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Secretaria Geral de Educação e Cultura

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A LICENSIOSIDADE DE OPINIÕES
CONTRA A ARTE DA CULTURA

Infelizmente ainda certas “carcaças do dinossauro” se fazem presentes no


ideário maçônico. Opiniões contraditórias e explicações sem qualquer embasamento
ainda proliferam muitos escritos maçônicos. Nesse torvelinho de insensatez alguns
Irmãos se acham “grandes conhecedores” da Ordem e acabam por orientar consulentes
com respostas equivocadas e sem o devido preparo que possa justificar a sua
apreciação. Pensam alguns que comentar ritualística, história e filosofia seja apenas
uma questão de opinar ou mesmo se basear em algum escrito que não raras vezes não
possui nenhuma credibilidade. Alerto para aquele que se envereda por essa trilha que
os fatos ligados à Sublime Instituição, não são tão simples ao ponto de se pronunciar
um “pode sim”, sem justificar textualmente o embasamento da opinião.
Propus-me escrever esse texto porque tenho recebido inúmeras queixas de
Irmãos que recebem respostas até mesmo surpreendentes.
Dentre elas uma que já deveria estar sacramentada tal a imensa quantidade
de justificativas concretas já publicadas - a questão no tocante ao simbolismo do Rito
Escocês Antigo e Aceito e o ingresso de Aprendizes e Companheiros no Oriente em
Loja aberta. Surpreendentemente “ainda correm algumas opiniões equivocadas de que
isso é possível”.
Dada à aberração dessa afirmativa e no intuito de se explicar que uma
opinião só deve ser dada peremptoriamente após uma acurada observação e estudo do
fato, acho oportuno fazer um pequeno resumo do Rito Escocês Antigo e Aceito dado o
fato de que um rito não pode ser considerado como propriedade desta ou daquela
Obediência, porém um Rito é universal, por conseguinte é adotado pelas Obediências.
Considerações à parte é bem verdade que muitos rituais exprimem
procedimentos contraditórios pelos quais os Maçons são obrigados a cumprir na
contingência da obediência à Lei, todavia isso não nos exime de discordar, emitindo
opiniões com o intuito de que um dia as coisas possam ser colocadas nos seus devidos
lugares. Justificar um procedimento e uma prática simplesmente porque está escrito,
não é justificativa, senão em alguns casos, o mero cumprimento do que está escrito. A
questão é se tudo que está escrito nos rituais é verdadeiro e tradicional.
Infelizmente o belo Rito Escocês na adoção das diversas Obediências
acabou sofrendo enxertos e opiniões próprias num desgaste ritualístico que o fez ao
longo do tempo se tornar numa verdadeira “colcha de retalhos”.
Eu mesmo já derramei rios e rios de tinta explicando o caráter iniciático do
Rito em questão, todavia volto à tona para pelo menos tentar orientar alguns Irmãos no
sentido de que responder um tema, este merece justificativa, fato que em não raras
vezes devemos buscar sua origem, pensamento humano, época, latitude terrestre,
história, condições político-sociais, etc. Assim, em uma simples resposta, como é o caso
do Aprendiz e Companheiro no Oriente, careceu de voltar no tempo para explicar
particularidades que somente na equação da verdade e da razão, obtém-se a autêntica
opinião, sem paixão e mesmo conveniências para justificar o injustificável.
Uma orientação de um fato ou procedimento merece ser intensamente
analisado, desde a sua origem e a sua autêntica causa até a sua prática. Deste modo,
para se falar das razões pelas quais Aprendizes e Companheiros não podem ingressar
no Oriente nos trabalhos da Loja no Rito Escocês Antigo e Aceito, segue o conteúdo
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descrito, começando primeiro pelo resumo da origem do Rito, sua história e no que
resultou sua doutrina e prática.

As origens do escocesismo têm sua raiz em 1.649 na revolução puritana de


Cromwell na Inglaterra e a deposição dos reis católicos conhecidos como “Stuarts”
originários da Escócia. Dessa contenda os perdedores buscaram refúgio na França
onde receberam asilo, mais propriamente na localidade denominada Saint Germain en
Laye. Por conta dessa situação viriam a surgir movimentos conspiratórios para
retomada do trono a exemplo dos chamados Guardas Irlandeses que sob a capa de
Lojas Maçônicas buscariam a recondução dos reis católicos ao comando da monarquia
inglesa.
É justamente aí que teve início, em solo francês, o desenvolvimento do
germe do Rito em questão que, apesar do nome “escocês”, rompeu a sua marcha
existencial na França.
Seguem-se os acontecimentos históricos relativos ao trono inglês,
entretanto esse fato não é mote do presente escrito, assim, apesar de importante, não
merece aqui ser comentado, embora o sistema maçônico originário desses
acontecimentos acabasse se solidificando na França.
Naquela oportunidade o aparelho distintivo do escocesismo seria a criação
dos chamados “Altos Graus”, muito embora esse aparelho fosse não a raras vezes
conveniente e, em outras com a intenção de aristocratizar e premiar maçons com títulos
pomposos, bem ao gosto de grande parte da galante Maçonaria Francesa da época –
o Discurso de Ramsay é um exemplo. Preocupação com a verdadeira tradição da
Maçonaria ficaria relegada ao segundo plano, tanto que o escocesismo naquela
oportunidade não possuía nenhum grau simbólico identificado.
É relativo a esse período (Século XVIII) que surge a catalogação dos
documentos tidos como fundamentais do escocesismo e a origem dos Altos Graus,
porém não ainda como Rito, fato esse que viria ocorrer apenas no início do Século XIX.
Dentre os principais documentos fundamentais estão o Discurso de André Miguel de
Ramsay de 1.737 e publicado em 1.738; o Capítulo de Clermont criado em Paris no ano
de 1.754, o Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente fundado também em
Paris por Pirlet no ano de 1758 impondo um sistema de Altos Graus em um limite de
vinte e cinco graus, cuja resolução seria oficialmente escrita nos Estatutos de 1.762 –
Rito de Perfeição ou de Héredom; a Patente de Ettiénne Morin em 1.761; os Novos
Institutos Secretos e Fundamentais que falsamente foram atribuídas a Frederico II,
originalmente constituídos em 1.786.
Obviamente isto é apenas um resumo dos fatos, já que os mesmos carecem
de judiciosa atenção na complexidade de um mosaico histórico pertinente ao episódio.
Também não há como não se considerar os acontecimentos maçônicos que
acorreriam paralelos aos da França a partir do primeiro quartel do Século XVII no
tocante à Maçonaria Inglesa, ou seja, a criação em 1.717 da Primeira Grande Loja em
Londres inaugurando o primeiro sistema Obediencial no mundo e que fizera profundas
alterações na prática maçônica tradicional herdada dos chamados Antigos.
Devido a esses acontecimentos, surgiria então no ano de 1.751 a Segunda
Grande Loja na Inglaterra, fundada pelo irlandês Lawrence Dermott em oposição a
Primeira Grande Loja. Das escaramuças dessas duas Grandes Lojas apareceriam dois
sistemas ritualísticos maçônicos que ficariam conhecidos como os “Modernos” de 1.717
e os “Antigos” de 1.751. Modernos, alcunha a eles atribuída pela Segunda Grande Loja,
devido à acusação de terem os mesmos alterados os costumes, bem como
descristianizarem as práticas ritualísticas. Em contra partida, os contestadores das

