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C AVALEIROS T EMPLÁRIOS NA E SCÓCIA

A C RIAÇÃO DE UM M ITO
Por: Ir. Robert L.D. Cooper
Transactions of Quatuor Coronati Lodge
Junho – 2002

Tradução: Luiz Carlos de Mello

Setembro 2016
Índice
Introdução..............................................................................................7
Sumário dos Principais Elementos do Mito moderno...........................11
Algumas Origens Escocesas do Mito...................................................13
Padre Richard A. Hay (1661–1736).....................................................13
James Anderson (c.1678–1739)...........................................................19
Cavaleiro Andrew Ramsay (c.1687–1743)...........................................23
Anderson novamente...........................................................................27
Início da Ordem Real...........................................................................31
Companheiros de Bolso e outras Publicações......................................33
William Preston (1742–1818)..............................................................37
William Hutchinson. FSA. (1732–1814)..............................................37
Resumindo...........................................................................................41
O Abade Augustin Barruel (1741–1820)..............................................51
John Robison (1739–1805)..................................................................53
Reação da Grande Loja da Escócia......................................................57
Desenvolvimentos do Mito no Século 19.............................................63
“Evidências” usadas para Sustentar o Mito..........................................79
A Excomunhão de Bruce......................................................................79
A Suposta Localidade Argyll................................................................81
Bannockburn........................................................................................85
Outros Problemas.................................................................................93
Evidências Físicas – Lápides em Kilmartin.........................................95
Outras Lápides noutros Lugares...........................................................99
Kilmory..............................................................................................103
Kilneuair............................................................................................105
Conclusão..........................................................................................105

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C AVALEIROS T EMPLÁRIOS NA E SCÓCIA
A C RIAÇÃO DE UM M ITO

Nos últimos anos o debate sobre as origens da Franco-maçonaria foi


estimulado por trabalhos de diversos autores cujos livros, e outras
publicações, tratam da história escocesa e da Franco-maçonaria
escocesa sugerindo que esta última (e a moderna Franco-maçonaria em
geral) está, de alguma maneira, conectada com a Ordem medieval dos
Cavaleiros Templários. Há muito interesse popular nesta sugestão,
mas quase nada na forma de análise racional. Este trabalho (precursor
de um livro sobre o assunto) tenta dar tal análise, focando-se na origem
e desenvolvimento de teorias que, embora não sejam novas, possuem
uma origem relativamente recente. As evidências, tanto literárias
como físicas, usadas para embasar a suposta “Conexão Templária”,
também é reexaminada sob várias perspectivas.
Robert L.D. Cooper, BA, FSA (Escócia) é curador da Biblioteca e do
Museu da Grande Loja da Escócia em Edimburgo, e possui um
interesse especial pela história da maçonaria escocesa e pela história
geral da Escócia e seu povo. Foi Iniciado na Lodge of Light Nº 1656
(SC) in 1984. Ele é autor de um importante estudo sobre uma
associação quase maçônica, The Order of Free Gardeners.

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INTRODUÇÃO
Recentemente vários autores têm sugerido que a Franco-maçonaria
moderna deriva da Ordem dos Pobres Soldados Companheiros de
Cristo e do Templo de Salomão medieval (também conhecida como os
Cavaleiros Templários e doravante referida como KT) e tentam traçar
esta linhagem mencionando, especificamente, a Escócia como o lugar
onde esta síntese aconteceu. Temos uma dívida de gratidão para com
todos estes autores por seus diversos empenhos. Eles criaram um
debate que de outra maneira não teria existido e que levou a muitas
perguntas que de outro modo igualmente também não seriam feitas.
Este processo muito positivo, conquanto especulativo, é importante
ainda que não seja por outro motivo que o de estimular os Franco-
maçons a procurarem uma maior compreensão da organização singular
da qual são membros. É tarefa dos historiadores se engajarem nesse
debate e responderem aquelas perguntas e espera-se que ao fazer isso,
estendamos nosso conhecimento e compreensão da Franco-maçonaria.
Atualmente, há, pelo menos, duas abordagens para se estudar as
origens e o desenvolvimento da Franco-maçonaria:
1. A Abordagem Acadêmica
2. A Abordagem Popular ou Alternativa (também descrita como
Mitológica)1.
A primeira pode definir “história” do seguinte modo:
“… as interpretações dos historiadores são embasadas no estudo
crítico do maior número possível de fontes relevantes, fazendo-
se todos os esforços para se contestar, e evitar a perpetuação do
mito.”2
À medida que novas ideias são criadas, e novas evidências vem à luz,
métodos analíticos são usados para examinar as teorias existentes a
respeito do que se constitui o passado. Neste contínuo processo todos
os aspectos do passado, incluindo os mitos, são reconsiderados. Esta
Abordagem da história busca constantemente questionar as teorias
aceitas, inclusive os mitos e pode ser representada esquematicamente
da seguinte maneira:3
Contrastantemente diferente, a Abordagem Popular também é um

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Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
processo contínuo e infindável. Contudo, a diferença mais importante
é que, durante sua contínua reavaliação e reexame, as características
centrais dos mitos raramente são contestadas, e nunca
substancialmente. Quando se fazem objeções, elas nunca prejudicam
seriamente a base dos mitos e, em última instância, sempre servem para
favorecê-los – ainda que a guisa de “corrigir” erros ou de fornecer
material “novo”. Deste modo os mitos podem ser reinterpretados
continuamente, mas nunca modificados fundamentalmente. Outra
característica distintiva desta Abordagem é que ela não lida com o
passado em si, mas apenas com o passado a partir de seu próprio ponto
de vista interpretativo, portanto, reforçando-o.
A Abordagem Popular, baseada no mito, pode convenientemente ser
definida como:
“… uma narrativa tradicional, especialmente em relação a
história primitiva de um grupo particular de pessoas ou
organização, ou uma que explique um fenômeno natural ou
social”.4
Ele também é um processo contínuo e interminável, e também pode
ser representado como um diagrama. Como se pode ver, este é um
sistema de exame fechado, que não apresenta os elementos que são
parte essencial no processo da Abordagem Acadêmica.
Outra diferença importante entre estas duas Abordagens é relativa as
fontes. Os praticantes da Abordagem Acadêmica estão obrigados a
considerar todas as provas relevantes, não importando quão difícil ou
desagradável tal evidência possa ser para as várias hipóteses ou teorias.
Os que adotam a Abordagem Popular não possuem este tipo de
dificuldade. Como a conclusão já está pré-determinada, ou seja, o mito
em si não está sujeito a questionamento, apenas a evidência que tende a
apoiar este ponto de vista é usada. Se outra prova for utilizada será
com o intuito de neutralização. Exemplos deste uso seletivo de fontes
e provas serão evidenciados.
É importante para os autores, explicarem os métodos historiográficos
que estão usando. Uma das críticas em relação a alguns que usam da
Abordagem Popular para com a historiografia maçônica é que
raramente eles explicam seus métodos. Consequentemente, a

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Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
Abordagem Mitológica pode inadvertidamente ser mascarada como
história acadêmica.
Este ensaio discute alguns aspectos escoceses, de um mito popular
sobre as origens da Franco-maçonaria a partir de uma perspectiva
escocesa e procura examinar a seguinte questão:
Que provas existem de que membros da Ordem medieval dos
Cavaleiros Templários fugiram da França e se estabeleceram na
Escócia, auxiliaram Robert Bruce na Batalha de Bannockburn em 1314,
e como recompensa por seus serviços, ele criou uma “organização
secreta”, a Franco-maçonaria, dentro da qual eles poderiam ocultar sua
verdadeira identidade e preservar o seu “tesouro” e conhecimento
esotérico?

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S U M Á R I O D O S P R IN C I PAI S E L E M E N T O S D O M I T O M O D E R N O
• Alguns membros dos Templários tinham conhecimento prévio da
iminente prisão em massa dos Templários na França (13 de outubro
de 1307) ordenada pelo Rei Felipe IV da França (1285–1314,
b.1268).
• Sabendo disso estes Templários fugiram para La Rochelle onde a
frota Templária (supostamente de 18 navios) estava ancorada. Os
navios deixaram o ancoradouro antes que as prisões ocorressem
levando com eles o “tesouro” Templário. A frota dividiu-se em dois
grupos: um navegou para Portugal e o outro para a costa Oeste da
Escócia, especificamente para Argyll. Uma elaboração posterior do
mito sugere que este segundo grupo também se dividiu indo, parte
para Argyll e parte para Midlothian.
• Os Templários fugitivos vieram para a Escócia porque Robert I
(1306–1329. b. 1274) havia sido excomungado pelo Papa Clemente
V (1305–1314, b. 1264), e, portanto, a lei papal não era aplicável na
Escócia.
• Argyll foi escolhida como destino porque era uma parte da Escócia
isolada e pouco povoada onde os fugitivos poderiam facilmente se
esconder. Midlothian foi escolhida porque o principal preceptoria
dos Templários na Escócia estava em Ballantradoch.5
• Na Batalha de Bannockburn estes fugitivos apareceram num ponto
crucial da luta fazendo a balança pender em favor do exército
escocês. Os Templários intervieram apoiando Robert I porque ele
havia lhes dado santuário. Por sua intervenção oportuna a Escócia
obteve sua independência.
• Depois de Bannockburn Robert I desejava que seu país recém-
independente fosse readmitido na cristandade europeia, mas não
poderia fazê-lo enquanto os heréticos Templários estivessem
espalhados pela Escócia. Então ele recorreu ao subterfúgio de criar
a Ordem da Franco-maçonaria (por vezes descrita como a “Ordem
Real da Escócia”, os “Cavaleiros de Heredom” ou “Franco-
maçonaria”) na qual os Templários medievais se integraram
discretamente. Deste modo ele podia afirmar que os Templários
não existiam mais na Escócia.

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Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito

• Como Robert I criou, para os Templários fugitivos na Escócia, a


Ordem da Franco-maçonaria, a Franco-maçonaria moderna
descende diretamente daqueles Templários fugitivos.
• Isto continuou desde 1314, sendo encorajada pela família Sinclair
que construiu a Capela Rosslyn em Midlothian, a fim de abrigar o
“tesouro” Templário trazido para a Escócia no início de 1307.6
• Existem evidências físicas da existência de Templários fugitivos na
Escócia a partir de 1307.

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Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito

ALGUMAS ORIGENS ESCOCESAS DO MITO


Os primeiros registros de uma loja escocesa começam em janeiro de
1599.7 São os Livros de Atas da Lodge Aitcheson’s Haven e são
registros de uma loja de maçons canteiros. 8 Outros registros primitivos
de uma Loja escocesa incluem, por exemplo, aqueles da Lodge of
Edinburgh (Mary’s Chapel), Nº 1, que datam de julho de 1599.9
Durante o início do século 18 a palavra “Maçom” foi citada em várias
ocasiões.10 Estas referências, maçônicas ou não, não fazem menção
aos Templários. Ainda que houvesse uma conexão com a Ordem dos
Templários medieval, estes registros não seriam passíveis de menção
dada a escassez de detalhes que possuem. Contudo, pelo menos de
acordo com o mito, estas lojas primitivas são descendentes diretas dos
Templários, mesmo não havendo nada em seus registros que apoie este
ponto de vista. Ainda mais danoso para a manutenção do mito, é que a
análise dos registros dos membros de tais lojas, mostram que esses
maçons canteiros eram trabalhadores normais, analfabetos ou
semianalfabetos, e é pouco provável que pudessem formar um
repositório ideal de conhecimento secreto e serem os guardiões do
tesouro sagrado durante os 292 anos anteriores. 11

P A D R E R I C H A R D A. H AY (1661–1736)
Por volta de 1690 o Padre Richard Augustine Hay, Prior de St.
Pieremont, cuja mãe viúva, Jean Spottiswood, se casou (c.1667) com
James Sinclair de Rosslyn, examinou todos os documentos daquela
família, então mantidos no castelo Rosslyn. Ele foi o maior
propagandista da família Sinclair, creditou-os com os títulos mais
obscuros e meticulosamente copiou os títulos, escrituras, contratos e
outras transações. Os resultados do seu trabalho estão em três grandes
volumes manuscritos.12 Não há indícios de que ele tenha sido um
Franco-maçom. Ele não reproduziu nenhuma evidência sugestiva de
uma conexão entre a família e os Templários nem fez qualquer menção
à Franco-maçonaria. Quando se está ciente de que ele também
escreveu uma breve, simpática, história dos Templários medievais, só
podemos concluir que não havia nenhuma conexão para ele encontrar.13
O que Hay fez foi trazer à luz dois documentos que, à primeira vista,
tinham muito a ver com a Franco-maçonaria escocesa e a família

13
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
Sinclair. Na sua totalidade estes Títulos, Escrituras, Petições, etc.,
detalham as atividades da família desde o início de 1037 quando um,
“Sir William Sinclare, o segundo filho de Woldonius ou Wildernus da
França” chega à Escócia, até o momento em que ele as estava
escrevendo, no início de 1700. Estes Manuscritos foram editados e
publicados anonimamente, por James Maidment (?1795–1879) em
1835.14 É o trabalho de Hay que forneceu a base sobre a qual se criou
o mito moderno, e seu trabalho continua a ser citado hoje como fonte
de evidência e prova, do envolvimento da família Sinclair com a
Franco-maçonaria escocesa e os Templários.
A obra de Hay é a de um propagandista. Ele eleva a família Sinclair
aos mais altos níveis da sociedade escocesa. Ele fez isso reproduzindo
os vários títulos e documentos da família como suporte para suas
alegações em favor da família. 15 A precisão de suas alegações não
estão em debate aqui mas a preferência na aplicação de seu material
deve ser considerada. Os documentos transcritos por Hay incluem, por
exemplo, um intitulado: “Charta Walteri de Maleville de Temple Land”.
Neste título relativo a terra, chamada Tempelland, pertencente a Walter
(c.1290), filho de Stephen de Maleville, ela está sendo transferida para
Lorde William de Saint Clair.16 O emprego de material que menciona
os Templários a partir de uma fonte tão intimamente preocupada com
os Sinclairs sem tradução e sem nenhum respeito pelo contexto
histórico poderia muito facilmente levar a conclusões incorretas.
Contudo, a contribuição mais significativa de Hay para a história da
Franco-maçonaria escocesa é a revelação da existência dos assim
chamados “Títulos St. Clair” (Hay intitula-os como: Títulos concedidos
pelos Maçons para William Saintclair) de c.1601 e 1628.17 na verdade
são cartas, não títulos, e a descrição que Hay faz delas como títulos é
muito infeliz pois isso leva a conotações enganosas de legitimidade e
autoridade. Estas cartas são, na verdade, cartas de “solicitação” e
fornecem o primeiro elo da família Sinclair, não com a Franco-
maçonaria, mas com os maçons canteiros da Escócia do começo do
século 17. Curiosamente Hay não faz nada com estes “títulos”,
simplesmente copia-os sem comentá-los – talvez como um indicativo
do seu valor e importância em relação a outros documentos que ele
transcreveu. Os “títulos” foram utilizados na formação da Grande Loja

14
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
da Escócia, em 1736, para realçar a antiguidade do Craft escocês e,
portanto, o pedigree da Grande Loja. Foi feito de modo romanceado.
Os responsáveis pela criação da nova Grande Loja estavam bem cientes
de que outras Grandes Lojas já haviam sido fundadas, uma há 19 anos
na Inglaterra e de outra 11 anos antes na Irlanda. O trabalho de Hay
chamou a atenção dos Franco-maçons escoceses para a existência
destes “títulos”, que surgiram para comprovar uma conexão deles com
um período anterior da história escocesa. A fim de se compreender a
atração em usar estes documentos, desta maneira, devemos
primeiramente considerar o que realmente são esses títulos e qual era o
seu propósito.18
O documento datado de c.1601 começa declarando que os maçons,
(isto é maçons canteiros) da Escócia, com o consentimento do Mestre
do Trabalho do Rei, William Schaw (c.1550–1602), admitiam que eles
(os maçons) tinham por muito tempo reconhecido os Sinclairs de
Roslin como seus “Patronos e Protetores”.19 É explicado que por
causa da sua negligência os maçons haviam permitido que a associação
caducasse e que por esta carta eles esperavam restabelecer a família
uma vez mais como seus “Patronos e Protetores”. Este caducar
significa que a “linha” hereditária havia sido quebrada e além disso
indica justamente o quão importante ambas as partes a consideravam –
presumindo, é claro, que ela sempre existira. Os maçons são cândidos
sobre os motivos de sua solicitação – eles não podem ir ao tribunal
terem suas disputas internas resolvidas por causa de sua pobreza e do
tempo que o sistema legal demora para chegar a uma sentença. Eles
estão pedindo a William St. Clair de Roslin para se tornar seu “patrono
e juiz”, noutras palavras, eles desejam que ele se torne o árbitro de suas
disputas internas. Os escritores do documento usam de bajulação e
chantagem emocional para tentar criar a simpatia que eles esperam
convencerá Sinclair a concordar. É dito pelos maçons, e ninguém
mais, que eles pedem a Sinclair para se tornar seu patrono e protetor e
que esta posição é hereditária para todos os seus herdeiros. A carta
leva a assinatura de William Schaw (como Mestre do Trabalho) e de
representantes de cinco Lojas de maçons canteiros.
Em 1628 os maçons canteiros da Escócia novamente procuraram por
um patrono e protetor da família. Uma segunda carta foi endereçada

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Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
para William Sinclair, o filho do Sinclair a quem a primeira carta foi
dirigida. Este documento é essencialmente o mesmo que o anterior,
utilizando muito da mesma linguagem. Ele é duas vezes mais longo
que o anterior e duas vezes mais repetitivo. Este documento repete
muito do primeiro; especialmente o tema de que a família Sinclair era
considerada pelos “maçons” (maçons canteiros) para serem seus
Patronos e Protetores, e que, novamente, por conta de sua própria
negligência haviam permitido que o patronato caducasse. Uma vez
mais não é o alegado “Patrono Hereditário”, William Sinclair, quem
está buscando reafirmar os “direitos” da família. Isto talvez indique o
quanto de importância a família dava para esta posição. Entretanto, as
diferenças entre os dois documentos demonstram que, mesmo neste
estágio muito primitivo, modificações e elaborações estavam sendo
feitas a fim de dar suporte para uma particular interpretação do passado,
neste caso, o passado como se desejava que fosse – pelos maçons
canteiros escoceses. Alega-se que:
“… eles [a família Sinclair] possuíam cartas de proteção e
outros direitos concedidos pelos mui nobres progenitores de sua
Majestade, de digna memória, junto com diversos outros
escritos dos Senhores de Roslin que se queimaram nas chamas
de um incêndio no interior do Castelo de Roslin em [sic] um …
[em branco].”20 (Traduzido)
Os maçons canteiros fazem duas alegações:
• Que um monarca escocês tinha concedido “cartas de proteção” dos
maçons canteiros para a família Sinclair.
• Que estas “cartas de proteção” tinham sido destruídas pelo fogo.
Estas alegações são enfeites. Elas não são mencionadas na primeira
carta para Sinclair. O nome do monarca que alegadamente concedeu
estes direitos não é mencionado e nem uma data é fornecida. Os
“direitos” supostamente concedidos não são especificados – algo
inédito, uma vez que é exatamente este o propósito de tais “títulos”. O
incêndio que consumiu as “cartas de proteção” não é mencionado no
primeiro documento (c.1601). Foi deixado um espaço para a data do
incêndio sugerindo que a mesma era desconhecida, ou mais
provavelmente, que os escritores não desejavam ser muito precisos.
Evidências internas revelam que estes manuscritos não podem ser
16
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
considerados como títulos na acepção aceita. Os maçons canteiros da
Escócia procuraram William Sinclair e, foram eles que lhe pediram para
assumir os deveres de árbitro, ou na terminologia deles: – “Patrono e
Protetor”; “patrono e protetor e supervisor”; “patrono e juiz”.21
Sinclair não recebe nada em troca. Ele não é descrito como Grão-
Mestre e não há nenhuma sugestão de é esperado que ele venha a
participar de uma loja de maçons canteiros. Ele é, de fato, um estranho
cujos deveres são simples e claros e que constam no documento. Esta
carta não tem nada a ver com um título ou ato de um monarca, e a
alusão ao envolvimento passado da família com os maçons canteiros é
vaga e novamente, são os maçons canteiros, não a família Sinclair, que
reivindicam tal conexão – “… from aige to aige it has been observit
amangis that the Lairds of Rosling has ever been Patrons and
Protectors …” [Tradução – de era em era tem sido observado entre nós
que os Senhores de Roslin sempre foram Patronos e Protetores]. Não
há nenhuma indicação nestas cartas, ou noutro lugar qualquer, de que
os Sinclairs de Rosslyn sabiam, ou aceitavam, as alegações dos maçons
canteiros, de que eles eram os árbitros de suas disputas internas. As
cartas não dizem absolutamente nada a respeito da Franco-maçonaria.
Houve uma grande quantidade de coisas feitas com estes documentos,
com pouca atenção dada ao que eles significam no seu contexto
histórico. Muitos os citam, ou se referem a eles, sem qualquer análise.
O primeiro documento revela que foram os maçons canteiros, não a
família Sinclair, que consideravam a família como possuindo direitos
hereditários como “Patronos e Protetores”. Desde o primeiro portanto,
há grandes problemas em aceitar os “títulos” pelo valor de face. Se os
Sinclairs por volta de 1601, já eram os Patronos hereditários dos
maçons canteiros, foram estes últimos que se esqueceram dos seus
deveres. É necessária uma carta para levar sua “negligência” à atenção
da família. Eles fazem isso muito brilhantemente, alegando que era
por sua negligência, não da família. Não há nada sugerindo qualquer
conexão entre a família Sinclair e a Franco-maçonaria ou que Sinclair
foi um “Grão-Mestre”, nem há quaisquer referências a lojas de maçons
canteiros ou de envolvimento de Sinclair com qualquer destas lojas.
Os motivos da carta, principalmente, a necessidade de um árbitro para
as disputas internas dos maçons canteiros (um “Patrono”), são

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Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
desconhecidas. Os maçons canteiros tronam óbvio que um Patrono é
necessário para poupar tempo e as despesas com os métodos usuais
para a solução de disputas – ações judiciais. Os documentos foram
escritos por maçons canteiros, para maçons canteiros, portanto, o seu
conteúdo é tendencioso e a sua interpretação deve igualmente ser assim
considerada.
Quando quatro Lojas de Edimburgo quiseram fundar uma Grande
Loja para a Escócia elas sensatamente procuraram por documentos
relevantes, tal como Anderson e Desaguliers fizeram quando da
fundação da Grande Loja da Inglaterra, em 1717, e que culminou com
“As Constituições dos Maçons Livres” de 1723.22, 23 (Daqui em diante
descritas como as Constituições). Os “Títulos” Saint Clair foram uma
benção para aqueles que procuraram fundar uma Grande Loja, pois,
eles aparentemente forneciam uma extensa linhagem remontando a
quase 140 anos antes. Pode-se suspeitar, salvo por outra razão, que os
documentos foram aceitos, sem maiores críticas, porque eles serviram
ao propósito de prover uma aparência de antiguidade, que de outro
modo faltaria.

