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ANÁLISE DA CONECTIVIDADE NO MEIO RURAL: ACESSO À

INFORMAÇÃO, ATER E FIXAÇÃO DO JOVEM NO CAMPO

Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz – FEALQ

Produto 1/4: Relatório técnico contendo a análise territorial da disponibilidade e


qualidade da internet no meio rural no contexto do médio produtor rural e das
instituições que atuam para a promoção do desenvolvimento rural sustentável, com
vistas a categorização do território brasileiro, de modo a possibilitar a melhor
compreensão dos fatores que interferem na conectividade rural.

Este produto foi realizado no âmbito do Projeto de Cooperação Técnica


IICA/BRA/02/2015 – “Projeto de Cooperação Técnica Internacional para a
Regionalização das Políticas de Desenvolvimento do Agronegócio e do Cooperativismo
Brasileiros” em contrato celebrado entre CONTRATANTE e CONTRATADA.

Execução:

Contratante:

IICA - Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura


MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Piracicaba, novembro de 2018


Análise da conectividade no meio rural: acesso à informação, ATER e
fixação do jovem no campo

APRESENTAÇÃO

Este relatório constitui o primeiro produto do estudo denominado “Análise da


conectividade no meio rural: acesso à informação, ATER e fixação do jovem no campo” e
visa apresentar a análise territorial da disponibilidade e qualidade da internet no meio rural
no contexto do médio produtor rural e das instituições que atuam para a promoção do
desenvolvimento rural sustentável. A finalidade dessa análise territorial é, a partir da
sistematização de informações sobre a disponibilidade e o tipo de acesso à internet no
território nacional, da identificação, caracterização e localização espacial das áreas de
maior presença e atuação dos médios produtores, proporcionar subsídios para a melhor
compreensão da conectividade rural, com foco nesse público. A expectativa é que a
análise geoespacial de multicritério identifique pontos fracos da conectividade,
possibilitando que a proposição de ações em políticas públicas de ATER e de inovação
tecnológica esteja amparada em condições reais de exequibilidade.

Esse estudo teve origem no objetivo geral do Ministério da Agricultura Pecuária e


Abastecimento (MAPA) de analisar espacialmente o contexto da disponibilidade de
conectividade (acesso à internet) no meio rural, visando ampliar o acesso do médio
produtor às inovações tecnológicas e promover a integração das diversas instituições que
atuam para fomentar o desenvolvimento rural, como as escolas técnicas, as instituições
de assistência técnica e extensão rural (ATER) e de pesquisa, dentre outras. Partindo
desta orientação abrangente, o estudo que se desdobra em 4 (quatro) produtos distintos,
a fim de atender aos seguintes objetivos específicos: (i) espacializar os dados que
ilustrem a disponibilidade e tipo da conectividade no meio rural; (ii) elaborar a análise
territorial da disponibilidade e qualidade da internet no meio rural por meio de informações
secundárias disponíveis; (iii) analisar o contexto do médio produtor rural, das instituições
de ensino (escolas técnicas rurais), de pesquisa e de prestação de serviços de
assistência técnica, com relação à cobertura disponibilizada; (iv) analisar programas e
projetos existentes no Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações -
MCTIC e outros ministérios e órgãos governamentais que tenham relação com o tema da
conectividade no meio rural; (v) promover a articulação entre o MCTIC e o MAPA para
estimular a melhoria da conectividade no meio rural; (vi) realizar a avaliação qualitativa
das condições existentes para a promoção de conectividade de qualidade nas áreas
rurais; (vii) elaborar proposições visando a ampliação da conectividade no campo e na
rede de instituições voltadas para a promoção do desenvolvimento rural sustentável.

1
Especificamente, para atingir uma parcela dos objetivos preconizados para o estudo
completo, este primeiro produto está estruturado para, em seu capítulo 1, oferecer ao
leitor uma compreensão do contexto da realização do estudo e dos seus objetivos,
justificativas e metodologias. O capítulo 2 apresenta as bases conceituais utilizadas no
estudo, abordando as terminologias, definições, tipos de acesso à internet em banda larga
e usos previstos que integram o escopo do estudo, buscando inserir o leitor no tema da
conectividade. O capítulo 3 trata da velocidade e cobertura das conexões disponíveis. O
capítulo 4 está direcionado para construir um retrato sobre a situação da conexão no meio
rural, considerando por um lado, a base de dados do Censo Agropecuário 2017, e por
outro, uma modelagem espacial nova, construída pelo Geolab para este estudo,
possibilitando discutir algumas correlações da conectividade com temas de relevância
para a produção agropecuária. No capitulo 5 o enfoque é o da demanda, sendo
levantados aspectos das necessidades dos médios produtores e a distribuição territorial
das áreas prioritárias para as ações do MAPA, possibilitando a categorização desses
territórios, de modo a melhor compreender os fatores que interferem na conectividade
rural, um dos objetivos centrais deste produto. O capítulo 6 apresenta alguns resultados
com relação à conectividade em escolas rurais e instituições de prestação de serviços de
ATER no meio rural. O capítulo 7, por fim, apresenta as considerações finais desta etapa
inicial do estudo.

Esse compêndio de informações contido no Produto 1 permitirá, através da análise de


suas interfaces, avaliar a disponibilidade de conectividade no meio rural, fornecendo
subsídios para a formulação adequada de políticas que requeiram esse insumo para
serem disseminadas aos médios produtores. Importante destacar que este produto
representa apenas o passo inicial da realização do estudo em questão, mas que
contribuirá para que haja a sistematização inicial de dados, informações e conhecimentos
para que o MAPA possa se inserir na formulação de ações, tanto no âmbito
governamental quanto privado, que contribuam para a melhoria da qualidade da
conectividade no meio rural, que hoje representa um fator relevante para a qualidade de
vida e para estímulo à permanência do jovem no campo.

Prof. Gerd Sparovek


Coordenador do Estudo

2
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................8
2 BASES CONCEITUAIS QUE ORIENTAM O ESTUDO ................................................................................................... 10
2.1 Internet em banda larga ............................................................................................................................... 11
2.2 Terminologias relacionadas à internet em banda larga .......................................................................... 12
2.3 Formas de acesso à internet em banda larga .......................................................................................... 16
Conexão de banda larga fixa ...................................................................................................................... 16
Conexão de banda larga sem fio ................................................................................................................ 17
2.4 Aplicações rurais que necessitam de internet em banda larga de qualidade ..................................... 18
3 COBERTURA E VELOCIDADE DA CONEXÃO À INTERNET NO BRASIL ....................................................................... 22
3.1 Banda larga fixa ............................................................................................................................................ 22
3.2 Telefonia móvel ............................................................................................................................................. 24
4 RETRATO DA CONEXÃO NO MEIO RURAL ............................................................................................................... 29
4.1 O que apontam os dados do Censo Agropecuário 2017 ....................................................................... 29
4.2 Conexão no meio rural segundo modelagem espacial ........................................................................... 36
Dados de entrada do modelo (inputs) e metodologia de processamento ................................................ 37
Passo 1: consolidação do banco de dados geográfico das antenas ........................................................... 38
Passo 2: categorização das antenas em função da frequência .................................................................. 39
Passo 3: Cálculo espacial da potência recebida de sinal ............................................................................ 42
Passo 4: Categorização dos sinais............................................................................................................... 43
4.3 Resultados ..................................................................................................................................................... 44
Qualidade da cobertura 2G, 3G e 4G ......................................................................................................... 44
Uso do solo vs. disponibilidade de sinal ..................................................................................................... 50
5 O MÉDIO PRODUTOR E A CONEXÃO NO MEIO RURAL ........................................................................................... 53
5.1 O conceito de médio produtor rural............................................................................................................ 53
5.2 O médio produtor e a conexão no meio rural: dados do Censo Agropecuário 2006 ......................... 56
5.3 A demanda por conexão pelo médio produtor: resultados de pesquisa de campo ........................... 59
5.4 Áreas prioritárias para as ações voltadas à conectividade no meio rural ............................................ 63
5.5 Microrregiões prioritárias para direcionar as ações voltadas ao médio produtor rural ...................... 66
5.6 Síntese das microrregiões selecionadas e situação quanto à conectividade do meio rural ............. 68
6 INSTITUIÇÕES QUE ATUAM PARA PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL:
CONDIÇÕES DE CONEXÃO À INTERNET ........................................................................................................................ 83
6.1 Escolas rurais ................................................................................................................................................ 84
6.2 Escolas Rurais Técnicas.............................................................................................................................. 86
6.3 Instituições de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) ............................................................. 87
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................................................... 90
3
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Correlação do percentual de estabelecimentos no município com acesso à internet, que


recebem ATER, associados a cooperativas e sem acesso à informação técnica em 2017 ........... 31

Tabela 2. Número médio de empresas de telefonia por município e tecnologia de internet móvel
..................................................................................................................................................... 32

Tabela 3. Número de estabelecimentos sem acesso à internet ................................................... 33

Tabela 4. Caracterização da produção agropecuária por UF em relação ao percentual de


estabelecimentos. Estimativa conforme o Censo Agropecuário 2017, em percentual (%) ............ 35

Tabela 5. Dados da distribuição de antenas no Brasil .................................................................. 39

Tabela 6. Percentual de sinal excelente nos territórios estaduais ................................................. 46

Tabela 7. Distribuição do sinal de 4G em cada região e uso do solo ............................................ 51

Tabela 8. Cobertura e qualidade do sinal disponível para os médios produtores.......................... 58

Tabela 9. Correlação do percentual de médios produtores na UF com variáveis selecionadas .... 62

Tabela 10. Síntese das microrregiões selecionadas para as ações de ATER na região Norte ..... 73

Tabela 11. Síntese das microrregiões selecionadas como prioritárias para as ações de ATER na
região Nordeste ............................................................................................................................ 74

Tabela 12. Síntese das microrregiões selecionadas como prioritárias para as ações de ATER na
região Centro-Oeste ..................................................................................................................... 75

Tabela 13. Síntese das microrregiões selecionadas para as ações de ATER na região Sudeste . 77

Tabela 14. Síntese das microrregiões selecionadas como prioritárias para as ações de ATER na
região Sul ..................................................................................................................................... 79

Tabela 15. Síntese das UFs com microrregiões prioritárias para as ações de ATER ................... 82

4
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Diagrama da rede de internet e seus componentes ...................................................... 12

Figura 2. Diagrama de pares de ligações backbones internacionais e no Brasil em 2008 ............ 14

Figura 3. Municípios com estrutura em fibra ótica para internet ................................................... 15

Figura 4. Diagrama de representação das possibilidades de conexão de banda larga fixa .......... 16

Figura 5. Diagrama representativo da conexão de banda larga via satélite .................................. 17

Figura 6. Diagrama ilustrativo das conexões 3G ou 4G/LTE, entre usuários e operadoras .......... 18

Figura 7. Elementos envolvidos na agricultura de precisão e na conexão de banda larga ........... 19

Figura 8. Ciclos e relações considerando a internet das coisas e a agricultura digital,


considerando os vínculos entre as atividades de campo e os processos de gestão dos sistemas
agropecuários ............................................................................................................................... 20

Figura 9. Tipos de tecnologia de conexão, suas características distintivas principais e velocidades


de transmissão de dados .............................................................................................................. 21

Figura 10. Mapa de acessos de Banda Larga Fixa por mil habitantes em 2007 e comparativo
2018. Distribuição de quantil de 2007 ........................................................................................... 23

Figura 11. Mapas de acessos de Banda Larga Fixa por mil habitantes 2007 e 2018. Distribuições
de quantil 2007 e 2018, respectivamente ...................................................................................... 23

Figura 12. Conexão de Banda Larga Fixa, set. 2007 e set. 2018 ................................................. 24

Figura 13. Mapa de acessos de Telefonia Móvel por habitantes em 2009 e comparativo 2018.
Distribuição de quantil de 2009 ..................................................................................................... 25

Figura 14. Mapas de acessos de Telefonia Móvel por habitantes 2009 e 2018. Distribuições de
quantil de 2009 e 2018, respectivamente ...................................................................................... 25

Figura 15. Conexão de Telefonia Móvel, set. 2009 e set. 2018 .................................................... 26

Figura 16. Cobertura municipal de rede celular 3G e 4G em 2017 ............................................... 27

Figura 17. PIB per capita e densidade populacional em 2015 ...................................................... 28

Figura 18. Conectividade, vínculo a associações, ATER e acesso à informação técnica nos
estabelecimentos agropecuários em 2017 .................................................................................... 30

Figura 19. Número de empresas de telefonia atuantes por município e tecnologia de rede móvel
em 2017........................................................................................................................................ 32

5
Figura 20. Quantidade de estabelecimentos e conectividade em 2017 ........................................ 33

Figura 21. Esquematização gráfica da modelagem espacial de disponibilidade e qualidade da


internet no meio rural .................................................................................................................... 37

Figura 22. Fluxograma do cálculo espacial do sinal de cada tecnologia....................................... 38

Figura 23. Distribuição espacial das 81.282 estações do Brasil. Cada ponto vermelho
transparente representa uma estação. O vermelho mais intenso representa maior concentração de
antenas próximas.......................................................................................................................... 39

Figura 24. Estações 2G no Brasil. Cada ponto vermelho transparente representa uma estação. O
vermelho mais intenso representa maior concentração de antenas próximas ............................... 40

Figura 25. Estações 3G no Brasil. Cada ponto vermelho transparente representa uma estação. O
vermelho mais intenso representa maior concentração de antenas próximas ............................... 41

Figura 26. Estações 4G no Brasil. Cada ponto vermelho transparente representa uma estação. O
vermelho mais intenso representa maior concentração de antenas próximas ............................... 41

Figura 27. Superfície de cobertura da tecnologia 2G ................................................................... 44

Figura 28. Superfície de cobertura da tecnologia 3G ................................................................... 44

Figura 29. Superfície de cobertura da tecnologia 4G ................................................................... 45

Figura 30. Percentual de classes da conexão 2G por região ....................................................... 47

Figura 31. Percentual de classes da conexão 3G por região ....................................................... 47

Figura 32. Percentual de municípios com cobertura excelente de 4G, por região ........................ 48

Figura 33. Classificação dos municípios brasileiros quanto ao sinal excelente de 4G. Dentre os
municípios que possuem alguma de sinal excelente de 4G, uma divisão foi feita. A metade que
possui menor percentual de cobertura está representada pela cor amarela e a que possui maior
percentual, pela cor verde............................................................................................................. 49

Figura 34. Mapa de uso do solo 2017 .......................................................................................... 50

Figura 35. Representação: classes de produtores (IBGE), acesso a crédito rural (Pronaf e
Pronamp) e perfis de médios produtores ...................................................................................... 55

Figura 36. Distribuição espacial dos estabelecimentos que compuseram o universo ampliado de
médios produtores no Brasil, por microrregião .............................................................................. 55

Figura 37. A - Percentual de médios produtores (NÃO-FAMILIAR MÉDIO) sem sinal pelo menos
regular de 4G. B – Percentual de estabelecimentos de NÃO-FAMILIAR MÉDIO nos municípios
brasileiros ..................................................................................................................................... 56

6
Figura 38. Acesso à conectividade por médios produtores .......................................................... 60

Figura 39. Finalidade do uso da internet por médios produtores .................................................. 60

Figura 40. Finalidade do uso do celular por médios produtores ................................................... 61

Figura 41. Preferência dos médios produtores por canais de comunicação com o MAPA ........... 61

Figura 42. Distribuição dos estabelecimentos de médios produtores prioritários para as ações de
ATER, por microrregião no Brasil .................................................................................................. 65

Figura 43. Síntese do levantamento do público alvo para as ações de ATER a serem fomentados
pelo MAPA .................................................................................................................................... 66

Figura 44. Distribuição espacial do Pronamp, conforme concentração do número de contratos


entre as safras de 2013/14 até 2016/17, por microrregião no Brasil ............................................. 67

Figura 45. Microrregiões prioritárias para a atuação do MAPA junto aos médios produtores rurais
..................................................................................................................................................... 67

Figura 46. Escolas atendidas por rede móvel, satélites, percentual de escolas com internet e
média de computadores para os alunos em 2017 ......................................................................... 85

Figura 47. Escolas rurais sem energia elétrica em 2017 e o desenvolvimento municipal ............. 86

Figura 48. Percentual de escolas rurais técnicas com acesso a internet e média de computadores
para os alunos em 2017................................................................................................................ 87

Figura 49. Conectividade e desenvolvimento regional.................................................................. 89

7
1 INTRODUÇÃO

O acesso à conexão de banda larga abre diversas possibilidades relacionadas


ao desenvolvimento do meio rural, tais como a inclusão social, otimização de
processos produtivos, educação e informação, qualidade de vida e
entretenimento, segurança e bem-estar, resultando em maiores e melhores
oportunidades para a população rural, tanto em termos econômicos, quanto
sociais.

Em regiões de baixa densidade populacional, como é o caso de muitas áreas


rurais remotas ou de difícil acesso, o oferecimento de conexões de dados de
alta velocidade ainda é uma exceção, uma vez que a tecnologia atualmente
disponível restringe o alcance das antenas de retransmissão terrestres a
poucos quilômetros. As soluções para esse problema requerem grandes
investimentos em infraestrutura, os quais são, em geral, de baixo e lento
retorno, em face da demanda limitada.

Este estudo se dá no contexto do interesse do MAPA em articular saberes de


outros segmentos da gestão pública, academia e setor privado, lançando luzes
sobre eventuais soluções para os problemas enfrentados pelos produtores
rurais. O maior acesso à banda larga, a ampliação da conectividade rural, a
implantação de estações de retransmissão de banda larga, que sirvam à
realidade das áreas rurais e possibilitem construir soluções para áreas ainda
não adequadamente cobertas, se inserem neste contexto. Somente com a
realização de estudos desse tipo será possível avaliar as necessidades e
potencialidades tecnológicas, as formas de parceiras e os modelos de negócios
viáveis, inclusive envolvendo parcerias público privadas (PPP), que permitam
ampliar a conexão das áreas rurais e remotas, em situações em que se justifica
a intervenção pública.

A conectividade rural permite perceber o potencial da internet como ferramenta


para o crescimento pessoal e profissional de quem vive da agropecuária, bem
como dos avanços possíveis no desempenho da produção, da produtividade e
da rentabilidade, dentre outros fatores. Em suma, trata-se de desenvolver na
comunidade a capacidade de entender como a conectividade pode melhorar a
sua qualidade de vida, uma vez que não se pode medir o nível de
conectividade de uma população simplesmente pelo acesso e uso da internet,
mas pelos impactos econômico, social, cívico e cultural que são gerados.

A realização deste estudo está voltada para a questão da conectividade rural e


as possibilidades de aplicações dela resultantes, sendo consideradas
principalmente:

8
1) Agricultura de Precisão: a agricultura de precisão e os sistemas
de piloto automático são tecnologias de produção agropecuária que
permitem a redução e utilização mais racional de insumos, diminuindo
assim impactos ambientais. No entanto, o custo da tecnologia ainda
restringe a sua adoção, de forma mais abrangente. Parte deste custo
vem da necessidade de um sinal de GPS com correção diferencial em
tempo real. Sistemas capazes de oferecer este sinal com cobertura em
grandes áreas podem evitar que cada produtor, isoladamente, invista em
estações-base e retransmissoras.

