parecia vinda de uma nascente de rio, resolveu
caminhar em direção de onde vinha à água, cada vez o som se tornava mais nitido, tinha a impressão que estava se
aproximando de uma cachoeira, o barulho aumentava cada vez mais, parou um pouco lavou o rosto e bebeu água, fez mais
um de seus porronca fumou, levantou e andou mais uns metros de chão e se deparou com algo que nunca tinha visto. Uma
grande pedra que tinha um formato de um navio e ao seu redor a água passava dando a entender de que vinha navegando
em sua direção, ficou hora olhando aquela maravilha tão deslumbrado, pois ele nunca havia visto em todo o seu tempo de
caçada e pescaria algo tão interessante, na parede da pedra haviam samambaias que ele descreveu como o cabelo verde
do navio, depois de muito observar resolveu voltar fazendo o mesmo trajeto de volta, porem não esquecia de sua descoberta.

Ao chegar a sua casa narrou tal fato a sua família e vizinhos que achavam que ele estava contando uma grande mentira, mas
afirmava entusiasmado o que tinha visto e a partir daquele dia passou a levar os amigos que duvidavam de sua história que
segundo ele e outros que já passaram por ali dizem que ainda existe no mesmo lugar, esperando quem queira percorrer a tal
distancia e ver de perto para contar de certo a existência do grande navio de pedra, que vive escondido no centro da mata,
sem comandante ou capitão, sem passageiro ou tripulante, vive lá em lugar tão distante.
O Rasto da Tapiraiauara

Este conto ouvi sentada em um toco na cabeceira de uma mesa pelo senhor Emanuel Arruda, na época em que narrou essa
historia, ainda era lúcido, sábio, um homem de gênio forte e muito decidido, daqueles que não tinha medo de nem um tipo de
visage ou misura.

Já bem próximo da semana santa, seu Emanuel e seu amigo Nicolau, saíram em uma canoa chamada montaria, coberta com
japá de palha preta e seus enormes remos feito de costaneira da sapupema do igapó, como mantimento tinham em um
paneiro empalhado; açúcar, guaraná em bastão, língua de pirarucu, sal, farinha de mandioca toco molhe, beiju, rede,
espigarda, tabaco, papelinho e muita munição que era negociada com regatão que freqüentava aquela região do rio maués
miri, o destino era justamente a cabeceira do molongozal, um lugar distante onde não havia nenhum morador.

Depois de muito navegarem em sua canoa enorme,

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