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11/02/2024, 14:10 UNINTER

SOCIOLOGIA, EXTENSÃO E
COMUNICAÇÃO RURAL
AULA 6

Prof. Alexsandro Ribeiro

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CONVERSA INICIAL

Em meio à sociedade da informação, é preciso ajustar algumas propostas e atividades para dar

conta de novas realidades sociais, tanto na área urbana quanto na rural. A conectividade e a

necessidade de inclusão digital promovem um processo de aprimoramento do extensionismo, com

foco em ampliar as ações e se apropriar de ferramentas inovadoras.

Isso já estava previsto na política de inclusão digital do governo federal em 2020, contudo a

pandemia da Covid-19 fez acelerar a implantação da Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater)

Digital em algumas áreas do país. Dentre as vantagens, podemos destacar: redução de custos, o que é

benéfico, diante de um quadro de fragilidade das Ater’s, com pouco investimento dos estados;

maleabilidade de horário, o que permite que o produtor possa aliar seu dia de trabalho com o

processo de aprendizagem; e cobertura de atuação dela.

Vamos abordar aqui alguns aspectos desse cenário. Confira os tópicos que serão explorados:

Ater digital participativa;


elementos da Ater híbrida dialógica;

perfil do técnico educador dialógico;


diagnóstico rural participativo – conceito e diagnóstico; e

diagnóstico rural participativo – métodos de coleta de dados e apresentação.

TEMA 1 – ATER DIGITAL PARTICIPATIVA

O cenário de pandemia e de isolamento social pressionou para um avanço da digitalização nos


serviços de assistência técnica e extensão rural. Como vimos anteriormente, a Ater foi se moldando

para ajustar sua capacidade de atendimento, incorporando tecnologias digitais, ora em atividades
mesclando práticas presenciais e virtuais, ora migrando funções para acesso total pelo meio digital

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com recursos de inteligência artificial. Esse processo de inclusão digital na extensão rural, com ensino

virtual ou de forma híbrida, com aprendizado em forma síncrona ou assíncrona, resulta no que
denominamos Educação Digital em Rede (EDR).

Para Zuin et al. (2022), a relação que resulta do convívio entre atividades presenciais e virtuais
produz um ecossistema de ensino-aprendizagem que se organiza em três dimensões: organizacional,

pedagógica e técnica. A dimensão organizacional é a que se consolida a partir da estrutura formal e


informal das instituições, já a pedagógica está relacionada às competências para o processo de ensino

e aprendizado, com uso de recursos e metodologias ativas, e a dimensão técnica é relativa ao

aprendizado prático.

Contudo, essa dinâmica demanda comprometimento em políticas públicas focadas em uma

educação digital dialógica que “seja significativa na vida do educador e educando, assegurando entre

outros elementos capacitações que levem a um bom letramento digital das pessoas que vivem e

trabalham nos territórios rurais" (Zuin et al., 2022, p. 31). A Ater Digital, como um espaço de inclusão e

de aprendizado no campo, está inserida no arcabouço da educação em rede, a partir de um

ecossistema, ou seja, em um Ecossistema Digital em Rede (ECDR), uma vez que não é apenas uma

plataforma, mas toda uma dimensão presencial e virtual que cria uma comunidade focada no

aprendizado.

Pela perspectiva do meio rural, uma ECDR apresenta ao menos elementos e ações. O primeiro é a

identificação de conteúdos que devem se organizados na plataforma de compartilhamento, ou seja, é

preciso mapear as necessidades de determinada comunidade para constituir um conjunto de


conteúdos que seja abrangente o suficiente para subsidiar diversas realidades. Dentro da perspectiva

de um ecossistema digital, é preciso pensar que o produtor deve ter uma participação mais ativa, e
para isso o sistema deve permitir que ele busque as informações proativamente.

À medida que se organiza o conjunto de conteúdos, é necessário estabelecer um método de

gestão do aprendizado. Assim, como apontam Zuin et al. (2022), isso busca um desenvolvimento de
método comunicacional que alcança a maioria do público-alvo da plataforma, como atividades em
aplicativos ou em redes sociais digitais vinculadas aos serviços da Ater.

