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Brasil: Histórias, Costumes e Lendas

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Editora Três
São Paulo
Índice
CAPÍTULO I - Introdução
As áreas culturais - 12
O folclore no Brasil - 16
Os indígenas brasileiros - 20
Capítulo II - Rio Grande do Sul
Os gaúchos - 24
A estância - os pampas - 26
Alegria gaúcha - 28 (FALTA PÁGINAS: 27 A 32)
A doma - o rodeio - 33
A arte de trabalhar o couro e a prata - 34
A tosa - 36
A charqueada - 37
A procissão de Nossa Senhora dos Navegantes - 38
CAPÍTULO III - Paraná - Santa Catarina
Os paranaenses e os catarinenses - 40
Foi boto, sinhá... - 42
A boa madeira - 43
Boi-de-mamão - 44
Dança-de-fitas - 45
Lembrança da Europa - 46
Os carroções dos colonos - 47
Rendas da ilha de Santa Catarina - 48
Carreira de cavalos - 49
Boi-na-vara - 50
Festa da uva - 51
Pão-por-Deus - 52
Dança do vilão - 53
"Recomenda das almas" - 54
CAPÍTULO IV - SÃO PAULO - ( 1 )
Os paulistas - 56
Congada - 58
Batuque - O Fandango - 60
A tourada: o bicho brabo - 61
João Paulino e Maria Angu - 62
Cerâmica - 63
Técnicas tradicionais - 64
Os engenhos primitivos - 66
Samba-lenço - 68
Os irmãos da canoa - 69
Umbanda - 70
CAPÍTULO V - SÃO PAULO - (2)
Os paulistas caiçaras - 72
Brinquedos, brincadeira - 76
Congada: guerra santa - 78
Moçambique - 79
Forno caipira - 80
Rabeca - 81
Santos de barro - 82
Os cordões de bichos - 83
Festas juninas - 84
A folia do Divino - 86
CAPÍTULO VI - RIO DE JANEIRO - GUANABARA
O carioca - 88
Folias de Reis - 90
A favela - 92
A usina siderúrgica - 93
O Carnaval e as escolas de samba - 94
Dança de velhos - 98
Coroação do Imperador - 99
A pernada carioca - 100
O jongo africano - 101
A festa de Iemanjá - 102
CAPÍTULO VII - ESPÍRITO SANTO - MINAS GERAIS
Os mineiros e os capixabas - 104
O minerador - 106
O retireiro de leite - 107
Caiapó - 108
A cavalhada - 1120
Ticumbi - 112
As serenatas de Ouro Preto - 113
O monjolo - 114
Os artistas mineiros - 116
A república de estudantes - 117
A procissão de Corpus Christi - 118
CAPÍTULO VIII - BAHIA - (1)
Os baianos - 120
Rio São Francisco: o velho "Chico" - 122
Carrancas de proa - 123
O sertão seco - 124
Cangaço: cangaceiro - 126
Capoeira - 128
Berimbau - 129
Cerâmica para usar e enfeitar - 130
Afoxê - 131
Candomblé - 132
CAPÍTULO IX - BAHIA - (2)
Os baianos do litoral - 136
A pesca do xaréu - 138
As ferramentas dos santos - 140
O pastoril - 141
A festa de lemanjá, a rainha do mar - 142
Candomblé - 144
A lavagem do Bonfim - 150
CAPÍTULO X - ALAGOAS - SERGIPE
Os alagoanos e os sergipanos 152
Labirinto-crivo - 154
Paisagem chinesa no rio São Francisco - 155
Os barcos do Baixo São Francisco - 156
Reisado - 158
Os guerreiros alagoanos - 160
Coco - 161
Louça de barro - 162
Figuras de barro - 163
Pode tirar o seu chapéu - 164
Bate-coxa.-.165
Quilombo - 166
CAPÍTULO XI - PERNAMBUCO
Os pernambucanos.-.168
A casa de farinha - 170
O frevo - 172
Terno de Zabumba - 173
O maracatu - 174
Os cabocolinhos - 176
Vendedores ambuantes das ruas do Recife - 178
O apanhador de coco - 179
Mestre Vitalino Pereira dos Santos - 180
Os beatos - 182
CAPÍTULO XII - CEARÁ - PARAÍBA - RIO GRANDE DO NORTE
Ceará - Paraíba - Rio Grande do Norte - 184
Povoados de jangadeiros - 186
Mulher rendeira - 188
A Marujada - 190
O Bambelô - 191
A jangada - 192
O plantio do algodão - 193
As salinas do Rio Grande - 194
Os engenhos de rapadura - 195
O jogo das argolinhas - 196
Literatura de cordel - 197
Ex-votos - 198
CAPÍTULO XIII - PARÁ - AMAPÁ
Os paraenses e amapaenses - 200
O castanheiro - 201
O búfalo de Marajó - 202
O arpoador de jacaré - 203
Cerâmica Marajoara - 204
Os índios palicur - 205
A festa dos pássaros - 206
O leque de patexuli - 208
Cuia de tacacá - 209
Os tiriió - 210
As blusas de Marajó - 212
Os oiana - 213
Cirios de Nazaré - 214
CAPÍTULO XIV - PIAUI - MARANHÃO
O Piauí e o M aranhão - 216
A carnaúba - 218
O babaçu - 219
A vaidade do cangaceiro - 220
São Luís, cidade dos azulejos - 22t
Bumba-rreu-boi - 222
A tribo urubu-caapor - 224
As obras de arte dos urubus-caapor - 226
Os índios crahó - 228
As caretas - 230
CAPÍTULO XV - A AMAZONIA
A Amazônia - 232
Oca-maloca - 236
Roupas - 238
Caça-guerra - 240
O som da Amazônia - 241
Jóias de penas - 242
Máscaras - 243
Cerâmica - 244
Pintura - 245
A festa da moça-nova - 246
CAPÍTULO XVI - AMAZONAS -RORAIMA - ACRE
Amazonas - Roraima - Acre - 248
Os índios do extremo-Norte - 251
Malocas circulares - 252
Ubá - 253
O culto da Lua - 255
Índios tucuna e tucurina - 256
O frio dos índios - 257
O seringueiro - 258
O vaqueiro do Rio Branco - 260
Boi-bumbá - 261
Alumiação - 262
CAPÍTULO XVII - GOIAS (1)
Os índios tapirapé - 264
Madeira trabalhada - 266
Arte de se enfeitar - 267
Cerâmica - 268
Caça e pesca - 270
O pilão primitivo - 272
CAPÍTULO XVIII - GOIÁS (2)
A tribo carajá - 280
Caça-guerra-esporte - 284
A vaidade carajá - 285
Os mistérios da magia - 286
A vida da tribo - 288
"Os licocós" - bonecos carajá - 291
A pesca - 292
A tribo javaé - 294
CAPÍTULO XIX - MATO GROSSO (1)
Os índios do Alto Xingu - 296
A maloca camalurá - 298
Os arcos perfeitos - 299
Os novos pássaros - 300
Trançados e tecidos - 301
Pintura abstrata geométrica - 302
O Javari - 304
Cipó-timbó - 306
Canoa de jatobá - 307
Guerra da cerâmica - 308
Máscaras bacairi - 309
A purificação das malocas - 310
CAPÍTULO XX - MATO GROSSO (2)
Os índios do Mato Grosso - 312
O hucá-hucá - 314
Os gê botocudo - 316
Pintura e cerâmica cadiueu - 318
Os bororo - 320
Bancos de madeira - 323
As tribos do Xingu - 324
O boi de sela do pantanal - 325
Rito de morte - 326
-- Página 12
AS ÁREAS CULTURAIS
O Brasil é um país vasto como um continente, daí a dificuldade em
estudá-lo. Temos unidade espiritual, falamos a mesma língua. Mas a paisagem
cultural brasileira é muito variada. Para facilitar os estudos e conhecer melhor
a terra, os estudiosos costumam dividir o país em áreas, zonas, regiões.
A DIVISÃO DA OBRA
Nesta obra de antropologia tropical, tomou-se como ponto de partida a
divisão em áreas culturais para melhor analisarmos as nossas histórias,
costumes e lendas. Os capítulos tratam de Estados ou grupos vizinhos dentro
dessas áreas.
O QUE É ÁREA CULTURAL
Área cultural é o espaço geográfico contínuo ou descontínuo, cujos grupos
humanos apresentam condições semelhantes de cultura pela permanência de
valores comuns e constantes.
Para o antropólogo social, as áreas culturais podem ser delimitadas tanto
pela presença de elementos e de complexos, como pela ausência deles.
Área cultural é, portanto, uma extensão geográfica onde há características
próprias de uma determinada cultura. Onde um elemento ou um conjunto de
elementos a diferencia de outras áreas, mesmo as vizinhas.
OS CRITÉRIOS DE DIVISÃO
Vários estudiosos brasileiros têm tentado dividir o Brasil em áreas culturais.
Raimundo Nina Rodrigues baseou-se nos tipos antropológicos
predominantes. Sílvio Romero nas zonas sociais. Roquete Pinto usou o
critério antropológico. Alceu de Amoroso Lima baseou-se nas condições
psicológicas da população. Joaquim Ribeiro, na homogeneidade cultural.
Alceu Maynard Araújo, nas técnicas de subsistência. Manuel Digues Junior,
na ocupação humana.
AS TÉCNICAS DE SUBSISTÊNCIA
Técnica de subsistência é aquilo que se faz para a manutenção da vida. É o
meio mais seguro para se sentir e examinar a continuidade dos traços
culturais e também dos folclóricos, pois estes estão intimamente ligados aos
grupos institucionalizados.
-- Página 13
As técnicas de subsistência relacionam-se também com as condições
climáticas, com a dispersão da população, com as condições geográficas.
As técnicas de subsistência geralmente estão circunscritas pelas limitações
geográficas. Muitas vezes as limitações vão além do gênero de vida das
coletividades humanas. Influem também na própria cosmovisão, dando aos
membros dos agrupamentos humanos diferentes formas de experiência.
AS DIFERENTES ÁREAS CULTURAIS
Segundo as técnicas de subsistência, as áreas culturais brasileiras são cinco.
Área da pesca, área agrícola, área pastoríl, área da mineração e área
amazônica.
A área da pesca compreende duas regiões: a da ubá
e a da jangada.
A área agrícola divide-se em região açucareira, região cafeeira e região das
novas culturas (chá, trigo, uva).
A área pastoril compreende as regiões do vaqueiro, do campeiro e do
bóiadeiro.
A área da mineração compõe-se de duas regiões: a do garimpeiro e a do
minerador.
Como na área amazônica o elemento humano é mínimo, é difícil fazer uma
divisão.
Pode-se falar também nas áreas da indústria, com centro em São Paulo, mas
é uma região aindá a ser estudada e pesquisada.
AS ÁREAS DA PESCA
Abrange as regiões da ubá e da jangada, os dois tipos de implementos
usados na pesca no litoral brasileiro. Os que usam esses elementos são
portadores de alguns traços de cultura material ou espiritual diferentes.
Apesar de diferentes, a finalidade é a mesma. O ponto comum é a técnica de
subsistência - a pesca.
O implemento usado parece infundir traços psicológicos diferentes nos
pescadores caiçaras, nos jangadeiros.
O jangadeiro dorme no mar, luta diretamente com o peixe. São ousados,
alegres, audazes.
Os pescadores de ubá não dormem no mar. Pescam de tocaia. São calmos e
lentos em suas reações.
AS ÁREAS AGRÍCOLAS
Começa historicamente pela região açuçareira, de a cafeeira e na atualidade
as novas culturas.
As duas primeiras receberam larga influência negra dos escravos, portadores
da civilização africana. A região das novas culturas é portadora da
contribuição nova dos colonos alemães, italianos e japoneses.
A tradição rural e mesmo urbana do Nordeste está ligada a engenhos. O
ciclo da cana-de-açúcar antecedeu o do ouro. Foi o principal escoadouro e
decantador de todos os motivos étnicos, sociais, econômicos e políticos de
nossa história, do Rio Grande do Norte até a Bahia.
O café comandou a política brasileira até 1930. Foi o modelador da
fisionomia econômico-social do Brasil Centro-meridional. Canalizou os
recursos necessários à instalação das grandes indústrias.
ÁREA DA MINERAÇÃO
É aquela onde esteve presente o bandeirante e o garimpeiro, um nômade.
Daí o aparecimento de cidades-fantasmas, repletas de lendas. As cidades
mortas, vivas de folclore.
Na região do minerador estão as cidades novas, nascidas ao lado das grandes
jazidas de minérios. Xelita, tantalita, colombita, manganês e outros
necessários ao progresso.
O ciclo da mineração foi responsável pela criação de novas capitanias em
Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e São Paulo.
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ÁREA PASTORIL
Compreende três regiões distintas. A do campeiro, reinado gaúcho. Do
vaqueiro, onde está presente o homem encourado do agreste, que vive no
polígono das secas. E a região do boiadeiro, que vai dos pantanais do Mato
Grosso até os frigoríficos do norte paulista, dominando o sul de Goiás e o
Triângulo Mineiro.
Sob a mesma técnica de subsistência, o campeiro, o vaqueiro e o boiadeiro
têm diferenças marcantes. Basta olhar para o chapéu do nordestino, cuja copa
afunilada e aba curta recurvada lembra o elmo dos soldados holandeses. Ou o
chapéu de aba larga do boiadeiro ou do gaúcho, onde se fundem os estilos
dos dois.
Por outro lado; a paisagem natural condiciona-lhes maneiras diversas de
cuidar do rebanho, de "conversar" com os animais - o aboio. Tudo isso
repercute na cultura espiritual.
ÁREA AMAZÔNICA
Graças à sua típica configuração, apresenta-se como um grande todo onde
predomina o extrativismo e a catança.
É uma área onde predomina o quadro natural. O elemento humano é pouco
representativo.
O homem é dominado pela paisagem. Seringueiro, castanheiro, catador de
guaraná e de outras "drogas do sertão", carnaúba.
A MELHOR MANEIRA DE ESTUDAR O PAÍS
O estudo das áreas culturais é muito complexo mas pode dar uma visão da
imensidão do país.
Esse estudo nos permite vislumbrar a caracterização ios diferentes tipos de
estrutura brasileira, os fenônenos evolutivos que as várias regiões vêm
sofrendo, onde o carro de bois passa gemendo ao lado de torres de petróleo,
ou onde ao lado de fábricas de autonóveis há feiras para onde a mercadoria
vai nos jacás e bruacas no lombo de burros lerdos, onde o passado coabita
com o presente.
-- Página 15
Brasil Folclórico
-- Página 20
OS INDÍGENAS BRASILEIROS
Desde o descobrimento da América até hoje se repete a pergunta: de onde
vieram os habitantes do continente?
Os homens da terra foram chamados impropriamente de "índios". Segundo
Artur Ramos, a própria expressão "índios" apresenta-se como "símbolo da
ignorância sobre a origem dos habitantes do Novo Mundo".
QUAL A ORIGEM DO ÍNDIO?
Alguns autores acreditam na origem autóctone. Surgem duas correntes
opostas.
A poligenista sustenta ter o homem aparecido em várias partes do mundo.
As monogenistas afirmam que o homem apareceu na América do Sul
(Ameghino).
A HIPÓTESE DE WEGENER
Outras hipóteses surgiram. Uma delas baseou-se na formulada por Wegener.
Segundo ele, os continentes constituíam-se numa única massa aglutinada.
Mas graças às rachas formadas com o passar dos tempos, as massas da
litosfera se isolaram.
Para Wegener a prova é simples. Nas bordas dos continentes, hoje afastados,
pode-se encontrar flora e fauna com traços semelhantes.
Entretanto, a separação se deu antes do homem aparecer sobre a face da
Terra. Pode-se então dizer que tal teoria não satisfaz.
A CULTURA INDÍGENA
O índio não conhecia a roda. Nem o centeio, a cevada, o trigo, o torno de
oleiro. Ignoravam a escrita e o ferro.
Isso elimina a .hipótese de outros povos terem vindo para cá. Fenícios,
babilônios, judeus, tártaros ou egípcios, nenhum deles esteve na América.
NOSSA PRÉ-HISTÓRIA
A história do homem brasileiro tem suas primeiras páginas escritas nos
sambaquis, sernambis, casqueiros, concheiras, ostreiras, lapas, furnas. E
também nas formações pampeanas na Argentina.
Aí é que se encontra a nossa pré-história.
O BRASILÍNDIO É AUTÓCTONE?
Segundo muitos autores o brasilíndio não é autóctone.
O francês Paul Rivet afirma: "temos que nos contentar em classificar os três
grandes movimentos mig;ratórios que contribuíram para o povoamento do
Novo Mundo na seguinte ordem cronológica: migração asiática, migração
australiana e migração milanésica.
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O lingüista Aleç Hrdliçka tenta provar que o índio veio da Sibéria e da
Mongólia, onde se encontra o seu protótipo. Para ele, o índio, é um asiático.
Artur Ramos e Herbert Baldus aceitam a origem mongólica.
OS ESTUDOS FEITOS
As primeiras notícias e as primeiras descrições do bresilíndio estão na carta
batistério do Brasil. A carta de Pero Vaz de Caminha a Dom Manuel, o
Venturoso.
A partir daí, a literatura e os estudos se sucederam. Um dos primeiros a falar
sobre os habitantes do Brasil foi o arcabuzeiro alemão Hans Staden. Em 1557
ele escreveu Meu Cativeiro Entre os Selvagens.
O último cientista a efetuar esses estudos foi o etnólogo Herbert Baldus, em
Os Tapirapé.
OS GRANDES GRUPOS
O Museu Nacional organizou um mapa com a distribuição dos grandes
grupos lingüístico-culturais do índio brasileiro. Tupi, aruaque, caribe e gê.
Do mapa constam também os grupos lingüísticos menores: tucano, pano,
guaicuru, charrua.
Em estudo recente, Eduardo Galvão propõe a divisão do Brasil em onze
áreas culturais indígenas.
AS ÁREAS CULTURAIS
São onze. Norte-Amazônica, Juruá, Guaporé, Tapajós-Madeira, Xingu,
Tocantins-Xingu, Pindaré-Gurupi, Paraguai, Paraná, Tietê-Uruguai e
Nordeste.
Esta foi a classificação adotada nesta obra.
A DIMINUIÇÃO DA POPULAÇÃO
O marechal Cândido Mariano da Silva Rondon estimou a população
indígena em um milhão.
Hoje, passados trinta anos, não chega a 50 mil.
Pelo Estatuto do tndio, elaborado por Temístocles Cavalcanti, pretende-se
proteger melhor as tribos restantes. Isso através de garantias e proteções
legais.
Por regime de tutela, regime educacional, definição de posse de terras e
outros direitos e obrigações.
O ÍNDIO NÃO É UM INDOLENTE
Infelizmente entre os brasileiros está arraigado o conceito de que o índio é
um indolente.
Não é verdade. Devemos lembrar que nosso ritmo de vida é que gera o
preconceito. Vivemos em culturas diferentes.
Embora o homem civilizado tenha despojado o indígena de suas terras,
assimilou uma série de seus traços culturais. O milho, a mandioca, a rede e o
fumo, são alguns dos exemplos.
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A PRESENÇA INDÍGENA NA HISTÓRIA
O português ajuntou-se com as índias gerando o mameluco. Aquele que foi
o peão das bandeiras antitordesilhanas.
Foram eles que, ao lado de Raposo Tavares, Manoel Preto ou Fernão Dias
Pais, caminharam pelo Brasil todo.
Foram os mamelucos que assimilaram os hábitos de comer mandioca,
farinha de milho, paçoca, canjica, mel e frutos selvagens. Também
aprenderam a caçar e a pescar.
A CHEGADA DA CIVILIZAÇAO
É comum pensar que tupi é índio. Tupi é uma língua, uma nação.
Isso prova como hoje pouco se sabe a respeito dos brasilíndios, do esforço
que alguns idealistas que vivem nas selvas vêm fazendo em defesa dos
indígenas contra os males da civilização. Dessa civilização que lhes transmite
doenças e os degradam.
-- Página 23
Capítulo II - O Rio Grande do Sul
O Rio Grande do Sul é uma terra de fronteiras: climática, botânica, política.
É o terceiro Estado industrial do país, numa área de 267 528 km2. É também
um dos mais importantes Estados agrícolas do Brasil. O rebanho bovino
riograndense possui mais de 12 milhões de cabeças de gado. Porto Alegre,
capital do Rio Grande do Sul, às margens do rio Guaíba, é uma jovem cidade
industrial. E os gaúchos (6.755.458 habitantes), dos pampas ou das cidades,
formam um povo alegre, rico em tradições. Neste capítulo um pouco das
histórias, dos costumes e das lendas gaúchas.
-- Página 24
O homem
OS GAÚCHOS
A província de São Pedro do Rio Grande do Sul foi a última parte do Brasil
a ser povoada pelos portugueses. O povoamento começou na segunda metade
do século 18. Os portugueses povoaram apenas o litoral.
Mas os espanhóis, que estavam colonizando a Argentina, tomaram posse da
foz do rio Prata, subiram o rio Paraná e fundaram a cidade de Assunción; no
Paraguai.
O território gaúcho ficou como uma ponta de lança. E o gàúcho passou a
defender a nossa fronteira móvel, lutando contra os espanhóis.
Os jesuítas espanhóis penetraram no interior desta região, catequizaram os
índios e formaram os Sete Povos das Missões.
Mais tarde surgiram os paulistas.
Lutaram contra os jesuítas e destruíram as Missões.
A IMPORTÂNCIA DO GADO
Os gados vacum e cavalar, vindos das missões jesuítas do Paraguai,
Argentina e São Vicente, se reproduziram livremente pelas ondulantes
coxilhas.
O gado expandiu as fronteiras. Fixou o homem e foi motivo de luta.
ENTRA EM CENA O CAVALO
Não se concebe o gaúcho sem o cavalo. Cavalgando é o rei dos pampas. Foi
com tropéis e cavalgadas que se completou a integração, por volta do século
19.
Do campo surge o gaúcho alado em seu corcel, com o seu pala esvoaçante.
Em suas veias corre o sangue dos portugueses, dos árabes e levemente do
negro.
Eis o brasileiro da fronteira do Sul. Eis o valente e jovial habitante dos
pampas. A seu lado, a sua mulher - a prenda.
OS COLONOS: OS NOVOS GAÚCHOS
Depois que o Brasil ficou independente de Portugal, os colonos chegaram ao
Rio Grande do Sul. Os alemães em 1824. Os italianos em 1870.
No trabalho agrícola ou pastoril, os novos gaúchos adotaram a bombacha, o
churrasco, o chimarrão e o cigarro de palha de milho. Em troca legaram: o
macarrão, a polenta, a cuca (pão) o arado, a semeadeira e a carreta, para
transporte de carga pesada.
A casa e a terra
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AS ROUPAS GAÚCHAS
As roupas dos gaúchos do campo parecem roupas de festa.
Usam bombachas (calças largas). Poncho de pano grosso (o antigo bichará).
No verão usam o pala (uma espécie de poncho franjado, feito de uma fazenda
mais leve).
Na cabeça, um chapéu mole, de abas largas, preso por uma tira de couro
(barbicacho).
Calçam botas com enormes esporas barulhentas (as chilenas) que marcam os
passos dos gaúchos.
No pescoço um lenço e na cintura a guaiaca (cinto), que serve para segurar
uma faca ou adaga.
Os seus instrumentos de trabalho são o laço e a boleadeira (bolas de ferro ou
pedra, revestidas de couro, presas numa corda de couro).
AS ROUPAS DE ANTIGAMENTE
Os gaúchos, antigamente, usavam o chiripá.
O chiripá é uma quadrado de 1 metro e meio de baeta vermelha (tecido de lã
felpudo). Colocavam o chiripá como uma fralda, presa na cintura pela
guaiaca.
Usavam também uma bota especial, que deixava os dedos de fora, para o
cavaleiro se equilibrar melhor sobre os estribos.
O CAVALO OBJETO DE LUXO
O cavalo é um companheiro inseparável do gaúcho.
Ele também tem que ser "vestido", arreado, aperado, com muito cuidado.
Um gaúcho mal vestido sobre um cavalo bem arreado pode participar de
qualquer festa...
ROUPA DA PRENDA
O gaúcho chama a mulher de - prenda.
A roupa da prenda é muito simples. Vestido de chita ou algodão. E um
lencinho no pescoço.
-- Página 26
A casa e a terra
AS ESTÂNCIAS - OS PAMPAS
A terra gaúcha é uma terra de fronteiras.
Fronteira botânica: a mata versus o pampa.
Fronteira climática: zona onde lutam as frentes tropicais e as polares,
surgindo o vento minuano.
Fronteira política: palco de lutas entre os descendentes dos portugueses e
dos espanhóis.
Os portugueses foram ajudados pelos índios, habitantes das matas ou dos
campos: os guarani, carijó, charrua, minuano, caágua etc.
A CASA DA ESTÂNCIA
A casa da estância é baixa, com telhado de duas águas. Ao lado da casa está
o galpão. Antigamente o galpão abrigava animais, hoje é o ponto de reunião
dos homens.
Lá está o fogão para o chimarrão e o churrasco.
Os posteiros (vigias de gado) e os agregados vivem nos ranchos.
Faltam as páginas de 27 a 31
-- Página 33
A DOMA
A doma é a parte mais empolgante dos rodeios, o maiox atrativo das festas
dos Centros Tradicionalistas do Rio Grande do Sul.
O animal bravio é laçado e seguro por uma ou mais pessoas. O peão cavalga
sem arreios, em pêlo. O seu único apoio são as esporas.
Numa doma festiva você poderá ouvir um gaúcho com uma gaita de fole
cantar assim:
Vou m'embora, vou m'embora
prenda minha, tenho muito que fazer,
vou partir parar rodeio, prenda minha,
no campo do bem querer.
No potreiro dos teus olhos, prenda minha,
eu prendi meu coração,
ficou preso e mui bem preso, prenda minha,
este potro redomão.
Depois que o peão monta o animal, que escoiceia, pinoteia, os outros o
soltam.
Começa a luta entre o cavalo e o peão. O cavalo tenta derrubar o peão. O
peão tenta domar o cavalo. Ou o cavaleiro acaba no chão ou o cavalo pára,
domado, e o peão recebe o aplauso da assistência.
BOLEADEIRAS
Houve um tempo em que o gado vivia solto pastando na imensidão das
coxilhas gaúchas.
Os gaúchos usavam a boleadeira para capturar os animais ariscos, selvagens,
quando não conseguiam se aproximar bastante para usar o laço.
Inicialmente a boleadeira era constituída de duas bolas revestidas de couro
amarradas a uma correia de couro cru. A corda media mais ou menos 2
metros (uma braça). Atualmente existe mais uma bola - a manicla (manica)
pela qual os gaúchos seguram a boleadeira.
A boleadeira é usada nos pampas para capturar animais em carreira. Sua
ação chega a atingir 25 metros de distância do atirador.
Segura-se a manicla; gira-se a boleadeira acima da cabeça e, depois que
tomar certa velocidade, tenta-se capturar o animal.
Como? Enrolando a boleadeira nas suas pernas.
Hoje a boleadeira não tem uma função utilitária, a não ser para capturar
emas, que é quase um esporte, uma distração da gauchada.
-- Página 34
Artesanato
A ARTE DE TRABALHAR O COURO E A PRATA
Não se pode afirmar quando surgiu o artesanato de prata no Rio Grande do
Sul. A indústria rio-grandense era muito pobre, a não ser a do charque (carne-seca).
Em 1805, em Pelotas, havia 22 fábricas de carne-seca. Em Porto Alegre um
curtume para toda qualidade de couros, três fábricas de louça vidrada,
pequenos engenhos de cana e de mandioca.
Para a "atividade guerreira" havia um estabelecimento com serralheiro,
coronheiros, armeiros.
Existia também a indústria doméstica dos ponchos de lã (os bicharás), feitos
nos teares como os cobertores que são feitos nos dias de hoje, na cidade de
Mostarda.
Provavelmente, a partir da chegada dos colonos alemães (1824) surgiram
novas indústrias.
Os artesanatos foram, aos poucos, se transformando em indústrias. É o caso
do couro, das selarias, dos calçados, da prata, das peças de chifre, da
cerâmica, dos trajes gaúchos.
AS JÓIAS GAÚCHAS
Foi o artesão que começou a fazer as famosas bainhas das facas, de cabo
trabalhado. As esporas (chilenas) tilintantes. Os instrumentos de trabalho, as
peças do arreio gaúcho: cabeçalhos dos lombilhos, cabos dos rebenques,
passadores dos rabichos, das peiteiras, das cabeçadas, dos cabrestos, e as
boleadeiras de prata do passado.
E os lindos enfeites de prata, "as jóias do gaúcho", o bocal do chimarrão e a
bomba, as correntes das guampas (copos de chifre), as fivelas das guaiacas.
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O trabalho
A TOSA.
Nas estâncias gaúchas duas são as raças de ovelhas criadas: a merina, que é
de origem espanhola, antiga, e as inglesas.
O rebanho tem que ser vigiado constantemente.
O cordeiro é presa fácil dos animais carniceiros e os guarás (cães selvagens)
costumam atacar os rebanhos.
Outro grande perigo são as ervas venenosas que crescem no meio do campo.
Têm que ser constantemente exterminadas.
Conhecem a idade do carneiro pelos dentes, como fazem com os cavalos, e
também pela marca de "era" feita nas orelhas.
A marcação é feita na primavera. É também nesta estação que castram os
cordeiros para que a carne se torne mais tenra, a lã mais fina e o animal mais
manso... mais cordeiro.
Os currais feitos de aramado (cerca de arame) devem ter abrigo para o
inverno, geadas, chuvas, ao lado dos galpões onde se processa a tosa.
A tosa é feita, cuidadosamente, quando a lã está seca começando do
pescoço do cordeiro.
A máquina de tosa, ou tesoura de mão, tem que ser manejada
cuidadosamente para que o tosão saia inteiro.
A lã, uma vez tirados os tosões, é depositada nos galpões secos e separada
de acordo com a sua qualidade e a sua categoria.
A classificação e a verificação da lã é feita através de um instrumento - o
micrômetro.
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A CHARQUEADA
A indústria saladeiril ou das charqueadas foi introduzida no Rio Grande do
Sul pelos maragatos.
A própria palavra charque é de origem árabe e quer dizer carne salgada,
seca ao sol.
Mas a primeira grande indústria de charque foi fundada, em 1870, pelo
cearense José Martins, nas margens do rio Pelotas.
A CHARQUEADA
Por muitos anos matavam o boi para aproveitar o couro. A carne era
desprezada.
Na charqueada há o pavilhão central e ao redor as mangueiras, os curralões,
cujas cercas de pedra ou mourões atingem 3 metros de altura.
A MORTE E O APROVEITAMENTO DO BOI
Há um corredor por onde o boi passa e penetra num pequeno
compartimento onde é abatido pelo desnucador. Logo em seguida o boi é
sangrado. Entram em ação os carneadores, os tiradores de couro,
despostadores (repartidores), manteiros, trip.eiros, os salgadores ou
carregadores que levam as mantas (a carne) e as postas para os tanques de
salga.
A CARNE-SECA
A carne é levada para os varais. O sol e o vento secam a carne.
A carne-seca é empilhada e enfardada para o consumo.
O couro é preparado através de dois processos: a salga (uso do sal) e a
secagem em varais.
O boi é inteiramente aproveitado, inclusive as vísceras.
Atualmente, de dezembro a junho é a temporada de trabalho intenso nas
charqueadas.
A morte do boi é a vida dos charqueadores.
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Ritos
A PROCISSÃO DE NOSSA SENHORA DOS NAVEGANTES
A festa de Nossa Senhora dos Navegantes é realizada em Porto Alegre no
dia 2 de fevereiro.
É também chamada pelo povo de festa das Melancias. É uma festa de
origem portuguesa realizada no rio Guaíba.
Centenas de barcos e milhares de fiéis devotos participam da procissão
fluvial.
A imagem da santa é colocada em outra igreja e a procissão leva-a de volta à
sua igreja, alcançando o porto dos Navegantes, onde ficará até o ano seguinte.
Tal qual na Bahia, como fazem os devotos de dona Janaína, os gaúchos
lançam nas águas do rio Guaíba os presentes para a Nossa Senhora dos
Navegantes - flores, fitas, grinaldas.
As moças que desejam arranjar um bom casamento pedem a proteção da
Nossa Senhora dos Navegantes. E prometem dar seu vestido de noiva a
Nossa Senhora, se forem atendidas. A promessa é cumprida com grande
alegria. O vestido da noiva é lançado no Guaíba, neste dia. O vestido
desaparece nas águas, mas a moça ganhou um bom marido...
No fim da procissão começa a festa. Barracas e mais barracas. Comidas.
Bebidas. Muitas melancias. Abacaxis. Butiás (coquinhos). E muita alegria,
porque é um dia de festa gaúcha.
-- Página 39
Capítulo III
PARANÁ e SANTA CATARINA
O Estado do Paraná apresenta uma das mais baixas temperaturas do país,
com geadas. Numa área de 199.060 km2 vivem 6.997.682 habitantes (dados
antigos). Os imigrantes chegaram a partir de 1850: alemães, italianos,
poloneses, ucranianos, holandeses etc. Influenciaram fortemente os usos e
costumes da região. É um estado agropastoril. O principal centro fabril está
localizado na sua capital, Curitiba. Principais indústrias: gráfica, metalúrgica,
têxtil, madeirense.
O Estado de Santa Catarina possui uma área de 95.483 km2 e 2.930.411
habitantes (dados antigos). E também um Estado agropastoril. Zona fabril:
principalmente Joinvile e Blumenau. Florianópolis, capital do Estado, está
localizada na ilha de Santa Catarina. Existe grande diferença entre o verão e o
inverno, com temperaturas baixas e geadas.
Os colonos imigrantes chegaram a partir do século 19. Neste capítulo um
pouco das histórias, costumes e lendas deste Brasil do Sul.
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O homem
OS PARANAENSES E OS CATARINENSES
Por muito tempo Paraná e Santa Catarina foram apenas o caminho de
passagem do Centro do Brasil para o Sul.
Embora Santa Catarina tenha sido o palco de luta entre os índios carijó,
aliados dos espanhóis, e os portugueses.
Os espanhóis se sentiam donos do território de acordo com o Tratado de
Tordesilhas.
Mas os portugueses, na sua sabedoria povoadora, colocaram colonos vindos
dos Açores e da Madeira na ilha de Santa Catarina e em outros pontos do
litoral. O povoamento desta região partiu também de São Paulo. Os paulistas
de São Vicente fundaram São Francisco, Santa Catarina, Nossa Senhora do
Desterro, Laguna.
CURITIBA
Paranaguá foi um porto de mar importante. Curitiba viveu por muito tempo
em dependência dele.
Um dia, uma nova estrada deu a Curitiba o cetro de capital, desligando-a de
Paranaguá. Deixou também de ser uma página da história paulista,
conquistando por si mesma a liderança.
Curitiba foi além do Tratado de Tordesilhas, fixando-se hoje como uma das
grandes capitais brasileiras.
OS COLONOS
O povoamento de Paraná e Santa Catarina foi diferente dos demais.
Ausentes os índios e os africanos. Presentes os portugueses, cuja cultura
deixou sua marca nos usos e costumez e no linguajar cantado dos paranaenses
e-catarinenses.
Entretanto, ambos os Estados receberam mais tarde larga influência dos
colonos italianos e alemães e menor dos poloneses e húngaros, ucranianos,
russos, irlandeses, escoceses, holandeses, japoneses etc.
Os imigrantes se adaptaram facilmente ao clima sub-tropical da região e
muito contribuíram na cultura vinhateira, na triticultura (cultura do trigo),
linho, algodão, cânhamo e mandioca.
A mata de araucária, pinheirais, constitui uma das riquezas destes Estados.
A partir de 1932, o café em Londrina (Paraná) acarretou a industrialização
do Estado, produzindo 50% do total do Brasil. De Santa Catarina, com seus
tecidos, cerâmica fina, carnes, vem o carvão de pedra de Crisciúma,
Araranguá, Uruçanga, pelo porto de Tubarão, para forjar o aço do progresso
do Brasil.
-- Página 41
O CAMINHO DO CAFÉ
A caminhada do café ainda continua. Entrou pela Baixada Fluminense, subiu
a morraria, do Vale do Paraíba espalhou-se pelo Estado de São Paulo depois
pelo Paraná e hoje está no Mato Grosso.
No Paraná o café determinou o aparecimento de cidades como: Londrina,
Maringá, Arapongas etc.
O norte do Estado acaba de ser ligado pela rodovia do Café ao porto de
Paranaguá, que hoje compete com Santos na exportação do café.
A colheita do café ainda é manual e nela tem papel destacado a mulher,
enquanto os homens trabalham com as máquinas, nas tarefas mais pesadas.
A HISTÓRIA DA ERVA-MATE
A erva-mate a princípio era tida pelos padres como uma erva maldita.
Depois o uso venceu os preconceitos... A planta é nativa do Paraná, de
Santa Catarina e Mato Grosso.
Entre os pinheirais encontram-se também árvores onde o ervateiro colhe as
folhas. Perto dos ranchos preparam os jiraus ou carijós (espécie de mesa feita
de varas para receber calor por baixo). A erva depois é triturada, peneirada e
coada. Em seguida é ensacada e segue o seu destino. Certamente acaba na
cuia e com uma bomba de prata e uma chaleira de água fervente, torna-se o
delicioso chimarrão, complemento indispensável de um bom churrasco.
-- Página 42
O trabalho
FOI BOTO, SINHÁ...
O boto é um peixe amigo.
É conhecido desde o Amazonas, onde dizem que é pai de muita gente...
Basta nascer criança de pai desconhecido que já se sabe... é filho de boto!
O olho do boto é amuleto. Ninguém mata boto. Diziam, antigamente, que
não se devia aproveitar o óleo de boto em candeeiros, podia cegar.
No mar ou nos rios o boto é figura de grande prestígio. Ele ajuda a salvar os
náufragos. Dá um verdadeiro espetáculo coreográfico nas baías calmas, vindo
à tona e mergulhando, nas marés cheias.
Os botos são mansos, acompanham as embarcações que deslizam nas baías
e no mar costeiro.
Às vezes, quando já estão fartos de alimentos, aprisionam um peixe, lançam
para o ar, soprando, e tornam a abocanhá-lo, repetindo o espetáculo.
OS BOTOS TRABALHAM
Em Santa Catarina os pescadores de Laguna têm se servido dos botos para
ajudá-los na pesca da tainha, que vem para a desova por ocasião do inverno.
Os cardumes de tainha vêm do sul em busca de águas calmas para a desova.
Ao penetrar na baía, os pescadores dão-lhe a batida, os peixes se espalham.
Os botos procuram reconduzir as tainhas para a baía adentro, e naquela
perseguição buscam os lugares mais rasos. O boto se rebola no fundo do mar,
mexendo e turvando a água. As tainhas se desorientam. Os pescadores de
cima das ubás (canoas) lançam as redes, as tarrafas, e a pescaria é farta.
Os botos já se tornaram conhecidos dos pescadores e recebem nomes e
apelidos.
Quem ajudou na pescaria?
"- Foi boto, foi boto, sinhá..."
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A BOA MADEIRA
Até há pouco tempo a maior riqueza do Paraná era sem dúvida a madeira,
graças à sua imensa floresta de araucária - o pinhal.
Os imensos pinheiros nativos do Paraná fornecem madeira para várias
finalidades.
"Do pinheiro ao papel, ao livro..."
Felizmente, em boa hora, os administradores passaram a exigir que houvesse
o reflorestamento.
O REFLORESTAMENTO
No Palácio do Governo, em Curitiba, há muito tempo existe um quadro de
Frederico Lange de Morretes, "A alma da floresta": dois pinheiros em pé,
mais atrás um derrubado e uma figura chorando debruçada sobre ele. Este
quadro marca a reação governamental.
O Instituto Nacional do Pinho passou a controlar a derrubada dos pinheirais.
Hoje corta-se, mas o replante é obrigatório.
Caso tais providências não fossem tomadas, não se poderia ver o belo
espetáculo de milhares e milhares de coiunas eretas buscando as nuvens, com
os galhos estendidos horizontalmente, braços abertos, símbolo da
hospitalidade.
A DERRUBADA
O machadeiro ou a dupla de serradores, com macete e cunha, em pouco
tempo estendem o pinheiro no solo que depois é desgalhado, cortado em
tamanhos combinados, e levado nos carretões, caminhões, vagonetes ou
gôndolas, para a serraria, no descampado.
A serra vai devorando com as suas lâminas dentadas o pinheiro, fazendo
tábuas.
As tábuas são empilhadas e depois são despachadas para toda parte.
Muitas voltam por algum tempo para bem perto do céu, fazem parte da
estrutura que vai receber o cimnento armado dos arranha-céus...
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Folguedo
BOI - DE - MAMÃO
Seria o boi-de-mamão ou o "boi-de-pano" catarinense uma figura
desgarrada das touradas ou uma forma do bumba-meu-boi?
TEATRO RELIGIOSO
Os jesuítas lançaram mão do teatro religioso popular para catequizar "as
gentes do Brasil".
Dois pontos principais deviam ser ensinados: a conversão e a ressurreição.
A conversão envolve uma filosofia religiosa.
Mas a ressurreição é mais fácil, mais popular, está presente na civilização
tradicional, na ressurreição do vegetal, vivendo portanto no subconsciente
coletivo.
No bumba-meu boi, no boi-de-mamão o argumento fundamental é a
ressurreição.
O boi-de-mamão vai do Natal ao Carnaval.
Começa com as prendas e pedidos de ajuda e termina com a morte e
ressurreição do boi.
OS PERSONAGENS
São muitos os personagens, alguns fixos como: Mateus vaqueiro, cabrinhas,
cavalinhos, médicos, cantadores, tocadores e a bernuncia - animal
descumunal, síntese de vários monstros que habitaram a mente medieval e
chegou até nós. Tem algo do bicho-papão que habita a imaginação infantil.
Na representação engole crianças. Felizmente as crianças passaram a brincar
de bernuncia e, com um grande saco de aniagem fazem de conta que engolem
as outras, sem medo.
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Danças
DANÇA-DE -FITAS
A dança de fitas é uma tradição milenar.
É uma dança ariana antiqüíssima. Uma dança pagã, da árvore de maio, da
arqueocivilização européia.
Fazem um pau-de-fita, cujo mastro é sustentado no centro da dança por um
menino. Da ponta do mastro saem pares de fitas que são seguradas por oito
ou doze meninas ou meninos ou mesmo homens, para começar a dança.
A dança se realiza dentro das salas ou salões sob a direção do guião, que os
comanda no dançar bem como os autoriza a "assaltar" (visitar as casas).
A DANÇA-DE-FITAS
A música que acompanha é, em geral, tocada por sanfona, violões e
pandeiros.
Embora seja praticada por ocasião das festas natalinas é uma dança
ritualística do passado, rememorando o renascimento da árvore.
Os cantos tradicionais são loas em louvor da natividade.
Executam as figurações segurando a ponta das suas fitas dançando
ritmadamente. Trançam e destrançam as fitas em torno do mastro central.
Em Santa Catarina, antes da dança-de-fitas exeecutam a dança da jardineira,
em que pares de dançadores conduzem um arco enfeitado de flores. Fazem
diversas figurações com os arcos.
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A casa
Lembrança da Europa
Nesta região do Sul do Brasil encontramos casas tipicamente européias.
O clima subtropical condicionou o tipo de habitação, ao lado da tradição que
os imigrantes trouxeram de suas pátrias distantes.
A madeira, abundante na região, é aproveitada na construção de casas que
relembram as européias, dos climas frios, onde vivem alemães e poloneses.
Casas, cujos telhados de duas águas, acentuados em ângulo agudo, para o
caso de cair neve, escorregar e não desabar com o peso desta.
O INTERIOR
Com este tipo de telhado pode-se fazer o sótão, onde dormem os filhos. Ou
um depósito para guardar os trastes, velhos objetos, cheios de recordações. A
madeira está por toda a parte, janelas, portas, assoalho, forro, escadas,
telhado.
O telhado também é feito de madeira, de tabuinhas. Ao entardecer, quando
o sol se esconde, derrama um brilho de ouro velho no prateado cinzento dos
telhados. Uma espiral de fumaça anuncia que a hora da refeição está próxima.
E na casa rural, por mais modesta que seja, há sempre flores, vasos ou
canteiros para enfeitar a simplicidade...
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O trabalho
OS CARROÇÕES DOS COLONOS
Quando se processou, no século passado, o povoamento dos Estados do
Paraná e Santa Catarina, através dos imigrantes alemães, italianos, poloneses
etc., introduziu-se um novo tipo de carroça: os carroções de
quatro rodas - "carroças coloniais".
As carroças faziam todo o transporte do interior novas colônias
recém-estabelecidas, até Curitiba.
Mesmo com o aparecimento dos caminhões ainda existem, em alguns
lugares isolados do interior, os antigos carroções.
Transportam desde a carga pesada do produto agrícola até passageiros.
Usam cobertura de lona como proteção.
Em viagens demoradas o pernoite é feito em tais carroções.
A VIAGEM
Os carroções são puxados por parelhas de animais, geralmente mulas ou
burros, por serem mais resistentes do que os cavalos. Usam em geral duas
parelhas, porém quando a carga é mais pesada, três ou quatro.
O condutor viaja na boléia que também é coberta pela mesma lona.
Em estradas ruins empregam correntes para outras parelhas ajudarem a
"arrancar".
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Artesanato
RENDAS DA ILHA DE SANTA CATARINA
Renda é o entrelaçamento de fios, compondo um desenho, sem haver um
fundo preparado anteriormente.
A ausência deste fundo desenhado distingue a renda do bordado, que é um
tecido ornam,entado por meio de agulhas.
Na execução da renda não se usam. agulhas e sim bilros (peça de metal ou
madeira onde prendem a linha). Usam também alfinetes de cabeça, cuja
função é segurar o fio no modelo (molde, cartão ou piquê), e jamais o de
tramá-lo tal qual a agulha no bordado.
RENDA DE BILROS
A função de tramar é exclusiva dos bilros, daí ser chamada de renda de
bilros.
Entretanto, por meio de bilros não se fazem apenas s rendas, mas toalhinhas,
bicos etc.
AS IMIGRANTES DOS AÇORES
A existência deste tipo de artesanato feminino se deve presença da mulher
açoriana (dos Açores) que no tempo do Brasil-Reino aqui chegou na ilha de
Santa Catarina.
Encontramos maior número de rendeiras onde não há indústrias ou
ocupação na lavoura, como no litoral, onde a mulher, terminados os poucos
trabalhos domésticos, têm horas inteiras desocupadas. Voltam-se então para o
artesanato trabalhando fios de linha.
Quanto mais isoladas as comunidades, os trabalhos iarecem ser mais
delicados do que os feitos nos bairros e arredores de Florianópolis.
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Folguedo
CARREIRA DE CAVALOS
Este folguedo é muito antigo.
Nas festas dos antigos persas, na Grécia, em Roma, os germanos tinham um
culto pagão em estreita ligação com as corridas de cavalos.
Passou a ser o esporte predileto dos bretões. Parece que a carreira de
cavalos foi introduzida no Brasil pelos portugueses, que a teriam recebido dos
mouros.
Chama-se raia o local onde os cavalos correm. As raias medem-se em
"quadras", e uma quadra corresponde a cem braças (220 metros).
FOI DADA A SAÍDA
São feitas duas trilhas no chão. Entre uma trilha e outra colocam terra fofa,
para atrasar o animal que pisar na linha divisória.
Foi dada a saída...
A saída, o local onde ficam os dois disputantes, é chamada de "xiringa" ou
"virador".
A "saída" é dada com um tiro de pólvora seca.
Caso haja erro na partida, um segundo tiro anula o rimeiro e os apostadores
terão que voltar para ser dada nova "saída".
No final da "quadra", na chegada, estão os juízes, de decisão e outro de
confirmação.
Por causa das decisões, que não são confirmadas, surgem brigas violentas e
os facões entram na disputa...
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Folguedo
BOI - NA - VARA
Na antiga - Grécia - existia o ritual - bárbaro do "aigizein", no culto a
Dionísio. Os moços, os iniciados, pegavam um touro e despedaçavam-no
comendo suas entranhas, sua carne crua.
Era a omofagia. No grego "omos" significa - cru e fagein - comer.
A cerimônia de apanhar o touro e despedaçá-lo recordava a lenda de uma
divindade que fora desgarrada e devorada.
Esse ritual foi evoluindo, passou mais tarde a ser uma arte e não um culto: a
Tauromaquia, a difícil e perigosa arte de correr touros na praça, na arena - a
tourada.
BOI-NA-VARA CATARINENSE
Em Santa Catarina o boi-na-vara ainda é praticado.
É uma espécie de tourada realizada pelos barrigas-verdes (catarinenses). É a
sobrevivência da omofagia no Brasil. Revive, em parte, o ritual grego: o
"aigizein". Um boi preso numa vara, com uma corda, investe num boneco; até
o esgotamento.
Outras vezes soltam-no e os moços em correria derrubam o boi e
despedaçam-no.
O interessante é que esta festa é realizada na Semana Santa, no sábado de
Aleluia.
Aqueles que na Semana Santa se abstêm de carne de vaca fazem neste dia
um ruidoso banquete com a carne do boi.
Revivem, sem o saber, o culto de Omadio da antiga civilização grega.
O boi-na-vara também é conhecido por: boi-na-corda, boi-no-campo, boi-
no-mato.
-- Página 51
Festas
FESTA DA UVA
Foram os italianos os introdutores da em nosso país.
Eles revivem nesta festa o culto ao deus Baco romano e a Dioniso grego,
festejado intensamente na primavera, pelos romanos e pelos gregos de
antigamente.
Quando as belas mocinhas vestidas a caráter servem nas barracas os cachos
de uvas, quando as garrafas são abertas ou das pipas jorra o vinho saboroso...
poucos conhecem o trabalho que está atrás da efusão
da vitória.
O TRABALHO
Foram os alemães os primeiros a produzir vinho em Santa Catarina.
A plantação é realizada de junho a agosto, produzindo uvas dois anos
depois. Cultivam uvas americanas híbridas, uvas viníferas (para fazer vinho)
brancas e tintas. As européias. As de cachos grandes que bem dizem da terra
dadivosa e boa do Brasil...que em se plantando tudo dá.
A VINDIMA
Enquanto a vindima (colheita) na Europa é sem preocupações para o
viticultor, aqui coincide com o verão (de janeiro a março), o que lhes traz
cuidados. Mas á viticultura, mesmo assim, está em franco desenvolvimento
em São Paulo, Santa Catarina e principalmente no Rio Grande do Sul.
A PRODUÇÃO DO VINHO
Ao lado da atividade agrícola existe a industrial. Há pequenos e grandes produtores.
