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Contributos Para Uma Breve

Estória do REAA

César-RLAS

Fevereiro de 2013
"Não existe prazer maior que ficar
firme sobre o vantajoso terreno da
verdade."
Francis Bacon.

1-Introdução

A título de esclarecimento prévio importa referir que esta prancha é traçada nas
condições possíveis a quem não é investigador especializado no assunto e que reside
longe dos grandes centros e, por isso, tem dificuldade de acesso às fontes bibliográficas
tradicionais. Não pretende, por isso, ser criadora de informação histórica e filosófica nova
por o meu engenho e a impossibilidade de acesso a fontes originais não o permitirem,
nem ser esse o seu objectivo. Daí que, embora tal não seja do agrado de muitas pessoas
ligadas à investigação histórica, esta prancha tenha sido elaborada recorrendo a fontes
em suporte digital, sobretudo as disponíveis na Internet, em português ou outras línguas
europeias, sujeitando-as ao crivo do meu sentido crítico, visando um maior
enriquecimento pessoal com base na reflexão sobre a informação que ao longo dos
últimos anos fui recolhendo.

Sentido crítico de quem considera que a Maçonaria como Ordem Universal deve ser o
ponto de encontro dos homens e mulheres interessados, em plena liberdade de
consciência, em questionar-se e reflectir sobre “ de onde viemos”, “o que somos ou como
somos” e “o que queremos para o futuro”, não só no plano individual da construção do
nosso aperfeiçoamento pessoal ou templo interior, mas também na construção e
aperfeiçoamento do Templo Universal, que entendemos como a sociedade e o espaço
terreno em que vivemos e trabalhamos.
Obviamente que essa reflexão não poderá deixar de ter em conta os contextos
temporais, económicos e político-sociais em que a Ordem Maçónica se construiu e
desenvolveu, sem o que se torna dificilmente inteligível a necessidade e importância do
trabalho maçónico numa sociedade em mutação cada vez mais rápida, que podemos
dizer estar hoje, com as novas tecnologias e formas de comunicação, bem próximo da
“aldeia planetária” concebida por Marshal MacLuan. Sociedade que produz e disponibiliza
mais informação num só jornal diário de uma grande metrópole do que se produzia no
conjunto do Séc. XVIII, segundo os especialistas da comunicação e informação, com as
consequências que daí advêm quando se pretende reflectir nos termos que atrás
considerámos. E ainda em que em grande parte do mundo a escolarização de grande
parte da população e a “democratização” do acesso à informação e conhecimento daí
decorrente, conjugados com as novas formas facilitadoras de acesso a eles, que são bens
de partilha e não bens de posse, geraram condições que obrigam a um grande esforço de
reflexão sobre o que implica hoje ser Maçon, quer nos Graus Simbólicos, quer nos Altos
Graus.
Reflexão que não pode perder de vista, num Rito que pretende que cada grau seja um
aprofundamento do aperfeiçoamento pessoal através da aprendizagem ritual sobre os

1
“novos mistérios” de cada um deles, que o ritual dos mesmos não é mais que um
instrumento de disciplina dos trabalhos em Loja e uma referência simbólica para marcar
os passos do aperfeiçoamento individual e que grande conhecimento do mesmo não será
a finalidade essencial do trabalho maçónico. Até porque essa perspectiva tornaria o
Ritual, ou conjunto dos rituais dos sucessivos graus, numa forma de registo de “uma
verdade revelada”, muito ao gosto dos “teosofistas”, e não contraditória com tradição
Teísta original e datada do REAA, mas muito dificilmente compaginável com a liberdade
de pensamento e consciência consagrada na Maçonaria Simbólica do GOL.

2-A “construção” do REAA e sua influência no desenho da


simbologia e filosofia dos seus Graus

Os estudiosos modernos da filosofia do Rito Escocês Antigo e Aceito (ou Aceite)1, com os
seus três Graus Simbólicos e os trinta Altos Graus que lhes sucedem, costumam defini-lo
como um rito em que se combinam os elementos simbólicos mais tradicionais com uma
dinâmica de funcionamento expressiva que permite desenvolver, simultaneamente, um
profundo sentido de fraternidade e um acurado sentido de análise racional que convida a
entender a vida tanto com base num critério espiritual como num critério racional que se
complementam e potenciam.

A prática do ritual, permite, nos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre, mediante


uma série de representações ritualísticas de antiquíssima simbologia, adquirir uma
consciência das Leis e preceitos da Natureza e do Universo maior do que a que
descobriria a nossa simples mas atenta observação. Assim, o ritual está estruturado e
codificado como um fio condutor, que não só pode transmitir uma clara e significativa
mensagem geral, mas também pode activar mecanismos subconscientes e inconscientes
que geram um elevado sentido da transcendência do Grande Arquitecto do Universo
(GADU). Assim, consideram os teorizadores deste Rito, que tem uma importância capital
não só a prática do ritual mas também a sua assimilação espiritual, psicológica e
conceptual.

Mas em segundo lugar, dentro de los trabalhos de Loja põe-se igualmente ênfase nos
Trabalhos Maçónicos de tipo intelectual. Os Trabalhos são apresentados geralmente por
escrito e, uma vez lidos na reunião ritual, são tratados de forma oral com debate
coloquial entre os irmãos. Desta maneira consegue-se, através das diferentes
apreciações e opiniões expressas no debate, uma percepção profunda do tema tratado,
com o consequente enriquecimento e formação maçónica que dará frutos posteriores em
qualquer âmbito ou situação.

Será interessante apreciar alguns factos e momentos que levaram à criação do REAA e
dela à filosofia sumariamente exposta nos parágrafos anteriores.

2.1-Os antecedentes – a criação do Rito de Perfeição ou de Heredom.

Entende-se habitualmente por rito maçónico um conjunto sistemático de cerimónias e


ensinamentos maçónicos visando o aperfeiçoamento dos obreiros, conjunto esse que

1
-Há defensores para cada uma das duas designações Aceito ou Aceite, com base em razões justificativas para cada uma
delas. Ainda que pessoalmente perfilhe a de Aceite a oficialmente adoptada pelo Supremo Conselho dos Inspectores Gerais
do 33º Grau para Portugal e sua Jurisdição é a de Rito Escocês Antigo e Aceito e o o diz a sua divisa DEU“ MEUMQUE
JU“ Deus e o eu di eito te do o pode de de idi o o C a a “upe io do Rito e “up e o Co selho fixou a
designação oficial.

2
varia de acordo com o período histórico, conotação, objectivos e temáticas desenvolvidas
pelos seus criadores.
Já o ritual será o “manual” ou guião que rege a sequência das cerimónias e da utilização
dos textos, dos símbolos e das acções dos obreiros durante as sessões rituais, funcionado
como uma espécie “ encenação”, ou no campo da religião católico/cristã como “missal”.

Por isso, em cada rito, haverá vários rituais, normalmente tantos quantos os graus desse
rito em que haja sessões rituais.

