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Ficha de Trabalho
Português- 8.º Ano
Agrupamento de Escolas Rafael Bordalo Pinheiro

TEXTO A

O que leem (e como leem) os adolescentes?

Ler implica foco, silêncio, u m tempo lento. Ou seja, o contrário dos hábitos dos
nativos digitais. Mais do que saber se cumprem as leituras escolares, importa
descobrir o que é que os jovens leem por puro prazer e como é que esse gosto se pode
estimular.
Francisco Ferreira trata os livros com estima, mas também com familiaridade sufi-
5 ciente para não recear dobrar os cantos das páginas em vez de usar u m marcador. É u m

leitor eclético1 como mostram os três livros que traz na mão: Diário de um adolescente
na Lisboa de 1910, de Alice Vieira, que conta a história de u m rapaz à época da
queda da monarquia; An adventure on Madeira Island, tradução inglesa da famosa
coleção “Uma Aventura”, de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada; e Little house on
the prairie, uma
10 novela de 1935, da americana Laura Ingalls Wilder, sobre as suas experiências

enquanto criança no centro oeste do país.


“Gosto de ler em inglês porque ganho mais vocabulário”, explica o adolescente de
15 anos, que frequenta o 9.º ano.
Usa várias vezes a expressão “estou a trabalhar u m livro” quando se refere às
leituras 15 da escola, mas, por oposição, considera as suas próprias leituras, que faz
sobretudo
quando está de férias, como momentos de descanso, deixando muito clara a fronteira
entre a leitura por obrigação e por prazer.
Os três livros que traz consigo têm histórias muito diferentes, mas uma coisa em
comum: as personagens são adolescentes, como ele próprio. Não há grande mistério
20 nesta preferência: os adolescentes gostam de ler obras com protagonistas da mesma

idade porque conseguem relacionar-se com a história sob uma perspetiva mais pessoal.
“Nós só conseguimos ler aquilo para que estamos preparados”, explica a mediadora
de leitura Andreia Brites. “Podemos ler u m livro difícil do ponto de vista da linguagem
se o tema nos for próximo e o inverso também é possível: ler algo cujo tema nos é
estra-
25 nho e sobre o qual não temos u m conhecimento prévio estruturado, se for numa

linguagem simples que nos permita compreender.”


Para Andreia, que trabalha desde 2005 nas bibliotecas de todo o país, sobretudo
com jovens, esta adequação é muito importante: pô-los perante coisas para as
quais não estão preparados é “matar” leitores. “Se lhes damos u m tipo de livro para o
qual ainda
30 não têm competências, eles não só vão rejeitar aquele livro como muitos

semelhantes.” A mediadora acredita que recomendar-lhes leituras passa sobretudo por


conhecê-los. “Gostam de animais, de carros ou de u m desporto? São mais
imaginativos ou mais pragmáticos? Há algum filme ou jogo de computador de que
gostem e que possa
influenciar na leitura de u m livro? Tudo é válido. O mais importante é conhecê-los.”
35 Apesar disso, garante que há temas e géneros que, por norma, lhes são caros.
“Os adolescentes, tipicamente, têm uma grande necessidade de ter, por u m lado,
contacto com as tragédias e com a realidade mais dura e, por outro, com a fantasia e a
aventura.”
Sofia Teixeira, in www.noticiasmagazine.pt, 27-01-2019

1. eclético: versátil, variad


1. Associe a cada elemento da coluna A uma única frase da coluna B, conforme o sentido do texto.

Coluna A Coluna B

a. Lê livros exclusivamente em português.


b. Escreveu um livro inspirado nas suas experiências de infância.
1. Sofia Teixeira c. Entende que há diferenças entre ler por prazer e ler por obrigação.
2. Francisco Ferreira d. Argumenta que todos os livros são adequados a todos os leitores.
3. Andreia Brites e. Considera que a leitura implica concentração.
f. Defende que os jovens têm preferências de leitura comum quanto
a temas e géneros.