Os
pequenos, em geral, ligam-se às cooperativas vinícolas. Da fabricação doméstica surgiram
as cantinas, que ao lado dos grandes estabelecimentos produzem um bom vinho, do
qual nos podemos orgulhar.
-- Página 52
Usos e costumes
PÃO-POR-DEUS
O Pão-por-Deus é um velho uso da época natalina em Santa Catarina.
No início do último trimestre é costume enviar mensagens em papéis
rendilhados, coloridos, com filigranas, no centro dos quais escrevem versos
pedindo dádivas.
Quem recebe um pedido de "Pão-por-Deus" fica na obrigação de responder
pelo Natal, enviando uma oferta ao solicitante.
Tais mensagens, em geral, têm a forma de coração, daí serem chamadas de
"Corações".
PEDIR-OS-REIS
O Pão-por-Deus é uma forma artística folclórica de "pedir-os-reis", da
região onde os imigrantes açorianos deram uma vasta contribuição cultural.
O que no princípio era usado para pedir pão, graças à dinâmica do folclore,
passou a ser utilizada, entre os enamorados, para pedir amor.
É bem verdade que nem só de pão vive o homem...
Lá vai meu coração
meu querido visitar
vai pedir o pão-por-Deus
perdoe amigo, incomodar.
Por serem lindos teus olhos
que um dia serão meus
brilharão também teus olhos
eu te peço pão-de-Deus.
Lá vai meu coração
que agora não posso ir
neste rendilhado pape!
pão-por-Deus mando pedir.
Deus pediu aos anjos
Anjos pediram a Deus
Eu mando pedir a vós
Meu lindo pão por Deus
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As danças brasileiras devido às grandes distâncias da nossa terra recebem
denominações diferentes nas diversas regiões.
E a finalidade das danças também varia. Podem também mudar a época da
sua realização, dentro do calendário festivo.
O VILÃO
Antigamente em Santos (Estado de São Paulo) dançava-se pelo Carnaval o
vilão tal qual se realiza hoje em Santa Catarina, em São Francisco.
Noutras cidades praianas o Vilão é dançado nas festas
Em São Francisco o Vilão é dançado por ocasião do Carnaval, à noite,
quando mais de trinta dançadores se exibem: porta-estandarte, os batedores,
os balizadores, os músicos. Fantasiados, usando bastões de dois metros de
comprimento, saem pelas ruas e praças fazendo suas evoluções com a música
profana e buliçosa.
No Vilão o estandarte tem as cores do grupo, é profano.
As figurações do Vilão, o bater de bastões, se assemelham ao moçambique
paulista, ao maculelê baiano, à tapuiada goiana. Todas estas danças têm uma
raiz comum - a dança dos mouros.
É a mesmíssima "morris dance", dançada na Inglaterra.
É a dança dos mouros, que em Portugal é a dos pauliteiros de Miranda.
São danças guerreiras das priscas eras da humanidade e que se revestem de
roupa nova, de nova fantasia, alegrando no presente dançadores e assistentes.
-- Página 54
Recomenda das Almas" é a forma popular da encomenda dos defuntos. É
um trabalho que o povo faz em lugar de um agente oficial da religião, o
padre.
É um ato religioso que dá grande conforto espiritual aos que vivem na roça.
Os seus executantes são "os recomendadores".
Um bando de homens sai, por ocasião da quaresma até a Semana Santa,
todas as quartas e sextas-feiras, à noite para a "Recomenda das Almas".
OS RECOMENDADORES DAS ALMAS
Usam roupas comuns e alguns colocam mantos ou cobertores na cabeça.
Um deles carrega um cacete para evitar os cães-vigias e também para bater na
porta das casas, pedindo silêncio. Em alguns lugares os "recomendadores"
levam berra-boi, sacarraia, ou mesmo matraca.
Quando se aproximam de uma casa, cantam sem acompanhamento de
instrumentos musicais o "pé da chegada":
Quando nesta casa eu chego
toda imagem se alegra
Deus te salve casa santa
e toda gente que está nela.
Rezam um Pai-Nosso e uma Ave-Maria. Percorrem várias casas, fazem
questão que o número de casas seja ímpar. O fogo dentro das casas deve estar
sempre apagado. Em muitas janelas estão colocados café e comidas para os
"recomendadores".
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Capítulo V
São Paulo (1)
O Estado de São Paulo está localizado num planalto, com ótimas condições
naturais, as quais facilitaram o desenvolvimento do trabalho agrícola e
pastoril. A cana-de-açúcar, o algodão e o café foram produzidos em São
Paulo em larga escala. Grandes rebanhos. Uma floricultura e fruticultura
notáveis. Hoje, São Paulo é o Estado mais industrializado do país. Possui a
mais extensa rede ferroviária. Grande capacidade produtora e consumidora de
energia elétrica. Neste Estado vivem 17.958.693 habitantes, numa área de
247.320 km quadrados. A cidade de São Paulo, capital do Estado, é um
centro comercial importantíssimo e um dos mais adiantados centros culturais
do país. Neste capítulo, um pouco das histórias, costumes e lendas do povo
que construiu o Estado de São Paulo.
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O homem e a terra
OS PAULISTAS
O paulista madrugou no processo de civilização da terra descoberta - o
Brasil.
Em 1532, a capitania de São Vicente foi doada a Martim Afonso de Souza.
Eram mais de cem léguas de costa. Separando o litoral do interior estava a
serra do Mar com as suas florestas e os seus perigos. Mas os paulistas do
litoral, de São Vicente, desbravaram as florestas, subiram a terra e alcançaram
o planalto.
Martim Afonso de Souza, ao fundar Piratininga no planalto em 1532, e
depois Manuel da Nóbrega, ao edificar, em 1554, o Colégio de São Paulo,
nos mesmos campos, sonhavam chegar ao Peru, percorrer Peabiru, apossar-se
dos tesouros ou dar maior amplitude ao domínio português.
Os paulistanos não ficaram parados na vila de Piratizinga. Não se limitaram
às cercas e aos muros que envolviam São Paulo de Piratininga e partiram.
Para quê? Para expandir-se. Esse é o destino do paulista.
O MAMELUCO PAULISTA
O português miscigenou-se logo com a índia. Surgiu o mameluco, herdeiro
do português e do índio.
O mameluco trazia do português o desejo de vencer mares e terras. E do
índio, a vontade de andar, ser nômade, não se fixar.
AS BANDEIRAS DE "PREAR ÍNDIO"
O Brasil precisava de mão-de-obra para trabalhar nos canaviais. Os paulistas
organizaram bandeiras (expedições armadas que partiam para o interior) para
capturar índios, "prear índios".
Mas o índio não se adaptou ao trabalho sedentário.
O escravo negro veio da África trazido pelos portugueses, para substituir o
escravo indígena.
AS BANDEIRAS PROCURAM TESOUROS
As bandeiras paulistas partem para o interior com outra meta: descobrir
ouro e pedras preciosas.
O bandeirante enfrenta tudo para saciar a sua fome de ouro. Penetra pelas
matas virgens, abre caminhos, vence distâncias, doenças. Foi uma luta
gigantesca.
Mas a descoberta dos filões de ouro recompensava tudo. Todos os homens
válidos partiram para o interior e São Paulo de Piratininga e São Vicente
ficaram despovoadas.
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O NOVO OURO: O CAFÉ
Passada a febre do ouro, São Paulo permanece parada durante alguns anos.
Até que um dia o café penetra nas terras paulistas, vindo pelo vale do rio
Paraíba do Sul, no fim do século 18.
OS NOBRES SENHORES CAFEICULTORES
O Vale do Sol, apertado entre a serra do Mar e a da Mantiqueira, teve os
seus morros devastados.
Neste mar de morros surge a onda verde do café.
E surgem, também, as fazendas.
O pólo econômico brasileiro deixa de ser o Nordeste, com os seus engenhos
de açúcar, e se desloca para São Paulo, para o café.
É a época dos grandes senhores cafeicultores, barões, senadores e ministros
do Império.
A República surgiu quando o café e os cafeicultores dominavam a política
nacional.
O café foi responsável pela industrialização. São Paulo tornou-se o maior
centro industrial da América Latina.
O CAIÇARA
No litoral paulista permaneceu o mameluco (mestiço de índio e branco),
continuando a técnica de pesca ensinada pelos portugueses, usando a ubá
(canoa) indígena. É o caiçara comedor de peixe e de farinha de mandioca. O
alegre dançador de fandango.
O CAIPIRA
O caipira paulista é também o mameluco, que nasceu no planalto e depois
fixou-se nos grotões da serra.
É o paulista legítimo que tem dentro de si a valentia lusitana e a calma do
índio. É o branco amornado pelos trópicos e pelo sangue tupi.
OS IMIGRANTES
A partir de 1877 chegam os imigrantes ao BRASIL.
De 1877 a 1914 ingressaram no nosso país quase 2 milhões de imigrantes.
Cerca de 800 mil italianos se fixaram em São Paulo, que foi chamada de
"cidade dos italianos".
Os colonos foram trabalhar nas fazendas de café.
Os alemães se tornaram autênticos paulistas, caipiras, em Santo Amaro e
Itapecerica da Serra. Depois chegaram os sírios, os japoneses. São Paulo
tornou-se uma cidade cosmopolita. Mistura de línguas e costumes.
SÃO PAULO - TRADIÇÂO E PROGRESSO
Embora São Paulo seja o Estado mais industrializado do país, ainda existem
pacatas cidades do interior, com os seus boiadeiros e tropeiros. Com as suas
festas juninas, onde o povo, voltando ao passado, se veste num arremedo de
singelos caipiras.
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Bailado
CONGADA
A presença deste bailado popular é assinalado no Brasil-colônia, no tempo
dos vice-reis, do Ceará ao Rio Grande do Sul.
A congada é uma adaptação da "Canção de Rolando", epopéia francesa, que
chegou até nós através dos jesuítas, dos colonizadores.
A congada foi usada pelos jesuítas na obra de conversão, da catequese.
No passado, a congada tinha a função de sublimar o instinto guerreiro do
negro, criando uma luta irreal de cristãos e pagãos (mouros).
A LUTA DO BEM E DO MAL
Na congada existem dois grupos de negros, que entram em luta. É a luta do
Bem e do Mal. O Bem é representado pelos cristãos. O Mal é o grupo de
mouros. O Bem usa roupa azul. O Mal vermelho.
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Há lutas, embaixadas, cantos, e sempre os cristãos vencem os mouros, que são batizados
. E
todos juntos fazem a festa em louvor a São Benedito, padroeiro dos negros, em
todo o Brasil.
As violas, o canzá (reco-reco), caixas, tambores, acompanham os
cantadores.
A congada é um dos mais notáveis bailados populares do Brasil, sendo
grande atrativo das festas do Divino Espírito Santo, na região Sul do país.
A congada é a canção épica da catequese em terras brasileiras.
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O FANDANGO
O fandango freqüentou palácios, fez saracotear a aristocracia brasileira,
depois foi adotado pelo povo.
No Nordeste do Brasil fandango é um bailado popular, também chamado de
marujada.
No Sul, fandango é uma dança individual, ou de pares, acompanhada em
geral por violas.
As danças do fandango recebem diversos nomes: andorinha, anu-chorado,
anu-velho, chamarrita, chimarrete, gracinha, marrafa, manjericão, tontinha,
tirana, tiraninha, pagará, monada, vilão de lenço, vilão de agulha, mandado.
No litoral paulista dividem o fandango em dois grupos: fandango rufado ou
batido e fandango bailado ou valsado, de acordo com os passos.
O fandango popularizou-se tanto que seus participantes passaram a ser
considerados vadios - fandangueiros.
Na cidade de Cananéia e em outras localidades do beira-mar paulista, o
fandango rufado com passos marcados, com batidas de pés, é dançado até a
meia-noite. Depois dançam os fandangos valsados, mais calmos...Até que o
dia aparece, então fecham as janelas das casas e começa a "saideira", o
fandango recortado, vivíssimo.
É a despedida.
BATUQUE
O batuque é uma dança de origem africana, do ritual da procriação. Foi
severamente proibida na época colonial pelos padres. Mas os fazendeiros
fingiam que não viam, tinham grande interesse em aumentar o número de
escravos.
É uma dança muito popular em algumas cidades do interior de São Paulo,
nas festas do Divino Espírito Santo, ou nas festas juninas.
O batuque é dançado em terreiro ou praça pública.
Uma fileira de homens fica ao lado dos tocadores.
As mulheres ficam a uns 15 metros de distância.
Então, começa a dança, começam as umbigadas.
Cada homem, dançando, dá três umbigadas numa mulher. Os músicos
tocam. Um batuqueiro "modista" faz a poesia, os versos. Há o solo e, em
seguida, o coro é feito por todos que estão batucando.
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Folguedo
A TOURADA: "O BICHO BRABO"
A tourada foi introduzida no Brasil colonial pelos portugueses.
Foi praticada em todo o centro do Brasil. Ainda hoje é comum em Mato
Grosso, Goiás e São Paulo. A tourada é uma recreação popular, festiva, das
zonas pastoris. É realizada num circo ou área fechada- a arena, cercada por
grossos palanques, revestidos por traves horizontais bem resistentes. De vez
em quando o toureiro precisa subir nas traves para se defender do boi...
Há um curro (cercado) onde fecham os "bichos barbos" até a hora de
soltá-los na arena.
A TOURADA BRASILEIRA
Em algumas partes do Brasil, principalmente em São Paulo, nem sempre é
um boi que entra na arena para ser toureado. As vezes entra uma vaca. Dizem
que a vaca quando investe não fecha os olhos e o touro vem de olhos
fechados... tinindo de bravo, babando de raiva. A vaca mantém os olhos
arregalados... Em ambos os casos as nossas touradas são belos espetáculos de
destreza e coragem.
OS TOUREIROS NA ARENA
Os toureiros trabalham usando capas vermelhas para excitar o boi. Quando
os animais são muito selvagens e podem ferir o toureiro, costumam colocar
nos seus chifres capinhas de couro (as garrochas), que amaciam as chifradas:
Além dos toureiros que fazem as pegas (agarram os touros com as mãos), as
fintas (desvios) e as derrubadas, há os palhaços que alegram e divertem o
público.
Em nossa tourada, bem ao gosto brasileiro, não se mata o "bicho brabo", o
touro ou a vaca.
A tourada é um esporte, uma brincadeira no meio da arena cheia de sol e de
alegria.
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Festas
JOÃO PAULINO E MARIA ANGU
"Meu boi Barroso
meu boi pitanga
o seu lugar
é lá na canga.
Vou mandar fazer um laço
do couro do jacaré
pra laçar meu boi Barroso
no meu cavalo pangaré."
Nas festas do Divino Espírito Santo, na cidade paulista de São Luís de
Piratininga, existem muitos divertimentos profanos: cavalhada, moçambique,
jongo, caiapó, João Paulino e Maria Angu, o Boi e a Miota.
JOÃO PAULINO E DONA MARIA ANGU
São gigantões feitos de taquara armada, que revivem a tradição portuguesa.
Um artista da cidade tece dois jacás (cestos) bem grandes, que comportem
uma pessoa dentro. Depois colocam cabeças de papelão e braços de trapos.
Logo depois da procissão, João Paulino e Maria Angu saem para passear na
cidade. O tocador de bombo acompanha uma centena de crianças que fazem
uma alegre confusão atrás do casal. Ao entardecer o casal se recolhe à casa
do império do Divino Espírito Santo.
O BOI E A MIOTA
Aparecem de vez em quando. A Miota é representada por uma boneca alta e
magra. O Boi defende a Miota da criançada. Os violeiros cantam versos em
homenagem ao Boi.
A Miota é feita
com uma série
de carretéis
enfiados
num cordel.
A pessoa que vai
dentro da armação
puxa os cordéis
movimentando a cabeça
e os braços
da Miota.
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Artesanato
CERÂMICA
Em Apiaí, nas cabeceiras do Ribeira de Iguape, no interior de São Paulo, a
cerâmica utilitária se apresenta muito rica, com formas e peças variadas.
AS FIGURINHAS DO PRESÉPIO
Os portugueses trouxeram para o Brasil o hábito de armar um presépio, um
grupo de figuras representando o nascimento de Cristo, na manjedoura, em
Belém, Judéia.
O presépio é armado do dia 24 de dezembro a 6 de janeiro. É quando
aparecem também os "barristas", os "figureiros", artesãos que preparam as
figuras do presépio.
Em São José dos Campos e em Taubaté, a partir do mês de novembro,
surgem "figuras" de barro nas bancas para vender.
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O trabalho
TÉCNICAS TRADICIONAIS
Embora o Estado de São Paulo possua um dos mais fortes parques
industriais do mundo, ainda persistem algumas técnicas artesanais, arcaicas,
folclóricas. Em alguns municípios tradicionais de São Paulo, como São Luiz
do Paraitinga - antiga cidade imperial -, a roca ainda é usada para tecer
colchas.
A ROCA
A roca mecânica de madeira compõe-se de um pedal sob uma banqueta que
movimenta a roda. Na roda passa um fio que faz girar o fuso. O fio fiado vai
se enrolando no fuso. O fuso cheio de fio é chamado de maçaroca.
O CARRO DE BOI
O carro de boi foi o primeito veículo que sulcou a terra virgem do Brasil.
Ele trabalhou para a paz e para a guerra.
O carro de boi
trabalha
há quatro séculos
para o Brasil,
na paz
ou na guerra.
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O carreiro (condutor de carro boi) foi um soldado desconhecido da batalha
econômica brasileira.
O carro de boi participou de todas as nossas lutas. Carregou peças pesadas
de nossa artilharia.
Muita poesia, muita coisa foi escrita sobre o carro de boi. Nos contos, nas
modas de violas, nas adivinhas, o nosso caipira se aproveita de seus fueiros,
argolões, chumaços, para dificultar as perguntas.
COMO É UM CARRO DE BOI?
O carro de boi é composto de três peças principais: rodas, eixo e mesa.
As rodas são de madeira maciça, resistentes. Medem, em geral, sete palmos
de altura.
O eixo é encaixado nas rodas com grampos de ferro "os gatos", ou engates.
A mesa é a parte de cima. Tem no centro um pau de madeira resistente
(o cabeçalho) onde uma junta de bois se engata.
O número de juntas de bois para puxar um carro varia: duas, quatro ou
cinco. O carreiro usa uma vara com ferrão na ponta para tanger os bois.
Bem no Vale do Paraíba do Sul, onde é fabricado o avião "Bandeirantes",
que prova a evolução da técnica brasileira, ainda rodam os carros de bois, e
os burros com jacás (cestos) descem da serra da Mantiqueira trazendo o
produto da terra para a feira semanal das cidades do Vale.
O café industrializou o Estado
de São Paulo.
Mas, apesar de toda a técnica
moderna,
empregada no plantio
e nos cuidados
com o crescimento,
ainda permanece
a colheita manual.
Os trabalhadores
são chamados de
"bóia fria"
A mulher é mais requisitada
do que o homem.
São diaristas arregimentadas
pelos administradores,
na ocasião
da colheita. que chegam
em caminhões.
São as colhedoras
de café.
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Foi o índio que nos ensinou a usar a mandioca. Esta "prensa de tipiti" (cesta)
é usada no preparo da farinha de mandioca. É uma prensa rudimentar,
acionada por um processo de parafuso sem fim. Na Casa da Farinha a
mandioca se transforma na farinha de mandioca, usada no Brasil inteiro.
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A máquina mais primitiva de moer cana-de-açúcar é a engenhoca ou
descaroçador. A moenda foi, durante muitos anos, empregada para a
produção do açúcar no Brasil.
No princípio, o engenho era movido por braços humanos. Mais tarde, um
padre português viu, no Peru, o engenho vertical com almanjarras, movidas
por animais, e trouxe este processo para o Brasil.
A ENGENHOCA
A engenhoca é constituída de dois cilindros de madeira dura, colocados
sobre as forquilhas que ficam ao lado. Cada cilindro tem na sua extremidade
dois cambitos (varetas) que formam uma cruzeta.
Os cilindros, para que fiquem bem ajustados, são apertados por meio de
traves, que são reguladas por cunhas (pedaços de madeira). Para fechar
melhor as forquilhas apertam as hastes com cipós.
Sob o cilindro inferior pregam um pedaço de folha de zinco: é a bica, por
onde escorre a garapa (caldo de cana).
Às vezes amarram um pedaço de cabaça, servindo de escorredor de garapa.
O CALDO DE CANA
Os operadores movimentam os cilindros em sentido contrário, guiando-se
pelas cruzetas.
Em geral, três pessoas participam do trabalho de moer cana.
A engenhoca, atualmente, só é usada para fornecer de cana, que é um
refresco muito apreciado pelo brasileiro.
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Danças
SAMBA-DE -LENÇO
"Em Tietê
fizeram cadeia nova
Mariazinha,
coitadinha,
é criminosa.
Menina, minha menina
coração de melancia
um beijo da tua boca
me sustenta quinze dias."
O samba é uma dança de origem africana. A palavra "samba" significa
umbigada, na língua angolesa.
Em São Paulo, ele é sambado no meio urbano - o samba de salão - e no
meio rural há três modalidades: samba-de-roda, samba campineiro e
samba-de-lenço.
Estas três modalidades de samba são revividas e cultivadas no Centro de
Folclore de Piracicaba, principalmente o samba-de-lenço.
A HORA DO SAMBA
No samba-de-lenço duas filas se defrontam. Nas filas ficam homens e
mulheres com um lenço na mão, com o qual acenam para o cavalheiro, ou
para a dama.
A iniciativa de ir dançar pode partir do homem ou da mulher.
O sambista sai da fileira e acena para a pessoa com quem quer dançar.
Formam então o par dançante, que dança no centro.
INSTRUMENTOS MUSICAIS
O instrumento musical fundamental para acompanhar a dança é a caixa, que
varia de tamanho. Alguns sambas se apresentam com cinco ou seis caixas,
outros com uma ou duas. Às vezes usam também pandeiros e guaiás
(instrumento de percussão, espécie de chocalho).
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Festas
OS IRMÃOS DA CANOA
A festa do Divino Espírito Santo nasceu de um voto coletivo da população
ribeirinha, das margens do Tietê. A desgraça muitas vezes une os homens.
O povo do Tietê, desolado pelas febres, no século passado, procurou a
proteção do Divino Espírito Santo. A festa do Divino é uma das mais lindas e
tradicionais manifestações de gratidão dos tieteenses.
A FESTA DO DIVINO NO TIETÊ
O Divino Espírito Santo é festejado em diversas partes do Estado de São
Paulo.
As monções (expedições), continuadoras das bandeiras, seguiam as águas
lendárias do Anhembi ou Tietê. Os trajes dos romeiros da festa do Divino são
semelhantes aos uniformes usados pelos portugueses, antigamente, assim
como as armas: o trabuco e o bacamarte.
OS "IRMÃOS DA CANOA"
Formam uma confraria sem estatutos, sem reuniões, sem diretorias, onde há
disciplina e fraternidade.
São dois grupos - irmão do rio-acima e do rio abaixo. Sob o mesmo
uniforme unem-se todos os devotos de uma só irmandade - a Irmandade do
Divino Espírito Santo.
Os "Irmãos da Canoa" seguem uma disciplina muito rígida quando estão
trabalhando para o Divino. Não bebem bebidas alcoólicas. O seu trabalho é
gratuito.
O uma forma de agradecer o muito que lhes fez o Divino.
Os grupos obedecem a um diretor (mestre) que é auxiliado pelo
contramestre (o irmão andante).
A irmandade tem um regimento folclórico, oral, não há nada escrito.
A folia é o grupo angariador de ofertas, chefiado por um violeiro famoso e
um tocador de ferrinhos (triângulo) e outro de caixa.
O salveiro conduz o trabuco (espécie de espingarda) para dar os avisos de
partida. O bandeireiro conduz a bandeira. E a folia vai começar.
Os foliões cantam nos pousos.
O ENCONTRO DAS CANOAS
O último domingo de todos os anos é o dia máximo da festa; o encontro das
canoas. As do rio-abaixo com as do rio-acima. O encontro é festejado com
rojões que sobem, bombas que espocam ensurdecedoras.
A multidão delira! Romeiros, festeiros e autoridades seguem para a igreja
matriz, onde a festa acaba.
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Ritos
UMBANDA
Bem antes do espiritismo, do kardecismo, ter se iniciado no Brasil, já
existiam os cultos africanos, que embora reprimidos eram realizados pelos
escravos, ajudados pelas trevas de noite.
No Império, fugindo às formas de repressão, os candomblés se relacionaram
com a religião dominante, o catolicismo romano.
Na República, quando florescia o espiritismo, surgia uma nova espécie de
culto - a umbanda, com influência espírita e indígena.
A UMBANDA
Os tambores infundem, pela magia do ritmo e do canto, o chamamento a
congregar homens de todos os níveis sociais, nos terreiros de umbanda.
Há a possessão" pela divindade, que "baixa" numa determinada pessoa.
Na forma atual deste culto há uma divisão - Lei de Umbanda, ou magia
branca, e Lei de Quibanda, ou magia negra.
A LEI DE UMBANDA
O um culto religioso mágico, dirigido por um chefe de terreiro - o
babalorixá. Sacerdote que estabelece ligação entre o mundo material e o
espiritual. Os chefes são chamados de cambonos. Os devotos, que
recebem os santos, são "os cavalos de santo".
Os caboclos também baixam, mostrando a influência indígena.
O espírito supremo é Olorum. Obatala é o Pai. Oxalá é o Filho e Ifá é o
Espírito Santo.
Estão presentes além destes os espíritos das Linhas e das Falanges, espíritos
astrais. Além dos anjos inspetores das atividades umbandistas - Miguel,
Rafael, Gabriel.
As divindades masculinas são: Xangó, Ogum, Oxossi, Ogum-megê, Iroco,
Oloxum, Ibejê. As femininas são: Iemanjá, Anamburucu, Oxum, Iansã, Obá.
Nos terreiros de umbanda baixam também espíritos de criaturas humanas
para receber influências, fluidos, benefícios dos guias, dos protetores.
Na capital paulista há mais terreiros de umbanda registrados do que a soma
de todos os templos das igrejas católicas e protestantes e sinagogas.
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CAPÍTULO VI SÃO PAULO (2)
No Estado de São Paulo dominava a mata atlântica, uma imensa floresta
tropical. Separando o litoral do planalto - a serra do Mar, que foi vencida
pelos povoadores que atingiram o Planalto Paulista. A primeira vila brasileira,
São Vicente, foi fundada por Martim Afonso de Souza em 1532. Na planície
litorânea, ponto de atração turística de toda a região, praias de grande beleza,
vive o caiçara, o homem do litoral, paulista.
O porto de Santos é o maior porto do país, escoando os produtos da região
economicamente mais rica do Brasil. Neste capítulo um pouco das histórias,
costumes e lendas do povo paulista.
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O homem
OS PAULISTAS CAIÇARAS
O litoral paulista marcou bem a História da nossa Pátria. Em 22 de janeiro
de 1502, a primeira expedição exploradora portuguesa tocou o atual litoral
paulista.
Este local recebeu o nome de São Vicente.
Nas redondezas, no Tumiaru, existiu o porto das Naus onde Antônio
Rodrigues e João Ramalho vendiam escravos índios.
A PRIMEIRA VILA BRASILEIRA
Nesta região, em 1532, Martim Afonso de Souza fundou a Vila de São
Vicente, a primeira do Brasil.
Também surgiu o primeiro engenho de cana-de-açúcar: São Jorge dos
Erasmos.
Foi Ana Pimentel, esposa de Martim Afonso de Souza, quem providenciou á
vinda das primeiras mudas de cana-de-açúcar e o primeiro gado bovino.
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Onde moravam outros náufragos, como o bacharel de Cananéia, surgiu a
Vila de Cananéia.
Martim Afonso de Souza criou também a Vila de Nossa Senhora da
Conceição de Itanhaém, segundo povoado brasileiro, mais ao sul, em Peruíbe.
IGREJAS-FORTALEZAS
Em Peruíbe o pouco celebrado Leonardo Nunes - "o padre voador"
- construiu o Abaré-bebê, colégio e fortaleza, hoje em ruínas.
Sim, as igrejas como as de Cananéia, Itanhaém, São Vicente, Santos, eram
ao mesmo tempo templo e fortaleza.
E, em Santos, fundada por Braz Cubas, surgiu a primeira Santa Casa, de
Misericórdia.
UBATUBA
Na época do Brasil-Império, Ubatúba foi porto de mar muito mais
importante do que Santos. Exportou a nossa primeira produção de café.
A GRANDE ESCALADA
Mas, um dia deixaram o litoral e subiram serra-acima, contrariando o que o
primeiro historiador brasileiro afirmou: "eram quais caranguejos a arranhar as
costas atlânticas".
O habitante de São Vicente ganhou o Planalto Paulista e divisou a amplidão.
Onde o mundo vegetal a tudo envolvia ele penetrou devassando. O sonho de
prosseguir determinou o aparecimento de São Paulo de Piratininga.
O paulista tornou-se o bandeirante.
Primeiro, preador de índios, depois, à cata de ouro e pedras preciosas.
Desconheceu a existência do Tratado de Tordesilhas e estendeu nossas
fronteiras até o sopé dos Andes.
No Planalto Paulista falavam mais tupi que o português, chegando mesmo a
ser proibido que as atas da Câmara Municipal fossem lavradas em língua de
bugre (indígena).
Mas nas casas só se falava o tupi, o pai português aprendeu a língua dos
índios, surgiu uma espécie de esperanto: "o avanhaenga", meio de
comunicação entre povos e gerações diferentes, que ajudou a expansão de
São Paulo.
A VIDA DO LITORAL
O litoral paulista passou a dormir embalado pelas ondas do mar, batido
pelas quilhas dos barcos dos pescadores, que com suas redes buscavam o
peixe abundante.
Um dia Santos tornou-se o porto mais importante do Brasil, por causa do
café.
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O TURISMO
As cidades litorâneas de São Paulo estão crescendo devido ao turismo: São
Sebastião, Guarujá, Ubatuba, Caraguatatuba, Ilhabela, Itanhaém, Peruíbe,
Cananéia.
A estrada Rio-Santos está "descobrindo" para o paulista novas praias.
Enquanto as cidades renascem revigoradas pelo turismo, lentamente vão
morrendo as técnicas arcaicas da pesca litorânea, do pescador tradicional, do
puxador de rede, do caiçara.
OS CAIÇARAS
Os próprios índios começaram a chamar os seus irmãos de caiçara, porque
moravam com os povoadores portugueses em vilas cercadas por caiçaras
(cercas de varas).
Os moradores das praias, mamelucos (mestiços de branco e índio),
passaram a ser também conhecidos por caiçaras.
O CAIÇARA PESCADOR
Como a terra do litoral não era fértil como no planalto, dedicaram-se à
pesca. Não abandonaram completamente a lavoura, pois o plantio de
mandioca continua presente.
Caiçara passou a ser sinônimo de pescador litorâneo.
AS PESCARIAS
O caiçara, para pescar usa espinhel (corda extensa onde prende anzóis) e
redes: tarrafa, picaré, jereré; puçá e faz nos rios as cercas ou chiqueiros de
peixes.
A pesca com rede requer o uso de canoa - a ubá.
A rede mede cerca de 140 braças de comprimento por 6 de largura. Para
facilitar a flutuação na parte superior da rede colocam bóias de cortiça. E na
parte inferior colocam as chumbadas ou peso de barro cozido. Nas
extremidades da rede, colocam cordas para puxar o arrastão.
O ARRASTÃO
Colocam a rede no mar, levada pela ubá, e depois vêm arrastando até a praia
- é o famoso "arrastão".
Às vezes empregam juntas de bois para o arrastão.
Ou os próprios pescadores e praianos colaboram puxando a rede.
-- Página 75
Quando a rede se aproxima da praia, é o final do cerco, momento
emocionante.
Aparecem os "aparadores", que com pequenas redes fazem a aparação,
pegando os peixes que fogem...
Antigamente abandonavam algumas espécies de peixes na praia e qualquer
pessoa podia ficar com eles.
A pesca é mais intensa no tempo quente, quando os peixes se aproximam
mais da praia.
Dentre as espécies mais pescadas no litoral paulista temos: pescada branca,
amarela, perna de moça, cambucu, pescadinha, agulha, roncador, brejereba,
caratinga, betara, sardinha...
Nas rochas, usando isca ou siri, pesca-se o salgo e o robalo. Na rede, o
camarão grande ou pequeno, de acordo com o tamanho da malha.
O S PEÕES
O peão é indispensável no trabalho do campo. Nas fazendas, para criar e
conduzir a tropa.
Começa muito cedo nesta lida. Quando menino ainda como um simples
rnadrinheiro (pessoa que puxa na frente da tropa a égua madrinheira, que
orienta os outros animais).
Por causa da antiga feira de tropas (cavalos e mulas) de Sorocaba (São
Paulo), para onde vinham os animais do Rio Grande do Sul, nos caminhos
percorridos pelos tropeiros, ficou até hoje a influência gaúcha,
no linguajar, nos trajes, nos costumes.
O LENHADOR
Dendroclastia quer dizer a destruição das árvores. Desde o descobrimento
do Brasil até os nossos dias é o que está acontecendo neste país.
Já o índio fazia a derrubada para plantar nas cinzas quentes o seu milho,
amendoim, mandioca.
O caipira foi seu herdeiro. Não há lavoura neste imenso Brasil que não tenha
sido feita após a derrubada da mata.
O PAU-BRASIL
A madeira que deu o nome ao Brasil - o ibirapitanga (pau-vermelho),
determinou a derrubada de muitas árvores pelos índios.
Depois vieram os canaviais. Mais tarde, o rei-café, sempre plantado nos
escombros das matas.
O lenhador, o machadeiro, foi uma figura importante nesta época.
Derrubava as madeiras de lei (madeira de ótima qualidade): as caviúnas, as
perobeiras, os jacarandás, os ipês, as canelas.
E as matas continuam a ser derrubadas. Para que não transformemos nosso
pais num deserto é necessário que, ao derrubar uma árvore, plantemos
no mínimo duas. Reflorestar é alvo de brasilidade.
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Usos e costumes
BRINQUEDOS
BRINCADEIRA
A moderna pedagogia consagrou o jogo e conseguiu afastar dele aquela
idéia antiga: jogo de azar.
Hoje, o jogo é uma poderosa e salutar arma educativa, uma das mais
completas formas de preparação para a vida real. Brincando forma-se o
caráter integral da criança, do adolescente.
BRINQUEDOS-BRINCADEIRAS
Os jogos tradicionais infantis compreendem brinquedos e brincos, ou
brincadeiras.
Brinquedos são aqueles em que não há disputa, brinca-se por brincar.
Joga-se por jogar.
Brincar com boneca, catavento, aro de rodar, papagaio (arráia ou quadrado),
ronda, cirandinha...
Brincos ou brincadeiras são aqueles jogos em que há disputa, que provoca o
desejo de ganhar, de vencer: bolinha de gude, unha de mula, ou sela-corrente,
carniça, amarelinha, roda de pião, futebol de bola de meia.
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O brinquedo é também o objeto com o qual a criança brinca. O brinquedo às
vezes é solitário, enquanto que a brincadeira requer no mínimo duas ou três
crianças. A brincadeira provoca a socialização, realiza contatos humanos, é
muito importante no desenvolvimento das crianças.
RODA INFANTIL
A roda infantil é uma das primeiras manifestações do espírito associativo das
crianças.
É também um dos melhores meios na sua educação musical, e ótimo veículo
de transmissão das tradições através das gerações.
As mães e as avós ensinam às crianças as cantigas de roda que cantaram na
sua infância.
As cantigas de roda têm influência dos nossos antepassados portugueses e
africanos.
JOGOS TRADICIONAIS
Sela-corrente é um dos jogos tradicionais do Brasil, ao lado da
barra-manteiga, foguinho, piques ou picula. Por meio de sorteio escolhe-se
quem começa o jogo. A forma de sortear varia muito. Existem versinhos, que
são ditos cada palavra para um dos participantes, para ver quem começa.
Quando o versinho termina numa pessoa ela é a primeira no jogo.
Bão-babalão
senhor capitão
em terras de mouros
morreu seu irmão
cozido e assado
em um caldeirão...
Ciranda, cirandinha
vamos todos cirandar
vamos dar a meia volta
volta e meia vamos dar.
O anel que tu me destes
era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas
era pouco e se acabou.
Por esta rua, ó dominé
passeou meu bem, ó dominé
orai por mim, ó dominé
e por mais alguém, ó dominé.
Olhe o passarinho, ó dominé
que caiu no laço, ó dominé
venha cá Cecília, ó dominé
me dê um abraço, ó dominé.
-- Página 78
Bailado
CONGADA: GUERRA SANTA
A Congada é folclore artificial criado pelo catequista.
A escravatura, nas suas raízes, na África, levava à destruição das
civilizações africanas.
Nos "Navios Negreiros" chegaram escravos de diversos estoques tribais.
A política da Igreja procurou manter estas nações.
As nações africanas eram inimigas entre si e essas lutas continuaram no
Brasil. Havia necessidade de evitar uma revolta contra o branco. O folclore
artificial mantinha, em parte, a velha tradição guerreira.
Os negros, no Brasil, "nas suas brincadeiras", formavam tribos que se
guerreavam - suas danças eram guerreiras. A Igreja conseguiu transformar o
instinto guerreiro do negro em cruzada religiosa.
TERNO DE CONGADA DOS PERIQUITOS
Na festa do Divino Espírito Santo, no interior de São Paulo, surgem os
ternos de Congada com os mais diferentes nomes: Batalhão Verde, Os
Marinheiros, Terno de Congada dos Periquitos.
Chegam cantando e dançando:
Eu quero pedir licença
pro meu batalhão dançar
pro senhor dono da f esta
e pro povo deste lugar.
Viremos de lá, viremos de cá
meu Senhor Divino viemos festejar.
CONFRARIA RELIGIOSA
O Terno de Congada é uma verdadeira confraria religiosa. Seguem a
orientação de um rei, que dirige as danças e é ao mesmo tempo
conselheiro-líder.
O padroeiro da Congada é São Benedito.
A EMBAIXADA
É a parte dramática das Congadas. Depois dos desfiles, as Congadas se
dividem em dois grupos: Cristãos e Mouros. Os Cristãos são chefiados pelo
Imperador Carlos Magno - o "rei do Congo", e os Mouros geralmente por
Ferrabrás, acompanhado pelos seus "turcos".
A luta, como sempre, termina com o batizado de todos, que se tornam
cristãos e finalizam a parte dramática cantando versos como estes:
Com favor de Deus esta batalha acabou.
A batalha está vencida rei do Congo que ganhou.
-- Página 79
Bailado
MOÇAMBIQUE
Não sabemos a sua origem, embora o nome - Moçambique, leve muitos a
dar-lhe origem africana. Mas não foi trazido pelos escravos.
É uma dança guerreira, muito antiga. Na Inglaterra é conhecida por "morris
dance", dança moura.
Assemelha-se à dança dos pauliteiros de Miranda, cidade de Portugal.
Pode ter sido praticada pelos mouros na península ibérica, e não foi difícil
ao catequista português, aproveitá-la na catequese no Brasil como precioso
fator de recreação popular.
A FESTA DE SAO BENEDITO
O canto é um louvor a um santo - São Benedito.
Daí a lenda de que foi este santo quem inventou a dança para alegrar seus
devotos.
Esta dança é de São Benedito
São Benedito foi quem dançou
ele dançou e subiu pro céu
hoje dançamos nós pecadores.
O BAILADO
No bailado do Moçambique existem várias danças. A parte dramática é
insignificante. As danças têm nomes religiosos: Escada de São Benedito,
Estrela da Guia, etc.
A confraria dos moçambiqueiros é mais folclórica do que a das congadas. A
maior parte dos participantes é jovem. O regulamento é oral e são normas
simples, criadas pelos grupos que dirigem as "Companhias de São Benedito".
Para dançar usam bastões de madeira, que são batidos como espadas.
Saltam e desenvolvem uma coreografia complicada sob o comando do tarol
(caixinha de guerra), reco-reco, pandeiros, rabeca, tamborins, violas. Cantam
louvações religiosas.
O Moçambique está em franco desenvolvimento. O ponto maior da presença
do Moçambique é no Vale do Paraíba do Sul, em São Paulo. Entretanto,
também é encontrado no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.
No Santuário de Aparecida do Norte, praticamente todos os domingos, os
romeiros do Vale do Paraíba do Sul (os piraquaras) dançam o Moçambique,
cumprindo promessas.
Vamos despedir irmão
vamos despedir pra ir s'embora
vamos despedir irmão
quem tiver coração amoroso chora
-- Página 80
Usos e costumes
FORNO CAIPIRA
O morador da roça, por causa da distância da cidade, teve que se tornar
auto-suficiente quanto a certos alimentos, dentre eles o pão.
Eis por que surge, como complemento da casa caipira, o forno.
Além de ser usado para assar os pães, no forno são preparados os assados,
os pernis, os leitões.
COMIDAS TÍPICAS PAULISTAS
Estas comidas são típicas de uma época tranqüila, em que a vida era mais
tranqüila também: arroz com suã (parte inferior do lombo do porco), quibebe
(feito de abóbora), cambuquira (feita com pontas de rama da abóbora),
moqueca de galinha; (feita com milho), barreado (carne cozida em panela de
barro, tampada e fechada com barro), pururuca (couro de porco frito), buré
quirera com costeletas de porco.
OS DOCES CAIPIRAS
A nossa doçaria é descendente direta da portuguesa, que , se abrasileirou,
aproveitando as frutas tropicais.
No interior paulista ainda há cidades onde são encontrados os doces
tradicionais. São Luiz de Paraitinga, Tietê e Tatuí são algumas delas.
Por ocasião das festas populares os tabuleiros e as cestas saem às ruas,
levando as delícias da arte culinária caipira.
Os nomes trazem um pouco do passado: brevidade ou apressado, biscoito
de polvilho, mata-fome, talhada, doce de abóbora, arroz-doce, cidra, coruja,
pamonha, curau, bolo de milho cru, pé-de-moleque, bolo de fubá, furrundum,
sequilhos, bolinho de polvilho.
Dá até água na boca...
Instrumentos musicais
RABECA
A rabeca é um cordofônio (instrumento de cordas vibradas por fricção). É
uma espécie de violino rústico de quatro cordas: lá, ré, sol, sendo uma dupla,
afinada uma oitava acima.
É tocada por um arco feito de crina de animal.
O corpo da rabeca é construído de cedro, sendo a caixa sonora escavada e o
tampo pregado com pregos de madeira dura, preta (brejaúva) e cola vegetal.
O RABEQUISTA
Toca o seu instrumento apoiando-o no peito, sendo a maneira de
empunhá-lo um traço que tem varado séculos, desde a época medieval.
Embora de som fanhoso e tristonho, nas folias do Divino Espírito Santo é
uma nota característica de beleza e ternura, acompanhando o cantochão
acaipirado, cantado pelos foliões pedintes.
AS FESTAS
A rabeca é a irmã gêmea da viola nas festas tradicionais: Divino,
Moçambique, Congadas, Fandangos, Dança de São Gonçalo, Folia de Reis.
É mais encontrada na zona de beira-mar do que serra - acima.
"Aqui chegaram os Reis
cantando com rebeca e viola
pedindo para os moradores
uma prenda de esmolas."
-- Página 82
Artesanato
SANTOS DE BARRO
Quando se aproximam as festas de Natal, nas cidades tradicionais do Vale
do Paraíba do Sul, em São Paulo, é costume aparecer no mercado ou nas
feiras as barristas, com as figuras de barro cozido ou não.
Numa banca ou numa calçada expõem uma infinidade de figuras, com as
quais os devotos podem armar o presépio.
Infelizmente o presépio vem sendo aos poucos substituído pela árvore de
Natal, tradição que não nos pertence, mas que penetrou nas nossas casas
através do cinema e da televisão.
O PRESÉPIO CAIPIRA
Consta, geralmente, de 21 figuras: três Reis Magos a cavalo, Jesus deitado
num berço tosco, Maria, José, Anjo da Glória, Anjo da Guarda, três pastores,
uma vaca, um jumento, carneirinho branco, gambá, galo, burro, cabrito,
caçador com um cão, e uma camponesa ou pastorinha.
Nas casas mais pobres não armam o presépio, mas a Lapinha. Numa
pequena tábua retangular, nas quatro extremidades, colocam varetas de fio de
arame e as prendem recurvadas em cima, formando uma abóbada. Revestem
as hastes com papel de seda e flores naturais. Dentro colocam o Menino
Jesus.
Acordai quem está dormindo
levantai quem está acordado
venha ver Deus Menino
na sua porta parado.
Os Três Magos do Oriente
foram visitar Jesus
trouxeram por sua guia
a brilhante estrela-luz.
O galo canta
nasceu Jesus,
O mundo inteiro
encheu-se de luz.
-- Página 83
Folguedos
O CORDÃO DOS BICHOS
Antigamente no Brasil existia o entrudo. O entrudo era um divertimento
violento, em que as pessoas jogavam umas nas outras farinha de trigo, água.
Uma verdadeira batalha, alegre, nas ruas.
Mais tarde fizeram as laranjinhas de cheiro (feitas de cera e água perfumada)
para atirar nas pessoas. O entrudo evoluiu transformando-se no carnaval.
CARNAVAL - ALEGRIA DO POVO
Alegria do povo durante três dias e três noites. Os brasileiros tornam-se reis
e rainhas.
Nas ruas desfilam os sonhos, aspirações do ano inteiro. Escolas de samba,
cordões, ranchos, mascarados.
O CORDÃO DOS BICHOS
Em Tatuí (Estado de São Paulo) é famoso o cordão-de-bichos, com mais de
trinta espécimes da nossa fauna (sapo, tatu, borboleta), além de animais
estrangeiros, leão, girafa, urso, elefante.
-- Página 84
Usos e costumes
FESTAS JUNINAS
No inverno, em todo o Brasil, são realizadas as festas de Santa Cruz (3 de
maio) e as juninas: Santo Antônio ( 13 de junho), São João (24 de junho) e
São Pedro (29 de junho).
A FESTA DE SÃO JOÃO
A festa de São João é profundamente humana e revive rituais do fogo, no
culto a um santo da Igreja católica: São João Batista - o precursor de Cristo.
A festa de São João é realizada na véspera do seu dia. São João é
representado como um menino de cabelos encaracolados.
É uma festa presente em todas as áreas culturais brasileiras, girando sempre
em torno do fogo.
Na festa tiram sortes, prevendo o futuro, os casamentos, as viagens.
Come-se muito, durante toda a noite. Comidas assadas nas fogueiras...
Dançam quadrilha, fazem "casamentos da roça". Bebem cachaça, quentão.
A FOGUEIRA
É geralmente acesa pelo dono da festa, o dono da casa, logo que o sol se
põe. Soltam os balões, que sobem levando recados, pedidos para o santo. Se
o balão subir serão atendidos...
-- Página 85
Os foguetes espocam pelos quatro cantos da cidade.
As "festas caipiras" surgem por toda parte, no campo e na cidade. Sem saber
comemoramos a passagem do ano cósmico - com a fartura de alimentos que
nascem da terra - o milho verde que cresceu nas roças, nos cercados...
SANTO ANTÔNIO - SANTO ANTONINHO
Pelo Brasil afora as festas de Santo Antônio estão quase extintas. Mas a
devoção a Santo Antônio é muito grande. É invocado para achar casamentos
e coisas perdidas..:
Santo Antônio já chegou a receber soldo de coronel do Exército nacional,
até o princípio da República...
Floriano Peixoto deu baixa a Santo Antônio.
Sempre foi tratado com muito carinho, mas recebe estranhos castigos,
quando os pedidos não são atendidos. Por exemplo: colocam Santo Antônio
de cabeça para baixo dentro de um poço até que a graça
seja alcançada...
Meu querido Santo Antônio feito de nó de pinho com vós arranjo o que
quero porque eu peço com jeitinho...
São João adormeceu
no colo de sua tia.
Se meu São João Soubesse
quando é o seu dia
descia do céu na terra
incendiando alegria.
São João de onde veio
que veio todo orvalhado
veio do rio do Jordão
veio daquele rio sagrado.
Meu São João Batista,
filho de Santa Isabel,
Batizou a Jesus Cristo
por nome de Emanuel
-- Página 86
Festas
A FOLIA DO DIVINO
Estudiosos portugueses informam que a Festa do Divino Espírito Santo é de
origem alemã. Outros afirmam ter sido introduzida em Alemquer, Portugal,
pela rainha Isabel, esposa de D. Dinis, o lavrador-rei.
O IMPÉRIO DO DIVINO
O Brasil, nos fins do século 18, era colônia, mas de há muito existia, nas
vilas e freguesias, um Império...o do Divino. Erigido por ocasião das festas
que lembram a descida do Espírito Santo.
As cidades brasileiras geralmente nasceram ao redor da igreja. Pertencia à
paróquia a coroa de prata, anualmente sorteada para coroar o imperador do
Divino, o festeiro, a pessoa que tomaria o encargo da realização da festa.
A FESTA
É uma festa de consumo após a colheita. Uma festa em que não é a
esperança que domina (como na de São João), mas sim o agradecimento. Daí
o aparecimento dos grandes, tradicionais e populares divertimentos, nesta
ocasião: Cavalhadas, Touradas, Moçambique, Congada, Caipó, Batuque,
Jongo, Cateretê, de acordo com as regiões.
Como a festa é do povo, o festeiro contrata um grupo de cantadores - os
foliões do Divino - para percorrerem o município todo, pedindo prendas e
óbolos para a festa.
A BANDEIRA SANTA
Como símbolo carregam a bandeira vermelha, onde está a figura do
Divino - uma pomba.
A bandeira é tratada com o máximo respeito, sendo-lhe atribuídos dons
especiais: medicinais e preventivos. Quando a folia do Divino visita uma casa,
os foliões permitem que os doentes passem a bandeira em suas camas.
Passam na cabeça das crianças para criar juízo.
Ou não perdê-lo.
Meu senhor dono da casa
Deus veio lhe visitar
salve a sua saúde
e a família como está ?
O Divino também pede
um lugar no seu altar
que esta pomba verdadeira
está cansada de voar.
A todos desta boa casa
veio o Divino visitar
e pra sua grande festa
uma esmola vem tirar.
O Divino lhe agradece
a sua bonita esmola
mais bonita há de ser
a sua chegada na glória.
Agradecemos sua esmola
dada de bom coração
o Divino concederá
a todos salvação.
-- Faltam as páginas 87 e 88
-- Página 89
A SEGUNDA INVASÃO
Em 1710 os franceses voltaram a cobiçar as terras.
Duclerc e Duguay-Trouin foram derrotados.
Aos poucos a região foi sendo povoada. Desenvolveu-se e enriqueceu.
Em 1763 Salvador perdia o posto de capital. A posição passou a ser
ocupada pelo Rio de Janeiro.
Durante dois séculos a cidade foi palco dos grandes acontecimentos do país.
A ALEGRIA DO POVO
Quem é o carioca?
