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A TECNOLOGIA EM CONSONÂNCIA COM O PROCESSO

DE ENSINO-APRENDIZAGEM

Katia Regina do Nascimento Bertoluci1

Resumo:

O presente artigo buscou elencar e compreender alguns dos possíveis desafios advindos do
processo de implantação e implementação das Novas Tecnologias Digitais da Informação e
Comunicação (TDICs) no contexto escolar, principalmente durante e após a crise sanitária
ocasionada pela pandemia do COVID 19. Também foram apresentadas possíveis formas de
alinhar estas questões, a fim de que a docência consiga minimizar os impactos da tecnologia no
processo de ensino-aprendizagem processo no que tange o plano de ação, e a mudança de perfil
do profissional que esta transição demanda. A metodologia adotada para esse estudo foi a
revisão de pesquisas bibliográficas e documentais, decorrente de artigos encontrados em sites
repositórios na Internet, pesquisa quantitativa, livros e documentos oficiais da legislação
vigente. Futuramente, pretende-se qualificar e submeter este artigo a outras metodologias de
pesquisa. Por meio desse trabalho, pretendeu-se identificar quais as principais vulnerabilidades
estruturais e humanas causadas pela implantação das tecnologias na educação, assim como
quais possíveis ações podem ser tomadas para minimizar seus impactos.

Palavras-chave: Tecnologia. Implantação. Ensino-Aprendizagem.

Abstract:

1
Graduada em Tecnologia Avançada em Processamento de Dados pelo Instituto de Ensino Superior de Santo
André. Licenciada em Pedagogia pela Faculdade Associada Brasil – FAB. Pós-Graduada em Atendimento
Educacional Especializado e em Alfabetização e Letramento pela Faculdade de Educação São Luíz. Professora da
Educação Básica na Rede Pública Municipal de Santo André - SP e Mestrando em Tecnologias Emergentes em
Educação pela Must University. E-mail: katia.bertoluci@gmail.com.
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This article sought to understand the possible challenges arising from the process of deployment
and implementation of New Digital Technologies of Information and Communication (known
as TDICs) in the school context, especially during and after the health crisis caused by the
pandemic of COVID 19. Possible ways of aligning these issues were also presented, so that the
teaching staff can minimize the impacts of this process on their pedagogical practices regarding
the action plan, and the change in professional profile that this transition demands. The
methodology adopted for this study was the review of bibliographic and documental research,
arising from articles found in Internet repository sites, research, books and official documents
of the current legislation. In the future, it is intended to qualify and submit this article to other
research methodologies. Through this work, it was possible to identify which are the main
structural and human vulnerabilities caused by the implementation of technologies in education,
as well as, which possible actions can be taken to minimize their impacts.

Keywords: Technology. Implantation. Teaching-Learning.

1 Introdução

As constantes inovações tecnológicas têm se mostrado essenciais para o processo do

desenvolvimento humano. Partindo dessa concepção, as Tecnologias Digitais de Informação e

Comunicação, no âmbito educacional, chegam para potencializar o processo de ensino-

aprendizagem acerca das necessidades educacionais dos estudantes do século XXI, que não se

bastam ao modelo tradicional onde o professor é o detentor do conhecimento e único

responsável pela disseminação da informação. O processo de implantação e utilização das

TDICs nas práticas escolares, visando um aprendizado de maneira crítica e reflexiva, é

contemplado nos termos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como competência para

produção de conhecimentos, acesso a informações, resolução de problemas, criticidade entre

outras habilidades pautadas no desenvolvimento de atitudes e valores (BRASIL, 2018, p.9).

A incorporação das TDICs na Educação requer uma ação linear de constante revisitação

e atualização para que o sistema educacional não se torne obsoleto. Mas os obstáculos que se

mostram no decorrer do caminho dão margem a uma implantação muitas vezes simplista, que

desconsidera um planejamento pedagógico adequado e integrado ao uso dessas tecnologias.


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Ao sinalizar alguns pontos conflitantes que comprometem a modernização do processo

educacional quanto ao uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação, pretende-

se trazer ideias capazes de atenuar esses conflitos, motivando educadores a pleitear a favor da

incorporação das Tecnologias nas Instituições de Ensino, para promover mudanças

educacionais positivas e colaborar na constituição da escola como local de aprendizagem

significativa, atraente e divertida.

2 A Implantação das TDICs em Sala de Aula

2. 1 Desafios x Possibilidades

Em linhas gerais, não há como dissertar sobre implantação da tecnologia sem mensurar

o principal contratempo que assombra as entidades educacionais sobretudo no serviço público:

a falta de equipamentos e infraestrutura nas escolas. Muitas vezes, equipamentos em número

insuficiente ou mesmo a ausência deles, comprometem todo planejamento da implantação das

TDICs.

