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A 10 de agosto de 1792, uma multidão amotinada, enfurecida pelas más condições de vida e receosa de
uma invasão estrangeira, tomou o poder e proclamou a República, instituindo-se um governo designado
por Convenção.
Dois fatores, em especial, precipitaram o fim do regime monárquico na França:
1. tentativa da fuga do Rei, em 1791, com o objetivo de ser acolhido no estrangeiro por um país de
regime absoluto, e o seu regresso humilhante a Paris, apenas serviram para acelerar a instituição da
República, forma de governo que, até então, não fora defendida;
2. A guerra da França, em abril de 1792, contra os Estados absolutistas que queriam restituir o poder
de Luís XVI (Áustria e Prússia)*, agravou os problemas económicos e contribuiu para o radicalismo
político: os federados (milícias defensoras da Revolução) acorreram a Paris, assaltaram as
Tulherias* e o rei foi suspenso pela Assembleia Legislativa em agosto de 1792.
Nota:
*A Declaração de Pillnitz (1791)
Os emigrados buscavam apoio externo para restaurar o Estado absoluto. As vizinhas potências
absolutistas apoiavam esses movimentos, pois temiam a irradiação das ideias revolucionárias
francesas para seus países. Os emigrados e as monarquias absolutistas formaram uma aliança
destinada a restaurar, na França, os poderes absolutos de Luís XVI. Alegando a necessidade de se
restaurar a dignidade real da França, na Declaração de Pillnitz (1791) esses países ameaçaram a
França de uma intervenção.
A Declaração de Pillnitz foi redigida no castelo de Pillnitz (Saxe, Alemanha) no final de uma
conferência que se realizou, entre 25 e 27 de Agosto de 1791, nesse mesmo local, entre o imperador
da Áustria, Leopoldo II (irmão da rainha Maria Antonieta da França) e o rei da Prússia Frederico
Guilherme II.
Como resposta, em 1792, a Assembleia Legislativa aprovou uma declaração de guerra
contra a Áustria.
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O fim da monarquia constitucional viria a consumar-se em 1793 quando, após um julgamento de
26 horas, Luís XVI foi condenado à morte na guilhotina (pena aplicada, também, à rainha Maria
Antonieta, no mesmo ano).
Doc. 2 - A Execução de Luís XVI A Execução de Luís XVI na guilhotina
Às 10h20, de 21 de Janeiro de 1793, na
Praça da Revolução (atual Place de La Concorde),
Luís XVI, 39 anos, ex-rei da França, é guilhotinado
um dia após ser condenado por conspiração com
potências estrangeiras e sentenciado à morte pela
Convenção Nacional Francesa.
Preso nas Tulherias com a sua f amília
desde o mês de Agosto de 1792, a Convenção
acusa-o de ser um traidor da Nação. As suas
derradeiras palavras: “Franceses, eu morro inocente;
perdoo os meus inimigos; desejo que minha morte
seja...” No entanto, o f inal da sua f rase seria coberto
pelo ruf ar do tambor anunciando a sua execução.
Em 16 de Outubro do mesmo ano seria vez da sua
mulher Maria Antonieta ser executada na guilhotina
em praça pública.
A etapa da Convenção republicana (1792-1795) foi marcada pela divisão entre duas fações políticas:
por um lado os Girondinos, por outro os Montanheses, ou Jacobinos (estes últimos liderados por Marat,
Danton e Robespierre).
Apesar de todos terem ligações ao Clube dos Jacobinos (clube de burgueses revolucionários), os
Montanheses eram mais radicais. Eram apoiados pelos chamados sans-culottes. Estes eram membros das
classes populares, artesãos, logistas e operários que não tinham rendimentos suficientes para se tornarem
cidadãos ativos (pois obrigava o sufrágio censitário) mas exprimiam as suas reivindicações nos clubes,
debates e através de petições propostas aos poderes políticos.
Foi devido à pressão dos sans-culottes que os Girondinos e os burgueses, seus apoiantes, foram
afastados do poder em 1793 e o rei foi condenado à morte, sentença que Robespierre considerava “uma
medida de salvação pública”.
Doc. 5 – Figuras típicas
Doc. 3 - Os Girondinos - Era a Doc. 4 – Os Montanheses
de sans- culottes
denominação de um grupo político m oderado – Eram m ais radicais e
(Gironda), chefiado por Jacques-Pierre apelidavam -se de m ontanheses
Brissott. Faziam igualm ente parte deste por se sentarem no ponto m ais
partido político, Vergniaud e Roland. elevado da sala da Assem bleia
Legislativa. Entre eles
encontravam -se Robespierre,
Danton e Marat.
(A arbitrar os diferendos
estavam os deputados da
Planície.)
Danton e Robespierre
Dominada pelos radicais Montanheses, por quem os sans-culottes nutriam simpatia, a Convenção
votou uma nova Constituição, que ficou conhecida por Constituição do Ano I (junho de 1793). Mais
democrática que a Constituição de 1791, instaurava o sufrágio universal direto (reservado ao sexo masculino)
na escolha da Assembleia Legislativa.