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“práticas modernas” se autodenominariam como “Antigos”, alegando estes
permanecerem, fiéis aos costumes tradicionais.
Contendas à parte, essas duas Grandes Lojas viriam posteriormente se
fundir no que resultaria, a partir de 1.813, na atual e conhecida Grande Loja Unida da
Inglaterra.
Embora possa parecer ao leitor que houve um desvio da intenção desse
arrazoado ao se abordar fatos ocorridos nas Grandes Lojas inglesas, ao contrário e
distante do escocesismo, essas conotações serão pertinentes para justificativa futura e
uma melhor compreensão do fato.
Dadas essas considerações, o sistema francês de maçonaria ficaria coeso
com práticas inglesas dos “Modernos” de 1.717, ou aqueles que alteraram
substancialmente os costumes ritualísticos.
É bom que se diga que a principal razão pela qual Primeira Grande Loja em
Londres (Modernos) alterou os costumes, foram as “publicações espúrias” e as
“revelações”. Estas se constituíam em revelar o formato de trabalho maçônico, tanto nos
jornais diários, ou através de escritos formatados como é o caso da famosa “Masonry
Dissected” de Samuel Prichard e a “Ordem dos Francos Maçons Traída” por Abade
Perau. Essas revelações renderiam muito dinheiro aos delatores, ao mesmo tempo em
que causariam uma revolução nos meios maçônicos. Poder-se-ia dizer, que esse seria
o elemento básico na alteração dos costumes pela Primeira Grande Loja. Obviamente,
não houve consenso para tanto, de tal maneira que em breve apareceria uma Segunda
Grande Loja contestando as práticas alteradas que às denominou de “práticas
modernas”.
O interessante é que nem mesmo essas duas Grandes Lojas escapariam
das “revelações”. Consonante aos Modernos apareceria a “exposure” denominada
“Jackin and Boaz” – no próprio título aparece a modernidade na inversão das Colunas
Gêmeas. Enquanto que para os “Antigos” a revelação denominava-se “The Three
Distinct Knocks”, ou As Três Batidas Distintas. Essas revelações eram normalmente
publicadas nos diários londrinos.
Como ilustração houve um fato pitoresco naquela oportunidade, pois foi
exatamente dessas “obras espúrias”, mais precisamente da intitulada “Jackin and Boaz”
que um famoso maçom contemporâneo se baseou para a criação de um rito, hoje até
bem conhecido aqui no Brasil, porém pouco praticado no seu País de origem.
Retomando, a Maçonaria Francesa adotaria a prática dos Modernos,
desconhecendo a outra antagonista (dos Antigos). Daí a inversão das Colunas B e J e
a eliminação de preces e orações, dentre outros aspectos que a identificam. Assim, o
aperfeiçoamento maçônico francês tomou por base doutrinária a relação e investigação
das Leis da Natureza, cujo corolário se aproxima em muito do conceito filosófico
denominado “deísmo”, além de outras práticas aderidas pelo regionalismo e a cultura,
bem como uma relação política própria determinada pelo Anticlericalismo, pelo Século
das Luzes, e pelo Esclarecimento.
Sob essa óptica é que a Maçonaria Francesa se diferenciava
completamente da prática dos Antigos, como dito anteriormente. Essa vertente se
apresentaria claramente pelo próprio rótulo dado ao principal rito na França - o “Francês,
ou Moderno”. Essa vertente adotaria então três graus do franco maçônico básico (o
termo simbolismo ainda era desconhecido) e mais quatro graus ditos superiores, ficando
então conhecido o Rito como o dos “Sete Graus”.
Alguns historiadores revelam ainda que foi pela desordem apresentada no
que tange a uma verdadeira enxurrada de Graus na França à época é que fora imposto
o limite dos sete graus. Paralelamente aos acontecimentos se desenvolvia também em
solo francês por boa parte do Século XVIII o sistema dos Altos Graus que
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posteriormente seria conhecido como o Rito de Perfeição, ou de Héredom, com os seus
decantados vinte e cinco graus.
É dentro desse preceito diferenciado na Maçonaria Francesa, que os
praticantes desse sistema ficariam conhecidos pela alcunha de “escoceses”, cujo
reflexo ainda se fazia presente devido à origem ligada aos acontecimentos anteriores
que sugeriam a recuperação do trono inglês pelos “Stuarts” – católicos também
rotulados como “jacobitas”. A despeito dessa identificação como “escoceses” - alcunha
aos praticantes dos Altos Graus na França - essa arte não possui qualquer elo com a
Maçonaria da Escócia, ou com a Grande Loja da Escócia. Da mesma maneira, não
havia ainda o título de rito conhecido como Escocês Antigo e Aceito.
Ainda no Século XVIII (1.761), no intuito de dispersar o Sistema dos Altos
Graus para fora da França era expedida a carta patente conhecida como a “Patente de
Morin” chegando até a América Central (Haiti – Colônia Francesa) e dali para os Estados
Unidos da América do Norte.
Dentro desse contexto que não cabe aqui relatar todos os fatos pela sua
complexidade, apareceriam os personagens como importantes para a criação agora do
Rito Escocês. Dentre outros o Conde Grasse Tily, Frederic Dalcho, Delarrogue, Isaac
Himan Long e John Mitchel. Dados os acontecimentos da Guerra dos Mulatos, esses
personagens rumariam para os Estados Unidos da América do Norte que tinha acabado
de conquistar a sua independência, e lá planejaram a fundação de um Supremo
Conselho como mãe do mundo. De posse da Patente de Morin, estes forjariam,
invocando o nome de Frederico II, o Grande, Rei da Prússia (que, diga-se de passagem,
nunca teve nada com isso) como autor das Constituições. O nome de Frederico fora
usado por questões políticas, pois o Rei era tomado por grande simpatia pelo povo
norte-americano.
A Constituição forjada alterava o Rito de Perfeição com os seus originais
vinte e cinco graus disfarçados por uma pretensa criação dessas Constituições por
Frederico II que instituía não apenas vinte e cinco graus, todavia, trinta e três.
À bem da verdade esse embuste já foi exaustivamente desmascarado pela
história autêntica. Nesse particular Frederico II nunca aprovou qualquer grau acima do
terceiro e, quando da redação da Constituição, o mesmo já estava em leito de morte.
Infelizmente, apesar das provas incontestáveis, muitos Irmãos ainda teimam em
propagar essa farsa relacionada à história do Rito.
Dessa maneira, fundamentado sob essa perfídia, seria fundado em solo
americano o Primeiro Supremo Conselho Mãe do Mundo do Rito Escocês Antigo e
Aceito, em 31 de maio de 1.801, sobre o paralelo 33 da Terra, em Charleston, na
Carolina do Sul.
Certamente esse acontecimento viria impactar a França devido à perda do
original sistema dos Altos Graus. É então que no ano seguinte (1.802) seria fundado em
Paris o Segundo Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito.
Ainda sobre o Primeiro Supremo Conselho, nos Estados Unidos a prática do
Rito Escocês Antigo e Aceito, não possuía originalmente os graus simbólicos, já que a
base maçônica era praticada indistintamente nas Lojas Azuis norte-americanas que
praticavam, e praticam ainda hoje, o Rito de York (americano) – não confundir com o
praticado no Brasil que é o Trabalho de Emulação (inglês). Assim, como nome de Rito,
o Escocês nascia sem graus simbólicos, sendo praticado do quarto grau até o trigésimo
terceiro. O seu simbolismo era preenchido pelo Rito de York. Esse Rito, o York,
organizado por Thomas Smith Web, embora praticado em solo americano, ele é
originário da Inglaterra, cuja prática é referendada pelo formato dos “Antigos” - aquele
da Segunda Grande Loja da Inglaterra (1.751), anteriormente já citado.

