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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Instituto de Ciências Humanas e Sociais

Departamento de Letras e Comunicação - 2023.2

Cultura Clássica Greco-Romana (TS354) - Prof. Rívia Fonseca

Aluna: Elda de Souza Tuler de Miranda - Matr. 20220038568

Meu clássico

A leitura é, inquestionavelmente, uma das atividades mais enriquecedoras da


vida humana. No entanto, reconheço que minha relação com os livros é peculiar. Meu
deleite reside, sobretudo, nos romances e nas leituras descompromissadas.

Lembro-me dos dias de escola no ensino fundamental, quando fui introduzida às


leituras paradidáticas. Em uma dessas atividades, me deparei com um clássico da
literatura brasileira, "Éramos Seis", um romance da escritora Maria José Dupré que foi
lançado em 1943. Conta a história da família de classe média baixa que vive em São
Paulo entre as décadas de 1910 e 1940, com foco na vida de Dona Lola. Dona Lola
era mãe de quatro filhos e desempenhava o papel de esposa e dona de casa. À
medida que os anos passaram, cada um dos seus filhos seguiu seu próprio caminho, e
já viúva, acabou vivendo com apenas um dos seus filhos que, com problemas de
saúde, faleceu deixando-a sozinha. Passou, então, a viver em um quarto alugado em
uma pensão católica. Anos depois, ao visitar sua antiga casa, rememorou o tempo
vivido com sua família.

Ao realizar a leitura de "Por que ler os clássicos" de Calvino, comecei a pensar


sobre quais livros seriam considerados clássicos em minha própria lista de leitruas.
Refletindo sobre os seus argumentos acerca do valor das obras clássicas e suas
implicações para os leitores, me deparei, inicialmente, com sua primeira definição "Os
clássicos são aqueles livros dos quais, em geral, se ouve dizer: "Estou relendo..." e
nunca "Estou lendo..." (Calvino, 2007, p.9). Isso faz todo sentido, já que costumamos
reler obras que de alguma forma nos marcaram. Calvino aborda a leitura na juventude,
onde o ato de ler se entrelaça com outras experiências, enquanto as leituras na
maturidade nos levam a apreciar detalhes que agregam significados valiosos à nossa
jornada. Isso me fez lembrar de "Éramos Seis" e da minha releitura vinte anos após a
primeira vez que a li.

Italo Calvino destaca a importância de revisitar as leituras mais significativas da


vida adulta, pois ainda que os livros permaneçam os mesmos, embora também
evoluam à medida que os contextos sociais mudam. Com certeza, nós mudamos, e,
assim, a leitura se torna uma experiência totalmente nova. Isso se refletiu na releitura
do "meu clássico".

Com uma perspectiva de vida diferente, agora casada e mãe, a história de Dona
Lola e sua família, seus conflitos, os caminhos que seus filhos escolhem na vida e as
perdas que enfrenta ganharam uma profundidade emocional que me fez sentir como se
estivesse compartilhando o sofrimemento da personagem. Isso é algo que não
experimentei quando mais jovem, quando tais conflitos pareciam menos significativos
naquele momento.

Quando Calvino (20'07, p. 12) diz que " os clássicos são livros que, quanto mais
pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato mais se revelam novos,
inesperados, inéditos", percebo que minha experiência de releitura se assemelhou a
essa descrição. Enquanto relembrava personagens familiares e a trama, tive a
sensação de estar lendo a história como se fosse a primeira vez.

Portanto, com base nas definições de Calvino sobre o que se constitui um


clássico, posso afirmar que a obra "Éramos Seis" se encaixa na minha concepção
como um clássico. Mesmo sendo uma literatura do século passado, em uma sociedade
diferente da atual, sua relevância perdura, retratando relações familiares com as quais
podemos nos identificar ou não. Em resumo, concordo com a definição de Italo Calvino
(2007, p. 15) " É clássico aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a
atualidade mais incompatível". Diante disso, "Éramos Seis" é um clássico.

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