Desde a transformação da Maçonaria Operativa em Maçonaria dita Especulativa, que teve


a sua fase mais acentuada no final do séc. XVI a primeira parte do séc. XVII, até à
divulgação pública ao Mundo, em 1802, da criação do Supremo Conselho Universal dos
Inspectores Gerais do 33º Grau do Rito Escocês Antigo e Aceito , sediado em Charleston,
Carolina no Sul, como Potência do Rito Escocês com 33 Graus, que ocorreu a aprtir de
Maio de 1801, foi percorrido um caminho longo e bem recheado de sobressaltos e
peripécias e com muitos e variados protagonistas. A instalação do próprio Supremo
Conselho é exemplo disso, tendo os trabalhos sido abertos a 1 de Maio de 1801 por John
Mitchell e Frederick Dalcho, trabalhos que se prolongaram ao longo do ano até que o
Conselho estivesse completo e a funcionar nos termos das Constituições do Rito, as ditas
Constituições de 17862, ainda hoje muitas vezes impropriamente conhecidas como as
Constituições de Frederico II da Prússia.
Importará fazer uma breve resenha do percurso que levou à institucionalização de um
Rito designado por Escocês, na forma actual, na América do Norte, na data acima
referida, e ao seu retorno à Europa, percurso que poderá contribuir para aclarar várias
interpretações possíveis do simbolismo e ritual dos Graus que o integram ao longo do
percurso maçónico dos Maçons do REAA.

Não importa entrar agora no campo do fértil debate sobre as origens remotas da
Maçonaria, quer em relação aos que defendem as suas origens nas filosofias orientais ou
nas filosofias da justiça e equilíbrio ligada à deusa Maat egípcia e outras Sociedades
Iniciáticas Egípcias, quer aos defensores das origens ligadas à Ordem dos Pobres
Soldados de Cristo e do Templo de Salomão ou Templários, ou das influências das várias
fraternidades rosacruzes e outras correntes ligadas ao Hermetismo, ao Cabalismo, ou à
Alquimia. Nem no debate sobre outras diferentes visões imaginosas para a origem da
Ordem Maçónica com passagem pela dita Maçonaria Operativa e suas diferentes
corporações de origem, dos Colegia Fabrorum Romanos de Numa Pompílio criados em
704 (a.C.)3, das Corporações dos Maçons de Estrasburgo, etc. O certo é que a Escócia
aparece como localização fundamental para a transição da Maçonaria dita Operativa para
o processo de aparecimento da Maçonaria dita Especulativa.
Isso decorre de ter sido na Escócia que o processo de entrada de personalidades, da
nobreza ou não, nas lojas operativas, processo que os tornava Maçons Aceites, mais se
fez sentir numa sociedade em que a dinastia Stuart reinava num país católico. Daí que
não seja de estranhar que nos grandes nomes fundadores da Maçonaria Moderna
pontifiquem muitos escoceses ou aceites em lojas escocesas.

2
- Morris, S. Brent, Membre Actif du Suprême Conseil de la Juridiction Sud des Etats-U is d’á i ue et di e teu de la
publication HEREDON, em comunicação no colóquio comemorativo dos 200 anos do Supremos Conselho de França,
organizado pelo Conselho em 2004 em Paris.
3
-Magalhães, Franklin Ribeiro, citado por Camino , Rizzardo da, O Rito Escocês Antigo e Aceito do 1º ao 33º, 2ª edição.,
Madras Editora, S:Paulo, 1999.

3
Assis Carvalho que refere4
“… os Grandes nomes da Maçonaria Primitiva, eram escoceses. Que o primeiro Maçom
Especulativo - John Boswell, iniciado em 8 de junho de 1600 -, era escocês, que a
Primeira Loja Maçônica - a Loja de Kilwinning - por isso chamada de Loja Mãe do Mundo
foi fundada na Escócia, que o Primeiro Compilador de uma Constituição Maçônica - o
Reverendo James Anderson, em 1721, Constituição que até hoje rege os destinos da
Maçonaria, no mundo todo, era escocês, que o idealizador dos Altos Graus, em 1737,
André Miguel, Cavaleiro de Ramsay, era escocês, o Primeiro Professor de Maçonaria -
1772, William Preston, também nascera na Escócia, e muitos outros”.
É na sequência desta situação e no contexto político de Inglaterra no culminar da guerra
civil, que Henriqueta Maria de França, viúva de Carlos I, rei de Inglaterra (da Dinastia
dos Stuarts, de origem escocesa) executado em 1649, aceitou o convite de asilo político
do rei Francês Luis XIV e, como era hábito, se fez acompanhar para Saint- Germain-en-
Laye, nos arredores de Paris, por nobres, alguns da Escócia, familiares de seu marido.

Mais tarde juntaram-se também em França os membros do partido legitimista inglês e


escocês, os jacobitas, refugiados em território francês desde 1688 com o rei Jaime II da
Inglaterra e Irlanda e Jaime VII da Escócia, deposto em favor seu genro, Guilherme de
Orange, face à oposição da aristocracia apoiada pela maioria do exército, da burguesia e
do povo5. Deposição que tivera como motivos de fundo a recusa a jurar o Test Act 6 e a
conversão de Jaime II ao catolicismo em 1668/69, as suspeições de aproximação com
Luiz XIV (durante a Guerra Civil Inglesa Jaime Stuart, então exilado, havia servido nas
armadas espanhola e francesa)7, bem como os favorecimentos concedidos aos católicos.
A destituição de Jaime II, chamada Revolução Gloriosa por não ter originado
derramamento de sangue, foi efectivada no ano do nascimento de seu filho Carlos
Eduardo Stuart, porque seus opositores temeram a implantação de uma dinastia católica
na Inglaterra, que desde 1534, adoptara o anglicanismo por acto do rei Henrique VIII
como forma de tornear a oposição do Papa de Roma ao seu divórcio e de poder contar
com os bens da Igreja Católica para recuperar as finanças reais.

Muitos desses nobres e jacobitas eram já Maçons ou Maçons Aceites. A eles se atribui a
instalação da primeira ”Loja Escocesa”, que Jean Baylot situa em Saint-Germain-en-Laye
em 16898, e em sequência outras, Lojas Maçónicas dos "Escoceses", que reproduziam os
rituais que tinham aprendido na Escócia, de clara feição teísta e influência católica e
também das tradições das antigas Ordens da Cavalaria e pensamento rosacruciano. Não
existia qualquer estrutura hierárquica superior de coordenação, funcionando essas Lojas
segundo o princípio do “maçon livre numa loja livre”.

Os maçons jacobitas levaram o modelo organizativo das Lojas da Escócia para a França,
incluindo os primeiros catecismos maçónicos expondo a "Palavra do Maçom" e os
segredos de reconhecimento que também foram concebidos na maçonaria escocesa, e
terão usado o segredo elaborado em torno da "Palavra do Maçom" para desenvolverem
planos políticos de restauração da dinastia dos Stuarts com segurança e discrição, planos

4
-Ritos Maçónicos, O REAA, Grande Oriente de Mato Grosso, Internet , http://www.superinteligente.com.br/~gomsorg
/?conteudo=canal&id=4&canal_id=17, transcrito de Camino , Rizzardo da, O Rito Escocês Antigo e Aceito do 1º ao 33º, 2ª
edição., Madras Editora, S:Paulo, 1999.
5
-Terão fundado em 1688 uma Loja seguindo as práticas escocesas em Saint-Germain-en-Laye . Machado, Frederico II O
Grande, palestra proferida na reunião do Colégio de Grandes Inspetores do REAA do Sul de Minas Gerais, em Outubro de
1998, Internet http://www.polibusca.com.br/texto.aspx?idTxt=139
6
-Lei aprovada pelo Parlamento Inglês em,1673 que determinava que qualquer candidato a um cargo público devia jurar
aceitar a soberania do rei como chefe da Igreja, o que visava impedir os católicos de os exercer. Oliveira, Cipriano-
Constituição de Anderson, Cadernos Humanitas, Edições Cosmos, 2011.
7
- Jaime II de Inglaterra, Wikipédia.org, Enciclopédia Digital.
8
- G a de Loja Fe i i a de Po tugal, texto i fo ativo O Rito Es o s á tigo e á eito

4
em que segundo alguns autores terão contado com a colaboração de alguns Jesuítas
interessados nessa finalidade.