É o brasileiro sem limitações e sem preconceitos. Conversador, alegre e
acessível. O brasileiro bem-humorado, que gosta da boa vida.
O criador de uma linguagem e de uma gíria usadas em todo o país.
O ESTADO DO RIO
Do outro lado da imensa baía da Guanabara está Niterói.
A capital do Estado do Rio de Janeiro. A antiga aldeia de São Lourenço,
comandada por Araribóia. O índio que ajudou Estácio de Sá e Mem de Sá a
expulsar os franceses.
Estado de montanhas altas: Agulhas Negras e Itatiaia. Das várzeas férteis
onde se produz a cana-de-açúcar. Das salinas de Cabo Frio.
CIDADE MARAVILHOSA
Rio de Janeiro, Estado da Guanabara.
Cidade da enorme baía, cercada por morros. Corcovado, Gávea, Dois
Irmãos. E também da Serra dos Órgãos, com suas escarpas de pedra.
Terra abençoada pela natureza, dona de praias sem fim.
A CIDADE DOS CONTRASTES
O Rio é a cidade dos bairros ricos e das favelas do morro. Das morenas
queimadas de sol e dos meninos pobres. Eles vão pela rua, carregando a caixa
de engraxate.
"Vai graxa, doutor?"
Tudo na cidade inspira poetas e compositores. Desde a mulata até as casas
do morro.
Lata d'água na cabeça,
lá vai Maria,
lá vai Maria,
sobe o morro e não se cansa....
-- Página 90
As festas
FOLIAS DE REIS
São João Crisóstomo e São Jerônimo lutaram muito no início do
cristianismo. Eles queriam que os fiéis deixassem de misturar as festas da
Natividade com as festas da Epifania.
Os brasileiros do Centro-Sul do país continuam a comemorar as duas
festividades numa só. As Folias de Reis.
A FESTA DO NATAL
Desde os primeiros tempos do cristianismo comemorou-se o nascimento de
Jesus. Os festejos fora regulamentados no ano 138 pelo papa São Telesforo, o
nono sucessor de São Pedro.
A festa não tinha data fixa. Ora em janeiro, ora em abril.
Foi o papa Júlio I, em 376, que fixou a da de dezembro.
A ADORAÇÃO DOS REIS MAGOS
A Epifania é uma festa coletiva de vários fatos da vida de Jesus. Também
não tinha data fixa.
Na Roma pagã, o dia 6 de janeiro era dedicado à celebração do tríplice
triunfo de Augusto César, o pacificador do império.
Por isso, não é de se estranhar que a Igreja tenha escolhido esse dia para
comemorar uma festa religiosa.
A festa que celebra a manifestação da divindade de Cristo. O dia da
Adoração dos Reis.
-- Página 91
A LOUVAÇÃO DO DEUS-MEMNO
A festa começa na noite de 24 de dezembro e vai até 6 de janeiro ou 2 de
fevereiro.
Os grupos saem cantando e louvando o nascimento do Deus-Menino.
Também pedem esmolas. Os foliões de Reis imitam os Reis Magos, que
viajavam guiados pela estrela de Belém.
As folias que percorrem as cidades são chamadas de Folias de Reis de
Música. Quando percorrem a zona rural, são as Folias de Reis de Caixa.
FOLIAS DE REIS DE MÚSICA
O canto começa depois das 22 horas. Só termina às quatro ou cinco horas da
manhã.
O grupo pode sair todas as noites, do Natal até a noite de Reis.
Mas se por algum motivo os foliões não puderem sair, as festas serão feitas
todos os sábados à noite e nas vésperas de dias santos. Mas só até 2 de
fevereiro, dia de Nossa Senhora das Candeias. Nesse dia os presépios devem
ser desarmados.
FOLIAS DE REIS DE CAIXA
É comum na região Sul. Nos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo.
Compõe-se de dois tocadores de viola, um tocador de caixa, outro de adufe
(pandeiro quadrado).
O chefe da folia é o Alferes, que conduz a lapinha e recebe as esmolas.
Em alguns grupos aparecem os mascarados. Palhaço, Pai Juão, Catirina,
Mocorongo e Bastião. Eles são chamados de espias do rei Herodes.
OS FOLIÕES SÃO BEM RECEBIDOS
As folias percorrem as casas da cidade ou os sítios e casas do campo. Onde
os foliões entram são bem recebidos.
Segundo a tradição, quem acolhe os reis visitantes é abençoado.
Normalmente as pessoas da casa são acordadas com cantos e oferecem
comidas e bebidas ao grupo.
Acordai, se estais dormindo,
levantai se estais acordado,
venha vê os treis reis
na sua porta está chegando.
-- Página 92
Habitação
A FAVELA
A favela é um fenômeno da cidade grande.
Qualquer lugar serve para a construção do barraco. Encostas de morro,
terrenos baldios, alagados, margens de riachos.
Os barracos já nascem velhos. São feitos com sobras de qualquer material.
Tudo serve para a construção. Zinco, latas, papelão, tábuas e caixotes.
A FAVELA NA MÚSICA POPULAR
As favelas cariocas são tradicionais. Algumas têm mais de cem anos.
O barracão ficou famoso na música popular. Com Orestes Barbosa e o
"Chão de Estrelas".
A porta do barraco era sem trinco
mas a lua jurando nosso zinco
salpicava de estrelas nosso chão...
Ou com "Barracão" de Luís Antônio e Oldemar Magalhães:
Vai, barracão,
pendurado no morro,
Me pedindo socorro,
A cidade, a teus pés,
Barracão de zinco...
-- Página 93
O trabalho
A USINA SIDERÚRGICA
Desde o início do século 17 pensava-se em instalar uma siderurgia no Brasil,
projeto de Afonso Sardinha.
O barão de Mauá sonhava com a siderurgia. E Pandiá Calógeras, nos
primeiros anos da República, localizou o ponto ideal para a instalação da
usina.
A ESCOLHA DO LOCAL
Foi só em 1930 que se começou a fazer algo de concreto. Getúlio Vargas fez
da siderurgia programa de seu governo.
Em 1941 a promessa começa a ser cumprida. Os trabalhos têm início no
sítio Santa Cecília, em terras fluminenses. Numa volta do rio Paraíba do Sul,
Volta Redonda. Coincidiu com o projeto de Calógeras.
A MAIOR USINA DA AMÉRICA DO SUL
Em 1946 instalava-se a Usina Siderúrgica de Volta Redonda. Hoje Usina
Presidente Vargas, da Companhia Siderúrgica Nacional.
Com mais de 50% da produção nacional da indústria metalúrgica,
transformou-se na maior usina siderúrgica da América do Sul.
Da pequena produção de aço em lingotes passou-se para a produção em
toneladas.
O DESENVOLVIMENTO DA SIDERURGIA
Em todas as áreas industriais passou-se a usar o aço nacional. Nas ferrovias
e estaleiros. Na indústria automobilística e na construção civil. Na indústria
pesada.
Volta Redonda foi, realmente, o ponto ideal para a usina. Em meio caminho
aos maiores consumidores de aço do Brasil.
Cidade tranqüila que se agigantou. São mais de 120 mil pessoas que se
movimentam para conseguir uma produção sempre maior.
-- Figura de uma Porta-estandarte
-- Página 95
Recreação
O CARNAVAL E AS E ESCOLAS DE SAMBA
Foi a partir da guerra do Paraguai que se introduziu no Brasil o atual
Carnaval.
Antigamente era o entrudo. Festa de origem européia.
A água, a farinha de trigo e o polvilho faziam a alegria de todos. Fazendeiros
e peões, brancos e negros.
O PRIMEIRO BAILE DE SALÃO
Com o tempo o entrudo foi proibido em algumas cidades. Pretendia-se
transformar a festa numa comemoração de elite.
No ano de 1840 o Rio de Janeiro assistia ao primeiro baile de salão.
O ZÉ PEREIRA
O Zé Pereira surgiu em 1846. Um grupo de foliões de rua, com bumbos e
tambores. Fazendo grande barulho depois das 22 horas de sábado.
Depois surgiram os cordões. Começaram a se organizar e a desfilar pelas
ruas do Rio.
Cordões de rapazes, só de moças ou de homens e mulheres.
A influência negra era visível. Negros fantasiados de índios tocando
instrumentos primitivos.
O CORSO
O corso ficou famoso em todo o Brasil.
Um enorme desfile de carros, alguns com a capota de lona abaixada. Foliões
com serpentinas e confetes, cantando e dançando.
O corso carioca percorria uma extensão de mais de dez quilômetros. Hoje
desapareceu.
-- Página 96
AS PRIMEIRAS ESCOLAS
A maior festa do Carnaval carioca: as escolas de samba. Descem o morro,
cantam e dançam nas ruas. Os sambas-enredo falam de personagens e
acontecimentos da nossa história.
A primeira escola surgiu no bairro do Estácio, em 1928. Compositores,
instrumentistas e dançarinos se uniam para desfilar.
As mulheres saíam vestidas de baianas. Os homens com roupas coloridas,
camisas listradas e chapéus de palha.
Só em 1952 as escolas começaram a se organizar.
Sociedades civis com sede e regulamento.
O SAMBA PEDE PASSAGEM
O desfile começa com o abre-alas. Uma tabuleta ou faixa que "saúda o povo
e pede passagem".
Depois vem a diretoria da escola. Todos com roupas iguais.
-- Página 97
As mulheres, as pastoras, fazem evoluções. Na academia estão o coro
masculino e a bateria de instrumentos de percussão.
Entre as pastoras e os acadêmicos desfilam o baliza e o porta-estandarte.
O resto da escola divide-se em pequenos grupos, as alas.
AS ESCOLAS MAIS FAMOSAS
São divididas em categorias.
As da primeira categoria desfilam na avenida Presidente Vargas. As da
segunda, na avenida Rio Branco e as da terceira, na praça Onze. (Atualmente
existe o Sambódromo para todas as categorias - Nota do digitador).
As mais conhecidas são: Estação Primeira (Mangueira), Portela, Império
Serrano, Acadêmicos do Salgueiro, Unidos de Lucas, Imperatriz
Leopoldinense, Unidos de Vila Isabel, Mocidade Independente de Padre
Miguel e Unidos de Padre Miguel.
-- Página 98
Recreação
DANÇA DE VELHOS
A Dança dos Velhos aparece durante as festas do Divino Espírito Santo.
Ainda existe no litoral fluminense, em Parati e Angra dos Reis. E também
nas cidades paulistas de Cunha e São Luís do Paraitinga.
AS VESTIMENTAS ENGRAÇADAS
Antigamente era uma dança de salões, feita para divertir os "barões do café".
Hoje também é feita para divertimento do povo das cidades.
Os participantes vestem-se com roupas velhas, fraques e cartolas antigos.
Um bastão faz as vezes de bengala. Os foliões usam cabeleiras postiças,
brancas e empoadas.
Os sapatos são desparceirados. Os homens fantasiam-se de mulher. Usam
batas e saias compridas.
AO SOM DE VALSAS E MARCHINHAS
Os "velhos" arrastam os pés ao som de valsinhas ou marchinhas. A música é
tocada por concertinas ou sanfonas.
O grupo se exibe pelas ruas da cidade, provocando o riso dos assistentes.
Comportam-se como verdadeiros velhos. Às vezes demonstram sua
mocidade, dançando sem parar.
-- Página 99
Recreação
COROAÇÃO DO IMPERADOR
No dia 20 de agosto de 1822, na cidade do Rio de Janeiro, reuniram-se os
maçons do Grande Oriente do Brasil.
Ficou resolvida a emancipação do país. E Dom Pedro de Alcântara recebeu
o título de imperador, e não de rei, porque o imperador era personagem
conhecido nas comunidades brasileiras.
As festas do Divino Espírito Santo, introduzidas pelos portugueses,
apresentam a Coroação do Imperador do Divino.
A CIDADE SE REÚNE
O imperador é aquele que tem o encargo de promover a festa. Festa que
desperta a cooperação de toda a população da cidade. É o pagamento de um
voto coletivo.
Algumas cidades ainda realizam a Coroação do Imperador. Em Parati
normalmente o papel cabe a um menino. A escolha é feita por sorteio.
-- Página 100
Esportes
A PERNADA CARIOCA
A pernada carioca teve origem na capoeira.
É uma verdadeira ginástica. Sua prática exige grande coordenação motora e
senso musical.
Os movimentos dos executantes devem estar perfeitamente sincronizados
com o ritmo.
AS ORIGENS NOBRES
O Rio de Janeiro foi palco de muita pernada.
Foi a cidade onde viveram o Príncipe da Beira e Grão-Prior do Crato com
seu fiel secretário. O Príncipe era Dom Pedro de Alcântara, o Pedro I. O
secretário, Francisco Gomes da Silva - o Chalaça.
Os dois eram excelentes capoeiristas. Assim, embora aprendido com
escravos, o esporte teve origens reais.
A EVOLUÇÃO DA PERNADA
No Rio de Janeiro existia a maior concentração de mulatos do país. A cidade
era a "capital" da pernada. Com muita arte o carioca transformou a antiga
cara na pernada. Com muito ritmo, coreografia, canto e senso de equilíbrio.
O USO DO CORPO
A pernada carioca é uma "brincadeira". De atacar e defender.
Só se usam o corpo e os membros. Os movimentos são quase iguais aos de
uma luta. Meneios de corpo, gingados, rasteiras, golpes e contragolpes.
A ELASTICIDADE DO MULATO
O mulato é mais flexível que o negro. E mais audacioso que o branco. Uma
figura elástica, que transformou a pernada numa arte.
Foi uma das maneiras que ele encontrou para se projetar socialmente.
-- Página 101
Danças
O JONGO AFRICANO
O jongo é uma dança africana. Dela participam homens e mulheres.
O canto também tem papel importante. A música serve para facilitar e
coordenar os movimentos.
Os instrumentos usados são os de percussão. Tambu, candongueiro,
biritador (atabaques de couro). E angóia (uma espécie de chocalho).
A PRESENÇA DA CULTURA NEGRA
O jongo sobrevive em poucos lugares do Brasil. Apenas onde houve maior
concentração de população negra escrava. Negros vindos de Angola (África).
É uma das mais ricas heranças da cultura negra presente em nosso folclore.
A DANÇA NOS VÁRIOS ESTADOS
O jongo formou-se nas terras por onde andou o café.
Surgiu na Baixada Fluminense, subiu a Mantiqueira. Persiste na zona do
Paraíba do Sul, Paraibuna e Paraitinga.
Entrou pela Zona da Mata mineira. Lá é conhecido por "caxambu". Esse
nome é dado também ao principal instrumento, um atabaque grande.
É uma dança que aparece em outros Estados brasileiros. Como em Goiás e
Espírito Santo. Mas com outras danças e cerimônias.
OS CASAIS SE APRESENTAM
O dançador fica em frente a sua dama. Ela segura a saia delicadamente, sem
sair do lugar.
Com meneios e requebros a mulher acompanha os galanteios do cavalheiro.
Outros casais se aproximam, dançando. O primeiro par se afasta balançando
o corpo, sem dar umbigadas como no batuque paulista.
-- Página 102
Devoção
A FESTA DE IEMANJÁ
As religiões têm seus ritos. Cerimônias que estabelecem costumes.
São ações mais ou menos uniformes e disciplinadas.
Os cantos, as músicas e as danças ajudam a fixação e repetição dos ritos.
A FESTA DA PASSAGEM DO ANO
Iemanjá é a mais prestigiada entidade feminina do Candomblé, Umbanda e
Macumba.
O culto a Iemanjá é um dos ritos que estão tomando conta do povo carioca.
A festa se repete todos os anos, na noite de 31 de dezembro para primeiro
de janeiro.
A ENTREGA DOS PRESENTES
Quando a noite vem chegando, milhares de fiéis dirigem-se para a praia.
Esperam a chegada do ano. E todos festejam a Rainha do Mar, protetora das
viagens marítimas e mãe de todos os orixás.
As pessoas levam presentes para o mar. Flores, comidas e bebidas.
Principalmente flores azuis e brancas.
-- Página 103
CAPÍTULO VII - ESPÍRITO SANTO E MINAS GERAIS
O Estado de Minas Cerais é um dos mais tradicionais do país. Possui
cidades históricas como Ouro Preto, tombada pelo Patrimônio Histórico
Nacional. Nas igrejas barrocas encontramos as extraordinárias esculturas do
Aleijadinho. Belo Horizonte, capital do Estado é uma cidade planejada, e um
importante centro industrial. O Estado de Minas possui uma área de 582.586
km2 e 9.960.040 habitantes (dados antigos). Os mineiros têm um rebanho
bovino de mais dc 20 milhões de cabeças e 10 milhões de suinos.
É o primeiro produtor de leite do Braail. Possui culturas importantes: milho,
café, feijão, mandioca. Indústrias têxteis, alimentícias e metalúrgicas. As
reservas minerais são importantíssimas: minério de ferro, manganês, bauxita.
Neste capítulo um pouco das histórias, costumes e lendas do povo mineiro.
O Estado de Espírito Santo é pouco industrializado. Cultiva banana,
mandioca, café e cacau. Tem rebanho considerável de gado de corte e de
leite. Os capixabas, 1.617.857 (dados antigos) habitantes, vivem numa área
de 45.598 km2. Vitória, capital do Estado exporta, através do porto da ponta
do Tubarão: café, minério de ferro, madeira, cacau. As praias de Guarapari
são famosas pelas areias monazíticas. Neste capítulo um pouco das histórias,
costumes e lendas capixabas.
-- Página 104
O homem
OS MINEIROS E OS CAPIXABAS
Quando se tentou o povoamento do Brasil, por meio de capitanias
hereditárias, coube, em 1534, a do Espírito Santo a Vasco Fernandes
Coutinho.
Eram 50 léguas de costa, do rio Mucuri (Sul da Bahia) até o rio Itapemirim.
Em 1535, Vasco Fernandes Coutinho desembarcou com 60 companheiros e
fundou, na Baía de Santa Luzia, um acampamento fortificado ao qual deu o
nome de Espírito Santo.
Edificou quatro engenhos de cana-de-açúcar, mais tarde destruídos pelos
índios. Por esse motivo fundou Vitória, na ilha de Santo Antonio, em 1540.
Por volta de 1552, moradores de Vitória deslocaram-se para o Norte e
fundaram São Mateus, no rio Cricaré. Penetraram também pelo interior,
beirando o rio Jequitinhonha, rio das Velhas, até as margens do São
Francisco.
AS MINAS GERAIS
No litoral buscavam o pau-brasil (ibirapitanga) que despertou a cobiça dos
franceses e de outros povos.
No interior buscavam as minas, os tesouros. Braz Cubas e Luiz Martins, em
1560, começaram a penetrar em Minas Gerais, pelo rio Paraíba, transpondo a
Mantiqueira.
Em 1576, Vasco Fernandes Coutinho parte de Vitória, percorre o rio
Manhuaçu até o rio Doce. E Antonio Dias Adorno teria alcançado a lendária
lagoa do Vapabuçu e a serra das Esmeraldas.
OS BANDEIRANTES PAULISTAS
De São Paulo partem as bandeiras à procura de metais e pedras preciosas.
Fernão Dias Paes estabelece o primeiro arraial em Ibituruna: "o mais antigo
lar da pátria mineira".
Os bandeirantes por onde passavam deixavam roças e arraiais que se
transformaram, mais tarde, em cidades.
-- Página 105
Em 1675 estabeleceram os primeiros povoados em Minas Gerais.
Este povoamento é diferente do povoamento pastoril.
Os mineradores de ouro e diamantes vão para os lugares mais distantes,
havendo entre um povoado e outro um grande espaço vazio.
Com a descoberta do ouro em abundância os arraiais se tornaram mais
estáveis. Transformaram-se em cidades, geralmente em torno de uma capela.
Nos pousos dos tropeiros, que tangiam a tropa arriada pelo interior,
surgiram também novas cidades.
AS CIDADES MINEIRAS
O povoamento foi .maior na região centro-Sudeste de Minas. Surgiram as
atuais cidades Mariana, Ouro Preto, Sabará, São João del Rey, Pitangui,
Tiradentes.
No princípio transportavam o ouro em pó em canudos de taquara. Mais
tarde este transporte foi proibido. Surgiram as Casas de Fundição para reduzir
o ouro em barras.
As lutas entre brasileiros e portugueses, pelo controle do país e do ouro,
atingiram o seu ponto máximo com a Inconfidência Mineira. Lutando pela
liberdade, igualdade e fraternidade, morreu Tiradentes a 21 de abril de 1792,
enforcado.
OS NOMES
A economia da região decorria do ouro e do diamante. Surgiram outras
atividades ao lado destas.
Fabricação de farinha de mandioca. Plantação de milho, cana-de-açúcar.
Criação de gado.
As cidades foram recebendo os nomes de acordo com a principal atividade
que nelas era desenvolvida: Ouro Preto, Diamantina, Curral del Rey (hoje
Belo Horizonte).
AS ARTES E OS ARTISTAS
Em Minas Gerais surgiram grandes artistas, poetas da Inconfidência, da
Escola Mineira: Claudio Manuel da Costa, Tomaz Antonio Gonzaga. Músicos
barrocos como: José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, Marcos Coelho
Neto, Inácio Parreira Neves, Francisco Gomes da Rocha.
E Antonio Francisco Lisboa, o famoso Aleijadinho, fixou em esculturas na
pedra-sabão e na madeira, figuras do mundo bíblico. Este extraordinário
escultor e arquiteto criou obras barrocas de fama internacional.
MONTES CLAROS
Em Montes Claros há o encontro de dois Brasis: o Brasil Nordeste e o Brasil
Sul. Nos trajes do vaqueiro desta região se fundem as características das duas
regiões brasileiras.
Montes Claros é um pouco da Bahia e um pouco de Minas. E muito Brasil.
-- Página 106
O trabalho
O MINERADOR
Hoje o minério é uma das grandes fontes de riqueza do Estado de Minas
Gerais.
O minerador não é o garimpeiro do centro-Oeste, transformador da
paisagem, a partir da erosão que provoca para retirar o cascalho, nos
garimpos e faiscamentos.
O minerador é o empregado das grandes firmas exploradoras do solo e sub-
solo.
É o trabalhador das jazidas de matéria-prima, como o manganês, minério de
ferro (com 70 por cento de teor metálico) e os minerais atômicos.
Além do aproveitamento do minério de ferro nos altos fornos de Minas
Gerais, Volta Redonda e Rio de Janeiro, ele também é exportado.
Em Vitória do Espírito Santo há o notável cais do Tubarão. Moderno porto,
recentemente inaugurado, que é um dos canais de exportação do Brasil.
-- Página 107
O trabalho
O RETIREIRO DE LEITE
Mineiro do bem querer
da terra do leite grosso
que planta milho em caroço
pras formiguinhas comer.
Os grandes vazios entre as cidades mineiras foram sendo conquistados pela
pecuária.
Surgiram as imensas fazendas onde fazem o aproveitamento imediato do
leite, na produção de queijos e manteiga. Os mineiros se especializaram na
industrialização do leite, produzindo os mais saborosos queijos (queijos de
Minas), manteiga e doce de leite.
A POLÍTICA DO CAFÉ-COM-LEITE
Na política, no fim do Império e começo da República, os mineiros,
senhores de fazendas, tomaram uma parte importante na administração
pública.
Quando os fazendeiros paulistas do café dominaram a política, aliados aos
mineiros, surgiu a chamada política do café-com-leite.
AS FAZENDAS DE LEITE
As grandes fazendas de criar gado leiteiro, a seleção do gado, o cuidado
científico deram a uma cidade de Minas o título de "A capital do Zebu".
Nas fazendas, hoje, a ordenha (recolhimento do leite) é feita por meios
mecânicos.
Entretanto, nos sítios, nos retiros de leite, ainda se pode ver o tradicional
retireiro de leite, com o banquinho ajustado para ordenhar a vaca,
manualmente.
-- Página 108
Bailado
CAIAPÓ
Caiapó é um bailado de influência indígena.
Aparece em diversos Estados do Brasil, com variações: São Paulo, Estado
do Rio, de Minas.
A TRIBO CAIAPÓ
Os índios caiapó pertencem à família lingüística jê.
Em São Paulo viveram os Caiapó do Sul, que foram duramente combatidos
pelos bandeirantes, e se deslocaram para o interior do país.
O TEMA DO BAILADO
O tema do bailado se desenvolve em torno do fato de ter sido o Curumim
(menino índio) atacado por um homem branco. Todos os companheiros ficam
em torno dele. Morre o curumim. Em desespero a tribo suplica ao pajé, para
ressuscitá-lo com as suas artes mágicas. O ritual se processa por meio de
baforadas de fumo e exuberante mímica.
Uma vez ressuscitado a dança continua, agora em outra praça. O mesmo
drama é repetido. Um drama sem palavras, sem música, apenas com o rítmo
para acompanhar os passos.
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OS PARTICIPANTES
Participam do Bailado do Caiapó dez ou doze elementos: cuxumim, cacique
ou pajé e os demais dançadores. Em algumas cidades apresenta-se mais um
participante - o porta-bandeira ou estandarte.
AS ROUPAS
Usam roupas imitando índios: sobre o calção colocam um saiote de penas,
usam cocar de penas coloridas, busto nu e pintado.
Alguns amarram penas nas pernas, como uma jarreteira. Quando não pintam
o rosto usam máscaras, com grandes penachos pintados de cores estranhas.
-- Página 110
Imperador Carlos Magno
previna o seu batalhão
o general está disposto
a tomar conta desta nação.
Dá licença general
aqui vim lhe conhecer
o rei do Congo manda esta carta
faz favor de receber
O Imperador Carlos Magno
um homem de estudo e de
grande pensar
Vocês adoram o vosso rei
nós temos o nosso pra adorar
e volte atrás secretário
com essa vossa valentia
não venha com atrevimento
atrapalhar as minhas cantorias.
Folguedo
A CAVALHADA
Na Idade Média a aristocracia exibia em combates individuais (a justa) e em
combates coletivos (o torneio) a sua perícia, destreza e valentia.
Estas atividades desportivas dos nobres a cavalo, reviviam os combates dos
gladiadores nos circos romanos. E tinham uma finalidade - a preparação para
a cavalaria.
A cavalaria, segundo a tradição, é uma instituição lendária criada pelo Rei
Artur da Bretanha, fundador da Távola Redonda, com os seus cavaleiros...
Ou quem sabe a cavalaria surgiu com Carlos Magno e os legendários Doze
Pares de França?
Estes personagens célebres estão presentes na Cavalhada Brasileira. Mouros
e Cristãos lutam. O Rei Carlos Magno e os mouros reaparecem na linguagem
simples e poética do nosso povo.
A CAVALHADA BRASILEIRA
No passado constituía uma grande festa da qual participavam os grandes
senhores da terra, os fazendeiros que podiam apresentar os animais ricamente
"vestidos". Era uma festa de sedas e veludos.
Poucas cidades brasileiras conservam a Cavalhada com o mesmo esplendor
de antigamente, entre elas Montes Claros (Minas Gerais).
-- Página 111
TEATRO RELIGIOSO
Nas nossas Cavalhadas, introduzidas, no tempo do Brasil-Colônia, a figura
central é Carlos Magno, o rei cristão.
A Cavalhada é um tema religioso. Teatro de rua, de praça pública. A
finalidade é transmitir uma lição cristã, o BEM vence o MAL.
Há dois partidos: cristãos e mouros.
Os cristãos vestem-se de azul, representando o Bem, o Céu.
Os mouros vestem-se de vermelho, representando o Mal, o Inferno.
Nas Congadas encontramos a mesma luta de cristãos e mouros. Do Bem e
do Mal.
A HORA DA BRINCADEIRA
Na Cavalhada praticada no Brasil existem a arte religiosa e a "brincadeira".
Na "brincadeira" estão os jogos atléticos, onde demonstram a perícia dos
cavaleiros.
O jogo da Argolinha é muito apreciado. O cavaleiro deverá, numa grande
corrida, tirar com uma lança a argolinha de ouro que está presa numa trave,
por um fio. A argolinha é a ,pronda que se oferece à namorada, noiva ou
esposa. O participante é sempre bom cavaleiro e cavalheiro...
A parte religiosa ou dramática, cheia de ostentação, representa uma luta
entre cristãos e mouros, sendo estes infiéis batizados pelo.rei cristão, Carlos
Magno, mais uma vez celebrado como cristianizador.
Ó meu nobre secretário
meu soldado desempenhado
vinde logo depressa
atender ao meu chamado
Pronto imperador
vim atender ao seu chamado
sou eu mesmo o secretário
um soldado desempenhado
-- Página 112
Dança dramática
TICUMBI
O Ticumbi é uma versão capixaba da Congada.
Só é encontrada no Estado do Espírito Santo. É uma dança dramática-
guerreira.
É praticada por negros que se vestem de branco. Usam japonas ou batas
longas enfeitadas de fitas muito coloridas.
Amarram na cabeça um lenço que lhes dá um "ar de mouro". Sobre o lenço
usam flores de diversas cores. Alguns colocam sobre o lenço um chapéu de
palha todo enfeitado de fitas e flores.
OS REIS E AS CORTES
Os dois reis se distinguem graças às coroas de papelão pintado de dourado.
Capa longa de damasco ou cetim lamê cintilante. Uma faixa "presidencial"
que vai do ombro esquerdo até a cintura oposta.
Na cintura uma espada do "tempo do Império".
Os reis são servidos por pagens ou secretários cada qual com a capa da cor
do seu reinado.
As duas cores escolhidas pelos reis para a sua corte variam. O vermelho
quase sempre está presente numa das cortes. É uma cor forte, de grande
efeito nos mantos reais.
Rei Congo e Rei Bamba são as figuras principais do Ticumbi.
A FESTA DE SÃO BENEDITO
No Ticumbi dois reis negros lutam para ter o privilégio de realizar sozinho a
festa de São Benedito, padroeiro dos negros do Brasil. O Rei Bamba é
vencido pelo Rei Congo e por este é batizado, com toda a sua corte. Então
todos dançam e cantam o Ticumbi.
O Ticumbi tem um intuito nitidamente visível - conversão e batismo dos
pagãos.
INSTRUMENTOS MUSICAIS
Os instrumentos são muito simples. Usam chocalhos.
Apenas uma viola acompanha as cantorias:
Auê, como está tão belo
o nosso Ticumbi
vai puxando pro seu rendimento
que São Benedito é filho de Zambi...
-- Página 113
Usos e costumes
AS SERENATAS DE OURO PRETO
Os povos históricos fizeram serenatas. Cantavam o seu amor à porta das
suas amadas. A flauta é um instrumento obrigatório nas serenatas desde a
Grécia.
Os romanos eram seresteiros.
A serenata chegou até nós graças aos portugueses. Dizem que Tiradentes
gostava de um violão e no tempo de Marília já se faziam serenatas em Ouro
Preto.
A NOITE DE OURO PRETO
Em Ouro Preto as serenatas estão em plena vitalidade. A modinha é a forma
de poesia musical, romântica. Mais romântica se torna por ser cantada à noite.
Mandei jazer urn buquê
Pra minha amada
Todo ele de boninas disfarçadas
O brilho da estrela matutina
Adeus menina, linda flor da madrugada...
E atravessam a noite os menestréis, seresteiros, molhados pelo sereno ao
som do violão, da flauta, do bandolim ou do cavaquinho.
VELHAS HISTÓRIAS DE AMOR
A voz do seresteiro repassada de carinho e paixão, sob a janela da amada, é
uma cascata de ternura que a envolve no leito de sonhos, despertando-a para
abrir a janela, para o seu cantor apaixonado.
Hei de te amar, amar
Hei de te querer; querer
Hei de te levar de casa
Sem o seu pai ou sua mãe saber.
O PRESENTE E O PASSADO EM OURO PRETO
E quando o luar se derrama pelas ladeiras de Ouro Preto, mais convidativa
se torna a serenata. Daqui do presente se abre a porta do passado e a gente
canta, caminhando dentro da História.
É uma volta no tempo, um reencontro com a simplicidade, com o sereno da
madrugada, com o orvalho que vem caindo... com as flores dos campos,
agora mais belas porque estão úmidas... e no fim da serenata, muitas vezes,
nossos olhos também estão úmidas... e no fim sa serenata, muitas vezes,
nossos olhos também estão úmidos de saudade. Uma saudade que tem a
idade do amor...
Saudades infindas saudades!
saudades dos lábios teus,
saudades das noites de luar,
em que os confundia aos meus,
Agora nos acordes deste triste violão
deixo expirar estas mágoas.
Saudades de tantas saudades
vindas do meu coração.
Saudades da luz da lua
que lá dos céus nos via,
quando meu beijo se desprendia
para ir dormir na boquinha tua.
-- Página 114
O trabalho
O MONJOLO
O habitante do meio rural procura morar nas proximidades do rio, riacho,
lugar onde haja água.
Se ele é plantador de milho terá uma das mais prestativas máquinas: o
monjolo.
ORIGEM DO MONJOLO
Dizem que o monjolo veio da China. Mas foi introduzido no Brasil pelos
portugueses.
Braz Cubas introduziu o monjolo em Santos - São Paulo. O monjolo
trabalha no Brasil desde a época colonial. É uma máquina rudimentar,
movida a água, constando de duas peças distintas: pilão e haste.
O pilão é escavado na madeira, com fogo. Depois é aparelhado-com formão.
A madeira usada é a peroba, a canela preta ou o limoeiro.
PILA PILÃO
No pilão coloca-se o milho, arroz, café ou amendoim, para socar.
A haste do pilâo també.m é feita de uma madeira dura: maçaranduba,
limoeiro, guatambu, canela preta ou peroba. A haste compõe-se de duas
peças distintas: a haste propriamente dita, onde está escavado o cocho, a mão
do pilão. A forqueta, onde se apóia a haste, é chamada de "virgem".
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A água caindo no cocho pesa, desequilibra, eleva a mão do pilão, que bate
pesadamente, socando o que: esteja no pilão.
Chamam de "inferno" o poço que fica sob o "rabo" do monjolo... é um
inferno de água fria.
OS DIVERSOS MONJOLOS
Vários são os tipos de monjolo: de martelo, de roda, de pé de pilão de água.
O monjolo é "o trabalhador sem jornal"... como diziam antigamente, sem
nenhum ganho.
Os caipiras diziam: "trabalhar de graça, só monjolo"...
A CASA DO MONJOLO
Para proteger o monjolo da ação do tempo, sol e chuva, fazem uma casa de
pau-a-pique, coberta de sapé. Geralmente nesta casinha estão os gamelões
(vaso raso de madeira) e as peneiras de forno, para o preparo da farinha de
milho.
A casa é feita de pau-a-pique (ramos trançados) para que a fumaça saia
logo, não prejudicando a torradeira", (mulher que torra a farinha), fazendo os
gostosos beijus ou a farinha "poenta".
-- Página 116
Artesanato
OS ARTISTAS MINEIROS
Os mineiros expressam seu espírito criador na escultura em madeira e na
pedra-sabão.
A pedra-sabão é fácil de cortar dando efeitos extraordinários. Os escultores
de imagens de santos (os imaginários) encontraram na pedra-sabão o
elemento ideal para .demonstrar a sua criatividade.
OS PROFETAS DO ALEIJADINHO
No adro da igreja de Bom Jesus do Matosinho, em Congonhas, encontramos
os célebres profetas do Aleijadinho. Saíram das páginas da Bíblia para morar
nas escadarias da igreja, e com o olhar de pedra divisam os morros mineiros,
sempre verdes.
Ali as mais famosas formas da arte barroca mineira se perpetuaram na
pedra-sabão.
Na madeira ficaram as imagens esculpidas por Aleijadinho representando a
Via Sacra, que se encontram guardadas nos Passos, ou dentro das igrejas.
OS ARTISTAS POPULARES
Hoje, os artistas populares trabalham o cedro doce fazendo imagens e
principalmente figuras de presépio. Por ocasião do Natal, todos os,anos,
esculpem as figuras que representam a cena bucólica da manjedoura de
Belém. Como São Francisco de Assis, os fiéis mineiros armam os presépios
em seus lares.
OBJETOS DE PEDRA-SABÃO
A pedra-sabão passou a ser utilizada em larga escala na confecção de
objetos, de enfeites, reproduções e miniaturas feitas a máquina ou em formas
cópias das estátuas barrocas.
Continuam a fazer também as famosas panelas de pedra-sabão. E os
mineiros de bom paladar são unânimes em afirmar que o arroz para ser
gostoso tem que ser feito em uma panela de pedra-sabão. Pode provar...
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Usos e costumes
A REPÚBLICA DE ESTUDANTES
A multissecular cidade de Coimbra, em Portugal, foi um exemplo.
Dela copiaram o trote de estudantes. Dela também imitaram as repúblicas de
estudantes.
Em Ouro Preto, por causa da famosa Escola de Minas, a cidade colonial se
povoa de repúblicas de estudantes.
GENTE JOVEM NOS VELHOS CASARÕES
Dez ou doze estudantes alugam uma casa e rateiam as despesas com
alimentação e, às vezes, com a arrumação. As velhas casas onde em cada
canto há uma saudade, uma história, um romance, um drama, se povoam de
uma juventude alegre que vem para estudar... e às vezes estuda mesmo!
Pelas paredes fotografias, cartazes.
Os móveis - uma cama, sempre desarrumada, um caixote servindo de mesa
de cabeceira. Uma mesa e uma cadeira que é ao mesmo tempo um cabide.
Toalhas penduradas em varais ou nas bandeiras da portas.
OS NOMES IRREVERENTES
Há cerca de meia centena de repúblicas e os nomes são muito estranhos:
Necrotério, Sepulcro dos Vivos, Arapuca, Casa da Sogra, Inferno, Saudades
da Mamãe, Solar das Almas Famintas, Mulher faz Falta, Poleiro dos Anjos,
Ninho de Amor, Arca de Noé, Solar de Baco, República dos Inocentes,
Cacetada, Butantã, Alan Bi Queiros etc.
OS "MUSEUS" DOS ESTUDANTES
Com muita graça os estudantes fazem verdadeira sátira dos museus ou fatos
históricos da circunspecta Ouro Preto.
Os visitantes riem visitando os museus como: as ceroulas de Gonzaga, os de
Marília, a pena de escrever de Bárbara Eliodora, a cama onde morreu o
Tiradentes...
Criam até fantasmas. São eles os mapas de segredos que muitos turistas têm
pago bom dinheiro para obter...
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Ritos
A PROCISSÃO DE CORPUS CHRISTI
Ouro Preto é uma cidade colonial de Minas Gerais tombada pelo Patrimônio
Histórico Nacional.
Ouro Preto é um mergulho no passado, com seus casarões coloniais, suas
ladeiras de pedrinhas, suas igrejas barrocas.
A PROCISSÃO
A devoção vem para as ruas com toda a sua pompa, para participar da
procissão do "Senhor Morto".
Funde-se o passado e o presente. Das sacadas das velhas janelas coloniais
caem as colchas coloridas de damasco, veludos, toalhas de labirinto. Os
gradis de ferro ficam também cobertos pelos panos ricos, das cores mais
variadas.
Cada cor tem um significado: azul e branco, cores do céu e da pureza,
verde-esperança e penitência.
Vermelho-amor e caridade, roxo-paixão, negro-luto, contrição. Fazem o
pano de fundo por onde passa a procissão.
OS DEVOTOS
É o Brasil do passado que passa...
A profusão de roupas coloridas, opas (capa sem manga; usada pelas
confrarias religiosas), verdes, vermelhas, negras, pardacentas. Anjos, muitos
anjos vestidos de cor-de-rosa, amarelo, azul, branco, todos com as suaa asas
brancas e com os rostos de crianças.
Parece que os anjinhos esculpidos por Aleijadinho, nas igrejas de Ouro
Preto, saíram dos altares para desfilar nas ruas, encarnados nestas meninas
morenas, da cor do Brasil. É o Brasil do presente que passa na procissão do
passado...
MONUMENTOS RELIGIOSOS
E neste percorrer de ladeiras sentimos a emoção e orgulho da nossa
brasilidade. Monumentos feitos com o ouro das entranhas da nossa terra:
Igreja do Carmo, Igreja São Francisco de Assis (de Aleijadinho), Igreja de
São Francisco de Paula, Rosário, Mercês de Cima, Pilar. E a procissão
passa... lembrando ó ouro negro das margens do Tripui, os diamantes do
Tijuco Preto.
A procissão passa... e os hinos revivem os compositores mineiros, como
Lobo de Mesquita.
Canta a alma dos fiéis... É a procissão de todas as irmandades de Ouro Preto
que representam as de todo o Brasil, que passa pelas ruas atapetadas de
flores, flores do campo e da cidade... É a procissão do Corpo de Deus que
passa...
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Capítulo VIII
ESTADO DA BAHIA (1)
Bahia de Todos os Santos. Bahia africana. Bahia portuguesa. Bahia indígena.
Um estado maior do que a França (561.026 km2).
No litoral, a cidade de Salvador, a cidade da Bahia, debruçada sobre o mar
azul. Igrejas barrocas. Casas coloniais. Prédios de concreto. Estado muito rico
(petróleo, magnesita, barita, pecuária, algodão, cacau, cana-de-açúcar, fumo).
Grandes indústrias - no Parque Industrial de Aratu. E os "baianos" (7.420.906
habitantes - dados antigos) no sertão ou no litoral fazem da vida diária uma
aventura emocionante - uma festa. Neste capítulo algo da sua história, do seu
folclore e da sua gente.
-- Página 120
O homem
OS BAIANOS
Em 1500 Portugal descobre o Brasil. Começa a história do nosso povo, a
nossa história.
Na Bahia, os portugueses (colonizadores), os africanos (escravos) e os
índios (nativos) se misturaram livremente - sem preconceitos.
No litoral baiano predomina o mulato. Mestiço do português com o
africano. O negrO foi trazido para a região, pelos colonizadores portugueses,
para trabalhar nos canaviais, no século 16.
A terra era boa. Terra preta-massapé.
As mudas de cana-de-açúcar transformaram-se rapidamente nos canaviais
verdejantes.
O Brasil viveu uma época de grande prosperidade. O açúcar valia ouro. O
ouro era levado para Portugal.
Mas aqui ficaram os engenhos de açúcar. As casas grandes, das fazendas. As
senzalas. As igrejas barrocas do Nordeste.
Surgiu uma aristocracia rural, no Recôncavo Baiano.
Os senhores de engenho, barões, viscondes dominaram a região.
Mas os engenhos de açúcar (movidos por juntas de bois) precisavam de
animais para funcionar. Só além de 10 léguas da costa é que se podia criar o
boi. Começou, então, a marcha para o interior - para o sertão.
O VAQUEIRO DO SERTÃO
Foi o passo lerdo do boi que ajudou a conquista do interior - a ocupação do
sertâo. O fazendeiro branco teve no índio o seu melhor auxiliar.
No sertâo predomina o mameluco ou caboclo. Mestiço de branco e índio. É
o nosso vaqueiro. Vaqueiro das caatingas áridas. Das criações sem cercas.
Separadas por ribeiros.
Para vencer a vegetação agreste, cheia de espinhos e o sol intenso, o
vaqueiro passou a usar uma roupa de couro.
Cavalo e cavaleiro vestem uma armadura de couro.
Surgem os "encourados do sertão".
ARMADURA DE COURO
Homem e roupa da mesma cor - cor da terra árida. Roupa de couro curtido:
gibâo, colete, peitoral, perneiras, guarda-pés, luvas; chapéu com barbicacho.
São peças feitas de couro curtido de bode ou vaqueta. O chapéu, em geral, é
de couro de veado. A forma do chapéu do vaqueiro nos faz lembrar o elmo
do soldado holandês invasor...
Os holandeses por duas vezes invadiram o Brasil, permanecendo aqui de
1624 a 1625 (Salvador) e de 1630 a 1654 (Nordeste).
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AS BAIANAS DA NOSSA BAHIA
É preciso ser baiana para saber usar uma roupa assim! Quanta pompa no
andar dengoso e cadenciado...
As "baianas" atuais descendentes de africanos (das tribus ioruba, nagô, jeje,
mina, fula, haussá) são as que mais se esmeram no trajar.
As nagô, cuja presença maior se nota nos candomblés, são baixas e gordas.
Usam cores vivas, berrantes. Saia ampla toda estampada.
A baiana-muçulmana (do Sudão da África), alta e esguia, usa o traje branco
imaculado. Às vezes, no ombro um "pano da Costa" preto (pano vindo da
Costa da África).
O traje típico é assim: saia rodada, com muitas anáguas rendadas.
Engomadas. Bata (blusa de rendas) solta. Pano da Costa, como um xale,
sobre o ombro ou turbante. Chinelas ou sapatos de salto baixo. E o que mais?
Muitos e muitos enfeites: pulseiras, brincos de ouro, prata, coral. Algumas,
nos dias de festa, usam uma penca de balangandãs na cintura. Imagine tudo
isso e ainda todo o encanto que a baiana tem...
A PENCA DE BALANGANDÃS
Os escravos africanos quando chegaram ao Brasil estavam num estágio
cultural mais adiantado do que o índio. Alguns sabiam ler e escrever.
Conheciam os metais e, na Bahia, usaram a prata e o ouro na manufatura dos
balangandãs: miniaturas de corações, campainhas, figas, chifres, frutos, mil e
um amuletos.
-- Página 122
A terra
RIO SÃO FRANCISCO: "O VELHO CHICO"
Corria o ano da graça de 1501, quando os descobridores portugueses
tocaram a foz de um grande rio.
Era o dia 10 de outubro, dedicado a São Francisco Borja. Daí o nome: rio
São Francisco. Também chamado, carinhosamente, pelo seu povo de "o velho
Chico".
A COLONIZAÇÃO
No século 16 chegaram os primeiros povoadores da região do São
Francisco. Vinham da Bahia, de Pernambuco e São Vicente. Mas a conquista
do rio só foi completada em 1697, pelos paulistas - os últimos a chegar.
O FASCÍNIO DO OURO
Atraídos pelo ouro, os paulistas chegaram até a região do São Francisco. O
bandeirante Garcia Rodrigues Paes começou a lavar o cascalho nos riachos da
serra de Sabarabuçu, procurando ouro.
AS LUTAS COM OS ÍNDIOS
A região da foz era habitada por índios. Havia muita fartura. Muito peixe.
Muito camarão. Muito marisco. Os índios não queriam sair desta região.
Lutaram e foram massacrados pelos portugueses.
Em 1560 começou a verdadeira conquista. A cidade de Penedo, nas
margens do rio São Francisco, foi construída, depois de muitas lutas, sob o
sangue dos índios caeté.
O RIO-ESTRADA
O curso do rio São Francisco é avaliado em 3.161 km. Antes das estradas,
era o rio São Francisco o traço líquido entre o Norte e o Sul do país. Por isso
foi chamado - "O Rio da Unidade Nacional".
A CACHOEIRA DE PAULO AFONSO
Esta imensa cachoeira está localizada entre o médio e o baixo cursos do rio.
Hoje, dominada pela técnica, fornece energia elétrica para um Nordeste em
mudança.
O NILO BRASILEIRO
O São Francisco é um rio de planalto, sujeito a enchentes. Na vazante, a
terra adubada pelo húmus, facilita as plantações, que vão alimentar o
barqueiro, os beiradeiros das margens do rio. Os amigos do "velho Chico".
-- Página 123
Usos e costumes
CARRANCAS DE PROA
São Francisco é navegável de Pirapora (Minas Gerais) até Juazeiro (Bahia).
É o médio rio, onde outrora as barcaças tinham nas proas as "carrancas" que
hoje se tornaram raras.
Até hoje ninguém soube explicar a origem das esculturas das proas dos
barcos, do médio São Francisco.
Parecem esculturas egípcias ou africanas? Lembram a escultura popular
européia do século 18? O mais importante é salientar o seu valor artístico e
mágico, agora, quando, elas começam a desaparecer.
OS BARCOS E OS BARQUEIROS
As embarcações que navegam entre Pirapora e a cachoeira de Paulo Afonso
têm o calado (fundo) muito reduzido.
O barqueiro, quando precisa impulsionar a embarcação; usa uma vara
comprida que atinge o leito do rio. Caminha com esta vara pelo
"carreiro" - uma tábua que vai da proa à popa do barco. É um trabalho muito
duro. Mas o barqueiro canta enquanto trabalha.
Na popa do barco está o "murundu" (espécie de toldo). Atrás, o leme. E na
proa recurvada - a carranca protetora.
OS MISTÉRIOS, AS LENDAS...
Debaixo dos barcos do Sâo Francisco é costume traçar, em baixo-relevo, um
signo de Salomão. Dizem que é preciso que fique bem escondido, debaixo
d'água, para que ninguém o veja. Este signo serve para afastar o "Negro
d'água", virador de canoas de barcos...
OS GEMIDOS DAS CARRANCAS
A carranca dos barcos do rio São Francisco não é uma escultura de um
animal conhecido. A carranca é um monstro. Um ser fantástico. Poderoso.
Capaz de assustar o "Negro d'água"...
Existe uma crença, entre os barqueiros, que antes do barco afundar por
qualquer acidente, a carranca dá um aviso. Ouvem-se claramente três
gemidos. Dizem que alguns barqueiros, que foram assim avisados,
conseguiram, miraculosamente, fugir sãos e salvos de naufrágios...
-- Página 124
A casa e a terra
O SERTÃO SECO
O tipo do solo, a precipitação limitada e desigual de chuvas determinam o
clima da região: um clima tropical semi-árido. O clima influi sobre a
vegetação - a caatinga. Vegetação heterogênea. Árvores baixas. Raivosamente
espinhadas. Árvores resistentes, como a aroeira, o angico. Vegetação rasteira,
que desaparece, quando as chuvas também desaparecem. A seca é uma eterna
ameaça.
Com a seca as folhas caem. Com exceção do juazeiro e da oiticica. Algumas
plantas resistem. A verdadeira caatinga fica verde: os facheiros, o xique-
xique, o mandacaru, os cardeiros. Tudo fica seco. Rios. Fontes. A comida
começa a acabar. A chuva é a salvação. O sertanejo reza pedindo chuvas. O
céu é imensamente azul - sem nuvens. Quando as chuvas caem a caatinga
reverdece. As flores surgem. A vegetação rasteira cobre o chão.
O sertanejo vive um período de tranqüilidade.
-- Página 125
OS CURRAIS DE GADO
A pecuária foi o ponto de apoio da ocupação humana nesta região. Um
povoamento muito disperso. Pequenas vilas surgiram em torno das feiras de
gado e das pousadas.
A CASA
A casa rural do nordestino é de pau-a-pique (madeira trançada). O
revestimento é de barro de sopapo (bolas de barro molhado). O alpendre
(varanda) protege contra o calor. O alpendre também é chamado de "copiá".
No alpendre estão as redes.
A casa é também um depósito de provisões: milho e feijão. Os porrões
(grandes potes de barro) armazenam a água. O mobiliário é parco, simples.
Tamboretes de couro estirado fazem a cama, quando não dormem nas redes.