18
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito

J A M E S A N D E R S O N ( C .1678–1739)
A primeira evidência publicada da presença do mito, e seu
desenvolvimento, em relação a Escócia, encontra-se nas Constituições
de 1723. Anderson nasceu em Aberdeen e lá seu pai foi Mestre e
Secretário da Loja, várias vezes. 24 Portanto, Anderson foi criado numa
família com fortes ligações com a loja local que existia antes do seu
nascimento e continuou existindo depois de ele se estabelecer em
Londres. Até agora, não se sabe se ele foi membro da Loja de
Aberdeen, pois os seus registros originais não puderam ser examinados.
Suas Constituições, para a nascente Grande Loja da Inglaterra contém
informações para a regulamentação de lojas, canções, música e 48
páginas devotadas a uma fantástica história da “Maçonaria”. 25, 26 A
dedicatória ao Duque de Montagu, então Grão-Mestre afirma:
“Não preciso dizer a vossa Graça que Aflições nosso Erudito
Autor passou na compilação e sumarização deste Livro a partir
dos antigos Registros, e quão acuradamente os comparou e cada
coisa fazendo de conformidade com a História e a Cronologia,
assim como tornar estas Novas Constituições como a justa e
exata Conta da Maçonaria desde o Princípio do Mundo até o
Mestrado de vossa Graça.”
J. T. Desaguliers
Deputy Grand-Master
Anderson e Desaguliers portanto, alegam fontes autênticas para a
“história”, que começa assim: “Adão, nosso primeiro Pai, criado à
Imagem de Deus, o grande Arquiteto do Universo…” e traça o
desenvolvimento da Franco-maçonaria através do Antigo Testamento,
mencionando importantes projetos de construção tais como a Torre de
Babel, o Templo do Rei Salomão e os Jardins Suspensos da Babilônia.
Ele segue com a dispersão da Franco-maçonaria pelo império grego e
pelo romano, e deste último vindo para o sul da Inglaterra. Depois
disso, a Franco-maçonaria foi apadrinhada pelos reis anglo-saxões e
subsequentemente pelos normandos. A partir daí Anderson faz um
registro daqueles (i.e. Athelstan, 924-934, e Henry VI, 1422-1461 e
1470-1471 que ou foram Grãos Mestres ou que “patrocinaram” a arte
da Franco-maçonaria mencionando, por exemplo Charles I, 1625-1649
19
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
– patrono de Inigo Jones, 1573-1652 e que também teria sido um Grão-
Mestre; Charles II, 1660-1685 – um “Maçom Livre Aceito” – e William
II de Orange, 1689-1702) (“que pela maioria é considerado um Maçom
Livre”).
“Os Reis da Escócia muito encorajaram a Arte Real; desde os
primórdios dos Tempos até a União das Coroas, como se afigura
pelas ruínas de gloriosos edifícios daquele antigo Reino, e pelas
Lojas lá mantidas sem Interrupção por muitas centenas de Anos,
os registros e Tradições das quais testificam o grande Repeito
daqueles Reis por esta honrada Fraternidade, que sempre deu
Provas abundantes de seu Amor e Lealdade, de cujo meio
surgiu o antigo Brinde dentre os Maçons Escoceses, a saber,
Deus Abençoe o Rei e a Arte!”
“Tão pouco foi o Exemplo real negligenciado pelo Nobre,
Cavalheiro e Clero da Escócia, que se uniram e, cada coisa
fizeram para o bem da Arte e da Irmandade, sendo os Reis
amiúde Grãos Mestres, até que, dentre outras coisas, os Maçons
da Escócia foram autorizados a um fixo Grão-Mestre e um
Grande Vigilante, com Soldo pela Coroa, e também
reconhecidos por todo Novo Irmão do Reino no seu Ingresso,
que seus afazeres não eram apenas o de regular o que
pudesse ocorrer de impróprio na Irmandade, mas também
ouvir e finalmente determinar toda Controvérsia entre o
Maçom e o Lorde, para punir o maçom, se o merecesse, e
obrigar ambos a Termos equitativos: Nas Audiências, se o
Grão-Mestre estivesse ausente (posto sempre ter nascido
nobre) o Grande Vigilante presidia. Este Privilégio
permaneceu até as Guerras Civis [1642–1651], mas ora está
obsoleto; nem poderia ser bem recebido enquanto o Rei não vier
a ser Maçom, porque não o foi realmente exercido na União dos
Reinos [1707].”27
Em 1721 a Grande Loja da Inglaterra pediu a Anderson para “…
compilar as antigas Constituições Góticas de uma maneira nova e
melhor.” que resultou nas Constituições de 1723 e a parte, acima,
relativa à Escócia indica que Anderson pode ter tido acesso ou que

20
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
sabia dos “títulos” transcritos por Hay. As partes acima, em negrito,
possuem uma forte semelhança com o tom e o sentido dos tais “títulos”.
Há mais do que um leve indício de orgulho por ser escocês pois
Anderson especificamente vincula a Escócia com a preservação da
“verdadeira Maçonaria”, na Escócia, até que ela possa ser revivida na
Inglaterra. O renascimento da “Maçonaria”, na Inglaterra, foi
estimulado por um “Rei Maçom” – James VI da Escócia (James I da
Grã-Bretanha) (reinou, na Escócia de 1567–1625, e na Grã-Bretanha de
1603–1625). Anderson comenta:
“Ainda mais, o grande Cuidado que os Escoceses tiveram com a
verdadeira Maçonaria provou-se muito útil posteriormente para
a Inglaterra; pois a erudita e magnânima Rainha Elizabeth I, [de
Inglaterra 1558-1603] a qual encorajou outras Artes,
desencorajou esta; porque em sendo Mulher, não poderia ser
feita Maçom, além do que, assim como outras grandes
Mulheres, ele pode ter empregado muitos Maçons, tal como
Semiramis e Artemísia.
Sobrevindo seu Falecimento, o Rei James VI da Escócia a
sucedendo à Coroa da Inglaterra, sendo um Rei Maçom, reviveu
as Lojas Inglesas; e como foi o Primeiro Rei da Grã-Bretanha,
ele também foi o Primeiro Príncipe do Mundo que restaurou a
Arquitetura Romana…”28
Estas páginas representam a mais antiga referência à “Maçonaria”
escocesa, e a breve, mas enfática, referência de Anderson da
importância da Escócia na origem e renascimento da “Maçonaria”
assegurou que o aspecto escocês nunca pudesse ser ignorado por
completo, embora sua contribuição venha a ser sempre apresentada e
discutida ambiguamente depois. Anderson não menciona os
Templários, mas objeta dizendo:
“Nem, se fosse um expediente, poder-se-ia fazer aparentar, que
desta antiga fraternidade, as Sociedades ou Ordens de
Cavaleiros Guerreiros, e as Religiosas também, no decorrer do
tempo, tomaram de empréstimo muito dos solenes Usos; pois
nenhuma delas foi melhor instituída, mais decentemente

21
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
instalada, ou mais sacralmente observa suas Leis e Obrigações
como os Maçons Aceitos o fazem…”29
Não se pode presumir que isto seja uma referência aos Templários
(medievais ou não). É importante observar que ele coloca a Franco-
maçonaria em primeiro lugar e que: “as Ordens de Cavaleiros
Guerreiros e as Religiosas também…” tomaram emprestado daquela
antiga fraternidade. Isto mostra que no início do século 18 a
“Maçonaria” era considerada precedente as Ordens de cavalaria e
religiosas e que, foram elas que tomaram de empréstimo “muitos dos
solenes Usos” da “Maçonaria” e não o contrário. Esta vaga referência
aos “Cavaleiros Guerreiros” não é encontrada em sua breve peça sobre
a “Maçonaria” escocesa.

22
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito

C AVAL E I R O A N D R E W R A M S AY ( C .1687–1743)
Ponderemos, em seguida, sobre o Discurso de Ramsay. Ramsay,
filho de um padeiro, nasceu em Ayr, Escócia. Ele foi Iniciado na Horn
Lodge (Londres) em março de 1730 e, portanto, sua experiência
maçônica não era escocesa mas inglesa. Deve ser notado que a Horn
Lodge também era a Loja da qual James Anderson era membro, estando
registrado como tal em 1723.30 Se ele encontrou ou não, Ramsay
naquela Loja não se sabe. O Discurso de Ramsay foi alegadamente
feito numa reunião da Grande Loja da França em 1737, embora muitos
hoje considerem isto como sendo improvável. 31 Entretanto, o
Discurso, ainda existe em dois formatos e o fato de que ele foi
projetado para ser feito, se realmente não o foi, diante da Grande Loja,
lhe garantiu sua importância na história maçônica. 32 Em seu Discurso
Ramsay parece tentar melhorar o apelo da Franco-maçonaria para as
camadas superiores da sociedade francesa que teria achado a ideia de se
envolver com o trabalhador humilde (como o maçom canteiro) um
passatempo difícil de se aceitar, i.e.:
“A palavra Franco-maçom, portanto, não deve se tomada no
sentido literal, grosseiro e material, como se nossos fundadores
houvessem sido simples trabalhadores em pedra, ou meramente
gênios curiosos que desejavam enaltecer as artes.” 33
Ao sugerir que a Franco-maçonaria era em última instância nobre e
cristã por origem e natureza, ela tornou-se muito mais aceitável para
essas pessoas. Além disso Ramsay também não fez menção aos
Templários. Ele menciona os Cruzados e a Ordem de São João.
Porém, a Franco-maçonaria surgiu primeiro e somente mais tarde uniu-
se com os Cruzados. Nisto Ramsay concorda com Anderson, que a
Franco-maçonaria era anterior a Ordem medieval dos Cavaleiros
Templários.
“Nossos ancestrais, os cruzados, se congregaram na Terra Santa
vindo de todas as partes da Cristandade, muito ansiavam por
unirem-se numa única Fraternidade os indivíduos de todas as
nações.”34
“Nossa ordem, portanto, não deve ser considerada como um
renascimento dos Bacanais, mas como uma Ordem fundada na
23
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
remota antiguidade, renovada na Terra Santa por nossos
ancestrais…”35
“Nossa Ordem construiu uma íntima união com os Cavaleiros
de São João de Jerusalém. Desde aquele tempo, nossas lojas
tomaram o nome de Lojas de São João. Esta união foi feita
conforme exemplo estabelecido pelos Israelitas quando erigiram
o segundo Templo que, enquanto manuseavam a trolha e a
argamassa com uma mão, sustentavam a espada e o broquel na
outra.”36
Alguns sugeriram que Ramsay quis dizer Templários e não Cruzados
e Hospitalários. A interpretação das palavras dele deste modo parece
se dever ao fato de que foi na França, que em poucos anos, a Ordem
Maçônica dos Cavaleiros Templários (e alguns outros altos graus)
nasceu, e que as ideias românticas atribuídas aos seus atos, riqueza (que
foi “perdida”), e sua injusta abolição, se tornaram a escolha natural para
um novo cerimonial maçônico. Contudo, tentar interpretar o que
alguém quis dizer, i.e.: “Ramsay fez questão de enfatizar que a
irmandade era descendente dos cavaleiros Cruzados, que seria uma
tênue referência aos Templários”, não pode ser mais do que
especulação.37 Se Ramsay estava aludindo a um grupo específico
de Cruzados se poderia pensar que era mais provável que fosse a
Ordem de São Lázaro da qual ele era cavaleiro. Mesmo esta sugestão
deve ser mera conjectura. O fato que permanece é que, a única
conexão que ele fez foi entre a Franco-maçonaria e os Cavaleiros de
São João de Jerusalém – não com os Cavaleiros Templários.
Ramsay também fornece uma conexão franco – escocesa e é, a que
continua sendo usada:
“… na Escócia, por conta da estreita aliança entre os franceses e
os escoceses. James, Lorde Stewart da Escócia, [?-1309] foi
Grão-Mestre de uma loja estabelecida em Kilwinning, no oeste
da Escócia, MCCLXXXVI [1286] logo após a morte de
Alexander III, Rei da Escócia, [1249–1286] e um ano antes de
John Balliol ascender ao trono. Este Lorde recebeu como
Franco-maçons em sua Loja os Condes de Gloucester e de
Ulster, um inglês e o outro irlandês.”38

24
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
Nesta passagem, ele introduziu um dos elementos centrais do mito tal
como usado por expoentes posteriores – que Kilwinning era, no século
13, um centro da Franco-maçonaria. Ele afirma que escoceses,
irlandeses e ingleses membros da nobreza estavam envolvidos com a
Franco-maçonaria desde o seu início. As falhas aqui são numerosas e
foram perpetuadas até hoje. A aliança com a França nunca existiu
antes de 1296, e até 1286 a Escócia estava em relativa paz, Alexander
III havia se casado com a filha de Henry III (1216–1272;) da Inglaterra.
No entanto, os fatos eram irrelevantes. Ramsay estava criando uma
antiguidade para a Franco-maçonaria que, embora não existisse, foi um
enorme apelo para a aristocracia francesa.

25
26
A N D E R S O N N O VAM E N T E
Em 1738 Anderson publicou suas Novas Constituições. Se ele tinha
conhecimento do Discurso de Ramsay do ano anterior não se sabe. No
Capítulo 6 ele detalha: “A Maçonaria na Escócia até a União das
Coroas” (1707) e fornece muito mais informações relativas a história
da Franco-maçonaria na Escócia do que nas Constituições de 1723. 39, 40
Ele começa fazendo uma breve referência aos pictos e escoceses antes
de iniciar uma história específica que começa com Fergus II em
403A.D..41 Em seguida lista os monarcas da Escócia, por vezes
mencionando indivíduos que foram notáveis nas suas atividades de
construção, sendo o primeiro, Malcolm III (c.1031–1093) a quem ele
menciona assim:
“Ele construiu a antiga Igreja de Dunfermline, um Sepulcro
Real, e nele assentou a Pedra ao pé do Túmulo da Catedral de
Durham, a qual ele dotou ricamente. Ele fortificou suas
Fronteiras, Castelos e portos marítimos, enquanto Grão-Mestre
Real e Patrono das Artes e Ciências, até sua morte em
1093A.D..”42
Embora Malcolm III seja declarado como o primeiro Grão-Mestre da
Escócia há, pelo menos, um outro que foi declarado como tendo
“patroneado” a Arte. O uso por Anderson desta palavra talvez seja um
indicativo de conhecimento do conteúdo dos “Títulos” de St. Clair.
Para maior clareza vale a pena listar aqueles que Anderson citou como
tendo ocupado estas posições.
Nome Nasc – Morte Situação
Malcom III 1031-1093 Grão-Mestre
Alexander I c. 1078-1124 Patrono
David I 1084-1153 Grão-Mestre
William o Leão 1143-1214 Grão-Mestre
Henry Wardlaw, Bispo de St. Andrews ?-1440 Grão-Mestre
James I 1394-1437 Grão-Mestre
William Sinclair, Conde de Orkney c. 1404-1480 Grão-Mestre

27
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito

Nome Nasc – Morte Situação


William Turnbull, Bispo de Glasgow ?-1454 Grão-Mestre
Sir Robert Cockeran ?-1482 Grão-Mestre
Alexander, Lord Forbes ?-1491 Grão-Mestre
William Elphinston, Bispo de Aberdeen 1431-1514 Grão-Mestre
Gavin Dunbar, Bispo de Aberdeen ?1455-1532 Grão-Mestre
Gavin Douglas, Bispo de Dunkeld ?1474-1522 Grão-Mestre
George Creighton, Abade de Holyrood
? Grão-Mestre
House
Patrick, Conde de Lindsay (?) ?-1526 Grão-Mestre
Sir David Lindsay ?1551-1610 Grão-Mestre
Andrew Stewart, Lord Ochitree fl. 1548-1593 Grão-Mestre
Sir James Sandilands, Cavaleiro de
?-1579 Grão-Mestre
Malta
Claud Hamilton, Lord Paisley ?1543-1622 Grão-Mestre
James VI & I 1566-1625 Franco-maçom

De acordo com Anderson o primeiro Grão-Mestre dos “maçons”


escoceses viveu no início do século 11, quase cem anos ates da
fundação da Ordem dos Templários medievais.
Robert I (1274–1329) tem sido usado como figura importante na
Abordagem Popular da história da Franco-maçonaria escocesa. Seu
envolvimento será discutido com mais detalhes mais adiante.
Entretanto, como Anderson foi o primeiro a fornecer uma “história” da
Franco-maçonaria é apropriado repetir aqui o que ele tem a dizer sobre
este monarca escocês:
“Robert I. Bruce fugiu para a Escócia. E foi coroado em
1306. e após muitos Conflitos dolorosos, derrotou totalmente o
Rei Edward II. [1307–1327] de Inglaterra em Bannockburn,
1314A.D.. Obteve uma Paz honrosa, e morreu ilustre,
1329A.D..”43

28
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
“Durante a Competição, [pela coroa] a Maçonaria foi
negligenciada; mas após as Guerras, O Rei Robert I Bruce,
havendo estabelecido seu Reino, imediatamente empregou o
Ofício na reparação de castelos, Palácios e Casas; e a Nobreza
e o Clero lhe seguiram o Exemplo até ele morrer, 1329A.D..” 44
Também é importante a referência a William Sinclair (c.1404–1480),
Conde de Orkney:
“Neste reinado de James II [1430–1460] William Sinclair o
grande conde de Orkney e Caithness era o Grão-Mestre, e
construiu a Capela Roslin Chapel próxima a Edimburgo, uma
Obra Prima do melhor Gótico, 1441A.D.. Em seguida o Bispo
Turnbull de Glasgow, ali fundou Universidade, 1454A.D..”45
Contudo, deve-se notar que Anderson se refere a Sinclair apenas
como um na sucessão de Grãos Mestres e que ele serviu nesta
qualidade mítica por poucos anos.
As Constituições de 1723 e 1738 são os primeiros impressos das
“histórias” da Franco-maçonaria e, embora ambos contenham grandes
quantidades de ficção a diferença no tratar da história “Maçonaria”
escocesa nas duas edições é surpreendente. A edição de 1723 é um
relato generalizado, i.e. “Os Reis da Escócia muito encorajaram a Arte
Real…” e não fornece o nome de nenhum rei em particular. William
Sinclair, Conde de Orkney, não é mencionado. Porém, ela contém a
semente de parte do futuro mito ao declarar que os “Maçons” da
Escócia tinham um “fixo Grão-Mestre e Grande Vigilante com Soldo
pela Coroa”. Esta é a mais antiga sugestão de que havia um Grão-
Mestre dos Franco-maçons escoceses e que ele era um “empregado” do
monarca. As Novas Constituições de 1738 fornecem informações mais
detalhadas, mesmo apesar de serem quase todas imaginárias. O
detalhado e cronológico relato da “Maçonaria” na Escócia principiando
com Fergus II, sustenta que a “Maçonaria” precede o estabelecimento
da Ordem medieval dos Templários, e pela primeira vez dá uma lista de
Grãos Mestres da Franco-maçonaria escocesa, um dos quais foi
William Sinclair, o sétimo na lista de vinte. É difícil ignorar o fato de
que, em 1736, a Grande Loja da Escócia tinha William St. Clair de
Rosslyn como seu primeiro Grão-Mestre, algo de que Anderson teria
conhecimento. Uma discussão mais detalhada sobre o papel da família
29
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
Sinclair e maiores referências à Capela Roslin não podem ser dadas
aqui devido a limitações de espaço.

30
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito

INÍCIO DA ORDEM REAL


As origens da Ordem Real da Escócia são obscuras e foram
exploradas e discutidas com detalhes noutro lugar. 46 É apropriado aqui
mencionar brevemente aquela parte da história tradicional da Ordem
pois ela possui relevância para o mito ora sob exame. O falecido
Irmão Robert S. Lindsay em sua história A Ordem Real da Escócia
aponta que nos primeiros 26 anos de sua vida, a Ordem (1741-1767)
não fez nenhuma referência a Robert I ou à Batalha de Bannockburn.47
O Rei dos Escoceses era reconhecido como sendo o Grão-Mestre
hereditário da Ordem mas, nenhum monarca em particular foi
nominado. Leis estabelecidas em 5 janeiro de 1767 alterou esta
situação:
“A Eleição destes Oficiais ocorrerá anualmente no quarto dia de
Julho por ser o Aniversário da Batalha de Bannockburn, travada
ao ano 1314, após a qual o Rei Robert Bruce conduziu uma
Grande Loja desta Ordem e criou vários Cavaleiros no ou
próximo ao Campo de Batalha como o fizera depois, tantas
vezes mais em Kilwinning. Este foi o início da tradição
Bruce…”48
Nesta época o levante Jacobita de 1745 ainda estava fresco na
memória de muitos, e a escolha de Bruce como um dos indivíduos mais
associados com a independência da Escócia (vista por muitos como
perdida na União dos Parlamentos em 1707) pode ter sido ponderada
para ser uma “demonstração de desrespeito” com as autoridades que
vigorosamente impunham leis que visavam eliminar algumas diferenças
culturais mais óbvias da Escócia (p. ex. tocar gaitas de fole, uso do
tecido xadrez, etc.).49 Parece que a Ordem teve uma vida muito
vigorosa e ativa até 1788 quando se observam os primeiros sinais de
declínio. A Ordem permaneceu virtualmente moribunda entre 1794 e
1839.50

31
32
C O M PAN H E I R O S D E B O L S O E O U T R A S P U B L I C A Ç Õ E S
Cópias pirateadas das Constituições de Anderson de 1723 estavam em
circulação, pelo menos, desde 1735 começando com o Companheiro de
Bolso de Smith, Londres [e Dublim] (1735). Na formação da Grande
Loja da Escócia os Oficiais titulares eram supridos com cópias deste
para sua orientação. O mesmo trabalho foi publicado em Dublim,
também em 1735, e houve uma reedição do livro de Smith por Torbuck
em Londres (1736). Uma segunda edição foi publicada em 1738.
Estas cópias piratas podem ter sido uma das razões para a produção da
edição de 1738 de Anderson. Esta também reproduziu o panfleto:
“Defesa da Maçonaria, publicado em 1730A.D. provocado por um
Panfleto chamado Maçonaria Dissecada”, como resposta a essa
revelação de Samuel Pritchard (1730) a qual sugeria que Anderson
tinha outro motivo para uma nova edição das suas Constituições. Tais
cópias pirateadas, ou “Companheiros de Bolso”, eram comuns durante
o século 18. Obviamente, era um mercado lucrativo e qualquer coisa
relacionada com a Franco-maçonaria era vendida facilmente.
Em 1752 o primeiro Companheiro de Bolso “escocês” foi publicado
por W. Cheyne (Edimburgo).51 Ele não é nada mais do que uma cópia
das Constituições de Anderson, mas, pelo menos, o editor é
desavergonhado e logo de início no Prefácio declara:
“Pelo Desejo de um grande número de Irmãos esta História foi
composta, (que em sua maior Parte, é extraída do Livro das
Constituições do Dr. Anderson).”
O que é surpreendente é que Cheyne não menciona a história
maçônica escocesa e ainda omite as poucas referências originais de
Anderson. A única concessão à Escócia é a inclusão de: “Uma lista em
ordem alfabética das Lojas que estão na relação da Grande Loja da
Escócia.”52
Bem depois, em 1759 um Companheiro de Bolso publicado na
Inglaterra por J. Scott (terceira edição) não faz nenhuma referência à
Escócia, o que, junto com a semelhante omissão de Cheyne, sugere que
uma história maçônica escocesa ainda não havia sido estabelecida,
embora provavelmente estivesse em processo de criação.
Só em 1761 que encontramos a primeira referência, na Escócia, à

33
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
Escócia e sua história maçônica. Ruddiman, Auld e Companhia
(Edimburgo), inicialmente seguem a versão da história escocesa, de
1738 de Anderson, começando pelos Pictos (297A.D.–840A.D.), mas o
escritor rapidamente muda para uma história mais detalhada. O autor
declara: “A Fraternidade dos Maçons Livres da Escócia sempre
reconheceu seu Rei e Soberano como seu Grão-Mestre.”53 Em
seguida, o autor afirma que, antes de 1441 os reis da Escócia eram
Grãos Mestres do Craft. Quando não estavam presentes, eles
nomeavam um dos Irmãos como um Delegado. Ele sustenta que James
I (1406–1437) foi um “Grão-Mestre Real”. Em seguida a narrativa
prossegue:
1441. “William St. Clair Conde de Orkney e Caithness, Barão
de Roslin, etc, etc, recebeu a concessão deste cargo [Grão-
Mestre] do Rei James II. [1437–1460].”
“Por outro ato do dito Rei James II este cargo se tornou
hereditário para o dito William St. Clair, seus herdeiros e
sucessores do Baronato de Roslin; no qual a nobre família
permaneceu sem qualquer interrupção até anos recentes.”
“Eles [a família Sinclair] conservaram-se à testa de sua corte
(ou no estilo Maçônico) reunindo sua Grande Loja em
Kilwinning no Oeste do País, onde se presume que os Maçons
inicialmente começaram na Escócia para manter, regular e
estabeleceram Lojas.”54
Embora Ramsay tenha sido o primeiro a mencionar Kilwinning
afirmando que; “James, Lorde Steward of Scotland, era Grão-mestre
de uma Loja ali estabelecida …” em 1286, Ruddiman e Auld usam
Kilwinning mas, elevam a família Sinclair descrevendo-os como “lá
presidindo a Grande Loja (p. ex. eram Grãos Mestres) e que eles assim
a presidiam desde c.1286. O mito está nessa ocasião no estágio
primário de criação porém mesmo neste estágio primitivo as
contradições claramente evidentes. Neste caso, como os Sinclairs
poderiam ser Grãos Mestres em 1286 se eles foram nomeados pela
primeira vez para este posto em 1441?
depois disso uma segunda edição do Companheiro de Bolso de
Ruddiman e Auld foi publicada por eles em 1763. A mesma publicação

34
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
foi impressa para Alexander Donaldson de Edimburgo também naquele
ano. Nada de novo foi acrescentado. Curiosamente, o livro de
Donaldson afirma que ele foi vendido nas suas lojas em Londres e
Edimburgo. Em 1765, mais uma nova edição foi publicada por Auld e
Smellie (Edimburgo). Também esta não tinha nada de novo a
acrescentar. Em 1765, uma cópia quase exata, foi publicada por
Galbraith de Glasgow, e em 1771, Peter Tait (Glasgow) publicou um
Companheiro de Bolso muito semelhante, que repetia, com algumas
variações menores, o mesmo capítulo sobre a “história” da Franco-
maçonaria escocesa. Fica claro que havia nesta época uma
considerável demanda por tais trabalhos. Dada a repetição da mesma
“história” contida em cada um deles pode-se argumentar que esta
versão do passado adquiriu ampla circulação e aceitação.
Em 1769 Wellins Calcott publicou: “Uma Cândida Dissertação dos
Princípios e Práticas da Antiga e Honrosa Sociedade dos Maçons
Livres e Aceitos;…” (Londres). Ela continha uma reprodução literal do
capítulo intitulado: “Um Relato do Estabelecimento da Presente
Grande Loja da Escócia de Ruddiman e Auld”. Isto demonstra que em
1769, não apenas na Escócia, mas também na Inglaterra esta versão da
história maçônica escocesa estava sendo disseminada. Embora o
Companheiro de bolso de estivesse sendo vendido em Londres nesta
época, Calcott pode ter sido a primeira fonte inteiramente inglesa a dar
uma versão escocesa da história maçônica.
Em 1774 um pequeno livreto intitulado “Uma Descrição da Capela
de Roslin, de James Murray” foi publicada em Edimburgo por James
Murray, e conquanto não fosse um “Companheiro de Bolso”, ele
demonstra que nesta época a capela não possuía conotações maçônicas.
Só quando reimpresso em 1778 o editor faz um apelo direto aos
Franco-maçons apesar de o livreto não conter outras referências
maçônicas além da dedicatória.55 Escrita pelo Bispo Episcopal, Dr
Robert Forbes, (1708–1775) ela provê uma primeira descrição da
capela e sua história. O Bispo Forbes não faz referência às
Constituições de Anderson, ou a qualquer um dos inúmeros
Companheiros de Bolso nem menciona a Franco-maçonaria ou os
Templários. Não foi por acaso que esta segunda cópia, pirateada, foi
publicada em 1778, foi para tirar vantagem do mercado criado por

35
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
conta da morte de William St. Clair de Roslin naquele mesmo ano. O
livreto trazia em sua dedicatória: “Humildemente endereçado à Antiga
Fraternidade dos MAÇONS LIVRES E ACEITOS”. Dada a grande
quantidade de material relacionado com a história da Franco-maçonaria
escocesa em circulação, na Escócia, naquele tempo, é quase inevitável
de se concluir que: a conexão entre a Franco-maçonaria escocesa, os
Templários e a Capela Rosslyn, ainda não tinha sido inventada.

36
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito

W I L L I A M P R E S T ON (1742–1818)
Preston nasceu em Edimburgo e é mais lembrado por suas Ilustrações
da Maçonaria (1772). Este trabalho foi tão popular que, ao todo,
foram publicadas 17 edições (sem incluir as reproduções modernas).
Embora Preston fosse um escocês e apesar de a primeira edição das
Ilustrações ter sido publicada onze anos depois da primeira “história”
escocesa sobre a Franco-maçonaria escocesa, ele não fez nenhuma
referência àquela história. Sua narrativa sobre as origens da Franco-
maçonaria geralmente acompanha Anderson (a quem ele cita) no
entanto ele começa pelos druidas em vez de Adão, e lista os Grãos
Mestres (da Inglaterra) partindo de Santo Albano como Grão-Mestre até
o então Grão-Mestre (da Primeira Grande Loja da Inglaterra), Robert
Edward, 9º Lorde Petre (1742–1801). Aqui nos interessa a seguinte
passagem:
“Durante o reinado de Henrique II, o grão-mestre dos
Cavaleiros Templários superintendeu os maçons, empregou-os
na construção de seu Templo na Fleet Street em 1155A.D.. A
Maçonaria continuou sob o patronato desta Ordem até o ano de
1199.”56
Preston, acompanha Anderson, ao posicionar a Franco-maçonaria
antes da formação dos Templários. Neste caso, seu único vínculo com
a “Maçonaria” foi um período de 44 anos. De acordo com este relato a
associação, se é que existiu, cessou muito tempo antes de os Templários
medievais serem suprimidos. Mesmo esta breve referência, não faz
parte da primeira edição (1772) de Preston das suas Ilustrações.

