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Anais do XXVI Simpósio de Filosofia

Moderna e Contemporânea da Unioeste


Anais do XXVI Simpósio de Filosofia
Moderna e Contemporânea da Unioeste
06 a 10 de novembro de 2023

Ester Maria Dreher Heuser


Célia Machado Benvenho
Wilson Antonio Frezzatti Jr.
(Organizadores)

Realização

Apoio
© 2024 UNIOESTE

Gerente Editorial
Junior Cunha

Editora Adjunta
Daniela Valentini

Produção Editorial
Amanda C. Schallenberger Schaurich
Mônica Chiodi

Capa
Éverton Diego Teles

Instituto Quero Saber


www.institutoquerosaber.org
editora@institutoquerosaber.org

Catalogação na Publicação elaborada pela Biblioteca Universitária


UNIOESTE/Campus de Toledo.
Bibliotecária: Marilene de Fátima Donadel - CRB – 9/924

Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da


Universidade Estadual do Oeste do Paraná (26. : 2023,
nov. 06-10 : Toledo, PR)
S612a Anais (do) XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e
Contemporânea da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(UNIOESTE) [recurso eletrônico] / Organização Ester Maria
Dreher Heuser, Célia Machado Benvenho, Wilson Antonio Frezzatti
Jr. – Toledo : Instituto Quero Saber, 2024.
392 p.

Modo de Acesso: World Wide Web:


<https://www.institutoquerosaber.org/editora>

Evento realizado no período de 06 a 10 de novembro de 2023,


na Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. Toledo,
Pr.
ISSN: 2176-2066
DOI: https://doi.org/10.58942/eqs.80

1. Filosofia moderna – Congressos 2. Filosofia contemporânea


– Congressos I. Heuser, Ester Maria Dreher, Org. II. Benvenho,
Célia Machado, Org. III Frezzatti Junior, Wilson Antonio, Org.

CDD 190.63
CDU 19(O61.3)

O teor da publicação é de responsabilidade exclusiva de seus respectivos autores.


XXVI Simpósio de Filosofia Moderna
e Contemporânea da Unioeste

Comitê Científico
Alex Fabiano Correia Jardim (Univ. Estadual de Montes Claros)
Alice Bitencourt Haddad (Univ. Federal Fluminense)
Ana Karine Braggio Franz (Univ. Estadual do Oeste do Paraná)
Andre Leclerc (Univ. de Brasília)
Andre Luis Mota Itaparica (Univ. Federal do Recôncavo da Bahia)
Angelica Vier Munhoz (Univ. Vale do Taquari)
Anna Maria Lorenzoni (Univ. Estadual do Oeste do Paraná)
Camila do Espirito Santo Prado de Oliveira (Univ. Federal do Cariri)
Carlos Batista Prado (Univ. Federal do Mato Grosso do Sul)
Carlos Renato Moiteiro (Univ. Estadual do Oeste do Paraná)
César Augusto Battisti (Univ. Estadual do Oeste do Paraná)
Cesar Mortari Barreira (Instituto Norberto Bobbio)
Claudinei Aparecido de Freitas da Silva (Univ. Estadual do Oeste do Paraná)
Cristiano Bedin da Costa (Univ. Federal do Rio Grande do Sul)
Daniel Omar Perez (Univ. Estadual de Campinas)
Danilo S. Verissimo (Univ. Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho)
Edgar da Rocha Marques (Univ. do Estado do Rio de Janeiro)
Eduardo Anibal Pellejero (Univ. Federal do Rio Grande do Norte)
Eladio Constantino Pablo Craia (Pontifícia Universidade Católica do Paraná)
Ethel Menezes Rocha (Univ. Federal do Rio de Janeiro)
Fernanda Machado de Bulhões (Univ. Federal do Rio Grande do Norte)
Gilmar Henrique da Conceição (Univ. Estadual do Oeste do Paraná)
Gonzalo P. Montenegro Vargas (Univ. Federal da Integração Latino-Americana)
Helio Rabello Cardoso Junior (Univ. Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho)
Jadir Antunes (Univ. Estadual do Oeste do Paraná)
Jair Antunes (Univ. Estadual do Centro-Oeste/PR)
Joao Antonio Ferrer Guimarães (Univ. Estadual do Oeste do Paraná)
Jose Fernandes Weber (Univ. Estadual de Londrina)
Jose Nicolao Juliao (Univ. Federal Rural do Rio de Janeiro)
Libanio Cardoso Neto (Univ. Estadual do Oeste do Paraná)
Luciana Zaterka (Univ. Federal do ABC)
Luciano Carlos Utteich (Univ. Estadual do Oeste do Paraná)
Luis Cesar Yanzer Portela (Univ. Estadual do Oeste do Paraná)
Marcelo do Amaral Penna-forte (Univ. Estadual do Oeste do Paraná)
Marciano Adilio Spica (Univ. Estadual do Centro-Oeste)
Marco Antonio Valentim (Univ. Federal do Paraná)
Mariana de Toledo Barbosa (Univ. Federal Fluminense)
Mario Ariel González Porta (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)
Nelsi Kistemacher Welter (Univ. Estadual do Oeste do Paraná)
Paola Basso Menna Barreto Gomes Zordan (Univ. Federal do Rio Grande do Sul)
Pedro Falcão Pricladnitzky (Univ. Estadual do Oeste do Paraná)
Rafael Salatini de Almeida (Univ. Estadual Paulista Júlio De Mesquita Filho)
Remi Schorn (Univ. Estadual do Oeste do Paraná)
Ricardo Pereira de Melo (Univ. Federal do Rio Grande Do Sul)
Roberto Saraiva Kahlmeyer Mertens (Univ. Estadual do Oeste do Paraná)
Rodrigo Gueron (Univ. do Estado do Rio de Janeiro)
Rosa Maria Dias (Univ. do Estado do Rio de Janeiro)
Saulo Sbaraini Agostin (Univ. Estadual do Oeste do Paraná)
Scarlett Zerbetto Marton (Univ. de São Paulo)
Silas Borges Monteiro (Univ. Federal de Mato Grosso)
Ulysses Pinheiro (Univ. Federal do Rio de Janeiro)
Wellington Trotta (Univ. Estadual do Oeste do Paraná)

Estudantes Participantes da Comissão Organizadora do Evento


Adriana Moreno Palacio da Silva Tomé
Amanda Victória Milke Ferraz de Carvalho
Ana Carolina Noffke
Ana Claudia Barbosa Nunes
Ana Marcia Wiezzer Silva
Bruno Carniato Dias
Carlos Henrique Favero
Carlos Kauan de Oliveira Pereira
Caroline de Paula Bueno
Cassiano Lucas Silva Carvalho
Christiano Tortato
Daniel Du Sagrado Barreto Daluz
Dayane Moz
Débora Fátima Gregorini
Diego Henrique Ferreira Dias
Doralice de Lima Barreto
Eduardo Adam Alves de Siqueira Goncalves
Ericson Divaldo Antunes Filho
Éverton Diego Teles
Fabio Taborda dos Santos
Filipe Luís Brustolin
Gabriel Panisson dos Santos
Gilmar Pereira
Jaqueline Neves Maciel
João Vitor Gaudencio de Lima
Júnior Luiz Ferreira da Cunha
Klênio Antônio Sousa
Larissa Cristina Cordeiro
Lazandir João da Silva
Leandro Paiola Albrecht
Leonan Coelho da Costa
Leonardo Augusto Catafesta
Letícia Pedrassa Prates
Luís Brustolin
Michelle Silvestre Cabral
Mônica Chiodi
Nicole Elouise Avancini
Olavo de Salles Comissão do Evento
Oscar Henrique de Souza e Silva
Paola Schroeder
Patrícia Santos de Oliveira
Pedro Henrique Silveira Rauchbach
Rafael Domingues
Raquel Tomasi da Silva
Reg Filisberto
Suellen Dantas Godoi
Thiago Henrique Sena de Barros
Thiago Luan Queiroz
Thiago Sitoni Gonçalves
Vanessa Henning
Wagner Rocha
Willian Carlos Kuhn
Wilson do Nascimento Rodrigues
Sumário

Apresentação ....................................................................................... 25
Discurso de Abertura do XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e
Contemporânea ................................................................................... 31
Programação do XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e
Contemporânea da Unioeste ............................................................. 35
Atividades do Simpósio em Imagens ............................................... 41

Resumos das Comunicações

A atitude poiética — Notas sobre a filosofia da instauração da


obra de arte
Eduardo Pellejero.................................................................................... 53
A ausência de justificações para a consideração moral direta de
fetos e as implicações disso no debate público
Gabriel Panisson dos Santos ................................................................. 56
A centralidade da categoria trabalho na ontologia do ser social
de George Lukács
Alfredo Batista....................................................................................... 59
A crítica de Espinosa à doutrina do livre-arbítrio
Thiago José Farias Paes .......................................................................... 61
A distinção entre morte efetiva e morte possível em Ser e Tempo
Amanda Victória Milke Ferraz de Carvalho .......................................... 65
A divinização da existência: arte e religião nos primeiros escritos
de Nietzsche
Leonardo Augusto Catafesta ................................................................. 67
A doutrina da vontade de potência: Nietzsche contra a biologia
do século XIX
Wilson Antonio Frezzatti Jr. .................................................................. 69
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A ética da alteridade de Emmanuel Levinas e suas consequências


políticas
Júlio César Lima de Farias ...................................................................... 71
A evolução conceitual da escola milesiana: uma defesa da
superioridade da teoria de Anaxímenes
Thiago Luan Queiroz .............................................................................74
A existencialidade na fé cristã como uma redenção
paradigmática e paradoxal em relação ao desespero humano do
“eu”: uma análise a partir do pensamento de Soren Kierkegaard
José Ignácio Jacob .................................................................................. 76
A figura do sujeito de direito no capitalismo
Bruno Carniato Dias ............................................................................. 79
A filosofia como unidade sistemática nas Introduções da Crítica
do Juízo de Kant
Mônica Chiodi ........................................................................................ 81
A ideia de progresso na metodologia dos programas de pesquisa
de Lakatos
Lazandir João da Silva ........................................................................... 83
A incapacidade de prova: Hume, Jacobi e o problema da
objetividade
Arthur Valença Macêdo Chermont ....................................................... 85
A instabilidade político-institucional no Peru e os limites
constitucionais
Jossy Yasira Sosa Fernandez .................................................................. 88
A Introdução aos Princípios: uma nova teoria do significado
Isabela Pereira da Cunha........................................................................ 91
A jurisprudência de superfícies como expressão de potências
singulares do direito
Paulo Roberto Schneider ....................................................................... 94

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Sumário

A metafísica de Anne Conway: uma oposição aos mecanicismos


de Descartes e de Espinosa
Bruno Martinez Tessele ......................................................................... 97
A missão desfetichizadora da arte na estética de György Lukács
Doralice de Lima Barreto ...................................................................... 99
A ontologia e a literatura de Sartre como proposta de novos
significados de mundo
Carlos Henrique Favero ........................................................................ 102
A ontologia segundo Heidegger e Sartre
Nicole Elouise Avancini ........................................................................ 104
A passagem para o trágico: de Kant a Nietzsche
Fernando Sauer .................................................................................... 106
A questão do constitutivo formal de Deus segundo o neotomista
Garrigou-Lagrange
Filipe Luís Brustolin ............................................................................. 109
A relação entre fé e razão em Dionísio Pseudoareopagita
Vitória Nunes Silva de Souza ................................................................ 112
A relação escritor-leitor no romance metafísico de Simone de
Beauvoir
Débora Fátima Gregorini ...................................................................... 114
A relação ser humano-natureza nos pensamentos de Ailton
Krenak e Hans Jonas
Alan Schneider....................................................................................... 116
A teoria do mínimo existencial x a reserva do possível e sua
relação com os princípios da justiça de John Rawls
Rafaela Djoana Cavalli & Marcelo Antônio Cavalli .............................. 118
A transformação de si enquanto um ato político
Pedro Henrique Silveira Rauchbach ...................................................... 121

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A “viscosidade” da finitude, um enigma à luz de Sartre em O Ser e


o Nada
Thiago Sitoni Gonçalves ....................................................................... 124
AGUEM – imanência, corpo e dança
Robson Farias Gomes ........................................................................... 126
Arte em tempos de niilismo: uma meditação heideggeriana
acerca do lugar da arte na contemporaneidade
Francisco Wiederwild ........................................................................... 129
As articulações fenomenológicas da Daseinsanalyse Clínica
Rafael Monho Ribeiro ............................................................................132
As três linguagens do tempo: a epistemologia críptica das
Weltalter como uma ontologia da díade e suas consequências
para uma teoria do ficcional
Gabriel Loureiro Pereira da Mota Ramos ............................................. 134
Avaliação de Carole Pateman para o campo do contratualismo,
abordagem das questões de igualdade de gênero, discriminação
e opressão em relação às teorias contratualistas tradicionais
Leonan Coelho da Costa....................................................................... 137
Biologia e sociedade: a subjetividade da mulher segundo Simone
de Beauvoir
Karine Rangel ....................................................................................... 139
Boal e as raízes subversivas do Teatro do Oprimido
Christiano Tortato ................................................................................. 141
Como grãos de mostarda: a antecipação do Reino de Deus na
Teologia da Esperança e a consciência antecipadora em Princípio
Esperança de Ernst Bloch
Jaqueline Thais de Souza ..................................................................... 144
Conhecimento e Controvérsia em Leibniz
Cristiano Bonneau................................................................................ 147

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Sumário

Crença religiosa e crítica racional: duas objeções a Vincent


Brümmer
José Felipe Cravelin ............................................................................... 149
Crítica ao fundamento da identidade da imagem dogmática do
pensamento
João Vitor Gaudencio de Lima............................................................... 151
De Saint-Exupéry a Martin Heidegger: interfaces entre literatura
e filosofia
Katieli Pereira ....................................................................................... 154
Des(aprendendo) a amar: o romantismo e a ficção na construção
do senso de realidade
Cecília Santos Oliveira ......................................................................... 156
Direitos do homem, Democracia e Paz: a importância da paz na
trilogia temática de Norberto Bobbio
José Francisco de Assis Dias ................................................................. 158
Discurso sobre o colonialismo de Aimé Césaire
Marlene de Fátima Rosa ....................................................................... 162
Do limite entre epistemonikón e logistikón: a interpretação
fenomenológica das virtudes dianoéticas em Martin Heidegger
Saulo Sbaraini Agostini ........................................................................ 164
É necessária uma filosofia para a agronomia?
Leandro Paiola Albrecht & Alfredo Jr. Paiola Albrecht......................... 166
Edgar Allan Poe e Walter Benjamin contra as artimanhas do
autômato
Oscar Henrique de Souza e Silva.......................................................... 168
Elementos filosóficos da Ética Comunitária, de Enrique Dussel
Lucas Tertuliano Alves da Silva ............................................................ 170
Ensaio sobre a violência política-eleitoral pela perspectiva
existencialista
Gabriela Araújo Fornari ....................................................................... 172

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Entre a filosofia e a poética: os sentidos do corpo em Nietzsche e


Fernando Pessoa
Enock O. S. Neto ....................................................................................175
Ernst Bloch: entre a utopia concreta da redução da jornada de
trabalho e a sua precarização
André Varella Bianeck .......................................................................... 178
Erotismo, morte, e continuidade do ser em Georges Bataille
Matheus Almeida Lopes ........................................................................ 181
Essência da natureza humana em Ludwig Feuerbach
Jaqueline Neves Maciel ......................................................................... 183
Estamira e o anti Édipo
Daniel Du Sagrado ............................................................................... 185
Estudo sobre o mecanicismo cartesiano
Caroline de Paula Bueno ...................................................................... 187
Ética e estética em “O Mito de Sísifo”, de Albert Camus
Gabriel Leva & Reinaldo Furlan ........................................................... 189
Excedentes culturais: a caixa de tesouros da humanidade,
segundo Ernst Bloch
Rosalvo Schütz ...................................................................................... 191
Filosofia na educação infantil em Matthew Lipman
Larissa Cristina Cordeiro ..................................................................... 193
Função materna: olhar investigativo acerca das mães e filhos TEA
Lucilaine Tavares da Silva Anschau & Vitória Silva de Almeida .......... 195
G. Deleuze: movimientos menores y feminismo movilizantes
Ruben A. Matesan ............................................................................... 200
Gilbert Simondon e as possibilidades educacionais:
individuação e técnica
Bruno Leandro Pereira C. Bueno .......................................................... 202
Grounding: um programa possibilista
Samuel Augusto Vezoli ........................................................................ 204

16
Sumário

Humanismo e democracia no contexto da formação do cidadão


João Paulo Domingos de Sousa ............................................................207
Implicação epistêmica em A essência do cristianismo: o saber
humano como elemento fundamental no processo de conhecer
Vanusia Carlos Diniz........................................................................... 209
Inocência e devir: aspectos do pensamento nietzschiano sobre a
vida humana
Gracy Kelly Bourscheid Pereira ............................................................. 211
Justiça como equidade e a necessidade de redistribuição da
riqueza
Nelsi Kistemacher Welter ......................................................................213
Kierkegaard e a espiritualidade como norteadora da busca
existencial do homem
Jeferson H. Oliveira ...............................................................................215
Leibniz e a expressão: uma introdução
João Antônio Ferrer Guimarães ............................................................ 218
Lembrar é imaginar? Novos caminhos em filosofia da memória e
filosofia da imaginação
Matheus Vinícius Cavalcante ...............................................................220
Lendo e debatendo Stutchka: para uma filosofia da praxis
jurídica
Julio da Silveira Moreira ....................................................................... 223
Liberdade e autenticidade do indivíduo para com seu ‘eu’ e a
educação em busca de uma sociedade menos opressora
Eduardo Adam Siqueira ........................................................................226
“Lucien Fleurier é um grande aspargo”: o olhar de outrem e a
intersubjetividade em Sartre
Thaís de Sá Oliveira..............................................................................228
Morte Animal e Teodiceia
Gustavo Luis Rossato ........................................................................... 230

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Nietzsche e La Rochefoucauld: observação psicológica dos


sentimentos morais
Amir S. B. Huda .................................................................................... 233
Nietzsche e o Amor
Ana Paula Valer .................................................................................... 235
Nietzsche e os Romanos
Cassiano Lucas Silva Carvalho............................................................. 237
Novas fronteiras afetivas: relações humanas na era da
inteligência artificial
Giselly Tiago Ribeiro Amado ............................................................... 240
O Brazil não conhece o Brasil: notas de uma filosofia desde o
Brasil
Ana Carolina Noffke ............................................................................. 243
O capitalismo e sua finalidade enquanto meio de produção de
riquezas materiais
Luiz Felipe Bergmann .......................................................................... 246
O conceito de Deus em Spinoza
Jeferson H. Oliveira ............................................................................. 249
O covil do maligno: um diálogo entre Kant e o budismo acerca do
mal no comportamento humano
Jeferson Wruck ..................................................................................... 251
O dissonante como base para a harmonia da esperança
Everton Diego Teles .............................................................................. 254
O fenômeno da significatividade em Ser e tempo
Olavo de Salles ..................................................................................... 257
O filósofo na obra Masnavi de Jalal ad-Din Rûmi
André Luis Lira .....................................................................................259
O Gabinete de Curiosidades: entre ciência e Experiência Estética
Ana Carolina Acom .............................................................................. 261

18
Sumário

O historicismo de Wilhelm Dilthey em contraponto à concepção


positivista sobre o estudo da humanidade
Vanessa Henning ................................................................................. 264
O mal político a partir da teoria de Hannah Arendt
Ana Claudia Barbosa Nunes ................................................................267
O papel da síntese passiva no Spiel gadameriano
Enrique Nuesch ....................................................................................270
O paradigma de Thomas Kuhn: as interpretações de Margaret
Masterman a respeito da noção kuhniana
Ericson Divaldo Antunes Filho............................................................. 272
O Partido Nazista no Brasil sob a perspectiva foucaultiana
Letícia Pedrassa Prates......................................................................... 274
O pensiero debole de Gianni Vattimo e Pier Aldo Rovatti
Adelino Pereira da Silva ........................................................................ 277
O princípio da paridade de participação na teoria de Nancy
Fraser e a comensurabilidade das demandas nas teorias de
justiça contemporâneas
Pamela Pereira Prestupa ......................................................................279
O problema da determinação: Deleuze, leitor de Kant
Gonzalo Montenegro ............................................................................ 281
O processo do conhecimento em Marx: apontamentos sobre o
método materialista histórico-dialético
Isabel Cristina Theiss .......................................................................... 284
O ser humano, a solidão e a sociabilidade em Schopenhauer
Diego Enrique Clare Junior...................................................................287
Os paradigmas de Thomas Kuhn e suas diferentes interpretações
Jéssica Fernanda Lagni ........................................................................ 289
Os reis não são mais do que seres humanos: análise sintética das
history plays de Shakespeare
Junior Cunha ........................................................................................ 291

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Pintura e pensamento: nas trilhas da ontologia da encarnação


Maria Saievicz ...................................................................................... 293
Pode a filosofia política prescindir da categoria raça?
Marcos de Jesus Oliveira ..................................................................... 296
Pode um antirrealista ser continuísta em história da ciência?
Gabriel Chiarotti Sardi ........................................................................ 298
Por que investigamos? Uma leitura de Pierre Hadot sobre o
filosofar como terapêutica
Guilherme Borges Almeida .................................................................. 300
Por uma nova sensibilidade: um diálogo entre a teoria crítica
marcuseana e a filosofia ameríndia
Thais Gobo Miota ................................................................................. 302
Princípios de justiça social: a importância da posição original e
do véu da ignorância em Rawls
Bred Patrik Oliveira Mugnol ................................................................305
Propriedade e contrato em Guilherme de Ockham: intersecções
e influências no contratualismo moderno
Anderson D’Arc Ferreira ...................................................................... 308
Propriedade privada no estado de natureza em Locke e Kant
Vanderson Lopes Coelho ...................................................................... 310
Qual a relação entre direitos e liberdade na teoria de Mary
Wollstonecraft?
Sarah Bonfim ........................................................................................ 312
Ricahrd Rorty e as estratégias redescritivas
Lucas Sartoretto ................................................................................... 314
Ruptura metabólica: a visão de Marx sobre a desconexão do ser
humano com a natureza pelo capitalismo
Leina Maria Glaeser ............................................................................. 316
Schopenhauer: história e a lei da motivação
Caio Miguel Viante ............................................................................... 319

20
Sumário

Sensibilidade ao contexto e indexicalidade: John Macfarlane e o


contextualismo epistêmico não-indexical
Matheos Mattoso Maia ........................................................................ 322
Ser filósofo nas luzes francesas: sobre O verdadeiro filósofo de
César Chesneau Du Marsais
Paulo Jonas de Lima Piva ..................................................................... 325
Sob o sol de dasein: a descoberta do ser-aí na Teologia da
Esperança
Jaqueline Thais de Souza ..................................................................... 327
Sobre a teoria do duplo efeito e a guerra justa
Napoleão Schoeller de Azevedo Júnior ................................................. 330
“Somos um povo como os outros”: Deleuze e a causa palestina
Ester Maria Dreher Heuser .................................................................. 332
Tédio em Heidegger: interpretações na contemporaneidade
Klênio Antônio Sousa ........................................................................... 335
Teoria dos sistemas intencionais: uma prospecção
Marcos Bragato .................................................................................... 338
Testamento vital: reflexões sobre vida digna e morte justa
Dayane Móz ......................................................................................... 341
Um caso contra o reducionismo ontológico: perspectivas à luz de
Herman Dooyeweerd e Roy Clouser
Israel Pacheco da Costa....................................................................... 344
Uma análise da guerra e do racismo de Estado para pensar a
governamentalidade em Foucault
Simony Silva Campello ........................................................................ 346
Uma estranha ecologia: do Anti-Édipo a Mil Platôs
Alan Rodrigo Padilha .......................................................................... 349
Utopia contra a Matrix e a excelência do excedente em Ersnt
Bloch
Luciano Carlos Utteich......................................................................... 352

21
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Resumos das Comunicações dos(as) doutores(as)


formados(as) no PPG-Filosofia da Unioeste:
Afinal, qual a tese da tua tese? 5 anos de teses
defendidas no PPG-Filosofia da Unioeste

A influência nietzschiana para um ensino a favor da vida


Abraão Lincoln Ferreira Costa ............................................................. 357
A insurgência das margens: filosofia da diferença e um
anarquismo por vir
Roberto Scienza ....................................................................................359
A política na ontologia de Lukács: um debate contemporâneo 361
Bruno Gonçalves da Paixão .................................................................. 361
A pré-reflexividade do personagem na ficção sartriana
Tiago Soares dos Santos ....................................................................... 363
A presença do Direito em Maquiavel
Jaqueline Fátima Roman ......................................................................365
A temporalidade descrita em Ser e Tempo como chave de leitura
das duas primeiras Meditações de Descartes
Geder Paulo Friedrich Cominetti ..........................................................367
A tirania do juízo no berço das civilizações helênica e judaica e
seu modus operandi na contemporaneidade
Douglas Meneghatti ............................................................................ 369
A vida da lei: reconhecimento, liberdade e dominação na
Filosofia do Direito de Hegel
Patrícia Riffel de Almeida .....................................................................370
As sutilezas metafísicas e manhas teológicas da mercadoria:
contribuições da crítica feuerbachiana da religião para a crítica
da economia e da política em Karl Marx
Péricles Ariza ........................................................................................ 372

22
Sumário

Bergson e o retorno à experiência: raison élargie e devir poético


negro
Adeilson Lobato Vilhena ...................................................................... 374
Da servidão à liberdade: o aprender como problema e conceito
filosóficos entre Rousseau e Deleuze
Caio Cezar Pontim Scholz ....................................................................376
Ilusão concreta: a função estruturante do fetichismo na
sustentação ideológica e material da sociedade capitalista,
segundo Karl Marx
Gerson Lucas Padilha de Lima .............................................................378
Jurisprudência expressionista de direitos: uma perspectiva
deleuziana
Paulo Roberto Schneider ..................................................................... 380
“Não esqueça o melhor”: tema e variações da sinfonia ética em “O
Princípio Esperança”, de Ernst Bloch
Anna Maria Lorenzoni ......................................................................... 382
O ausente-presente: Merleau-Ponty e o inconsciente primordial
Litiara Kohl Dors .................................................................................. 383
O conceito de ideia e a resolução do problema do solipsismo na
metafísica cartesiana
Marcos Alexandre Borges .....................................................................385
O conceito de povo nos escritos de Maquiavel
Fabiana de Jesus Benetti .......................................................................387
O giro retórico na filosofia do jovem Nietzsche
Célia Machado Benvenho .................................................................... 389
“O que quer uma mulher?”: uma experiência parrhesiásta em
torno dos enigmas da feminilidade
Miriam Izolina Padoin Dalla Rosa ....................................................... 391

23
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O trabalho (im)produtivo como não-idêntico ao modo de


produção capitalista: uma perspectiva a partir de K. Marx e T.
Adorno
Luana Aparecida de Oliveira ................................................................ 393

24
Apresentação

Eis que pela vigésima sexta vez a Filosofia da Unioeste


registra, em forma de Anais, a celebração anual da decisão coletiva,
tomada no final do século XX, de fazer de Toledo, no Paraná, um
lugar afirmativo do pensamento crítico, criativo, ético, político e
rigoroso, sem perder a alegria que esse tipo de encontro é capaz de
proporcionar entre gerações que dedicam suas vidas ao fazer
filosófico. Este ano foi especialmente marcante o aspecto do encontro
de gerações, pois vários de nossos convidados narraram histórias dos
tempos em que eram jovens estudantes e vinham para o Simpósio de
Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste apresentar suas
pesquisas nas sessões de comunicações. Se há mais de vinte anos
eram jovens graduandos e mestrandos aprendendo a pesquisar, hoje
são professores na pós-graduação e ocupam ou ocuparam cargos
diretivos em suas universidades e em órgãos nacionais e estaduais de
fomento e de avaliação, sendo responsáveis, de um lado, pela herança
recebida daqueles que abriram caminhos e construíram relações com
a Filosofia vinda d’além mar e, de outro, pelo presente da Filosofia no
Brasil que, em muitas partes, vem apresentando certos desassossegos
com aquela herança e reivindicando que nela tenham lugar questões
próprias de nosso chão, de nossa pele, de nossa sensibilidade,
realidade e necessidade de problematizar e inventar saídas
conceituais para elas.
Com o desejo de estarmos à altura da herança e dos
desassossegos que nos impelem a seguir na filosofia, o XXVI
Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste se
propôs a pensar coletivamente um futuro afirmativo para a Filosofia
no Paraná, nesses tempos em que a palavra de ordem no ensino
superior e na pesquisa tem sido a ‘inovação’. Para tanto, convidamos
todos os coordenadores de Programas de Pós-graduação de Filosofia
do Paraná. Estiveram conosco os professores Dr. Charles Feldhaus
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

(UEL), Dr. Federico Ferraguto (PUC/PR), Dr. Wagner Dalla Costa


Félix (UEM) e, representando a UNIOESTE, o Dr. Luciano Utteich,
nas reuniões de trabalho concluímos que o futuro será afirmado se
nossas relações institucionais forem de parceria e colaboração e não
de rivalidade e competição, assim como de abertura para as
demandas que as novas gerações de pesquisadores têm apresentado.
Para participar deste debate e dos aspectos de incentivo e
financiamento em pesquisas na área de Filosofia, em nível nacional
e no Paraná, além dos professores já referidos, estiveram conosco o
Dr. Érico Andrade Marques de Oliveira (UFPE), atual presidente da
ANPOF, o Prof. Dr. Jorge Viesenteiner (UFES/CAPES), atual
coordenador da Área de Filosofia da CAPES, e os professores
representantes dos órgãos estaduais de políticas e fomento à
pesquisa, pela Secretaria de Ciência e Tecnologia (SETI), o Dr.
Marcos Aurelio Pelegrina, e pela Fundação Araucária, o Dr. Luiz
Márcio Spinosa. Avaliamos que ter problematizado tais temas, com
esses convidados e os demais presentes no evento, forçou-nos a
pensar os diferentes papeis da Filosofia, no mundo em geral e na
academia em especial, assim como a considerar que a inovação
merece ser pensada pela filosofia, sempre criticamente, é claro, o que,
entendemos, implica sermos criativos e propositivos, tanto quando
olhamos para a sociedade e seus problemas quanto quando
problematizamos os nossos cursos e pesquisas.
A programação desta edição do Simpósio transitou entre a
herança da tradição, com temas e autores clássicos, e a novidade,
dando prioridade a nossas questões contemporâneas. Um diálogo
mais ligado à História da Filosofia foi realizado em algumas sessões
de conferências, mesas de debate e minicursos: 1) afetos e emoções
foram pautados por três professores convidados: o Dr. Alexandre
Guimarães Tadeu Soares (UFU/Fund. Fausto Castilho) e a Prof. Dra.
Lia Levy (UFRGS) debateram em torno do problema dos afetos na
relação corpo-mente em Descartes e Espinosa, e o Dr. Jorge
Viesenteiner (UFES/CAPES) apresentou sua leitura a respeito de

26
Apresentação

Nietzsche e a filosofia das emoções. 2) A questão da causalidade nos


modernos foi abordada no minicurso organizado pelo Grupo de
Pesquisa “Ciência e Natureza na Alemanha do Século XIX”, por meio
da exposição do Dr. Vinicius Figueiredo (UFPR) intitulada “Do
heroísmo cartesiano ao igualitarismo de Pascal”, enquanto o conceito
de causalidade foi abordado de um ponto de vista cartesiano pelo Dr.
Alexandre Guimarães Tadeu Soares e de um ponto de vista
espinosista pela Dra. Lia Levy. 3) O “GEN – Grupo de estudos
Nietzche/Unioeste” ofertou um minicurso plural em torno de temas
da filosofia de Nietzsche, o convidado Dr. Eduardo Ribeiro da
Fonseca (PUC-PR) tratou da arte e da sublimação no pensamento do
filósofo e os coordenadores do minicurso ficaram responsáveis pelas
outras duas sessões: o Dr. Wilson Frezzatti Jr. (UNIOESTE) expôs a
leitura que faz em torno da relação entre Nietzsche e Darwin e a Dra.
Célia Benvenho (UNIOESTE) apresentou sua investigação sobre a
filosofia da linguagem de Nietzsche.
No que se refere a abordagens de questões contemporâneas,
houve: 1) o minicurso com proposta interdisciplinar, promovido pelo
Grupo de Pesquisa “QUIASMA: Filosofia, Ciência e Arte”, sob o tema
geral “Ciências Humanas, Medicina, Técnica”, desde uma perspectiva
fenomenológica: fenomenologia e ciência foram problematizadas
pelo Dr. Federico Ferraguto (PUCPR), a partir de Husserl; o arquiteto
e doutorando do PPGFil-UNIOESTE, Lorí Correa Crízel, estabeleceu
relações entre fenomenologia e neuroarquitetura; o Dr. Amauri
Carboni Bitencourt (IFSC) explorou conceitualmente as pinturas de
Tato Carboni, ao lado do Dr. Ivonei Freitas da Silva (UNIOESTE) que
explorou Ciência e Técnica desde um ponto de vista da Informática;
por fim, o Dr. Claudinei Aparecido de Freitas da Silva (UNIOESTE)
apresentou seu trabalho tradutório do texto do filósofo Gabriel
Marcel Os Homens contra o Humano; 2) o minicurso promovido pelo
Grupo de Pesquisa “Ética e Política” reuniu, pela primeira vez, uma
filósofa negra, a Dra. Halina Leal (FURB), e um filósofo negro, Dr.
Érico Andrade Marques de Oliveira (UFPE), na mesma mesa, em um

27
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Simpósio de Filosofia da UNIOESTE, para apresentar o pensamento


de bell hooks e se demorar nas relações entre o feminismo negro e o
amor como prática da emancipação. Ambos, em suas conferências,
também trouxeram ao centro do debate temas emergentes do nosso
tempo: 3) o professor Érico pôs em questão a noção de ‘excelência’,
que tanto é difundida nos programas de pós-graduação e pelas
agências de fomento, e perguntou pelo seu ‘preço’ ao apresentar
dados a respeito do adoecimento e da competição na vida acadêmica;
4) já a professora Halina promoveu uma reflexão, que constrangeu a
plateia e deu muito a pensar, sobre as mulheres negras na Filosofia;
5) o nosso convidado estrangeiro, o suíço Dr. Beat Dietschy, um dos
diretores da Associação Ernst-Bloch, expôs uma interpretação
decolonial e intercultural da aliança do humano com a natureza,
pensada por Bloch.
Também os livros lançados no Simpósio apresentaram temas
atuais e que, sem sombra de dúvidas, podemos dizer que trazem
inovação para o pensamento filosófico, são eles: Negritude sem
identidade, de Erico Andrade, Editora n-1; O ser e a moda: a
metafísica do vestir, de Ana Carolina Acom, Estação das Letras e
Cores; Dossiê as Pensadoras – Vol. 2, organizado por Nelsi Welter e
Pedro Falcão Pricladnitzky, Editora Quero Saber; a tradução feita por
Claudinei Aparecido de Freitas da Silva, Os homens contra o
humano, Gabriel Marcel, Edunioeste.
2023 foi o ano em que o PPGFilosofia da UNIOESTE celebrou
cinco anos de teses defendidas no Doutorado, que iniciou em 2015.
Para tanto, os doutores aqui formados foram convidados a responder
à questão: ‘afinal, qual a tese da tua Tese?’. A maior parte deles
atendeu ao convite, alguns estiveram no evento presencialmente,
outros participaram por meio de vídeos, que podem ser assistidos
pelo canal do PPG, no Youtube 1. Os resumos dessa atividade, assim
como das demais comunicações, apresentadas em formato on-line e

1Disponível em: https://www.youtube.com/playlist?list=PLkDjkD5LOHdtnd5VnA


u19PgAhiLVqHjoG. Acesso em: 18 jan. 2024.

28
Apresentação

presencial, fazem parte destes Anais, compondo mais de 150


trabalhos apresentados ao longo da semana do evento, nas seguintes
áreas de conhecimento: Estética; Ética; Filosofia da Ciência; Filosofia
da Educação/Ensino de Filosofia; Filosofia da Linguagem; Filosofia
da Mente; História da Filosofia; Filosofia Política; Interdisciplinar;
Metafísica; Mulheres e a Filosofia; Teoria do Conhecimento.
Ocorreram também atividades culturais todos os dias do
evento, sob a responsabilidade de acadêmicos, coordenadas pela
musicista e doutoranda do Programa Ana Carolina Noffke, a quem
agradecemos muito. Na abertura do evento, contamos com a
Apresentação do Coral da Unioeste/Toledo, projeto de extensão
coordenado pelo colega professor Dr. César Battisti, do qual muitos
estudantes e professores da filosofia da UNIOESTE fazem parte. No
encerramento, o Teatro Escola Unioeste – TEU, projeto de extensão
coordenado e dirigido por membros da Filosofia, com estudantes da
universidade e membros externos a ela, estrearam a peça Maria
Farrar, adaptação do poema homônimo de Bertolt Brecht. Após a
apresentação teatral e o encerramento oficial do evento, realizamos
um grande ato em apoio à causa palestina e em defesa da paz no
Oriente Médio.
Tudo isso aconteceu graças a um conjunto de fatores que
merecem ser referidos: aos trabalhos das equipes coordenados por
professores do Curso de Filosofia e compostos por grande parte dos
estudantes da graduação e da pós-graduação; ao engajamento dos
membros dos projetos e programas PET/FILOSOFIA, PIBID
Humanidades, Residência Pedagógica; pelo apoio do Centro de
Ciências Humanas e Sociais, das coordenações da Graduação e da
Pós-graduação em Filosofia e seus agentes universitários; da direção
do campus que nos deu suporte institucional; da reitoria que, mais
uma vez, financiou o pró-labore dos conferencistas; da pró-reitoria
de extensão (PROEX) que administrou as compras das passagens e
sempre nos auxiliou com o sistema de eventos; da pró-reitoria de
administração e finanças (PRAF) que deu suporte financeiro para o

29
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

pagamento do material impresso na gráfica da universidade; à


SANEPAR pela doação da água; e, finalmente, à CAPES (Programa de
Apoio a Eventos no País/PAEP, edital nº 11/2023), e à
PROEX/Fundação Araucária (Edital N°026/2023 – PROEX Programa
de Apoio Institucional para Organização e Participação em Eventos
Técnicos-Científicos – Chamada Pública 09/2023 – FUNDAÇÃO
ARAUCÁRIA) pelo apoio financeiro imprescindível para que tudo
isso ocorresse. A este conjunto, somos gratos.

Toledo, janeiro de 2024.

Ester Maria Dreher Heuser


Célia Machado Benvenho
Wilson Antonio Frezzatti Jr.

30
Discurso de Abertura do XXVI Simpósio
de Filosofia Moderna e Contemporânea

Ontem fiquei pensando no que falar em uma solenidade de


abertura de um evento anual sem cair muito em clichês. Aí avaliei
que começar por um testemunho poderia ser uma via de escape. Vou
compartilhar, então, uma lembrança que tive da primeira vez que
estive no Simpósio:
Foi em 2001, vim de excursão, éramos estudantes da UNIJUÍ,
universidade em que eu, o Remi, o Rosalvo e o Ames nos formamos
em filosofia, também o Cristiano Bonow que veio nos prestigiar da
Paraíba, onde hoje é professor. Eu estava fazendo mestrado, já era
mãe de uma ruivinha com pernas cambaleantes, estava pesquisando
e experimentando a proposta de Filosofia para crianças e lutando
pela inclusão da Filosofia nos currículos. Naquela época, na Unijuí,
havia Licenciatura em Filosofia em dois campi, onde o Gerson, a
Luana e o Luís Jacques também estudaram. Hoje, a Filosofia que foi
a pedra de toque daquela universidade, só está em nossas memórias.
As instituições são inventadas, se não resistimos e as reinventamos,
desaparecem.
Acho que foi naquele ano que conheci, aqui em Toledo, a voz
do professor Fausto Castilho, a figura miúda do professor Benedito
Nunes, e o rigoroso e desajeitado professor Valério Rohden, três
nomes constituidores da Filosofia no Brasil.
Lembro de dois detalhes daquele simpósio que fazem eu dar-
me conta das gerações que trabalharam coletivamente para hoje
estarmos aqui, em outras condições materiais: no credenciamento,
recebi uma pasta do simpósio, cheia de logomarcas de empresas
locais; nas paredes do miniauditório, não havia nem banner, nem
faixas, mas letras recortadas em um papel dourado e colado com fita,
com o número e o nome do Simpósio, tudo muito bem medido e
caprichado.
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

22 anos me distanciam desses dois detalhes, mas eles se fazem


signos indicativos de que muita gente, desde sempre, trabalhou sem
desistir, movida pela vontade e decisão coletiva de que a Filosofia da
UNIOESTE resistiria e inventaria um lugar para si, na cena toledana,
paranaense e brasileira.
Pois, conto a vocês, não para me gabar, mas como forma de
compartilhar a leitura que faço dessa trajetória teimosa que tem dado
certo nesta borda oeste do Brasil: este ano, o nosso projeto enviado
para o edital de fomento a eventos da CAPES foi o único que pontuou
a nota máxima, assim como recebemos a íntegra do valor solicitado
para a PROEX/Fundação Araucária. Por isso, dessa vez, não
precisamos recortar letras e passar o chapéu nas empresas locais.
Hoje, cá estamos, neste precioso Teatro que inauguramos ano
passado, neste campus que em quase mais nada lembra aquele de
2001, celebrando cinco anos de teses defendidas no Doutorado do
nosso PPG. Nesta edição do simpósio, queremos pensar juntos um
futuro afirmativo para a Filosofia no Paraná, nesses tempos em que a
palavra de ordem no ensino superior e na pesquisa tem sido a
inovação. Por isso estão reunidos conosco os demais coordenadores
de PPGs de Filosofia do Paraná, sejam bem vindos, professores da
UEM, da UEL, da PUC — o professor Antônio Edmilson Paschoal,
coordenador do PPG da UFPR, não pode vir por problemas de saúde
e nos desejou sucesso —; assim como alguns professores da UNILA
estão nos prestigiando, a quem agradecemos desde já a presença;
estão conosco, também, o Professor Érico Andrade, atual diretor da
ANPOF que tem andado pelo Brasil e confirmado a vontade das
várias gerações de fazer uma filosofia viva, conectada com as gentes
da terra e com seus problemas, em todas as regiões do país; o
professor Alexandre, que tantas vezes nos socorreu pela Fundação
Fausto Castilho — há um tempo decidimos que o convidaríamos
quando a Fundação não precisasse pagar as suas despesas. Foi este o
ano! O professor Jorge Viesenteiner, coordenador de área da CAPES,
só poderá estar conosco virtualmente, pois está tomado da alegria

32
Discurso de Abertura

nervosa de acompanhar o trabalho de parto da esposa que agora está


na 39ª semana de gravidez. Tenho dito que estamos organizando este
simpósio desde fevereiro, pois é o tempo de uma gestação. Quando o
Jorge aceitou o convite, não sabia que seria pai outra vez! A professora
Lia Levy, mestra em Descartes e Spinoza, estará virtualmente
também essa noite.
Enfim, agradeço às minhas colegas que nunca largaram
minhas mãos e ensinaram que é preciso atribuir tarefas e confiar, aos
colegas que apoiaram as propostas, ajudaram a decidir e a fazer essa
edição do Simpósio acontecer. Aos estudantes que atenderam o
chamado de ajuda, que acreditaram no que temos dito: este simpósio
é feito para vocês e com vocês! Costumo dizer que quem vem fazer
filosofia conosco, aprende, se modifica, reinventa sua vida por meio
de produções de sentidos que vão se tecendo nas aulas e nas leituras,
ao final até têm uma profissão e agora posso complementar: além de
formarem-se professores pesquisadores vocês estarão gabaritados a
trabalhar em equipe e promover eventos acadêmicos. Nós, juntos,
demos certo em tudo isso! Fiquem conosco até sexta-feira, na estreia
do Teatro Escola Unioeste, feito por gente nossa, e depois para a festa
de encerramento, que será ao entardecer, aqui pertinho, ao som da
preciosa Ana Pindorama!
Um alegre simpósio para todos nós!

Toledo, 06 de novembro de 2023.

Ester Maria Dreher Heuser


Coordenadora Geral do XXVI Simpósio de
Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

33
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

34
Programação do XXVI Simpósio de Filosofia
Moderna e Contemporânea da Unioeste
Unioeste Campus de Toledo – Toledo, PR

Segunda-feira – 06/11/2023
• 18:00 - 19:30 – Credenciamento
• 19:10 - 19:30 – Apresentação do Coral da Unioste, Campus Toledo
• 19:10 - 19:30 – Cerimonial de abertura do XXVI Simpósio de Filosofia
Moderna e Contemporânea da Unioeste
• 20:15 - 21:45 – Mesa
- O problema dos afetos na relação corpo-mente em Descartes e Espinosa
Dr. Alexandre Guimarães Tadeu Soares (UFU/Fund. Fausto Castilho)
Dra. Lia Levy (UFRGS)
• 21:45 - 22:30 – Debate
Moderador: Dr. Pedro Falcão Pricladnitzky (UNIOESTE)

Terça-feira – 07/11/2023
• 08:00 - 12:00 – Reunião com professores e coordenadores dos PPGs-
Filosofia; da direção da ANPOF e da coordenação da área de Filosofia da
CAPES
- Presente e futuro da Pós-graduação em Filosofia no Paraná
• 08:00 - 09:30 – Comunicações on-line de participantes externos à Unioeste
• 09:30 - 10:00 – Intervalo
• 10:00 - 11:30 – Comunicações on-line de participantes externos à Unioeste

• 14:00 - 17:30 – Comunicações presenciais

• 18:00 - 19:00 –Credenciamento


• 18: 15 - 19:00 – Sessão de Lançamentos de livros
• 19:10 - 20:30 – Mesa
- Incentivo e financiamento em pesquisas nas áreas de Ciências Humanas
no Paraná
Dr. Marcos Aurelio Pelegrina (SETI)
Dr. Luiz Márcio Spinosa (Fundação Araucária)
Mediadora: Dra. Ester Maria Dreher Heuser (UNIOESTE)
• 20:30 - 20:45 – Intervalo
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

• 20:45 - 22:30 – Roda de conversa e debate


- Políticas para um futuro afirmativo para a Filosofia no Paraná
Coordenadores de PPGs/PR: Dr. Luciano Utteich (UNIOESTE); Dr.
Charles Feldhaus (UEL); Dr. Federico Ferraguto (PUC/PR); Dr. Wagner
Dalla Costa Félix (UEM); Dr. Érico Andrade Marques de Oliveira
(UFPE/ANPOF)
Mediadora: Dra. Ester Maria Dreher Heuser (UNIOESTE)

Quarta-feira – 08/11/2023
• 08:30 - 11:30 – Minicursos
1. Grupo de Pesquisa “Ciência e Natureza na Alemanha do Século XIX”
Título: A questão da causalidade nos Modernos
Tema: Do heroísmo cartesiano ao igualitarismo de Pascal
Palestrante: Dr. Vinicius Figueiredo
Coordenadores: Dr. Luis César Yanzer Portela e Dr. Luciano Carlos Utteich
(UNIOESTE)

2. Grupo de Pesquisa “QUIASMA: Filosofia, Ciência e Arte”


Título: Ciências Humanas, Medicina, Técnica
Tema: Husserl, Fenomenologia e Ciência
Palestrante: Dr. Federico Ferraguto (PUCPR)
Coordenador: Dr. Claudinei Aparecido da Silva (UNIOESTE)

3. Grupo de Pesquisa “Ética e Política”


Título: bell hooks: do feminismo negro ao amor como prática da
emancipação
Palestrantes: Dr. Érico Andrade Marques de Oliveira (UFPE) e Dra. Halina
Leal (FURB)
Coordenadoras: Dra. Nelsi Kistemacher Welter e Dra. Ester Maria Dreher
Heuser (UNIOESTE)

4. Grupo de Pesquisa “GEN – Grupo de estudos Nietzche/Unioeste”


Título: Temas da filosofia de Nietzsche
Tema: Nietzsche contra Darwin
Palestrante: Dr. Wilson Frezzatti Jr. (UNIOESTE)
Coordenadores: Dr. Wilson Frezzatti e Dra. Célia Benvenho (UNIOESTE)

36
Programação

• 14:00 - 17:30 – Comunicações presenciais

• 18:00 - 19:00 – Credenciamento


• 19:10 - 20:00 – Conferência
- Nietzsche e a filosofia das emoções
Dr. Jorge Viesenteiner (UFES)
• 20:00 - 20:30 – Debate
Moderadora: Dra. Célia Machado Benvenho (UNIOESTE)
• 20:30 - 20:50 – Intervalo
• 20:50 - 21:40 – Conferência
- O preço da excelência: adoecimento e competição na vida acadêmica
Dr. Érico Andrade Marques de Oliveira (UFPE)
• 21:57 - 22:30 – Debate
Moderadora: Dra. Ester Maria Dreher Heuser (UNIOESTE)

Quinta-feira – 09/11/2023
• 08:30 - 11:30 – Minicursos
1. Grupo de Pesquisa “Ciência e Natureza na Alemanha do Século XIX”
Título: A questão da causalidade nos Modernos
Tema: O conceito de causalidade em Descartes
Palestrante: Dr. Alexandre Guimarães Tadeu Soares
Coordenadores: Dr. Luis César Yanzer Portela e Dr. Luciano Carlos Utteich
(UNIOESTE)

2. Grupo de Pesquisa “QUIASMA: Filosofia, Ciência e Arte”


Título: Ciências Humanas, Medicina, Técnica
Tema: Husserl, Fenomenologia e Ciência
Palestrante: Dt. Lorí Correa Crizel (UNIOESTE)
Tema: As pinturas de Tato Carboni
Palestrante: Dr. Amauri Carboni Bitencourt (IFSC)
Coordenador: Dr. Claudinei Aparecido da Silva (UNIOESTE)

3. Grupo de Pesquisa “Ética e Política”


Título: bell hooks: do feminismo negro ao amor como prática da
emancipação
Palestrante: Dra. Halina Leal (FURB)

37
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Coordenadoras: Dra. Nelsi Kistemacher Welter e Dra. Ester Maria Dreher


Heuser (UNIOESTE)

4. Grupo de Pesquisa “GEN – Grupo de estudos Nietzche/Unioeste”


Título: Temas da filosofia de Nietzsche
Tema: Nietzsche, arte e sublimação
Palestrante: Dr. Eduardo Ribeiro da Fonseca (PUC-PR, Campus Curitiba)
Coordenadores: Dr. Wilson Frezzatti e Dra. Célia Benvenho (UNIOESTE)

• 14:00 - 17:30 – Comunicações presenciais

• 18:00 - 19:00 – Credenciamento


• 19:10- 20:00 – Conferência
- Paso erguido en una tierra habitable. Una interpretación decolonial e
intercultural de la “Alianza con la Naturaleza” propuesta por Ernst Bloch
Dr. Beat Dietschy (Bern, Suíça)
• 20:00 - 20:30 – Debate
Moderador: Dr. Rosalvo Schütz (UNIOESTE)
• 20:30 - 20:50 – Intervalo
• 20:50 - 21:50 – Conferência
- Mulheres negras na Filosofia: uma reflexão
Dra. Halina Leal (FURB)
• 21:50 - 22:30 – Debate
Moderadora: Dra. Nelsi Kistemacher Welter (UNIOESTE)

Sexta-feira – 10/11/2023
• 08:30 - 11:30 – Minicursos
1. Grupo de Pesquisa “Ciência e Natureza na Alemanha do Século XIX”
Título: A questão da causalidade nos Modernos
Tema: O conceito de causalidade em Espinosa
Palestrante: Dra. Lia Levy
Coordenadores: Dr. Luis César Yanzer Portela e Dr. Luciano Carlos Utteich
(UNIOESTE)

2. Grupo de Pesquisa “QUIASMA: Filosofia, Ciência e Arte”


Título: Ciências Humanas, Medicina, Técnica

38
Programação

Tema: Ciência e Técnica


Palestrante: Dr. Ivonei Freitas da Silva (UNIOESTE)
Tema: Gabriel Marcel e os 70 anos de ‘Os Homens contra o Humano’
Palestrante: Dr. Claudinei Aparecido de Freitas da Silva (UNIOESTE)
Coordenador: Dr. Claudinei Aparecido da Silva (UNIOESTE)

3. Grupo de Pesquisa “Ética e Política”


Título: bell hooks: do feminismo negro ao amor como prática da
emancipação
Tema: bell hooks, feminismo negro e suas implicações na filosofia
Palestrante: Dra. Halina Leal (FURB)
Coordenadoras: Dra. Nelsi Kistemacher Welter e Dra. Ester Maria Dreher
Heuser (UNIOESTE)

4. Grupo de Pesquisa “GEN – Grupo de estudos Nietzche/Unioeste”


Título: Temas da filosofia de Nietzsche
Tema: A filosofia da linguagem de Nietzsche
Palestrante: Dra. Célia Benvenho (UNIOESTE)
Coordenadores: Dr. Wilson Frezzatti e Dra. Célia Benvenho (UNIOESTE)

• 14:00 - 17:30 – Comunicações dos(as) doutores(as) formados(as) no PPG-


Filosofia da Unioeste
- Afinal, qual a tese da tua Tese? 5 anos de teses defendidas no PPG-
Filosofia da Unioeste
• 17:30 – Encerramento
- Apresentação do Teatro Escola UNIOESTE – TEU
• 19:00 – Confraternização

39
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

40
Atividades do Simpósio em Imagens

06/11/2023 – Apresentação do Coral da Unioste, Campus Toledo

06.11.2023 – Cerimonial de abertura do XXVI Simpósio de


Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

06.11.2023 – Mesa 'O problema dos afetos na relação


corpo-mente em Descartes e Espinosa'

07/11/2023 – Comunicações on-line de participantes externos à Unioeste

42
Atividades em Imagens

07.11.2023 – Sessão de Lançamentos de livros

07.11.2023 – Mesa 'Incentivo e financiamento em pesquisas


nas áreas de Ciências Humanas no Paraná'

43
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

07.11.2023 – Roda de conversa e debate 'Políticas para


um futuro afirmativo para a Filosofia no Paraná'

08/11/2023 – Comunicações presenciais

44
Atividades em Imagens

08.11.2023 – Conferência ‘Nietzsche e a filosofia das emoções’

08.11.2023 – Conferência ‘O preço da excelência:


adoecimento e competição na vida acadêmica’

45
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

09.11.2023 – Minicurso ‘A questão da causalidade nos Modernos’

09.11.2023 – Minicurso ‘Ciências Humanas, Medicina, Técnica’

46
Atividades em Imagens

09/11/2023 – Minicurso ‘Temas da filosofia de Nietzsche’

09.11.2023 – Conferência ‘Paso erguido en una tierra habitable.


Una interpretación decolonial e intercultural de la
“Alianza con la Naturaleza” propuesta por Ernst Bloch’

47
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

09/11/2023 – Conferência ‘Mulheres negras na Filosofia: uma reflexão’

10.11.2023 – Minicurso ‘bell hooks: do feminismo negro


ao amor como prática da emancipação’

48
Atividades em Imagens

10/11/2023 – Afinal, qual a tese da tua Tese?

10/11/2023 – Apresentação do Teatro Escola UNIOESTE – TEU

49
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Mais fotografias do evento estão disponíveis nas redes socias


do Curso de Filosofia da Unioeste, Campus Toledo-PR:
• Instagram: @filosofia_unioeste
• Facebook: @filosofiaunioeste

Matérias jornalísticas sobre o evento


• Curso de Filosofia da Unioeste realiza XXVI Simpósio de Filosofia
(Central de Notícias da Unioeste).
• Simpósio de Filosofia discute o futuro da Filosofia no Paraná
(Central de Notícias da Unioeste).
• Campus de Toledo: Simpósio de Filosofia discute questões
contemporâneas
(Central de Notícias da Unioeste).
• Campus de Toledo da Unioeste: Simpósio de Filosofia discute
questões contemporâneas
(Toledo News).

50
Resumos das Comunicações
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

52
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A atitude poiética — Notas sobre a


filosofia da instauração da obra de arte

Eduardo Pellejero
(UFRN)

Resumo
Em 1937, no College de France, Paul Valéry introduzia de maneira
provocativa uma nova ciência, cujo objeto — as relações que se
estabelecem entre a obra e o artista no momento da criação —
desafiava a obscuridade que tradicionalmente vela as condutas
criativas. A ‘poiética’, enquanto perspectiva crítica sobre a
instauração da arte, envolve a fenomenologia e a ontologia, a
sociologia e a psicologia, a antropologia e a história, numa tentativa
de atingir o gesto sempre renovado, sempre singular, de compor
figuras capazes de resistir ao tempo. O presente projeto aspira a
problematizar algumas dimensões fundamentais desse campo de
pesquisa a partir de uma aproximação à perspectiva original sobre o
ato de criação na obra de Gilles Deleuze e dos processos criativos de
Francis Bacon e outros artistas que manifestam pontos em comum
no momento da produção da obra de arte.