2) Educação e apoio ao desenvolvimento escolar: muitas escolas


rurais ainda não têm acesso a internet, o que limita o aprendizado dos
alunos, o trabalho dos educadores e a atualização dos conteúdos
escolares.

3) Integração das ações de assistência técnica e extensão rural -


ATER: regiões com maior demanda por ATER podem se beneficiar de
conexão mais abrangente de dados, para os trabalhos de atendimento
aos produtores rurais e comunicação com a rede.

A contribuição do estudo se vincula ao ajuste das intervenções da Secretaria


da Mobilidade Social, do Produtor Rural e do Cooperativismo – SMC/MAPA
para o desenvolvimento de instrumentos de políticas públicas agropecuárias
estratégicas e de longo prazo, que possibilitem a atualização e ampliação de
conhecimentos e informações nessa temática e gerem insumos capazes de
apoiar uma ação consistente do MAPA para a conectividade rural, visando,
sobretudo, oferecer suporte para as ações de ATER que ora estão sendo
implementadas em diversas unidades da federação.

9
2 BASES CONCEITUAIS QUE ORIENTAM O ESTUDO

O termo “conectividade” utilizado neste estudo diz respeito à capacidade (de


um computador, programa, equipamento, etc.) de operar em ambiente de rede,
conectando-se e trocando dados (em maior ou menor velocidade, eficiência,
etc.) através da ligação com a internet1. A aplicação deste conceito ao meio
rural busca explorar o potencial que o acesso a um grande volume de
informações externas à rede geradora, tais como pragas e doenças de plantas,
dados de operação de máquinas e implementos, informações de estações
climáticas e meteorológicas e uma outra infinidade de dados que podem hoje
ser disponibilizados para os produtores rurais, sejam processados em conjunto,
abrindo novas perspectivas para que as operações realizadas na produção
agropecuária e no dia a dia no meio rural ganhem em eficácia e eficiência,
melhorando a vida no campo. Com a evolução extremamente rápida de
aplicativos, sensores, programas, softwares, hardwares e outros, a quantidade
de informações que podem ser geradas e trabalhadas (processadas) aumentou
grandemente (inclusive para a agricultura), o que exige que a capacidade e o
volume do tráfego de informações aumentem muito.

Nesse sentido, é necessário explicitar alguns conceitos ligados à internet e


temas que dela emergem, vinculados à agricultura, passando pelas formas de
comunicação (conectividade) que podem ser estabelecidas com esta rede. A
internet, que no seu surgimento era utilizada apenas por governos e para fins
acadêmicos, posteriormente foi ganhando escala e amplitude de usos, ficando
disponível para todas as residências e empresas do mundo (como é
atualmente).

Dessa forma, a internet passou a ser constituída por milhões de redes


privadas, presentes em órgãos do governo, residências, institutos militares,
bibliotecas, empresas, universidade, entre outros locais, incluindo a área da
agricultura e meio ambiente. As tecnologias inicialmente empregadas para
conexão eram discadas, via linha telefônica (dial up), caracterizadas pelo baixo
fluxo no recebimento e envio de dados. Com o crescimento do uso
generalizado da internet, do volume de dados e informações que circulam na
rede, a qualidade da conexão tornou-se um indicador de grande relevância,
tornando-se importante contar com conexões robustas, capazes de transmitir e
receber grandes volumes de dados com velocidade. Esse processo provocou o
surgimento da internet banda larga.

1 O significado de Internet é a rede mundial de computadores, ou seja, um conglomerado de


redes interligadas que permite o acesso e troca de informações em qualquer lugar do planeta.
Isso é possível através de um conjunto de protocolos chamados TCP/IP.

10
2.1 Internet em banda larga

Atualmente o termo “banda larga” (broadband) é mundialmente utilizado, sendo


referência para a caracterização de um serviço de acesso à internet através de
tecnologias avançadas, mas não há um conceito universalmente aceito em sua
totalidade. A velocidade tem sido o elemento mais comum para definir se uma
conexão pode ou não ser considerada “banda larga”, uma vez que representa o
fator mais facilmente percebido pelo usuário, na sua experiência prática ao
acessar e utilizar a rede para atividades diversas, como visualizar todos os
itens (textos, tabelas, imagens etc.) de um website, enviar um e-mail ou baixar
um arquivo on-line, expressando as limitações concretas de uso da rede em
atividades do dia a dia.
O Quadro 1 traz uma relação entre diferentes tipos de utilizações, a velocidade
da conexão e o tempo necessário para finalizar determinadas tarefas.
Quadro 1. Tempo necessário para baixar conteúdo on-line em diferentes
velocidades de conexão

Fonte: Broadband Comission (2010).

A velocidade proporcionada pela conexão de banda larga se refere à


capacidade de um serviço de conexão em enviar e receber os conteúdos
digitais, numa dada unidade de tempo. Usualmente a medição se dá em
kilobits por segundo (kb/s, kbit/s ou kbps), megabits por segundo (Mb/s, Mbit/s
ou Mbps) ou gigabits por segundo (Gb/s, Gbit/s ou Gbps). A velocidade serve
para caracterizar a banda larga ao usuário final, ainda que não haja um
consenso sobre a velocidade mínima a ser considerada. Geralmente, as
agências reguladoras, órgãos governamentais, organismos multilaterais e
pesquisadores têm adotado valores acima de 200 kb/s, sendo 256 kbit/s (em
pelo menos uma das direções) a linha de base mais comum comercializada
como “banda larga” no mundo. O Brasil ainda não tem uma regulamentação
que indique qual é a velocidade mínima para uma conexão ser considerada de
banda larga.

11
No entanto, esta velocidade de conexão que era plausível no início do século
XXI já é considerada defasada para que o usuário utilize a rede de modo
satisfatório. O surgimento progressivo de novos aplicativos on-line e a
expansão do conteúdo multimídia (vídeo, voz, jogos, animação, transmissões
em streaming, etc.) tornou este número rapidamente obsoleto. Embora ao final
da primeira década uma velocidade de 10 Mb/s fosse razoável para um usuário
comum, esta taxa também já nasceu condenada a se defasar rapidamente.
Tendo em vista este problema, a definição sobre o que é banda larga passou a
considerar mais elementos qualitativos e menos quantitativos. No Programa
Nacional de Banda Larga (PNBL), o conceito de acesso à banda larga
estabeleceu:

[...] um acesso com escoamento de tráfego tal que permita aos consumidores
finais, individuais ou corporativos, fixos ou móveis, usufruírem, com qualidade,
de uma cesta de serviços e aplicações baseada em voz, dados e vídeo (Brasil,
2010, p. 24).

2.2 Terminologias relacionadas à internet em banda larga

Para harmonizar a compreensão sobre alguns termos relacionados à internet


em banda larga que serão usados ao longo da realização do presente estudo,
apresentamos, de forma simplificada, pois existem variantes desse modelo, um
diagrama que ilustra os seus elementos (Figura 1).

Figura 1. Diagrama da rede de internet e seus componentes

Rede de internet – usuário conexão sem fio


Satélite

Frequência (Hz)
de Conexão
Roteadores
Usuários

Operadora
Provedor de Rede IP
acesso à
internet

Provedor de
serviço
Backbone

Fronthaul Backhaul

Fonte: elaboração própria

12
Backbone: significa “espinha dorsal” e, por analogia, leva este mesmo
sentido para as telecomunicações, referindo-se à rede central, a infovia
principal que possibilita o tráfego pesado de dados (fibra ótica). Os
backbones são pontos das redes que compõem o núcleo das redes de
Internet. São pontos principais da internet que distribuem pelas redes as
informações baseadas na tecnologia TCP/IP. Existem diferentes níveis
backbones espalhados pelo mundo, e estes são os responsáveis por
distribuir o acesso mundial para a rede de internet.

O backbone é o responsável por enviar e receber dados entre diferentes


locais, dentro ou fora de um país. Esta enorme espinha dorsal é dividida
em menores partes com o objetivo de impedir que o tráfego e a
transmissão sejam lentos. Existem backbones de ligação
intercontinental, que são derivados dos backbones internacionais,
enquanto que os backbones nacionais são derivados dos backbones
internacionais (Figura 2). A seguir são apresentados os principais
backbones de Internet existentes no Brasil2:

 Nacionais - Embratel, Rede Nacional de Pesquisa (RNP),


Oi, KDD Nethal, Comsat Brasil, Level 3 (Impsat/Global
Crossing), AT&T, NTT, UOL Diveo, CTBC, Mundivox do Brasil,
Telefonica e TIM Intelig;

 Estaduais - ANSP (SP), Rede Norte-riograndense de


Informática (RN), Rede Pernambuco de Informática (PE), Rede
Rio (RJ), Rede Tchê (RS) e REMAV (Redes Metropolitanas de
Alta Velocidade).

Provedor de serviço: os dados da Internet que trafegarão na rede


necessitam de um meio para o seu transporte até os usuários, e são as
empresas provedoras de serviço as responsáveis por este papel. Estas
empresas recebem os dados do provedor de acesso e distribuem aos
usuários por fibra ótica ou via rádio (por tecnologia sem fio). Estas
empresas devem sempre ser regulamentadas pela ANATEL e podem
ser prestadores de serviço de rede, companhias telefônicas e empresas
de telecomunicações.

2
Fonte: www.teleco.com.br/tutoriais/tutorialinter/pagina_4.asp

13
Figura 2. Diagrama de pares de ligações backbones internacionais e no Brasil
em 2008

Topologia dos backbones de internet no Brasil


Marcelo Paiva da Motta

Figura 1 – Pares de ligações backbones no Brasil – 2008

Fonte: https://www.submarinecablemap.com/ (internacional)


com um número e Atlaspodem
ligações alto. Também brasileiro
as- das telecomunicações,
grande número empresas que realizam ligações di-
2009. sumir posição central nós que servem de ponte entre retas com São Paulo, o nó principal do conjunto da
duas partes mais periféricas da rede, representadas rede. Nesse sentido, Belo Horizonte pode ser caracte-
em lados opostos do grafo. Os nós restantes tendem rizado como um vértice de passagem entre as regiões
Backhauls: que também são infovias de alta capacidade, consistem em
a tomar uma forma circular em torno do núcleo da Nordeste e Sudeste, de um lado, e o Nordeste e o
rede. A partir do resultado automático, o ajuste
o fin Centro-Oeste, por outro, possuindo uma quantidade
ligações secundárias, isto é, fazem a conexão entre o núcleo da rede
da posição dos nós foi realizado manualmente. variada de ligações com outras capitais, enquanto
(backbones)/provedor de acesso e as subredes periféricas (provedor de
São Paulo destaca-se como o nó com maior Curitiba permanece com maior centralização em São
grau, isto é, o maior número de ligações diretas (73) Paulo.
serviço). Para facilitar a compreensão do seu papel e significado, podem
em relação aos outros vértices. É seguido pelo Rio Também é possível perceber nós com graus

ser consideradas análogas ao papel que as “vicinais” desempenham no


de Janeiro com 48, Belo Horizonte com 43, Curitiba
com 37 e Brasília com 29.
baixos ou relativamente baixos e que, entretanto,
localizam-se mais próximos ao centro do grafo justa-
sistema de transportes rodoviários. Curiosamente, apesar de possuir menos liga- mente por estarem ligados a pontos importantes, caso
ções que Belo Horizonte, a capital paranaense tem de Macapá e de Boa Vista, conectados diretamente a
posição mais central na rede, uma vez que possui um São Paulo pela RNP.
A estrutura de backhaul que apresenta o melhor fluxo de dados é a
constituída por fibra ótica. Na Figura 3 aparecem os municípios que em
Soc. & Nat., Uberlândia, ano 24 n. 1, 21-36, jan/abr. 2012

2018 contavam com essa estrutura em fibra ótica. 25

14
Figura 3. Municípios com estrutura em fibra ótica para internet

Fonte: elaboração própria -www.anatel.gov.br/setorregulado/mapeamento-de-redes

As informações disponibilizadas para a ANATEL foram obtidas junto às


empresas e algumas associações de prestadoras de serviços de
telecomunicações que fornecem acesso de banda larga. No entanto o
fato de uma prestadora possuir infraestrutura com fibra ótica em um
município não significa possuir condições ou obrigações de disponibilizar
o serviço de internet.

Fronthaul: também são infovias e fazem a conexão entre o provedor de


serviço e o usuário.

Frequência: trata-se da transmissão de sinais por radiofrequências.


Consiste nas mesmas vias em que recebemos o sinal de radiodifusão
das emissoras radiofônicas ou televisivas abertas. O sistema funciona
mediante a disposição de antenas repetidoras em pontos estratégicos,
até chegar ao dispositivo móvel do usuário. O órgão que regulamenta
(licenciamento, homologação, concessão de uso) e fiscaliza a utilização

15
do espectro de radiofrequências é a ANATEL (Agência Nacional de
Telecomunicações).

2.3 Formas de acesso à internet em banda larga

Conexão de banda larga fixa


A seguir são descritas as formas de conexão de banda larga fixa. Na Figura 4
mostra uma representação esquemática das possibilidades de conexão entre
usuários e as operadoras, utilizando banda larga.

Figura 4. Diagrama de representação das possibilidades de conexão de banda


larga fixa

Fonte: Elaboração própria

(i) Internet via par trançado: utiliza a rede pública de telefonia para
estabelecer conexão com um provedor e onde o usuário usa um modem
para transmissão de dados. Sua desvantagem é a ocupação da linha
para outras conexões, como voz;

(ii) Internet via cabo coaxial: utiliza a rede dedicada para estabelecer
conexão com um provedor e onde o usuário usa um modem ADSL
(Asymmetric Digital Subscriber Line) para transmissão de dados. A
vantagem é que o tráfego varia pouco, não ocupa a linha de voz, tem
bom desempenho que exigem troca rápida de dados e atualmente o
serviço de acesso tem um preço acessível;

(iii) Internet fibra ótica: tecnologia que imprimi grande velocidade na


transmissão da informação, pois os dados são transformados em luz,
que apresenta velocidade de tráfego superior a qualquer outra onda
disponível. O cabo de fibra ótica pode conter várias fibras. A

16
desvantagem desta tecnologia é seu alto preço e a necessidade de boa
estrutura de cabos para instalação. Por esse motivo, a internet de fibra
ótica fica mais restrita às zonas urbanas.

Conexão de banda larga sem fio


(i) Internet via rádio: tecnologia que usa ondas de radiofrequência para
emitir o sinal aos computadores, por intermédio de antena, ou seja,
sem necessidade de instalação de cabeamento ou fios. Como se
tratam de ondas, o problema deste tipo de conexão são as
interferências causadas por possíveis obstáculos físicos entre a torre
de transmissão e a antena;

(ii) Internet via satélite: os satélites geoestacionários podem fornecer sinal


sobre grandes áreas geográficas de cobertura, o que torna a tecnologia
extremamente promissora para conexões de usuários em áreas rurais
ou remotas. A velocidade desse tipo de conexão é extremamente alta,
porém, devido à enorme distância entre o emissor e o receptor, existe
um atraso na comunicação, que torna inviável para a prática de
atividades que envolvam respostas rápidas (como jogos online em
tempo real). A Figura 5 apresenta um diagrama desse tipo de conexão,
entre usuário e operadora.

Figura 5. Diagrama representativo da conexão de banda larga via satélite

Fonte: Elaboração própria

(iii) Conexão 3G e 4G: são conexões para dispositivos móveis que


permitem acessar a internet. São gerações de tecnologia, onde a 3G
(terceira geração) possibilitou a entrada das operadoras de celular na
prestação de serviço de banda larga. Hoje, no Brasil a conexão 4G é

17
sinônimo da tecnologia LTE (Long Term Evolution), que partilha da
mesma natureza básica do 3G, porém traz um expressivo aumento da
velocidade de transmissão de dados, por ser mais integrada aos
sistemas baseados no protocolo IP. A rede de antenas ERB (Estação
Rádio Base ligadas umas às outras por uma rede backhaul) oferece
uma grande cobertura nas áreas urbanas e onde existe demanda de
conexão, inclusive em áreas rurais, pois atende até vários quilômetros
de distância. Essa tecnologia tem a vantagem de atender grandes
áreas geográficas e áreas remotas com um custo mais baixo. A Figura
6 traz um diagrama ilustrativo das conexões móveis 3G e 4G/LTE.

Figura 6. Diagrama ilustrativo das conexões 3G ou 4G/LTE, entre usuários e


operadoras

Fonte: Elaboração própria

2.4 Aplicações rurais que necessitam de internet em banda larga de


qualidade
São descritos a seguir alguns tipos de aplicação que requerem internet em
banda larga, de modo a tornar mais claros os seus requisitos, possibilidades e
implicações que se apresentam com relação aos mesmos.

Agricultura de Precisão é toda prática de interferência a fim de estabelecer


condições ideais às espécies cultivadas na agricultura, seja ela química, física
ou biológica, utilizando-se da Geoestatística, que é a análise de dados de
amostras georreferenciadas. A Figura 7 traz um diagrama ilustrativo,

18
envolvendo diversos elementos da aplicação da agricultura de precisão e sua
vinculação com a internet em banda larga. A agricultura de precisão é uma
atividade que gera grande volume de dados, demandando conexão de internet
com elevada qualidade.

Figura 7. Elementos envolvidos na agricultura de precisão e na conexão de


banda larga

Fonte: Elaboração própria

Internet das Coisas (IoT - Internet of Things): máquinas que se comunicam sem
interferência humana, trocando dados pela rede. Os equipamentos agrícolas
terão cada vez mais sensores conectados à internet. A inteligência artificial
aplicada à agricultura pode melhorar os processos produtivos e apoiar a
tomada de decisão pelo agricultor, reduzindo custos e trazendo mais
rendimento.

Agricultura 4.0: forma pela qual vem sendo denominado o atual estágio de
desenvolvimento da tecnologia na agricultura, cada vez mais conectada
digitalmente, com conexões de softwares e sistemas digitais às máquinas
empregadas na produção agropecuária. Ao ampliar essas conexões é possível
otimizar a gestão do negócio em tempo real diminuindo o tempo de trabalho,
seja no campo, cooperativas ou agroindústrias.

A Figura 8 trata das relações entre a internet das coisas e a agricultura 4.0.

19
Figura 8. Ciclos e relações considerando a internet das coisas e a agricultura
digital, considerando os vínculos entre as atividades de campo e os processos
de gestão dos sistemas agropecuários

Fonte: Elaboração própria

Além desses elementos considerados no estudo, é importante ampliar a


compreensão quanto às diferentes tecnologias de conexão, suas
características distintivas e as velocidades que proporcionam na transmissão
dos fluxos de informações e dados. A Figura 9 organiza essas informações de
forma esquemática.