W I L L I A M H U T C H I N S O N . FSA. (1732–1814).
Outro autor do período que precisa ser mencionado é William
Hutchinson. O Espírito da Maçonaria foi publicado pela primeira vez
em 1775, e tal como os trabalhos de Preston e Anderson, foi
oficialmente sancionado pela Grande Loja da Inglaterra. Há uma série
de referências em seu trabalho que são significativas para a presente
discussão:
“… toda a Europa foi influenciada pelo clamor e a loucura de
um monge entusiasta, que incitou os fanáticos religiosos para a

37
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
guerra santa; a qual tinha por finalidade recuperar a cidade santa
e a Judeia das mãos, das mãos dos infiéis, legiões armadas … às
dezenas de milhares de todos os estados da Europa para lá
afluíram, para desperdiçar seu sangue …” p.180
“Foi julgado necessário que aqueles que tomassem o estandarte
da cruz nesta empresa, deveriam se constituir à maneira das
associações visto que estas poderiam protegê-los de espiões e
traições: e que cada qual pudesse reconhecer seu companheiro
… tanto na escuridão como na luz.” p.180
“… os sacerdotes ao projetarem as Cruzadas, sendo possuidores
dos mistérios da maçonaria, o conhecimento dos antigos, e da
linguagem universal que sobreviveu à confusão do Sinar,
reavivaram as ordens e regulamentos de Salomão e nelas
iniciaram as legiões acompanhando-as até a Terra Santa:– daí o
segredo observado pelos cruzados …” p.184.
“Dentre outras evidências que me autorizam conjecturar que os
maçons foram às guerras santas, é a doutrina daquela ordem dos
maçons, denominada de ORDEM SUPERIOR. Sou levado a
crer que a ordem era de origem escocesa; nações diferentes
podem ser distinguidas por ordens diferentes: mas seja como
for, isso me prova plenamente que os maçons eram cruzados.”
p.184.
“Podemos conjecturar que estando findas as campanhas
religiosas [i.e., as Cruzadas], que os homens iniciados nos
mistérios da maçonaria, engajados e submetidos àquelas normas
e ordens, que as quais foram estabelecidas para a condução das
nações na guerra santa, constituir-se-iam em Lojas, e manteriam
suas reuniões sociais quando retornassem à terra natal,
comemorando suas aventuras e de bons ofícios mútuos na
Palestina e para a propagação daquele conhecimento no qual
haviam sido iniciados.” p.213.
Em resumo, os pontos principais de Hutchinson são:
• Os participantes das Cruzadas eram agrupados em “sociedades”
para protegê-los de espiões e capacitá-los a identificarem uns aos outros
tanto à noite como de dia.

38
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
• Estas “sociedades secretas” eram admitidas e encorajadas pela
igreja romana.
• Os Sacerdotes eram “maçons” e possuidores, dos mistérios da
maçonaria, o conhecimento dos antigos, e da língua universal.
• Foram estes Sacerdotes que iniciaram e organizaram aqueles que
iam para as Cruzadas.
• Alguns maçons escoceses faziam parte de uma Ordem Superior de
“maçons”.
• Os Franco-maçons, especialmente “maçons” escoceses, eram
Cruzados.
• Uma vez que estes Iniciados retornassem para casa, eles
desejariam manter contato uns com os outros para a propagação do
“conhecimento do iniciado” bem como por razões pessoais e sociais.
O método mais óbvio foi o de perpetuar as suas Lojas.
Embora Hutchinson não fosse um escocês (ele era oriundo de
Barnard Castle, Co. Durham) ele visivelmente tinha algumas ideias
sobre como e onde, os escoceses adaptaram as origens e o
desenvolvimento da Franco-maçonaria e particularmente a
relacionaram aos Cruzados. Ele sugere que uma “Ordem Superior” de
“maçons” tinha origem escocesa e que os “maçons” eram cruzados.
Ele, em comum com todos os autores anteriores da história maçônica
até aquela época, tinha uma clara convicção de que a Franco-maçonaria
era anterior aos Cruzados. Que a Ordem medieval dos Cavaleiros
Templários, que ele nunca menciona, deve ter surgido depois da
Franco-maçonaria. Isto demonstra que um outro autor maçônico
proeminente, junto com autores anteriores e contemporâneos, desde
Anderson até Preston, considerou a “maçonaria” como preexistente à
Ordem medieval dos Templários.
O ponto de vista escocês da obra de Hutchinson é importante porque
pouco depois Deuchar fundou a Ordem dos Cavaleiros Templários
moderna (o Real Grande Conclave) fazendo com que seus livros se
tornassem muito populares na Escócia. A primeira edição do Espirito
da Maçonaria publicada na Escócia foi produzida por McEwan
(Edimburgo) em 1813. Uma segunda edição do livro foi publicada,
novamente por McEwan, no mesmo ano. Uma terceira edição,

39
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
publicada por Dick (Edimburgo), apareceu em 1815. Três edições em
dois anos, indicam um interesse muito forte nesta publicação e
portanto, nas ideias de Hutchinson a respeito dos primórdios da Franco-
maçonaria. Todas estas edições foram produzidas logo após Deuchar
ter começado a ficar a cargo dos cerimoniais “estranhos” praticados
inicialmente por algumas Lojas do Craft escocesas. Não é
desarrazoado sugerir que aqueles Franco-maçons escoceses
interessados naqueles cerimoniais, declarados pela Grande Loja da
Escócia como não Maçônicos, ansiosamente comprassem a obra de
Hutchinson. O material a partir do qual se criou o mito, estava
facilmente disponível e fora amplamente lido.

40
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito

RESUMINDO
O trabalho do Padre Hay sobre a documentação Sinclair chamou a
atenção dos Franco-maçons para a existência de documentos
(principalmente duas cartas) que poderiam sugerir uma longa linhagem
para a “maçonaria” escocesa. Os envolvidos na fundação da Grande
Loja da Escócia interpretaram estes documentos como sendo prova da
existência de Títulos Reais ainda mais antigos que concediam à família
Sinclair direitos e privilégios hereditários inespecíficos sobre os
maçons canteiros da Escócia. Todas as falhas, erros e ambiguidades
nos “títulos” foram ignoradas. Tendo um descendente de Sinclair
(também William, 1700–1778, vide lâmina 1) a quem os “Títulos”
originalmente teriam sido destinados, renunciado a estes alegados
direitos hereditários e elegendo-o o primeiro Grão-Mestre da nova
Grande Loja, foram dados os primeiros passos para a criação de uma
“História Tradicional”.
Em 1723 Anderson editou, sob a autoridade da Grande Loja da
Inglaterra, a sua breve e fantástica história da Franco-maçonaria na qual
ele declarava que reis da Escócia tinham sido Grãos Mestres e um, pelo
menos, havia sido “Patrono” do Craft. Em 1738 Anderson compilou
uma lista de Grãos Mestres do Craft escocês começando com Fergus II,
1º GM da Escócia. Incluído na lista, durante o reinado de James II,
estava William Sinclair, Conde de Orkney, o qual ele afirmava seria um
Grão-Mestre. A partir de então até a União das Coroas (1603)
Anderson lista 12 subsequentes Grãos Mestres da Escócia.
O “Discurso” de Ramsay introduziu o conceito de uma tênue conexão
entre a Franco-maçonaria e a Terra Santa e mencionou os Cruzados.
Ele especificamente ligou a Franco-maçonaria aos Cavaleiros de São
João de Jerusalém. Assim como todos os historiadores da Franco-
maçonaria daquele tempo ele não fez nenhuma menção à Ordem
medieval dos Templários. Em 1761, no Companheiro de Bolso de
Ruddiman e Auld elabora sobre o texto de Anderson, uma infundada
declaração de que William Sinclair foi um Grão-Mestre ao afirmar:
“Por um outro ato o dito Rei James II, este cargo foi feito
hereditário para o dito William St. Clair, seus herdeiros e

41
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
sucessores no Baronato de Roslin: no qual a nobre família, tem
continuado sem interrupção até poucos anos.”57
Este é um grande avanço no desenvolvimento do mito. Até este
momento (1761) St. Clair havia sido apenas um Grão-Mestre ficcional
de um total de 19 Grãos Mestres escoceses. 58 A lista, junto com o
restante da “história” de Anderson, era (e é) obviamente, dentro de uma
perspectiva moderna, uma fantasia e ninguém procurou refutar a
alegada posição de Sinclair (ou de qualquer outro) de “Grão-Mestre”.
Elevar St. Clair à posição de Grão-Mestre hereditário significa que
todos os doze Grãos Mestres listados por Anderson, em 1738,
sucessores de St. Clair foram apagados da história maçônica escocesa
como se eles nunca tivessem existido. Isso não parece ter causado um
problema para os Franco-maçons da época. Isto levanta uma questão;
se todos os 12 Grãos Mestres que se seguiram a St. Clair não foram, de
fato, Grãos Mestres dos maçons escoceses (maçons canteiros ou não)
que credibilidade se pode dar na afirmação de Anderson de que os
cinco predecessores de St. Clair foram Grãos Mestres? Como
consequência a sugestão de que St. Clair foi um Grão-Mestre também
se torna duvidosa. Na verdade, Ruddiman e Auld eliminam cinco dos
seis Grãos Mestres Reais anteriores a St. Clair – exceto James I.
Portanto, o mito embrionário já havia começado a se desenvolver e os
“fatos” anteriormente aceitos como precisos repentinamente foram
ignorados, ou alterados, em favor de novos “fatos” que fortaleceram um
ponto de vista peculiar da história da Franco-maçonaria escocesa.
Descrever St. Clair como um Grão-Mestre hereditário numa história
publicada foi quase inevitável, visto que na formação da Grande Loja
da Escócia, em 1736, William St. Clair de Roslin (1700–1778) teria
emitido seu Ato de Renúncia do Cargo de Grão-Mestre Hereditário.
Os Templários ainda não são mencionados nesta ocasião.
Parece que Ruddiman e Auld sabiam da embrionária e mítica, história
da Grande Loja da Escócia, o “cenário” maçônico escocês de então,
bem como a história de Anderson criou para eles uma combinação de
vários elementos para embelezar o mito. Eles deixam intacta a
afirmação de Anderson de que os romanos introduziram a “Maçonaria”
na Escócia, mas sutilmente alteram a afirmação dele de que seis reis,
antes de St. Clair, haviam sido Grãos Mestres para afirmarem que eram

42
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
os próprios Franco-maçons que reconheciam o rei como seu Grão-
Mestre, (p. ex. “A Fraternidade dos Maçons Livres da Escócia sempre
teve seu Rei e Soberano como seu Grão-Mestre”). Eles também
estariam cientes do “Ato de Renúncia” de St. Clair e criaram uma
explicação do por que teria sido necessário:
“William Sinclair de Roslin, Escudeiro: (verdadeiro Maçom, e
cavalheiro da maior candura e benevolência, herdando de seus
predecessores virtudes mas sem fortuna) foi obrigado a dispôr
de propriedade: em não tendo filhos próprios, foi com relutância
que o cargo de Grão-Mestre, ora investido em sua pessoa,
deverá vago ficar por ocasião de sua morte: muito
especialmente, por não haver a menor perspectiva dos Irmãos
do país, de receberem qualquer favor ou proteção da coroa (a
quem o cargo naturalmente reverte, na ausência da família
Roslin), pois tal como nos dias antigos, nossos Reis e Príncipes
continuamente residem na Inglaterra.”59
Este Ato foi necessário, e é discutido no próprio Ato em si, porque se
Sinclair morresse sem filhos o cargo de Grão-Mestre hereditário
reverteria para a coroa e, presumivelmente a futura Grande Loja da
Escócia a ser criada não toleraria ao monarca impor um Grão-Mestre
hereditário sobre eles. Contudo, o Ato, e a necessidade dele, não é
mais do que parte de uma criação de uma “História Tradicional” para
uma nova sociedade semelhante àquela criada por James Anderson para
a Grande Loja da Inglaterra. O que pode ser demonstrado por um
exame do Ato e das circunstâncias envoltas na sua criação. Em
primeiro lugar é um mito que Sinclair morreu sem filhos. Ele teve
vários filhos:
“A representação masculina da família Rosslyn termina com
William Saintclair, que se casou com Cordellia, filha de Sir
George Wishart de Cliftonhall, com quem ele teve três filhos e
cinco filhas, que morreram jovens, exceto a sua filha Sarah.”60
Sinclair teria assinado o “Ato de Renúncia” em 24 de novembro de
1736, quando tinha 36 anos de idade e é quase inconcebível que ele
voluntariamente desistiria de seus direitos, os quais poderiam ser
transmitidos à sua filha Sarah, ou à um dos filhos dela. Não seria nada

43
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
natural que ele desistisse de tais direitos aos 36 anos de idade quando
ainda não era impossível para ele casar-se novamente e ter outros
filhos. Isto, associado ao fato de que ele viveu por mais 42 anos,
sugere que o “Ato” foi inventado unicamente para benefício da outra
parte – a Grande Loja da Escócia. A única beneficiária destes alegados
“direitos” não definidos é a Grande Loja, que assim reforçou sua
antiguidade, e portanto, sua legitimidade, especialmente em
comparação com a fantástica e mitológica “história” da Grande Loja da
Inglaterra criada por Anderson. Ruddiman e Auld, ao reproduzirem na
íntegra o “Ato de Renúncia de St. Clair”, fazem observações
complementares a respeito de St. Clair de Rosslyn que ainda estava
vivo em 1761, quando o Companheiro de Bolso deles foi publicado.
Portanto, esta é uma fonte contemporânea que revela as percepções da
história da Franco-maçonaria escocesa naquele momento.
No entanto, podemos ver agora que esta visão do passado é
gravemente incorreta. Esta “história”, ou trechos dela, é repetida ainda
hoje sem qualquer senso crítico. A afirmação de que os “Maçons”, “…
sempre tiveram seu Rei e Soberano como seu Grão-Mestre”, claramente
contorna os problemas criados pela declaração de que certos reis da
Escócia eram Grãos Mestres. Em 1761 foram os próprios Franco-
maçons que declararam a todos eles como sendo Grãos Mestres
(segundo Ruddiman e Auld). Esta é uma declaração sem sentido, mas
ainda consegue transmitir a impressão de que ao longo de muitos
séculos os monarcas estiveram envolvidos com os “Maçons”.
Desta maneira a ênfase “histórica” da “Maçonaria” escocesa começou
a focar-se nos Sinclairs de Rosslyn e dois monarcas, James I e James II.
Ao modificar o mito Ruddiman e Auld mantiveram James I fundando
um sistema de governo para os Franco-maçons da Escócia, que depois
foi adequado por seu filho, James II:
“Consequentemente, encontramos em James I. Aquele patrono
da erudição, favorecendo as Lojas com sua presença, enquanto
Grão-Mestre Real; até ele estabelecer uma receita anual de
quatro libras escocesas, a serem pagas por todo Mestre Maçom
na Escócia, a um Grão-Mestre, nobre por nascimento, escolhido
pelos Irmãos, e aprovado pela coroa…”61
Este elemento crucial do mito ainda é repetido hoje, i.e.:
44
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
“Ao tempo de James II Stewart, os St. Clairs modificaram seu
nome para Sinclair e William Sinclair, Conde de Caithness,
Grande Almirante da Escócia, foi nomeado Patrono e Protetor
Hereditário dos Maçons Escoceses pelo Rei James II em 1441.
O documento da nomeação, é mantido pela Grande Ordem
Maçônica, da Escócia, e está Depositado [sic] no Freemasons’
Hall em Edimburgo.”62
James I criou este sistema em benefício dos “maçons”, foi James II
que, em 1441, tornou William St. Clair, o construtor da Capela Rosslyn,
Grão-Mestre dos maçons e, posteriormente por um outro “Ato”, em
separado, tornou a ele e seus herdeiros e sucessores Grãos Mestres
hereditários.63 Não há nenhuma evidência ligando James I com lojas
maçônicas, de que ele visitou tais lojas ou de que ele era Grão-Mestre
dos “maçons” da Escócia. O ponto central do mito são as atividades de
seu filho James II. Alega-se que, em 1441, ele nomeou St. Clair o
Grão-Mestre [dos maçons] e também que tornou aquele cargo
hereditário. James nasceu em 1430 e, portanto, tinha onze anos de
idade quando ele supostamente fez de St. Clair um Grão-Mestre. É
sabido que James II não tomou parte no governo até 1449 quando
estava com 19 anos e, portanto, não poderia ter conferido aquele título a
quem quer que fosse.64
Além disso, reside o fato de que este cargo de Grão-Mestre
simplesmente não existia. Os cargos da coroa escocesa (por exemplo:
Chanceler, Chamberlain, Controler, Chefe de Justiça da Escócia,
Guardião da Pessoa do Rei, etc.) são todos conhecidos – o posto de
Grão-Mestre não é um deles. O termo Grão-Mestre surge pela
primeira vez no século 18, usado num contexto maçônico por Anderson
em 1723, quando ele afirma que o Patriarca: Moisés, foi o primeiro
Grão-Mestre.65 O título foi aplicado, retrospectivamente, por escritores
sobre a Franco-maçonaria posteriores. O Padre Hay não encontrou
nenhum traço de atos de James I ou de James II quando examinou os
arquivos Sinclair no início de 1700. Na ausência de tal prova os
autores posteriores aceitaram a afirmação existente no segundo “Título”
St. Clair (c.1628) de que tais atos haviam existido previamente e que
eles se perderam em um incêndio. Isto significa que os Títulos
supostamente emitidos por James II se perderam pelo fogo algum

45
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
tempo depois de 1441, mas antes de 1601. Há um relato de um
incêndio na Genealogia dos Sinclair de Rosslyn, do Padre Hay, de que
houve um incêndio em 1447, mas este relato declara que o Capelão de
Sinclair salvou todos os documentos: “… declarou todos os seus títulos
e escritos como salvos.”.66 Assim sendo, os títulos supostamente
concedidos por James II devem ter sido destruídos noutro incêndio em
algum momento depois de 1447, mas antes de 1601. Ocorreu um outro
incêndio no Castelo Rosslyn em 1722.67 Parece, portanto, que no total
houve três grandes incêndios no Castelo Rosslyn, mas felizmente os
dois “títulos” St. Clair sobreviveram em cada uma das ocasiões.
Lamentavelmente, os Atos alegadamente editados por James II, um
nomeando Sinclair Grão-Mestre e outro tornando aquele cargo
hereditário, não sobreviveram – presumindo, é claro, que em algum
momento eles tenham existido.
Esta foi, com todas as suas falhas, a versão geralmente aceita da
história da maçonaria escocesa, com pequenas variações e elaborações,
ocorridas de tempos em tempos, que prevaleceu até o fim do século 18.
Em 1804 Alexander Lawrie (1768-1831) publicou um livro que
alterou aquela visão dos eventos. Ele recebeu o enorme título:
“História da Franco-maçonaria extraída a partir de fontes
autênticas etc … conhecidas por Alexander Lawrie com Uma
Narrativa da Grande Loja da Escócia, desde sua instituição em
1736, até o presente momento, compilada a partir dos seus
registros; e Um Apêndice dos papéis originais.”
Lawrie era Livreiro e Papeleiro na Grande Loja da Escócia. A
dedicatória sugere que ele tinha um olho em seu futuro pois foi dirigida
a George, 9º Conde de Dalhousie (1770–1838) que era, na ocasião em
que o livro foi publicado, Depute Grand Master. Lawrie descreve
Dalhousie como Grão-Mestre Eleito e que se tornou Grão-Mestre
Maçom em 30 de novembro de 1804, ocupando o posto por dois anos.
A minuta de uma reunião da Grande Loja de 3 de agosto de 1801
(Escócia) revela que ele foi nomeado Livreiro e Papeleiro da Grande
Loja em reconhecimento pelos anos de serviços prestados àquele corpo.
A minuta da reunião seguinte da Grande Loja, de 2 de novembro de
1801, inclui o seguinte:

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Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
“O Grão-Mestre Substituto [John Clark] (Grande Loja da
Escócia) declarou que recebeu uma carta do Irmão Lawrie
livreiro e papeleiro da Grande Loja incluindo um prospecto de
uma História da Franco-maçonaria que o Irmão Lawrie se
propôs publicar, carta esta lida como segue
Praça Parlamento Nº 24 – 2 de novembro de 1801
Honrado Venerável Sir,
Tomo a liberdade de vos enviar um prospecto de um trabalho
que pretendo publicar, considerarei como um favor singular se
comunicardes à Grande Loja da Escócia pela honra que esta
Grande Loja me conferiu, no último Comunicado Trimestral,
fazendo-me o seu Livreiro e Papeleiro, pelo que serei sempre
grato e se serei suficientemente afortunado em obter dela a
sanção para o trabalho acima o que acrescentará ainda outro
favor que será altamente gratificante a este vosso mui obediente
e humilde servo… Alex Lawrie.
Havendo-se lido o prospecto acima mencionado o Grão-Mestre
Substituto propôs que o trabalho acima fosse sancionado pela
Grande Loja, o que foi unanimemente aprovado, e além disso a
Grande Loja autorizou o Grande Secretário e o Grande Clérigo
proverem o Irmão Lawrie com os registros e outros escritos
pertencentes a Grande Loja e com todo material em seu poder,
que possa emprestar avanço para o trabalho.”
Aqui, então, está outro motivo possível – o de um servo devotado
procurando promover a sociedade que recentemente reconhecera os
seus serviços. Se Lawrie esperava por uma promoção como uma
consequência (e tal motivo não parece óbvio) ele deve ter ficado
desapontado pois teve de aguardar até 1810. Mesmo assim, a sua
promoção foi para Lawrie como Grande Secretário Adjunto de William
Guthrie (Grande Loja da Escócia) (?–1812) que servia como Grande
Secretário desde 1797. Em 1812, Lawrie se torna Grande Secretário
(Grande Loja da Escócia) por direito próprio, possivelmente por conta
da morte de Guthrie. Lawrie permaneceu como Grande Secretário até
1826, quando novamente ele se torna Grande Secretário Adjunto, desta
vez com seus filhos Lawrie JGS e William Alexander (1799–1870)
Grande Loja da Escócia. Ele continuou naquele posto de adjunto até
47
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
1831 quando seu filho se tornou o único Grande Secretário – posto que
ocupou até 1870. Enquanto Grande Secretário, William A. Lawrie
reproduziu o livro de seu pai em 1859. Este livro não introduziu
nenhuma alteração fundamental no trabalho de seu pai, mas teve seus
capítulos retrabalhados tornando-os mais completos e usando mais
informações factuais. Também foram feitos acréscimos consideráveis,
que eram especialmente as atividades da Grande Loja até 1859 (até
1804 na edição de seu pai) em conjunto com uma narrativa da Marca,
Arco Real e Maçonaria da Arca, além de outras Ordens, inclusive a
moderna Ordem maçônica dos Cavaleiros Templários. A sua “história”
dos Cavaleiros Templários desde o seu início acompanhou aquela
criada pelo Grande Conclave (Cavaleiros Templários da Escócia)
durante 1842-1843. Ele aproveitou a oportunidade para montar um
ataque mais vigoroso à opinião de Barruel sobre os Templários
valendo-se de mais evidências históricas do que as usadas no livro de
seu pai.
O prefácio do trabalho sugere motivações adicionais. O autor alude
aos eventos ocorridos na Europa e a possibilidade de a Franco-
maçonaria ter tomado parte naqueles eventos, mencionando
especificamente a Revolução Francesa. As alegações de que a Franco-
maçonaria desempenhou um papel na “conspiração” revolucionária
original provavelmente deixaram os Franco-maçons escoceses
perplexos, especialmente porque o Governo Britânico havia isentado as
lojas das restrições impostas pela Lei dos Juramentos Ilegais (1797) e
pela Lei das Sociedades Ilegais (1799) destinadas a eliminar ou, pelo
menos, controlar, as organizações consideradas como potencialmente
subversivas ou revolucionárias. Neste sentido é demonstrada a
diferença entre a Franco-maçonaria da Escócia e da Europa. Contudo,
o motivo que Lawrie declarou para publicar a História etc. foi o de ser:
“A melhor maneira de refutar aquelas calúnias que foram
lançadas contra a fraternidade dos Maçons Livres, é dispor ante
o público, um relato correto e racional, da natureza, origem e
progresso da instituição; para que possam ser capazes de
determinar, se os seus princípios estão ou não, de qualquer
forma, ligados aos princípios da anarquia revolucionária.” 68
Este louvável objetivo, reforçado pela visão de que aquelas histórias
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Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
da Franco-maçonaria eram: “… de uma natureza tão repulsiva… que
um novo e acurado trabalho foi necessário” sugere que o livro foi
lançado antecipadamente.69 Ele está dividido em duas partes, sendo a
primeira uma “história” fantasiosa da Franco-maçonaria desde tempos
pré-históricos. A segunda parte é um sumário anual das atividades da
Grande Loja da Escócia, desde sua fundação em 1736 até a data da
publicação do livro. Curiosamente, os dois manuscritos, anteriormente
mencionados, transcritos pelo Padre Richard A. Hay e conhecidos como
os “Títulos St. Clair”, são reproduzidos como Apêndices, onde eles são
novamente descritos como “títulos”. Novamente, isto demonstra a
importância dada àqueles documentos ainda que seu propósito não
fosse compreendido pois, enquanto no texto do livro de
Lawrie/Brewster os descreve como sendo Títulos concedidos por James
II, o Apêndice os descreve como sendo Títulos concedidos pelos
“Maçons” da Escócia.70
É uma ironia que este livro, no qual Lawrie aparentemente colocou
tanto esforço para produzir, não foi sequer escrito por ele – mas por um
escritor fantasma, que não recebeu nenhum crédito. Depois de receber
a sanção oficial da Grande Loja para produzir o livro, ele nunca negou
ser o seu autor. Muito ao contrário pois, as Atas da Grande Loja de 6
de fevereiro de 1804 contém o seguinte:
“O Ir. Carphin afirmou que tinha lido com grande satisfação a
recente publicação sobre Maçonaria sob a autoridade da Grande
Loja. Ele considerou que o livro em questão provar-se-ia de
boa utilidade para a Maçonaria em geral e mais útil ainda para a
Grande Loja e as Lojas a ela vinculadas quando isto fosse
levado em consideração, ele ficaria feliz se cada membro
presente pudesse sinceramente unir-se a ele numa moção de
agradecimento da Grande Loja ao Irmão Alex. Lawrie autor da
aludida publicação – esta moção foi secundada e o
agradecimento da Grande Loja para o Ir. Lawrie foi votado por
unanimidade.”71
Então, quem era o inominado autor? A maioria dos peritos
concordam que Sir David Brewster (1781–1868) redigiu o material e
este ponto de vista é confirmado pela seguinte anotação, sem data, em

49
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
uma cópia do livro que pertenceu ao Dr. David Irving (1778–1860),
Bibliotecário da Faculdade de Direito:
“A história deste livro é um tanto curiosa, e talvez existam
apenas dois indivíduos ainda vivos, por quem ela poderia ser
divulgada. O falecido Alexander Lawrie, Grande Livreiro, quis
recomendar a si mesmo, junto à Fraternidade pela publicação de
tal trabalho. Mas através do Doctor Anderson, ele me pediu
para me encarregar de sua compilação, e me ofereceu uma
remuneração adequada. Como a tarefa não me agradou, ele fez
uma oferta semelhante ao meu velho conhecido David
Brewster, por quem foi prontamente aceita, e posso dizer que
foi realizada com grande satisfação para seus empregadores. A
página título não exibe o nome do autor, mas a dedicatória tem
a assinatura de Alexander Lawrie, e o volume é usualmente
descrito como a História da Franco-maçonaria de Lawrie.” 72
Muito embora Sir David Brewster tenha feito uma enorme
contribuição, ainda que anônima, para a história da Franco-maçonaria
escocesa, ele também foi uma figura importante na sociedade escocesa
e no meio acadêmico. À época da publicação do livro, Brewster era
jovem e ainda não havia determinado seu rumo na vida. Sem dúvida
ele achou a recompensa monetária utilíssima. O seu envolvimento
com a Franco-maçonaria escocesa parece estar limitado à produção do
livro para Lawrie.