Palavras-chave
Criação artística. Poiética. Valéry. Instauração da obra. Deleuze.

Referências
ARENDT, Hannah. De la historia a la acción. Barcelona: Paidós, 1995.
BARTHES, Roland. A preparação do romance. São Paulo: Martin Fontes, 2008.
BARTHES, Roland. Aula. São Paulo: Cultrix, 2013.
BERGER, John. Passos em direção a uma pequena teoria do visível. In: Bolsões
de resistência. Lisboa: Gustavo Gilli, 2004
BORGES, Jorge Luis. De la poesía. In: Obras Completas. Barcelona: Emecé,
1989.

53
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
BORGES, Jorge Luis. La muralla y los libros. In: Obras Completas. Barcelona:
Emecé, 1989b.
BUCK-MORSS, Susan. Estética e anestética. O “Ensaio sobre a obra de arte” de
Walter Benjamin reconsiderado. In: Travessia, n. 33, 1996.
CHATEAU, Dominique. L’expérience esthétique. Intuition et expertise. In:
Marges, n. 12, 2011.
CONTE, Richard. La poïétique de Paul Valéry. In: Recherches poïétiques.
Paris: Presses universitaires de Valenciennes, 1996.
DELEUZE, Gilles. Lógica de la sensación. Madrid: Arena, 2013.
DELEUZE, Gilles. Qué es el acto de creación? In: Dos regímenes de locos.
Textos y entrevistas (1975-1995). Valencia: Pre-textos, 2007.
DELEUZE-GUATTARI. O que é a filosofia? Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.
LINDSAY-VERGO. W. Kandinsky, Complete Writings on Art. New York: Da
Capo Press, 1994.
MAUBERT, Franck. Conversas com Francis Bacon: o cheiro do sangue humano
não desgruda seus olhos de mim. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.
MENDELSUND, Peter. What we see when we read. New York: Vintage, 2014.
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comunicação. A prosa do mundo. Rio de Janeiro: Bloch, 1974.
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SALLES, Cecilia Almeida. Gesto Inacabado. Processo de criação artística. São
Paulo: Itermeios, 2014.
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55
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A ausência de justificações para a consideração moral


direta de fetos e as implicações disso no debate público

Gabriel Panisson dos Santos 1


Orientador: Marciano Adilio Spica 2

Resumo
O debate acerca da descriminalização do aborto depende
necessariamente da definição do status moral dos fetos, pois
somente a partir de tal esclarecimento se torna possível posicionar-
se contra ou a favor da descriminalização do aborto sem que se
incorra em um discurso político (i) imoral ou (ii) vazio de significado
moral. A situação ‘i’ ocorre quando a definição do status moral dos
fetos é positiva, ou seja, conclui que fetos são dignos de consideração
moral direta, seja por (a) estarem vivos ou estarem vivos e serem da
espécie Homo sapiens; (b) possuírem direitos naturais; (c) possuírem
interesses (efetiva ou potencialmente); (d) possuírem alguma
característica atestadora de sacralidade àquela existência (como uma
alma). A situação ‘ii’ ocorre justamente quando há a negação de ‘a’,
‘b’. ‘c’ e ‘d’. Os argumentos que defendem que os fetos são dignos de
consideração moral direta tendem a incorrer na necessidade de
algum critério metafísico. Nem a afirmação ‘b’ e tampouco a
afirmação ‘d’ têm qualquer tipo de respaldo empírico ou apoio em
critérios verificáveis de confirmação ou falseamento. Por outro lado,
os argumentos pautados na posse de interesses e nos critérios de vida
e espécie caracterizam-se por possuir critérios verificáveis ou
falseáveis, entretanto, incorrem em outros sérios problemas. A
versão da afirmação ‘c’ que afirma que os fetos possuem interesses de

1 Mestrando em Filosofia, na área de Ética e Política. Bolsista CAPES. Universidade


Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). E-mail: gabrielpanissonn@gmail.com
2 Doutor em Filosofia, com especialidade em ética, filosofia da linguagem e filosofia

da religião. Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (UNICENTRO) /


Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE).
E-mail: marciano.spica@gmail.com

56
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

forma efetiva, por exemplo, é demonstrativamente falsa, dado que


nessa fase da gestação o sistema nervoso central, responsável, pela
consciência e pela sensibilidade — condições mínimas para a posse
de interesses —, ainda não está suficientemente desenvolvido. A
outra versão da afirmação ‘c’, de que os fetos possuem interesses em
potencial, pode ser acusada de falaciosa por incorrer em ad hoc, de
modo que a ideia de que se deve respeitar interesses inexistentes com
base na justificativa de que eles virão a existir intentaria tão-somente
harmonizar o argumento com as intuições daqueles que são
contrários à descriminalização do aborto, carecendo de justificativas
próprias acerca do porquê deveríamos atribuir valor moral a
interesses que, em última análise, não existem. As demais afirmações
incorrem em problemas semelhantes. Daí, surge a questão central: se
assumirmos que a única maneira de conferir status moral positivo
aos fetos de até 12 semanas de gestação é alegando a sacralidade da
vida humana, até que ponto um Estado integralmente laico deve
levar em consideração os argumentos contrários à descriminalização
do aborto? Evidentemente, faz-se necessário um debate acerca do
próprio conceito de democracia dentro do contexto da laicidade.
Afinal, um Estado democrático deve estimar argumentos morais de
fundamentação religiosa, dado que muitos cidadãos são religiosos?
Se sim, qual deve ser o papel da argumentação criteriosa nas tomadas
de decisão legislativas e judiciais dentro de um Estado democrático?
O que fazer quando a pluralidade de opiniões e o respeito às
individualidades entram em conflito com bons argumentos acerca de
assuntos caros ao debate público?

Palavras-chave
Aborto. Status moral. Sacralidade da vida. Debate público.

Referências
DURAND, G. Introdução geral à bioética: História, conceitos e instrumentos.
São Paulo: Loyola, 2003.

57
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
DWORKIN, R. Domínio da vida: aborto, eutanásia e liberdades individuais.
São Paulo: Martins Fontes, 2003.
LUNA, N.; PORTO, R. Aborto, valores religiosos e políticas públicas: a
controvérsia sobre a interrupção voluntária da gravidez na audiência pública
da ADPF 442 no Supremo Tribunal Federal. Religião e Sociedade, v. 43, n. 1,
2023.
MIGUEL, L. F. Aborto e democracia. In: Revista Estudos Feministas, v. 20, n. 3,
2012.
REGO, S.; PALÁCIOS, M.; SIQUEIRA-BATISTA, R. A Bioética, o Início e o Fim
da Vida o aborto e a eutanásia. In: Bioética para profissionais da saúde. Rio de
Janeiro: FIOCRUZ, 2009.
SINGER, P. Ética Prática. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

58
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A centralidade da categoria trabalho na


ontologia do ser social de George Lukács

Alfredo Batista 1

Resumo
Pesquisas contemporâneas, referenciadas no método genético,
identificam a existência de três tipos de seres, o inorgânico, o
orgânico e o social, nos quais, conforme Lukács (1969; 2013), no
decorrer do desenvolvimento espacial e temporal entre os seres,
verifica-se a existência de uma unidade de ordem ontológica.
Evidencia-se, no campo teórico-prático, por meio de experiências
concretas em nosso cotidiano, que o ser inorgânico tem plena
independência em relação aos seres orgânico e social; já o ser
orgânico depende totalmente do ser inorgânico, mas é independente
em relação ao ser social. No entanto, o ser social depende do ser
inorgânico e do ser orgânico para existir e manter a sua existência.
Desse modo, sinaliza-se que a dependência presente do ser social
acontece de forma natural em poucas ocasiões, mas, na maioria
delas, ocorre por meio de relações múltiplas, as quais requerem
acionar conteúdos simples e complexos. Os animais não humanos,
em seu grau máximo de envolvimento com a natureza e com o social,
manifestam, em seus processos de existência, a dimensão
ontogenética. A dimensão ontogenética pauta-se em legalidades
biofísicas e bioquímicas, que determinam as formas de ser e de existir
em todo o processo da constituição dos animais não humanos, uma
consciência com conteúdo limitado. Esses animais circulam
diariamente em mera adaptação ao ambiente, efetivando, assim,
formas de se manifestarem epifenomênicas. Portadores de uma
consciência criativa, somente os seres sociais são capazes e
responsáveis, nas relações estabelecidas da produção e da

1Doutor em Serviço Social – PUC-São Paulo.


E-mail: alfredobatista0304@gmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

reprodução em seus diferentes níveis, de estabelecerem um pôr


teleológico, ou seja, uma finalidade que, por meio da relação
fim/meio (teleologia/causalidade), pode efetivar-se em uma
causalidade posta. A relação teleologia-causalidade é
permanentemente um dever-ser, uma condição de possibilidade de
ser realizada, mas não garantida antecipadamente. Ao mesmo
tempo, teleologia e causalidade são princípios heterogêneos, que
coexistem como complexos humanos, mas se diferenciam em seus
conteúdos concretos devido à posição em que se encontram
(LUKÁCS, 1969; 2013). Se o trabalho é a categoria cêntrica da
existência do ser social, em que medida o trabalho é fonte negadora
ao afirmar-se enquanto medida de valor no modo de produção
capitalista?

Palavras-chave
Trabalho. Ontologia. Ser Social. Capitalismo.

Referências
BATISTA, Alfredo A. Trabalho, Questão Social e Serviço Social. Cascavel:
Edunioeste, 2020.
LUKÁCS, G. Conversando com Lukács. Trad. Giseh Vianna Konder. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1969. (Série Rumos da Cultura Moderna, v. 32).
LUKÁCS, G. Para uma Ontologia do Ser Social, 1 e 2. Trad. Nélio Schneider
(com a colaboração de Ivo Tonet e Ronaldo Vielme Fortes). São Paulo:
Boitempo, 2013.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A crítica de Espinosa à doutrina do livre-arbítrio

Thiago José Farias Paes 1


Orientador: Gonzalo Montenegro Vargas 2

Resumo
Espinosa realiza contundente crítica à tradicional doutrina do livre-
arbítrio. O objetivo deste trabalho apresentar como Espinosa elabora
sua crítica e propõe sua solução. A noção do livre arbítrio surge da
percepção de que temos possibilidades alternativas em aberto para
decisão e ação. Se, no caso do mundo físico, as razões dos
acontecimentos possuem claramente cadeias causais desencadeadas
pela necessidade das leis da natureza, de maneira oposta, temos a
impressão que nosso pensamento pode decidir e agir para além delas.
Essa percepção indica que o humano teria a possibilidade de realizar
uma ação sem estar determinado por causas externas, mas também
não vinculada aos desígnios dos sentimentos ou emoções. Desse
modo, tradicionalmente se pensa que o livre-arbítrio capacita a razão
para conter ou regular os afetos, estimulando uma ação para além da
influência das emoções. Disso decorre, que o corpo, submetido às
determinações físicas, poderia encontrar na mente, e em sua vontade
indeterminada, a possibilidade de controlar os afetos. Se a concepção
tradicional funda-se na pressuposição dessa capacidade, Espinosa
mostra como é possível pensar uma liberdade sem pressupor o livre-
arbítrio. Ademais, o holandês nos mostra que a crença no livre-
arbítrio é um empecilho à compreensão e ao gozo da verdadeira
liberdade humana, baseada na própria potência da natureza. Para
Espinosa, a percepção que temos sobre nossa capacidade de
ponderar, escolher e agir livremente é fruto da imaginação, uma

1Acadêmico do curso de Filosofia da Universidade Federal de Integração Latino-


Americana (UNILA). E-mail: thiagojfp@gmail.com
2 Professor adjunto da Universidade Federal de Integração Latino-Americana.

Doutor em Filosofia pela Universidade do Chile.


E-mail: gonzalo.vargas@unila.edu.br

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

ilusão que expressa nosso desconhecimento das causas internas de


nossa conduta. Assim, em Espinosa, um dos aspectos essenciais da
natureza humana seria a incapacidade de ignorar os afetos. Por isso,
a crítica ao livre arbítrio é parte importante às considerações que
Espinosa traça sobre a natureza humana. Para ele, embora
percebamos a realização de ponderação e escolhas, elas não são livres
dos afetos que as motivaram. Nós, por não termos conhecimento
sobre a causa do nosso desejo, dizemos que somos livres para desejar
e buscar tal ou qual coisa. No entanto, a causa de tal desejo raramente
nos é conhecida conscientemente. Para Espinosa, do ponto de vista
ontológico, o ser humano é parte da natureza e segue
necessariamente suas leis, tanto em relação ao corpo quanto à mente,
pois são simultâneos e não contrários. Por isso, não se pode falar que
o ser humano seja capaz de instaurar uma nova ordem física a partir
de sua livre escolha. Sua proposta na ética é justamente formular uma
geometria, ou mecânica, dos afetos, permitindo maior
conhecimento adequado sobre suas causas naturais. Isso porque
somente partir da compreensão adequada sobre os afetos opera-se
uma mudança na natureza do agente. A partir disso, no agente,
mudam seus próprios desejos e suas ações. É pelo caminho da
compreensão e do desejo que Espinosa indica a possibilidade da
Ética, não pelo livre-arbítrio.

Palavras-chave
Livre-arbítrio. Liberdade. Necessidade. Espinosa.

Referências
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Antonio de Castro Caeiro. São Paulo:
Atlas, 2009.
ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Giovanni Reale]. 5. ed. São Paulo: Loyola,
2015.
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São Paulo: Folha de São Paulo, 2015a.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
AQUINO, Tomás de. O livre-arbítrio: Quaestiones disputatae De Veritate,
Questão 24. Trad. Paulo Faitanin e Bernardo Veiga. São Paulo, EDIPRO, 2015b.
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Vol. 1. Trad. Carlos-Josaphat Pinto de
Oliveira, et al. São Paulo: Loyola, 2009.
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BLIJENBERGH, W. van; FRAGOSO, E. A. da R.; FRAGOSO, F. B. da R. Carta
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CHAUÍ, Marilena de Souza. Desejo, paixão e ação na ética de Espinosa. São
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DELEUZE, Gilles. Espinosa: filosofia prática. São Paulo: Escuta, 2002.
DESCARTES, René. As paixões da alma. Trad. Ciro Mioranza. São Paulo:
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DESCARTES, René. Meditações sobre a Filosofia Primeira. Trad. Fausto
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ESPINOSA, Bento de. Breve tratado de Deus, do homem e do seu bem-estar.
Trad. Emanuel Angelo da Rocha Fragoso e Luis Cesar Guimarães Oliva. Belo
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ESPINOSA, Bento de. OLDENBURG, Henry. Correspondência entre Espinosa
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Autêntica, 2016.
ESPINOSA, Bento de. Tratado Teológico-Político. Trad. J. Guinsburg e Newton
Cunha. São Paulo: Perspectiva, 2014.

63
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
ESPINOSA, Bento de. Tratado Político. Trad. Diogo Pires Aurélio. São Paulo:
Martins Fontes, 2009.
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64
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A distinção entre morte efetiva


e morte possível em Ser e Tempo

Amanda Victória Milke Ferraz de Carvalho 1


Orientador: Roberto Saraiva Kahlmeyer-Mertens 2

Resumo
A presente comunicação é um extrato de projeto de pesquisa de
mestrado, e tem, por isso, caráter teórico tematizante e
problematizante. O tema em questão é o fenômeno da morte. Em Ser
e Tempo, Heidegger empreende uma análise do ente que nós mesmos
somos. E a tese fundamental de seu pensamento que nosso modo de
ser, existência, é radicalmente distinto do modo de ser de que a
metafísica tradicionalmente se ocupou, existentia. Segundo o
filósofo, a tradição metafísica tornou equivalente o sentido de ser e
efetividade, ou, nos termos interpretativos de Heidegger, presença
por si subsistente. Com isso, a ontologia tradicional não apreendeu e
reconheceu o modo de ser da existência, próprio ao ente de pura
possibilidade. Nosso problema é entender como o filósofo interpreta
o fenômeno da morte frente a essa distinção. Nosso objetivo é
clarificar esse contexto de problemas na difícil lida com tal
fenômeno, exigindo atenção e empenho nas dificuldades
encontradas. Isso implica esclarecer conceitos como: existência,
subsistência, ser-todo, morte. Essa empresa poderá lograr clareza
sobre a distinção entre a morte possível e a morte efetiva. Na busca
da tematização e apreensão radical do ser-aí, ente de existência,
Heidegger desenvolve uma analítica existencial que tem como
objetivo o estabelecimento da ontologia fundamental. Para isso, é

1Graduada no curso de Filosofia – Licenciatura na Universidade Estadual do Oeste


do Paraná (2022). Aluna Especial do PPGFil na mesma instituição. Bolsista de Apoio
Técnico no projeto de pesquisa da Tradução da Correspondência de René Descartes.
UNIOESTE. E-mail: mandamilke@gmail.com
2 Doutor em Filosofia pela UERJ, Professor Associado do curso de Filosofia da

UNIOESTE. E-mail: roberto.mertens@unioeste.br

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

necessário ao menos uma vez apreender esse ente em seu todo. No


caso do fenômeno da morte, isso significa apreender esse ente em seu
final. O ser-aí “atinge” o seu todo quando chega ao seu “fim”, isto é,
quando “morre”. Nesses termos, compreendidos no horizonte da
efetividade, o fenômeno da morte é inapreensível e inexperienciável,
implicando a impossibilidade da apreensão do ser-todo. Sabemos,
porém que o ser-aí é um ente possível. Logo, o fenômeno da morte
precisa ser apreendido no horizonte da possibilidade. A
possibilidade desse ente poder-ser-todo, diz Heidegger, depende de
interpretar a morte como possibilidade ontológica, a saber, como ser-
para-a-morte.

Palavras-chave
Ser-todo. Morte. Possibilidade. Efetividade. Heidegger.

Referências
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Trad. Fausto Castilho. Campinas:
Unicamp. Petrópolis: Vozes, 2012a.
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. 7.
ed. Petrópolis: Vozes, 2012b.
HEIDEGGER, Martin. Ontologia (Hermenêutica da faticidade). Trad. Renato
Kirchner. Petrópolis: Vozes, 2012c.
HEIDEGGER, Martin. Os problemas fundamentais da fenomenologia. Trad.
Marco Antonio Casanova. Petrópolis: Vozes, 2012d.
CASANOVA, M. Mundo e historicidade: leitura fenomenológica de Ser e
tempo. Vol. 1. Rio de Janeiro: Via Verita, 2017.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A divinização da existência: arte e


religião nos primeiros escritos de Nietzsche

Leonardo Augusto Catafesta1

Resumo
Na assertiva inicial em A visão dionisíaca do mundo, a saber: “Os
gregos, que nos seus deuses expressam e ao mesmo tempo calam a
doutrina secreta de sua visão de mundo (Weltanschauung),
estabeleceram como dupla fonte de sua arte duas divindades, Apolo
e Dioniso” (Nietzsche, 2005, p. 5), Nietzsche já expressa a relevância
das divindades gregas para apresentar e escamotear sua
Weltanschauung. E tanto a religiosidade como a visão de mundo dos
gregos são atravessados pela afluência estética, na qual é norteada
pelas figuras de dois deuses, Apolo e Dioniso, que, em linhas gerais,
são os representantes estéticos do sonho e da embriaguez,
respectivamente. A religião dos gregos e seu politeísmo, portanto,
não deve ser desvinculada da manifestação artística. E justamente o
vínculo estreito com a arte faz com que a religião grega seja vista pelo
filósofo como superior e mais profunda que todas as religiões
posteriores. Essa é a conjectura que permeia a interpretação
nietzschiana da religiosidade grega nos escritos dessa época. E tal
conjectura ganha mais destaque quando o filósofo, logo no prefácio
de O nascimento da tragédia, dedicado a Richard Wagner, afirma que
“A arte é a tarefa suprema e a atividade propriamente metafísica desta
vida” (Nietzsche, 1992, p. 26). É nesse livro que Nietzsche traz a tese
que “só como fenômeno estético podem a existência e o mundo
justificar-se eternamente” (Nietzsche, 1992, p. 47). Nesse contexto,
fruto, em grande medida, da aproximação de Nietzsche não só ao
wagnerismo, mas também ao shopenhauerianismo, a atividade

1Doutorando em filosofia. UNIOESTE. O presente trabalho foi realizado com apoio


da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) –
Código de Financiamento 001. E-mail: leonardocatafesta@yahoo.com.br

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

artística é considerada mais elevada que as demais por operar com


uma linguagem mais autêntica e próxima da própria natureza. E a
religiosidade grega, que possui um encadeamento intrínseco
justamente com a arte, recebe um lugar notável nos textos desse
período do autor, se aproximando também do exercício filosófico, ou
seja, da compreensão íntima do mundo. Nesse viés, o presente estudo
pretende acompanhar os argumentos de Nietzsche para o
enaltecimento da religiosidade grega, na qual, segundo o filósofo,
elabora uma visão múltipla, antropomórfica e imanente dos deuses,
permitindo, assim, elevar ao máximo as instâncias humanas,
demasiado humanas.

Palavras-chave
Nietzsche. O nascimento da tragédia. Politeísmo grego. Apolíneo e
Dionisíaco.

Referências
NIETZSCHE, Friedrich. A visão dionisíaca do mundo. Trad. Marco Casanova.
São Paulo: Martins Fontes, 2005
NIETZSCHE, Friedrich. O nascimento da tragédia: ou helenismo e
pessimismo. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A doutrina da vontade de potência:


Nietzsche contra a biologia do século XIX

Wilson Antonio Frezzatti Jr. 1

Resumo
O desenvolvimento da Biologia enquanto disciplina científica
autônoma começa no início do século XIX com os trabalhos de Karl
Friedrich Burdach, Gottfried Reinhold Treviranus e Jean-Baptiste
Lamarck: o fisiologista Burdach consolida o termo; o naturalista
Treviranus propõe que a vida é caracterizada por semelhança de
aspecto no funcionamento desigual do mundo externo; e o
naturalista Lamarck estabelece a continuidade entre os vegetais e os
animais, sendo necessário um estudo unificado desses seres (cf.
Frezzatti, 2003). Durante o século XIX, a Biologia vai se consolidando
em torno da ideia de evolução. Muitos biólogos e filósofos, tais como
Ernst Haeckel, Wilhelm Roux e Herbert Spencer, entenderam a
nutrição e a reprodução como princípios fundamentais da vida.
Nietzsche, em sua crítica à metafísica, rejeita a causa primeira e a
causa final, o que inclui os fundamentos da vida citados. A noção
nietzschiana de vontade de potência é uma interpretação que
considera que todos os seres, vivos e não vivos, e todas instituições e
agrupamentos humanos podem ser entendidos como um conjunto
de impulsos ou forças em luta por mais potência. As forças ou os
impulsos seriam quantidades de potência que têm a tendência a
crescimento e nunca estão isolados: são processos e relações e não
elementos últimos. Como consequência, o vir-a-ser é entendido
como uma luta contínua por mais potência, e a característica
principal é a superação e não a conservação da vida. Nesse contexto,
propomos que a doutrina da vontade de potência é uma tentativa do
filósofo alemão em superar as bases da Biologia de sua época:

1Doutor em Filosofia. Professor Associado de Filosofia da Universidade Estadual do


Oeste do Paraná (UNIOESTE) / Campus Toledo. E-mail: wfrezzatti@uol.com.br

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

nutrição e reprodução, por atuarem no sentido da conservação do


organismo, são secundárias e resultantes do impulso de expansão,
não são causas primeiras. Para a apresentação da noção de vontade
de potência, usaremos os seguintes textos de Nietzsche: Assim falava
Zaratustra (1883-1885); Para além de bem e mal (1886); Genealogia da
moral (1886); e, especialmente, os fragmentos póstumos. De
Haeckel, As maravilhas da vida (1907). De Roux, A luta nas partes do
organismo (1881). De Spencer, Os princípios de biologia (1864 e 1867).

Palavras-chave
Evolução. Nutrição. Reprodução. Vida. Vontade de potência.

Referências
FREZZATTI Jr., Wilson A. Haeckel e Nietzsche: aspectos da crítica ao
mecanicismo no século XIX. Scientiae Studia, v. 1, n. 4, 2003.
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ROUX, Wilhelm. Der Kampf der Theile im Organismus: ein Beitrag zur
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70
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A ética da alteridade de Emmanuel


Levinas e suas consequências políticas

Júlio César Lima de Farias 1


Orientador: Vitor Sommavilla de Souza Barros 2

Resumo
O judeu Emmnanuel Levinas (1905-1995) foi um pensador de muitos
significados, cuja influência ainda não foi medida. Tendo construído
uma obra densa, apenas recentemente se tornou objeto de estudo nas
universidades brasileiras. Influenciado por Rosenzweig, Husserl,
Heidegger e o Talmude, extrai da fenomenologia e da teologia judaica
as bases de suas ideias. O seu pensamento é uma crítica à filosofia
ocidental, pois entende que ela gerou uma racionalidade que causou
a objetificação dos indivíduos e o distanciamento do ser humano dos
valores éticos, provocando o Holocausto. A filosofia levinasiana tem
por fundamento a centralidade da relação Eu-Outro: pensa o sujeito
e o mundo a partir do Outro e não de si mesmo. A ética da alteridade
é elevada à categoria de filosofia primeira, pondo-se como fato
antecedente a qualquer outra reflexão filosófica. A conclusão
primordial do pensamento levinasiano é a importância do
pluralismo, demonstrando a necessidade de diálogo e de vivência
intersubjetiva na diferença. É a propositura de uma ética baseada no
reconhecimento da riqueza existencial do diferente e em uma
responsabilidade assimétrica perante o Outro. Considerando essas
reflexões, o trabalho se desenvolveu como resposta à seguinte
indagação: quais as consequências políticas da ética da alteridade de
Levinas e como elas influenciam o mundo contemporâneo? O
objetivo da pesquisa é demonstrar como a alteridade contribui para
a construção de uma sociedade aberta, onde os indivíduos podem

1 Bacharel em Direito e Filosofia. Mestrando em Filosofia. Universidade Federal da


Paraíba. E-mail: julioclfarias2@gmail.com
2 Doutor em Filosofia. Universidade Federal da Paraíba.

E-mail: vitorsommavilla@gmail.com

71
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

desenvolver normalmente seus potenciais e manifestar livremente


suas características, tendo em vista a efetivação de um pacto de
defesa desse conjunto axiológico e consignando a importância de
uma civilização que pratique um humanismo focado no respeito
integral ao ser humano e suas infinitas possibilidades de expressão.
Contra a força esmagadora de totalitarismos vários, a ética da
alteridade proclama o valor intrínseco de cada pessoa, instando
todos ao exercício de uma responsabilidade para além da satisfação
de interesses egoísticos. Para tanto, o trabalho delineia os elementos
que formam o conceito de alteridade, demostrando que Levinas o
fixa a partir de um novo entendimento acerca da ideia de sujeito: a
transformação de uma subjetividade egoísta que frui o mundo para
uma subjetividade dotada de uma sensibilidade ética que se abre ao
Outro e se torna por ele responsável. Como metodologia, a
investigação desenvolvida foi qualitativa e a modalidade de pesquisa
que se empreendeu para o presente trabalho foi do tipo bibliográfica,
aplicando-se o método hermenêutico, dentro das balizas propostas
por Gadamer.

Palavras-chave
Ética. Alteridade. Política. Totalitarismo. Pluralismo.

Referências
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 6. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2020.
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Paulo: Companhia das Letras, 2012.
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Revista de Ética e Filosofia Política. v. I, n. XXII, 2019.
LEVINAS, Emmanuel. Descobrindo a existência com Husserl e Heidegger.
Lisboa: Instituto Piaget, 1997.
LEVINAS, Emmanuel. Deus, a Morte e o Tempo. Trad. Fernando Bernardo.
Lisboa: Edições 70, 2021.

72
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
LEVINAS, Emmanuel. Ética e Infinito. Trad. João Gama. Lisboa: Edições 70,
2023.
LEVINAS, Emmanuel. Totalidade e Infinito. Trad. José Pinto Ribeiro. 3. ed.
Lisboa: Edições 70, 2020.
NASCIMENTO, Abimael F. Judaísmo como ética: Cohen, Rosenzweig, Bubber
e Levinas. In: Último Andar, n. 30, 2017.
PFEFFER, Renato Somberg. Raízes judaicas do humanismo de Lévinas. In:
Revista Digital de Estudos Judaicos da UFMG, v. 9, n. 16, 2015.
POIRIÉ, François. Emmanuel Lévinas: ensaio e entrevistas. Trad. J. Guinsburg,
et al. São Paulo: Perspectiva, 2007.
PLÜSS, David. Emmanuel Lévinas. Pensador do Messiânico. In:
Teocomunicação, v. 36, n. 153, 2006.
RIBEIRO, Luciene Martins Ribeiro. A Subjetividade e o Outro – Ética da
Responsabilidade em Emmanuel Levinas. São Paulo: Ideias e Letras, 2015.
RIBEIRO, Nilo Junior. Sabedoria da Paz: ética e teo-lógica em Emmanuel
Levinas. São Paulo: Loyola, 2008.
RIBEIRO, Nilo Junior. Sabedoria de Amar: a ética do itinerário de Emmanuel
Levinas. São Paulo: Loyola, 2005.
RUSSEL, Bertrand. História do Pensamento Ocidental. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2016.

73
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A evolução conceitual da escola milesiana: uma


defesa da superioridade da teoria de Anaxímenes

Thiago Luan Queiroz 1


Orientador: Pedro Falcão Pricladnitzky 2

Resumo
A presente investigação pretende desafiar a narrativa convencional
que vê Anaxímenes como um retrocesso em relação ao pensamento
de Anaximandro, seu antecessor. Esta pesquisa concentra-se
diretamente nas complexidades da questão da unidade primordial
que unifica as filosofias de Tales, Anaximandro e Anaxímenes. No
início, o estudo começa com uma alegoria elaborada, uma simulação
intelectual projetada para imergir o leitor no contexto cultural e
epistemológico em que as indagações milesianas surgiram, segundo
a perspectiva do presente pesquisador. Ressalta-se ainda que este
preâmbulo alegórico não é mero ornamento, mas sim um paradigma
conceitual de fundamental importância para uma mais adequada
caracterização dos filósofos de Mileto. Segue-se então, para uma
desconstrução crítica da cosmologia aquática de Tales, tentando
recriar suas questões e seus possíveis raciocínios para responde-las;
respostas que se mostrarão insuficientes. Neste contexto, insere-se
Anaximandro seu discípulo, cujo conceito do ‘Ápeiron’ é explorado
como uma extensão lógica e ao mesmo tempo como uma superação
conceitual e sistemática das ideias de Tales. O foco central do estudo
é, contudo, Anaxímenes. Aqui enfim, argumenta-se que a filosofia de
Anaxímenes não é um mero adorno ao pensamento milesiano, e sim
uma síntese refinada que avança substancialmente as teorias de seus
predecessores. Seu “ar” não é apenas um elemento entre muitos; é
uma unidade flexível e adaptável que resolve o dilema da ‘unidade
versus multiplicidade’ com uma sofisticação até então inédita. Ele

1 Graduando em Filosofia. UNIOESTE. E-mail: thiagolqueiroz@hotmail.com


2 Doutor em Filosofia. UNIOESTE. E-mail: pedro.pricladnitzky@unioeste.br

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

oferece um princípio que é simultaneamente material e ilimitado,


ancorando o cosmos em uma substância tangível enquanto o deixa
aberto às possibilidades. A pesquisa conclui situando a teoria de
Anaxímenes no contexto de paradigmas contemporâneos em física e
filosofia, sugerindo que suas ideias mantêm relevância e
profundidade até os dias atuais. Esta pesquisa busca, então, cumprir
quatro objetivos principais: 1) Revisitar as teorias dos três pensadores
quanto à unidade primordial; 2) Estabelecer uma linha de
continuidade necessária entre eles; 3) Contestar a noção de
retrocesso associada a Anaxímenes; e 4) Apontar como a teoria de
Anaxímenes pode ser vista como um culminar lógico e sofisticado das
investigações milesianas.

Palavras-chave
Filosofia Antiga. Escola de Mileto. Tales. Anaximandro. Anaxímenes.

Referências
SOUZA, José Cavalcante de. Pré-Socráticos. 5. ed. São Paulo: Nova Cultural,
1991. (Coleção: Os Pensadores).
COPLESTON, Frederick. Uma história da filosofia. Campinas: Vide Editorial,
2021.
KIRK, Geoffrey S. Os filósofos pré-socráticos. 7. ed. Lisboa: Calouste, 2010.
McKIRAHAN, Richard D. Philosophy before Socrates. 2. ed. Indianapolis:
Hackett Publishing Company, Inc., 2010.
BARNES, Jonathan. The presocratic philosophers. 3. ed. Londres: Taylor &
Francis e-Library, 2005.

75
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A existencialidade na fé cristã como uma redenção


paradigmática e paradoxal em relação ao desespero
humano do “eu”: uma análise a partir do pensamento de
Soren Kierkegaard

José Ignácio Jacob 1


Orientador: Roberto S. Kahlmeyer-Mertens 2

Resumo
Este trabalho tem como tema a existencialidade na fé cristã como
uma redenção paradigmática e paradoxal em relação ao desespero
humano do “eu”: uma análise a partir do pensamento de Soren
Kierkegaard. O problema filosófico que orienta a pesquisa é: como a
existencialidade baseada na fé cristã se torna um paradigma, mas ao
mesmo tempo um paradoxo em relação à redenção de “eu” perante o
desespero humano, numa análise a partir do pensamento de Soren
Kierkegaard? A justificativa para tal pesquisa está no fato de que as
obras do autor neste viés temático serem proporcionalmente pouco
difundidas e conhecidas. Como objetivo geral a investigação se
propõe a apresentar compreender e analisar a importância do
pensamento existencialista a partir da fé cristã na filosofia existencial
de Kierkegaard. Os objetivos específicos são três, a saber :a)
conceituar o pensamento existencialista cristão na filosofia de
Kierkegaard b) definir o que é o desespero humano do “eu” ou a
doença mortal c) apresentar a fé cristã não só como paradigma, mas
também como paradoxo em relação à redenção do desespero
humano do “eu” ou a doença mortal segundo Kierkegaard. Nesta
pesquisa a metodologia aplicada prevê a exposição e análise de textos
do autor principalmente o seu livro O Desespero Humano, bem como

1Acadêmico do 4º ano de Filosofia da Unioeste Campus de Toledo, Pr.


E-mail: josejacob351@gmail.com
2 Professor Doutor e orientador do curso de Filosofia da Unioeste, Campus de

Toledo, Pr.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

de alguns de seus principais comentadores, dentre eles Roos (2021),


Le Blanc (2003), Almeida e Valls (2007), Carrasco (2010) e Farago
(2006), no que se refere aos conceitos, seja no que diz respeito ao
desespero humano do “eu”, ou de fé cristã” explorando os conceitos
apresentados no tema proposto. Espera-se com esta pesquisa
mostrar tema a existencialidade na fé cristã se apresentando como
uma redenção paradigmática e paradoxal em relação ao desespero
humano do “eu”: uma análise a partir do pensamento de Soren
Kierkegaard.

Palavras-chave
Filosofia existencial. Desespero Humano do “eu”. Fé.

Referências
ABBGNANO, Nicola. História da Filosofia. Vol. 10. Trad. Armando da silva
Carvalho e Antônio Ramos Rosa. Liboa: Preseça, (s-d).
BEAUFRET, J. Introdução às filosofias da existência: de Kierkegaard a
Heidegger. São Paulo: Duas Cidades, 1976.
A BÍBLIA DE JERUSALÉM. Trad. de La Sainte Bible. São Paulo: Paulinas, 1973.
ALMEIDA, Jorge Miranda de; VAALS, Alvaro. L.M. Kierkegaard (filosofia
passo-a-passo 78). Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
CARRASCO, Alexandre. Kierkegaard e a invenção do existencialismo. GRUPO
CULT. Departamento de Filosofia da UNIFEST/EPM. 14 de março de 2010.
FARAGO, France. Comprender Kierkegaard. Trad. Ephraim F. Alves.Petrópolis:
Vozes, 2006.
GOUVEIA, Ricardo Quadros. Paixão pelo Paradoxo: Uma Introdução aos
Estudos de Soren Kierkegaard e de sua Concepção da Fé Cristã. São Paulo:
Fonte Editorial, 2006.
KAHMEYER-MERTENS, Roberto S. A interpretação da certeza do princípio
sobre o conceito da doutrina-da-ciência. In: Revista semestral da faculdade de
filosofia da PUC Campinas, ano 31, n. 90, 2006.
KIERKEGAARD, Soren. O Desespero humano. Trad Adolfo Casais Monteiro.
São Paulo: Unesp, 2010.
KIERKEGAARD, Soren. Prática do cristianismo. Trad. Paulo Abe. Londrina:
Livraria Família cristã, 2021.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
LE BLANC, Charles. Kierkegaard, Figuras do saber. Trad. Marina Apenzeller.
São Paulo: Estação Liberdade, 2003.
REALI, G. História da filosofia. Vol. 5. Do romantismo ao empiriocriticismo.
Trad. Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus. (Coleção história da filosofia).
ROOS, Jonas. 10 Lições sobre Kierkegaard. Petrópolis: Vozes, 2021.
SANTOS, Rômulo gomes dos. O Indivíduo e sua doença mortal como crítica
ao pensamento idealista à luz do Soren A. Kierkegaard. Dissertação de
mestrado. 2017. Programa de pós graduação stricto sensu em filosofia. Centro
de ciências humanas e sociais. Universidade estadual do Oeste do Paraná.
Campus Toledo.
STEWART, Jon. Soren Kierkegaard: subjetividade, ironia e a crise da
Modernidade. Trad. Humberto Araujo Quaglio de Souza. Petrópolis: Vozes,
2017.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A figura do sujeito de direito no capitalismo

Bruno Carniato Dias 1


Orientador: Jadir Antunes 2

Resumo
O presente trabalho se dedica a sintetizar os conceitos chave
presentes na obra Teoria Geral do Direito de Pachukanis — partindo
do entendimento do autor de que a forma jurídica opera de modo
inserido na lógica da forma mercadoria apresentada no primeiro
capítulo de O Capital de Marx. Pachukanis compreende que o direito
nada mais é do que um produto inexorável da sociedade capitalista,
haja vista que toda sua estrutura intestina é pautada pelo sistema de
trocas, “ao mesmo tempo que um produto do trabalho adquire
propriedade de mercadoria e se torna o portador de um valor, o
homem adquire um valor de sujeito de direito e se torna portador de
direitos” (Pachukanis, 2017, p. 134). Nesta esteira, por se tratar de uma
sociedade atomizada, o núcleo normativo serve à legitimação de sua
atomização, isto é, com o nascimento do Estado burguês germina-se
uma forma jurídica que coloca em seu centro um sujeito de direito
que é livre e igual a todos os outros, que, diferentemente dos períodos
pré-capitalistas, já não há espaço para direitos hierarquizados. As
regras de reciprocidade do direito burguês permitem que as “leis de
mercado” e a propriedade privada sigam um fluxo ad eternum. Deste

1 Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná


(UNIOESTE) com bolsa da CAPES. Pós-graduado latto sensu em Direito do
Trabalho e Previdenciário pela PUC-MG. Pós-graduado latto sensu em
Criminologia, Direito Penal e Processo Penal pela UNIPAR. Bacharel em Direito
pela UNIPAR. E-mail: bruno_c_dias@hotmail.com
2 Bacharel em Economia pela Unioeste – Universidade Estadual do Oeste do Paraná

(1999), Mestrado em Filosofia (2002) e Doutorado em Filosofia (2005) pela


Unicamp – Universidade Estadual de Campinas SP. É Professor Associado da
Unioeste na Graduação e no Programa de Mestrado e Doutorado em Filosofia. Tem
experiência na área de Ética e Filosofia Política, atuando principalmente em
Filosofia Política Moderna e Filosofia Marxista.
E-mail: jadir.antunes@yahoo.com.br

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

modo, o Estado, além de se organizar em torno da propriedade,


produz políticas para os proprietários. As políticas para os não
proprietários, frutos da luta de classes, por outro lado, quando
garantidas são abstratas e tão voláteis quanto a água. O direito, visto
em seu aspecto social, como garantidor do básico para a existência
humana e, quando limitador da exploração do homem pelo homem,
nada mais é do que instrumento da luta de classes. Por outro lado,
como elemento central do mundo das mercadorias, a propriedade é
o direito solidificado que não apenas perdura, mas também se
sofistica cada vez mais conforme se adequa à realidade do capital. É
por meio desta legitimidade que o fluxo da troca de mercadorias pode
seguir, inclusive, a principal delas força de trabalho — a exploração
só pode o sujeito de direito é um possuidor de direitos abstratos, nele
senhores de terras e trabalhadores são igualados sob o invólucro da
legalidade — a liberdade de quem dispõe a força de trabalho é igual
à liberdade de quem a compra, mediados por um contrato que
instrumentaliza o uso dessa liberdade (Kashiura, Jr, 2015, p. 56).
Neste sentido, ao igualar os desiguais, o direito burguês oportuniza
igual acesso à desigualdade (Pachukanis, 2017, p. 143).

Palavras-chave
Sujeito de direito. Capitalismo. Direito. Legitimidade.

Referências
PACHUKANIS, Evguieny B. Teoria geral do direito e marxismo. Trad: Paula
Vaz de Almeida. São Paulo: Boitempo, 2017.
KASHIURA JR., Celso Naoto. Sujeito de direito e interpelação ideológica:
considerações sobre a ideologia jurídica a partir de Pachukanis e Althusser. In:
Revista Direito e Práxis, v. 6, n. 10, 2015.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A filosofia como unidade sistemática nas


Introduções da Crítica do Juízo de Kant

Mônica Chiodi 1
Orientador: Luciano Carlos Utteich 2

Resumo
Esta comunicação versa, de modo introdutório, sobre o tema da
filosofia como unidade sistemática no pensamento kantiano,
levando em conta o exame das Primeira (1789-90) e Segunda (1790)
Introduções à Crítica da faculdade de juízo. A problemática concerne
em compreender o modo pelo qual o filósofo propôs dar conta da
superação do abismo entre os domínios teórico e prático da razão na
Terceira Crítica, visto que, no contraste com as duas primeiras
Críticas, ele tematiza o caráter sistemático da filosofia de um modo
mais abrangente e satisfatório. Ao apresentar o modo pelo qual
explicitou a ideia da filosofia como um sistema nas duas Introduções
busca-se contrastar a perspectiva trazida com a apresentada na
Crítica da razão pura (A arquitetônica da razão), no qual as
concepções de sistema e de doutrina estavam ainda
insuficientemente fundamentadas. Enquanto noções que servem de
guia para Kant explicitar a diferença conceitual entre a perspectiva
reflexionante e a determinante da faculdade de julgar na teoria do
conhecimento, a noção de sistema mostra-se relevante em face da
divisão tripartite das faculdades de conhecimento: entendimento,
Juízo e razão. Visto que até pouco antes da publicação da primeira
Introdução da CFJ a Filosofia era dividida apenas em duas partes, em
filosofia teórica e filosofia prática, com o surgimento da primeira
Introdução da CFJ Kant fez modificações nesta concepção, vindo a
constituir a razão, por analogia, como uma unidade orgânica, e

1Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Filosofia (PPGFIL) da Universidade


Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. E-mail: monica_kiodi@hotmail.com.
2 Prof. Dr. docente efetivo da Universidade Estadual do Oeste do Paraná –

UNIOESTE. E-mail: lucautteich@terra.com.br

81
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

passando a postulá-la como um sistema (unidade sistemática).


Assim, desde o acréscimo da faculdade de juízo reflexionante, Kant
trouxe uma nova ordem de organização das faculdades superiores de
conhecimento, as quais realizam suas operações segundo princípios
a priori. Nossa tarefa será mostrar o percurso percorrido até chegar à
constatação da razão como compondo, efetivamente, uma
totalidade, orgânica e sistemática, assentada no fato de seus
produtos serem admitidos como organizados pela mesma unidade
racional. Isso só será possível graças à nova apresentação da divisão
da filosofia, reordenada não mais pela díade, razão teórica e razão
prática, mas por uma divisão múltipla dos poderes de conhecimento.

Palavras-chave
Filosofia. Sistema. Crítica do Juízo. Kant.

Referências
KANT, Immanuel. Crítica da faculdade do juízo. Trad. Valerio Rohden e
António Marques. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Trad. Manuela Pinto dos Santos e
Alexandre Fradique Morujão. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
1989.
KANT, Immanuel. Primeira introdução à crítica do juízo. Trad. Rubens
Rodrigues Torres Filho. São Paulo: Iluminuras, 1995.
MARQUES, António José Duque da Silva. Organismo e sistema em Kant:
ensaio sobre o sistema kantiano. Lisboa: Presença, 1987.

82
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A ideia de progresso na metodologia


dos programas de pesquisa de Lakatos

Lazandir João da Silva 1

Resumo
Esta apresentação aborda um aspecto fundamental da filosofia da
ciência de Imre Lakatos: a concepção de progresso científico. Imre
Lakatos, um influente filósofo do século XX, é conhecido por sua
teoria dos Programas de Pesquisa Científica, que desafia as visões
tradicionais da filosofia da ciência. Neste resumo, nos
concentraremos na visão de Lakatos sobre o progresso científico e
como ele reformulou esse conceito. O cerne da filosofia de Lakatos
são os programas de pesquisa, que constituem a unidade central para
a avaliação da ciência. Esses programas incluem um núcleo firme,
cercado por um cinturão auxiliar de hipóteses. Para Lakatos, o
progresso em um programa de pesquisa não é simplesmente uma
acumulação linear de conhecimento. Em vez disso, ele define o
progresso como a capacidade de um programa em gerar novas
previsões e resolver problemas, especialmente relacionados ao
núcleo firme. A apresentação explora como Lakatos aborda o
conceito de progresso, integrando elementos empíricos e teóricos.
Ele enfatiza a importância da corroboração empírica, ou seja, a
confirmação de previsões por meio de observações ou experimentos,
na avaliação do progresso. No entanto, ele também destaca que o
progresso não deve ser exclusivamente empírico, mas também
teórico, envolvendo o desenvolvimento de teorias mais abrangentes
e informativas. Na elaboração deste estudo, farei uso da obra de Imre
Lakatos, História da Ciência e Suas Reconstruções Racionais,
publicada pela Edições 70 em 1978. Esta obra é uma referência
essencial sobre a visão de Lakatos para com a história da ciência e
como as reconstruções racionais desempenham um papel crucial na

1 Licenciatura em Filosofia. UNIOESTE. E-mail: lazandir@gmail.com

83
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

evolução do conhecimento científico. Através desta obra, Lakatos


apresenta sua perspectiva única sobre a dinâmica da ciência,
fornecendo uma base sólida para a análise crítica e a compreensão de
suas contribuições para a filosofia da ciência. A conclusão da
apresentação destacará a importância contínua da perspectiva de
Lakatos na filosofia da ciência contemporânea e como suas ideias
sobre progresso empírico e teórico continuam a influenciar o debate
acadêmico. Sua abordagem desafia a visão tradicional da ciência e
destaca a complexidade envolvida na avaliação do desenvolvimento
científico. Esta apresentação oferece uma visão aprofundada sobre a
filosofia da ciência de Imre Lakatos e suas contribuições essenciais
para o entendimento do progresso científico.

Palavras-chave
Imre Lakatos. Progresso. Filosofia da Ciência.

Referências
LAKATOS, I.; MUSGRAVE, A. A Crítica e o Desenvolvimento do
Conhecimento. Trad. Octavio Mendes Machado. São Paulo: Cultrix, 1979.
LAKATOS, I. Falsificação e Metodologia dos Programas de Investigação
Científica. Trad. Emília Picado Tavares Marinho Mendes. Lisboa: Edições 70,
1999.
LAKATOS, I. História da Ciência e Suas Reconstruções Racionais. Trad. Emília
Picado Tavares Marinho Mendes. Lisboa: Edições 70, 1978.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A incapacidade de prova: Hume,


Jacobi e o problema da objetividade

Arthur Valença Macêdo Chermont 1


Orientador: Mario Ariel González Porta2

Resumo
O consenso da bibliografia sobre o conceito de crença/fé (Glauben)
de Friedrich Heinrich Jacobi, como Baum ou di Giovanni, atesta
decididamente que o apelo à autoridade de David Hume na obra 1787,
como precursor do emprego do conceito de crença pelo próprio
Jacobi em 1785, é no mínimo imprecisa. Esta posição interpretativa
minimizou a influência de Hume no pensamento do autor alemão,
em prol de figuras como Thomas Reid, em uma leitura de
aproximação à escola do senso comum escocês, ou até mesmo
Spinoza, como aponta a interpretação de Timm em 1974. Propomo-
nos reavaliar a conexão entre os dois autores, não nos concentrando
em saber se existe uma influência do autor escocês no autor alemão,
no âmbito da definição conceitual do conceito de crença/fé
(Glauben), mas mostrando que ambos colocam um semelhante
problema da objetividade: Hume no Tratado de 1739 e na 1ª
Investigação de 1748, e Jacobi na correspondência com Mendelssohn,
publicada em 1785, e no diálogo David Hume de 1787. As semelhanças
entre ambos os problemas estão estritamente ligadas à tese da
impossibilidade de qualquer prova da objetividade. Este problema,

1Mestrando em Filosofia pelo Programa de pós-graduação em filosofia da PUC/SP.


Bacharel em Filosofia pela mesma instituição. Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUC/SP). E-mail: artchermont@hotmail.com.
2 Bolsista de produtividade CNPQ PQ 2 possui graduação em Filosofia pela

Universidade Maior da República de Montevidéu (1980) e doutorado em Filosofia -


Universitat Munster (Westfalische-Wilhelms) (1989). Atualmente é professor
titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Tem experiência na área de
Filosofia, com ênfase em Epistemologia, atuando principalmente nos seguintes
temas: origens da filosofia contemporânea, Kant, neokantismo, fenomenologia,
psicologismo e ensino da filosofia. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC/SP). E-mail: mariopor@pucsp.br

85
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

em Hume, é operado em dois níveis (racional e empírico), e tem


como conclusão a tese de que não há um fundamento epistemológico
da objetividade. A vinculação com o problema de Jacobi ocorre
precisamente porque o autor alemão também assume que a
objetividade de fato é incapaz de ser provada. Do lado das
divergências, porém, o problema em cada autor é formulado partindo
de diferentes influências históricas e projetos filosóficos, que
conduzem naturalmente a um conceito de crença que, em cada uma
das respectivas teorias, se encontram afastados. Da feita que a
construção do problema em Hume leva o autor a postular que
somente se pode ter uma crença (belief) na objetividade e não
conhecimento de fato, o problema em Jacobi desenvolve-se na
direção da tese de que precisamente a crença/fé (Glauben) na
objetividade é seu fundamento epistemológico, ilustrando sua
posição realista.

Palavras-chave
Objetividade. Problema. Hume. Jacobi. Crença.

Referências
JACOBI, Friedrich Heinrich. Werke. Gesamtsausgabe. HAMMACHER K.;
JAESCHKE W. (Eds.). Vol. 1-7. Hamburg: Meiner, 1998.
JACOBI, Friedrich Heinrich. Werke. KÖPPEN, J. F.; ROTH, J. F. (Ed.). Leipzig:
Gerhard Fleischer, 1812-25. Vol. I-VI. Reproduzido em Darmstadt:
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Oxford University Press, 1975.
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DESCARTES, R. Oeuvres de Descartes. Paris: Gallimard, 2018.
LEIBNIZ, G. W.; CLARKE, S. The Leibniz-Clarke Correspondence.
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86
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
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Leibniz-Clarke Correspondence. Manchester/New York: Manchester
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87
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A instabilidade político-institucional
no Peru e os limites constitucionais

Jossy Yasira Sosa Fernandez 1


Orientador: Julio da Silveira Moreira 2

Resumo
Os desafios atuais da sociedade peruana incluem o debate sobre a
vacância presidencial por incapacidade moral, os enérgicos protestos
sociais de 2022-2023 e o clamor por um processo constituinte. O
problema central desta pesquisa é: como a instabilidade política,
decorrente da conveniência das oligarquias no poder e suas práticas
de alternância entre alianças e conflitos entre o Executivo e o
Legislativo, frequentemente com a omissão e cumplicidade do
Judiciário, impacta o sistema político e a governabilidade no Peru?
Os objetivos são: analisar dilemas da Constituição Peruana de 1993,
incluindo o instrumento da vacância presidencial; analisar as
implicações dos protestos sociais e do processo constituinte para a
sociedade peruana; investigar as violações de direitos humanos
associadas à repressão dos protestos. A metodologia envolverá uma
pesquisa aprofundada de textos jurídicos, com ênfase na
Constituição Peruana e na legislação pertinente, bem como na
análise de relatórios de organizações de direitos humanos. Essas
fontes evidenciam as complexidades do sistema jurídico peruano e as
implicações dos eventos recentes para os direitos humanos e a justiça
social. A demanda por um novo pacto social e uma nova Constituição
reflete o anseio do povo peruano por superar a Constituição de 1993,
promulgada sob a sombra do autoritarismo de Alberto Fujimori. Os
peruanos clamam por uma nova carta magna que seja
verdadeiramente representativa, inclusiva e sensível às necessidades

1 Bacharel em Direito (Universidad Nacional de Piura); graduanda em Relações


Internacionais (UNILA). E-mail: jys.fernandez.2021@aluno.unila.edu.br
2 Doutor em Sociologia com Pós-Doutorado no PPGFil UNIOESTE. Docente na

UNILA. E-mail: julio.moreira@unila.edu.br

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

da sociedade contemporânea. Isso se dá em um contexto latino-


americano amplo, que busca criar constituições mais progressistas e
inclusivas, que atendam às aspirações da população. Países vizinhos,
como Chile e Bolívia, também embarcaram em processos
constituintes. A vacância presidencial por incapacidade moral,
prevista na Constituição de 1993, permite a destituição de um
presidente envolvido em atos considerados moralmente inaceitáveis.
No entanto, a ambiguidade em torno do que constitui “incapacidade
moral” torna sua aplicação controversa. Isso foi evidenciado nos
casos de destituição enfrentados por presidentes como Martin
Vizcarra e Pedro Castillo. Esse dispositivo constitucional, embora
destinado a manter a moralidade no exercício do poder, tornou-se
uma ferramenta para perseguição política. É nesse contexto que os
protestos sociais de 2022-2023 emergiram como protagonistas. Os
cidadãos peruanos tomaram as ruas para expressar profunda
insatisfação com a corrupção sistêmica, a instabilidade política e a
falta de representatividade. Esses protestos transcenderam a
indignação e se traduziram na exigência de um processo constituinte,
marcando uma busca por mudanças substanciais na estrutura do
Estado e por uma participação mais ampla na tomada de decisões. As
vozes e demandas dos povos originários por reconhecimento,
território e autodeterminação estão entrelaçadas nesse processo
constituinte. A inclusão de suas perspectivas é essencial para uma
nova Constituição verdadeiramente representativa e inclusiva. A
busca por justiça e responsabilização por atos de repressão é uma
parte fundamental do processo de construção de uma nova ordem
constitucional.