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O que ocorreria na França após a fundação do Segundo Supremo Conselho
em Paris é que o Grande Oriente da França que praticava especialmente o Rito
Moderno, ou Francês – o dos sete graus, em dado momento encamparia primeiro o
simbolismo do Rito Escocês Antigo e Aceito e a posteriori, num futuro não muito
distante, também os ditos graus superiores até o Grau 18, ficando sob a tutela do
Segundo Supremo Conselho apenas os graus acima deste (Kadosh e Consistório). Por
ocasião desse fato, apareceriam então as chamadas Lojas Capitulares – do Grau 01
até o Grau 18 sob o comando do Grande Oriente da França.
Dados esses acontecimentos, o Rito Escocês Antigo e Aceito na França
carecia de um ritual simbólico, dada a diferença do que acontecia com o Rito na América
do Norte, cuja prática simbólica era feita através das Lojas Azuis.
Maçons franceses de volta à França se depararam com esse problema,
sobretudo porque a Maçonaria Francesa desconhecia quase que por completo essa
prática “Antiga” do Rito de York. Então em 1.804 seria criado o “primeiro ritual” simbólico
do Rito Escocês Antigo e Aceito, sendo que esse viria sofrer uma forte influência da
prática americana. É dessa época que aparece o vocábulo distintivo de “simbolismo”,
razão pela qual que até então o “franco maçônico básico” era somente conhecido como
“maçonaria azul”. Esse primeiro ritual, por influência dos maçons egressos do solo
americano, acompanhava em grande parte a prática “antiga” do Rito de York o que daria
ao cerimonial, segundo alguns historiadores, uma feição “anglo-saxônica”.
Fazendo um aparte no raciocínio, o termo “maçonaria azul” nada tem a ver
com a cor específica de um rito, senão a prática dos três graus simbólicos que eram
assim conhecidos até aquela oportunidade.
Ainda sobre a questão relativa ao primeiro ritual simbólico do Rito Escocês,
houve também a necessidade de se fazerem adaptações que pudessem vir ao encontro
da estrutura doutrinária do Rito, já que o sistema francês de ensinamento como
comentado anteriormente, embora com o mesmo objetivo especulativo, era - e ainda é
- diferente do outro princípio, o inglês, cujo Rito, o de York (americano) é também filho
espiritual. Nesse sentido a topografia do Templo inerente ao primeiro ritual simbólico do
Rito Escocês, acabaria por adquirir características próprias. Seguem alguns dos
principais exemplos: as Colunas J e B invertidas na França em atenção aos “Modernos”,
no Rito Escocês ficaram mantidas na forma antiga – B a esquerda de quem entra e J à
direita; a porta da Sala da Loja ficou no centro da parede ocidental, agora diferente do
sistema “antigo”; adotou-se um eixo imaginário que divide o espaço em dois hemisférios
– Coluna do Norte e do Sul (conceito francês); devido à posição da porta de entrada o
Primeiro e Segundo Vigilantes ficariam posicionados no Ocidente, um ao Norte e outro
ao Sul (formato francês); não existia a identificação do Oriente por balaustrada (formato
antigo); o piso do Templo era todo no mesmo nível, reservando-se o desnível apenas
para o sólio por três degraus (formato antigo); o Painel do Grau no centro da Loja. Com
relação aos cargos e particularidades dos seus integrantes – dentre os mais importantes
- aparecem às figuras do Orador, e dos Expertos (inexistentes no sistema antigo); os
Diáconos não portam bastão (no formato antigo estes portam varas); ficaria então
sacramentado o cargo de Mestre de Cerimônias (também inexistente no sistema dos
Antigos); além de outras particularidades não menos importantes, porém que não
cabem aqui considerações.
É sempre bom citar que essas alterações e adaptações, além de possuírem
um cunho cultural e político-social, asseveram, sobretudo, a qualificação para cumprir o
sistema doutrinário do Rito que se alicerça na transformação do Homem comparando
essa tese ao processo investigativo da Natureza e os seus ciclos imutáveis.
Em 1.810 apareceria uma Grande Loja denominada Mãe Escocesa que
ordenaria a conjuntura inerente ao Rito Escocês. Essa Grande Loja teve vida efêmera,
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a despeito de que houve anteriormente e, portanto, faze parte do contexto histórico, uma
Loja Mãe Escocesa em Avinhão, e outra em Marselha. O fato merece ser citado para
salientar que não era novidade essa preocupação como o Rito e a sua prática
diferenciada do sistema Moderno tão bem conhecido em solo francês.
Segue outro apontamento não menos importante que faz parte da equação
inerente às considerações sobre o mote dessa questão. Anteriormente já exposto o
Grande Oriente da França, conforme o andamento dos acontecimentos teve naquela
oportunidade sob a sua tutela o Rito Escocês Antigo e Aceito até o Grau 18, fato que o
obrigou a criar as “Lojas Capitulares” na intenção de acomodar o sistema escocês até
o último Grau Capitular. Essa particularidade faria com que no primeiro quartel do
Século XIX ocorressem outras alterações para suprir a prática ritualística capitular.
Nesse sentido, aparecem no Templo do Rito o Oriente elevado e a Balaustrada que
passa, a partir daí, fazer uma divisão de quadrante no espaço da Sala da Loja.
Assim é que as concepções litúrgicas dos portadores do Grau Capitular
viriam atingir diretamente o simbolismo (o sistema inglês rechaça veementemente esse
tipo de interferência no Franco Maçônico Básico).
Dadas essas explanações as Lojas Escocesas, não obstante sua origem
católica (a cor vermelha do cardeal) viria se reforçar ainda mais no tocante a decoração
“encarnada”, agora bem definida na prática Capitular. Todavia, não só no aspecto
decorativo, também ficariam adaptados alguns posicionamentos relativos aos cargos na
Loja. Em linhas gerais, é a partir daí que os Templos do Rito Escocês Antigo e Aceito
passam a tomar esse formato, rotulado por alguns exegetas como a sua vertente latina.
É desse conjunto contextual histórico que o simbolismo do Rito em questão