Esses maçons nobres e outros jacobitas, estabelecidos em França e que se encontravam


sob a protecção de Luís XIV, de acordo com documentos encontrados posteriormente,
são mencionados pela primeira vez nas Ordenações da Grande Loja de França em 1743 e
constituíam em 1717, aquando do estabelecimento da Grande Loja de Londres, o que se
podia considerar um sistema Escocês, sem ligações directas à Escócia, mas sim com
influência dos Stuarts.
Em 1708, os Stuart tentaram retomar o trono para Jaime II na Inglaterra e Irlanda. A
iniciativa fracassou. Em 1719, teve lugar uma nova tentativa na Escócia, que também foi
mal sucedida. Fracassadas as duas tentativas, as Lojas escocesas jacobitas na França
diminuíram a intensidade dos conteúdos políticos dos seus trabalhos e ampliaram a
incidência dos mesmos sobre os temas culturais e esotéricos. O hermetismo e ideias
inspiradas pelos movimentos Rosa-cruz ganharam terreno nas lojas que discutiam temas
alquimistas com reserva e algum secretismo, conveniente face ao contexto de um país
em que a religião católica era à época religião oficial de estado e em que o Édito de
Nantes, um exemplo da promoção da tolerância religiosa para com os protestantes
calvinistas, tinha sido revogado não muitos anos antes por Luís XIV (1685).

É sobre esta base que um grande número de lojas francesas, instaladas por escoceses
ou franceses, vem a participar na criação de novos graus maçónicos, começando pelo
grau de mestre que não estava ainda criado em 1717, data da criação da Grande Loja
de Londres/Inglaterra e também em 1723, aquando da publicação das Constituições de
Anderson em primeira edição. À época mestre era apenas aquele que dirigia a Loja, de
forma similar ao mestre que na Maçonaria Operativa dirigia os trabalhos de uma obra
em construção, havendo autores que atribuem a criação do grau de mestre aos maçons
franceses em 1725, embora referenciem a efectivação desse grau apenas em 1738 9,10.

Esses novos graus já chamados de Altos Graus, mas que não constituiam ainda qualquer
sistema ou rito estruturados seguiu, segundo alguns historiadores maçónicos que têm
outros a deles divergirem sobre esse assunto, a cronologia seguinte:
- seis Graus até 1737, sete Graus até 1747, nove Graus até 1754, dez Graus até 1758,
vinte e cinco Graus até 1762, data da publicação da Constituição que regeria o Rito de
Perfeição ou Rito de Heredom, designação que evidencia a influência da tradição
escocesa da Ordem de Cavalaria do mesmo nome, que já atrá foi referida. Em relação à
criação destes Graus e ao contexto que está subjacente à mesma o historiador maçónico
francês Paul Naudon, refere em “A Maçonaria”:11
“O escocesismo é uma das particularidades da maçonaria francesa. Trata-se, com efeito,
de um rito, ou melhor, de uma categoria de ritos, que nasceu em nosso país. A
divergência política independia do ritual. Não tardariam, porém, as inovações, a principal
das quais é o aparecimento dos altos graus, e o desenvolvimento que se seguiu só se
verifica a princípio na França e depois na Alemanha. As origens e causas da criação
desses altos graus permanecem obscuras: alegaram-se razões de ordem política, que
permitiam aos chefes stuartistas dirigir à distância as Lojas comuns; motivos ligados a
interesses pessoais, a colação de títulos cavaleirescos que lisonjeavam a vaidade dos
Irmãos e eram pretexto para a percepção de foros consideráveis; razões espirituais, que
aparecem nítidas no correr do século XVIII, correspondendo os altos graus a um
desabrochar iniciatório do grau de mestre, em que se integram as diversas formas da

9
-Joton, Maurice-Origens do Rito Escocês Antigo e Aceito
10
-Castellani, José - Venerável Mestre Origem do Título, texto disponível na Internet,
11
-Branco, Ailton-Loja Escocesa e Escocesismo, http://www.oficina-reaa.org.br/v1/

5
tradição. Os escoceses já haviam criado o grau de mestre, antes dos ingleses. Vários
autores (Mirabeau, N. de Bonneville, Mounier, Ragon, Findel, Rebold) atribuem a criação
dos altos graus aos jesuítas que estavam à testa dos partidários dos Stuarts”.

Quando se fala em Altos Graus do REAA é muitas vezes referido o Cavaleiro Andrés
Michel Ramsay (1686-1743) e o seu famoso discurso, dado como escrito em 1737, como
estando na sua origem. Discurso sobre que há algumas dúvidas de autenticidade e que
provavelmente poderá nunca ter sido lido em qualquer loja ou assembleia de maçons,
mas de que se referem quatro versões, que terão sido distribuídas cópias em larga
escala, para época, nas lojas francesas de países vizinhos, com destaque para Prússia. 12

Nascido na Escócia, em 1686, Ramsay estudou teologia nas Universidades de Glasgow e


Edimburgo, tendo-se diplomado em 1707. Em 1708, foi viver para Londres, tendo-se
relacionado com Isaac Newton, Jean (ou John) Desaguliers e David Hume.
Refugiou-se em França com os jacobitas depois de falhadas as tentativas de recuperação
do trono por Jaime II. Conheceu o filósofo e arcebispo Fenelon, de quem se tornou o
discípulo mais identificado com suas ideias. Essa influência levou-o a converter-se do
anglicanismo ao catolicismo.

Tendo ido viver para Paris em 1715, após a morte de Fénelon, entrou no círculo de
amizades do Príncipe Regente de França, Philippe d'Orléans, que o fez, em 1723,
Cavaleiro da Ordem de S.Lázaro de Jerusalém - o que motivou a sua futura designação
por Chevalier Ramsay. Embora por breve espaço de tempo, desempenhou as funções de
tutor dos filhos de Jaime II, Charles Edward e Henry e entre 1725 e 1728 e frequentou o
clube literário parisiense Club de l'Entresol, onde se relacionou, entre outros, com
Montesquieu.13Terá também mantido relações com sectores de jesuítas ainda
interessados em apoiar um possível regresso dos Stuarts ao poder em Inglaterra, agora
através do filho de Jaime III, Carlos Eduardo, católico e que, segundo é referido por
vários autores, faria também parte da Comunidade Rosa Cruz.