Palavras-chave
Direito Constitucional. Assembleia Constituinte. Protestos sociais.
Peru. Democracia.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Referências
BALDI, César Augusto. (Org.). Direitos Humanos na Sociedade Cosmopolita.
Rio de Janeiro: Renovar, 2004.
CARBONELL, José Carlos. Perú: la necesidad de una reforma constitucional.
Un punto de partida. Araucaria. In: Revista Iberoamericana de Filosofía,
Política y Humanidades, v. 8, n. 15, 2006.
LANDA, Arroyo Cesar. La reforma constitucional en América Latina y el Perú.
Valencia: Tirant Lo Blache, 2023.
VIEIRA, Gustavo Oliveira. Constitucionalismo na Mundialização: desafios e
perspectivas da Democracia e dos Direitos Humanos. Ijuí: Unijuí, 2015.
MAMANI, Juan. Nuevo constitucionalismo social comunitário na América
Latina. In: O novo Constitucionalismo Latino-americano: o debate sobre
novos sistemas de justiça, ativismo judicial e formação de juízes. MORAIS,
José Luis Bolzan; BARROS, Flaviane de Magalhães (Coord.). Arraes, 2014.
WOLKMER, Antonio Carlos; LIXA, Ivone Fernandes M. (Orgs.).
Constitucionalismo, descolonização e pluralismo jurídico na América Latina.
Florianópolis: CENEJUS / UFSCNEPE, 2015.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A Introdução aos Princípios:


uma nova teoria do significado

Isabela Pereira da Cunha 1

Resumo
O terceiro livro do Ensaio sobre o Entendimento Humano de John
Locke é frequentemente considerado o primeiro tratado filosófico
sobre a linguagem na história da filosofia. Este tratado, que
desempenha um papel fundamental no desenvolvimento das
concepções semânticas da era moderna, promove a ideia de
semântica ideacional, onde as palavras referem-se e derivam seus
significados das ideias presentes na mente do falante. Neste
contexto, esta comunicação tem como objetivo analisar como George
Berkeley, um herdeiro e crítico da tradição empirista, recebeu a
proposta semântica de John Locke, considerando suas
particularidades epistemológicas e motivações religiosas. Para
realizar essa investigação, faremos referência a três textos escritos por
Berkeley: Os Comentários Filosóficos (1705-1706), Dos Infinitos e a
introdução publicada do Tratado sobre o Princípio do Conhecimento
Humano (1710). Uma hipótese alternativa de leitura dos Comentários
Filosóficos, apresentada por Belfrage em seu artigo intitulado The
clash on semantics in Berkeley’s ‘Notebook A’, sugere que o primeiro
bloco de notas deste livro, que abrange as notas de nº 400 a 696,
revela uma relação profunda entre o pensamento de Berkeley e a
filosofia de Locke. Neste trecho, Berkeley também parece adotar a
posição da semântica ideacional, o que se torna ainda mais evidente
quando examinamos seu texto Dos Infinitos, escrito no mesmo
período. Neste trabalho, Berkeley se propôs a criticar os métodos de
análise baseados na suposição da existência de magnitudes
infinitesimais, argumentando que qualquer discurso sobre
quantidades infinitesimais é desprovido de sentido, pois a mente

1 E-mail: isabelapereirac@live.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

humana não pode conceber o infinito. Entretanto, ao prosseguir em


suas anotações, Berkeley sente a necessidade de revisar a semântica
proposta por Locke. A perspectiva ideacional, que vincula o
significado das palavras exclusivamente às ideias na mente, levanta
um desafio para a inclusão de termos religiosos na esfera da
significação. Na introdução ao Tratado sobre os Princípios do
Conhecimento Humano Berkeley critica a teoria ideacional de Locke,
classificando-a como uma falsa filosofia da linguagem. Acreditamos
que Berkeley aponta para uma nova teoria do significado quando
anuncia outras possibilidades, usos e finalidades da linguagem.
Considerando as interpretações de diversos estudiosos abordadas
nos textos selecionados, nosso objetivo é destacar a discussão em
torno da semântica de Berkeley, que não apresenta um consenso
definitivo. Existem três perspectivas principais: a) a semântica de
Berkeley é essencialmente ideacional; b) a semântica de Berkeley é
uma reação anti-ideacional, negando que as palavras sejam sempre e
exclusivamente significadas por ideias; c) a semântica de Berkeley
pode ser vista como uma teoria ideacional modificada, onde ele
reconhece que, embora as palavras sejam em grande parte
significadas por ideias, há uma área de significação na linguagem que
escapa da teoria ideacional original.

Palavras-chave
George Berkeley. Filosofia da linguagem. Significação. Teoria
ideacional do significado.

Referências
BERKELEY, George. Obras Filosóficas. Trad. Jaimir Conte. São Paulo: Unesp,
2010.
BELFRAGE, Bertil. The Clash on Semantics in Berkeley’s ‘Notebook A’. In:
Hermathena, n. 139, 1985
BELFRAGE, Bertil. Development of Berkeley’s Early Theory of Meaning. In:
Revue Philosophique de la France et de l’Étranger, v. 176, n. 3, 1986.
BRYKMAN, Geneviève. Berkeley et le voile des mots. Paris: Vrin, 1993.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. Vol. I. Trad. Guarter
Cunha e Ana Luísa Amaral. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1999a.
LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. Vol. II. Trad. Guarter
Cunha e Ana Luísa Amaral. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1999b.
PEARCE, Kenneth L. Berkeley’s Theory of Language. The Oxford Handbook of
Berkeley. Samuel C. Rickless. (Ed.). Oxford University Press, 2022.
RUSSELL ROBERTS, John. Berkeley on the Philosophy of Language. In
Belfrage.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A jurisprudência de superfícies como


expressão de potências singulares do direito

Paulo Roberto Schneider 1


Orientadora: Ester Maria Dreher Heuser2

Resumo
Gilles Deleuze tornou pública sua posição contrária e crítica em
relação aos Direitos Humanos e positiva quanto à jurisprudência em
entrevistas concedidas e publicadas em Diálogos e, na entrevista
concedida a jornalista Claire Parnet (entre 1988-1989) e publicizada
em vídeo como Abecedário de Gilles Deleuze (Deleuze; Parnet, [1996]
2001b), no vocábulo “G de Gauche [Esquerda]”, é que mais vezes a
noção aparece. Pela dinâmica com que as menções são expressas
durante a conversa, aferiu que não é a lei, nem os Direitos Humanos
que criam o Direito, mas a jurisprudência (e que essa é a Filosofia do
direito, sua instância criadora). Com base nessa posição brevemente
anunciada, nosso objetivo é “dar corpo” às críticas e sentido ao elogio.
Para o ouvinte que desconsidera a vida filosófica do autor, assim
como ignora a “Cláusula”, que antecede a entrevista do Vocabulário
(na qual ficou contratado que a publicação do material, com mais de
sete horas de filmagens, só seria feita após a sua morte, quando ele
teria se tornado “puro espírito”) as considerações do filósofo podem
soar vagas, mas é à luz da compreensão eminentemente política
expressa no conteúdo da entrevista a Parnet que almejamos
apresentar uma convergência de sentido conceitual para o “elogio”
feito à jurisprudência, a crítica aos Direitos Humanos e o elemento
prático-político subjacente. Para isso, contamos com tons

1 Doutorado em Filosofia. Programa de Pós-Graduação em Filosofia do Centro de


Ciências Humanas e Sociais da Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
UNIOESTE. E-mail: pauloschneiders@gmail.com
2 Professora-pesquisadora Associada da UNIOESTE, Campus Toledo (PR), no curso

de Filosofia – Licenciatura, Mestrado e Doutorado (Linha: Ética e Filosofia Política).


E-mail: ester.heuser@gmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

conceituais que emanam da voz desse “puro espírito” em suas


entrevistas, auxiliados pela obra Spinoza e o problema da expressão
([1968] 2017), a partir do que concebemos à jurisprudência o enfoque
expressionista de superfície como uma competência de ordem
linguística, ético e política que, via a experimentação, é capaz de criar
direitos mediante o critério da vida, diversa, portanto, de um
dispositivo técnico ou jurisdicional, conforme um conjunto de
operários da Justiça, com função interpretativa da lei. Em suma: o
que é expresso como direito, não pode ser explicado ou representado
em separado do próprio ato em que é expresso em seu processo de
constituição, na superfície das relações sociais e políticas, pelas quais
a vida se exprime.

Palavras-chave
Direitos. Expressionismo. Jurisprudência.

Referências
DELEUZE, Gilles. Cursos sobre Spinoza (Vincennes, 1978-1981). Trad.
Emanuel Angelo da Rocha Fragoso, Francisca Eviline Barbosa de Castro, Hélio
Rebello Cardoso Júnior e Jefferson Alves de Aquino. 3. ed. Fortaleza: EdUECE,
2019.
DELEUZE, Gilles. Spinoza e o problema da expressão [1968]. Trad. GT Deleuze
– 12. São Paulo: Editora 34, 2017.
DELEUZE, Gilles. O Abecedário de Gilles Deleuze. Vídeo. Editado no Brasil
pelo Ministério de Educação, “TV Escola”, 2001b. Entrevista feita por Claire
Claire Parnet, filmada e dirigida por Pierre-André Boutang. Paris: Vidéo
Éditions Montparnasse, 1996. (Transcrição sintetizada, em inglês, por Charles
J. Stivale, http://www.langlab.wayne.edu/CStivale/D-G/ABC 1.html, e
traduzida para o português por Tomaz Tadeu). Disponível em:
https://escolanomade.org/wp-content/downloads/deleuze-o-abecedario.pdf.
Acesso em: 10 fev. 2021
DELEUZE, Gilles; PARNET, Claire. Diálogos [1977]. Trad. Eloísa Araújo
Ribeiro. São Paulo: Escuta, 1998.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
SCHNEIDER, Paulo Roberto Schneider. Jurisprudência expressionista de
direitos: uma perspectiva deleuziana. 223f. Tese (Doutorado em Filosofia) –
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Toledo, 2021.
Disponível em: https://tede.unioeste.br/handle/tede/5436.

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A metafísica de Anne Conway: uma oposição


aos mecanicismos de Descartes e de Espinosa

Bruno Martinez Tessele 1

Resumo
Entre as metafísicas mecanicistas da modernidade — o dualismo
cartesiano por um lado, e o imanentismo spinoziano por outro —
encontra-se uma via vitalista antes da famigerada monadologia de
Leibniz, a saber, a metafísica da filósofa neoplatônica Anne Finch
Conway (1631-1679). Junto dos chamados platonistas de Cambridge,
Conway é uma autora cuja obra se situa logo no início da
modernidade, mais precisamente no seu período transitório: noutras
palavras, a metafísica conwayniana desenvolveu-se num momento
em que havia uma mescla entre modos de se fazer filosofia, sendo
comum em alguns a utilização de princípios racionais e em outros o
uso de princípios religiosos com objetivo de se construir sistemas
filosóficos; assim, a metafísica de Conway se encaixa como uma
crítica e uma alternativa ao racionalismo em voga no começo era
moderna. Conhecê-la torna-se, portanto, uma oportunidade de
enriquecer a compreensão recorrente que se tem desse profícuo
período que é a modernidade filosófica. (Vale dizer que conhecê-la
também significa revisar o canône, integrar mais filósofas na
constelação de autores já consagrados; este, dentre as várias, seria
uma das motivações deste trabalho. Diante disso, este trabalho
tentou expor a metafísica de Anne Conway baseado na sua obra The
Principles of the Most Ancient and Modern Philosophy, obra na qual
constam noções como “Deus”, “Substância”, “Matéria”, “Criatura”
entre outras. (Conforme a exposição de tais noções e conceitos, ficará
claro o posicionamento de Conway frente às principais correntes
filosóficas da época: que é, negando a visão mecanicista e

1 Estudantede Filosofia-bacharelado. Universidade Federal de Santa Maria(UFSM).


E-mail: brunomartinezf@gmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

imanentista, a postulação de uma metafísica composta de um Deus


transcendente criador de uma única substância que une matéria e
espírito, ambos contendo uma força vital que permite
transformarem-se um no outro.) A apresentação dessas noções se
dará na ordem em que elas aparecem na obra da autora, a fim de
cumprir o objetivo deste trabalho, qual seja, o de contrapor as
metafísicas cartesiana e spinoziana com a de Conway.

Palavras-chave
Deus. Substância. Matéria. Espírito. Criatura.

Referências
CONWAY, Anne. Anne Conway: The Principles of the Most Ancient and
Modern Philosophy. 2. ed. New York. Cambridge University Press, 1996.
PUGLIESE, Nastassja. Monism and individuation in Anne Conway as a
critique of Spinoza. British Journal for the History of Philosophy, v. 27, n. 4,
2019.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A missão desfetichizadora da arte


na estética de György Lukács

Doralice de Lima Barreto 1

Resumo
O presente trabalho tem por objetivo apresentar a função social da
arte no contexto capitalista a partir de György Lukács. Em sua obra
Estética I: a peculiaridade do estético, publicada em 1963, o filósofo
húngaro busca analisar a gênese do fato estético, como a arte surge
na história da humanidade. Mais que uma análise histórica, Lukács
faz uma análise da categoria primordial para essa gênese, o trabalho.
Aliado à linguagem, o trabalho é categoria fundante da consciência
humana, e junto aos outros fatores, como a mímesis, magia e religião,
torna a arte possível, elevando cada vez mais a capacidade humana
de refletir sobre si e sobre o mundo circundante. Esta apresentação
não se aterá ao processo de separação e desenvolvimento da mímesis
artística em detrimento da magia. Essa superação ocorreu num dado
momento histórico e concede lugar à ampliação da consciência do
homem e seu desenvolvimento na arte e na ciência. Contudo, se faz
necessário esclarecer o conceito mimético para melhor compreensão
do seu resgate no pensamento lukácsiano. Partindo desse ponto,
lançar-se-á um olhar sobre a arte enquanto reflexo da realidade que
se configura no aqui e agora da sociedade. Para o filósofo, a arte
possui a capacidade de refletir a realidade, o aqui e agora do
momento histórico, ou, como ele mesmo diz, utilizando a expressão
latina, o hinc et nunc. Desde a gênese e em todo o desenvolvimento
da sociedade, a arte cumpre sua função dentro do contexto social em
direção à autoconsciência humana. Tal função é demonstrada pela
possibilidade da evocação da realidade objetiva, e da “perspectiva
única de sua conformidade com as exigências humanas” (Tertulian,

1Doutoranda em filosofia (bolsista Capes) pelo Programa de Pós Graduação em


Filosofia da Unioeste – Campus Toledo/PR. E-mail: doralicefilo@gmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

2008, p. 252). Pautando nessa definição é que a seguir será tratado o


tema da arte frente à realidade social do capitalismo, na tentativa de
compreender a arte como desfetichizadora, ou seja, capaz de retirar o
ser humano da heterogeneidade para a homogeneidade. Sendo
assim, para Lukács, cabe a arte retirá-lo da condição fragmentada da
cotidianidade e colocá-lo em contato com o gênero humano.

Palavras-chave
Lukács. Sociedade. Arte. Capitalismo.

Referências
ARAUJO, Adéle Cristina Braga. Estética em Lukács: reverberações da arte no
campo da formação humana. Dissertação (Mestrado em Educação) –
Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2013. Disponível em:
http://www.uece.br/ppge/dmdocuments/ARAUJO%20-%20Adele%20
Cristina%20Braga%20-%20%20ESTETICA%20EM%20LUKACS....pdf. Acesso
em 19 out 2014.
FISCHER, Ernest. A necessidade da arte. Trad. Leandro Konder. 9. ed. Rio de
Janeiro: Zahar,1983.
FREDERICO, Celso. Cotidiano e arte em Lukács. In: Estudos avançados, 2000.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0103-40142000000300022. Acesso em: 18 jul. 2014.
LUKÁCS, György. Estética I: da peculiaridad de lo estetico. Barcelona: Grijalbo,
1966a.
LUKÁCS, György. Introdução aos Escritos Estéticos de Marx e Engels. In:
MARX, K.; ENGELS, F. Cultura, Arte e Literatura: textos escolhidos. 2. ed. São
Paulo: Expressão Popular, 2012.
MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. Sobre Literatura e arte. Trad. Albano Lima.
4. ed. Lisboa: Estampa, 1974.
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Abril Cultural,
1983.
NETO, Artur Bispo dos Santos. Estética e ética na perspectiva materialista.
São Paulo: Instituto Lukács, 2013.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
PATRIOTA, Reiner. A relação sujeito-objeto na estética de Georg Lukács:
reformulação e desfecho de um projeto interrompido. Tese (Doutorado em
Filosofia) – FAFICH, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
2010.
PINHEIRO, Antônia Cleidivania. A arte como elemento de humanização:
aproximações iniciais à luz da estética I de Georg Lukács. Monografia
(Licenciatura Plena em Pedagogia) – Universidade Estadual do Ceará,
Quixadá CE, 2012. Disponível em: http://uece.br/lapps/index.php/
downloads/doc_download/2047-a-arte-como-elemento-de-humanizacao-
aproximacoes-iniciais-a-luz-da-estetica-i-de-george-lukacs. Acesso em 09 out
2014.
TERTULIAN, Nicolas. Georg Lukács etapas de seu pensamento estético. São
Paulo: Unesp, 2008.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A ontologia e a literatura de Sartre como


proposta de novos significados de mundo

Carlos Henrique Favero 1


Orientadora: Vanessa Furtado Fontana 2

Resumo
A profusão de teorias ontológicas desenvolvidas na história da
filosofia possibilita fundamentos para o entendimento da
individualidade humana e, consequentemente, o agir coletivo.
Porém, em muitos casos, resultam como ditames para ações
pautadas em preceitos superestimados de modelos de vida
concretizados. Na inconformidade com esse contexto, um
pensamento que vise a desconstrução do determinismo humano e dê
legitimidade ao poder inalienável de escolha se faz necessário. Não
escolher não é uma opção, no entanto, é comum que pessoas neguem
a sua liberdade. A filosofia de Sartre mostra como somos liberdade
ante qualquer proposta de definição de ser humano, condição esta
que nos situa historicamente em um antagonismo. Por um lado,
podemos ser aquilo que quisermos, no entanto, inerente à nossa
existência, temos o fardo da responsabilidade; diante disso, o que nos
dá poder de criação também pode ser aquilo que impele a agir de má-
fé. O lançar-se para vida requer responsabilidade a cada ato a partir
de escolhas originais e engajadas. Assim, mesmo que livre de
precedentes, um ato jamais será isolado: sempre será para si e para o
outro. Logo, considera-se o pensamento de Sartre uma proposta de
um movimento ético de criação de valores universais. Essa ontologia
não é apenas revelada em sua obra filosófica, mas também na sua
literatura, pois, entendendo-a como apelo à liberdade, é também
uma filosofia engajada. Tal engajamento se dá a partir de escritor para

1 Mestrando de Filosofia. Unioeste – Universidade Estadual do Oeste do Paraná.


E-mail: carloshenriquefavero@gmail.com
2 Doutora em Filosofia. Professora da Unioeste. E-mail: fontanessa@yahoo.com.br

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

com o leitor, em que este possa aderir ou não aquele que se lança ao
mundo como valor e apelo universal. Essa intersubjetividade
possibilita campo fértil para a criação e, consequentemente, novos
lançares para o mundo, seja com novas literaturas, seja com outras
ações fundamentadas em projetos a partir da literatura. Dessa forma,
o trabalho proposto visa investigar e apresentar alguns pontos
cruciais da base metafísica da ontologia de Sartre a partir de seus
principais conceitos acerca da liberdade e a relação destes com o
mundo. Ademais, junto à proposta ontológica-literária de Sartre,
apresentará uma possibilidade de impulsionar o sujeito ao
engajamento para a criação de novos valores.

Palavras-chave
Ontologia. Fenomenologia. Literatura existencialista.

Referências
SARTRE, Jean-Paul. O Ser e o Nada: ensaio de uma ontologia fenomenológica.
Trad. Paulo Perdigão. 16. ed. Petrópolis: Vozes 2015.
SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Trad. João Batista
Kreuch. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
SARTRE, Jean-Paul. A Náusea. Trad. Rita Braga. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2015.
SARTRE, Jean-Paul. Que é Literatura? Trad. Carlos Felipe Moisés. 3. ed. São
Paulo: Ática, 2004.
BORNHEIM, G. Sartre. 3. ed. Rio de Janeiro: Perspectiva, 2011.
SILVA, Franklin Leopoldo e. Para a compreensão da história em Sartre. In:
Tempo da Ciência, v. 11, n. 22, 2004.
SILVA, Franklin Leopoldo e. Literatura e Experiência Histórica em Sartre: o
engajamento. In: Dois Pontos, v. 3, n. 2, 2006.
SILVA, Franklin Leopoldo e. Arte, Subjetividade e História em Sartre e Camus.
In: Revista Olhar, v. 2, n. 3, 2000.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A ontologia segundo Heidegger e Sartre

Nicole Elouise Avancini1

Resumo
Esta comunicação pretende apresentar, de modo introdutório, as
ontologias de Martin Heidegger e de Jean-Paul Sartre, conforme as
obras Ontologia: Hermenêutica da Facticidade (1982) e O Ser e o
Nada: Ensaio de ontologia fenomenológica (1943), visto serem os dois
filósofos importantes representantes contemporâneos nessa
discussão. Intentando responder à célebre questão “O que é o ser?”,
primeiro proposta por Aristóteles, o pensador alemão transforma o
mero ser em ser-aí (Dasein), e procura por seu sentido, que deve ser
interpretado, por meio de um trabalho hermenêutico, a partir de seu
“aí”, ou seja, sua facticidade. Pretendemos elucidar o que cada um
desses conceitos significa, especificamente no contexto das ideias
desse autor, bem como diferenciar metafísica e ontologia. Já o
pensador francês enxerga duas “regiões” ou expressões primordiais
do ser: o ser-Em-si (l’être-en-soi) e o ser-Para-si (l’être-pour-soi), ou
mais simplificadamente, os objetos e o ser consciente (ser humano)
— os seres que são e os seres que se tornam o que serão. Assim, a
partir do caráter introdutório da apresentação, pretende-se
promover uma comparação entre ambas as teorias, identificando
aspectos que permitem perceber semelhanças e outros aspectos que
denotam diferenças nas duas ontologias. A principal semelhança que
notamos é que o ser-aí heideggeriano pode ser comparado ao ser-
Para-si sartriano, afinal ambos definem um ser consciente e
autoconsciente; a principal diferença é que Heidegger pergunta pelo
sentido do “ser enquanto ser”, sem reduzi-lo ao ente, enquanto Sartre
perscruta o ser do fenômeno, ou seja, o ser que condiciona o revelar
das aparições à consciência. Pretendemos, também, enfatizar como
a resposta à clássica pergunta da ontologia suscita diferentes

1 Mestranda em Filosofia. UNIOESTE. E-mail: nicole_avancini@hotmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

interpretações e respostas. Esta pesquisa é resultado de leituras e


acompanhamento de aulas de uma disciplina ofertada na pós-
graduação, sobre um dos autores em questão (Heidegger), cujo
estudo da ontologia é comum ao interesse de Sartre, autor sobre o
qual realizamos especialização.

Palavras-chave
Ontologia. Heidegger. Sartre. Fenomenologia.

Referências
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2007.
ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Loyola, 2002.
CENACHI, Matheus de Oliveira. A relação entre fenômeno de ser e ser dos
fenômenos: o anti-idealismo de Sartre na introdução de O ser e o nada. In:
Primeiros Escritos, n. 9, 2018.
HEIDEGGER, Martin. Ontologia: hermenêutica da facticidade. Trad. Renato
Kirchner. Petrópolis: Vozes, 2012.
KAHLMEYER-MERTENS, Roberto Saraiva. 10 lições sobre Heidegger.
Petrópolis: Vozes, 2016.
SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Trad.
Paulo Perdigão. 16. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A passagem para o trágico: de Kant a Nietzsche

Fernando Sauer1

Resumo
Nossa investigação permeia o contexto do movimento cultural
alemão dos séculos XVIII e XIX, mais precisamente dois de seus
expoentes: Immanuel Kant e Friedrich Nietzsche. Objetivamos
compreender o desenvolvimento do assim chamado pensamento
trágico. Preliminarmente, importa marcar a posição hermenêutica
desta empresa interpretativa. Longe da pretensiosidade de saltar por
sobre a história deste conceito, pretendemos investigar seus
desdobramentos no âmbito do pensamento de formação (Bildung)
alemã, que ganharia ensejo na filosofia de Kant, e que, idealizado a
partir do renascimento da cultura grega, teria contornos decisivos
com Nietzsche. Fazer isto, implica confrontar esta questão em
intrínseca relação com o espírito deste tempo, com a visão de mundo
que é a nossa e com os contextos significativos que confluem em
nosso ponto de vista. No que concerne à nossa exposição, valemo-
nos dos esforços de Kant na Crítica da faculdade do juízo, mais
propriamente enfatizando o pensamento relativo à estética no
caminho até o conceito de sublime. Tendo-o como paradigma,
abordaremos a concepção romântica de “bela alma” grega, tal como
exposta por Winkelmann no conceito de serenidade (Heiterkeit), que
serviria de modelo interpretativo das tragédias ao romantismo
alemão. Destarte, Nietzsche contesta a posição fundamental desta
concepção, pois, para o filósofo de Röcken, o que há de essencial na
cultura grega é seu enfrentamento com o mais profundo pessimismo,
isto é, o absurdo do abismo de sentido da existência em sua finitude
temporal. A partir deste desenvolvimento, faz-se relação entre o
conceito kantiano de sublime (enquanto afeto que ultrapassa a

1Graduando em filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná.


E-mail: fernandosauer17@gmail.com

106
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

faculdade de conhecer), e a experiência do trágico, tal como descrita


por Nietzsche (como tensão primordial entre os impulsos de criação
de beleza apolínea e do êxtase de destruição dionisíaco, que se faz
apropriadamente criação justificadora da vida). Pois, não por causar
complacência pela concordância entre faculdades que reconhecem
seus máximos limites como quisera Kant, tampouco pela beleza da
aparência como queriam os românticos, mas, antes, precisamente
pela falta de um sentido determinante, é que nos é facultado criar.
Nietzsche, então, “transvalora” este pensamento como “metafísica de
artista”, e não mais considera-se estritamente o âmbito estético, mas,
sim, cosmológico. Visto que estes impulsos, pensados no sentido de
uma psicologia fundamental (ou seja, metafisicamente), configuram
uma disposição existencial essencialmente humana, a saber, o
interpretar-avaliar-ajuizar, de todo modo, compreender. Com isto,
não esperamos expressar a genuína originalidade do pensamento
trágico, nem repetir o modo como vem nos sendo apresentado, tão
pouco nos pretendemos descobridores de algo absolutamente novo,
— guardemo-nos de acelerar neste vício circular, — antes, o nosso
“fazer de novo” o “antigo” significa passar por entre a tradição,
considerando o que haveria de mais fundamental à nossa própria
formação, dotados da consideração de singular disposição do
horizonte significativo que é o nosso. Essencialmente, o que encerra
esta elucubração não é a mera constatação de um acontecimento
histórico, mas a pretensa elevação de potência de compreensão que
este pensamento nos proporciona para melhor compreendermos
como nos tornamos propriamente quem somos.

Palavras-chave
Trágico. Sublime. Filosofia alemã. Kant. Nietzsche.

Referências
KANT, Immanuel. Crítica da faculdade do juízo. Trad. Valério Rohden e
Antônio Marques. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002.

107
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
NIETZSCHE, Friedrich. O nascimento da tragédia: helenismo e pessimismo,
Trad. Paulo Cézar de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.
MACHADO, Roberto. O nascimento do trágico: de Schiller a Nietzsche. Rio de
Janeiro: Zahar, 2006.
NIETZSCHE, Friedrich. O nascimento da tragédia: a partir do espírito da
música. Trad. Jacó Guinsburg. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
NUNES, Benedito. Introdução à filosofia da arte. 3. ed. São Paulo: Ática, 1991.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A questão do constitutivo formal de Deus


segundo o neotomista Garrigou-Lagrange

Filipe Luís Brustolin 1

Resumo
Nas discussões metafísicas atinentes a Deus, um dos pontos mais
fundamentais é o que se pergunta pela possibilidade de nomeá-lo.
Para falar sobre qualquer tópico é necessário de algum modo nomear.
Não custa lembrar que, em Filosofia, a precisão dos conceitos é
indispensável. No que que se refere a Deus, porém, surge o seguinte
problema: pela própria realidade entendida por essa palavra, é
realmente possível nomeá-lo? O objetivo da presente pesquisa é
abordar essa problemática a partir do neotomista Reginald Garrigou-
Lagrange. Como nota outro pensador do mesmo período, Étienne
Gilson, em sua obra O tomismo, há distinção entre nome e definição.
Influenciado por Aristóteles, diz que definir algo é atribuir seu
gênero, depois acrescentar sua diferença específica e, por fim, pode-
se também determinar suas diferenças individuais. Ora, isso é
impossível com Deus, pois não pode ser inserido em nenhum gênero;
sua realidade ontológica transcende qualquer definição. No entanto,
não está excluída a possibilidade de nomeá-lo. A indefinibilidade de
Deus não redunda na impossibilidade de nomeá-lo na medida em
que nomeá-lo não significa conhecê-lo positivamente em essência,
nem esgotar seu conteúdo inteligível. É possível nomeá-lo
analogicamente, partindo da relação entre Causa Primeira e os entes
contingentes. Garrigou-Lagrange, seguindo esse princípio, pergunta,
na obra Deus: sua existência e sua natureza, se, dos nomes e atributos
conferidos pela razão natural a Deus, depois de conhecer sua
existência pelas cinco vias, é possível escolher um que se configura

1Graduado (licenciatura) e mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual do


Oeste do Paraná (Unioeste) – Campus de Toledo.
E-mail: filipebrustolin@hotmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

como o critério último de distinção entre Deus e o mundo e a fonte


de todos os demais atributos divinos. É a questão do constitutivo
formal da natureza divina, questão que pode ser colocada apenas da
parte da inteligência humana que filosofa acerca da natureza divina,
uma vez que Deus é, em si, simples. Trata-se de formular, dentro dos
limites da metafísica, o melhor nome para se referir à realidade que é
Deus, o que difere da definição. A metafísica precisa de um nome, a
modo de constitutivo formal lógico, para se referir a Deus, a fim de
que tudo o que se diga ulteriormente sobre ele derive desse nome.
Lagrange, voltando-se para a História da Filosofia, analisa
criticamente aquelas que são, em sua opinião, aquelas repostas além
das quais é difícil pensar em outras: o constitutivo formal de Deus é
seu bem (platônicos), sua pura intelecção (Aristóteles e alguns
tomistas), sua infinidade radical (Duns Escoto), sua absoluta
liberdade (voluntaristas modernos) ou sua aseidade, ou seja, o ser
absolutamente independente e por si subsistente (outros tomistas).
O neotomista francês advoga pela última tese, afirmando que todos
os demais atributos divinos dependem — segundo o modo humano
de entender — do ser divino, visto que nele coincidem ser e essência.
Em suma, todos os atributos divinos supõem, logicamente, o ser
divino, ato puro; por isso, o ipsum Esse subsistens (“Ser mesmo
subsistente”) é o principal nome para se referir metafisicamente a
Deus, segundo Lagrange.

Palavras-chave
Deus. Nome. Atributo divino. Constitutivo formal. Neoescolástica.

Referências
GARRIGOU-LAGRANGE, Reginald. Deus, sua existência e sua natureza:
solução tomista das antinomias agnósticas (2 tomos). Trad. Roberto Leal. São
Paulo: Molokai, 2020a.
GILSON, Étienne. El tomismo: introducción a la filosofia de Santo Tomás de
Aquino. Trad. Fernando Múgica. Pamplona: Universidad de Navarra, 1978.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
TOMÁS DE AQUINO. Suma teológica (9 vols.). Trad. G. C. Galache et al. São
Paulo: Loyola, 2001-2006.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A relação entre fé e razão em Dionísio Pseudoareopagita

Vitória Nunes Silva de Souza 1


Orientado: Carlos Renato Moiteiro2

Resumo
Para respondermos o problema central desta comunicação de como
se dá o conhecimento de Deus em Dionísio Pseudoareopagita. Para
isto analisaremos seu pensamento, por meio das obras Hierarquia
Celeste e Teologia Mística, poderemos demonstrar como Dionísio
Pseudoareopagita chega a essa impossibilidade do conhecimento de
Deus pela razão humana e como nós deveríamos nos portar perante
a essa impossibilidade para termos alternativas para chegar ao
conhecimento do divino. Começaremos então nossos esforços
analisando onde o ser humano estaria inserido dentro de uma
hierarquia, e como esse local em que a humanidade está inserida
interfere na capacidade da nossa racionalidade ao buscar Deus. Na
obra Da Hierarquia Celeste Pseudo Dionísio faz uma disposição da
proximidade dos anjos a Deus, e a nós como base dessa hierarquia.
Isso se dá de maneira gradual onde os anjos, os quais também são
hierarquizados entre eles como tronos e principados, são
incumbidos de nos passarem informações por forma de revelações
aos seres humanos os quais estão mais abaixo na ordem hierárquica
celeste, esta é organizada da seguinte forma e primeira ordem,
segunda ordem, terceira ordem e então a hierarquia humana.
Também é explanado que as ordens superiores têm as qualidades
também vistas nas ordens inferiores, mas o contrário não se dá de
maneira plena, ou seja, quem está na base da hierarquia não tem as
mesmas qualidades de quem está acima de maneira igual, e sim
inferior, mas quem está no topo tem não somente as qualidades das
ordens que se põem abaixo além disso carregam suas próprias

1Graduanda em Filosofia. Unioeste. E-mail: vitoria.nnss@gmail.com


² Doutor em filosofia. Unioeste. E-mail: carlos.moiteiro@unioeste.br

112
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

qualidades a mais que as subordinadas. E é por essa natureza vista


que poderíamos acreditar nas palavras dos sacerdotes, pois eles
teriam as condições de passarem a frente algum conhecimento do
divino, devido ao seu teor também santo em menor grau, as
informações as quais lhes foram passadas pelos anjos. Com isso
podemos observar que os sacerdotes humanos somente podem
repetir o que lhes foi passado de maneira dada pela iluminação
divina, e não falar com suas próprias razões coisas sobre o divino, pois
não lhes é hierarquicamente cabível este movimento. No entanto
ainda nos falta um esforço de esclarecimento dessa tentativa de
racionalizar Deus, e qual seria a alternativa a esse movimento
(mística), e o que na natureza divina nos impede de chegarmos nele
por puro esforço da razão. E isto ficará mais nítido no pensamento de
Dionisio Pseudoareopagita com a sua obra A Teologia Mística onde
Dionisio coloca que devemos superar essa nossa natureza de tentar
chegar racionalmente ao conhecimento das coisas divinas para assim
conseguirmos passar esse véu que encobre o divino. Com isso
podemos concluir que para Dionisio Pseudoareopagita a razão não
seria capaz de chegar ao conhecimento do divino e somente por meio
de uma superação da nossa natureza/condição humana poderíamos
passar, ainda que não completamente, essa barreira entre nós e o
divino.

Palavras-chave
Fé. Razão. Conhecimento.

Referências
DIONÍSIO (Pseudoareopagita). A Hierarquia Celeste. Campinas: Eclessiae,
2015.
DIONÍSIO (Pseudoareopagita). A Teologia Mística. São Paulo: Polar, 2022.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A relação escritor-leitor no romance


metafísico de Simone de Beauvoir

Débora Fátima Gregorini1

Resumo
A concepção de Beauvoir sobre a escrita e a leitura é marcada pela
ambiguidade singular/universal. Simone busca romper fronteiras
que existam entre a filosofia e a literatura, bem como, com o
preconceito de que a primeira forma de escrita seria superior à
segunda. Em sua perspectiva há o reconhecimento da linguagem
ficcional como aproximação à realidade correspondendo à uma
forma distinta de transmitir conhecimento ao leitor. À vista disso e,
compreendendo que apenas uma visão universal da humanidade,
proposta pela filosofia, não daria conta de abarcar toda a
complexidade da existência humana, Simone se engaja também na
criação de romances metafísicos, espécie de literatura capaz de
suscitar no leitor a reflexão sobre si mesmo, em pé de igualdade com
o acesso à memória. Em sua perspectiva, um romance bem escrito é
passível de proporcionar reações semelhantes àquelas despertadas
pela própria experiência. Nesse sentido, ao ler uma obra de ficção
honestamente escrita, a consciência do leitor é capaz de se engajar,
tomar partido acerca das vicissitudes das personagens e ser colocado
a refletir sobre sua própria condição humana. A relação escritor-
leitor se dá na medida em que o texto escrito pode se tornar uma
ponte entre a existência de quem escreve e a de quem lê. Na tessitura
de um romance metafísico o escritor empresta sua consciência às
personagens, levando para a ficção dilemas reais, perguntas que faz
a si mesmo e para as quais nem sempre têm respostas, encarnando
nas personagens os dilemas na medida em que são visados por sua
consciência. Ao ler a obra se tem a chance de tomar a trama como
ponto de partida para sua própria transcendência por meio da

1 Mestranda em Filosofia. UNIOESTE. E-mail: deboragregorini@hotmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

autorreflexão proporcionada ao questionar a trajetória e as escolhas


da personagem. A leitura de uma obra de ficção é, para Beauvoir, um
exercício de empatia e de retorno a si mesmo.

Palavras-chave
Alteridade. Autorreflexão. Ambiguidade.

Referências
BEAUVOIR, Simone de. Literatura e metafísica. In: BEAUVOIR, Simone de. O
existencialismo e sabedoria das nações. Trad. Manuel Lima e Bruno da Ponte.
Lisboa: Minotauro, 1965.
BEAUVOIR, Simone de. Moral da ambiguidade. Trad. Anamaria de
Vasconcellos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970.
BEAUVOIR, Simone de. Pirro e Cinéias. In: BEAUVOIR, Simone de. Por uma
moral da ambiguidade. Trad. Marcelo Jacques de Moraes. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2005.
BEAUVOIR, Simone de. Memórias de uma moça bem-comportada. Trad.
Sérgio Milliet. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009a.
BEAUVOIR, Simone de. A força da idade. Trad. Sérgio Milliet. 2. ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2009b.
BEAUVOIR, Simone de. A mulher desiludida. Trad. Helena Silveira e Maryan
A. Bon Barbosa. 8. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2021.
GRAU, Olga. (Coord.). Simone de Beauvoir en sus desvelos: Lecturas
feministas. Santiago: LOM, 2016.
KIRKPATRICK, Kate. Simone de Beauvoir: uma vida. Trad. Sandra Martha
Dolinsky. São Paulo: Planeta do Brasil, 2020.
PELLEJERO, Eduardo Aníbal. No seio do mundo: a literatura como lugar da
consciência reflexiva. In: MOARA – Revista Eletrônica do Programa de Pós-
Graduação em Letras, n. 53, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufpa.br/
index.php/moara/article/view/8237. Acesso em: 27 jul. 2023.
SOUSA, Karla Cristhina Soares. O romance metafísico: a escrita literária em
Simone de Beauvoir. In: Anãnsi: Revista de Filosofia, v. 2, n. 1, 2021. Disponível
em: https://revistas.uneb.br/index.php/anansi/article/view/10806. Acesso
em: 28 jul. 2023.
TEIXEIRA, Pedro Rhavel. Literatura e metafísica na filosofia de Simone de
Beauvoir. In: Sapere Aude, v. 8, n. 16, 2017.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A relação ser humano-natureza nos


pensamentos de Ailton Krenak e Hans Jonas

Alan Schneider1
Orientador: Ubiratane de Morais Rodrigues 2

Resumo
Apresentar uma pesquisa cujo objetivo é investigar a relação ser
humano-natureza a partir do pensamento de Hans Jonas e Ailton
Krenak. Utilizando uma revisão bibliográfica como metodologia para
abordagem, análise e problematização dos conceitos desenvolvidos
pelos dois pensadores em questão. Assim, serão utilizadas como
referências centrais da pesquisa a produção escrita e oral de Ailton
Krenak e a obra O princípio responsabilidade de Hans Jonas. Serão
investigados e apresentados elementos de convergência e divergência
entre os autores, no campo da ética, a fim de problematizar as
complexas relações entre os seres humanos e a natureza. A hipótese
interpretativa dessa pesquisa é que o conceito de responsabilidade de
Jonas e o pensamento filosófico de Krenak convergem em uma
proposta crítica a ser considerada na produção de uma perspectiva
ética ambiental à altura dos problemas contemporâneos que cabem
ao século XXI enfrentar. A pesquisa dará atenção especial às
elaborações que Krenak tem apresentado, em diferentes instâncias,
sobre a humanidade e a relação com a natureza, isto porque, na
concepção indígena sobre o cosmos está implicada uma humanidade
responsável pela Terra, de uma maneira ancestral ou parental.
Explorando vários termos conceituais do campo da ética analisados
pelos autores como: responsabilidade, humanidade, civilização,
Antropoceno, natureza, ancestralidade, paternidade. Com intuito de
construir uma possível proposta crítica de uma ética ambiental. Ou

1Mestrando em Filosofia pela UNIOESTE / Toledo. E-mail: alanschn@gmail.com


2Orientador e professor permanente do PPG de Filosofia da UNIOESTE/ Toledo.
Doutor em Filosofia pela (USP). E-mail: ubiratanerodrigues@gmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

seja, objetivando investigar a relação ser humano-natureza no


pensamento de Hans Jonas e Ailton Krenak a partir das concepções
éticas na busca de convergências e divergências nos dois filósofos
para uma proposta crítica de uma ética ambiental. Pensando ainda
sobre o conceito de responsabilidade em Hans Jonas em paralelo á
uma investigação da relação humano-natureza em Ailton Krenak
apontando ideias entre os autores a partir da relação ética humano-
natureza. Logo, denotar uma ética ambiental crítica a partir do
pensamento de Krenak e em paralelo as concepções centrais de Jonas
na compreensão de uma humanidade autêntica com vistas para a
construção de uma ética ambiental, buscando a compreensão de
humanidade em ambos os autores que irão pressupor uma ética
ambiental no Antropoceno.

Palavras-chave
Ailton Krenak. Hans Jonas. Natureza. Responsabilidade.
Ancestralidade.

Referências
JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a
civilização tecnológica. Trad. Marijane Lisboa e Luiz Barros Montez. Rio de
Janeiro. Contraponto: PUC-RIO, 2006.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. 2. ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 2020a.
KRENAK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020b.
KRENAK, Ailton. De mal a pior. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz. Tolerância
Intolerante. Salvador: EDUFBA, 2021.
KRENAK, Ailton. Futuro Ancestral. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
KRENAK, Ailton. SILVESTRE, Helena. SANTOS, Boaventura de Sousa. O
sistema e o antisistema: três ensaios, três mundos no mesmo mundo. Belo
Horizonte: Autêntica, 2021.
RODRIGUES, Ubiratane de Morais. A ética ancestral na filosofia de Ailton
Krenak. In: Modernos e Contemporâneos. v. 7, n. 16, 2023.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A teoria do mínimo existencial x a reserva do possível


e sua relação com os princípios da justiça de John Rawls

Rafaela Djoana Cavalli 1


Marcelo Antônio Cavalli 2
Orientadora: Nelsi Kistemacher Welter3

Resumo
O presente trabalho tem por objetivo um estudo interdisciplinar
entre a filosofia e o direito, analisando sob a perspectiva da sociedade
brasileira, a efetividade dos direitos fundamentais e sociais à luz das
teorias do mínimo existencial e da reserva do possível fazendo uma
relação com os princípios da justiça desenvolvidos por John Rawls. A
Constituição Federal do Brasil garante a todo indivíduo um rol de
direitos básicos elencados, todavia, a eficácia desses direitos por
vezes não chega a ser efetivamente implementada, não restando
alternativa ao cidadão senão acionar o Poder Judiciário para fazer
valer tais direitos mínimos — denominados pela doutrina jurídica de
mínimo existencial. Ocorre que a implementação desses direitos fica,
em princípio, a cargo do Estado que, por sua vez, nem sempre
consegue arcar com esses direitos por insuficiência de recursos,
cunhando-se, assim, na doutrina jurídica a tese da reserva do
possível. A teoria do mínimo existencial tem como escopo dois
grandes grupos de direitos, que demandam do Estado duas posturas
distintas. O primeiro grupo de direitos é compreendido como uma
garantia de liberdades básicas a todos os indivíduos,
indistintamente. Nessa dimensão, o Estado adota uma postura
passiva, não demandando grandes esforços pelo Poder Público. O
segundo grupo, contudo, é formado por direitos sociais que são

1 Mestre em Direito Processual Civil e Cidadania pela UNIPAR. Aluna especial do


Doutorado em filosofia pela Unioeste. E-mail: rafaelacavalli.adv@gmail.com
2 Mestre em Direito Processual Civil e Cidadania pela UNIPAR. Aluno especial do

Doutorado em filosofia pela Unioeste. E-mail: marcelo.a.cavalli.adv@gmail.com


3 Doutora em Filosofia. Professora do PPGFil da Unioeste.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

voltados para a população mais necessitada. Nesse caso, não basta


que o Estado inclua estes direitos no ordenamento jurídico, é
necessária uma postura ativa do Estado para sua efetivação, potente
o suficiente para combater as desigualdades sociais e econômicas,
implementando políticas públicas e ações afirmativas, por exemplo.
Na concepção filosófica de Rawls, os dois princípios da justiça irão
estabelecer diretrizes mínimas para a solução desta celeuma. O
primeiro princípio, revela que cada indivíduo tem um direito
irrevogável a um “esquema plenamente adequado de liberdades
básicas” e que este seja garantido para todos. Pelo segundo princípio,
as desigualdades sociais só serão justas quando beneficiarem os
menos favorecidos, e devem estar vinculadas a posições e cargos
acessíveis a todos. Dessa forma, o objetivo central consiste em
verificar o papel do Estado em garantir as liberdades básicas e os
direitos sociais e aliar com o estudo da tese da reserva do possível, já
que não se pode ignorar o fato de que o orçamento público é limitado
e que as mazelas sociais são muito maiores, bem como identificar
como os princípios trazidos por Rawls podem equilibrar as
apreensões com a liberdade individual e a igualdade social,
estabelecendo um sistema para a distribuição mais equitativa de
recursos e vantagens na sociedade.

Palavras-chave
Mínimo Existencial. Reserva do possível. Princípios da Justiça.
Efetivação dos direitos.

Referências
AMARAL, Antonio José Mattos do Amaral; CAPELARI, Rogerio Sato. A ordem
econômica constitucional como proporcionadora da máxima eficácia dos
direitos sociais: o desenvolvimento da cidadania possibilitado pelos deveres
fundamentais. In: Revista de Direito Sociais e Políticas Públicas, v. 2, n. 2,
2016.
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
BRASIL. Constituição federal de 1988. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

119
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
CAMBI, Eduardo. Neoconstitucionalismo e neoprocessualismo: direitos
fundamentais, políticas públicas e protagonismo judiciário. 2. ed. São Paulo:
Almedina, 2018.
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de direito constitucional. 10 ed.
Salvador: JusPodivm, 2018.
LIMA, Jairo Néia. Direito Fundamental à inclusão social. Curitiba: Juruá, 2012.
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 20 ed. São Paulo: Atlas, 2006.
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional.
18. ed. São Paulo: Saraiva educação, 2018.
RAWLS, John. Justiça como eqüidade: uma reformulação. Trad. Claudia
Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
SILVA José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 35. ed. São
Paulo: Malheiros, 2012.

120
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A transformação de si enquanto um ato político

Pedro Henrique Silveira Rauchbach 1


Orientadora: Marta Nunes da Costa

Resumo
Nossa pesquisa parte da concepção de filosofia enquanto forma de
vida do filósofo e historiador da filosofia, Pierre Hadot. Segundo
Hadot, a filosofia em seus primórdios gregos era sobretudo um
trabalho de transformação individual em todos os âmbitos da
existência. Para exemplificar sua concepção Hadot nos cita o
estoicismo. Para os estóicos a filosofia era dividida em lógica, física e
ética. No entanto, havia para esses filósofos a diferença entre discurso
filosófico e prática filosófica. Não se debatia somente o que vinha a
ser a lógica, mas se pensava e se falava de forma lógica, assim como a
física servia para eles como forma de compreensão de seu lugar no
cosmos, e a ética não era apenas um debate da melhor forma de agir,
mas consistia na própria ação. O que Hadot salienta é que havia uma
modificação completa de todos os âmbitos da existência, sendo a
filosofia uma terapia da alma, um caminho para o aperfeiçoamento
do ser. Esse aperfeiçoamento visava sobretudo a ataraxia, ou seja, a
completa tranquilidade da alma. O ponto dessa reflexão se situa na
transformação de si, algo semelhante ao que Foucault denominho de
cuidade de si. Obviamente isso leva a uma relação ética com os
demais, pois para o grego qualquer transformação coletiva só poderia
ser pensada a partir de uma transformação individual, jamais ao
contrário. Hadot afirma que a filosofia contemporânea institucional
perdeu a capacidade de ser um processo de transformação pessoal,
tornando-se um processo muito mais intelectual do que
performativo. Traçamos aqui uma relação entre Hadot e a filosofia do
pensador contemporâneo Félix Guattarri. Guattarri possuía uma

1Doutorando pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná.


E-mail: pedrosrauch@gmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

reflexão profunda a respeito da modificação do sujeito através da


filosofia. Podemos dizer que esse autor dedicou boa parte de sua
pesquisa à transformação da subjetividade e mentalidade que o
capitalismo produz nos indivíduos. Era uma tentativa de
descolonizar o desejo e o pensamento de suas conduções através do
poder dominante. Acreditamos que essa relação filosófica é
fundamental porque pensar uma filosofia enquanto transformação
de si, esbarra atualmente na questão sistemática. Também Guatarri
foi um crítico ferrenho das macropolíticas de esquerda, muitas vezes
incapazes de transformação de si mesmas, no entanto desejantes de
modificar o mundo, tornando-se iguais ou ainda piores que os
carrascos burgueses que criticavam. Diante dessas questões, nos
perguntamos: o que impede os indivíduos hoje, talvez mais do que
nunca de exercer o cuidado de si? Não estaríamos nós, pequenos
homens contemporâneos, enredados na falta de sabedoria em todos
os âmbitos de nossas vidas? Diante de um mundo tecnológico que
parece cada vez mais nos fazer flutuar na rede da ansiedade e da
depressão, do consumo e do medo de não possuir, talvez não seja
mais do que hora de pensarmos uma modificação da subjetividade
como ela se apresenta? O que teriam os antigos, suas filosofias e seus
exercícios filosóficos/espirituais a nos ensinar a respeito do tempo
em que vivemos? São essas apenas algumas questões que se
apresentam em nosso percurso filosófico.

Palavras-chave
Modo de vida. Subjetividade. Revolução.

Referências
FOUCAULT, Michel. O anti-Édipo: uma introdução à vida não fascista. In:
ESCOBAR, Carlos Henrique. Dossier Deleuze. Rio de Janeiro: Hólon, 1991.
FOUCAULT, Michel. As três ecologias. 21. ed. Campinas: Papirus, 2012.
GUATTARI, F. Revolução Molecular: pulsações políticas do desejo. São Paulo:
Brasiliense, 1985.

122
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
GUATTARI, Félix; ROLNIK, Suely. Micropolíticas: cartografias do desejo. Trad.
Suely Rolnik. Petrópolis: Vozes, 2005.
HADOT, P. Não se Esqueça de Viver. Trad. Lara Christina de Malimpensa. São
Paulo: ÉRealizações, 2019a.
HADOT, P. Exercícios Espirituais e Filosofia Antiga. Trad. Flávio Fontenelle
Loque e Loraine Oliveira. São Paulo: ÉRealizações, 2014a.
HADOT, P. O Que é Filosofia Antiga. Trad. Dion Davi Marcelo. 6. ed. São
Paulo: Loyola, 2014b.

123
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A “viscosidade” da finitude, um enigma


à luz de Sartre em O Ser e o Nada

Thiago Sitoni Gonçalves 1

Resumo
Na conferência de 1945, O Existencialismo é um Humanismo, Sartre
põe na cena do debate filosófico, duas figuras críticas emblemáticas
a ele dirigidas: de uma parte, a censura de certa intelligentsia
marxista que considerara o “existencialismo” uma expressão
puramente burguesa; de outra, certa posição cristã, extremamente
conservadora, que via em tal movimento a mais infame caricatura
satânica ou demoníaca que faria a apologia intransigente de um
mundo sem Deus, sem moral e sem princípios. Ora, isso,
inevitavelmente, uma vez combinado, se tornou um “prato cheio”
servido, a bel prazer, pela mídia sensacionalista de plantão que
exacerbara ainda mais as teses de O Ser e o Nada (que, diga-se de
passagem, sequer se leu) a ponto de vir adulterar completamente o
seu sentido e alcance. Isso acabou, pois, por insuflar as críticas
midiáticas a uma espécie de “existencialismo” viscoso, responsável
por cultuar um espírito caótico e pessimista no período entreguerras.
Essa viscosidade é colocada como reação dos leitores da época ao se
confrontarem com a liberdade, a angústia, o desamparo e, sobretudo,
com a nudez da condição de livre mortal. A proposta deste trabalho
é recolocar a viscosidade fora de um adjetivo negativo no sentido de
avistar o esforço argumentativo do autor em sua recusa ao
escoamento no idealismo, no realismo e, sobretudo, na psicanálise
empírica. Neste horizonte, em especial, a finitude é o tema aqui em
vista de nossa exposição a partir de um recorte em O Ser e o Nada

1Psicólogo (CRP: 08/32686), Mestre e Doutorando em Filosofia pela Universidade


Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Bolsista CAPES 2023-2027. Agradeço ao
CAPES e à UNIOESTE pela possibilidade de realizar a pesquisa com uma bolsa de
doutoramento (Processo 88887.843960/2023-00).
E-mail: thiago.goncalves8@unioeste.br

124
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

(2015), projetando a possibilidade de uma descrição


fenomenológico-existencial, aliada, é claro, via uma interlocução
fecunda com autores corolários da referida tradição filosófica:
Heidegger (2015) (ser-para-a-morte) e Marcel (1981; 2005) (ser
amado). Assim, portanto, objetiva-se confrontar essas tensões na
disposição do texto sartriano com o intuito de abrir caminhos de um
diálogo mais produtivo e propositivo. Mostraremos, enfim, que
Sartre situa a finitude à luz da condição humana, inteiramente
desamparada, mas, ao mesmo tempo, responsável do ponto de vista
humanitário.

Palavras-chave
Sartre. Morte. Finitude. Heidegger. Marcel.

Referências
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Trad. Márcia Sá Cavalcante. 10 ed.
Petrópolis: Vozes, 2015.
LEVINAS, Emmanuel. Deus, a morte e o tempo. Trad. Fernanda Bernardo.
Lisboa: Edições 70, 2021.
MARCEL, Gabriel. Tu ne mourras pas. Orbey: Arfyen, 2005.
MARCEL, Gabriel. L’existence et la liberté humaine chez Jean-Paul Sartre.
Paris: Vrin, 1981.
MERLEAU-PONTY, Maurice. La querelle de l’existentialisme. In: MERLEAU-
PONTY, Maurice. Sens et non-sense. Paris: Gallimard, 1996.
SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Trad.
Paulo Perdigão. 24. ed. Petrópolis: Vozes, 2015.
SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Trad. João Batista
Kreuch. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
SARTRE, Jean-Paul. Carta de Jean-Paul Sartre a Gabriel Marcel. Trad. Luiza
Helena Hilgert. In: Trilhas filosóficas: Dossiê em Comemoração aos 130 anos
do nascimento de Gabriel Marcel, v. 12, n. 3, 2019.
SILVA, Claudinei A. Freitas. A controvérsia existencialista: Sartre e Gabriel
Marcel. In: Revista Dialectus, [Dossiê Existencialismo: fontes, diálogos e
repercussões], v. 27, 2022. Acesso: http://www.periodicos.ufc.br/dialectus/
article/view/83204.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

AGUEM — imanência, corpo e dança

Robson Farias Gomes 1


Orientador: Marcus Santos Mota 2

Resumo
Esta pesquisa consiste em um estudo cênico-teórico de interface
entre dança e filosofia, em especial entre o pensamento-fazer da
Dança Imanente e a Teoria da Imanência deleuzo-guattariana. A
partir da poética “AGUEM” (2023), primeira da série ABSTRATA,
constituinte da pesquisa de Doutorado em Metafísica denominada
“SOU — a des-re-subjetivação em dança”, este estudo objetiva, de
modo geral, investigar e criar um processo de aguamento subjetivo
para além de um sujeito-pessoa-humano que se manifesta
poeticamente na realidade. O pensamento-fazer em Dança
Imanente, criado pela pensadora do corpo e da dança Ana Flávia
Mendes, perpassa os campos metodológico, epistêmico e ontológico
no que diz respeito ao fazer-conhecer-ser em dança a partir de um
corpo-performer autônomo, pessoal e idiossincrático. No entanto,
com este texto, pretende-se abordar enfaticamente esta última
dimensão, investigando os aspectos dissolutivos biopsicossociais
daquele ou daquilo que performa em desarranjos ontológicos. Para
tanto, procedeu-se metodologicamente de modo teórico-analítico
considerando tanto os textos artísticos mendianos quanto sua
recepção filosófica, em especial no diálogo com os filósofos franceses

1 Doutorando em Metafísica pelo Programa de Pós-Graduação em Metafísica da


Universidade de Brasília (PPGµ/UnB). Mestre em Artes pelo Programa de Pós-
Graduação em Artes da Universidade Federal do Pará (PPGArtes/UFPA).
Licenciado e Bacharel em Filosofia pela Universidade Federal do Pará
(FAFIL/UFPA). Técnico em Dança com Habilitação em Intérprete-Criador pela
Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará (ETDUFPA).
E-mail: robsongomes_15@hotmail.com
2 Professor Titular do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (IDA/UnB).