se associa com o feitio doutrinário francês adotando na sua conjuntura eclética, dentre
outras, certa posição deísta no tocante a prática investida de um ideário comparativo
com as Leis da Natureza e que, em linhas gerais, associa o Homem como elemento
primário do Canteiro (Loja).
Segue aqui então uma última consideração que faz parte desse contexto
histórico alusiva aos primórdios do simbolismo do Rito Escocês Antigo e Aceito.
A tutela do Grande Oriente da França sobre o sistema escocês Capitular
não seria eterno. Assim, o Segundo Supremo Conselho, o da França, não tardaria a
reivindicar para si o governo dos Altos Graus no tocante àqueles que lhe haviam
escapados. Fato esse que viria acontecer de modo irremediável já a partir do segundo
quartel do Século XIX. Como que se as coisas voltassem ao seu devido lugar, o
simbolismo do Rito Escocês ficou sob o governo do Grande Oriente da França,
enquanto que o Supremo Conselho passou a ter sob a sua responsabilidade os graus
de Perfeição, Capitulares, Kadosh e Consistório (do Grau Quatro até o Grau Trinta e
Três). Terminariam assim as então conhecidas Lojas Capitulares.
Com o fim dessas Lojas, uma disposição topográfica, ainda Capitular, no
Templo acabaria por permanecer consuetudinariamente no simbolismo do Rito e que
se tornaria então a raiz de uma anomalia que tem dado interpretações equivocadas,
principalmente no tocante à senda iniciática que envolve os graus de Aprendiz,
Companheiro e Mestre e a relação entre o Oriente e o Ocidente da Loja – o Oriente
elevado e a balaustrada divisória. Mesmo com a extinção das Lojas Capitulares a
divisão e desnível do Oriente acabariam por ficarem inertes nos Templos do simbolismo
até os dias atuais.
Ainda dentro dessa recomposição, o Rito Escocês na sua vertente “antiga”
(de Antigo no título), manteve as Colunas B e J na forma tradicional. Assim também o
Segundo Vigilante em respeito a essa tradição voltava a ocupar o meridiano do Meio-
Dia, bem como a dialética ritualística ficaria mantida com base nos “Antigos” (é a que
conhecemos ainda hoje na abertura e fechamento da Loja). Também no tocante à
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tradição “dos Antigos”, Apareceria a transmissão da Palavra como alegoria relativa aos
Canteiros Medievais, os seus ancestrais oficiais de chão (Diáconos) e a verificação da
qualidade construtiva da Obra.
No tocante ao simbolismo do Rito Escocês e o cumprimento do sistema
doutrinário alusivo aos ciclos imutáveis da Natureza (nascimento, vida e morte), são
introduzidas no Rito e, por conseguinte na topografia do Templo, as doze Colunas
Zodiacais, cujo objetivo é o de associar as relações cíclicas da Lei Natural no espaço
de um ano (Primavera, Verão, Outono e Inverno). É dessa alegoria simbólica que se dá
às bandas definidas pela divisão longitudinal e abstrata da Sala da Loja (equador) o
título de Colunas do Norte e do Sul. Não menos importantes dentro desse contexto as
Colunas Solsticiais (B e J) marcam os trópicos de Câncer ao Norte e Capricórnio ao Sul.
As relações solsticiais e equinociais estão presentes nas provas iniciáticas da Terra, Ar,
Água e Fogo e na Câmara de Reflexão como elemento terreno e ponto de partida para
o apólogo da transformação e do nascimento de uma nova vida. É a senda iniciática dos
três graus – Aprendizes no Topo da Coluna do Norte, Companheiros no Topo do Sul, e
os Mestres que, além de lugar reservado (Oriente) estão dispersos por toda a face da
Terra.
É dentro dessa conjuntura que o Rito Escocês Antigo e Aceito mantém a
sua espinha dorsal até a atualidade, muito embora ainda sofra indiscutivelmente
influências e enxertos de outros ritos e sistemas, sobretudo aqui no Brasil onde
lamentavelmente foram editadas centenas de rituais que em não raras vezes vieram
com o objetivo maior de suprir mais os anseios dos regulamentos e constituições das
Obediências nacionais do que atender as propostas intrínsecas emanadas da pureza
do Rito.
Essa questão embora pareça secundária, é muito mais séria do que possa
parecer, até porque muitos Irmãos ainda têm nesses escritos uma fonte equivocada do
que é “justo, belo e verdadeiro”. Talvez assim pensem alguns apenas e tão somente
pelo fato de terem sido esses rituais um dia, oficiais nas Obediências que os aprovaram.
A questão é que em termos de história da origem do Rito, ela é uma e única só, pois
não foram criados, digamos, vários ritos escoceses, para este ou aquele Grande
Oriente, ou Grande Loja. Infelizmente e ao contrário, é que ao longo dos tempos as
Obediências Maçônicas ao adotarem o Rito Escocês o desfiguraram tanto a tal ponto
dele, às vezes, ser rotuladas como uma verdadeira “colcha de retalhos”.
Obviamente essa referência não é feita ao belo Rito Escocês, porém aos
rituais ultrapassados e descompromissados com a História que ainda campeiam o fértil
solo maçônico como verdadeiras carcaças dos dinossauros de antanho.
Dadas essas considerações, segue agora um resumo do significado e da
proposta doutrinária da vertente francesa pela qual faz parte o Rito Escocês Antigo e
Aceito.
A doutrina iniciática dessa vertente associa o Homem dentro da Maçonaria
Especulativa como a “pedra” nas construções do passado. A pedra bruta tal qual aquela
retirada da jazida, em linhas gerais era o elemento primário, ou o material básico para
a elevação da construção (assim são os tijolos de hoje em dia). Na comparação entre a
Pedra Bruta e a Esquadrejada há uma sugestão entre o elemento tosco e o elemento
trabalhado com as verdadeiras obras de arte que sempre se destacaram pela sua
beleza e estabilidade o que, em resumo, destaca a sabedoria do Artífice na arte de
construir. É exatamente dessa Maçonaria Operativa que somos herdeiros
especulativos, de tal maneira que os instrumentos de trabalho, o canteiro (Loja atual),
os compromissos legais, políticos e culturais de acordo com as latitudes terrenas são
relembrados nos detalhes alegóricos e iniciáticos na Moderna Maçonaria.