Para alguns historiadores maçónicos, no seu famoso discurso Ramsay não desenvolve a
teorização de Altos Graus, mas sim uma nova história da origem da Maçonaria
defendendo que teria a sua origem nas Cruzadas e na actividade posterior dos
Templários, o que, sem prejuízo de alguma influência por via da tradição escocesa
provinda do acolhimento dos templários fugidos à perseguição, nunca foi confirmado.
Procurou lançar princípios de para um embrião do que poderia ser um código de conduta
e para a organização da Ordem, enfatizando a necessidade de estabelecer uma
hierarquia, o que não surpreende para quem reclamava a origem da Maçonaria numa
Ordem de Cavalaria e estava ligado à Igreja Católica, instituição tradicionalmente
hierarquizada. Mas como novidade na época proclama o ideal maçónico na Fraternidade e
num mundo sem fronteiras, tentando fazer valer antiguidade e nobreza à Maçonaria. E
propôs a adopção de três graus com as designações de Mestre Escocês, Noviço e
Cavaleiro do Templo, que transmitiam que Maçonaria era continuação da Ordem dos
Templários, em substituição dos então existentes.14
Mas há autores, como Ragon, que defendem que Ramsay teria proposto à Grande Loja
de Londres e Westminster que acrescentasse aqueles seus três graus aos já existentes, o
que não foi aceite, como não terá sido aceite uma sua proposta a lojas francesas que

12
- Joton, Maurice, texto citado
13
- Bandeira, Rui-Os Altos Graus do REAA, texto disponível na Internet.
14
- Branco, Ailton-Loja Escocesa e Escocesismo, http://www.oficina-reaa.org.br/v1/

6
seguiam o modelo de York ou o da Grande Loja de Londres para que se acrescentassem
mais sete Graus aos três graus já existentes.15
Porém muitas das lojas francesas de inspiração escocesa e outras que praticavam já
então os chamados 4 graus irlandeses, acima do grau de mestre, assumiram essa
inovação, mesmo acontecendo em várias lojas da Alemanha/Prússia, com sucesso entre
os maçons ligados à aristocracia e alta burguesia.
O sistema de “graus templários” proposto por Ramsay terá estado mesmo na origem da
Ordem e do Rito da Estrita Observância, de que se atribui a criação ao Barão de Hund em
1764, que terá tido vida efémera. Em 1782 a Assembleia de Wilhemsbad declarou não
aceitar a origem templária da Maçonaria, vindo com isso a decretar-se a definitiva
extinção da Ordem da Estrita Observância. Também parece que até 1760 não se
conhecem rituais estruturados para esses graus templários que haviam sido propostos
por Ramsay.16,17

Mas mesmo não sendo Ramsay o teorizador do sistema que veio a dar origem ao REAA,
o Rito de Perfeição ou de Heredom, parece provável que as suas ideias possam ter vindo
a ter influência no desenvolvimento inicial daqueles ritos.

No percurso para a criação do Rito de Perfeição ou Heredom, com 25 Graus, são


relevantes como momentos e estruturas marcantes, para além do papel controverso de
Ramsay e do “seu discurso”:
-A fundação, em 1747, na cidade de Arras, França, pelo Príncipe Carlos Eduardo Stuart,
filho de James Eduard Stuart “ The Old Pretender” e seu primo, o conde de St. Germain,
do Capítulo Primordial da Rosa-cruz, formalmente constituído pela Carta Régia de Arras.
Terá sido a primeira “ obediência” a estruturar um conjunto completo e organizado com
graus acima do de Mestre18 criado na França por influência e inspiração Rosa-cruz e
templária, com poderes para constituir Capítulos semelhantes em outras cidades, com a
exigência de que não poderia haver mais do que um em cada cidade.19

- A Loja São João de Jerusalém, de Paris, que praticava altos graus, havendo também
referência de serem praticados em Lion e Bordéus. Para alguns, esta Loja terá editado
em 1755 os Estatutos que serviram de modelo para as Lojas que praticavam então os
graus de inspiração escocesa que já tinham sido criados sem clara sistematização. 20

-A criação, em 24.11.1754, pelo Conde de Benouville, do Capítulo de Clermont, o nome


do Colégio dos Jesuítas, onde ele foi instalado e local que já havia sido residência do
pretendente ao trono inglês, Carlos Eduardo Stuart, filho de Jaime III 21. Esse capítulo
era essencialmente constituído por aristocratas e muito fechado na aristocracia.
Não há certeza sobre o número de graus praticados, mas alguns autores referem que
seriam sete e que os Irmãos que criaram este Corpo pretendiam continuar os mesmos
princípios da Loja de Saint-Germian-en-Laye, fundada muito tempo antes, o que poderá

15
-Joton, Maurice, texto citado.
16
-Branco, Ailton-Loja Escocesa e Escocesismo, http://www.oficina-reaa.org.br/v1/
17
-Joaquim Gervásio de Figueiredo de Figueiredo situa a criação do Rito da Estrita Observância em 1764, pelo Barão de
Hund em terras da hoje Alemanha, com base na tradição mística das antigas Ordens de Cavalaria. Figueiredo, Joaquim
Gervásio- Dicionário de Maçonaria, Google Books
18
-Há quem refira que seriam doze para além dos simbólicos-Grande Loja Estadual de Mato Grosso- Ritos e seus Rituais -
http://www.glemt.org/2010/ver2.php?id=164
19
- Branco, Ailton-Loja Escocesa e Escocesismo, http://www.oficina-reaa.org.br/v1/
20
- Joton, Maurice, texto citado e Grande Oriente de Mato Grosso, Ritos Maçónicos, O REAA,
21
- Machado, Frederico II O Grande, palestra proferida na reunião do Colégio de Grandes Inspetores do REAA do Sul de
Minas Gerais, em Outubro de 1998, Internet http://www.polibusca.com.br/texto.aspx?idTxt=139

7
ter alguma relação com o facto de o livro “Les plus secrets mysteres des hautes grades
de la Maçonnerie devoilés, ou Le Vrai Rose Croix suivi do Noaquite”, publicado 1761,
apenas descrever sete graus.

-O surgimento em Paris, em 1756, uma “potência” maçónica rival, o Soberano Conselho


dos “Cavaleiros do Oriente, Soberanos Príncipes Maçons”, criado e dirigido por maçons
da burguesia em ascensão, para organizar os Graus Superiores. Face à sua origem de
classe não tinha um recrutamento tão fechado como o Capítulo de Clermont.

-O aparecimento em 1758, em Paris, talvez como resposta da aristocracia maçónica à


criação do Conselho dos Cavaleiros do Oriente, o Conselho dos Imperadores do Oriente
e do Ocidente, Soberanos Príncipes Maçons. Os seus membros, com um nível cultural
elevado, muito centrado na época no domínio da história das civilizações antigas e de
várias tradições místicas e gnósticas antigas, trouxeram para este Corpo Maçónico as
influências templárias, rosacrucianas e egípcias, além de se dizerem herdeiros dos Ritos
de Clermont e das correntes escocesas de Kilwinning e Heredom. Daí decorreu uma
clara tendência para acentuar a marca esotérica na Ordem.
Como entretanto já haviam sido criados mais graus até ao grau 25, esta “potência”
organizou-se em dois corpos distintos, uma “Grande Loja” representada pela Loja São
João de Jerusalém, responsável pela administração dos graus 4 ao 14, praticados pelas
Lojas acima dos graus simbólicos e o “Soberano Conselho”, regendo os graus 15 ao 25,
inclusive, que passaram a trabalhar no Rito que designaram Heredom ou de Perfeição,
fazendo jus à sua base de inspiração escocesa.