A disponibilidade de conexão de banda larga é essencial para


viabilizar as inovações tecnológicas no meio rural. Assim, a
expansão da área de cobertura é fundamental para o
desenvolvimento da agropecuária e da qualidade de vida no campo.

20
Figura 9. Tipos de tecnologia de conexão, suas características distintivas
principais e velocidades de transmissão de dados

Fonte: http://www.caminhosdabandalarga.org.br/2012/10/capitulo-1/

21
3 COBERTURA E VELOCIDADE DA CONEXÃO À INTERNET NO BRASIL

O Brasil possui dimensões continentais, apresentando diferentes condições de


qualidade de infraestrutura, de adoção tecnológica e de desenvolvimento
institucional em suas Unidades da Federação (UFs). Apesar da expansão da
conexão no Brasil, ainda existem deficiências na cobertura de atendimento,
visto que apenas 44,2% dos domicílios brasileiros possuem acesso a Banda
Larga Fixa3. Enquanto nas UFs do Sudeste e Sul os percentuais de domicílios
com acesso à banda larga variam entre 45-65%, nas UFs do norte e nordeste
predomina cobertura de atendimento de apenas 15-30% dos domicílios. O
Maranhão tem o pior índice, com apenas 14,4% dos domicílios com banda
larga. Destaca-se que a conexão por banda larga fixa apresenta as maiores
velocidades, portanto, permitem a utilização de sistemas que fazem uso de
grandes quantidades de informação, como as ferramentas de agricultura de
precisão. Neste sentido, o presente item tem como objetivos: (i) discutir as
informações da evolução do número de acessos, tecnologia e velocidade das
conexões de Banda Larga Fixa e Internet Móvel no Brasil, a partir dos dados da
ANATEL; (ii) destacar a importância do desenvolvimento municipal através do
Produto Interno Bruto per capita e, densidade populacional, para o número de
acessos e velocidade de conexão de internet.

3.1 Banda larga fixa


A Figura 10 apresenta a distribuição de quantil de municípios pela quantidade
de acessos de banda larga fixa em 2007 e um comparativo dos acessos em
2018, através da mesma distribuição de quantil de 2007. Esta figura evidencia
que houve uma expansão da conexão de banda larga fixa nos domicílios na
última década. Apesar disto, os municípios do Norte e Nordeste ainda
apresentam menor evolução no número de acessos. Este fato é reforçado na
Figura 11, mostrando que apesar do aumento nos acessos, se comparados
2007 e 2018, considerando as respectivas distribuições de quantil de
municípios, houve maior concentração de acessos de banda larga fixa no
Sudeste e Sul. Observa-se, portanto, redução de municípios classificados na
categoria de maior número de acessos (azul mais escuro) nas demais regiões.
Esta redução se destaca, por exemplo, no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul,
grandes produtores de commodities e de pecuária de corte. Ainda pode-se
observar as reduções no MATOPIBA, mais especificamente no Tocantins e
Bahia, áreas em que a agropecuária tem se expandido.

Destaca-se que cabos metálicos e coaxiais são as principais formas de


conexão em números de acesso (43,5% e 30,7%, respectivamente). Apesar

3
Dados da ANATEL de setembro de 2018.

22
disto, entre 2011 e 2018 os acessos por fibra ótica cresceram em quase 30
vezes (173.411 para 5.105.955 domicílios)4. Isto mostra que a qualidade da
internet tem se ampliado. A Figura 12Figura 12 mostra que aproximadamente
91% dos acessos em 2007 apresentavam velocidade abaixo de 2 megabit por
segundo (mbps), entretanto, em 2018 este percentual é de 18%. Ao longo do
período as conexões mais lentas foram substituídas por acessos com
velocidade superiores.

Figura 10. Mapa de acessos de Banda Larga Fixa por mil habitantes em 2007
e comparativo 2018. Distribuição de quantil de 2007

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da ANATEL (2018)

Figura 11. Mapas de acessos de Banda Larga Fixa por mil habitantes 2007 e
2018. Distribuições de quantil 2007 e 2018, respectivamente

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da ANATEL (2018)

4 Dados da ANATEL de janeiro de 2011 a setembro de 2018.

23
Figura 12. Conexão de Banda Larga Fixa, set. 2007 e set. 2018

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da ANATEL (2018)

3.2 Telefonia móvel


Assim como observado nas Figuras Figura 10 e Figura 11, referentes à banda
larga fixa, o mesmo padrão se repete para a telefonia móvel (Figura 13 e
Figura 14). Apesar da ampliação da conectividade de internet móvel entre
2009 e 2018, os acessos continuam concentrados nas mesmas UFs. Em 2018
observa-se que a maioria das UFs apresentam acessos de telefonia móvel
equivalente ou superiores à população.

Já a ampliação da qualidade da rede móvel foi expressiva. Em 2009


praticamente 100% das conexões ocorriam através de redes 2G. De acordo
com informações atualizadas5, este percentual reduziu-se para
aproximadamente 11% em 2018, em razão da ampliação de melhores
tecnologias - 3G e 4G - cujos acessos correspondem a 27% e 54%,
respectivamente, para o país. Os dados comparativos que relacionam a

5
Dados da ANATEL, atualizados em 01/11/2018, disponíveis em
http://www.anatel.gov.br/dados/acessos-telefonia-movel. Consulta realizada em 16/11/2018.

24
tecnologia de conexão de telefonia móvel, para os anos de 2009 e 2018, por
UF, são apresentados na Figura 15.

Figura 13. Mapa de acessos de Telefonia Móvel por habitantes em 2009 e


comparativo 2018. Distribuição de quantil de 2009

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da ANATEL (2018)

Figura 14. Mapas de acessos de Telefonia Móvel por habitantes 2009 e 2018.
Distribuições de quantil de 2009 e 2018, respectivamente

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da ANATEL (2018)

Entre as outras conexões (Figura 15) aponta-se as formas de comunicação


máquina para máquina (M2M), que representam 12% dos acessos do Sudeste,
8% do Sul e 4% do Centro-oeste. Esta conexão apresenta grandes
oportunidades para a agropecuária, permitindo a implantação de agricultura de

25
precisão, automatização de processos, sensoriamento remoto, monitoramento
agrometeorológico, entre outras técnicas que podem proporcionar maior
produtividade, eficiência, eficácia e mitigação de impactos ambientais da
agropecuária.

Atualmente, de acordo com os critérios definidos pela ANATEL 6, todos os


municípios possuem cobertura 2G, enquanto 96,4% possuem 3G e 73,8% 4G,
conforme mostra a Apesar da identificação de menor cobertura nas grandes
regiões com menor grau de desenvolvimento socioeconômico, avaliar os
determinantes para o atendimento dos municípios é uma tarefa complexa.
Através da Figura 17 observa-se que a não existência de rede móvel 4G está
associada ao baixo Produto Interno Bruto (PIB) per capita e menor densidade
populacional, com exceção de alguns estados, como Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul. Mesmo assim, existem diversos municípios pouco
desenvolvidos e de baixa densidade populacional que são atendidos. É
necessário avaliar, como comentado anteriormente, a área de abrangência e
público atendido, para melhor identificar as características das coberturas
regionais, destacando, por exemplo, a capacidade de infraestrutura e qualidade
da conexão. A quantificação da qualidade e da abrangência (alcance) da
internet no meio rural são objetivos deste produto e, serão apresentadas a
partir do item 4.2.

Figura 16. Nota-se que as regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste apresentam


as maiores áreas não cobertas de 4G, aproximadamente 44%, 33% e 40%,
respectivamente.

Destaca-se que a Figura 16 indica a presença de cobertura e não de


abrangência (área). Portanto, espera-se que nos municípios das regiões Norte,
Nordeste e Centro-oeste, a área de cobertura deva ser menor em relação à
área do município, visto a maior extensão territorial dos mesmos e abrangência
das zonas rurais (especialmente no Norte e Centro-oeste).

Figura 15. Conexão de Telefonia Móvel, set. 2009 e set. 2018

6
Especificamente nos casos de oferta de serviço decorrentes dos compromissos de
abrangência estabelecidos nos Editais, existe um parâmetro mínimo de cobertura para que a
Agência ateste o cumprimento, de que, no mínimo, 80% da área urbana do distrito sede tenha
o sinal. Nos demais casos, isto é, municípios onde a oferta da operadora é decorrente de seu
próprio interesse, não há compromisso de cobertura mínima
(http://www.anatel.gov.br/setorregulado/component/content/article/115-universalizacao-e-
ampliacao-do-acesso/telefonia-movel/423-telefonia-movel-municipios-atendidos).

26
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da ANATEL (2018)

Apesar da identificação de menor cobertura nas grandes regiões com menor


grau de desenvolvimento socioeconômico, avaliar os determinantes para o
atendimento dos municípios é uma tarefa complexa. Através da Figura 17
observa-se que a não existência de rede móvel 4G está associada ao baixo
Produto Interno Bruto (PIB) per capita e menor densidade populacional, com
exceção de alguns estados, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Mesmo
assim, existem diversos municípios pouco desenvolvidos e de baixa densidade
populacional que são atendidos. É necessário avaliar, como comentado
anteriormente, a área de abrangência e público atendido, para melhor
identificar as características das coberturas regionais, destacando, por
exemplo, a capacidade de infraestrutura e qualidade da conexão. A
quantificação da qualidade e da abrangência (alcance) da internet no meio rural
são objetivos deste produto e, serão apresentadas a partir do item 4.2.

Figura 16. Cobertura municipal de rede celular 3G e 4G em 2017

27
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da ANATEL (2017)

Figura 17. PIB per capita e densidade populacional em 2015

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE (2018)

28
Na última década houve grande expansão da cobertura e qualidade
da conexão de internet no Brasil. No entanto, os melhores
indicadores de conexão continuam concentrados nas regiões
sudeste e sul.

29
4 RETRATO DA CONEXÃO NO MEIO RURAL

No capítulo anterior foi discutida a diversidade do território brasileiro e suas


relações com a cobertura de conexão à internet. No presente capítulo, a
discussão estará focalizada em buscar correlações entre a elevada
heterogeneidade da produção agropecuária e da qualidade de vida no meio
rural com a cobertura de conexão de internet. Espera-se que exista esta
correlação, uma vez que a internet permite o acesso à informação e novos
mercados, assim como fornece meios para adoção de inovações tecnológicas,
tais como a agricultura de precisão, sensoriamento remoto, métodos de
monitoramento agrometereológico e automatização de processos produtivos,
essenciais para proporcionar a sustentabilidade (socioeconômica e ambiental)
da produção agropecuária e fixação do jovem no campo.

Para buscar uma melhor compreensão dos fatores indutivos do


desenvolvimento do meio rural e da fixação do jovem no campo, bem como da
sua correlação com o acesso à internet, faz-se necessária a contextualização e
espacialização das supracitadas características de conexão, organização
econômica e recebimentos de ATER, para as regiões brasileiras. Esta análise
foi realizada a partir de dados do Censo Agropecuário de 2017, através das
seguintes etapas: (i) apresentação das características de conexão, acesso à
informação, recebimento de assistência técnica e associação à cooperativas
nos estabelecimentos agropecuários; (ii) análise de correlação do percentual
de estabelecimentos rurais associados à cooperativas, que recebem ATER,
possuem internet e que não acessam informações técnicas, considerando que
as condições de organização econômica e recebimentos de ATER se
correlacionam com o acesso a conexão, consideradas as especificidades
regionais; (iii) apresentação de um panorama geral das principais cadeias
produtivas nos estados, destacando as respectivas oportunidades da
ampliação de ações de assistência técnica e de conexão.

4.1 O que apontam os dados do Censo Agropecuário 2017


Embora ainda não estejam disponíveis as informações sobre tamanho dos
estabelecimentos e renda (não sendo possível analisar diferentes perfis de
produtores rurais), os resultados preliminares do Censo Agropecuário 2017 já
permitem avaliar, de maneira geral, a existência de conexão nos
estabelecimentos rurais (Figura 18).

Aproximadamente 28% dos estabelecimentos rurais apresentam alguma forma


de conexão de internet (Figura 18 A). Cerca de 13% possuem conexão de

30
banda larga, que apresentam maior velocidade e, portanto, permitem a
utilização de ferramentas importantes para o desenvolvimento rural, como a
agricultura de precisão, que envolve a transmissão de elevado volume de
informação (Big Data).

Figura 18. Conectividade, vínculo a associações, ATER e acesso à informação


técnica nos estabelecimentos agropecuários em 2017

A B

C D

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE Censo Agropecuário (2017).

A distribuição dos estabelecimentos com acesso à internet segue um padrão


comum com outras características relacionadas ao desenvolvimento do meio
rural, principalmente a assistência técnica e extensão rural (ATER) (Figura 18
C) e associação a cooperativas (Figura 18 B), presentes em 20% e 11,4% dos
estabelecimentos, respectivamente. Estas instituições são fundamentais para a
ampliação do acesso à informação, educação, instrumentos de
comercialização, certificações e diversos outros fatores que favorecem o

31
incremento do valor agregado, qualidade de vida, produtividade e mitigação de
impactos ambientais no meio rural. Neste sentido, observa-se que a cobertura
de atendimento é melhor nos municípios que possuem como principais
atividades culturas mais dinâmicas, como as commodities, fruticultura, café,
atividades de pecuária integradas à indústria, entre outras. Por sua vez,
apresenta lacunas nas regiões onde predominam as atividades de subsistência
e pecuária de corte (não integrada à indústria).

A Tabela 1 apresenta os coeficientes de correlação de Pearson (linear) e


Spearman (postos), para o percentual de estabelecimentos dos municípios
quanto às variáveis de interesse, mencionadas na Figura 18. Como mostrado
visualmente, existe forte associação positiva entre a conexão no meio rural, o
recebimento de assistência técnica e a ocorrência do cooperativismo e,
consequentemente, uma relação inversa à falta de informação técnica. Estes
dados representam uma dinâmica muito confinada ao centro-sul do país, no
que diz respeito ao desenvolvimento da infraestrutura, tecnologia e práticas no
meio rural.

Tabela 1. Correlação do percentual de estabelecimentos no município com


acesso à internet, que recebem ATER, associados a cooperativas e sem
acesso à informação técnica em 2017

Correlação Spearman Pearson


Sem Sem
Variáveis Internet ATER Cooperativas acesso à Internet ATER Cooperativas acesso à
informação informação
Internet 1 0,60 0,50 -0,36 1 0,55 0,41 -0,36
ATER 0,60 1 0,74 -0,49 0,55 1 0,73 -0,46
Cooperativas 0,50 0,74 1 -0,45 0,41 0,73 1 -0,39
Sem acesso
-0,36 -0,49 -0,45 1 -0,36 -0,46 -0,39 1
à informação
Fonte: Elaboração própria, dados do IBGE (2018). Obs: todas as correlações foram
significativas a 1%

Ainda é possível destacar que aproximadamente 18% dos estabelecimentos


apresentam acesso à internet móvel. A concentração do percentual de
estabelecimentos com cobertura móvel (Figura 19 A) é mais intensa nos locais
com maior número de empresas de telefonia7 atuantes (Figura 19 B, C e D).
Além disso, as regiões com média de empresas por município mais elevada
(Tabela 2) também apresentam maior cobertura de internet móvel nos
domicílios, assim como os dados apresentados anteriormente. Estas
informações mostram que a competição pelo mercado influencia a expansão
da conexão ao meio rural. No entanto, o percentual de estabelecimentos com
7
As empresas de telefonia são: Claro, Algar, Nextel, Oi, Sercomtel, Tim e Vivo.

32
internet móvel está muito aquém daqueles que possuem acesso a telefones
(63%), mostrando que ainda existem muitas oportunidades para ampliação da
conectividade móvel.

Figura 19. Número de empresas de telefonia atuantes por município e


tecnologia de rede móvel em 2017

A B

C D

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE Censo Agropecuário (2017) e ANATEL
(2018).

Tabela 2. Número médio de empresas de telefonia por município e tecnologia


de internet móvel
Região 2G 3G 4G
Norte 2,24 2,26 1,09
Nordeste 2,10 2,23 1,18
Sudeste 3,14 3,09 2,00
Sul 2,87 2,39 1,59
Centro-Oeste 2,66 1,82 1,11
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da ANATEL (2017)

33
A Figura 20 apresenta um resumo da conectividade conforme o Censo
Agropecuário 2017, mostrando que aproximadamente 3,65 milhões de
estabelecimentos não tem acesso à internet. Destaca-se que a conectividade
no meio rural não acompanhou a recente expansão da cobertura de
atendimento urbana. Assim, ainda existem elevados ganhos potenciais em
garantir o acesso à informação na zona rural através da internet, permitindo a
ampliação de disponibilidade de mecanismos para assistência técnica,
comercialização, educação, inovações (agricultura de precisão, monitoramento
agrometereológico, etc.), entre outros fatores essenciais para o
desenvolvimento da agropecuária e qualidade de vida no meio rural.

Figura 20. Quantidade de estabelecimentos e conectividade em 2017

2.500.000 Norte
2.000.000
Nordeste
1.500.000
Sudeste
1.000.000
Sul
500.000
0 Centro-Oeste

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE Censo Agropecuário (2017)

Tabela 3. Número de estabelecimentos sem acesso à internet


Região Estabelecimentos
Norte 490.057
Nordeste 1.818.855
Sudeste 611.883
Sul 479.384
Centro-Oeste 246.650
Brasil 3.646.829
Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE Censo Agropecuário (2017)

Através da Tabela 4 observa-se que existem possibilidades de desenvolver


políticas e ações com os produtores de itens da alimentação básica em todas
as regiões, mas principalmente no Norte e Nordeste, em razão da maior
participação desta atividade no total da agropecuária local. A produção de
commodities destaca-se no Sul e centro-oeste, nestas culturas a conectividade
está muito relacionada à utilização de ferramentas de agricultura de precisão,

34
automatização dos processos produtivos e sensoriamento remoto, além disto,
os processos de formação de preços e de mercado destes produtos
demandam constante acesso à informação.

As culturas de alto valor agregado e de extração vegetal destacam-se na


região Norte, onde a conectividade pode atuar como ferramenta para
minimização de custos de transporte, principalmente devido a maior
precariedade dos meios de transporte desta região. Os processos produtivos e
qualidade do café são importantes para a possibilidade de certificação e
agregação de valor, sendo a conectividade fundamental para isto,
principalmente em MG, ES e RO. A horticultura, assim como o café, apresenta
certificações que possibilitam geração de valor agregado, como a produção
orgânica, além disto, na horticultura as inovações tecnológicas são mais
rápidas e valorizadas, apresentando, portanto, oportunidades de ações de
conectividade no DF e nas regiões Sudeste e Sul.

Por fim, na pecuária, atividade que é predominantemente realizada de maneira


extensiva, a conectividade pode viabilizar o incentivo a adoção de práticas de
manejo integrado de nutrientes e outras formas de intensificação, ampliando a
sustentabilidade ambiental, econômica e social desta atividade, com potencial
em todas as regiões brasileiras.