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É sob essa óptica a que viriam aparecer a partir do Século XVIII os Ritos Maçônicos e
Trabalhos no “Craft” 1.
Na Maçonaria Francesa, de onde o Rito Escocês Antigo e Aceito é filho
espiritual, essa linha de aperfeiçoamento da “pedra” que na Moderna Maçonaria é o
próprio Homem, está bastante conectada com o Século das Luzes, com o Iluminismo,
com os Enciclopedistas, com o Positivismo, com os ideais libertários dos Pensadores e
Filósofos, além das manifestações dos seguidores do Hermetismo, Rosa-Cruzes, da
Alquimia Mística e até mesmo Mitráica (do Mitraísmo persa) e os Cultos Solares da
antiguidade - base da grande maioria das religiões conhecidas. Por fim da forte
influência no Rito da cultura hebraica.
Por esse conjunto doutrinário maçônico, ao contrário do que muitos ainda
pesam, não se prega o agnosticismo, entretanto, sem dogmas, uma relação estreita
como o deísmo. Esse fato conduz essa vertente a uma estrutura doutrinária de
edificação especulativa, portanto maçônica, enveredada para uma forte relação com a
Natureza e a sua investigação (o Criador e a Obra Universal).
Dentro dessa conjuntura o Rito Escocês Antigo e Aceito no seu simbolismo
revive alegoricamente esse “teatro natural” induzindo o Iniciando de maneira figurada à
observação dos acontecimentos produzidos pelas etapas da Natureza, considerando o
Homem como parte integrante desse imutável processo de transformação. Esse
elemento alegórico se apresenta com evolução do Maçom através dos Graus de
Aprendiz (infância e adolescência), de Companheiro (a juventude) e do Mestre (a
maturidade).
O resumo figurado dessa senda está em que o elemento morra (a semente)
na escuridão lúgubre da Câmara de Reflexão (seio da Terra) para renascer um dia na
Luz. Essa seria a tese do primeiro ciclo de transformação, daí a riqueza da simbologia
exposta na Câmara que, dentre outras, alerta para a efemeridade da vida, sua
transmutação e a purificação pelos elementos. As frases nela contida soam como alerta
para efemeridade da vida terrena. Nesse simbólico teatro iniciático o Candidato se faz
presente como uma espécie de ator principal.
A Câmara que também simboliza uma masmorra preconiza o local onde
devem ficar presas as manifestações de exterioridade humana.
À bem da verdade a semente é depositada no seio da Terra que um dia
ficará viúva do Sol na esperança de se perpetuar a vida e a produção dos bons frutos.
Nessa alegoria é que se justifica o vocábulo “neófito” (do latim: neóphytos = plantado
recentemente). Há que se notar que esse preparo simbólico antecede os próximos
ciclos, pois na Natureza é a planta que produz a flor e dela se reproduz o fruto. Deste
sai à semente para morrer e renascer dando reinício ao novo ciclo. É impossível inverter
esse ciclo.
Na série alegórica comparativa o Candidato representa os ciclos da vida
humana – a geração na Câmara de Reflexão, a infância na primeira viagem, a juventude
na segunda e a maturidade na terceira. Todo esse teatro alegórico representa a síntese
da marcha do Obreiro na busca do aperfeiçoamento, cujos espaços temporais estão
simbolicamente ligados sequencialmente aos três graus.
Na Luz tênue que ilumina o Norte, o Iniciado começa então representar
esses ciclos apresentados durante o ato da Cerimônia de Iniciação. Enfim, começa uma