BRINCADEIRA DE VAQUEIRO
Chegou a hora da festa. Hora do vaqueiro brilhar, mostrando a sua coragem,
a sua agilidade.
Chegou a hora da vaquejada!
Os vaqueiros estão reunidos para contar o gado, que vive solto, criado sem
cercas. O trabalho terminou.
A festa vai começar!
VAQUEJADA
No cercado estãa os bois. Em torno, o público numeroso e atento. Dois
cavaleiros aguardam a saída do boi. Agora... Rápido, correm atrás dele! O boi
corre muito. Um dos cavaleiros procura dar direção à corrida do boi - é o
"esteira". Agora o vaqueiro vai agir.
Segura a cauda do boi e dá uma puxada violenta - é a "mucica". Pronto! O
boi caiu virando os mocotós. A banda de música toca. Os foguetes explodem
no ar. O povo aplaude...
Mas se o vaqueiro erra? O povo vaia - "botô o boi no mato". E o prestígio
do vaqueiro acaba.
-- Página 126
O homem
CANGAÇO: CANGACEIRO
A desgraça da seca nunca vem só.
À seca associam-se o banditismo e o fanatismo religioso. Surge o
cangaceiro. Surge o beato. Personagens de um grande drama sertanejo.
Cangaceiro é o nome genérico do fora-da-lei.
Seu aparecimento está ligado às formas de injustiça social do Nordeste de
antigamente: a prepotência dos senhores rurais, a organização político-social.
OS VAQUEIROS ARMADOS
Lutas entre famílias atravessavam gerações, por questões de propriedade
móvel e imóvel. Os fazendeiros armavam os seus vaqueiros. Procuravam
fazer justiça com as suas próprias mãos. Puniam as ofensas.
Havia sempre um coiteiro, um compadre, que dava asilo ao criminoso. O
compadre repetia a fidelidade feudal.
A intervenção da polícia era danosa. Os "coronéis", chefes políticos, cabeças
das famílias numerosas, armavam os bandos.
Os vaqueiros se transformavam em cangaceiros.
Surgiram os grandes cangaceiros. Cabeleira, Silvino Lampeão. Hoje este
tempo passou.
Educação, eletricidade e estradas, acabaram fazendo do cangaceiro uma
figura do passado, folclórica apenas.
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Assim como sucedeu
ao grande Antônio Silvino
sucedeu da mesma forma
com Lampeão Virgolino
que abraçou o cangaço
forçado pelo destino.
Porque no ano de Vinte
seu pai foi assassinado
da rua da Mata Grande
duas léguas arredado...
Sendo a força da polícia
A utora deste atentado...
(Luís da Câmara Cascudo "Vaqueiros e Cantadores" página I23 - "Coleção
Brasileira de Ouro").
-- Página 128
O divertimento
CAPOEIRA
A capoeira é ao mesmo tempo uma luta e uma dança. Uma arma de defesa
pessoal e um divertimento. Foi introduzida no Brasil pelos escravos africanos.
Difundiu-se rapidamente em Salvador, no Recife e no Rio de Janeiro.
CAPOEIRA - LUTA MORTAL
Alguns golpes de capoeira podem ser mortais.
Os capoeiristas, no princípio do século 19 passaram a ser muito temidos.
Usavam navalhas. Formavam bandos associados a políticos. Houve uma
grande repressão policial. Uma verdadeira guerra foi travada, no Rio de
Janeiro, entre os capoeiristas e o chefe de polícia Sampaio Ferraz, que os
venceu.
CAPOEIRA - DANÇA - BRINCADEIRA
Hoie. na Bahia encontramos escolas - "Academias de Capoeira" - onde os
famosos mestres formam os seus discípulos. A luta transformou-se num
divertimento: uma dança ao som de cantos, berimbau, pandeiro, caxixi,
palmas...
Água de bebê-ê, camarada
Água de bebê, camarada
O galo cantô-ô
Cocoricô, camarada...
Formam um semicírculo e dois a dois entram na roda, para começar a lutar.
Meneios de corpo, ginga, rasteira, rabo-de-arraia, bênção-de-peito. Golpes e
contragolpes, rápidos e ritmados.
É uma dança. Mas, cuidado!
A brincadeira pode acabar e a luta de verdade começar. Com capoeiristas
não se brinca quando não é hora de brincadeira...
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Instrumentos musicais
BERIMBAU
Originário da África. Veio com os escravos. É mais usado na Bahia para
acompanhar a capoeira. O africano quando veio, como escravo, para o Brasil
já sabia lidar com o ferro. Muitos dos seus instrumentos musicais eram de
ferro - agogô, adjá (campainha), berimbau-de-beiço, berimbau-de-barriga.
O BERIMBAU-DE-BARRIGA
Compõe-se de um arco de madeira de mais ou menos metro e meio de
comprimento. Uma corda de metal (arame). E uma caixa de ressonância, que
é uma pequena cabaça cortada, amarrada com barbante especial, na parte
anterior do arco. O tocador usa uma varetinha de madeira (para percutir a
corda). Uma moeda pesada (dobrão). E uma espécie de cestinha cheia de
sementes (caxixi) para marcar o ritmo.
O BERIMBAU-DE-BEIÇO
Conhecido como marimbau. É um pequeno instrumento que o negro usava
preso aos dentes. A caixa de ressonância era a própria boca. É uma peça
raríssima. Peça de museu.
Artesanato
CERÂMICA PARA USAR E ENFEITAR
Do Norte ao Sul do Brasil a cerâmica utilitária é encontrada. Não se sabe ao
certo quem lhe deu a maior influência: o índio, o negro ou o branco
(europeu).
A louça-de-barro baiana é produzida em quase todos os municípios da
Bahia. Moringas, porrões, panelas, alguidares (vasos de barro), quartinhas
ainda são muito usados nas casas populares. Nas cerimônias dos candomblés
a sua presença é constante e indispensável.
Na cidade de Maragogipinho, no Recôncavp Baiano, o povo vive quase
exclusivamente da produção de cerâmica.
Na ilha de Mar Grande (em frente a Salvador) existem moringas d'água
famosas.
Nas margens do rio São Francisco, encontramos uma cerâmica utilitária com
grande influência indígena. A comida baiana tem um sabor todo especial
quando é feita numa panela de barro...
A CERÂMICA FIGUREIRA
Cerâmica feita para enfeitar. Para olhar. A "miuçalha" figureira. Os caxixis
(miniaturas) não são muito expressivos na Bahia. Algumas figuras de
presépio. Animais. Brinquedos para crianças. Além dos famosos Exus feitos
pelo "mestre" Cândido.
A FESTA DA CERÂMICA
Todos os anos, durante a Semana Santa, na cidade de "Nazareth das
Farinhas", no Recôncavo Baiano, realiza-se a "Feira dos Caxixis". Reúne a
produção de cerâmica de muitos municípios da região. É uma festa baiana
com muita comida e muita alegria.
-- Página 131
As festas
AFOXÉ
Afoxê é o sagrado participando do profano. É uma obrigação religiosa que
os membros dos candomblés (de origem jeje-nagô) terão que cumprir. A
"saída de carnaval" será feita nem que seja perto do terreiro.
O afoxê é um candomblé adequado ao carnaval. Inicia-se com um despacho
para Exu. Para que Exu não interrompa as festividades carnavalescas dão-lhe
farofa de dendê com azeite.
AS ROUPAS
Roupas de cetim e arminho em profusão. Caboclos de penacho empunhando
arco e flecha. Algumas filhas de santo, vestidas de baianas, com saias
rodadas, blusas de renda e panos da Costa. Conduzem um estandarte onde os
assistentes vão prendendo notas de dinheiro com alfinetes. O centro de
profundo interesse do afoxê é a boneca preta - "Babalotim", bordada no
estandarte.
O DESFILE
O afoxê aó sair no carnaval baiano não se mistura com os demais
participantes. Passa aristocraticamente entre o povo. Canta em língua nagô.
Tocam atabaques. Quando o afoxê passa é seguido pelo povo e aplaudido.
-- Página 132
Ritos.
CANDOMBLÉ
É um culto africano trazido pelos escravos negros, na época do Brasil
colonial. Em outros Estados este culto recebe os nomes de: xangô
(Pernambucano), macumba (Guanabara e São Paulo), batuque (Rio Grande
do Sul), tambor de mina (Maranhão).
OMOLU - também chamada Obaluaiê é o mais temido dos orixás. Comanda
a saúde e as doenças. Come milho branco e pipocas. Seu dia é segunda-feira.
Suas cores são: vermelho e preto, ou preto e branco. Corresponde a São
Bento ou São Roque.
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XANGÔ - é o deus das trovoadas, raios, chuvas e tempestades. Sua "festa" é
no dia 30 de setembro. Seu dia é quarta-feira. Suas cores são o vermelho e o
branco. O machado é o seu símbolo. Foi marido de três mulheres: Obá,
Oxum, Iansã. O cágado e o caruru são as suas comidas preferidas.
Corresponde a Sâo Jerônimo ou São Pedro.
IEMANIÁ - é a senhora das águas salgadas. Também conhecida por: Rainha
do Mar, Princesa de Aiocá, Janaina, Inaê, Oloxum. É esposa de Oxalá, mãe
de todos os orixás. Sua festa é dia 2 de fevereiro. Suas cores são azul e
branco. Seu dia é o sábado. Gosta de comer cabra e milho branco.
Corresponde a Nossa Senhora da Conceição.
OS SANTOS
No candomblé existe um deus principal - Olorum ou Zambi (o dono do
céu). O filho desse deus - Oxalá - criou a humanidade. Em seguida estão os
orixás (divindades, santos) - Xangô, Oxum, Iansã, Iemanjá, Oxumaré, Omolu,
Nanã Barucu etc. Cada divindade africana tem um santo católico
correspondente no Brasil. Na Bahia, Iansã é Santa Bárbara. Oxossi é São
Jorge, Oxalá é Jesus Cristo, o Senhor do Bonfim.
OS SANTOS ENTRE OS MORTAIS
O objetivo principal do candomblé é, através do êxtase, receber os santos
entre os homens. Neste culto existe uma grande intimidade entre os homens e
os deuses. Segundo a crença africana, cada pessoa tem um orixá (santo)
protetor. As pessoas devotas, iniciadas, podem ser possuídas por estes santos,
são os "cavalos de santo".
OS TERREIROS
As cerimônias religiosas são, geralmente, realizadas em barracões - os
"terreiros". A mãe de santo ou o pai de santo conduzem a cerimônia. As
baianas (filhas de santo) dançam e cantam. Os atabaques tocam. Cada santo
tem um toque de atabaque, um canto, uma dança e uma roupa especial.
-- Página 134
OGUM - deus da guerra, da luta. Seu símbolo é uma espada de ferro. Suas
cores são o azul-escuro e o branco. Come bode e galo. Seu dia é terça-feira.
Corresponde a Santo Antônio, católico, na Bahia.
OXOSSI - rei de Ketu. Deus da caça, das florestas. Seu símbolo é o arco e
flecha. Usa chapéu de couro e um rabo de boi na mão. Suas cores: o verde e
o amarelo. Seu dia votivo é a quinta-feira. Corresponde a São Jorge, na
Bahia.
OXALUFAM - o Oxalá velho. O Oxalá moço é Oxanguiã. É o pai de todos
os orixás. O mais importante de todos. Veste-se de branco. Seu dia da semana
é sexta-feira. Corresponde a Nosso Senhor do Bonfim.
IANSÃ - é a divindade dos ventos e das tempestades. É a terceira esposa de
Xangô. Guerreira valente. Suas cores são o vermelho e o branco. Ora se
apresenta como velha, ora como jovem. Sua festa é no dia 4 de dezembro.
Seu dia é sexta-feira. Corresponde a Santa Bárbara.
ANAMBURUCU OU NANÃ - é o orixá mais velho das águas, das chuvas.
Suas cores: azul e branco. Seu dia votivo é quarta-feira (terça em Alagoas).
Seu fetiche é a pedra marinha. Sua festa é no dia 26 de julho. Corresponde a
Senhora Sant'Ana, avó de Jesus.
OXUMARÉ - é o arco-íris. Sua função é transportar água do mar e dos rios
para o palácio de Xangô. Quem assobiar perto deste orixá pode ser punido,
mudando de sexo. Cores: branco e amarelo. Seu símbolo, uma cobra de ferro.
Seu dia é terça-f eira. Corresponde a São Bartolomeu.
-- Página 135
Capítulo IX
BAHIA (2)
A baía de Todos os Santos foi descoberta em 1501, por um navegante
genovês a serviço de Portugal, Américo Vespúcio. Transformou-se num
importante porto para o comércio de pau-brasil. Região de lindas praias e
terra rica, atraiu muitos viajantes, que lá chegaram e travaram conhecimento
com os índios. Um deles, o português Diogo Álvares, o Caramuru, assimilou
os costumes indígenas e transformou-se no pai da mais antiga família baiana.
Aos poucos a conquista estendeu-se para além do litoral. Primeiro o sertão
norte, depois as margens do São Francisco. Surgiram as roças de
cana-de-açúcar, os engenhos. A cultura do cacau e do fumo. Hoje, a população
concentra-se mais na região do Recôncavo e nn litoral, atraída pelo progresso
da região. Neste capítulo, um pouco das histórias, das lendas, dos costumes e
das festas da Bahia.
-- Página 136
O homem
OS BAIANOS DO LITORAL
Você já foi à Bahia? Não? Então vá...
Vá para conhecer o berço do Brasil.
Vá para ver onde o passado e o presente se respeitam mutuamente.
As ladeiras tortuosas ladeadas de casario colonial, os becos, travessas e
vielas tradicionais, ao lado das novas avenidas, túneis, ruas asfaltadas, casas
modernas", que falam do presente, do progresso.
Salvador lembra um pouco de cada Estado brasileiro, Salvador é todo o
Brasil: um Brasil moreno, tropical, mulato. Brasileiro.
A VENDA DAS TERRAS BAIANAS
A Bahia foi comprada dos herdeiros do donatário Francisco Pereira
Coutinho, para ali ser construída a cidade de Salvador, pelo governador Tomé
de Souza. Em Salvador foi instalada a sede do Governo Geral do Brasil.
Permaneceu como capital do Brasil por mais de dois séculos, até 1763.
O PORTO DA BAÍA DE TODOS OS SANTOS
A cidade de Salvador estava numa posição estratégica, quando foi instalada,
no século 16: era o ponto mais perto da Europa. A sua imensa baía formava
um grande porto de mar - o coração da América Tropical - cujos impulsos
vitalizavam o Brasil todo.
A CIDADE ALTA E A CIDADE BAIXA
A topografia de Salvador era a sua defesa. Defesa dos perigos que vinham
do mar.
Na parte baixa o porto - a Cidade Baixa - fortaleza. No alto da escarpa de
oitenta metros a Cidade Alta, de onde se divisava o horizonte distante.
Completando a proteção, .os fortes que ainda hoje existem: São Marcelo,
Santo Antônio, Barbalho.
Hoje, na Cidade Alta estão as residências cheias de árvores frondosas, onde
amadurecem frutas deliciosas: mangas, araçás, cajás.
Dizem que a Bahia tem 365 igrejas que se espalham por toda parte...
Ligando a Cidade Alta à Cidade Baixa existe a Ladeira da Montanha, o
Elevador Lacerda, o Plano Inclinado (bondinho de perna comprida, onde, à
medida em que se sobe, vai se admirando a Baía de Todos os Santos).
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A RAMPA DO MERCADO
Lá na Cidade Baixa, perto da igreja da Conceição da Praia e do Pilar está o
Mercado, perto do mar.
No cais Cairu atracam os saveiros (grandes barcos a vela) que trazem as
mercadorias que são vendidas no mercado e rias feiras.
No mercado se vende de tudo: balangandãs, incensos, roupas de vaqueiro,
bruxinhas de pano, e os objetos mais inesperados - jóias do artesanato baiano.
O TABULEIRO DA BAIANA
Um pedaço da África se mudou para o Brasil com os escravos. É fácil
encontrá-lo nos quitutes que as baianas preparam, na comida mais "quente"
do Brasil. A "quentura" é dada pela pimenta de cheiro ou malagueta.
Da África chegou o azeite de dendê, o quiabo, o inhame, o amendoim, o
gengibre. E surgiram os célebres pratos baianos: acarajé, abará, acaçá, efó,
ximxim de galinha. Com muitos segredos que só as baianas sabem...
A COMIDA DOS DEUSES
"Teobroma Cacau" significa: comida dos deuses. O cacau dá o saboroso
chocolate e muitos derivados.
A planta é originária da Amazônia e foi introduzida na Bahia, na capitania
de Ilhéus, por volta de 1746.
De Ilhéus as plantações se estenderam para o norte e para o sul.
Surgiram os cacauicultores fazendeiros riquíssimos. Cacau era ouro.
Começaram as lutas pela posse das terras, uma longa história, que já foi
contada em prosa e verso pelos escritores baianos.
-- Página 138
O trabalho
A PESCA DO XARÉU
Os descendentes dos escravos africanos continuam a pescar xaréu no litoral
da Bahia.
No início pescavam também baleia.
Hoje vivem no litoral e pescam nas praias de Armação, Chega-negro,
Carimbamba.
O xaréu é um grande peixe, de carne escura, que anualmente, no seu ciclo
de vida, vem cumprir a sua função procriadora da desova.
Aparece nas praias nordestinas, principalmente nas da Bahia, na época do
calor, procurando um clima mais quente, entre outubro e abril.
O TENDAL
No período que antecede a pesca do xaréu os pescadores e suas famílias
trabalham preparando e reparando as redes de xaréu. A rede é imensa, feita
de rolos e rolos de fios bem fortes, resistentes.
As chumbadas são derretidas e preparadas para colocar nos mil metros de
corda. É a preparação para uma das mais emocionantes pescarias da Bahia.
OS MESTRES DE TERRA E MAR
Mais de cinqüenta pescadores se submetem ao comando de um chefe geral,
ajudado pelo mestre do mar e o mestre de terra. Que coordenam e comandam
as operações em terra e no mar.
Usam calção e chapéu de palha. O mestre de terra usa um apito pendurado
no peito e um bastão com um arpão na ponta, para pegar os peixes que fogem
da rede. Cada mestre tem um grupo de uns vinte homens sob seu comando.
A REDE NO MAR
A rede imensa é colocada numa jangada muito pesada, que desliza sobre
troncos, rolando até dentro da água. Os remadores vencendo a rebentação
forte do mar colocam a rede dentro d'água e prendem nas "amarrações".
Começam os cantos para que a pescaria seja farta:
O PEIXE NA REDE
Aproxima-se o cardume de xaréu. As canoas pequenas levam os
mergulhadores e o mestre do mar.
Os mergulhadores mergulham, perigosamente, dentro da rede para verificar
se os peixes já estão presos. Voltam à tona. Até que o mestre do mar dá o
sinal com um apito. Depois faz sinais com o chapéu de palha para a praia
dizendo se há pouco ou muito peixe. Há, desta vez, muito peixe.
Começa a grande labuta que é uma festa.
O mestre de terra trabalha em conjunto com o mestre do mar. Começa a
puxada da rede.
As mulheres dos pescadores e o povo da praia ajudam para ganhar o
"lava-pé" (peixe pequeno de graça). A rede vai sendo puxada enquanto os
cantadores cantam batendo o ritmo com os pés, sincronizando o trabalho.
O PEIXE NA PRAIA
As duas pontas das redes vão se aproximando, e breve ela deixará na praia o
presente do mar. Peixes e peixes enormes prateados que pulam, ainda vivos.
Chegam os "jegues" (burricos) que vão levar levar o peixe para ser vendido,
ou os "caminhões de xaréu", quando a pesca é muito grande.
A rede é recolhida e todos cantam para a Rainha do Mar, agradecendo a boa
pescaria.
-- Página 140
Artesanato
AS FERRAMENTAS DOS SANTOS
O escravo africano quando veio para o Brasil já conhecia e usava o metal, o
ferro, ao passo que o nosso índio estava no estágio da pedra lascada, como
ainda estão os índios Cranhacãcore.
Os deuses são representados no candomblé por objetos inanimados.
Atualmente os santos têm as suas insígnias, as suas "ferramentas", de metal
trabalhado e braceletes: os ferrinhos e armas de Exu, os braceletes de metal
de Xangô e Iemanjá, o abebê (misto de abano e espelho) de Xangô e Iemanjá.
AS FERRAMENTAS DE EXU
Exu, segundo Roger Bastide, é um mensageiro da divindade, um protetor, e
não o ser cheio de maldade como muitos lhe atribuem, o representante das
potências contrárias ao homem.
Os fetiches de Exu são em geral de ferro. Suas "filhas de santo" usam
braceletes de bronze.
AS SENHORAS DONAS DAS ÁGUAS
Iemanjá, Rainha do Mar e Oxum, das águas profundas, usam uma espécie
de abano - o abebê.
Numa região de calor como a Bahia ou a África, precisam de um leque. O
abebê de Iemanjá é prateado e tem uma sereia no centro e um espelho. O
abebê de Oxum - casada com seu irmão Xangô - tem espelhos e sininhos e é
de latão.
Todos os outros orixás têm as suas insígnias, as suas ferramentas.
Todo este material é trabalhado, esculpido, criado pelos artistas populares da
Bahia.
-- Página 141
Folguedo
O PASTORIL
Os Pastoris são danças e cantos que por ocasião das festas de Natal se
realizam em homenagem ao Deus Menino.
Em geral se desenvolve; defronte de um Presépio ou em tablados, em praça
pública.
O um rancho alegre de meninas, mocinhas, que ano após ano entoam ao
Menino Jesus:
Vamos, vamos pastorinhas
No meio deste torrão
vamos ver o Deus Menino
entre palhnhas deitado.
A lerta, alerta pastoras
vamos, vamos a Belém.
ver Jesus nascido
hoje, para o nosso bem.
Vamos adorar a flor
que deriva de José
o filho da Virgem pura
esposa de São losé.
Em Belém se cantam glórias
Saudades de Nazaré
Pois que no presépio assistem
Jesus, Maria e José.
TEATRO POPULAR
As pastorinhas representam autos, é o festivo teatro popular, alegre, mas
cheio de ensinamentos morais.
As músicas são cheias de ternura. Existem personagens: a Mestra, a
Contramestra, Diana, a Camponesa, Belo Anjo, o velho e as simples pastoras.
Dois partidos vestidos de çores diferentes, dois cordões disputam as honras
de louvar Jesus Menino.
Com passo lento já sigo
a Belém para adorar
Pois nasceu o Deus-Menino
Bailem, bailem, pastorinhas,
bailem com todo o primor,
bailem que já é nascido
Nosso Deus e Salvador.
-- Página 142
Ritos
A FESTA DE IEMANJÁ - A RAINHA DO MAR
No triste tempo da escravidão, quando os senhores de engenho impunham a
religião católica aos escravos, eles em espírito cultuavam os seus deuses
africanos e, dos lábios para fora, invocavam os nomes dos santos dos seus
donos.
Assim, Santa Bárbara católica é a mesma Iansã africana. Oxalá é o Senhor
do Bonfim...
DONA JANAÍNA - RAINHA DO MAR
A Sereia do Mar, Rainha do Mar, a princesa do Mar, Princesa de Aiucá,
Iemanjá é amada e cultuada pelos baianos. É a mãe... Mãe das Águas, de
origem africana, iorubana.
Nessa divindade iorubana - Mãe d'Água dividem o sentimento humano que
se tem com a mulher em três orixás (divindades): mãe, esposa, namorada.
A Mãe é Nanãburucu ou simplesmente Nanã, relacionada com Sant'Ana, a
boa e complacente avó de Jesus.
A esposa, a mulher, é Iemanjá, a mãe de todos. Relacionada com Maria.
A mais nova é Oxum, a vaidosa, gosta de presentinhos de namorada.
OS PRESENTES DF IEMANJÁ
A maior festa de Iemanjá, na Bahia, é no dia 2 de fevereiro no Rio
Vermelho.
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Todas as pessoas que têm "obrigação" com a Rainha do Mar se dirigem para
a praia. Reunem-se todos os candomblés da Bahia. Levam flores e presentes:
espelhos, jóias, pentes, perfumes.
Passam os andores cheios de oferendas. O povo entra nos saveiros, que
balançam sobre o colo encantado do Reino de Iemanjá.
Foguetes explodem no ar. Velas brancas se enchem de vento. Os presentes
são lançados em alto mar.
Se Iemanjá gostar dos presentes eles ficarão no fundo do mar. Se não gostar
eles voltarão para a praia, para a tristeza do povo.
E lá na igreja da Conceiçâo da Praia as velas estão acesas desde 8 de
dezembro, pára Nossa Senhora, pelos devotos de Iemanjá.
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Ritos
CANDOMBLÉ
O candomblé veio da África, com os escravos. Este culto foi perseguido
pelos senhores de escravos que eram católicos.
Mas o candomblé sobreviveu, protegido pelas trevas das noites em lugares
escondidos, onde os escravos continuaram a invocar os deuses, que
trouxeram da África para o Brasil, com a sua fé e os seus cultos.
É a religião africana trazida para o Brasil pelos escravos nagô, bantu, gegê
etc.
Atualmente o candomblé, em algumas regiões, está muito modificado
devido aos contatos culturais: influência dos brancos e dos índios.
O ÊXTASE
Por meio de cantos e danças, ao som de atabaques (espécie de, tambores)
procuram entrar em contato com os deuses, atingindo o êxtase místico.
Os orixás vindo ao encontro dos mortais proporcionam alegria e sua
chegada é saudada com cantos.
Os santos ao "baixarem" nas "filhas-de-santo" cumprimentam os presentes,
transmitem conselhos, abraçam seus conhecidos.
Os conselhos dos orixás podem ter o caráter de prevenir contra os perigos
ou o êxito nos negócios. Demoram para trazer as mensagens, mas geralmente,
todos os orixás as trazem.
A ALEGRE "DESCIDA" DOS SANTOS
A descida de um orixá é saudada efusivamente, como se fora um velho
conhecido. A filha-de-santo cumprimenta os presentes de uma maneira
especial: levanta os braços e encosta as palmas das mãos abertas nas mãos
das pessoas que fazem o mesmo gesto. Depois seguram os polegares e voltam
ao aperto de mão comum.
Os atabaques tocam e tocam, chamando e saudando os orixás. Atingem o
ritmo respiratório, estabelecendo um clima todo especial dentro dos terreiros.
Os atabaques têm nomes: o "rum" (grande) o "rumpi" (médio) e o "lê"
(pequeno). São feitos com peles de animais estirados em cones de madeira,
que variam de metro e meio de altura a cinqüenta centímetros.
Os tocadores de berimbau batem com as mãos diretamente no instrumento
(percussão direta).
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EGUN - é o espirito dos mortos que desce nos candomblés. Acreditam que
mortos aparecem para dançar e comer, respondendo assim às invocações que
lhes forem feitas. Existem alguns candomblés especialmente dedicados ao
culto dos mortos,que são de difícil acesso às pessoas não iniciadas.
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OXALÁ - é o maior santo dos terreiros da Bahia. Identificado com o Senhor
do Bonfim que também tem a maior devoção católica da Bahia. É o pai de
todos os orixás. Mora na igreja do Bonfim. Está ligado aos rituais de
purificação. Come cabra, pombo, conquem, milho branco. Veste-se de
branco - é a pureza. .Seu dia é sexta-feira.
OXALUFÃ ou OXOLUFÃ - é o Oxalá velho que se apresenta apoiado num
bastão paxoró - que é uma espécie de cajado de pastor, símbolo da sua
supremacia e autoridade. É chamado carinhosamente de papai.
OXODIÃ ou OXANGUIÃ- confunde-se com o Deus-Menino na Bahia. É
alegre, jovem, ágil. Se apresenta com uma espécie de pilão prateado na mão.
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IAÕ - sendo o candomblé uma religião de iniciação, as que serão filhas-de-
santo, passarão por uma'série de provas: raspar a cabeça, ficar reclusa,
aprender encargos e deveres para com a religião, a fim de receber os orixás.
As "iaôs após um periodo de mais ou menos sete anos, depois de "feitas"
(preparadas para os seus encargos) passarão a uma outra classificação:
"ebomim". Se as filhas-de-santo não forem tomadas pelos orixás, servindo de
instrumento entre os orixás e os homens serão ape.nas "équedi". Não
dançarão nos terreiros. Serão apenas auxiliares das filhas que recebem os seus
orixás.
OÇAIM ou OSSAE - é um dos orixás da medicina. Ao lado de Ajexalugá e
Ajá. É também chamado de Orixanim. Apresenta-se com um pote ou cuia do
Pará com especiarias e bebidas... Bebe mel e cachaça, e come bode, f rango e
milho branco. Fuma. Seu dia é terça-feira. Usa roupa de chita. Suas cores:
rosa e verde. É a "dona das folhas" é o próprio mato.
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OXUM - deusa das águas doces. Esta orixá é filha de lemanjá com seu
irmão Xangô. Nos candomblés, quando se apresenta com um leque de latão
(abebê) em cujo centro há um espelho, é chamada de: Oxum-Abalô.
Festejada aos sábados. Gosta de comer feijão, tainha, cabra e galinha. Sua
cor: amarela. Usa metais também amarelos.
OBÁ - é uma figura rara nos candomblés da Bahia, é também filha de
lemanjá. Contam que Obá, querendo captar o amor de Xangô colocou em se
u prato de caruru a sua própria orelha. Daí ela se apresentar com uma das
orelhas escondidas entre panos e enfeites. Usa braceletes de metal. Suas
cores: amarelo e vermelho. Come galinha, acarajé, abará.
EXU - as festas dos candomblés são precedidas pelas homenagens prestadas
a este orixá, que alguns pensarn ser demoníaco. Exu é um mensageiro. Para
que não atrapalhe, para que tudo corra bem, fazem um "despacho de Exu",
antes das cerimônias e trabalhos. Gosta de pipoca, farinha com azeite de
dendê (farofa amarela). Seus despachos são colocados nas encruzilhadas.
Suas cores: vermelho e preto. Seu dia é segunda-feira, quando ele é
homenageado, para que todos os outros dias da semana sejam bons.
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Figuras de Exu e Oxum
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Ritos
A LAVAGEM DO BONFIM
Em janeiro, todos os anos, milhares de romeiros chegam ao Santuário do
Senhor do Bonfim, na Bahia.
O Senhor do Bonfim é o padroeiro do Brasil, desde 1745, quando Teodósio
Rodrigues de Faria trouxe a imagem de Cristo crucificado de Setubal
(Portugal), sua terra natal, para um recanto do Recôncavo baiano.
A devoção começou com as novenas no século 18 até chegar às festas
ruidosas atuais, que começam dentro da Igreja, lá em cima da colina e se
estende pelas ladeiras e praças vizinhas.
Surgiu também a devoção, a promessa de lavar a igreja...
A LAVAGEM DO BONFIM
A lavagem de santos e ídolos está ligada a algumas religiões. É um rito
ablucional legado pelos mouros ou judeus ao Brasil. Senhor do Bonfim é o
Oxalá africano. Existe a cerimônia de "águas de Oxalá". Existem também
promessas católicas de "lavagens de igrejas". A lavagem do Bonfim é uma
das maiores festas religiosas populares da "Bahia de todos os Santos e
Pecados"...
É realizada numa quinta-feira de janeiro.
O ritual começou há um século com lavagem da nave central da igreja.
Depois a lavagem foi proibida pelos padres. Atualmente lavam apenas as
escadarias. Os fiéis levam água em potes, vassouras, flores. Formam uma
verdadeira procissão de carrocinhas enfeitadas de papel colorido, bicicletas,
carros enfeitados, baianas vestidas de branco, cheias de balangandãs...
A FESTA
Fora da igreja são armadas barraquinhas, onde servem comidas e bebidas
baianas.
Há muita roda de samba e capoeira. O baiano canta, dança, comemora a
alegria que o Senhor do Bonfim lhe deu o ano todo. A festa dura de quinta a
domingo à noite. E continua na segunda-feira da Ribeira, um bairro próximo,
com muita música e dança.
E as festas não param mais, vão apenas mudando de bairro, pois para o
baiano a vida precisa ser vivida e comemorada, intensamente, com muita
alegria.
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Capítulo X
SERGIPE - ALAGOAS
O Estado de Sergipe possui uma área de 21.994 km2 e 901.618 habitantes
(dados antigos). É um Estado pouco industrializado. É o terceiro produtor de
coco do país. A cultura da cana-de-açúcar é importante. No Baixo São
Francisco encontra-se a cultura de arroz e de algodão. O gado é criado em
pastos fechados. Aracaju, capital do Estado, foi fundada em 1855, nas
margens do rio Sergipe. O petróleo começa a ser explorado. Neste capítulo
você encontrará um pouco da vida do alegre povo sergipano.
O Estado de Alagoas é um dos mais densamente povoados do Brasil. Possui
uma área de 27.652 km2 e 1.606.174 habitantes (dados antigos). Produz
algodão, café, banana, mandioca, cana-de-açúcar. No interior, a 30 km do
litoral está o sertão, a criação de gado e a cultura do algodão. É muito pouco
industrializado. Sofreu muitas invasões estrangeiras na época colonial,
primeiro os franceses, mais tarde os holandeses. Maceió é a capital do Estado
e o porto de Jaraguá é um dos mais importantes do Nordeste.
Neste capítulo você conhecerá mais um brasileiro: o alagoano.
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O homem
OS ALAGOANOS E OS SERGIPANOS
Em 1532, Dom João III, rei de Portugal, dividiu o Brasil em 14 capitanias
hereditárias.
Estas capitanias foram doadas a fidalgos portugueses. Coube a Francisco
Pereira Coutinho 50 léguas de terra, entre o São Francisco e Ponta do Padrão.
Nesta região, na margem esquerda do rio São Francisco, está localizado o
Estado de Alagoas.
Na margem direita o Estado de Sergipe.
O São Francisco é o divisor natural dos dois Estados.
OS HOLANDESES
A partir de 1630 começaram as invasões holandesas.
O conde José Maurício de Nassau-Siegen construiu fortes no rochedo onde
foi fundada a cidade de Penedo (Alagoas) para dominar o rio dos Currais (o
São Francisco). Os holandeses permaneceram no Nordeste até 1654.
OS TIPOS HUMANOS
Lado a lado do grande rio surgiram os criatórios de gado. O rio São
Francisco é uma verdadeira estrada líquida, desde a época colonial até os
nossos dias. Rio batido pelas quilhas das mais variadas embarcações: canoas,
barcaças, navios.
Os tipos humanos foram se diferenciando de acordo com o trabalho que
realizavam.
Barqueiros, remeiros, pescadores, com suas "calças-de-rizeia-coronha"
(curtas). Porque vivem com os pés e as pernas constantemente metidos dentro
d'água.
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Nos criatórios de gado: os vaqueiros, tangerinos (tangedores de gado).
Nas embarcações: pilotos, proeiros, barqueiros, remeiros, pescadores.
Para carga e descarga dos barcos: os cabeceiros.
Na agricultura: os beiradeiros, moradores da beira do rio.
OS CABOCLOS
Os habitantes desta região são todos caboclos. Descendentes de brancos e
índios. Fortes, enfrentam a luta pela sobrevivência, plantando, pescando,
criando gado.
Muitos descendem dos índios cariri, que ainda vivem no aldeamento de
Porto Real do Colégio, em Alagoas, em pleno contato com a população dita
civilizada. Misturam-se nas feiras onde vendem cerâmica, trançados de palha,
objetos de madeira (colher de pau, gamela, pilão).
Continuam com os seus ritos religiosos, o Toré, com grande influência do
candomblé africano e do catolicismo romano.
O VAQUEIRO
O boi dos criatórios deixou a sua marca na denominação de diversos lugares
desta região. Malhada dos Bois, Ilha do Gado Bravo, Ilha das Vacas. E o
vaqueiro continua presente. Continua também o seu trabalho, no mesma
cenário - no Agreste e no Sertão Nordestino.
AS PLANTAÇÕES
A cultura da mandioca está presente, onde está presente o homem desta
região. Existem outras culturas importantes, além da cana-de-açúcar e do
tabaco, em Arapiraca (Alagoas) e Lagarto (Sergipe).
No Baixo São Francisco, os beiradeiros praticam a cultura de vasante, isto é,
quando o rio está baixo plantam nos lugares adubados pelo Nilo brasileiro.
Recentemente, perto da foz, de Penedo até Propriá, iniciaram a cultura de
arroz.
OS PESCADORES DO LITORAL
No litoral de Alagoas e Sergipe encontramos os pescadores, jangadeiros e
catadores de moluscos (sururu, maçunim).
Nesta região está surgindo um Brasil Novo. O primeiro poço de petróleo de
Alagoas foi perfurado na Batinga (município de Piaçabuçu).
Em Sergipe (Carmópolis) o poço de petróleo Caioba I é um marco de
esperança.
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Artesanato
LABIRINTO - CRIVO
A introdução do labirinto ou crivo no Brasil pode ser atribuído ao povoador
português. As mulheres portuguesas conheciam este trabalho de agulha e
linha, há muito tempo realizado na Europa. Possivelmente o labirinto chegou
em Portugal através dos gregos ou etruscos.
PACIÊNCIA E HABILIDADE
A dificuldade da execução do trabalho justifica o nome: labirinto. Consiste
desfiar primeiramente a fazenda, para depois realizar o paciente e minuncioso
trabalho de compor flores, frutos, animais, aves, letras e até paisagens.
Dá mesmo a idéia de um labirinto, pois só a habilidade da labirinteira
permite completar o trabalho no labirinto de fios, criando verdadeiras obras
de arte.
CRIVO
O nome crivo vem do latim, "cribum", que quer dizer peneira. Na realidade,
para dar início ao trabalho, a artesã precisa desfiar a fazenda básica onde será
feito o bordado, tornando-a semelhante a uma fina peneira de fios bem finos.
Na Itália, herdeira de muitos traços culturais etruscos, o crivo ligou-se à
renda de bilros, vestiu e ornou nobres e sacerdotes.
Dos trabalhos femininos de agulha, o labirinto ou crivo é o que requer maior
habilidade manual, e maior acuidade visual.
As labirinteiras criam com agulha e linha um mundo de flores, letras e
paisagens
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O trabalho
PAISAGEM CHINESA NO SÃO FRANCISCO
É muito recente o plantio do arroz no Baixo São Francisco. Foi preciso que
a antiga Comissão do Vale do São Francisco, hoje SUVALE, incentivasse a
rizi-cultura.
O São Francisco imita mais uma vez o Nilo. Por ocasião das enchentes
fertiliza as margens com as suas águas barrentas, cheias de húmus (matéria
orgânica em decomposição).
Foram construídas paredes (levadas), comportas reguladoras, perto da foz,
para impedir a entrada da água salgada do mar.
O arroz é plantado nas lagoas ou brejos das margens do rio. Nas ilhas do
Baixo São Francisco (permanentes ou não) o arroz é também cultivado.
A Ilha do Gondin é muito disputada porque a terra é fertilíssima. É povoada
e de onze em onze anos sofre terríveis enchentes.
O ARROZAL
O arroz é semeado em sementeiras.
Depois os molhos de mudas (calungas) são levados para o terreno definitivo.
Após quatro meses de plantio definitivo vem a colheita. Depois o arroz é
malhado, batido, ensacado e beneficiado pelas máquinas.
O trabalho de limpar o terreno, malhar e ensacar o arroz é feito pelo homem.
Mulheres e crianças semeiam e replantam.
A lagoa seca se transforma num arrozal verde. Um dia ficará dourado e será
colhido e malhado e as mulheres cantarão:
Assim diz o lavrador
não vou plantar arroz
pois pra colher sem meu amor
o arroz é boa lavra.
O arroz é boa lavra
eu vou mandar vender
na entrada do verão
eu vou mandar colher
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Usos e costumes
OS BARCOS DO BAIXO SÃO FRANCISCO
As jangadas são encontradas em todo o litoral do Nordeste. Em Alagoas são
mais comuns do que em Sergipe. No rio São Francisco, limite natural entre
Sergipe e Alagoas, há navios de alto mar que chegam até a cidade de Penedo.
Da foz até Piranhas, o rio milionário é singrado por taparicas (canoas), chatas,
barcaças e as canoas de tolda.
O PERIGO
No Baixo São Francisco existem trechos perigosos, temidos pelos
barqueiros. Esses trechos inspiraram um poeta:
O cão nasceu na Tabanka
criou-se na Sambambira
morou na ponte Mofina,
veio morrer nas Traíras
O cão é o diabo e dizem que só podia ter nascido na Tabanga, lugar
traiçoeiro, onde muitos têm morrido.
AS EMBARCAÇÕES
Os mais variados tipos de barco deslizam suavemente no São Francisco: as
canoas taparicas (monóxilas, feitas de uma peça), barcos, botes de pesca,
chatas (barcos com dois mastros), canoas de tolda ou barcos de toldo.
O toldo é um compartimento fechado, onde há beliches. Há canoas de um só
toldo, na popa (atrás) e outras de dois toldos.
As barcaças são navios de alto mar. São usadas tanto no rio como no mar.
AS VELAS
As vezes, quando termina a feira, nas cidades ribeirinhas, das margens do
São Francisco, ao meio-dia do sábado, centenas de velas enfunadas pelo
vento cobrem o rio.
Os barqueiros, depois da feira, procuram regressar aos seus portos e ilhas de
origem.
As velas parecem borboletas, das mais variadas cores, ondulando sobre as
águas do rio.
Este espetáculo impressionou D. Pedro II que chegou a escrever um soneto:
"As borboletas do rio São Francisco."
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Foto de uma embarcação fluvial.
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Folguedo
REISADO
O Reisado foi introduzido no Brasil-Colônia pelo portugueses. É um
espetáculo popular das festas do Natal e Reis, cuja ribalta é a praça pública, a
rua.
No Nordeste, a partir de 24 de dezembro, saem o os vários Reisados, cada
bairro com o seu, cantando e dançando.
Os músicos tocam fole (sanfona ou harmônica), adufes (pandeiro), caixa de
guerra (tambor) e zabumba.
Ao chegar nas portas das casas ou na praça, cantam pedidos de licença.
Fazem louvações aos donos da casa ou dos cercados e agradecem os comes e
bebes oferecidos. Depois cantam a retirada ou despedida,
OS NOVOS REIS MAGOS
Os participantes dos Reisados acreditam ser continuadores dos Reis
Magos que vieram do Oriente para visitar o Menino Jesus, em Belém.
O grupo tem uma função religiosa, devocional. É um rancho alegre que sai
tocando, cantando louvações, repetindo a história do nascimento de Jesus.
Saúdam a quem visitam e pedem contribuições para a festa. Percorrem as
cidades nordestinas, com a representação do teatro ambulante, simulando
pequenas lutas de espadas entre reis e fidalgos.
Senhor dono da casa
olhos de cana caiana
quanto mais a cana cresce
mais aumenta a sua fama
Senhor dono da casa
talhada de melancia
sua mulher, estrela d'alva
sua filha, luz do dia
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OS PERSONAGENS DO REISADO
No Reisado alagoano encontramos alguns personagens que se apresentam
também no Bumba-meu-Boi. As figuras são variadas: Rei, Rainha, Secretário,
Guias e Contraguias, Mestre, Mestra e Contramestre, Mateus, Palhaço, Lira,
Embaixadores, Embaixatrizes, Governador, Estrela, Índio Peri, Sereia.
AS DANÇAS
A parte coreográfica é muito simples: corrupios, gingados, galopes,
pisa-mansinho...
A disposição dos brincantes (participantes) varia de cidade para cidade. Em
todas as representações os lugares de destaque são destinados ao Rei, Rainha
ou a Mateus e a Lira.
OS ENFEITES
Os chapéus dos participantes são ricamente enfeitados. Há cópias da tiara do
papa. Reproduções de fachadas de igrejas, com as suas torres etc.
Em Maceió, os chapéus são riquíssimos, daí levarem meses e meses para
fazê-los. São as peças mais atraentes: enfeitados de fitas douradas, estrelas e
espelhinhos.
Os espelhos não são simples enfeites. Têm uma finalidade mágica.
Funcionam como um amuleto. Servem para o choque de retorno: todo o mal,
os maus olhados, os maus desejos que baterem nos espelhos, voltarão contra
quem os desejou...
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Bailado
OS GUERREIROS ALAGOANOS
A dança dramática ou Bailado dos Guerreiros é recente. O seu aparecimento
em Alagoas data de mais ou menos meio século.
É uma mistura de antigos autos populares dos Reisados e Cabocolinhos.
Recebeu a influência das tradições européias do Reisado e a indígena dos
Cabocolinhos.
Nota-se a influência dos antigos Reisados, sem a parte devocional.
OS TEMAS
Tema da ressurreição aparece duas vezes neste bailado. Quando morre o
personagem Lira e depois, por ocasião da morte do boi, que é parte final dos
Guerreiros alagoanos.
Provavelmente os Guerreiros tendem a substituir tanto os Cabocolinhos
como os Reisados, nas festas de Natal.
OS PERSONAGENS
Nos Guerreiros há maior número de personagens do que nos Reisados. Os
trajes são ricos, cheios de enfeites. De acordo com as possibilidades dos
participantes, procuram imitar antigos trajes dos nobres do Brasil-Colônia.
Usam fitas, colares, contas, coroas, diademas, calções, mantos. Chapéus
ricamente preparados, com abundância de espelhos e enfeites de árvore de
Natal.
Aparecem várias personagens: o Rei, três Rainhas, Embaixadores, General,
Mateus, Palhaços, Catirina, Boi, Cabocolinho da Lira, Borboletas, Estrelas,
Lira, Sereia e outros.
Ó que saudade
quando o guerreiro partiu,
quando saiu
desta nobre cidade,
Vamos deixar
tanta morena bonita
meu coração já palpita,
mas não posso levar.
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Danças
COCO
É bem provável que esta dança mestiça, afro-ameríndia, tenha surgido em
Alagoas, onde se misturam escravos índios e escravos africanos, no início da
vida social brasileira (época colonial).
Foi em Alagoas que se deu a grande rebelião negra - Palmares. A dança do
Coco continua sendo a expressão do desabafo da alma popular, da gente mais
sofrida do Nordeste brasileiro.
O COCO ALAGOANO
O Coco dançado em Alagoas é diferente do paraibano, do pernambucano e
do rio-grandense.
Em Alagoas o sapateado é mais vivo e mais figurado.
Forma-se a roda de mulheres e homens.
No centro fica o solista que põe o "argumento", isto é, a melodia do texto.
Logo sobressai o refrão cantado pelos demais na roda:
"Venha ver como a coisa tá boa
venha, é um Coco lá das Alagoas."
O solista, no centro, executa requebros e sapateados, passos figurados,
inventados na hora. Ao finalizar faz a sua vênia ou reverência. Retira-se, e
entra outra pessoa.
OS INSTRUMENTOS
O Coco é uma dança do povo. Os principais instrumentos musicais são as
próprias mãos.
O canto, acompanhado por bater de palmas com as mãos encovadas,
assemelha-se ao ruído de quebrar a casca de um coco, daí o nome da dança,
de ritmo bem brasileiro.
Usam também tamborim, zabumba, adufe (pandeiro). Até o caixão de
querosene entra na dança, na falta de outro instrumento musical.
A DANÇA DO LAMPEÃO
O Coco foi a dança preferida pelos cangaceiros. Lampeão e outros
cangaceiros dançavam o Coco nas horas de descanso.
A feira nordestina é o lugar onde se ouve o Coco improvisado, falando das
dificuldades, dos problemas sociais, das paixões.
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Artesanato
LOUÇA DE BARRO
A principal indústria de cerâmica utilitária está localizada em Carrapicho.
A cerâmica de Carrapicho supre as necessidades de vários municípios dos
dois Estados (Sergipe e Alagoas) atingindo também a Bahia.
É uma cerâmica de excelente qualidade. Chega semanalmente às feiras mais
distantes, quer a Palmeiras dos Índios (Alagoas) ou Itabaianinha (Sul de
Sergipe).
O TORNO
Para que o volume das peças seja produzido mais rapidamente adotaram o
torno de pé.
Em uma mesa tosca fazem uma adaptação de um eixo preso a uma rodeira,
como a do carro de bois.
A roda maciça é impulsionada pelo pé do oleiro.
Na ponta do eixo, fixa-se o "prato", onde é colocada a pelota de barro que
será trabalhada.
Com o impulso dado por um dos pés do ceramista o eixo vai rodando o
"prato" ou a forma de base. E no barro informe das enchentes do rio, o oleiro
vai modelando a peça desejada: bilha, talha, porrão, jarro, quartinha,
alguidar, vaso, cuscuzeiro, panela.
Em poucos minutos, graças à habilidade do ceramista, a peça fica pronta e é
posta para secar na sombra. Depois é pintada, decorada e queimada no forno
de lenha.
Na cerâmica de torno, só o homem trabalha.
Para as viagens acondicionam a cerâmica em caixões, ou caçuás (cestos
grandes), cuidadosamente separadas com palhas, para não quebrar. Assim a
cerâmica de Carrapicho atinge os mais distantes municípios. Os índios da
tribo cariri, de Porto Real do Colégio, onde há um aldeamento, fabricam
também cerâmica, mas jamais poderão competir com a de Carrapicho.
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Artesanato
FIGURAS DE BARRO
Carrapicho é um povo ribeirinho, situado no Baixo São Francisco. Pertence
ao município de Propriá (Sergipe).
É um verdadeiro arsenal ceramistas, de figureiros.
CERAMISTAS
A cerâmica figureira está nas mãos das mulheres.
Sentadas no chão, ou mesmo de cócoras, como os nossos índios, fazem
cerâmica utilitária e, nas horas vagas, as figurinhas.
Fazem quartinhas para água, com formas de animais, moringas com figuras
de gente atual, baianas, casal de moringas etc.
Há muita criatividade entre os artistas de Carrapicho. Fazem mealheiros,
boizinhos, soldados montados, vaqueiros a cavalo canoas, jegues (burricos).
Representam as figuras do mundo em que vivem. As peças são muito bem
cozidas, daí a resistência e a durabilidade. Podendo ser usada e colecionada.
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Usos e costumes
PODE TIRAR O SEU CHAPÉU
Entre nós, brasileiros, o uso do chapéu tem muita importância e a maneira
de usá-lo tem vários significados.
Não se entra em igrejas com o chapéu na cabeça, o contrário dos judeus,
que só entram nas sinagogas com a cabeça coberta.
Defronte de santo ou defunto, chapéu fora da cabeça, em sinal de respeito.
Antigamente para certos gestos o chapéu era indispensável: "Esta é de tirar o
chapéu..."
E as frases se sucediam e o chapéu simbolizava o próprio homem: - "Varreu
a calçada com o chapéu..." (caráter bajulador) - "Pediu de chapéu na mão"
(com grande humildade) - "Mal tocou na aba do chapéu..." (não deu a menor
atenção) - "Tirou o chapéu com toda a mesura..." (respeitosamente) - "Sou
apenas um chapéu na sua cadeira..." (substituto temporário).