A Tabela 4 evidencia a relevância da conectividade para as diversas dinâmicas


da agropecuária, em todas as regiões brasileiras. Destaca-se que ações que
correspondem à agricultura de precisão, sensoriamento remoto, monitoramento
agrometeorológico e, demais atividades que necessitam de maior grau de
conectividade rural, precisarão ser planejadas a partir de estudos direcionados,
que sejam capazes de avaliar o panorama existente em todo o território
brasileiro, principalmente devido a elevada heterogeneidade edafoclimática,
socioeconômica e institucional do país.

Algumas considerações sobre os resultados da Tabela 4 devem ser realizadas.


Tabela 4. Caracterização da produção agropecuária por UF em relação ao
percentual de estabelecimentos. Estimativa conforme o Censo
Agropecuário 2017,O número de estabelecimentos agropecuários é, até o
momento, o único indicador disponível para todos os grupos de atividades
agropecuárias (horticultura, lavouras temporárias, lavouras permanentes,
pecuária, etc.) no Censo Agropecuário 2017. Através deste indicador, realizou-
se uma estimativa da distribuição nas UFs dos estabelecimentos nas principais
dinâmicas produtivas da agropecuária (exceto aves e suínos). Para geração
dos percentuais, somou-se o total de estabelecimentos das culturas
selecionadas, no entanto, salienta-se que há dupla contagem, em virtude da
indisponibilidade de dados consolidados. Portanto, recomenda-se cautela na

35
reprodução destes indicadores. Destaca-se ainda que algumas culturas como
as commodities, especificamente a soja, apesar de não abrangerem elevado
percentual de estabelecimentos, apresenta elevada participação na área
colhida e valor da produção. Conforme o Censo Agropecuário de 2006, 7% dos
estabelecimentos de lavouras temporárias produziam soja (217.015
estabelecimentos), mas representavam 35% da área colhida (17,9 milhões de
hectares) e 25% do valor de produção (aproximadamente R$ 19,5 bilhões, em
valores nominais) desta atividade.

Tabela 4. Caracterização da produção agropecuária por UF em relação ao


percentual de estabelecimentos. Estimativa conforme o Censo Agropecuário
2017, em percentual (%)

Alimentação Alto Valor Extração


Região UF Commodities2 Café Horticultura Bovinos
Básica1 Agregado3 Vegetal

RO 8 0 18 12 0 12 50

AC 32 0 31 1 3 7 26

AM 34 0 31 0 7 21 8
Norte RR 26 0 35 0 2 19 17

PA 34 0 23 0 11 7 23

AP 25 0 35 1 12 25 3

TO 25 1 22 0 0 10 43

MA 64 0 5 0 1 6 24

PI 68 0 7 0 0 5 20

CE 63 0 12 0 0 5 19

RN 47 0 12 0 0 9 32
Nordeste PB 48 0 19 0 0 8 25

PE 46 0 19 0 0 12 24

AL 49 0 19 0 0 8 24

SE 28 0 28 0 0 13 31

BA 31 0 34 2 0 10 23

MG 17 0 22 13 0 14 33

ES 11 0 20 34 0 20 15
Sudeste
RJ 11 0 20 2 0 41 27

SP 7 3 9 4 0 37 40

PR 22 15 15 2 0 15 31
Sul SC 21 4 14 0 0 26 35

RS 27 11 26 0 0 7 29

MS 13 7 15 0 0 14 51

Centro- MT 11 4 14 2 0 12 57
Oeste 9 4 8 0 0 13 66
GO
DF 15 2 7 0 0 67 9

36
Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE Censo Agropecuário (2017)).1Arroz,
feijão e mandioca; 2Soja; 3Banana, cacau, coco-da-baía, laranja e uva.

Apesar da expansão da conexão no Brasil, ainda existe grande


carência de internet no meio rural. As novas tecnologias e demais
benefícios do acesso à internet apresentam oportunidades de
desenvolvimento do meio rural em todas as regiões brasileiras.

4.2 Conexão no meio rural segundo modelagem espacial


Para analisar a conectividade no campo (zona rural produtora) é necessário
estimar espacialmente em quais áreas o serviço está disponível e com qual
qualidade (fluxo de dados e informações). O uso literal das informações
levantadas no Censo Agropecuário ou das informações do número de torres e
quais operadoras estão presentes em cada município são insuficientes para
uma análise completa, pois o fato de um determinado município ter o serviço
presente não quer dizer que o serviço seja de boa qualidade ou que a área do
município está devidamente atendida e, em muitos casos, a extensão de área
rural descoberta pode ser bem significativa. Conforme apontado anteriormente,
o parâmetro mínimo de cobertura para que a Agência ateste o cumprimento é
de que, no mínimo, 80% da área urbana do distrito sede tenha o sinal.

Nesse contexto, foi desenvolvido especificamente para este Produto um


modelo espacial que estima para todo o território nacional a disponibilidade e
qualidade da internet no meio rural (Figura 21). Ou seja, para cada ponto do
espaço foram determinados o tipo de cobertura e a intensidade do sinal. A
geração dessa informação demandou a aplicação de algoritmos que recebem
como input a localização das torres e alguns parâmetros associados (tipo de
sinal, frequência, operadora, etc.) e retornam uma superfície (raster) da
intensidade do sinal variável em função da distância da torre. A superfície
gerada pode então ser utilizada em múltiplos processamentos secundários e
cruzamento com outras variáveis territoriais (uso da terra, malha fundiária, etc.)
para fornecer uma estimativa precisa da conectividade do meio rural em função
de qualquer recorte que seja necessário para a formulação de políticas
públicas específicas.

37
Figura 21. Esquematização gráfica da modelagem espacial de disponibilidade
e qualidade da internet no meio rural

Input Análise territorial


(latlong torres, operadoras,
tipo de tecnologia, frequência)

PROCESSAMENTO
f(distância, Inputs)

Superfícies (rasters)
Qualidade da CONECTIVIDADE

Fonte: Elaboração própria

Todos os dados gerados inclusive as superfícies de cobertura de internet e os


algoritmos de processamento constituem produtos disponibilizados ao MAPA
para serem utilizados em quaisquer outras análises que se mostrarem
pertinentes. Neste capitulo serão abordados os métodos desenvolvidos, bem
como o cruzamento com malha fundiária (focalizando o médio produtor) e uso
da terra. No corpo do relatório apenas os dados agregados no nível nacional e
de grande região estão apresentados, porém a agregação por município,
microrregião, mesorregião e unidade da federação serão disponibilizados em
anexos digitais.

Dados de entrada do modelo (inputs) e metodologia de processamento


Conforme já mencionado, o cálculo da intensidade do sinal em qualquer ponto
do país utilizou como dado de entrada a localização espacial das estações, em
conjunto com suas respectivas informações: a frequência e a potência
transmitida. A frequência permite tanto atribuir para cada estação as
respectivas tecnologias que ela é capaz de operar, quanto é usada para o
cálculo do comprimento de onda, fator que influencia no cálculo da intensidade
do sinal. A potência também é um dos fatores da fórmula de Friis, utilizada para
estimar a intensidade do sinal em cada ponto distante das estações de
transmissão. Um fluxograma dos cálculos é apresentado na Figura 22,
enquanto um maior detalhamento dos cálculos é dado em seguida.

38
Figura 22. Fluxograma do cálculo espacial do sinal de cada tecnologia

Fonte: Elaboração Própria

Passo 1: consolidação do banco de dados geográfico das antenas


O primeiro passo consistiu na obtenção da localização espacial das antenas a
partir do sítio eletrônico oficial de Licenciamento da ANATEL8. Esse banco de
dados é possível de ser obtido por estado e já possui as informações de
latitude, longitude, potência e frequência atribuídas a cada estação.

A base de dados obtida possui 81.282 estações registradas, espalhadas em


todo o território nacional conforme na Figura 23Erro! Fonte de referência não
encontrada.. Uma breve comparação da concentração das antenas nas regiões
do país é mostrada na Tabela 5.

Os dados indicam maior cobertura de antenas nas regiões de maior


desenvolvimento econômico do país: Sudeste e Sul. No Norte, a região do país
que possui menor cobertura, a densidade de antenas chega a ser 30 vezes
menor do que na região Sudeste. Embora essa análise sugira e aponte para
uma melhor conectividade de determinadas regiões, ela desconsidera a
tecnologia relativa a cada antena, bem como o tipo de ocupação humana no
entorno (ex. urbano, rural, agropecuária, conservação ambiental, etc.). O fato
que vale ser ressaltado é que a maior densidade de antenas pode não
significar necessariamente um melhor sinal, uma vez que essas antenas
podem operar apenas tecnologias de menor qualidade de conexão. Para incluir

8 Disponível em: https://sistemas.anatel.gov.br/se/public/view/b/licenciamento.php. Acesso 01/11/2017.

39
essa discriminação no modelo, é necessário analisar individualmente as
frequências de operação das antenas, conforme realizado no passo seguinte.

Tabela 5. Dados da distribuição de antenas no Brasil


Área Densidade de
Número Média de
total antenas
Região de antenas por
(Milhões (antenas/Milhões de
antenas município
de ha) ha)
Norte 389,3 4,949 12,71 11,04
Nordeste 159,4 15,884 99,63 8,85
Sudeste 104,3 40,517 388,22 24,33
Sul 71,7 13,362 186,34 11,27
Centro-Oeste 173,1 6,570 37,95 14,50
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da ANATEL (2018) e IBGE.

Figura 23. Distribuição espacial das 81.282 estações do Brasil. Cada ponto
vermelho transparente representa uma estação. O vermelho mais intenso
representa maior concentração de antenas próximas

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Anatel (2018)

Passo 2: categorização das antenas em função da frequência


Em seguida, as tecnologias disponíveis foram atribuídas a cada antena a partir
das faixas de frequência de operação, de acordo com a lista do Quadro 2.
40
Quadro 2. Relação de cada tecnologia com as respectivas frequências
Tecnologia
2G 3G 4G
869,0
1.850,0
880,0
1.860,0
869,0 890,0
1.865,0 763
880,0 891,5
1.870,0 773
890,0 943,5
1.872,5 783
891,5 952,5
1.875,0 793
943,5 955,0
1.877,5 2.570
952,5 957,5
Frequências 955,0 1.805,0
1.885,0 2.585
1.890,0 2.620
957,5 1.820,0
1.975,0 2.630
1.805,0 1.822,5
2.110,0 2.650
1.820,0 1.825,0
2.125,0 2.660
1.835,0 1.827,5
2.135,0 2.770
1.870,0 1.830,0
2.145,0
1.832,0
2.155,0
1.835,0
Fonte: Teleco (2018)9

O resultado da reclassificação da frequência das antenas na respectiva


tecnologia é apresentado na Figura 24, para o caso do 2G, na Figura 25, para
o caso do 3G e na Figura 26 para o 4G.

Figura 24. Estações 2G no Brasil. Cada ponto vermelho transparente


representa uma estação. O vermelho mais intenso representa maior
concentração de antenas próximas

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da ANATEL (2018)

9 Disponível em: http://www.teleco.com.br/areasc.asp. Acesso 01/11/2017.

41
Figura 25. Estações 3G no Brasil. Cada ponto vermelho transparente
representa uma estação. O vermelho mais intenso representa maior
concentração de antenas próximas

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da ANATEL (2018)

Figura 26. Estações 4G no Brasil. Cada ponto vermelho transparente


representa uma estação. O vermelho mais intenso representa maior
concentração de antenas próximas

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da ANATEL (2018)

42
Passo 3: Cálculo espacial da potência recebida de sinal

A terceira etapa do cálculo consistiu no cálculo espacial da potência recebida


de sinal. A partir de um arquivo dividindo todo o território brasileiro em pixels de
30 por 30 metros, o seguinte algoritmo foi executado para cada célula e para
cada tecnologia:

1. Encontra a antena mais próxima

2. A partir das informações da antena, aplica a fórmula de Friis

3. Atribui a potência calculada como igual à potência disponível da


tecnologia

Na aplicação da fórmula de Friis (abaixo), considerou-se que a antena é


isotrópica, isso é, que irradia as ondas de maneira idêntica em todas as
dimensões. Dessa forma, o ganho da antena foi desconsiderado na fórmula
apresentada abaixo.

𝜆 2
𝑃𝑡 𝐺𝑡 𝐺𝑟 (4𝜋𝑑)
𝑃𝑟 = 10 ⋅ log ( ) [𝑑𝐵𝑚]
10−3

Em que:

 𝑃𝑟 é a potência recebida, em dBm


 𝑃𝑡 é a potência transmitida, em W
 𝐺𝑡 , 𝐺𝑟 são os ganhos na transmissão10 e na recepção
 𝜆 é o comprimento de onda, calculado como a razão entre a velocidade
da luz no vácuo sobre a frequência de transmissão, em m
 𝑑 é a distância geográfica entre o receptor e o transmissor, em m

Embora seja uma relação relativamente simples, desconsiderando fatores


como a diferença de altitude e a declividade no terreno, por exemplo, a fórmula
de Friis apresenta a vantagem de ser válida para um amplo espectro de
frequências e de não possuir restrições quanto à aplicação em diferentes meios
(urbano ou rural).

10 Em alguns casos, havia mais de uma licença para uma mesma antena, com valores distintos de
potência. Nessas situações, tomou-se o valor médio das entradas no banco de dados para utilização nos
cálculos posteriores.

43
Outras opções comumente utilizadas para este fim, geralmente ficam restritas
por esses critérios mencionados. Exemplos são o modelo de Okumura-Hata,
que é válido apenas para frequências de 150 a 1.500 MHz, estendido até
apenas 2.000 pelo modelo COST-231; e o modelo de Ibrahim e Parsons, onde
fatores como altitude e uso do solo são considerados, porém os parâmetros
são válidos apenas para as áreas urbanas (FUJIMOTO, 2008)11.

Passo 4: Categorização dos sinais

Por fim, uma reclassificação dos sinais em classes foi necessária para a
análise. Para esse fim, utilizou-se os valores do Quadro 3, definidos como de
referência pela empresa Teltonika12.

Quadro 3. Valores de referência para reclassificação13


Tecnologia: 2G
Sem sinal < -110 dBm
Ruim Entre -110 e -100 dBm
Médio Entre -100 e -85 dBm
Bom Entre -85 e -70dBm
Excelente > -70 dBm
Tecnologia: 3G
Sem sinal < -110 dBm
Ruim Entre -110 e -100 dBm
Médio Entre -100 e -85 dBm
Bom Entre -85 e -70dBm
Excelente > -70 dBm
Tecnologia: 4G
Sem sinal < -95 dBm
Ruim Entre -95 e -85 dBm
Médio Entre -85 e -75 dBm
Bom Entre -75 e -65dBm
Excelente > -65 dBm
Fonte: Elaboração própria a partir de dados daTeltonika (2018)

11 FUJIMOTO, K. Mobile antenna systems handbook. London: Artech House, 2008.


12 Disponível em: https://wiki.teltonika.lt/view/Mobile_Signal_Strength_Recommendations.
Acesso: 02/11/2018.
13
Os valores de referência adotados são os recomendados pela literatura técnica, porém não
se descarta a possibilidade de serem revistos no decorrer do projeto em procedimentos de
validação da modelagem de modo que as estimativas sejam melhor adequadas à realidade
encontrada em campo.

44
4.3 Resultados

Qualidade da cobertura 2G, 3G e 4G


A partir da aplicação dos procedimentos descritos, os seguintes arquivos raster
de qualidade da cobertura foram obtidas para as tecnologias de 2G (Figura
27), 3G (Figura 28) e 4G (Figura 29).

Figura 27. Superfície de cobertura da tecnologia 2G

Fonte: Elaboração própria

Figura 28. Superfície de cobertura da tecnologia 3G

Fonte: Elaboração própria

45
Figura 29. Superfície de cobertura da tecnologia 4G

Fonte: Elaboração própria

Em nível nacional (Tabela 6), a tecnologia 2G cobre 25,70% do território com


excelente nível de qualidade e o valor para a tecnologia 3G é mais próximo
(20,86%) do que para a 4G (6,52%). No entanto, muitas regiões do país ainda
possuem uma cobertura muito precária das duas primeiras tecnologias com
qualidade excelente, como é o caso da maioria dos estados das Regiões Norte
e Centro-Oeste.

Verifica-se na região Norte um percentual de apenas 9% do território coberto


de maneira excelente pela tecnologia 2G (Figura 27) e 6% para a tecnologia
3G (Figura 28). Conforme consta na Tabela 6, apenas o estado de Rondônia
apresenta um percentual de cobertura superior ao da média (18,8% para o 2G
e 15,9% para o 3G), figurando os demais estados inclusive como os piores do
país: Amazonas, com cobertura excelente de 4,3% do território para o 2G e
2,7% para o 3G, Roraima (5,3% para o 2G e 3,5% para o 3G) e Amapá (6,8%
para o 2G e 5,3% para o 3G).

No Centro-Oeste, a cobertura excelente para o 2G e o 3G também é muito


baixa, sendo 19 e 15% os percentuais de território cobertos por cada
tecnologia, respectivamente (Figura 30 e Figura 31). Esses valores são
particularmente baixos para o Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. No primeiro
estado, apenas 11,8% do território é coberto pelo sinal excelente de 2G e o
valor é ainda menor (8,8%) para o 3G. No segundo estado, os percentuais são
superiores ao do primeiro, mas ainda inferiores à média estadual, pois 20,5%

46
do território é coberto por sinal excelente para a tecnologia 2G e 15,5% para a
tecnologia 3G (Tabela 6).

Tabela 6. Percentual de sinal excelente nos territórios estaduais

Percentual de área com sinal excelente


UF Estado
2G 3G 4G
Norte Rondônia 18,8 15,9 5,35
Acre 7,2 5,1 0,66
Amazonas 4,3 2,7 0,67
Roraima 5,3 3,5 0,86
Pará 9,0 5,9 1,63
Amapá 6,8 5,3 0,81
Tocantins 29,6 26,2 5,60
Nordeste Maranhão 30,3 23,8 6,92
Piauí 26,0 22,1 9,81
Ceará 47,9 38,5 18,14
Rio Grande do Norte 72,1 52,0 32,80
Paraíba 65,0 48,4 31,23
Pernambuco 52,4 38,9 21,81
Alagoas 73,4 56,4 26,12
Sergipe 74,7 60,5 25,45
Bahia 41,4 30,0 13,83
Sudeste Minas Gerais 57,0 50,4 13,84
Espírito Santo 71,4 60,0 28,44
Rio de Janeiro 63,7 54,4 15,44
São Paulo 64,4 57,1 9,04
Sul Paraná 67,6 63,3 6,87
Santa Catarina 65,2 58,2 18,12
Rio Grande do Sul 56,3 46,7 12,66
Centro-
Mato Grosso do Sul 20,5 15,5 4,38
Oeste
Mato Grosso 11,8 8,8 2,79
Goiás 37,4 31,3 11,25
Distrito Federal 58,6 49,3 25,99
Brasil 25,70 20,86 6,52

47
Figura 30. Percentual de classes da conexão 2G por região

80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Sem sinal Ruim Médio Alto Excelente

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Fonte: Elaboração própria

Figura 31. Percentual de classes da conexão 3G por região

80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Sem sinal Ruim Médio Alto Excelente

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Fonte: Elaboração própria

Para a tecnologia 4G, a combinação da menor sensibilidade dos dispositivos e


a rede de estações disponíveis menos extensa implica menores percentuais de
cobertura excelente (Tabela 6). Conforme consta na Figura 32, mesmo o
Nordeste, a região com maior parte do território coberta por 4G de excelente
qualidade, apenas metade dos municípios possui mais de 5% do território
coberta com 4G de excelente qualidade. Além disso, conforme o percentual do
território aumenta, o percentual de municípios com cobertura excelente

48
decresce rapidamente. Também no Nordeste, apenas 20% dos municípios
possuem cobertura excelente em mais da metade de seus territórios. No Norte,
a região com pior cobertura excelente de 4G, este percentual é muito inferior:
5%.