Terá sido, segundo alguns, este Soberano Conselho que adoptou a águia bicéfala como
símbolo dos Altos Graus, recuperando o que foi o símbolo do Império Romano no seu
esplendor máximo, com os dois Governos do Império do Oriente e do Império do
Ocidente, que se poderá ter inspirado na Águia de Lagasch dos Hititas.22

Este Soberano Conselho designou uma representação que reuniu com a representação do
corpo de Bordéus onde, como em Lião, desde data anterior à criação do Soberano
Conselho dos Imperadores do Oriente e Ocidente já se praticavam Altos Graus, tendo
nessas reuniões, em Bordéus, sido elaboradas as Constituições de 1762 e respectivos
Regulamentos divulgados em 21/9/1762 que instituem, no seu Artigo 3º, como
responsável pela administração do Rito de Perfeição o Soberano Conselho dos Príncipes
do Real Segredo.23
Surge assim o Rito de Perfeição com base na influência da Maçonaria jacobita católica
escocesa, desenvolvido pela aristocracia e alta burguesia numa França ainda
tradicionalmente esmagadoramente católica em que a revogação do Édito de Nantes
reafirmara o catolicismo como religião oficial, com as perseguições de Luís XV aos
protestantes e em que apesar da já apreciável divulgação das novas ideias iluministas
ainda era a Monarquia Absoluta francesa do Antigo Regime o sistema político francês. Daí
que não seja de estranhar que o Rito de Perfeição fosse um Rito fortemente teísta, de
tradição católica temperada com as influências rosacrucianas e judaicas de alguns
maçons judeus evidentes nas referências do Antigo Testamento no nome dos graus e
suas referências simbólicas, aristocratizado e hierarquizado. Características que viriam a
ser transmitidas ao seu “sucessor” REAA ao longo dos seu desenvolvimento sobre a base

22
-Ismail, Kennyo-A àguia Bicéfala na Maçonaria, Internet - www.noesquadro.com.br/2011/07/aguia-bicefala-na-
maconaria.html
23
-Bacelar, Mário – Os 33 Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito, Editora Mandarino, 4ª edição

8
dos 25 graus ao serem consideradas como válidas no REAA as Constituições de 1762, do
Rito de Perfeição.
Se dúvidas houvesse leitura do Artigo 1º das Constituições, referente à iniciação nos
Altos Graus esclareceria:
“Sendo a Religião um culto necessariamente devido a Deus-Todo Poderoso, ninguém que
cumpra religiosamente esse culto, do qual tenha recebido esses princípios venerandos,
será iniciado nos mistérios sagrados deste grau eminente e sem que tenha um certificado
para tal fim, assinado por três Cavaleiros Príncipes Maçons, provando que seus pais são
livres e a sua conduta e nomes merecem boas informações e que assim tenha sido
admitido em todos os graus precedentes da Maçonaria, tenha dado provas de obediência,
docilidade, zelo, fervor e consciência à Ordem, e finalmente que esteja livre para assumir
o graus de Alta Perfeição, obedecendo fielmente ao Muito Ilustre Soberano Conselho dos
Sublimes Príncipes”24

Importará referir que o Rito de Perfeição criado em França, surge com a ambição dos
seus fundadores de que viesse a ser uma forma de reestruturação universal da
Maçonaria e sua dignificação, uma quase versão de verdade revelada, o que se adequa
ao seu caracter teísta inicial, dominantemente católico, quando um número já
considerável de ritos com altos Graus proliferava em França e outros países europeus. O
preâmbulo do texto fundador evidencia-o quando refere:
“Com o decurso dos tempos, a Maçonaria e a unidade de seu regime primitivo sofreram
grandes alterações, por efeito das catástrofes e das revoluções que as subverteram,
mudaram alternativamente a face do mundo e dispersaram os fraco-maçons pelos
diversos pontos do globo…Essa dispersão operou as divisões que hoje existem sob o
nome e cujo conjunto compõe a Ordem. Mas outras divisões saídas do seio dessas
primeiras deram lugar a novas associações, das quais grande número só tem em comum
com a Maçonaria o nome e algumas formas conservadas por seus fundadores para
encobrir secretos desígnios. As perturbações que essas novas associações trouxeram e
muitas vezes mantiveram na Ordem, são conhecidas e não fizeram mais do que expô-la a
suspeitas, à desconfiança de quase todos os chefes de governo e mesmo às perseguições
de alguns.”25
Apesar dessa intenção a sua aceitação não foi universal pelas Lojas Maçónicas Francesas.
As Lojas que seguiam o Rito da Grande Loja de Londres, a “Grande Loja dos Modernos” e
as que seguiam o Rito da Loja de York mantiveram-se na sua linha.

2.2- Do Rito de Perfeição ao Rito Escocês Antigo e Aceito

Em França, como noutros territórios europeus, mormente por parte da aristocracia ociosa
e ciosa de motivos de prestígio interpares e da alta burguesia, mas também por iniciativa
de alguns maçons empenhados na sua visão de uma maçonaria mais fiel às suas
tradições, foi surgindo entre 1717 e o final do século uma grande multiplicidade de ritos
com a prática de altos graus. Há textos que referem para esse período de tempo a
criação de mais de oito dezenas desses ritos, sem incluir nesse número os ritos que já
pressupunham Maçonaria de Adopção ou Mista.

Essa situação, o clima político-social do final do reinado de Luís XV e a agitação que no


Reinado de Luís XVI levou à Revolução Francesa terão levado a que o nascimento oficial
e o desenvolvimento do REAA se tenham verificado nas Américas do Norte e Central,
mormente na América do Norte, apesar de a ele serem anteriores seis dos ritos ditos
escoceses conhecidos, desenvolvidos em França e na Bélgica (Escocês Reformado com 7

24
- Bacelar, Mário – Os 33 Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito, Editora Mandarino, 4ª edição
25
-Figueiredo, Joaquim Gervásio, Dicionário de Maçonaria, Googlebooks

9
graus, Primitivo de Narbona com 10 graus, Filosófico de Paris com 10 graus, Filosófico de
Marselha com 15 graus, Perfeição com 25 graus, todos de origem francesa, e Primitivo
de Namur-Bélgica) com a particularidade deste último ter 33 graus. 26

De forma muito breve veja-se como tal aconteceu.


Em 27 de Agosto 1761, o Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente,
Soberanos Príncipes Maçons, terá atribuído através do Irmão Chaillon de Joinville,
substituto Geral da Ordem, e mais oito Irmãos da alta hierarquia que também teriam
assinado o documento, uma patente constitucional de Grande Inspetor do Rito de
Perfeição a Etienne Morin, maçon judeu e comerciante na Ilha de Santo Domingo,
Antilhas, que já teria sido iniciado nos altos graus por volta de 1744 e fundado uma “Loja
Escocesa” naquela ilha em Cap Français. A carta patente, atribuída antes da promulgação
elaboração e das Constituições do Rito de Perfeição, nomeava-o “Grande Inspector para
todas as partes do Mundo e autorizava-o a estabelecer e perpetuar a “Sublime
Maçonaria” em todas as partes do Mundo” e investia-o de poderes para sagrar novos
Inspectores.27,28
As Constituições de 1762, que atribuíam aos Grandes Inspectores a competência para
“outorgar Cartas Constitutivas ou Regulamentos”, constituir como regulares “Conselhos
ou Lojas de Perfeição” e desempenhar os poderes do Soberano Conselho na sua
jurisdição
“ Se a petição for de um país estrangeiro, o Grande Inspecto da respectiva Jurisdição
poderá criar, constituir, pribir, revogar e excluir, conforme achar conveniente, informando
de tudo o Soberano Grande Conselho. … Para seu melhor desempenho poderão nomear
Deputados que façam a s suas vezes, autorizando-os com Cartas Patentes que tenham
força e valor”. 29