Uma Pesquisa realizada em 2020 pelo Centro Regional de Estudos para o

Desenvolvimento da Sociedade da Informação (entidade mantida pela UNESCO), apontou que,

das 3.678 escolas entrevistadas, 86% indicaram que a falta de equipamentos foi um dos maiores

desafios encontrados pelos gestores durante a pandemia inviabilizando as aulas remotas

enquanto as escolas estavam fechadas. A pesquisa também assegurou que a falta de

computadores e dispositivos móveis ocorre mais frequentemente nas escolas da rede pública do

que nas escolas da rede privada (CETIC, 2020).

Em 1997, foi criado pelo Ministério da Educação (MEC), o Programa de Tecnologia

Educacional (ProInfo), reeditado em dezembro de 2007, pelo Decreto 6.300 que promovia a

utilização das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação, visando a melhoria do

processo de ensino-aprendizagem nas escolas públicas, além de contribuir para a inclusão


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digital e implantar ambientes tecnológicos equipados com computadores e recursos digitais

para as modalidades de Ensino Fundamental e Ensino Médio (BRASIL, 1997).

As escolas não participantes do programa podem recorrer a secretaria de educação de

seus municípios a adesão ao programa. No entanto, tratando-se de políticas públicas, deve-se

considerar uma possível morosidade quanto a sua efetivação. Outra sugestão, é recorrer ao

recurso do PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola), que consiste em uma assistência

financeira entregue para a Educação Básica das redes pública e privada.

Como explana Souza, et al. (2015, n.p.)

Na década de 1990, as escolas brasileiras incorporaram à sua estrutura física os


laboratórios de informática como uma forma de proporcionar aos alunos acesso às
novas tecnologias. No entanto, uma contradição se instaurou: não havia, assim como
ainda não há, computadores suficientes para todos os alunos e o tempo escolar nesses
laboratórios era limitado. Estar em um espaço institucional com hora marcada e com
restrições de tempo para seu uso não favorecia os alunos e divergia das metas de inseri-
los nas práticas sociais em torno da tecnologia digital.

No ano de 2010, a lei 12.249, introduz no Brasil o projeto: Programa um Computador

por Aluno (PROUCA). O projeto, além de distribuir um Laptop para cada aluno, objetivava a

inclusão digital e melhoria da qualidade de ensino (BRASIL, 2010). O projeto foi substituído

por outro já existente, o ProInfo, que fora repaginado.

Outra questão a ser considerada, refere-se à utilização do dispositivo móvel em sala de

aula na falta do computador, notebook ou tablet, uma vez que de acordo com uma pesquisa

publicada pela revista Exame em 2021, o Brasil é o 5° lugar no ranking global com o maior

número de proprietários desta tecnologia EXAME (2021). Como aborda Nagumo (2014),

existem leis e regimentos que proíbem o uso de dispositivos móveis na escola, ficando a cargo

do professor liberar ou não o celular dentro da sala de aula. Apoiada na ideia de que os
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dispositivos móveis podem ser convertidos em uma boa ferramenta no processo de ensino-

aprendizagem, a UNESCO elaborou um conjunto de diretrizes para que os responsáveis pela

formulação das políticas públicas compreendam os benefícios adquiridos na introdução dos

dispositivos móveis, como segue:

Atualmente, um volume crescente de evidências sugere que os aparelhos móveis,


presentes em todos os lugares – especialmente telefones celulares e, mais recentemente,
tablets – são utilizados por alunos e educadores em todo o mundo para acessar
informações, racionalizar e simplificar a administração, além de facilitar a
aprendizagem de maneiras novas e inovadoras (UNESCO, 2015, p.7).

Além dos desafios com equipamentos, a Internet também tem interferido nas estruturas

de ensino-aprendizagem em diferentes aspectos. As vastas possibilidades educacionais

propiciadas pela rede, tornam o modelo de aula tradicional desinteressante para o aluno, que

tem acesso à informação e a comunicação de forma instantânea e sem limitações espaciais.

Entretanto, nem toda escola garante o acesso a uma conexão de qualidade aos alunos e

professores.

O Programa de Inovação Educação Conectada (E-Conectada), ainda vigente pela lei

14.180 de 1º de julho de 2021, desenvolvido pelo Ministério da Educação em 2017, tem por

objetivo a universalização de acesso à Internet de alta velocidade e a incorporação das

Tecnologias Digitais na Educação Básica, podendo ser implementado nos municípios.

(BRASIL, 2017).