1Trabalhos no Craft – Na Inglaterra não se reconhecem “ritos”, porém “trabalhos”. Daí seria impróprio à
definição do nome de um rito na cultura maçônica inglesa. O Craft corresponde à Associação, ou o Grêmio.
Daí é errado, por exemplo, o uso do termo Rito de Emulação, senão o correto que seria o Working, ou o
Trabalho de Emulação.

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caminhada que sugere a busca da Luz (Sabedoria), cuja plenitude um dia será
alcançada, contudo se cumprida à jornada passando sequencialmente pelos outros dois
graus iniciáticos – a Elevação e a Exaltação.
É imperiosa a regra de cumprimento das etapas, o que sugere que para
alcançar a plenitude da Luz, ou a Sabedoria, o artífice especulativo (Aprendiz) no seu
exercício dentro do Canteiro terá que ser forte (a Força). Essa força exprime a vontade
e o apoio pelo seu aprendizado merecido na sua passagem pela Coluna do Norte (1º
Vigilante). Em sendo ele forte estará possibilitado para ultrapassar os obstáculos
surgidos da inexperiência daqueles que passam pelo começo da vida.
Se bem compreendia a “arte” o artífice, agora qualificado será capaz de
elevar a Obra na Luz do Meio-Dia (a passagem do Sol pelo meridiano). Agora
Companheiro, já senhor das suas obrigações terá como pragmática a juventude, a ação
e o trabalho para concluir a Obra que certamente será bela e duradoura em todo o seu
esplendor (Beleza – 2º Vigilante).
Passado o ciclo da “juventude” e a produção dos bons frutos, deles restará
por fim a experiência da vida - a maturidade prenuncia a morte (Meia-Noite) para
renascer na plenitude da Luz - a Sabedoria adquirida ao longo da efêmera vida
(Exaltação do Mestre e a Lenda do Terceiro Grau).
Todo esse palco teatral emblemático está correlacionado com misticismo da
parábola da Natureza, não obstante de que dela o Homem também é importante parte
integrante. Essa representação está aparelhada por símbolos e alegorias dispostas e
fixas no canteiro de trabalho (a Loja) como elementos estáveis para a compreensão do
artífice. Dentre estas, a trilha e as etapas na jornada percorrida pelo Obreiro está
representada pelas doze Colunas Zodiacais. Ciclo a ciclo é relatado através dos sítios
a serem percorridos. Aliás, essas Colunas têm sido por muitos tratados com relativo
desdém, isso se acredita que é pela mera falta de compreensão da sua verdadeira
existência no Templo do Rito Escocês Antigo e Aceito. É comum se ver Irmãos
deliberando a respeito e tratando do assunto como se as mesmas fossem meros
elementos decorativos. Outros ainda, mais afoitos, às definem como elementos
estruturais de sustentação da abóbada – pura falta de conhecimento.
À bem da verdade as Colunas Zodiacais representam os Ciclos da Natureza
no Hemisfério Norte (neste fora criado o Rito). Conforme as suas posições, partindo da
parede ocidental pelo topo da Coluna Boreal às três primeiras representam a Primavera
(ressurreição, renascimento), enquanto que as outras três, o Verão. Cabe aqui uma
pequena explicação sobre o vocábulo topo nessa resenha. Topo do Norte é toda a
parede boreal que começa a partir do canto com a parede ocidental até a grade
(balaustrada) do Oriente. Quanto ao Topo do Sul esse compreende toda a parede
austral que começa na balaustrada do Oriente e vai até o outro canto formado com a
parede ocidental.
Dadas essas assertivas, a passagem do Aprendiz pela Coluna do Norte
implica simbolicamente que os ciclos da vida humana estão correlatos ao simbolismo
das estações do ano. Ao Norte, as três primeiras alusivas às constelações de Áries,
Touro e Gêmeos determinam a Primavera, ou o renascimento da Natureza após o ciclo
invernal. Esse passo é o início da jornada e simula a infância - Primeira Viagem. As
outras três seguintes indicam às constelações de Câncer, Leão e Virgem – os meses
que compõem o Verão. Esse ciclo sugere o fogo da adolescência e o final da primeira
etapa da vida. Aproxima-se a porta da juventude – ainda a Primeira Viagem e o fim da
passagem pelo topo da Coluna do Norte.
A jornada seguinte menciona agora o topo da Coluna do Sul. As três
primeiras Colunas, partindo da grade do Oriente, relacionam-se com as constelações
de Libra, Escorpião e Sagitário. Esse ciclo natural compreende o Outono e arrola o Grau
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de Companheiro (Juventude). Desbastada a pedra o obreiro trabalhará agora na
elevação da obra, o que sugere a produção, a ação e o trabalho. É a passagem da teoria
para a prática – Segunda Viagem.
Fechando a passagem pelo topo do Sul, as últimas três Colunas
representam as constelações de Capricórnio, Aquário e Peixes – o Inverno, ou o final
do trabalho e a experiência adquirida. O tempo frio cai sobre a mãe Terra e esta fica
viúva do Sol. Os dias serão curtos e as noites longas. Alude esse ciclo à Meia-Noite e a
morte da Natureza que em um futuro não muito distante reviverá novamente, afinal,
quanto mais escura é à madrugada, mais perto estará o raiar de um novo dia. Essa é
última etapa e está representada na Terceira Viagem – a maturidade e a colheita dos
bons frutos. Nesse teatro alegórico o Obreiro pelas suas boas obras e conhecimento
apurado carece morrer para renascer em cumprimento à Lei imutável da marcha do Sol.
Será o ingresso no Oriente, lugar simbólico de onde nasce a Luz para romper um novo
dia. Vai o Homem, ficam as suas obras que serão eternas na mente dos pósteros. O
Mestre ingressa no Oriente e dali, tal como o Sol, espargirá as suas Luzes pelos quatro
quadrantes da Terra – razão pela qual o Mestre além de ocupar especificamente o
Oriente, ocupa também qualquer espaço na Loja (plenitude).
Em linhas gerais esse é o teatro imutável da Natureza. Com os seus
equinócios e solstícios produzidos pelo vai e vem do Sol a partir do ponto de vista da
Terra - dias longos e noites curtas (o Verão); dias iguais em sua duração (a Primavera
e o Outono); dias curtos e as noites longas (o Inverno).
Assim, no Canteiro (Loja) estão dispostas às nove luzes, acesas em número
de acordo com o Grau. Isso significa que de acordo com a evolução do Obreiro, a Oficina
ficará mais iluminada (daí o termo Luzes da Loja). Essa disposição alude à razão de
que dos doze meses, em três às trevas são mais intensas. Daí o sentido alegórico de
que o Inverno golpeia a Sabedoria (Luz), a despeito de que, mesmo assim, sempre
haverá prevalência da Luz sobre as trevas, pois tão certa está a regra de que
posteriormente à vida virá à morte, certo também é que ao fim do inverno a vida
ressurgirá (a Lenda de Hiram).
Neste conceito místico associa-se o sistema doutrinário simbólico do Rito
Escocês Antigo e Aceito – O Aprendiz aprende o ofício na Coluna do Norte; o
Companheiro exercita as ferramentas no trabalho ao Meio-Dia; o Mestre expressa a
experiência (Sabedoria) cumprindo o itinerário final ao passar pelo eixo do Templo para
adentrar no Oriente. Resume-se aí a perfeição imutável da Lei Natural.
Ilustrando, disse uma vez o Irmão Voltaire ao se referir à Natureza: “Para
este relógio, deve existir um relojoeiro”.
Nesse sentido, a Lenda do Terceiro Grau na aquisição da plenitude
maçônica deixa belíssimas lições de Sociologia, Moral e Ética. Primeiro: a divisão dos
construtores em três classes sugere ao Maçom a possibilidade de progresso, tanto
pessoal quanto social, todavia a regra é que antes da prática, vem o aprendizado –
sempre haverá um Mestre para ensinar (consciência). Segundo: a fé de cada um deve
ser respeitada. Mesmo assassinado o Homem, a fé é imortal. Terceiro: nunca se deve
pensar no progresso pessoal sem que antes estejam irrestritamente cumpridas todas
as etapas sequenciais do aprendizado. O Homem deve fazer apenas aquilo que ele
sabe, deixando para os que sabem aquilo que ele ainda não sabe fazer.
Por essas considerações é que existe essa estrutura doutrinária, ritualística
e litúrgica concernente à mensagem de aperfeiçoamento proposta no simbolismo do
Rito em questão, daí um Aprendiz ingressar no Oriente em Loja aberta fere
completamente esses princípios, mesmo sob a alegação de que o Oriente faz parte da
Loja.