A informação do eixo horizontal da Figura 32, o percentual do território coberto


por sinal excelente de 4G, pode ser calculada também por município a partir
dos dados da Figura 27 e o valor pode ser de grande interesse para a
elaboração de políticas públicas, pois permite identificar locais críticos. Um
exemplo de criticidade encontrada por meio dessa análise é que 2.270
municípios, ou seja, 40% do número de municípios do país, possui a totalidade
de seus territórios sem qualquer cobertura excelente de 4G. Esses municípios
devem ser consideradas prioritários para o desenvolvimento da infraestrutura
de conexão. Na

Figura 33, os municípios com essa característica estão representados com a


cor vermelha, sendo possível observar que estão presentes em todas as
regiões do país e em todos os estados. Essa situação sugere que há causas
conjunturais para a má qualidade de cobertura 4G no país relacionadas a
estrutura nacional de concessão na prestação desse serviço.

Figura 32. Percentual de municípios com cobertura excelente de 4G, por


região

60%
% de municípios com cobertura excelente de

50%
4G igual ou superior à do eixo horizontal

40%

30%

20%

10%

0%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

% do território coberto por sinal excelente de 4G


Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

49
Figura 33. Classificação dos municípios brasileiros quanto ao sinal excelente
de 4G. Dentre os municípios que possuem alguma de sinal excelente de 4G,
uma divisão foi feita. A metade que possui menor percentual de cobertura está
representada pela cor amarela e a que possui maior percentual, pela cor verde

Fonte: Elaboração própria

Figura 33 apresenta também uma classificação dos municípios que possuem


algum sinal excelente de 4G em seus territórios. Um corte foi feito no percentil
de 50%, de modo que os municípios em amarelo são aqueles que possuem os
menores percentuais e em verde, aqueles com maiores percentuais de

50
cobertura. Nota-se que os municípios mais críticos se concentram sobretudo
nas regiões Norte e Centro-Oeste, pois em ambos os casos há poucos
municípios com altos percentuais e um grande número de municípios sem
qualquer sinal excelente. Na região Sul, muitos dos municípios que não
possuem qualquer sinal se localizam no estado do Paraná, mas a situação é no
geral melhor em Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No Sudeste e Nordeste a
situação é menos problemática e geograficamente isso se reflete com a maior
concentração de municípios com altos percentuais de cobertura.

Uso do solo vs. disponibilidade de sinal


Os dados mencionados até o momento avaliam os territórios estadual e
regional como um todo, sem considerar as diferenças de padrões de uso do
solo existentes. Para possibilitar essa diferenciação, uma análise da qualidade
da conectividade versus o uso do solo foi feita tendo-se como referência a
coleção 3.0 do MapBiomas (2018), que inclui dados de uso do solo para o
período de 1985 até 2017. A coleção 3.0 é uma evolução da coleção 2.3 e
embora as estatísticas de acurácia ainda não existam para a versão utilizada,
sabe-se que a versão desatualizada possuía uma acurácia próxima a 75 ~ 80%
de acertos em nível nacional (MapBiomas, 2018). Para a presente análise, o
ano de 2017 foi utilizado (Figura 34).

Figura 34. Mapa de uso do solo 2017

51
Fonte: MapBiomas (2018)

O que essa análise mostra é que além do território não possuir altos
percentuais de cobertura excelente de 4G (

Figura 33), os percentuais são ainda inferiores nas áreas de agricultura e


pastagem. Em todas as regiões do país (Tabela 7), essas categorias de uso do
solo ocupam uma área territorial bastante grande, mas possuem percentuais
de cobertura excelente inferiores em relação à classe de outros usos (que
engloba, por exemplo, as áreas urbanas), exceto à classe áreas naturais.

A região Norte é a mais crítica do país, onde apenas 7,4% da área agrícola e
5,9% da área de pastagem possui acesso à qualidade excelente de sinal 4G. A

52
região Centro-Oeste possui valores semelhantes: 7,2% para a área agrícola e
6,3% para a área de pastagem (Tabela 8). Embora seja menor nas demais
regiões a diferença entre o percentual de área coberto por sinal excelente das
áreas urbanas com as áreas de atividade agropecuária, a análise indica que o
território rural é ainda menos provido de sinal de qualidade para essa
tecnologia.

Tabela 7. Distribuição do sinal de 4G em cada região e uso do solo


Uso e área14 Sem sinal Ruim Médio Bom Excelente
Região
[milhões de ha] %
Áreas naturais [340] 31,9 37,4 23,1 6,5 1,2
Agricultura [1,32] 0,7 23,5 44,4 24,2 7,4
Norte
Pastagem [28,17] 4,8 24,7 37,5 27,0 5,9
Outras [0,51] 9,3 25,8 27,6 24,8 12,5
Áreas naturais [99,63] 0,3 10,0 37,2 39,9 12,7
Agricultura [7,73] 0,9 11,6 38,0 36,2 13,3
Nordeste
Pastagem [31,76] 0,0 6,1 30,1 45,7 18,1
Outras [1,14] 0,0 3,9 31,8 46,1 18,2
Áreas naturais [30,26] 0,0 6,0 42,9 38,4 12,8
Agricultura [12,93] 0,0 7,2 47,2 34,0 11,6
Sudeste
Pastagem [28,68] 0,0 5,4 42,0 38,9 13,7
Outras [1,54] 0,0 3,8 44,5 33,2 18,4
Áreas naturais [23,78] 0,0 16,2 41,3 31,7 10,8
Agricultura [19,44] 0,0 12,3 43,5 32,7 11,6
Sul
Pastagem [3,81] 0,0 15,5 40,4 31,6 12,5
Outras [0,74] 0,0 11,8 41,4 30,3 16,6
Áreas naturais [85,90] 8,2 28,2 42,8 17,3 3,5
Agricultura [19,15] 5,1 16,2 42,1 29,4 7,2
Centro-Oeste
Pastagem [44,89] 5,1 19,2 43,5 25,8 6,3
Outras [0,38] 2,6 10,9 34,4 35,3 16,9

14O uso não totaliza 100% da área das regiões, pois não considera outros usos, corpos d’água e
aquicultura.

53
A análise da conexão em banda larga móvel feita através de
modelagem mostrou que as coberturas 2G e 3G Erro! Fonte de
referência não encontrada.são relativamente satisfatória no país,
porém uma área significativa do país ainda encontra-se
descoberta quanto à tecnologia 4G, mais veloz.

A análise da conexão 4G versus o uso do solo mostrou que


importantes áreas com produção agropecuária ainda se
encontram pouco assistidas com relação à qualidade da conexão.
Regiões como Sul e Centro-Oeste, com extensas áreas de
agricultura voltada a commodities, que se beneficiariam com boa
conexão para o uso em agricultura de precisão e monitoramento
agrometeorológico, por exemplo, poderiam ser melhor atendidas
quanto a esse serviço.

54
5 O MÉDIO PRODUTOR E A CONEXÃO NO MEIO RURAL

5.1 O conceito de médio produtor rural


O médio produtor rural, um dos públicos-alvo de ações do MAPA15, representa
cerca de 10% do número de estabelecimentos rurais brasileiros e está presente
em todo o território nacional, porém de maneira esparsa, ocupando em média
de 20 a 25% da área agrícola do país e respondendo por cerca de 20% do
valor bruto da produção agropecuária brasileira (IBGE, 2006).

A fim de caracterizar esse público, o conceito de médio produtor rural aqui


adotado considera, primeiramente, o contido no Censo Agropecuário 2006 do
IBGE, a saber:

"Familiar pronafiano”: produtor que se enquadra nos critérios de Agricultura Familiar da Lei
nº 11.326/2006 e nos critérios de renda para crédito PRONAF. Será aqui denominado
“FAMILIAR pronafiano”.

"Familiar, não pronafiano, classe de médio produtor": produtor que se enquadra nos
critérios de Agricultura Familiar da Lei nº 11.326/2006, mas não nos critérios de renda para
crédito PRONAF. Será aqui denominado “FAMILIAR-MÉDIO”.

"Não familiar, módulo fiscal, classe de médio produtor": não se enquadra nos critérios de
Agricultura Familiar da Lei nº 11.326/2006 e o estabelecimento tem área de 4 a 15 módulos
fiscais (MF). Será aqui denominado “NÃO FAMILIAR-MÉDIO”.

"Outras classes": não se enquadra nos critérios de Agricultura Familiar da Lei nº


11.326/2006 e o estabelecimento tem área acima de 15 módulos fiscais. Será aqui
denominado “GRANDES”.

Nesta primeira conceituação, foram considerados médios produtores as


categorias FAMILIAR-MÉDIO e NÃO-FAMILIAR MÉDIO.

Ampliando o conceito do IBGE, foram incluídos os critérios do Manual de


Crédito Rural (MCR) do Bacen utilizados para o acesso ao Programa Nacional
de Apoio ao Médio Produtor Rural - Pronamp (utilizados até a safra 2016/17). A
definição adotada pelo Pronamp (Res 3.987; Res 4.226 art. 7º) é complementar
ao recorte do IBGE, estabelecendo que Médios Produtores são “proprietários
rurais, posseiros, arrendatários ou parceiros” que:

15 O estudo “Análise territorial das necessidades de ATER, infraestrutura, plano de monitoramento e


avaliação de ações empreendidas”, Projeto de Cooperação Técnica PCT/BRA/IICA/13/002 coordenado
pela FEALQ/IICA, em andamento, prevê a utilização de uma plataforma de monitoramento da assistência
técnica e extensão rural voltada ao médio produtor rural, denominada “Mais ATER”. Atualmente estão em
execução 16 convênios entre o MAPA e 15 órgãos estaduais de ATER para a utilização da plataforma,
firmando o compromisso do MAPA com o atendimento a esse público. Além da assinatura dos convênios,
um dos desdobramentos do referido estudo foi a avaliação da conectividade no meio rural tomando como
referência o médio produtor, como público alvo de diversas ações do MAPA.

55
I - tenham, no mínimo, 80% (oitenta por cento) de sua renda bruta anual originária da
atividade agropecuária ou extrativa vegetal; (Res 3.987);

II - possuam renda bruta anual até R$1.760.000,00 (um milhão e seiscentos mil reais),
considerando neste limite a soma de 100% (cem por cento) do Valor Bruto de Produção
(VBP), 100% do valor da receita recebida de entidade integradora e das demais rendas
provenientes de atividades desenvolvidas no estabelecimento e fora dele e 100% das
demais rendas não agropecuárias; (Res 4.226 art 7º)

Fonte: Manual Crédito Rural – BACEN (2016)16.

A partir da combinação entre o conceito do IBGE (utilizado para a


categorização desses produtores no Censo) e da norma do MCR utilizado para
o acesso ao Pronamp, tem-se os “perfis” de médios produtores apresentados
na Figura 35.

Ampliando ainda mais o universo de médios, um terceiro perfil denominado


“GRANDE - PRONAMPIANO” é também englobado no estudo (Figura 35), e
se caracteriza por agrupar produtores com renda bruta anual inferior ao limite
máximo estabelecido pelo Pronamp e com área superior a 15 módulos fiscais
(MF) – que compõem um percentual de produtores inseridos na chamada
“Outras Classes” do IBGE.

Logo, o médio produtor ampliado considerado neste estudo engloba as classes


delimitadas pelos seguintes critérios: (i) quando a classe de renda é “Pronaf” e
a classe de tamanho é de “médio”, o que resulta no perfil FAMILIAR – MÉDIO;
(ii) quando a classe de renda é “Pronamp” e a classe de tamanho é “médio”;
indicando o perfil NÃO FAMILIAR - MÉDIO ou (iii) quando a classe de renda é
“Pronamp” e a classe de tamanho é “grande”, resultando no chamado
GRANDE - PRONAMPIANO.

Com base nesse conceito ampliado foi feita uma análise dos dados
desagregados do Censo Agropecuário de 2006, de modo a abranger as três
classes de médio produtor (FAMILIAR- MÉDIO, NÃO FAMILIAR – MÉDIO e
GRANDE – PRONAMPIANO).

Os resultados dessa nova classificação de médios mostraram uma estimativa


de aproximadamente 537 mil estabelecimentos agropecuários de médios
produtores para todo o território brasileiro, dos quais aproximadamente 154 mil
estão na região sudeste, 178 mil na região Sul, 41 mil na região norte, 72 mil
na região nordeste e 92 mil na região centro-oeste, ou seja, mais da metade
(62%) localizam-se nas regiões Sul e sudeste (Figura 36).

16
Nos normativos que regem o acesso ao Pronamp na safra 2018/2019 esse limite mínimo de origem da
renda na agropecuária para caracterização do médio produtor deixou de existir.

56
Figura 35. Representação: classes de produtores (IBGE), acesso a crédito
rural (Pronaf e Pronamp) e perfis de médios produtores

PRONAMP As 3 categorias
Lei 11.326/2006 MCR enquadram-se no
PRONAMP SE no
Agricultura Familiar BACEN
PRONAF mínimo 80% da renda
for originária da
Fomenta as definições do agropecuária ou
IBGE e MCR extração vegetal.

Familiar, Pronafiano
FAMILIAR

Familiar, Não Pronafiano


MÉDIOS
IBGE NÃO PRODUTORES
FAMILIAR
Não Familiar
POR ÁREA OU
POR ACESSO A
PRONAMP
Grande, Pronampiano
OUTRAS
CLASSES Grande, Não
Pronampiano

Fonte: Elaboração própria.

Figura 36. Distribuição espacial dos estabelecimentos que compuseram o


universo ampliado de médios produtores no Brasil, por microrregião

Fonte: “Análise territorial das necessidades de ATER, infraestrutura, plano de monitoramento e


avaliação de ações empreendidas”, Projeto de Cooperação Técnica PCT/BRA/IICA/13/002
coordenado pela FEALQ/IICA, em andamento.

57
5.2 O médio produtor e a conexão no meio rural: dados do
Censo Agropecuário 2006
Conforme mencionado no item 4.2, a situação do sinal 4G é a mais crítica no
país. A fim de analisar essa criticidade especificamente para os médios
produtores rurais, uma análise exploratória utilizando a malha fundiária do
país17 foi realizada. Nessa análise, os imóveis rurais dos médios produtores
rurais (categoria “NÃO-FAMILIAR MÉDIO” de acordo com a área do
estabelecimento: 4-15 módulos fiscais), foi utilizada como uma Proxy para todo
o universo de médios. Embora esse grupo “NÃO-FAMILIAR MÉDIO”
represente apenas 5% do total dos estabelecimentos de médios considerados
na conceituação apresentada no item anterior, o grupo também representa
20% de toda a área de estabelecimentos rurais no Brasil (incluindo agricultores
familiares, médios e grandes). Esse grupo também corresponde ao “Não
familiar, módulo fiscal, classe de médio produtor" do IBGE. Um cruzamento do
mapa de médios produtores (grupo “NÃO-FAMILIAR MÉDIO”) com a superfície
de cobertura 4G (Figura 29) foi realizado. Esse procedimento permitiu calcular,
para cada município do país, o percentual de médios sem um sinal ao menos
regular de 4G na propriedade (Figura 37).

Figura 37. A - Percentual de médios produtores (NÃO-FAMILIAR MÉDIO) sem


sinal pelo menos regular de 4G. B – Percentual de estabelecimentos de NÃO-
FAMILIAR MÉDIO nos municípios brasileiros

B
A

17 FREITAS, F. L. M.; GUIDOTTI, V.; SPAROVEK, G. Nota técnica: Malha fundiária do Brasil, v.170321.
In: Atlas - A Geografia da Agropecuária Brasileira, 2017. Disponível em:
www.imaflora.org/atlasagropecuario

58
A Figura 37 A mostra o baixo acesso à banda larga 4G principalmente na
região Norte e Centro-Oeste do país, embora em grande parte da região Norte
não seja encontrado um grande percentual de médios produtores (Figura 37
B). Entretanto, há áreas significativas nas regiões Centro-Oeste e Sul com
percentual elevado de médios produtores, porém sem acesso à conexão 4G.

A Tabela 8 mostra que a região Norte possui 1,21 milhão de hectares de áreas
com estabelecimentos de 4 a 15 módulos ficais (médio produtor) sem qualquer
cobertura proporcionada pelo sinal 4G, sendo que a situação mais crítica é
encontrada no estado do Amapá, onde 22% dos estabelecimentos de médios
não possuem conexão. O estado com melhor conexão 4G da região é
Rondônia, onde 80% dos médios produtores possuem seus estabelecimentos
com 100% de sinal médio, alto ou excelente. A região Norte possui cerca de
32.674 médios produtores, de acordo com o recorte de área do
estabelecimento.

A região Centro-oeste é a segunda com as condições mais desfavoráveis


quanto à conexão 4G, apresentando aproximadamente 772 mil hectares de
médios produtores sem qualquer sinal. A situação mais crítica é encontrada no
estado do Mato Grosso, onde 5% dos estabelecimentos de médios não
possuem conexão. Entretanto, em média essa região apresenta 72% dos
estabelecimentos de médios produtores com 100% de sinal com nível médio,
alto ou excelente. A região centro-oeste possui cerca de 62.088 médios
produtores, de acordo com o recorte de área do estabelecimento.

Com 61.785 médios produtores, de acordo com o recorte de área do


estabelecimento, a região nordeste apresenta, em média, 92% dos
estabelecimentos de médios produtores com 100% de sinal médio, alto ou
excelente, o que equivale a aproximadamente 1,7 milhão de hectares. Se for
considerada a porcentagem de médios cuja conexão média, alta ou excelente
está acima de 50% da área total dos estabelecimentos de médios, esse valor
sobe para 93%.

A região Sudeste, com o maior número de médios produtores entre todas as


regiões (112.214), apresenta, em média, 93% dos estabelecimentos de médios
produtores com 100% de sinal médio, alto ou excelente, o que equivale a
quase 23,6 milhões de hectares de médios.