50
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito

O A B A D E A U G U S T I N B A R R U E L (1741–1820)
O livro de Lawrie/Brewster foi publicado parcialmente como uma
resposta ao: Memórias a Serviço da História do Jacobinismo (1797) de
Barruel, que declarava:
“Toda a vossa filosofia e todas as vossas Lojas são derivadas
dos Templários medievais. Após a extinção de sua Ordem,
certo número de cavaleiros criminosos, tendo escapado da
proscrição, uniram-se para preservar seus horríveis mistérios.
Ao seu ímpio código eles acrescentaram o voto de vingança
contra os reis e sacerdotes que destruíram sua Ordem, e contra
toda religião que anatematizou seus dogmas. Eles fizeram
adeptos, os quais devem transmitir de geração a geração igual
ódio ao Deus dos Cristãos, aos Reis e aos Sacerdotes. Estes
mistérios chegou até vós, e vós continuais a perpetuar sua
impiedade, votos e juramentos. Tal é a vossa origem. O curso
do tempo e a modificação de costumes têm variegado parte de
vossos símbolos e de vossos pavorosos sistemas; contudo a
essência deles remanesce, os votos, os juramentos, o ódio e as
conspirações são as mesmas.”73
Este ataque é uma das mais antigas fontes não maçônicas que
explicitamente declaram que a Franco-maçonaria é uma perpetuação da
Ordem medieval dos Cavaleiros Templários. A inversão da cronologia
anteriormente aceita produziu consequências na Franco-maçonaria em
questão de poucos anos. Esta parece ser a primeira sugestão de que a
Franco-maçonaria surgiu depois da Ordem medieval dos Templários.
O fato de um membro da igreja que havia suprimido os Templários
medievais, ter declarado que a Franco-maçonaria era uma descendente
direta daquela Ordem, aumentou a crença de que existiu uma conexão
direta entre ambos, e imediatamente acrescentou alguma legitimidade
em apoio daquela tese. Brewster, filho de um Presbiteriano, foi
educado pela Igreja Presbiteriana da Escócia. É possível que, por
causa de sua antipatia coma Igreja romana, ele tenha defendido a
reputação dos Templários, e portanto, a da Franco-maçonaria, não
porque houvesse pesquisado a alegada conexão entre os dois, mas
porque isto lhe proporcionou a oportunidade de atacar um inimigo

51
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
religioso. O fato de Barruel especificamente ter excluído os Franco-
maçons “ingleses” (provavelmente também significa a exclusão dos
Franco-maçons escoceses, irlandeses e galeses) de seu ataque, não foi
suficiente para desviar Brewster. Até este ponto o elo entre a Franco-
maçonaria e os Templários era uma noção dentro da Franco-maçonaria,
embora não o fosse na Escócia. A resposta de Brewster ao ataque de
Barruel contra a Franco-maçonaria na Europa, incorporado em sua
História… assegurou que a conexão imaginária entre os Templários da
Idade Média e a Franco-maçonaria do século 18 obtivesse mais crédito.
De fato a argumentação de Brewster sobre a Franco-maçonaria e os
Templários dentro de uma publicação maçônica escocesa serviu para
reforçar a noção de que havia um elo entre a Ordem medieval e a
moderna Franco-maçonaria da Escócia. Até este momento, 1804, os
Templários ainda não são vistos como os criadores da Franco-
maçonaria, muito pelo contrário: “… a ordem dos Cavaleiros
Templários era um ramo da Maçonaria Livre.”74, 75

52
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito

J O H N R O B I S O N (1739–1805)
Lawrie/Brewster cita uma outra obra antimaçônica, as Provas de uma
Conspiração contra todas as Religiões e Governos da Europa, levada a
efeito em Reuniões secretas dos Maçons Livres, Iluminati, e Sociedades
Literárias. Reunidas a partir de fontes bem reputadas. Robison
(1797). Robison afirma que foi Iniciado numa loja em Liège.
Provavelmente, ele foi um maçom escocês, posto que ele comenta ter
testemunhado cerimônias (que em certa medida ele descreve) que não
existiam em sua terra natal, i.e. “era importunado por pessoas de
primeira ordem para prosseguir minha carreira Maçônica percorrendo
diversos graus desconhecidos neste país”.76 Uma análise do livro
afirma que: “Ele revela certo grau de credulidade extremamente
incomum numa pessoa, usado para tranquilizar a razão e a
demonstração filosófica”.77 O livro pretendia provar que os Illuminati,
que ele alegava ser uma Ordem da Franco-maçonaria, estavam
envolvidos num conluio para derrubar a cristandade e o governo civil
de toda Europa.78
Parece que Robison explicou as ideias de seu livro para Barruel
quando se encontraram em Londres entre 1795/6. Barruel, naquela
época, era um refugiado da Revolução Francesa e rapidamente se
antecipou a Robison publicando seu livro antes. 79 Tal como Barruel,
Robison faz um grande esforço para isentar a Franco-maçonaria
Britânica de sua censura em relação à Franco-maçonaria Europeia e
sem demora o faz logo na página 1:
“… no início de minha vida, me ocupei parcialmente dos
trabalhos (como devo chamá-los) da Maçonaria Livre; e,
frequentando principalmente as Lojas no continente, aprendi
muitas doutrinas, e vi muitos cerimoniais que não ocorrem no
sistema simples da Maçonaria Livre deste país.” [Grã-Bretanha]
Robison foi uma figura proeminente em Edimburgo e na sociedade
escocesa. Em 1773 ele se tornou o Professor Robison de Filosofia
Natural da Universidade de Edimburgo. O Professor John Playfair
(1748–1819), seu sucessor, escreveu: “As ciências da mecânica,
hidrodinâmica, astronomia, e ótica, além de eletricidade e magnetismo
eram os temas abraçados em suas palestras”. Em 1783, quando a

53
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
Sociedade Real de Edimburgo foi fundada e constituída por Carta
Régia, Robison foi eleito Secretário-Geral e serviu nesta qualidade até
1798. David Brewster tornou-se membro da Sociedade em 1807. Em
1822 o texto de Robison: Um Sistema de Filosofia Mecânica com
Notas de David Brewster, LL.D. foi publicado postumamente.
Assim como Barruel, os motivos de Robison são complexos, embora
o lucro não possa ser descartado enquanto fator significante. Para um
acadêmico conceituado este trabalho é um quebra-cabeça. Comparado
com sua outra obra publicada, as “Provas …” ele é pouco mais do que
um longo discurso retórico contra a Franco-maçonaria e outras assim
chamadas sociedades secretas, tal como os Illuminati. A sua falta de
apoio em provas, citando indivíduos inominados, a ausência de
argumentação lógica junto com suas frequentes declarações de que seu
livro não é um ataque à Franco-maçonaria “Inglesa”, sugere que ele,
assim como Barruel, não queria se antagonizar com aqueles que ele
esperava comprassem o seu trabalhado. Porém, ele não pode ser
descartado como sendo um mero escritor de ficção, pois ele revela um
conhecimento detalhado, por exemplo, dos trabalhos de Anderson e
Ramsay. Se a sua declaração de que ele era um Franco-maçom for
aceita, fica claro o valor que ele deu ao seu juramento maçônico.
Lawrie/Brewster fornece uma história dos Templários medievais
relativamente usual dos Templários medievais, desde o início da
Ordem, e aceita como verdadeiros os elos com a Franco-maçonaria,
sem qualquer investigação:
“Seria um trabalho desnecessário adentrar em qualquer
investigação a fim de provar que a ordem dos Cavaleiros
Templários era um ramo da Franco-maçonaria. Este fato tem
sido invariavelmente reconhecido pelos próprios Maçons
Livres; e ninguém tem sido mais zeloso em demonstrá-lo do
que os inimigos da ordem [i.e. Barruel]. Os primeiros têm
admitido o fato, não porque lhes fosse honroso, mas por ser
verdade; e os últimos o têm apoiado, porque com o auxílio de
um pequeno sofisma, ele pode ser empregado para desgraçar os
seus oponentes.”80
Noutras palavras, como alguns Franco-maçons afirmam que há uma
conexão entre as duas Ordens então isto é prova suficiente da existência
54
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
de uma conexão. É digno de atenção que, sem qualquer tentativa de
provar o alegado vínculo, Lawrie/Brewster afirma que a motivação
“pública” para a formação dos Templários era a de proteger os
peregrinos em visita à Terra Santa, mas que a verdadeira razão de sua
existência era a de preservar e praticar a “Maçonaria Livre”;
implicando que eles teriam pretendido reintroduzi-la na Terra Santa
onde, presumivelmente, ela teria deixado de existir ou teria vindo a ser
lamentavelmente corrompida. Assim Lawrie/Brewster sustenta que a
Ordem dos Cavaleiros Templários perpetuou a Franco-maçonaria e não
o contrário. Brewster, e aqueles que o rodeavam (incluindo seu
presumido contratante, Lawrie) acreditava e procurou confirmar, que a
Ordem dos Cavaleiros Templários medieval era descendente dos
Franco-maçons primitivos.
Barruel declarou que as alegações contra os Templários medievais
eram verdadeiras e que alguns membros da Ordem haviam escapada à
supressão geral para se metamorfosearem na Ordem da Franco-
maçonaria. Que a Ordem era meramente uma perpetuação dos
Templários medievais, cujos membros continuaram com suas práticas
pecaminosas, malévolas e heréticas dentro das lojas maçônicas. Que
os Franco-maçons tramavam a vingança para o tratamento dado aos
seus precursores, a Ordem dos Templários medievais, derrubando
governos civis e a Cristandade por toda a Europa. Que as
manifestações mais dramáticas daquela alegada intenção malévola
havia sido a Revolução Francesa, que teria sido promovida pelos
Franco-maçons. Esta é a própria reminiscência das declarações
posteriores de que havia uma conspiração judaico maçônica para criar
uma “Nova Ordem Mundial”.
Tais ataques de dois autores, um dos quais era escocês, dentro de um
espaço de tempo muito curto assegurou uma ampla discussão. Ao que
parece, a ideia de uma conexão entre a Franco-maçonaria escocesa e a
Ordem medieval dos Templários entrou para a mitologia maçônica
escocesa, mas não por conta de um debate racional e metódico.
Simplesmente porque “alguém” disse que os Franco-maçons e os
Templários eram uma e a mesma coisa, e que ambos eram
automaticamente MAUS, os Franco-maçons escoceses acorreram

55
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
rapidamente em defesa dos Templários embasados na ideia de que o
inimigo do meu inimigo é meu amigo!
Quase exatamente 500 anos (i.e. desde a supressão da Ordem
medieval dos Templários até a publicação do livro de Lawrie/Brewster)
para que os Templários entrem pela primeira vez na mitologia maçônica
escocesa e não mais do que 200 anos depois do início dos primeiros
registros maçônicos que os Templários são mencionados pela primeira
vez na história maçônica escocesa (i.e. 1599–1804). Desde que o mito
começou a alcançar sua forma moderna ele continua sendo uma parcela
da mitologia maçônica escocesa há quase 200 anos, isto é, de 1804 até
hoje. Esta é uma indicação da tenacidade e do romantismo deste mito
em particular.
Depois do livro de Lawrie/Brewster, ser aprovado, como foi pela
Grande Loja da Escócia, o mito de uma conexão com os Templários
medievais passa a ser aceito como parte da história maçônica
escocesa.81 Ao longo dos séculos 19 e 20 numerosos autores
expuseram o mito, desenvolvendo-o e refinando-o, mas nunca
discutiram a sua validade. É curioso como os escritos de muitos não-
maçons tenham tido um impacto tão dramático sobre a percepção dos
próprios Franco-maçons da história de sua organização.

56
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito

R E A Ç Ã O D A G R A N D E L O JA D A E S C Ó C I A
Até aqui a origem e o desenvolvimento do mito foi relativamente
simples. No entanto, há um evento que lança uma luz sobre as atitudes
dos Franco-maçons escoceses deste período e que demonstra que este
processo não foi tão simples como a cronologia delineada acima
poderia sugerir.
Ao repetir e elaborar, a aceita história mitológica da Franco-
maçonaria escocesa, o livro de Lawrie/Brewster representou uma
contradição no coração da Franco-maçonaria escocesa, naquele então e
agora. Pelo menos desde 1792, a Grande Loja da Escócia vinha
protestando firmemente contra a introdução de cerimônias não-
maçônicas.82 As Minutas da Grande Loja de 19 de maio de 1800
contém a seguinte entrada:
“Antes do encerramento da Loja o R. W. Ir. Lawrie de
Canongate e Leith, disse Leith e Canongate que tinha uma
moção a fazer por conta do que havia se passado nesta noite
esperando contar com a aprovação da Grande Loja, e por
conseguinte declarou, “que a Grande Loja da Escócia sancione
as três ordenações da Maçonaria, sendo estas apenas as de
Aprendiz, Companheiro de Ofício e Mestre Maçom, como a
essência da antiga Ordem de São João, mas entendendo que
outros tipos de Maçons sob várias denominações haviam se
esgueirado para este país emprestados doutras nações que ele
julgou serem inconsistentes com a pureza e os verdadeiros
princípios da ordem”. Ele, portanto, propôs que a Grande Loja
da Escócia deveria proibir expressamente e desonerar todas as
Lojas de realizarem quaisquer outras reuniões além daquelas
das três ordenações acima descritas dando por certo que suas
cartas patentes serão confiscadas, ipso facto, em caso de
transgressão.”83
A moção de Lawrie foi transferida para uma reunião posterior da
Grande Loja, que ocorreu a 26 de maio de 1800. As suas deliberações
estão registradas como segue:
“A moção do Honrado Venerável Ir. Lawrie a respeito da
maçonaria do Arco Real e dos Cavaleiros Templários foi então
57
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
tomada em consideração… Por isto resolve, que ninguém pode
pretender ignorar, a expressa proibição e desoneração de todas
as Lojas que têm Patentes da Grande Loja de realizar quaisquer
outras reuniões além daquelas das três ordenações acima
descritas neste documento; que a Grande Loja procederá muito
energicamente, a partir da informação de infração desta
expressa proibição para censurar ou confiscar as Patentes das
Lojas transgressoras, consoante as circunstâncias de cada caso
em particular, que possam ser alegadas contra elas.
A Grande Loja determina que a resolução acima seja impressa e
cópia dela enviada a cada Loja da Escócia por ela mantida, e o
Comitê de Grãos Mestres Substitutos está designado para se
reunir com o propósito de traçar uma carta circular a ser emitida
em conjunto com a resolução acima.”84
O texto da carta circular foi aprovado numa reunião realizada em 9 de
junho de 1800 e foi enviado a cada loja escocesa filha da Grande Loja
da Escócia.85
O que fazer com isto? Estas Minutas revelam que a Grande Loja da
Escócia estava gravemente preocupada a respeito da introdução de
cerimônias “estrangeiras” que não eram parte da pura forma escocesa
da Franco-maçonaria de São João. Os novos e contaminantes
elementos tinham: “… esgueirado para este país emprestados doutras
nações …”, indicando que haviam sido introduzidos clandestinamente e
sem a sanção da Grande Loja. Talvez porque os praticantes daqueles
graus estivessem cientes da postura da Grande Loja? O uso de termos
tais como “pureza”, “verdadeiros princípios” e “antiga” ao descrever a
Franco-maçonaria escocesa sugere que os membros da Grande Loja
estavam preocupados que a Franco-maçonaria, tal como havia existido
até então, na Escócia, agora estava posta em causa pela introdução de
práticas não escocesas.86 Esta atitude é similar à posição adotada por
Barruel e Robison que argumentavam que a Franco-maçonaria
continental era uma forma corrupta de Franco-maçonaria. A Grande
Loja da Escócia identificou estas “corrupções” como sendo as
cerimônias da maçonaria do Arco Real e dos Cavaleiros Templários. 87
Os graus maçônicos que podiam ser conferidos pelas lojas filhas
estão especificados nas Patentes concedidas a elas pela Grande Loja:
58
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
“Pela presente concedendo e Outorgando a eles e seus
sucessores amplos e plenos poderes para convocarem e se
reunirem como uma Loja regular e, para receber e admitir,
Aprendizes, passar a companheiros de Ofício e elevar Mestres
Maçons.” (Extraído de uma Patente da Grande Loja da Escócia
datada de 1741).88
Contudo, houve uma outra situação que teve um impacto significativo
nesta ocasião, que foi a promulgação da Lei dos Juramentos Ilegais
(1797) e a Lei das Sociedades Ilegais (1799). Ambas introduzidas
como resposta à Revolução Francesa, à inquietação política geral, e à
percepção de que as reuniões fechadas de organizações secretas, tais
como, A Sociedade dos Amigos do Povo, e das lojas maçônicas, eram
uma maneira de congregar radicais e revolucionários. Também se
acreditava que algumas delas haviam tido um importante papel nos
eventos da Revolução de 1789 na França e nos acontecimentos
subsequentes naquele país. Robison devotou um capítulo de seu livro
a este assunto e isso, sem dúvida, foi acrescido às preocupações que a
política vigente tinha em relação à Franco-maçonaria. A legislação foi
concebida para eliminar as assim chamadas “sociedades secretas” que
poderiam colocar em perigo o estado Britânico. A Franco-maçonaria
deveria, segundo os termos originais destas Leis, teria tido grande
dificuldade em sobreviver, porém emendas de última hora asseguraram
a continuidade da existência da Franco-maçonaria pois a Grande Loja
ficou como fiadora do bom comportamento das lojas filhas “regulares”.
Um sistema administrativo foi imposto pelo qual a Grande Loja da
Escócia teve de “atestar” cada uma de suas lojas pela emissão de
certificados nos quais afirmava que as lojas em questão eram lojas
maçônicas e, que viveriam e respeitariam os termos das ditas Leis. Foi
exigido que cada loja registrasse seus membros junto às autoridades
judiciais locais (um Juiz da Paz ou outro Magistrado) anualmente. Se
estas condições não fossem satisfeitas as lojas poderiam ser forçadas a
fechar. Isto presenteou a Grande Loja da Escócia com mais poder do
que ela possuía anteriormente. A Grande Loja repentinamente tinha
capacidade para determinar quais lojas eram suas verdadeiras lojas
filhas e, quais não eram. Aquelas que assim não fossem designadas
poderiam ser forçadas a fechar. Anteriormente, ao longo do século 18,

59
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
as Minutas da Grande Loja registram constantemente a sua
incapacidade de controlar suas lojas filhas, como desejava e, mais
particularmente, a recorrente dificuldade de obter os montantes devidos
por elas.
Em 11 de fevereiro de 1800 Lawrie propôs que todas as lojas na
Escócia, vinculadas à Grande Loja, fossem identificadas e estabelecido
o montante dos pagamentos em atraso devido por cada uma. Em
nenhum lugar é claramente dito que a Grande Loja da Escócia usaria
dos seus novos, e inesperados, poderes para que as lojas aquiescessem
com suas necessidades financeiras e seu desejo de expurgar das lojas
escocesas, cerimoniais exóticos e estranhos que não poderiam ser
descritos como nascidos da prática maçônica escocesa, isto é, os do
Arco Real e dos Cavaleiros Templários.
A Grande Loja da Escócia estabeleceu que a Franco-maçonaria
consistia de três graus, e que estes eram a forma mais antiga e mais
pura de Franco-maçonaria. Que a introdução de outros cerimoniais,
espúrios e alheios a Escócia haviam contaminado a verdadeira Franco-
maçonaria. A Grande Loja da Escócia pouco poderia fazer para
interromper a execução destas importações até ser presenteada com a
obrigação legal de atestar a regularidade das atividades de suas lojas
filhas. Esta oportunidade significava que ela poderia assegurar que
suas lojas atuassem como ela determinasse. As lojas começaram a
pagar as suas dívidas para com a Grande Loja e parece que muitas
deixaram de trabalhar as “impuras” cerimônias continentais.
Aqui podemos ver a maior dicotomia da Franco-maçonaria escocesa.
A Grande Loja da Escócia por vários anos tentou fazer com que suas
lojas abandonassem as cerimônias estrangeiras. Ela não teve meios
para fazê-lo até que o Governo exigiu que ela fosse a fiadora da
conduta de todas as suas lojas. A Grande Loja da Escócia poderia,
portanto, assegurar que suas lojas filhas se comportassem como ela
desejava – enviando os montantes devidos e trabalhando apenas os três
graus, puros e originais da Franco-maçonaria escocesa. Dois anos
mais tarde, o propositor das moções contra os cerimoniais da maçonaria
do Arco Real e dos Cavaleiros Templários, Alexander Lawrie, publicou
o livro que especificamente ligava a Franco-maçonaria com a Ordem
medieval dos Templários!

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Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
Como visões tão opostas podem ser acomodadas dentro da mesma
organização? Esta é a mais difícil das questões, não podendo ser
respondida de um modo completamente satisfatório. A natureza da
cultura escocesa e a idiossincrasia da prática maçônica escocesa
tiveram um importante papel. É um pouco difícil explicar para Franco-
maçons que não são escoceses, e mais difícil ainda, explicar para
aqueles que não são membros do Craft (escoceses ou não). Se diz que
o livro de Lawrie/Brewster foi criado respondendo a uma série de
preocupações. Algumas delas são relativas a ganho financeiro,
preconceito religioso e oportunismo, defesa da Franco-maçonaria e para
engrandecimento próprio. Mas também foi criado a partir de um
desejo de que a Franco-maçonaria escocesa não fosse deixada para trás
no turbulento debate sobre de onde a Franco-maçonaria se originara, ou
seja, que país tinha o mais antigo pedigree maçônico e que país
praticava os mais puros e originais graus maçônicos.
A moção de Lawrie na Grande Loja da Escócia, em maio de 1800,
para remover as cerimônias “inconsistentes”, especificamente as do
Arco Real e dos Cavaleiros Templários, da pura Franco-maçonaria de
São João parece ter aborrecido mais do que uns poucos. A
popularidade destes cerimoniais é indicada pela explosão no número de
Acampamentos escoceses (hoje conhecidos como Preceptorias)
patenteados, na Escócia, pelo Primeiro Grande Acampamento da
Irlanda depois de 1804.89 A publicidade criada pelo livro também pode
ter ajudado a popularizar estas cerimônias. 90 O livro pode muito bem
ter sido uma tentativa, dele, de se reabilitar com os Franco-maçons que
lhe eram desafetos. Parece também, que ele tinha um grande desejo de
impressionar aqueles que tinham influência no mundo da Franco-
maçonaria escocesa, mas a sua falta de educação formal mostra que ele
não tinha capacidade para escrever tal livro. Como Brewster o fez em
seu nome, ele conseguiu fazer algo melhor e produziu uma “história”
da Franco-maçonaria escocesa à sua própria custa. Brewster quase
certamente exigiu honorários e, o fato de que seu nome não aparece
como autor sugere que ele estava ansioso em proteger o seu anonimato.
A natureza fantástica de alguns conteúdos, a repetição acrítica do mito e
da lenda, e a atitude para com a Igreja de Roma poderia ser prejudicial

61
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
à sua reputação. Do ponto de vista pessoal este anonimato foi
conveniente para Brewster tanto quanto foi para Lawrie.