Mas há dúvidas se os poderes conferidos a Morin seriam tão alargados que abrangessem
todos os Altos Graus do Rito de Perfeição, referindo a Wikipédia.fr:
“Des copies plus tardives de cette patente, qui ne visait probablement à l'origine que les
loges symboliques, semblent avoir été embellies, peut-être par Morin lui-même, afin de
mieux assurer sa prééminence sur les loges de hauts grades des Antilles»30
Morin regressou a Santo Domingo em 1762 ou 1763 e terá desenvolvido uma variante do
Rito de Perfeição com 25 Graus com a designação de «Rito do Real Segredo» em que o
grau 25 se designava «Sublime Príncipe do Real Segredo», e, graças à sua carta patente
constituiu progressivamente lojas dos diferentes graus através das Antilhas e da América
do Norte, tendo criado em 1770 um Grande Capítulo do seu Rito em Kingston, Jamaica,
onde viria morrer em 1771.31

Morin parece não ter sido um modelo de moralidade e não ter sido muito escrupuloso na
escolha dos seus inspectores e deputados. Terá havido segundo vários autores, “vendas
de Graus e títulos”, o que face ao contexto maçónico e social da época não tem nada de
surpreendente e também terá acontecido na Europa, tendo sido muito esquecidas as
práticas rituais desenvolvidas para instrução sobre “os mistérios” pelo Soberano
Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente que o nomeara Grande Inspector.

26
- Couto, Sérgio Pereira – Sociedades Secretas, Maçonaria, Google books
27
- Joton, Maurice, texto citado e Grande Oriente de Mato Grosso, Ritos Maçónicos, O REAA.
28
- http://fr.wikipedia.org/wiki/Rite_%C3%A9cossais_ancien_et_accept%C3%A9
29
-Artº 15º, 26º e 27º das Constituições de 1762. Bacelar, Mário – Os 33 Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito, Editora
Mandarino, 4ª edição
30
- http://fr.wikipedia.org/wiki/Rite_%C3%A9cossais_ancien_et_accept%C3%A9
31
- http://fr.wikipedia.org/wiki/Rite_%C3%A9cossais_ancien_et_accept%C3%A9

10
Mas foi a partir de um número significativo de designações de Inspectores Adjuntos por
Morin, pelo seu Deputado Grande Inspector Geral Henry Andrew Francken, holandês
naturalizado inglês que se estabeleceu em Nova York, que o seu Rito chegou à América
do Norte.
Francken ajudou no desenvolvimento dos rituais de vários graus do Rito, concedeu esses
graus e nomeou vários Inspectores-Gerais Adjuntos, entre eles a um negociante também
judeu, Moses Michael Hays. Este, em 1781, nomeou por sua vez 8 outros Inspectores-
Gerais Adjuntos para vários estados da América, dos quais quatro tiveram depois um
papel importante na criação do Rito Escocês Antigo e Aceito em Charleston, Carolina do
Sul. Foram eles Isaac Da Costa, Deputado Inspector-Geral para a Carolina do Sul,
Abraham Forst, D.I.G. para a Virgínia, e Barend M. Spitzer, D.I.G. para a Geórgia e
Joseph M. Myers, D.I.G. para Maryland, a quem alguns autores atribuem a criação dos
graus para além do 25º do REAA.

Com a morte Morin, com a Independência Americana a reforçar tendências autonomistas,


com novas influências de ritos de altos graus que vinham da Europa, o Rito do Real
Segredo criado a partir do Rito de Perfeição, de inspiração teísta católica inicial cruzado
com influências filosóficas libertinas, levado para as Américas por um judeu, sofreu as
inevitáveis influências da sociedade colonial francesa das Antilhas e da sociedade
americana já então com uma população de grande diversidade de origens geográficas,
culturais e religiosas da e iniciou a sua evolução que havia de levar ao Rito Escocês
Antigo e Aceito em 1801, depois de passar por uma fase organizacional hierarquicamente
caótica.

Durante o período de evolução caótica do Rito no seio dos maçons das Américas, dois
europeus exerceram importante papel, ainda que ainda hoje não muito claro. Foram eles
o Conde Alexandre de Grasse Tilly e seu sogro Jean Batiste Delahogue, tabelião em
Santo Domingo. Grasse de Tilly militar de carreira, filho de um almirante francês que
lutara ao lado dos americanos na Guerra da Independência, chegou solteiro em finais de
1789 a aquela colónia de França, de onde terá levado conhecimento sobre os novos Ritos
em desenvolvimento na Europa, onde tinha sido iniciado na Loja Saint Jean d'Écosse du
Contrat social.32

Durante a revolta nas colónias francesas das Antilhas Grasse de Tilly cumpriu as suas
obrigações militares nas forças francesas, mas o agravamento da situação obrigou-o e ao
sogro, como à maioria dos franceses, a abandonar a ilha de Santo Domingo. Tilly e o
sogro refugiaram-se em Charleston, na Carolina do Sul, em princípios de 1796.

A 24 de Julho de 1796, fundou com o sogro a Loja « La Candeur» em Charleston, que se


filiou a 2 de Janeiro 1798 na Grand Lodge of Free and Accepted Masons of South
Carolina. Saiu da primeira em 1799 para fundar uma outra, denominada «La Réunion
française », sob a égide da Grand Lodge of South Carolina, Ancient York Masons.33

A Actividade maçónica de Grasse de Tilly e de seu sogro na última década do século


XVIII não é clara, ainda que a ela haja referências em documentos da maçonaria
americana. A esse respeito pode ler-se no site do Supremo Conselho do REAA de
Espanha:
“Dentro de la actividad masónica de Grasse-Tilly y de Delahogue, que se encuentra
suficientemente documentada históricamente en los archivos americanos, se halla la
creación de una Logia de Altos Secretos, es decir, un Gran o Sublime Consejo del Grado

32
- http://fr.wikipedia.org/wiki/Auguste_de_Grasse-Tilly
33
- http://fr.wikipedia.org/wiki/Auguste_de_Grasse-Tilly