O CHAPÉU DO VAQUEIRO
No meio nordestino o chapéu de couro dá ao seu portador grande
importância.
O vaqueiro quando trabalha usa o chapéu, quebrado na testa, para proteger a
cabeça, no caso de levar uma batida de um galho de árvore.
Mas, quando o vaqueiro passeia, usa o chapéu atravessado na cabeça, com
um bico na frente e outro atrás. De um lugar para outro varia o tipo de
chapéu do vaqueiro. O pernambucano é de bico. O paraibano, o potiguar (Rio
Grande do Norte) e o cearense, redondo. O baiano, de abas largas e moles.
CHAPÉUS. MÁGICOS
Atribuem aos chapéus dos curandeiros (curadores de cobra) um valor
mágico.
Na impossibilidade de comparecer para o benzimento do doente, o chapéu é
o remédio. Coloca-se o chapéu sobre o "ofendido", mordido pela cobra.
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Esportes
BATE - COXA
Possivelmente essa recreação alagoana, de nítida influência negra, não existe
em outros estados brasileiros, atualmente.
Em Piaçabuçu, cidade alagoana, é praticada exclusivamente por negros,
tanto no passado, como no presente.
DANÇA-LUTA
Os dois disputantes, sem camisa, só de calção, aproximam-se e colocam
peito com peito, apoiando-se mais nos ombros.
Começa então a música:
São horas de eu virar negro.
eh!boi...
Minha gente venha ver
com meu mano vadiar,
eh! boi...
são horas de eu virar negro
tanto faz daqui pr'a1i
como dali pr'acolá
eh! boi...
são horas de virar negro.
Ao som do canto do grupo que está próximo, ao ouvir "eh! boi ambos
afastam a coxa o mais que podem e chocam-se num golpe rápido.
Depois da batida da coxa direita
com a direita, repetem à esquerda chocando
bruscamente ao ouvir o "eh! boi...
A dança prossegue até que um dos dois desista e se dê por vencido.
Se um dos dois levar uma queda, após a batida, é considerado perdedor.
Às vezes combinam ou sorteiam quem vai começar a dança, dando a
primeira batida de coxa. E o grupo continua cantando, acompanhado por um
tocador de ganzá (reco-reco).
Quando eu vinira da minha terra
deixei meu amor chorando
eh! boi...
com saudades eu me retiro,
adeus até não sei quando
eh! boi...
Desde a vez qu'eu te vi
fiquei te querendo hem.
eh! boi...
sozinha comigo calada
sem dizer nada a ninguém.
eh! boi...
são horas de eu virar negro.
-- Página 166
Folguedo
QUILOMBO
O Quilombo é um folguedo tradicional alagoano, tema puramente brasileiro
revivendo a época do Brasil-Colônia.
Dramatiza a fuga dos escravos, que foram buscar um local onde se esconder
e se defender, na serra da Barriga, formando o Quilombo dos Palmares. O
Quilombo foi destruído pelo bandeirante paulista Domingos Jorge Velho. Em
Sergipe há um arremedo bem pobre dos Quilombos e se chama lambe-sujo.
Na penúltima semana de outubro em Aracaju, Propriá, Parapitinga, Neópolis
e São Cristóvão os palmarinos e "Caboquinhos" lutam neste bailado.
QUILOMBO
Em Piaçabuçu, Estado de Alagoas, existem Quilombos onde tornam parte
mais de 50 pessoas.
O Quilombo se divide em dois grupos distintos: pretos e caboclos, cada qual
com o seu Rei. Cada Rei tem o seu secretário, cujas funções são as de
Carteiro, Embaixador.
No bando de pretos há uma Rainha, Catirina e o Pai do Mato.
AS ROUPAS
A uniformização dos participantes, embora simples, é muito bem cuidada.
Os pretos usam calças azuis, meia coronha (até o joelho), semelhantes as dos
antigos escravos.
Os caboclos usam calções e tangas de penas.
Os Reis e a Rainha usam roupas pomposas.
O MOCAMBO
Na praça pública armam um grande mocambo feito com palhas de coqueiro.
Ali dentro colocam tudo o que podem "roubar": canoas, cadeiras, animais
etc. O "roubo" precisa de um resgate. Faz parte da brincadeira.
Os caboclos roubam a Rainha dos pretos. O Rei dos pretos, dos palmarinos,
envia uma carta determinando que a solte, ou ele declarará guerra e
incendiará o mocambo.
Quando se preparam para a guerra há os resgates do que foi "roubado". Os
negros atacam. Incendeiam o mocambo.
A Rainha dos palmarinos é "posta à venda".
As autoridades locais a "compram".
Os caboclos vencem os palmares.
Há muita música. O Terno de Zabumba alegra a representação.
Dá-lhe toré
faca de ponta
não mata mulher.
Siririca faca de ponta
Samba negro, branco não vem cá
Se vier pau há de levar.
-- Página 167
Capítulo XI
PERNAMBUCO
O Estado de Pernambuco é o mais industrializado do Nordeste do Brasil. A
zona fabril está localizada na zona Metropolitana do Recife. Recife, "Veneza
brasileira", está situada numa ilha, na desembocadura dos rios Beberibe,
Capibaribe e Tijipió.
É um grande centro cultural brasileiro. Tem grandes atrativos turísticos.
Praias belíssimas. Igrejas, conventos, fortalezas coloniais. A densidade de
população do Estado é muito grande: 5.252.590 habitantes (dados antigos)
numa área de 98.281 km2. O Estado de Pernambuco possui um grande
rebanho bovino e caprino. As lavouras de cana-de-açúcar e de coco-da-baía
são também muito importantes. Neste capítulo você conhecerá um pouco do
folclore, da cultura e da vida do povo pernambucano.
-- Página 168
O homem
OS PERNAMBUCANOS
Os portugueses, quando tomaram posse do Brasil em 1500, tinham
acumulado uma larga experiência de vida nos trópicos, na África e na Índia.
No Brasil provaram mais uma vez sua grande capacidade de adaptação às
terras descobertas.
Em 1532, o Brasil foi dividido em capitanias hereditárias, que foram
entregues a doze donatários.
A capitania de Pernambuco (da foz do São Francisco até o Iguaraçu) foi
doada em 1534 a Duarte Coelho, que veio para o Brasil com o desejo de
construir uma "Nova Lusitânia", nos trópicos.
O donatário era chamado de governador ou capitão, tendo amplos poderes.
Pernambuco era o porto mais perto da Europa.
As primeiras experiências com a cana-de-açúcar obtiveram resultados
esplêndidos.
Sol e solo - os melhores. O solo massapê pegajoso, dadivoso. O sol dourado
do Nordeste. A cana-de-açúcar cresceu nos imensos canaviais, que se
transformavam em açúcar nos engenhos.
AS CASAS GRANDES E AS SENZALAS
Já se percebia a impossibilidade de contar com a mão-de-obra do escravo
vermelho (o índio), para o trabalho nos engenhos.
Em Lisboa, desde que se "lançou uma lança em África", existia a escravidão
negra.
Veio o escravo negro para o Brasil, para o engenho e povoou a senzala ao
lado da Casa Grande.
O português, flexível no seu relacionamento humano, realizou o milagre da
miscigenação, unindo os pretos e brancos sem preconceitos raciais.
O senhor de engenho dominou primeiro a cunhã (indiazinha) e com ela teve
os seus primeiros filhos - os mamelucos.
Mais tarde uniu-se à negrinha, que deixou entre nós a palavra afetiva
"neguinha"... que se diz para as mais louras mulheres amadas no Brasil. Desta
união surgiu o mulato.
E juntos lutaram na revolução republicana de 1817.
Assim é o nordestino, forte, sincero, livre, rebelde, profundamente
brasileiro.
-- Página 169
O vaqueiro trabalha com o boi, vive em função do boi, veste roupa feita
com o couro do boi.
A véstia do vaqueiro, de couro, resiste aos espinhos da caatinga, é a sua
couraça, a sua armadura.
O couro, em geral, é curtido por processos primitivos, ficando com uma cor
de ferrugem, flexível, macio. Tiram, geralmente, todos os pêlos.
O gibão é o paletó de couro de vaqueta. Enfeitado com pespontos. Fechado
com cordões de couro.
O pára-peito, como o nome indica, protege o peito. Uma alça que passa pelo
pescoço o segura.
A perneira é uma perna de calça que cobre do pé até a virilha. As peroeiras
ficam presas na cintura. São duas pernas de calça soltas, deixando o corpo
livre para cavalgar.
As luvas cobrem as costas das mãos e deixam os dedos livres.
Nos pés as alpercatas simples ou complicadas como as dos cangaceiros.
Às vezes usam botinas, um sapatão fechado. E na cabeça o chapéu, que
protege o vaqueiro do sol e dos golpes. Na sua copa às vezes bebem água
ou comem.
O jaleco parece um bolero, feito de couro de carneiro. É usado geralmente
em festas.
O jaleco tem duas frentes. Uma para o frio da noite, onde conservam a lã,
outra de couro liso para o calor do dia.
Assim é a véstia do vaqueiro nordestino.
-- Página 170
Usos e costumes
A CASA DE FARINHA
Quando se fala em Pernambuco logo se pensa em canaviais e engenhos.
Entretanto, muitos se esquecem da Casa da Farinha.
A Casa da Farinha ajudou a fixar o homem à terra, transformando a
mandioca num importante alimento.
OS ÍNDIOS ENSINARAM A USAR A MANDIOCA
Foi com o índio que o português aprendeu a usar a mandioca. Os índios
faziam os beijus de mandioca (espécie de bolo), que ainda são muito
apreciados no Nordeste.
Os portugueses aproveitaram os elementos da maquinaria da uva ou da
azeitona criando a Casa da Farinha.
A FARINHADA
Na Casa da Farinha os trabalhadores se reúnem após a colheita de mandioca,
para o preparo da farinha é a farinhada.
Para a farinhada há uma espécie de mutirão participam as pessoas da
família, os compadres, os vizinhos. A Casa da Farinha normalmente é
alugada.
Tal processo lembra o tipo medieval de moinho senhorial. O fazendeiro
recebe um pagamento proporcional ao que foi produzido.
A MANEIRA DE FAZER UMA BOA FARINHA
A raiz da é arrancada e levada da roça à Casa da Farinha em samburás
(cestos feitos de cipó ou taquara).
Começa então o trabalho feminino de raspar a mandioca, tirar aquela
espécie de casca cor de terra.
Depois de raspada a mandioca é entregue à raladeira.
Os homens movem o ralador e a mulher vai enfiando a mandioca
cautelosamente no caititu.
A MANDIOCA BRAVA É VENENOSA
A mandioca ralada vai caindo no cocho.
Depois é imprensada no tipiti (cesto ou paneiro), para retirar o líquido
venenoso chamado manipuera (ácido cianídrico).
-- Página 171
A PRENSA DA MANDIOCA
Existem diversas prensas, as de rosca sem fim (as de arataca, as de
arrochador) que comprimem o tipiti, tirando o líquido.
O líquido decantado dá a goma do polvilho e o polvilho é usado também na
alimentação (biscoitos, sequilhos de polvilho...).
Os blocos de massa de mandioca retirados da prensa são desfeitos e
passados numa urupemba (peneira), deixando a massa pronta para ir ao
forno. Algumas pessoas preferem deixar a massa "dormir" antes de ir para o
forno, para ficar mais saborosa. Outras torram-na no mesmo dia e está pronta
a farinha de mandioca.
A FAROFA
A farinha de mandioca é usada como alimentação básica de muitos
nordestinos.
Muitos pratos brasileiros também ficam mais saborosos com farinha.
A farofa feita com manteiga (farofa de manteiga) e a farofa com azeite de
dendê (farofa amarela) estão presentes em muitas mesas brasileiras.
-- Página 172
Danças
O FREVO
O frevo é filho legítimo da capoeira. O capoeirista (ou capoeira) sai no
carnaval dançando o frevo à frente dos cordões, das bandas de música,
executando passos e meneios semelhantes aos da capoeira. O frevo é uma
dança de vacinação coletiva, do carnaval pernambucano. Nos salões, nas ruas,
o povo se entrega ao frevo de corpo e alma.
"Eu frevo
tu freves
ele freve"
É tão frenético e alucinante que cada um, por si egocentricamente, ferve ao
seu modo, até a exaustão.
O frevo não tem nada de religiosidade, apenas ficou com o guarda-chuva do
maracatu, uma espécie de pálio, neste folguedo. O guarda-chuva dá um
grande equilíbrio ao passista.
No carnaval pernambucano todo o povo que vive nos mocambos (casebres),
nas praias e beiras de brejos de Pernambuco, desperta do seu torpor e se
integra no reinado do frevo, tendo por símbolo de realeza o guarda-chuva.
A música do frevo parece um pouco com a marchinha carioca. A força do
frevo repousa nesta música estimulante que faz a gente conjugar e viver o
verbo...
Eu frevo...
"Se esta rua
se esta rua fosse minha,
eu mandava
eu mandava ladrilhar
com pedrinhas
com pedrinhas de brilhantes
para o meu
para o meu amor passar."
-- Página 173
Instrumentos musicais
TERNO DE ZABUMBA
O Termo de Zabumba é um conjunto musical típico do Nordeste. É
conhecido também pelos nomes de Terno de Música. Esquenta Mulher
(Alagoas), Cabaçal (Paraíba), Banda de Couro (Ceará).
OS INSTRUMENTOS - OS MÚSICOS
O Termo de Zabumba compõe-se de dois tocadores de pífano (pífaro, pife,
ou taboca), o mais rudimentar dos instrumentos de sopro, com sete furos, seis
para os dedos, um para a boca. A zabumba e a caixa são instrumentos de
percussão indireta, por meio de varetas, baquetas ou cambitos. Estes
instrumentos são construídos pelos próprios tocadores.
O TERNO DE ZABUMBA NAS RUAS
O Terno de Zabumba alegra sempre as festas, festanças, festarias
nordestinas.
No baixo São Francisco ele está presente para acompanhar o bailado do
Quilombo, a dança do Baianá, para tocar as "salvas" nas rezas. Acompanha
também as procissões do meio rural. É uma presença indispensável nos
bailes, pois um "baiano" (baião) tocado por um Terno de Zabumba será
dançado por todos. Num "forró" pernambucano, pela noite até o amanhecer
do dia o Terno de Zabumba faz a animação do baile, o divertimento do
sertanejo.
O Terno de Zabumba exerce função profana e religiosa. Tocam as "salvas",
músicas de "reza". Tocam nas rezas, nas novenas.
Os músicos são sempre muito considerados na comunidade onde vivem.
Boa noite seu Rufino
boa noite eu venho dar
quero que me dê licença
em seu terreiro brincar."
-- Página 174
Folguedo
O MARACATU
O maracatu nasceu no Recife, filho legítimo das procissões em louvor a
Nossa Senhora do Rosário dos Negros. Negros que batiam o xangô
(candomblé) o ano inteiro.
O maracatu é um cortejo simples, que do sagrado passou para o profano,
para o carnavalesco.
No começo deste século o maracatu tinha um cunho altamente religioso.
Dançavam primeiramente em frente das igrejas.
O maracatu, hoje, é uma mistura de música primitiva e teatro, no carnaval
pernambucano, o mais folclórico do Brasil.
A RAINHA DO MARACATU
A presença da rainha dá um sabor todo especial ao maracatu. Com sua
presença fixa-se a linha de matriarcado, tão do gosto africano.
Os cantos e as danças são em louvor da boneca (calunga), figura feminina,
ponto de concentração das atenções dos participantes e do público.
Os personagens principais do maracatu são a rainha e a dama-do-paço. As
figuras masculinas, como dom Henrique - o rei do maracatu e o índio tupí,
não são muito importantes.
AS NAÇÕES DO MARACATU
No Recife, no carnaval, desfilam clubes, blocos, troças (bloquinhos),
cabocolinhos e o maracatu, com suas várias nações. As nações são os grupos
humanos.
Cada maracatu traz o nome de sua "nação". Estrela brilhante, Cambinda
velha e o famoso Elefante, fundado no século l9.
A ORIGEM DO MARACATU
Ao maracatu é atribuída origem sudanesa (do Sudão da África), por causa
da presença da lua crescente, nos seus estandartes, além de certos animais
africanos: o elefante e o leão.
Para alguns sociólogos o nome maracatu significa procissão, para outros
significa debandar...
O maracatu deu origem a um ritmo musical mais lento do que o frevo, no
carnaval pernambucano, que se propagou pelo Ceará e Alagoas.
-- Página 175
Foto da Rainha do Maracatu e do Rei do Maracatu.
Meu maracatu
é da coroa imperial
ele é- de \Pernambuco
ele é - da casa real.
-- Página 176
Danças
-- Foto do Lanceiro do cabocolinho
OS CABOCOLINHOS
-- Página 177
O padre Fernão Cardim foi um dos primeiros cronistas do Brasil a registrar,
em 1584, em seu livro "Tratado da terra e gente do Brasil", um bailado
executado por curumins (meninos) tupinambá. Apresentavam-se ricamente
enfeitados de penas, sob a vista dos catequistas. Foi assim que os missionários
conseguiram catequisar, conquistando primeiramente o indiozinho através de
brincadeiras, danças e cantos religiosos.
A PRESENÇA DO ÍNDIO
O cabocolinho é um bailado de sabor indígena como o próprio nome. No
Nordeste a palavra "caboclo" designa o índio ou os seus descendentes,
mestiços.
Os "cabocolinhos" são os filhos dos caboclos.
Os instrumentos musicais do cabocolinho são também de origem indígena.
O pífano, o maracá, o canzá (reco-reco).
Participam meninos de 10 a 15 anos. O adulto responsável faz, geralmente,
o papel de rei ou mestre o "caboco velho".
OS CABOCOLINHOS EM AÇÃO
De Estado em Estado varia o número de participantes, de 12 a 20, no
máximo. Os nomes dos figurantes também variam: cacique, caboco-velho,
tuxaua, matroá, diretor, birico, pantaleão, mestre e contramestre.
Não há um enredo neste bailado, consiste mais em desfile e pinoteio dos
cabocolinhos. Não falam mas a gesticulação é abundante. É um bailado
mímico.
Na Paraíba, em Alagoas, em Pernambuco, no Ceará, no Rio Grande do
Norte os cabocolinhos aparecem no carnaval. Em outros Estados, aparecem
por ocasião da Festa do Divino Espírito Santo e são chamados de caboclada,
catopê, cabocleiro, guaribeira ou dança dos caboclos.
-- Página 178
Usos e costumes
VENDEDORES AMBULANTES DAS RUAS DO RECIFE
Os vendedores das ruas do Recife já estão, pela raridade, se tornando tipos
folclóricos com seus pregões anunciando as mercadorias que vendem.
Não resta dúvida que foram os negros que deixaram o traço cultural de
carregar os objetos na cabeça.
O índio costuma carregar o fardo, o objeto, nas costas, preso por uma faixa
que passa na testa.
São famosos no cais, nos desembocadouros nordestinos, os "cabeceiros" que
equilibram os mais estranhos objetos na cabeça: um caixão, um tonel, .uma
cesta, um balaio, uma melancia...
Costumam usar, dentro do chapéu, panos ou algodão para acomodar melhor
o objeto carregado.
As mulheres usam rodilhas de pano quando vão buscar água, equilibrando
os potes na cabeça. Passam elegantes, ligeiras, com o passo gingado.
INFLUÊNCIA CHINESA
O colonizador português foi um viramundo, trouxe da China um traço
cultural que ainda está presente no Recife. Em uma vara, apoiada nos
ombros, o vendedor prende um balaio em cada extremidade, por meio de
fios. Assim carregam peixes, verduras ou frutas.
Passam, num passo cadenciado, procurando distribuir melhor o peso,
cantando o seu pregão:
"Ostra chegada agora...
tá fresquinha...
olha que beleza,
não quer comprar, freguesa...
-- Página 179
APANHADOR DE COCO
Pindorama é um apelido do Brasil, quer dizer a terra das palmeiras. Mas o
coqueiro não é nativo do Brasil, os portugueses o trouxeram da Índia.
Uma das profissões mais difíceis do Nordeste é a do apanhador de coco.
Somente os jovens são capazes de subir nos coqueiros, com "peia" ou no
"braço".
A "peia" é composta de tamanca e correia. A tamanca passa na altura da
coxa e o laço fica preso no coqueiro. A tamanca serve de apoio para o pé
direito.
Alguns tiradores sobem "no braço", sem nenhum auxílio ou segurança. A
profissão é muito perigosa. O coqueiro é muito alto, o caule é escorregadio.
O tirador trabalha com um facão afiado ou com uma pequena foice.
O cortador, além de cortar os cachos dos frutos, faz a limpeza do coqueiro,
cortando as folhas verdes.
"Trepa no coqueiro
jipe, jipe,
tira coco
nheco, nheco,
do coqueiro
o lerá..."
-- Página 180
Artesanato
MESTRE VITALINO PEREIRO DOS SANTOS
Geralmente, onde existe cerâmica utilitária (para uso doméstico na cozinha),
existe também cerâmica figureira. As mães quando trabalham, trazendo a
cerâmica, deixam os filhos se divertir, fazendo as figurinhas.
A cerâmica utilitária é permanente, sendo uma produção regular. A
figureira, geralmente, é temporária.
É o caso das figurinhas de presépio.
Mas, o Mestre Vitalino fez da cerâmica figureira um artesanato permanente.
-- Página 181
A FEIRA DE CARUARU
Em Caruaru, cidade pernambucana, a poucos quilômetros do Recife, existe
uma feira famosa, cuja separação de animais é folclórica. Em um canto ficam
"os bichos de dois pés" (galinhas, patos), em outro canto ficam "os bichos de
quatro pés" (bodes, carneiros, bois). Há também montes e montes de
cerâmica utilitária e bancas e bancas de cerâmica figureira.
O MENINO VITALINO
Na feira de Caruaru, um dia, apareceu um menino - Vitalino Pereira dos
Santos - cuja obra ingênua, no massapé pernambucano, tornou-se uma
significativa mensagem de brasilidade, que tem alcançado os mais distantes
centros culturais do mundo. As figuras de Vitalino são peças de museus e
coleções particulares, de estudiosos do folclore, de todos que amam a arte
popular.
A FAMÍLIA DE VITALINO
Vitalino Pereira dos Santos, ou apenas Mestre Vitalino, consagrou-se com a
sua arte de fazer bonecos em Caruaru, onde nasceu, perto do rio Ipojuca, em
1909.
Seu pai, humilde lavrador, preparou o forno para queimar as peças de
cerâmica que sua mãe fazia, para melhorar o orçamento familiar.
Sua mãe artesã, preparava o barro que ia buscar nas margens do rio Ipojuca.
Depois, sem usar o torno, ia fazendo peças de cerâmica utilitária, que vendia
na feira. Levava a cerâmica nos caçuás (cestos grandes) colocados nas
cangalhas do jegue (burrico).
AS FIGURINHAS DO MENINO VITALINO
Ainda pequeno, Vitalino ia modelando boizinhos, jegues, bonecos, pratinhos
com as sobras do barro que sua mãe lhe dava, para que não a atrapalhasse e
ao mesmo tempo se divertisse.
Quando a mãe colocava as peças utilitárias para "queimar" no forno, ele
colocava no meio as suas figurinhas, suas miniaturas.
Os seus pais iam à feira semanal, o pai carregava os frutos do trabalho
agrícola, a mãe carregava o jegue, com os caçuás, para levar a terra
trabalhada - a cerâmica utilitária.
E o menino Vitalino?
O menino Vitalino levava o produto da sua "reinação", da sua brincadeira e
vendia.
O MESTRE VITALINO
Por volta de 1930, com 20 anos de idade, Vitalino fez os seus primeiros
grupos humanos, com soldados e cangaceiros, representando o mundo em
que vivia.
Sua capacidade criadora se desenvolveu de tal maneira que acabou se
tornando o maior ceramista popular do Brasil.
Fazia peças de "novidade" - retirantes, casa da farinha, terno de zabumba,
batizado, casamento, vaquejada, pastoril, padre, Lampião, Maria Bonita,
representando seu povo, o seu trabalho, as suas tristezas, as suas alegrias.
Retratava em suas peças o seu mundo rural.
A ESCOLA DO MESTRE VITALINO
Esta foi a grande fase do Mestre Vitalino, que imprimia no massapé a sua
vivência.
Mais tarde começou a fazer obras sob encomendas; dentistas, médicos
operando... Passou também a pintar as figuras para agradar aos compradores,
da cidade, que tentavam "inspirar" o Mestre.
Carimbava as suas peças mas, a partir de I950, analfabeto que era, aprendeu
a autenticar a sua obra, com o seu nome.
Mestre Vitalino Pereira dos Santos faleceu em 1963 deixando escola e
çontinuadores. Seus filhos, Severino e Amaro, continuam a sua obra,
recriando no barro os personagens do mundo nordestina.
-- Página 182
Ritos
OS BEATOS
O cangaceiro procura fazer a justiça com as suas próprias mãos.
O beato, o penitente, procura uma justiça eterna. Ambos são o fruto da
desgraça da seca e de uma estrutura social cruel.
Quando chega a seca, o sofrimento, a espera, a morte, chegam também os
penitentes.
Despontam nas estradas, desoladas, sem fim, com roupas esfarrapadas,
semelhantes a um hábito religioso. As vezes carregam uma cruz, ou trazem
um carneirinho, imitando São João Batista.
Os penitentes são portadores de fome crônica.
Cabelos e barbas longas. Alpercatas sertanejas. Olhar parado. Falam uma
linguagem incompreensível, misturada com rezas.
A conversa deles é quase sempre a mesma. Uns andam caminhando para
encontrar com Jesus Cristo, outros dizem que receberam uma missão.
Assim surgem os líderes fanáticos, os Antonio Conselheiro, o beato
Lourenço, herdeiro do famoso Padrim Cícero.
Os penitentes se dirigem aos santuários religiosos, quando não criam os
seus, onde exibem milagres.
Antonio Conselheiro, o monge João Maria e outros socorriam os doentes e
famintos, daí o grande êxito deles, ou de qualquer outro milagreiro que assim
proceda. Esta também é a arma que a medicina social deverá usar, para
combater a fome e dar ao flagelado assistência moral e psicológica.
-- Página 183
Capítulo XII
CEARÁ - RIO GRANDE DO NORTE - PARAÍBA
O Ceará tem uma população de 4.491.590 habitantes (dados antigos),
distribuídos numa área 148.016 km2. Mais de 90% da superfície do Estado
encontram-se cobertas por caatingas. O restante por cerrados e pela floresta
tropical. A economia baseia-se nas atividades agropastoris e extrativas. O é
criado nas grandes extensões da caatinga.
A cultura mais importante é a do algodão. O Ceará é o primeiro produtor do
Nordeste e o terceiro do Brasil.
O Rio Grande do Norte ocupa uma de 53.015 km2. Tem 1.611.606
habitantes (dados antigos).
Mais de 80% de seu território estão situados abaixo de 300 m de altitude. O
maior produtor agrícola é o algodão seridó, seguido por outras culturas:
milho, mandioca, cana, e outros. A pecuária e a indústria salineira são os
outros dois setores importantes importantes da economia do Estado.
A Paraíba é um Estado de economia agropastoril. A maior parte da
população dedica-se à criação de gado e à lavoura do feijão, milho, mandioca
e algodão. O Estado ocupa 56.372 km2 e tem 2.445.419 habitantes (dados
antigos).
-- Página 184
A terra e o homem
CEARÁ - PARAÍBA - RIO GRANDE DO NORTE
Em 1526 Cristóvão Jaques fundava a feitoria de Itamaracá. Um dos
primeiros marcos de posse na terra recém-descoberta.
Com a divisão do Brasil em capitanias hereditárias, em 1534, o território foi,
doado a Pero Lopes de Sousa. Hoje essas terras formam o Estado da Paraíba.
O VAQUEIRO DA PARAÍBA
Paraíba, Estado de belas praias. Mas também de poucas chuvas, de secas.
A região é banhada por grande número de rios temporários. Nos vales
desenvolve-se a pecuária.
O vaqueiro paraibano é uma figura típica da região.
Imbatível nas vaquejadas e nas argolinhas.
O RIO GRANDE
Em 1598, Manuel Mascarenhas Homem penetrou na foz do rio Potengi. Que
ele chamou de Rio Grande.
Fundou o forte dos Reis Magos. Mais tarde surgiu a cidade de Natal.
PREDOMINÂNCIA DO SANGUE ÍNDIO
Os holandeses ocuparam o atual território do Rio Grande do Norte por vinte
anos. Iam buscar sal em Mossoró e Macau.
Os estrangeiros não deixaram marcas na terra e nem na gente. Predominou o
sangue índio, o potiguar. Pois na região viviam muitas tribos, devido à
abundância de peixes e mariscos.
-- Página 185
TERRA DE MUITAS SECAS
O interior do Rio Grande do Norte sofre muitas secas. Como todo o
Nordeste. Daí a pobreza da terra e o êxodo da população.
Uma seca que ficou famosa foi a de 1877. A "Grande Seca". Outras vieram
depois.
OS PRIMEIROS POVOADORES CHEGAM AO CEARÁ
Antonio Cardoso de Barros deveria ter sido o colonizador do Ceará. Mas ao
vir para o Brasil sofreu um naufrágio, nas costas de Alagoas. Junto com o
bispo d. Pero Fernandes Sardinha foi devorado pelos índios caeté.
A terra passou então para Pero Coelho de Sousa, que fundou a Nova
Lusitania.
MORENO, O AMIGO DOS ÍNDIOS
Outro grande colonizador da terra foi Martim Soares Moreno. Homem que
se misturou aos índios. Ficava nu, pintava o corpo, falava a língua deles.
Foi Moreno quem ajudou a expulsar os franceses e holandeses do Ceará. O
Moreno que inspirou José de Alencar no romance "Iracema".
A CRIAÇÃO DE GADO
A presença do negro no Ceará foi muito pequena.
Lá não existiam canaviais. A grande fonte de riqueza da região era a
pecuária.
O índio adaptou-se à vida pastoril. E com seu cavalo participou da criação
de gado.
AS RIQUEZAS DA TERRA
O sol e o sal ajudam o Ceará a abastecer as regiões Nordeste e Central de
carne seca. A "carne do Ceará".
Outra riqueza da terra é a carnaúba, produzida em sessenta municípios.
O JANGADEIRO E O VAQUEIRO
Dois são os homens típicos do Ceará. O vaqueiro e o jangadeiro.
A jangada já faz parte da paisagem. O jangadeiro é cantado pelos poetas
cearenses.
Um desses poetas foi Juvenal Galeno.
Minha jangada de vela,
que vento queres levar?
Tu queres vento de terra
Um desses queres vento de mar?...
-- Página 186
Usos e costumes
POVOADOS DE JANGADEIROS
O jangadeiro vive da pesca. Navegando nas embarcações que os
portugueses trouxeram da Índia.
Apesar de ser uma atividade anti-econômica, subsiste até hoje.
OS AGRUPAMENTOS DE PESCADORES
A pesca é uma atividade de grupo. Os portos de jangada simbolizam grupos
humanos. Homens e famílias fixados nas praias cearences.
São milhares de cearenses espalhados em pequenos povoados.
Em meio à brancura das praias, destacam-se os telhados de palha das choças
de pescadores.
AS CRIANÇAS TOMAM CALDO DE PEIXE
Uma das primeiras comidas do filho do pescador é caldo de peixe.
Engrossado com farinha de mandioca ou de caju.
O povo conta como é a vida das crianças.
"Filho de pescador vem ao mundo e logo aprende que peixe e caju criam
gente forte e dura, no serviço do mar".
"Deus nunca esquece e nos dá força e inteligência. Filho de pescador nasce
com caju na mão para fazer mocororó, a bebida de nossa alegria.
OS JANGADEIROS COMEM CAJU
Dizem os jangadeiros que "Deus mandou o caju para que os pescadores não
passem fome como os matutos do sertão".
E o caju está presente em todos os pratos. Na tambança, o vinho de caju. No
canjirão, a castanha pilada e misturada com farinha de mandioca e mel de
caju.
O mocororó (suco fermentado de caju) é muito apreciado.
Eles comem também farinha de castanha de caju, angu de castanha, canjica
de maxixe (maxixe com coco).
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Para acompanhar o peixe frito fazem a farofa de melancia (suco da fruta
misturado com farinha de mandioca).
E o caju dá também o mel. Basta apurar o caldo no fogo até a consistência
de mel.
A comida dos mais pobres é o chibé. A rapadura raspada e misturada com
água e farinha de mandioca.
A HIERARQUIA ENTRE OS JANGADEIROS
Entre os pescadores existe muita disciplina e solidariedade. A hierarquia é
respeitada.
Existe o mestre, que manda na jangada. Depois o proeiro, o bico-de-proa e o
rebique.
A FUNÇÃO DE CADA UM
O mestre tem a função de dirigir a jangada. Seu posto é o banco-de-governo.
Ele está sempre lá. Quando vão mar adentro, na volta e mesmo durante as
pescarias.
O proeiro fica do lado da salgadeira. Recolhe o produto da pesca e coloca
no samburá. Quando é preciso, molha o pano com a cuia de vela. Assim o
impulso do vento é melhor aproveitado.
O bico-de-proa fica na frente da jangada. Contrabalança-a, quando preciso.
O rebique normalmente é um menino ou um velho.
O trabalho é o mais leve.
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Artesanato
MULHER RENDEIRA
A renda é o entrelaçamento de fios compondo um desenho, sem ter um
fundo de tecido.
Na execução da renda não se usa agulha e sim bilros.
A MODA DAS RENDAS
Na Europa a renda teve sua época de glória. Ficai famosas as vindas de
Milão e Bruges. Os padres emendavam essas rendas para seus trajes, as
noivas para seus vestidos.
No Brasil a renda chegou através das mulheres portuguesas. Onde houve
maior concentração de açorianos (Santa Catarina e Ceará) nota-se a presença
dos trabalhos em renda.
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A EXECUÇÃO
Sobre uma almofada é pregado o modelo de papelão.
O chamado cartão ou desenho. O papel é todo crivado de furos, onde se
espetam alfinetes.
À medida que a mulher vai tramando os fios, vai mudando os alfinetes.
A linha é enrolada em pequenos bilros de madeira.
OS BILROS
As rendas são dos mais variados tipos. Umas simples, outras mais
elaboradas.
No aprendizado as meninas começam a bater oito ou doze bilros. Suas
rendas são de desenho simples.
As rendeiras mais experientes trabalham com 32 bilros, outras com 64.
RENDAS DE TODOS OS TIPOS
As rendeiras fazem os mais variados trabalhos em renda. Entremeios,
ourelas, bicos, galões etc.
Mas as rendas também têm nomes. Variam de um município para outro.
As rendeiras dão os nomes de acordo com o lugar em que vivem. Palma de
coqueiro, aranha, siri.
As denominações também são tiradas dos pontos e desenhos. Caracol,
carocinho de arroz, flor de goiabeira, meia-lua, bico de pato, traça, barata,
estrada de ferro, margarida, tijolinho- etc.
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Bailado
A MARUJADA
A Marujada é um bailado popular muito antigo.
É a dramatização das lutas portuguesas, da tragédia que foi a conquista
marítima.
A REPRESENTAÇÃO DA VITÓRIA PORTUGUESA
No Brasil a Marujada recebeu várias denominações:
Maruja, Nau catarineta, Barca, Barquinha, Fragata, Fandango, Chegança de
mouros, Chegança de marujos.
Na Marujada nota-se a fusão de várias tradições portuguesas. As
representações rememoram a vitória sobre o mouro invasor.
É a reconquista. A comemoração da vitória do catolicismo sobre os
muçulmanos.
O LAMENTO DOS MARINHEIROS
A Marujada mostra os grandes feitos náuticos. Cantados pelos homens
simples, pescadores acostumados à luta no mar.
Os versos cantados são ora alegres, ora tristes. Os participantes se
apresentam em praça pública. Vários são os personagens: general, capitão
inglês, padre, rei mouro, infante do Marrocos, capitão-de-mar-e-guerra,
cristãos e mouros.
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Danças
O BAMBELÔ
O negro triste sofreu as amarguras da escravidão. E transformou sua dor em
canto e dança. Canções que alegram a vida de seus descendentes.
O JONGO DE PRAIA
Em Natal existe uma dança semelhante ao jongo paulista. É o Bambelô ou
Jongo-de-praia.
No verão de noite, as praias se enchem de dançadores de Bambelô.
Zabumba e outros instrumentos comandam o canto e a dança.
OS OUTROS NOMES DA DANÇA
Existem muitas danças semelhantes ao Bambelô. Mas os nomes variam de
uma região para outra.
Em Minas Gerais o jongo é o caxambu. Isso porque o instrumento principal
é um atabaque denominado caxambu.
No Rio Grande do Norte o Coco é chamado de Zambê. No Coco, no jongo e
no batuque existem muitos elementos comuns. Atabaques e chocalhos.
O SOLISTA DO BAMBELÔ
O solista do Bambelô dança em frente a uma dama.
Faz galanteios coreográficos. Ela responde gingando, movimentando o
corpo de acordo com a música.
Os dançantes ficam em semicírculo, ao lado do instrumental.
O solista entra canta o seu "ponto", dança e se retira.
O Bambelô continua, quente e cheio de ritmo.
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Artesanato
A JANGADA
A jangada veio da Ásia, daí seu nome: "xanga". Foi trazida pelo povoador
português, nos fins século 16.
A jangada adaptou-se perfeitamente ao Nordeste brasileiro. A plataforma
marítima e as condições de ventos ajudaram.
A CONSTRUÇÁO DA JANGADA
A frágil embarcação não usa pregos. É feita de madeira leve para ajudar a
flutuação.
Seis toros são usados. Duas mimburas, dois bordos dois paus do centro.
Está formado o piso.
Sobre o piso são colocados os outros elementos. O banco de vela, carninga,
salgadeira, banco de governo, calçador, espeque, calços da bolina, tolete,
forras, cavilhas, mastro e tranca.
Outras peças completam a jangada.
UM BARCO PARA PESCAR
A jangada é usada na pesca. Quando bem cuidada, pode durar cinco anos.
Sua capacidade depende do tamanho. Uma jangada de 39 palmos de
comprimento suporta com facilidade o peso de duas toneladas.
A jangada "boa de remo" é a que tem os bordos mais baixos e os do meio
mais altos. Entre os bordos e o meio a água passa com mais facilidade e ajuda
a velocidade.
O JANGADEIRO
Foram os primeiros brasileiros que se recusaram a transportar negros
escravos, vindos dos navios para serem vendidos como animais de trabalho.
Os jangadeiros são os heróis anônimos que a aparecem nas cantigas
populares.
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O trabalho
O PLANTIO DO ALGODÃO
O algodão é uma das melhores culturas para a recuperação agrícola do
polígono das secas. Uma fibra que não exige irrigação e é de fácil
comercialização.
O CULTIVO
Na cotonicultura pode se sentir a libertação econômica do Nordeste.
Dois tipos são cultivados. O algodão de fibra curta e o de fibra longa.
O algodão de fibra longa é conhecido como algodão A1mocó ou seridó.
Parece ser nativo do Nordeste, região onde é amplamente cultivado.
O ALGODÃO MOCÓ
O algodão mocó é o suporte econômico dos agricultores nordestinos. De
grandes proprietários e dos homens que plantam em terras arrendadas.
A plantação cobre as várzeas e baixios sertanejos.
Quase sempre associada com outras culturas. Feijão milho mandioca,
batata-doce, inhame.
A cultura do algodão no Nordeste tem a seu favor o calor, necessário para o
período vegetativo.
A SELEÇÃO DAS SEMENTES
Com a seleção das sementes evitou-se a hibridação.
Pois as fibras estavam encurtando e perdendo suas qualidades
Além disso, a aceitação aumentou. Tanto na indústria nacional como na
estrangeira.
-- Página 194
0 trabalho
AS SALINAS DO RIO GRANDE
A indústria salineira é uma das mais antigas do Brasil. Durante séculos o
monopólio do sal esteve nas mãos dos portugueses.
Foi só depois do século 17 que a indústria tomou impulso
CENTROSPRODUTORES
O Rio Grande do Norte é o maior centro brasileiro produtor de sal.
As grandes salinas situam-se em Macau, Mossoró, Açu e Areia Branca. A
área de cristalização ultrapassa os 6 milhões de metros quadrados.
OS FATORES QUE AJUDAM A SALINAÇÃO
A salinação é favorecida por inúmeros fatores. A costas planas e baixas. A
temperatura média constante, de 25o a 32oC.
Outros fatores importantes são: a umidade média de 82% e os ventos
constantes.
A INDÚSTRIA SALINEIRA
A água do mar entra naturalmente pela maré ou através de bombas movidas
por moinhos de vento. É depositada em grandes recipientes naturais, os
"baldes". São os cristalizadores.
A água depositada, depois de um tempo, muda de cor. De vermelho para
um tom violáceo, depois branco.
A água se evapora. No fundo dos "baldes" ficam apenas os cristais.
Antigamente o transporte do sal era feito por homens.
Hoje a indústria salineira está mecanizada.
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OS ENGENHOS DE RAPADURA
No Ceará, a maior concentração de engenhos de rapadura de
cana-de-açúcar encontra-se nos oásis dos Cariris Novos. Barbalha é a "capital
da rapadura".
Ainda hoje existem os pequenos banguês (os engenhos primitivos), onde se
produz a rapadura. O alimento que não falta nas mesas cearenses.
CAMBITEIROS
Ao lado dos engenhos aparecem as figuras típicas dos canaviais nordestinos.
Agregado, mestre de rapadura, metedor de cana, tirador de bagaço, metedor
de fogo, comboieiros e cambiteiros.
Os cambiteiros são dois: o "de cana", que traz a cana para as moendas. E o
"cambiteiro de olhos", que transporta em seus jumentos as pontas de cana
para a alimentação do gado, dos animais.
OS PRODUTOS DO AÇÚCAR
Comboieiros e cambiteiros são os descendentes de antigos escravos. Mas a
etnia e a cor da pele já se diluíram na população, formando um tipo distinto.
Esse tipo é o cearense. O brasileiro que gosta da garapa, do rolete de cana,
do alfenim, da rapadura quente do mel de engenho.
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Recreação
O JOGO DAS ARGOLINHAS
O jogo argolinhas tem origens portuguesas. Apareceu no Brasil no século
16, faz parte da cavalhada.
O QUE É O JOGO
Pendurada em trave , ou em um poste enfeitado, é colocado uma argolinha
enfeitada com fitas.
Os cavaleiros têm de retirar a argolinha com a ponta da lança no momento
em que o cavalo passa debaixo do poste.
Em seguida o cavaleiro oferece à amada ou a alguma jovem da assistência a
argolinha conseguida.
A CAVALHADA TEATRAL
No BRASIL existem três tipos de cavalhada. A teatral, a sério- burlesca e a
religiosa.
Só um tipo desapareceu por completo: a sério-burlesca.
A cavalhada teatral mostra grande influência portuguesa Apresenta uma parte
dramática e outra de jogos
Na parte dramática são revividas as lutas entre cristãos e mouros.
A parte de jogos exige habilidade. Espetar máscaras com espadas.
Arremessar alcanzias (bolas de barro cheias de flores) para as namoradas. E
correr argolinhas.
Muitos casamentos surgiram na Paraíba e noutras partes do Brasil com a
entrega da argolinha à amada.
-- Página 197
Usos e costumes
LITERATURA DE CORDEL
As feiras nordestinas são comuns as bancas que vendem pequenos livros
São histórias escritas em prosa e verso contando aventuras ou romances.
Os livros aparecem nas portas das lojas em barbantes, suspensos em cordéis.
FOLHETOS, ROMANCES E HISTÓRIAS
A literatura de cordel é classificada pelos seus vendedores em três grupos.
Os folhetos são os livro de oito páginas ou 24 páginas. E as histórias, de 32 a
48 páginas.
Os assuntos são os mais variados: desafios, histórias ligadas à religião, ritos
ou cerimônia. Pornografia, fatos locais temas da literatura e história universal
ou banditismo.
O VENDEDOR
A feira nordestina é o ponto de encontro semanal da população rural.
Lá aparecem os vendedores de folhetos, literatura de cordel.
Eles abrem sobre uma esteira ou caixote um amontoado de livros. Escolhem
um e começam a declamar
versos.
As pessoas rodeiam o vendedor e ouvem a história.
Quando está chegando ao final ele pára e oferece aos presentes o livrinho.
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Devoção
EX-VOTOS
No meio rural brasileiro é comum as pessoas procurarem no sobrenatural a
resolução de seus problemas. Os milagres são procurados através de
entidades, como os santos.
Para retribuir o milagre recebido, costumam oferecer elementos materiais:
os ex-votos.
A EXPOSIÇÃO DAS PROMESSAS
O ex-voto pode ser um quadro, uma imagem, um desenho, uma escultura,
uma fotografia, uma peça de roupa, uma jóia, uma fita, uma mecha de cabelo
etc.
Essas peças são expostas nas capelas, igrejas ou salas de milagres como um
agradecimento pelo pedido alcançado.
No Sul o ex-voto é chamado de promessa. No Norte e Nordeste de milagre.
À ESPERA DO MILAGRE
Dentre os males que afligem o homem, a doença é um dos mais comuns.
E para muitas pessoas, a doença é causada pela introdução de um corpo
estranho. Sua expulsão, portanto, necessita de uma fórmula mágica.
A promessa é uma fórmula mágica.
OS SANTOS
O restabelecimento da saúde é procurado por todos os meios. Quando as
dificuldades econômicas impedem a cura, através da ciência, a solução é
procurar o sobrenatural. Os santos.
Existem até santos "especializados" na cura de determinadas moléstias. São
Sebastião cura feridas, São Roque a peste. São Braz os engasgos e dor de
garganta, Santa Luzia, as doenças da vista.
Os fiéis normalmente esculpem em madeira a peça do corpo curada pelo
santo. Como nem sempre têm dinheiro, as esculturas mais comuns são as de
madeira.
-- Página 199
Capítulo XIV
PARÁ - AMAPÁ
O Estado do Pará tem sua economia baseada na agricultura e na criação de
gado.
Está situado em plena zona equatorial. Tem 2.197.072 habitantes (dados
antigos) e uma área de 1.227.530 km2. Oitenta e sete por cento da superfície
está situada na floresta amazônica, o restante em campos e cerrados.
Lá vivem vários grupos indígenas. O Pará foi uma região cobiçada por
ingleses e holandeses, que começaram a ocupação do território e chegaram
até os rios Tapajós e Xingu. Desenvolveu-se no período áureo da borracha.
O Território do Amapá também foi terra cobiçada por estrangeiros. Fazia
parte do Pará, do qual foi desmembrado há poucos anos. Tem 140.276 km2 e
116.480 habitantes (dados antigos). As principais atividades são a agricultura
e a criação de gado. Na Região Sul é feita a exploração da borracha, madeira
e castanha-do-pará. Neste capítulo, algo das histórias, costumes e lendas do
Pará e do Amapá.
-- Página 200
O homem e a terra
OS PARAENSES E AMAPAENSES
A ocupação do delta amazônico foi iniciada por estrangeiros. Primeiro
vieram os franceses e holandeses. Estabeleceram feitorias e pequenos
estabelecimentos comerciais indo até o Xingu e Tapajós.
OS PORTUGUESES TOMAM POSSE
Em 1616 o capitão português Francisco Caldeira de Castelo Branco lançava
os fundamentos de um forte, o Presépio. Seria a futura cidade de Belém.
Mas os habitantes da região, os índios, não receberam bem os portugueses.
Resistiram à ocupação.
Também os estrangeiros não queriam abandonar a terra. Foram precisos
mais de trinta anos de lutas.
No século 18 chegaram os açorianos. A população aumenta. Além dos
portugueses miscigenados com o índio, esta última leva de povoadores vai
formando os paraenses.
OS ESTRANGEIROS NO AMAPÁ
Toda a costa ao norte de Belém, pelo Tratado de Tordesilhas, pertencia à
Espanha. Franceses, ingleses e holandeses cobiçavam aquelas terras.
Conseguiram concessões de ocupação, dadas pelos governos português e
espanhol.
Aos poucos a terra foi sendo povoada. Os estrangeiros comerciavam.
Chegaram a plantar cana e tabaco. Por meio de tratados internacionais os
portugueses conseguiram a posse da. região. Para garantir, construíram um
forte em Macapá.
Era preciso povoar a terra. Nos fins do século 18 chegavam casais de
açorianos. Logo depois, famílias de Mazagão (África), para se instalar em
Nova Mazagão.
Aos poucos vai sendo formado o povo amapaense.
-- Página 201
O trabalho
O CASTANHEIRO
No Baixo Amazonas, Estado do Pará, é abundante a presença de uma árvore
muito alta. A "bertholletia excelsea", nome científico do castanheiro-do-pará.
A castanha dá dentro de uma carapaça chamada ouriço. O homem não sobe
na árvore. Espera os frutos amadurecerem. O ouriço cai e o homem vai à cata
dele.
O castanheiro carrega no paneiro um cesto que leva nas costas.
O PERÍODO DA COLETA
A coleta tem início na ocasião das cheias. Ao contrário do seringueiro, que
só trabalha nas secas. Nessa época o castanheiro está descansando.
O QUEDA DOS OURIÇOS
O vento balança os galhos do castanheiro. Os ouriços, já maduros, começam
a cair.
O castanheiro arma a sua barraca perto. Mas não muito próximo à árvore.
Um ouriço, quando cai na cabeça de um homem, pode até matar.
Cada ouriço contém de doze a vinte castanhas. O castanheiro retira os frutos
dos ouriços. Depois leva, em barcos, até o barracão do proprietário do
castanhal.
Um pé de castanheiro-do-pará pode produzir cerca de quinhentos quilos de
castanhas por ano. A árvore alcança cinqüenta metros de altura. Tem em
média vinte metros.
-- Página 202
O trabalho
O BÚFALO DE MARAJÓ
Nos primeiros anos de colonização foi introduzido, na ilha de Marajó, o
gado vacum. A alimentação abundante engordou o gado e aumentou o
número de cabeças.
A CHEGADA DOS BÚFALOS
Conta-se que nos fins do século passado um navio levava para um país
vizinho alguns casais de búfalos indianos.
O navio naufragou perto da foz do Amazonas. Alguns animais conseguiram
sobreviver. Nadando chegaram até a ilha de Marajó.
Os sobreviventes cresceram, se multiplicaram. Os fazendeiros de Marajó
perceberam como eram mais resistentes do que o gado vacum. Os búfalos se
aclimataram na ilha.
Logo, mais zebus indianos foram levados para a região. Cruzados com o
gado vacum existente, resultado foi excelente.
O VAQUEIRO CAVALGA NA ÁGUA
Os fazendeiros constróem suas casas nos lugares altos e firmes. Usam
acupu, uma madeira que leva séculos para apodrecer.
