Você está na página 1de 4

Problema da consciencia

Cap I- Introdução
Na minha opinião ser humano é ser guiado pelas suas preferências ,desejos e
gostos, alterando os seus comportamentos, identidade e maneiras de interagir com o
mundo à nossa volta em prol destes.
Desde as paixões mais ardentes até aos gostos mais simples como saborear
uma refeição, todos alteram mesmo por muito pouco que seja a nossa vida quotidiana
e até mesmo a maneira como nós a vivemos. Pois como sabemos se estivermos
apaixonados não só alteramos as nossas ações, tanto para nos agradar a nós como
agradar, ou tentar agradar, a outra pessoa, mas também viveremos a nossa vida de
uma maneira mais alegre.
Mas será que nós gostamos de certas coisas só por elas serem elas próprias?
Não, claro que não, nós gostamos das coisas pelas sensações que elas provocam em
nós. Uma pessoa não ama alguém só por que ela quer amar alguém, mas sim porque
essa pessoa desperta nela um sentimento inexplicável que se torna quase impossível
de conter.
Mas como, como é que uma simples experiência se torna numa sensação?
Claro que existe sempre uma explicação científica, como por exemplo chocolate. Eu
adoro chocolate, não o chocolate em si, mas o que ele desperta em mim depois de eu
o comer. Mas como é que o sabor chega ao meu cérebro?
Como qualquer alimento isto acontece devido a dois componentes essenciais, o
nosso nariz e a nossa língua, a nossa língua está revestida por milhares de papilas
gustativas e o nosso nariz repleto de células sensíveis, que pegam em todos os
diversos cheiros e sabores e os transformam em sinais elétricos meticulosamente
transportados até ao cérebro, então daí vem a nosso perceção do sabor do chocolate.
No entanto, ninguém sente estes processos todos a acontecerem no nosso
corpo, nós experienciamos o chocolate como uma sensação, algo muito mais subjetivo,
daí haver quem goste e quem desgoste, como todas as sensações.
Mas surge uma questão até agora sem resposta, como é que açúcar e cacau
acabam por passar de apenas sinais elétricos no nosso sistema para sensações
criadas por nós próprios? Aí reside o problema da consciência, ou melhor a dificuldade
em explicarmos o porquê e o como de processos físicos assinalados pelo nosso
cérebro serem transformados em sensações ou experiências subjetivas, ou qualia. E
hoje vou tentar explicar o porquê de achar que este é um dos maiores mistérios na
nossa história.

Cap II- Qualia.


As sensações formadas a partir de experiências chamão-se qualia, ou seja
qualia são as sensações de algo, como uma experiência soa, parece ou sabe. É um
conceito algo abstrato e difícil de criar na nossa cabeça, então imaginemos um pôr do
sol, na realidade ele não passa de ondas no espectro eletromagnético, absorvidas
pelos nossos olhos e transformadas em sinais elétricos, ou seja informação, que o
nosso cérebro transforma em cores, laranja e amarelo, transforma em experiência.
Então as cores em si que nós vemos são ac qualia, a “laranjidade” do laranja, o mesmo
acontece com o quente do calor, a doçura do chocolate, a náusea de uma dor de
barriga, ou seja, basicamente os elementos da experiência.
Mas porquê que não existe uma forma de dizermos o que são sentimentos ou
como são formados, basicamente como é que não é possível transmitirmos qualia?
Tomemos como exemplo a tentativa de explicarmos a uma pessoa cega o que é a cor
laranja, podemos tentar dizer que é uma mistura de vermelho e amarelo, mas eles não
sabem como é o sentimento que sentimos ao experienciarmos essas cores.
Ou outro exemplo, os seres humanos ao comerem espargos produzem um
composto chamado “metabólito de espargos”, que ao fazermos necessidades
sentimos o seu cheiro, considerado por muitos o pior cheiro do mundo, mas apenas
metade da população mundial é que possui os genes necessário para o cheiro ser
absorvido pelo nariz. Caso não tenhas o gene nunca sentirás o cheiro dos espargos,
mesmo que estudemos a nossa vida toda e tornarmos isso a nossa única razão para
viver, poderíamos saber tudo acerca do cheiro, tudo menos como o cheiro realmente é,
tudo menos a sua qualia. E a qualia é tudo, se nunca vimos uma cor, sentimos um
cheiro ou até se nunca estivemos apaixonados, por mais que estudemos tudo o que há
para estudar sobre esses temas, tal nunca será o qualia, pois experiência e
conhecimento, embora muitas vezes venham juntas nunca serão a mesma coisa.
Mas a verdade é que na realidade não existe o cheiro a espargos ou a cor
laranja, ou calor do quente, se nós conseguíssemos experienciar uma realidade
verdadeiramente objetiva, ou seja uma realidade sem nos basearmos nos nossos
sentimentos, apenas na maneira como o mundo verdadeiramente é, o mundo seria
apenas compostos químicos, átomos e vibrações do ar.
Basicamente não haveriam sensações, não haveria laranja, a cor seria apenas
só mais um de milhares de véus que usamos para cobrir a realidade no âmbito de a
conseguirmos entender.
Então voltamos ao problema da consciência, se o nosso cérebro recebe a
informação do mundo exterior apenas como sinais elétricos que traduzem o mundo da
forma mais direta possível, como é que ele transforma essa informação em
sentimentos, em qualia?

Cap III- A resposta cientifica.