Professor-orientador-pesquisador dos Programas de Pós-Graduação em Artes


Cênicas (PPGAC/UnB) e Metafísica (PPGµ/UnB). Doutor em História pela
Universidade de Brasília. Mestre em Literatura pela Universidade de Brasília.

126
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Gilles Deleuze e Félix Guattari, respectivamente, em Dança


Imanente (2010) e O que é a Filosofia? (2010), bem como em
comentadores da interface entre as artes performativas na
contemporaneidade e as filosofias da diferença como Rocha (2013),
Fischer-Lichte (2008), Lage (2018), Silva (2005), Orlandi (2004), Gil
(2020), dentre outros; além da dimensão poético-artística a partir do
ato de dissecação artística de si, o qual indica uma crítica à
representação e à designação ideal em dança, na qual se busca
corpóreo-sensorialmente aproximar o performer de sua criação em
um procedimento que tem o corpo como elemento norteador da
poética imanente em dança, refletindo as descobertas e os
desconhecimentos do intérprete-criador acerca de si mesmo-outrem
em auto-des-re-conhecimento, feitura e sensiência de si. O corpo em
dança imanente desdobra questões ontológicas ímpares, as quais
necessariamente vinculam o fazer-ser artístico às des-re-invenções
de si enquanto própria obra artística em movimento poético.

Palavras-chave
Imanência. Dança Imanente. AGUEM.

Referências
BRUM, Leonel. Videodança: Uma Arte do Devir. In: VIEIRA, João Luiz;
SZPERLING, Silvina; et al. Ensaios Contemporâneos de Videodança. Dança em
Foco, 2012.
FISCHER-LICHTE, Erica. The Transformative Power of Performance: A New
Aesthetics. Trad. Saskya Iris Jain. London / New York: Routledge, 2008.
GOMES, Robson. A ontologia imanente da obra corpográfica. In: Anais do
Simpósio Reflexões Cênicas Contemporâneas, v. 1, 2019.
MENDES, Ana Flávia. Dança Imanente: uma dissecação artística do corpo no
processo de criação do espetáculo Avesso. São Paulo: Escrituras, 2010.
ORLANDI, L. B. L. Corporeidades em minidesfile. In: Revista Eletrônica
Alegrar, n. 1, 2004.
ROCHA, Tereza. Dança e liquidade: um estudo sobre tempo e imanência na
dança contemporânea, In: Dança, v. 2, n. 1, 2013.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
SALLES, Cecília. Gestos Inacabados. Processo de Criação Artística. São Paulo:
Fapesp / Annablume, 2008.
SILVA, Cintia. Corpo e individuação: percursos espinosistas pela dança. In:
Doispontos, v. 15, n. 2, 2018.

128
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Arte em tempos de niilismo: uma meditação heideggeriana


acerca do lugar da arte na contemporaneidade

Francisco Wiederwild 1
Orientador: Roberto Kahlmeyer-Mertens 2

Resumo
Dentre os filósofos mais significativos da tradição, Martin Heidegger
destaca-se como um dos poucos pensadores a conceder à questão da
arte atenção privilegiada e lugar essencial no cerne de sua obra.
Desde as conferências que compõem A Origem da obra de Arte (1936)
até A Conferência de Atenas (1967), Heidegger dedicou mais de
quarenta anos à reiterada tentativa de determinar a essência da arte,
de estabelecer a relação entre a produção artística de ser (poiésis) e a
fundação do mundo onde o ser do homem se revela. Heidegger
sustenta que o fenômeno artístico, em seu sentido originário,
caracteriza-se pelo desencobrimento da verdade do ser que, embora
ocorra com a produção criativa própria do homem, não dispõe da
atividade humana como seu fator decisivo, mas, sim, a própria
verdade do ser. A obra artística funda o mundo no qual o homem
encontra-se inserido e, assim, desencobre seu ser. O ser do homem
contemporâneo, contudo, encontra-se circunscrito a um mundo em
que pesa a ausência (ou a morte) dos deuses, o vazio de ser, o
niilismo. A arte contemporânea funda, então, um mundo marcado
pela ausência dos deuses, revelando o vazio de ser e a indigência da
existência humana. Diante deste tema, nossa meditação atenderá à
seguinte provocação: o que caracteriza essencialmente o niilismo e
qual a tarefa legada historicamente pelo artista contemporâneo
diante desse fenômeno, de acordo com Heidegger? Atendendo a essa
provocação, tematizaremos a confrontação de Heidegger com

1 Graduado em Licenciatura em Filosofia (PUCPR). Mestrando em Filosofia


(UNIOESTE), na condição de Bolsita CAPES. E-mail: wiederwild@hotmail.com
2 Doutor em filosofia. Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

E-mail: kahlmeyermertens@gmail.com.

129
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Nietzsche, “o primeiro niilista autêntico”, conforme desdobrada pelo


primeiro em Nietzsche I (1936-1939) e em A Palavra de Nietzsche
“Deus morreu” (1943). A confrontação com o pensamento
nietzschiano nos mostrará que ela “se torna uma confrontação com
o pensamento ocidental até aqui” (Heidegger, 2007, p. 7). Ao
perpetrar sua crítica radical à metafísica, Nietzsche enuncia a morte
de Deus e, por conseguinte, revela o vazio de ser. Para determinarmos
a essência da arte e sua relação com o desencobrimento da imagem
do sagrado na beleza, antes de os deuses se ausentarem,
abordaremos a análise elaborada por Heidegger da obra Madonna
Sistina (1512), de Rafael Sanzio, que compõe a janela da Igreja São
Sisto, de Piacenza, cujo enquadramento traça os limites da abertura
pela qual entra e se aproxima o olhar da Maria na companhia do
menino Cristo, tornando presente a figura do divino. Com o
propósito de determinarmos o lugar da arte e a tarefa legada
historicamente pelo artista na contemporaneidade, abordaremos,
por fim, a obra abstrata Um Portal (Ein Tor, 1939), de Paul Klee,
marcada pela ausência dos deuses, interpretada por Heidegger como
o portal da morte, que oferece a antevisão de uma travessia
inominável. Se Madonna Sistina abriga a figura do divino que fulgura
no esplendor da beleza a imagem do sagrado, Um Portal, em outro
extremo, revela o vazio de ser e o peso da ausência dos deuses.

Palavras-chave
Heidegger. Arte. Metafísica. Niilismo.

Referências
BORGES-DUARTE, Irene. Arte e Técnica em Heidegger. Rio de Janeiro: Via
Verita, 2019.
HEIDEGGER, Martin. A Questão da Técnica. [Ensaio e Conferências]. Trad.
Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Vozes, 2012.
HEIDEGGER, Martin. Nietzsche I. Trad. Marco Antônio Casanova. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2010.

130
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
HEIDEGGER, Martin. A Palavra de Nietzsche “Deus Morreu”. [Caminhos de
Floresta]. Trad. Alexandre Franco de Sá. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 2012.
HEIDEGGER, Martin. Sobre a Questão do Ser. [Marcas do Caminho]. Trad.
Ernildo Stein. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2008.
HEIDEGGER, Martin. A Superação da Metafísica. [Ensaio e Conferências].
Trad. Marcia de Sá Cavalcante Schuback. Rio de Janeiro: Vozes, 2012.
VOLPI, Franco. O Niilismo. Trad. Aldo Vannucchi. São Paulo: Loyola, 1999.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

As articulações fenomenológicas da Daseinsanalyse Clínica

Rafael Monho Ribeiro 1


Orientadora: Ida Elizabeth Cardinalli2

Resumo
A Daseinsanalyse Clínica, jovem abordagem psicológica
desenvolvida por Medard Boss sob orientação de Martin Heidegger,
a despeito de seu significativo desenvolvimento ocorrido nas últimas
décadas, ainda se encontra pouco difundida. Visando sua difusão e
desenvolvimento se faz necessária uma apresentação que explicite
sua natureza e relação com pensamento fenomenológico ao mesmo
tempo que a distinga em suas especificidades dentro de seu campo
ôntico. Com isso em vista, esta comunicação visa realizar uma
apresentação desta abordagem por meio do resgate da problemática
filosófica de origem e de suas repercussões relativas ao horizonte do
trabalho clínico. Assim, ela se encontra estruturado em três partes:
primeira, apresentação do termo “fenomenologia” ao longo da
história da filosofia; segunda, apresentação da recepção da
problemática fenomenológica dentro do pensamento heideggeriano,
terceira, apresentação das articulações fenomenológicas que
constituem a Daseinsanalyse Clínica. O desenvolvimento deste
trabalho permite a consideração de que a Daseinsanalyse Clínica se
constitui como uma ciência ôntica ramificada na ontologia
fundamental heideggeriana que, a despeito de se originar no
contexto dos debates filosóficos, se afasta deles considerando o
trabalho clínico psicológico com vistas ao reestabelecimento da
saúde dos pacientes por meio do desvelar dos fenômenos relativos ao
ser-no-mundo de cada paciente.

1 Mestre e Doutorando em Psicologia Clínica (PUC-SP), Bacharel e Licenciado em


Filosofia (PUC-SP), Psicólogo (UAM).
2 Doutora em Psicologia Clínica (PUC-SP), docente dos cursos de graduação e pós-

graduação em Psicologia e Psicologia Clínica (PUC-SP).

132
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Palavras-chave
Daseinsanalyse. Daseinsanalyse Clínica. Medard Boss.
Fenomenologia.

Referências
BOSS, M. Existencial Foundations of Medicine and Psychology. New York:
Jason Aronson, 1979.
BOSS, M. Psychoanalysis & Daseinsanalysis. New York: Basic Books, 1963.
CARDINALLI, I. Daseinsanalyse e Esquizofrenia. São Paulo: Escuta, 2012.
HEIDEGGER, M. Ensaios e Conferências. Petrópolis: Vozes, 2002.
HEIDEGGER, M. Seminários de Zollikon. Petrópolis: Vozes, 2009.
HEIDEGGER, M. Ser e tempo. Petrópolis: Vozes, 2012.

133
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

As três linguagens do tempo: a epistemologia críptica das


Weltalter como uma ontologia da díade e suas
consequências para uma teoria do ficcional

Gabriel Loureiro Pereira da Mota Ramos 1

Resumo
As Weltalter (1811) consubstanciam um projeto metafísico cujo início,
marcado pelo Freiheitschrift, demarca o desdobramento da
metafísica tardia de Schelling, preocupada em pensar o Ser como
radical liberdade, conforme já está solidamente estabelecido nos
Schellingstudien, como dão a ver os trabalhos de Pareyson (2019),
Tilliete (1992), Holz (1970), Schuback (1998), Gabriel (2006), para
citar apenas alguns. O prefácio do primeiro e único livro publicado,
intitulado Die Vergangenheit (1811), apresenta, em seis concisas
frases, uma epistemologia críptica que constitui objeto de amplas
discussões nos Schellingstudien. Nosso trabalho pretende revisitar
este específico trecho das Weltalter, de modo a compreender o
estatuto atribuído a cada uma das linguagens das três dimensões do
Tempo. Nossa hipótese consiste em reler tal trecho à luz da dialética
das potências, desenvolvida no edifício tardio da Filosofia da
Mitologia (1842) e da Filsofia da Revelação (1843), a fim de tornar
produtivas as distinções epistêmicas para as linguagens do Passado,
do Presente e do Futuro. Para isso, ancoramos cada uma das formas
epistêmicas do Tempo – a tomada de consciência [Bewusstwerden], a
representação [Dargestelltwerden] e a profecia [Ahnung] – em uma
razão metafísica fornecida pela dialética das potências: a ontologia
da díade que instaura a relação entre os termos como fato primevo
do Ser, expressa na fórmula duplicidade da unidade [Zweiheit der
Einheit]. Radicada no projeto tardio de uma metafísica da liberdade,
anunciada pelo Freiheitschrift (1809), o primeiro livro das Weltalter

1Formado em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco e mestrando em


Filosofia. UFRGS. E-mail: loureiropmramos@gmail.com

134
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

articula-se organicamente aos grandes desenvolvimentos da


maturidade filosófica de Schelling, tal como constatamos nas
Principia Philosophiae Universa (1820). Neste sentido, o prefácio das
Weltalter, aparentemente secundário e sem importância, revela-se
uma consequência epistemológica rigorosa, enraizada no conceito
mesmo de metafísica com que o Schelling tardio trabalha. Se é assim,
torna-se hermeneuticamente plausível fazer corresponder, às três
linguagens do Tempo, os três momentos que marcam a dialética das
potências em dois grandes textos, a Philosophische Einleitung zur
Philosophie der Mytologie (1842) e a Philosophie der Offenbarung
(1843). Nosso trabalho revela que, assim correlacionadas, as três
potências e as três linguagens delineiam um triângulo
epistemológico que conjuga dialeticamente Passado, Presente e
Futuro de modo a revelar, na linguagem humana, o fato do
enriquecimento ontológico, que pensamos pela fórmula da produção
da diferença desde a semelhança (cf. Costa Lima, 2006, 2014). Por
fim, e como passo final de nosso trabalho, sugerimos que a
epistemologia críptica das Weltalter, desdobrada à luz da dialética
das potências, revela uma ontologia da diáde em que o Ser tem como
principal predicado a tendência ao enriquecimento, isto é, à
produção da multiplicidade diádica, potencializada na experiência
ficcional, tal como definida pela antropologia literária de Iser (1991).
Neste sentido, nosso trabalho visa a contribuir para uma filosofia do
ficcional formalizada com rigor ontológico desde a tradição
romântica da qual Schelling fora representante, assim delineando
uma posição ontológica capaz de dialogar com os mais ousados
desenvolvimentos filosóficos contemporâneos, para os quais, como
em Badiou (2006, 2018), Marion (2010, 2016) e Romano (2021), o fato
do enriquecimento ontológico é ensejo à elaboração de um sofisticado
e sutil monismo ontológico.

135
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Palavras-chave
Três linguagens do Tempo. Schelling. Weltalter. Ontologia. Teoria do
ficcional.

Referências
BADIOU, Alain. Logiques des mondes. Paris: Seuil, 2006.
BADIOU, Alain. L’être et l’événement. Paris: POINTS, 2018.
COSTA LIMA, Luiz. Limites da Voz: Montaigne, Schlegel, Kafka. Rio de
Janeiro: Topbooks, 2005.
COSTA LIMA, Luiz. História. Ficção. Literatura. São Paulo: Companhia das
Letras, 2006.
COSTA LIMA, Luiz. Mímesis: desafio ao pensamento. Florianópolis: UFSC,
2014.
GABRIEL, Markus. Der Mensch im Mythos. Berlim: De Gruyter, 2006.
HOLZ, H.: Spekulation und Faktizität: Zum Freiheitsbegriff des mittleren und
späten Schelling. Bonn: 1970.
ISER, Wolfgang. Das Fiktive und das Imaginäre: Perspektiven literarischer
Anthropologie. 1. Auflage. Frankfurt: Suhrkamp, 1991.
MARION, Jean Luc. De Surcroît. Paris: Presses Universitaires de France, 2010.
MARION, Jean Luc. Givenness and revelation. Oxford: Oxford University
Press, 2016.
PAREYSON, Luigi. Ontologia da liberdade: o mal e o sofrimento. São Paulo:
Loyola, 2017.
ROMANO, Jean Claude. L’évenement et le monde. Paris: PUF, 2021.
SCHELLING, Friedrich Wilhelm Joseph. Die Weltalter. In: Ausgewählte
Schriften, Band 4. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1983.
SCHELLING, Friedrich Wilhelm Joseph. Die Philosophie der Mythologie. In:
Ausgewählte Schriften, Band 5. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1983.
SCHELLING, Friedrich Wilhelm Joseph. Die Philosophie der Offenbarung. In:
Ausgewählte Schriften, Band 6. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1983.
SCHUBACK, Márcia de Sá. O Começo de Deus: a filosofia do devir no
pensamento de F. W. J. Schelling. Petrópolis: Vozes, 1998.
TILLIETTE, Xavier. L’Absolu et la philosophie: essais sur Schelling. Paris: PUF,
1987.

136
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Avaliação de Carole Pateman para o campo do


contratualismo, abordagem das questões de igualdade de
gênero, discriminação e opressão em relação às teorias
contratualistas tradicionais

Leonan Coelho da Costa 1


Orientador: Luís Cesar Yanzer Portela 2

Resumo
Mesmo diante de muitos avanços pelo qual a sociedade vem
passando, em especial no século XX até os dias atuais, nas relações
de gênero, ainda sim nota-se situações de exclusão, inferiorização,
desprezo e violência a que as mulheres são submetidas
cotidianamente. Essas situações ainda são normalizadas nas
sociedades, principalmente aquelas que estabelece que o homem é
mais valorizado que a mulher e, portanto, essa precisa estar a sua
disposição, atenta para satisfazer suas vontades. Carole Pateman
filósofa política e feminista conhecida por suas contribuições para o
campo do contratualismo, especialmente por sua crítica à teoria
contratual tradicional e suas propostas inovadoras sobre o contrato
social, desperta atenção em uma análise na obra O Contrato Sexual,
a respeito da nova sociedade civil que foi criada através do contrato
social, sob uma ordem social patriarcal. Nesta obra, a autora faz uma
analogia a respeito do contrato social e do contrato sexual,
explicitando que há uma verdade que não foi contada, ou que há uma
parte da história que permanece em silêncio onde ela examina a
opressão das mulheres. Pateman critica a teoria contratual
tradicional, que tem suas bases em pensadores como Thomas
Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau. Ela argumenta que
essas teorias são fundamentadas em contratos que excluíam as
mulheres, considerando as propriedades dos homens e não

1 Graduando em Filosofia. UNIOESTE. E-mail: leonancosta18@gmail.com


2 Doutor em Filosofia. UNIOESTE. E-mail: luis.portela@unioeste.br

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

participantes plenos do contrato social. Contudo, a parte da história


que é conhecida, menciona que a sociedade criada por esse contrato
é contrária ao patriarcado, uma vez que uma das interpretações a
respeito do contrato social é a transição do estado natural, no qual
havia submissão ao direito paterno, para o estado de liberdade, ou
seja, nessa versão o regime patriarcal é destruído e, na sequência,
surge a sociedade civil, que aparenta ser anti ou pós patriarcais.
Porém, o contrato está longe de se contrapor ao patriarcado ele é o
meio pelo qual se constitui o patriarcado moderno, sob essa
perspectiva, percebe-se que há uma parte da história que não é
contada, a parte que trata a respeito do contrato sexual, que prevê a
submissão das mulheres em relação aos homens. Isso, em todos os
âmbitos familiares, inclusive, na questão sexual, pois as mulheres
possuem o dever conjugal de satisfazer as vontades sexuais do
marido, em troca de proteção e do sustento. Questiona-se a divisão
tradicional entre esfera pública e privada. O argumento de que essa
separação é usada para justificar a subordinação das mulheres na
esfera privada, enquanto os homens ocupam posições dominantes na
esfera pública. Ela sugere que as relações de poder e opressão não são
limitadas apenas ao domínio público, mas também estão presentes
no domínio privado, especialmente nas relações de gênero.

Palavras-chave
Contrato Sexual. Contrato Social. Contratualismo. Patriarcado.

Referências
PATEMAN, Carole. O contrato sexual. Trad. Marta Avancini. Rio de Janeiro:
Paz e Terra. 1993.
HAHN, Noli Bernardo; DA SILVA SENNA, Tassiara. Elementos que
contribuíram para a consolidação do patriarcado: uma análise da obra “O
contrato sexual” de Carole Pateman. In: Revista Videre, v. 12, n. 23, 2020.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Biologia e sociedade: a subjetividade


da mulher segundo Simone de Beauvoir

Karine Rangel 1
Orientador: Saulo Sbaraini Agostini2

Resumo
O presente artigo possui como tema a visão de Simone de Beauvoir
sobre a mulher e a sua subjetividade diante de uma sociedade
dominada por homens. Investiga-se encontrar, através da visão de
Beauvoir fundamentada no primeiro capítulo da obra O Segundo
Sexo, o motivo pelo qual o homem não considera a mulher como ser
igualitário, mas como um ser inferior. Pergunta-se: quais são os
padrões e regras sociais que influenciam para sua permanência nessa
posição? Beauvoir, fundamenta, por meio da perspectiva histórica e
biológica a tradição da mulher nascer e se desenvolve como um ser
imanente, alguém que não é capaz de ser livre ou de se tornar um
exemplo para si. A problemática se concentra no porquê ela não
consegue projetar para fora de si as suas vontades e intenções
próprias e acaba por permanecer em uma sociedade dominada pelo
sexo masculino e vista como o outro. A metodologia utilizada para a
pesquisa é de revisão bibliográfica qualitativa. Nosso objetivo geral é
mostrar a fundamentação de Beauvoir acerca da influência da
biologia na análise do lugar da mulher em meio a sociedade. Os
objetivos específicos são: a) demonstrar como o homem se
fundamenta no conceito biológico para perpetuar uma relação de
dominação frente a mulher; b) Diferenciar a alteridade, “outro”,
(mulher) da mesmidade, “um”, (homem); c) Explicar como a história
auxilia a perpetuar o patriarcado e influencia na construção da

1 Graduanda em Pedagogia. Faculdade Assis Gurgacz Toledo.


E-mail: klrangel@minha.fag.edu.br
2 Mestre em Filosofia pela UFPR, Doutorando em Filosofia pela Unioeste – Toledo.

Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Toledo e Faculdade Assis


Gurgacz – Toledo. E-mail: ssagostini@gmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

mulher como ser submissa; d) Distinguir a transcendência do


homem da imanência da mulher. Desta maneira, encaminha-se a
discussão para a reflexão de como a mulher pode se desvincular da
tradição de opressão e buscar uma construção de si mesmo pautada
na liberdade. Essa fundamentação busca uma maneira de
transcendência da mulher em sua posição social e por isso o livro de
Beauvoir foi considerado fundamental para os movimentos
feministas, no ano seguinte de sua publicação. Sendo utilizado como
um novo olhar para a mulher na sociedade.

Palavras-chave
Mulher. Biologia. Corpo. Alteridade.

Referências
BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2009.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Boal e as raízes subversivas do Teatro do Oprimido

Christiano Tortato 1

Resumo
Augusto Boal (1931-2009) ficou conhecido mundialmente por ter
desenvolvido algumas técnicas, até então inéditas, que compõem a
poética do Teatro do Oprimido. Além de diretor e dramaturgo, Boal
foi também escritor, pensador e (por que não?) filósofo. Escreveu
várias obras, nas quais, acaba dissertando sobre e também
dialogando com as ideias de alguns pensadores clássicos da história
da Filosofia, dentre eles: Platão, Aristóteles, Maquiavel, Hegel e
Marx. Uma figura um tanto quanto excêntrica, pois apesar de ter se
graduado em Química, acabou reconhecido internacionalmente
como “embaixador do teatro mundial” pela Unesco (2009), diretor,
dramaturgo e escritor que transita pela história, pelos mais variados
ramos da arte (teatro, literatura, poesia, música, pintura, cinema,
etc.), pela filosofia, pela neurologia e, além de tudo isso, foi também
político (exilado no período da ditadura). A poética do oprimido
elaborada por Boal, portanto, é também uma poética política.
Poética política subversiva, pois as técnicas desenvolvidas para o
Teatro do Oprimido expõem um caminho estético-pedagógico rumo
a transformação dos espectadores (passivos) em espect-atores
(ativos) e, assim, criam-se possibilidades para que o abismo reinante
entre atores e espectadores seja superado e o palco profanado. O
grande objetivo de Boal, segundo os seus próprios escritos, seria
propiciar para todos os oprimidos condições para uma mudança
significativa em suas vidas, quem sabe, um ensaio, para a mais bela
atuação: uma revolução. Nesse sentido, a classe trabalhadora,
expropriada dos meios de produção do trabalho e também dos meios
de produção estéticos, poderia contar com mais um elemento para a

1Graduação e Mestrado em Filosofia. Atualmente é Doutorando no PPGFIL-


UNIOESTE. E-mail: christianotortato@hotmail.com

141
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

organização programática de suas lutas cotidianas, o teatro, que


poderia vir a ser um te-ato, uma manifestação artística dedicada à
uma transformação social profunda. Esse caminho, nos instiga à uma
investigação sobre a relação entre a obra conceitual elaborada e
vivenciada por Boal com a obra conceitual elaborada e vivenciada por
Marx.

Palavras-chave
Teatro do Oprimido. Boal. Estética. Dialética. Marx.

Referências
ANTUNES, Jadir. Marx e o Fetiche da Mercadoria: Contribuição à crítica da
Metafísica. São Paulo: Paco, 2018.
ANTUNES, Jadir. A Fenomenologia de O Capital. Campo Grande: UFMS, 2013.
BENOIT, Alexandre. Boal: do Arena para o mundo. In: Revista Mais Valia, v. 6,
2009.
BENOIT, Hector. Sócrates: o nascimento da razão negativa. São Paulo:
Moderna, 2006.
BENOIT, Hector. Sobre a crítica (dialética) de O Capital. In: Revista Crítica
Marxista, n. 3, 1996.
BENOIT, Hector. Sobre o desenvolvimento (dialético) do Programa. In:
Revista Crítica Marxista, n. 4, 1997.
BENOIT, Hector. Marx, Trotsky, o Indivíduo e o Silêncio dos Poetas. In:
Revista Mais Valia, v. 3, 2008.
BOAL, Augusto. A Estética do Oprimido. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.
BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido e Outras Poéticas Políticas. São Paulo:
Cosac Naifay, 2013.
BOAL, Augusto. Jogos para Atores e Não-Atores. São Paulo: Cosac Naify, 2015.
BRANDÃO, J. Teatro Grego: origem e evolução. São Paulo: Ars Poetica, 1992.
BRECHT, B. Estudos sobre teatro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.
MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Vol. I. Tomo I. 2. ed. Trad.
Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo: Nova Cultural, 1985. (Coleção Os
Economistas).

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Vol. I. Tomo II. 3. ed. Trad.
Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo: Nova Cultural, 1988. (Coleção Os
Economistas).
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. Trad. Marcos Aurélio
Nogueira e Leandro Konder. Rio de Janeiro: Vozes, 2011. (Coleção Vozes de
Bolso).

143
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Como grãos de mostarda: a antecipação do Reino de Deus


na Teologia da Esperança e a consciência antecipadora em
Princípio Esperança de Ernst Bloch

Jaqueline Thais de Souza 1

Resumo
Diante da síntese da intolerância vivenciada pela humanidade
sobretudo na Segunda Guerra Mundial, muito se questionou acerca
da esperança de um futuro mais propício para as gerações vindouras.
Diante de tais situações de desalento, muito se exigiu das
Humanidades respostas para o problema da esperança, sobretudo da
Filosofia e da Teologia. O filósofo marxista Ernst Bloch, na obra
Princípio Esperança e o teólogo protestante Jürgen Moltmann
procuraram, partindo de suas experiências pessoais, atender a este
clamor. Desse modo, este trabalho tem como propósito tecer
algumas considerações sobre a ideia de esperança construída por
estes pensadores, a fim de compará-las e assim contribuir para a
reflexão acerca da promoção da dignidade humana em momentos de
crise ou colapso. Trata-se de pesquisa que utilizou o método de
abordagem indutivo e comparativo, fundamentado basicamente em
pesquisa bibliográfica explicativa.

Palavras-chave
Princípio Esperança. Teologia da Esperança. Reino de Deus.
Consciência Antecipadora.

Referências
BÍBLIA – Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002.

1 Bacharela em Direito pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná –


UNIOESTE, Campus Marechal Cândido Rondon/PR. Bacharela em Teologia –
Doutrina Católica pelo Centro Universitário Internacional – UNINTER.
E-mail: jaqueline.th.souza@hotmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
BLOCH, Ernst. O Princípio Esperança. Trad. Nélio Schneider. Rio de Janeiro:
Contraponto: EDUERJ, 2006.
BOFF, Clodovis M. Escatologia: breve tratado teológico-pastoral. São Paulo:
Ave-Maria, 2012.
CHACON, Vamireh. Jornada entre Heréticos (com Bloch, Lukács e Dubsky).
In: Tempo Brasileiro, n.17/18, 1968.
COSTA, Maria de Fátima Tardin. A utopia na perspectiva de Ernst Bloch. In:
Anais de trabalhos completos do XV Encontro Nacional da ABRAPSO, 2009.
Disponível em: http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/images/Anais_
XVENABRAPSO/526.%20%20a%20utopia%20na%20perspectiva%20de%20er
nst%20bloch.pdf. Acesso em: 15 set. 2023.
FIALHO, Rodrigo Sousa. Notas Reflexivas sobre conceitos que fundamentam
a utopia como possibilidade cocnreta n’o Princípio Esperança de Ernst Bloch.
In: Complexitas – Revista de Filosofia Temática, v. 2, n. 2, 2019. Disponível em:
https://periodicos.ufpa.br/index.php/complexitas/article/view/5419. Acesso
em: 15 set. 2023.
KUZMA, Cesar. O teólogo Jürgen Moltmann e o seu caminhar teológico
realizado na esperança: acenos teo-biográficos. In: Atualidade Teológica –
Revista do Departamento de Teologia da PUC-Rio, n. 43, ano XVII, 2013.
MACHADO, Carlos Eduardo Jordão. Resenha: O Princípio Esperança. In:
Trans/Form/Ação – Revista de Filosofia, v. 31, n. 1, 2008.
MOLTMANN, Jürgen. Teologia da Esperança: estudos sobre os fundamentos e
as consequências de uma escatologia cristã. Trad. Helmuth Alfredo Simon. 3.
ed. São Paulo: Teológica / Loyola, 2005.
NISSA, São Gregório de. A criação do homem; A alma e a ressurreição; A
grande catequese. São Paulo: Paulus, 2011.
OLIVEIRA, Hudson Mandotti de. A força utópica do messianismo político de
Ernst Bloch. In: Revista UFMG, v. 24, n. 1 e 2, 2017. Disponível em:
https://www.ufmg.br/revistaufmg/downloads/24/02_HudsonOliveira_Forca
Utopica_pags_16a39_Revista_UFMG_24.pdf. Acesso em: 13 set. 2023.
PORTO, Douglas Michel Ribeiro. Afetos em movimento: Esperança e angústia
como chaves interpretativas de movimentos sociais. 2022. Porto Alegre. 168 f.
Tese (Doutorado) – Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais, PUCRS,
Porto Alegre, 2022.

145
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
ROCHA, Fernanda Brito da; PELINSKI, Márcio José. Por uma Teologia da
Esperança: uma leitura bíblica e dos documentos da Igreja Católica sobre a
Escatologia. In: Caderno Intersaberes, v. 10, n. 28, 2021. Disponível em:
https://www.cadernosuninter.com/index.php/intersaberes/issue/view/128.
Acesso em: 25 set. 2023.
SILVA, Mateus Domingues da. O riso como princípio Esperança. In:
Teoliterária, v. 1, n. 2, 2011. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/
descarga/articulo/5363278.pdf. Acesso em: 13 set. 2023.
SOUZA, Clayton Lima de. Uma breve análise da teologia de Jürgen Moltmann:
Da Teologia da Esperança ao Universalismo. In: Revista Via Teológica, v. 20, n.
40, 2019.
VIEIRA, Antonio Rufino. Princípio esperança e a “herança intacta do
marxismo” em Ernst Bloch. In: Anais do 5° Coloquio Internacional Marx-
Engels. Campinas: CEMARX/Unicamp. Disponível em: www.unicamp.br/
cemarx_v_coloquio_arquivos_arquivos/comunicacoes/gt1/sessao6/Antonio_
Rufi no.pdf. Acesso em: 13 set. 2023.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Conhecimento e Controvérsia em Leibniz

Cristiano Bonneau1

Resumo
A coletânea lançada em língua portuguesa de diversos opúsculos de
Leibniz, sob a alcunha de A Arte das controvérsias (Disposta pelo
trabalho de Marcelo Dascal) nos permite o acesso a importantes
insights e noções contidos em sua obra acerca da filosofia e suas
repercussões; sobretudo na sua proposta teórico-metodológica de
sistematizar o conhecimento humano e ciência, no que em sua
utilidade e função destes em todos os aspectos da vida prática.
Investigamos os interesses de Leibniz quanto à atividade racional em
seus registros e suas formas de organização. Estamos no encalço da
filosofia leibniziana preocupada com as formas de negociação entre
distintos pontos de vista e conciliação entre a existência das distintas
maneiras pelas quais o pensamento se manifesta, consolidando uma
ars disputandi, através do desenvolvimento tanto da ars inveniendi
como da ars judicandi. Pretendemos dessa forma, demonstrar como
Leibniz procura conciliar propostas filosóficas dispares e
concorrentes de mundo.

Palavras-chave
Leibniz. Conhecimento. Controvérsia. Identidade.

Referências
CARDOSO, Adelino. O trabalho de mediação no pensamento leibniziano.
Lisboa: Colibri, 2005.
NICOLAS, S, J. A; et all. La Monadologia de Leibniz a debate / The
Monadology of Leibniz to debate. Granada: Comares, 2016.

1Doutorado em Filosofia, Professor DCS/CCAE/UFPB e PPGF/CCHLA/UFPB.


E-mail: crbonneau1@gmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
BONNEAU, Cristiano. MARINHO, Lucas Ribeiro. Cibernética como disciplina
filosófica: condições de uma teoria do conhecimento. In: Vozes
Multidisciplinares: análises em Educação, Antropologia da Imagem, Poder e
Conhecimento. Vários Autores. Editora do CCTA, João Pessoa, 2022.
BONNEAU, Cristiano. Dos conceitos de certeza e a lógica de probabilidade – a
crítica ao estado hobbesiano e o ensejo para a possibilidade de uma filosofia
política em Leibniz. In: Aufklärung: Revista de Filosofia, 2018.
BONNEAU, Cristiano. A questão da invenção – uma reflexão sobre o
conhecimento em Leibniz. In: Cadernos Espinoseanos, n. 34, 2016.
BONNEAU, Cristiano. Leibniz e o pensamento na diferença – implicações
éticas e políticas. In: O Manguezal Revista de Filosofia, v. 1, n. 12, 2022.
BONNEAU, Cristiano. Alcances e influências das concepções leibnizianas de
conhecimento: um estudo dascaliano sobre a teoria da controvérsia. In:
NICOLAU, Marcos Fabio Alexandre (Org.). Nada é sem razão. Sobral: Sertão
Cult, 2020.
LEIBNIZ, G.W. Sistema novo da natureza e da comunicação das substancias e
outros textos. Trad. Edgar Marques: UFMG, 2002.
LEIBNIZ, G.W. Ensaios de Teodicéia. Sobre a bondade de Deus, a liberdade
dos homens e a origem do Mal. Trad. William de Siqueira Piauí e Juliana Cecci
da Silva. São Paulo: Estacão Liberdade, 2013.
LEIBNIZ, G.W. Die philosophischen Schriften. 7 Vol., Berlim: Halle, 1949.
LEIBNIZ, G.W. Escritos Filosóficos. Trad. Roberto Torretti, Tomás E. Zwanck e
Ezequiel de Olaso. Buenos Aires: Charcas, 1982.
LEIBNIZ, G.W. Reflexões sobre a obra que o Sr. Hobbes publicou em inglês,
sobre a liberdade, a necessidade e o acaso. Trad. William de Siqueira Piauí e
Juliana Cecci Silva. In: Revista Transformação, v. 30, n. 2, 2007.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Crença religiosa e crítica racional:


duas objeções a Vincent Brümmer

José Felipe Cravelin 1


Orientador: Marciano Adilio Spica 2

Resumo
No presente texto, meu objetivo é apresentar duas objeções à posição
do filósofo Vincent Brümmer (1994) o qual sustenta que a linguagem
religiosa teísta não pode ser vista como uma hipótese científica, uma
vez que não faria sentido para o religioso duvidar, por exemplo, da
crença na existência de Deus. Em primeiro lugar, salientarei que, ao
contrário da posição de Brümmer, é possível falar de dúvidas
religiosas sem interferir em nenhum critério de inteligibilidade de
um jogo de linguagem religioso. Em segundo lugar, contestarei a
ideia de Brümmer de que a tarefa da filosofia da religião é oferecer
uma “proposta inovadora” a fim de promover uma melhor
compreensão da linguagem religiosa face à natureza mutável das
nossas formas de vida. Seguindo as ideias defendidas pelo filósofo da
religião D. Z. Phillips (1995), buscarei sustentar que, sob uma
perspectiva Wittgensteiniana, embora não seja possível considerar a
crença religiosa uma hipótese científica, a gramática dos conceitos
religiosos permite se falar de “dúvidas” no sentido de pôr a crença em
Deus em questionamento. Devido a isso, se torna incorreto sustentar
que a abordagem de Wittgenstein cria um certo tipo de blindagem
contra a crítica racional da crença religiosa ou conduz a um certo tipo
de fideísmo. Ainda a partir de Phillips, buscarei indicar que Brümmer
se afasta consideravelmente de uma perspectiva Wittgensteiniana
quando ele se compromete com uma visão normativa e propositiva
(tal como sua noção de “proposta inovadora” nos leva a concluir) da

1 Mestre em Filosofia. Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOSTE).


E-mail: jfelipe-cr@outlook.com
2 Doutor em Filosofia. UNICENTRO/UNIOSTE.

E-mail: marciano.spica@gmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

atividade filosófica sobre a religião, uma vez que é o trabalho


descritivo que revela os diferentes usos que a linguagem religiosa
pode possuir, inclusive nos contextos da dúvida e da crítica.

Palavras-chave
Linguagem religiosa. Wittgenstein. Dúvida.

Referências
BRÜMMER, V. Has the Theism—Atheism Debate a Future? In: Theology, v.
97, n. 780, 1994. Disponível em: https://doi.org/10.1177/0040571X9409700605.
BRÜMMER, V. How Rational is Rational Theology? A reply to Mikael
Stenmark. In: Religious Studies, v. 35, n. 1, 1999.
PHILLIPS, D. Z. Wittgenstein and Religion. London: Routledge, 1995.
STENMARK, Mikael. How to relate science and religion: a multidimensional
model. Wm. B. Eerdmans Publishing, 2004.

150
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Crítica ao fundamento da identidade


da imagem dogmática do pensamento

João Vitor Gaudencio de Lima 1


Orientadora: Ester Maria Dreher Heuser2

Resumo
A filosofia de Gilles Deleuze tem como tarefa voltar o pensamento
filosófico para a sua expressão de potência criadora. Para isso, o autor
propõe pensar o pensamento a partir da diferença, desafiando as
categorias da representação do Mesmo. Enquanto atua em prol da
repetição do Mesmo, o pensamento se vê fundado pela identidade.
Pensar a partir da diferença é o que dá vazão à potência criadora do
pensamento. Para isso, é necessário questionar o fundamento da
operação da razão sobre o pensamento. Assim, esta comunicação
versa sobre a crítica deleuziana ao ‘reinado da representação’ — que
impera numa Imagem dogmática do pensamento fundada na
identidade. O argumento central girará em torno da questão: por
onde é possível, na filosofia, começar autenticamente a pensar? Pois,
há algo que insiste em resistir fatidicamente ao objetivo de criar
conceitos sempre novos que compõe a filosofia. Assim sendo, o
pensamento encontra-se, por vezes, sufocado; e boa parte da história
da filosofia não se preocupou o suficiente com este sufocamento
constante — cedendo a ele ou ignorando-o — ou, ainda, ela esteve
sempre disposta a colocar um dedo a mais na garganta do
pensamento, obstruindo vagarosamente o fluxo de potência e de
criação que nele poderia ser encontrado. É usualmente observada
uma certa influência de alguma autoridade do pensar filosófico
engajada em estabelecer pressupostos para o pensar e que acabam

1 Mestrando em Filosofia (Linha: Ética e Filosofia Política) como bolsista CAPES na


UNIOESTE, Campus Toledo (PR). E-mail: joao.lima19@unioeste.br
2 Professora-pesquisadora Associada da UNIOESTE, Campus Toledo (PR), no curso

de Filosofia – Licenciatura, Mestrado e Doutorado (Linha: Ética e Filosofia Política).


E-mail: ester.heuser@gmail.com

151
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

por o arrastar para territórios de contemplação, de reflexão e de


comunicação, afirmando ser este o lugar do pensamento na
disciplina filosófica. Nesses territórios, é formada uma Imagem do
pensamento que antecipa a boa vontade do sujeito que pensa em
buscar aquilo que ‘é verdadeiro’. Na sequência, o que o pensamento
pode buscar (de acordo a Imagem dogmática do pensamento) é a
contemplação daquilo que se apresenta tal como se apresenta aí onde
está; seguida da reflexão que coloca o contemplado no escopo que lhe
for mais conveniente assumir; e, então, o pensamento pode ser
comunicado. Esse pressuposto da busca pela verdade acrescida da
definição da filosofia em termos de contemplação, reflexão e
comunicação, no entanto, não se confirma suficientemente
adequado ou, ao menos, não quando queremos considerar a filosofia
como atividade cujo objetivo é a criação. A tese deleuziana quer
colocar o pensamento filosófico como livre desses pressupostos,
possibilitando, propriamente, a criação de conceitos. Deleuze
propõe um personagem para ilustrar essa função, o “homem do
subsolo”: ele rejeita tanto as visões mais retas acerca de si mesmo,
quanto aquelas concepções pré-fabricadas advindas da cultura ou da
tradição. Esse tipo de personagem se destaca pela má vontade para
pensar e pela incapacidade de buscar instintivamente a verdade. Mas
ele insiste, forçosamente, em levantar questões — fazendo, assim,
emergir uma nova gama de possibilidades. Deste modo, isto é,
renunciando a uma boa vontade e um pensamento dado
naturalmente, seria possível começar efetivamente a pensar. Então,
haverá a possibilidade do pensamento que não deixa escapar por
entre os próprios dedos do pensador o fluxo de diferenças que
habitam cada início em cada pensamento e que permitirá a
consideração da criação.

Palavras-chave
Imagem Dogmática do Pensamento. Diferença e Repetição. Deleuze.

152
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Referências
DELEUZE, Gilles. Proust e os signos. 2. ed. Trad. Antonio Piquet e Roberto
Machado. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.
DELEUZE, Gilles. Diferença e Repetição. Trad. Luiz Orlandi e Roberto
Machado. 2. ed. Rio de Janeiro: Graal, 2006.
DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. Trad. Luiz Roberto Salinas Fortes. São
Paulo: Perspectiva, 2006
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? Trad. Bento Prado Jr.
e Alberto Alonzo Muñoz. São Paulo: Editora 34, 2007.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia 2.
Vol. 1. São Paulo: Editora 34, 1996.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O Anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia
1. Trad. Luiz Orlandi. São Paulo: Editora 34, 2011.
DELEUZE, Gilles; PARNET, Claire. Diálogos. São Paulo: Escuta, 1998.
DESCARTES, René. A busca da verdade pela luz natural. In: Revista
DIAPHONÍA, v. 4, n. 1, 2018. Disponível em: https://e-revista.unioeste.br/
index.php/diaphonia/article/view/19811. Acesso em: 31 jan. 2023.
DOSTOIEVSKI, Fiódor. Memórias do Subsolo. São Paulo: Editora 34, 2000.
GRISOTTO, Américo. Imagem do pensamento: Deleuze e a filosofia da
diferença. In: Griot, v. 22, n. 3, 2022.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

De Saint-Exupéry a Martin Heidegger:


interfaces entre literatura e filosofia

Katieli Pereira 1

Resumo
Em 1943, em plena vigência da Segunda Guerra Mundial, o escritor e
aviador Antoine de Saint-Exupéry publica a novela que levaria seu
nome para todos os cantos do mundo, O Pequeno Príncipe,
tornando-se um dos autores mais difundidos e traduzidos da história
da literatura. No mesmo ano, lança Carta a um refém, texto
documental que factualmente contrasta com os ares cativos de sua
obra-prima, uma vez que, nele, em vez de apreciar as aventuras de
um principezinho, o leitor se vê aturdido pela atmosfera soturna do
poder bélico, permeando a realidade de uma existência que tenta
sobreviver às sombras do terror nazista. Assim, entre as descrições
melancólicas tocantes às perdas, medo e destruição, vê-se
entrecruzarem-se nesta obra meditações sobre a dádiva da amizade,
das relações sensíveis e da avassaladora saudade de seu melhor
amigo, Léon Werth, um homem judeu. Por certo, aparentemente
distintas em suas propostas literárias, tanto O Pequeno Príncipe
quanto Carta a um refém trazem consigo um olhar crítico face a um
mundo tecnocraticamente planejado, onde pessoas e coisas são
valoradas por sua utilidade, fazendo o sentido de existência aliar-se à
busca constante por resultados e efeitos previamente definidos. Um
fenômeno comum, diria Exupéry, às “pessoas grandes”, que, na ânsia
de instrumentalizar tudo, em graus mais ou menos distintos,
suprimem o poder que se revela no exercício da criatividade, da
sensibilidade, do cuidado e da indulgência. E é de maneira singela e
até um tanto furtiva que o autor faz emergir, no interior de seus
escritos, problemas invariavelmente filosóficos, inspirando-nos a

1 Graduada em Psicologia (PUCPR), mestranda em Filosofia (UNIOESTE), na


condição de Bolsista CAPES. E-mail: katieli.p@outlook.com

154
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

elaborar algumas questões. Para este trabalho, portanto, a pergunta


que nos movimenta é a seguinte: o que dão a pensar as obras
previamente mencionadas de Exupéry face ao rigor de uma ontologia
como a de Martin Heidegger? Cientes de que o horizonte de
possibilidade para isto é imensurável, intuímos concentrar nossa
discussão no discurso Serenidade, apresentado pelo filósofo alemão
em 1955, na cidade Meßkirch. A escolha do discurso, é claro, não se
dá por acaso: nele, Heidegger versa sobre a “fuga de pensamento”,
fenômeno que emerge frente à valorização das elaborações lógicas
em detrimento dos saberes pré-teoréticos ou metafísicos,
culminando na objetificação do homem, da natureza e incidindo no
que Heidegger denomina “pensamento calculador”. Esta, por sua vez,
é uma forma de pensar que, respondendo aos apelos de solicitações
invisíveis e de um poder que homem não domina, coloca em risco o
que há de mais luminoso e distinto no ente humano: o fato de ser um
ser que medita.

Palavras-chave
O Pequeno Príncipe. Serenidade. Ontologia. Fenomenologia.

Referências
HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget, 2000.
SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O Pequeno Príncipe. São Paulo: Escala, 2015.
SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. Carta a um refém. São Paulo: Penguin-
Companhia, 2018.
SARAMAGO, Ligia. Sobre a serenidade em Heidegger: uma reflexão sobre os
caminhos de pensamento. In: Rev. Aprender – Cad. de Filosofia e Psicologia da
Educação, ano VI, n. 10, 2008.

155
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Des(aprendendo) a amar: o romantismo


e a ficção na construção do senso de realidade

Cecília Santos Oliveira 1


Robson Roberto Martins Lins 2

Resumo
O presente trabalho promove uma análise, a partir de múltiplas
abordagens, acerca do desenvolvido da compreensão do conceito de
amor. Assim como seus desdobramentos presentes ao decorrer da
antiguidade, até as implicações contemporâneas no imaginário do
que é o amor. E em sua forma de flexão verbal-ética: o que é amar em
uma sociedade do culto à imagem; ou, em uma sociedade do
espetáculo? O diálogo com estas perguntas torna-se princípio
investigativo, bem como com os esforços de mantê-las vivas, como
no processo investigativo, como Paulo Freire (2017) sugere como um
modo possível de pensar, e nomeia de curiosidade epistemológica.
Sendo assim, acompanhando-se do início ao fim como as perguntas,
o presente trabalho tece um diálogo possível a as expressões do amor
presente em Platão em sua obra O banquete (2002) e nossa
perspectiva, cultural, geográfica e política do amor na
contemporaneidade e suas motivações, como se é encontrado em
Renato Noguera (2020) em sua obra Por que amamos: O que os mitos
e a Filosofia têm a dizer sobre o Amor. Buscamos compreender como
os interesses da cultura contemporânea nas produções audiovisuais,
seja cinema, redes sociais e outros meios, influenciam ou constroem
um outro significado do seja o amor real, ou o que seja a ação-política
de amar. Afinal, é o amor romântico tão massivamente difundido?
Que impacto há na produção do sujeito e desejo da busca
inconsolável pelo preenchimento das coisas às quais se é carente, que

1Secundarista. Escola Oga Mitá. E-mail: ceciliaso@e.ogamita.com.br


2Mestrando em Filosofia Política. Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
E-mail: robsonlins.uerj.philo@gmail.com

156
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

em certa corrente é atribuída, equivocadamente, ao platonismo dessa


forma não correspondida amar. Deste modo, o presente trabalho
investigativo resulta numa elaborada análise filosófica e conceitual
de como o amor e a ficção contemporânea nas formas de
comunicação e produções audiovisuais na difusão do cinema, e como
eleva a problemáticas do ato de amar ao superar as implicações de
amar um reflexo de espelho, para a então projeção de tela.

Palavras-chave
Amor. Cinema. Pergunta. Ficção.

Referências
BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio
de Janeiro: Zahar, 2004.
FREIRE, Paulo; FAUNDEZ, Antonio. Por uma pedagogia da pergunta. 8. ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2017.
KOHAN, Walter Omar. El maestro inventor. Simón Rodríguez. Caracas:
Ediciones del Solar, 2016.
NOGUERA, Renato. Por que amamos: o que os mitos e a Filosofia tem a dizer
sobre o Amor. Rio de Janeiro: Harpercollins, 2020.
PLATÃO. O Banquete. Rio de Janeiro: Difel, 2002.

157
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Direitos do homem, Democracia e Paz: a importância


da paz na trilogia temática de Norberto Bobbio 1

José Francisco de Assis Dias 2


Supervisor: José Geraldo Alberto Bertoncini Poker 3

Resumo
Tema central do presente estudo é a importância da “Paz” na trilogia
temática de Norberto Bobbio, a saber: Democracia, Direitos
humanos e Paz, como elementos interligados e necessários para o
progresso histórico e social. Objetiva-se explorar a interação entre
Democracia, Direitos humanos e Paz, defendida por Bobbio, e sua
importância para a construção de uma sociedade justa e pacífica. Será
discutida a relação entre Democracia, Direitos humanos e Paz como
componentes essenciais de um movimento histórico para o
progresso social; analisar-se-á as doutrinas que justificam a guerra e
questionar-se-á sua validade na era atômica; destacar-se-á as
condições necessárias para alcançar a Paz, incluindo pactos de não
agressão e estabelecimento de regras para a solução pacífica de
conflitos; analisar-se-á a falta de autoridade da Organização das
Nações Unidas (ONU) e a necessidade de um “poder internacional
efetivo” para garantir a paz global. O estudo da trilogia temática de
Bobbio é relevante para compreender a importância da interação
entre Democracia, Direitos humanos e Paz na busca por uma
sociedade justa e pacífica. Além disso, a análise das doutrinas
justificadoras da guerra e das condições necessárias para alcançar a
Paz contribui para uma reflexão crítica sobre os desafios
contemporâneos relacionados à segurança global e aos Direitos
humanos. O estudo baseia-se na análise dos escritos de Norberto
Bobbio sobre Democracia, Direitos humanos e Paz, examinando suas

1 Resultado de pesquisa durante o estágio pós-doutoral realizado na UNESP,


Marília-SP, de 18/02/2022 a 17/08/2023, sob número:
2 Professor Doutor. UNIOESTE – Toledo-PR. E-mail: jose.dias5@unioeste.br
3 Professor Doutor. UNESP – Marília-SP. E-mail: geraldo.poker@unesp.br

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

ideias e argumentos ao longo de sua vasta obra. A pesquisa envolve


uma abordagem teórica e crítica, com a interpretação das principais
contribuições de Bobbio nesses temas. Os resultados destacam a
interdependência entre Democracia, Direitos humanos e Paz,
enfatizando sua relevância para o progresso social e histórico. Além
disso, a pesquisa evidencia a necessidade de repensar as doutrinas
justificadoras da guerra na era atômica e a importância de estabelecer
uma Autoridade internacional efetiva para promover a paz global.

Palavras-chave
Paz em Bobbio. Democracia em Bobbio. Direitos humanos.
Pacifismo jurídico.

Referências
ARCHIBUGI, Daniele; VOLTAGGIO, Franco (curadores). Filosofi per la pace.
Roma: Riuniti, 1999.
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Dichiarazione universale dei diritti dell’uomo. Torino: Arti Grafiche Plinio
Castello, 1951.
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diário di Hiroshima e Nagasaki. Giulio Einaudi: Torino, 1961.
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1995.
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BOBBIO, Norberto. Il problema della guerra e le vie della pace. Bologna: Il
mulino, 1997b.
BOBBIO, Norberto. Teoria generale della politica (Biblioteca Einaudi, 73), a
cura di M. BOVERO, Einaudi, Torino 1999a.
BOBBIO, Norberto. Autobiografia, a cura di Alberto PAPUZZI, Roma-Bari:
Laterza, 1999b.

159
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco.
Dizionario di politica. Torino: TEA, 2000.
BOBBIO, Norberto. Thomas Hobbes. Torino: Einaudi, 2004.
BOBBIO, Norberto. Il Terzo assente: Saggi e discorsi sulla pace e sulla guerra, a
cura di P. POLITO, Milano: Edizioni Sonda, 2013.
BOBBIO, Norberto. Diritto e potere: saggi su Kelsen. Torino: Giappichelli
Editore, 2014.
BOVERO, Michelangelo. Introduzione. In: BOBBIO, Norberto. Teoria
generale della politica (Biblioteca Einaudi, 73), a cura de M. BOVERO, Torino:
Einaudi, 1999.
COTTA, Sergio. Perché la violenza? L’Aquila: Japadre, 1978.
GÜNTHER, Anders. Essere o non essere: diário di Hiroshima e Nagasaki.
Prefazione di Norberto Bobbio. Giulio Einaudi: Torino, 1961.
GURVITCH, Georges. La Dichiarazione dei diritti sociali. Milano: Comunità,
1949.
HOBBES, Thomas. Leviatã: ou matéria, forma e poder de um estado
eclesiástico e civil [Leviathan]. Trad. Daniel Moreira Miranda, São Paulo:
Edipro, 2015. [1651].
HOBBES, Thomas. Do cidadão [De cive]. Trad. Raul Fiker, São Paulo: Edipro,
2016. [1642].
JONAS, Hans. O problema responsabilidade: ensaio de uma ética para a
civilização tecnológica. Tradução do original alemão de Marijane Lisboa; Luiz
Barros Montez, Rio de Janeiro: PUCRIO, 2006.
KANT, Immanuel. A paz perpétua e outros opúsculos [Zum ewigen frieden, ein
Philosophischer entururf...]. Trad. portuguesa Artur Morão. Lisboa: Edições
70, 2018. [1795].
KELSEN, Hans. A paz pelo direito [Peace through law], Trad. Lenita Ananias
do Nascimento. São Paulo: Martins Fontes, 2011. [1944].
KELSEN, Hans. A democracia. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2000.
LOSANO, Mario G. Norberto Bobbio: Una biografia culturale. Roma: Carocci,
2018.
LOSANO, Mario G. Le tre costituzioni pacifiste: Il rifiuto della guerra nelle
costituzioni di Giappone, Italia e Germania. Global Perspectives on legal
history 14, Frankfurt: Max Planck Institute For European Legal History, 2020.
ONU. Carta das Nações Unidas. 1945, Disponível em: www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto/1930-1949/d19841.htm. Acesso em: 20 jun. 2021.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
PASOLD, Cesar Luiz. Ensaio sobre a ética de Norberto Bobbio. Florianópolis:
Conceito, 2008.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social [Du contrat social: príncipes du
droit politique]. Trad. Antonio de Pádua Danesi. 3. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1996. [1762].
SALATINI, Rafael. Introdução aos escritos sobre a paz de Norberto Bobbio. In:
Revista Videre, v. 10, n. 18, 2017. Disponível em: https://ojs.ufgd.edu.br/
index.php/videre/article/view/7076. Acesso: 28 jul. 2021.
SANTOS, Antonio Carlos de Oliveira. A concepção ética de democracia em
Bobbio. In: Revista Videre, v. 10, n. 18, 2017. Disponível em:
https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/videre/article/view/6820. Acesso em: 28
jul. 2021.
SILVA FILHO, João Antonio da. A democracia e a democracia em Norberto
Bobbio. São Paulo: Verbatim, 2014.
TOSI, Giuseppe. (Org.). Norberto Bobbio: democracia, direitos humanos,
guerra e paz. João Pessoa: UFPB, 2013.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Discurso sobre o colonialismo de Aimé Césaire

Marlene de Fátima Rosa 1

Resumo
São muitos teóricos que falaram e ainda falam sobre o colonialismo.
Aimé Césaire é um deles. O estudo deste assunto mostra que o tema
é bastante polêmico, um lado estão os que defendem e do outro estão
os que criticam. Aimé Césaire faz parte do grupo que critica o
processo colonial europeu. Para ele o processo colonial europeu
defendido e normalizado por muitos teóricos é indefensável e ele
mostra isso através de vários argumentos que nos possibilitam
repensar a colonização. Segundo ele, a colonização resultou em mais
prejuízos do que benefícios. Em sua visão ninguém coloniza
inocentemente e impunemente. O que o colonizador quer é dominar
e saquear os povos. A ideia de que a colonização está a serviço da
civilização é uma grande mentira contada para justificar as maldades
e crueldades cometidas pelos colonizadores. O cristianismo fez
muito bem isso vitimando índios, amarelos e negros se valendo do
discurso que era necessário civilizá-los. Desse processo de
colonização e civilização não sobrou nenhum valor humano. E isso
não teve problema nenhum para os humanistas. O problema passa a
existir quando as atrocidades passam a ser cometidas também contra
os homens brancos. Aí sim se desperta o humanismo para defender
os homens brancos e não a humanidade. O objetivo deste texto é
reunir este e outros argumentos apresentados por Aimé que nos
possibilita melhor compreender o pensamento anticolonial. Para
fazer tais reflexões nos apoiaremos na obra O Discurso sobre o
Colonialismo. Obra está em que o autor demonstra do princípio ao
fim sua posição anticolonial, anticristã e anti-europeia e antirracista,
cuja leitura é fundamental para a compreensão da luta anticolonial.