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Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito

D E S E N V O LVI M E N T O S D O M I T O N O S É C U L O 19
A Grande Loja da Escócia era o único corpo maçônico ativo na
Escócia quando proibiu suas lojas filhas de trabalharem cerimoniais não
maçônicos.91 O que, entretanto, não levou ao desaparecimento
daqueles cerimoniais. Alguns Franco-maçons que os apreciavam
podem ter continuado a conferi-los clandestinamente nas lojas.
Haviam também vários acampamentos que existiam apartados de
qualquer outra organização.92 A razão declarada da Grande Loja para
banir de suas lojas estes cerimoniais foi a de que eles não eram nem
maçônicos e nem escoceses. Contudo, a decisão também pode ter sido,
parcialmente, uma reação às atividades da Loja Mãe Kilwinning, Nº 0
que, entre 1743 e 1808, era independente da Grande Loja. O falecido
Irmão George Draffen de Newington afirma:
“Na metade do século dezoito em diante, era comumente
sustentada, mas absolutamente errônea, a opinião de que a Loja
Mãe Kilwinning era o repositório de todos os tipos e condições
dos Altos Graus Maçônicos. Um dos resultados disso foi que,
em 1779, quando a Loja Mãe Kilwinning era independente da
Grande Loja da Escócia alguns maçons irlandeses foram até ela,
e lhes foi concedida uma Patente sob o título de Os Elevados
Cavaleiros Templários da Irlanda da Loja Kilwinning. Ela era
tão somente uma Patente do Craft, mas, como mencionado
acima, havia naquela época uma ideia errônea de que uma
patente da Loja Kilwinning concedia autoridade para se conferir
toda espécie de Altos Graus. Tanto quanto se pode determinar,
esta loja limitou-se ao trabalho da maçonaria do Grau de
Cavaleiro Templário.”93
Franco-maçons em Dublim receberam uma Patente de Loja do Craft
mas aquela loja também trabalhava a cerimônia de Cavaleiro
Templário, desse modo Dublim reforçou a noção de que a Arte da
Franco-maçonaria e, o não maçônico, importado, cerimonial de
Cavaleiro Templário estavam de alguma maneira ligados. Muito
embora esta loja irlandesa concedesse Patentes para outras lojas na
Irlanda, nenhuma loja deste “tipo” foi criada na Escócia.
Por volta da mesma época havia um outro corpo aparentemente

63
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
reivindicando jurisdição sobre a cerimônia dos Templários sob o título
de: O Primeiro Grande Acampamento da Irlanda, que alegava existir
desde 1705. Antes de 1800 este corpo havia concedido duas Patentes a
modernos acampamentos de Templários irlandeses em Aberdeen e
Kilmarnock. Uma vez que a Grande Loja da Escócia proibira o
cerimonial Templário importado em suas lojas filhas os devotos do
cerimonial procuraram legitimidade mediante a obtenção de Patentes de
outros lugares. Depois de 1800 o Primeiro Grande Acampamento da
Irlanda concedeu mais 17 Patentes de Templários na Escócia. Um
destes acampamentos posteriormente fundou o Grande Conclave Real
da Escócia e o Primeiro Grande Acampamento da Escócia. Estes
corpos passaram por várias alterações e reorganizações, sobre cujos
detalhes não precisamos nos deter aqui além de observar que ao final
eles se juntaram em 1907, para formar o atual Grande Priorato da
Escócia. Infelizmente, os primeiros registros destes corpos se
perderam e o modo como eles viam o seu passado é pouco conhecido.
Apesar da decisão da Grande Loja da Escócia de obrigar suas lojas
filhas a pararem de realizar as cerimônias não maçônicas do Arco Real
e dos Cavaleiros Templários elas não desapareceram da paisagem
maçônica escocesa. Estes cerimoniais poderiam ter morrido não fosse
por alguns Franco-maçons que decidiram mantê-las através da criação
de corpos para atuarem como “Grandes Lojas”. Uma pessoa em
particular deve ser mencionada – Alexander Deuchar (1777–1844).
Em 1809 Deuchar, então Comandante do Acampamento de Edimburgo
Nº 51 (Patenteado pelo Primeiro Grande Acampamento da Irlanda)
convocou uma reunião da Grande Assembleia dos Cavaleiros
Templários em Edimburgo. Ele anunciou que o Príncipe Edward, o
Duque de Kent (1767–1820), que era o Grão-Mestre da Ordem na
Inglaterra, havia aceito o posto de Grande Patrono Real da Ordem
para a Escócia e que ele, Deuchar, fora nomeado Grão-Mestre
Provisório. O Duque forneceu uma Carta de Dispensa para o novo
corpo escocês conhecido como o Grande Conclave Real. O Duque
concedeu uma Carta Patente “plena” em 1815 na qual nomeou Deuchar
como Grão-Mestre vitalício. A Patente tem por cabeçalho:

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Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
SUA ALTEZA REAL PRÍNCIPE EDWARD DUQUE DE KENT
Cavaleiro das Mui Honradas e Ilustres Ordens da Jarreteira, São
Patrick, etc. etc. etc. Aos Companheiros Cavaleiros das
Exaltadas Ordens Religiosas e Militares, do Templo e do
Sepulcro, e de São João de Jerusalém.
H.R.D.M.+ K.D.S.H.
SAÚDE – PAZ – BOA VONTADE
A seguir, o Grande Conclave Real tentou trazer todos os
acampamentos Templários existentes na Escócia para sua jurisdição,
fazendo-os entregar suas Patentes irlandesas e emitiu as substitutivas.
Acampamentos independentes foram encorajados a obter Patentes do
novo corpo. O Grande Conclave Real de início, foi parcialmente bem-
sucedido, e alguns acampamentos preferiram prosseguir como estavam.
Aparentemente, Deuchar planejou ter todos os cerimoniais cristãos
sob o controle do Grande Conclave Real e todos aqueles que não
fossem cristãos seriam governados por um outro corpo – o Supremo
Grande Capítulo do Arco Real para a Escócia (S.G.C.A.R) que foi
fundado em 1817 tendo em Deuchar um de seus expoentes. A história
destes corpos maçônicos foi adequadamente descrita especialmente por
autores tais como: Draffen, Lindsay etc. e, embora seja de grande
interesse não vamos nos debruçar sobre ela.
Os primeiros anos das duas organizações ocorreram dentro do
período durante o qual o fascínio pelo mito, de que a Ordem medieval
dos Templários possuía uma conexão com a moderna Franco-maçonaria
escocesa, estava muito em voga. Isto coincide quase exatamente com
a era do Romantismo, aquela visão intelectual do mundo que bem
caracterizada, em muitas das obras artísticas e literárias ocidentais de
fins do século 18 a meados do 19, por uma rejeição dos preceitos de
ordem, tranquilidade, harmonia, equilíbrio, idealização, e racionalidade
que tipificaram o Classicismo em geral e do Neoclassicismo do fim do
século 18 em particular. Ele também foi uma reação, de alguns, contra
o Iluminismo e, contra o racionalismo e materialismo físico do século
18 em geral. O Romantismo enfatizava o indivíduo e o subjetivo: o
irracional e o imaginativo, o pessoal e o espontâneo, o emocional, o
visionário e o transcendental. Este período foi caracterizado por duas
visões opostas do mundo: a racionalidade calculante do Iluminismo (de
65
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
particular importância para este trabalho sobre o Iluminismo escocês
c.1730–c.1790) e a Romântica ou mitológica. É tentador sugerir que a
Grande Loja da Escócia manteve os primeiros e, os que advogavam a
maçonaria do Arco Real e dos Cavaleiros Templários como sendo
componentes legítimos da Franco-maçonaria mantiveram os demais.
Na Escócia, o começo do Romantismo pode ser atribuído à obra de
James “Ossian” MacPherson (1736–1796). Sua épica poesia gaélica
capturou a imaginação de muitos e a segunda edição de sua obra
principal Fingal, um Antigo Poema Épico, composto por Ossian um
filho de Fingal1 (1773) foi traduzido para sete idiomas europeus. Estas
traduções inspiraram homens como Franz P. Schubert (1797–1828) e
Felix Mendelssohn (1809–1847) a interpretarem os românticos escritos
do autor como música romântica. Schubert especificamente musicou
partes da obra de MacPherson (i.e. Canção de Ossian após a Morte de
Nathos). Outros exemplos do “romantismo” da Escócia aparecem na
obra de Mendelson: Abertura: As Hébridas (Caverna de Fingal), Opus
26 (1829). Ivanhoe (1819) foi transformado em ópera por Gioacchino
Rossini (1792–1868) e Scott compareceu em sua estreia em Paris. Ao
mesmo tempo as amplamente relatadas, galantes e heroicas atividades
de diversos Regimentos escoceses foram acrescentadas à romântica
imagem do reino. Os romances históricos de Sir Walter Scott (1771–
1832), o primeiro de seu tipo, contribuíram muito para promover o
romântico mito escocês tão bem conhecido por nós hoje. Scott
simbolizou o Movimento Romântico e entendia totalmente o espírito do
país. Seus primeiros romances históricos se passaram na Escócia e
lidavam com temas escoceses, i.e. Rob Roy (1817). Eles encantaram o
povo de seu país, mas quando ele estendeu sua obra abrangendo a
Inglaterra, sua obra conseguiu o encanto nacional e internacional. O
primeiro destes romances “ingleses” foi Ivanhoe que também foi
musicalmente interpretado por Schubert (i.e. O Romance de Ricardo
Coração de Leão, desde Ivanhoe – O Retorno do Cruzado). Ivanhoe
tem em Sir Brian de Bois-Guilbert, um Cavaleiro Templário, como um
personagem central. Scott retrata-o como sinistro, manipulador e
violento. O caráter de Bois-Guilbert embora importante não é o tema
dominante no romance. O conceito de cavalheirismo, honra, bravura

1 NT: – Fingal: condado irlandês da Província Leinster, região de Dublim


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Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
marcial, missões secretas, glória, a defesa cortês da frágil amada são
fundamentais. Embora Scott molde Bois-Guilbert de um modo
completamente negativo, isto não foi um obstáculo para o Grande
Conclave, sem dúvida arrastado pela maré romântica, de convidá-lo,
em 1823, para ser o Grão-Mestre dos Cavaleiros Templários Escoceses,
o que Scott declinou alegando razões de saúde.
Esta era de romantismo é amplamente demonstrada por dois eventos.
A visita a Edimburgo em 1822 de George Augustus Frederick, George
IV (1820–1830) que foi orquestrada por Scott, e que levou diretamente
à popularização da “Escócia romântica” ao longo do século 19 cujas
cores ainda permanecem vivas aos do país até hoje. George foi
Iniciado em 1787, quando ainda Príncipe de Gales, e serviu como Grão-
Mestre (da primeira Grande Loja) de 1790 até 1813. Ele era o irmão
mais velho do Príncipe Edward, Duque de Kent, que concedeu as
Patentes aos Templários escoceses em 1813 e 1815. A Coroação de
George IV em 1821 foi conduzido de acordo com os antigos códigos
feudais e de cavalaria do período medieval. O serviço de Coroação
teve lugar na Abadia de Westminster seguido por uma variedade de
cerimônias no Westminster Hall que incluiu um banquete de Estado,
público, para os Pares do Reino. O Conde Marshal, o Lorde Grande
Condestável2 e o Lorde Alto Steward acompanharam o primeiro trecho
até a presença real, muito embora a cavalo. Estando a comida servida
em seguida os três tiveram de se retirar, recuando, a uma distância
considerável – não demonstrando um elegante destreza com os
cavalos3. O rei foi presenteado com símbolos de lealdade e
vassalagem; o Arcebispo de Canterbury presenteou com uma tigela de
dilligrout4. O Duque de Atholl, assim como o Lorde Man,
presentearam com dois falcões e o Lorde de Manor de Nether

2 NT: – Lorde Grande Condestável, isto é, o Lorde Grande Guardião do


Castelo Real
3 NT: – Ainda que pareça estranho, era comum na época, muita gente se
aglomerar para acompanhar festejos importantes, que até mesmo a comida
acabava sendo servida a cavalo. Sendo um dos maiores exemplos disto uma
coroação na França ao final da Idade Média.
4 NT: – Um prato que deveria ser servido ao rei na sua coroação conforme
determinava uma antiga lei inglesa.
67
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
Blissington deu três taças feitas de carvalho silvestre. O campeão
hereditário do rei, de armadura completa, montado e enfeitado,
precedido por dois trompetistas, dois escudeiros levando sua lança e
escudo, e escoltado pelo Conde Marshal e pelo Lorde Grande
Condestável, lançou um desafio a todos os presentes, se alguém
desejava lutar para disputar o direito ao trono do novo soberano. Ele o
fez brandindo os punhos de suas luvas por três vezes. Ele também teve
de se retirar da presença real recuando seu cavalo até uma distância
considerável. Isto foi especialmente difícil, montado e de armadura
completa. Apesar de inteligente e culto George IV era autoindulgente
e propenso a excessos – sua Coroação custou mais de 25.000 libras 5 e o
subsequente banquete de Estado degenerou em orgia. Contudo, ele
ditou moda por muitos anos, como sua aparição em Edimburgo,
trajando um kilt, feito na Escócia com todas as coisas escocesas de bom
gosto.
Para a Coroação da Rainha Vitória (1819–1901), em 1838, o governo
Whig liderado pelo Primeiro Ministro, William Lamb, 2 o Visconde
Melbourne (1779–1848) decidiu varrer para longe essas cerimônias
medievais e substituí-las por uma procissão relativamente simples do
Palácio de Buckingham até a Abadia de Westminster. O governo citou
os excessos da Coroação de George IV e que a economia estava numa
situação terrível. Havia, por exemplo, um grande número de
desempregados e estimava-se que milhares de tecelões estavam
morrendo de fome. A despeito do argumento econômico de “não
podemos permiti-lo”, a decisão foi tomada numa época em que o
interesse por todas as coisas medievais era muito grande. Livros
escoceses sobre cavaleiros de armadura, missões de cavaleiros e sobre o
salvar donzelas em perigo eram muito vendidos. Inevitavelmente
houve uma reação, pelo menos, daqueles que mais se identificavam
com a continuidade social, representada por tais cerimônias – a nobreza
(principalmente os adeptos do partido Tory) e muitos das “regiões” do
partido Whig. Outros que pesquisar sua ancestralidade até o tempo das
origens da cavalaria e do serviço real, mesmo não mais ocupando
posições de poder e influência, também acharam que foi uma grosseira

5 NT: – 25.000 libras na década de 1820, seria algo como 5 milhões de Reais
em 2016.
68
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
e desagradável reforma. A despeito de todas as questões postas em
pauta na Câmara e de todas as cartas para o The Times, a Coroação da
Rainha Victória seguiu o novo formato Whig.
Archibald William Montgomerie, o 13o Conde de Eglinton, (1812–
1861) que estaria envolvido na Coroação da Rainha Vitória se fosse
realizada em seu formato original, decidiu encenar um torneio
medieval na propriedade da família nas proximidades de Kilwinning.
Eglinton, instigado, intimado, encorajado e aplaudido pelos amigos,
família e todos aqueles que detestavam a evisceração Whig, de uma das
mais poderosas cerimônias para demonstrar “seu” lugar e posição no
país, dispendeu enormes somas no projeto. O Torneio Eglinton
ocorreu em 28 e 29 de agosto de 1839. Assistidos por estimados
80.000 espectadores, cavaleiros de armaduras entraram em justas pelos
favores de donzelas. Banquetes luxuosos foram organizados supridos
com entretenimento. O cavalheirismo mais uma vez exibido em toda a
sua glória. Infelizmente o tempo estava ruim, pois chovia muito, e
apesar de o torneio ter se realizado ele foi um evento apagado e
desconfortável, tanto para a maioria dos participantes como para os
espectadores.
Os motivos da decisão de Eglinton são simples e fáceis de entender.
Quando criança ele foi influenciado por um regime de honra, de
antiguidade de seus ancestrais e o papel dos cavaleiros da família na
sociedade escocesa durante o período medieval. Esta visão do passado
foi reforçada durante sua meninice se entretendo com a leitura de obras
como as de Walter Scott, brincando de e sonhando com cavaleiros em
suas armaduras e seus “heroísmos”. Havia um elemento político, mas
isso era secundário ao seu desejo de mostrar para o mundo que a
cavalaria, e tudo o que ela inculcava, tinha relevância no mundo
moderno. A dimensão política foi a força motriz de muitos daqueles
que o encorajaram nessa empreitada.
Toda esta atividade é simultaneamente replicada na atividade
maçônica. Em 1836 os modernos Templários maçônicos passam por
uma revitalização quando um número de Franco-maçons influentes
filiaram-se ao Grande Conclave. Entre janeiro e maio de 1836, foram
admitidos 72 novos membros. Em 1839 a Ordem Real da Escócia
passa por uma revitalização com o afluxo de novos membros. Deuchar

69
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
continuava muito envolvido com o Grande Conclave e com o Supremo
Grande Capítulo do Arco Real, e ainda teve mais ideias para o
desenvolvimento da Franco-maçonaria na Escócia. Havia, naquela
época, três sistemas “Maçônicos” que não estavam sob o controle de
uma única entidade e ele tinha planos para criar o equivalente a uma
Grande Loja para:
• O Rito de Perfeição.
• O Rito de Mizraim.
• O Rito Escocês Antigo e Aceito.
Entretanto, ele estava sobrecarregado por seus deveres e procurou o
auxílio de George A. Walker Arnott de Arlary (1799–1868) e solicitou
que ele criasse um Grande Concelho dos Ritos para controlar estes três
sistemas dentro da Escócia. Walker Arnott consequentemente criou
este corpo o que, no fim das contas gerou, mais tarde, um conflito com
o Dr. Charles Morison de Greenfield (1780–1849) que, em 1846, criou
o Supremo Concelho para a Escócia e reivindicou jurisdição sobre o
acima mencionado Rito Escocês Antigo e Aceito. Apesar de este ser
um outro aspecto interessante da história maçônica escocesa ele não é
essencial para o tema ora em discussão. O que é importante aqui é que
toda esta atividade durante a primeira metade do século 18, demonstra
uma coisa: que ninguém e nenhum corpo, (afora a Grande Loja da
Escócia) estava inteiramente seguro de quais eram os sistemas
maçônicos não Craft, quem deveria tê-los sob controle e, o mais
importante, de quais cerimoniais eles consistiam. Este último ponto é
demonstrado pelo fato de que na reunião do Grande Conclave de 11 de
março de 1842 (a mesma reunião que autorizou a produção dos
Estatutos da Ordem que continha a primeira história escocesa dos
Cavaleiros Templários maçônicos) uma carta foi lida pelo Fráter G. A.
Walker Arnott inquirindo sobre os graus H.R.D.M. + K.D.S.H. que
pertenciam ao Grande Conclave em virtude das Patentes concedidas
pelo Grão-Mestre dos Cavaleiros Templários da Inglaterra, o Duque de
Kent, em 1813 e 1815. Embora Walker Arnott aparentemente tenha
escrito a carta na qualidade de Cavaleiro Templário, naquele então ele
estava fazendo vigorosas tentativas para revitalizar a Ordem Real da
Escócia. A sua consulta, provavelmente, foi uma tentativa para
clarificar a situação em relação aos cerimoniais “não alocados” para

70
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
auxiliá-lo no trabalho de configuração do Grande Concelho dos Ritos.
Os presentes naquela reunião do Grande Conclave, aparentemente, não
tinham conhecimento das cerimônias de H.R.D.M. + K.D.S.H.
indicando, portanto, que os Cavaleiros Templários, desconheciam e não
praticavam, aquelas cerimônias. O Grande Secretário (1842–1856) do
Grande Conclave, John Linning Woodman (1811–1856), escreveu ao
Grande Conclave da Inglaterra procurando esclarecimentos relativos
aos graus de H.R.D.M. + K.D.S.H inclusos em sua Patente. A resposta
recebida foi: “…vários graus Maçônicos mencionados em sua Patente
concedida pelo Duque de Kent, são praticados ou pela Ordem de
Miszraim ou pela Ordem Real da Escócia”. Esta é uma revelação
significativa. As Patentes do Duque de Kent de 1813 e 1815,
aparentemente concediam à maçonaria dos Cavaleiros Templários
escoceses jurisdição sobre as cerimônias da Ordem Real da Escócia!
Então em janeiro de 1843, o Grande Conclave remeteu toda a questão
para um comitê composto pelos Fráteres: G.A. Walker Arnott; John L.
Woodman e Alexander Deuchar, Past Grão-Mestre, mas ele jamais
ocorreu, apesar de ser oficialmente notificado.
A formação de tal Comitê mostra que foi considerado necessário para
determinar quais cerimônias não Craft haviam, e qual corpo deveria ter
jurisdição sobre elas. A aparente pergunta inocente de Walker Arnott é,
portanto, de grande importância. Ao fazer a pergunta em primeiro
lugar – a questão sobre quem governava o que, teve de ser debatida.
Walker Arnott enquanto expoente da Ordem Real da Escócia (“…é só
em fevereiro de 1843 que as reuniões com o Dr. Walker Arnott se
tornaram habituais, embora fosse membro apenas há dois anos,
geralmente da Cadeira e no papel principal…”), membro do Grande
Conclave, e alguém que havia concordado em criar um Grande Colégio
de Ritos para governar grande número de cerimônias “Maçônicas”,
estava, obviamente, à procura de informações que clarificassem a
posição destas cerimônias na Escócia e lhe permitissem organizar e
“alocar”, estes cerimoniais não Craft conforme lhe fora solicitado por
Deuchar. A ausência de quaisquer registros, quanto o resultado de
qualquer discussão sobre como jurisdicionar sobre as cerimônias não
Craft, sugere que este pequeníssimo grupo, de proeminentes Franco-

71
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
maçons simplesmente decidiram dentre eles próprios como organizar a
Franco-maçonaria não Craft na Escócia.
A importância de se “compartilhar membros” das Ordens é revelada
ainda mais quando o Grande Conclave publicou seus Estatutos em
1843, que incluiu, pela primeira vez, um “Relato Histórico da Ordem”.
O relato dá uma breve versão, comum, da história da Ordem medieval e
sua supressão. Mais adiante no “Relato Histórico” a legitimidade dos
Templários maçônicos franceses é questionada por conta de estar a
declaração de que descende da Ordem medieval baseada num Título de
Larmenius forjado. Em seguida, o relato fornece, pela primeira vez,
uma história razoavelmente abrangente dos Templários escoceses:
“É concorde por todos, mesmo franceses, que os Templários
medievais uniram-se ao estandarte de Robert o Bruce, e lutaram
na sua causa, até que o desenlace da Batalha de Bannockburn
em 1314, seguramente colocou-o no trono. Aquele Monarca
não foi ingrato.”
Alega-se que os Cavaleiros Templários juntaram-se a Bruce antes da
Batalha de Bannockburn, mas assim como a sugestão de que eles
estiveram presentes naquela batalha, não há nenhuma prova de que eles
fizeram isso. No entanto, isto mostra que Robert o Bruce é visto como
fundamental para a sua “História Tradicional”. É interessante que eles
mesmos se distanciam da Ordem Real da Escócia:
“A instituição da ‘Ordem Real’ pelo Rei Robert após a batalha
de Bannockburn, tem levado alguns historiadores a suporem
que os Templários se identificavam com aquele corpo, e quando
consideramos que há séculos esta Ordem foi conectada aos mais
altos graus da Maçonaria, o que em nossos próprios dias têm
sido reconhecido pelos Templários, não causa surpresa, ver
como este erro ainda é muito prevalente. M. Thory em sua
‘Acta Latomorum’, dá conta da Ordem Real, também
denominada de Ordens de H. D. M. de Kilwinning, contudo não
faz nenhuma tentativa, qualquer que seja, para combiná-la com
o Temple. Realmente, como subsequentemente ver-se-á, tal
amalgamação jamais teve lugar.”
A necessidade de mencionar a Ordem Real da Escócia parece deveu-

72
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
se a um desejo de manter as duas Ordens separadas a despeito dos
elementos comuns em suas “Histórias Tradicionais”, que então estavam
sendo criadas. Isso provavelmente, é uma manifestação da influência
do “compartilhar membros”. O Grande Conclave declarou, portanto,
ser mais velho que a Ordem Real, ainda que por poucos anos, e isso
exigiu-lhes a assertiva de que eles, os Cavaleiros Templários, teriam se
juntado a Bruce antes da Batalha de Bannockburn acontecer. Portanto,
estamos diante da seguinte situação, Robert o Bruce foi alegadamente o
responsável pelo estabelecimento de dois corpos maçônicos escoceses –
os Cavaleiros Templários e a Ordem Real imediatamente após
Bannockburn, os dois corpos seguem existindo. Como mais um
enigma, nos é apresentada a visão de um corpo maçônico, o Grande
Conclave, usando parte da história tradicional, isto é mitológica, de
outra Ordem maçônica para apoiar seu próprio passado mitológico.
Aqueles que escreveram as “Histórias Tradicionais” destas duas
Ordens, pelo menos tentaram manter suas histórias mitológicas
separadas e distintas muito embora fossem membros de ambas. A
combinação das duas (e de outras) histórias míticas é uma idealização
mais moderna de autores que não eram membros de qualquer das
Ordens. O lugar de Bruce no mito tem se desenvolvido quase que
imperceptivelmente desde que Anderson afirmou em 1738, que após a
Batalha de Bannockburn, Bruce “empregou o Craft no reparo de
castelos, Palácios e Casas”.
Os principais elementos do mito, que ainda hoje circulam, foram
criados, portanto, dentro da própria maçonaria dos Cavaleiros
Templários como uma “História Tradicional” entre 1842 e 1843, o que
se confirma por evidências internas da Ordem partindo do “Relato
Histórico da Ordem” (1843). Parcela desta evidência é a incorporação
dos Títulos em Latim, que foram reproduzidos por completo no “Relato
Histórico…”. Estes lidam com transferência de terras que teriam
pertencido à Ordem medieval dos Cavaleiros Templários e estão
datados entre 1340 e 1440. Estes Títulos foram transcritos pelo Padre
Hay no começo de 1700 e disponibilizados impressos, pela primeira
vez, por James Maidment na: A Genealogia dos Saintclairs de Rosslyn,
publicada em 1835. O texto dos Títulos como usado pelo Grande
Conclave em seu Relato Histórico é quase que certamente cópia das

73
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
versões impressas dos Títulos de Maidment. Pode-se dizer isto com
considerável certeza porque a versão dos Cavaleiros Templários possui
os mesmos erros, da tradução do Latim, que os de Maidment. Sendo
assim, o mito moderno agora pode ser visto como em processo de
criação. Os Templários modernos estavam bem cientes da obra de
Maidment em seu “Relato Histórico…” pelas citações do Templaria de
Maidment, (1828) que também foram tiradas, e editadas por ele, dos
Manuscritos de Hay.
O processo criativo, além disso, é revelado pelo uso de outro material
mais recente. O “Relato Histórico…” cita o poema, fictício, Halidon
Hill de Walter Scott de 1822. O “Relato Histórico…” afirma que esta
batalha ocorreu em 1402 e como Scott usa como personagens: um
Cavaleiro Templário chamado Adam Vipont e o Prior de Maison-Dieu
(uma preceptoria dos Cavaleiros Hospitalários), isto era a prova de que
as duas Ordens haviam continuado a existir, separadamente, até o início
do século 15. O que Scott deixa claro é que seu poema era uma ficção,
apesar de baseada em eventos da Batalha de Homildon Hill (1402), os
quais ele transferiu para a Batalha de Halidon Hill (1333), e isto
escapou por inteiro daqueles que escreveram o “Relato Histórico…”.
Neste momento, atingimos o ponto central do processo de criação do
mito: ele, o mito, foi inventado entre 1842 e 1843 para, e por, modernos
Cavaleiros Templários escoceses. Ele ainda não havia chegado à sua
forma presente, completa, e portanto, os principais elementos do mito
de 1843 podem ser listados com proveito para nossas comparações.
• Que em todos os lugares, exceto na Escócia, os Cavaleiros
Templários foram julgados e condenados, e suas terras confiscadas.
• Que a Ordem medieval dos Cavaleiros Templários “sobreviveu em
vez de florescer” na Escócia.
• Que a alegação da maçonaria dos Cavaleiros Templários francesa,
de que descendia diretamente da Ordem medieval é falsa, por estar
embasada num falso Título de Transmissão de Larmenius.
• Que Walter de Clifton era Grande Preceptor da Escócia em 1309 e
posteriormente se tornou Grão-Mestre.
• Que em 1309 Robert o Bruce era um fugitivo proscrito.
• Que em 1309 dois Cavaleiros Templários, o Preceptor Walter de
Clifton e William de Middleton, foram interrogados pelo Núncio
74
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
Papal John de Soleure, e por William Lamberton, Bispo de St.
Andrews (?–1328).
• Que o Preceptor Walter de Clifton, admitiu que o resto de seus
Irmãos Escoceses haviam fugido e se juntado a Robert o Bruce.
• Que Clifton e Middleton foram aprisionados por pouco tempo.
• Que os Cavaleiros Templários medievais lutaram na Batalha de
Bannockburn e como recompensa Robert o Bruce confirmou suas
antigas “concessões”.
• Que Robert o Bruce estabeleceu a Ordem Real da Escócia, também
conhecida como a “Ordem dos H.D.M. de Kilwinning”, logo após a
batalha, mas que esta nova Ordem nada tinha a ver com os
Cavaleiros Templários.
• Que a prova da existência continuada, em separado, dos Cavaleiros
Templários na Escócia é confirmada pelo fato de que eles possuíam
terras, tal como demonstrado pelos Títulos em Latim de posse do
Grande Conclave e pelo poema Halidon Hill de Scott.
• Que no reinado de James IV (da Escócia 1488-1513) a Ordem de
São João e os Cavaleiros Templários, em conjunto com suas terras,
foram finalmente amalgamadas.
• Que em 1560 Sir James Sandilands, Preceptor de Torphichen,
renunciou às terras da Ordem amalgamada em favor do Estado em
troca de um Domínio secular e de 10.000 coroas.
• Que os Cavaleiros “…assim despojados de ganhos patrimoniais se
recolhem numa sociedade, tendo David Seton como Grande Prior
da Escócia à testa”.
• Que depois de desaparecida por 200 anos a Ordem ressurgiu.
• Que a sugestão de que, em seguida, a Ordem passou para o controle
dos líderes do partido Jacobita e que isto deu início a associação da
Ordem com corpos maçônicos é um “erro grosseiro” criado por
aqueles que desejavam: “fugir do trabalho de investigação”.
• Que John Graham, Visconde Dundee (?1649–1689) morreu na
Batalha de Killicrankie trajando a Grande Cruz dos Cavaleiros
Templários.