No entanto, também existem problemas a que se chamam os problemas fáceis
da consciência, como por exemplo como é que o nosso cérebro consegue mudar o
ponto de atenção entre coisas, ou como é que categorizamos informação. Estes
problemas são do gênero, como é que vamos por humanos em Marte? são
complicados mas com trabalho científico suficiente obviamente vão ser encontradas
soluções.
Mas a razão do porquê eu considerar o problema da consciência um dos
maiores e mais importantes da história, é o facto de que até ao dia de hoje ainda terem
sido descobertas as bases de onde se criam respostas.
E por mais conhecimento que o ser humano tenha no dia de hoje, ainda não há
o mínimo avanço na descoberta do como ou porquê do nosso cérebro transformar
simples sinais elétricos em informação.
Mas uma área em que têm ocorrido rápidos desenvolvimentos é a que relaciona
o corpo com pensamentos, sabemos que libertamos certos compostos químicos, de
acordo com o que estamos a sentir. E a partir daí já conseguimos desenvolver um
mapa gigante de quais as áreas do cérebro e reações biológicas entram em ação
quando não estamos a sentir de uma certa maneira.
Mas estas respostas todas não nos dizem como é que os mecanismos da qualia
ou consciência funcionam, melhor do que se perguntássemos como é que as votações
em Portugal acontecem em Portugal e alguém nos mostrasse uma foto do parlamento,
isso é o onde, não o como.
O cérebro é um grande conjunto de complicadas conexões elétricas, e pode até
mesmo ser considerado um grande computador. Mas computaridade não pode ser a
resposta para tudo, pois computadores não conseguem desenvolver emoções ou
sentimentos, então algures no nosso cérebro, de uma maneira ainda inexplicável
ocorre a formação de qualia, e embora não haja uma resposta concreta para o “como”
já foram desenvolvidas inúmeras teorias, que embora diversificadas existe um aspeto
em que são todas idênticas.
Para todas essas teorias poderem ser remotamente possíveis é preciso
acontecer o tipo de salto teórico, ainda não atingido, uma vez que todas as explicações
científicas aceitas apenas são uma explicação física da matéria, mas o que queremos
saber é como a matéria física se transforma em experiência.
E na minha opinião, para chegarmos a tal resposta teríamos de nos afastar da
correlação da mente e cérebro, e quebrar a dualidade entre o mundo subjetivo e
objetivo.

Capítulo IV- materialismo vs não materialismo.


Materialismo é basicamente a ideia de que tudo neste universo, desde galáxias
até ao mais pequeno pensamento provém da física, matemática ou qualquer outro
campo científico. Logo qualquer pergunta para a qual seja possível haver uma resposta
haverá uma resposta, proveniente desses campos.
Para os materialistas mesmo que a resposta ao problema da consciência pareça
impossível ele é será de facto resolvido, e para eles uma justificação para tais crenças
é o facto de que no passado já houve situações destas, em que um problema parecia
não ter resposta, até a resposta ser encontrada, e aí tudo parecia tão simples e nós
sentimo-nos estúpidos por não termos resolvido o problema mais cedo.
Depois há o ponto de vista não materialista, que basicamente sustenta que sim,
a ciência tem sido a maneira de encontrarmos a resposta a uma imensidade de
perguntas, mas ela apoia que tudo o que foi explicado pela ciência ou seja
mecanicamente apenas foi explicado dessa forma porque de facto podia ser explicado
dessa forma, ou uma estrela só foi explicada mecanicamente porque tem uma natureza
mecânica.
Mas para os não materialistas existem certas questões que não podem ser
respondidas utilizando a ciência, não porque a ainda não foi desenvolvida uma teoria
utilizando a ciência, mas sim porque a ciência não envolve aquela área.
Mas mesmo que houvesse de facto uma fórmula que nos explicasse como é que
as sensações eram formadas, não será isso ainda uma descrição em vez de uma
explicação?

Capitulo V- qual a importancia do problema da consciencia?


Mas no entanto, qualquer pessoa poderia razoavelmente perguntar-se, porquê
que deveríamos querer saber do problema da consciência ou da consciência em si?
Nós somos conscientes, conseguimos experienciar sentimentos, então porque
investigar algo já certo nas nossas vidas?
A isso eu respondo, sim, nós podemos ainda nem estar perto de conseguirmos
responder às perguntas. Mas se nós de facto conseguirmos resolver o problema, se
finalmente conseguirmos criar uma ponte entre o mundo real e os sentimentos, entre o
cérebro e a mente consciente, conseguiremos finalmente começar a tentar responder
as perguntas mais básicas do sentido da vida Conseguimos ter algo em que basear as
nossas respostas às perguntas mais antigas, como por exemplo se temos vontade
livre? Ou se nós já nascemos conscientes ou se vamos desenvolvendo essa
capacidade? Ou se conseguimos algures no futuro tornar outros seres conscientes
como máquinas? Ou até como é que a evolução criou seres conscientes?
Mas se dermos um passo atrás, vimos isto no grande panorama, percebemos
que o mistério está em nós, o mistério somos nós. No entanto, se o maior mistério da
história estivesse escondido em qualquer outro sítio, nós nunca parariamos de lhe
tentar responder, mas como está tão perto, porque somos nós proprios, quase nem é
mencionado, daí não ter tido muita informação científica e ser mais uma reflexão do
que um estudo sobre o tema.
No entanto, o mistério está constantemente a chamar a nossa atenção, cada
cor, cada som, leva-nos a perguntar como é que sentimentos são possíveis? Como é
que eu ,a minha verdadeira essência, a minha verdadeira maneira de pensar, maneira
de viver, maneira de agir, maneira de ser, como é que eu sou possível?

Você também pode gostar