1Mestre em Filosofia. Graduada em Licenciatura: Filosofia. Universidade Estadual


do Oeste do Paraná (UNIOESTE). E-mail: rosalogos@hotmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O texto se encontra dividido em três momentos. O primeiro traz um


breve relato sobre o autor, para que o leitor possa conhecer um pouco
quem foi Aimé Césaire. O segundo reúne alguns argumentos
utilizados por Aimé para criticar o colonialismo e no terceiro algumas
considerações que porventura possam nos ajudar a pensar, à luz deste
autor, algumas mazelas sociais de nosso tempo.

Palavras-chave
Colonialismo. Anticolonialismo. Civilização.

Referências
CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. São Paulo: Veneta, 2020.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Do limite entre epistemonikón e logistikón:


a interpretação fenomenológica das virtudes
dianoéticas em Martin Heidegger

Saulo Sbaraini Agostini 1


Orientador: Roberto S. Kahlmeyer-Mertens 2

Resumo
A presente pesquisa tematiza a leitura fenomenológica que o filósofo
Martin Heidegger faz sobre Aristóteles, especificamente quanto ao
livro VI da Ética a Nicômaco – conhecido pela tradição como tratado
das virtudes dianoéticas. O modo como Heidegger lida com o tratado
aristotélico é peculiar e inovador; portanto, não se alinha às
interpretações tradicionais em voga no século XX. Para perceber a
origem dessa atitude caracteristicamente hermenêutica, pergunta-
se: como a distinção entre epistemonikón (o que promove o saber e a
ciência) e logistikón (o que promove a reflexão) anunciam a relação
de privilégio de sophía e phrónesis? Dessarte, o objetivo geral de
nossa investigação é mostrar que o estatuto fundamental de sophía e
phrónesis é consequência do limite que distingue o conceito de
epistéme do conceito de lógos. Nossos objetivos específicos se
dividem em: a) fundamentar e distinguir epistéme e sophía como
modos de epistemonikón; b) investigar e limitar os conceitos de
techné e phrónesis como modos de logistikón; c) apontar a sophía
como modo privilegiado frente a epistéme; d) mostrar a phrónesis
como mais fundamental que a techné. Para a distinção conceitual
proposta, Heidegger aborda temas relacionados ao tempo e ao
eterno, a possibilidade de ensino desses conceitos, bem como os

1Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná. Doutorando em Filosofia


pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Toledo.
E-mail: ssagostini@gmail.com
2 Doutor em filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professor

adjunto da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Toledo. Titulação


acadêmica. Instituição. E-mail: kahlmeyermertens@gmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

modos de desvelamento de cada um deles – focaremos nossa


investigação neste último caminho argumentativo. Utilizamos como
base a obra Platão: O Sofista de Martin Heidegger, sobretudo sua
primeira parte, que expõe a investigação sobre a filosofia aristotélica
como preparatória para a análise de Platão. Quanto aos
apontamentos finais, pretende-se demonstrar o campo
hermenêutico no qual surge a interpretação fundamental da
distinção entre sophía e phronésis, tema essencial para a
interpretação heideggeriana da Ética nicomaquéia de Aristóteles.

Palavras-chave
Fenomenologia. Sofía. Phrónesis. Techné. Epistéme.

Referências
DE BRASI, Diego; FUCHS, Marko J. Sophistes: Plato’s Dialogue and
Heidegger’s Lectures in Marburg (1924-25). Cambridge: Cambridge Scholars
Publishing, 2016.
HEIDEGGER, M. Platão: O Sofista. Trad. Marco Antônio Casanova. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2012.
KAHLMEYER-MERTENS. Da interpretação heideggeriana da Ética a
Nicômaco: Filosofia prática como ontologia da vida cotidiana. In: Revista Ética
e Filosofia Política, n. 16. v. 2, 2013.
LONG, C. P. The ontological reappropriation of phronesis. Continental
PhilosophyReview. Netherlands: Kluwer Academic Publishers, 2002.
SHEEHAN, Thomas. Heidegger, Aristotle and Phenomenology. In: Philosophy
Today, v. XIX, n. 2-4, 1975.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

É necessária uma filosofia para a agronomia?

Leandro Paiola Albrecht 1


Alfredo Jr. Paiola Albrecht 2

Resumo
A agronomia é um campo vasto de pesquisa e prática tecnológica
ativa e transformadora, que produz enorme conhecimento e tem um
grande potencial de impacto na sociedade, seja econômico,
ambiental e social. O presente comunicado propõe investigar de
forma epistemológica a necessidade de se fazer uma filosofia da
agronomia. A pergunta central a ser respondida é: a agronomia
precisa de uma filosofia da agronomia? As questões-problema aqui
secundárias são: A agronomia pode ser explicada pela filosofia
historicista da ciência? Como a ciência agronômica se desenvolve na
história? O debate realismo e anti-realismo é importante para a
agronomia? Qual filosofia teria melhor poder explicativo sobre a
agronomia: empirista lógica ou Karl Popper ou Thomas Kuhn ou
Larry Laudan ou Paul Feyerabend ou Hugh Lacey ou Andrew
Feenberg ou outra? A agronomia ainda pode ser interpretada como
tecnologia ou tecnociência? Face este objetivo primordial, outros
secundários são formulados como temas: relacionar a história da
agricultura com o desenvolvimento da agronomia; a agronomia na
condição de geradora de tecnologias pode ser analisada como
ciência, tecnologia ou tecnociência em paralelo. Na construção da
temática, a averiguação das hipóteses inclui a observação histórica e
a conversação com autores que se vinculam à discussão. Propõe-se
que a agronomia é uma ciência de ampla abordagem e profunda
história, com seu desenvolvimento não linear e não cumulativo;
vinculada mais a abordagem historicista de Kuhn e Laudan; forte viés

1 Doutorando em Filosofia e Doutor em Agronomia. Acadêmico UNIOESTE,


Docente UFPR. E-mail: lpalbrecht@yahoo.com.br
2 Doutor em Ciência – Fitotecnia. Docente UFPR.

E-mail: ajpalbrecht@yahoo.com.br

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

tecnológico, mas não propriamente uma tecnociência; com grandes


responsabilidades em uma civilização tecnológica, de notável
importância social e ambiental. Entende-se que os desafios
prevalentes da ciência agronômica, seus momentos históricos, suas
tensões, seu progresso, seus dramas diante da realidade, as questões
ambientais, sociais, econômicas e bioéticas, em si, são motivo de
intensa análise filosófica. Esses cenários provocativos, por si, são
pressupostos e oportunidade na criação de uma filosofia da
agronomia, ao qual esse trabalho se propõe a comunicar e debater.

Palavras-chave
Ciência agronômica. Agrotecnologias. Tecnociência. Epistemologia.

Referências
KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. Trad. Beatriz Vianna
Boeira e Nelson Boeira. 12. ed. São Paulo: Perspectiva, 2013.
LAUDAN, Larry. O progresso e seus problemas: rumo a uma teoria do
crescimento científico. Trad. Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Unesp, 2011.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Edgar Allan Poe e Walter Benjamin


contra as artimanhas do autômato

Oscar Henrique de Souza e Silva 1


Orientador: Wilson Antonio Frezzatti Jr. 2

A tradição dos oprimidos transforma


a classe operária em classe redentora
Walter Benjamin

Resumo
Apresentada na primeira das teses Sobre o conceito de história (1940)
de Walter Benjamin, a alegoria do jogador de xadrez acompanha a
noção benjaminiana de filosofia da história e sua possibilidade de ser
escovada a contrapelo, para rememorar a expressão do próprio
escritor. Com o intuito de promover a interdisciplinaridade, este
trabalho tem a pretensão de fazer a exposição da primeira das dezoito
teses de Benjamin, apresentando as relações desta tese com a
literatura de Edgar Allan Poe e a influência deste escritor na obra do
filósofo Benjamin. Edgar Allan Poe escreve sobre um autômato
enxadrista muito curioso, programado para vencer todas as partidas,
e que representa o materialismo histórico; o mistério de suas
habilidades se deve à presença da teologia, simbolizada por um anão
escondido dentro da máquina. Benjamin revisita essa invenção para
tratá-la como a possibilidade de reescrita da história dos sujeitos
revolucionários como protagonistas, e não mais como coadjuvantes.
A obra central para o desenvolvimento deste trabalho e seu debate é
Walter Benjamin: aviso de incêndio: uma leitura das teses “Sobre o
conceito de história”, da autoria de Michael Löwy, estudioso do
marxismo reconhecido por seus estudos e relações entre

1 Mestrando do PPGFil da UNIOESTE. O presente trabalho foi realizado com apoio


da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) –
Código de Financiamento 001. E-mail: oscarmensagembrasil@gmail.com
2 Docente do PPGFil da UNIOESTE. E-mail: wfrezzatti@uol.com.br

168
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

materialismo histórico e literatura. As questões que orientarão a


exposição desse trabalho são as seguintes: Quais os papéis da religião
e da alegoria na concepção histórica de Benjamin? Teologia e
materialismo histórico podem juntos transformar a trágica realidade
latino-americana? As discussões a respeito destas indagações são de
fundamental importância para a atualização do debate filosófico em
torno da luta contra a visão da história dos opressores. Para tanto,
haverá a exposição do tema e do problema, além dos objetivos deste
trabalho, permitindo que haja um debate democrático em torno de
questões essenciais à compreensão de assuntos fundamentais para a
compreensão do pensamento e da filosofia de Walter Benjamin.

Palavras-chave
Filosofia. Imaginação. Crítica. História. Alegoria.

Referências
LÖWY, Michael. Walter Benjamin: aviso de incêndio: uma leitura das teses
“Sobre o conceito de história”. Trad. Wanda Nogueira Caldeira Brant,
[tradução das teses] Jeanne Marie Gagnebin, Marcos Lutz Müller. São Paulo:
Boitempo, 2005.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Elementos filosóficos da Ética


Comunitária, de Enrique Dussel

Lucas Tertuliano Alves da Silva 1


Orientador: Rosalvo Schütz 2

Resumo
Em seu livro Ética comunitária, o filósofo Enrique Dussel tematiza a
especificidade da ética comunitária, a partir de seus pressupostos
filosóficos e desafios específicos. Apesar de ser uma obra
marcadamente teológica, defendemos que no texto estão
pressupostos diversos elementos filosóficos fundamentais para uma
compreensão adequada da proposta. No presente texto procuramos
expor quais são esses pressupostos e quais os principais desafios
decorrentes da proposta. Podemos dizer que para o autor’eu existo
para o outro’, o que nos faz perceber um movimento de relações com
o outro e de que é através dessas relações que se iniciam a formar
pequenas comunidades que aos poucos podem ir crescendo e se
fortalecendo. Um dos elementos que contribuem para esse
fortalecimento da comunidade éum “sentimento” que motiva essa
comunidade a se relacionar e conviver. Esse “sentimento”, segundo
Dussel, é o amor. Esse amor comunitário pode ser identificado como
o amor “ágape” ou também conhecido como “amor de justiça”: um
amor que não tem o outro como um meio para um fim individual.
Esse amor, embora “represente” o amor cristão autêntico, pois
indicaria para aquele sentimento constitutivo das primeiras
comunidades cristãs, estaria presente em toda ética comunitária.
Diante desse amor que é fortalecido e ao mesmo tempo em que
fortalece a comunidade pode-se afirmar que fé na comunidade, que
se faz constantemente presente, pode ser compreendida com fé

1 Acadêmico de Filosofia da UNIOESTE: Bolsista PIBIC – Fundação Araucária.


E-mail: lucas.alves12122003@gmail.com
2 Doutor em filosofia e docente da UNIOESTE. E-mail: rosalvoschutz@hotmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

comunitária. E essa fé é que fortalece a comunidade. Mas esta fé não


existe sem a presença do outro, naquilo que o outro chama de “face-
a-face”. Na ausência do face-a-face, tal como apresentadapelo
autor,se inviabiliza o amor e, portanto, pode originar-se a destruição
de uma ética comunitária. É na sua ausência das relações face-a-face
que se torna possível a chamada “dominação” dos mais privilegiados
sobre os menos privilegiados. Sendo assim, o autorapresenta
inúmeras críticas aos sistemas que visam a dominação,
especialmente da dominação material através do maior acúmulo de
bens materiais. Mas, de modo geral, tanto o sofrimento individual,
quanto o enfraquecimento da ética comunitária, se iniciariam na
falta da relação face-a-face com o próximo. É esta indiferença que
viabiliza a dominação, assim como relações de presença ‘face-a-face’
fortalecem e viabilizam a ética comunitária. Quanto mais
indiferentes e distantes as pessoas umas das outras, tanto mais a ética
comunitária tende a se enfraquecer. Sendo assim, é perceptível que a
proposta da ética comunitária busca assegurar que os direitos dos
seres humanos sejam garantidos, sem que alguém possa violar esses
direitos a partir de uma moral de princípios pessoais,
proporcionando assim uma autêntica comunidade do povo para o
povo.

Palavras-chave
Face-a-face. Outro. Vida. Ética comunitária.

Referências
DUSSEL, Enrique. Ética Comunitária. Série III: A libertação na história. Trad.
Jaime Clasen. Petrópolis: Vozes, 1986.

171
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Ensaio sobre a violência política-eleitoral


pela perspectiva existencialista

Gabriela Araújo Fornari 1


Orientadora: Sylvia Mara Pires de Freitas 2
Coorientador: André Barata Nascimento3

Resumo
Este trabalho é um recorte de pesquisa de doutorado que visa
compreender a violência política-eleitoral contemporânea no Brasil.
Abordaremos, portanto, a violência pela perspectiva de Jean-Paul
Sartre (1905-1980), sobretudo nas suas obras Cahiers pour une Morale
(1983) e O Ser e o Nada (1943). Em Cahiers pour une Morale, o autor
faz uma distinção fundamental entre as ideias de força e violência,
considerando o respeito (ou não) às leis do objeto, a intencionalidade
do ato, e a situação em que o ato é realizado. Enquanto força, Sartre
entende como sendo o emprego de certa energia sobre um objeto,
mas respeitando as leis deste; com relação à violência, ele rejeita a
ideia de que seja um “retorno à bestialidade”, por julgar esse
pensamento simplório e improdutivo, e a caracteriza como uma força
aplicada ao objeto que contraria suas leis. Justifica que o projeto de
violência só é encontrado no ser humano, pois implica o valor
atribuído àquilo que se intenciona destruir; portanto, a violência é
uma ação restrita aos indivíduos e, como ato concreto, revela seu
valor (Sartre, 1983; Almeida, 2011). Tendo o indivíduo a intenção de
destruir o mundo pela violência, o sujeito violento nega o tempo,
considerando que, em O Ser e o Nada, Sartre (2008) apresenta que a

1 Doutoranda em Psicologia. Universidade Estadual de Maringá. Bolsista no


Programa de Doutorado Sanduíche pela Fundação Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) na Universidade da Beira
Interior. E-mail: gabifornari.fornari@gmail.com
2 Doutora em Psicologia; Professora Orientadora de Doutorado. Universidade

Estadual de Maringá. E-mail: sylviamara@gmail.com


3 Doutor em Filosofia; Professor Coorientador de Doutorado. Universidade da Beira

Interior. E-mail: abarata@ubi.pt

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

medida do tempo é justamente a da ação que constrói e compõe, e


este sujeito se recusa a compor. A isso se soma a observação que o
autor (1983) faz em Cahiers pour une Morale, de que o sujeito da
violência, por uma lógica imediatista, demonstra pressa para
eliminar os obstáculos que se interpõem entre ele e o objeto que
deseja. Com base nessas considerações preliminares, podemos
exemplificar com os atos violentos no Brasil, em especial aqueles que
ocorreram em “8 de Janeiro” de 2023. Grupos da direita conservadora,
pessoas com interesses políticos e financeiros, entre outras que
apoiavam o Ex-presidente Jair Bolsonaro, diante do fracasso de seus
projetos com a não reeleição deste à Presidência da República,
agiram na tentativa de destruir o Estado democrático de direito.
Essas ações foram materializadas pela depredação das sedes físicas
dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Sartre (2008,
1983) afirma que cada ato faz desvelar seu valor, e no caso da
violência, alude ao valor dado àquilo que visam destruir. No caso em
questão, observamos o parco valor dado à estrutura democrática
nacional. Para além disso, ao intencionar a anulação de uma eleição
legítima, o que visam é a anulação das diferenças e da diversidade
(que são entendidas como passíveis de serem eliminadas). Diante do
exposto, podemos compreender que a intenção do violentador é a de
destruir aquilo que se apresenta como obstáculos ao seu projeto, na
tentativa de ignorar sua facticidade, ainda que esta seja própria da
realidade humana, assim como é notório na filosofia de Sartre
(2008).

Palavras-chave
Violência. Existencialismo. Sartre. Política.

173
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Referências
ALMEIDA, Silvio Luiz. Sartre, Direito e Política. Ontologia, Liberdade e
Revolução. [Tese de Doutorado, Faculdade de Direito da Universidade de São
Paulo]. Biblioteca Digital de Teses da USP. 2011. Disponível em:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2139/tde-19092012-
144850/publico/Tese_Silvio_Luiz_de_Almeida_Integral.pdf.
SARTRE, Jean-Paul. Cahiers pour une Morale. França: Gallimard, 1983.
SARTRE, Jean-Paul. O Ser e O Nada. 16. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

174
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Entre a filosofia e a poética: os sentidos


do corpo em Nietzsche e Fernando Pessoa

Enock O. S. Neto 1

Resumo
Nietzsche utiliza elementos poéticos em seus escritos filosóficos, por
acreditar que o corpo é um elemento fundamental no processo de
afirmação da vida e da superação dos limites existenciais. Enxerga o
corpo como um instrumento potente que deve ser cultivado e
aprimorado para a busca da elevação e da realização plena. Por
valorizar a expressão livre e autêntica dos impulsos e instintos
corporais como forma de afirmar a individualidade e a vitalidade do
ser humano, Nietzsche enxerga o corpo como um instrumento chave
para a afirmação da vida, tanto mais quanto à razão. Essa
compreensão do corpo se dá pelas definições de autocuidado e afeto,
entendidos como a capacidade dos corpos de influenciar e ser afetado
por outros corpos. É possível destacar algumas concepções
alternativas e críticas em Nietzsche em relação ao seu entendimento
de corpo afetivo como multiplicidade de potência, e como o filósofo
percebe a influência da moralidade sobre os corpos, uma vez que
entende que o corpo é uma fonte primordial de valores, impulsos,
desejos e instintos que lutam constantemente para aumentar seu
quantum de força, subordinando outros conjuntos afetivos. Já para
Fernando Pessoa, a perspectiva em relação ao corpo é mais complexa
e fragmentada. Em seus heterônimos, Pessoa interpreta o corpo
como um território de múltiplas identidades e sentimentos. Cada
heterônimo possui sua própria relação com o corpo e suas
particularidades físicas, e Pessoa explora essa questão através de
questionamentos existenciais e da busca por uma identidade
verdadeira. Em suma, o objetivo desta comunicação é entender as

1Graduando em Filosofia e Bolsista FAPESB de Iniciação Científica pela Uneb.


E-mail: en06jp04@gmail.com

175
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

diferentes expressões poético-filosóficas desses pensadores e a


concepção de realidade efetiva, sensível e transgressora como um
processo de transformação e reavaliação, em que não atribuir ao
corpo uma compreensão puramente racional é uma ruptura com a
metafísica tradicional, para em seguida compararmos as suas
semelhanças e como ambos oferecem visões interessantes e
provocativas para uma nova ordem na investigação poético-
filosófica, principalmente naquilo que concerne à abordagem sobre
o corpo.

Palavras-chave
Nietzsche. Fernando Pessoa. Poesia. Filosofia. Corpo.

Referências
BATISTA, Francisco Lobo - Nietzsche e pessoa: um diálogo trágico entre
filosofia e literatura. Francisco Lobo Batista. In: REFilo – Revista digital de
ensino de Filosofia, 2014.
BRANCO, M. J. M; Fernando Pessoa e a arte de jazer a vida. In: Ver. Filos.,
Aurora, v. 22, n. 31, 2010.
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JUNQUEIRA, J. F. P. N., & Pinto, T. V. R. Uma perspectiva comparada entre
Friedrich Nietzsche e Fernando Pessoa: o filósofo poeta e o poeta filósofo. In:
Revista Digital De Ensino De Filosofia – REFilo, v. 7, e9, 2021. Disponível:
https://doi.org/10.5902/2448065765238.
LOPES, Teresa Rita. Pessoa por Conhecer – Textos para um Novo Mapa.
Lisboa: Estampa, 1990.
MARTON, Scarlett. Nietzsche: das forças cósmicas aos valores humanos. 2. ed.
Belo Horizonte: UFMG, 2000.
NIETZSCHE, Friedrich. A gaia ciência. Trad. Antonio Carlos Braga. São Paulo:
Lafonte, 2017a.
NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falou Zaratustra. Trad. Carlos Duarte e Anna
Duarte. São Paulo: Martin Claret, 2014.
NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos Ídolos ou como se filosofa com o
martelo. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia de Bolso, 2017b.

176
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
NIETZSCHE, Friedrich. Ecce Homo: De como a gente se torna o que a gente é.
Trad. Marcelo Backes. Porto Alegre: L&PM, 2017c.
PESSOA, Fernando. O eu profundo e os outros eus: Fernando Pessoa. Seleção
Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
PESSOA, Fernando. Livro do Desassossego: composto por Bernardo Soares,
ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. Org. Richard Zenith. São
Paulo: Companhia das Letras, 2006.
PESSOA, Fernando. Fausto. Tragédia subjetiva (Fragmentos). Lisboa:
Presença, 1988.
PESSOA, Fernando. Páginas Íntimas e de Auto Interpretação. Lisboa: Ática,
1966.
PESSOA, Fernando. Obras em Prosa. Org. Cleonice Benardinelli. Rio de
Janeiro: Nova Aguilar, 1986.
PESSOA, Fernando. Textos de crítica e de intervenção. Lisboa: Ática, 1980.
PESSOA, Fernando. Textos Filosóficos. Vol. I. Lisboa: Ática, 1968.
PESSOA, Fernando. Poemas completos de Alberto Caeiro. Rio de Janeiro: Nova
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PESSOA, Fernando. Poesia completa de Álvaro de Campos. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007.
SEABRA, José Augusto. Fernando Pessoa ou o Poetodrama. São Paulo:
Perspectiva, 1974.
SPINOZA, Benedictus de. Ética. Trad. Tomaz Tadeu. Belo Horizonte:
Autêntica, 2009.
VATTIMO, Gianni. O sujeito e a máscara. Nietzsche e o problema da
libertação. Vozes, 2017.

177
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Ernst Bloch: entre a utopia concreta da redução


da jornada de trabalho e a sua precarização

André Varella Bianeck 1


Orientador: Rosalvo Schütz 2

Resumo
A leitura de Ernst Bloch sobre as condições dos trabalhadores na
primeira fase da Revolução Industrial traz reflexões e comparações
que podem lançar luzes sobre a atual precarização do trabalho na era
digital. Na obra Princípio esperança, volume 2, o autor reflete sob a
perspectiva de sua época, sobre o nível de degradação das condições
humanas nas fábricas têxteis, como por exemplo, a utilização de
crianças a partir dos quatro anos de idade, as condições insalubres e
jornadas de trabalho escorchantes. O sistema capitalista colocava-se
contra qualquer mudança nesse cenário mais cruel que o próprio
sistema feudalista. O autor, a partir desse contexto histórico, expõe
como era inalcançável a ideia de uma jornada de oito horas, embora
fosse objetivamente possível, ou seja, uma utopia concreta. O autor
aponta como até mesmo o tempo livre do trabalhador era utilizado
com propósito único do lucro, significando, primeiramente, uma
simples continuidade da jornada de trabalho, depois uma
recuperação necessária para manter a produtividade e, por fim,
passando a ser reduzido a um momento de preparação para o
trabalho. Até mesmo o lazer, portanto, é instrumentalizado no
sistema capitalista. A pergunta que fica é, porque o tempo livre,
conquistado pela redução da jornada de trabalho, não passou a ser
sinônimo de liberdade e realização humana? Fazendo-se a ponte e
mediações teóricas necessária entre duas épocas, percebe-se
acontecimentos históricos e dinâmicas semelhantes que levam o
Brasil a condições que permitiram a precarização do trabalho pelas

1 Doutorando, UNIOESTE. E-mail: bianeck@gmail.com


2 Doutor e docente da UNIOESTE. E-mail: rosalvoschutz@hotmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

plataformas digitais. Também agora as condições técnicas poderiam


libertar o ser humano dos fardos do trabalho e das extensas jornadas,
mas isso não acontece. O termo uberização tornou-se conhecido
após inúmeros trabalhadores aderirem a empresa Uber sem qualquer
respaldo jurídico trabalhista. Surgem os entregadores por
aplicativos, sendo, em sua maioria, jovens negros periféricos a
pedalar por dezenas de quilômetros, em jornadas de trabalho de 10
horas ou mais, ganhando aproximadamente um salário-mínimo. A
reforma trabalhista, em vez de regular este processo de modo a
proteger o bem-estar, trouxe inúmeras desvantagens ao trabalhador
e aumentou a lucratividade do capital beneficiado pelas formas
precarizadas de trabalho. A flexibilização das leis trabalhistas e o
empobrecimento geral da população foram requisitos necessários e
pensados para a implantação de empresas que exploram o trabalho
sem respeito a dignidade humana, e isso tudo em meio a
desenvolvimentos tecnológicos nunca vistos. Também aqui a
redução da jornada sequer é pautada, já que, teoricamente, é uma
decisão individualizada. A reforma trabalhista, portanto, foi um dos
principais entraves para a realização da utopia concreta da redução
da jornada de trabalho. Entende-se facilmente quais os interesses
que ela representa. A relação entre a exploração do trabalho na
sociedade capitalista, o lazer (tempo livre) ou sua ausência, possui
na realidade brasileira relevância investigativo-utópica e,
certamente, a teoria de Ernst Bloch sobre a questão poderá contribuir
para qualificar o debate. Ao que parece regredimos ao primeiro
significado de tempo livre, tematizado pelo autor em sua época.
Quais seriam os potenciais utópicos e libertários das lutas dos
trabalhadores aliados ao desenvolvimento técnico atual?

Palavras-chave
Jornada de Trabalho. Uberização. Precarização. Reforma trabalhista.
Utopia concreta.

179
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Referências
ABÍLIO, Ludmila Costhek. Uberização: a era do trabalhador just-in-time? In:
Estudos Avançados, v. 34, n. 98, 2020.
ABÍLIO, Ludmila Costhek. Uberização e Juventude Periférica: Desigualdades,
autogerenciamento e novas formas de controle do trabalho. In: Novos estudos
CEBRAP, v. 39, n. 3, 2020.
ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços
na era digital. São Paulo: Boitempo, 2018.
BLOCH, Ernst. Princípio Esperança. Vol. 2. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006.
MENEZES, Mykaelly Moura. Precarização do trabalho do entregador por
aplicativo e a reforma trabalhista brasileira (2017): associações apontadas pela
mídia. Disponível em: https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/43375/
1/DISSERTA%C3%87%C3%83O%20Mykaelly%20Moura%20Menezes.pdf.
Acesso em: 13 out. 2023.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Erotismo, morte, e continuidade do ser em Georges Bataille

Matheus Almeida Lopes 1

Resumo
Única certeza da vida, objeto irresistível e atrativo à filosofia, a morte
é uma das temáticas fundamentais abarcadas pelo pensamento do
teórico francês Georges Bataille, assim como o estudo acerca do
erotismo. O autor conceitua a atividade sexual humana em três tipos,
a saber: o erotismo dos corpos, o erotismo dos corações, e o erotismo
sagrado; o erotismo dos corpos tem o seu ápice na fusão dos corpos
durante o ato sexual, quando dois ou mais seres se fundem num
momento de dissolução dos limites corporais que os definiam. Esse
processo de desagregação é apresentado pelo autor através do
conceito de continuidade do ser; o erotismo dos corações é o
erotismo dos amantes, é perpassado pelos sentimentos de paixão e
arrebatamento, e a continuidade possível está presente nesses afetos
nutridos no outro; o erotismo sagrado ocorre, principalmente,
quando o sagrado se apresenta enquanto continuidade revelada para
aqueles que fixam sua atenção, em um rito, sobre a morte de um ser
isolado. Nesse sentido, agregada a cada categoria há a relação entre
morte e erotismo, abordada através dos conceitos de
descontinuidade e continuidade do ser, apresentando a angústia da
morte enquanto motor do erotismo. Trata-se da morte que revela a
consciência da descontinuidade do ser, bem como do erotismo -
tendo o seu domínio na violação, violência e transgressão -, visando
a continuidade do ser através dos corpos, dos corações e/ou do
sagrado, afinal, o sentido último do erotismo é a fusão, a supressão
do limite. A finalidade do erotismo é a continuidade do ser, conforme
afirma Bataille. Dessa forma, pesquiso a relação entre erotismo e
morte, tendo como referência principal cinco obras: 1) O erotismo; 2)

1Graduando em filosofia. Universidade do Estado da Bahia.


E-mail: lopesalmeida1999@gmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A experiência interior; 3) Teoria da religião; 4) A Literatura e o mal,


ambas de Georges Bataille; e 5) Morte, de José de Anchieta.

Palavras-chave
Continuidade do Ser. Descontinuidade do Ser. Erotismo. Morte.
Transgressão.

Referências
BATAILLE, Georges. As lágrimas de eros. Trad. Aníbal Fernandez. Produção e
etc, 1998.
BATAILLE, Georges. A experiência interior. São Paulo: Ática, 1992.
BATAILLE, Georges. O erotismo. Trad. Fernando Scheibe. 2. ed. Belo
Horizonte: Autêntica, 2021.
BATAILLE, Georges. Teoria da religião: seguida de Esquema de uma história
das religiões. Trad. Fernando Scheibe. Belo horizonte: Autêntica, 2016.
BATAILLE, Georges. A literatura e o mal. São Paulo: L&PM, 1989.
CORRÊA, José de Anchieta. Morte. São Paulo: Globo, 2008.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Essência da natureza humana em Ludwig Feuerbach

Jaqueline Neves Maciel 1


Orientador: Rosalvo Schütz 2

Resumo
O presente trabalho tem por temática a essencialidade da natureza
humana através da teoria de Ludwig Feuerbach, como uma
alternativa de demonstração das características pertinentes a
concepção do ser humano. A bibliografia básica é a obra do autor A
Essência do Cristianismo com foco no primeiro capítulo que trata
diretamente a questão da essencialidade da natureza e trabalhos de
comentadores que tratam sobre o tema. Os argumentos do filósofo
demonstram a aproximação entre o ser humano com o ser divino,
através das diferenças pertinentes com os demais animais da
natureza. É através desta diferenciação que ocorre a justificativa
básica de que o ser humano está inserido na atividade religiosa. O ser
humano, desempenha sua atividade grupal na sua possibilidade de
inserção ao seu grupo e na possibilidade de desempenhar a
observação do grupo de maneira externa. Partindo da aproximação
entre ser humano e deus, Feuerbach visualiza a estrutura de uma
consciência no sentido rigoroso ou universal no envoltório da
especificidade da natureza humana. Diferentemente do processo
humano, os animais desenvolvem uma consciência grupal a partir do
próprio grupo, mas não exercem sua exterioridade para tratar o grupo
como um objeto de percepção. O ser humano, ao possuir essa
estrutura consciente verifica a sua possibilidade de identificação de
sua materialidade, desempenhando a identificação do seu grupo
como um objeto mesmo estando inserido nele. A identificação do
objeto, é a possibilidade de percepção da atividade da consciência.

1 Acadêmica do curso de graduação em Filosofia. Unioeste.


E-mail: jaquuelinineves@gmail.com
2 Professor Associado na Universidade Estadual Do Oeste do Paraná.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Através disso, será desenvolvido os argumentos centrais utilizados


por Feuerbach para a elucidação de como pode ser identificada a
natureza humana e a tentativa de como a religião trabalha com o
processo consciente do ser humano. Uma das dificuldades
apresentadas pelo filósofo, está na necessidade da atividade religiosa
em se contrapor a possiblidade do desenvolvimento racional. Sendo
assim, a essência humana em sua especificidade depende
inteiramente da atividade grupal e através dela que o ser toma
consciência de si como objeto.

Palavras-chave
Feuerbach. Natureza. Essência humana.

Referências
CHAGAS, Eduardo F; REDYSON, Deyve; PAULA, Marcio Gimenes de.
Homem e natureza em Ludwig Feuerbach. Fortaleza: UFC, 2009.
FEUERBACH, Ludwig. A Essência do Cristianismo. Trad. José da Silva
Brandão. Petrópolis: Vozes, 2007.
SOUZA, Draiton Gonzaga de. O ateísmo antropológico de Ludwig Feuerbach.
Dissertação (mestrado) − Porto Alegre, 1993.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Estamira e O anti Édipo

Daniel Du Sagrado1
Orientador: Ester Maria Dreher Heuser2

Resumo
A comunicação a seguir irá apresentar o documentário Estamira
(2004), dirigido por Marcos Prado. Neste documentário, de uma hora
e cinquenta e dois minutos, somos apresentados à Estamira: nascida
em 7 de abril de 1943, abandonada pelo pai, vendida e assediada pelo
avô, traída por seus dois maridos, estuprada duas vezes,
diagnosticada com quadro psicótico de evolução crônica e vítima de
uma tentativa de internamento não-consensual de seu filho. Apesar
disso e dentre outros eventos, Estamira passa a afirmar a imanência
e combater princípios transcendentes tendo a reciclagem por modo
de vida. Em seguida, se estabelecerá relações entre Estamira e a
filosofia de Deleuze e Guattari, em especial O anti-Édipo. Isto
porque, desde nossa perspectiva de leitura, nessa obra também está
implicado, bem como no pensamento de Estamira, um olhar
cuidadoso para a crueldade, para a violência e para os resíduos; assim
como a suspeita de discursos que insistem na defesa e na
possibilidade de construir uma sociedade pacífica e ordeira que a
todo custo se esforça por imprimir uma imagem harmoniosa e
higienizada de sua totalidade. Do longa-metragem, iremos salientar
o aspecto racional ou razoável de Estamira em meio à sua loucura,
ressaltando a capacidade da louca em fazer a teoria daquilo que sente
e, não obstante, criar conceitos. Deste modo, o leitor é convidado a
conhecer não somente quem é Estamira, isto é: qual a sua situação, o

1 Mestrando em Filosofia (PPGFil/UNIOESTE). Graduado em Filosofia –


Licenciatura na mesma instituição. Bolsista CAPES (2023-2025).
E-mail: daniel.daluz@unioeste.br
2 Professora-pesquisadora Associada da UNIOESTE, Campus Toledo (PR), no curso

de Filosofia – Licenciatura, Mestrado e Doutorado (Linha: Ética e Filosofia Política).


E-mail: ester.heuser@gmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

que faz e a que se opõe; mas a conhecê-la em relação ao que é O anti-


Édipo, enquanto constituído pelo seu contexto, além do que faz e a
que se opõe. Deste modo, tratamos da forma de conteúdo desta obra
de filosofia francesa por meio da forma de expressão de uma catadora
de lixo do Rio de Janeiro.

Palavras-chave
Estamira. Deleuze e Guattari. O anti-Édipo. Marcos Prado.

Referências
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia
1. Trad. Luiz B. L. Orlandi. São Paulo: Editora 34, 2010.
PRADO, Marcos. Estamira (2004). Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=-wHISEEXMh4. Acesso em: 10 out. 2023

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Estudo sobre o mecanicismo cartesiano

Caroline de Paula Bueno1

Resumo
René Descartes (1596 –1650) foi considerado o pai do mecanicismo
moderno, tendo ênfase principalmente no método científico
dedutivo, isso fica claro na obra Regras para direção do Espírito (1628)
e também no Discurso do Método (1637). Com isso posto, o objetivo
desse trabalho é apontar os aspectos principais do mecanicismo
cartesiano. Para tanto buscaremos sintetizar os elementos
fundamentais que aparecem no mecanicismo cartesiano, levando em
conta principalmente a perspectiva do corpo no livro O Homem
(1633). Essa mecanização muda a forma de pensar o corpo humano
até então, o corpo passa a ser visto como uma máquina, deixando de
ter qualquer significação mágica; além disso, o corpo visto como
imagem e semelhança divina, típico da tradição judaico-cristã, deixa
de ser o único modelo para ser utilizado como explicação do corpo
humano, um exemplo disso é a obra A Lição de Anatomia do Doutor
Tulp (1632) de Rembrant que traz uma perspectiva de dessacralização
do corpo e como resultante disso ocorre uma grande mudança nas
pesquisas científicas modernas. A pesquisa justifica-se em sua
relevância por seu tema e problema trazerem consigo questões
importantes e certamente muito discutidas em meio aos estudos
cartesianos, tais pontos se revestem de valor já que o pensamento de
Descartes tem exercido uma forte influência na contemporaneidade.
Desse modo, nosso estudo se empenha em estabelecer uma
interlocução não apenas do pensamento de Descartes em diálogo
com toda a tradição filosófica, mas também, entre os atuais
pesquisadores que se interessam em investigar essa questão. A

1Doutoranda em Filosofia na área de Metafísica e Conhecimento do Programa de


Pós Graduação da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Bolsista
CAPES. E-mail: carol_bueno14@hotmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

pesquisa é de natureza teórica apoiada, sobretudo, na consulta às


fontes bibliográficas. Para tanto, o trabalho irá deter-se
fundamentalmente na obra O Homem ou O tratado da luz e algumas
passagens de outras obras. Também serão utilizados, como material
de apoio, textos de comentadores autorizados que tratam das
questões relacionadas ao problema.

Palavras-chave
Descartes. Mecanicismo. Homem. Corpo.

Referências
ANDRADE, Érico. A ciência em Descartes: fábula e certeza. São Paulo: Loyola,
2017.
CANGUILHEM, Georges. Descartes e a técnica. Trad. Lígia Fraga Silveira. In:
Trans/Form/Ação, v. 5, 1982. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0101-
31731982000100010.
DESCARTES, René. Discurso do método; Meditações; objeções e respostas; As
paixões da alma; Cartas. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
DESCARTES, René. O mundo ou Tratado da luz. Trad. César Augusto Battisti.
Campinas: Unicamp, 2009.
DESCARTES, René. Princípios da Filosofia. Trad. João Gama. Lisboa: Edições
70, 1997.
DESCARTES, René. Regras para orientação do espírito. Trad. Maria Ermantina
Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
DICIONÁRIO Oxford Advanced Leaner´s Dictionary. Oxford Univesrsity
Press. Oxford. 1999.
ROSSI, Paolo. O nascimento da ciência moderna na Europa. Bauru: EDUSC,
2001.
SCRIBANO, Emanuela. Guia para leitura das meditações metafísicas de
Descartes. Trad. Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Loyola, 2007.

188
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Ética e estética em “O Mito de Sísifo”, de Albert Camus

Gabriel Leva
Reinaldo Furlan

Resumo
Nosso objetivo é pensar a ética estabelecida por Albert Camus, acerca
do problema do absurdo, em seu primeiro ensaio, O Mito de Sísifo
(1942). Esse primeiro ensaio camusiano trata da fase negativa de seu
projeto — que incluiria ainda a revolta e uma terceira fase, jamais
escrita — cujo objetivo seria responder à pergunta inicial acerca da
manutenção da vida: a legitimidade do suicídio, uma vez constatado
o absurdo. Visamos estabelecer a passagem do sentimento do
absurdo, como afetividade pura, à possibilidade de sua elaboração
por uma espécie de razão lúcida, que constate os limites de uma vida
absurda, como uma nova consciência acerca da vida e da condição
humana. Uma vez que o absurdo nasce do divórcio entre o impulso
humano de compreender o mundo, unificando-o através da
humanidade, e a desrazão do mundo em si, compreendido como
densidade, finitude e gratuidade puras, a lucidez pensada por Camus
produz uma série de consequências éticas que compartilham de uma
mesma estrutura lógica como experimentação estética da existência.
Trata-se de um despertar estabelecido pelo fracasso de um
movimento nostálgico em direção à unidade perdida, que levará o
indivíduo a considerar a supressão da vida com o suicídio, literal ou
filosófico; ou seu restabelecimento, através de uma ética existencial
e a criação de uma vida lúcida capaz de contemplar o universo sem
lhe destituir de suas características essenciais, a saber: sua densidade
e estranheza. Para justifica-la, portanto, é preciso justificar uma vida
absurda, ou seja, é necessário compreender que sua manutenção é
também a manutenção do absurdo. Entre o mundo e a humanidade,
há o absurdo; e nenhum desses polos poderá ser suprimido sem que
os três se desfaçam e a vida se perca. Como modelos absurdos, Camus

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

elege o Don Juan, o conquistador, o ator e o criador, sendo este último


privilegiado em nossa análise da ética camusiana. Todos os modelos
absurdos compartilham a ética da quantidade, baseada na ideia de
que se deve multiplicar aquilo que não se pode unificar, repetir a
essência de nossa própria condição, como o castigo de Sísifo, através
de uma existência estilizada. O criador, por exemplo, representa no
mundo, através de sua inteligência ordenadora, a própria experiência
de uma existência absurda, revelando sua própria condição através
da arte, ou seja, vivendo e criando para nada. Assim, Camus parece
solucionar o problema da manutenção da vida, justificando-a através
da multiplicação daquilo que não se pode unificar, de modo que essa
multiplicação finita, gratuita e sem sentido seja suficiente para
preencher os corações humanos.

Palavras-chave
Albert Camus. Ética. Estética. Suicídio. Arte.

Referências
CAMUS, Albert. Primeiros Cadernos. Lisboa: Livros do Brasil, 1935-1951/Sem
data.
CAMUS, Albert. Tradução da conferência “L’artiste et son temps”, de Albert
Camus. In: Lettres Françaises, v. 14, n. 2, 2014.
CAMUS, Albert. O Mito de Sísifo. 16. ed. Rio de Janeiro: Record, 2019b.
SILVA, Fábio G. Esculpir em argila: Albert Camus - uma estética da existência
[Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
2009].
SILVA, Franklin L. Arte, Subjetividade e História em Sartre e Camus. In:
Revista Olhar, v. 1, n. 3, 2000.

190
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Excedentes culturais: a caixa de tesouros


da humanidade, segundo Ernst Bloch

Rosalvo Schütz 1

Resumo
Para o filósofo Ernst Bloch, mesmo que tenham sido gerados para fins
de dominação e opressão, todos os produtos humanos carregam em
si um potencial que transcende os objetivos instrumentais para os
quais foram criados. O que significa que todos eles contêm em si um
potencial que aponta para além deles mesmos, para a sua
possibilidade de utilização orientada por objetivos e horizontes que
não os da dominação, exploração e opressão. Em diversas passagens
Bloch denomina estes conteúdos utópico-subversivos de excedentes
culturais. A identificação e potencialização desses excedentes é uma
característica constitutiva da sua filosofia e essa postura teórica
parece perpassar o conjunto de sua obra. De fato, em nossa pesquisa
sobre a aproximação entre religião e materialismo, ficou evidenciado
que também aí Bloch não se resigna a fazer uma análise crítica da
função alienante e ideológica da religião: pelo contrário, a classifica
como “caixa de tesouros” possíveis de serem herdados, capazes de
subsidiar potentes processos sociais de emancipação. Ou seja, até
mesmo a religião, ainda que em suas formas mais instrumentais,
desenvolveria em si conteúdos de esperança que transcenderiam a
sua redução e instrumentalização ideológica. Algo muito semelhante
pode ser afirmado, por exemplo, da técnica. No caso, Bloch sugere
que, liberta da interdição burguesa, diversos excedentes culturais da
técnica poderiam ser explicitados de modo a se tornar possível
substituir a técnica da dominação hoje vigente por uma técnica da
aliança com a natureza. Até mesmo em casos extremos como no da
tecnologia que possibilitou a energia e a bomba atômica, Bloch
identifica excedentes culturais capazes de viabilizar um mundo mais

1 Doutor em Filosofia. Docente na UNIOESTE. E-mail: rosalvoschutz@hotmail.com

191
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

humano e uma humanidade mais naturalizada. O mesmo pode ser


dito de várias outras áreas oriundas das mais diversas capacidades
humanas, como Bloch deixa claro em seu Princípio Esperança: arte,
arquitetura, medicina, direito, esporte, festas populares,
movimentos sociais, dentre outros. Inclusive, ao que parece, a
possibilidade de contribuir na reaproximação entre humanidade e
natureza, na perspectiva de construção de um lar (Heimat), parece
ser um dos principais critérios de identificação dos excedentes
culturais. Os conteúdos de esperança presentes nos excedentes
culturais, segundo Ernst Bloch, são caixas de tesouros que podem ser
perscrutados, prospectados, reestreados e mesmo potencializados
pela práxis humana, com ajuda especial das ciências culturais e da
filosofia.

Palavras-chave
Excedente cultural. Esperança. Ciências culturais.

Referências
BLOCH, Ernst. O princípio esperança. Vol. I. Trad. Nélio Schneider. Rio de
Janeiro: EdUERJ: Contraponto, 2005.
BLOCH, Ernst. O princípio esperança. Vol. II. Trad. Werner Fuchs. Rio de
Janeiro: EdUERJ: Contraponto, 2006a.
Bloch, Ernst. O princípio esperança. Vol. III. Trad. Nélio Schneider. Rio de
Janeiro: EdUERJ: Contraponto, 2006.

192
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Filosofia na educação infantil em Matthew Lipman

Larissa Cristina Cordeiro1


Orientadora: Ana Karine Baggio 2

Resumo
Este trabalho se propõe explorar o ensino de filosofia na educação
infantil na perspectiva de Matthew Lipman. Lipman, um filósofo e
educador americano, desenvolveu um projeto no qual reinventa a
forma como encaramos a capacidade de entendimento das crianças
nas suas primeiras formações educacionais. A pesquisa é motivada
por uma questão central: como podemos reorganizar os
fundamentos de como a filosofia é ensinada e adaptar conceitos
complexos de forma a torná-los compreensíveis para crianças? Esta
reorganização dos fundamentos, segundo a visão de Lipman, visa
preservar o pensamento crítico das crianças e desenvolver
habilidades que envolvam a reflexão filosófica desde a infância. Um
dos principais objetivos desta pesquisa é compreender os métodos
eficazes para o ensino de filosofia às crianças. Isso implica não apenas
em adaptar conceitos, mas também em criar estratégias pedagógicas
que estimulem a curiosidade. Além disso, a pesquisa busca explorar
como o ensino de filosofia pode ser vantajoso para o desenvolvimento
infantil de maneiras multidisciplinares, mostrando que a filosofia
pode se integrar a outras disciplinas contribuindo para o
desenvolvimento da escrita, da capacidade de concentração, da
criatividade, do estímulo de raciocínio lógico, entre outras
contribuições, enriquecendo assim a experiência educacional das
crianças. Com base nisso, pretende-se demostrar que a filosofia além
de se integrar com outras disciplinas consegue obter resultados no
desenvolvimento positivo das crianças em qualquer outra atividade

1Integrante bolsista do PET Filosofia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná.


E-mail: larissacordeiroccc@gmail.com.
2 Docente do curso de filosofia. Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

E-mail: ana.braggio@unioeste.br

193
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

que seja proposta. O ensino de filosofia na educação infantil para


Matthew Lipman envolve não somente o entendimento de conceitos,
mas sim a capacidade de promover um desenvolvimento filosófico no
qual estejam presentes a reflexão e o pensamento crítico. Esta
pesquisa será apoiada na obra A Filosofia Vai à Escola de Matthew
Lipman, buscando demonstrar desde uma nova abordagem ao
ensino de filosofia para crianças e seus fundamentos, até questões
práticas que podem colaborar para um plano de educação e uma boa
aplicação do ensino de filosofia na educação infantil.

Palavras-chave
Filosofia. Educação. Criança. Ensino. Fundamentos.

Referências
LIPMAN, Matthew. A filosofia vai à escola. 3. ed. São Paulo: Summus
Editorial, 1990.
SOUZA, Tania Silva de. O ensino de filosofia para crianças na perspectiva de
Matthew Lipman. In: Transformação: Revista de filosofia Unesp, v. 6, n. 2,
2013.
SANTOS, Paulo dos. Filosofia na educação Infantil. In: Revista Santa Rita, v.
15, n. 8, 2013.
ELIAS, Gizele G. Parreira. Matthew Lipman e a Filosofia Para Crianças. 2005.
146 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Filosofia, Universidade Católica de
Goiás, Goiânia, 2005.

194
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Função materna: olhar investigativo


acerca das mães e filhos TEA

Lucilaine Tavares da Silva Anschau 1


Vitória Silva de Almeida 2
Orientadora: Miriam Izolina Padoin Dalla Rosa 3

Resumo
Com esse artigo pretende-se evidenciar que o terreno fecundo para o
estudo do Transtorno de Espectro Autista (TEA) busca compreender
a vivência das mães de crianças com autismo, havendo um forte
indício de sofrimento psíquico por parte das mesmas. Nessa
perspectiva, inúmeros desafios e dificuldades se mostram evidentes,
sobretudo na interface relacionada ao sofrimento psicológico que
demandam da sobrecarga de cuidado inseridas num contexto de
autismo. Em decorrência disso, é necessário ter uma dedicação
incondicional, visto que as mães precisam enfrentar o desconhecido.
Diante dessas reflexões, todo o aporte teórico tem por objetivo lançar
um olhar investigativo acerca das mães e filhos TEA, visto que a
vivência da maternidade faz parte de um novo ciclo da vida de uma
mulher, despertando sentimentos e expectativas com desejo pela
criança saudável e perfeita. A descoberta de um possível diagnóstico
gera impactos nas relações familiares, bem como o medo e as
incertezas habitam frente às exigências dessa nova experiência,
tendo em vista que o cuidar é um processo contínuo com um mundo

1 Acadêmica do 8º período do curso de psicologia da PUCPR – Campus Toledo.


E-mail: lucilainetavares@hotmail.com.
2 Acadêmica do 8º período do curso de psicologia da PUCPR – Campus Toledo.

E-mail: vivisilva00toria@gmail.com
3 Orientadora. Doutoranda em Filosofia pela UNIOESTE/Toledo/PR. Graduada em

Psicologia pela UNIJUÍ. Especialista em Metodologia de Ensino Superior.


Especialista em Psicanálise Clínica e Cultura. Mestre em Educação. Mestre em
Filosofia pela UNIOESTE/Toledo/PR. Docente no Curso de Psicologia e Pós-
graduação em Psicanálise Clínica – de Freud a Lacan, na PUCPR/Toledo/PR.
E-mail: miriam.rosa@pucpr.br

195
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

difícil de decifrar pela frente. Esse estudo consiste numa revisão de


literatura no qual extraímos e recopilamos informações acerca do que
julgamos relevante e necessária à nossa pesquisa. Diante dessas
circunstâncias, selecionamos fontes e referências com enfoque num
tema da atualidade que vem crescendo de forma vertiginosa,
ampliando expressões maternas com intenso sofrimento psíquico
devido às inseguranças, impotências e obrigações. O diagnóstico de
Transtorno de Espectro Autista impacta profundamente a família,
especialmente a mãe, geralmente a principal cuidadora. Nesse
contexto, o exercício da maternidade vem acompanhado de uma
variedade de sentimentos incluindo tristeza, frustração e
inseguranças, além de que desafia essa mãe lidar com questões
complexas relacionadas ao desenvolvimento da criança. As mães
vivenciam um elevado índice de sobrecarga emocional, visto que
acompanham a rotina com demandas que englobam o cuidado da
criança com TEA, extinguindo por vezes o papel social e de se
reconhecer mulher, abdicando sua vida para contribuir com os
cuidados necessários na nova rotina. Nesse cenário, o sofrimento
psíquico se presentifica no cotidiano dessas mães, possibilitando
estágios emocionais variados desde ansiedade até à depressão.
Diante destas considerações é mister destacar que não é somente a
figura da mãe-mulher que está inserida neste contexto, visto que
demais membros fazem parte do círculo familiar que,
necessariamente estão de forma direta ou indireta envolvidos. Em
relação a isso todos precisam estar preparados e comprometidos com
a inserção desta criança com TEA no contexto familiar e social.
Outrossim, a maternidade, por si só, é uma experiência intensa
repleta de nuances e singularidades que desafiam a figura da mãe e
traz à tona a pluralidade de exigências maternas. Nesse interim, é
necessário o aprendizado constante diante deste universo ainda tão
desafiador que, em contrapartida enfrenta uma sociedade a qual
ainda não está preparada para respeitar e acolher a diversidade.

196
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Palavras-chave
Transtorno do Espectro Autista. Função materna. Psicanálise.

Referências
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desafios das mães de criança com Transtorno do Espectro Autista. In: Revista
Brasileira de Filosofia e História, v. 12, n. 1, 2023.
BADINTER, Elisabeth. Um Amor Conquistado: O Mito do Amor Materno. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
BARROS, Á. A. T. de S.; BEZERRA, A. S. L.; MACÊDO, E. S. F.; BRANDÃO, J. T.
de O; CARVALHO, L. P. A. M. de; CARVALHO, L. F. L. de; SILVA, M. C. B. P;
MELO, R. O; BARBOSA, L. D. da C. Difficulties faced by parents in the
treatment of children with autism spectrum disorder. In: Research, Society
and Development, v. 11, n. 9, 2022.
BEZERRA, H. C. de J.; VIEIRA, D. V. M. O sofrimento das famílias frente o
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Brasileira de Educação Inclusiva, 16 a 18 nov. Campina Grande-PB. 2016.
CESPEDES, T. D.; FILHO, C. A. V. A exaustão emocional de mães de crianças
com transtorno do espectro autista (TEA). In: Anais do 2º CONIGRAN -
Congresso Integrado Unigran Capital. Anais...Campo Grande-MS. Unigran
Capital, 2021. Disponível em: https://www.even3.com.br/anais/conigran2021/.
Acesso em: 07 mai. 2023.
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Psicologia e Saúde. v. 12, n. 2, 2020.
DUNKER, Christian Ingo Lenz. Mal-estar, sofrimento e sintoma Releitura da
diagnóstica lacaniana a partir do perspectivismo animista. In: Tempo Social,
revista de sociologia da USP, v. 23, n. 1, 2011. Disponível em: www.scielo.br/
j/ts/a/FgqJHrT6Jt874d7tMMmBDck/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 09
mai. 2023.
DUNKER, Christian Ingo Lenz. NETO, Fuad Kyrillos. A crítica psicanalítica do
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https://www.scielo.br/j/rlpf/a/CqzGb8Lb4yr7P6grYVTMszg/?format=pdf&la
ng=pt. Acesso em: 10 mai. 2023.
FREUD, Anna. O ego e os mecanismos de defesa. Porto Alegre: Artmed, 2006.