Um terceiro ponto é realizar o recorte dos assuntos a serem disponibilizados na plataforma ou

material de aprendizado para o produtor. Soma-se a isso outro ponto, a organização desses
conteúdos em um repositório que fique acessível aos usuários ativos no processo, tanto os

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educadores quanto os educandos. A etapa seguinte da ECDR é a estruturação de roteiros e fluxos de

atividades para auxiliar na condução do aprendizado autônomo do produtor que acessa a plataforma

de extensão. Esses roteiros devem aliar não apenas teoria, mas recursos práticos que permitam uma

relação entre a situação conceitual e a situação-problema vivida no campo.

Considerando que é uma plataforma de aprendizado, um sistema de análise do rendimento ou

do aprendizado é fundamental na capacitação. Assim, Zuin et al. (2022) reforçam como etapa a
organização de processos avaliativos, estabelecidos em observação à comunidade-foco. Isso reitera

outra etapa, que é o emprego de ferramentas de comunicação e de construção de uma situação

dialógica. Como sublinham os autores, essa etapa é formada pelo “próprio ambiente de ensino

digital, como no caso da ATER Digital participativa sendo constituídas pelas redes sociais e aplicativos
das organizações públicas e privadas que prestam serviços nos territórios rurais” (Zuin et al., 2022, p.

33).

Como elemento final, é essencial estabelecer um suporte tecnológico de orientação dos

extensionistas, com fornecimento de materiais e de capacitações para uso das ferramentas com fins

pedagógicos.

Pensando na plataforma consolidada, é possível ainda organizar posturas ou modelos educativos

como formas de ação pensando as lógicas e dinâmicas do ambiente em que a ferramenta será

implantada, ou seja, é preciso pensar a comunidade e suas características. O primeiro modelo é

focado no educador. Nesse ponto, parte-se de uma postura ativa do extensionista, que organiza as

atividades e promove o acesso à plataforma, incentivando os educandos ou produtores rurais no


processo educativo.

O segundo modelo é focado no educando, em que o aluno assume uma postura de autonomia

nos estudos, organizando proativamente a agenda e forma de leitura e acompanhamento dos


conteúdos. Por fim, temos um modelo centrado na tecnologia (Zuin et al., 2022), em que o foco é a

condução por parte do sistema com automatização do processo de aprendizado sem uma mediação
ampla entre educador e educando. Assim, a mediação é promovida pelo sistema por meio de
algoritmos e etapas automatizadas.

TEMA 2 – ELEMENTOS DA ATER HÍBRIDA DIALÓGICA

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Considerando-se a falta de abrangência ampla da rede no meio rural, uma extensão que

promova uma atividade que vincule meio digital e meio presencial parece um aprimoramento nas

atividades de educação e divulgação científica no campo. Aqui temos a possibilidade de uma Ater

Híbrida dialógica, que é o meio-termo entre as atividades convencionais do atendimento


exclusivamente presencial (prejudicado pela pandemia e pela redução de investimento dos estados na

extensão rural) e as atividades digitais, reduzindo os ruídos provenientes da falta de inclusão digital,

dos recursos de acesso aos serviços de dados e equipamentos, bem como da falta do letramento para
a tecnologia digital.

Segundo Zuin et al. (2022), os últimos anos foram marcados pela expansão e aplicação da Ater

no formato híbrido em vários territórios rurais, principalmente fomentado por cinco elementos que
ajudam a determinar tal realidade. O primeiro é relativo ao ponto nevrálgico que vinha prejudicando

a extensão rural desde a extinção da Embrater e o arrefecimento no investimento no setor, ou seja, a

questão financeira.

O uso das tecnologias pode não apenas ampliar a abrangência, mas efetivamente reduz custos

na Ater a partir das Tecnologias de Comunicação e Informação (TICs). Isso se dá pela diminuição da

necessidade de visitas técnicas do extensionista na propriedade ou ainda na restrição desse

atendimento, limitando-se apenas aos momentos fundamentais. Isso não significa que ocorrerá

menor atendimento; muito pelo contrário, do ponto de vista do contato, intensifica-se a conexão
entre extensionista e produtor, mediada pelas TICs.

A cobertura de atuação da Ater também pode ser ampliada nessa dinâmica híbrida, na medida
em que a agenda do extensionista se torna mais adequada à demanda e em que produtores com

áreas mais distantes dos polos de atendimento podem recorrer às TICs para iniciar e realizar parte do
suporte de forma síncrona ou assíncrona.