Os vaqueiros de Marajó são caboclos. Mestiços índios e brancos. Usam
chapéu de palha, de copa redonda e abas largas. Forram a copa com folhas
para se proteger do sol forte e da chuva. Suas roupas são simples. Camisa e
calça, próprias para o clima quente.
No inverno começa a enchente. Na ilha os homens cavalgam o boi-de-sela,
mais vagaroso. Mas só conseguem cavalgar com água pelo peito.
-- Página 203
O trabalho
O ARPOADOR DE JACARÉ
A ilha de Marajó é o grande centro de criação de gado da linha equatorial.
O pasto, natural e abundante, auxilia a criação de bovinos e búfalos. As
enchentes e os jacarés são os dois inimigos dos criadores.
AS ENCHENTES
As enchentes nos terrenos baixos exigem o transporte dos animais para
lugares mais altos. Às vezes eles são colocados em marombas, verdadeiros
jiraus bem suspensos. Armações que protegem os bois e búfalos dos peixes
(principalmente as piranhas) e dos jacarés.
Os vaqueiros levam para as marombas a alimentação.
CAÇADA AOS JACARÉS
É a outra praga das criações. Abocanham os bezerros e causam estragos.
Para lutar contra os jacarés, os fazendeiros ajustam os arpoadores. Caboclos
com prática de lançar o arpão. Como na pesca do pirarucu, é lançado de cima
das canoas ou das margens das lagoas.
Morto o jacaré, retiram seu couro para vender. Com o uso das armas, o
arpoador está se tornando figura folclórica.
-- Página 204
Artesanato
CERÂMICA MARAJOARA
Vários estudiosos têm pesquisado as peças enterradas na foz do Amazonas,
ao longo do rio ou no interior da Amazônia.
Procuram desvendar a vida dos povos que ali habitaram.
OS DIFERENTES ESTILOS
As peças que têm despertado maior interesse são as da ilha de Marajó.
As escavações feitas no interior da ilha mostraram estilos diferentes,
classificados em fases.
A cerâmica da fase Arranatuba é a mais antiga. As peças são duras e lisas. A
cor varia do castanho ao amarelado.
Tigelas pequenas decoradas por linhas paralelas são as peças mais comuns
da fase Mangueiras. A cerâmica da fase Formiga é vermelho-acinzentado. A
fase Aruã é simples e pouco decorada.
A CERÂMICA DE SANTARÉM
Tem sido estudada na calha do rio Amazonas. É o que restou da tribo dos
tapajó, exterminada no século 18.
A cerâmica de Santarém é a arte tapajônica. Representa alguns animais da
fauna ambiente.
Apresentam vasos de gargalo com desenhos geométricos. Vasos de gargalo
e cariátides (meio corpo de homem ou de mulher sustentando a parte superior
do vaso). E vasos com formas de animais e pássaros.
-- Página 205
O homem
OS ÍNDIOS PALICUR
Na área cultural indígena Norte-Amazonas, na subárea do Amapá, vivem os
índios palicur.
Suas aldeias surgem nas margens dos afluentes do Oiapoque.
Estão mais ou menos integrados na civilização. Continuaram a viver em
aldeias formadas por vinte a trinta pessoas.
A VIDA DA TRIBO
Os palicur moram em malocas de formato arredondado. Cultivam a
mandioca, um dos alimentos fundamentais.
Fazem cerâmica e tecem redes de fibras de tucum (espécie de palmeira) e
algodão. Usam arcos e flechas.
A língua dos palicur é do grupo aruaque.
OS TRABALHOS COM PLUMAS
Os palicur são muito caprichosos nos trabalhos com plumas.
O cocar dos dias festivos tem arremate cuidadoso.
A disposição e combinação das cores é perfeita. As plumas são escolhidas
cuidadosamente.
-- Página 206
Folguedo
A FESTA DOS PÁSSAROS
Em junho chega o frio e começam os folguedos de inverno. Os pássaros,
festa de crianças e de adolescentes.
São pequenos dramas musicados misto de bailados. Representam uma
caçada. A morte e a ressurreição de um pássaro. Ou então de um animal do
mato.
-- Página 207
UM ANIMAL DE ESTIMAÇÃO
O caçador mata o pássaro. Mas a ave era animal de estimação de sua amada.
Em dificuldades,. o caçador só encontra uma solução: conseguir a
ressurreição do pássaro.
As jovens vestem-se com riqueza. Penachos e cocares coloridos. A ave que
vai morrer Normalmente é uma criança. A mais bem vestida de todas.
AS BELAS AVES PARAENSES
Os pássaros representados são os da fauna paraense. Japim, periquito,
uirapuru.
Também apareceram os animais domésticos: gato, galo. Ou então caça.
Caititu e quati são comuns.
Por isso existe uma variação das danças. É o Cordão de Bichos.
O RESSURREIÇÃO DO PÁSSARO
Os pássaros mostram sua origem indígena no uso das plumas. Os
participantes enfeitam-se com penas coloridas, com arco e flecha.
A arma do caçador, a arma assassina, é ricamente enfeitada. Alguns
componentes do grupo usam bastões com penas coloridas.
Em alguns pássaros um personagem faz os gestos mágicos que produzem a
ressurreição. Fantasiado, parece-se muito com o pajé indígena.
-- Página 208
Usos e costumes
O LEQUE DE PATEXULI
No século 15 os navegantes procuravam um caminho para as Índias.
Descobriram o Novo Mundo.
Buscavam especiarias. Os navios transportavam uma carga preciosa: cravo,
canela, noz-moscada, incenso, sândalo e mirra.
Até que Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil. Uma de terra sem
especiarias e sem condimentos, tão procurados na Europa.
AS DROGAS DO SERTÃO
Os portugueses entraram Amazonas a dentro. Encontraram as drogas do
sertão. Descobriram a canela. E muitas drogas medicinais, como guaraná, ou
alimentícias, como o cacau.
Por mais que buscassem não encontraram o incenso e a mirra. Duas
oferendas de crentes e fiéis de religiões milenares.
AS ERVAS E PERFUMES
Os portugueses descobriram ervas para os banhos de cheiro, para lavar o
corpo e a alma. Manacá, malva-rosa, arruda, golfo, manjerona, jurema,
sucupira branca. Alfazema e alecrim. Mas a mais importante foi o patexuli.
É o sândalo brasileiro. Tão perfumado que com ela se faz um leque. Basta
se abanar para sentir o perfume. Um perfume macio e gostoso.
-- Página 209
Artesanato
CUIA DE TACACÁ
A cuia é feita para servir o tacacá e o tucupi. Pratos típicos do Pará.
É um objeto feito com a cabaça. Depois de seca, ela é entalhada e pintada.
As decorações variam, sempre coloridas.
AS INFLUÊNCIAS NA ALIMENTAÇÃO
Na Bahia e no Recife é grande a influência negra na alimentação e culinária.
No Sul, a influência européia. E na Amazônia, a indígena.
A pimenta é condimento dos mais usados. No peixe, cozido com pimenta e
sal, de onde se retira o caldo para fazer pirão.
PREPARAÇÃO DO TUCUPI
Dos indígenas a culinária paraense aprendeu a preparar o tacacá. Para comer
com peixe, carne, ave.
É um mingau de tapioca, temperado com camarão, pimenta e tucupi.
O tucupi é o molho retirado da mandioca fresca. Ela é ralada, prensada e o
sumo é levado ao fogo.
Com o aquecimento, o veneno evapora. O líquido ferve, toma a cor
dourada. Fica consistente como mel.
É com o tucupi que se rega um dos pratos mais conhecidos do Pará: pato no
tucupi.
-- Página 210
O homem
OS TIRIIÓ
Vários são os subgrupos indígenas chamados de tiriió. Vivem na área
cultural do Norte-Amazonas, da subdivisão Norte-Pará.
Os pianocotó-tiriió vivem no Extremo-Norte do Estado do Pará, ao sul do
Suriname.
São índios pacíficos, já aculturados. Não se assustam com o ronco dos
aviões. O barulho é constante, de aviões do Correio Aéreo Nacional e da
Força. Aérea Brasileira.
A PRQCURA DA CAÇA E PESCA
Os pianocotó-tiriió pertencem ao grupo lingüístico caribe. São joviais.
Vivem em harmonia com as demais tribos da região. A caça é abundante e as
disputas são desnecessárias.
São índios coletores, como os aragomoto, seus irmãos.
Por ocasião da fartura de alimentos, realizam a festa dos coletores "uanano".
A aldeia divide-se em grupos. Saem em canoas feitas de casca de árvore, as
"pupa" Dormem ao longo do rio, caçam e pescam.
A volta é festiva. Cantam, dançam, tocam buzinas feitas com casca de
árvore.
HOMENS E MULHERES ENFEITADOS
Na região onde moram os tiriió existem os mais belos exemplares de
pássaros da América do Sul.
-- Página 211
Os cocares são ricos. São os "tixamaxama". O mais bonito, usado nos dias
de festa, é feito com penas de tucano.
Nos dias comuns ornamentam o braço com uma enorme pena de arara-
piranga (vermelha). Pintam o corpo e o resto com uma resina preta.
Todos se enfeitam, até mesmo as crianças. Os homens adultos ornamentam-se
mais do que as mulheres.
Usam colares de miçangas no pescoço, no braço e na cintura.
As mulheres furam o septo nasal e enfeitam-no com um pauzinho.
Homens e mulheres usam uma espécie de tanga de algodão, bem colorida,
em geral vermelha.
A ALIMENTAÇÃO
Os tiriió plantam mandioca, cana-de-açúcar, banana.
Sua alimentação básica é a caça de porcos-do-mato e jabutis.
Usam o moquém (uma grelha feita com varas para assar carnes e peixes).
Defumam a carne de porco-do-mato. Ela fica bem dura e pode ser guardada
por muito tempo.
Com a mandioca fazem bebidas. E a banana comem assada, às vezes
misturada com mel silvestre.
O CASAMENTO
Os tirüó casam-se cedo. As mulheres com treze ou quatorze anos. Os
homens aos quinze ou dezesseis anos.
Só o cacique tem direito de ser polígamo. Pode ter três esposas.
Para as mulheres, é uma honra ser escolhida pelo chefe. E todas vivem em
harmonia.
Os casais se tratam com muito carinho. As mulheres cuidam dos filhos.
Carregam-nos nas costas, presos por uma faixa de algodão segura na cabeça
da mãe.
Os homens carregam grandes cestos de palha nas costas, presos por uma
alça na cabeça.
-- Página 212
Artesanato
AS BLUSAS DE MARAJÓ
O vaqueiro do Marajó não tem a imponência do campeiro gaúcho. E nem as
vestes resistentes do vaqueiro nordestino. Ou então a indumentária caprichada
do boiadeiro do Centro-Oeste.
Suas roupas são simples e leves.
AS ROUPAS DO VAQUEIRO
A planície imensa fica encharcada de água por longo espaço de tempo. O
fazendeiro pouco visita o pasto.
Os cuidados ficam a cargo do vaqueiro. O fazendeiro raramente chega até o
teso (parte alta do terreno que fica acima do nível das águas). O vaqueiro é
um assalariado. Homem modesto, suas roupas refletem a sua simplicidade.
A CAMISA PRÓPRIA PARA O CALOR
Um outro fato faz com que o vaqueiro marajoara use roupas simples. É o
clima da região. O calor não permite roupas pesadas. Exige trajes que
facilitem os movimentos e a transpiração.
Além do chapéu de palha e da calça de cor clara, o que mais se distingue é a
camisa. É a camisa que mostra a classe do vaqueiro de Marajó. Ela é
bordada. A fazenda é leve, artisticamente trabalhada. Verdadeira peça de arte
e de bom gosto.
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O homem
OS OIANA
No Extremo-Norte do Brasil, no Território do Amapá, vivem os oiana.
Deslocam-se do nosso território e chegam na Guiana Francesa. Ignoram as
fronteiras.
Os oiana são pacíficos. Há muito tempo estão em contato com a civilização.
Continuam a falar a sua língua.
Usam artigos europeus, presente do homem civilizado ou produto de trocas.
Não perderam algumas práticas e costumes tribais.
A PROVA DE RESISTÊNCIA À DOR
Os oiana praticam o "maraqué". É um ritual que o índio repete por sete
vezes durante toda a sua vida.
Usam trajes festivos, com muitos enfeites de plumagem.
O ritual é uma prova para o índio verificar sua resistência à dor. Uma forma
de autodomínio. Prendem formigas numa rede. Depois colocam-nas nas
costas do índio. As picadas são como brasa viva. O índio deve ficar imóvel.
Nenhum movimento do corpo, nenhuma contração de músculos. Nada que
possa revelar a dor.
A prova é terrível. Mas para eles é uma festa. Uma festa que se repetirá sete
vezes.
OS ENFEITES
Como enfeite, os oiana usam também contas de vidro, plumagens, miçangas
e trançados coloridos nos braços.
As mulheres são sóbrias no uso de enfeites. Alguns saiotes de algodão,
presente dos missionários e dos civilizados.
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Devoção
CÍRIOS DE NAZARÉ
A festa teve origem no século 18. Um escravo de nome Plácido encontrou
no rio uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré. Levou a imagem para sua
casa. Os devotos aumentaram, os milagres se espalharam. Uma capelinha foi
erguida. Mais tarde surgiu a imponente Basílica.
A PROCISSÃO DA VÉSPERA
Todos os anos, no segundo domingo de outubro, os devotos vão para Belém
do Pará. São milhares, vindos de todos os cantos da Amazônia.
Quinze dias antes a população já se prepara para a festa. No sábado à noite
começa a procissão. Todos carregam velas, tochas, círios acesos.
Na frente do cortejo vai um carro que representa uma fortaleza. Daí saem
fogos de artifício. Seguem-se os "anjinhos" e por fim o carro dos milagres,
coletando as promessas.
A FESTA DO DOMINGO
Nas primeiras horas da manhã os devotos levam a imagem para a Basílica.
A santa segue no último carro, isolado por uma corda segura por homens e
mulheres descalços.
Ao meio-dia a imagem é colocada no altar-mor. O povo se dispersa. Nas
casas, a festa continua: vatapá, caranguejo, tacacá, tucupi e outros pratos
típicos.
-- Página 215
Capítulo XIII
MARANHÃO - PIAUf
O Maranhão ocupa uma área de 324.616 kmquadrados distribuídos entre
florestas, campos e cerrados. Tem 3.037.135 habitantes e sua capital é São
Luís. O arroz é o principal produto de exportação do Estado, ficando
o babaçu em segundo luga. Normalmente as roças de arroz fixam-se em meio
aos babaçuais. A carnaúba é outro importante produto extrativo, explorada no
vale do rio Parnaíba.
O Piauí tem sua economia baseada na agricultura e na pecuária. Também
exporta babaçu e cera de carnaúba. Além disso desenvolve grandes culturas
de arroz, algodão, feijão, mandioca e milho. Tem 1.734.865 habitantes e
ocupa uma área de 250.934 Km quadrados. Neste capítulo apresentamos os
costumes , as histórias e as lendas dos Estados do Maranhão e Piauí.
-- Página 216
A terra e o homem
O PIAUI E O MARANHÃO
O Piauí é um dos Estados mais secos do Brasil.
Nas áreas úmidas planta-se o babaçu e a carnaúba.
Ele nasceu das fazendas de gado do interior. E sua maior riqueza ainda é a
pecuária.
O vaqueiro do Piauí simboliza bem a civilização do couro. Seus trajes são
semelhantes aos do vaqueiro nordestino.
A TERRA DAS PALMEIRAS
O Maranhão pode se considerar um Estado de localização privilegiada. Está
situado entre a Amazônia e o Nordeste. Numa região onde não sofre
enchentes ou secas.
É a terra das palmeiras: buritis, carnaúbas e babaçus.
O Estado pode ser dividido em duas regiões. Uma, perto do Piauí, zona de
cerrados e babaçuais. Outra, a Guiana Maranhense, parte da floresta
amazônica.
LIBERDADE PARA OS NEGROS
Com o plantio do algodão muitos negros foram levados para o Maranhão.
Eles foram um dos primeiros a querer a liberdade. Tanto assim que em 1709
já existiam quilombos por lá.
Também foi um maranhense quem primeiro se preocupou com o estudo da
medicina legal. Raimundo Nina Rodrigues é inclusive considerado como o pai
da antropologia e medicina legal brasileiras.
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A COBIÇA DOS ESTRANGEIROS
Primeiro foram os franceses. Chegaram na região e se instalaram. Daniel de
La Touche, senhor de La Ravardière fundou a cidade de São Luís.
Mais tarde vieram os holandeses, expulsos em 1644.
A QUITUTEIRA DE SÃO LUÍS
De noite, em São Luís, aparecem as quituteiras. Cada uma com sua mesa e
candeeiro.
Se tiver peixe frito, penduram uma bandeirinha vermelha.
E o que se encontra para comer? Casquinhas de caranguejo com farinha
d'água, frigideira de camarão, arroz-de-cuxá (o grande prato maranhense).
Como sobremesa, queijo e doce de bacuri, capuaçu e murici.
AS BALSAS DO RIO PARNAÍBA
O rio Parnaíba recebeu esse nome de Domingos Jorge Velho da cidade
paulista onde ele nasceu. É a divisa natural entre o Piauí e o Maranhão.
Há muito tempo que os habitantes da região fabricam um tipo de
embarcação especial, as balsas.
Elas servem para transportar mercadorias, os produtos da terra. Também
são usadas como moradia. As balsas são diferentes das jangadas. A jangada é
lavada pelas águas. A balsa não. Ela fica com o piso a um metro acima do
nível das águas.
A FABRICAÇÃO DAS EMBARCAÇÕES
O assoalho da balsa é preparado com feixes de talos e folhas de buriti.
Depois os feixes são amarrados com cipó.
Pronto, o assoalho mede cinco por dez metros. Carrega até duas toneladas
de peso.
Sobre a balsa é construída uma pequena casa de palha. Serve de moradia
durante as travessias.
A balsa é movimentada por remos ou varas. Transportam fardos de algodão,
sacos de feijão, arroz, farinha de mandioca, couro seco e charque.
No fim da viagem a mercadoria é entregue e a balsa é vendida.
Normalmente voltam a cavalo para o ponto de partida da viagem.
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O trabalho
A carnaúba é a palmeira de muitos usos. Ela dá ao homem a cera, a
madeira, a palha.
Há muito tempo que se faz a extração da cera. Hoje ela é retirada através de
métodos modernos.
A PREPARAÇÃO DA PALHA
Com o aparecimento das máquinas para extrair a cera, praticamente
terminou o artesanato da palha: chapéus, bolsas etc.
Esse tipo de trabalho sobrevive apenas nas regiões onde a cera ainda é
retirada de maneira primitiva.
As folhas são cortadas e depois expostas ao sol. Ficam secando durante
cinco dias.
Depois de seca, a palha é levada para um depósito.
Com uma faca derruba-se o pó e depois bate-se a palha.
O depósito é um quarto sem janelas, livre de correntes de ar, para que o pó
não se perca com o vento.
A CERA
O pó retirado é levado a um tacho com um pouco de água. Com o
cozimento se conseguem vários tipos de cera.
Depois de cozida, a cera é passada numa prensa de compressão manual. Em
seguida, é colocada em pequenas vasilhas, distribuídas em caixotes e enviadas
para as indústrias. O trabalho mais difícil e pesado do carnaubal é a derrubada
da palha. Ele é feito por milheiro.
O corte é feito com a taboca (bambu). É uma vara que chega a ter quarenta
palmos de comprimento.
O tamanho depende dá altura da palmeira.
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O BABAÇU
O Maranhão é a terra das palmeiras. De todas a mais importante é o babaçii
Uma das riquezas do Estado, apelidada de "a mina vegetal de ouro".
A INDUSTRIALIZAÇÃO DO COCO
O babaçu cobre os terrenos maranhense.
É uma plantação que só dá dinheiro quando a primeira fase de
industrialização do babaçu se desenvolve perto dos babaçuais.
A quebra de coco ainda é feita por processo manual. No trabalho nem todas
as amêndoas saem perfeitas.
Uma vez mac uca a, não resiste a viagens longas. Acaba estragando. Por isso
o ideal ainda é iniciar aindustrialização nos próprios babaçuais onde se faz a
coleta.
A QUEBRA DO COCO
O colhedor de babaçu carrega os coquilhos num cesto ou caçuá. Despeja-os
próximo do rancho onde mora.
Aí, ou então à sombra das palmeiras, começa o trabalho. Com um macete
de maãeira dura ajeita o coquilho sobre uma pedra. Com o pau quebra uma
noz dura. Retira as amêndoas e abandona a casca.
De cem quilos de coco quebrado obtém-se de oito a dez quilos de
amêndoas.
Geralmente o trabalho é feito pelas mulheres, enquanto os maridos cuidam
do arrozal.
O óleo retirado do babaçu é usado na alimentação, na fabricação de
margarina, sabonetes e também em motores.
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ARTESANATO
A VAIDADE DO CANGACEIRO
Os cangaceiros eram homens vaidosos. Nos dedos usavam vários anéis. Nas
correntinhas, o santo de sua proteção, figas e amuletos protetores.
E os dentes? Coroas de ouro enfeitavam os dentes da frente.
O chapéu era enfeitado com estrelas, signos de Salomão.
Nos cabelos mal lavados, muita brilhantina perfumada.
A água era pouca na região e os corpos sempre suados. Suados e
perfumados com água-de-cheiro.
OS EMBORNAIS BORDADOS
O cangaço passou a usar uma peça que era muitocomum no interior do
Piauí: os embornais bordados.
As mulheres bordavam bordavam em Panos grosseiros. Sacos
de açúcar ou de farinha. Bordados delicados, de muitas cores e desenhos
variados.
Como os cangaceiros gostavam de usar bolsas de se enfeitar, passaram a
usar bolsas a tiracolo. Os embornais bordados.
-- Página 221
Artesanato
SÃO LUÍS, CIDAD0E DOS AZULEJOS
São Luís do Maranhão, a "cidade dos azulejos".Nos velhos sobradões, a
fachada mostra azulejos portugueses, obra de artesanato. Desenhados um a
um.
O ARTESANATO E A POESIA
Os azulejos foram cantados pelos poetas maranhenses. Um deles foi Carlos
Cunha, em "Canção sem rima para uma ilha":
"Sou velha e moça ao mesmo tempo,
pois nasci ontem e continuo
hoje tão bela qual uma estrela.
Fui descoberta por portugueses.
Franceses dominaram-me o coração
e hoje pertenço integralmente
a brasileiros. Canhões antigos
cantam hinos e glórias
nas minhas praias mescladas
de cinza e de azul. As minhas igrejas
cantam hosanas seculares
e dos seus musgos
escorrem aleluias de um passado
que será perpétuo e que será perene.
Ainda há, em minhas ruas, a musicalidade
dos bondes arrastados por burricos
solenes e tardos.
Nas minhas noites de lua cheia
passeiam lendas pelas minhas calçadas,
subindo e descendo as minhas ladeiras!
Eu sou o passado em harmonia ,com o presente,
Eu sou a tradição em luta com os costumes modernos.
Eu sou o país dos azulejos, a catedral dos vitrais,
a cidade dos sonhos, o reino da poesia.
Eu me chamo São Luís."
-- Página 222
Bailado
BUMBA-MEU-BOI
-- Página 223
O Bumba-meu-boi nasceu; provavelmente, no Maranhão. É um pequeno
pequeno drama. O dono do boi, um homem branco, vê um homem negro
roubar o animal. Porque sua mulher, grávida, está com vontade de comer
língua de boi.
Matam o boi. Mas depois é preciso ressuscitá-lo. Essa é tarefa do pajé.
OS TRÊS TIPOS
O Bumba-meu-boi é dividido em três categorias. O Boi-de-matraca, o Boi-
e-ilha e o Boi-de-orquestra.
O mais expressivo é o Boi-de-matraca, onde todos os acompanhantes
participam, batendo pares de tabuinhas. De longe pode-se ouvir o baruIho. A
matraca, os grandes pandeiros, os chocalhos e a cantoria. O Boi-de-ilha é o de
Zabumba. É acompanhado por atabaques e tantans. É mais lento, de
acentuado sabor africano.
O Boi-de-orquestra apresenta influências modernas, não é tão puro.
SÃO PREPARADOS COM ANTECEDÊNCIA
O Bumba-meu-boi do Maranhão é o mais rico de todo o Brasil. Os
brincantes passam o ano todo preparando as vestes para os festejos. O mês é
junho. No traje típico do "vaqueiro do boi maranhense" nota-se a influência
das três etnias. As calças brancas mostram a influência do branco, a roupa dos
antigos fazendeiros.
O saiote ou bata e o chocalho metálìco mostram a influência do escravo. O
índio aparece nas penas e na seta tupi.
OS DIVERSOS PERSONAGENS
O Bumba-meu-boi é um auto popular com muitos personagens. Os nomes
variam de região para região. Calu, Pai Francisco, Boi, Cavalinho, Cavalo-
marinho, Birico, Burrinha, Doutor, Mateus, Ema, Cazumba Urubu, Garça.
Os cantadores improvisam, auxiliados pelos assistentes. Os vaqueiros não
saem de cena, até que a festa tenha terminado.
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O homem
A TRIBO URUBU-CAAPOR
Na área cultural indígena Pindaré-Gurupi vivem, muitos índios. Os amanaié
guajajara, tembé, 0turiuara. Lá estão também os urubus-caapor.
Estão em contato com o homem civilizado que vive da coleta do babaçu.
A VIDA NA MATA
Os urubu-caapor foram pacificados em 1928. Mas ainda continuam um
pouco arredios.
São índios da mata. Diferem dos guajá, que são nômades, vivendo da caça e
da catança.
Também são diferentes dos guajajara e dos tembé, que vivem nas margens
dos rios.
São de fala tupi e ainda conservam boa parte dos hábitos e modo de vida de
seus antepassados.
-- Página 225
A PROCURA DE PÁSSAROS
Uma das atividades mais importantes dos urubus-caapor é a caça de aves.
Passam dias e dias na mata à procura de pássaros.
Esperam que as flores desabrochem ou os frutos amadureçam. Nessa época
aparecem certos tipos de aves, de belas plumagens coloridas.
ATÉ AS CRIANÇAS SAEM PARA CAÇAR
A iniciação dos passarinheiros começa cedo.
Aos sete anos de idade os pequenos urubus-caapor saem de suas aldeias à
procura de ninhos para criar as avezinhas. As vezes tiram algumas penas de
um pássaro para fazer um enfeite.
AS PENAS SÃO GUARDADAS COM CUIDADO
Os urubus-caapor raramente matam aves para comer.
Só comem aves como o jacu, o mutum, o inhambu e o jacamim. As penas
dessas aves não são utilizadas.
Das outras aves retiram as plumagens e guardam.
Elas são colocadas em caixas hermeticamente fechadas com cera e algodão.
Assim a pena não se estraga. Na caixa não penetra umidade e nem entram
insetos nocivos.
Com essas preciosidades confeccionam suas jóias de penas.
-- Página 226
Arte Plumária
AS OBRAS DE ARTE DOS URUBUS-CAAPOR
A arte plumária revela a criatividade dos índios.
Além disso, enfeitar o corpo é uma espécie de auto-valorização, uma
maneira de se sobressair na tribo.
OS ÍNDIOS CHEGAM A MUDAR A COR DAS PENAS
O trabalho começa com a seleção das penas. Usam os mais variados tipos de
aves. Procuram cores bonitas, numa riqueza de tonalidades.
Não satisfeitos com as cores encontradas, os urubus-caapor mudam o matiz
de certas cores. Usam processos próprios, como o do aquecimento.
UM TRABALHO QUE EXIGE PACIÊNCIA
Verdadeiras jóias são feitas com as penas. É um artesanato que exige
paciência. Cada pena é desbastada para que fique no tamanho certo.
Os arranjos são feitos com cordões ou através de colagem.
-- Página 227
A ALEGRIA DOS URUBUS-CAAPOR
Nos dias de festa os enfeites do urubus-caapor são notáveis.
As penas surgem associadas a panos ou aplicadas diremente no corpo.
Normalmente a arte plumáriá é uma arte menor. Mas entre os urubus-caapor
surge em todo o seu. esplendor. Exprime toda a alegria de viver da tribo.
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O homem
OS ÍNDIO S CRAHÓ
Os crahó vivem ao sul do Maranhão, nas proximidades de Carolina. Alguns
vivem em Goiás, bem ao norte. Dos quinhentos que existiam em 1948, hoje
restam apenas pouco mais de trinta.
As doenças dizimaram parte da tribo. O restante pereceu devido às lutas
com os fazendeiros criadores de gado. Eles diziam que os índios lhes
roubavam o gado.
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Os crahó são índios altos e espadaúdos. Têm membros finos mas são
musculosos.
Os homens andavam completamente nus e as mulheres usam apenas uma
tanga sumária.
Hoje já usam roupas.
A VIDA NA TRIBO
Os crahó moram em aldeias circulares. Têm um pátio central para as
atividades sociais e ritualísticas.
Dormem em esteiras de palha.
Com os homens civilizados aprenderam a usar panelas de ferro para
cozinhar. Mas ainda utilizam cestos, balaios, colheres de pau, pilão.
O TRABALHO DOS HOMENS E MULHERES
Antigamente os crahó foram caçadores. Mas a caça rareou e eles se
transformaram em agricultores.
Às vezes passam fome porque não gostam de pescar.
As mulheres se encarregam de colher frutos silvestres.
O CULTO DOS ANTEPASSADOS
Os crahó acreditam que o Sol e a Lua são os seus ancestrais.
Praticam uma corrida com toros de madeira. É um esporte e também uma
forma de ritual: Um culto aos antepassados, pois os toros representam os
espíritos dos mortos.
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Ritos
AS CARETAS
Na noite da Sexta-feira da Paixão saem os grupos dos mascarados. As
caretas. Eles aparecem tanto no Piauí como no Maranhão.
OS HOMENS MASCARADOS
O grupo é composto exclusivamente por homens. Todos com disfarces
horrendos, caretas assustadoras.
Normalmente um não conhece o outro. Encontram-se no cemitério local.
Alguns levam chicotes para espantar os cachorros. Outros levam enxadas e
cavadeiras. Cavocam o chão e plantam palmeiras e bananeiras.
O TESTAMENTO DE JUDAS
Mas por que plantar árvores na noite em que Judas se enforcou?
Eles plantam essas árvores porque em seus galhos é impossível alguém se
enforcar.
Na verdade as caretas realizam uma espécie de testamento de Judas. Eles
deixam uma corda para a pessoa mais malquista da comunidade.
Dessa maneira as caretas se vingam das pessoas que os oprimiram durante o
ano.
-- Página 231
Capítulo XV
A AMAZÔNIA (1)
A Amazônia misteriosa, lendária. O inferno verde. A maior fauna, a maior
flora, a maior reserva de oxigênio do mundo. Um Brasil que está sendo
conquistado palmo a palmo pela Transamazônica. A Amazônia brasileira
compreende os estados do Pará, Amazonas, Guiana Maranhense, norte de
Goiás, norte do Mato Grosso, territórios federais do Amapá, Roraima,
Rondônia, cobrindo dois terços do território brasileiro (5.079.450 km2).
Nesta imensa região a população é de apenas 3.054.000 habitantes, 3,71 %
da populaçâo brasileira (estimativa de 1965). No território brasileiro vivem
cerca de 143 tribos de índios, nos parques indígenas, nas reservas, nas selvas.
Neste capítulo um pouco da vida e das histórias dos nossos índios.
-- Página 232
O homem
A AMAZÔNIA
É um novo dia.
Amanhece neste continente verde, onde existe a maior fauna, a maior flora,
a maior reserva de oxigênio, a maior bacia hidrográfica do mundo, numa área
de 5.079.450 km2.
Será mesmo que amanhece?
As árvores são tão altas e copadas que a luz do sol não penetra até o solo. A
claridade não chega onde as planta rasteiras cobrem o chão, onde rastejam
cobras enormes e jacarés.
O clima é quente úmido. A linha do Equador atravessa a região. As chuvas
são abundantes. Freqiientes. E o homem? Quem é o homem desta região?
O HOMEM DA AMAZÔNIA
Dos Andes, provavelmente, veio um povo que tentou dominar a imensa
floresta.
Seus vestígios são encontrados na cerâmica marajoara, soterrada nas ilhas da
foz do rio Amazonas. Há quantos mil anos tudo isso aconteceu?
Não sabemos.
Os arqueólogos tentam decifrar o enigma da origem do brasilíndio
comparando a cerâmica marajoara (encontrada em escavações) na ilha de
Marajó com a cerâmica mais recente dos nossos índios tapajó.
Podemos afirmar que o nosso índio não é autóctone (nascido neste
continente). Provavelmente o brasilíndio é descendente de hnmens de outro
continente, que chegaram ao Brasil muitos séculos antes de Pedro Álvares
Cabral.
O MUNDO MAGICO
A natureza envolve o homem da Amazônia.
A grandiosidade da selva e o domínio das águas, das chuvas, das enchentes,
predispõe o homem a acreditar nos mitos e nas lendas. Surgem os boitatás, as
boiúnas, as iaras, os mapinguaris, os curupiras, os caboclos d água.
A mente do homem se povoa de panema (medo).
A todo instante existem perigos: enchentes, terras caídas, igarapés
movediços, plantas que produzem venenos terríveis.
Tudo é sempre novo e perigoso.
-- Página 233
O HOMEM BRANCO
Com a descoberta do Brasil pelos portugueses, em 1500, começa uma nova
era da Amazônia.
Os brancos lutam com a floresta e com os índios, e começam a tomar posse
da terra.
O CABOCLO
O português e o índio miscigenaram-se formando o nosso caboclo - o
tapuio. Alto, forte, moreno. Do branco tem a fala e a ambição. Mas sua
cultura é indígena: come mandioca, milho, caça, faz moquém (grelha de varas
para assar carne ou peixe), dorme em rede, fuma. As canoas (feitas de
troncos de árvores) são os seus barcos, as suas montarias.
O CICLO DA BORRACHA
No início do século 19 a Amazônia vive uma época áurea. A seringueira
nativa produz o látex, que é transformado em borracha. Em 1914 o Brasil
domina 97 % do mercado mundial de borracha.
Surgem as construções suntuosas em Manaus.
O INFERNO VERDE
Com a extração da borracha chega o trabalhador nordestino. O seringueiro é
o cearense pequeno e forte.
É o retirante das secas do Ceará ( 1877 a 1879).
É o nordestino, é o homem cheio de vontade e coragem para enfrentar o
seringal, as febres, os perigos da floresta.
Muitos sucumbiram nos seus tapiris, nos seus ranchos, defumando o látex
prodigioso para o dono do seringal: "o coronel dos barracos".
O homem do Nordeste sofrido e seco ficou aprisionado pelos contratos nos
seringais úmidos.
O inferno seco é substituído pelo inferno verde.
-- Página 234
A TRANSAMAZÔNICA
Hoje surge um novo dia para a Amazônia.
Esse novo dia está sendo concretizado numa das maiores obras do nosso
tempo - a Transamazônica. Uma rede de estradas que conquistará para o
Brasil o "inferno verde".
A Transamazônica veio para mudar o conceito que se fazia da Amazônia:
mar doce, terras que desabam, rios barrentos e traiçoeiros. Região onde o
sonho e o mistério se reúnem.
NOSSOS ANTEPASSADOS
Com a presença do branco, o índio; dono da terra, vai se tornando apenas
uma sombra, que se projeta na cultura brasileira.
Quando Pedro Álvares Cabral aqui chegou havia cerca de 2 milhões e meio
de índios. Hoje restam cerca de 50 mil distribuídos, provavelmente, em 143
tribos.
Vivem nas florestas, nas reservas, nos parques indígenas.
Nós, brasileiros citadinos, nos sentimos muito ricos material e culturalmente.
Mas somos pobres comparados com a riqueza lendária, mítica e mágica do
nosso índio.
Integramos muito dos seus costumes. Formamos com eles um novo povo.
Mas, o que sabemos realmente a respeito destes nossos antepassados?
Os nossos índios têm uma organização social.
Existe um chefe - o cacique. E um índio que cuida da religião e da saúde - o
pajé.
Existe o grupo familiar. Em algumas tribos são monógamos (têm apenas
uma mulher) noutras, não.
Às vezes o homem mora com a família da mulher (instituição matrilocal).
Às vezes moram todos juntos na "casa grande" - uma grande maloca.
-- Página 235
IÁGUA - Vivem ao nordeste do Estado do Amazonas. Perto do Peru. Onde
estão os rios Napo e Potumaio, na "Amazônia Legal". São grandes caçadores
e utilizam cães, nas caçadas. A arte da caça é muito desenvolvida, através de
vários tipos de armadilhas. Como não conhecem o arco e flecha usam a
sarabatana (tubo de atirar flechas com o sopro). Suas flechas envenenadas
com o "curare" matam instantaneamente.
IÁGUA - São índios lavradores que observam um ritual: precisam vestir-se
para a execução do trabalho: derrubada de árvores, queima e depois
semeadura do milho, ou plantação de mandioca. São índios pacificos. Não
são individualistas. Existe entre eles um verdadeiro sentido de colaboração. O
noivo trabalha na casa da família da noiva, durante algum tempo. Depois,
muda-se com sua mulher para a sua casa.
BORA - São tupi da fronteira do Brasil-Colômbia - Peru. Vivem da caça e
da pesca. Plantam algodão para o preparo de fios. Mas o saiote das mulheres
é feito com a entrecasca da árvore. Usam grandes tambores de troncos de
árvores (os trocanos) através dos quais transmitem mensagens, ouvidas a
vários quilômetros de distância. É o telégrafo primitivo. Nas suas festas rituais
não há bebedeiras porque desconhecem o processo de fermentação do milho
e da mandioca.
CUBEO - Habitam a bacia do alto rio Negro, perto dos índios tucuna. Sua
língua é do grupo lingüístico caraíba. Constituem uma grande família cuja
propriedade individual é partilhada por todos. Preparam para as festas
indumentárias maravilhosas. Usam moedas que receberam através do contato
com os civilizados. Costumam realizar festas fúnebres, uma lua após a morte
de um índio.
VAI-VAI - Os índios vai-vai observam uma divisão de trabalho entre
mulheres e homens. Os homens cuidam da aparência (penteado e pintura do
corpo). Constroem a casa. Caçam e pescam. Preparam a terra para a
plantação: derrubam as árvores, queimam, e nas cinzas plantam. Não usam a
cor vermelha porque é a cor dos maus espíritos. A indumentária é rica,
bonita.
Vivem nas matas entre os limites do Brasil e Suriname (antiga Guiana
Inglesa). São do grupo lingüístico caraíba. Estão em franco processo de
extinção. Moram em uma só casa de palha, de telhado cônico.
A mulher cozinha, prepara o beiju da mandioca que vai buscar na roça (o
ralador de mandioca é feito com pequenas lascas de pedra, encrustadas
artisticamente na madeira,). A mulher cuida das crianças, tece as tangas de
miçangas, os colares e os enfeites.
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A casa
OCA - MALOCA
Na floresta Amazônica ocidental vivem os índios tucuna. Na região onde o
rio Solimões (que depois é chamado de Amazonas) penetra no Brasil.
Escolhem os pequenos afluentes do Solimões para sua morada.
Pertencem ao grupo lingüístico aruaque.
A OCA DOS TUCUNA
As terras dos tucuna são inundadas por enchentes periodicamente. Por isso
constroem suas casas (ocas, malocas) de tipo palafítico (sobre estacas). O
piso de rnadeira não fica em contato com o chão inundado.
Entra-se na casa através de um plano inclinado.
A casa é coberta de palha. No interior, redes, potes de cerâmica, esteiras. Do
teto pendem as armas e os remos. Usam canoas. Plantam mandioca em
lugares altos, longe das inundações.
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A FESTA DA CASA
Geralmente, após o período das chuvas, os índios tucuna costumam
construir sua nova casa. É uma verdadeira festa, principalmente para os
meninos. Trabalham brincando.
Sobem, pelos esteios, correndo até os varais de madeira do teto. Em pouco
tempo a armação ,da casa está pronta.
ARTE TUCUNA
Os tucuna possuem grande senso artístico. Desenvolveram uma boa técnica
de pintura, escultura e trançado.
Geralmente o índio gosta apenas do enfeite individual.
O homem mais do que a mulher. Ambos não se preocupam com o enfeite de
sua oca.
Os índios tucuna são uma exceção.
Suas casas são enfeitadas com muitos objetos. Com espigas de milho fazem
pássaros (jaburus, andorinhas) que ficam dependurados no teto por fios. Os
pássaros parecem verdadeiros.
Fazem também com folhas de palmeiras outras figuras. A reprodução dos
animais serve também para treinar a pontaria dos indiozinhos, que aprendem
a usar a sarabatana.
OS PAINÉIS
Os oiana gostam de enfeitar as suas casas com palnéis feitos nas entrecascas
de certas árvores. Estes enfeites não duram muito porque o fogo, está sempre
aceso dentro das casas e a fuligem destrói a pintura.
Os índios mudam de casa toda vez que a caça acaba ou que a terra se
esgota. Ou ainda quando a casa é queimada, na guerra.
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Artesanato
ROUPAS
Os caxináua vivem no alto do rio Purus, perto do território peruano. Tinham
um artesanato muito desenvolvido. Hoje esta tribo está quase extinta, vítima
das doenças transmitidas pelos civilizados e das disputas com outros índios.
O artesanato caxináua era feito com muita arte. Os cestos trançados eram
enfeitados com penas multicoloridas. Na cerâmica negra pintavam com
tabatinga (argila branca) desenhos geométricos.
A TECELAGEM
A tecelagem dos caxináua era excelente. Usavam fios e fibras. Faziam peças
de roupas e redes de dormir que eram muito procuradas pelos seringueiros
peruanos.
À mulher competia a fiação e a tecelagem. Fiava o fio de algodão, fazia
novelos. Uma vez tirado o algodão do capulho, separava os caroços e fiava
num fuso rudimentar. Feito o novelo o passo seguinte era o tear.
TANGAS E MIÇANGAS - As índias faziam lindas tangas de miçangas
(contas) que recebiam dos brancos. As tangas eram feitas em tear. As
pequenas contas eram enfiadas nos fios. A combinação das cores e os
desenhos transformaram as tangas em verdadeiras obras de arte.
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O TEAR
Os caxináua, pelo fato de viverem em território brasileiro e peruano,
receberam maior influência dos povos dos Andes. O tear caxináua era do tipo
andino.
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Armas
CAÇA - GUERRA
Os índios usam vários tipos de armas para caça, pesca, defesa ou guerra. O
arco e flecha é o mais conhecido. Serve para caçar, pescar e guerrear. Outras
armas como o tacape, borduna (cacete), chuço (pau com uma agulha de
ossos), podem ter dupla função: caça e guerra.
A sarabatana consiste de um longo canudo de madeira, com um bocal.
Preparam pequenas setas. Colocam dentro do tubo e projetam com um forte
sopro.
É arma de caçada.
O CURARE
É um poderoso veneno, feito com uma mistura de várias plantas. O índio
guarda o veneno cuidadosamente, em potinhos ou cabaças. O veneno do
curare, quando entra em contato com o sangue das vítimas, provoca uma
paralisia - a morte é instantânea.
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Instrumentos musicais
O SOM DA AMAZÔNIA
Os índios têm vários instrumentos musicais: o chocalho ou maracá, as
flautas de taquara, as flautas de Pan, os assobios, os rascadores de casca de
tartaruga (reco-reco), as trombetas de cuia, os bastões de rítmo.
O MARACÁ
É usado por quase todas as tribos. Serve para acompanhar o ritmo do, canto.
O nome vem do vocábulo guarani "mbaracá . De uma cabaça, cuia, ou
porongo, extraem as sementes, por um pequeno orifício, e introduzem
pedrinhas ou sementes duras. Colocam um cabo de madeira e enfeitam com
penas e desenhos.
O TROCANO
O trocano não é um instrumento musical, mas um telégrafo primitivo. É
percutido por varetas com cabeças de borracha. É ouvido a mais de dez
quilômetros de distância.
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Arte plumária
JÓIAS DE PENAS
O índio, por vaidade ou questões religiosas, procura chamar a atenção
através de enfeites.
Além da pintura, usa pénas, arrumadas com tal gosto que constituem uma
verdadeira arte - a arte plumária. Nela se revela o seu perfeito senso artístico.
Usam o rico colorido das nossas aves, modificam as tonalidades (através de
aquecimento), criam novas cores.
Dentre os índios destaca-se a arte plumária dos caapor (também chamados
de urubu ), grupo tupi há muito tempo em contato com os brancos, no
Maranhão.
Os índios criam. algumas aves, não para comer, mas para arrancar penas.
Para um determinado enfeite podem lançar mão de uma dúzia de passarinhos
e de quatro ou cinco aves maiores.
Em outras tribos os enfeites são imponentes, os colares, os cocares (enfeites
de cabeça) dão grande beleza e majestade aos índios.
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Artesanato
MÁSCARAS
É largamente difundido entre os índios o uso das máscaras. No princípio,
talvez, a máscara tenha sido usada como disfarce para as caçadas.
Atualmente ela tem uma função religiosa. Numas tribos, a máscara não
permite o reconhecimento de seu portador por um espírito maléfico. Em
outras, a função é inversa: a máscara serve para que a divindade reconheça o
índio escondido e lhe transmita dons especiais.
Há certas cerimônias em que a máscara, no caso de iniciação (admissão
dentro da vida adulta da tribo), representa um espírito obsceno, petulante,
violento, que deseja se apossar do iniciando.
A MAGIA DAS MÁSCARAS
Na realidade quem faz a máscara não a considera ou utiliza como obra de
arte. A máscara para o índio tem uma função mágica. Pode protegê-lo da
perseguição de uma entidade extraterrena. Pode emprestar uma força
sobrenatural ao índio. E pode, seguramente, dar ao índio uma posição
privilegiada em sua tribo.
A CONFECÇÃO DAS MÁSCARAS
Para o preparo das máscaras os índios usam, em geral, a entrecasca de uma
árvore (liber), que é retirada da árvore fina como um pano. Preparam a
entrecasca, cuidadosamente, molhando e expondo ao sol. Ela fica macia e
clara. Depois, pintam com cuidado as máscaras. Na pintura empregam resinas
vegetais e tabatinga.
Alguns índios usam apenas máscaras nos rostos. Outros usam também um
disfarce que vai da cabeça aos pés. É o caso dos índios tucuna, que se cobrem
totalmente, configurando seres sobrenaturais.
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Artesanato
CERÂMICA
A cerâmica é a mais antiga de todas as indústrias. Há milênios o homem se
utiliza do barro endurecido pelo fogo.
A cerâmica utilitária substituiu a pedra trabalhada, a madeira, as vasilhas
feitas de frutos (cocos) ou de cascas (porongos, cabaças, catutos). Mas, estes
materiais ainda são utilizados pelos nossos índios e pelos civilizados, nos
meios rurais.
CERÂMICA PRÉ-HISTÓRICA
A cerâmica pré-histórica (antes do aparecimento da escrita) pode ser
dividida em três classes distintas: a primeira, de vasos, sem asa, que tinham a
cor da argila. Ou que eram escurecidos por óxido de ferro. Nos nossos
museus encontramos alguns exemplares desta cerâmica, feitas pelos índios
brasileiros. Algumas das nossas tribos permaneceram neste estágio.
À segunda classe pertence a cerâmica feita no torno, torneada, e com asas.
Algumas tribos brasileiras atingiram este estágio.
À terceira pertence a cerâmica coberta com um verniz lustrosó, que não é
encontrada entre os nossos índios.
CERÂMICA PRÉ-COLOMBIANA
A cerâmica existente antes do descobrimento da América por Cristóvão
Colombo, em 1492, compreende duas grandes divisões: a peruana, que
abrange a região oeste do Brasil, a Argentina e a Bolívia. A amazônica-
mexicana, que compreende o vale amazônico, o México, as Antilhas. Esta
cerâmica é encontrada na ilha de Marajó.
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Arte indígena
PINTURA
Para o índio o importante ,é o enfeite individual. Os enfeites da cerâmica
utilitária, dos iristrumentos musicais e das armas são secundários.
Rara é a maloca decorada.
Para a pintura do rosto, os índios chegam a fazer carimbos de madeira ou de
barro cozido.
Pintam-se também com varetas, penas, dedos; e às vezes com a mão toda,
quando fazem faixas largas.
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Ritos
A FESTA DA MOÇA NOVA
A cerimônia da moça nova, da menina que se torna mulher, é um rito que a
tribo dos tucuna realiza anualmente.
Os preparativos para a festa demoram vários dias: preparo de uma trombeta,
de tambores, várias máscaras que representam macacos e enfeites para a
virgem.
Preparam também um compartimento onde a virgem ficará reclusa. Os
convidados ajudam na construção do cubículo, com folhagem e madeira.
O MONSTRO
Um dos personagens principais da festa é um monstro que vive na água.
Tem mais de 2 metros de altura. É representado por uma máscara que tem a
cara de serpente e a boca sem dentes.
Dizem que este monstro comeu, há tempos, muitos tucunas. Foi morto
quando encontraram-no em um buraco. Queimaram muita pimenta e a
fumaça o sufocou.
A FESTA
No dia da lua cheia a virgem, inicianda, entra no cubículo e fica guardada
por duas tias maternas, responsáveis pela festa. São suas conselheiras.
A virgem é depilada e pintada de azul.
Permanece em jejum durante a festa.
Os pais da virgem oferecem comida e bebida aos convidados.
Os tambores tocam sem parar.
Alguém anuncia que da mata vem um demônio.
O demônio, um mascarado de macaco, salta no meio dos presentes, fazendo
gestos obscenos. Os índios riem muito, comem e bebem.
Aparece outro macaco, ronda o cubículo da virgem, batendo o bastão no
chão.
Mas a virgem é defendida pelos vigias.
O PERIGO PASSOU
Após três dias e três noites de festa, danças, bebedeiras, os pais da moça
nova retiram-na da reclusão.
Um velho com um tição na mão aproxima-se informando que o perigo
passou - o demônio foi embora.
A virgem, pintada de azul, com saiote vermelho, cocar de penas coloridas,
começa a dançar junto com os outros índios.
As tias conselheiras dão conselhos. Que a moça nova deve ser ativa.
Trabalhadeira. Uma boa mulher e que deve respeitar o seu marido.
E uma nova moça passa a viver entre os índios.
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Capítulo XVI
AMAZONAS / RORAIMA / ACRE
A posse do Território Federal de Roraima foi disputada por brasileiros,
holandeses, espanhóis e ingleses. Pertencia ao Estado do Amazonas. Em 1943
passou a ser o Território Federal do Rio Branco e em 1962, recebeu o nome
de Território Federal de Roraima. Em 230.104 km2 vivem 41.638 habitantes
(dados antigos). Capital Boa Vista. As atividades agrícolas são pouco
desenvolvidas. Pequena garimpagem de ouro e diamantes. Um rebanho
bovino de cerca de 285 mil cabeças.