75
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
• Que John Erskine, o 6º ou 11º Conde de Mar, (1675–1732) foi o
sucessor de Dundee como Grão-Mestre dos Cavaleiros Templários e
de que ele foi sucedido pelo Duque de Atholl.
• Que o Duque de Atholl foi sucedido por Charles Edward Stuart (o
Jovem Pretendente) em uma cerimônia de Cavaleiro Templário
realizada no Palácio Holyrood em 1745 (imaginária) 6. Que isto é
apoiado pela existência de uma carta “depositada nos arquivos de
antiga e distinta família escocesa”, onde se descreveria a cerimônia.
• Que após a derrota do levante Jacobita, os Cavaleiros Templários
escoceses foram para o exílio com seu Grão-Mestre. E que aqueles
que ficaram se esconderam nas fileiras dos Franco-maçons.
• Que após a morte de Charles Edward Stuart, John Oliphant, de
Bachilton, se tornou Grão-Mestre e que depois de sua morte em
1795 nenhum Grão-Mestre foi eleito até a morte do último dos
Stuarts, Henry Benedict Maria Stuart (1723–1807) o Cardeal de
York. Daí em diante, a história continua com detalhes do “reino”
de Alexander Deuchar.
O pequeno grupo que foi responsável pela criação do mito, eram em
grande parte aqueles que, em 1836, contribuíram para a revitalização da
Ordem.
“O compilador deste Relato Histórico é desconhecido, mas
acredita-se que foi J. Linning Woodman, que era Grande
Secretário e Arquivista da Ordem de 1842 a 1854. Parece que
ele foi auxiliado por Walter Arnott, Murray Pringle, Prof W.S.,
e por W.E. Aytoun, Professor de Belles Lettres na Universidade
de Edimburgo. O Relato é uma mistura de fato e de ficção, tão
engenhosamente entrelaçado para se produzir uma estrutura
muito difícil de submeter a testes acurados de autenticidade”.
Isto mostra que nesta época o mito estava se tornando semelhante à
versão moderna. Os elementos ausentes são a noção de que os
Cavaleiros Templário franceses fugiram da França para o oeste da

6 NT: – Cerimônia imaginária, visto que na ocasião Charles Edward Stuart,


havia chegado da França, e estava em meio a batalhas por ele comandadas
para tentar assumir o Trono do Reino Unido. Foi derrotado e retornou para
a França onde morreu sem nunca mais retornar para a Grã-Bretanha.
76
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
Escócia com seu “tesouro”, que eles ajudaram Bruce em Bannockburn,
que os Sinclairs de Rosslyn eram Cavaleiros Templários e que a Capela
de Rosslyn era algum tipo repositório para uma multiplicidade de
artefatos.
Somente depois que Charles Darwin (1809–1882) publicou o seu
texto “Sobre a Origem das Espécies…” (1859), o estudo do passado
alcançaria uma metodologia mais rigorosa e “científica”. Ainda assim,
esta forma de examinar o passado começou a ser usada mais para se
estudar a criação e o desenvolvimento do estado-nação do que a
experiência dos indivíduos e/ou grupos. Portanto, o mito nunca foi
seriamente desafiado desde sua criação e se tornou tão arraigado na
mitologia da Franco-maçonaria que quaisquer objeções a ele,
especialmente as originadas dentro da própria Franco-maçonaria, são
ineficazes e frequentemente ridicularizadas.
Em 1859 o filho de Lawrie, William Alexander Lawrie, (1799–1870)
Grande Secretário da Grande Loja da Escócia, publicou uma segunda
edição da obra de seu pai e ele forneceu uma capítulo sobre a história
dos Cavaleiros Templários na Escócia a qual repete e elabora mais a
obra anterior. O livro é bem escrito, mais compreensível e é um relato
mais detalhado da história da Franco-maçonaria escocesa. A
quantidade de espaço devotada a “história” dos Cavaleiros Templários é
talvez uma indicação da grande aceitação do mito como um fato, até
então. Laurie reproduz uma carta de J. Linning Woodman, Arquivista
do Grande Conclave, datada de 22 de março de 1844, no sentido de que
dali em diante a adesão aos Cavaleiros Templários não estaria mais
restrita aos Franco-maçons. A carta foi enviada a ele como Grande
Secretário de modo que a decisão pudesse:
“…ser comunicada aos Maçons Livres da Escócia”.
A carta também inclui a afirmação:
“…que os Cavaleiros do Templo – cuja descendência da Antiga
[medieval] Ordem é inquestionável – embora por um longo
período de tempo tenha subsistido uma conexão entre eles e
Associações Maçônicas agora ela está nalguma medida
rompida…”.
De acordo com a nova história dos Cavaleiros Templários, a Ordem

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Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
medieval era anterior à Franco-maçonaria e tinha criado a Franco-
maçonaria. Logicamente, portanto, não era necessário primeiro ser um
Franco-maçom para se pertencer a ela. Certamente é irônico que uma
“história” tão recentemente criada a partir de outras tradições
maçônicas, tão rapidamente teve como consequência transformar uma
entidade maçônica, fundada por e para Franco-maçons, em uma
entidade não maçônica. O Grande Conclave não foi tão longe a ponto
de exigir que as pessoas se tornassem Cavaleiros Templários antes de se
tornarem Franco-maçons! Há indicações de que alguns realmente
acreditavam na superioridade dos Cavaleiros Templários sobre a
Franco-maçonaria dado que, por exemplo, algumas lojas exigiam que
apenas Cavaleiros Templários pudessem ser detentores de cargos na
loja e que os acampamentos dos Cavaleiros Templários exigiam um
lugar de destaque nos cortejos maçônicos. Talvez, tenha sido sorte, o
Grande Conclave não permitir aos seus acampamentos a admissão de
não maçons ao preservar este privilégio para si mesmo, o qual,
aparentemente, ele nunca exerceu. Em 1856 o Grande Conclave
reverteu a decisão anterior e novamente se tornou uma entidade
inteiramente maçônica.
D. Murray Lyon (1820–1903), em seu livro “História da Loja de
Edimburgo da Capela de Maria Nº 1, abrangendo um relato do
surgimento e progresso da franco-maçonaria na Escócia” (1873), faz
uma valente tentativa de registrar a definição correta. No início do
Capítulo que lida com os Cavaleiros Templários ele afirma:
“Em seu ardente desejo de associar ideias de antiguidade com
os ‘Altos Graus’, alguns escritores não tem hesitado em
identificar os Templários Maçônicos ora existentes como os
verdadeiros representantes dos Cavaleiros Templários da Idade
Média. Nisto eles estão completamente equivocados. O
Templarismo Maçônico não possui, em nenhum sentido, uma
relação com os Templários das Cruzadas, mas é um ramo do
sistema de Cavalaria Maçônica que teve sua origem no
Continente em torno de cento e trinta anos atrás”.
Este breve levantamento de alguns dos materiais relativos aos
aspectos escoceses do mito, demonstra um processo de adição,
embelezamento e adaptação de uma estória fictícia que teve início logo
78
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
no começo de 1628 por maçons canteiros que procuravam por um
sólido fundamento para uma distintiva história escocesa. A mistura de
mitos e lendas com a rememoração de meias verdades, criou uma
romântica e rica “História Tradicional” que continua a crescer e a se
desenvolver.

“E V I D Ê N C I A S ” U S A D A S PAR A S U S T E N TAR O M I T O
Nos últimos 20 anos, várias declarações foram feitas sobre a
existência de provas, ou de uma nova interpretação dos eventos, como
apoio ao mito. Apenas o período de 1307 a 1329 relativo as alegadas
evidências é examinado aqui, por ser o período mais crucial para se
testar a hipótese e, devido a limitações de espaço, apenas os elementos
principais dos aspectos escoceses do mito são considerados.
Se um certo número de navios dos Cavaleiros Templários zarparam
para a Escócia em 12 de outubro de 1307, os proponentes do mito
argumentam que Argyll foi escolhida pelas seguintes razões:
• Robert o Bruce foi excomungado em 1306 pelo assassinato de John
“o Vermelho” Comyn numa igreja em Dumfries e por isso a lei
Papal não podia ser aplicada na Escócia. A Ordem herética dos
Cavaleiros Templários, portanto, estava além da autoridade Papal.
• O mar no entorno de Argyll estava sob o controle dos aliados de
Robert o Bruce.
• Argyll era uma parte da Escócia isolada e pouco povoada.

A EXCOMUNHÃO DE BRUCE
A excomunhão de Bruce é uma alegação usada por ser um dos fatores
mais importantes em favor da escolha da Escócia pelos Cavaleiros
Templários. “Bruce foi excomungado a 10 de Fevereiro de 1305. [sic]
O fato que Bruce foi excomungado… foi o que mais os atraiu para que
a Escócia fosse um santuário – era um dos poucos lugares do planeta
onde o Papa não poderia alcançá-los.”. A maioria dos escritores
populares também adotam esta visão.
Que o Papa excomungou Bruce não está posto em questão. No
entanto, a excomunhão é aplicada a uma pessoa e não a um país. Não
há nenhuma sugestão de que os escoceses tenham parado de frequentar
a igreja ou de que a Igreja tenha tratado o povo como se todo ele

79
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
houvesse sido excomungado. Alguns autores vão muito longe,
chegando a sugerir que por causa da excomunhão de Bruce a Escócia
foi considerada como um país pagão, e portanto, passível de ser objeto
de uma cruzada. Esta é uma má compreensão do que é a excomunhão
e de sua intenção – punir um transgressor mas deixar o caminho aberto
para uma reconciliação com a Igreja. Philip IV da França promoveu a
prisão em massa dos Cavaleiros Templários. Foi só mais tarde que
Clemente V acrescentou sua sansão aos atos de Philip. As autoridades
seculares em nome da Igreja teriam realizado a prisão de muitos
Cavaleiros Templários na Escócia e noutros lugares. Portanto, apesar
de Bruce estar excomungado ele poderia ter preso qualquer Cavaleiro
Templário na Escócia se desejasse. Não fez isso, não tinha a ver com
sua excomunhão mas, se ele sentiu, ou não, a necessidade de fazê-lo.
Outra possibilidade, é a de que simplesmente não houve prisão em
massa porque não havia massa para prender!
Num esforço para se apoiar a ideia de que a Igreja da Escócia
conspirou com Bruce para proteger os Cavaleiros Templários heréticos,
sugeriu-se que Bruce e a Igreja da Escócia estavam unidos em seus
intuitos mútuos de obter independência para a Escócia. Que o clérigo
que apoiou Bruce o fez a fim de manter sua própria independência da
Inglaterra – independência para a Igreja da Escócia. Em 1192 a Igreja
escocesa passou a ser uma “Filha Especial” da Santa Sé, o que significa
que os bispados respondiam apenas para Roma. Os membros da Igreja
da Escócia não desejavam substituir esse grau de independência pela
dominação da Igreja da Inglaterra.
Há evidências mostrando que os membros da Igreja da Escócia
enfrentaram uma escolha difícil – apoiar Bruce ou o Papa. Muitos
optaram por aplicar as sanções exigidas pela Bula de Excomunhão (i.e.
não celebrar Missa para Bruce, etc.) e parcela dos sacerdotes pagaram
com suas vidas por essa recusa. Também é sabido que um dos seus
principais apoiadores, o Bispo William de Lamberton (?–1328),
participou de um julgamento inglês de dois Cavaleiros Templários
escoceses. Isto demonstra que uma das maiores figuras da causa
escocesa estava preparada para auxiliar a Igreja e as autoridades
inglesas sobre a questão dos Cavaleiros Templários fugitivos, e que a
excomunhão de Bruce significava pouco, ou nada, em relação a isso.

80
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
Dados os inúmeros contatos entre a Escócia e França durante este
período não é de se estranhar que Philipe de França tenha escrito para
Bruce solicitando que ele aprisionasse qualquer Cavaleiro Templário
fugitivo, que fosse encontrado nas terras sob sua jurisdição. Na
verdade Philip escreveu para todos os monarcas da Europa fazendo o
mesmo pedido. A Escócia não foi um caso especial neste aspecto. O
que é importante é que Bruce recebeu a carta de Philip e que ela foi
discutida no Parlamento reunido em St. Andrews em 16 e 17 de março
de 1390. Como ela foi debatida – embora a decisão do Parlamento, se
é que houve alguma, não seja conhecida – indica que a prisão e
perseguição de todos os Cavaleiros Templários em toda a Europa era de
conhecimento geral. O Parlamento foi convocado por inúmeras
razões, uma das quais foi, que todos aqueles que até então haviam se
oposto a Bruce mas que desejavam fazer as pazes poderiam se reunir a
fim de o fazer. Dificilmente foi um fórum no qual um debate sobre a
existência “secreta” de Cavaleiros Templários e seu destino teria sido
proposto. Naquele Parlamento estavam presentes homens que até
pouco antes tinham sido inimigos de Bruce – sendo o mais importante
dele Alexander de Argyll (pai de John de Lorn). É inconcebível que
homens vindos da área onde se diz que os Cavaleiros Templários teriam
desembarcado, e que estavam vivendo como fugitivos, não tivessem
relatado isso naquele Parlamento. Mesmo que não o fizessem,
certamente, eles e outros relatariam a existência destes Cavaleiros
Templários na Escócia para Edward II bem como para Philip IV.

A S U P O S TA L O C A L I D A D E A R G Y L L
Alega-se que Argyll, era ideal para os Cavaleiros Templários
fugitivos pois o acesso pelo mar era seguro e a terra era tanto isolada
como pouco povoada. A primeira parte não é tão simples e a última é
incorreta.
Argumenta-se que as rotas marítimas para fugitivos da França, em
1307, quer através do Mar da Irlanda entre Irlanda e Inglaterra até a
Escócia ou contornando a costa oeste da Irlanda até a Escócia. Como o
Mar da Irlanda estava dominado pela frota inglesa é sugerido que a
única rota marítima possível para Argyll era contornando a costa oeste
da Irlanda e subir o estreito de Sound of Jura (com Islay e Jura a oeste e
a península Kintyre a leste) em Loch Sween. A existência deste
81
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
alegado “canal livre” baseia-se no fato de que os aliados de Robert o
Bruce mantinham Islay, Jura e Kintyre e que os aliados de Edward I e
Edward II não operavam nesta área.
O grande problema é que nenhum dos proponentes do mito define a
área que eles descrevem como Argyll. A Argyll moderna compreende
Kintyre e Knapdale, Cowal (área sul de Loch Awe), Lorn (área norte
de Loch Awe) e Argyll setentrional em conjunto com as ilhas de Islay,
Jura, Mull, Tiree, Coll, Lismore, Iona, Staffa e Colonsay. Todo o
território de Argyll possui uma costa ocidental. Em 1301 Edward I
tinha construído uma aliança que incluía os MacDonalds de Islay, e os
MacDougalls de Lorn. Quando Bruce matou John (o Vermelho)
Comyn a situação política em Argyll mudou. Os MacDougalls de Lorn
estavam ligados aos Comyns por casamento pois Alexander
MacDougall de Argyll, pai de John de Lorn, tinha se casado com uma
filha de John Comyn. A morte de Comyn criou um conflito sangrento
entre Bruce e os MacDougalls. Eles eram essencialmente um clã que
vivia em terra, mas também tinham capacidade de guerrear no mar
como é evidenciado por uma carta escrita para Edward II, em março de
1309, na qual John MacDougall menciona que ele mantinha galeras em
Loch Etive (um braço de mar) e em Loch Awe. Para Cavaleiros
Templários chegarem, sem serem notados, na soleira da porta dos
MacDougalls seria muito improvável, especialmente no momento em
que um conflito sangrento estava em curso.
Os MacDonalds de Islay, liderados por Angus Og (c 1274 – c.1320),
eram aliados de Edward I e lutavam por ele contra os MacDougalls de
Lorn. A morte de Comyn por Bruce não significa que os MacDonalds
tiveram que realinhar sua aliança ao contrário dos MacDougalls que,
como citado acima, tinham uma aliança conjugal. Angus Og estava a
serviço de Edward I em 1301 contra os MacDougalls, porém, além
disso, não há nenhuma referência a ele até ser mencionado por Barbour
em The Bruce onde é descrito como seguidor de Bruce em 1306. Dado
que Barbour estava escrevendo retrospectivamente, se bem que
beneficiado por evidências contemporâneas, não se pode pôr de lado
que ele exagerou o papel de um eventual adepto de Robert I. O peso
dado sobre este aspecto na obra de alguém, partes da qual foram
descartadas como meras lendas, é indicativo do uso seletivo do material

82
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
de origem. O ponto, no entanto, é que as rotas marítimas disponíveis
para os Cavaleiros Templários supostamente em fuga, não eram seguras
e não poderiam passar desapercebidos como se poderia pensar.
Assim, Argyll estava muito longe de ser um lugar de águas tranquilas.
Não só em Argyll ocorreram eventos que demonstram isso, mas
homens de Argyll também estavam envolvidos na guerra contra Bruce
noutros lugares da Escócia. John MacDougall de Lorn (Barrow o
chama “de Argyll”) derrotou Bruce na Batalha de Dail Righ (em Dalry,
próximo de Tyndrum) em agosto de 1306. Em Inverurie a 23 de maio
de 1308 Bruce derrotou John Comyn, Conde de Buchan. Em 1309 ele
confrontou-se novamente com os MacDougalls na Passagem de
Brander e apesar dos MacDougalls serem derrotados (enquanto John
MacDougall de Lorn observava de uma galera em Loch Etive),
aparentemente, não foram expulsos de suas terras, mas só depois de
1314. Em 1315 Bruce despojou-os de suas terras e deu-as para Sir
Colin Campbell (o antepassado dos Duques de Argyll) como
recompensa por seu apoio na Batalha de Bannockburn. A mudança de
proprietário não significa que houve um êxodo em massa da população
que vivia no território MacDougall, mas que eles tiveram de dar sua
lealdade para outro chefe de clã.
Tais atividades também indicam que Argyll não era uma região
isolada da Escócia. Na Escócia medieval o meio mais fácil e rápido de
viajar era por mar. Hoje tendemos a pensar em viagem em termos de
tempo gasto e de milhas percorridas em terra, já no início do século 14
a segurança e a facilidade de deslocamento eram as preocupações
centrais. Como Argyll tinha, e tem, uma longa faixa costeira ela era
um local ideal para todos os tipos de atividades marítimas: comércio,
pesca, construção e reparo de embarcações, etc. Tais atividades
significam que a área comportou uma considerável população em
comparação com outras regiões rurais da Escócia. Do ponto de vista
dos que viviam em Argyll ele era um lugar muito movimentado por
estar junto ou próximo da “confluência” de rotas marítimas para a
Irlanda, Escócia ocidental, Ilha de Man e noroeste da Inglaterra. Para
estes habitantes, era o resto da Escócia que estava distante e isolado. A
área não pode ser descrita como isolada nem pouco povoada. À luz do
exposto acima, parece ser um lugar improvável para fugitivos, de

83
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
qualquer tipo, como sendo uma escolha deliberada ali aportar e se
esconder. A sugestão de que os Cavaleiros Templários fugitivos
escolheriam se esconder lá é ainda mais curiosa quando nos lembramos
de que esta é uma região da Escócia onde eles não tinham propriedades
nem preceptorias.

84
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito

BANNOCKBURN
A suposta intervenção dos Cavaleiros Templários na Batalha de
Bannockburn, é um outro ponto de apoio crucial para o mito. Temos
por exemplo:
“A batalha teve lugar próximo ao Castelo Stirling no Dia de São
João em Junho, uma data importante para as Ordens Militares.
[sic] Relatos do conflito são escassos e incompletos. Porém
eles testificam dois eventos estranhos. Houve uma carga de
cavalaria contra os arqueiros ingleses vinda de uma reserva que
Bruce mantivera na retaguarda. E quando, de ambos os lados,
todas as tropas estavam em combate, uma nova força de
cavaleiros apareceu com estandartes tremulando e derrotaram o
Inglês. Conquanto uma lenda escocesa declara que eles eram
civis a campo, montados em pôneis e agitando lençóis, clavas e
forcados, tal turbamulta nunca poderia ter posto o Rei Inglês e
quinhentos cavaleiros em fuga imediata.”
Esta descrição da batalha, com pequenas variações, é repetida pela
maioria daqueles que sustentam a Visão Popular ou Alternativa. No
entanto, há um substancial conjunto de evidências contemporâneas ou
próximas que são completamente ignoradas pelos defensores do mito.
Estas fontes são de suma importância para qualquer estudo, e
compreensão, da Escócia e da Inglaterra do século 14. estas fontes
primárias são:
Chronica Galfridi le Baker de Swynebroke, ed, E. Maunde
Baker
Thompson (Oxford, 1889).
Gesta Edwardi de Carnarvan auctore canonico,
Bridlington Bridlingtoniensi in Stubbs Chronicles 11 (Rolls Series,
1882–3).
The Brut ou Crônicas da Inglaterra ed. F W D Brie (Oxford,
Brut
Early English Text Society, 1906), 1.
Brut y Tywysogyon, Red Book of Hergest version, ed.
Brut
Thomas Jones, (UWP, Cardiff, 1941).
Brut y Tywysogion, ed. John Williams, (London: Longman,
Brut
Green et al 1860).