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É certo que o Oriente dela faz parte, todavia nele deve ingressar apenas
aquele que conquistou a plenitude maçônica, ou seja, aquele que viveu simbolicamente
a Lenda de Hiram. Procedimentos contrários a essa regra são equivocados e
antagônicos à razão proposta pelo Rito. A não observação desse princípio colocaria a
infância após a maturidade. Da mesma forma um Companheiro tendo acesso ao Oriente
significaria a maturação antes da puberdade. Ora, é racional que a juventude antecede
a maturidade, porém nunca ao contrário. Afinal, antes do fruto virá a flor. Da mesma
maneira quem antecede a tarde é o período matutino, assim como a tarde antecede a
noite, a madrugada o alvorecer, a primavera o verão, o Aprendiz o Companheiro e o
Companheiro o Mestre – os ciclos são imutáveis. Daí a razão, no Rito, de que
Aprendizes e Companheiros não adentrem no Oriente em Loja aberta, ficando esse
restrito àquele que já tiver passado completamente pela senda iniciática.
Sistematicamente, primeiro nascer, passar pela infância, pela adolescência, pela
juventude e finalmente pela maturidade.
Dentro desse princípio é que os cargos em Loja são restritos aos Mestres,
já que os mesmos podem ocupar qualquer espaço do Canteiro. Daí Aprendizes e
Companheiros serem impedidos de exercerem o ofício dessas funções. Agrava-se
ainda mais se os cargos forem exercidos no Oriente.
Qualificações que indiquem cargos ocupados por Aprendizes e
Companheiros nunca estiveram previstos verdadeiramente no Rito. Se por ventura
possa existir algum ritual que equivocamente assim exare, certamente o mesmo não é
confiável. Da mesma forma, ele não deve mais estar em vigor.
Tocando no assunto de ritual em vigor, especificamente nos do Grande
Oriente do Brasil, nele os Aprendizes ocupam o topo da Coluna do Norte, Companheiros
o topo da Coluna do Sul e o Mestres, o Oriente e o Ocidente. Isso está bem claro no
tocante ao item “Planta do Templo” inserido nos três rituais inerentes aos respectivos
Graus.
Infelizmente certas anomalias acabam se instalando devido à quantidade de
Irmãos presentes numa Sessão. Não em raras vezes, ou por falta de número suficiente
obreiros, ou sob a alegação de instrução, a Loja acaba fazendo uso do elemento
humano disponível para o complemento dos cargos que porventura estejam vagos. Uma
Loja para ser aberta carece da presença mínima de “sete Mestres”. Com estes,
Aprendizes e Companheiros nem por precariedade, necessitam ingressar no Oriente. O
Primeiro Diácono, por exemplo, pode ser substituído temporariamente pelo Secretário,
enquanto que o Segundo, pelo Mestre de Cerimônias. Antes que alguém possa
questionar sobre a formação do pálio nessa oportunidade, lamento informar que no Rito
Escocês Antigo e Aceito este verdadeiramente não existe.
Cabe também aqui uma última explicação relativa às constelações do
Zodíaco. Esse tema místico, não envolve astrologia no sentido de ocultismo e
adivinhações. Essa referência em Maçonaria somente é feita para salientar o
alinhamento da Terra com o Sol e as respectivas constelações no movimento de
translação do nosso Planeta. Sob o ponto de vista terreno aparentemente é o Sol se
desloca no espaço, Isso devido à inclinação do eixo terrestre e o seu plano de órbita.
Desse movimento aparente é que resultam as estações do ano opostas conforme o
hemisfério terrestre.
Desde as mais antigas civilizações o Homem observou a eclíptica do Sol na
esfera celeste, o que fez dele para o observador uma espécie de divindade associada
com a vida e a morte da Natureza. Foi através dessa observação que o ser humano
traduziu os tempos propícios dividindo os ciclos em espaços que mais tarde viriam a se
traduzir em meses e destes cada qual com um número certo de dias (calendário).