11
25 y Ultimo del Rito de Perfección (13/01/1797) en la ciudad de Charleston. Por estas
mismas fechas, Grasse-Tilly envía una Patente del Grado 33 a Delahogue y a varios
refugiados franceses en la ciudad de Charleston (estos hechos se hallan documentados,
nuevamente, en los archivos americanos). Consecuentemente, para poder actuar de esta
forma, Grasse-Tilly debía poseer, masónicamente hablando, el Grado 33 y por ello cabría
preguntarse divulgativamente hablando: ¿De quién lo había obtenido?. A la pregunta no
se ha podido dar respuesta histórica, pero lo que sí es cierto es que el 10/12/1797, firma
una Patente del Grado 32 (Sublime Príncipe del Real Secreto) y lo hace en calidad de
Soberano Gran Inspector General (grado 33) y como Soberano Gran Comendador del
Supremo Consejo de las Indias Occidentales Francesas.
El anterior Supremo Consejo (1797, fecha de referencia de la Patente del Grado 32) debe
entenderse como anterior al de Charleston (1801) y su existencia quedó confirmada por
el Boletín Oficial del Supremo Consejo de Charleston (02/02/1802) que menciona a
Grasse-Tilly como Soberano Gran Comendador y a Delahogue como Teniente Gran
Comendador del Supremo Consejo de las Indias Occidentales Francesas. Así pues,
históricamente, la paternidad del Rito escocista de estos dos personajes está
suficientemente acreditada y, adicionalmente, que el Supremo Consejo de las Indias
Occidentales Francesas, o también conocido como de las Islas Francesas de Sotavento y
Barlovento existía ya en 1796, cuando Grasse-Tilly y Delahogue se refugiaron, por razón
de la primera revuelta negra en la Isla Dominicana, en la ciudad de Charleston. Tampoco
es menos cierto que existen documentos suficientes en los archivos americanos para
afirmar que en la ciudad de Kingston (Isla de Jamaica), existía con anterioridad a 1801,
un Supremo Consejo del Rito Escocés Antiguo y Aceptado para las Indias Occidentales
Inglesas y tal afirmación se basa en el hecho histórico de la existencia de un manuscrito
constituido por un Ritual del Grado 33 y un texto (¿) de las Grandes Constituciones de
1786.”34
Não se conhecendo a origem dos graus que Grasse de Tilly detinha, que estavam para
além dos Rito do Real Segredo de Morin ou da sua origem Rito de Perfeição, ou quem
lhos teria conferido, pode supor-se que na confusão/caos que reinava então nos “altos
graus escoceses” esses graus tivessem a ver com os últimos graus do Rito Primitivo de
Namur, já anteriormente referido, e que tivessem a ver com a redacção do texto das
Constituições ditas de 1786 que ainda hoje, com as algumas alterações introduzidas pelo
Congresso de Lausanne, em 1875 são a base do funcionamento do REAA.

Mas em relação às Grandes Constituições de 1786, as chamadas Constituições de


Frederico II da Prússia, que validam e completam as Constituições de 1762 do Rito de
Perfeição de 25 Graus criando os restantes oito graus até ao 33º há hoje enormes
dúvidas sobre a sua autoria e data de conclusão de redacção, podendo mesmo dizer-se
que aquilo sobre que há mais certezas é que Frederico II da Prússia nada teve a ver com
elas e que seria mesmo uma adversário dos Altos Graus. É certo que as Constituições de
1786 no seu preâmbulo referem:
“NOS, FEDERICO, por la gracia de Dios, Rey de Prusia, Margrave de Brandeburgo, etc.,
etc., etc.: Soberano Protector, Gran Comendador, Gran Maestro Universal Conservador de
la Antiquísima y Muy Respetable Sociedad de Antiguos Francmasones o Arquitectos
Unidos, o sea, Orden Real y Militar del Arte Libre de Labrar la Piedra, o
Francmasonería:…”35

Frederico II, um déspota iluminado que gostava de lidar com intelectuais como Voltaire,
seu convidado habitual, e foi um bom administrador e comandante militar no seu Reino,
foi secretamente iniciado Maçon para esconder o facto pai com quem tinha fortes
desentendimentos, em 1738, antes de subir ao trono por morte do pai em 1740. A partir
daí, embora de alguma forma protegesse a Maçonaria, deixou de ter actividade maçónica
e a 1 de Maio de 1786 já se encontrava gravemente doente e incapaz de se deslocar de
Potsdam a Berlim para assinar a promulgação das Constituições, tendo vindo a morrer

34
-http://www.supremoconsejomasonicoespana.org
35
-http://www.supremoconsejomasonicoespana.org

12
três meses e meio depois dessa data. Motivos por que grande número de historiadores
maçónicos dão hoje como provado que as mesmas nada têm a ver com Frederico II.
Parece hoje poder aceitar-se que, pelo menos o mito da promulgação das Constituições
de 1786 por Frederico II, se deverá a Frederic Dalcho, cujo pai teria sido oficial do
exército de Frederico, que o lançou num discurso de 8-12-1802, depois da constituição
do Supremo Conselho do REAA da Jurisdição Sul-Charleston. Mito lançado como forma de
valorização do Rito que pouco tempo tinha ainda de criação, sendo muito provável que as
Constituições só tenham sido redigidas à data da criação do Supremo Conselho em 1801,
pois não se conhecem referências seguras à sua redacção anteriores a essa data.36

Independentemente da questão da paternidade e data real de aprovação das


Constituições ditas de 1786, Grasse de Tilly e o seu sogro, apesar de uma tentativa de
regressar Santo Domingo em 1799, mantiveram-se em Charleston e tiveram uma activa
colaboração na criação por John Mitchell e Frederic Dalcho do Supremo Conselho
fundador do REAA e na configuração do Rito. Deve-se lhe, por certo, no meio do caos
reinante nos altos graus nas Américas, a atribuição do grau 33 a vários maçons
americanos no uso dos seus poderes de Soberano Comendador do Supremo Conselho
das Índias Ocidentais Francesas de um Rito com 33 graus, permitindo assim as condições
para a criação do 1º Supremo Conselho dos Grandes Inspectores Gerais do Rito Escocês
Antigo e Aceito, que adoptou o lema “ORDO AB CHAO” face à sua aspiração de por
ordem e coordenar os Altos Graus e o Rito, sem prejuízo do dignificado inicial de
inspiração teísta da mesma expressão latina.

Tilly e o sogro integraram durante algum tempo o Supremo Conselho de Charleston, que
o nomeou em 21 de Fevereiro de 1802 Grande Inspector Geral e Grande Comendador
das Antilhas Francesas do Rito Escocês Antigo e Aceito.

Em 1804 Tilly regressou a Paris onde fundou o Supremo Conselho Francês do REAA, para
o elevou ao grau 33 numerosos Irmãos, tendo também procedido à criação da Grande
Loja Geral Escocesa de França do Rito Antigo e Aceito de que, na tradição aristocrática
originária do Rito, se proclamou como Grão-Mestre o Príncipe Luis Napoleão,
representado pelo Conde de Grasse Tilly.
Chegou assim à Europa um novo Rito, que tendo os seus antecedentes na mesma
Europa, acabara por se nascer e organizar nas Américas. Um rito de características
fortemente teísta, inicialmente de dominância católica à custa dos jacobitas37, levado
para as Américas por um judeu, e a que outros judeus lá residentes deram um forte
impulso. E que sofreu as inevitáveis influências do ambiente colonial e depois
independentista, em sociedades constituídas por populações com origens nacionais e
tradições culturais, religiosas e de valores diferenciadas, mas com uma forte presença de
varias correntes protestantes, que ajudaram a manter as características teístas do Rito e,
com a participação dos maçons judeus da América, a manter as referências,
nomeadamente na simbologia dos graus aos relatos e personagens do Antigo
Testamento.
Para fazer jus às suas origens aristocráticas adoptou o nome de Escocês Antigo com o
acrescento de “Aceito” que ainda hoje não tem acordo unânime em relação ao de Aceite

36
-A este respeito veja-se o interessante texto FREDERICO II DA PRUSSIA E AS GRANDES CONSTITUIÇÕES DE 1786 de
William Almeida Carvalho, Director da Biblioteca do GOB e da Academia Maçónica de Letras do Distrito Federal, Brasil,
disponível em http://www.freemasons-freemasonry.com/6carvalho.html .
37
- Há autores que contestam o papel stuartista/jacobita na criação da Maçonaria dos Altos Graus.
http://fr.wikipedia.org/wiki/Auguste_de_Grasse-Tilly

13
e também não tem a concordância da Grande Loja da Escócia em relação à utilização da
designação de Escocês.38
O REAA, que começara sem rituais próprios nos graus simbólicos, não teve até meados
do século XIX uma grande expansão e relevância nos Estados Unidos e mesmo na
Europa. Nos Estados Unidos a paranóia da conspiração dos Illuminati fomentada pelos
sectores religiosos ultraconservadores, no final do século XVIII, e a perseguição aos
maçons na segunda metade da década de 20 e na década de 30 do século XIX travaram
a Maçonaria e o crescimento do REAA durante algum tempo. 39 Mas na segunda metade
do século XIX, muito pela acção de Albert Mackey, autor da lista dos 25 Landmarks
habitualmente associados ao REAA e sobretudo de Albert Pike, autor de Moral e Dogma,
o Rito afirmou-se, o mesmo acontecendo também na Europa a partir de França, onde
Tilly tinha criado o segundo Supremo Conselho do REAA do Mundo em 1804, data a
partir da qual lá começaram a ser elaborados em rituais dos Graus Simbólicos do REEA.