Outro aspecto é a redução do tempo, e isso se dá por dois aspectos. O primeiro se refere à

ferramenta tecnológica que pode oferecer um repositório aliado à inteligência artificial que filtra e
apresenta conteúdos que possam orientar o produtor em sua demanda. Formulários com campos de
preenchimento podem apontar uma série de soluções organizadas previamente pelo extensionista, e

isso fica à disposição do produtor 24 horas por e sete dias por semana.

Outro ponto que agiliza é o uso de ferramentas de comunicação que permitam multiplicar o
contato e o aprendizado. Ou seja, em vez de realizar dezenas de palestras nas associações, por

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exemplo, indicando novos processos de manejo de determinada cultura, o extensionista pode usar

recursos como podcasts ou ainda série de videoaulas no YouTube para amplificar sua atuação e reduzir

o tempo de retorno para os produtores.

Outro aspecto destacado por Zuin et al. (2022, p. 41) se refere à biossegurança no campo.
Independentemente do setor ou do tamanho e composição da empresa ou empreendimento

agropecuário, a partir da Ater híbrida "os elementos relacionados e constitutivos da biossegurança de


todo o território rural serão constantemente monitorados por organizações privadas e

governamentais, como os de defesa sanitária”. Assim, procedimentos e ferramentas de gestão de

saúde são facilmente apresentados a um público maior, com controle e fiscalização a distância, o que

ajuda a reduzir situações de entrada de patógenos nas propriedades. Ou seja, o efeito não é apenas
para aumento da produtividade, mas também para segurança da sociedade.

Por fim, aponta-se justamente a criação de uma instância de ensino e de aprendizado que é

deslocada de um espaço, mas identificada na relação entre a instituição da Ater e os produtores

aprendizes. Ou seja, a troca de experiências consolida o espaço ou ambiente educacional, o que se dá

de forma dialógica e inclusiva do ponto de vista de maior autonomia e participação dos educandos.

Contudo, para que isso ajude a consolidar uma Ater híbrida, Zuin et al. (2022) indicam que é

importante alçar ao menos duas questões. A primeira é que a Ater Digital seja de fato participativa,

isto é, incluída em uma política pública, que se consolide e que seja integrada com a comunidade. A

segunda é que esteja ancorada em uma série de atividades de políticas públicas para fomento ao

aprendizado e aprimoramento das rotinas produtivas do campo, com caráter democrático e inclusivo.

TEMA 3 – PERFIL DO TÉCNICO EDUCADOR DIALÓGICO

Apesar de contar com pressão e idealização dos extensionistas, das entidades estaduais do setor,
do movimento social rural e dos produtores rurais, a Ater Digital (Brasil, 2020) é uma iniciativa

encampada e em implantação pelo governo federal a partir de um programa de digitalização ou de


inclusão digital na área rural. O programa iniciou a primeira fase em 2020 e segue em ajustes devido

aos impactos da pandemia.

Na esteira de que a extensão e a assistência rural promovem a melhoria da renda e qualidade de

vida das famílias rurais a partir de um aperfeiçoamento das rotinas e processos de produção, o

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programa Ater Digital, segundo o governo federal, foca parcerias inovadoras com práticas

convencionais e processos de aprendizado digital, bem como iniciativas conjuntas do poder público e
da inciativa privada a partir de propostas de empresas de tecnologia para o oferecimento de acesso à

rede ou ainda de sistemas digitais de plataformas de aprendizado. Assim, as “Tecnologias de


Informação e Comunicação (TICs) são importantes aliadas no desenvolvimento de uma Ater Digital

que amplifique os resultados do trabalho dos extensionistas” (Brasil, 2020).

A proposta surge sustentada em cinco pilares: organização de conhecimentos e informações

focados em extensão na área agrícola; modernização do sistema de Ater a partir do uso de

tecnologias de comunicação e informação; criação de um repositório de sistemas com o

compartilhamento desses aplicativos e sistemas de modo geral entre as Ater’s para fortalecimento de

um plano nacional e com foco na melhoria de qualidade e produtividade; capacitação dos

profissionais de extensão para uso de recursos e metodologias aliadas às tecnologias da comunicação

e informação; e criação de um hub de informação e tecnologia para agricultura familiar (Brasil, 2020).