59
Tabela 8. Cobertura e qualidade do sinal disponível para os médios produtores
Propriedades que possuem
Número Propriedades totalmente Propriedades que
pelo menos 50% da área total Propriedades que estão
Região UF total de cobertas com sinal Médio, Alto
coberta com sinal 'médio', 'alto'
possuem pelo menos 50%
completamente sem sinal
médios ou Excelente da área total sem sinal
ou 'excelente'
Área (mil Área (mil
(%) Área (mil ha) (%) Área (mil ha) (%) (%)
ha) ha)
Acre 621 56 241,94 61 264,43 2 7,21 1 4,90
Amapá 696 37 208,01 41 218,48 22 105,62 19 96,74
Amazonas 2250 49 713,50 52 738,81 10 188,39 9 177,28
Norte Pará 12467 59 3.468,77 63 3.588,18 10 866,93 9 835,20
Rondônia 4730 80 773,97 82 804,30 0 9,94 0 7,46
Roraima 1929 54 310,00 57 325,68 4 98,21 3 85,83
Tocantins 9981 79 3.373,41 82 3.486,78 0 19,27 0 10,17
Alagoas 2507 98 1.126,56 99 1.152,74 0 - 0 -
Bahia 26651 93 4.526,82 94 4.614,80 0 - 0 -
Ceará 2948 93 1.966,17 94 2.028,16 0 - 0 -
Maranhão 8763 76 2.170,95 79 2.214,09 2 76,13 1 59,47
Nordeste Paraíba 4202 99 2.169,29 99 2.220,14 0 - 0 -
Pernambuco 4646 97 2.980,36 98 3.049,56 0 - 0 -
Piauí 6455 94 4.468,37 96 4.563,21 0 - 0 -
Rio Grande do Norte 3954 99 1.449,56 99 1.467,43 0 - 0 -
Sergipe 1659 99 889,45 99 934,60 0 - 0 -
Distrito Federal 451 100 1,78 100 1,78 0 - 0 -
Goiás 28086 87 3.243,46 90 3.359,58 0 - 0 -
Centro-Oeste
Mato Grosso 21259 72 2.026,24 74 2.069,35 5 715,17 5 666,86
Mato Grosso do Sul 12292 78 992,75 80 1.008,03 1 57,57 0 48,72
Espírito Santo 7882 99 1.069,11 99 1.103,63 0 - 0 -
Minas Gerais 55461 94 12.931,94 95 13.252,61 0 - 0 -
Sudeste
Rio de Janeiro 11018 96 969,58 96 998,25 0 - 0 -
São Paulo 37853 91 8.649,52 92 8.840,21 0 - 0 -
Paraná 28544 80 6.665,93 83 6.781,59 0 - 0 -
Sul Rio Grande do Sul 26378 85 5.500,57 87 5.647,55 0 - 0 -
Santa Catarina 9809 90 3.768,83 91 3.859,36 0 - 0 -
Total 333492 86 76.656,85 88 78.593,32 1 2.144,45 1 1.992,62

60
Já a região Sul apresenta, em média, 84% dos estabelecimentos de médios
produtores com 100% de sinal médio, alto ou excelente, o que equivale a
aproximadamente 8 milhões de hectares. A situação menos favorável é
encontrada no estado do Paraná, cujo universo de médios é de 28.544
estabelecimentos (o maior número de médios da região), onde 20% dos
estabelecimentos não apresentam 100% de conexão com sinal médio, bom ou
excelente.

5.3 A demanda por conexão pelo médio produtor: resultados de


pesquisa de campo
Em pesquisa de campo coordenada pela ESALQ e conduzida pelas instituições
estaduais de ATER18, foram contempladas questões referentes ao uso de
internet e celulares pelos médios produtores rurais, de modo a investigar se
esses seriam meios interessantes de comunicação com o MAPA para
transferência de tecnologia, troca de informações, coleta de opiniões e
avaliação de ações. A pesquisa contempla amostra de 2.586 médios
produtores de 23 Estados.

De modo geral, 52% dos entrevistados afirmaram que utilizam computador


para as tarefas relacionadas à propriedade rural. Destes, em média 33%
utilizam o computador para pesquisa de informações agropecuárias, 24% para
atividades de gerenciamento da produção e gestão financeira da propriedade,
e 22% para a comunicação, principalmente checagem e envio de e-mails.
Na amostra avaliada, 58% dos médios produtores possuem acesso à internet
(Figura 38Erro! Fonte de referência não encontrada.), onde os menores
percentuais de acesso situam-se em estados do nordeste (exceto Bahia). As
principais utilizações da internet são: comunicação (58%) e compras (32%),
conforme a Figura 39. Erro! Fonte de referência não encontrada.Além disto,
o percentual de médios produtores com conexão de internet é
aproximadamente 30 pontos percentuais superiores ao percentual do total de
estabelecimentos com internet, conforme os dados do Censo Agropecuário
2017 da seção 4.1.

18Pesquisa de abrangência nacional realizada no âmbito do estudo “Análise territorial das


necessidades de ATER, infraestrutura e plano de monitoramento e avaliação das ações
empreendidas”, sob a coordenação da Esalq/USP em colaboração com a Asbraer, visando
qualificar a demanda do médio produtor por ATER.

61
Figura 38. Acesso à conectividade por médios produtores

Fonte: elaboração própria com dados do MAPA/FEALQ/IICA.

Figura 39. Finalidade do uso da internet por médios produtores

100%
80%
60%
40%
20%
0%
AL AM BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RS SC SP TO

Comunicação Compras Transações bancárias


Contato com o governo Educação Jornalismo (notícias)
Lazer Outros usos

Fonte: elaboração própria com dados do MAPA/FEALQ/IICA.

A pesquisa ainda revelou que 88% dos médios produtores possuem aparelhos
celulares e, novamente, os piores índices de acesso a aparelhos celulares
encontram-se nos estados do nordeste. Aproximadamente 50% dos

62
respondentes afirmam que utilizam o aparelho celular para acessar a internet, o
mesmo percentual para o envio de SMS e, 31% para acessar aplicativos.
Quando consultados se utilizariam um aplicativo que o MAPA viesse a adotar,
para disponibilizar informações aos agricultores, coletar opiniões, avaliar suas
ações, 69% dos produtores responderam afirmativamente, percentual bastante
superior ao de produtores que utilizam seus aparelhos para acessar aplicativo
(apenas 31%) (Figura 40Erro! Fonte de referência não encontrada.). Além
disto, perguntados sobre a melhor forma do MAPA fornecer informação,
categorizaram como principais veículos a TV (45%), Rádio (15%), Sites (46%)
e Impresso (43%) (Figura 41). Portanto, o aplicativo de celular seria a
ferramenta de maior abrangência entre os médios produtores. Esses dados
demonstram a importância de políticas de ampliação da conectividade no meio
rural.
Figura 40. Finalidade do uso do celular por médios produtores

100%

80%

60%

40%

20%

0%
GO

TO
ES

PA

PI
PB
AL

MA

PE

PR
RJ
AM

MG

RN
RO
BA

DF

MS

RS

SP
MT

SC
CE

Navegar na internet Envio de SMS Usar aplicativos

Fonte: elaboração própria com dados do MAPA/FEALQ/IICA.

Figura 41. Preferência dos médios produtores por canais de comunicação com
o MAPA

63
Fonte: elaboração própria com dados do MAPA/FEALQ/IICA.

A Tabela 9Erro! Fonte de referência não encontrada. sintetiza os resultados


da pesquisa realizada com os médios produtores, reforçando os resultados
encontrados na Tabela 1. O recebimento de ATER, associação a cooperativas,
acesso a internet, utilização de aparelhos de celular e renda são positivamente
correlacionados, evidenciando que os aspectos institucionais, acesso à
informação e tecnologia estão relacionados com a geração de valor na
atividade agropecuária. Além disto, estas variáveis (exceto renda) também
estão correlacionadas ao nível educacional dos médios produtores, destacando
a importância da existência de conexão para o desenvolvimento de capital
humano no meio rural.

Tabela 9. Correlação do percentual de médios produtores na UF com variáveis


selecionadas

Correlação Spearman
Produtor Produtor
possui possui
Variáveis Recebeu ATER Cooperado Internet Celular Renda
curso curso
técnico superior
Produtor
possui curso 1 0,5208** 0,2332 0,2678 0,4057*** 0,3063 0,0109
técnico
Produtor
possui curso 0,5208** 1 0,3962** 0,42** 0,387*** 0,3992*** 0,0484
superior
Recebeu ATER 0,2332 0,3962** 1 0,7204* 0,4724** 0,5662* 0,7213*
Cooperado 0,2678 0,42** 0,7204* 1 0,5431* 0,6166* 0,6097*
Internet 0,4057*** 0,387*** 0,4724** 0,5431* 1 0,5061* 0,3899***
Celular 0,3063 0,3992*** 0,5662* 0,6166* 0,5061* 1 0,5939*
Renda 0,0109 0,0484 0,7213* 0,6097* 0,3899*** 0,5939* 1
Fonte: elaboração própria com dados do MAPA/FEALQ/IICA. Em andamento. OBS: * Ao
menos 99% de significância estatística; ** Ao menos 95% de significância estatística; *** Ao
menos 90% de significância estatística.

No mesmo sentido da Tabela 9, é possível avaliar a correlação da orientação


técnica (seção 4.1) e, cobertura e qualidade de conexão disponível para os
médios produtores. Através dos dados disponíveis os resultados de correlação
situaram-se muito próximos de zero, portanto, omitiu-se a apresentação dos
mesmos. Neste caso, por mais que a disponibilidade do serviço de internet
esteja correlacionada com a ATER, conforme as discussões da seção 4.1,
apresenta-se como hipótese que a qualidade de conexão deve estar mais
relacionada as características geográficas, densidade de acessos, intensidade
da demanda e demais aspectos de mercado.

64
São quase 2 milhões de hectares de médios produtores sem
conexão de internet, concentrados nas regiões norte e centro-oeste.
A existência de conexão mostrou-se correlacionada com o
desenvolvimento institucional, de capital humano e renda dos
médios produtores. Assim, ações para expansão da conectividade
nestas regiões apresentam elevados benefícios potenciais.

5.4 Áreas prioritárias para as ações voltadas à conectividade no


meio rural
Devido à presença esparsa de médios produtores rurais no território brasileiro e
diante da necessidade de priorizar áreas de ação do MAPA com relação a
políticas que promovam a conectividade para esse público, foi necessário
definir com maior precisão quantos e quais são os médios considerados
prioritários, selecionando perfis de interesse. A metodologia de priorização
utilizada foi a mesma adotada no estudo “Proposta de diretrizes para atuação
do MAPA na prestação de serviços de ATER ao médio produtor 19”, voltado à
seleção de áreas para as ações de ATER do MAPA. A premissa para a seleção
de áreas foi a necessidade de priorização de médios que ainda apresentam
potencial de aumento da produção e da produtividade agropecuária. Esses
médios, ao contrário dos mais eficientes, carecem de maior direcionamento
quanto a políticas públicas de ATER. A mesma lógica foi adotada no presente
estudo, que considerou que a maior demanda quanto a políticas públicas para
a melhoria da conectividade no meio rural ocorre em áreas de médios com
menor produtividade.

Excluídos os médios produtores com índices de produtividade já situados no


topo do ranking, os demais segmentos de médios produtores seriam prioritários
para receber orientações por meio de um aplicativo (mensagens e orientações
sobre boas práticas nas cadeias produtivas que atuam), trocar informações
com os prestadores de serviços de assistência técnica (demandar e receber
orientações específicas, etc.) e até mesmo, fazer uso mais intenso de
tecnologias avançadas de controle de maquinários e monitoramento de ações
na agropecuária para tornar operações mais eficientes. Essas ações,
isoladamente ou em conjunto, podem contribuir para incrementos de
produtividade significativos, mas para que sejam funcionais é necessário que
existam boas condições de conectividade rural, possibilitando o envio,
recebimento e processamento de dados em tempo real.

19Martins, S. P., 2018. Proposta de diretrizes para atuação do MAPA na prestação de serviços de ATER
ao médio produtor. Projeto de Cooperação Técnica Internacional para a Regionalização das Políticas de
Desenvolvimento do Agronegócio e do Cooperativismo Brasileiros”. PCT IICA/BRA/02/2013.

65
Foram aplicados dois filtros para a seleção do público alvo: um filtro de área do
estabelecimento e outro de níveis de produtividade.

O primeiro filtro selecionou os estabelecimentos de até 8 Módulos Fiscais


(critério de área), com a finalidade de alcançar os produtores com as menores
extensões de terra dentro da categoria, partindo do pressuposto de que
produtores detentores de maiores extensões de terra têm capacidade
financeira para contratação serviços de melhoria da conectividade, não sendo
foco de políticas públicas voltadas a esse fim. Dessa forma, o produtor
GRANDE – PRONAMPIANO foi o primeiro a ser retirado do grupo prioritário de
médios produtores, sendo direcionado o detalhamento subsequente aos grupos
FAMILIAR - MÉDIO e NÃO FAMILIAR – MÉDIO.

Em seguida, obedecendo a mesma lógica, o produtor NÃO FAMILIAR - MÉDIO


com área entre 8 e 15 módulos fiscais foi também retirado do grupo prioritário
de médios produtores. Portanto, o universo de médios produtores considerados
de interesse compreendeu: o subgrupo FAMILIAR – MÉDIO, que possui até 4
módulos fiscais, e o subgrupo do NÃO FAMILIAR - MÉDIO com área entre 4 e
8 módulos fiscais. Essa seleção resultou em uma estimativa de público alvo
para as ações do MAPA de 402 mil estabelecimentos no Brasil, sendo cerca de
30 mil localizados na região norte, 57 mil na região nordeste, 44 mil na região
centro-oeste, 124 mil na região sudeste e 147 mil na região Sul.

O segundo filtro selecionou estabelecimentos com níveis de produtividade tais


que ainda apresentam margem para serem impulsionados pela ATER e que,
potencialmente mais necessitam de políticas públicas voltadas à conectividade
no meio rural.

Partindo dos 402 mil estabelecimentos pré-selecionados por área, foi calculada
a produtividade média por estado e determinados os níveis de produtividade
(baixa, média ou alta) para cada classe de tamanho (em módulos fiscais) das
propriedades rurais dentro de cada estado.

Para a determinação do nível de produtividade das propriedades foram


calculados o primeiro quartil e o nono percentil das produtividades médias
estaduais dos estabelecimentos e classificadas as produtividades segundo as
classes de tamanho em relação a esses valores. Assim, produtividades
menores do que as do primeiro quartil foram classificadas como “baixa”, entre o
primeiro quartil e o nono percentil foram classificadas como “média” e maiores
que o nono percentil foi classificado como “alta”. Em seguida foram
selecionados como prioritários os produtores com níveis de produtividade baixa
ou média - considerados como grupo potencial para as ações de ATER pública
alavancarem a produtividade, assim como prioritários do ponto de vista de

66
políticas públicas voltadas à conectividade -, resultando numa estimativa de
cerca de 272 mil estabelecimentos agropecuários.

Os resultados mostraram que o número estabelecimentos agropecuários de


médios produtores considerados prioritários é de aproximadamente 22 mil na
região norte, 39 mil na região nordeste, de 37 mil no Centro-Oeste, 81 mil na
região sudeste e 93 mil na região Sul (Figura 42)20.

Figura 42. Distribuição dos estabelecimentos de médios produtores prioritários


para as ações de ATER, por microrregião no Brasil

Fonte: Martins (2018)

Na Figura 43 é apresentada uma síntese dos filtros aplicados para a seleção e


os principais números para o Brasil em cada procedimento adotado.

20
Ressalta-se que esse recorte utilizado para a seleção de áreas prioritárias difere do recorte usado no
item anterior (NÃO-FAMILIAR PRONAFIANO, 4-15 módulos fiscais). No recorte anterior o objetivo for
realizar apenas uma prospecção sobre a cobertura 4G para os médios produtores, com base na malha
fundiária brasileira. Já o recorte utilizado para a seleção de áreas prioritárias para o MAPA foi feito a partir
da base de dados do IBGE e utilizou outros filtros.

67
Figura 43. Síntese do levantamento do público alvo para as ações de ATER a
serem fomentados pelo MAPA

Filtro de
Filtro de Tamanho de
Universo de Produtividade
área: 272 mil
Médios Produtores (níveis que
Até 8 MF estabelecimentos
537 mil ainda podem selecionados
402 mil
estabelecimentos ser (Brasil)
estabelecimentos
(Brasil) alavancados
(Brasil)
pela ATER)

Fonte: Adaptado de Martins (2018)

5.5 Microrregiões prioritárias para direcionar as ações voltadas


ao médio produtor rural
A partir da seleção dos médios produtores prioritários, com produtividade baixa
ou média, foi feito o ordenamento em função do número de estabelecimentos
alvo em cada município brasileiro onde esse público está presente, através do
recorte dos “200 +”, isto é, da seleção dos 200 municípios com o maior número
de médios produtores prioritários. O resultado foi a escolha de 202 municípios
com um total de 85.191 médios produtores localizados em 133 distintas
microrregiões. As microrregiões foram classificadas através de quartis,
conforme a concentração de médios produtores, em muito alta, alta, média ou
baixa, para que posteriormente pudessem ser novamente filtradas.

Um próximo filtro considerou a distribuição espacial do crédito rural para os


médios produtores Pronamp (distribuição do número de contratos para acesso
ao programa durante as safras 2013/14, 2014/15, 2015/16 e 2016/17), por
microrregião. Através de uma análise em quartil, analisou-se as microrregiões
com muito alta, alta, média ou baixa concentração de contratos do Pronamp,
considerando o montante liberado entres as quatro safras. A Figura 44
apresenta a distribuição de contratos conforme essa classificação.

68
Figura 44. Distribuição espacial do Pronamp, conforme concentração do
número de contratos entre as safras de 2013/14 até 2016/17, por microrregião
no Brasil

Fonte: Martins (2018)

O resultado da seleção e caracterização das microrregiões de maior relevância


para ações do MAPA identificou 24.295 estabelecimentos de médios
localizados em 17 microrregiões no Brasil (Figura 45).

Figura 45. Microrregiões prioritárias para a atuação do MAPA junto aos médios
produtores rurais

Fonte: Martins (2018)

69
5.6 Síntese das microrregiões selecionadas e situação quanto à
conectividade do meio rural

Nas microrregiões selecionadas há importante concentração dos médios que


atuam em pecuária (de corte e leite), grãos e culturas perenes (cacau,
seringueira e café). Apenas na região sudeste (em São Paulo) a microrregião
selecionada é voltada para fruticultura, horticultura e agricultura irrigada,
diferenciando-se do padrão predominante. As Tabela 10 a Tabela 14
apresentam os números de médios produtores e as cadeias produtivas
predominantes em cada uma das microrregiões.