2. Assinala, nos itens 2.1. a 2.3., a opção que completa cada afirmação, de acordo com o texto.

2.1. Ao “dobrar os cantos das páginas em vez de usar um marcador” (linha 5), Francisco revela
a. desinteresse pela leitura.
b. ecletismo em relação à leitura.
c. falta de cuidado com os livros.
d. proximidade com os livros.

2.2. Os três livros referidos no segundo parágrafo têm em comum


a. o tema e o género.
b. um enredo cheio de suspense.
c. o tipo de personagens.
d. a simplicidade da linguagem.

2.3. O pronome pessoal “lhes” (linha 29) refere-se a


a. “bibliotecas de todo o país” (linha 27).
b. “jovens” (linha 28).
c. “coisas” (linha 28).
d. “competências” (linha 30).

3. Complete a afirmação com uma das expressões abaixo apresentadas.

No último parágrafo, a oposição entre dois tipos de preferências é marcada .

1. pelo advérbio “tipicamente” 2. pela expressão “Apesar disso”


3. pelos conectores “por um lado” e “por outro” 4. pelo recurso à citação
TEXTO B

Os livros

Barafustaram comigo, n e m escutaram o que eu queria que entendessem. Diziam que


os livros queimavam os olhos, eram diurnos, não serviam para as noites. As regras do
nosso colégio interno, para meninos casmurros como eu, mandavam assim.
Queriam os livros no corredor. As luzes apagadas às nove.
5 Eu ainda deitei mão a alguns volumes, toquei-lhes brevemente igual a qu em cai n u m
precipício e procura agarrar-se, mas não me deixaram nada. Apenas o candeeiro já apa-
gado, como se a luz tivesse morrido de tristeza. […]
Fui ver a minh a nova estante logo pela manhã.
Era u m bocado de espaço arranjado entre tralhas meio esquecidas. Fiquei ofendido.
10 Os livros não esquecem nada. Eles são para sempre a mesma memória admirável. Esque-
cer livros é uma agressão à sua própria natureza. Embora, na verdade, eles n e m se devam
importar, porque podem esperar eternamente.
Alguém colocara uma pequena placa dizendo: não alimente os animais. Fiquei sem
saber se queriam dizer que os livros eram bichos comendo as nossas ideias ou se seria eu
15 u m devorador de páginas, alimentado de palavras como as histórias. As histórias podem
comer muitas palavras.
Pensei: os meus queridos livros. Era o que pensava e sentia: os meus queridos livros.
Olhava-os como se estivessem vivos e pudessem sofrer. Como se pudessem também en-
tristecer.
20 Gostei de colocar a hipótese de os livros serem como bichos. Isso faz deles o que sem-
pre suspeitei: os livros são objetos cardíacos. Pulsam, mudam, têm intenções, prestam
atenção. Lidos profundamente, eles estão incrivelmente vivos. Escolhem leitores e en-
tregam mais a uns do que a outros. Têm uma preferência. São inteligentes e reconhecem
a inteligência.
25 Os livros estão esbugalhados a olhar para nós. Quando os seguramos, páginas aber-
tas, eles também estão esbugalhados a olhar para nós.
Os meus colegas ficaram todos a rir-se de mim. Eu era conhecido como o rapaz que
perdia a hora de dormir. Tinha a cabeça na lua, diziam. Não me importei nada. Rirem-se
de nós pode ser só u m erro no ponto de vista. E eles, todos eles, estavam errados.
30 A primeira vez que vi u m livro, que me lembre, era u m que estava aberto, pousado
sobre a mesa, com as folhas em leque como se fossem uma colorida flor contente.
Podia ser uma caixa esquisita para arquivar pétalas secas, podia ser para guardar do-
cumentos ou cartas de amor. De perto, era afinal u m livro muito branco, cheio de pala-
vras impressas. Julguei que podia ser um bordado miudinho. Um enfeite para que as
35 páginas ficassem bonitas. Pensei que fosse uma prenda de enxoval.
Depois, compreendi, era o modo silencioso das conversas. Todos os livros são conver-
sas que os escritores nos deixam.