197
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
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em: https://autismoerealidade.org.br/2022/09/09/sintomas-de-depressao-
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FREUD. Sigmund. O EU e o ID, “Autobiografia” e outros textos (1923-1925).
Capítulo Negação, Companhia das letras, 10 de junho de 2011.
LACAN, J. (1956-1957/1995). O seminário: livro 4: a relação de objeto. Rio de
Janeiro: Zahar, 1995. (Publicado originalmente em 1956-1957).
MACEDO, M.M.K. FALCÃO, C.N.B. A escuta na Psicanálise e a Psicanálise da
escuta. In: Psychê, ano IX, n. 15, 2005.
MARIANO, Geovana Aparecida Chagas. ROMANHA, Rosane. ANÁLISE DAS
REAÇÕES EMOCIONAIS E COMPORTAMENTAIS EM MÃES DE CRIANÇAS
COM TEA FRENTE AO DIAGNÓSTICO DO SEU FILHO. Unisul, Santa
Catarina, 2019. Disponível em: https://repositorio.animaeducacao.com.br/
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Aparecida%20Chagas%20Mariano.pdf. Acesso em: set. 2023.
MARTINS, Y. Sintomas de depressão em mães de autistas. 2022. Disponível
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OLIVEIRA, Lucimar Brandão. O desejo da mãe a partir do diagnóstico de
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PASCALICCHIO, M. L.; ALCÂNTARA, K. C. G. de M.; PEGORARO, L. F. L.
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ROUDINESCO, Elisabeth. PLON, Michel. Dicionário de psicanálise. Rio de
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SOUSA, Angelica Silva. OLIVEIRA, Guilherme Saramago. ALVES, Laís
Hilário. A pesquisa bibliográfica: princípios e fundamentos. In: Cadernos da
Fucamp, v. 20, n. 43, 2021. Disponível em: https://revistas.fucamp.edu.br/
index.php/cadernos/article/view/2336/1441. Acesso em: mai. 2023

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
TORRES, D. A. O. et al. O sofrimento psíquico em mães de autistas. ANAIS... I
Encontro Brasileiro de Psicanálise e Sedução Generalizada: Sofrimento
Psíquico, Maringá, v. 1, 2012.

199
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

G. Deleuze: movimientos menores


y feminismo movilizantes

Ruben A. Matesan 1

Resumo
La “definición” de “lo menor” en clave política estriba en la
articulación de lo individual en lo inmediato-político y
agenciamiento colectivo de enunciación que se sustrae a todo
proceso de axiomatización. Lo que básicamente, consistiría en una
situación de “estrategia” de borde sin mediación representativa, sin
“Estado” y locaciones estáticas, es decir, instancia inmanente que
crea un pueblo dislocado — un pueblo que falta y que es menester
inventar — pues, no sólo lo individual es político, “todo es político”.
El problema es si acaso la categoría de “lo menor” no resulta
indefectiblemente subsidiaria de un sistema hegemónico omnímodo
y global o, en términos deleuzianos, “lo mayor”. En este sentido,
nuestro objetivo es desplegar analíticamente la noción “lo menor” a
fin de realizar un examen exhaustivo ya que en rigor “sospechamos”
en ella un potencial emancipatorio que a nuestro entender se
estructura en torno a los feminismo(s).

Palavras-chave
“Lo menor”. Política de movimientos fluidos. Feminismo(s).

Referências
BUTLER, Judith. Cuerpos que importan: Sobre los límites materiales y
discursivos del “sexo”. Trad. Alcira Bixio. Buenos Aires, Paidos, 2010.
DELEUZE, Gilles. Conversaciones. Trad. José Luis Pardo. Valencia: Pre-textos,
1996.
DELEUZE, Gilles. Crítica y clínica. Barcelona: Anagrama, 2009.

1Profesor, Licenciado y doctorando en Filosofia. UBA.


E-mail: quelalluviatealivie@gmail.com

200
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
DELEUZE, Gilles. GUATTARI, Félix. Kafka, por una literatura menor. México:
Ediciones Era, 1978.
DELEUZE, Gilles. GUATTARI, Félix. Milles plateaux: capitalism et
schizophrénie. Paris: Les éditions de minuit, 1980.
HARAWAY, Donna. Manifiesto Cyborg: El sueño irónico de un lenguaje
común para las mujeres en el circuito integrado. Trad. Manuel Talens. Buenos
Aires: LS, 1984.
PRECIADO, Paul. Manifiesto contrasexual. Valencia, 2002.

201
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Gilbert Simondon e as possibilidades


educacionais: individuação e técnica

Bruno Leandro Pereira C. Bueno

Resumo
Será aqui exposto se existem e quais são as possibilidades a partir das
quais podem ser investigados problemas filosóficos de cunho
educacional na filosofia de Gilbert Simondon. Para isso, a discussão
partirá dos seguintes questionamentos: existe uma filosofia da
educação simondoniana? Se sim, ela existe de forma direta ou
indireta? Se ela está explícita, como encontrá-la? Se não, como extrai-
la de seu sistema filosófico? Essa extração se dará de forma
homogênea? Tais questões serão introduzidas com uma breve
apresentação do autor e de sua relação com a educação, relação essa
que se deu, como se verá, não apenas no âmbito teórico, mas também
prático. Em seguida, serão abordadas duas vias mediante as quais a
educação pode ser tematizada filosoficamente nessa perspectiva. A
primeira delas terá como norte a tradicional discussão filosófica
entorno da noção de indivíduo, reformulada por Simondon e
entendida aqui como individuação, bem como os pressupostos
centrais dessa perspectiva, a saber, os conceitos de “transdução” e
“informação”. Tais conceitos servirão de síntese dessa complexa e
extensa teoria, na medida em que, após uma breve contextualização
dos mesmos, eles servirão tão somente para ilustrar a possibilidade
(ou não) de investigar os aspectos ontológicos e epistemológicos do
processo educacional. Essa primeira parte será direcionada pela obra
Individuação à Luz das Noções de Forma e Informação. Já o segundo
caminho abordará um outro aspecto central da filosofia
simondoniana, uma vez que introduzirá sua discussão acerca da
relação entre técnica e cultura. Tal discussão terá como objetivo
trazer à tona os aspectos éticos e políticos da educação, pois, ao
apontar as contradições que a relação entre objeto técnico e sujeito

202
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

denota a nível cultural, Simondon permite com que esses problemas


sejam enxergados também no contexto educacional. A obra Modo de
Existência dos Objetos Técnicos e o artigo Prolegômenos para uma
reconstituição do ensino presente na obra Sobre a Técnica
fundamentarão a discussão dessa segunda parte.

Palavras-chave
Educação. Transdução. Informação. Individuação. Objeto técnico.

Referências
OLIVEIRA, D. V. A técnica como modo de existência em Gilbert Simondon:
tecnicidade, alienação e cultura. In: Doispontos, v. 12, n. 1, 2015.
SIMONDON, Gilbert. A Individuação à Luz das Noções de Forma e de
Informação. Trad. Luís Eduardo Ponciano Aragon e Guilherme Ivo. São Paulo:
Editora 34, 2020.
SIMONDON, Gilbert. El modo de existencia de los objetos técnicos. Trad.
Margarita Martínez e Pablo Rodriguez. Buenos Aires: Prometeo Libros, 2007.
SIMONDON, Gilbert. Sobre la Técnica. 2. ed. Trad. Margarita Matínez e Pablo
Rodriguez. Buenos Aires: Cactus, 2017.
VILALTA, Lucas Paolo. Simondon: Uma Introdução em Devir. São Paulo:
Alameda, 2021.

203
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Grounding: um programa possibilista

Samuel Augusto Vezoli 1


Orientador: Robson Ramos dos Reis 2

Resumo
Após um longo período na história da filosofia onde fortes críticas à
metafísica foram estabelecidas, testemunhamos seu retorno às
agendas de debates filosóficos, sobretudo, no campo da assim
chamada metafísica analítica. Uma entre as diversas propostas dessa
nova metafísica é apresentada por Lowe com sua metafísica
possibilista. Buscando recuperar a posição central da metafísica,
Lowe defende que esta é capaz de oferecer respostas às questões
fundamentais da realidade: delimitando o que é possível. Não
podendo isoladamente delimitar o que há, a metafísica é a disciplina
autônoma que delimita possibilidades de estados de coisas (state of
affairs), dependendo da experiência para alcançar qual das
possibilidades é a atual na realidade. Levando em consideração que
o que é atual precisa, primeiramente, ser possível, a experiência por
si não pode determinar completamente o atual (Lowe, 1998). Um dos
resultados dessa proposta é a primazia da metafísica perante as
ciências, dado que essas últimas visam estabelecer a atualidade com
base na experiência. Portanto, a metafísica delimita proposições a
priori sobre possibilidades de estados de coisas, sendo
posteriormente atualizada com suporte da experiência. Uma possível
redescrição de tal proposta metafísica pode ser apresentada através
de uma relação explicativa em termos de grounding (fundação). Essa
se refere a um tipo de relação que se difere de outras mais usualmente

1Graduando em Licenciatura Plena em Filosofia e bolsista de iniciação científica


apoiado pelo programa PIBIC-CNPq. Departamento de Filosofia, Universidade
Federal de Santa Maria. E-mail: samuel.vezoli@acad.ufsm.br
2 Professor titular da Universidade Federal de Santa Maria e doutor pela

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Departamento de Filosofia,


Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: robson.reis@ufsm.br

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

conhecidas, como a relação causal, de modo que podemos admitir


relações de fundação sem a presença de relações causais. Uma análise
viável da noção de fundação pode ser apresentada como um encontro
entre duas distintas perspectivas: (1) o que há em comum em
proposições em que algo é em virtude de outro (por ex., a xícara é
assim em virtude da ligação de certos átomos de certa maneira...), e
(2) relação estruturante entre fenômenos em que um é fundado por
outro fenômeno de nível mais básico (Raven, 2015). Na elucidação de
uma relação em termos de fundação, certas propriedades formais se
apresentam: (1) irreflexividade, (2) assimetria, (3) transitividade (4)
‘well-foundedness’ (estar bem-fundado) e (5) não-monotonicidade,
onde (4) expressa a necessidade do início da cadeia relacional,
impossibilitando o infinitismo, e (5) expressa a dispensabilidade de
fundação arbitrária ou trivial (Raven, 2015). Dado que em uma
relação em termos de grounding a existência de um ente fundado
depende da existência do ente que funda, a noção de dependência
ontológica também está presente. A presente comunicação tem por
objetivo reconstruir a noção de grounding dentro de um programa
metafísico possibilista. Na primeira parte da comunicação se
apresentará o programa possibilista de metafísica, seguido pela
elucidação, na segunda parte, da relação de grounding e sua
aproximação com a proposta de Lowe. Será utilizada,
principalmente, a obra de Lowe (1998), além dos principais
desenvolvimentos da noção de grounding apresentados
majoritariamente por Raven (2015), Tahko (2015) e Schaffer (2009).
Se segue, por fim, que a noção de fundação é crucial em um programa
possibilista através das relações presentes nos diversos estados de
coisas elucidados pela metafísica.

Palavras-chave
Metafísica Possibilista. Explicação Metafísica. Grounding.
Modalidade.

205
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Referências
LOWE, e. J. The possibility of metaphysics: substance, identity and time. New
York: Oxford University Press, 1998.
TAHKO, Tuomas. E. Possibility precedes actuality. Erkenntnis. 2022.
Disponível em: https://doi.org/10.1007/s10670-022-00518-w.
TAHKO, Tuomas. E. An introduction to metametaphysics. Cambridge:
Cambridge University Press, 2015.
SCHAFFER, jonathan. On what grounds what. In: Manley, David, Chalmers,
David J. & Masserman, Ryan. (Eds.). Metametaphysics: new essays on the
foundations of ontology. New York: Oxford University Press, 2009.
RAVEN, Michael J. Ground. Philosophy compass, v. 10, n. 5, 2015.
CORREIA, Fabrice. Ontological dependence. Philosophy compass, v. 3, n. 5,
2008.

206
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Humanismo e democracia no
contexto da formação do cidadão

João Paulo Domingos de Sousa 1


Orientador: Cristiano Bonneau 2

Resumo
De antemão, gostaria de esclarecer que, o título de minha
apresentação Humanismo e democracia no contexto da formação
cidadã é baseada na obra Sem fins lucrativos: por que a democracia
precisa das humanidades, escrito por Martha Nussbaum, filósofa e
professora nos EUA. Essa obra traz consigo o papel fundamental do
ensino das humanidades, entendidas como a exploração da
literatura, filosofia e artes, a fim de construir uma coletividade com
respeito e consideração diante de uma diversidade de seres que
compõem uma democracia. Segundo Nussbaum, a democracia
precisa das humanidades, pois é através desta que o ser humano
desenvolve suas habilidades de raciocinar, para melhor julgar e
escolher; argumentação consistente; pensamentos coerentes, a
empatia; a compassividade; valores que são indissociáveis para a
manutenção da democracia, como também para uma vida com
sentido. Nussbaum chama a atenção para o fato de que a educação
para cidadania está perdendo espaço para um modelo tecnicista de
educação com o objetivo de gerar crescimento econômico em curto
prazo. Nesse tipo de educação, o raciocínio crítico é perigoso, porque
estimula os alunos à liberdade de pensamento e consequentemente
raciocinar criticamente sobre o presente. Nussbaum, analisou dois
países, com respaldo nas figuras de dois grandes educadores, quais
sejam, John Dewey, nos EUA e Tagore, na índia. Para manter as

1 Bacharel em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Pós-graduando em


Filosofia pela Universidade Federal da Paraíba na linha ética e filosofia política.
E-mail: paulo_direito_pb@hotmail.com
2 Doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo.

E-mail: cb@academico.ufpb.br

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

instituições democráticas sólidas, é necessário educar os alunos para


futuros cidadãos com capacidades de raciocinar e fazerem uma boa
escolha. Apesar do mundo contemporâneo não valorizar a educação
para a democracia, mister se faz alertar para as ameaças a mesma,
porque as disciplinas de humanidades tendem a desaparecer pois
não dão lucro. Portanto, temos que insistir no que realmente importa
para a compreensão de si mesmo e do mundo, a fim de criar um
ambiente harmônico, com relações sadias; sólidas; um mundo que
valha a pena viver. Adota-se metodologia exploratória e abordagem
indutivo na investigação do tema proposto, com o objetivo de
ressaltar a importância das humanidades nos currículos do ensino
médio ou das universidades, a fim de manter a democracia viva;
saudável.

Palavras-chave
Educação. Democracia. Humanidades.

Referências
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Coleção Os pensadores. São Paulo: Nova
Cultural, 2017.
NUSSBAUM, Martha C. Sem fins lucrativos: por que a democracia precisa das
humanidades. Tradução Fernando Santos. São Paulo: Martins Fontes, 2015.
NUSSBAUM, Martha C. El cultivo de la humanidade: una defesa clasica de la
reforma en la educación liberal. Barcelona: Paidós Ibérica, 2012.
NUSSBAUM, Martha C. A fragilidade da bondade: fortuna e ética na tragédia e
na filosofia grega. Trad. Ana Aguiar Cotrim. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
MACINTYRE, Alasdair. Depois da virtude: um estudo sobre a teoria moral.
Trad. Jussara Simões. Bauru: EDUSC, 2001.
PLATÃO. Apologia de Sócrates; XENOFONTE. Ditos e feitos memoráveis de
Sócrates. Apologia de Sócrates. Trad. Enrico Corvisieri e Mirtes Coscodai. São
Paulo: Nova Cultural, 2011. (Os Pensadores).

208
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Implicação epistêmica em A essência do cristianismo:


o saber humano como elemento fundamental
no processo de conhecer

Vanusia Carlos Diniz 1

Resumo
Esse artigo busca investigar na obra A essência do cristianismo (1841)
o resgate do homem terreno como condição de distinção entre o
saber e a ilusão e consecutivamente o mais essencial no processo de
conhecer. Ao tratar o homem como ser determinado, terreno, finito,
dependente e existente de/numa natureza sensível, Feuerbach
configura uma direta recusa às doutrinas teológicas de homem. O
homem integral necessita dos conteúdos da natureza a fim de mover
sua existência e sobrevivência. Esse fator nos encaminhou a uma
outra análise: o resgate do homem integral está diretamente ligado a
uma condição também cognitiva. Nesse sentido, o homem não é
mais uma figura meramente subjetiva, de espírito, mas um ser de
existência e necessidades terrenas. Isso nos leva a compreender que
o homem integral é um ser de corpo (natureza) e espírito
(subjetividade) isso permite inferir que, em Feuerbach, todas as
propriedades do homem necessitam ser valorizadas. Ao efetuar o
resgate do homem, Feuerbach propõe superar o rompimento, feito
pela teologia, com a natureza. Assim, para o desenvolvimento desta
pesquisa, faz-se uma pesquisa bibliográfica, sobretudo na obra A
Essência do Cristianismo (1841), para qual é leitura comum a
valorização da natureza enquanto uma instância sensível. Em nossa
análise, ao recusar as doutrinas teológicas de além, alma,
sobrenatural, dentre outras, Feuerbach articula sua proposta
filosófica de compromisso com a verdade, com a realidade e
consecutivamente com o conhecimento. Não por acaso ele atribui à

1Mestre em Filosofia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA).


E-mail: van-diniz@hotmail.com

209
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

fé um caráter de “saber ilusório”. Tomando por base a obra de 1841, é


possível argumentar que, para Feuerbach a “verdade” da teologia é
uma ilusão. Por esse motivo, é necessário substituir a “verdade”
proferida pela fé por uma razão concreta que lhe permita obter o
conhecimento. Nesse sentido, vale salientar uma certa herança do
iluminismo no pensamento de Feuerbach, como assim destacou
Brandão, o qual compreende que “Feuerbach foi um iluminista. Nele
encontramos da maneira mais veemente a valorização do homem
que tem os pés no chão, do homem que está em harmonia com a
natureza da qual sabe ser um produto, mesmo conhecendo as
imperfeições desta natureza, do homem que conhece e crítica a si
mesmo, combatendo suas falhas e aperfeiçoando as suas qualidades;
enfim, do homem que trabalha, ama, cria e transforma. Exatamente
por isso talvez ninguém tenha sido tão avesso quanto ele a expressões
como ‘sobrenatural’ ou ‘supranatural’” (Brandão, 2009, p. 11). Para
Feuerbach a verdade determinada de forma abstrata é recusada, pois
condena quaisquer “afirmações de pretensão transcendental, [...] que
ultrapasse as fronteiras da experiência” (Feuerbach, 2013, p.08).

Palavras-chave
Saber. Ilusão. Conhecimento.

Referências
BRANDÃO, J. S. Apresentação do tradutor. In: FEUERBACH, L. Preleções
sobre a Essência da Religião. Trad. José da Silva Brandão. Pretropóles: Vozes,
2009.
FEUERBACH, L. A. A Essência do Cristianismo. Trad. José da Silva Brandão.
Petrópolis: Vozes, 2013.

210
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Inocência e devir: aspectos do pensamento


nietzschiano sobre a vida humana

Gracy Kelly Bourscheid Pereira 1

Resumo
Esta pesquisa explora a concepção de Nietzsche sobre a inocência
humana. Aproximando as ações do homem e as ações da natureza, o
filósofo expressa um pensamento relevante sobre a ausência de
escolha nas manifestações impulsionais. Diante das interpretações
que atribuem ao homem responsabilidade moral e religiosa por seus
atos, a crítica do filósofo alemão se destaca. Pensa que o homem não
dispõe de vontade livre, mas que os impulsos vitais que constituem o
seu organismo se exercem por necessidade de crescimento e
expansão. Esse organismo vital, disposto por impulsos em
ininterrupta luta por expansão, não é comandado por uma alma
racional. O filósofo explica que não há agente por trás das ações
humanas, mas sim as manifestações dos impulsos agindo
incessantemente. Considerando a vida humana a partir dessa
interpretação, o homem não poderia ser premiado ou castigado por
suas ações. Antagônico aos preceitos morais e religiosos que
atribuem ao homem o peso do livre arbítrio, o filósofo vislumbra a
possibilidade de ver surgir um tipo de homem inocente: um homem
desprendido de concepções metafísicas e de esperanças
ultraterrenas. Liberto da crença no prosseguimento da vida em um
mundo melhor, esse homem não se sentiria pecador por atitudes
avaliadas como ofensivas aos olhos da divindade. Concepções como
as de vida eterna ou sofrimento eterno não fariam mais sentido. Seria
uma legítima libertação do homem de todo o fardo atribuído aos
institutos repressores de culpa e pecado — noções consideradas, pelo
filósofo, como derivadas da crença em Deus como criador e julgador

1Doutoranda em Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná.


E-mail: gkbourscheid@hotmail.com

211
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

de todas as coisas. Esse homem inocente é apontado pelo filósofo


alemão como o homem do futuro, como aquele que resgatará a
inocência do vir-a-ser. Com o intuito de examinar a perspectiva de
Nietzsche a respeito da inocência do homem e investigar se essa
noção constitui uma posição afirmativa diante da vida, analisaremos
alguns trechos de Humano, demasiado humano I e II (1878-80),
Aurora (1881), A gaia ciência (1882) e da Genealogia da Moral (1887).

Palavras-chave
Nietzsche. Inocência. Culpa. Moral cristã.

Referências
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Aurora: Reflexões sobre os preconceitos
morais. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia de Bolso, 2016.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. A gaia ciência. Trad. Paulo César de Souza.
São Paulo: Companhia de Bolso, 2015.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Ecce Homo: Como alguém se torna o que é.
Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia de Bolso, 2008.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Genealogia da moral: Uma polêmica. Trad.
Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Humano, demasiado humano: Um livro para
espíritos livres. Vol. 1. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia de
Bolso, 2017.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Humano, demasiado humano: Um livro para
espíritos livres. Vol. 2. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das
Letras, 2008.

212
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Justiça como equidade e a necessidade


de redistribuição da riqueza

Nelsi Kistemacher Welter 1

Resumo
John Rawls é um filósofo proeminente no meio acadêmico por suas
contribuições político filosóficas contemporâneas, sobretudo por
conta de sua concepção de justiça, a justiça como equidade, que o
pensador apresenta como alternativa às teorias filosóficas vigentes,
incluindo o intuicionismo e o utilitarismo que, de acordo com ele,
não apresentam uma resposta satisfatória ao problema de justiça que
se coloca na atualidade. Embora sua concepção de justiça, assim
como o método contratualista, proposto para a seleção de princípios
de justiça, sejam bastante conhecidos na filosofia política, não
podemos fazer a mesma afirmação em relação à sua concepção de
sociedade ou o modelo de sociedade que poderia dar conta da
aplicação dos princípios da justiça como equidade, correspondendo,
consequentemente, a uma sociedade bem ordenada. Essa temática
parece não ter sido tão claramente explorada pelo pensador norte
americano. Desde os adeptos de seu pensamento, até os críticos mais
importantes, a associação da teoria da justiça como equidade ao
sistema capitalista com a perspectiva do Estado de bem-estar social
(welfare state) ou com o modelo do laissez-faire, foi feita por muito
tempo. Entretanto, o próprio autor se encarregou de lançar luz sobre
essa questão, ao afirmar que tais modelos econômicos clássicos não
são adequados à concretização dos princípios de justiça resultantes
de sua concepção de justiça. No que diz respeito a esse aspecto, o
presente trabalho se propõe a analisar os textos mais recentes de John
Rawls, buscando identificar a perspectiva de sociedade ou o modelo
socioeconômico mais adequado à teoria da justiça como equidade.

1Doutora em Filosofia. Professora na Graduação e no Programa de Pós-Graduação


em Filosofia da UNIOESTE, Campus de Toledo. E-mail: nelsi.welter@unioeste.br

213
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Faz-se fundamental, nesse sentido, a leitura e análise do Prefácio da


edição revisada da obra Uma teoria da justiça, em que o autor
apresenta a democracia de cidadãos proprietários e o socialismo
liberal como os dois sistemas socioeconômicos capazes de viabilizar
sua teoria da justiça. Também é importante, para entender a
perspectiva do autor, a leitura do livro Justiça como equidade: uma
reformulação, mas especificamente a Parte IV, em que Rawls trata das
Instituições de uma estrutura básica justa e onde,
consequentemente, avalia um conjunto de sistemas econômicos e a
possibilidade de adequação ou não desses à teoria da justiça como
equidade. Pretende-se, com isso, aclarar a perspectiva de sociedade
que melhor atende à concepção de justiça desse importante filósofo
contemporâneo a partir dos esclarecimentos do próprio autor.

Palavras-chave
Justiça como Equidade. Princípios de Justiça. Sociedade Bem
Ordenada. Estrutura Básica da Sociedade.

Referências
ALARCON, Sylvio. A dimensão econômica da justiça igualitária: a democracia
de cidadãos-proprietários na teoria da justiça de Rawls. In: Cadernos de Ética
e Filosofia Política, n. 31, 2017. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/
cefp/article/view/133667.
GARGARELLA, Roberto. As teorias da justiça depois de Rawls: um breve
manual de filosofia política. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
RAWLS, John. Justiça como Eqüidade: uma reformulação. Trad. Claudia
Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
RAWLS, John. O liberalismo político. Trad. Álvaro de Vita. São Paulo: Martins
Fontes, 2011.
RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Trad. Jussara Simões. 3. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2008.
WELTER, Nelsi Kistemacher. O conceito de justiça na teoria rawlsiana:
considerações introdutórias. In: Diaphonía, v. 9, n. 2, 2023. Disponível em:
https://e-revista.unioeste.br/index.php/diaphonia/article/view/31231.

214
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Kierkegaard e a espiritualidade como


norteadora da busca existencial do homem

Jeferson H. Oliveira 1

Resumo
Ao analisar o passado da humanidade, percebe-se que a religião e a
espiritualidade são assuntos que auxiliam o homem a dar sentido
para a sua vida, para o seu existir (Bauman, 201; Betano, 2010). A
temática de sentido da vida é algo que permeia a construção das
subjetividades humanas, e estão intimamente ligados com a
estruturação de um projeto de vida e, no caso da religiosidade, uma
possível crença no divino (Alves, 1992). Religião e espiritualidade
direcionam o homem no mundo real e psíquico, estabelecendo um
sentido para sua vida diante da angústia existencial (Angerami, 2002;
Kierkegaard, 2007). Nessa direção, a visão kierkeegaardiana de
homem e de instituição religiosa, associada à teorização de outros
autores, de forma complementar, pauta o presente escrito com a
finalidade de demonstrar, de forma razoável, como a espiritualidade,
e não necessariamente a religiosidade, pode oferecer uma
perspectiva de visão transcendente, para além dos discursos
imperativos religiosos, sociais e institucionais, direcionando os
sujeitos a construir uma subjetividade autêntica (Crubellate, 2012;
Frago, 2009). Sendo assim, busca-se contextualizar tal perspectiva de
reflexão filosófica frente à condição de existência do homem
contemporâneo, o qual tende a vivenciar uma crise de sentido,
envolvendo as relações superficiais, a coisificação do ser, o
consumismo, individualismo e o imediatismo (Candiotto, 2010).
Nesse sentido, fazendo alusão a compreensão kierkeegaardiana de
crítica sobre a religião parte-se da premissa de que, a religião ao longo
da história humana ela foi, e ainda é, um pilar norteador dos seres

1Psicólogo (CRP-08/24575). Discente do 1º ano de Filosofia pela Universidade


Estadual do Oeste Paraná. E-mail: jefersonhugo@hotmail.com

215
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

humanos no voltado a instiga-los a dar um sentido para o viver,


contudo, o fato do homem se prender a rituais religiosos e de forma
dogmática faz com que ele tendencie a se coisificar, desenvolvendo
um achatamento de sua subjetividade delineando um estado de
consciência que é limitado a não mais refletir sobre as coisas, caindo
no pré-determinismo de sua existência (Gema, 2013; Wilges, 2010).
Segundo Kierkegaard, a espiritualidade, no sentido de transcender,
de olhar para além daquilo que está sendo praticado, é o movimento
de se indagar filosoficamente o porquê de uma crença, mesmo
passando pelo instigar da angústia existencial como algo que é
inerente a alma humana e que, direcionando na construção de um
caminho de reflexão possibilitando ao homem construir o seu existir
para além dos ditames institucionais sejam eles religiosos ou não,
tendo uma vida autêntica (Rabelo, 2010). Portanto, a proposta
filosófica kierkeegaardiana no sentido de se contrapor a religiosidade
como único caminho da transcendência da alma humana é
respaldada/referenciada na teorização da passagem bíblica de
Filipenses 2;5-8, e segundo a qual, remete aos primórdios do
cristianismo onde é feito alusão ao movimento do homem na
conexão consigo mesmo e com o divino não estando ligado a
institucionalizações religiosas, colocando o homem numa posição
ativa e não passiva perante a transcendência de sua alma (Bíblia
Sagrada, 1999; Crubelatte, 2012; Juliatto, 2009; Paulo II, 1999).

Palavras-chave
Kierkegaard. Religião. Espiritualidade. Transcendência.

Referências
ALVES, Rubem. O que é religião. 15. ed. São Paulo: Loyola, 1992.
ANGERAMI, V.A. O papel da espiritualidade na prática clínica. In:
ANGERAMI, V.A. Novos rumos na psicologia da saúde. São Paulo: Pioneira
Thomson, 2002.
BAUMAN, Zygmunt; MAY, Tim. Aprendendo a pensar com a sociologia. Rio de
Janeiro: Zahar, 2010.

216
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
BETIANO, Mario Antônio. Religião e religiosidade ontem e hoje. In.
SOLANO, Luiz Alexandre; KUZMA, Rossi e Cesar. (Org). Cultura, religião e
sociedade: um diálogo entre diferentes saberes. Curitiba: Champagnat, 2010.
BÍBLIA SAGRADA. Trad. João Ferreira de Almeida. 2. ed. Barueri: Sociedade
Bíblica do Brasil, 1999.
CANDIOTTO, Cesar. Foucault e a crítica da verdade. Belo Horizonte:
Autêntica; Curitiba: Champagnat, 2010.
CRUBELLATE, João Marcelo; ALMEIDA, Rogério Miranda. Liberdade nos
estágios existenciais Kierkegaardianos. 2012. 147 f. Dissertação (Mestrado) –
Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2012.
FARAGO, France. Compreender Kierkegaard. Trad. Ephraim F. Alves. 2. ed.
Petrópolis: Vozes, 2009.
GEMA, Humberto Lisboa Nonato; PINTO, Rodrigo Hayasi. Kierkegaard e o
percurso existencial nos caminhos da vida. 2013. 73 f. TCC (Filosofia) –
Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Maringá, 2013.
JULIATTO, Clemente Ivo. O Horizonte da educação: sabedoria,
espiritualidade e sentido da vida. Curitiba: Champagnat, 2009.
KIERKEGAARD, Soeren. O Conceito de Angústia. São Paulo: Hemus, 2007.
PAULO II, João (1978). Carta encíclica sobre as relações entre fé e razão. Porto
Alegre: EDIPUCRS, 1999.
RABELO; Fernando F. A fé como pressuposto para uma existência autêntica
em Soren Aabye Kierkegaard. 2010. (TCC) Pontifícia Universidade Católica do
Paraná, Maringá.
WILGES, Irineu. Cultura religiosa: as religiões no mundo. 19. ed. Petrópolis:
Vozes, 2010.

217
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Leibniz e a expressão: uma introdução

João Antônio Ferrer Guimarães 1

Resumo
Constatamos, ao nos debruçarmos sobre o vasto conjunto da obra
leibniziana, que, dentre as inúmeras noções que compõem e
organizam a natureza de seu sistema de mundo, a noção de expressão
emerge como uma das mais importantes chaves para a clarificação e
o entendimento desta realidade tão complexa, a Mônada, que revela
sua noção de substância. Ao abordar a noção de expressão, sob o
prisma de uma interpretação matemática, na qual dois termos
referem um ao outro simetricamente — como, por exemplo, no caso
de uma figura e uma equação —, nosso filósofo introduz na
metafísica moderna uma inovação. Este novo ponto de vista,
manifesta-se na construção de uma conexão precisa entre aquilo ou
aquele que exprime e o que é exprimido. Isto significa que, em seu
sistema de metafísica — sistema no qual toda unidade faz referência
ao todo e se apresenta, simultaneamente como unidade e
multiplicidade dinâmica — passa a existir uma regularidade
correlacional entre dois termos quaisquer proporcionando à razão a
possibilidade de inteligir com precisão as regras que constroem a
totalidade do mundo. Desta forma, nosso objetivo com este trabalho
será o de apresentar de forma introdutória, a partir da elucidação da
noção de substância monádica, uma das mais importantes
contribuições de Leibniz para a interação entre os âmbitos da Física
e da Metafísica: a teoria da “Expressão”. Para isso, faz-se necessário
também elucidar a noção de “força interna”, sem a qual tanto a
compreensão da natureza interna da substância tomada como
unidade e multiplicidade, como a compreensão de sua relação com o
mundo dos agregados, tornam-se obscuras. A noção de “força
interna”, enquanto “enteléquia” ou força metafísica, manifesta, em

1 Doutor. UNIOESTE. E-mail: jaferrerg@yahoo.com.br

218
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

síntese, a arquitetônica de seu sistema com inteligibilidade robusta,


enquanto a “teoria da expressão” pretende ser chave para a superação
da aparente antinomia entre a natureza da substância individual e
sua interação com a infinidade das outras substâncias.

Palavras-chave
Metafísica. Força. Inteligibilidade. Substância. Expressão.

Referências
ARAUJO, S. O problema da expressão leibniziana segundo Fernando Gil. In:
Cultura Revista de História e Teoria das Ideias, v. 35, 2016.
CARDOSO, Adelino. Leibniz segundo a Expressão. Lisboa: Colibri, 1992.
LEIBNIZ, G.W. Discurso de Metafísica e outros Textos. São Paulo, 2004.
LEIBNIZ, G.W. Monadologia. Trad. Adelino Cardoso. Lisboa: Colibri, 2016.

219
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Lembrar é imaginar? Novos caminhos em


filosofia da memória e filosofia da imaginação

Matheus Vinícius Cavalcante 1

Resumo
A presente pesquisa trata da necessidade de uma boa definição de
imaginação para que a atual filosofia da memória desenvolva
melhores caminhos no que diz respeito ao problema da memória
episódica (lembrar episodicamente do próprio passado pessoal) ser,
ou não, o mesmo tipo de estado mental que a imaginação. Tal
problema surge em consequência dos filósofos da memória que se
dedicam ao debate da relação entre memória episódica e imaginação
divergirem em duas posições, o continuísmo e o descontinuísmo. O
continuísmo defende a tese de que imaginação e memória episódica
são o mesmo tipo de estado mental; o descontinuísmo, por sua vez,
argumenta que imaginação e memória episódica não são um mesmo
tipo de estado mental. A discussão se tornou possível após pesquisas
em ciência cognitiva e filosofia da memória considerarem a
possibilidade de entendermos a memória episódica como um
mecanismo construtivo que não possui necessariamente uma relação
causal com a referente percepção do evento/episódio que está sendo
lembrado. Dessa maneira, a lembrança episódica passará a ser
considerada uma viagem no tempo mental (Tulving, 1985) (Tulving,
2002) (Schacter; Wagner; Buckner, 2000) (Addis; Wong; Schacter,
2007) (Addis, 2018). Segundo os continuístas (Michaelian, 2016), sua
posição descreve bem a relação entre memória episódica e
imaginação por estar de acordo com tais pesquisas empíricas, além
disso, se adequa bem à teoria de viagem no tempo mental. Desse
modo, os continuístas defendem que memória episódica e
imaginação são funções de uma mesma estrutura neurocognitiva
dedicada a viajar no tempo mental. Entretanto, Sarah Robins (2020)

1 Doutorando em Filosofia na UFSM. E-mail: matheus.cavalcante@acad.ufsm.br

220
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

condena a antecipada conclusão de Michaelian (2016) ao argumentar


que as evidências empíricas não permitem concluir imediatamente
uma tese continuísta, dado que existe uma pluralidade de programas
empíricos bem-sucedidos e, principalmente, que o descontinuísmo
aceita as mesmas evidências (Robins, 2020). O ponto importante
para a presente discussão é que esses filósofos definem seus
posicionamentos a respeito da relação entre imaginação e memória
episódica a partir das próprias compreensões que possuem de
memória episódica, não levando em consideração a necessidade de
uma boa definição de imaginação e o fato de que o próprio conceito
de memória episódica está em disputa (Robins, 2020) (Dos Santos,
2019). Sustento, assim, que o desenvolvimento do debate sobre a
relação entre memória episódica e imaginação deve passar por uma
extensa investigação conceitual em Filosofia da Imaginação a
respeito do sentido de imaginação que os filósofos da memória estão
reivindicando, considerando, como afirma Amy Kind (2016), a
multiplicidade de sentidos de “imaginação”.

Palavras-chave
Memória Episódica. Imaginação. Filosofia da Memória. Filosofia da
Imaginação.

Referências
ADDIS, D. R. Are episodic memories special? On the sameness of
remembered and imagined event simulation. In: Journal of the Royal Society
of New Zealand, v. 48, n. 2-3, 2018.
ADDIS, D. R.; WONG, A. T.; SCHACTER, D. L. Remembering the past and
imagining the future: Common and distinct neural substrates during event
construction and elaboration. In: Neuropsychologia, v. 45, 2007.
DOS SANTOS, C. S. O debate causalismo versus simulacionismo em filosofia
da memória como negociação metalinguística. In: Perspectiva Filosófica, v. 46,
n. 2, 2019.
KIND, Amy. (Ed.). The Routledge handbook of philosophy of imagination.
Routledge, 2016.

221
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
MICHAELIAN, K. Against Discontinuism: Mental Time Travel and Our
Knowledge of Past and Future Events. In: MICHAELIAN, K.; KLEIN, S. B.;
SZPUNAR, K. K. (Eds). Seeing the Future: Theoretical Perspectives on Future-
Oriented Mental Time Travel. New York: Oxford Academic, 2016.
ROBINS, S. Defending Discontinuism, Naturally. In: Review of Philosophy and
Psychology, v. 11, n. 2, 2020.
SCHACTER, D. L.; WAGNER, A. D.; BUKNER, R. L. Memory systems of 1999.
In: TULVING, E.; CRAIK, F. I. M. (Eds.). The Oxford handbook of memory.
Oxford: Oxford University Press, 2000.
TULVING, E. Elements of Episodic Memory. Oxford: Oxford University Press,
1985.
TULVING, E. Episodic Memory: From Mind to Brain. Annu. In: Rev. Psychol.,
v. 53, 2002.

222
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Lendo e debatendo Stutchka:


para uma filosofia da praxis jurídica

Julio da Silveira Moreira1

Resumo
A obra de Piotr Stutchka (1865-1932) contribui para uma filosofia da
praxis jurídica a ser estudada na atualidade. O problema central
abordado é como ele lidou com os desafios práticos do direito e do
Estado durante a transição socialista, e como sua obra adquire
universalidade para pensar os diferentes usos do direito na
atualidade dos movimentos sociais e dos direitos humanos. Os
objetivos são: (1) analisar a sua contribuição para a filosofia da praxis
jurídica; (2) explorar o contexto histórico em que desenvolveu suas
experiências e escritos; (3) discutir a aplicabilidade de sua obra em
situações políticas e sociais contemporâneas. A obra sobre a qual
baseamos nossa comunicação é O papel revolucionário do direito e do
Estado: teoria geral do direito, em nova edição brasileira
recentemente publicada. Ao longo do século XIX, a abordagem
marxista do direito se pautava em reflexões abstratas e na experiência
dos movimentos de trabalhadores na Europa, o que se compreende
das obras de Marx, A Questão Judaica; O 18 de Brumário de Luís
Bonaparte; Salário, preço e lucro; Crítica do Programa de Gotha; e O
Capital. Stutchka partiu desses acúmulos teóricos, que ainda nem
sequer estavam plenamente formulados, mas já indicavam a
caracterização do direito como um tipo de relações sociais específicas
do modo de produção capitalista, como um instrumento de
conservação do poder das classes dominantes e, por fim, como um
elemento da tática dos movimentos de trabalhadores na luta
revolucionária. Essa diversidade na materialização do jurídico
corresponde a uma diversidade dialética entre forma jurídica

1Doutor em Sociologia (UFG), com estágio pós-doutoral no PPGFil/UNIOESTE em


2021/2022. Professor na UNILA. E-mail: julio.moreira@unila.edu.br

223
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

concreta (as relações sociais de apropriação) e forma jurídica abstrata


(as leis e os processos judiciais). Enquanto a forma concreta atende,
na sociedade capitalista, aos próprios desígnios de perpetuação da
desigualdade e exploração, a forma abstrata fomenta o
normativismo, ou fetichismo da norma jurídica. Os problemas
fundamentais vividos na época, especialmente após a tomada do
poder pelos bolcheviques, consistiram na organização do novo
Estado, nas normas dessa organização e na instituição de sistemas de
justiça adequados ao novo tipo de poder social (poder proletário) que
a experiência socialista propôs. Muitos dilemas surgiram e exigiram
de seus sujeitos a aplicação criativa do marxismo. Eles são dotados de
universalidade, pois permitem a reflexão sobre a crítica ontológica do
direito (sua essência como mecanismo e ideologia auxiliar da ordem
capitalista) e sobre a crítica da praxis jurídica (os usos do direito no
contexto da luta de classes, ora com efeitos conservadores ou
insurgentes). Em experiências recentes da vida político-social do
Brasil, como na luta contra a ditadura militar, e mesmo na atualidade
dos movimentos sociais e dos direitos humanos, a reflexão sobre a
praxis jurídica é fundamental. Como os movimentos e organizações
devem compreender as artimanhas do poder estatal fundadas no
discurso e nas relações jurídicas? Como, por outro lado, esses
movimentos e organizações podem utilizar da defesa jurídica para
avançar em seus propósitos, lutas e reivindicações? São questões que
ocupam permanentemente a vida coletiva, e sobre cujas respostas a
obra de Stutchka tem muito a contribuir.

Palavras-chave
Piotr Stutchka. Revolução Russa. Praxis jurídica. Crítica Marxista do
Direito. Movimentos sociais.

Referências
MOREIRA, Júlio da Silveira. Direito Internacional: para uma crítica marxista.
Toledo: Instituto Quero Saber, 2022.

224
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
PAZELLO, Ricardo Prestes. Direito Insurgente: para uma crítica marxista ao
direito. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2021.
STUTCHKA, Piotr. O papel revolucionário do direito e do Estado: teoria geral
do direito. São Paulo: Contracorrente, 2023.

225
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Liberdade e autenticidade do indivíduo para com seu ‘eu’ e


a educação em busca de uma sociedade menos opressora

Eduardo Adam Siqueira 1


Orientador: Nelsi Kistemacher Welter2

Resumo
A presente pesquisa tem como objetivo analisar a concepção de
liberdade presente na obra Emílio ou Da Educação de Jean-Jacques
Rousseau para, a partir desse conceito, apontar quais são, de fato as
atuais realidades das pessoas transgênero perante o Estado e
sociedade brasileira. Busca-se também, compreender as dificuldades
enfrentadas atualmente por essa comunidade, bem como destacar a
importância da inclusão e representatividade dessas pessoas na
educação, no meio artístico e em cargos políticos. Para atingir esses
objetivos, a pesquisa utiliza os livros III e V da obra Emílio,
justamente por esta obra ser fundamental em cursos de formação de
professores o que, por conseguinte, reflete na compreensão das
pessoas e na construção da sociedade. A obra Pedagogia das
Travestilidades, de Maria Clara Araújo dos Passos, subsidiará a
pesquisa na medida em que contribui para a contextualização da
situação da comunidade transgênero no Brasil e para a compreensão
das dificuldades que enfrentam. Espera-se que esta pesquisa
contribua para uma concepção mais ampla, que abarque todas as
pessoas, destacando como as ideias de Rousseau ainda refletem para
uma educação tradicional e com base no gênero, visto que havia
diferenças no modo como educar Emílio para como educar Sofia, isto
é, no sentido de separar os afazeres das mulheres para os afazeres dos
homens. Além disso, a pesquisa pretende lançar luz sobre as
dificuldades enfrentadas pela comunidade transgênero no Brasil, em

1Graduando em Filosofia na UNIOESTE/Toledo. Bolsista do PET Filosofia/CAPES.


E-mail: eduardo.adam2020@gmail.com
2 Doutora em Filosofia. Docente na Graduação e no Programa de Pós-Graduação

em Filosofia da UNIOESTE/Toledo. E-mail: nelsi.welter@unioeste.br

226
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

especial a evasão escolar precoce, devido à falta de leis e políticas


públicas que as reconheçam e protejam. Outro resultado importante
será enfatizar a importância da ocupação de travestis e pessoas trans
em diversas esferas da sociedade, incluindo a educação, o meio
artístico e a política, como forma de representatividade para as
futuras gerações dessa comunidade. A representatividade, neste
sentido, desempenha um papel fundamental na promoção da
aceitação e na luta contra a discriminação. Por fim, procura-se
conectar a filosofia de Rousseau com questões contemporâneas
relacionadas à identidade de gênero e à igualdade de direitos através
da análise da concepção de liberdade rousseauniana relacionando à
liberdade das pessoas trans. Espera-se contribuir para um debate
mais inclusivo e informado sobre essas questões, bem como para o
reconhecimento da importância de uma educação inclusiva na
construção de uma sociedade mais justa e igualitária, pois, para que
se possa evoluir enquanto sociedade, necessita-se dialogar com
outras disciplinas, que neste caso é a pedagogia, analisando quais
obras ela utiliza como material pedagógico e se essas obras condizem
e incluem as diversas formas de viver nos dias de hoje.

Palavras-chave
Transgeneridade. Educação. Autenticidade.

Referências
ROUSSEAU, J-J. Emílio ou Da Educação. Trad. Sérgio Milliet. São Paulo:
Bertrand Brasil S.A., 1992.
PASSOS, Maria C. A. Pedagogia das Travestilidades. Rio de Janeiro. Civilização
Brasileira, 2022.
PASSOS, Maria C. A. Notas sobre a práxis político-pedagógica do movimento
de travestis e mulheres transexuais no Brasil. Congresso Brasileiro Virtual de
Diversidade Sexual e de Gênero: seguridade, educação, saúde e família –
debates interdisciplinares, 2021.

227
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

“Lucien Fleurier é um grande aspargo”:


o olhar de outrem e a intersubjetividade em Sartre

Thaís de Sá Oliveira 1
Orientador: André Barata Nascimento 2

Resumo
Na fenomenologia, o problema da intersubjetividade é apresentado
na quinta das Meditações cartesianas de Edmund Husserl. Para o
filósofo alemão, perceber os outros é reconhecê-los. É pela
semelhança do meu comportamento corporal e do comportamento
corporal dos outros que eu me reconheço nos outros. Só reconheço o
outro, portanto, por analogia. Nesse trabalho, buscaremos explicitar
a solução dada por Jean-Paul Sartre em sua ontologia
fenomenológica desenvolvida em O ser e o nada: ensaio de ontologia
fenomenológica ao problema da intersubjetividade, colocado por ele
no plano ontológico no intuito de investigar a existência de um modo
de ser do outro, um ser-para-outrem. Para tal, começaremos por
afirmar a vergonha como o fenômeno que torna explícito o ser do
outro, uma vez que que ter vergonha implica a existência de outrem
perante ao qual me envergonho. Através dela, o ser da minha
consciência torna-se objeto do olhar de outrem. Consideramos que,
assim, Sartre revoluciona o problema da intersubjetividade do ponto
de vista relacional, posto que o outro surge como alguém que me
objetiva, sem que eu possa objetivar o seu olhar sobre mim. Desse
modo, Sartre avança em relação a Husserl no que diz respeito a
resolução da intersubjetividade por analogia, pois o fenomenólogo
francês passa a considerar o conhecimento do outro em sua
individualidade, não através do Ego individual. Para compreender
melhor o lugar do olhar na dimensão da intersubjetividade para

1 Doutoranda em Filosofia. Universidade da Beira Interior.


E-mail: psicothaty00@gmail.com.
2 Doutor em Filosofia. Professor e orientador de tese. Universidade da Beira Interior.

E-mail: abarata@ubi.pt

228
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Sartre, utilizaremos uma passagem do conto A infância de um chefe,


presente na coletânea O muro. Acompanharemos o momento em
que o nosso protagonista, depois de ler atrás da porta do banheiro a
frase “Lucien Fleurier é um grande aspargo”, passa a reconhecer-se
como sendo magro e alto. Nesse momento, podemos apreciar como
o olhar de outrem constitui a maneira que Lucien Fleurier se conhece
e se reconhece a partir de como seus colegas da escola lhe objetificam.

Palavras-chave
Intersubjetividade. Olhar de outrem. Lucien Fleurier.

Referências
BARATA, André. O outro e a relação: o contributo das fenomenologias da
intersubjetividade. Phainomenon, n. 16-17, 2008.
BORNHEIM, Gerd A. Sartre: metafísica e existencialismo. São Paulo:
Perspectiva, 1984.
DANTO, Arthur C. As ideias de Sartre. São Paulo: Cultrix, 1975.
MORAVIA, Sergio. Sartre. Lisboa: Edições 70, 1985.
PERDIGÃO, Paulo. Existência e liberdade: uma introdução à filosofia de
Sartre. Porto Alegre: L&PM, 1995.
SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica.
Petrópolis: Vozes, 2008.
SARTRE, Jean-Paul. O muro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Morte Animal e Teodiceia

Gustavo Luis Rossato 1

Resumo
Se Deus é bom, e, cria somente coisas boas, por que existe o mal? Por
que Deus permite que o mal exista? Se um Deus bom não é capaz de
fazer o mal, e, Deus criou todas as coisas, Deus é o autor do mal? São
questões que aterrorizam os judeus — cristãos desde o início de suas
doutrinas. É possível que Deus seja o autor do mal? A este debate,
chamamos de teodiceia. O caráter de Deus é colocado no banco dos
réus e testado pela humanidade. A celeuma acerca da morte animal
pode ser visto como um dos pontos mais nevrálgicos da teodiceia.
Levantar esta questão é questionar o caráter de Deus como criador
em face à mortalidade de suas criaturas. Para Ortlund, o debate está
mais para um componente emocional (Ortlund, 2023, p. 164). Até o
surgimento das teorias evolucionistas, era comum encontrar cristãos
que considerassem a morte animal como ruim, devido à Queda
(Stump, 2017, p. 67-69). No entanto, tal visão passou a ser
questionada dado entendimento de que a morte animal constitui
parte do processo predatório que, por sua vez, compõe a cadeia
alimentar que mantém o ecossistema. A morte animal é um
problema para a teodiceia? Agostinho desponta como filósofo da
natureza, teólogo da criação, e lidou com objeções maniqueístas
quanto aos males que o reino animal pode representar ao homem e à
bondade de Deus. Agostinho enfatizou a bondade e beleza de
criaturas como vermes e pulgas. O filósofo acreditava que na Queda,
os seres humanos contraíram a morte que estava presente no mundo
por meio dos animais (De Genesi ad litteram 11.31.42). Nesse caso,
pelo fato da morte anteceder a Queda humana e, pela afirmação de
Deus da bondade da criação (Gn 1.31), logo, é possível inferir que a

1Graduando do curso de filosofia. Universidade Estadual do Oeste do Paraná


(UNIOESTE). E-mail: gustavorossato200@gmail.com

230
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

morte faz parte da boa criação, não foi o pecado que introduziu a
morte e a doença no mundo. Os maniqueístas de sua época
objetavam a fé ao procurarem falhas nas catástrofes naturais e nas
feras selvagens, mas Agostinho culpou-os por não consideraram
quão admiráveis estas coisas são “em suas próprias naturezas”
(Ortlund, 2023, p. 167). Ou seja, a admirável natureza das coisas
belamente ajustadas no universo, cada coisa em seu lugar devido.
Diante do todo, as catástrofes naturais se revelam um grande bem,
como no caso de que, após um incêndio florestal, a vida ressurge com
o maior e mais intenso impulso vital. A morte animal faz parte deste
todo, do mal que se revela um bem, por apresentar a beleza da
temporalidade da Criação (como as estações do ano). A morte de um
dá lugar a outro; para que outros possam viver, vale a pena morrer, é
parte necessária do mundo. É uma “forma inferior de beleza”, porque
é uma beleza que se revela na temporalidade, na mutabilidade. Sim,
é um tipo inferior de beleza, mas é beleza. É deste modo que os seres
habitam na temporalidade, é assim que se tece a tapeçaria das eras,
esta é a ordem que Deus desejou para o universo, algumas coisas
permanecem, outras, não. Se uma espécie nunca fosse extinta, não
daria lugar a outras, menos espécies seriam criadas, reduzindo a
possibilidade de diversidade entre o reino animal. É deste modo que
as espécies progridem. Deus não desvaloriza os animais. O filósofo
também considera que animais como vermes e carrapatos são bons.
Embora sejam desagradáveis aos homens, eles lá têm a sua beleza. O
pensador valoriza eles como parte do todo e em sua particularidade,
pois, olhando o todo, entendemos o seu propósito particular, um
propósito dado por Deus para cada um deles.

Palavras-chave
Agostinho. Criação. Morte. Beleza.

231
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Referências
AGOSTINHO. Comentário ao Gênesis. Cidade: São Paulo: Paulus, 2005.
ORTLUND, GAVIN. Agostinho e a doutrina da Criação: Uma sabedoria antiga
para uma controvérsia atual. São Paulo: Vida Nova, 2023.
HAM, KEN. Rejoinder. In: STUMP, J.B. (Org.). Four Views on Creation,
evolution, and intelligent design. Cidade: Grand Rapids: Zondervan, 2017.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Nietzsche e La Rochefoucauld: observação


psicológica dos sentimentos morais

Amir S. B. Huda1
Orientador: Wilson Frezzatti 2

Resumo
Em Humano Demasiado Humano (1878), Nietzsche dedica sua
atenção à observação psicológica, isto é, a uma reflexão livre de
preconceitos metafísicos: considerar a moral algo humano,
demasiado humano. A seu juízo, a sociedade do século XIX estava
destituída de profundas reflexões morais, as quais poderiam conferir
aos indivíduos maior “presença de espírito” (Nietzsche, 2005, p. 41).
Mesmo alguém incomum, que tivesse contato com materiais
psicológicos, as chamadas sentenças ou reflexões sobre o espírito, é
provável que possuísse “com eles menos satisfação do que deveria lhe
dar” (Nietzsche, 2005, p. 41). Ao abordar a ausência de prática na
observação psicológica, Nietzsche menciona La Rochefoucauld, um
moralista francês conhecido por suas Reflexões ou Sentenças e
Máximas Morais (1665). Nietzsche o considera um autor que
incorpora uma linguagem sofisticada à sua filosofia, argumentando
que as pessoas teriam dificuldade em compreender essas máximas
morais devido à insensibilidade para essas cortantes e profundas
análises psicológicas. O filósofo alemão sustenta que as conclusões a
que chegam alguns moralistas, como La Rochefoucauld, se mostram
ao mundo com a dupla face que detém os grandes conhecimentos (cf.
Nietzsche, 2005, p. 44). Embora as sentenças do moralista francês
entreguem algo de chocante sobre a humanidade em geral, apesar de

1Graduando em Filosofia. Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE).


Bolsista PIBIC-CNPq 2023-2024. Agradeço ao CNPq e à UNIOESTE pela
possibilidade de realizar a pesquisa com uma bolsa de Iniciação Científica (Processo
145554/2023-6). E-mail: amirsamirhuda@gmail.com
2 Professor Associado de Filosofia. Universidade Estadual do Oeste do Paraná

(UNIOESTE). E-mail: wfrezzatti@uol.com.br

233
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

conseguirem desmascarar, por exemplo, ações desinteressadas,


acertam no ponto “escuro da natureza humana” (Nietzsche, 2005, p.
44). São os tiros de boa mira que interessam aos mestres das
sentenças morais e também a Nietzsche, pois eles revelam, através
da observação psicológica, o pudendum [parte vergonhosa] que os
filósofos evitaram discutir, aquilo que mascaram por meio de
concepções transcendentes que negam a natureza humana. Uma
interpretação incorreta das motivações para a ação leva a uma
fundamentação equivocada sobre a natureza humana. Em suma, ao
adotar as ideias do moralista francês e expandi-las, o autor de
Humano, Demasiado Humano decreta um ofício central para a
presente pesquisa, que consiste em examinar os sentimentos morais,
focando especificamente na compaixão. Exame esse que não
considera a moral como algo divino ou fundamentado
racionalmente, mas uma criação humana dependente dos instintos
e sujeita a mudanças, isto é, o bem e o mal são múltiplos e sua
postulação possui uma história.

Palavras-chave
Observação Psicológica. Reflexões Morais. Natureza Humana.