O Território do Acre transformou-se no Estado do Acre em 1962. Numa
área de 152.589 km2 vivem 218.006 habitantes (daos antigos).
É o primeiro produtor nacional de borracha. A produção de castanha do-
pará e a extração de madeiras são importantes. Parte do seu território
constitui a Amazônia brasileira. O Estado do Amazonas possui 960.934
habitantes numa área de 1.558.987 km2. Manaus, capital do Fstado, está
situada na margem esquerda do rio Negro.
Possui um importante porto fluvial e um aeroporto internacional. A zona
franca, criada em 1967, contribuiu para o desenvolvimento do comércio da
região, com a importação e a exportação livres. No Acre, Roraima e
Amazonas vivem algumas tribos indígenas brasileiras. Neste capítulo um
pouco das histórias, costumes e lendas destes brasileiros.
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AMAZONAS - ACRE - RORAIMA
O Estado do Amazonas é a mais extensa das unidades brasileiras, com
pequena elevação, uma vasta planície, cujos rios abundantes podem ser
preguiçosos. As águas não têm pressa de chegar ao mar, formando lagos
marginais, lagoas, áreas pantanosas, várzeas periodicamente inundadas,
igapós (matas cheias de águas), tesos de terra firme onde as águas não
alcançam.
Poucas áreas de campos, o resto é floresta e água.
Aí estâo presentes os .igarapés (canais naturais) e furos (comunicação
natural entre dois rios).
O DOMÍNIO DAS ÁGUAS
O Estado do Amazonas é atravessado pelos rios que recebem alguns dos
seus maiores afluentes: Javarí, Jaruá, Purus, Madeira, Japurá e Negro. Mas a
Amazônia nâo é apenas aquela lendária planície sujeita a inundações e cheias
de pantanais onde as doenças tropicais atacam os homens.
Novas rodovias desvendam a "terra firme". A Transamazônica é uma
realidade. Novas técnicas estão sendo empregadas no plantio, na
aproveitamento da terra.
O clima quente e superúmido; cuja hostilidade afirmam ser um
impedimento. à fixação do homem, com as novas técnicas de saneamento, de
combate à malária e as doenças tropicais, vem dèmonstrando que não é um
empecilho para o povoamento dessa área.
A CONQUISTA DO AMAZONAS
O soldado espanhol Francisco Orellana ao descer o rio em 1541 à procura
de especiarias, principalmente canela, revelou ao mundo a existência do rio
das Amazonas.
Entretanto a conquista territorial foi feita paulatinamente pelos missionários
portugueses; jesuítas, franciscanos, carmelitas, mercedários, que procuraram
estabelecer aldeamentos indígenas para catequese e .aproveitamento do
trabalho.
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O CONTATO COM OS ÍNDIOS
Foi com os índios cambeba, excelentes canoeiros que os portugueses
aprenderam a utilizar o leite da seringueira, quando estavam em busca de
drogas do sertão, plantas medicinais e especiarias. Também descobriram o
uso do guaraná com os índios maué.
É uma história de suor, lágrimas e sangue com a extinçâo de muitas tribos
de índios.
Ainda estão presentes os filhos da selva nesta região: índios caxinaua,
vai-vai, tucano, vitoto e outros.
OS TIPOS HUMANOS
O atual Estado do Amazonas fazia parte da Província do Grão-Pará de onde
se destacou em 1850.
Neste Estado a presença do português é pequena e a do negro, mínima. Os
caboclos (filhos de índios com brancos) predominam.
Nos fins do século passado, a extração da borracha trouxe grandes grupos
de cearenses fugidos da seca de 1877.
Criou-se um novo tipo humano nas selvas Amazônicas - "o cearense da
Amazônia", que se distingue do caboclo do Amazonas.
A leva de trabalhadores vindos do Nordeste se dirigiu para a cabeceira dos
rios Purus, Madeira e Mamoré.
O ESTADO INDEPENDENTE DO ACRE
Os colonos brasileiros entram em terras da Bolívia.
Surgem os conflitos. O primeiro deles é com os"poetas", grupos armados de
sonhadores de Manaus e Belém, que são derrotados.
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Mas o gaúcho Plácido de Castro, antigo aluno da Escola Militar de Porto
Alegre, chefia em 1902, um grupo de seringueiros e inicia as operações
militares em Vila Xapuri, no Alto-Acre, e estabelece o governo independente
do Acre.
A resistência que Plácido ofereceu não foi tanto contra a Bolívia, mas
principalmente, contra o sindicato inglês do Charted Company (monopólio da
borracha).
O final dos conflitos se deu por vias diplomáticas.
Hoje o antigo territóno do Acre é um dos Estados brasileiros, desde l2 de
junho de 1962.
O TERRITÓRIO FEDERAL DE RORAIMA
Antigamente era chamado de território do Rio Branco. O rio Branco é um
afluente do rio Negro e corta o território de Norte a Sul.
Está localizado no Planalto das Guianas. Confronta-se com a Venezuela e
Guiana, Antiga Guiana Inglesa
O clima é equatorial. Florestas, cerrados e campos.
OS PRINCIPAIS PRODUTOS
Nos Estados do Amazonas e Acre a maior atividade é extrativa: borracha,
castanha-do-pará na época das chuvas, guaraná e madeiras.
Plantas para o consumo diário: mandioca, milho e feijão. Pequenos
engenhos de cana-de-açúcar.
OS ÍNDIOS
Os índios da tribo vai-vai vivem no território de Roraima, nas vizinhanças da
Guiana. Os índios da tribo tucano moram no alto rio Negro, principa
Uaupés.
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Usos e costumes
OS ÍNDIOS DO EXTREMO NORTE
A maioria dos índios vitoto vive na Colômbia.
Algumas levas desses índios desceram os rios Napo,
Putumaio e Içá, entraram no território brasileiro, no
trecho em que o Amazonas ainda se chama Solimões. Situam-se entre as
fronteiras do Peru, Colômbia e Brasil-Colômbia.
São bem primitivos, ainda não usam arco e flecha e sim sarabatana, com
flechas envenenadas de curare.
AS FESTAS - OS CULTOS
Realizam grandes festas ritualistas cuja finalidade é proteger a casa e o
roçado de possíveis destruições.
Temem a destruição da casa porque aí é também o local onde prestam culto
aos seus mortos, aos antepassados.
Prestam também culto à terra de onde surgiram os seus antepassados e os
animais.
A casa serve de esconderijo para as mulheres quando ouvem o som das
flautas sagradas.
As festas são anunciadas através de toques de troca no (telégrafo primitivo).
ÍNDIOS VAPIDIANA E VAI-VAI
Vivem nas zonas limítrofes do Brasil com a Guiana. Moram nos cerrados aí
existentes. São índios que mantêm relação amistosa com as tribos vizinhas.
Os seus vizinhos são os índios vai-vai, moradores desta região onde os rios
são muito encachoeirados e de difícil acesso.
A aldeia dos índios vapidiana é composta de uma só casa grande, cônica,
onde todos vivem, cada família no seu canto.
Usam tangas de algodão tecido, enfeites nos braços e nas pernas. Os homens
se enfeitam caprichomente por ocasião das festas. O penteado é especial.
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A casa
MALOCAS CIRCULARES
Na região amazônica as chuvas são abundantes e os índios procuram
construir suas casas em locais mais altos, em terra firme, onde as enchentes
não atingem.
Em geral são casas grandes, onde abrigam todo o grupo tribal.
A COBERTURA
Um dos cuidados que os índios têm é na escolha da palha que servirá de teto
para a maloca. Pois as folhas das palmeiras, que servem de cobertura, variam
de durabilidade. A palmeira paxiuba é uma das preferidas.
A FORMA
Os ventos mudam a direção das chuvas. Para que a chuva não entre nas
malocas, molhando os moradores, a melhor solução é construí-las de forma
circular.
Cada tribo faz as suas malocas de formas diferentes: com coberturas que
chegam até o chão, com paredes baixas, com beiradas de telhado a mais ou
menos meio metro do chão (para estabelecer maior ventilação).
A construção da maloca é uma arte, onde os índios empregam seus
conhecimentos de materiais e do meio em que vivem.
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O trabalho
UBÁ
Os índios dependem das canoas para a sua movimentação diária. Para a
pesca ou para ir até a roça.
A canoa é um elemento indispensável na vida dos índios da Amazônia.
Nesta região não usam a canoa feita de casca, mas a canoa monóxila, de
uma só peça de madeira.
COMO FAZER UMA CANOA
A técnica do preparo das canoas é muito primitiva.
Fazem uma escavação por meio de fogo, depois completam com o machado
de pedra. Atualmente já usam instrumentos como o enxó (instrumento de
madeira e aço). As canoas feitas por esse processo são muito resistentes. A
madeira também é de muito boa qualidade e abundante nesta região. São
troncos retos, resistentes e não racham ao sol e à chuva a que são submetidas
permanentemente.
ÍNDIOS CANOEIROS
Há índios que são excelentes canoeiros.
Empregam uma técnica especial na construção da canoa, no corte e no
preparo final da popa e da proa.
Os desbastes na popa facilitam o deslizamento dando maior velocidade, para
favorecer o balanceamento na caturrada (equilíbrio).
Em geral o índio rema em pé.
Os tipos de remo variam muito, mas o lanciolado (forma de lança) é o mais
comum.
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Escultura em madeira (foto)
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Usos e costumes
O CULTO DA LUA
O índios da tribo tucuna vivem na floresta amazônica ocidental.
São índios agricultores, da fase da lavoura da mandioca (mani), tabaco,
milho.
A MANDIOCA
Existem muitas lendas ligadas à atividade agrícola, sobre o aparecimento da
mandioca e do milho. Completando a atividade agrícola fazem cerâmica e
cestaria.
MITOLOGIA LUNAR
Sendo os tucuna da cultura matrilinear (sucessão por linha materna)
encontramos entre eles a mitologia lunar.
A lua é o ser fundamental, é a mulher, a rocha, a caverna.
Acreditam que a lua é gêmea: uma representá a beleza, a sabedoria, a
bondade - é a lua clara. Outra simboliza a feiúra, a maldade, a rudeza - é a lua
escura. Em outras tribos dò mesmo grupo dos tucuna (aruaque), o sol e a lua
são gêmeos.
Entre os tucuna as estrelas são animais espalhados pela amplidão do
firmamento.
JÓIAS DA TRIBO TUCUNA
Os tucuna fazem colares que se parecem com peças de marfim, de tão
polidos e bem feitos. São feitos com a casca do coco tucum, uma palmeira
abundante na Amazônia.
São colares com desenhos zoomórficos (com formas de animais).
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Usos e costumes
ÍNDIOS TUCUNA E TUCURINA
Os índios tucuna vivem na floresta Amazônica ocidental.. Esculpem bastões
para a dança do ritual da moça-nova, com motivos de animais.
Não repetem a mesma figura. Esculpem o tamanduá, o jacaré, o tatu, a
cobra ou a tartaruga.
Em todos os bastões há um bicho.
Os tucuna são muito criativos.
Fazem também bonecos que não representam nenhum
totem (figuração de animal, planta ou objeto que deve
ser respeitado). Fazem a arte pela arte.
OS ÍNDIOS TUCURINA
Os índios tucurina vivem atualmente no igarapé Cuchichá, afluente do rio Chandless, qu
e
por sua vez é afluente do rio Purus.
Moram no Estado do Acre na região em que se faz sentir o fenômeno das "friagens",
quando a temperatura baixa para l0o C. O frio vem dos Andes, durando de oito a d
ez dias
seguidos.
Os tucurina são muito numerosos, bastante aculturados, pois o seu contato com o br
anco se
deu há muito tempo.
Antigamente viviam em casas grandes onde o grupo todo morava. Atualmente habitam
casas semelhantes às dos seringueiros que aí vivem.
Passaram também a usar roupa e já usam enfeites feitos pelos brancos.
Fabricam uma cerâmica rudimentar que vai sendo paulatinamente substituída pelo
vasilhame industrializado, do homem "branco-civilizado".
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Usos e costumes
O FRIO DOS ÍNDIOS
Os índios da tribo caxinaua habitavam o rio Curanja, afluente do alto rio
Purus, nas divisas do Brasil com o Peru.
É uma das poucas tribos cujo artesanato apresentava-se muito desenvolvido.
Esta tribo da língua Pano, atualmente está muito reduzida.
GRAVES PROBLEMAS
Dois fatores contribuíram para esta extinção. Primeiro o contato com o
branco civilizado que transmitiu muitas doenças. O sarampo reduziu para
menos de uma centena o meio milheiro de índios caxinaua.
Outro fator foi de ordem interna. Tendo começado a utilizar instrumentos de
ferro que o branco lhes dava os homens executavam o trabalho rapidamente,
na roça e na caça e aumentavam o tempo de lazer.
As mulheres continuavam a trabalhar com instrumentos rudimentares de
madeira. Houve um desequilíbrio interno ruinoso, surgindo brigas dentro das
famílias.
BRIGAS ENTRE ÍNDIOS
Seus vizinhos, os índios marinaua e xaranaua, no verão, chegavam até a
aldeia dos caxinaua.
Eles eram mais fortes e usavam até armas de fogo, impondo uma "troca"
forçada de objetos artesanais.
Em troca dos excelentes objetos artesanais dos caxinaua, as outras tribos
davam em "pagamento" objetos usados, praticamente inúteis, da nossa
civilização.
CASAS
As malocas dos caxinaua são palafíticas, o assoalho é de paxiuba (palmeira),
semelhantes às casas dos madeireiros e caucheiros que vivem nesta região.
AS ROUPAS
As m.ulheres caxinaua são ótimas tecelãs. Os índios caxinaua com o
"cushmã", espécie de bata, estão bem protegidos das friagens que, de maio a
setembro descem dos Andes.
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O homem e a casa
O SERINGUEIRO
O seringueiro é o nordestino da Amazônia. Enfrenta o calor úmido, as
enchentes, as chuvas diárias, as feras, as cobras, as doenças, os índ'iros, a
solidão, dentro da grande floresta.
À procura de látex atingiram o Acre.
Nas cabeceiras do Purus, Madeira, Mamoré e em outros pontos se fixaram
em casas palafíticas (sobre estacas) num isolamento que só os fortes
suportam.
Seus tapiris (casas) espalhados na imensidão da selva são focos da
civilização branca ondé as águas dominam.
A clareira na floresta se torna o ponto de apoio para o surgimento do
comércio que liga as atividades extrativas (madeira, borracha etc.).
A FORMA DE VIVER
Os seringueiros se alimentam também de macacos, onças, maracajás. Em
busca das seringueiras encontram no meio da selva árvores frutíferas,
palmeiras abundantes que lhes dão o açaí, bacaba, capuaçu, bacuri. O traço
maior de contato com o mundo é o regatão (vendedor que anda em barco)
geralmente um sírio, com sua lancha motorizada, fornecendo o que o
seringueiro precisa ou deseja.
O SERINGAL
É a vasta área, propriedade do seringalista, que explora a produção do látex,
da borracha.
O seringalista coloca um barracão para receber as bolotas de borracha. É ao
mesmo tempo um armazém onde há o indispensável para o tr halho e
manutenção do seringueiro que vai sangrar a árvore, coletar a seiva e defumá-
la, fazendo bolotas de borracha. As armas, munição, pólvora, chumbo ou
balas e tecidos sâo vendidos pelos seringalistas, com grande lucro.
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TRABALHO ARMADO
O valente seringueiro não abandona o rifle no meio da mata, pois a qualquer
momento pode ser atacado e terá que se defender. Ou usará a sua arma para
caçar animais, para a sua alimentação.
O PARAÍSO DOS RIOS
A bacia Amazônica drena mais de metade do território brasileiro e lança no
Oceano Atlântico cerca de 200 mil metros cúbicos de água por segundo. A
luta entre a água salgada e a doce provoca o famoso fenômeno da pororoca.
A vida do povo desta região depende dos rios. As cheias são violentas,
provocando inundações e terras caídas.
OS TAPIRIS
Na foz dos igarapés (canais estreitos), nas margens calmas, olhando para o
rio, levantam sua casa palafítica, sobre estacas, para evitar a invasão das
águas, nas enchentes. Nos assoalhos e paredes colocam palmeira paxiuba e o
telhado é de palha fofa de palmeira. Atrás da casa em "terra firme de índio"
plantam um pouco de milho, feijão, batata, mandioca, banana e alguns
legumes.
A sua "montaria" é a ubá, canoa frágil que o conduz por todo o emaranhado
de igarapés e furos.
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O trabalho
O VAQUEIRO DO RIO BRANCO
O antigo Território do Rio Branco, hoje Território Federal de Roraima,
oferece boas condições para a criação de gado vacum. Localiza-se no planalto
das Guianas.
Nas terras mais baixas (duzentos metros) ficam os criatórios de gado, nas
pastagens naturais desta região.
Os campos são imensos e de vez em quando surgem os capões de mato "ilha
de mato", marginais de rios e lagoas.
OS PEÕES
Os peôes, campeiros e vaqueiros do Rio Branco, são, geralmente,
descendentes de índios (das tribos macuxi ou vapidiana) que se miscigenaram
com os brancos.
São morenos, fortes, esbeltos e imberbes.
Ganham pouco dos seus patrões mas têm permissâo de comer carne das
reses. Comem carne cozida com farinha de mandioca, bebem leite ou fazem
queijo.
Por isso são ágeis, fortes e resistentes. São os gaúchos do extremo-norte.
AS ROUPAS DO VAQUEIRO
Não usam uma roupa especial porque não há caatinga e nem espinhos. A
camisa simples, calça comum, às vezes perneira curta de pele de veado,
alpercatas simples de couro de veado. Chapéu de palha comum
de palmeira, às vezes preso por um fio de palha.
Usam um laço de dez ou doze braças de couro cru para o trabalho nas
fazendas, rétiros e "lavrado"(campos extensos).
Os vaqueiros, campeiros do Rio Branco, são peões avançados, verdadeiros
baluartes da nossa nacionalidade, no ponto extremo-norte do Brasil.
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Bailado
BOI-BUMBA
O boi, desde as mais remotas eras humanidade, tem constituído
motivo para bailados, cerimônias, cultos. No Egito o boi Apis era
adorado. Os hebreus, contra as determinações de Moisés, fizeram
um bezerro de ouro. Ainda hoje, na Índia, as vacas são sagradas.
O BOI-BUMBÁ AMAZONENSE
É uma das variações do Bumba-meu-boi, bailado largamente
praticado nas nossas terras.
É uma das mais antigas formas de distração popular, folguedo
noturno, recreação sadia do povo.
Foi sem dúvida introduzido pelos colonizares europeus, sendo a
primeira expressão de teatro popular brasileiro.
OS NOMES
Praticado em diversas partes do Brasil, toma nomes diferentes de
acordo com a região. Bumba-meu-boi, Boi-bumbá, Boi-calemba,
Boi-de-Reis, Boi-mamão, Boi, Boizinho, Boi-jaraguá, Boi-
pintadinho.
É um bailado popular que atrai a atenção do povo.
Sua época varia: no Nordeste sai nas festas natalinas e no Norte
nas juninas.
O TEMA
O bailado é muito simples: o Branco é o dono do boi, o Negro, vai
roubá-lo na fazenda de acordo com o capataz (mulato) e o índio é o
pajé que irá ressuscitar o boi. Nota-se a presença da tese da
ressurreição ensinada pelos jesuítas, neste teatro popular.
O Bumba-meu-boi brasileiro não tem boi de verdade.
É um Boi-de-jaca; Boi-de-armação, feito de taquaras ou ripas de
madeira, recoberto com pano ordinário. De real, realmente, tem
apenas a cabeça que é uma de boi ou vaca com os respectivos chifres.
Debaixo da "armação", que imita o corpo do boi, se intromete o
"tripa", o homem que se propõe a sair com a carcaça bovina sobre a
sua...
Este homem tem que ser bem forte para agüentar a brincadeira. Existem muitos
personagens neste teatro popular, variando de um local para o outro.
Pai Francisco e Mãe Catarina também estão presentes. Mateus, o palhaço, é o condutor da
história.
A representação mais perfeita do bovino é sem dúvida a do Boi-corre-campo, do Boi-
bumbá paraense.
-- Página 262
Ritos
ALUMIAÇÃO
Cada povo com o seu uso, cada roca com o seu fuso. Este
provérbio popular é bem adequado.
O povoador português nos legou o culto dos mortos, os velórios, as
missas de defuntos, a choradeira (a carpição), a visitação aos
cemitérios, os enterros, o acender de velas, todas as devoções de
Portugal.
O DIA DE FINADOS
Em muitas cidades, no dia dos mortos (2 de novembro) fazem a
visitação aos túmulos, levam algumas flores, rezam apressadamente
e deixam o morto
em paz...
Antigamente, no dia dos mortos, as pessoas se trajavam de preto
para ir com toda a família ao cemitério para rezar e levar flores.
Prática da religião católica romana.
Todos respeitavam o silêncio. Nas ruas e nas casas.
As rádios só transmitiam músicas clássicas.
Hoje, em poucas cidades se vê esta devoção.
ALUMIAÇÃO EM MANAUS
Em Manaus a Alumiação é um verdadeiro espetáculo de saudade. É
pirolatria (culto do fogo), com. o qual homenageiam seus mortos
queridos no Dia de Finados.
Os cemitérios são visitados por milhares de pessoas e, nos túmulos,
acendem muitas velas propiciando naquela noite tropical um
espetáculo inédito de luzes - a Alumiação.
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GOIÁS
CAPÍTULO XVII
O Estado de Goiás foi penetrado por mais de duas dezenas de
bandeiras à procura de índios e. de ouro. Bartolomeu Bueno da
Silva, o velho Anhangüera, alcançou os sertões de Goiás em 1682.
Os monçoeiros paulistas, continuadores dos bandeirantes se fixaram
no interior do Estado sempre à procura de ouro. Surge uma
verdadeira "febre de ouro" e multidões se instalam neste território.
Hoje, no Brasil Central, ao lado do garimpeiro que procura pedras,
ouro e outros metais preciosos, encontramos diversas tribos de
índios. Na foz do rio Araguaia, na ilha do Bananal e nas margens do
rio Tapirapé vivem os índios carajá e tapirapé. Neste capítulo, um
pouco deste misterioso Brasil.
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homem
OS ÍNDIOS TAPIRAPÉ
A marcha para o Oeste brasileiro trouxe em conseqüência o
povoamento de Mato Grosso e Goiás.
Os monçoeiros (continuadores dos bandeirantes) levavam a
família, visando à fixação, criando novas vilas e cidades.
Levavam sertão adentro armas de fogo, como o trabuco, e
equipamento para o trabalho de garimpagem: alavancas e batéias,
para a busca de ouro e diamante.
O MONÇOEIRO
O monçoeiro, em pé, na popa do canoão era muitas vezes alvo das
flechas dos índios.
Mas quem os faria parar? Ninguém.
Os monçoeiros eram paulistas.
Desciam o rio Tietê, o Paraná, passavam por varadouros (lugar
baixo de pouca água), empurrando o batelão, alcançando outros
rios.
MATO GROSSO - GOIÁS
Um dia eis os monçoeiros em Mato Grosso e Goiás, caminhando
por entre montanhas, serras, campos, cerrados enfeitados com
palmeiras, buritis, indaiás.
Árvores como o pequi nativo, de fruto gostoso.
É fundada a Vila Boa de Goiás pelos caipiras paulistas. No
sudoeste goiano a presença do notável Bartolomeu Bueno da Silva,
o Velho, mais conhecido por Anhangüera.
ANHANGÜERA
Bartolomeu Bueno da Silva colocou fogo no álcool, que os índios
não conheciam. Pensaram ser água, daí temerem que o velho
incendiasse os rios e os dizimasse. Assim, Anhangüera conseguiu
dos índios, o que quis.
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OS ÍNDIOS TAPIRAPÉ
Em Goiás, além do progresso que se faz sentir na última década,
encontramos ainda a presença do índio. Dentre as muitas tribos, os
tapirapé.
Os tapirapé foram estudados, profundamente, por Herbert Baldus.
São uma tribo tupi do Brasil Central, que vive às margens do rio
Tapirapé, afluente do Araguaia.
O rio Tapirapé tem lindas praias enfeitadas pelo pau-d'arco, com
suas flores amarelas, pela cajarana, pelas gameleiras.
OS ANIMAIS
Encontram-se nesta .região alguns animais da fauna amazônica,
como o jacaré, a tartaruga de água doce, o boto, o pirarucu.
As mais variadas aves vivem nas vizinhanças do rio Tapirapé:
araras, papagaios, periquitos, garças, socós, jaburus, jacus,
inhambus etc.
Tapirapé quer dizer "caminho da anta", porque antigamente
existiam nesta região muitas antas chamadas de tapir, o maior
mamífero da América do Sul.
TRANSFORMAÇÕES
Infelizmente já se faz sentir a diminuição dos alimentos vegetais
consumidos pela tribo tapirapé.
Este fato modificou o comportamento tribal e a própria
hospitalidade de antigamente.
O contato com o branco acelerou o processo das perdas culturais.
Desmoronou-se o sistema religioso.
Desaparecem os xamãs (feiticeiros, pajés).
Os tapirapé, hoje, são uma sombra furtiva de uma antiga tribo de
fala tupi.
No começo do século habitavam cinco aldeias, havendo em cada
uma cerca de duzentos índios. Era a população de Tapiitaua.
Hoje estão agregados numa única aldeia - a Aldeia Nova, à margem
esquerda da foz do Tapirapé, no rio Araguaia.
São índios de nariz aquilino, traço tupi, lábios finos, pele clara.
Ainda cantam toda a noite que precede a caça da capivara. Um
canto mágico para que alcancem êxito, pois os dentes da capivara
são muito úteis,
No canto há revezamento dos cantores:
Iê, iê, iêraqui
Jô sadu canari
Ahn!...
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E remam horas e horas a fio, num ritmo vigoroso.
Os remos medem, mais ou menos 1,30 metro de comprimento total.
Na ponta do cabo do remo, há uma semilua para o apoio da mão.
Em alguns remos enrolam fios de algodão para dar melhor apoio. A
lâmina, ou pá do remo, em geral é pintada com desenhos pretos.
BONECOS DE MADEIRA
Os carajá aprendendo a usar metais (lâminas de ferro, facas),
passaram a fazer também bonecos de madeira.
Há uns 25 anos fazem os .famosos "licocós" em madeira,
procuradíssimos pelos brancos.
Mas este trabalho é mais dos homens, as mulheres continuam a
fazer os "licocós" de barro.
A madeira empregada é a balsa ou a pita, porque são madeiras
moles, fáceis de trabalhar.
As esculturas são muito bonitas.
Artesanato
MADEIRA TRABALHADA
Os carajás não gostam de viajar por terra. Desde crianças
aprendem a utilizar as canoas e os remos.
Logo começam a fabricar os seus próprios remos.
A canoa (auó) faz parte dos utensílios da família.
Possuem às vezes várias canoas inteiriças de seis a dez metros de
comprimento.
OS REMOS
Os remos são chamados de "nalihi". Remam magnificamente.
Quando é um homem só que rema, senta-se na popa para governar
melhor a canoa.
Quando estão remando, em geral, os moços cantam para estimular
o compasso das remadas.
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-- Usos e Costumes
A ARTE DE SE ENFEITAR
As carajá fazem das pinturas o seu vestuários. Andam praticamente
nus. Os homens usam um cordel na cintura, que serve de estojo
peniano: o "notecaná"
Desde criança os índios usam esta peça. Ao chegar à adolescência,
já rapazes usam o "etu" - cordel de cintura feito dois fios de algodão
bem trançados tintos de vermelhos.
Usam cabelos longos que servem de proteção contra os mosquitos.
Além das pinturas há outros adornos. Com uma resistência colam
no corpo flocos de algodão, principalmente nos braços e nas pernas.
No pescoço colocam um colar de miçangas cuidadosamente
trabalhado.
Na cintura, cinto de algodão trançado, formando desenhos
arabescos, desenhos marajoaras, enriquecidos com franjas de penas
das mais variadas cores.
Usam nas pernas e nos pulsos os "tamancurás", enfeites de algodão
trançado.
O carajá é muito imponente com o seu cocar de penas, cujas cores,
as mais variadas, demonstram o seu gosto artístico.
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Artesanato
CERÂMICA
Página 269
Entre os índios tapirapé é muito reduzida a fabricação de cerâmica
utilitária, para uso doméstico.
Em geral trocavam com os carajá as peças que necessitavam e os
próprios licocós bonequinhos que têm grande procura tanto pelos
"civilizados" quanto pelos índios.
AS CERAMISTAS
As mulheres tapirapé, no fabrico das peças de sua cerâmica
utilitária, obedecem a uma técnica diferente.
Partem de um bloco de barro amassado, onde misturam carvão.
Vão levantando, aos poucos, as paredes do que pretendem fazer:
panela, tigela ou vasos.
Utilizam exclusivamente as mãos. Não buscam o auxílio de pedras,
casca de porunga ou outro instrumento e nem a técnica dos rolos
sobrepostos.
O FILHINHO DA PANELA
As panelas grandes dão o nome de "chaememoni" e
as menores são chamadas de "chaenchorii".
Para brinquedo das crianças fazem uma panelinha, o "chaeiri", que
na linguagem tapirapé significa filhinho de panela.
Depois as panelas são queimadas no fogo, sem uso do forno.
BONECOS DE CERA
As mulheres tapirapé, estimuladas pelo êxito dos bonecos das
índias carajá, passaram a fazer pequenos bonecos de barro, mas sem
aquele acabamento perfeito dos carajá.
Os homens fazem bonecos de cera, os "anainti", usando cera preta
de abelha. Modelam com rapidez na cera preta um ser
sobrenatural - o "Topi".
CACHIMBOS DE BARRO
Os homens fazem também cachimbos de barro. Antigamente
usavam cachimbos feitos do fruto do jequitibá. Os cachimbos são
também queimados no forno.
São bem compridos, medem cerca de quinze centímetros de
comprimento. São chamados de "petiaua".
Os pajés usam cachimbos mais compridos ainda.
Atualmente passaram a fazer cachimbos com figuras humanas,
rostos de . homens.
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A alimentação dos carajá baseia-se principalmente na pesca e na
cultura de plantas alimentícias.
Atualmente as caças do mato são muito escassas nesta região. Há
muitas aves, mas só comem o mutum.
Criam outras aves para arrancar penas para enfeites.
É no rio que os carajá buscam o seu alimento, quer nos peixes,
quer nas tartarugas que lhes dão a carne e ovos saborosos.
OS PARENTES DOS HOMENS
Os índios não comem os animais domésticos porque acreditam que
são parentes dos homens. Para eles os animais agem e falam, apenas
de uma forma diferente da nossa.
Raramente caçam animais de pelo, como veados, macacos, antas,
capivaras; onças.
A CAÇA PERIGOSA
A onça é chamada de "anloá". Como esta ataca, de vez em quando,
saem para caçá-la em grupos.
Geralmente o cacique não os acompanha. Entretanto é o primeiro a
ir, quando se trata de pesca.
Caçam com arco, flecha e lança - "donoli". A flecha "uohu" é
grande, com pontas de madeira dura com farpas. O matador da onça
carrega-a nas costas até a aldeia, como um verdadeiro troféu de
vitória.
Os tapirapé caçam a anta, hoje raríssima, e a capivara. A capivara é
flechada, depois usam a lança e não raro terminam a caçada com
bordoadas de borduna (espécie de tacape) que carregam sempre
consigo, quando entram no mato ou saem para uma excursão.
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Depois de morta, carregam a capivara amarrando suas patas, duas a
duas, e enfiando numa vara.
Logo que se aproximam da aldeia começam a cantar, festejando o
acontecimento.
Jogam a capivara com pelo e . tudo no fogo, depois sapecada de
brasa e misturada com cinzas, partem e comem. A cinza funciona
como sal.
Os dentes da capivara são muito disputados para enfeites.
OS CESTOS
Os índios tapirapé trançam com folhas de palmeira babaçu um
cesto sólido para carregar` nas costas. Têm a forma de um grande
canudo: é o pehyra .
Os carajá fazem os "behulé" - cesto para ser carregado
exclusivamente por homens.
Prendem os cestos às costas com tiras de embira (palmeira) largas;
macias, como se fosse uma mochila.
Passam também uma tira larga na testa do portador.
Carregam o pirarucu, grande peixe de escamas, da água doce,
dentro destes cestos.
O pirarucu é um banquete.
Há também cestos duplos, de forma oval que servem para homens e
mulheres carregar objetos de pequeno porte.
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O trabalho
O PILÃO PRIMITIVO
As índias carajá preparam as panelas e mais tarde
as comidas.
Os homens preparam o pilão. Cortam-no de um tronco de árvore, e
em geral a madeira escolhida é o pequi. O pilão é escavado a fogo
no sentido da madeira, como cresceu, verticalmente.
Outras tribos fazem o pilão escavando-o no sentido horizontal, o
tronco deitado.
O pilão carajá é maior, alcança meio metro de comprimento e a
boca é bem larga também.
A "mão" do pilão pode ser de pequi ou de outra madeira dura.
O TRABALHO COM O PILÃO
A maneira de socar o pilão varia. Às vezes a índia fica de pé, outras
ajoelhada.
A mulher soca o aipim (mandioca mansa) usando a mão de pilão
que tem mais ou menos um metro de comprimento.
No pilão socam também milho para as papas e o urucu, para fazer
as pastas com as quais se pintam.
A LENDA DO PILÃO
Algumas tribos acreditam que um herói-civilizador um dia soprou a
mão de pilão que estava socando milho e ele virou mulher...
Quem .sabe se é por isso que as mulheres ficaram com a cintura
fina de pilão...
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Esportes
LUTA DE BRAÇO
Entre os índios carajá, o esporte mais apreciado é a luta de braços,
"idjazó", muito semelhante à luta que praticamos hoje, só que muito
mais violenta, chegando às vezes a ferir seriamente os braços dos
lutadores.
A FESTA DE "ANARCAN"
A festa de luta de braços dura um dia inteiro. Chamam a festa de
"anarcan".
O vencedor da disputa é aquele que consegue derrubar o maior
número de lutadores. Recebe o título de "deridó" - cacique. Recebe
também vários presentes. Aquele que nunca foi derrotado é o
idjazúdu e, embora casado. pode continuar a usar punhos e enfeites.
Geralmente o homem casado já não se enfeita mais...
A HORA DA LUTA
Ao visitar uma tribo, os moços lançam o desafio.
Através de gritos de saudação tem início a disputa.
Além de luta de braço, há outro tipo muito semelhante à luta
corporal - a "huca-huca" dos xinguanos. Os encontros entre os dois
disputantes duram de dois a três minutos, só o tempo de um dos
lutadores se estatelar de costas no chão.
Este é o perdedor.
Os lutadores são muitos leais. Não há agressão aos juízes, o
respeito é absoluto. É uma boa lição aos ditos civilizados. Esta luta
antecede a festa do Aruanã.
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O trabalho
GARIMPEIRO GARIMPAGEM
As riquezas das entranhas das terras brasileiras afloram nos rios,
nos cascalhos desmontados nas grimpas (encostas), nas montanhas.
Neste trabalho há cerca de meio milhão de trabalhadores - os
garimpeiros.
A denominação - garimpeiro - veio de um vocábulo pejorativo -
grimpeiro. Os grimpeiros subiam as grimpas, no passado, fugindo ao
fisco. Iam grimpando as encostas, as escarpas, as montanhas.
Eram homens fortes, vigorosos, ágeis, que ao pressentirem a
presença de um fiscal fugiam.
Eram os grimpeiros, mais tarde garimpeiros .
O nome hoje não tem mais sentido pejorativo. É o nome de homens
arrojados que lutam na extração de pedras preciosas, ou de ouro,
nos terrenos de aluvião.
Ou quebrando cascalho para a busca de metais preciosos.
A GARIMPAGEM
O garimpeiro muda a fisionomia da paisagem em que
se põe a trabalhar, por causa dos desmontes.
A técnica extrativa ainda é muito primária. Muitos
garimpeiros são explorados. Pagam taxas altas. Quando não têm
ferramentas nem capital, para manter a família, recorrem ao "meia-
praça", pessoa que financia e fica com 50 % do que o garimpeiro
encontra.
Existe também um outro sistema de sujeição: "picuá-preso". O
"dono" que faz o empréstimo ao garimpeiro tem o direito, da
"primeira vista", de escolher o que quiser e pagar o preço que
impuser.
FAISCAÇÃO
Chamam de faiscação a procura de ouro nos cursos d'água. Ou nas
areias que faiscam à luz do sol, nos bicames (calhas) de madeira,
que trazem na água as areias auríferas para os decantadores.
Os instrumentos usados pelos garimpeiros são: batéias, pás,
picaretas, carretas para transporte de cascalhos, bicames de madeira
para água, peneiras, canoas pequenas, agitadores etc.
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O trabalho
O TEAR TRADICIONAL
Em muitos lugares do Brasil o tear manual se tornou peça de
museu.
Em algumas casas, que ainda desejam reter um pouco do passado
tranqüilo, mesmo com alguma dose de saudosismo, a velha roca
serve de enfeite.
AS VELHAS TECELÃS
Em alguns municípios de Goiás podem-se ver velhas tecelãs
confeccionando várias peças de tecidos, agora valorizadas pelo
turismo.
A matéria empregada é o algodão. O algodão é colhido, depois
descaroçado. Separam os caroços das fibras. O resto das impurezas
é retirado nas cardadeiras (espécie de escova de aço).
A seguir tem início o trabalho feito no fuso, na roca.
O fio é enrolado em novelos nas caneleiras. Começa então o
trabalho no tear.
RECEITAS DE PONTOS
No tear as tecelãs misturam os fios de variadas cores
executando diversos pontos de acordo com a "receita
de pontos", que no seu linguajar simples denominam-se: xadrez,
xadrezinho, xadrez liso, xadrezão, xis, em cruz, rosa, rosinha,
esteira, esteirinha, riscado, riscadinho, chumbadinho, olho de
mosquito, olhinho, peninha, galhinho, emparelhado, grão de areia.
Os nomes são dados pelo mundo que as rodeia.
OS TECIDOS
De acordo com o tipo de ponto, os tecidos têm diversas utilidades:
para colcha, para camisa de homem, para vestido de mulher, roupas
de criança, roupas de cama.
Tingem os tecidos com tintas corantes originárias de certas plantas,
barro, ferrugem, conseguindo as cores: vermelha, azul, preta,
marrom e outras.
As técnicas tradicionais deste artesanato estão se revitalizando,
graças ao turismo e à educação do povo, que passou a valorizar a
tradição.
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Folguedo
LUTAS DE CR ISTÃOS E MOUROS
O povoamento do Brasil se deu justamente quando
ainda a alma dos portugueses estava chorando as muitas perdas que
tiveram nas lutas contra os mouros, que invadiram Portugal.
O devotamento de D. Manuel, o Venturoso, a criação da Ordem de
Cristo, embora tenha tido finalidade econômica, e da qual a primeira
bandeira a tremular em nossa terra foi a que veio com Cabral, tudo
revela um grande desejo de cristianizar as terras conquistadas.
OS HERÓIS DO MAR
Portugal é a pátria dos "heróis do mar, nobre povo, nação valente e
imortal, que deu ao mundo novos mundos". Nas descobertas tinha
como grande empresa, conquistar o mundo para a fé católica, que os
impulsionava.
Os primeiros nomes da nossa costa foram colocados de acordo com
os santos do calendário religioso, católico romano.
TEATRO RELIGIOSO
O teatro que nasceu dentro das igrejas teve um papel importante.
Ele foi empregado pelos primeiros catequistas que chegaram a
aprender a língua dos índios para nela escreverem os autos,
pequenas peças de teatro, que deveriam ser representadas na língua
da gente da nova terra.
-- Página 277
Mas aqui não havia apenas o curumim, o mameluco, e escravo a
ser cristianizado.
O próprio povoador português precisava ser assistido
religiosamente, ser um soldado da religião.
Os autos populares tinham essa finalidade.
Os dramas, as representações, ensinavam a tese da ressurreição
para a gente mais simples, como no Bumba-meu-boi, e a conversão,
na Congada. A ressurreição, no draminha que representa o Boi
sendo ressuscitado pelo Pajé.
A CONVERSÃO
A conversão aparece no batismo do Mouro ou Congo, nas
Congadas, nas lutas de Cristãos e Mouros.
A ressurreição e a conversão foram apregoadas para os escravos,
os mamelucos, os índios, participantes desses teatros populares,
barulhentos, dos engenhos, das fazendas, aos trabalhadores de sol a
sol que têm o sábado ou o domingo para se divertir...
religiosamente...
AS CAVALHADAS
Para os donos das terras, os fazendeiros, o catequista usou a
Cavalhada - a luta entre Cristãos e Mouros, dramatizada com grande
gala.
Cada grupo procurava fazer trajes mais ricos do que os dos outros.
As cores fundamentais tinham que ser respeitadas: para os Cristãos
o branco e o azul¸ a cor do céu, da pureza, do perdão. Para os
Mouros, o vermelho, o verde, a cor das chamas do inferno, das
amarguras.
Até nas próprias espadas há um simbolismo. Os Cristãos, com
espadas retas - da retidão da justiça. Os Mouros, com espadas
curvas, dos maus, dos sicários.
Na Cavalhada repetem a tese da conversão onde o Bem e o Mal
lutam. A vitória final é do Bem.
-- Página 278
Ritos
ENTERRO DE REDE
A morte tem os seus ritos, que são vividos intensamente, de acordo
com as crenças de cada um.
No interior do Brasil, quando se percebe que o doente está
agonizando, colocam-lhe uma vela acesa na mão e rezam o Ofício da
Agonia e a Ladainha de Todos os Santos, "para ajudar a morrer".
Se a morte é de uma criança - "um anjinho" - é uma morte alegre,
porque acreditam que irá para o céu e será um a menos a sofrer na
terra.
Ninguém deve chorar a perda da criança, para que as lágrimas não
molhem as asas do anjo que vem buscá-la, impedindo-o de voar.
Às vezes cantam no "velório do anjinho":
Numa barquinha de ouro
um rosário de cordão
seu filho chora no peito
sua mãe no coração...
A MORTALHA
No interior, quando uma pessoa morre, saem normalmente três
pessoas para cuidar dos preparativos do enterro: uma providencia a
mortalha, a outra o atestado de óbito, e a terceira avisa, o mais longe
que puder, a morte do amigo.
Depois de vestido, cobrem-no com um lençol e o colocam na cama
ou esteira com quatro velas nos cantos. Ao lado da cama fazem um
pequeno altar. E começam a cantar as Excelências ("Incelências").
AS "INCELÊNCIAS"
São quadrinhas repetidas doze vezes, porque são doze os
apóstolos. Preparam a chegada do morto no céu.
ÚLTIMO EMBALO NA REDE
O morto fica exposto a noite toda. Ao amanhecer colocam-no na
rede. Cortam uma vara de taquara e amarram a rede com embira
(folhas de palmeira).
Ao clarear o dia cantam a despedida do morto à família, cada verso
cita um parente que se despede.
Despeça da sua esposa
até o dia do Juízo
pra te encontrar
na porta do Paraíso...
Feita a despedida, entre beijos e choros, o corpo sai.
Uma pessoa varre a casa e joga o cisco bem longe.
E o enterro desaparece na curva do caminho...levado na rede...
Vamos cantar um excelência
do meu São Francisco
que se dê seu passaporte
nossa Mãe Maria Santíssima.
Passaporte já tenho
falta absolvição
pra esta alma subir pra glória
com a Virgem Conceição.
-- Página 279
CAPÍTULO XVIII
GOIÁS (1)
No extremo norte do Estado de Goiás encontra-se uma floresta que
é a continuação da floresta amazônica e que pertence à Amazônia
brasileira. Nesta região pouco habitada, no vale do rio Araguaia,
vivem os índios carajá, xambioáe javaé. O Estado de Goiás tem uma
área de 642.036 km quadrados.
É um dos Estados cuja população mais cresce no Brasil tendo
2.997.750 habitantes. É um Estado agropastoril possuindo
mais de 9.200.000 cabeças de gado. Em Goiânia (jovem e moderna
capital do Estado) e em Anápolis estão concentradas as
zonas fabris. Neste número um pouco das histórias, dos costumes e
das lendas dos índios carajá e javaé.
-- Página 280
O homem
A TRIBO CARAJÁ
O primeiro homem civilizado que visitou a região do Araguaia foi
o capitão português Diogo Pinto de Gaia em 1720. Ele subiu o rio
Araguaia,. Chegando ao sul da ilha do Bananal.
Mas a primeira referência sobre os índios carajá foi feita pelo
bandeirante paulista Antônio Pires de Campos que percorreu a
região e constatou a presença em forma de lâminas muito finas.
O primeiro contato, pacífico a princípio, acabou entre lutas
violentas. Muitos índios foram mortos ou escravizados.
Os índios carajá vivem à margem direita do rio Araguaia, são
habitantes soberanos desta região.
Formavam um grupo de 7 á 8 mil almas, vivendo em oitenta
aldeias, ao longo do rio Araguaia.
Os poucos carajá hoje existentes, sessenta apenas, vivem
pacificamente e são comerciantes.
O TIPO FÍSICO
Os índios da tribo carajá são bem proporcionados.
Estatura mediana. A mulher é pequena. O homem é vigoroso, os
ombros largos. A cabeça oval. A boca larga, cheia. Os dentes bem
conservados. Os cabelos pretos, levemente ondulados. Têm poucos
pelos e costumam arrancá-los. As nádegas grandes constituem um
elemento ideal de beleza dos carajá.
Sua pele é amarelada, fina, delicada, macia.
A boa alimentação dá ao carajá muita força e saúde, que
demonstram remando ou "brincando" de luta de braço...
AS CASAS DA TRIBO CARAJÁ
As casas são propriedade das mulheres. A organização social
carajá é matrilinear (sucessão por linha materna) e matrilocal (o
marido mora na casa da mulher).
A construção da casa é feita pelo homem que vai se casar,
contando com o auxílio dos moços solteiros.
A mulher paga o serviço com colares de miçangas.
No interior da casa estão esteiras para dormir ou sentar. Os objeto
são enfiados no teto ou em postes.
As cerâmicas estão espalhadas pelo chão.
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As aldeias são formadas por cerca de oito casas, enfileiradas ao
longo da praia do rio, longe das enchentes. Constróem as casas de
acordo com as estações.
Uma casa para o período das chuvas, outra para o período da seca.
As casas são recobertas de palha de palmeira, buriti ou indaiá.
CASAS ESPECIAIS
A casa do cacique é mais bem feita. Nela dormem também os
visitantes.
Dentro da casa está um objeto fora do comum - o banco do
cacique.
Existe também uma casa reservada para a mulher dar à luz.
Outra casa especial é a casa das máscaras, onde guardam os
objetos para as danças e as máscaras. Serve também de moradia para
os rapazes solteiros.
Os carajá mudam muito de lugar, abandonam as casas ou queimam.
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PINTURAS - ENFEITES
Os homens da tribo carajá andam completamente nus, mas cobrem
o corpo com pinturas.
Usam enfeites nas orelhas. No lábio inferior colocam um tembetá
(objeto duro).
As mulheres adultas usam uma espécie de tanga preta. Na cabeça,
usam ataduras de embira (casca de cipó).
As meninas, antes da puberdade, usam simples cintas de algodão.
O homem usa uma espécie de chapéu de palha.
O SIGNIFICADO DOS PENTEADOS
O arranjo dos cabelos é feito de acordo com a idade e o sexo.
As meninas usam franja e cabelo até a nuca. As mulheres usam o
cabelo para trás, comprido.
Os meninos raspam toda a cabeça ou fazem uma coroa circular.
Após receberem a marca da tribo (um círculo tatuado em cada maçã
do rosto), deixam crescer os cabelos. Na frente o cabelo comprido é
atado formando topetes e atrás penachos. Untam o cabelo com óleo
de palmeira, tornando-o preto e ondulado.
Hoje usam tesoura para cortar o cabelo. Antigamente usavam
dentes de piranha ou lascas de taquara.
A PINTURA DO ROSTO E DO CORPO
Pintam o corpo de branco, vermelho e preto. O branco vem da
argila. O vermelho é extraído do urucu (fruto de um arbusto - o
urucuzeiro). O preto é obtido do genipapo ou da fuligem de certas
madeiras queimadas.
Pintam-se com as próprias mãos, ou com carimbos feitos de
taquara.
Pintam o rosto com muito cuidado. As pinturas variam de acordo
com a ocasião, as festas, os rituais.
O cacique e as suas mulheres recebem tatuagens e pinturas
diferentes no rosto: riscos em forma de leque entre os lábios e o
queixo.
AS TATUAGENS
As tatuagens são pinturas permanentes feitas com dentes de
cachorro, encastoados numa cuia. Riscam cortando levemente a
pele. Logo que o sangue dos cortes pára, colocam a tinta do
jenipapo. Depois da cicatrização aparecem os desenhos realizados.
Não é uma técnica muito usada, atualmente.
A tatuagem típica é a da marca tribal, feita no rosto, por pessoas
especializadas, que são remuneradas. A aplicação é feita em
crianças de ambos os sexos, entre 12 e 14 anos.
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OS GANHOS FREQÜENTES
Os carajá cuidam muito do corpo, banhando-se constantemente. O
primeiro banho é de manhã. Mas, por qualquer motivo, se lançam na
água. como sabão a casca de uma árvore.
Usam como sabão a casca de uma árvore.
Depois do banho, perfumam o corpo com resinas perfumadas,
guardadas em cuias.
Os banhos freqüentes desgastam as pinturas dos corpos, que são
constantemente renovadas.
A CERÂMICA CARAJÁ
A cerâmica é um trabalho realizado pelas mulheres.
Fazem vários tipos de jarro, potes altos, urnas funerárias, panelas,
tigelas.
As meninas fazem os bonecos, "os licocós" e aprendem a fazer a
cerâmica utilitária.
A cerâmica usada pela tribo não tem enfeites. Mas, como são bons
comerciantes, fazem com desenhos para vender aos visitantes.
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Armas
CAÇA - GUE RRA - ESPORTE
O carajá é imponente com as suas armas.
Usa a clava, o tacape, as lanças e o arco e flecha, com ponteiras de
osso, de madeira ou lascas de bambu.
O índio carajá não viaja sem as suas armas.
Alguns tacapes têm o cabo revestido com fios de algodão, com
pingentes, ou taquara trançada de duas cores.
Para o esporte usam também o arco e flecha, que arremessam para
o ar. Deitam-se de costas e, com a ajuda dos pés, fazem o
lançamento da flecha, que atinge grande altura e volta a cair ao seu
lado.
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Arte plumária
A VAIDADE CARAJÁ
E m algumas tribos do Brasil apenas os homens usam enfeites.
Na tribo carajá homens e mulheres enfeitam-se desde crianças.
Os jovens usam mais enfeites que os velhos. Mas, ficar viúvo, volta
a usar os enfeites da juventude.