A demanda suscita algo importante, que é pensar que o profissional da extensão precisa se

atualizar para compreender seu papel na Ater Digital e como usar as tecnologias como ferramentas.

Esse é um desafio, pois a maioria dos estados não investe de forma intensiva na contratação ou

concursos para esses profissionais; em alguns, a defasagem do quadro funcional das Ater’s é de

décadas.

Segundo Zuin et al. (2022), na Ater Digital com foco na participação e atuação dialógica, o duplo

ou múltiplo fluxo de dados é fundamental. Isso significa que é um processo não apenas de
transmissão, mas de envio e recebimento de dados. Por isso, é importante que não haja ruídos nem

no meio nem no contexto ou semântica, como vimos anteriormente a partir do modelo matemático
da comunicação (Weaver, 1971).

Assim, ferramentas que integram os usuários são primordiais para essa proposta de Ater, como

WhatsApp ou Telegram. Desse modo, é fundamental entender a forma de uso desses recursos pelos
agentes, bem como ter domínio deles para fins pedagógicos. É necessário compreender os processos
de formação de sentido entre os interlocutores, uma vez que pode se consolidar a partir de várias

“formas e caminhos como nos encontros presencias ou de maneira remota nas propriedades, em
momentos síncronos e assíncronos” (Zuin et al., 2022, p. 75).

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Assim, é fundamental que o perfil do profissional de extensão abranja a capacidade de

mapeamento e demandas de recursos tecnológicos mais adequados. Nos casos dos programas de

mensagens mencionados acima, além de uma série de capacitações on-line e uma massificação no

acesso, é importante destacar a gratuidade da ferramenta. Outro ponto a se destacar sobre o perfil do

extensionista na Ater Digital é a capacidade de ajustar a linguagem de contato conforme o público,

reduzindo aspectos técnicos e garantindo o entendimento. Ou seja, como vimos no paradigma

matemático da comunicação (Weaver, 1971), se o problema é semântico, não basta aumentar a


quantidade de repetições, mas a variação que ajude a explicar o conteúdo.

Baseados em resultados de implantação de unidades de Ater Digital, Zuin et al. (2022) destacam
que é fundamental ao extensionista evitar o academicismo em sua linguagem, e sim buscar propostas

mais didáticas de linguagem, com uma variação linguística mais próxima à trabalhada no campo em

atuação, ou seja, na comunidade em que será desempenhada a atividade de ensino-aprendizado. Os

autores reforçam que não se trata de uma linguagem mais simples ou complexa apenas, o que se

busca é o “exercício de, dentro da mesma língua, promover aberturas a novas falas, inclusive, a formas

de expressões que não incluiriam, necessariamente, a verbalização da palavra” (Zuin et al., 2022, p.

76).

Por fim, o profissional técnico da Ater deve buscar na organização do aprendizado no meio

digital participativo a intencionalidade na proposta, ou seja, sempre pensar que as medidas a serem
adotadas, os materiais a serem empregados e recursos devem ter uma finalidade relativa ao

desenvolvimento social e ambiental sustentável no campo. Assim, tal intencionalidade está vinculada
à proposta da ação de ensino, que busca sempre a "a melhora da vida do produtor rural, sua família e

funcionários nesses aspectos irá conduzir todas as etapas do planejamento didático de uma ação
educativa" (Zuin et al., 2022, p. 77).

Outro aspecto que deve fazer parte das preocupações do profissional da Ater é afetividade, ou
seja, a capacidade de impactar o meio a partir do ensino e da extensão. Com isso, são fundamentais a

empatia e o perfil didático, que possibilitam a construção conjunta de conhecimento. Trata-se de um


processo dialógico (de mão dupla) e dialético, portanto demanda um perfil de humildade diante do

educando, buscando uma relação dupla de aprendizado, uma vez que o extensionista também é
impactado pelo meio e pelo processo de aprendizado (Zuin et al., 2022).

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Por fim, outro aspecto destacado pelos autores é o planejamento didático, ou seja, o profissional

deve sempre estabelecer uma organização clara e objetiva que crie uma conexão entre ferramentas
técnicas e digitais ao conteúdo teórico e ao conhecimento que deve ser reproduzido (Zuin et al.,

2022).