Referências
LA ROCHEFOUCAULD, François. Reflexões ou sentenças e máximas morais.
Trad. R. F. d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
NIETZSCHE, Friedrich. Humano, Demasiado Humano. Trad. P. C. de Souza.
São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Nietzsche e o Amor

Ana Paula Valer 1


Orientador: Wilson Antonio. Frezzatti Jr. 2

Resumo
Desde os primórdios da humanidade, definir o amor sempre foi um
desafio, por isso tem se discutido incansavelmente seu conceito ou o
melhor conceito a ser atribuído ao amor no sentido amplo da palavra,
aquele que abrangeria todas as formas de amar, desde o amor
platônico não correspondido, inalcançável, nesse ponto
evidentemente nas relações de afeto e desafeto entre homens e
mulheres, ou que trazendo para a contemporaneidade qualquer que
seja o gênero. Nesse sentido e com a plena consciência de que não há
uma definição única para o amor, podendo ser ele sublime, glorioso,
carnal, transcendente, patético, encontramos em Nietzsche suas
nuances tão particulares de ver o amor. Assim sendo e com material
cuja riqueza de detalhes nos traz diversas perspectivas, a ideia é fazer
uma análise a respeito de duas das formas de pensar o amor por
Nietzsche, baseada no artigo Três variações sobre o amor na filosofia
de Nietzsche de Jelson R. de Oliveira: Amor como fruição de si e Amor
como liberdade de tornar-se o que se é. Na primeira concepção, “o
amor depende primeiro de uma capacidade de autocompletude e
autoafirmação: apenas indivíduos plenos de si podem amar. O amor
não é outra coisa que um derramamento, uma espécie de luxo e de
dádiva daquilo que cada indivíduo conquistou por e para si mesmo e
quer partilhar, alegremente, com o outro. Neste caso não há nada de
carência, mas muito pelo contrário, de plenitude. Quanto mais pleno
de si, mais capaz de amar será um indivíduo” (Oliveira, 2020). No

1 Aluna especial do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Filosofia


(UNIOESTE), Graduada em Direito (FASUL). Especialista em Direito Penal e
Processual Penal. E-mail: anavalerpr@gmail.com
2 Doutor em Filosofia. Professor associado de Filosofia da Universidade Estadual do

Oeste do Paraná (UNIOESTE), Campus Toledo. E-mail: wfrezzatti@uol.com.br

235
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

caso do Amor como liberdade de tornar-se o que se é: “A noção


nietzschiana de liberdade está associada à noção de disputa e
combate e à ideia de resistência. O homem livre é o homem do
confronto, que passou por sua própria solidão e alcançou a reverência
por si mesmo. Essa ideia exige que o amor seja compreendido como
liberdade plena para que cada indivíduo se torne aquilo que é...”
(Oliveira, 2020). Em nossa investigação, partiremos das definições
acima e as aprofundaremos com os textos nietzschianos Humano,
demasiado humano ([1878], 2000a), A Gaia Ciência ([1882,1886],
2002) e Crepúsculo do Ídolos ([1888], 2002b).

Palavras-chave
Amor. Amizade. Egoísmo. Posse. Felicidade.

Referências
NIETZSCHE, Friedrich. Humano Demasiado Humano. São Paulo: Companhia
das Letras, 2000a.
NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos Ídolos. São Paulo: Companhia das
Letras, 2000b.
NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. São Paulo: Companhia das Letras,
2002.
OLIVEIRA, Jelson Roberto de. Três variações sobre o amor na filosofia de
Nietzsche. In: Cadernos Nietzche, v. 41, n. 3, 2020.

236
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Nietzsche e os Romanos

Cassiano Lucas Silva Carvalho 1


Orientador: Wilson Frezzatti 2

Resumo
Muito tem-se discutido na pesquisa Nietzsche como um todo a
evidente relação de Nietzsche com a Grécia Antiga, de Tales de
Mileto até Platão. Ora, não é possível afirmar o mesmo quando se
trata da relação de Nietzsche com os romanos. No entanto, quando
consideramos o que o filósofo expõe no capítulo intitulado O que
devo aos antigos presente no Crepúsculo dos Ídolos (1889),
encontramos afirmações do próprio Nietzsche indicando que os
romanos teriam sido mais determinantes que os gregos no que
concerne à constituição de seu estilo. Será neste capítulo também
que Nietzsche reconhecerá a aere perennius romana como um estilo
que teria lhe incutido a ambição de constituir e eternizar seu próprio
projeto filosófico. Por outro lado, quando consideramos
especialmente o que é exposto em Aurora (1881) e no Anticristo
(1888) encontramos Roma sendo utilizada por Nietzsche em sua
crítica à moral cristã. Essa crítica à moral cristã foi também
conduzida pelo filósofo em A Genealogia da Moral (1887), nesta obra,
Nietzsche sustenta a tese de que toda cultura é constituída por duas
classes, trata-se da classe dos senhores e da classe dos servos. A
primeira classe seria responsável por criar e gerenciar os valores da
cultura vigente, a segunda classe, por sua vez, deve seguir e celebrar
tais valores. Vale ressaltar que para o filósofo, tanto na fase trágica da
Grécia antiga quanto em Roma, a classe dos senhores foi potente o
suficiente para construir uma cultura grandiosa e esse teria sido o
principal motivo do sucesso de suas culturas. Entretanto, a partir do

1 Doutorando em Filosofia (UNIOESTE). O presente trabalho foi realizado com


apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) –
Código de Financiamento 001. E-mail: cassianolucassilva@gmail.com
2 Doutor em Filosofia (USP). E-mail: wfrezzatti@uol.com.br

237
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

declínio de Roma e com o triunfo do cristianismo, o filósofo identifica


no cerne das culturas cristãs uma inversão da constituição desse
sistema de classes. Para Nietzsche, no cristianismo são os tipos fracos
de indivíduos que ocupam a classe dos senhores, e, com essa
mudança, a própria fraqueza dos indivíduos fracos será cultivada e
celebrada como se fosse força. Em outras palavras, o que outrora era
considerado bom e forte pela gerência dos indivíduos fortes, agora
será considerado mal e fraco pela gerência dos indivíduos fracos nas
culturas cristãs. Desse modo, Roma e seu legado serão odiosamente
alvejados pelos cristãos como objetos para a sua vingança, o que não
ocorre necessariamente com os gregos. Em suma, todo esse percurso
tem como objetivo responder a seguinte questão: O que Nietzsche
deveria aos romanos?

Palavras-chave
Nietzsche. Romanos. Cultura. Moral. Gregos.

Referências
BENVENHO, Celia Machado. O giro retórico na filosofia do jovem Nietzsche.
2022. Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade Estadual do Oeste do
Paraná, Toledo, 2022.
BORNHEIN, G. Introdução à leitura de Winckelmann. In: WINCKELMANN,
J.J. Reflexões sobre arte antiga. Trad. Herbert Caro e Leonardo Tochtrop. Porto
Alegre: Movimento, 1975.
FREZZATI JR, Wilson Antonio. Nietzsche contra Darwin. São Paulo: Unifesp.
2022.
GONÇALVES, A. Estilo e formação na filosofia do jovem Nietzsche. 2015. Tese
(Doutorado em Filosofia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
NASSER, Eduardo. O Romantismo em Nietzsche enquanto um problema
temporal, estético e ético. v. 2, n. 2, 2009.
NIETZSCHE, F.W. A filosofia na época trágica dos gregos. Trad. R. Filho. São
Paulo: Abril Cultural, 1973. (Os pensadores).
NIETZSCHE, F. W. O nascimento da tragédia, ou Helenismo e pessimismo.
Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

238
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
NIETZSCHE, F. W. A Genealogia da Moral. Trad. Paulo César de Souza. São
Paulo: Companhia das Letras, 1998.
NIETZSCHE, F. W. Cinco prefácios a cinco livros não escritos. Trad. P.
Süssekind. 2. ed. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2000.
NIETZSCHE, F. W. Além do Bem e do Mal: Prelúdio a uma filosofia do futuro.
Trad. Paulo César de Souza. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
NIETZSCHE, F. W. Aurora. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo:
Companhia das Letras, 2004.
NIETZSCHE, F. W. Crepúsculo dos Ídolos. São Paulo: Companhia das Letras,
2006.
NIETZSCHE, F. W. O Anticristo. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007.
NIETZSCHE, F.W. Fragmentos Póstumos (1869-1874). Vol. 1. Trad. L. S.
Guervós. Madrid: Tecnos, 2007.
NIETZSCHE, F.W. Fragmentos póstumos (1875-1882). Trad. Luis E. de
Santiago Guervós. Vol. 2. 2. ed. Madrid: Tecnos, 2008.
NIETZSCHE, F.W. Fragmentos póstumos (1882-1885). Trad. Luis E. de
Santiago Guervós. Vol. 3. 2. ed. Madrid: Tecnos, 2010.
NIETZSCHE, F.W. Fragmentos póstumos (1885-1889). Trad. Luis E. de
Santiago Guervós. Vol. 4. 2. ed. Madrid: Tecnos, 2008.
NIETZSCHE, F.W. Ecce Homo. Trad. P. Souza. São Paulo: Companhia das
Letras, 2008.
NIETZSCHE, F.W. Assim Falou Zaratustra. Trad. Paulo César de Souza. São
Paulo: Companhia das Letras, 2011.
NIETZSCHE, F. W. Obras completas Vol. 1: escritos de juventude. Trad. Joan.
B. Llinares, Diogo Sánchez Meca e Luis E. de Santiago Guervós. Madrid:
Tecnos, 2011.
NIETZSCHE, F. W. Sobre a utilidade e a desvantagem da história para a vida.
Trad. André L. Itaparica. São Paulo: Hedra, 2017.

239
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Novas fronteiras afetivas: relações


humanas na era da inteligência artificial

Giselly Tiago Ribeiro Amado 1

Resumo
Neste estudo, exploramos a complexa relação entre os seres humanos
e a inteligência artificial (IA) sob a perspectiva dos afetos de Spinoza.
Focamos na interação entre humanos e IA examinando como os
afetos desempenham um papel fundamental na compreensão dessas
relações e nas mudanças que elas podem trazer para as vidas das
pessoas. Um ponto de partida importante é o relato de Rosanna
Ramos, que ganhou destaque na mídia por casar com seu
“namorado” criado pela IA Replika. Esta IA foi concebida para
assimilar informações sobre os usuários e facilitar uma comunicação
significativa, oferecendo a oportunidade de estabelecer laços
emocionais com a IA. Considerando que o século XXI é marcado pela
prevalência global da depressão, esse programa foi concebido como
uma das opções terapêuticas para abordar essa condição mental
generalizada. A história do casamento ilustra como a Replika pode
desencadear profundas conexões emocionais e impactar
significativamente a vida das pessoas, revelando a influência dos
afetos nesses relacionamentos. Este estudo baseia-se nas ideias de
Spinoza sobre os afetos, como fenômenos que ocorrem no corpo e na
mente, afetando diretamente nossa capacidade de agir e reagir. Os
afetos podem aumentar ou diminuir nossa potência de agir, ou seja,
nossa habilidade de agir efetivamente no mundo. Ao mesmo tempo,
os afetos estão intrinsicamente ligados às nossas ideias e percepções,
o que também influencia as ideias que temos sobre eles. Os afetos
variam em intensidade e qualidade, desempenhando um papel
central na experiência humana e nas relações. A partir dessa

1Doutoranda em Estudos Linguísticos. Universidade Federal de Uberlândia.


E-mail: gisellyamadoufu@gmail.com

240
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

perspectiva, analisamos as interações entre seres humanos e IA,


explorando como os afetos moldam essas relações e as tornam
significativas. A filosofia de Spinoza nos permite compreender como
a natureza dos afetos e a interconexão entre mente, corpo e emoções
lançam luz sobre as mudanças que estão ocorrendo nas relações
entre humanos e IA na era digital. Essa análise nos ajuda a entender
como a IA Replika, desempenha um papel na promoção do
desenvolvimento humano e no estabelecimento de novas formas de
relacionamento. Ela destaca a importância dos afetos na criação de
laços emocionais e na transformação das relações, que podem
transcender as noções convencionais de amizade e companheirismo.

Palavras-chave
Afetos. IA Replika. Depressão. Transformação de Relacionamentos.
Conexões Emocionais.

Referências
DELEUZE, G. Cursos sobre Spinoza (Vincesses, 1978-1981). Fortaleza:
EdUECE, 2009.
DELEUZE, G. Espinosa: filosofia prática. São Paulo: Escuta, 2002.
DUNKER, C. A hipótese depressiva. In: SAFATLE, V.; SILVA JUNIOR, N. da;
DUNKER, C. I. L. (Orgs.). Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico.
Belo Horizonte: Autêntica, 2020.
DUNKER, C. I. L. Mal-estar, sofrimento e sintoma: uma psicopatologia do
Brasil entre Muros. São Paulo: Boitempo, 2015.
DUNKER, C. I. L. Reinvenção da intimidade: políticas do sofrimento cotidiano.
São Paulo: Ubu, 2017.
HAN, B.-C. Sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes, 2015.
HASHIGUTI, S. T.; AMADO, G. T. R. Práticas de (se)ver e (se)fazer visível na
contemporaneidade: selfies no/do discurso digital. In: REDISCO, v. 10, n. 2,
2016.
KRENAK, A. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

241
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
KUYDA, E. The story of Replika, the AI app that becomes you. In: QUARTZ.
YouTube, 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=yQGqM
VuAk04&t=75s. Acesso em: 13 out. 2023.
MARTINS, A. A primeira ideia verdadeira no TIE: ideia do corpo e ideia-da-
ideia. In: Revista Trágica: estudos de filosofia da imanência, v. 10 n. 3, 2017.
MARTINS, A. Alegrias ativas e alegrias passivas: vivemos e pensamos pelos
afetos. YouTube, 2023. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=
_eR4gTXeyRU&t=2527s. Acesso em: 13 out. 2023.
SPINOZA, B. de. Ética. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

242
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O Brazil não conhece o Brasil:


notas de uma filosofia desde o Brasil

Ana Carolina Noffke 1


Orientador: Ester Maria Dreher Heuser2

Resumo
O tema do qual se ocupa essa comunicação tem como pano de fundo
o conceito de Geofilosofia, apresentado por Deleuze e Guattari em O
que é a Filosofia? (2010), e de como o direito e a validação dos
problemas filosóficos permanece submetida, no Brasil, a uma lógica
colonizada. A partir da apresentação desse conceito, iniciar-se-á pela
colocação de algumas questões pertinentes ao cenário atual da
Filosofia no Brasil, contextualizando-as com um rápido resgate da
história das ideias filosóficas produzidas no país desde a chegada dos
portugueses. Essa contextualização será sintetizada em três tópicos:
a filosofia teleológica que chegou ao Brasil através dos jesuítas,
seguida dos ‘ensaios’ como trama estilista do pensamento filosófico
brasileiro e confluindo na forma que perdura até os dias atuais, de
uma filosofia universitária, ou ‘profissional’ como já dizia Júlio
Cabreira (2013), guiada pela tecnologia do texto. A partir disso,
mostraremos uma perspectiva colonizada da filosofia produzida no
Brasil – provocando a ideia de que o Brazil não conhece o Brasil, como
já dizia Aldir Blanc – apresentando algumas questões lançadas a mais
de 30 anos, que não apenas denunciam essa colonização, como
também abrem caminho para a produção de uma descolonização do
pensamento filosófico brasileiro. A ideia de uma filosofia produzida

1 Doutoranda em Filosofia pelo Programa de Pós-graduação em Filosofia da

Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste – Campus Toledo. Trabalho


realizado com bolsa de apoio financeiro da Capes – Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de nível Superior. E-mail: pindorama.ana@gmail.com
2 Professora-pesquisadora Associada da UNIOESTE, Campus Toledo (PR), no curso

de Filosofia - Licenciatura, Mestrado e Doutorado (Linha: Ética e Filosofia Política).


E-mail: ester.heuser@unioeste.br

243
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

desde o Brasil, colocada por Júlio Cabreira, em Diário de um filósofo


no Brasil (2013), bem como algumas problemáticas elencadas por
Gerd Bornheim no texto Filosofia e realidade nacional (1980), e
aspectos da Crítica da Razão Tupiniquim de Roberto Gomes (1994)
serão algumas de nossas bases textuais para tratar essa temática e o
direito aos problemas. A música Língua, de Caetano Veloso, também
será utilizada para mostrar que essa querela não é cantada apenas por
membros da academia, filósofos e filósofas profissionais. Toda essa
trama será alinhavada à questão colocada por Deleuze e Guattari
acerca do porquê apenas alguns países (ingleses e europeus,
principalmente) foram capazes de produzir filosofia. Por fim,
apresentaremos algumas notas características da ideia de uma
Filosofia Popular Brasileira e de como o plano de pensamento dessa
filosofia ultrapassa, em necessidade, os limites da tradição filosófica
imposta pelo Norte Global, para constituir-se com o Fora da filosofia
considerada ‘profissional’, por meio de alianças com filósofos e não-
filósofos, em busca de potencializar a produção de uma filosofia não
apenas adjetivada, mas substancialmente brasileira.

Palavras-chave
Filosofia Popular Brasileira. Geofilosofia. Descolonização.

Referências
BORNHEIM, Gerd. Filosofia e realidade nacional. In: BORNHEIM, Gerd. O
idiota e o espírito objetivo. Porto Alegre: Globo, 1980.
CABRERA, Julio. Diário de um filósofo no Brasil. 2. Edição. Ijuí: Unijuí, 2013.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? Trad. Bento Prado
Júnior e Alberto Alonzo Muñoz. São Paulo: Editora 34, 2010.
GOMES, Roberto. Crítica da Razão Tupiniquim. 11. ed. São Paulo: FTD, 1994.
(Coleção prazer em conhecer).
SIMAS, Luiz A. Arruaças: uma filosofia popular brasileira. Luiz Antônio
Simas, Luiz Rufino, Rafael Haddock-Lobo. Rio de Janeiro: Radar do Tempo,
2020.

244
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
LOBO, Rafael Haddock. Por que Filosofia Popular Brasileira? In: Cadernos
Humanidades Encantadas: Filosofia popular brasileira. HH Magazine –
Humanidades em Rede. Disponível em: Por que Filosofia popular brasileira? |
HH Magazine. Acesso em: 07 out. 2023.

245
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O capitalismo e sua finalidade enquanto


meio de produção de riquezas materiais

Luiz Felipe Bergmann 1

Resumo
O projeto de estudo sobre o capitalismo e sua finalidade como meio
de produção de riquezas tem como objetivo investigar se o modo de
produção capitalista tem uma finalidade que, uma vez alcançada,
torná-lo-ia superado. Tomaremos como base a obra e de Marx,
especialmente O Capital e a Miséria da Filosofia, e, como textos
auxiliares, O Manifesto Comunista. Marx, ao longo de sua obra,
enfatiza reiteradas vezes que o modo de produção teria que ser
superado, para dar lugar a um novo, e estas manifestações, somadas
às leis Geral da Acumulação Capitalista e da Queda Tendencial da
Taxa de Lucro, permitem concluir que, em tese o modo de produção
tem um limite, e este limite será alcançado quando aquele cumprir a
sua missão histórica, ou a sua finalidade. Esta conclusão é reforçada
quando Marx aponta que a dinâmica de funcionamento do
capitalismo engendra a contradição, fundamental, entre as forças
produtivas e as relações de produção, cuja resolução só pode ocorrer
com a superação do modo de produção. O problema objeto da
investigação é o de investigar se o modo de produção tem uma
finalidade a ser cumprida. As manifestações literais do autor e a
revelação das citadas leis expressariam o ponto de saturação absoluto
do sistema e o consequente alcance de sua finalidade? O objetivo
geral da investigação é, a partir das obras de Marx apontar se o modo
de produção tem uma finalidade histórica e em que momento esta
estaria concluída. Como objetivos específicos apresenta-se os de
apontar, com base na obra de Marx, quais são os principais limites ao
desenvolvimento das forças produtivas e, consequentemente, os do

1Mestre em Filosofia Política pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná,


Campus de Toledo, e doutorando em Filosofia Política na mesma instituição.

246
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

capitalismo, o que pode caracterizar o alcance da finalidade do


sistema. Como justificativa à pesquisa aponta-se a aparente omissão
de Marx sobre os limites ao desenvolvimento das forças produtivas, a
ausência de estudos sobre o tema entre os marxistas, e a constatação,
de cunho impressionista, que o estudo poderá confirmar, ou não, de
que o modo de produção já desenvolveu de forma absoluta a
contradição entre forças produtivas e relações de produção, o que
colocará a questão do cumprimento de sua finalidade e exigindo a sua
superação. A principal hipótese levantada é a de que a exposição do
autor não aponta quais são, em termos absolutos os limites do modo
de produção, o que impediria de concluir pelo alcance de sua
finalidade. Outra hipótese é a de que é possível determinar, tanto os
limites do capitalismo quanto o alcance de sua finalidade. A
metodologia que se adotará é o estudo das obras de Marx,
especialmente aquelas acima apontadas. Servirão de objeto de
estudo também estudiosos marxistas, especialmente os que se
dedicam ao estudo das crises do sistema (Antunes e Benoit, 2016),
pois que a contradição fundamental do capital nada mais é do que a
crise terminal do capitalismo.

Palavras-chave
Capitalismo. Finalidade da produção. Liberdade humana.

Referências
ANTUNES, Jadir. Da possibilidade a realidade: o desenvolvimento dialético
das crises em O Capital de Karl Marx. 2005. Disponível em:
https://repositorio.unicamp.br/acervo/detalhe/350800?guid=1649112711704&r
eturnUrl=%2fresultado%2flistar%3fguid%3d1649112711704%26quantidadePagi
nas%3d1%26codigoRegistro%3d350800%23350800&i=2. Acesso em: 20 jan.
2022.
ANTUNES, Jadir. O Problema da Crise Capitalista em O Capital de Marx.
Jundiaí: Paco, 2016.
ANTUNES, Jadir. Marx e o Fetiche da Mercadoria: contribuição à crítica da
Metafísica. São Paulo: Paco, 2018.

247
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
GERMER, Klaus. As Tendências de Longo Prazo da Economia Capitalista e a
Transição para o Socialismo, 2011. Disponível em: www.researchgate.net/
publication/259391265_GERMER_CM_2011_As_tendencias_de_longo_prazo_
da_economia_capitalista_e_a_transicao_para_o_socialismo.
LUXEMBURG, Rosa. A Acumulação de Capital: contribuição ao estudo
econômico do imperialismo. São Paulo: Nova Cultural, 1985. (Coleção Os
Economistas).
MARX, Karl. Grundrisse der Kritik der Politischen Ökonomie. Europäische
Verlagsanstall Frankfurt. Berlin, 1953. Disponível em: http://gesd.free.fr/
grundd.pdf. Acesso em: 02 fev. 2022.
MARX, Karl. Das Kapital. Karl Marx & Friedrich Engels: Werke (Band 23, 24 e
25). Berlim: Dietz Verlag, 1962.
MARX, Karl. Theorien über den Mehrwert. Marx-Engels: Werke (Band 26.1,
26.2 e 26.3). Berlim: Dietz Verlag, 1967a.
MARX, Karl. Zur Kritik der politischen Ökonomie. Marx-Engels: Werke (Band
43). Berlim: Dietz Verlag, 1967b.
MARX, Karl. Das Kapital. Marx-Engels: Werke (Band 25). Berlim: Dietz
Verlag, 1977.
MARX, Karl. Teorias da Mais-valia. Trad. Reginaldo Sant’Anna. São Paulo:
Difel, 1980.
MARX, Karl. O Capital. Livros I, II e III. Trad. Régis Barbosa e Flávio R. Kothe.
3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988a. (Coleção Os Economistas).
MARX, Karl. Para a Crítica da Economia Política. Trad. Edgard Malagodi. São
Paulo: Nova Cultural, 1988b.
MARX, Karl. Grundrisse. São Paulo: Boitempo, 2011.
MARX, K; ENGELS, F. Cartas sobre O Capital. São Paulo: Expressão Popular,
2020.
MARX, K; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. In: O Manifesto do
Comunista 150 anos depois. São Paulo: Contraponto, 2001.
ROSDOLSKY, Roman. Génesis y Estructura de El Capital de Marx: estudios
sobre los Grundrisse. 5. ed. México: Siglo Veintiuno, 1986.

248
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O conceito de Deus em Spinoza

Jeferson H. Oliveira 1

Resumo
Spinoza foi um filósofo judeu, viveu entre os anos de 1637 e 1677. Em
sua filosofia, mais precisamente na obra Ética, teorizou sobre o
concito de Deus contrapondo-se a concepção antropomórfica, ou
seja, opondo-se a ideia de que Deus tem a semelhança de um
homem/mulher. Ao fazer isso, Spinoza é duramente perseguido e por
fim é excomungado da comunidade judaica de sua época tendo que
se refugiar na Holanda. Para Espinoza, Deus é pura razão e com isso
ele problematiza esse conceito de modo a instigar a refletir sobre um
Deus para além do imaginário dos indivíduos, ou seja, para Spinoza
o homem, cognoscitivamente, vive de forma predominante no
registro da imaginação, tendo ideias inadequadas. Logo, dada essa
condição humana, Deus neste âmbito é um erro, é fruto de pura
imaginação/idealização. Diante disso, Spinoza propõe um conceito
de Deus como não sendo criacionista, ou seja, Deus não é o criador e
sim causa (SPINOZA, 2017). Spinoza renomeia Deus como sendo
Substância que se expressa sob a forma de atributos, e estes, que se
expressam sob a forma de modos. Com esse raciocínio, Espinoza quer
tirar Deus do antropomorfismo, ou seja, que Deus não é e não tem
semelhança humana, e isso desumaniza Deus, criando um Deus
racional (SPINOZA, 2017). Dessa forma, Deus não escolhe, pois não
é dotado de vontade, ele é infinito, sendo assim não há liberdade,
pois, a liberdade é da finitude e esta é temporal, pois, a temporalidade
de Deus é a infinitude (SPINOZA, 2017). Portanto, para Spinoza
Deus/Substância é pura razão expressa sob a forma do pensamento,
logo, o pensamento é infinito e por sua vez é Deus. Ao propor um
Deus não criacionistas Spinoza insere um raciocínio filosófico,

1Psicólogo (CRP-08/24575). Discente do 1º ano de Filosofia pela Universidade


Estadual do Oeste Paraná. E-mail: jefersonhugo@hotmail.com

249
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

segundo o qual, instiga-se o fazer filosofia direcionado a busca de


saber e de conhecer a propriedade das coisas, contrapondo-se a
concepção dogmática de surgimento do mundo, do homem e das
coisas, pois para Spinoza o dogma é a morte da alma.

Palavras-chave
Deus. Substância. Pensamento.

Referências
SPINOZA, Baruch. Ética. 2. ed. São Paulo: Autêntica, 2017. Disponível em:
https://plataforma.bvirtual.com.br. Acesso em: 18 set. 2023.

250
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O covil do maligno: um diálogo entre Kant e o


budismo acerca do mal no comportamento humano

Jeferson Wruck 1

Resumo
Kant defende uma ética deontológica baseada na racionalidade
humana que enfatize a validade de princípios morais que possam ser
aplicados universalmente. O budismo, sistema religioso e filosófico
no qual a discussão ética ocupa papel central, sustenta que sua
doutrina ética é fundamentada na compreensão objetiva da natureza
humana e dos aspectos psicológicos mais básicos da mente. Ora, se
Kant e o budismo afirmam a possibilidade (e necessidade) da
existência de princípios éticos universais que se baseiam em uma
forma de operação mental racional que é comum a todos os homens,
devemos esperar que, caso estejam corretas, essas duas filosofias
deverão se encontrar em algum ponto do caminho que propuseram,
não obstante terem sido gestadas em contextos históricos e culturais
diferentes. O objetivo deste trabalho é realizar uma análise
comparativa do pensamento moral em Kant e nas escrituras budistas
a fim de confrontar seus posicionamentos sobre a origem do mal no
comportamento humano. Nesse diálogo, a obra que representou o
pensamento kantiano foi A Religião nos Limites da Simples Razão,
texto publicado na maturidade do filósofo alemão e no qual dedica-
se especificamente a tratar do mal moral. Quanto ao budismo,
procuramos nos limitar ao contexto do budismo indiano recorrendo
principalmente às coleções de sutras (Sutta Pitaka) do Cânone Páli,
além de autores tais como Nagarjuna e Harivarman, os quais
auxiliaram na elucidação dos conceitos budistas de surgimento
condicionado e ignorância (avijja), respectivamente. Através dessas
fontes é possível perceber que Kant e o budismo concebem que a

1 Bacharel em Jornalismo. Licenciado em História e Filosofia. Mestrando em


Filosofia. Unioeste. E-mail: jeferson.wruck@gmail.com

251
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

existência do mal moral se origina nas ações de indivíduos livres e


racionais que, ao invés de agir de acordo com princípios morais
universais, escolhem agir com base em princípios materiais pautados
pelo apego egoico a si próprios. Ao procurar a raiz do mal o budismo
e Kant a localizam no indivíduo centrado em si mesmo que faz do
amor-próprio o critério que determina suas ações. A primazia dada
ao eu, de acordo com o Buda, é “acompanhada [do desejo por] de
prazer e luxúria” (SN 56: 11) que, alimentado pela ignorância, induz
as pessoas à prática de atos maléficos contaminados pela avidez, ódio
e delusão. Kant diz que “o homem faz dos móbiles do amor de si e
das inclinações deste a condição do seguimento da lei moral” (KANT,
1992, p. 42) sendo essa a causa da “malignidade da natureza humana
ou do coração humano (KANT, 1992, p. 35). Kant e o budismo
afirmam que o mal é sempre uma atitude baseada no livre-arbítrio
do indivíduo, pois para Kant “nada é moralmente (i.e.
imputavelmente) mau, excepto o que é nosso próprio acto” (KANT,
1992, p. 36), e o budismo acredita que só há geração de carma
negativo quando o resultado maléfico do ato já estava presente na
intenção (cetana) do agente (AN III, 63: 415). Enfim, acreditamos que
esse esforço de confrontação contribui para a abertura de um diálogo
franco entre o pensamento ocidental e oriental, o que pode resultar
em benefícios mútuos de aprofundamento filosófico.

Palavras-chave
Mal. Filosofia moral. Ética. Kant. Budismo.

Referências
BUDDHA. The Connected Discourses of the Buddha: a Translation of the
Saṃyutta Nikaya. Trans. Bhikkhu Bodhi. London: Wisdom Publication, 2005.
BUDDHA. The Numerical Discourses of the Buddha: a Translation of the
Aṅ guttara Nikaya. Trans. Bhikkhu Bodhi. London: Wisdom Publications,
2012.

252
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
BUSWELL, R. E. Jr. The Origins of Good and Evil and the Challenge of
Theodicy in the Buddhist Tradition. In: Acta Koreana, v. 22, n. 2, 2019.
Disponível em: https://muse.jhu.edu/article/756403.
CONCEIÇÃO, J. V. C. O problema do mal na Religião nos limites da simples
razão. In: Con-Textos Kantianos. International Journal of Philosophy, n. 7,
2018. Disponível em: https://revistas.ucm.es/index.php/KANT/article/view/
89669/4564456565429
ERHARD, J. B. A apologia do Diabo. Lisboa: Antígona, 2018.
GONÇALVES, R. M.; MONTEIRO, J.; REDYSON, D. Antologia budista. São
Paulo: Fonte, 2015.
KANT, I. A religião nos limites da simples razão. Trad. Artur Morão. Lisboa:
Edições 70, 1992.
KYAGBON, T. Carma, o que é, o que não é, e sua importância. Teresópolis,
Trad. Marco Bochi. Rio de Janeiro: Lúcida Letra, 2019.
NAGARJUNA. Versos fundamentais do Caminho do Meio
(Mulamadhyamakakarika). Trad. Giuseppe Ferraro. Campinas: Phi, 2016.
THERA, N. The roots of good and evil Buddhist. Trans. Nyanaponika Thera.
Kandy, Sri Lanka: Buddhist Publication Society, 1999.

253
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O dissonante como base para a harmonia da esperança

Everton Diego Teles 1


Orientador: Marciano Adilio Spica 2

Resumo
Abordo nesse estudo o seguinte problema: a vida nas sociedades
democráticas parece exigir cada vez mais uma relação, em certo
sentido, harmoniosa entre diferentes formas de vida (numa metáfora
musical), entre os dissonantes ou aqueles que não combinam, seja
parcialmente, seja completamente. A diversidade é um fato que
marca as sociedades ocidentais, especialmente democráticas e se
torna cada vez mais necessário o diálogo entre aqueles que diferem.
Para tratar desse desafio, responde a seguinte questão: é possível uma
harmonia entre aqueles que são dissonantes? Defendo que tal
harmonia não é apenas possível (como se observa de forma análoga
na música 3), como o dissonante parece nos permitir uma espécie de
harmonia que almeja o novo, o inédito 4. Isto é, sustento que há uma

1 Doutorando em filosofia na Universidade Estadual do Oeste do Paraná -


UNIOESTE. E-mail: evoteles@gmail.com. O presente trabalho foi realizado com
apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil
(CAPES) – Código de Financiamento 001.
2 Professor Associado da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO,

Guarapuava, P.R., Brasil, e membro do corpo docente do Programa de Pós-


Graduação em Filosofia da UNIOESTE, Toledo, P.R., Brasil.
E-mail: marciano.spica@gmail.com.
3 Como no Schwanengesang (Canto do Cisne) de Schubert, que personifica a visita

da morte. Schubert leva a sério o perturbador retrato de um homem que descobre


a sua própria loucura. Num determinado ponto da canção (Parte 5), o compositor
evidencia através dos acordes mais dissonantes da peça o choque e o terror daquele
que se reconhece na face do outro.
4 No Prelúdio da tese, “Não esqueça o melhor” tema e variações da sinfonia ética em

o Princípio Esperança de Ernst Bloch (2019), Anna Lorenzoni afirma: “O tapete de


formas orgânicas faz harmonizar uma superfície assentada sob bases não poucas
vezes irregulares, ocultando raízes, fungos, pequenas flores e até mesmo os
vestígios daquilo que ainda poderá surgir” (Lorenzoni, 2019, p.21). A filósofa está
apresentando a ideia de “obscuridade do instante vivido” de Ernest Bloch, a partir
de um cenário imaginário, mais especificamente, uma floresta. Tal passagem me

254
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

espécie de harmonia voltada para aquilo que Ernest Bloch (2006)


chamou de Esperança, porém baseada no dissonante (aquilo que não
combina); tal harmonia do diferente, do plural, centra no melhor
para todos, antecipa o futuro e tende ao novo (novum). Se minha
hipótese estiver certa, a natureza humana manifesta estados
harmônicos dissonantes, mas isso apenas descreve os seres
humanos. Somos assim, ou seja, não é bom, nem ruim, mas uma
questão de fato. Todavia, enquanto coletivo, grupo, comunidade,
sociedade, podemos pensar na possibilidade de haver uma harmonia
entre os diferentes, num sentido importante e talvez necessário para
a realização do sonho de um mundo melhor. Além da tolerância e do
respeito, podemos pensar que a harmonia da Esperança pode
aproximar aqueles que, aparentemente, se consideram
completamente estranhos. Se for plausível minha argumentação,
pretendo concluir que Bloch estaria de acordo com o cultivo de
campos harmônicos entre aqueles que diferem em suas formas de
vida (polifonia do nós somos), pois assim um sinal favorável na
direção de uma utopia concreta (Bloch. 2006, p.27) parece se
evidenciar.

Palavras-chave
Esperança. Utopia. Harmonia da Esperança. Dissonância.

Referências
BECKET. S. Esperando Godot. Trad. Fábio de Souza Andrade. São Paulo: Cosac
Naify, 2005.
BLOCH. E. Spirito dell’utopia [19232]. Trad. Vera Bertolino e Francesco
Coppellotti. Firenze: La Nuova Editrice, 1993.
BLOCH. E. O Princípio Esperança [1959]. Vol. I. Trad. Nélio Schneider. Rio de
Janeiro: EdUERJ: Contraponto, 2006.

inspirou a pensar que a “irregularidade” (dissonância) da vida humana pode ser a


base para uma harmonia do futuro.

255
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
BLOCH. E. O Princípio Esperança [1959]. Vol. II. Trad. Werner Fuchs. Rio de
Janeiro: EdUERJ: Contraponto, 2006.
BLOCH. E. O Princípio Esperança [1959]. Vol. III. Trad. Nélio Schneider. Rio
de Janeiro: EdUERJ: Contraponto, 2005, 2006.
LORENZONI, Anna Maria. Não esqueça o melhor: tema e variações da
sinfonia ética em O Princípio Esperança de Ernst Bloch. 2019. 199 f. Tese
(Doutorado em Filosofia) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná,
Toledo, 2019
PESSOA. F Poesias de Álvaro de Campos. Lisboa: Ática, 1944.
RODRIGUES, Ubiratane de Morais. A estética da pré-aparência (Vor-Schein)
como antecipação transgressiva em Ernst Bloch. 2020. Tese (Doutorado em
Filosofia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2020.

256
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O fenômeno da significatividade em Ser e tempo

Olavo de Salles 1
Orientador: Roberto Kahlmeyer-Mertens

Resumo
Em Ser e tempo Heidegger defende que, se mundo há de ser
interpretado enquanto fenômeno, então temos de concebê-lo a partir
de sua significatividade (Bedeutsamkeit). Isto quer dizer: se mundo
não pode ser confundido com nenhum ente, mas sim como um
fenômeno, abarcante de todo ente que aparece, então sua
determinação mais própria é a significância. Mundo não é nenhuma
coisa encontrável e constatável que aparece, porque é uma estrutura
fenomenal articulante dos significados contextualmente
estabelecidos. Há mundo enquanto um todo significativo, quando há
significatividade. E dado o estatuto ontológico de mundo, isso
implica: as coisas são o que e como são de acordo com a
significatividade. O que Heidegger quer dizer com esse termo, a
significância? Como ela precisa ser interpretada para expor-se com
teor ontológico? O objetivo, o tema e o problema da comunicação
concentram-se em elucidar essa questão. Inicialmente nota-se que
ela só se deixa elucidar se interpretarmos as seguintes teses: 1) a
significância não tem lugar primário no enunciado – não se refere à
“significado” e “significante”. 2) a significância quer indicar a pertença
de mundo ao ente que nós somos, ao ser-aí; 3) radicada no ser-no-
mundo, ela apresenta o fenômeno orientador e possibilitador dos
comportamentos em geral; 4) com o fenômeno da significatividade
Heidegger interpreta de modo amplo (ontológico) a estrutura da
intencionalidade. A comunicação prevê a tematização explicitadora
do que a esses tópicos pertence.

1 Mestrando em Filosofia (PPGFil/UNIOESTE). Graduado em Filosofia –


Licenciatura na mesma instituição. Bolsista CAPES (2022-2024).
E-mail: olavo.salles144@gmail.com

257
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Palavras-chave
Heidegger. Ser e tempo. Mundanidade. Significância.

Referências
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2012a.
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Trad. Fausto Castilho. Campinas:
UNICAMP, 2012b.
HEIDEGGER, Martin. Sein und Zeit. In: Gesamtausgabe 1. Frankfurt am Main:
Vittorio Klostermann, 1978.
HEIDEGGER, Martin. Prolegomena zur Geschichte des Zeitbegriffs. In:
Gesamtausgabe 20. Vittorio Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann, 1979.
FIGAL, G. Martin Heidegger: fenomenologia da liberdade. Trad. Marco
Antonio Casanova. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.

258
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O filósofo na obra Masnavi de Jalal ad-Din Rûmi

André Luis Lira

Resumo
Este resumo faz parte dos estudos desenvolvidas no NUR — Núcleo
de pesquisas em Filosofia Islâmica, Judaica e Oriental da Unifesp, e
tem por finalidade discutir a partir de literatura comparada a
presença do filósofo na obra Masnavi do sábio e místico persa Jalal
ad-Din Rûmi. Rûmi nasceu em 1207 d.C. em Balkh, atualmente
território do Afeganistão. Aos doze anos sua família se muda para
Kônia, atualmente Turquia, onde foi iniciado no sufismo. Seu pai era
membro de uma ordem sufi, a Naghshband, e por isso houve uma
aproximação sua com a mística islâmica desde a infância; na fase
adulta, Rûmi passa por sérias transformações na sua vida e tem um
encontro com o asceta Shams al-Din Tabriz, místico do qual se sabe
pouco até os dias atuais — mas é através desse encontro que o persa
passa a ter experiências extáticas e vira poeta, talvez o maior poeta
místico do Islã. Além disso, Rûmi funda uma escola esotérica, a tarica
Mevlevia, dos “dervixes rodopiantes”, na qual passou-se a incluir a
música e dança como veículos míticos, algo que até então não existia
no Islã. Masnavi está carregada de mensagens e ensinamentos
universalistas sobre amor, desapego, o coração, o uso da razão, etc.,
algo já presente no próprio Tasawwuf (Sufismo), que conta com
contribuições do hinduísmo e do budismo, que nasce e se desenvolve
em regiões helenizadas, cristianizadas e islamizadas, sendo os sufis
influenciados também pelo zoroastrismo, bem como por filósofos,
ascetas e místicos dessas regiões. Embora existam controvérsias
sobre as origens do termo sûfî, para Cecília Cintra Cavaleiro de
Macedo (2019), alguns estudos apontam para a palavra arabe sûf que
significa “lã”, designando as características das vestimentas de lã
grossa que esses ascetas usavam. Por outro lado, se discute a
possibilidade desse termo ter origens gregas da palavra sofos

259
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

aproximando-se de “sabedoria”. Outrossim, há também a derivação


de uma palavra arabe safâ que significa “pureza”. Ainda que não haja
um consenso quanto à origem do termo, estes significados designam
o que o sufismo representa: o desapego, a sabedoria e a pureza. Nessa
linha, Miguel Attie Filho (2002) segue uma interpretação que tem
suas proximidades com o desenvolvimento de doutrinas filosóficas,
como o Uno plotiniano e os pensadores gnósticos da Escola de
Alexandria, e associa o surgimento no próprio termo “mística” nas
obras do pseudo-Dionisio do século V d.C. Ademais, pretendemos
comparar a postura de Rûmi em relação à filosofia, ou conhecimento
racional, e compreendendo a sua proposta de nos levar a um
conhecimento intuitivo através do coração, segundo Mateus Soares
de Azevedo (2020), a baraca (presença espiritual), e que também é
presente no Tasawwuf al-falasifa (mística filosófica). Seus
ensinamentos ficaram muito conhecidos em todo Oriente-Médio,
até a Ásia e no Ocidente, inclusive sendo Masnavi considerada sua
maior obra, chamada de Alcorão persa.

Palavras-chave
Tasawwuf. Intuição. Filósofo. Razão.

Referências
AZEVEDO, Mateus Soares de. Ordens Sufis no Islã: iniciação às confrarias
esotéricas muçulmanas no Irã xiita e no mundo sunita. São Paulo: Polar, 2020.
FILHO, Miguel Attie. Falsafa: a filosofia entre os arabes: uma herança
esquecida. São Paulo: Palas Athena, 2002.
MACEDO, Cecilia Cintra Cavaleiro de. Sufismo e taoísmo: do xamanismo à
formulação filosófica. In: Revista Internacional de Filosofia, v. 10, n. 2, 2019.
RUMI, Jalaludin. Masnavi. Trad. Monica Udler Cromberg e Ana Maria Sarda.
Rio de Janeiro: Dervish, 2001.

260
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O Gabinete de Curiosidades:
entre ciência e Experiência Estética

Ana Carolina Acom 1

Resumo
O Gabinete de Curiosidade, é o local do burlesco, definido por
provocar o assombro através de contrastes entre artefatos, raridades
fabuladas e formas exóticas. Vinculados à estética; aos sentimentos
do belo e do horror, assim como à ciência e aos “descobrimentos”, os
Gabinetes de Maravilhas escreveram a história dos museus. Seus
objetos são provocativos do prazer estético, e ainda assim exercem
funções dadas ao conhecimento, isto é, necessariamente, seus
objetos passam pelo juízo de gosto. Os Gabinetes refletem antigas
explorações e anseios epistemológicos, sua estranheza e curiosidade
intrínsecas carregam uma vasta carga poética. Esta pesquisa, que
investiga o modo de conhecimento associado ao estudo das práticas
do vestir, o Gabinete é como chave de estudo, pois pensá-lo,
juntamente com a experiência estética por ele despertada, oferece
possibilidades para discutir artefatos históricos, como os
relacionados a museus da indumentária; assim como o estranho na
moda contemporânea, por exemplo, no flerte com o grotesco ou com
a morte na moda dos anos 1990 (Evans, 2012), a estética da
decomposição (Afeissa, 2018) e até mesmo uma reflexão sobre o
“monstro” que transborda a beleza no terceiro milênio, em ciborgues
ou transumanos (Haraway, 2009). Diferentes autores pensaram
sobre as possibilidades de uma “cognição estética”, de modos

1Doutora em Sociedade, Cultura e Fronteiras pela Universidade Estadual do Oeste


do Paraná (UNIOESTE), Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Graduada em Filosofia (UFRGS). Docente nas disciplinas de
Filosofia da UNIOESTE, Campus Foz do Iguaçu, e também docente e pós-
doutoranda no Programa Interdisciplinar em Estudos Latino-Americanos da
Universidade Federal da Integração Latino-Americana (PPGIELA/UNILA).
E-mail: ana.acom@unioeste.br

261
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

bastante distintos podemos citar Koyré (2011), Goodman (2006) e


Schopenhauer (2003), contudo, a pesquisa encontra seu caminho
próprio não desconsiderando as teorias apontadas. Pois, durante o
processo, encontrei este conceito situado na junção de ciência e
experiência estética: o Gabinete de Curiosidades. O Gabinete,
antepassado dos museus de ciências e história natural, possui uma
estrutura de microcosmo multidisciplinar. Estes espaços servem
como chave entre conhecimento científico e experiência estética:
para objetos, como artefatos arqueológicos que estão entre o
utilitarismo e alvo de admiração, artefatos vestíveis ou ferramentas
expostas em museus. Os Gabinetes de Curiosidades ou
Wunderkammern (o termo alemão muito utilizado para o gabinete
de artes e prodígios) surgem entre os séculos XVI e XVII oriundos do
interesse pelas coisas extraordinárias. Essas câmaras das maravilhas
reuniam sistematicamente tudo o que deveríamos conhecer, “tendia-
se a colecionar tudo aquilo que soasse extraordinário e inaudito,
inclusive objetos bizarros ou relíquias estupefacientes como um
chifre de unicórnio ou um crocodilo empalhado.” (Eco, 2008, p. 243).
Desse modo, o objetivo desta comunicação é apresentar o Gabinete
para pensarmos sobre a possibilidade cognitiva diante da experiência
estética, pois sabemos que não é no juízo de gosto que se faz ciência
(Kant, 2012), mas é na própria sujeição dos objetos ao sentimento que
origina esse juízo que se inicia as condições para os estudos dos
objetos da beleza, espanto ou horror. Assim, ainda que do assombro
desperte o desejo do saber, como é possível uma ciência do que causa
estranhamento? A experiência estética não dá conta do quesito
objetividade, mas a potência estética é inseparável do objeto, caso
onde o pesquisador deve lidar com ambos os conteúdos, matéria
sensível e inteligível. Por consequência, na pesquisa em história da
arte ou com os artefatos vestíveis: não podemos dissociar a
materialidade das obras de sua provocação estética.

262
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Palavras-chave
Gabinete de Curiosidades. Experiência Estética. Ciência. Artefatos.

Referências
AFEISSA, Hicham-Stéphane. Esthétique de la Charogne. Bellevaux: Dehors,
2018.
ECO, Umberto. História da Feiura. Rio de Janeiro: Record, 2008.
EVANS, Caroline. Fashion at the edge: spetacle, modernity & deathliness. Yale
University Press/New Haven and London: 2012.
GOODMAN, Nelson. Linguagens da Arte: Uma abordagem a uma teoria dos
símbolos. Lisboa: Gradiva, 2006.
HARAWAY, Donna J. Manifesto ciborgue: Ciência, tecnologia e feminismo-
socialista no final do século XX. In: TADEU, Tomaz. (Org.). Antropologia do
ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
KANT, Immanuel. Crítica da Faculdade do Juízo. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2012.
KOYRÉ, Alexandre. Estudos de história do pensamento científico. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2011.
SCHOPENHAUER, Arthur. Metafísica do Belo. São Paulo: UNESP, 2003.

263
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O historicismo de Wilhelm Dilthey em contraponto à


concepção positivista sobre o estudo da humanidade

Vanessa Henning 1

Resumo
O presente trabalho aponta as visões positivista e historicista sobre a
humanidade, com o objetivo de mostrar a crítica do historicismo,
sobretudo, o de Wilhelm Dilthey à concepção positivista. Para esse
pensador, é impossível estudar os fenômenos interiores ao homem a
partir da aplicação do mesmo método utilizado pelas ciências
naturais, tal como era defendido pelo positivismo de Auguste Comte.
A visão positivista impede de olhar para um fator importante no que
diz respeito ao ser humano, que é a sua vivência, isto é, a vida
humana. Isso porque ela é particular e influenciada pelo contexto
histórico. Para Dilthey, a ação das ciências abstrativas sobre os
elementos humanos os torna decompostos, com seus horizontes
assolados, compreendendo esse fenômeno um processo de
“desvivificação”. Dilthey entende que a vida humana deve ser
compreendida de modo diferente da forma como os objetos das
ciências da natureza são explicados. Sobre esse aspecto, veremos que
o filósofo, ao propor um método próprio às ciências humanas, ou,
como ele as denomina, as “ciências do espírito”, defende que este
método deve se basear na efetivação da razão histórica. A concepção
de razão histórica constitui fazer uma crítica histórica da própria
razão, buscando entender que não há noções universais que possam
valer para todos os seres humanos e nações. Assim, uma vez que não
há noções e valores universais apriorísticos, isso significa que todo
fenômeno histórico é finito, desvelando a consciência histórica da
finitude de toda situação humana ou social. O que o historicismo de
Dilthey faz é buscar um equilíbrio entre a contingência do mundo

1Doutoranda em Filosofia pela Unioeste – Campus de Toledo.


E-mail: nessahen@gmail.com

264
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

histórico e a consolidação do aspecto universal e objetivo do método


das ciências humanas, método esse pautado na hermenêutica. A
obtenção do conhecimento mediante o método hermenêutico de
compreensão da vida se dá pelo entendimento da estrutura do
mundo histórico, pois a historicidade nada mais é que algo
característico da vida humana. Assim, todas as vivências da
consciência, bem como as visões de mundo exprimem as
materializações do espírito objetivo de cada época.

Palavras-chave
Positivismo. Historicismo. Hermenêutica. Comte. Dilthey.

Referências
AMARAL, M. Nazaré. C. P. Dilthey e o Problema do Relativismo Histórico. In:
Discurso, v. 18, 1990.
BARROS, José D’Assunção. Dois paradigmas: o Positivismo e o Historicismo.
In: Blog Escrita da História, 2010. Disponível em
http://escritasdahistoria.blogspot.com/2010/12/dois-paradigmas-o-
positivismo-e-o.html. Acesso em 26/12/2022.
BARROS, José D’Assunção. Considerações sobre o paradigma positivista em
história. In: Revista Historiar, v. 4. n. 4, 2011.
BARROS, José D’Assunção. BARROS, José D’Assunção. Será a História uma
Ciência: um panorama de posições historiográficas. In: Revista Inter-legere, v.
3, 2020.
BOBBIO, Norberto. O Positivismo Jurídico: Lições de Filosofia do Direito. Trad.
Márcio Pugliesi. São Paulo: Ícone, 1995.
BRANDÃO, A. R. P. A postura do positivismo com relação às ciências
humanas. In: Theoria Revista Eletrônica de Filosofia. v. 3, 2011.
BRITO, E. O. Consciência histórica e hermenêutica: considerações de
Gadamer acerca da teoria da história de Dilthey. In: Trans/Form/Ação, v. 28, n.
2, 2005.
COMTE, Auguste. Curso de Filosofia Positiva; Discurso sobre o espírito
positivo; Discurso preliminar sobre o conjunto do positivismo; Catecismo
positivista. Seleção de textos de José Arthur Giannotti. Trad. José A. Giannotti
e Miguel Lemos. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

265
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
COMTE, Auguste. Discurso preliminar sobre o conjunto do positivismo. São
Paulo: Abril Cultural, 2000.
CONDORCET. Esquisse d’um tableau historique dês progreès de l’esprit
huymain. Paris: Éditions Sociales, 1966.
DILTHEY, W. Acerca del estudio de la historia de las ciencias del hombre, de a
sociedad y del Estado. Trad. Eugenio Imaz. In: Psicologia y Teoria del
Conocimiento. México: Fondo de Cultura Económica, 1951.
DILTHEY, W. Las Categorias de la Vida. Trad. Carlos Moya Espí. In: Crítica de
la Razón Histórica. Barcelona: Península, 1986.
FAUSTINO, R. C.; GASPARIN, J. L. A influência do positivismo e do
historicismo na educação e no ensino de história. In: Acta Scientiarum, v. 23,
n. 1, 2001.
GADAMER H. G., Verdade e método. Trad. Flávio P. Meurer. 4. ed. Petrópolis:
Vozes, 2002.
KAHLMEYER-MERTENS, R. S. Introdução às ciências humanas de Wilhelm
Dilthey (Resenha informativa do livro). In: Veritas, v. 57, 2012.
PADOVANI, Umberto; CASTAGNOLA, Luís. História da filosofia. Trad. Storia
dela filosofia. São Paulo: Melhoramentos, 1970.
REALE, Giovanni. História da filosofia: do Romantismo até nossos dias. Vol. 3.
Trad. Giovanni Reale e Dario Antiseri. São Paulo: Paulus, 1991. (Coleção
Filosofia).
SANTOS, Marcus Éverson. Matemática social e instrução pública em
Condorcet. 2019. 206 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal
de Sergipe, São Cristóvão, SE, 2019.
SILVA, E. L. Compreender a vida, fundamentar a História: “a crítica da razão
histórica” em Wilhelm Dilthey (1833-1911). Dissertação de Mestrado em
História. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006.

266
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O mal político a partir da teoria de Hannah Arendt

Ana Claudia Barbosa Nunes 1


Orientador: Rosalvo Schütz 2

Resumo
O presente trabalho pretende sugerir o conceito e significado ‘mal
político’ a partir da pensadora Hannah Arendt. As principais
referências da pesquisa bibliográfica são as seguintes obras da autora:
O que é política?, Eichmann em Jerusalém, e A vida do espírito. O
problema a ser investigado é se podemos concluir a partir de Arendt
um conceito de mal político e o objetivo geral é evidenciar que a
teoria de Arendt nos permite pensar o mal político. De modo
secundário, também iremos tematizar o conceito de política e de
banalidade do mal, além de abordar as atividades do espírito de
pensar e julgar. Na obra O que é a política? a filósofa destaca que o
homem tem como uma das possibilidades de sua condição a política,
esta que apenas será possível na convivência com os demais homens,
ou seja, na pluralidade. Sendo a pluralidade, compreendida
enquanto convivência entre os diferentes, a condição básica da
política, tudo o que inviabilizar esta condição, como, por exemplo,
um genocídio, ao eliminar os diferentes, inviabiliza também a
política. Na obra Eichmann em Jerusalém a pensadora cunha o
conceito banalidade do mal a fim de descrever um mal superficial,
possível de ser levado à cabo por pessoas comuns e burocratas. São
pessoas que não pensam por conta própria nem pressupõe a ação
conjunta na pluralidade. O conceito de banalidade do mal implica na
incapacidade de o indivíduo pensar, esse indivíduo é dotado do
pensamento, porém abdica dessa atividade espiritual, para se
submeter a uma racionalidade instrumental, onde a pluralidade

1 Mestranda em Filosofia pela UNIOESTE. Graduada em Filosofia pela UNIOESTE.


E-mail: anabarbosa_ab@hotmail.com
2 Doutorado em Filosofia pela UNI- Kassel/ Alemanha. Mestrado em Filosofia pela

PUCRS. Graduação em Filosofia UNIJUÍ. E-mail: rosalvoschutz@hotmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

humana não tem função ativa alguma. Ou, seja, poderíamos afirmar
que o mal banal, é também o mal político, pois ele inviabiliza a
condição básica da política para Arendt: a ação conjunta de iguais em
meio à pluralidade. Esse mal não é no sentido de moralidade sendo,
inclusive, tratado como algo normal no dia a dia da comunidade.
Muitas vezes sequer nos damos conta de sua existência. Para melhor
compreendermos esse conceito podemos nos apoiar na última e
inacabada obra da autora: A vida do Espírito, especialmente nos
conceitos de pensar e julgar. Veremos que tanto o pensar quanto o
julgar precisam da linguagem, da comunicação com outros humanos
iguais em sua condição, mas diferentes enquanto indivíduos.
Portanto, o mal banal, que pode ser reproduzido ingenuamente pelas
pessoas comuns, ao implicar a incapacidade de o indivíduo pensar e
julgar, fazendo com que aceite ordens sem questionar, inviabiliza o
caráter de pluralidade e, assim, também bloqueia o fazer político.
Assim, podemos concluir que o mal banal, ao menos em certa
medida, corresponde também ao mal político, embora, à primeira
vista não pareça. Sociedades totalitárias ou com resquícios de
totalitarismo, baseadas na reprodução do mal banal, também
representam o mal político. Da mesma forma o mal político se
alimenta e viabiliza por meio da existência, reprodução e
desenvolvimento do mal banal. Enfrentar o mal político implica em
enfrentar o mal banal, e vice-versa.