De acordo com Moran (2007, p.9):

Escolas não conectadas são escolas incompletas (mesmo quando didaticamente


avançadas). Alunos sem acesso contínuo às redes digitais estão excluídos de uma parte
importante da aprendizagem atual: do acesso à informação variada e disponível on-line,
da pesquisa rápida em bases de dados, bibliotecas digitais, portais educacionais; da
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participação em comunidades de interesse, nos debates e publicações on-line, enfim, da


variada oferta de serviços digitais.

Os estudantes do século XXI, atraídos pelas vantagens e facilidades da tecnologia,

encaram o ambiente escolar como um lugar enfadonho, onde ficam sentados em frente à lousa

copiando lições no caderno e ouvindo o professor explicar conteúdo de livros que muitas vezes

já saem desatualizados das editoras.

Nesse aspecto Bannell et al (2016, p.70) elucidam que:

É possível perceber o quanto as crianças e os jovens são habilidosos no manejo


cotidiano dos recursos de seus equipamentos eletrônicos (fazer e armazenar fotografias,
criar e editar imagens, criar e armazenar dados em arquivos de texto ou planilhas, definir
e alterar configurações de aparelhos eletrônicos, resolver pequenos problemas técnicos,
entre outros) e, mais ainda, no uso de ferramentas para interação social (redes sociais,
trocas de mensagens com voz, imagem ou texto, redes de comunicação interpessoal
etc.). Mas não têm identificados os mesmos níveis de habilidade quando se trata, por
exemplo, de busca, seleção, avaliação e análise de informações novas ou de
conhecimentos formais (escolares, acadêmicos, científicos) ou quando é necessário
produzir e veicular novos conteúdos a partir das informações obtidas. Essas são
habilidades importantes para aquisição/construção de conhecimentos com o uso da
internet e, de maneira geral, o seu desenvolvimento exige mediação de pessoas que já
as internalizaram.

Então, torna-se uma grande dificuldade manter a atenção e o foco dos alunos na escola,

acerca do modelo de aula tradicional já ultrapassado, Moran (2010, p.2) afirma que:

Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço- temporal, pessoal e de
grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação.
Uma das dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes
de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos rígidos,
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menos engessados. Temos informações demais e dificuldade em escolher quais são


significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida.
A aquisição da informação dos dados dependerá cada vez menos do professor. As
tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O
papel do professor - o papel principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a
relacioná-los, a contextualizá-los.

Neste viés, o professor tenta alinhar-se às necessidades educacionais do aluno do século

XXI. Como afirma Vaz (2022), os alunos se adaptam rapidamente às inovações tecnológicas

que surgem a cada dia; cabe, então, aos professores repensar suas práticas e se familiarizarem

com as opções que a tecnologia oferece para chegar até o aluno, como por exemplo, artigos

tecnológicos, aplicativos, softwares, sites, redes sociais entre outros. Dessa forma, naturalmente

promoverão o protagonismo estudantil, que é uma habilidade esperada do estudante no século

XXI, com alunos mais motivados alcançando melhores resultados.

Assim, os docentes necessitam compor com as tecnologias para não serem tragados por

elas. Neste cenário, vislumbramos o surgimento de novos papéis para os educadores, assumindo

posições críticas e questionadoras de suas próprias práticas, alinhando metodologia e tecnologia

em diferentes sistemas de ensino que sejam mais significativos. (Branco 2020).

Entretanto, é fundamental considerar que o profissional de educação não deve ser o

único na busca de qualificação, cabe também à Instituição de Ensino e ao Estado ou Município,

promover formação continuada aos professores para manter o grupo atualizado e qualificado.

A Lei 14.180 de 1 de junho de 2014, em seu Art. 3º garante esse direito ao conjugar nos itens

IV e VIII respectivamente: autonomia do professor quanto ao uso das tecnologias e formação

em práticas pedagógicas com tecnologia (BRASIL, 2021). E por que não pensarmos na

introdução da tecnologia no processo de ensino-aprendizagem desde a graduação?

3 Considerações Finais
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Através desse estudo, observou-se que a tecnologia repaginou as metodologias de

ensino, trazendo um novo cenário no modo de ensinar e aprender, bem distante do modelo

tradicional que trazia o professor como figura central e o aluno como receptor de

conhecimentos. Foi possível elencar alguns dos desafios encontrados na implantação da

tecnologia no ambiente escolar e constatou-se, que o processo tende a ser moroso e não

raramente intercorrente. Em contrapartida, foi mensurada a possibilidade da aplicação de

algumas possíveis soluções para os obstáculos citados.

Conclui-se então que investir em tecnologia na educação, sempre terá retorno

positivo, promovendo a inclusão digital e a construção do conhecimento.

4 Referências Bibliográficas

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