Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DOI: http://dx.doi.org/10.15601/2237-0587/fd.v8n2p35-47
Resumo
Vivemos em uma sociedade fortemente marcada pela presença das tecnologias digitais de
informação e comunicação. Apesar dessa importância, as tecnologias digitais ainda se
encontram distantes do ambiente escolar, mesmo apresentando diversas vantagens nos
processos de ensino e aprendizagem. Através de uma pesquisa realizada com professores de
diferentes disciplinas, verificou-se que eles não foram formados para utilizar os recursos
tecnológicos em sala de aula. Fazem uso das ferramentas no social, mas têm grande
dificuldade de utilizar adequadamente no ambiente escolar. É preciso favorecer que as
tecnologias estejam presentes no ambiente escolar de forma inovadora, não apenas com uso
simplificado como temos verificado. É urgente uma formação para isso, seja inicial ou
continuada. Sem formação, não é possível uma utilização adequada.
Palavras-chave: Tecnologias digitais de informação e comunicação. Formação de
professores. Ensino e aprendizagem. Prática pedagógica.
1
Doutoranda em Educação, Mestre em Ensino de Ciências e Matemática e Graduada em Ciências Biológicas
pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUCMinas). Professora da Universidade Estadual de
Minas Gerais (UEMG). E-mail: fernanda.costa@uemg.br
2
Licencianda em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). E-mail:
pamelaalvessqn@gmail.com
3
Licencianda em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). E-mail:
jaquehtinha000@gmail.com
36
Introdução
O que pôde ser observado, na verdade, é que na maioria das vezes não existe um uso
inovador, mas uma simples substituição do quadro pelo computador (PORTO, 2012),
comumente conhecida pela metodologia PowePoint Education (MARINHO et al., 2013), o
que é considerado como um uso simplificado das tecnologias no ambiente escolar. O
professor continua preso na sua forma tradicional de lecionar (LUCENA, 2016), não
aceitando a inserção das tecnologias em sua prática docente.
Os estudantes de graduação não conhecem grande parte das TDIC e afirmam que seus
professores não fazem uso desses recursos em sua prática docente (TEXEIRA et al., 2015). Se
os formadores não fazem, os futuros professores também tendem a não fazer. Os futuros
professores acabam concluindo a formação inicial sem utilizar direta ou indiretamente as
TDIC no contexto pedagógico (LUCENA, 2016), o que acaba gerando um prejuízo formativo
e um ciclo de não utilização pedagógica das TDIC.
Percurso Investigativo
4
O presente trabalho faz parte de uma pesquisa BIC-Jr financiada pela FAPEMIG, CNPq e UEMG.
39
valores e crenças, sem, no entanto, ficar restrito a questões quantitativas. A presente pesquisa
buscou entender os motivos pelos quais os professores de uma escola pública da região
metropolitana de Belo Horizonte utilizam (ou não) as TDIC em sua vida social e também na
prática docente.
Esta pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética com o número
1.666.262. Em seguida, foi elaborado um questionário que continha perguntas relacionadas ao
uso pessoal e profissional das tecnologias, bem como concepções sobre alguns termos
específicos da área. O objetivo deste questionário foi verificar o uso (ou não) das tecnologias
pelos professores.
Resultados e Discussão
Dos professores que responderam o questionário, seis são do sexo feminino. É comum
um predomínio na tarefa docente de mulheres (PESTANA et al., 2009), em especial no
Ensino Fundamental, público alvo desta pesquisa.
40
Dos participantes desta pesquisa, oito professores (80%) já realizaram uma formação
continuada, sendo a maioria cursos de especialização e apenas um deles realizou mestrado. Os
professores que ainda não realizaram uma formação continuada são jovens e que se
graduaram recentemente, com idade inferior a 25 anos. De maneira geral, os professores
buscam formações continuadas como uma possibilidade de atualizar os saberes que possuem
(RAMOS, SANCHES, COSTA, 2015).
Dos professores que tem pós-graduação (oito professores), apenas três (37,5%)
tiveram disciplinas relacionadas com as TDIC na pós-graduação. Destacamos que esses
professores que tiveram disciplinas relacionadas fizeram pós-graduação na modalidade EaD
ou mestrado em Ciência da Informação. Portanto, as TDIC estão presentes apenas quando o
curso tem relação direta com as tecnologias. Mesmo em cursos de educação, como educação
matemática e educação inclusiva, as disciplinas sobre TDIC não se encontram presentes. Isso
é um grande prejuízo, considerando as vantagens que as TDIC apresentam na atualidade. Para
utilizar as TDIC no ambiente escolar é preciso uma formação, seja ela inicial e/ou continuada
(PORTO, 2012).