As Tabela 10 a Tabela 14 mostram também a qualidade da conexão 4G nos


municípios com maior presença de médios produtores dentro das
microrregiões. Para a análise da conectividade nas microrregiões, os dados
dos municípios prioritários foram cruzados com o arquivo matricial de sinal 4G.
Cada município foi dividido em células de 30 por 30 metros, para as quais foi
possível obter a qualidade da conexão. Assim, para cada município, uma
determinada quantidade de células é avaliada como sem sinal, enquanto outra
quantidade possui cobertura baixa e assim por diante. O percentual de células
com qualidade igual ou superior a ‘média’ foi usada como critério para as
tabelas seguintes. Se o número de células com cobertura ‘média’, ‘alta’ ou
‘excelente’ (p) fosse inferior a 20% do número total de células, a qualidade da
conectividade de um município seria avaliada como ‘Muito ruim’. Se p fica entre
20 e 40% do número total de células, a avaliação é ‘Ruim’; de 40 a 60%,
‘Médio’; de 60 a 80%, ‘Bom’ e, por fim, de 80 a 100%, ‘Excelente’.

Os resultados mostraram que a maior parte das microrregiões prioritárias a


conexão 4G é “Excelente, com exceção dos municípios de Bom Jesus da Serra
(Microrregião de Campos de Lages – SC), onde a conexão é “Boa”, e dos
municípios de Palmeira (Microrregião de Ponta Grossa – PR) e Canguçu
(microrregião de Pelotas – RS), onde a conexão é “Média”.

Estas tabelas também ressaltam a importância das instituições para o


desenvolvimento regional e conectividade. Através dos dados do Censo
Agropecuário 2017 estabeleceu-se o percentual de estabelecimentos atendidos
por ATER e associados às cooperativas, em relação ao total de
estabelecimentos da microrregião. Complementarmente, utilizou-se o Censo
Escolar 2017 e informações complementares disponibilizadas pela ANATEL
(2018) para contabilizar as escolas rurais ativas nas microrregiões, detalhando
o percentual com acesso à internet (qualquer forma de acesso). Destacaram-se

70
ainda as escolas rurais profissionalizantes, considerando todas as modalidades
de ensino21 e todos os cursos oferecidos.

Através das informações apresentadas nas Tabela 10 a Tabela 14 é possível


comparar os resultados das microrregiões e as respectivas UFs (Tabela 15),
no que diz respeito à conectividade em relação à presença de escolas rurais,
cooperativas e recebimento de ATER.

 Bahia

No estado da Bahia, 93% dos médios imóveis estão totalmente cobertos por
sinal de 4G pelo menos médio. Na microrregião de Jequié, esse percentual é
ligeiramente inferior, com 96,0% de suas 2.179 propriedades completamente
cobertas com sinal de média, alta ou excelente qualidade. Isso ocorre,
sobretudo por conta dos municípios Jequié e Milagres, que são os únicos da
microrregião que não possuem a totalidade dos imóveis com sinal de
qualidade. A microrregião de Jequié, quando comparada à totalidade da Bahia,
só apresentou melhores resultados quanto à conexão nas escolas rurais
(aproximadamente 5,4 pontos percentuais). No entanto, o percentual de
estabelecimentos que recebem ATER ainda é baixo, assim como na UF.
Apesar da boa qualidade de conexão, mostra-se que existe necessidade de
ações para o fortalecimento das instituições da Bahia.

 Distrito Federal

Entre todas as UFs do país, o DF possui o maior percentual de


estabelecimentos que recebem ATER (76,9%). No entanto, ao comparar o
desenvolvimento institucional da microrregião Entorno de Brasília com o total
do DF, houve menor desempenho de ATER nos estabelecimentos rurais (-55
pontos percentuais) e menores percentuais de cooperados (-5 pontos
percentuais). Não existem grandes divergências na existência de conexão nas
escolas rurais, visto que aproximadamente 96% das escolas rurais do DF
possuem internet. Este percentual é semelhante à conectividade das médias
propriedades no estado, onde a totalidade dos 451 imóveis é coberta por sinal
pelo menos médio de 4G.

 Goiás

O estado de Goiás possui um percentual de 87% dos médios imóveis com


cobertura de qualidade ao menos média de sinal 4G. Esse alto percentual é

21
Foram consideradas as variáveis “in_profissionalizante”, “in_comum_medio_integrado”,
“in_esp_exclusiva_medio_integr”, “in_esp_exclusiva_eja_prof” e “in_esp_exclusiva_prof”, disponíveis no
dicionário do Censo Escolar (http://inep.gov.br/censo-escolar).

71
ainda superado no caso das microrregiões Entorno de Brasília e Meia Ponte,
onde 94,4% e 94,1% dos médios imóveis são cobertos por sinal de celular com
a mencionada qualidade, respectivamente. A microrregião de Sudoeste de
Goiás possui um valor ligeiramente inferior, 83,6%, e a microrregião de São
Miguel do Araguaia, 68,4%. Nesta última microrregião, todos os municípios da
possuem um percentual próximo a 55~60% de cobertura de médios
proprietários, com exceção dos municípios de Novo Planalto e São Miguel do
Araguaia, onde todos os imóveis com essas características possuem sinal de
qualidade ao menos média. As microrregiões de Meia Ponte e Sudoeste de
Goiás apresentaram percentuais de estabelecimentos que recebem ATER e
cooperados aproximadamente 50% superiores ao observado na UF. No
entanto, São Miguel do Araguaia mostra um desenvolvimento institucional
aquém da UF. Nas variáveis de conexão nas escolas rurais, como Goiás
apresenta 94,3% de escolas com internet, não houve grandes divergências nos
resultados.

 Minas Gerais

No que tange a conexão 4G, o estado de MG apresenta um percentual médio


de 97% dos médios imóveis completamente cobertos por sinal médio, alto ou
excelente. Nas microrregiões prioritárias, diferentes casos aparecem. Para a
microrregião de Patos de Minas, 99,4% das 782 propriedades estão
completamente cobertas pelo sinal da mencionada qualidade. Neste caso, a
microrregião apresenta um valor superior à da média estadual, não sendo
prioritária para o critério de conexão. É o mesmo caso da microrregião de
Uberlândia, onde 94,4% dos 2.521 médios imóveis estão na mesma situação.
Já a microrregião de Ituiutaba possui um valor bastante inferior à média
estadual, com 77,5% de seus 1.151 imóveis totalmente cobertos por sinal pelo
menos médio de 4G. Ituiutaba é microrregião prioritária para o desenvolvimento
da infraestrutura de conexão móvel no estado. As microrregiões de MG
apresentam maiores percentuais em todos os indicadores institucionais
selecionados, exceto em Patos de Minas, onde a conectividade nas escolas
rurais é 16,5 pontos percentuais, inferior ao observado na UF. Identificam-se
maiores deficiências na conectividade na microrregião de Ituiutaba, salientando
a importância de políticas públicas de incentivo para ampliação da abrangência
de cobertura e fortalecimento institucional.

 Paraná

Em modo geral, o Paraná apresenta um percentual de 80% dos médios


imóveis cobertos por sinal pelo menos médio de 4G. Na microrregião prioritária
de Cascavel, 90,9% das médias propriedades possuem sinal de celular com tal
qualidade e o mesmo se repete para Ponta Grossa, que possui 96,3% das

72
médias propriedades com sinal de qualidade. As regiões prioritárias do Paraná
possuem maior percentual de escolas rurais com conexão, mas apresentam
menores percentuais de estabelecimentos cooperados. Quanto à assistência
técnica, Ponta Grossa apresenta 3 pontos percentuais à mais que o observado
na UF, enquanto em Cascavel esta participação é aproximadamente 6,5 pontos
percentuais inferior.

 Pará

O Pará possui 59% de seus médios imóveis com sinal médio, alto ou excelente
de conexão 4G, mas sua microrregião de Altamira apresenta valor
substancialmente menor para os médios produtores, com 55,7% de seus 1.696
imóveis cobertos por sinal de qualidade. Quanto às instituições, a microrregião
de Altamira não apresentou indicadores superiores aos da UF correspondente.
Isto mostra que ainda existe a necessidade de maiores esforços para promover
ações de ATER e ampliação da conectividade nas escolas rurais.

 Rio Grande do Sul

Esta UF apresenta quase 100% das escolas rurais atendidas por redes de
internet. Apesar disto, as microrregiões prioritárias possuem menores
percentuais de produtores que recebem assistência técnica (-11 p.p. em
Campanha Ocidental e -4 p.p. em Pelotas), assim como média de 20 p.p.
inferiores de estabelecimentos associados à cooperativas, que o observado na
UF. Ainda assim, os indicadores das microrregiões são superiores à média do
Brasil. No entanto, o mesmo padrão não se repete para a conexão de celular.
Apesar do estado possuir 85% de seus médios imóveis cobertos por sinal de
média, alta ou excelente qualidade, suas duas microrregiões prioritárias
possuem qualidade muito inferior quando se trata de médias propriedades,
abrangendo apenas 80,8% das 855 propriedades da microrregião de Pelotas e
55,5% das 2.019 propriedades da microrregião de Campanha Ocidental. No
caso de Pelotas, a maior criticidade se localiza em Capão do Leão e Cristal,
enquanto para Campanha Ocidental, o problema se localiza em Alegrete e
Quaraí.

 Santa Catarina

O estado possui 90% dos médios imóveis cobertos com sinal adequado para
uso de conexão 4G, valor semelhante ao percentual das médias propriedades
cobertas com esse sinal nas microrregiões de Joaçaba (99,1%) e Canoinhas
(93,3%). A microrregião de Campos dos Lages, no entanto, possui valor muito
interior, 68,7%, sobretudo por conta dos municípios de Anita Garibaldi, Cerro
Negro e Urupema, que possuem menos da metade de seus médios imóveis
cobertos por sinal médio, alto ou excelente de conexão 4G. Campos de Lages

73
apresenta piores resultados em todos os indicadores institucionais, quando
comparada à UF. Em contraste, Joaçaba apresenta todos os resultados
superiores. Por fim, Canoinhas tem menor percentual de cooperados (-10 p.p.),
mas apresenta maiores percentuais de conectividade nas escolas rurais e de
estabelecimentos que recebem orientação técnica. Apesar dos resultados
heterogêneos entre as microrregiões prioritárias, as microrregiões desta UF
possuem melhores indicadores institucionais que o observado no Brasil. Ainda
assim, identificam-se oportunidades para a ampliação de ações de ATER,
principalmente em Campos de Lages.

 São Paulo

O estado de maior desenvolvimento econômico do país possui 91% de seu


território coberto com sinal médio, alto ou excelente. Sua única microrregião
prioritária, Piedade, possui um percentual muito inferior de seus 510 médios
imóveis com sinal de mesma qualidade: 65,0%. A limitação da qualidade de
conexão pode ser um problema para a conectividade nessa microrregião.
Exceto quanto à conectividade nas escolas rurais, os indicadores institucionais
são inferiores na microrregião selecionada. O recebimento de ATER é
aproximadamente 15,3 pontos percentuais inferior e as cooperativas 16,7
pontos percentuais menor que o observado na UF.

Em geral, a discussão mostra que as microrregiões prioritárias


possuem indicadores de qualidade de conexão e desenvolvimento
institucional capazes de suportar as oportunidades para ampliação
de ações de ATER e de incentivo a inovação, em todas as regiões
brasileiras. Como apresentado, estes fatores institucionais estão
fortemente correlacionados e favorecem o desenvolvimento no
meio rural, ampliando os potenciais de geração de renda e fixação
do jovem no campo, ao viabilizarem o acesso à informação e
tecnologias de maior produtividade e sustentabilidade
(socioeconômica e ambiental) na produção agropecuária.

74
Tabela 10. Síntese das microrregiões selecionadas para as ações de ATER na região Norte
Censo Agropecuário Pronamp Conectividade Instituições
%
UF Cadeias
Universo Recurso Estado/
Prioritário produtivas Qualidade Variável Estabelecimentos/Escolas
Médio Aplicado % com
predominantes
Microrregiões Internet
Pará

Excelente: ATER 1085 4,70%

Pecuária de corte
 Altamira Cooperativas 477 2%
Altamira 2600 1216 Médio/Alto

Escolas Rurais 460 27,60%

Escolas Rurais
Cacau/seringueira 3 33,30%
Profissionalizantes
Fonte: Adaptado de Martins, 2018.

75
Tabela 11. Síntese das microrregiões selecionadas como prioritárias para as ações de ATER na região Nordeste
Censo Agropecuário Pronamp Conectividade Instituições
UF %
Universo Cadeias produtivas Recurso Estado/
Prioritário Qualidade Variável Estabelecimentos/Escolas
Microrregiões Médio predominantes Aplicado % com
Internet
Bahia

Excelente: ATER 1967 5,57%


Café, cacau ou
seringueira
 Jequié Cooperativas 337 1%
Jequié 2727 1108 Médio/Alto
Pecuária leiteira  Marcionílio Souza Escolas Rurais 392 59,69%

Escolas Rurais
Pecuária de corte 2 100,00%
Profissionalizantes
Fonte: Adaptado de Martins, 2018.

76
Tabela 12. Síntese das microrregiões selecionadas como prioritárias para as ações de ATER na região Centro-Oeste

Censo Agropecuário Pronamp Conectividade Instituições

UF %
Cadeias
Universo Recurso Estado/
Prioritário produtivas Qualidade Variável Estabelecimentos/Escolas
Microrregiões Médio Aplicado % com
predominantes
Internet
DF

Excelente: ATER 3822 21,71%

Pecuária leiteira

Entorno de
2.877 1.082 Médio/Alto
Brasília  Cocalzinho de
Cooperativas 880 5%
Goiás

Pecuária de
 Luziânia Escolas Rurais 122 96,72%
corte
Escolas Rurais
Grãos  Planaltina 0 0,00%
Profissionalizantes
Goiás

Excelente: ATER 4432 38,46%


Pecuária leiteira
Meia Ponte 3.796 1.028 Alto  Itumbiara Cooperativas 3928 34%

Grãos  Morrinhos Escolas Rurais 19 100,00%

77
Pecuária de Escolas Rurais
 Pontalina 1 100,00%
corte Profissionalizantes

Excelente: ATER 1006 18,04%

Pecuária leiteira  Crixás Cooperativas 326 6%


São Miguel do
2.231 1.204 Médio/Alto
Araguaia
 Nova Crixás Escolas Rurais 14 85,71%

Pecuária de  São Miguel do Escolas Rurais


1 100,00%
corte Araguaia Profissionalizantes
Excelente: ATER 4957 39,37%
Pecuária leiteira
 Caiapônia Cooperativas 4777 38%
Sudoeste de
5.030 1.166 Grãos Alto  Mineiros Escolas Rurais 44 97,73%
Goiás
Pecuária de Escolas Rurais
1 100,00%
corte Profissionalizantes
Fonte: Adaptado de Martins, 2018.

78
Tabela 13. Síntese das microrregiões selecionadas para as ações de ATER na região Sudeste

Censo Agropecuário Pronamp Conectividade Instituições

UF %
Cadeias
Universo Recurso Estado/
Prioritário produtivas Qualidade Variável Estabelecimentos/Escolas
Microrregiões médio aplicado % com
predominantes
Internet
Minas Gerais

Excelente: ATER 4388 42,79%

 Monte Alegre
Cooperativas 2813 27%
Pecuária de Minas
Uberlândia 4095 1920 Alto
leiteira
 Prata Escolas Rurais 36 88,89%

Escolas Rurais
 Tupaciguara 1 100,00%
Profissionalizantes

Excelente: ATER 3616 30,76%

 Carmo do
Cooperativas 3221 27%
Pecuária Paranaíba
leiteira
Patos de
2280 1625 Alto  Lagoa
Minas Escolas Rurais 27 55,56%
Formosa
 Patos de
Minas
Escolas Rurais
2 100,00%
 Rio Profissionalizantes
Café
Paranaíba

79
Excelente: ATER 1590 39,64%

Pecuária
 Gurinhatã Cooperativas 902 22%
leiteira
Ituiutaba 2094 1032 Alto
 Santa Vitória Escolas Rurais 8 100,00%

Pecuária de Escolas Rurais


0 -
corte Profissionalizantes
São Paulo

Excelente: ATER 1462 25,60%


Horticultura
 Ibiúna Cooperativas 422 7%

Piedade 2109 1457 Médio/Alto  São Miguel


Fruticultura Escolas Rurais 63 87,30%
Arcanjo

Agricultura Escolas Rurais


0 -
irrigada Profissionalizantes
Fonte: Adaptado de Martins, 2018.

80
Tabela 14. Síntese das microrregiões selecionadas como prioritárias para as ações de ATER na região Sul
Censo Agropecuário Pronamp Conectividade Instituições
UF %
Cadeias
Universo Recurso Estado/
Prioritário produtivas Qualidade Variável Estabelecimentos/Escolas
Microrregiões médio Aplicado % com
predominantes
Internet
Paraná

Excelente: ATER 2914 48,01%

 Ponta Grossa Cooperativas 1460 24%


Grãos
Ponta Grossa 2262 1234 Alto Escolas Rurais 45 93,33%

Médio:
Escolas Rurais
1 100,00%
Pecuária Profissionalizantes
 Palmeira
leiteira
Excelente: ATER 8546 38,43%
Grãos
 Cascavel Cooperativas 5827 26%
Cascavel 3823 1108 Alto
Pecuária
 Corbélia Escolas Rurais 136 93,38%
leiteira
Pecuária de Escolas Rurais
2 50,00%
corte Profissionalizantes
Santa Catarina

Excelente:
Campos de Pecuária de
5020 2956 Alto ATER 5995 37,20%
Lages corte
 Lages

81
 São Joaquim
Cooperativas 4068 25%
 Urubici

 Bom Retiro
Escolas Rurais 126 60,30%

Pecuária
Bom:
leiteira Escolas Rurais
1 100,00%
 Bom Jardim da Profissionalizantes
Grãos
Serra

Excelente: ATER 7884 53,83%


Pecuária
leiteira
 Caçador Cooperativas 5417 37%

Joaçaba 4216 1343 Grãos Alto  Herval d’Oeste Escolas Rurais 48 85,42%
Pecuária de
 Lebon Régis
corte Escolas Rurais
2 100,00%
Sistema Profissionalizantes
 Videiar
Integrado
Excelente: ATER 10274 58,81%
Grãos
 Canoinhas Cooperativas 4298 25%
Canoinhas 2488 1340 Alto
Pecuária
 Itaiópolis Escolas Rurais 92 85,87%
leiteira
Pecuária de Escolas Rurais
 Mafra 1 100,00%
corte Profissionalizantes
Rio Grande do Sul
Campanha Pecuária de
4220 1527 Alto Excelente: ATER 3920 38,67%
Ocidental corte

82
Pecuária
 Alegrete Cooperativas 1870 18%
leiteira
Grãos  Quaraí Escolas Rurais 62 98,39%
Agricultura Escolas Rurais
 São Borja 3 66,67%
irrigada Profissionalizantes

Excelente: ATER 8096 46,24%

Pecuária  São Lourenço do


Cooperativas 3885 22%
leiteira Sul
Pelotas 2560 1949 Alto Escolas Rurais 107 98,13%

Grãos Médio:
Escolas Rurais
1 100,00%
Pecuária de Profissionalizantes
 Canguçu
corte
Fonte: Adaptado de Martins, 2018.