85
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
Flores Flores Historiam, ed. H.G. Luard (Rolls Series, 1890).
As Crônicas de Walter de Guisburgh anteriormente editadas
como a Crônica de Walter de Hemingford ou Hemingburgh,
Guisburg
ed. H. Rothwell para a Royal Historical Society (Camden
Series LXXXIX, Londres, 1957).
Polychronicon Ranulphi Higden Monachi Cestrensis with
Higden the English translations of John de Trevisa etc. ed. C.
Babington and J.R. Lumby (Rolls Series, 1965), VII.
The Chronicle of Holyrood, ed. Marjorie O. Anderson,
Holyrood
(Edinburgh, Constable for the University Press, 1938).
Chronicon Henrici Knighton, ed J.R. Lumby (Rolls Series
Knighton
1895). I.
Chronicle of Lanercost, translated by Sir Herbert Maxwell
Lanercost
(Maclehose, Glasgow, 1913).
Chronicon de Lanercost, ed. J. Stevenson (Maitland Club,
Lanercost
Edinburgh, 1839).
The Chronicles of London, ed. and trans. E. Goldsmid
London
(Edinburgh, 1885) II.
Chronicle of Melrose trans. by J. Stevenson, in Church
Melrose
Historians of England (London, 1835–8).
Chronicle of Melrose, Facsimile Edition, ed. A. O. Anderson
Melrose
et al London 1936).
Chronica Monasterii de Melsa, auctore Thoma de Burton,
Melsa Abbate, ed. E. A. Bond (Rolls series, 1867, Longmans,
Green, Reader and Dyer).
The Illustrated Chronicles of Matthew Paris, trans and ed.
Paris by Richard Vaughan, Allan Sutton, Corpus Christi,
Cambridge, 1993.
Paulini Annales Paulini, ed. Stubbs, (London, 1882, Rolls Series).
Rotuli Scotiae ed. D. MacPherson, i, (Record Commission,
Rotuli Scotiae
London, 1814–19).
Rymer’s Foedera Syllabus of Documents Relating to England and Other
Kingdoms ed. By Thomas Dufus Hardy Vol 1.1066–1377

86
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
(London 1869).
Scalacronica by Sir Thomas Gray of Heton, ed. and trans by
Scalacronica
Sir H. Maxwell (Glasgow, 1907).
Scalacronica by Sir Thomas Gray of Heton, (Maitland Club,
Scalacronica
1836)
Johannis de Trokelowe et Henrici de Blaneforde Chronica et
Trokelowe
Annales, ed. H.T. Riley (Rolls Series, 1865).
[Continuation of Bridlington of early years of Ed II] F.
Triveti Nicholai Triveti, Annales, ed. Thomas Hog for English
Historical Society, 1845.
Vita Edwardi
ed. N. Denholm-Young (London, Nelson, 1957).
Secundi
Vita Edwardi
(Rolls Series 1882).
Secundi

Além destas fontes contemporâneas, há uma outra fonte quase


contemporânea, que foi muito usada neste ensaio, que é The Bruce, de
John Barbour, 1375.
Antes de começar a discussão a respeito de Robert o Bruce, da
Batalha de Bannockburn, etc., há um ponto subsidiário, que é
particularmente relevante para a Franco-maçonaria escocesa, sobre o
qual se faz necessária uma apreciação. Quase sem exceção, os
defensores da Visão Alternativa mencionam que a Batalha de
Bannockburn foi travada em 24 de junho e que esta data é
“importante”. O 24 de junho é o Dia de São João Batista, uma data
observada pelos Cavaleiros Templários. Ela também é importante para
os Franco-maçons por ser o dia escolhido para sua comemoração anual.
Mas a tentativa de ligar a Franco-maçonaria com os Cavaleiros
Templários medievais por conta de uma suposta coincidência de dias
festivos anuais, está condenada ao fracasso. Em primeiro lugar, a
maioria dos historiadores concordam que a Batalha de Bannockburn foi
travada durante dois dias (23 e 24 de junho). Em segundo lugar, o Dia
de São João Batista era apenas um dos muitos dias que eram
observados pelos Cavaleiros Templários. Na verdade, a Ordem
medieval era particularmente devotada à Virgem, a quem todos os

87
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
outros santos estavam, é claro, subordinados. O uso deste santo para
conectar a Franco-maçonaria com os Cavaleiros Templários é comum:
“João o Batista era o santo padroeiro de ambos, dos Cavaleiros
Templários e dos Franco-maçons”. A partir deste pressuposto segue-
se, portanto, que este Dia Festivo, 24 de junho, tem um significado
especial para os Franco-maçons e isto provavelmente seja verdade
noutros lugares – exceto na Escócia. A suposição de que a história e a
prática maçônica inglesa seja a mesma da Escócia, é uma demonstração
de como alguém pode ser induzido a erro.
Muitos escritores não diferenciam os maçons canteiros dos Franco-
maçons. Elos entre os maçons canteiros e os Franco-maçons podem
ser muito facilmente encontrados na Escócia, contudo, os vestígios
documentais destes elos só serão encontrados em 1599, quando os
primeiros registros de uma loja de maçons canteiros se iniciam. Da
mesma maneira, a data deva ser considerada cautelosamente, pois é só
em 1634 que o primeiro indivíduo que não é um maçom canteiro é
registrado como tendo se filiado a uma loja de maçons canteiros – a
Loja de Edimburgo. Portanto, há um período de 320 anos sem
qualquer evidência de qualquer conexão entre os dois (i.e. o período
entre a suposta criação da “Franco-maçonaria” por Robert o Bruce e os
mais antigos registros de loja). Mais importante ainda, não há
nenhuma evidência, qualquer que seja de que, o que os maçons
canteiros escoceses do século 17 faziam em suas lojas fosse o que os
maçons canteiros faziam antigamente. Portanto, não só não existe
nenhuma evidência contemporânea de uma ligação entre os Cavaleiros
Templários medievais e a moderna Franco-maçonaria (período de 1314
a 1778), como também não há nenhuma evidência de um elo direto
entre os maçons canteiros e os Franco-maçons antes de 1599. A razão
do pela qual 1598-1599 é um momento histórico decisivo está bastante
explicada noutro lugar.
A existência de evidências relativas aos maçons canteiros anteriores a
1598-1599 não são encontradas nos Livros de Minutas das lojas, mas
nos registros locais ou nacionais. Eles nos abastecem com alguma
compreensão sobre a vida e atividades dos maçons canteiros escoceses.
Em 1475 aos maçons e os wrights (carpinteiros) de Edimburgo foi

88
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
concedido um Selo de Causa,7 que os incorporou numa entidade
oficialmente reconhecida. Ela concedia à “Incorporação dos Wrights e
Maçons” certos direitos e impunha certas responsabilidades. O que
nos interessa aqui é que os maçons canteiros se tronaram responsáveis
pela manutenção da nave de São João Batista na igreja de São Gil em
Edimburgo. Desde a época quando se iniciam os primeiros registro de
loja, até há relativamente pouco tempo, as lojas escocesas sempre
realizaram sua reunião anual de Instalação, (amiúde a única reunião
registrada) em 27 de dezembro. A ênfase dada ao dia 24 de junho
como data importante que conecta os Franco-maçons aos Cavaleiros
Templários medievais, na Escócia, simplesmente não existe.
Uma questão ainda mais importante pode ser: “que evidência existe,
se é que há alguma, da intervenção de membros da Ordem medieval
dos Cavaleiros Templários na Batalha de Bannockburn?”
A afirmação: “Relatos do conflito [a Batalha de Bannockburn] são
escassos e incompletos” demonstra o cerne deste problema. Nenhuma
evidência é fornecida como apoio para este argumento. De fato, os
relatos da batalha são numerosos e contemporâneos, como descrito
anteriormente. Uns poucos são quase contemporâneos.
Embora nenhuma destas fontes forneça qualquer evidência de que os
Cavaleiros Templários estivessem na Batalha de Bannockburn, ainda
assim podemos olhar como se lá estivessem, e o que é mais importante,
que papel crucial eles tiveram no resultado. O argumento é que
somente quando a batalha estava em jogo uma outra força
misteriosamente apareceu no campo. Esta nova força fez com que os
cavaleiros ingleses perdessem o ânimo e abandonassem o campo de
batalha. Quem, senão os Cavaleiros Templários, poderia ter provocado
tal reação? Sugere-se que, como ninguém menciona seu súbito
aparecimento, isto confirma a hipótese de sua presença. O argumento
é apresentado deste modo: se diz que, os escoceses não podiam admitir
que os “heréticos” Cavaleiros Templários os tivessem auxiliado, a fim
de não se antagonizarem com o Papa. Que os ingleses não mencionam

7 NT: – Seal of Cause ou Selo de Causa ou ainda Selo de Produção, expressão


escocesa para Carta Patente emitida pelo burgo ou cidade permitindo a um
grupo de artífices organizados numa corporação trabalhar. Portanto, não é
algo concedido por autoridade maior como um Conde, Duque ou Rei.
89
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
que os Cavaleiros Templários foram a causa de sua derrota por conta do
constrangimento da derrota. A ausência de qualquer evidência do
envolvimento dos Cavaleiros Templários é, portanto, usada como
“prova” de que eles estiveram presentes!
A evidência existente que não é usada, nem discutida, é digna de
breve menção, ou seja, The Bruce de 1372 de John Barbour (1325-
1395). Ali ele reconta a vida e façanhas de Robert o Bruce e, é uma
das mais importantes fontes de informação a respeito dele e do grande
esforço pela independência da Escócia. É particularmente valioso em
relação à Batalha de Bannockburn com respeito à “força
desconhecida”. Há evidências nacionais mostrando que Barbour teve
acesso: a material hoje perdido, e também ao depoimento de
testemunhas oculares. O relato de Barbour é quase contemporâneo ao
período e dificilmente poderia ser descartado como “lenda”. Como a
suposta aparição repentina dos Cavaleiros Templários medievais
durante a Batalha é essencial para mito, vale a pena repetir a descrição
de Barbour da “força desconhecida” e a parte que teve no conflito.
“Então ele [Bruce] enviou toda a gente miúda e cocheiros, com
equipamento e provisões em Campo por bom caminho para
longe dele, e tendo eles saído [para longe] das divisões; foram
pelo caminho que lhes ordenara… O rei tinha-os assim
dispostos pois sabia que seus inimigos permaneceriam por toda
a noite em Falkirk …” (Traduzido)
Livro 11 linhas 427 até 431 e linhas 441 até 444
“Neste ponto que vos estou dizendo exatamente assim, quando
ao longe a batalha estava sendo travada, onde cada lado deles
lutava vigorosamente, camponeses montados, meninos e
homens a pé que haviam deixado o Campo para vigiar as
provisões, ao se darem conta, sem dúvida, de que seus amos
estavam combatendo seus inimigos em desesperado combate,
fizeram um deles, [dentre aqueles] que lá estavam, comandante
deles todos, e firmaram lençóis, que eram abundantes, como
que estandartes em pontas de estacas e lanças, dizendo-se
resolutos em ver a luta e em ajudar ao máximo os seus amos.
Quando todos aquiesceram, reunidos como um só corpo – eram
quinze mil ou mais – em grande velocidade foram com seus
90
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
estandartes juntos como uma só força, como se bravos homens
fortes fossem. Vieram com tudo que reuniram para onde
certamente pudessem ver a batalha, e então juntos gritavam,
‘Morte! Morte! Para cima deles agora!’ e assim estavam
vindo, embora ainda estivessem bem distante. Os homens
ingleses que estavam ganhando terreno por força da pressão,
como disse eu antes, quando viram vindo em sua direção tão
grande companhia, assim bradando, [como companhia] que
pensavam que fosse, pelo menos, tão numerosa quanto a que ali
lutava contra eles, e que não a haviam visto antes, [notado]
podeis acreditar, que o melhor, o mais bravo, dos que estavam
em seu exército naquele dia, desejou que estivessem [noutro
lugar] com sua honra. O Rei Robert viu de sua retaguarda que
a derrota estava próxima, e sendo dado seu grito de guerra,
então com aqueles de sua companhia forçou seus inimigos tão
duramente que de tão apreensivos, perderam mais e mais
terreno para todos os escoceses que lá estavam, quando os
viram escapando da luta, lançaram-se sobre eles com todas as
suas forças. Eles se dispersaram em grupos diversos e já quase
derrotados; alguns deles fugiram abertamente, porém alguns
que eram bravos e destemidos, a quem a vergonha impedira que
fugissem, mantiveram-se em contenda a duras penas,
permanecendo firmes no combate.” (Traduzido)
Livro 13 linhas 225 até 281
A partir disso pode-se perceber que Bruce providenciou, antes da
batalha, para que a “gente miúda e cocheiros” fossem separados de sua
força principal porque esses homens eram indisciplinados, inconfiáveis
e geralmente mal armados. Na Batalha de Loudoun Hill (10 de maio
de 1307) ele fez os mesmos preparativos.
“Os carroceiros e a gente pobre que não tinham valor na batalha
ele deixou atrás de sim, parados junto à colina.” (Traduzido)
Livro 8 linhas 275 até 278.
Isto revela detalhes significativos ignorados pelos que defendem a
visão alternativa. Separar a “gente miúda” do exército principal era
uma prática normal porque, como em Loudoun Hill, como diz Barbour

91
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
eles “não tinham valor em batalha”. Eles eram “carreteiros”
(cocheiros) e “gente pobre” (em termos de habilidade para luta).
Portanto, sabemos quem eram estes homens extra em Bannockburn.
Dificilmente se pode descrevê-los como uma: “força reserva
desconhecida”. Não há nenhuma evidência sugerindo que: “A batalha
de Bannockburn foi sendo vencida com a chegada de uma força
Templária liderada pelo Grão-Mestre dos Templários escoceses, Sir
William St. Clair”. Não há nenhuma evidência, qualquer que seja, para
apoiar a afirmação que: “Robert o Bruce não era apenas um
[Cavaleiro] Templário…”.
A descrição de Barbour revela que a gente miúda nunca realmente
tomou parte no combate em Bannockburn. Eles estavam tão longe que
ao chegarem as forças inglesas já tinham deixado o campo. Barbour
também reforça sua visão da inconfiabilidade destes homens porque,
em vez de ajudar o exército na perseguição dos ingleses, eles pararam
no campo de batalha para saquear os mortos e moribundos. “Rapazes,
meninos e a ralé, quando viram a força [inglesa] derrotada, correram
entre eles e os mataram, bem como os que não podiam se defender –
foi terrível ver”. Barbour tem pouca consideração pelas habilidades de
combate dessa “gente pobre” e, ao fazer tamanho esforço para
descrever sua inconfiabilidade, ele fornece uma compreensão detalhada
do papel que eles tiveram, antes, durante e depois da batalha. Esses
homens inexperientes e indisciplinados tinham de ser incluídos em seu
relato da guerra de Bruce pela independência, por razões políticas,
porque o seu envolvimento demonstrou que toda a população apoiou
Bruce.
De todas fontes contemporâneas, ou quase contemporâneas, (veja-se
as listadas acima) apenas Barbour em The Bruce descreve a intervenção
de outro grupo na batalha. Esta fonte contemporânea, a única fonte
medieval da intervenção de uma outra força em Bannockburn tem sido
descartada como lenda. No entanto, tem sido usada e apresentada para
provar que a “gente miúda” descrita por Barbour eram na verdade
Cavaleiros Templários!

92
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito

OUTROS PROBLEMAS
Depois de Bruce assassinar Comyn em 1306 ele tornou-se um
fugitivo escapando de um esconderijo a outro. Quando ele ficava e
lutava ou era derrotado ou o resultado não era conclusivo como: na
Batalha de Methven em 1306; na Batalha de Loudon em 1307; na
Batalha de Inverurie em 1308; e na Batalha de Brander em 1309. O
período imediatamente após a suposta chegada dos Cavaleiros
Templários na Escócia foi crucial para a sobrevivência de Bruce.
Alguns escritores argumentam que os Cavaleiros Templários fugitivos
viriam para a Escócia porque Bruce os receberia e lhes concederia
santuário. Mas, naquele então, ele não controlava qualquer parcela
substancial do país. Se os Cavaleiros Templários aportassem na
Escócia, sua sobrevivência teria dependido de Bruce (e da Escócia)
derrotar os ingleses e seus aliados escoceses. Somente deste modo seu
santuário estaria seguro e continuaria a salvo. Mas os Cavaleiros
Templários não obtiveram de Bruce – seu suposto salvador, protetor, e
razão para virem para a Escócia – nenhuma ajuda, por menor que fosse,
durante os anos de sua mais desesperada necessidade de auxílio. Eles
ignoraram batalhas, confrontos e escaramuças deixando-os vencer, ou
perder, sem sua ajuda. Assim, de acordo com o mito, eles teriam
esperado pela maior batalha, a qual ocorreria quase sete anos após a sua
chegada na Escócia e preferiram se esconder por sete anos antes de
repentinamente aparecerem em Bannockburn.
O último grande envolvimento militar dos Cavaleiros Templários
ocorreu em 1291 na Batalha de Acre quando as perdas dos Cavaleiros
Templários foram muito pesadas e que: “…levou à dissipação virtual
da linha de frente das forças de combate Templárias”. Para substituir
essas perdas uma ação de recrutamento aconteceu imediatamente
depois. Esta pequena quantidade de sangue novo foi perdida quando,
em 1302, Mamelucos de Trípoli, sitiaram e mataram de fome a ilha de
Ruad (ao largo da costa Síria em Tortosa) levando à capitulação. O
que significa que os Cavaleiros Templários lá perderam sua raison
d’être e tornaram-se uma Ordem sem propósito. Depois disso, a
Ordem tentou obter apoio para uma outra cruzada com o fito de retomar
a Terra Santa, mas sem sucesso. Alguns mitologistas explicam que a
razão para a derrota inglesa em Bannockburn deveu-se não somente ao
93
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
repentino aparecimento dos Cavaleiros Templários medievais no
campo, mas, mais essencialmente, por sua conhecida e temível aptidão
em combate. “Pois a carga deste novo esquadrão lançou o terror aos
ingleses”.
Nos séculos 13 e 14 um cavaleiro talentoso, mesmo sem treinamento
completo, teria aproximadamente 20 anos de idade. Se um cavaleiro já
pronto, capaz de executar todos os deveres exigidos, entrasse na Ordem
dos Cavaleiros Templários nessa época, isso significaria que na derrota
em Acre, o mais jovem dos Cavaleiros Templários ali presente teria
nascido em 1271. Destes Cavaleiros Templários, o último a ter uma
verdadeira experiência em batalha teria 43 anos, ou mais, em 1314. Se
esta sua aptidão para o combate, que fora provada 23 anos antes em
Acre (sua maior e última derrota), ainda conseguiu inspirar temor entre
as fileiras de cavaleiros ingleses, deve ser tratada com alguma cautela.
Noutras palavras, o que está sendo sugerido é que no final de 1307
alguns Cavaleiros Templários desembarcaram na costa de Argyll,
ficaram escondidos lá por sete anos, ignoraram todas as batalhas
desesperadas de Bruce e etc. durante 1307 a 1314, até que sete anos
depois, decidiram fazer carga no campo de Bannockburn.

94
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito

E V I D Ê N C I A S F Í S I C A S – L Á P I D E S E M K I L M A RTI N
Foi dito por alguns que a busca por evidências documentais de uma
conexão entre a Franco-maçonaria moderna e os Cavaleiros Templários
(na Escócia) estava destinada ao fracasso pois tais provas documentais
da conexão não existem. Entretanto, diz-se que a prova existe “sobre a
terra” e nunca foi examinada pelos historiadores maçônicos.
A principal evidência física da alegada existência de Cavaleiros
Templários em Argyll concentra-se no cemitério de Kilmartin. As
lápides, as quais se diz provarem que os Cavaleiros Templários viveram
e morreram lá, possuem só meros esboços de espadas. Tais lápides,
alega-se, indicam o último lugar descanso de um Cavaleiro Templário,
porque elas são anônimos. Estas lápides precisam ser anônimas devido
a excomunhão de Bruce e ele não poderia ficar ainda mais embaraçado
pela existência de Cavaleiros Templários hereges na Escócia, já que ele
desejava que o país recém-independente fosse readmitido dentro da
Cristandade europeia. Mas em 1307 Bruce estava perdendo e de fato
continuou em desvantagem por alguns anos até a inequívoca vitória em
Bannockburn que firmou o seu reinado. O fato de ele ser
excomungado em 1306 e de correr grande perigo de ser capturado e
executado, parece ser uma razão muito ruim para que Cavaleiros
Templários fugitivos procurassem por santuário em uma Escócia, então
dilacerada pela guerra civil.
A “evidência física” para a suposta existência de Cavaleiros
Templários em Argyll, está baseada em uma suposta necessidade de
anonimato. Portanto, é pertinente questionarmos, onde estão na
Escócia, as lápides dos Cavaleiros Templários que morreram antes de
1307 e que não carecem de anonimato? Cavaleiros Templários que
morreram antes de 1307 deveriam ter lápides que deixassem claro que
os sepultados eram Cavaleiros Templários. Não foram identificadas
tais lápides na Escócia. Portanto, sem dúvida, é estranho que apenas as
lápides de Cavaleiros Templários identificadas sejam as anônimas
enquanto que os túmulos dos Cavaleiros Templários que não precisam
ser anônimos não são encontrados em lugar algum.
Uma questão semelhante pode ser feita a outras Ordens militares, em
particular em relação a Ordem de São João de Jerusalém (dos

95
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
Cavaleiros Hospitalários). Na Escócia essa Ordem possuía em torno
de dois terços da quantidade de terras possuídas pelos Cavaleiros
Templários. Como a Ordem não teve o destino da outra, e teve uma
existência contínua, documentada, até 1560, os seus membros falecidos
não precisaram ser enterrados em sepulturas anônimas. Onde, na
Escócia, podemos encontrar as sepulturas dos Cavaleiros da Ordem de
São João, no período em questão? Não parece existirem tais lápides.
Uma outra dificuldade surge quando lápides, do tipo daquelas dos
supostos Cavaleiros Templários são encontradas na propriedade da
Ordem de São João. Este tipo de pedra é encontrada na Preceptoria de
Torphichen, sede desta Ordem na Escócia que nunca foi uma
propriedade dos Cavaleiros Templários.
Há um problema adicional em relação à idade das lápides. Os mais
antigos Cavaleiros Templários que viessem para Argyll – depois da
prisão em massa da Ordem na França – deveriam tê-lo feito poucas
semanas após 13 de outubro de 1307. O mito declara que logo após a
Batalha de Bannockburn, os Cavaleiros Templários foram agrupados
numa Ordem então recém-criada, ou transformados, na Franco-
maçonaria moderna. Isso significa que a necessidade de anonimato
dos falecidos Cavaleiros Templários não ocorreu na Escócia antes de
outubro de 1307 e cessou logo após 1314. Portanto, nestas bases, esta
espécie “depois de rigorosa classificação” de sepulturas anônimas dos
Cavaleiros Templários em Kilmartin ocorre apenas num período de 7 a
10 anos (1307 a 1314) porque elas representam “…sepulturas com
espadas anônimas eretas, revelando um novo estilo, um novo
desenvolvimento na região, que surge repentina e inexplicavelmente…”
e coincidindo com a suposta chegada dos Cavaleiros Templários. É
muito difícil de acreditar que um grande número de Cavaleiros
Templários tenha morrido num espaço de tempo tão curto numa área
geográfica tão pequena.
Infelizmente, os escritores que citam estas lápides como sendo
evidências de Cavaleiros Templários escondidos em Argyll não
especificam quais lápides estão sendo interpretadas desta maneira. São
usados termos vagos tais como: “Havia mais de oitenta delas. Porém
as que nos interessavam eram aquelas que não possuíam nenhuma
decoração, salvo uma única simples e austera espada ereta”, e; “A

96
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
igreja em Kilmartin, nas proximidades de Loch Awe em Argyll, contém
muitos exemplares de sepulturas e túmulos Templários entalhadas…”.
O cemitério de Kilmartin possui 73 lápides. Destas, apenas 12
possuem um singelo esboço de uma espada. Se aceitarmos que um
singelo esboço de uma espada numa lápide represente um local de
sepultamento de um Cavaleiro Templário, então, outras lápides
semelhantes também devem levadas em conta, ainda que apenas para
fins de eliminação. Por exemplo: uma lápide com o esboço de uma
espada e com uma simples borda estreita (conhecida como “moldura”)
também representaria o sepultamento de um Cavaleiro Templário? Há
27 lápides com este design. O acréscimo de um detalhe decorativo tão
simples em nada prejudicaria a suposta necessidade de anonimato.
Mas se elas não são consideradas como lápides de Cavaleiros
Templários, surge o problema de decidir o que elas representam. Não
basta simplesmente ignorá-las pois elas são parte do corpo das
“evidências” de Kilmartin. Infelizmente, nenhum dos escritores que
mencionam estas lápides fornecem descrições precisas do que eles
consideram como sendo lápides de Cavaleiros Templários. Poucos
deles forneceram algum material visual. A partir disso, é possível
determinar o tipo de decoração que eles imaginam seja a confirmação
que as lápides são dos Cavaleiros Templários. Além do esboço de
espada, mencionado acima, uma série de outros motivos, e suas
combinações, são declarados como indicativos de sepulturas de
Cavaleiros Templários. Lápides que possuem mais do que uma
simples espada esboçada são citadas, ou usadas como material
ilustrativo, como sendo lápides de Cavaleiros Templários, o que tem o
efeito de aumentar o número e a variedade dos “tipos” de lápides ditas
dos Cavaleiros Templários.
Tais motivos incluem:
• Uma espada e um machado;
• Uma cruz floreada;
• Uma cruz floreada com ou sem uma espada;
• Uma cruz de topo aredondado e espadas;
• Uma cruz floreada e um cajado;
• Uma cruz floreada, uma espada entrelaçadas por folhagem e um
animal imaginário.
97
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
• Um guerreiro com lança e espada; um navio, folhagem, cruz e um
esquadro “maçônico”.
• Figuras de guerreiros descritas como “Cruzados”.
Se estas combinações de motivos de lápide são de Cavaleiros
Templários, como se devem entender as diferentes combinações delas?
Ou, dos mesmos motivos combinados com outros não mencionados
acima? Usamos apenas algumas destas lápides em Kilmartin para
sustentar nosso ponto de vista, de que as demais devem ser tidas em
conta, pois são parte das “evidências” do cemitério. Infelizmente uma
explicação ainda não foi dada para o não uso.
Sabe-se que a Igreja Paroquial de São Miguel em Garway, foi
fundada como uma Preceptoria dos Cavaleiros Templários durante 1185
a 1188. Uma única pedra, hoje verga de um vão possui o esboço de
uma espada, e é usada para sustentar a alegação de que lápides
semelhantes em Kilmartin também são dos Cavaleiros Templários.
Todavia, há outras pedras em Garway que precisam ser consideradas.
Em contraste com a solitária “pedra da espada” há oito pedras com
cruzes floreadas. Usando o mesmo raciocínio que o usado com a
“pedra da espada” as pedras com cruzes floreadas em Garway e em
Kilmartin também devem ser dos Cavaleiros Templários.

98
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito

OUTRAS LÁPIDES NOUTROS LUGARES


As supostas lápides dos Cavaleiros Templários não estão todas em
Argyll e muitos escritores asseveram que isso é prova de que os
Cavaleiros Templários fugitivos estiveram presentes noutras partes da
Escócia de 1307 em diante. Se aceitarmos que essas outras lajes são
lápides de Cavaleiros Templários, semelhantes àquelas em Kilmartin,
então segue-se, que devemos aceitar que lápides noutros lugares com os
mesmos designs também são dos Cavaleiros Templários. Isto traz
problemas importantes para aquela parte do mito que afirma que os
Cavaleiros Templários fugitivos procuraram isolamento apenas em
Argyll. Outros locais onde tais lápides foram encontradas contradizem
isso:
Segundo a Abordagem Alternativa, foi só na Escócia que os
Cavaleiros Templários fugitivos precisavam ter locais de sepultamento
anônimos. A existência de lápides “anônimas” muito semelhantes na
Inglaterra, geram grandes problemas para esta abordagem que ainda
precisam ser explicados. Há um grande número de lápides com
espadas e outras com espadas e cruzes floreadas, em Bellingham,
Bywell, Corbridge e Newbrough (todas em Nortúmbria, Inglaterra). A
existência dessas lápides em locais fora da Escócia, menos isolados que
Argyll, cria duas possibilidades; ou estas lápides também são de
Cavaleiros Templários (neste caso surgem problemas secundários como
o número e a localização dos Cavaleiros Templários no nordeste da
Inglaterra) ou elas realmente não são lápides de Cavaleiros Templários.
O número de Cavaleiros Templários indicados por essas lápides
“anônimas” sugere que teria havido um número bem maior de
Cavaleiros Templários na Escócia medieval do que se imaginaria antes.
Eles totalizariam mais do que 300. Sem dúvida mais dessas lápides
serão descobertas. Ninguém sugeriu um total para o número de
Cavaleiros Templários fugitivos que supostamente vieram para a
Escócia, mas o número de supostas lápides de Cavaleiros Templários
implica que teria havido muitas centenas por toda parte da Escócia
medieval.