Noutros países vários Supremos Conselhos começaram a surgir depois, surgindo o de


Portugal, a partir de uma Carta Patente emitida pelo Supremo Conselho de Brasil,
criando o Supremo Conselho dos Inspectores Gerais do 33º Grau do Rito Escocês Antigo
e Aceito para Portugal e sua jurisdição, instalado em 1844, que foi o 13º Supremo
Conselho do Mundo a ser criado.

A expansão do REAA e o surgimento de um número significativo de Supremos Conselhos


levou à realização de tentativas de criação formas de coordenação, uma primeira em
Paris em 1836 sem consequências visíveis, e uma segunda em 1875, em Lausanne com
representação de 11 Supremos Conselhos, em que se incluía uma do Supremo Conselho
Português, em que foram tomadas um conjunto de decisões que em grande parte ainda
hoje vigoram, entre as quais se contam:

-A revisão das Constituições de 1786, tendo como base a chamada versão latina das
mesmas, com alteração em diferentes artigos e introduzindo o princípio da eleição para
os cargos e limites temporais ao mandato dos Soberanos Grandes Comendadores e
Grandes Oficiais;

-A adopção de um Monitor Escocês contendo especificações para os 33 graus sobre as


decorações de Loja, títulos dos oficiais, palavras sagradas e de passe, jóias, etc,
deixando-se para os Supremos Conselhos Nacionais a definição dos pormenores
litúrgicos e rituais.
- Consagração do princípio do reconhecimento de um só Supremo Conselho por País, a
partir daquela, salvaguardando a situação dos Estados Unidos em que existiam dois, o
fundador da Jurisdição Sul, em Charleston, e o da Jurisdição Norte, em Nova YorK;

-A assinatura de um Tratado de União, de Aliança e Confederação dos Supremos


Conselhos e de uma Declaração de Princípios do Rito.40

-A orientação de que em cada país o Supremo Conselho reconhecido deveria assumir a


administração exclusiva dos graus acima dos graus simbólicos.

38
-Joa ui Ge v sio de Figuei edo, a esse espeito, efe e o seu di io io j efe e iado a te io e te ue a Grande
Loja da Escócia que, para evitar o emprego abusivo desse título, declarou textualme te e 183 á G a de Loja da Es ó ia
o p ati a ais g aus ue o áp e diz, Co pa hei o e Mest e, de o i ados Maço a ia de “ o Jo o .
39
- Kristin Henley, A Maçonaria na América, documentário érie Sociedades Secretas, nº3, Filmes Unimundos, Lisboa.
40
Os interessados poderão encontrar uma versão digitalizada em espanhol do Tratado de Confederação em
http://www.supremoconsejomasonicoespana.org

14
A ratificação das conclusões e dos tratados e declarações não foi unânime nem
totalmente pacífica pelos Supremos Conselhos de vários países.
A conferência de Lausanne ficou marcada por uma larga discussão sobre o tema que hoje
continua actual, a discussão sobre a obrigação de invocação do Grande Arquitecto do
Universo, que apesar da polémica reinante em França e na Bélgica cujos Grandes
Orientes vieram a abolir essa obrigatoriedade por a considerarem violadora da liberdade
de consciência, ficou consagrada ainda que com redacções ligeiramente diferentes no
tratado e na Declaração de Princípios. Posteriormente, em 1877, numa reunião em
Edimburgo dos Supremos Conselhos da Escócia, da Grécia, dos EUA (Jurisdição Sul), da
Irlanda e da América Central houve uma tentativa de acentuar a feição mais teísta de
inspiração judaico-cristã, na linha da Grande Loja Unida de Inglaterra, que acabou por
ser tacitamente aceite em nome da unidade do Rito41, ainda que com leituras mais
teístas ou mais deístas conforme as influências dominantes das várias correntes
religiosas nos países de que os Supremos Conselhos são originários.

Em França e ma Bélgica, e em outros países Europeus de dominância religiosa católica,


as sucessivas perseguições e condenações de Roma à Maçonaria provocaram um
afastamento no sentido do Deísmo ou da Religião Natural, ou mesmo no de ignorar da
necessidade da crença individual do GADU. Com a junção de Supremos Conselhos de
alguns países mediterrânicos, como é caso da Turquia, há hoje um grupo que reclama a
afirmação do laicismo, o que não deixará de ter consequências na obrigatoriedade da
invocação do GADU.42

Nos países de predominância religiosa protestante o carácter mais fortemente teísta


manteve-se, pois as boas relações dessas igrejas com a Maçonaria, de que muitos
pastores eram e são membros de relevo, favoreceram a vertente teísta, pelo menos no
plano formal e ritual.

Para além dessas acentuações rituais diferentes, a polémica da Regularidade/


Irregularidade, que soa a saudosismo imperial e a colonialismo requentado da Grande
Loja Unida de Inglaterra, reflecte-se em divisões entre Supremos Conselhos do REAA,
com reuniões separadas dos que se reconhecem como regulares e dos que integram a
corrente adogmática e liberal que além não obrigarem os seus membros a acreditar num
“deus revelado” assumem também o reconhecimento do direito à existência da
Maçonaria Feminina.
Contra o que tinha sido acordado em Lausanne, em 1875, mesmo que a ratificação dos
acordos desse Convent, não tenha sido pacífica e geral, constata-se a existência de mais
de um Supremo Conselho em vários países, como é o caso de Portugal, em função da
separação ditada pelo “critério”? da dita regularidade/irregularidade maçónica. Situação
tanto mais surpreendente quanto a declaração dos critérios de regularidade da Grande
Loja Unida de Inglaterra é de Setembro de 1929, mais de meio século depois dos
acordos de Lausanne e a grande Loja e o seu Rito não têm Altos Graus.

Enfim, uma interpretação peculiar da fraternidade maçónica.

41
-Carvalho, William Almeida - Génese e Expansão dos Supremos Conselhos- www.freemasons-
freemasonry.com/3carvalho.htm
42
- No III Encontro Euro-Mediterrânico dos Altos Graus Escoceses realizado em Istambul de 24 a 26 de Maio de 2012 (o II
realizou-se em Lisboa em 2010) com a presença dos Supremos Conselhos da Turquia, Bélgica, Líbano, Marrocos, França,
Itália, Espanha, Grécia e Luxe u go, ue teve o o te a á De o a ia e a Lai idade o Medite io a us a de u
mundo melhor em relação com a le da do 1 º G au do REáá . Blog El Máson Aprendiz, http://www.masoneria-
liberal.com/

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