TEMA 4 – DIAGNÓSTICO RURAL PARTICIPATIVO: CONCEITO E


PASSOS

Independentemente do formato de Ater que se consolide, algumas estratégias são primordiais

para quem vai atuar na extensão rural, como o mapeamento da realidade local, que visa estabelecer

ações e plano de desenvolvimento. Uma dessas ferramentas é o Diagnóstico Rural Participativo (DRP).

Trata-se de um roteiro ou conjunto de instrumentos que possibilita um autodiagnóstico por parte das

comunidades rurais sobre suas necessidades e realidade, para que a partir daí possam realizar um

autogerenciamento. Como destaca Verdejo (2006, p. 12), a partir do DRP os produtores podem

“compartilhar experiências e analisar os seus conhecimentos, a fim de melhorar as suas habilidades de

planejamento e ação. Embora originariamente tenham sido concebidas para zonas rurais, muitas das

técnicas do DRP podem ser utilizadas igualmente em comunidades urbanas”.

O DRP consiste em uma metodologia de coleta de dados, análise de dados e desenvolvimento de

um plano de ação. A partir de um procedimento objetivo e de uma série de métodos como

questionários e formulários, os integrantes de uma comunidade podem alcançar um cenário de

reflexão sobre as situações ou espaço em que vivem e identificar como valorizar diferentes opções de
melhorar sua condição. Nesse método, a equipe de extensionistas orienta o processo, mas evita maior

interferência, já que a atuação proativa dos produtores é primordial.

Dentre as vantagens do DRP, podemos destacar que ele estabelece uma relação de proximidade
entre os produtores e os extensionistas rurais, bem como da própria comunidade, pois é uma

proposta de mapeamento com atuação coletiva. Outro ponto é a melhora do fluxo de informações
entre os grupos da comunidade. Por fim, é um instrumento democrático, que possibilita uma atuação
equânime de gênero, considerando que a fala é democrática no mapeamento e análise.

Como uma das propostas do diagnóstico é estabelecer a inclusão da comunidade, há etapas ou

perfis de participação conforme as potencialidades e características pessoais de cada um. Assim, a


escolha do nível de participação deve considerar o perfil da comunidade e a dimensão dos problemas

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a serem resolvidos. Verdejo (2006) indica sete níveis ou escada de participação. Na base, está a

passividade, que é o estágio em que o projeto estabelece os objetivos e atividades com informações

coletadas diretamente pelos extensionistas, sem a necessidade de acessar ou consultar os

beneficiários.

O segundo degrau é o de fontes de informação, a partir das quais o produtor oferece

informações à equipe com base em uma pesquisa, mas não desempenha papel de definição ou de
decisão sobre as ações. O terceiro degrau é o da consulta, em que a opinião do produtor ou

beneficiário começa a ser integrada ao enfoque da pesquisa, mas ainda não há um poder de decisão.

Já o quadro é o da participação à base de incentivos materiais, em que se propõe "a participação em


troca de insumos de produção ou de colocar à disposição terras com fins de exibição (‘unidade

demonstrativa’), mas a possibilidade de intervir nas decisões é muito limitada" (Verdejo, 2006, p. 16).

A quinta etapa da escada é com a participação funcional. Aqui, a proposta é de divisão dos

produtores em grupos para debate e busca dos objetivos que foram indicados anteriormente no

projeto; depois, eles assumem definições na etapa de execução, e o projeto segue de forma

independente (sem a interferência dos extensionistas). A sexta etapa é relativa à participação

interativa, em que há uma participação plena dos produtores no processo. Por fim, o processo de

autoajuda constituiu o último degrau, em que os produtores decidem e executam atividades de forma

independente.