99
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito

Lápides
Local Região Tipo
Abercorn West Lothian CF & T
Airth Stirlingshire CF & E
Ayr Ayrshire E, E & C
Balquhidder Stirlingshire E
Cambuskenneth Stirlingshire E, CF, F & E, Múltiplos
Corrie Dumfriesshire E & CF
Corstorphine Edimburgo E & CF
Crail Fife Múltiplos
Currie Mid Lothian E, CF & E, G
Dalmeny Edimburgo E, CF & T, E & C
Dryburgh Fronteiras E
Dunbar East Lothian E
Dundrennen Galloway E
Ettleton Roxburgh Múltiplos
Fintry Stirlingshire E, T & Machado
Holyrood Edimburgo E(s)
Inchailleach Stirlingshire E, CF & T
Humbie East Lothian E
Linlithgow West Lothian E & CF
Mouswald Dumfriesshire E, E & CF, CF
Igreja Paroquial de
East Renfrewshire CF
Neilston
Rosslyn Mid Lothian CF & E
Ormiston East Lothian E
100
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito

Lápides
Local Região Tipo
Igreja Paroquial de
Peebleshire E
Stobo
Torphichen West Lothian CF & E
Neidpath Castle Peebleshire E
Wauchope Dumfriesshire E

Abreviações
E Espada esboçada
C Cruz
CF Cruz Floreada
CF & E Cruz Floreada e Espada
F&E Motivos Florais e Espada
G Guerreiro
T Tesoura
Múltiplos Combinação de emblemas

101
102
K I L M O RY
Além das lápides específicas citadas como provas físicas de enterros
de Cavaleiros Templários, vários escritores têm sugerido que há
estruturas específicas em Argyll que podem ser descritas dos Cavaleiros
Templários. Kilmory em Knapdale, é um destes locais. O lugar é
interpretado como uma capela dos Cavaleiros Templários porque:
“Igrejas Templárias invariavelmente tinham uma cruz esculpida
na parte superior da entrada ou uma cruz em separado do lado
de fora. A cruz, simples ou embelezada, sempre tinha uma
design característico – braços iguais, com a extremidade de
cada braço mais larga do que a base. Dentro da Capela de
Kilmory resta apenas uma cruz datada de antes do século
quatorze”.
A interpretação dessas pedras e suas localizações está repleta de
dificuldades e perigo. Esta cruz “Templária” em particular só foi
descoberta em 1969 e há mais de dez milhas de Kilmory e foi levada
para a capela por proteção. Originalmente a cruz não era parte da
Capela de Kilmory e não pode ser usada para sustentar o ponto de vista
de que a capela estava associada com os Cavaleiros Templários. Esta
forma de cruz é muito comum durante toda a Idade Média e seu uso
não estava restrito aos Cavaleiros Templários. Na Escócia este formato
de cruz tem uma história bem pesquisada e documentada, e demonstra
uma linhagem de muitos séculos antes de 1307.
Na Capela Kilmory não há lápides com um esboço simples de uma
espada como em Kilmartin. Ninguém declara Kilmartin como uma
Capela dos Cavaleiros Templários (ou ao lado de uma) a despeito do
grande número das alegadas lápides com “espada” dos Cavaleiros
Templários. Isto é o mais estranho já que a Capela Kilmory é
reivindicada como uma capela dos Cavaleiros Templários, mas que não
possui nenhuma lápide com “espada” dos Cavaleiros Templários. Se
estes design eram os principais indicadores de sepulturas dos
Cavaleiros Templários, então, a ausência dessas lápides na Capela
Kilmory, um suposto lugar dos Cavaleiros Templários, precisa ser
explicada. Uma suposta lápide de um Cavaleiro Templário na capela
Kilmory foi descrita, mas não a do tipo simples com uma espada. Das

103
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
36 lápides, hoje protegidas dentro das paredes da capela, há uma
descrita como:
“…uma lápide do século quatorze entalhada com uma galera a
vela, uma figura armada, e uma outra cruz Templária, esta
trabalhada dentro de um motivo Floreado (vide Plate 3). Mas
havia mais… Acima da cabeça da figura armada com sua cruz
Templária estava entalhado um esquadro Maçônico”, “…
Kilmory certamente foi uma Capela Templária…”
Como consequência dessa prova, de que Kilmory era uma capela dos
Cavaleiros Templários: “Seria seguro dizer que havia Templários em
Loch Sween”. Em 1301 John (MacDougall) de Lorn tomou Knapdale
(o que inclui Kilmory e o Castelo Sween) para John Menteith Conde de
Lennox. Este obteve o título de Conde de Lennox de Edward I,
contudo parece que foi mais do que um pequeno título de papel.
Por volta de março de 1309 ele uniu-se com Bruce que o confirmou
como Jophn Menteith, Senhorio de Arran e Knapdale. Essa área, o
suposto reduto dos Cavaleiros Templários fugitivos, era a terra natal
dos McSweens e em 1310 eles receberam uma concessão de toda
Knapdale das mãos de Edward I – desde que pudessem retomá-la pela
força. Naquele ano, com a ajuda de uma frota irlandesa, e
possivelmente com a ajuda de John de Lorn, os McSweens sitiaram o
Castelo Sween. No entanto, foram mal sucedidos. Os Cavaleiros
Templários não ajudaram nessa batalha, apesar de ela ter ocorrido na
própria área onde se disse que eles estavam vivendo e apesar de os
sitiadores serem apoiadores de Robert o Bruce.

104
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito

KILNEUAIR
A Igreja Kilneuair é um outro lugar onde alega-se revelar uma
presença dos Cavaleiros Templários; “…há restos de uma antiga igreja
circular e de uma lápide com a Cruz Pátea Templária”. Os
proponentes do mito combinam o que se afirma ser uma igreja circular
com um “tipo” de cruz Templária, e concluem que ali era um lugar de
atividade Templária. Na verdade esta igreja era uma construção
pentagonal. Todavia, sabe-se hoje que a construção e uso, de igrejas
circulares não estava restrito aos Cavaleiros Templários. Além do
mais, a suposta cruz do “tipo” Templário foi largamente utilizada
durante toda a Idade Média e não estava restrita aos Cavaleiros
Templários. Por exemplo, há um grande número delas em Cornwall.
Este é um exemplo de como o uso de suposições incorretas para se
interpretar evidências, uma igreja “circular” e uma cruz dos Cavaleiros
Templários, pode levar a conclusões errôneas.
Os interessados no assunto deste ensaio só podem ser gratos aos
numerosos escritores por chamarem a atenção do público para a
possível existência de “provas concretas” do enterro de Cavaleiros
Templários em Argyll, particularmente em Kilmartin. O breve exame
desse material pode ser pouco mais do que superficial num ensaio deste
tamanho, mas ele sugere que há algumas grandes dificuldades a serem
resolvidas antes que se possa argumentar que essas lápides, etc.
possuem qualquer conexão com a Ordem medieval dos Cavaleiros
Templários.

CONCLUSÃO
Ainda que provocantes, as ideias estimulantes dos vários escritores
devem ser vistas apenas como uma maneira de tentar compreender o
passado. O que tentamos aqui, apesar de brevemente, foi examinar
alguns dos elementos mais comuns da versão escocesa do mito,
testando-os como se eles fossem hipóteses. Esse teste foi feito usando-
se de fontes e evidências bem conhecidas do mundo acadêmico, porém
não muito bem conhecidas noutros meios. Este processo revelou
algumas das grandes deficiências da Abordagem Popular. É um pouco
decepcionante que tantos autores, visivelmente, tenham um
conhecimento limitado da Franco-maçonaria escocesa, ou mais

105
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
corretamente falando, um conhecimento limitado da diferença entre a
Franco-maçonaria da Escócia e aquela praticada noutros lugares. Mais
sério ainda, é o descarte, virtualmente sem discussão, de enormes
quantidades de material relevante. O material relativo à Batalha de
Bannockburn é um dos grandes exemplos dessa postura.
O lado mais triste e preocupante, é perceber que o mito moderno tem
suas raízes nos ataques antimaçônicos feitos nos séculos 18 e 19 por
Barruel e Robison. Aqueles Franco-maçons que conceberam uma
“História Tradicional”, na qual os Cavaleiros Templários medievais e a
Franco-maçonaria moderna eram intimamente, não tinham meios de
saber que o “seu” mito seria adaptado e embelezado para outros fins
que não fosse o inócuo deleite dos seus companheiros Franco-maçons.
A deturpação do mito original para ser usado como um ataque
antissemita e antimaçônico, que vão desde o Protocolos dos Sábios de
Sião e culminam com o Holocausto, pode ser vista desde os escritos de
Barruel e Robison. É espantoso até onde a constante repetição de um
mito pode chegar.
Este mito é incomum porque ele só surge depois que a própria
história da Franco-maçonaria foi impressa e publicada pela primeira
vez nas Constituições de Anderson em 1723. Mesmo naquele então, o
mito não começa a se parecer, obviamente, com o mito que
conhecemos hoje, isso só vai acontecer em meados do século 19
quando ele foi criado a partir de uma série de “Histórias Tradicionais”
por relativamente poucos autores. A influência do Movimento
Romântico, e a promoção que fez das noções medievais de cavalaria e
etc., não pode ser subestimada pois, foi um grande impulso na criação
do mito. Portanto, este mito é parcela de uma longa linha de
mitificadores iniciada pelos maçons canteiros com o “Título” St. Clair
de 1628. O mito tem um dinamismo que é marcadamente diferente em
relação a outros mitos, especialmente, em relação aos mitos da
antiguidade clássica, o que demonstra que ele é um mito “jovem”, a
anda não alcançou sua maturidade, sua forma final, tal como os outros
mitos. Felizmente, a origem e o desenvolvimento deste mito ocorreu
numa época em que foi facilmente registrado, e assim, as futuras
gerações de historiadores maçônicos irão, espero, continuar a mapear o
progresso e o desenvolvimento do mito.

106
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
Esta limitada pesquisa do material relacionado a como os Franco-
maçons escoceses percebiam o seu passado, demonstra que eles eram,
tão passíveis de sofrerem influências externas como o são hoje.
Originalmente os Franco-maçons escoceses tinham uma compreensão
do seu passado razoavelmente fácil e simples. Uma vez impresso,
começam a surgir histórias sugerindo um passado mais exótico,
especialmente as com sanção, tácita ou não, por parte daqueles que
possuíam posto de autoridade, estas novas versões foram avidamente
consumidas e, sem dúvida, acreditadas. Anderson, Ramsay, Preston,
Lawrie, Brewster, Hutchinson, Walker Arnott e vários outros foram os
escritores que iniciaram e perpetuaram, uma história fantasiosa da
Franco-maçonaria. Cada um deles, construiu e elaborou ainda mais, o
trabalho mítico de seus antecessores, fossem eles Franco-maçons ou
não. Este processo ainda é continuado nos dias de hoje.
Todos os elementos essenciais do mito moderno foram criados
durante um período Romântico, quando uma visão nostálgica dos
códigos de cavalaria da Idade Média estava na moda e que culminou
não só com exibições físicas de cavalaria (i.e. o Torneio de Eglinton),
mas também se manifestou numa série de obras artísticas e literárias.
Numa época quando a cultura escocesa estava na moda e havia uma
crença disseminada de que a cavalaria ainda poderia ser relevante, uma
romântica Ordem de cavalaria maçônica escocesa foi sintetizada – os
atuais Cavaleiros Templários.
O mito como nós o conhecemos hoje foi criado por Cavaleiros
Templários maçônicos da Escócia. Parece que eles fizeram isso por
algumas razões:
• Para legitimar a Ordem recém-criada.
• Para prover a si mesmos com uma “História Tradicional”.
• Para diferenciar a Ordem de outros ramos da Franco-maçonaria
escocesa.
• Para criar uma Ordem superior à Franco-maçonaria “comum”.
• Para demonstrar uma interpretação tipicamente “escocesa” do mito,
que é, uma versão diferente da versão francesa dominante naquela
época.
Aqui reside o cerne da questão. Nenhuma das “Histórias
Tradicionais” de qualquer um dos ramos da Franco-maçonaria é, ou foi,
107
Cavaleiros Templários na Escócia: A Criação de um Mito
projetada para ser tomada literalmente. Nossos antepassados de todas
as Ordens fabricaram “passados” apropriados para fins alegóricos.
Eles o fizeram com noções românticas no coração, mas reconheciam
que essas histórias não eram verdades literais. Enfim, parece que a
Franco-maçonaria é: Um Sistema peculiar de Moralidade, Velado em
Alegorias e Ilustrado por Símbolos.

♦♦♦

108
N O TAS
1 Esta abordagem frequentemente faz uso de fatos utilizados também na
Abordagem Acadêmica.
2 A Natureza da História, Marwick, Arthur, 3ª ed. (MacMillan, 1989), p. 13.
3 Ibid.
4 Segundo Marwick
5 Atualmente renomeado para Templo (Midlothian). A igreja e o cemitério
que lá estão, não são medievais.
6 A incorporação da família Sinclair e da Capela Rosslyn ao mito são
acréscimos relativamente recentes e uma discussão detalhada daquelas, e
de outras facetas modernas não podem ser consideradas aqui, embora se
espere que um exame completo seja apresentado em data posterior.
7 Esta depois, se tornou uma loja maçônica no sentido moderno.
8 Há uma tradução de partes das primeiras atas desta loja na internet, na
página da Grande Loja da Escócia: www.grandlodgescotland.com.
9 Os registros da Loja Mãe Kilwinning, Nº 0 não começam antes de 1642,
mas sabemos que essa Loja existe, pelo menos, desde 1599 como
evidenciado pelo Segundo Estatuto Schaw de 28 de dezembro de 1599.
10 Os Primeiros Franco-maçons, Stevenson, David, pp. 48-49; 5861; 120-121
+ 130-131.
11 Ou seja, de 1307 a 1599.
12 Antiguidades de Hay, Hay, Padre Richard A., Manuscritos. 34.1.8-9.
Biblioteca Nacional da Escócia.
13 Relato dos Templários em conjunto com um Relato dos Joanitas ou
Cavaleiros de São João, Hay, Padre Richard. A. (Ed. James Maidment),
(Edimburgo, 1828).
14 A Genealogia dos Saintclaires de Rosslyn, Hay, Padre Richard. A., Ed.
James Maidment, (Edimburgo, 1835).
15 Hay fez o mesmo serviço para sua própria família; A Genealogia dos
Hayes de Tweeddale, Hay, Padre Richard A. (Edimburgo, 1835).
16 Meus agradecimentos a John Wade, PM, por sua tradução deste Título,
uma tradução completa dele e de muitos outros (também traduzidos pelo
Irmão Wade), pode ser encontrada em: A Genealogia dos Saintclaires de
Rosslyn, Tradução John Wade PM Segunda Edição (Grande Loja da
Escócia, 2002).
17 Estes Manuscritos são de propriedade da Grande Loja da Escócia.
18 Para maior conhecimento destes documentos vide: Stevenson, David, Os
Primeiros Franco-maçons 2ª ed. (Grande Loja da Escócia, 2001) e, As
Origens da Franco-maçonaria, Stevenson, David. (Cambridge University
Press, 1988).
N O TAS
19 Historical Sketch, (Grande Loja da Escócia), App III, p.34. Ambos os
“títulos” estão reproduzidos (embora não traduzidos) nessa publicação.
20 Op. cit., p. 36.
21 Ibid.
22 Estas Lojas foram: Lodge Canongate Kilwinning, Loja de Edimburgo,
Lodge Kilwinning Scots Arms e Lodge Leith Kilwinning. As duas últimas
atualmente estão adormecidas.
23 Se isso foi ou não um “renascimento” como alegado por Anderson, não
está em discussão aqui.
24 Apenas alguns maçons canteiros eram membros dessa Loja e, portanto, ela
não pode ser considerada como uma loja puramente operativa.
25 Como observado antes os “Títulos” St. Clair relacionam os maçons
canteiros. Anderson, em suas Constituições, não faz distinção entre
maçons canteiros e Franco-maçons usando os termos Maçom e Maçonaria
para descrever a ambos. Isto pode se dever à falta de diferenciação entre
os membros da Loja de seu pai com a qual Anderson estava familiarizado.
O fato é que, desde Anderson, a diferença entre “maçom” (maçom
canteiro) e “Maçom” (Franco-maçom) raramente é feita ou considerada.
Embora isto possa causar pouca dificuldade, noutras situações quando tal
indiferenciação é transferida para o contexto escocês, onde está a maioria
dos registros primitivos relativos aos maçons canteiros e suas Lojas, a
confusão torna-se o resultado mais comum. Os que adotam a Abordagem
Popular raramente fazem essa distinção e isto garante que sempre que os
termos “maçons” e “maçonaria” são abordados, supõe-se que o escritor
esteja se referindo a Franco-maçons e Franco-maçonaria no sentido
moderno.
26 Provavelmente Desaguliers foi o responsável pelas Obrigações de um
Franco-maçom e Anderson pela História contida nas Constituições. Vide,
por exemplo, Mackey’s Revised Encyclopedia. Vol.1. p. 277
27 As Constituições dos Maçons Livres, Anderson, Rev. Dr. James (Londres,
1723), pp. 37–38.
28 Op. cit., pp. 38–39.
29 Op. cit., p. 46.
30 As Constituições dos Maçons Livres, Vibert, Lionel, Facsimile Edition,
(Londres, 1923), Introdução. p. X.
31 Andrew Michael Ramsay e seu Discurso Maçônico, Kahler, Lisa
(Heredom, Scottish Rite Research Society), Vol. 1. pp. 19–47.
32 Op. cit., p. 20.
33 Discurso de Ramsay: as Versões Épernay e da Grande Loja, Batham, Cyril

110
N O TAS
N. (Heredom, Scottish Rite Research Society), Vol. 1. pp. 49–59. Esta é
uma comparação muito útil de duas conhecidas versões do Oration.
34 Op. cit., p. 50.
35 Op. cit., p. 57.
36 Ibid.
37 A Revelação Templária, Picknett, Lynn & Prince, Clive, (Bantam, 1997). p.
131.
38 Batham, op. cit., Vol. 1. pp. 57–58. O James citado é o 5º High Steward da
Escócia falecido em 1309. Seu filho, Walter, foi armado cavaleiro por
Robert I no campo de Bannockburn.
39 As Novas Constituições, Anderson, Rev. Dr. James, (Londres, 1738), pp.
82–91.
40 A informação adicional sugere que ele usou uma fonte da Escócia. A
Grande Loja da Escócia foi fundada em 1736, e tudo indica que também
estava ocupada em criar a sua própria “História Tradicional”.
41 A maioria dos historiadores hoje concordam que Fergus II morreu em 501.
42 Anderson, op. cit., p. 84.
43 Op. cit., p. 86.
44 Op. cit., p. 7.
45 Op. cit., p. 89.
46 Vide, por exemplo: A Ordem Real da Escócia, Lindsay, Robert S., 2ª ed.
(Edimburgo, 1972).
47 36 anos se aceitarmos a afirmação de que a Ordem foi fundada em 1731.
48 A batalha foi travada em 23 e 24 de junho. Dar a data como 4 de julho é
inexplicável.
49 A Lei de Proscrição de 1747 foi revogada em 1782.
50 Entre estas datas as reuniões foram esporádicas com pouquíssimos
presentes. Vide: A Ordem Real da Escócia, Lindsay Robert S., 2ª ed.
(Edimburgo, 1972), pp. 101–104.
51 James Reid de Edimburgo copiou a edição de Cheyne em 1754 citando
também Anderson como fonte.
52 Pocket Companion, Cheyne, W. (Edimburgo, 1752), pp. 111–114.
53 Pocket Companion, Ruddiman, Auld & Company (Edimburgo, 1761), p.
111.
54 Op. cit., p. 112.
55 Reimpresso pela Grande Loja da Escócia em 2000.
56 Preston’s Illustrations of Masonry, Prescott, Andrew, (Academy Electronic
Publications Ltd, 2001), 2ª Edição (1775), p. 205. Este CD-ROM contém
as nove edições publicadas durante a vida de Preston.

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57 Pocket Companion, (Ruddiman, Auld & Co.), op. cit., p. 112.
58 Anderson, op. cit.
59 Pocket Companion, (Ruddiman, Auld & Co.), op. cit., pp. 113–114.
60 Maidment em A Genealogia dos Saintclaires de Rosslyn, (Edimburgo,
1835), p.ii, citando O Baronato da Escócia, p.249 por Sir Robert Douglas
de Glenbervie Bt. (Edimburgo, 1798).
61 Pocket Companion, (Ruddiman, Auld & Co.), op. cit., p. 111. Exemplos
modernos de uma repetição acrítica desse material incluem, p.e.: A Espada
e o Graal, Sinclair, A., p.167. O Legado Templário e a Herança Maçônica
na Capela Rosslyn, Wallace-Murphy, T., p. 23.
62 A Esquecida Monarquia da Escócia, Stewart, Michael, J. A., Sua Alteza
Real Príncipe Michael de Albany, pp. 101–102. A despeito da afirmação
do autor de que o “…documento de nomeação, assinado por James…” está
no Freemasons’ Hall, eu posso certificar de que não está.
63 Pocket Companion, (Ruddiman, Auld & Co.), op. cit., p. 112.
64 McGladdery, Christine, James II, p. 49, deixa claro que James II não
assumiu sua autoridade Real até 1449.
65 Constituições, Anderson, Red. Dr. James, (Londres, 1723), p. 8.
66 A Genealogia dos Saintclaires de Rosslyn, Hay, Padre Richard A., (ed.
James Maidment, Edimburgo, 1835), p. 28.
67 O Templo e a Loja, Baigent, Michael, & Leigh, Richard,(Corgi, 1997), p.
164.
68 História da Franco-maçonaria…etc., Lawrie, Alexander (Edimburgo,
1804), p. vii.
69 Op. cit., p. viii
70 Op. cit., p. 100 e Apêndice I & II, pp. 297–304.
71 Livro de Atas Nº 1. (Grande Loja da Escócia), p. 227.
72 Que era comumente sabido ser uma obra de Brewster é confirmado pela
referência de Maidment à “Brewster’s Encyclopædia” em A Genealogia
dos Saintclaires de Rosslyn. 1835. p. v.
73 Memórias, ilustrando a história do Jacobinismo, Barruel, Abbé Augustin,
(Ed. inglesa). (Londres, 1797), 4 Vols. p. 381. Vol. II. Também ditado em
Mackay’s Revised Encyclopedia, Vol.2. p. 568. (Chicago, 1958).
74 História da Franco-maçonaria…etc., Lawrie/Brewster (Edimburgo, 1804),
p. 58.
75 Os motivos de Augustin Barruel não são claros, mas como Norman Cohn
observa em: Mandado de Genocídio – O mito da conspiração mundial
judaica e os Protocolos dos Sábios de Sião: “o livro de Barruel fez dele um
homem rico”. p. 27. Sou grato ao Prof. Dr. Jan A. M. Snoek, das

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Universidades de Leiden e de Heidelberg, por trazer esta referência à
minha atenção.
76 Provas de uma Conspiração…etc. Robison, John, 4ª ed. (Londres, 1798),
p. 3.
77 Encyclopedia Britannica. Citada na Mackay’s Revised Encyclopedia, Vol.
2. p. 863. Chicago. 1958.
78 Robison, op. cit., p. 105.
79 Norman Cohn. Mandado de Genocídio – O mito da conspiração mundial
judaica e os Protocolos dos Sábios de Sião. p.25–26.
80 Lawrie/Brewster, op. cit., p.58.
81 A Grande Loja endossou o livro antes que ele fosse publicado.
82 Historical Sketch (Grande Loja da Escócia, 1986), p. 21.
83 Livro de Atas Nº 1. (Grande Loja da Escócia), p. 50.
84 Op. cit., p. 53.
85 Naquela época muitas Lojas eram independentes da Grande Loja, portanto,
esta regulamentação não se aplicava a elas. Porém, não há evidências de
que elas praticavam, ou continuaram a praticar, as ditas cerimônias. As
Lojas em questão eram, por exemplo: A Loja de Glasgow St. John, Nº 3;
fundada em 1628 e que permaneceu independente até 1850; a Loja Melrose
St. John, Nº 12, que existia já em 1599 e que permaneceu independente até
1891. Há outras lojas primitivas das quais nada se sabe, exceto sua
localização ou que são citadas nos registros de outra loja.
86 O surgimento na Escócia dos cerimoniais do Capítulo do Arco Real e dos
Cavaleiros Templários aparecem tardiamente, depois de outros lugares. O
por que a Grande Loja simplesmente não reconheceu estas cerimoniais
como sendo suas (e consequentemente não obteve o controle e os
rendimentos daí resultantes) não é sabido, mas o fato de elas não terem sido
“assimiladas” sugere que, a Grande Loja não podia simplesmente persuadir
a si mesma a considerá-las de qualquer maneira como maçônicas, a
despeito das óbvias vantagens, e elas tiveram de ser rejeitadas.
87 Estes termos implicavam em, e continuam a implicar, mais do que duas
cerimônias, ou seja,
A série do Arco Real:
1 Master Passed the Chair
2 Excellent Master
3 Super Excellent Master
4 Arch Degree
5 Royal Arch Degree
6 Mark Mason

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7 Ark Mason
8 Link e Wrestle
9 Babylonian Pass ou Red Cross of Daniel
10 Jordan Pass
11 Royal Order ou Prussian Blue
12 High Priest

A série dos Cavaleiros Templários:


1 Black Mark
2 Mediterranean Pass
3 Knight of Malta
4 Knight of the Holy Grave
5 Knight of Patmos
6 Knight of the Red Cross of Constantine
7 Knight Templar (degree) n)

Exatamente quais cerimônia estavam sendo praticadas em qualquer


momento específico, e por quais Lojas, é difícil de ser determinado. A
lista acima fornece, respectivamente, as cerimônias sob a jurisdição do
Supremo Grande Capítulo do Arco Real da Escócia e do Grande Priorado
da Escócia. Vários destes cerimoniais não são mais executados na
Escócia. Os leitores também devem estar cientes de que, as cerimônias do
Arco Real nunca foram parte dos graus do Craft. A cerimônia da Marca é
incomum, pois pode ser executada quer numa Loja do Craft (como uma
extensão do Segundo Grau) quer num Capítulo como a primeira cerimônia
da série do Arco Real.
88 O Cartulário da Grande Loja da Escócia.
NT: No Brasil costumamos denominar Cartulário (termo quase arcaico)
como Grande Secretaria da Guarda dos Selos
89 Pour La Foy, Draffen, George, CD-ROM (Grande Loja da Escócia, 2000),
p. 15.
90 Oito Capítulos do Arco Real foram Patenteados na Escócia pelo Supremo
Grande Capítulo da Inglaterra entre 1787 e 1817. Todos próximos da
fronteira dos dois reinos, exceto um que foi fundado depois de 1792 –
quando pela primeira vez a Grande Loja da Escócia expressou a sua
preocupação a respeito de cerimoniais estrangeiros.
91 A Ordem Real da Escócia ficou virtualmente moribunda de 1794 à 1839.
Lindsay. pp.101–104.
92 Draffen, op. cit., p. 7.

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93 Op. cit., p.14.

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