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Para os Canteiros ou Construtores da Idade Média, precursores da Moderna
Maçonaria, reservada essa ressalva ao Hemisfério Norte, onde nasceu a Maçonaria, os
equinócios e os solstícios se tornariam datas importantes sob o ponto de vista das
construções, das reuniões semestrais ou anuais, nos planos para corte da pedra
calcária, nos planos da obra, etc. O inverno sempre foi impróprio para a atividade
construtora. É por influência da Igreja que as datas comemorativas a João, o Batista e
o Evangelista são coincidentes com os períodos solsticiais.
Resultante dessa relação com a alegoria das Leis imutáveis da Natureza
está à existência da circulação horária nos ritos que a adotam, arrolada à tese com a
“Marcha do Sol” em cujos Templos Maçônicos se dão ênfase ao nascimento do Sol no
Oriente e o seu ocaso no Ocidente.
Sob o ponto de vista do Hemisfério Norte e a marcha do Astro Rei, esse
movimento aparente traz o imaginário de que pareça existir pouca Luz no extremo norte
do Hemisfério Boreal, enquanto que no Sul a aparência é de mais iluminação (Meio-
Dia). Com base nesse deslocamento aparente é que no Painel da Loja de Aprendiz e
Companheiro aparece a alegoria de três janelas, uma ao Oriente, outra ao Sul e outra
no Ocidente. Por ser a banda mais escura, no Norte simbolicamente não existe janela
o que indica ser lá o início da jornada dos Aprendizes (a Pedra Bruta, o Maço e o Cinzel).
Finalizando o presente escrito, seguem as últimas considerações.
Quando comentada a situação das Lojas Capitulares, sua extinção e a
permanência consuetudinária da balaustrada e o Oriente mais elevado, foi com o
propósito de mencionar uma contradição com o escopo doutrinário do Rito Escocês.
Infelizmente essa anomalia traz até hoje uma incongruência ritualística durante as
cerimônias de Iniciação e Elevação no tocante ao juramento do Aprendiz e do
Companheiro. Essa situação topográfica induziu a uma prática contraditória devido ao
limite imposto ao espaço na situação de outrora e permanente na atualidade. Isso fez
com que ficasse tolerado, embora equivocado, a presença no Oriente da Loja do
Aprendiz ou do Companheiro em apenas um momento específico – no juramento.
Piorando um pouco mais a situação, muitos rituais ainda preconizam a entrega de
paramentos, instruções e preleções nesse momento iniciático sobre o Oriente. Talvez
com base nessas aleivosias contra o arcabouço doutrinário do Rito é que alguns Irmãos
“achem” que indiscriminadamente Aprendizes e Companheiros possam adentrar o
Oriente. Obviamente que esse parágrafo não é justificativo para tal. Melhor mesmo seria
eliminar esse limite e voltar aos idos do ritual de 1.804, entretanto se sabe perfeitamente
que isso é meramente impossível - pelo menos por enquanto. Como dizem que a boca
se entorta conforme o hábito do cachimbo, que fique o Oriente demarcado. A título de
esclarecimento e antes que alguém propor a colocação do Altar dos Juramentos no
centro do Ocidente para resolver a questão, é imperioso se saber que o Altar dos
Juramentos fica originariamente colocado bem próximo e em frente do Altar ocupado
pelo Venerável Mestre (atual Oriente).
As afirmativas e negativas do “sim” e do “não” ocupam no papel escrito
apenas o espaço de três letras no idioma vernáculo. Todavia antes dessas objetividades
conclusivas, ponderações acuradas e embasadas na solidez da verdadeira história
serão cuidadosamente observadas. Palmilhar o mosaico da pesquisa maçônica é
cansativo e depende muito de senso crítico, pois nada está escrito claramente.
Desvendar a mensagem do símbolo e da alegoria colocada pelo autor não é prática
fácil. Sob essa óptica, centenas e centenas de rituais foram escritos ao longo dos anos
e desvendar o que neles está certo tem sido o mais difícil, até porque destes, a imensa
e grande maioria está repleta de opiniões pessoais do tipo: “faça o que eu mando e não
faça o que eu faço”.

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A construção desse arrazoado tem o escopo único de induzir o leitor à
reflexão.

MAR/2012

PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
jukirm@hotmail.com

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