A Constituição, no entanto, jamais entrou em vigor. Os Montanheses decidiram não a pôr em prática,
em virtude de uma terrível conjuntura interna e externa que se abateu sobre a França. Na Provença, em
Lião, em Bordéus, estalara a insurreição separatista ou federalista, instigada pelos girondinos. Na Vendeia
(referida mais à frente), monárquicos e católicos sublevavam-se contra as tropas republicanas, causando-lhes
inúmeros reveses. No exterior, a França batia-se com uma vasta coligação de países europeus, entre os
quais se incluíam a Áustria, a Prússia, a Inglaterra, a Espanha, a Rússia, Portugal, estados alemães e
italianos. Reagiam à política de anexações territoriais da Convenção e à execução de Luís XVI, que tanta
repulsa causara na Europa.
Doc. 7 – A Revolução em perigo
Neste contexto que fazia perigar a revolução, a Convenção montanhesa radicalizou ainda mais a sua
conduta, decretando um governo revolucionário.
Se algumas medidas são hoje reconhecidas como inovadoras e de grande antecipação democrática, na
época consideravam-se extremistas e impopulares. Por outro lado, o Governo da Convenção instaurou um
clima de Terror, que passou a corresponder à fase mais radical da Revolução Francesa, ocorrida entre
1793-1794: perseguiram-se os contrarrevolucionários internos e iniciou-se uma guerra contra as
potências monárquicas europeias, o que implicou recrutamentos forçados e extorsões de dinheiro aos mais
abastados.
A convenção, que desempenhava o poder legislativo, criou um governo centralizado e ditatorial: o poder
executivo pertencia a dois comités – o Comité de Segurança Geral e o Comité de Salvação Pública -,
cujos membros dependiam da aprovação mensal da Convenção para se manterem em funções.
O Comité de Segurança Geral prendia os suspeitos de contrarrevolução e entregava-os a um Tribunal
Revolucionário. Na verdade, a Lei dos Suspeitos, de 1793, traduziu-se na legalização da violência: todos
podiam ser suspeitos, quer “pelas suas conversas, ou escritos”, quer por não possuírem o “certificado de
civismo”, por serem “familiares dos nobres” ou porque haviam emigrado. Após um julgamento breve e
sumário (breve e sem hipótese de defesa, umas vez que nem sequer eram inquiridas as testemunhas), as
vítimas do Terror eram encarceradas e, na maior parte das vezes, executadas pela guilhotina (inventada em
1789).
A Lei dos Suspeitos semeou a denúncia e a arbitrariedade, levando ao encarceramento de umas 300 000
a 5000 000 pessoas. Em Paris e na Província os tribunais revolucionários condenaram à morte cerca de 17
000 suspeitos; acrescentando as mortes na prisão e outras execuções, calculam -se em cerca de 40 000 as
vítimas do Terror. Encontram-se entre elas a rainha, Madame Roland, Brissot, Vergniaud, Bailly, todos os
políticos girondinos, e até o químico Lavoisier.
Uma outra fação do Terror consistiu na descristianização ou movimento antirreliogioso. O governo
revolucionário instituiu um Estado Laico. As marcas do cristianismo foram apagadas: o poeta Fabre
Églantine criou um novo calendário*, que situava o ano I na data da proclamação da República pela
Convenção (1792) e criava novos nomes para os meses do ano; a hierarquia religiosa era ridicularizada,
os padres refratários eram perseguidos, o culto dos santos foi substituído pelo culto aos mártires da
revolução (por exemplo, a Marat, herói dos sans-culottes, assassinado no banho por uma jovem girondina), o
casamento religioso passou a ato civil, o divórcio foi autorizado, através da Lei do Casamento e do
Divórcio.
Para compensar a aniquilação do cristianismo, Robespierre criou um culto ao Ser Supremo, porém, uma
boa parte da população francesa, fiel à religião católica, afastou-se da revolução. Os confrontos fizeram-se
sentir, em 1793, na região da Vendeia, onde os monárquicos e católicos tentaram a contrarrevolução, mas
sem sucesso.
A república montanhesa teve o seu fim em julho de 1794 quando Robespierre, responsável por
inúmeras condenações à morte (entre estas, mandou executar Danton, que gozava de imensa popularidade),
foi ele mesmo, guilhotinado em resultado de uma conspiração da Convenção (a 9 do Termidor- 27 de
julho de 1794). O extremismo desta etapa foi responsável pelo seu fracasso.
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2.2.4 O regresso à paz civil e a nova ordem institucional e jurídica
Entre julho de 1794 e julho de 1795, a Convenção manteve-se como assembleia legislativa.
Passou, todavia, a ser dominada por elementos mais moderados. Foi a Convenção “termidoriana”. Os
novos deputados defendiam os interesses da burguesia. Por isso se diz que à república popular
sucedeu uma República burguesa.
Os autores do golpe de estado de 27 de julho de 1794 (9 de Termidor) pretendiam acabar com os
excessos democráticos e socializantes da Convenção montanhesa. Nesse sentido, ao mesmo tempo
que moviam uma violenta perseguição aos sans-culottes, autorizaram o regresso dos monárquicos
exilados.
Em agosto de 1795, prestes a terminar funções, a Convenção aprovou uma nova Constituição –
a “Constituição do ano III” -, mais conservadora que as de 1791 e 1793, de matriz liberal,
destinada a restabelecer a ordem, a paz civil e a concórdia social. Uma nova etapa se iniciava – o
Diretório.