Estabelecidas as premissas de participação, seguimos para a preparação do DRP, dividido


também em sete etapas sequenciais, listadas a seguir e brevemente descritas. Segundo Verdejo (2006,
p. 21), integram os sete passos:

1. Fixar o objetivo do diagnóstico.

2. Selecionar e preparar a equipe mediadora.


3. Identificar participantes potenciais.

4. Identificar as expectativas dos/as participantes no DRP.


5. Discutir as necessidades de informação.

6. Selecionar as erramentas de diagnóstico.

7. Desenhar o processo do diagnóstico.

Descrevendo cada etapa, iniciamos pela fixação do objetivo. Verdejo (2006) orienta que é
momento de estabelecer uma finalidade, ou seja, um norte a ser seguido com o processo de

diagnóstico. Um primeiro aspecto que ajuda a pensar nesses objetivos é definir se será um

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diagnóstico para identificar um novo projeto ou para aprimorar e analisar um já existente, ou seja,

algo em andamento que precisa ser redefinido. Outra tarefa é estabelecer as premissas pontuais, por
exemplo se o diagnóstico deve observar algo específico ou é mais amplo, como uma área da

comunidade ou ramo de produção de uma área agrícola.

Definido o objetivo do diagnóstico, passa-se a indicar e preparar a equipe mediadora, que atuará

na condução do processo com orientação dos extensionistas. É importante pensar que ela deve ser
multidisciplinar, a considerar as profundidades de análises que serão necessárias, por exemplo:

acompanhamento de profissionais das ciências agrárias para perceber as lógicas relativas à produção;

participação de sociólogos para identificar as dinâmicas sociais envolvidas na comunidade;

participação de economistas para ajustar um plano financeiro ou econômico; e outros.

O terceiro passo é descobrir os participantes potenciais. A equipe mediadora busca propor

algumas questões básicas que podem ajudar nesse processo, como: perceber os grupos de interesses

que estão representados nas áreas do estudo e os que estão de fora; se há participação de todos os

gêneros; se existem barreiras linguísticas ou culturais; e quais são as características compartilhadas

entre os indivíduos da comunidade.

O quarto passo preparatório é identificar e mapear as expectativas de cada produtor com relação

à comunidade, à sua área e ao projeto de aprimoramento a ser estabelecido no diagnóstico. Nessa

etapa, é preciso buscar um quadro que indique o que os produtores e demais participantes esperam

de benefício com o processo.

O quinto passo é debater as demandas de informação. Um processo de diálogo e de inferência

ajuda a perceber os dados requeridos à coleta que, em geral, está atrelada à identificação da
realidade do meio rural, as necessidades dos integrantes, os fatores que limitam os potenciais da

comunidade, o acesso aos recursos naturais, dentre outros pontos (Verdejo, 2006).

Definir os parâmetros e ferramentas de pesquisa integra a sexta etapa do diagnóstico. Aqui, é

preciso perceber os objetivos, entender o perfil da comunidade a fim de escolher as ferramentas que
pode ajudar a obter os dados necessários. Na seleção delas, podemos considerar as seguintes

questões: "Que ferramentas correspondem às necessidades de informação? Que ferramentas


preferem os participantes? Que ferramentas produzem informação desagregada por gênero? Que

informação já existe em relatórios, mapas ou estudos?" (Verdejo, 2006, p. 23).

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Por fim, definidas as ferramentas, segue-se para o desenho do diagnóstico. Nessa etapa, resolve-

se quem integrará a equipe, quando será realizado, o cronograma e formas de finalização.

TEMA 5 – DIAGNÓSTICO RURAL PARTICIPATIVO: MÉTODOS DE


COLETA DE DADOS E APRESENTAÇÃO

Retomando os passos do DRP, vamos abordar as ferramentas e a forma de finalização do


relatório. É importante frisar que todo o processo ocorre em três etapas: apresentação da equipe de

extensionistas à comunidade, bem como os demais integrantes da equipe de apoio; análise da

situação dos problemas da comunidade, das potencialidades e limitações; e profundidade da análise

dos dados, buscando o enfoque a partir das soluções (Verdejo, 2006).

São várias as ferramentas metodológicas que podem ser empregadas, e aqui vamos abordar

algumas e suas aplicabilidades. A forma mais simples é a partir de entrevistas semiestruturadas, por

meio das quais podemos estabelecer um contato direto com os membros da comunidade, dando voz

e vez para que expressem suas demandas e percepções sobre a realidade. Essas entrevistas partem de

algumas perguntas predefinidas e depois se desenvolvem conforme as respostas. O ideal é que as

perguntas iniciais não sejam muitas, limitando-se a 15 no máximo, uma vez que podem demandar

tempo para as respostas.