Valter Hugo Mãe, Contos de cães e maus lobos, Porto Editora, 2015 (págs. 93-95, com supressões)
4. Ao longo do texto, faz-se referência a dois momentos da vida do narrador. Associe a
cada momento (Coluna A) as situações ou descobertas relacionadas (Coluna B).

Coluna A Coluna B

a. Regras rígidas para a prática da leitura


b. Especificidade da comunicação entre o livro e o leitor
1. Primeiro contacto com um livro
c. Estranheza relativamente à forma do livro
2. Vida no colégio interno
d. Impossibilidade de ler livremente
e. Valorização do aspeto do livro

5. Assinale as três expressões utilizadas para realçar a capacidade que os livros têm de se
manifestarem e interagirem com os leitores.
a. “Barafustaram comigo” (linha 1)
b. “mandavam assim” (linha 3)
c. “são objetos cardíacos” (linha 21)
d. “entregam mais a uns do que a outros” (linhas 22-23)
e. “estão esbugalhados a olhar para nós” (linha 25)
f. “ficaram todos a rir-se de mim” (linha 27)

6. Releia o primeiro parágrafo do texto.

6.1. Explique, no caderno, a razão pela qual o narrador se autocaracteriza como “casmurro”.

6.2. Assinale a opção correta.


Neste parágrafo, o narrador faz referência a si próprio através de
a. dois grupos nominais (nome próprio e expressão “meninos casmurros”).
b. três pronomes pessoais e um determinante possessivo.
c. quatro pronomes possessivos.
d. dois pronomes pessoais e dois pronomes relativos.

7. Esclareça, no seu caderno diário, o sentido da última frase do texto:


“Todos os livros são conversas que os escritores nos deixam.”. (linhas 36-37)

8. Reescreva a frase, substituindo a expressão sublinhada pelo pronome pessoal


correspondente. Faça apenas as alterações necessárias.

Modelo: É importante ler as perguntas com atenção. ►É importante lê-las com atenção.

Esquecer os livros é uma agressão à sua própria natureza. ►_________________________________


9. Assinala, nos itens 9.1. a 9.3., a opção que completa cada afirmação, de acordo com
o texto:

9.1. No oitavo parágrafo (linhas 20-24), a interação que os livros criam com os leitores
é acentuada
a. pelo uso da antítese e da enumeração.
b. pelo uso da comparação e da hipérbole.
c. pelo uso da metáfora e da anáfora.
d. pelo uso da metáfora e da personificação.

9.2. Na frase “Julguei que podia ser um bordado miudinho.” (linha 34), a
oração subordinada desempenha a função sintática de
a. sujeito.
b. complemento direto.
c. complemento indireto.
d. complemento oblíquo.

9.3. A frase “Quando os seguramos, páginas abertas, eles também estão


esbugalhados a olhar para nós.” (linhas 25-26) é
a. uma frase simples, constituída por uma só oração.
b. uma frase complexa, constituída por duas orações coordenadas
assindéticas.
c. uma frase complexa, constituída por oração subordinante e oração
subordinada.
d. uma frase complexa, constituída por oração subordinada e oração
subordinante.

10. Imagine que é um(a) jornalista e que tem a oportunidade de entrevistar o escritor
Valter Hugo Mãe sobre a sua obra.

Escreva, no caderno, uma entrevista bem estruturada, com um mínimo de 180 e


um máximo de 280 palavras, em que simule as perguntas feitas e as respostas dadas.

O seu texto deve incluir:


• um título sugestivo;
• uma breve introdução, em que apresente o entrevistado e o tema da entrevista;
• quatro questões e respetivas respostas;
• uma breve conclusão da entrevista.

B☺m Trabalh☺!!

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