83
Tabela 15. Síntese das UFs com microrregiões prioritárias para as ações de ATER

Conectividade Instituições

Escolas Rurais
ATER Cooperativas Escolas Rurais
UF Profissionalizantes
Qualidade*
% % Com % Com
Estabelecimentos Estabelecimentos % Estadual Escolas Escolas
Estadual Internet Internet
Bahia Excelente 58.431 7,7 14.408 1,9 9.282 54,3 38 71,1
Distrito Federal Excelente 4.035 76,9 553 10,5 82 96,3 4 100,0
Goiás Excelente 33.380 21,9 21.384 14,1 529 94,3 8 100,0
Minas Gerais Excelente 158.771 26,1 92.157 15,2 3.639 71,1 47 91,5
Paraná Alta/Excelente 137.458 45,1 106.213 34,8 1.332 89,6 17 100,0
Pará Média 16.868 6,0 5.501 2,0 7.280 39,3 18 27,8
Rio Grande do Sul Excelente 182.235 49,9 143.393 39,3 2.116 97,2 31 96,8
Santa Catarina Excelente 94.863 51,8 63.647 34,8 1.188 84,1 13 100,0
São Paulo Excelente 77.186 40,9 45.455 24,1 1.299 80,4 29 100,0
Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE Censo agropecuário (2017), INEP (2017), ANATEL (2017).
*Diz respeito à qualidade de cobertura dos médios imóveis rurais.

84
6 INSTITUIÇÕES QUE ATUAM PARA PROMOÇÃO DO
DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL: CONDIÇÕES DE CONEXÃO
À INTERNET

O conjunto das instituições que atuam para a promoção do desenvolvimento


rural sustentável deve ser necessariamente amplo, composto por instituições
de diferentes naturezas, com missões diversas e abrangência de atuação
variada. É da complementariedade entre elas, da maior abrangência de público
e da capacidade de articulação que vai emergir a riqueza e o alcance das
ações e seus efeitos no desenvolvimento rural sustentável. Esse conjunto irá
apresentar composição diferenciada, de acordo com o local (a área de
interesse), que estiver sendo considerada. Avaliar as condições de conexão a
internet desses potenciais parceiros é algo de valia para planejar e formular
propostas que visem a integração e articulação de ações entre elas, capazes
de fomentar e potencializar ações direcionadas para o desenvolvimento rural
sustentável.

Qualquer que seja a dimensão considerada, os órgãos estaduais de


assistência técnica e extensão rural, as organizações estaduais de pesquisa
agropecuária (OEPAS), as instituições de ensino, pesquisa e extensão com
atuação na área rural (universidades federais e estaduais), outros institutos de
pesquisa estaduais, os órgãos federais com atuação descentralizada como a
Comissão Estadual do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) e a Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa e seus Centros de Pesquisa),
além de outras que geram conhecimento e desenvolvem novas “ferramentas”
(seja equipamentos, insumos, variedades, etc.) e contribuem para o
desenvolvimento rural vão estar necessariamente inseridas nesse rol. A maior
parte dessas instituições possui unidades, escritórios e sedes nas áreas
urbanas dos municípios, estando menos sujeitas a problemas e restrições de
conexão, para o desenvolvimento de suas atividades do dia a dia.

Além dessas, há outras que interagem com os produtores rurais e contribuem


para que exista um ambiente favorável para a criação de novos
conhecimentos, a troca de saberes e o aprendizado constante, que devem
estar incluídas nessa relação, tais como as instituições de ensino, faculdades e
universidades na área de ciências agrárias e os colégios técnicos agrícolas
(dentre outras). Essas instituições são relevantes pelo papel que
desempenham, pois produzem os recursos humanos para atuar no campo,
junto aos produtores, tendo papel de destaque as escolas rurais, dado seu
papel como a porta de entrada para a formação do homem do campo, sua

85
essencialidade para que o jovem seja estimulado para permanecer no campo.
Para essas, há informações especificas da Anatel que retratam as condições
de conexão à internet.

O item 4 mostrou que as áreas de maior conectividade coincidem com as que


possuem estabelecimentos rurais associados à cooperativas, bem como os
que mais recebem ATER. Em face da maior disponibilidade de informações,
este item se concentrará, principalmente, na análise da conectividade nas
escolas, sendo elas divididas em “escolas rurais” e “escolas técnicas rurais”.
Uma síntese dos resultados aqui apresentados pode também ser vista nas
Tabela 10 a Tabela 14.

6.1 Escolas rurais

De acordo com o Censo Escolar 2017, 60.770 escolas rurais estão em


atividade no Brasil. Aproximadamente 54% destas estão no Nordeste (32.911
escolas) e 23% no Norte (14.297 escolas). As 13.562 escolas rurais restantes
estão distribuídas no Sudeste (12%), sul
(8%) e Centro-oeste (3%). Cerca de 90%
destas escolas são municipais e apenas Percentual de Escolas
1% são privadas. Através da adição de Rurais com Internet:
informações da ANATEL, obtêm-se que
Norte: 39%;
58,7% das escolas rurais possuem alguma
Nordeste: 57,5%;
forma de conexão de internet. O número de
Sudeste: 75%;
escolas públicas do meio urbano com
Sul: 91,7%;
acesso à internet é 25,2% superior ao meio
rural, destacando a diferença de Centro-Oeste: 90%.
infraestrutura.

A Figura 46 C ainda mostra que as escolas rurais possuem poucos


dispositivos de acesso à internet, como computadores. A média de
computadores para uso dos alunos nas escolas rurais é de aproximadamente
2,25, patamar extremamente baixo (Figura 46 D). Esta disponibilidade é ainda
menor no norte (média de 0,95 computador por escola) e Nordeste (média de
1,7 computador por escola). Novamente, observa-se que os números
encontrados para as escolas públicas rurais são muito inferiores aos das
escolas públicas urbanas, que possuem em média 9,7 computadores para uso
dos alunos.

A dinâmica da conectividade nas escolas rurais assemelha-se à distribuição


municipal do percentual de internet nos estabelecimentos, apresentada na
Figura 18 A. Como discutido, a presença de conectividade no meio rural está
relacionada ao desenvolvimento regional (infraestrutura, assistência técnica,

86
renda, etc.). Como a internet é um importante meio de acesso a informação e
tecnologia, a não expansão da rede para as regiões menos desenvolvidas,
principalmente no norte e nordeste (ver o PIB per capita municipal na Figura
17), aprofunda a heterogeneidade de produtividade e eficiência no uso dos
recursos naturais na agropecuária entre as regiões brasileiras.

Figura 46. Escolas atendidas por rede móvel, satélites, percentual de escolas
com internet e média de computadores para os alunos em 2017

A B

C D

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do INEP (2017) e ANATEL (2018)

A Figura 47 A ainda salienta deficiências na disponibilidade de energia elétrica


para as escolas rurais, principalmente nos municípios da região norte. Estes
municípios apresentam baixo percentual de estabelecimentos cooperados, de
recebimento de assistência técnica, de conectividade e desenvolvimento. Em
relação ao total de escolas rurais, aproximadamente 8,1% não possuem

87
acesso a energia elétrica. Nas escolas públicas urbanas este percentual é de
0,05%.

Figura 47. Escolas rurais sem energia elétrica em 2017 e o desenvolvimento


municipal

A B

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do INEP (2017) e IBGE (2018)

6.2 Escolas Rurais Técnicas22


Os dados do Sistema Nacional de Informações da Educação Profissional e
Tecnológica (SISTEC) mostram que existem 1.111 escolas técnicas que
oferecem cursos voltados à agropecuária (sem distinção de localização rural ou
urbana). No entanto, no Censo Escolar 2017 constam apenas 410 escolas
rurais técnicas públicas e 100 privadas, representando em conjunto,
aproximadamente 0,84% das escolas rurais
do Brasil.
Percentual de Escolas
Em relação à conectividade, cerca de 80%
Rurais Técnicas Públicas
das escolas rurais técnicas públicas
com Internet:
possuem alguma forma de acesso à internet
Norte: 56,4%;
(Figura 48 A). Apesar de representarem
Nordeste: 70,9%;
pequena parcela do total de escolas,
somam aproximadamente 10,4% dos Sudeste: 98,8%;
computadores disponíveis para uso dos Sul: 98,2%;
alunos. As médias de computadores por Centro-Oeste: 87,9%.
escola rural técnica pública são: 21, 18, 66,

22
Foram consideradas as variáveis “in_profissionalizante”, “in_comum_medio_integrado”,
“in_esp_exclusiva_medio_integr”, “in_esp_exclusiva_eja_prof” e “in_esp_exclusiva_prof”,
disponíveis no dicionário do Censo Escolar (http://inep.gov.br/censo-escolar).

88
44 e 58, para o Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-oeste, respectivamente,
gerando uma média nacional de 34 computadores por escola, bem superior ao
observado na totalidade das escolas rurais. Estas informações estão
apresentadas na Figura 48 B.

Assim como o observado em relação ao total de escolas rurais, no ensino


técnico também existem divergências entre o rural e urbano. As escolas
técnicas urbanas representam aproximadamente 5,1% (6.416 escolas) do total,
destes, 2,8 pontos percentuais referem-se às escolas públicas.
Aproximadamente 96,5% das públicas e 91,3% das privadas possuem
cobertura de internet. Estas escolas representam cerca de 19% e 33% dos
computadores para uso dos alunos, respectivamente.

Ao considerar a diminuta parcela dos estabelecimentos agropecuários do Norte


e Nordeste que recebem assistência técnica, a ampliação de escolas rurais
técnicas consiste em uma estratégia para incentivar a fixação do jovem no
campo e para aumentar a eficiência e produtividade das atividades agrícolas.
Além disto, a conectividade pode atuar como ponte para o desenvolvimento
destas regiões, viabilizando o acesso a educação, canais de comercialização e
assistência técnica a população rural.

Figura 48. Percentual de escolas rurais técnicas com acesso a internet e


média de computadores para os alunos em 2017

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do INEP (2017) e IBGE (2018)

6.3 Instituições de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER)


Através dos dados do panorama da conectividade no Brasil e no meio rural
destacou-se a relevância da orientação técnica para a transferência de
tecnologia, ampliação da produtividade, fixação do jovem no campo e incentivo
89
a adoção de práticas sustentáveis (socioeconômicas e ambientais) para a
agropecuária nacional.

Em geral, mostrou-se a correlação positiva entre disponibilidade de conexão e


de ATER. Ainda é possível destacar que os municípios com maior evolução no
número de acessos de banda larga fixa de velocidade superior a 2 Mbps estão
moderadamente correlacionados (0,50523) com o percentual de
estabelecimentos que receberam ATER em 2017. Destaca-se que a ATER
realizada pelo governo também apresenta correlação positiva com a ampliação
no número de acessos de banda larga fixa de maior velocidade, mas de menor
intensidade (0,19324) do que a observada no total da ATER (0,505). Neste
caso, enquanto a ATER não governamental é direcionada para as regiões mais
desenvolvidas e de atividades agropecuárias mais consolidadas, conforme
mostrado na Figura 18, a ATER governamental apresenta importante papel
distributivo e de transferência de tecnologia para as regiões que possuem
maiores deficiências no meio rural. Portanto, a ATER realizada pelo Governo
está presente mesmo em regiões que não apresentam conexão e, piores
índices de conectividade, representando, assim, um meio indutivo do
desenvolvimento da conectividade para estes locais.

Como mencionado, as informações citadas acima complementam as


discussões da seção 4.1 e, evidenciam que os municípios com produtores mais
aptos, que apresentam características institucionais melhor estabelecidas e
maior desenvolvimento regional, possuem maior acesso a conexão de internet,
o que viabiliza diversas ferramentas (agricultura de precisão, educação, acesso
a meios de comercialização, etc.) que propiciam maior desenvolvimento das
atividades produtivas e de qualidade de vida no meio rural.

A Figura 49 representa o papel da conectividade como força motriz de um


processo endógeno de desenvolvimento regional. Como as características
institucionais de orientação técnica, cooperativas, infraestrutura, estão
relacionadas à disponibilidade de conexão no meio rural, que viabilizam o
acesso à informação, educação e de implementação de práticas inovadoras
(agricultura de precisão, sensoriamento remoto, agrometeorologia,
automatização de processos, etc.), impactando positivamente a

23
Percentual de estabelecimentos que receberam ATER em 2017 e a variação (2007-2018) de
acessos de banda larga fixa com velocidade superior a 2 Mbps por mil habitantes, nos
municípios. Dados do IBGE (2018) e ANATEL (2018). Estatisticamente significativa ao nível de
1%.

24 Percentual de estabelecimentos que receberam ATER do Governo (Federal, Estadual ou


Municipal) em 2017 e a variação (2007-2018) de acessos de banda larga fixa com velocidade
superior a 2 Mbps por mil habitantes, nos municípios. Dados do IBGE (2018) e ANATEL
(2018). Estatisticamente significativa ao nível de 1%.

90
sustentabilidade socioeconômica e ambiental dos empreendimentos
agropecuários, retroalimentando o desenvolvimento regional.

Figura 49. Conectividade e desenvolvimento regional

Desenvolvimento
Regional

Maior
sustentabilidade Desenvolvimento
na produção Institucional
agropecuária

Acesso à
informação e
Conexão no meio
inovações nos
rural
processos
produtivos

Fonte: Elaboração própria.

Os resultados evidenciam que há correlação entre as áreas de


maior desenvolvimento regional, maior atendimento de ATER, maior
produção agropecuária e maior conexão de internet. Além disso, a
educação no meio rural fornece meios alternativos para a ampliação
da orientação técnica. Isto destaca a importância das ações para
promoção da conexão de internet nas escolas rurais, visto que mais
de 40% delas ainda não possuem conexão, a maior parte delas
concentradas principalmente nas regiões Norte e Nordeste.

91
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este é o primeiro produto, de uma série de 4, que devem ser desenvolvidos


pela Fundação de Estudos Agrários “Luiz de Queiroz”, Agência
Implementadora do estudo denominado “Análise da conectividade no meio
rural: acesso à informação, ATER e fixação do jovem no campo”, do eixo
temático da conectividade rural.

A conectividade pode ser entendida como a capacidade (de um computador,


programa, equipamento, etc.) de operar em ambiente de rede, conectando-se e
trocando dados (em maior ou menor velocidade, eficiência, etc.) com a internet.
Assim, a conectividade no meio rural está vinculada à alguns fatores,
principalmente a disponibilidade de sinal para conexão e a qualidade do
mesmo, considerando a intensidade e a estabilidade do sinal disponível, talvez
os principais elementos para aferir a qualidade da conexão disponível.

Este produto tratou de apresentar a análise territorial da disponibilidade de


internet, considerando as tecnologias de 2G, 3G e 4G, principalmente, pois
para as áreas rurais o uso de cabos é muito cara e limita seu uso a um raio
pequeno (redor da sede da propriedade). Nessa análise foram consideradas as
informações da cobertura disponibilizada e foram realizadas modelagens,
considerando o alcance dos sinais.

O que se verificou foi que as regiões do Brasil possuem uma cobertura


satisfatória tanto para a tecnologia 2G quanto 3G, mas o mesmo panorama não
se verifica para a tecnologia 4G, a mais veloz para o tráfego de dados e,
portanto, o principal fator considerado na determinação da qualidade da
internet. Em relação a esta tecnologia, a região Norte apresenta o pior cenário
do país, tendo um percentual de 67% de cobertura de médios imóveis rurais
com média, alta ou excelente qualidade. No estado do Amapá, a situação é a
mais crítica de todo o país, estando apenas 37% de seus médios proprietários
rurais completamente cobertos pelo 4G com a qualidade supracitada. Cenário
ligeiramente melhor, mas que ainda necessita de aprimoramento, é o das
regiões Centro-Oeste e Sul, que atendem plenamente apenas 80 e 84% de
seus médios proprietários, respectivamente.

Além desta primeira abordagem mais abrangente sobre a conexão no meio


rural, que reafirma os contrastes entre as regiões do país, foi feito um esforço
para definir as áreas prioritárias para o médio produtor rural, público prioritário
para o MAPA, cuja produtividade está aquém dos patamares mais elevados
encontrados em cada UF. Isto porque é justamente esse segmento que pode
ter seus índices de produção e produtividade alavancados a partir de iniciativas
que sejam capazes de levar inovações, como o aumento do alcance e a

92
melhoria da qualidade da conexão 4G. Atualmente, a conectividade rural é um
aspecto determinante para levar conhecimento aos produtores rurais. Uma vez
definidas as áreas prioritárias para atuação, o MAPA pode planejar e formular
proposições de atuação, identificando parceiros e iniciativas a serem
empreendidas. Assim, a definição de áreas prioritárias de atuação e a análise
da sua condição em termos de conectividade no meio rural assumem
relevância e conferem ao presente produto um caráter aplicado. O que se
verificou foi que as áreas selecionadas dispõem de condições que permitem ao
MAPA dar inicio imediato a ações que requeiram conectividade rural nesses
territórios, sem maiores dificuldades.

Outro enfoque do produto está voltado para a identificação das instituições que
atuam para a promoção do desenvolvimento rural sustentável, tendo sido
atribuído papel de destaque para as instituições de ensino, organizações de
pesquisa e para os órgãos estaduais de ATER, os quais podem contribuir
decisivamente para a criação de um ambiente mais favorável ao intercambio de
conhecimentos, difusão de inovações e troca de saberes com os médios
produtores, fazendo este segmento ampliar sua contribuição para a dinâmica
agropecuária regional.

O que se constatou é que existe uma institucionalidade capaz de dar suporte


para iniciativas de troca de saberes e promoção da inovação tecnológica no
meio rural, nesses territórios delineados como prioritários. Todas as
microrregiões selecionadas como prioritárias, com exceção das microrregiões
de Altamira-PA (4,7%) e Jequié-BA (5,6%), apresentaram percentuais de
estabelecimentos atendidos por ATER superiores à média nacional (20%),
evidenciando o suporte institucional nestas regiões. Quanto a existência de
conexão nas escolas rurais, somente Altamira-PA (27,6%) e Patos de Minas-
MG (55,6%) apresentaram menores percentuais de cobertura comparados ao
observado no Brasil (58,7%)

O conteúdo desenvolvido neste produto visou atender ao escopo previamente


estabelecido no Termo de Referência que orienta os trabalhos desse eixo
temático da conectividade rural. Trata-se da sistematização de dados e
informações relevantes para esta etapa inicial do estudo. A este processo, alia-
se o processamento a realização de algumas análises que podem orientar a
adoção de políticas públicas. Na lógica de um estudo curto, cuja execução
pode ser caracterizada como de médio prazo, a esse produto irá se somar o
Produto 2, o qual trará um painel das políticas públicas, programas e projetos
relacionados à conectividade rural. O conteúdo integrado desses 2 produtos
deverá ser capaz de subsidiar a área técnica da SMC/DIMS/CGATER/MAPA
para a proposição de iniciativas que envolvam os médios produtores e
conectividade rural.

93

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