Com base nas formações realizadas pelos professores, podemos inferir que um dos
motivos da não utilização das TDIC pelos professores pode ser a ausência de formação para
isso, seja na inicial ou até mesmo na continuada, já que grande parte dos professores
participantes desta pesquisa afirmam que não foram preparados para inserir as tecnologias
digitais de forma pedagógica no ambiente escolar.
41
Foi solicitado que os professores explicassem o que entendem por tecnologias digitais
na escola (O que você entende por TDIC no ambiente escolar?). Para quatro professores
(40%), TDIC na escola relaciona-se com uso de aplicativos, blog, redes sociais aplicados com
finalidades educativas. Essa é uma concepção interessante, pois é isso que queremos das
TDIC no ambiente escolar, um uso inovador. A resposta transcrita de um professor de
Biologia representa isso:
Considerando ainda o uso que os professores fazem das TDIC no ambiente escolar,
questionamos se os mesmos utilizam recursos tecnológicos para preparar suas aulas e se sim,
qual recurso utilizam e com qual finalidade. A internet é uma ferramenta eficaz, pois foi
citada por nove professores (90%). A fala de outro professor de Biologia demonstra isso:
Quando questionados sobre o uso durante as suas aulas (Você utiliza algum recurso
das TDIC durante a sua aula? Qual?), oito professores (80%) afirmam fazer uso dos recursos
tecnológicos. Porém, é um uso simplificado, pois, dentre esses, 4 professores (50%) destacam
que utilizam apenas o projetor multimídia, ou seja, a metodologia baseada no PowerPoint
education (MARINHO et al., 2013). Ainda é comum, nas escolas brasileiras, os professores
utilizarem os recursos tecnológicos de forma simples e distante da inovação que as
tecnologias podem propiciar (COLL; MAURI; ONRUBI, 2010). É uma vantagem, mas que
ainda precisa ser modificada. O restante destacou que utilizam a TV e o DVD como recursos
tecnológicos em suas atividades docentes.
Verificamos que o uso das tecnologias está presente no ambiente escolar. Porém, a
prática docente continua centrada no conhecimento trazido pelo professor e transmitido aos
alunos (COLL, MAURI, ONRUBI, 2010; PORTO, 2012; LUCENA, 2016). A tecnologia
digital é considerada como uma ferramenta capaz de facilitar o trabalho do professor e não
como uma cultura (FANTIN, RIVOLTELLA, 2012). É preciso modificar esse aspecto,
demonstrar para os professores que as TDIC podem aprimorar a qualidade da tarefa docente,
favorecendo os processos de ensino e aprendizagem, gerando bons resultados nesses
processos, nas mais variadas disciplinas.
Os professores foram ainda questionados sobre as redes sociais (Você acha que as
redes sociais podem contribuir para os processos de ensino e aprendizagem? Como?). Todos
os participantes afirmam fazer uso das redes sociais. Podemos afirmar que elas permitem uma
nova forma de socialização entre as pessoas (LALUEZA; CRESPO; CAMPS, 2010). É uma
necessidade de nossa sociedade, que precisa integrar as pessoas (MARINHO et al., 2015;
43
LUCENA, 2016). Dos professores respondentes, 90% afirmam que as redes sociais podem ser
utilizadas para contribuir para os processos de ensino e aprendizagem, desde que sejam
adequadas aos objetivos pedagógicos. A utilização das redes sociais no ambiente escolar é
hoje uma necessidade que os próprios alunos colocam (MARINHO et al., 2015). É preciso
formar os professores para que os mesmos sejam capazes de utilizar as redes sociais em favor
da aprendizagem (PAICHECO et al., 2015).
Foi percebido que, fora do ambiente escolar, os professores utilizam uma grande
variedade de recursos (FANTIN; RIVOLTELLA, 2012), aspecto encontrado também neste
trabalho.