ROUPA: ENF'EITES, PLUMAS
Os jovens índios usam enfeites de plumas, os casados deixam de
usá-los.
As meninas usam anéis e colares.
Nas ocasiões festivas, os carajá usam na cabeça um cocar. O cocar
é feito com uma armação de taquara, onde colocam as penas de
papagaios, araras, cegonhas, garças e outros pássaros. Arrancam as
penas e misturam as cores artisticamente.
Usam também diademas, faixas com penas enfiadas na posição
vertical.
As rodas de plumas são feitas com longas penas enfiadas em três
séries de cordéis, em curva, que repousarão na cabeça.
Há muitos outros enfeites de plumas. Faixas para a testa. Cintas de
penas, para os quadris. Pulseiras. Colares com penas e outros
materiais: miçangas, frutos e cordéis de algodão, com pingentes.
ENFEITES DE ACORDO COM O SEXO E A IDADE
Logo que as crianças nascem abrem um orifício na orelha.
Introduzem enfeites de dentes de capivara, rosetas de plumas
pendentes, rosetas feitas com penas de papagaio ou uma simples
vareta.
Os índios do sexo masculino abrem um orifício no lábio inferior,
com 6 ou 7 anos de idade. Neste orifício colocam pedaços de ossos,
pedras, madeiras ou conchas.
Os solteiros usam enfeites de algodão tingido, nos braços, nas
pernas, nos quadris e na nuca. As cores variam: vermelho para os
jovens, preto para as crianças.
Os enfeites são as roupas dos carajá.
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Ritos
OS MISTÉRIOS DA MAGIA
É fácil penetrar no mundo mágico dos índios carajá, embora já
estejam em contato com os civilizados há muito tempo.
O menino carajá ao entrar na adolescência passa a viver na casa
das máscaras ou dos mistérios. Nesta casa aprende a arte plumária e
os segredos masculinos: os ritos de fertilidade, da mitologia carajá.
As mulheres carajá dançam esfregando as mãos
no ventre, pedindo fertilidade
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A MÃE DÁ A LUZ - O PAI FICA DE "RESGUARDO"
O carajá ao se tornar pai observa a "couvade" ou choco. Não pode
andar muito nem falar Porque o seu cansaço refletirá no filho. Fica
de resguardo" até que o umbigo do filho cicatrize.
Durante este período tem que observar vários tabus: não comer
carne de vários animais e da piranha, peixe muito voraz, que poderá
transmitir ao filho maus caracteres.
Acredita que a ligação entre o pai e o filho é tão profunda, que
estas abstenções devem ser respeitadas cuidadosamente.
I
Nenhuma mulher pode assistir à festa do Aruanã.
Somente algumas mulheres virgens podem participar do ritual da
festa do Aruanã.
A FESTA DE ARUANÃ
É uma das mais empolgantes do calendário mágico - religioso dos
carajá. É realizada por ocasião da lua cheia. Dançam a noite toda.
Na casa das máscaras estão todos os enfeites da dança: camisa de
fibra de coqueiro e um saiote de fibras soltas.
A cabeça da máscara é enfeitada por penas de arara que aumentam
o tamanho dos dançarinos.
Da casa de máscaras os índios vêm para a praça, aos pares,
dançando, renovando os ritos dos feitos heróicos, amorosos e
dramáticos do povo carajá.
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Usos e costumes
A VIDA DA TRIBO
A tribo carajá é essencialmente coletora, vive da catança, da caça e
da pesca.
Somente agora, devido ao contato com os civilizados, o carajá
passou a se dedicar ao plantio.
Há uma divisão de trabalho de acordo com o sexo.
Os homens caçam, pescam, limpam o terreno, plantam a mandioca
(mansa e brava) e o cará. Preparam as armadilhas para pegar
animais. Catam o mel, guardando a cera para o seu artesanato.
As mulheres plantam milho, batata-doce, urucu, algodão, pimenta,
fumo e plantas medicinais.
Quando as frutas não estão muito maduras são enterradas na areia
para amadurecer.
A mulher carajá compete. também a catança de frutos silvestres,
bagos de babaçu, buriti, jenipapo, cajá, jabuticaba, pitanga,
mangabas, raízes e tubérculos.
A ARTE DE COMER
Os produtos da pesca ou da catança são consumidos logo, porque
não têm sal para conservar, nem geladeira...Atualmente defumam a
carne como fazem os tupi.
A cozinha do carajá é rudimentar.
Armazenam poucos alimentos: ovos de tartaruga, milho e
mandioca, depois de cozidos.
A carne e o peixe são cozidos ou assados:
Às vezes comem ovos crus de tartaruga.
Comem muito mas não são gordos...
A HORA DE COMER
Cozinham fora de casa. As panelas de barro são mexidas por
colheres de pau.
Fazem duas grandes refeições: o almoço por volta das oito da
manhã e o jantar à tardinha.
Ao meio-dia comem piranha assada, frutas, nozes, coquinhos.
A FORMA DE BEBER
Usam poucas bebidas: sucos de frutas e água. Os frutos de piqui,
pilados, são aferventados e se transformam em bebidas doces,
inebriantes.
Fazem também uma papa com mandioca, fermentada, que pode
embebedar.
A HORA DE FUMAR
Os carajás afirmam ter aprendido a fumar com os homens brancos.
Não fazem cigarro de palha, mas uma espécie de charuto,
enrolando a folha de fumo.
Usam cachimbos de frutos de jequitibá, caprichosamente
trabalhados, com riscos e sulcos.
Recentemente passaram a fazer cachimbos de barro, imitando os
homens brancos.
A MADEIRA TRABALHADA
Os trabalhos de madeira são feitos pelos homens.
Normalmente cada qual faz seus objetos de uso pessoal: arco,
flecha, remo, clava. Entretanto, a canoa é o resultado de um trabalho
de equipe.
Derrubam as árvores (jatobá ou ipeúba) e depois escavam com
fogo. São canoas monóxilas (uma única peça).
Fazem também pilões, bancos com formas de animais, raladores de
mandioca, batoques, pentes.
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Os índios carajá andam nus mas gostam muito de se enfeitar. Com
o fio de algodão fazem os tamancurás, enfeites que usam nos braços
ou nas pernas. Fazem também lindos cintos de algodão enfeitados de
penas.
AS MULHERES TECEM
Desde cedo as mulheres aprendem a tecer, fiar, traçar. Usam o fio
do algodão para fazer os punhos, as "jarreteiras", os enfeites e as
tangas.
AS ESTEIRAS, AS CABAÇAS, AS REDES
Os carajá dormem em esteiras.
Os homens fazem trançados de entrecascas ou das palhas da
palmeira ou buriti.
Fazem também os chapéus carajá, que só têm as abas.
Traçam abanos para ativar o fogo. Fazem cestos de vários
tamanhos e finalidades, faixas que passam pela testa para carregar
coisas pesadas, e peneiras de taquara.
Das cabaças (fruto maduro, oco, do cabaceiro) fazem cuias para
beber água.
A cerâmica é feita pela mulher, adulta ou criança. O processo é
transmitido de mãe para filha.
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Figuras de bonecos de cerâmica.
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Artesanato
"OS LICOCÓS" - BONECOS CARAJÁ
Na linguagem carajá o boneco é chamado de "licocó". As meninas
aprendem a fazer os licocós, enquanto as mães fazem a cerâmica
utilitária.
As mães colhem o barro cinzento na barranca do rio.
Depois o misturam com ingredientes de origem vegetal: raízes,
flores.
Trituram o barro, que depois de modelado é secado ou cozido.
/
OS LICOCÓS
Sentadas nas esteiras, tendo à sua frente o Rio Araguaia, as
meninas carajá recebem as suas primeiras lições de arte da
modelagem. Aprendem a fazer o seu ABC - o licocó. Fazem também
pequenas canoas com os seus remadores, que passam pelo rio.
Os licocós são feitos de acordo com o ideal de beleza carajá, por
isso as nádegas das bonecas são muito grandes. Representam,
geralmente, mulheres grávidas, com grandes seios, pois este é o
ideal da menina carajá: crescer cheia de formas, ser fértil, ter muitos
filhos.'
As meninas completam os bonecos com enfeites de algodão,
colares de sementes, casas de caracol perfuradas e um fio de borla
preta.
Nas bonecas colocam uma faixa na cintura feita de entrecasca de
árvore, tão fina quanto um pano.
O tamanho médio dos licocós é 20 centímetros.
O contato com os civilizados alterou durante algum tempo os
bonecos carajá, que passaram a ser feitos para agradar os turistas.
Hoje, os licocós voltaram à sua forma primitiva. E a menina carajá
brinca com seu boneco, enquanto não carrega seu filhinho.
-- Página 292
Usos e costumes
A PESCA
Os carajá pescam com arco e flecha, arpão, rede ou anzol de aço.
Saem para pescar duas vezes ao dia. Ao voltar da pescaria cantam e
no canto dizem os nomes dos peixes que pescaram; surubim, piava,
pintado, tucumaré, pacu, pirarara, piranha, pirarucu.
A FORMA DE PEGAR O PEIXE
O pirarucu é um dos maiores peixes de escama de água doce
(atinge quase 2 metros de comprimento).
A forma mais primitiva de pegar o pirarucu é usar uma rede de
embira (cipó) ou algodão. Neste processo participam vários índios.
Quando o pirarucu fica enroscado na rede, o índio mergulha e agarra
o peixe, cavalgando-o até que ele fique cansado. Depois conduz o
pirarucu até a praia, onde é morto a pauladas.
Então o peixe é carregado na ubá (canoa), até a aldeia.
Quando o pirarucu é de tamanho médio usam o arco e a flecha.
Quando é muito grande usam uma espécie de arpão. Colocam uma
ponteira de aço numa vara forte de madeira e na outra extremidade
uma corda.
Prendem a corda em bóias de cabaças ou na canoa...
Quando o peixe é arpoado sai numa corrida desesperada. Depois,
já cansado, é arrastado para a praia e morto a pauladas.
Mais recentemente os carajá passaram a pesca uma planta chamada
timbó, cuja folhagem batem dentro da água matando os peixes.
Devem ter aprendido com os xavante este tipo de pescaria; que
ainda é usada em algumas cidades do litoral do Brasil.
-- Foto de dois índios pescando com flechas sobre uma canoa no rio e outro índio rem
ando.
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O homem
A TRIBO JAVAÉ
Os índios javaé moravam na parte norte da ilha do Bananal, às
margens de uma grande lagoa, cheia de peixes. Falam uma língua
semelhante à dos carajá.
Os javaé eram mais altos do que os carajá. Mas não eram tão
imponentes.
Ficaram muito tempo longe dos homens civilizados.
Quando o contato foi realizado os javaé não resistiram às doenças,
transmitidas pelos civilizados.
A tribo hoje está praticamente extinta.
A CASA DOS JAVAÉ
Na estiagem a aldeia principal ficava situada na praia.
Quando as chuvas chegavam (meados de agosto) mudavam-se para
o interior, junto da mata.
A mata era o seu horizonte e o seu medo. Medo que transparecia
no seu olhar, no seu modo de viver, nos seus cantos tristonhos,
cheios de morotonia.
USOS E COSTUMES
Os javaé tinham um artesanato mais caprichado do que os carajá.
Faziam cerâmica, colares, enfeites, esteiras, sem desenhos.
Possuíam a casa das máscaras, onde moravam os solteiros, bem
distantes das outras casas.
Pescavam e cultivavam a mandioca, cuja papa era o seu principal
alimento.
Cultivavam o fumo, de qualidade superior ao dos carajá.
Os instrumentos musicais eram rudimentares, sem enfeites. O
maracá era o principal.
Faziam também assovios de palha de buriti.
Os bonecos eram iguais aos primitivos dos carajá, de barro cru,
sem braços, com cabelos de cera preta. Infelizmente esta como
muitas tribos brasileiras, não conseguiu sobreviver ao contato com a
civilização.
-- Página 295
Capítulo XIX - MATO GROSSO (1)
Mato Grosso é um Estado agropastoril.
Possui mais de 10 milhões de cabeças de gado. Numa área de
1.231.549 km2 vivem apenas 1.623.618 habitantes. É um dos
Estados menos povoados do país, a agricultura do arroz, café, milho
e feijão é muito desenvolvida. Produtos minerais: ouro, diamante,
minério de manganês. A cidade de Cuiabá, capital do Estado, foi
criada em 1719, em conseqüência das bandeiras em busca de ouro.
Ao norte do Mato Grosso encontra-se a parte meridional da floresta
Amazônica. Nesta região vivem diversas tribos de índios. Neste
capítulo um pouco da vida, dos costumes e das lendas das tribos do
Alto Xingu.
-- Página 296
O homem e a terra
OS ÍNDIOS DO ALTO XINGU
Mais ou menos na metade do Estado de Mato Grosso, para o norte,
encontramos o divisor das águas das grandes bacias hidrográficas
brasileiras (a do Prata e a Amazônica).
Num emaranhado de redes-canais e lagoas estão as nascentes dos
rios formadores do Xingu: Culuene, Coliseu, Batovi, Ronuro,
Jatobá, Ferro e von den Steinen.
AS DIVERSAS TRIBOS
Nessa região rica em campos, matas, cerrados, frutos, peixes e
caças vivem várias tribos da área cultural indígena Xingu.
Falam várias línguas: camaiurá e aueti (língua tupi), meinaco,
vaurá, iaualapiti (língua aruaque), trumai (língua isolada), suiá
(língua gê). Além dos cuicuro, calapalo e nahuquá (língua caribe).
Na tribo nahuquá, do rio Coliseu, encontramos índios com, olhos
azuis.
OS ÍNDIOS ARUAQUE
O primeiro homem civilizado que penetrou nesta região foi o
etnólogo alemão Karl von den Steinen, em 1884.
Página 297
Escreveu clássico da etnologia (ciência que estuda a cultura das
civilizações primitivas: "O Brasil Central".
Aí localizou tribos de língua aruaque, e viveu entre outras de
língua caribe, gê e tupi.
O nome aruaque provém de uma tribo que veio da Venezuela, os
araguaco.
A expansão desta tribo foi tão grande que alcançou as costas do
Pacífico, ao sul até o Chaco e ao norte até as Antilhas e o sul da
Flórida.
Foram esses índios que entraram em contato com Cristóvão
Colombo, em 1492, quando a América foi descoberta.
OS ARUAQUE ESTÃO DESAPARECENDO
Apesar da grande grande expansão dos povos de língua aruaque
determina duas causas principais estão determinando a sua extinção:
a falta cada vez maior de alimentos e a limitação voluntária de
filhos.
Eram índios pacíficos, viviam em guerra defensiva contra os índios
Caribe.
A VIDA DA TRIBO ARUAQUE
Geralmente os índios aruaque têm a pele mais clara que a dos
caribe, rosto largo, olhos oblíquos, feições delicadas. Cabelos lisos
ou ondulados. Poucos pelos. São agricultores, cultivam mandioca,
milho e tabaco
Em geral usam um cinto abdominal de tecido de algodão vermelho.
Muitos adornos: pulseiras, ligas, cocar de penas. Nas orelhas, os
homens e mulheres se enfeitam com penas. No nariz somente os
homens colocam penas.
São povos da fase da prática agrícola, têm uma tem organização
matrilinear (sucessão pela parte materna).
TÉNICAS DE TRABALHO
Os homens da tribo derrubam e, queimam as matas.
As mulheres plantam.
Entre os aruaque a cerâmica e bastante desenvolvida.
Sabem tecer algodão, redes, tangas, ornamentos.
Os trançados e a cestaria são bem desenvolvidos.
A atividade diária do homem é a pesca e a caça.
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A casa
A MAILOCA CAMAIURÁ
Os índios camaiurá moram nas margens das lagoas, nos chapadões
do norte do Mato Grosso. Nas nascentes do rio Culuene, um dos
formadores do Xingu.
As muitas lagoas desta região possuem uma enorme quantidade de
peixes, que constituem o alimento principal da tribo.
Alimentam-se também com os produtos de uma agricultura
rudimentar: de mandioca e milho.
MALOCAS REFRIGERADAS NATURALMENTE
Constróem suas casas não muito longe da lagoa e da roça. Existem
muitas malocas do tipo elítico em outras tribos desta região, mas
nenhuma delas tem a beleza e é mais vistosa do que a maloca dos
camaiurá. Medem uns 20 metros de comprimento, 10 de largura e 6
de altura.
A vida dentro da maloca é muito agradável, devida à sua
construção de parede dupla. Colocam uma parede interna e outra
externa, havendo ventilação entre as duas. Este sistema mantém o
ambiente confortável, no frio ou no calor.
O INTERIOR DA MALOCA
No centro da maloca há dois postes. Em torno destes ficam as redes
em círculo.
As varas, solidamente fincadas no solo, arqueiam em cima e são
amarradas para formar o arcabouço da casa, ficando suavemente
curva e abobadada. A cobertura e as paredes são de palha.
A maloca é bem grande porque abriga várias famílias biológicas,
que formam uma grande família. Esta grande família é dirigida por
um ancestral comum, do sexo masculino, que é muito respeitado.
Várias malocas formam uma aldeia.
Na aldeia não há um chefe único, mas os vários chefes de cada
maloca. Compõem uma espécie de colegiado, que governa a aldeia.
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Armas
OS ARCOS PERFEITOS
Os índios camaiurá não comem animais de sangue quente, só os de
sangue frio (peixes e tartarugas).
Não comem aves nem caças de pelo. Embora possam caçá-los para
fazer instrumentos cortantes com os seus dentes, como é o caso da
capivara.
Utilizam também as penas das aves para fazer enfeites plumários.
A pesca é muito desenvolvida entre eles, sob várias formas,
inclusive com o arco e flecha.
OS ARCOS DOS CAMAIURÁ
Uma das especialidades dos índios camaiurá é o preparo dos arcos,
que trocam por colares, panelas e outros objetos, com as demais
tribos da região.
As flechas cuidadosamente preparadas são de um equilíbrio
notável, sendo um instrumento altamente preciso.
AS TROCAS
É por ocasião das festas de iniciação na aldeia, quando convidam
outras tribos vizinhas para a festança, que se realizam as trocas.
É uma verdadeira permuta, barganha, daquilo que cada tribo se
especializa em fazer.
Os arcos dos índios camaiurá são disputadíssimos pelos visitantes.
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Arte plumária
OS NOVOS PÁSSAROS
Os índios têm uma arte muito especial - a arte plumária. Fazem
enfeites extraordinários com penas.
A arte plumária da tribo urubu-caapor é de uma riqueza
impressionante de cores.
ENFEITES PLUMÁRIOS DOS ÍNDIOS UAURÁ
Nesta página estão vários exemplos de enfeites plumários dos
índios, que vivem perto do rio Batovi.
Os vaurá também foram encontrados no médio rio Coliseu. São do
grupo lingüístico nu-aruaque.
É uma tribo em franca extinção.
Como as demais tribos desta região, são rivais entre si, mas não
entram em guerras.
A sua arte plumária lhes dá um destaque especial entre as outras
tribos.
Os homens usam uma pena vermelha que vai da orelha ao nariz
que são perfurados.
Há dois tipos de cocar. Um cocar suntuoso feito numa espécie de
diadema (anel) de palha. Coberto com penas pretas, vermelhas e
penas amarelas, do papo de tucano. Partindo deste anel saem as
penas grandes de arara: amarelas, vermelhas e azuis, formando um
leque. No centro do cocar colocam duas penas bem compridas do
rabo da arara.
Fazem também outro tipo de cocar mais simples, que é a plumagem
presa numa faixa, amarrada diretamente na cabeça. É mais raro este
tipo de cocar.
Usam também braceletes de plumagem amarela de penas do papo
do tucano, presos na parte superior dos braços.
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Artesanato
TRANÇADOS E TECIDOS
Os índios vaurá plantam algodão e com ele fazem várias peças que
usam na confecção dos seus enfeites.
No pente fazem um enfeite com fios, artisticamente tecidos, usando
principalmente o branco e o preto.
Os fios pretos são enegrecidos em uma panela com suco de
jenipapo.
OS TRANÇADOS
Fazem vários trançados de palha de palmeira: o trançado do
diadema do cocar, os abanos, as esteiras, as redes e os mais variados
tipos de cestas.
Fazem uma cesta especial, muito grande, onde guardam os
alimentos.
Penduram a cesta numa estaca, para não ser atacada pelas formigas
e os animais caseiros.
Atualmente criam: o cão, os sagüis, os macacos e os micos.
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Arte indígena
PINTURA ABSTRATA GEOMÉTRICA
É bem provável que o índio observando os animais, tenha notado
ser o macho mais bonito, mais pomposo do que a fêmea...
A plumagem dos machos das aves é sempre mais rica, as cores
mais variadas e brilhantes. O canto do macho também é mais
mavioso, mais atraente...
Será por este motivo que o homem índio se enfeita mais do que a
mulher?
Em algumas tribos a diferença é muito grande. São os homens que
se dedicam a pintar o corpo, a se enfeitar com plumagens. Colocam
batoques nos lábios e orelhas, furam o septo nasal.
AS MULHERES ENFEITAM OS HOMENS
As mulheres ajudam a pintar o corpo de seus maridos. São elas que
desde cedo enfeitam os filhos do sexo masculino, preparam colares,
cintos, tecem pulseiras e enfeites de algodão para as pernas. É um
trabalho paciente e demorado.
Duas cores têm primazia na pintura indígena: o vermelho e o preto.
As cores são extraídas de sementes, frutas, barro branco e terras
ferruginosas.
DESENHOS ABSTRATOS
Apesar dos índios estarem cercados pela grandiosidade da nossa
flora e fauna, eles, geralmente, não as desenham nas suas pinturas.
Fazem desenhos abstratos, geométricos.
Não é uma arte primitiva, mas a arte de uma cultura mais
adiantada. Partindo de um elemento natural, transformam-no em
geométrico.
Por exemplo: fazem um losango no centro e depois vão fazendo
outros maiores em torno - chamam este desenho de arara. Na
verdade o olho da arara é assim.
Fazem também um triângulo, de base pequena, e lados muito
grandes - chamam este desenho de jacaré. Não é assim a pele do
jacaré?
Na pintura do corpo, nos artefatos e na cerâmica assim é a arte dos
nossos índios: abstrata, geométrica.
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Figuras de pintura do corpo dos índios do Xingu por ocasião da festa do Javari.
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Usos e costumes
O JAVARI
O Javari é uma recreação sadia praticada pelos índios do Alto
Xingu.
O Javari, simulando um combate, descarrega a belicosidade, a
rivalidade existente entre as tribos vizinhas. Propicia também o
comércio, a troca de artesanato. Os índios camaiurá se declaram
introdutores do "iawari" entre as demais tribos xinguanas. Os trumai
também.
OS PREPARATIVOS DA FESTA
Julho é o mês da festa. Antes da catança dos ovos de tracajá
(tartaruga de água doce).
Os índios camaiurá convidam os seus vizinhos: vaurá, aueti,
cuicuro, calapalo, nahuquá e trumai.
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É neste período que se realizam as trocas, o comércio. Os vaurá
trazem sua cobiçada cerâmica e os camaiurá os seus famosos arcos e
flechas.
Feito o convite para a tribo disputante, começam os preparativos da
festa, na aldeia camaiurá.
As mulheres fabricam beijus (bolos de mandioca). Os homens
intensificam a pesca.
AS ARMAS DO JAVARI
Os jovens fazem os dardos que serão atirados durante a disputa.
Fazem também um rancho para guardar as flautas para outros ritos
e cerimônias. Pronta a casa preparam um boneco de palha que serve
de alvo para treinamento. No boneco massacram simbolicamente o
adversário. O treino é feito a qualquer hora do dia ou da noite.
O CONVITE
Enviam três mensageiros à tribo vizinha, pintados com pinturas
geométricas pretas de jenipapo, cheios de enfeites.
Levam o arco e flechas. Rede para dormir e beijus para comer na
viagem, que durará cerca de três dias.
Quando os convidados aceitam o convite e não podem voltar juntos
com os mensageiros, enviam um cipó cheio de nós. Os nós
representam o número de dias que vão demorar para chegar.
O DIA DA FESTA
A chegada dos participantes da outra tribo é recebida com muita
alegria. As mulheres levam comidas e bebidas para o local onde
ficarão hospedados os visitantes. Na madrugada ouvem-se os cantos.
Vai ser o dia do Javari em homenagem a um cacique morto. Seus
parentes são os promotores da festa.
O JOGO DO JAVARI
O jogo consiste no arremesso do dardo, que deve atingir o
adversário da cintura até os pés.
O adversário terá como defesa um feixe de varas.
Caso um dos disputantes seja atingido pelo dardo, é imediatamente
assistido por seus companheiros. E o vitorioso é rodeado pelos seus,
orgulhosamente.
Quando acabam as disputas aproximam-se da panela de cauim
(bebida ,feita de fruta, milho ou mandioca mastigada e fermentada).
Antes de mais nada os chefes de cada equipe quebram um dardo e o
colocam na borda da panela, iniciando-se uma carpição, uma
choradeira demorada pela morte do homenageado, o cacique.
Terminada a arenga, trocam presentes, e a seguir dançam. Assim
acaba a festa.
Os visitantes se despedem levando beijus e farinha para a viagem
de volta.
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Pesca
O ESTRANHO CIPÓ-TIMBÓ
A pesca entre os índios brasileiros constitui uma técnica de
subsistência muito importante. Há tribos que são ictiófagas (só
comem carne de peixe), têm tabu em relação às carnes de outros
animais e aves.
Na pesca empregam arco e flecha, redes, uma espécie de anzol de
osso (pindá) e o timbó.
A PREPARAÇÃO DO TIMBÓ
O timbó é um cipó. Produz um veneno (a rotenona) que ataca
apenas os animais de sangue frio - os peixes, que ficam com a
respiração paralisada. O timbó não faz efeito sobre os homens.
Bem de madrugada, começam a triturar e a desbagaçar o timbó,
sobre um pedaço de madeira dura.
Quando o timbó está preparado, ficam aguardando a ordem do
chefe da tribo para dar início à pescaria.
O LOCAL
A pesca com o timbó tem que ser realizada em lago rasas. Não se
pode usar o timbó em água corrente. No local de entrada da lagoa
por onde os peixes entram e saem, fazem uma espécie de barragem
de galhos de árvores.
Ali ficam os práticos, esperando o chefe da tribo. Quando o chefe
chega entram na canoa e a pesca começa.
Participam da pescarias homens, mulheres e crianças.
Levam arcos, flechas, cestos, facas.
Entram gritando alegremente e lançando o timbó macerado na
lagoa.
Os peixes menores vêm logo à tona. Os índios pegam os peixes
com as mãos. Os maiores são esbordoados, flechados ou fisgados.
As mulheres colocam ativamente os peixes dentro dos cestos
ativamente os peixes dentro dos cestos. É uma verdadeira alegria a
pesca com o timbó. O peixe pode ser comido pelo homem
normalmente.
Essa pesca com timbó é praticada em muitas cidades do Brasil.
Herança índia legada à cultura brasileira.
-- Página 307
O trabalho
CANOA DE JATOBÁ
Os índios que vivem na beira dos rios se utilizam de um elemento
indispensável - a canoa, ubá ou piroga. A canoa é monóxila (feita de
um só pau, escavado). Na Amazônia, na região do Xingu, é comum
outro tipo de canoa - a de casca de jabotá.
A HORA DE FAZER CANOA
É por ocasião das chuvas que preparam as canoas de casca. As
árvores estão com mais seiva e a umidade do ambiente facilita a
retirada da casca do jabotá. O jatobá é a árvore preferida porque tem
um tronco volumoso, reto, alto.
Depois que encontram a árvore, a primeira coisa que fazem é
retirar um pedaço de casca para ver se dará uma boa canoa.
Limpam o chão em redor e abrem um sulco atingindo metade da
base da árvore.
Em seguida, fazem sulcos laterais que sobem pelo tronco formando
o desenho da canoa da proa até o bico.
Depois armam andaimes (jiraus) para o apoio dos cortadores. A
medida que vão cortando, colocam cunhas (pedaços de madeira)
entre a casca e o tronco.
Desprendem a casca de cima para baixo, molhando. Retiram a
casca cuidadosamente com auxílio de cordas. No chão corrigem os
possíveis defeitos.
No estaleiro a canoa é aquecida para dar a curvatura da proa e da
popa, que são levantadas. Depois, colocam a canoa para esfriar. E
está pronta a canoa de jatobá.
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Artesanato
GUERRA DA CERÂMICA
Os índios xinguanos dão enorme importância à cerâmica, lutam
para obter panelas, potes, etc.
Duas tribos se destacam entre as demais no fabrico da cerâmica
utilitária: iaulapiti e vaurá.
ÀS VEZES AS CERAMISTAS SÃO RAPTADAS
Os índios iaulapiti, praticamente extintos, tiveram muitas vezes as
suas aldeias assaltadas por outras tribos que roubavam algumas
mulheres ceramistas.
As outras tribos não tinham boas ceramistas.
Doenças dos civilizados e guerras entre os próprios índios
liquidaram com os índios iaulapiti.
As mulheres da tribo vaurá também têm sido raptadas pelas tribos
vizinhas, que não possuem mulheres capacitadas para o trabalho
oleiro.
AS MULHERES VAURÁ
São verdadeiras artesãs, fazendo uma cerâmica excelente. Suas
vasilhas reproduzem formas zoomórficas (formas de animais).
Nas panelas para mandioca ou nas tigelas bojudas fazem a
reprodução dos animais que os rodeiam: tatu, tartaruga, sapo, jacaré,
peixe, arraia, urubu.
Além da reprodução da forma destes animais, enfeitam suas peças
com desenhos geométricos. A beleza maior da cerâmica vaurá não
está nos enfeites, mas nas formas da cerâmica, reproduzindo
animais.
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Artesanato
MÁSCARAS BACAIRI
Os índios da tribo bacairi viviam no rio Paranatinga e no rio Novo.
Chegavam até Mato Grosso, Cuiabá. Estes índios, a partir do século
20 passaram a viver como civilizados.
Mas, o bacairi das margens dos rios Coliseu e Batovi, embora em
contato com a civilização, continuam a viver no seu primitivismo.
AS MÁSCARAS
As máscaras dos índios bacairi eram esculpidas em madeira e
depois pintadas. Não eram anatômicas, ajustadas ao rosto, como as
máscaras feitas de entrecasca de árvore.
As máscaras dos bacairi eram retas. Tinham uma finalidade mais
decorativa.
Faziam dois buracos para os olhos (para o portador enxergar) e um
terceiro olho decorativo, na parte superior. Pregavam com cera ao
redor do orifício ocular, pedaços de madrepérola ou de caramujo, de
casca brilhante ou branca. A boca também era aberta na madeira e
com cera pregavam dentes de piranha. Colocavam cabelo de palha
de palmeira e uma barbicha. A tribo bacairi está praticamente
extinta.
-- Página 310
Ritos
A PURIFICAÇÃO DAS MALOCAS
O mundo mágico e mítico dos índios é mais rico do que o nosso. A
vida dos índios é marcada por rituais, cerimônias.
No Javari, depois do jogo, existe a carpição (o choro pelos mortos)
partindo a seta da pessoa que morreu, que está sendo rememorada,
na refeição tribal.
URUÁ - RITUAL DE PURIFICAÇÃO
Ligado às cerimônias, na época do jogo do Javari, está o ritual de
purificação da aldeia, onde a música e a dança estão presentes. É o
rito do Uruá. A música é monótona e a dança um simples bater de
pés.
No final da festa do Javari, ao entardecer, antes que o sol se ponha,
saem dois índios com flautas (uruá).
As flautas são feitas com duas taquaras compridas (2 metros), uma
mais grossa do que a outra, emitindo sons diferentes. Um som grave
e outro agudo. A música é muito monótona.
AS VIRGENS PURIFICADORAS
Atrás de cada tocador de uruá (nome da flauta e do ritual) vem uma
jovem virgem.
Coloca a mão direita sobre o ombro do tocador e a mão esquerda
no ventre. Entram os quatro nas malocas, tocando e dançando.
Circulam dentro de toda a maloca, depois entram na próxima, até o
sol se por.
Agora os índios estão tranqüilos porque convocaram os espíritos
dos mortos para o centro da praça, onde estão fincados os cuarupes
(paus que representam os mortos), que serão lançados no rio depois
do cerimonial.
Assim os espíritos estão libertos e a aldeia está purificada.
-- Página 311
Capítulo XX
MATO GROSSO (2)
Pelo Tratado de Tordesilhas a área que hoje compreende o Estado
do Mato Grosso pertencia à Espanha. Os bandeirantes foram os
primeiros a chegar na região, por volta de 1632. Depois algumas
missões de jesuítas. As penetrações foram ficando cada vez mais
ousadas: pela procura de mão-de-obra indígena e pela descoberta do
ouro. Sertanistas que procuravam o metal precioso estabeleceram-se
às margens do rio Cuiabá e formaram um povoado. Mais tarde esse
núcleo se transformaria na vila de Cuiabá.
Depois dessas incursões foram assinados tratados (1750 e 1777)
que reconheciam a área como sendo de Portugal. Mato Grosso
desenvolveu-se como Estado agropastoril e hoje é a região menos
povoada do país.
Neste capítulo, algo sobre os costumes, lendas e histórias dos
índios e do povo do Mato Grosso.
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O homem
OS ÍNDIOS DO MATO GROSSO
Mato Grosso é a região onde vivem muitas tribos de índios. O
Estado onde nasceu Cândido Rondon, o Marechal da Paz. Um
homem que dedicou a vida para servir a pátria e os seus
semelhantes, os índios. Personagem notável de nossa história,
sertanista e defensor perpétuo dos índios. Seu lema: "Morrer, se
necessário. Matar, nunca". Esse trabalho incansável inspirou os dois
bandeirantes contemporâneos: os irmãos Cláudio e Orlando Villas
Boas. Há mais de trinta anos os dois se dedicam à pacificação das
tribos do centro-sul do Brasil. E hoje o trabalho o trabalho dos dois
concentra-se nos índios gigantes, os crãnhãcarore.
OS ÍNDIOS-CAVALEIROS
O que resta das tribos do Mato Grosso? A maioria desapareceu,
algumas entraram em contato com sertanistas e com a civilização,
outras se aculturaram. Como os cadiueu, os antigos guaicuru. Os
primeiros a usar o cavalo. Os animais, levados aos pantanais e ao sul
do Brasil pelos primeiros povoadores, acabaram se transformando
na maior arma da tribo. Os guaicuru eram então os temíveis
cavaleiros. Tão ousados que chegaram a vencer o homem civilizado.
-- Página 313
Os paulistas tinham medo de um choque com os mbayá-guaicuru,
que conseguiam proezas num cavalo. Montavam não só da maneira
convencional, como também de lado. Assim, a única solução era a
emboscada no mato. Mas os índios eram um alvo difícil.
Escapavam da mira das armas de fogo do inimigo.
A MARCAÇÃO DO GADO
Os cadiueu são uma tribo nômade e, para subsistir, adotaram a
técnica pastoril. Passaram a criar gado nos pantanais mato-
grossenses. Como os homens civilizados, começaram a usar o ferro
em brasa para marcar os seus animais. Ferravam o gado. Cada dono
com seu desenho, cada um com sua marca.
Os cadiueu vivem num contato permanente com o mundo
civilizado. Suas mulheres, quando trajadas, mais parecem
caboclinhas. Jovens vestidas com roupas do século passado. A febre
amarela silvestre tem dizimado os remanescentes da tribo.
-- Página 314
Esportes
O HUCÁ-HUCA
O "iuteque" ou hucá-hucá é uma modalidade esportiva, um tipo de
recreação praticada pelos índios xinguanos. A tribo visitante é
recebida pela tribo hospedeira. Os que recebem a visita dizem que
estão muito fracos; mas aceitam disputar a luta do hucá-hucá.
A PREPARAÇÃO DOS LUTADORES
Começam a luta corporal. O hucá-hucá, que lembra a luta da onça
com os peixes no primeiro dia da criação dos índios. Os lutadores
estão pintados. Nas costas estão desenhados os seus respectivos
totens.
Passam óleo de piqui no corpo e se apresentam. Os lutadores
anfitriões se ajoelham, colocam as mãos no chão, bem em frente aos
adversários. É a mesura, a saudação.
A LUTA
O lutador escolhe o seu adversário. Cordiais na luta, nem precisam
de um juiz para decidir quem ganhou. Parecem dois felinos, um
investindo contra o outro, dando urros de onça. Retesam os
músculos. Engalfinham-se. Um tenta fazer com que o outro toque
com os ombros no chão. É o fim da luta.
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VENCEDOR E VENCIDO
O vencedor ajuda o adversário a se levantar e diz: "ganhei porque a
sorte me ajudou". O perdedor levanta-se e aceita a derrota.
Cansados, reúnem-se para participar da cerimônia do cuarupe, em
memória a um chefe índio que morreu.
A NATAÇÃO
É impressionante o estilo de nadar de certos índios. Os camaiurá
podem ser considerados os verdadeiros nadadores. O aprendizado
começa cedo, quando mal sabem andar. Os pais levam as crianças
para brincar na água. A temperatura é convidativa, a brincadeira
é agradável.
UM ESTILO ELEGANTE
O camaiurá salta dentro do rio com perfeição. Cai sem fazer o
menor barulho de impacto de seu corpo com a água. Nada
deslizando com rapidez, sem espirrar água. Mergulha com precisão,
demorando debaixo da água muito tempo. Vai até as grandes
profundezas do rio sem levantar lodo.
A LUTA PELA VIDA
Brincando e jogando, os índios xinguanos preparam-se para a vida.
Viver é lutar . Existe uma disputa, uma espécie de recreação que
prepara os índios para a precisão no uso das flechas. A pontaria
perfeita.
Fazem um aro de cipó, mais ou menos um palmo de diâmetro.
Rodam o aro e o índio tem de fazer passar a flecha por dentro desse
aro.
-- Página 316
Usos e costumes
OS GÊ BOTOCUDO
A investida dos bandeirantes levou os caiapó a se afastarem cada
vez mais do oeste do Brasil. No início deste século tinham
verdadeiro ódio aos seringueiros.
Ainda hoje existem caiapó vivendo na margem esquerda do rio
Araguaia. Outras tribos fixaram-se nas cabeceiras do Xingu. São
uma grande família do grupo gê.
OS CAIAPÓ
São índios que usam rodelas de madeira nos lábios.
Ainda menino, o caiapó fura o lábio inferior. Vai alargando aos
poucos, colocando rodelas maiores. Só quando nada é que tira o
adorno. É o "cocaco", exclusivo dos homens. As mulheres usam
adornos nas orelhas (às vezes usados também por homens). Os
caiapó são índios menores do que os carajá, de cabeça redonda,
rosto curto e largo. Raspam o centro da cabeça, da testa para trás. O
resto do cabelo é comprido, descendo até os ombros. E cabeça
pelada é "cubencraqueim", nome que os outros índios lhes dão.
Usam diadema e cocar de penas.
A VIDA DOS SUIÁ
Os suiá vivem no Alto Xingu. Usam canoas de casca de árvores.
Também usam o disco de madeira nos lábios, mas só depois do
casamento. Dormem com o disco e lavam-no todos os dias, na hora
do banho. Usam cabelos compridos.
A cozinha é fora da casa. Comem coco de palmeira inajá e gostam
muito de mel. As crianças gostam do fruto do jatobá. E os mais
velhos preferem os ovos de tracajá, que são enterrados na areia.
Comem muito peixe, tirando as vísceras e deixando as escamas.
Fazem moquém de peixe e depois maceram na mão fazendo uma
pasta. Os homens preparam a roçada e plantam a mandioca. As
mulheres plantam o milho.
OS ÍNDIOS TUXUCARRAMÃE
Os tuxucarramãe vivem no Alto Xingu, no Tocantins-Xingu e nos
cerrados do Médio Xingu. Não usam canoas. São altos e delgados.
Como outros do grupo gê, só os homens usam o disco labial. O disco
é usado também para expressar sentimentos. A horizontal é
a posição normal. Mas quando o disco está levantado e o índio tapa
o nariz, quer dizer que está descontente.
-- Página 317
O CASAMENTO DOS BEIÇO-DE-PAU
Os índios beiço-de-pau vivem entre os rios Arinos e Sangue. São
da família gê. Vivem da caça, da, pesca a da procura de alimentos.
Precisam de uma grande área para viver.
Os beiço-de-pau casam-se pela primeira vez com uma mulher
velha. E depois com uma menina, que ajudam, a criar.
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Arte indígena
PINTURA E CERÂMICA CADIUEU
Os cadiueu eram os famosos índios guerreiros.
Hoje são simples criadores de gado no pantanal mato-grossense.
São descendentes dos guaicuru, os índios-cavaleiros. Eram
dominadores. Raptavam crianças de outras tribos e tratavam-nas
muito bem. Tinham escravos submissos. Os homens eram
guerreiros, as mulheres artistas.
A PINTURA DO CORPO
As mulheres fazem desenho em couro, cerâmica, nos abanos dos
trançados, nas esteiras. A arte maior aparece nos rostos. Embelezam
o corpo com pinturas e o rosto com delicados desenhos, de
inspiração geométrica. Têm muito gosto e senso de proporção.
A MULHER PARTICIPANTE
As mulheres podem exercer funções mágicas na tribo: As curas, os
contatos com o sobrenatural. Elas empunham o maracá para marcar
o ritmo das danças do ritual religioso. Com a outra mão abanam um
penacho de penas de ema para afastar os maus espíritos. A mulher
cadiueu está em pé de igualdade com o homem, o que não acontece
em outras tribos.
OS TRABALHOS EM CERÂMICA
São muito conhecidas no Mato Grosso as oleiras cadiueu. Elas
fazem um trabalho bem decorado e de bonitas formas.
Para a confecção da cerâmica, há uma verdadeira divisão do
trabalho. O homem vai buscar o barro nas minas, nas beiras dos
riachos. Procuram madeira para queimar os materiais que dão as
tintas.
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A PREPARAÇÃO DO BARRO
As índias tiram as impurezas do barro. Misturam,
dosagem exata, as cinzas de determinadas madeiras e temperam o
barro na consistência desejada.
Usam a técnica dos rolos sobrepostos. Formam o fundo da peça no
tamanho desejado. Depois vão sobre pondo os rolos, ajeitando e
modelando para formar o resto da peça. Com uma cuia cheia de
água vão amaciando o barro. Alisam com pequenas conchas e
colocam a peça para enxugar na sombra.
A PINTURA FINAL
No dia seguinte verificam se a peça não rachou pelo calor ou pelo
vento. Aí começam a pintura. Usam o dedo como pincel. Para os
riscos mais delicados, um cordão embebido em tinta.
Depois de pintada, a peça vai ao fogo. É cozida ao ar livre, sem o
uso de um forno. Começam com fogo fraco e terminam com um fogo
forte, que dá o cozimento final da peça.
-- Página 320
O homem
OS BORORÓ
Os bororó formavam uma grande tribo que vivia no Mato Grosso.
Dividiram-se em dois grupos.
O ocidental vive entre o Alto Paraguai e as cabeceiras do rio
Guaporé.
O oriental, num vasto território (hoje bem reduzido) na estrada que
vai de Cuiabá a Goiás Velha.
A LUTA CONTRA AS ONÇAS
Índios fortes e vigorosos, os bororó passavam parte do ano em
grandes caçadas. Eram excelentes caçadores de onças.
Enfrentavam os animais com chuço (pau armado com uma ponta
em agulha) e lança. Lutavam com fúria. Morta a onça, retiravam a
pele.
O ENCONTRO COM A CIVILIZAÇÃO
Os bororó viviam oito a nove meses por ano junto da aldeia.
Alimentavam-se do milho e da mandioca que plantavam.
Chegaram os homens civilizados. Foram recebidos com gritos de:
"bororó, bororó, bororó".
Bororó na língua deles queria dizer "na praça".
Os índios queriam receber seus visitantes na praça.
Os antigos orarimogodogues orientais passaram a ser os bororó.
A MISSÃO SALESIANA
Com medo dos xavante, aceitaram a missão salesiana.
E se aculturaram. Um índio da tribo foi até estudar em Roma.
Tiago Aipobureu voltou para a tribo, desanimado com a
transformação dos índios. "Hoje um bororó não tem mais capacidade
para enfrentar uma onça."
A HABITAÇÃO E O CASAMENTO
Os bororó eram famosos por construir arcos fortes e artísticos.
Hoje estão aculturados. Moram numa casa com formato
aproximadamente retangular.
A mulher, quando se casa, continua a morar com a mãe. Por isso,
na casa bororó moram as mulheres com suas respectivas famílias.
Existe uma lei matrimonial rígida entre eles. A tribo é dividida em
duas metades. E uma pessoa de uma metade só pode se casar com
uma pessoa da outra metade.
-- Página 322
Umutina, a lembrança de um nome. De uma tribo que viveu na
margem esquerda do rio dos Bugres, afluente do Alto Paraguai.
Moléstias inofensivas (para os civilizados), como o sarampo,
dizimaram os umutina. Índios robustos, claros. Os mais claros
dentre os índios conhecidos.
ÍNDIOS ENFEITADOS
A base da alimentação umutina era a pesca e a cata de frutas.
Plantavam mandioca e cará. Viviam enfeitados. Todos os dias, com
penas coloridas grudadas no corpo por resinas.
Pacíficos, gostavam de impressionar seus visitantes.
Davam gritos ensurdecedores. Ensaiavam um ataque guerreiro. Um
verdadeiro teatro: cantavam e glorificavam seus feitos heróicos.
Contavam histórias (verdadeiras) de ataques noturnos, de incêndio
nas casas dos inimigos.
OS ADORNOS
Os umutina não gostavam dos adornos de metal que ganhavam dos
civilizados. Quando mortos, seriam enterrados com todos os seus
pertences. E ficariam penando por muito tempo, porque o metal
custa a acabar. Como adornos tribais usavam colares de sementes,
de dentes e unhas de animais, penas em quantidade.
A pintura era comum. Para a guerra ou para receber visitas. Era tão
impressionante que horrorizavam o inimigo ou visitante. No contato
com a civilização aprenderam a usar a buzina de chifre de boi. Nas
recepções usavam a buzina, aumentando ainda mais a festa, a
barulheira...
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Artesanato
BANCOS DE MADEIRA
Muitas tribos xinguanas dedicavam-se à confecção de bancos de
madeira. São trabalhos que reproduzem figuras humanas e de
animais. Representam tudo o que eles viam.
Hoje são peças raras e disputadas por etnólogos e museus.
Os bancos eram feitos de madeira forte e resistente.
Como não tinham muitos instrumentos para cortar e moldar, o
trabalho resultava difícil e vagaroso.
O PRIVILÉGIO DE USAR O BANCO
Os bancos não eram uma peça decorativa, mas um objeto de uso.
Mas não de uso comum. Só uma de terminada pessoa da tribo é que
podia usar o banco.
Geralmente essa pessoa era o cacique.
O banco era usado numa ocasião especial. Numa grande cerimônia.
Normalmente eram cerimônias cíclicas, realizadas antes ou depois
da temporada da pesca. Ou por causa de um fato importante para
tribo.
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Usos e costumes
AS TRIBOS DO .XINGU
Na área cultural indígena do Xingu localizam-se muitas tribos:
aueti, bacairi, camaiurá, cuicuro, calapalo, caiabi, naficuá, meinaco,
juruna, suiá, trumai, tuxucarramãe e uaurá.
Muitas já não existem mais, devido ao contato com a civilização.
As sobreviventes estão classificadas conforme o seu grau de
aculturação. São as tribos isoladas, as de contato intermitente, as
permanentes e as integradas.
As tribos de índios que se integraram foram as que sobreviveram.
Algumas vivem em seus antigos territórios. Outras estão nas
reservas demarcadas pelo governo.
Adquiriram muitos hábitos do mundo civilizado. Conservaram
alguns. Como o de dormir na rede.
A REDE
Normalmente a rede do marido fica sobre a da esposa.
A dele é de malhas fechadas. É feita com fios de algodão e palha de
buriti. A dela é partilhada com o filho.
Além disco, é a mulher que cuida do fogo. Fica na rede de baixo e
vai reavivando o fogo durante a noite.
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Usos e Costumes
O BOI-DE-SELA DO PANTANAL
Em cada região natural o homem cria o meio de transporte mais
adequado. Para vencer as longas distâncias não se pode apenas
andar.
Assim foi no pantanal mato-grossense. Lá era impossível usar a
canoa sempre. Também não dava para andar com a água pelos
joelhos.
O BOI COMO MEIO DE TRANSPORTE
A solução era usar o cavalo. Mas uma doença, a epizootia, atacou
os primeiros que chegaram lá. É uma doença que ataca cavalos e
burros, mais conhecida por "moléstia das cadeiras". Desgoverna a
parte traseira do animal. Mas não ataca os bois.
O boi virou boi-cavalo. Em vez de freio, furam a cartilagem
septonasal e enfiam uma argola. Nela apóiam uma rédea, que depois
passam no chifre do boi-de-sela. No lombo liso, um arreio
semelhante ao usado em cavalos.
O vaqueiro do pantanal cavalga o boi-de-sela usando longas
perneiras de couro macio. Geralmente usam pele de veado, animal
comum nas campinas do Mato
Grosso.
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Devoção
RITO DE MORTE
Com a morte de um bororó, seus parentes executam um ritual. Com
uma concha afiada retalham o corpo. Tiram sangue, que deixam
escorrer sobre o morto.
O cadáver é enterrado na praça da aldeia, numa cova de pequena
profundidade.
Passado algum tempo, quando resta apenas o esqueleto, este é
lavado. Pintam-no de vermelho, colocam-no dentro de uma cesta e o
jogam no pantanal.
O lugar é marcado com uma vara. Acreditam que a morte é devida
a uma fera. Então sorteiam um parente do morto. Ele será o
escolhido para matar uma onça pintada. Só assim conseguirão
acalmar o espírito mau que matou o bororó.
A MÚSICA E OS CANTOS RITUAIS
Ao entardecer ouve-se o toque de uma flauta. Começam os ritos
fúnebres.
Todos os membros da tribo vão para a praça. Da casa-dos-homens
sai um índio todo paramentado. Tem enfeites plumários e, em cada
mão, um maracá. Ele começa a tocar em redor de um couro de onça,
colocado feito estandarte na praça.
O couro, no lado interno, está todo pintado. Quadrinhos e desenhos
em vermelho, sobre fundo amarelo.
Chegam mais homens e começa um canto lamentoso.
Sem fim. Dão algumas voltas ao redor do couro. Voltam para casa.
Novamente ouve-se a flauta. Um jovem todo pintado e com penas
brancas coladas no corpo entra carregado. Senta-se sobre a pele da
onça.
Todos dançam em volta do matador da onça. O vingador. Agora é
ele quem toca a flauta, de pé. O chefe da cerimônia pega o couro e
dança com ele, ao redor do representante do morto.
Termina o ritual de morte. Na praça, muita comida e muita bebida é
oferecida a todos os bororó presentes.
Final do livro

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