Verdejo (2006) recomenda algumas posturas na aplicação. Primeiro, no que diz respeito às

pessoas a serem entrevistadas e ao local da entrevista, é preciso que seja um ambiente familiar ou
que garanta uma conexão com o entrevistado e com um cenário que não prejudique o processo. É

importante que a pesquisa seja presencial, que seja possível gravar e anotar não apenas o que dizem
as pessoas, mas as manifestações de expressão facial, o silêncio ou demora em responder uma

questão etc. Tudo isso pode representar uma resposta. Por fim, deve-se buscar perguntas que
resultam em respostas abertas, ou seja, que não sejam respondidas com um simples “sim” ou “não”.

Outra forma de coleta de dados é centrada no extensionista ou nos demais membros da equipe
de DRP. Trata-se da observação participante, a partir da qual pode-se compreender a realidade da

comunidade, coletando dados pela impressão. Como alguém que acompanha uma rotina ou um
processo produtivo, o observador mapeia e anota em um caderno ou agenda de pesquisa todas as

informações que considera pertinentes, como a forma de relação entre os integrantes da


comunidade, seus papéis, tarefas cotidianas etc.

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Outros recursos também são empregados para auxiliar no processo de análise dos dados

coletados nas entrevistas ou nas observações (ou ainda em outras maneiras, como grupo de

discussão, grupo focal etc.). Uma forma de pensar em estratégias é a partir de mapas e maquetes, por

meio dos quais os pesquisadores e extensionistas têm uma visão tridimensional ou ampla do espaço.
Quando determinado problema está vinculado a uma condição geográfica, o mapa ajuda a pensar

estratégias a partir de estímulos visuais.

Conforme aponta Verdejo (2006), o mapa pode ser usado para indicar também o estado dos

recursos naturais e como estes podem ser empregados para aprimoramento da produtividade. Assim,

esse instrumento pode indicar zonas de habitação, recursos de fauna e flora, espaços de cultivos etc.

Outra forma de representação visual que pode favorecer a lógica de produtividade é a de diagrama

de fluxos. A partir de um desenho que indica o fluxo de determinado conteúdo ou informação, é

possível entender os agentes e caminhos que o conteúdo segue.

Os resultados da análise devem subsidiar um plano de ação com elementos quantitativos e

qualitativos relativos à melhor das condições de produção, condições econômicas e sociais dos

produtores junto à comunidade. A documentação final do processo do diagnóstico registra todas as

etapas, desde a idealização e formação das equipes até a análise e identificação das atividades e

delimitação de um cronograma.

É essencial que esse relatório seja apresentado à comunidade e a todos os integrantes do

processo de coleta de dados para conferência e confronto antes do fechamento. Isso ajuda também a
consolidação de uma leitura sobre a realidade da comunidade por parte dos próprios membros dela.

FINALIZANDO

O ambiente digital cria condições de aprimoramento e ampliação das atividades de extensão


rural. Com isso, mais pessoas conseguem acessar serviços de assistência técnica e extensão e

aprimorar os processos produtivos das suas áreas, melhorar a condições e qualidade de vida das
famílias e dos espaço em que atuam. A Ater Digital dialógica permite o uso das ferramentas

tecnológicas para fins de aprendizado e difusão dos avanços técnicos na área rural.

Propostas que mesclam ações virtuais e presenciais conseguem iniciar um processo de

aprendizado às ferramentas digitais on-line (ou seja, uma forma de letramento e inclusão), na mesma

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medida em que ainda mantêm as ações presenciais. Isso favorece o sentimento de pertença e de ação

coletiva da comunidade.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Agricultura e Pecuária. Programa Ater Digital. Brasília: Ministério da


Agricultura e Pecuária, 2020. Disponível em: <https://www.gov.br/agricultura/pt-

br/assuntos/mda/programa-ater-digital>. Acesso em: 22 fev. 2023.

VERDEJO, M. E. Diagnóstico rural participativo: guia prático DRP. Brasília: MDA / Secretaria da

Agricultura Familiar, 2006.

WEAVER, W. A teoria matemática da comunicação. In: COHN, G. (Org.). Comunicação e indústria

cultural. São Paulo: Editora Nacional, 1971. p. 25-37.

ZUIN, L. F. S. et al. Ater digital participativa: metodologias pedagógicas e exemplos de

aplicação. Campina Grande: EDUEPB, 2022.

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