Gráfico 1: Recursos tecnológicos utilizados pelos professores na vida social e na prática docente
Fonte: dados da pesquisa
Verificou-se que a maioria dos recursos é utilizada pelos professores no social, mas
não com tanta frequência na prática pedagógica. Destacamos as redes sociais, tais como
Facebook, Instagram, Twitter. É comum esse uso por parte dos professores no social, mas
distante do ambiente escolar (LUCENA, 2016). Seria interessante que o uso fosse um pouco
44
mais próximo, pois as redes sociais podem contribuir no ambiente escolar. Destacamos que
elas não foram criadas com objetivos educacionais, mas vêm sendo utilizadas com resultados
positivos nos processos de ensino e aprendizagem (PAICHECO et al., 2015).
Apenas o e-mail e o PowerPoint apresentam-se como recursos que são utilizados pela
maioria dos professores na prática docente. O PowerPoint, como já destacado neste trabalho,
tende a ser utilizado pelos professores apenas como uma troca do quadro pelo projetor
multimídia (PORTO, 2012; MARINHO et al., 2013). Essa pode ser uma vantagem o uso
deste recurso tecnológico, mas acreditamos que seria necessário um uso mais eficaz.
Os professores foram ainda questionados sobre quais recursos nunca ouviram falar. O
Gráfico 2 demonstra os recursos tecnológicos que os professores respondentes do
questionário ainda não conhecem.
45
Verificamos que muitos professores desconhecem alguns recursos que vêm gerando
bons resultados na prática docente. O desconhecimento desses recursos por um grande
número de professores demonstra que o ambiente escolar ainda faz um uso limitado das
tecnologias (COLL; MAURI; ONRUBI, 2010).
Considerações finais
É preciso que os cursos de formação inicial de professores atentem para esse aspecto,
busquem formas de inserir em sua grade curricular disciplinas que efetivamente contribuam
para o uso inovador das TDIC. Outra possibilidade para essa integração é que os formadores
46
(professores universitários) passem a utilizar em suas tarefas docentes as TDIC. Dessa forma
os futuros professores terão a oportunidade de conhecer e, dessa forma, de utilizar no futuro.
Para aqueles professores que já atuam, a formação continuada continua sendo uma
possibilidade efetiva de aprender sobre as TDIC. Nesse caso, é preciso que os cursos de
formação continuada também atentem para esse aspecto, pois o que percebemos é que estes
também encontram-se distantes da inovação pedagógica das TDIC.
Referências
MARINHO, Simão Pedro P. et al. Formação on-line no Projeto UCA em Minas Gerais:
Desistências e Persistências. Lições do Projeto um computador por aluno. In: CASTRO-
FILHO, José Aires; SILVA, Maria Auricélia da; MAIA, Dennys Leite (Orgs.). Lições
do projeto um computador por aluno. 2013. Disponível em:
<http://www.proativa.virtual.ufc.br/livrouca/Livro_UCA_Final.pdf>. Acesso em: 20 fev.
2014.
MARINHO, Simão Pedro P. et al. Tecnologias móveis, mídias e redes sociais: culturas de uso
de estudantes de licenciatura. Anais dos Workshops do Congresso Brasileiro de
Informática na Educação – CBIE, 2015, Maceió. p. 834-843. Disponível em:
<http://www.br-ie.org/pub/index.php/wcbie/article/view/6127>. Acesso em: 05 jul. 2016.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio da pesquisa social. In: ______ (Org.). Pesquisa
Social: Teoria, método e criatividade. 27 ed. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 9-30.
PESTANA, Maria Inês (Coord.) et al. Estudo exploratório sobre o professor brasileiro
com base nos resultados do Censo Escolar da Educação Básica 2007. Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2009. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/estudoprofessor.pdf>. Acesso em: 08 out. 2015.
PORTO, Tânia Maria Esperon. As tecnologias estão nas escolas. E agora, o que fazer com
elas? In: FANTIN, Mônica; RIVOLTELLA, Pier Cesare (Orgs.). Cultura digital e escola:
pesquisa e formação de professores. Campinas: Papirus, 2012. p.167-194.
TEXEIRA, Quézia Dias et al. Formação inicial de professores de Ciências e Biologia para
tecnologia digital. In: Anais do III Encontro Regional de Ensino de Biologia – Erebio, Juiz
de Fora, 2015. Disponível em: <http://www.ufjf.br/erebio>. Acesso em 02 de jul. 2016