Palavras-chave
Mal banal. Mal político. Pluralidade. Pensar. Julgar.

Referências
ARENDT, Hannah. A Vida do Espírito: o pensar, o querer, o julgar. Trad.
Antônio Abranches, Cesar Augusto R. de Almeida, Helena Martins. Rio de
Janeiro: Relume Dumará, 1992.
ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do
mal. Trad. José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

268
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
ARENDT, Hannah. O que é política? Trad. Reinaldo Guarany. 2. ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.
FRY, Karin A. Compreender Hannah Arendt. Trad. Paulo Ferreira Valerio;
Petrópolis, Editora Vozes, 2010.
JARDIM, Eduardo. Hannah Arendt: pensadora da crise e de um novo início.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.

269
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O papel da síntese passiva no Spiel gadameriano

Enrique Nuesch 1

Resumo
A comunicação apresenta o estágio inicial de uma investigação
acerca do papel da síntese passiva na ideia de jogo postulada por
Gadamer em sua obra Verdade e Método. Na segunda seção da
primeira parte de Verdade e Método, Hans-Georg Gadamer
estabelece o conceito de jogo (Spiel) como fio condutor de sua
explicação ontológica da obra de arte. No processo de clarificação
desse conceito, Gadamer explicita as experiências dos jogadores
envolvidos e como, da interação entre eles, é que emergirá a
configuração (Gebild) da obra de arte. Por outro lado, já na segunda
seção da segunda parte da obra, quando se trata de explicitar os
traços fundamentais de uma teoria da experiência hermenêutica,
Gadamer incorpora a suas razões, a partir de Heidegger e Husserl o
conceito fenomenológico de horizonte (Horizont) e suas relações
com a consciência imanente do tempo, ambos conceitos que, na
literatura fenomenológica possuem relações fortes com as lições
husserlianas sobre a síntese passiva (Passive Synthesis). No todo do
tratado, a ontologia da obra de arte e a teoria da experiência
hermenêutica têm consequências importantes para temas como o
acesso à Verdade por meio de uma Ontologia Hermenêutica. A nossa
investigação, por sua vez, ainda é de escopo limitado, e busca
explicitar como as lições husserlianas sobre a síntese passiva podem
delinear de forma mais clara o que Gadamer trata como experiência
dos “jogadores” na temporalidade da obra de arte. Trata-se ainda,
pois, de uma abertura de caminho para essa investigação. Os passos
iniciais desse caminho, que trataremos de apresentar na
comunicação, passam por: 1. Indicar alguns dos conceitos

1Doutor em Letras. Universidade Estadual do Paraná.


E-mail: enrique.nuesch@unespar.edu.br

270
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

fenomenológicos mais relevantes adotados por Gadamer e que são


atinentes ao nosso problema; 2. Esclarecer minimamente o conceito
de jogo em Verdade e Método; 3. Esclarecer minimamente a ideia de
Síntese Passiva em Husserl; 4. Propor a incorporação da Síntese
Passiva husserliana ao conceito de jogo gademeriano.

Palavras-chave
Gadamer. Husserl. Síntese Passiva. Hermenêutica.

Referências
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método. Traços fundamentais de uma
hermenêutica filosófica. 5. ed. Trad. Flávio Paulo Meurer. Petrópolis: Vozes,
2003.
GADAMER, Hans-Georg. Gesammelte Werke Band 1. Hermeneutik I:
Wahrheit und Methode. Tübingen: J. C. B. Mohr, 2001.
HUSSERL, Edmund. Analyses concerning passive and active synthesis:
Lectures on transcendental logic. Boston: Kluwer Academic Publishers, 2001.
HUSSERL, Edmund. Analysen zur passiven Synthesis. Aus Vorlesungs – und
Forschungsmanuskripten 1918-1926. Hua XI. Hrsg. von M. Fleischer. Den
Haag: Nijhoff, 1966.

271
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O paradigma de Thomas Kuhn: as interpretações de


Margaret Masterman a respeito da noção kuhniana

Ericson Divaldo Antunes Filho1


Orientador: Douglas Antonio Bassani2

Resumo
A comunicação aqui desenvolvida pretende analisar e relacionar as
interpretações de Margaret Masterman sobre a noção de paradigma
de Thomas Kuhn. Dentre as diversas formas com que o conceito
aparece durante A Estrutura das Revoluções Científicas (2012),
Masterman em A natureza de um paradigma (1979), indica várias
situações as quais esses aparecimentos puderam ser reunidos e os
nomeia de distintas formas e, no desenvolver da sua análise sobre o
conceito, o aglutina em três perspectivas, a saber, paradigmas
metafísicos, paradigmas sociológicos e paradigmas de artefato. Essas
identificações estão relacionadas com as referências do conceito
“paradigma” dentro de A Estrutura das Revoluções Científicas,
procurando um melhor entendimento da noção que Kuhn
desenvolve, visto que as suas mais de vinte referências distintas,
geraram problemas para o autor acerca do que significava o termo
paradigma, quais eram as intenções do uso dentro do contexto e
pensamento de Kuhn e como entendê-lo como necessário para a
maturidade do conhecimento. Dessa forma, busca-se entender as
interpretações de Masterman relacionando-as diretamente com o
Posfácio da Estrutura e com Reconsiderações Acerca dos Paradigmas
(2011), textos onde Kuhn desdobrou e tentou resolver os problemas
criados pelo uso de seu termo em circunstâncias distintas,
desenvolvendo assim, uma noção mais explícita do termo,
abordando diretamente sobre o papel do referencial teórico na

1Mestrando em Filosofia. Unioeste. E-mail: ericson.antunes@hotmail.com


2Professor da graduação e do PPGFil. Unioeste.
E-mail: douglasbassani@uol.com.br

272
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

comunidade e na pesquisa madura, a saber, o período de ciência


normal. A conclusão é de que as interpretações de Masteman
contribuem para o entendimento do conceito de paradigma, não
apenas pela intenção de conseguir produzir generalizações, mas pela
perspectiva criada do papel do paradigma, a saber, o papel
metafísico, sociológico e epistemológico que o referencial teórico
promove. Um objetivo geral estabelecido para os fins dessa análise é
a identificação das definições de Kuhn dentro dos seus dois textos
citados anteriormente, podendo se relacionar de forma direta com as
três interpretações que Masterman expõe, a fim de explicitar as
relações que a autora cria com o desenvolvimento da sua visão sobre
o conceito de paradigma. Assim, a busca é pelas definições
metafísicas, sociológicas e epistemológicas da noção de paradigma
dentro dos escritos kuhnianos delimitados para essa análise.

Palavras-chave
Thomas Kuhn. Margaret Masterman. Paradigma.

Referências
KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. 13. ed. São Paulo:
Perspectiva, 2012.
KUHN, Thomas S. A tensão essencial. São Paulo: Unesp, 2011.
KUHN, Thomas S. Lógica da descoberta ou psicologia da pesquisa? In:
LAKATOS, Imre; MUSGRAVE, Alan. A crítica e o desenvolvimento do
conhecimento. São Paulo: Universidade de São Paulo / Cultrix, 1979.
KUHN, Thomas S. O caminho desde a estrutura. 2. ed. São Paulo: Unesp, 2017.
KUHN, Thomas S. Reflexões sobre os meus críticos. In: LAKATOS, Imre;
MUSGRAVE, Alan. A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. São Paulo:
Universidade de São Paulo / Cultrix, 1979.
LOPARIC, Zeljko. Esboço do paradigma winnicottiano. In: Cad. Hist. Fil. Ci.,
série 3, v. 11, m. 2, 2001.
MASTERMAN, Margaret. A Natureza de um Paradigma. In: LAKATOS, Imre;
MUSGRAVE, Alan. A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. São Paulo:
Universidade de São Paulo / Cultrix, 1979.

273
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O Partido Nazista no Brasil sob a perspectiva foucaultiana

Letícia Pedrassa Prates 1


Orientador: Ester Maria Dreher Heuser2

Resumo
O objetivo dessa comunicação é discorrer sobre o que foi a existência
de um Partido nazista no Brasil na década de 1930, analisando-o não
apenas por meio de sua lógica interna, trazendo suas disputas e
conflitos, mas também pelo contato com forças que contra ele se
manifestaram. Para tanto, leva-se em conta quais foram suas ações
na cidade de São Paulo; se ele divulgou suas estratégias e convicções
somente aos imigrantes alemães paulistas; e se teve algum
envolvimento com outros movimentos locais, em particular com a
Ação Integralista Brasileira (AIB). Nesse horizonte investigativo são
utilizadas, além da tese de Ana Maria Dietrich, Nazismo Tropical? O
Partido Nazista no Brasil (2007), as edições de 1933 a 1934 de dois
jornais que circularam na cidade de São Paulo: Deutscher Morgen,
tido como o semanário oficial do Partido Nazista no Brasil e O
Homem Livre, porta-voz da Frente Única Antifascista (FUA), que
efetivou experiências de oposição concreta ao primeiro. Busca-se
problematizar como o nazismo pôde se desenvolver em território
nacional, argumentando na contramão do imaginário fundador do
Brasil como alusivo à ideia da miscigenação, ou seja, como um local
impróprio ao acolhimento dos ideais nazistas. Na esteira de Michel
Foucault, por meio de uma abordagem filosófico-histórica –
constituída a partir de obras como Arqueologia das Ciências
Humanas e História dos Sistemas de Pensamento (Ditos e Escritos II)
(2013), bem como A verdade e as formas jurídicas (2005) –, questiona-

1 Mestranda em Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná


(UNIOESTE). Bolsista CAPES. E-mail: lepprates25@gmail.com
2 Professora-pesquisadora Associada da UNIOESTE, Campus Toledo (PR), no curso

de Filosofia – Licenciatura, Mestrado e Doutorado (Linha: Ética e Filosofia Política).


E-mail: ester.heuser@gmail.com

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

se a apreensão generalizada da existência do Partido Nazista no Brasil


como uma mera reprodução do nazismo alemão, levantando a
hipótese de que a emergência de tal movimento no país
correspondeu a algo distinto daquilo proposto pelo Partido
Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães [National-
Sozialistische Deutsche Arbeiterpartei]. Seu aparecimento em
território brasileiro requer uma análise que esteja a par da
multiplicidade de tensões intrínsecas à história, sendo fundamental
tocar na teia de relações que o envolveram, no sentido de examinar
os jogos de força que se encontram em devir. Considerando os
eventos históricos em suas singularidades, no que diz respeito à
ocorrência contemporânea de práticas de teor nazifascista no Brasil,
a investigação visa contribuir com o estudo dessa temática de
tamanha complexidade, sobretudo no que se refere às ressonâncias
entre o passado e o presente.

Palavras-chave
Partido. Nazismo. Foucault.

Referências
DIETRICH, Ana Maria. Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil.
Orientador: José Carlos Sebe Bom Meihy. 2007. Tese (Doutorado em História)
– Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. Disponível em:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-10072007-113709/pt-
br.php. Acesso em: 3 abr. 2021.
FILHO, Sidney Aguilar. Educação, autoritarismo e eugenia: exploração do
trabalho e violência à infância desamparada no Brasil (193-1945). Orientador:
Ediógenes Aragão Santos. 2011. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade
Estadual de Campinas, São Paulo, 2011.
FOUCAULT, Michel. Arqueologia das Ciências e História dos Sistemas de
Pensamento. Trad. Elisa Monteiro. Ditos & escritos II. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2013.
FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Trad. Roberto Cabral de
Melo Machado e Eduardo Jardim Morais. Rio de Janeiro: Nau, 2005.

275
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
OS NAZISTAS DE SÃO PAULO organizam tropas de assalto. In: Jornal O
Homem Livre, n. 21, 1934. Disponível em: https://bibdig.biblioteca.unesp.br/
server/api/core/bitstreams/fd3aa7ff-a032-492d-8aec-b8c61d5e10ca/content.
Acesso em: 3 abr. 2021.
PRATES, Adriana Pedrassa. Do encontro arte-museu-educação: uma
perspectiva arqueogenealógica. Orientador: Julio Groppa Aquino. 2019. Tese
(Doutorado em Educação) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.
Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-03072019-
143732/pt-br.php. Acesso em: 30 fev. 2020.
Was du als Nationalsozialist im Ausland zu beachten hast. In: Jornal
Deutscher Morgen, n. 30, 1933. Disponível em:
https://bibdig.biblioteca.unesp.br/server/api/core/bitstreams/b9446368-
9da6-46cb-bfdb-8fa5ba0d3463/content. Acesso em: 3 abr. 2021.

276
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O pensiero debole de Gianni Vattimo e Pier Aldo Rovatti

Adelino Pereira da Silva 1

Resumo
Propõe-se um estudo sobre o conceito de pensiero debole, proposto
por Gianni Vattimo e Pier Aldo Rovatti, tomado como uma noção de
pensamento filosófico contemporâneo, que tem atraído atenção
significativa. Este modo conceitual desafia os fundamentos
tradicionais do pensamento filosófico e procura minar a noção de
verdade absoluta. A partir da obra Il pensiero debole, especificamente
da “Premessa”, escrita por Vattimo e Rovatti (2011), investigamos
como aquela noção enfatiza a ambiguidade e a incerteza inerentes à
existência humana, e como os autores argumentam que nossa
compreensão da realidade sempre depende de nossas perspectivas e
interpretações subjetivas. Ao abraçar esse panorama, o pensiero
debole abre novas possibilidades de diálogo e pluralismo no discurso
filosófico — ou seja, instituem um novo terreno para a exploração
intelectual filosófica contemporânea. Nas últimas décadas, a
discussão em torno da “crise da razão” tem ganhado grande destaque
na cultura filosófica italiana. Este debate revelou que não há mais
uma narrativa abrangente da história, bem como nenhum
conhecimento universal que possa unificar o conhecimento
específico em uma suposta “verdadeira” compreensão do mundo. No
entanto, houve casos em que formas novas e limitadas de
racionalidade foram estabelecidas apressadamente, marcando
improváveis “retornos” aos valores tradicionais que foram
defendidos. A partir dessa premissa, procuramos aqui aprofundar
esta questão a partir da ideia (ou conceito) de “pensiero debole”
(pensamento fraco) apresentado por Vattimo e Rovatti (2011). Nessa
obra, várias vozes, mesmo de diferentes campos disciplinares que

1Doutor em Filosofia. Universidade Federal da Paraíba (UFPB).


E-mail: ade.lino@yahoo.com.br

277
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

podem não se alinhar, propõem uma abordagem mais radical: e,


assim, o que é provisoriamente referido como “pensamento fraco”
visa ruir a resistência que persiste das noções entrincheiradas de
razão. Por isso, nesse momento, nos referimos especificamente à
análise da “Premessa” do livro, escrito por Vattimo e Rovatti (texto
que segue sem tradução para o mercado editorial brasileiro), com o
intuito de nos aprofundarmos sobre como os autores constroem um
dado modo de pensar contemporâneo à filosofia: a compreensão de
um conceito de verdade mais fluido, preciso e aceitável, o qual só
pode acontecer se nos libertarmos dos resquícios remanescentes da
irracionalidade. Conforme os filósofos, essa perspectiva alternativa
pensamento pode ser menos reconfortante, mas, certamente, nos
aproxima da realidade vigente e, consequentemente, oferece maior
praticidade.

Palavras-chave
Pensiero debole. Gianni Vattimo. Pier Aldo Rovatti. Filosofia
contemporânea.

Referências
BODEI, Remo. A Filosofia do século XX. Trad. Modesto Florenzano. São
Paulo: EDUSC, 2000.
DELEUZE, Gilles. Diferença e Repetição. Trad. Luiz Orlandi, Roberto
Machado. São Paulo: Paz e Terra, 2018.
DELEUZE, Gilles. Lógica do Sentido. Trad. Luiz Roberto Salinas Fortes. São
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MAIA, Antonio Glaudenir Brasil. Ontologia da Atualidade: um estudo sobre
ética, religião e política em Gianni Vattimo. Porto Alegre: Fi, 2021.
VATTIMO, Gianni. Diferir a metafísica. Trad. Antonio Abranches. In: O que
nos faz pensar, v. 8, n. 10.1, 1996.
VATTIMO, Gianni. O pensamento “fraco” e a esquerda brasileira: entrevista
com o filósofo italiano Gianni Vattimo. In: Pensares em Revista, n. 15, 2019.
VATTIMO, Gianni; ROVATTI, Pier Aldo. Premessa. In: VATTIMO, Gianni;
ROVATTI, Pier Aldo. (Org.). Il pensiero debole. 2. ed. Milano: Feltrinelli, 2011.

278
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O princípio da paridade de participação na teoria de Nancy


Fraser e a comensurabilidade das demandas nas teorias de
justiça contemporâneas

Pamela Pereira Prestupa 1


Orientador: Charles Feldhaus 2

Resumo
O presente trabalho tem por objetivo expor o princípio da paridade
de participação como paradigma normativo na teoria de Nancy
Fraser. Para tanto, utilizaremos da revisão bibliográfica para tratar do
histórico das teorias da justiça, bem como da exposição
contextualizada da obra de Nancy Fraser para apresentar o princípio
da paridade de participação. Inicialmente, os movimentos por
redistribuição econômica se mostravam como a principal
reivindicação, questionando principalmente as desigualdades de
classe. Posteriormente, houve uma ruptura com essa visão vigente,
passando-se a pleitear o reconhecimento de questões externas à
questão econômica, vinculados ao sujeito e ao status social. Foi onde
surgiram as demandas por reconhecimento. Por fim, uma nova
ruptura social advinda da globalização culminou na necessidade de
reformulação da forma de processamento das demandas já
existentes, e a sociedade passou a exigir atenção aos direitos de
representação como matéria de justiça. No contexto atual, onde as
demandas divergem sobre a substância, fronteiras e procedimentos
da justiça, o desafio das teorias de justiça é o desenvolvimento de um
mecanismo de averiguação da validade de uma demanda, uma vez
que não há consenso sobre o que é justiça. Partindo da obra de Nancy
Fraser, a autora propõe que devem ser observados aspectos moral-
filosóficos e social-teóricos, da seguinte forma: primeiro, deve-se

1 Mestranda em Filosofia, bacharel em direito. Universidade Estadual de Londrina.


E-mail: pamelaprestupa@gmail.com
2 Professor pós-Doutor em Filosofia. Universidade Estadual de Londrina.

E-mail: charles@uel.br

279
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

conceder acesso aos diversos pleitos de justiça que não estão dentro
do padrão, conferindo-lhes a possibilidade de validar seus
argumentos, mediante a inserção ou a exclusão de uma norma.
Segundo, deve-se avaliar os pleitos que estão sendo reivindicados, a
fim de verificar se a demanda constitui uma forma genuína de
injustiça ignorada pela antiga gramática, bem como as dimensões de
ordem social negligenciadas até o momento. Nesse cenário complexo
e plural, o princípio da paridade de participação emerge como
parâmetro normativo na teoria de Nancy Fraser, capacitando a
avaliação comparativa das várias reivindicações, permitindo que
diferentes gramáticas da justiça contemporânea sejam satisfeitas.

Palavras-chave
Redistribuição. Reconhecimento. Representação. Paridade de
Participação.

Referências
ARRUZZA, Cinzia; BHATTACHARYA, Tithi; FRASER, Nancy. Feminismo para
os 99%: um manifesto. São Paulo: Boitempo, 2019.
FRASER, Nancy. Justiça interrompida: reflexões sobre a condição “pós-
socialista”. São Paulo: Boitempo, 2022.
FRASER, Nancy. Reenquadrando a Justiça em um mundo globalizado. In: Lua
Nova, n. 77, 2009.
FRASER, Nancy; HONNETH, Axel. Redistribution or Recognition? A Political-
Philosophical Exchange. New York: Verso Books, 2003.
FRASER, Nancy; JAEGGI, Rahel. Capitalismo em debate: uma conversa na
teoria crítica. São Paulo: Boitempo, 2020.

280
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O problema da determinação: Deleuze, leitor de Kant

Gonzalo Montenegro1

Resumo
O problema da determinação é abordado por Deleuze no capítulo IV
de Diferença e repetição (1968) com o intuito de proporcionar
elementos para a produção de uma noção de diferença. O capítulo
extrai uma série de consequências relevantes para o tratamento desse
problema a partir de temas caros à tradição, desenvolvidos
notavelmente no contexto da filosofia kantiana. Para iniciar nossa
comunicação, lembraremos que a determinação é abordada por Kant
na terceira crítica, mais exatamente, em seus estudos dedicados à
esclarecer a natureza do juízo e as consequências que se seguem para
pensar a relação entre faculdades. Com efeito, a determinação pode
ser definida com relação à capacidade do juízo de subsumir o
particular no universal. Todavia, Kant distingue entre dois tipos de
juízo, dependendo de se a regra universal para subsumir os
particulares é dada a priori ou não. Resulta disso a distinção entre
juízo determinante, em que o universal é dado, e juízo reflexionante,
em que não (CJ, Intro, §4). É fundamental destacar aqui a relação
entre faculdades correlativa ao contexto de um juízo ou outro. O
juízo determinante supõe o funcionamento harmônico das
faculdades de acordo com o papel legislativo assumido por uma
delas, o que significa que o universal está dado por este papel na
relação. Entretanto, o juízo reflexivo envolve a busca por um
princípio geral indeterminado que produz um acordo livre entre
faculdades. Essa distinção se torna fundamental para pensar
retrospectivamente a maneira com que Kant lida, na primeira crítica,
com a relação entre razão e entendimento, a propósito do caráter
indeterminado das Ideias da primeira. De certo, a abordagem

1 Professor da UNILA. Doutor em Filosofia. Universidade do Chile.


E-mail: gozznl@gmail.com

281
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

descrita contradiz a ordem cronológica, mas segue à risca a estratégia


de leitura abordada pelo próprio Deleuze em seus estudos sobre
Kant. Sem dúvida, essa estratégia é muito difícil de discernir em
Diferença e repetição, mas resulta evidente quando recorremos à
monografia que dedicou a Kant em 1963, intitulada A filosofia crítica
de Kant. Apreciamos aqui a articulação de uma leitura retrospectiva
que se utiliza da terceira crítica para abordar problemas específicos
no horizonte da primeira. O caso paradigmático que nos interessa se
refere à determinação no âmbito da relação entre razão e
entendimento na primeira crítica, pois daí derivam as três dimensões
que Deleuze descreve na Ideia, a saber, enquanto indeterminada,
determinável e abrindo um horizonte de determinação infinita. Dito
isso, nosso estudo visa destacar o papel essencial do problema da
determinação para a abordagem da diferença realizado por Deleuze
no cap. IV de Diferença e repetição. Para tanto, esperamos realizar
uma exposição em três momentos: 1) esclarecer a estratégia de leitura
de Kant, assumida pelo autor francês, 2) descrever o tratamento da
noção de Ideia de acordo com a questão da determinação e 3) elencar
as três dimensões da Ideia que decorrem do anterior.

Palavras-chave
Determinação. Ideia. Deleuze. Kant.

Referências
DELEUZE, Gilles. La philosophie critique de Kant. Paris: PUF, 1963.
DELEUZE, Gilles. Différence et répétition. Paris: PUF, 1968.
KANT, Inmanuel. Crítica de la razón pura. Trad. Mario Caimi. México: FCE,
2009.
KANT, Inmanuel. Crítica del juicio. Trad. Manuel García Morente. Madrid:
Espasa Calpe, 1977.
LORD. Beth. Deleuze and Kant. In: SMITH, Daniel. Cambridge companion to
Deleuze. New York: Cambridge University Press, 2012.
MONTENEGRO, Gonzalo. Empirismo trascendental. Bogotá: Bonaventuriana,
2013.

282
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
PACHILLA, Pablo. La lectura deleuziana de la Crítica de la razón pura.
Estudios de Filosofía, n. 65, 2012.
SANTAYA, Gonzalo. El cálculo trascendental. Gilles Deleuze y el cálculo
diferencial: ontología e historia. Buenos Aires: RAGIF, 2017.

283
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O processo do conhecimento em Marx: apontamentos


sobre o método materialista histórico-dialético

Isabel Cristina Theiss 1


Orientadora: Neide da Silveira Duarte de Matos 2

Resumo
O propósito deste texto é refletir sobre o processo de apropriação do
método dialético em Marx, sob o pressuposto que o conhecimento
científico é uma produção social que envolve sujeitos e relações ao
longo da história. O método materialista histórico-dialético busca
fazer uma apropriação crítica racional sistematizada da sociedade
capitalista pelo sujeito cognoscente. Esse conhecimento procura
apreender a essência por detrás da aparência, elevando-se do
abstrato ao concreto dos fenômenos estudados, a fim de desmistificar
o caráter alienado e fetichizado dos fatos sociais, onde a parte só é
compreendida na conexão com a totalidade sócio-histórica,
determinada pela interação multifacetada das partes envolvidas.
Diferente do método especulativo da dialética hegeliana e do
empirismo aparencial do pensamento da economia política clássica,
o método de Marx tem como sujeito e ponto de partida da
investigação a própria realidade sócio-histórica. Isso significa que o
materialismo dialético marxiano não se estabelece como um
procedimento subjetivista como o idealismo abstrato, que concebe o
real como o produto do desenvolvimento do espírito absoluto,
tampouco como um método objetivista do positivismo empirista,
que toma o sujeito do conhecimento como passivo e concebe a
realidade como algo pronto e acabado. No que se refere às
determinações metodológicas, Marx não nos deixou escritos
sistemáticos sobre a dialética como um conjunto de regras abstratas.

1 Graduada em Letras e Especialista em Educação Especial. Mestranda em


Educação. UNIOESTE. E-mail: isabeltheiss@unioeste.br
2 Doutora em psicologia. UNIOESTE. E-mail: neide.matos@unioeste.br

284
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Ele não queria antecipar resultados em sua produção teórica,


evitando uma postura idealista. O método de conhecimento,
portanto, não é um conjunto de regras pré-determinadas, mas deve
estar organicamente entrelaçado com a realidade para explicitar a
estrutura imanente dos fenômenos, suas especificidades,
contradições e mediações operantes na dinâmica da sociedade. A
dialética marxiana pressupõe a compreensão das condições materiais
de produção dos indivíduos e como estabelecem relações sociais. Os
seres humanos não podem ser tomados como seres autônomos,
independentes de suas relações com a natureza e a sociedade. As
ideias estão conectadas com as condições sócio-históricas de
existência, e o entendimento da dialética marxiana envolve a
compreensão de como os indivíduos produzem suas representações
e ideias, relacionando-as com suas condições materiais. A dialética é,
ao mesmo tempo, o movimento do pensamento em relação ao objeto
e o movimento específico que os fenômenos efetivam. O método
dialético permite desmistificar as ideologias e o fetichismo,
revelando as contradições e as mediações presentes na sociedade. A
dialética marxiana busca desnaturalizar o quadro de exploração,
alienação e fetichização ideológica que encobre as contradições
sócio-históricas. Ela aponta para a possibilidade concreta de
instaurar um novo mundo, livre das injustiças e desigualdades que
esvaziam a subjetividade humana e promovem a deterioração dos
recursos naturais em prol da acumulação de capital. Em resumo, o
método dialético de Marx é uma abordagem crítica e sistemática que
busca compreender a sociedade capitalista, suas contradições e suas
determinações imanentes, a partir da realidade sócio-histórica e das
condições materiais de existência dos indivíduos. Isso implica uma
desmistificação das ideologias e do fetichismo que encobrem as
relações sociais na sociedade capitalista, com o objetivo de
transformar essa realidade em direção a um mundo mais justo e
equitativo.

285
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Palavras-chave
Marx. Materialismo histórico-dialético. Conhecimento.

Referências
GORENDER, Jacob. Apresentação a obra O Capital – Crítica da economia
política (livro I – O processo de produção do capital). São Paulo:
Boitempo,2013
MARX, Karl. Teses sobre Feuerbach. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A
ideologia alemã. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007
MARX, Karl. Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857-1858: esboços da
crítica da economia política. São Paulo: Boitempo, 2011.
MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos. Trad. Jesus Ranieri. São
Paulo: Boitempo, 2004.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Livro I. São Paulo:
Boitempo, 2013.
NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do método de Marx. São Paulo:
Expressão Popular, 2011.

286
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O ser humano, a solidão e a


sociabilidade em Schopenhauer

Diego Enrique Clare Junior 1


Orientadora: Célia Machado Benvenho2

Resumo
O presente trabalho tem como objetivo analisar a fábula do Porco
espinho, apresentada por Arthur Schopenhauer no capítulo 31
Metáforas, Parábolas e Fábulas, da obra Parerga y Paralipómena II. A
fábula conta a história de um grupo de porcos-espinhos que, em um
dia rigoroso de inverno, se amontoaram para aquecer uns aos outros
e assim evitar o congelamento. No entanto, na medida em que eles se
aproximavam, começavam a sentir os espinhos uns dos outros, o que
causava muita dor e sofrimento, fazendo com que se afastassem
novamente. Porém, quando a necessidade de se aquecer os levavam
a se aproximarem novamente, o mesmo sofrimento se repetia, de
modo que eles caminhavam de um lado para o outro entre os dois
sofrimentos até encontrarem uma distância média em que pudessem
resistir, tanto à dor como ao congelamento, garantindo, assim a
sobrevivência de sua espécie. Schopenhauer compara a necessidade
dos porcos espinhos se unirem para poderem sobreviver ao inverno,
apesar da dor e sofrimento causados pelos espinhos, com os homens
que necessitam da sociedade para ter uma vida mais agradável e feliz
possível. As necessidades da sociedade impelem os homens uns aos
outros, no entanto, as particularidades e características de cada um
os afastam novamente. E, assim como os porcos espinhos precisaram
conciliar a aproximação suportável com a distância necessária para
sobreviverem, os homens precisam buscar uma solução, um

1Discente. Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Campus de


Toledo. E-mail: decjunior2004@gmail.com
2 Doutora em filosofia pela Doutor em Filosofia. Professora Adjunta da

Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Campus Toledo.


E-mail: celia.benvenho@gmail.com

287
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

equilíbrio entre a solidão e a sociabilidade para conciliar as suas


individualidades com as dos outros e, assim gozarem dos benefícios
da vida. Embora a vivência social implique numa experiência que
exige uma renúncia considerável da individualidade, ela se mostra
necessária, segundo o autor, para uma convivência sem tantos
embates e sofrimentos. Buscaremos compreender a relação entre
homem e sociedade no pensamento Schopenhaueriano e responder
como é possível, segundo o autor, conciliar a vida em sociedade e as
limitações que dela decorrem, tornando essa experiência numa
atmosfera favorável para a condução da vida de modo mais agradável
e feliz possível. Utilizaremos para nosso trabalho os aforismos que
compõem a obra Parerga y Paralipómena, Aforismos para a sabedoria
de vida, assim como a obra magna do filósofo, O Mundo como
Vontade e como Representação.

Palavras-chave
Solidão. Porco-espinho. Ser Humano. Sociedade.

Referências
SCHOPENHAUER, A. O mundo como vontade e como representação. Tomo I.
Trad. J. Barboza. São Paulo: Unesp, 2005. Vol. I
SCHOPENHAUER, A. Parerga y Paralipómena II. Trad. Pilar López de Santa
María. Madrid: Trotta, 2009.
SCHOPENHAUER, A. Sobre o sofrimento do mundo & outros ensaios. Trad.
G. S. Valladão. Porto Alegre-RS: L&PM, 2021.
SCHOPENHAUER, A. As Dores do Mundo: o amor – a morte – a arte – a
moral – a religião – a política – o homem e a sociedade. Trad. J. S. de Oliveira.
São Paulo: Edipro, 2014.
SCHOPENHAUER, A. Aforismos para a Sabedoria de Vida. Trad. R.
Argentière. 2. ed. São Paulo: Edipro, 2022.
DEBONA, V. Caráter adquirido, sociabilidade e a moral do “como se” (Als-Ob)
em Schopenhauer. In: Revista Trágica: estudos de filosofia da imanência, v. 9,
n. 1, 2016.

288
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Os paradigmas de Thomas Kuhn e


suas diferentes interpretações

Jéssica Fernanda Lagni1


Orientador: Douglas Antonio Bassani2

Resumo
A presente pesquisa pretende analisar o conceito de paradigma na
filosofia da ciência e suas diferentes interpretações, especialmente
em áreas como a psicanálise. Seu uso estendido em diversas áreas do
conhecimento, como educação, psicologia e tecnologia, tem diluído
seu significado original, dificultando a comunicação precisa sobre
questões científicas e filosóficas. Analisaremos o conceito original de
paradigma, aprofundando-nos sobre a definição original proposta
por Thomas Kuhn. Avaliaremos os impactos da utilização genérica
do termo “paradigma”, incluindo a diluição de seu significado
original, dificuldades na comunicação científica e acadêmica, bem
como sobre os equívocos conceituais na investigação científica. O
conceito em Kuhn significa um conjunto de fundamentos teóricos,
princípios metodológicos, valores compartilhados e generalizações
simbólicas, sendo estes compartilhados por uma comunidade
científica. Kuhn argumentou que os cientistas trabalham dentro de
paradigmas aceitos, que guiam suas pesquisas e interpretações. No
entanto, o uso inadequado do termo “paradigma” em contextos fora
do campo da filosofia da ciência tem levado a uma confusão
conceitual e apropriação inadequada do termo. Portanto, é crucial
que os cientistas que fazem o uso desta terminologia sejam
cautelosos ao empregar o termo “paradigma”, reservando seu uso
para contextos específicos relacionados à filosofia da ciência, a fim de
preservar sua integridade conceitual e evitar equívocos na discussão

1Mestranda em Filosofia. Unioeste. E-mail: jessica.lagni@gmail.com


2Professor da graduação e do PPGFil. Unioeste.
E-mail: douglasbassani@uol.com.br

289
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

científica. Este estudo destaca a importância de preservação da


integridade conceitual do termo “paradigma”. Ao fazer isso, a
comunidade acadêmica pode garantir uma discussão mais precisa e
profunda sobre questões científicas e filosóficas, promovendo um
entendimento mais claro e eficaz nas diversas disciplinas do
conhecimento. Para atingir os objetivos propostos, será realizada
uma revisão bibliográfica detalhada sobre o conceito original de
paradigma de Thomas Kuhn na obra A Estrutura das Revoluções
Científicas (1962). Em seguida, será realizada uma análise crítica de
literatura em diversas áreas do conhecimento, identificando casos
específicos do uso inadequado do termo “paradigma”. Serão também
examinados os efeitos dessa apropriação contida por meio de estudos
de caso e análises de discurso em textos científicos e acadêmicos.

Palavras-chave
Paradigma. Thomas Kuhn. Filosofia da Ciência.

Referências
CARVALHO, Bruno. A apropriação do conceito de paradigma pela psicologia.
In: Psic. Rev., ano 2012, v. 21, n. 1, 2007.
KUHN, THOMAS. O caminho desde a estrutura: Ensaios filosóficos, 1970-
1993, com uma entrevista autobiográfica. 2. ed. São Paulo: Unesp, 2017.
KUHN, THOMAS. A estrutura das revoluções cientificas. 13. ed. São Paulo:
Perspectiva, 2018.
FULGENCIO, Leopoldo. Paradigmas na história da psicanálise. In: Natureza
Humana, ano 2007, v. 9, n. 1, 2007.
FULGENCIO, Leopoldo. Incomensurabilidade entre paradigmas, revoluções
epontos comunsno desenvolvimento da psicanálise. In: The International
Journal of Psychoanálise, v. 101, n. 1. DOI: 10.1080/00207578.2019.1686389.
2020.

290
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Os reis não são mais do que seres humanos:


análise sintética das history plays de Shakespeare

Junior Cunha 1
Orientador: José Dias 2

Resumo
Propõe-se, no presente estudo, uma análise sintética das primeiras
history plays de Shakespeare com o intuito de estabelecer um quadro
de como o autor aborda a esfera política no início de sua carreira. A
análise, em resumo, coloca à mostra como Shakespeare retratou o
reinado de cinco reis da história da Inglaterra, a saber: Ricardo II,
Henrique IV, Henrique V, Henrique VI e Ricardo III. Shakespeare não
apenas conta a história desses reis, mas atribui significado às suas
ações, com isso, o modo como cada rei alcançou o trono e o que fez
para manter-se nele são os pontos centrais nas respectivas peças. As
primeiras history plays de Shakespeare guardam semelhanças com a
obra O Príncipe, de Nicolau Maquiavel. Ao escrever suas peças,
Shakespeare não estava compondo um manual de análise política —
ele escrevia para os palcos —, mas são tangíveis os indícios de que as
primeiras history plays indiquem, de algum modo, a sua visão
política, ao menos no que concerne ao início de sua carreira. Para
mais, está impresso nas peças de Shakespeare a transição não
absoluta e nem homogênea entre formas distintas de ver o mundo. A
época de Shakespeare denotava uma confluência de forças
antagônicas: suas peças evidenciam as mudanças que marcam seu
tempo como um período de transição entre o Medievo e a Idade
Moderna. A crença medieval em uma ordem harmônica é

1Aluno regular do Doutorado em Filosofia do PPGFil UNIOESTE (Bolsista CAPES).


Mestre e Licenciado em Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
Desenvolve pesquisa nas áreas de Teatro e Filosofia com enfoque em William
Shakespeare. E-mail: juniorlcunha@hotmail.com
2 Professor adjunto “D” da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus

Toledo-PR. E-mail: jose.dias5@unioeste.br

291
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

questionada todas as vezes que seus personagens irrompem para


posições que não lhes são próprias. As práticas aceitáveis são
colocadas de lado todas as vezes que seus personagens agem como
não deveriam ou de um modo que não se esperava que agissem. As
intuições deixam de ser transcendentes todas as vezes que seus
personagens colocam à mostra que as posições de poder são
preenchidas por seres humanos e que todos, mais cedo ou mais tarde,
de algum modo, falham.

Palavras-chave
Encadeamento dos seres. Direito divino. Pensamento
“maquiavélico”. Poder e justiça. Bem comum.

Referências
CINTRA, Rodrigo Augusto Suzuki Dias. Uma dimensão trágica do poder e da
justiça: Shakespeare e Maquiavel. 2012. Tese (Doutorado em Filosofia e Teoria
Geral do Direito) – Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2012. Disponível em: https://doi.org/10.11606/T.2.2012.tde-29082013-
132014. Acesso em: 16 jun. 2020.
HELIODORA, Barbara. Falando de Shakespeare. São Paulo: Perspectiva, 1997.
HELIODORA, Barbara. Reflexões Shakespearianas. Rio de Janeiro: Lacerda,
2004.
HELIODORA, Barbara. O homem político em Shakespeare. Rio de Janeiro:
Agir, 2005.
HELIODORA, Barbara. Por que ler Shakespeare. São Paulo: Globo, 2008.
HELLER, Agnes. O homem do Renascimento. Trad. Conceição Jardim e
Eduardo Nogueira. Lisboa: Presença, 1982.
KOTT, Jan. Shakespeare nosso contemporâneo. Trad. Paulo Neves. São Paulo:
Cosac & Naify, 2003.
SHAKESPEARE, William. William Shakespeare: teatro completo. Vol. 3: Peças
Históricas. Trad. Bárbara Heliodora. São Paulo: Nova Aguilar, 2016.

292
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Pintura e pensamento: nas trilhas


da ontologia da encarnação

Maria Saievicz 1

Resumo
O tema enunciado no título “pintura e pensamento” remete a
pesquisa sobre o entrelace da estética e da ontologia na obra de
Merleau-Ponty. Pensar a visão e a filosofia como “aprender a ver”,
tomando a pintura, de modo especial a pintura dos modernos como
referência é uma temática de ampla importância nas teorias do autor.
A ontologia proposta nos seus ensaios estéticos aponta cada vez mais
a noção de carne como elemento originário na lógica do ser (logos
estético) e a cor como aspecto sensível fundamental na revisão das
questões sobre visível e invisível, tangível e intangível, dizível e
indizível. A questão é saber como o estudo do fenômeno cor está na
gênese da “ontologia da carne” ou “ontologia da encarnação”. A
comunicação tem dois propósitos iniciais: primeiro, tecer de modo
sucinto reflexões sobre filosofia e pintura a partir de célebres
passagens de textos clássicos, com o intuito de situar e definir o
privilégio da pintura no estudo da filosofia de Merleau-Ponty e
destacar a singular importância da pintura de Matisse nesse
percurso; segundo, apresentar um recorte dos percursos de formação
destacando passagens do memorial e trabalhos produzidos no
componente prático “Pintura I”. A experiência da pintura apoiou o
pensamento sobre o que é pintar e, o que é ver e pensar. A
comunicação ao contrário de consistir numa exposição concludente,
pretende ser uma explanação sobre o problema inaugural que
impulsiona a pesquisa sobre a ontologia da encarnação a partir duma
visada na pintura encarnada. Sobre a experiência do pensamento e a
noção de carne, Marilena Chauí oferece não só lições introdutórias,
mas desdobramentos importantes de percursos a seguir na pesquisa

1 Mestrado em Artes Visuais. PPGAV-UFBA. E-mail: mariasaievicz@gmail.com

293
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

ontológica. Algumas ideias da autora serão destacadas. Sobre a


questão do ver e a proposta de uma nova ontologia, Cornellius
Castoriadis escreve um capítulo singular publicado em As
encruzilhadas do labirinto. Para abordar a pintura como modelo e o
quiasma pensar-pintura / pintar-pensamento a referência é a obra de
Yve-Alain Bois, A pintura como modelo. Sobre a exigência da carne
na pintura (a cor, o colorido) são interessantes os apontamentos
“fragmentários”, porém, contundentes e instigantes de Didi-
Huberman no livro A pintura encarnada. Produzido a partir de uma
abordagem sobre “a obra-prima desconhecida” de Balzac, Didi-
Huberman expõe o problema estético da carnação na pintura e os
imemoriais impasses entre o visível e invisível quando a questão é
“dar a ver a carne em seus múltiplos temperamentos”. Esse enredo
teórico leva a proposta de investigação da tese elementar: se a carne
é o caos das cores (como se mostra) na experiência da pintura, a cor
é o caos da carne na experiência do mundo-vivido. Quando evocada,
a cor emaranha as dimensões da sensação, emoção e sentimento no
próprio pensar (“a pintura pensa”) e o colorido mostra a carnalidade
(“a encarnação’) em três sentidos fundamentais da noção de carne
extraídas das notas de O visível e o invisível— como elemento do Ser;
como enovelamento do visível e invisível (tangível e intangível) e
como emblema concreto de uma maneira de ser em geral.

Palavras-chave
Filosofia. Pintura. Percursos. Encarnação. Encruzilhada.

Referências
BOIS, Yve-Alain. A pintura como modelo. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
CASTORIADIS, Cornelius. As encruzilhadas do labirinto. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1987.
CHAUI, Marilena. Experiência do pensamento. Ensaios sobre a obra de
Merleau-Ponty. São Paulo, Martins fontes, 2002.
DIDI-HUBERMAN, Georges. A pintura encarnada. São Paulo: Escuta, 2012.

294
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
MATISSE, Henri. Escritos e reflexões sobre a arte. São Paulo: Cosac e Naify,
2007.
MERLEAU-PONTY, Maurice. Conversas – 1948. São Paulo: Martins Fontes,
2004.
MERLEAU-PONTY, Maurice. O olho e o espírito; A linguagem indireta e as
vozes do silêncio. A Dúvida de Cézanne. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
MERLEAU-PONTY, Maurice. O visível e o invisível. São Paulo: Perspectiva,
1992.

295
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Pode a filosofia política prescindir da categoria raça?

Marcos de Jesus Oliveira1

Resumo
A inversão do paradigma de Carl von Clausewitz de “a guerra é a
continuação da política por outros meios” para a “política é a
continuação da guerra por outros meios” tornou possível falar de
uma guerra social entre e contra diferentes grupos sociais no interior
da modernidade ocidental. As noções de biopolítica de Michel
Foucault (2008) e a de necropolítica de Achille Mbembe (2012)
ilustram a mecânica pela qual o “fazer viver e o deixar morrer” e o
“fazer morrer”, respectivamente, são fundamentais aos processos de
normalização e de controle nos sistemas políticos modernos. A
despeito disso, a filosofia política segue ignorando a raça como
construto analítico essencial à compreensão dos regimes políticos.
Quando a filosofia política contemporânea incorpora a raça em suas
análises, essa aparece apenas como algo que se adiciona a suas
elaborações teóricas construídas a priori e que, como desvio de uma
ordem ideal, deve ser extirpada para que os regimes possam
funcionar de forma adequada, não colocando em questão o próprio
modo de se fazer política. Destoando dessa concepção bastante
corrente e amplamente compartilhada, o afropessimismo de Frank B.
Wilderson III (2022) tem se destacado por elaborar uma lente
analítica para explicar como a violência contra os negros é suporte
para a ordem da desigualdadenos dos regimes políticos
contemporâneos, e não mera “desfuncionalidade”. A radicalidade de
Wilderson II está em afirmar que o antagonismo racial que atravessa
as formações ocidentais implica um processo, senão de extermínio
físico, de morte social, uma negação total do outro da modernidade.
Para dizê-lo de outra forma, trata-se de do mundo colonial dividido

1Doutor em Sociologia. Psicólogo. Universidade Federal da Integração Latino-


Americana. E-mail: oliveiramark@yahoo.com.br

296
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

em dois, a zona do ser e a zona do não, conforme postulou Frantz


Fanon (1968). Com esse olhar, pretende-se explorar as possibilidades
e os limites da filosofia política quando se considera a negritude
como o próprio limite necessário para a afirmação das estruturas
ontológicas nos quais os regimes políticos contemporâneos se
assentam.

Palavras-chave
Afropessimismo. Raça. Racismo. Filosofia política contemporânea.

Referências
FANON, Frantz. Os condenados da terra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1968.
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes,
2008.
MBEMBE, Achille. On the postcolony. Berkeley: University of California Press,
2012.
WILDERSON III, Frank B. Afropessimismo. São Paulo: Todavia, 2022.

297
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Pode um antirrealista ser


continuísta em história da ciência?

Gabriel Chiarotti Sardi 1

Resumo
No decorrer do debate sobre o realismo científico, alguns
antirrealistas, tal como Léo Tolstói (1904, p. 105) e Larry Laudan
(1981, p. 35), criaram um desafio cético para os realistas de teorias,
questionando, com base na história da ciência, a crença realista de
continuidade entre as teorias do passado, atuais e futuras. O realista
Stathis Psillos (1996; 1999; 2018, p. 69 - 72) ofereceu uma réplica que
ficou conhecida como realismo seletivo ou divide et impera, alegando
que, através de um minucioso exame, podemos encontrar elementos
teóricos de continuidade entre teorias passadas e atuais,
assegurando, por analogia, que as teorias futuras também possuirão
elementos de continuidade com as atuais. A estratégia de Psillos, se
bem empregada, pode evidenciar que a leitura realista de história da
ciência também possui suas virtudes e deve ser considerada, fazendo
com que o realismo de teorias seja uma postura metacientífica
plausível e alicerçada, ao menos parcialmente, na história da ciência.
Todavia, na presente comunicação, argumentarei que mesmo que o
realismo seletivo de Psillos se mostre aplicável, ele deve ser
considerado como uma crítica a concepções descontinuístas em
história da ciência (ou seja: concepções antirrealistas e/ou
relativistas que apregoam a crença de que não há continuidade
progressiva entre as teorias ou que, mesmo que existam alguns
pontos de continuidade, não somos capazes de estabelecer um elo
linear na história da ciência) e não necessariamente ao antirrealismo
científico em geral, posto que o empirismo construtivo de Bas van

1 Doutorando em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre e


licenciado em Filosofia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). E-mail:
gabrielsardi@usp.br

298
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Fraassen (1980/2007), por exemplo, admite a continuidade teórica na


ciência através da noção de continuidade de modelos que visam
representar aparências empíricas através de um isomorfismo de
estruturas; se configurando, dessa forma, como uma alternativa
antirrealista que admite a continuidade teórica na história da ciência
— o que, em geral, pode enfraquecer a posição de que o realismo
científico é a única filosofia (ou, ao menos, a ideal) capaz de lidar com
a leitura desses episódios históricos específicos — tal como Psillos
sugere.

Palavras-chave
Continuidade Teórica. Empirismo Construtivo. Realismo Seletivo.
Realismo Científico. Antirrealismo Científico.

Referências
LAUDAN, Larry. A confutation of convergent realism. In: Philosophy of
Science, v. 48, n. 1, 1981.
PSILLOS, Stathis. Scientific realism and the ‘pessimistic induction’. In:
Philosophy of Science, v. 63, n. 3, 1996.
PSILLOS, Stathis. Scientific Realism: how Science tracks Truth. London:
Routledge, 1999.
PSILLOS, Stathis. Tolstoy’s Argument: Realism and the History of Science. In:
Spontaneous Generations: A Journal for the History and Philosophy of Science,
v. 9, n. 1, 2018.
TOLSTÓI, Leo. Essays & Letters, trans. Aylmer Maud. New York: Funk and
Wagnalls Company, 1904.
VAN FRAASSEN, Bas. A imagem científica. Trad. Luiz Henrique Dutra. São
Paulo: Discurso Editorial, 2007.
VAN FRAASSEN, Bas. The Scientific Image. Oxford: Oxford University Press,
1980.

299
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Por que investigamos? Uma leitura de Pierre


Hadot sobre o filosofar como terapêutica

Guilherme Borges Almeida 1

Resumo
O filósofo francês Pierre Hadot é mais conhecido por sua tese de que
o filosofar na Grécia Antiga designava algo marcadamente distinto
do sentido contemporâneo do termo: antes de um acúmulo de
conhecimentos informativos, o filosofar era uma prática formativa
que tinha como finalidade cultivar um estado de serenidade da alma
(ataraxia) a partir da prática de exercícios espirituais. Ainda que o
termo filosofia tenha vindo a designar uma atitude exclusivamente
teórica (instituindo uma separação entre teoria e prática que não
existia na filosofia antiga), Hadot insiste em afirmar que há na
filosofia moderna e contemporânea reaparecimentos reiterados
reaparecimentos da concepção antiga da filosofia como modo de
vida. O presente trabalho buscou debruçar-se sobre o tema da
permanência de uma postura existencial de conversão total do ser na
filosofia contemporânea que é apontada por Hadot em sua obra. Foi
dada especial atenção à noção de filosofia como uma terapêutica –
que aponta para o cultivo de uma atitude interior fundamental como
parte integrante do fazer filosófico. Buscou-se, assim, responder a
seguinte pergunta: em que medida concepção da filosofia na Grécia
Antiga descrita por Pierre Hadot (em especial da filosofia como uma
terapêutica que aplaca as perturbações da alma) se mantem no
filosofar contemporâneo? Para explorar essa problemática, ensaiou-
se uma aproximação entre as investigações filosóficas e a neurose

1 Graduando em Filosofia pela Universidade Federal da Integração Latino-


Americana (UNILA) e pós-graduando no curso de especialização em Psicanálise
Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Bacharel em
Relações Internacionais e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Integração
Contemporânea da América Latina (PPGICAL).
E-mail: guilherme.borgesalmeida@gmail.com

300
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

obsessiva na psicanálise. Em especial, explorou-se o relato do caso do


Homem dos Ratos de Freud sobre prazer em atingir um resultado
intelectual na neurose obsessiva. Argumentou-se que o não
reconhecimento dessa satisfação intelectual que segue permeando as
investigações filosóficas gera uma certa incompreensão da filosofia
sobre o seu funcionamento e sobre seus objetivos. Com isso,
apontou-se para como a obra de Hadot permite não só apenas uma
nova compreensão da filosofia da Grécia Antiga, mas também da
filosofia na atualidade.

Palavras-chave
Pierre Hadot. Exercícios Espirituais. Satisfação intelectual. Ataraxia.
Investigação filosófica.

Referências
FREUD, Sigmund. Observações sobre um caso de neurose obsessiva [“O
Homem dos Ratos”, 1909]. In: FREUD, Sigmund. Obras completas, v. 9:
observações sobre um caso de neurose obsessiva [“O Homem dos Ratos”,
1909], uma recordação de infância de Leonardo da Vinci e outros textos (1909-
1910). Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
HADOT, Pierre. Elogio da filosofia antiga: aula inaugural de cadeira de
história do pensamento. São Paulo: Loyola, 2012a.
HADOT, Pierre. Elogio de Sócrates. São Paulo: Loyola, 2012b.
HADOT, Pierre. Exercícios espirituais e filosofia antiga. São Paulo: É
Realizações, 2013.
HADOT, Pierre. O que é a filosofia antiga? 6. ed. São Paulo: Loyola, 2014.
HADOT, Pierre. Wittgenstein e os limites da linguagem. São Paulo: É
Realizações, 2014.

301
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Por uma nova sensibilidade: um diálogo entre


a teoria crítica marcuseana e a filosofia ameríndia

Thais Gobo Miota

Resumo
A proposta desta comunicação é apresentar algumas relações entre
as filosofias de Herbert Marcuse e a ameríndia. Essas relações
compõem reflexões em desenvolvimento em tese de doutorado no
curso de pós-graduação em Filosofia da Universidade Estadual do
Oeste do Paraná (UNIOESTE), cujo título do texto é “Recusa e
libertação: a recusa da dominação da natureza enquanto condição
para a emancipação da humanidade na teoria crítica de Herbert
Marcuse”. Defende-se que uma vida melhor, mais feliz e mais justa
para todos os seres demanda a recusa dos padrões estabelecidos,
tanto materiais quanto intelectuais. Isto implica, além da
imperatividade de uma mudança sistêmica em nossa estrutura
econômica, o desenvolvimento de uma nova sensibilidade: uma
concepção de razão não repressiva que potencialize a imaginação, as
utopias e os sonhos. A concepção de razão estabelecida após a
modernidade, de uma razão calculadora, unidimensional e que
somente se atém aos fatos, consequentemente, reduz o Eros, a
fruição e limita de maneira exacerbada as nossas potencialidades
mais humanas, a nossa felicidade e, portanto, necessita ser revista.
Como alternativa, este trabalho propõe a cosmovisão e o resgate ao
sensível, à ancestralidade, ao ambiente dos sonhos expresso nas
filosofias marcuseana, krenak e yanomami. Objetiva contribuir com
o desenvolvimento filosófico e social de uma racionalidade sensível,
lúdica, que potencialize a sensualidade (Sinnlichkeit) e,
consequentemente, proporcione um diálogo descolonizador entre os
diferentes saberes. Em Marcuse, a possibilidade de uma vida feliz e
digna, que realize efetivamente o imperativo categórico marxiano de
“subverter todas as relações em que o homem é um ser humilhado,

302
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

escravizado, abandonado, desprezível”, depende da recusa, i.e., da


Grande Recusa, e esta, segundo Marcuse, se dá de várias formas;
contudo, constitui seu maior potencial subversivo quando ocorre a
partir dos povos que foram marginalizados pela estrutura dominante
da sociedade, entretanto recusaram (e ainda recusam) os padrões
estabelecidos do sistema capitalista. Os povos originários, que no
Brasil resistem há mais de quinhentos anos, representam a mais alta
recusa, e os saberes ancestrais que as suas crenças contêm dialogam
e complementam o arcabouço teórico do filósofo da libertação
Herbert Marcuse. Este diálogo desenvolve-se a partir da condição
sine qua non para uma vida melhor, mais livre e mais justa: uma nova
sensibilidade.

Palavras-chave
Marcuse. Kopenawa. Krenak. Teoria Crítica. Filosofia Ameríndia.

Referências
ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento:
fragmentos filosóficos. Trad. Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro:
Zahar, 2021.
MARCUSE, Herbert. A grande recusa hoje. Trad. Isabel Loureiro e Robespierre
de Oliveira. Petrópolis: Vozes, 1999.
MARCUSE, Herbert. Contrarrevolução e revolta. Trad. Álvaro Cabral. Rio de
Janeiro: Zahar, 1973.
MARCUSE, Herbert. Eros e civilização. Trad. Álvaro Cabral. São Paulo:
Círculo do Livro / Zahar, 1956.
MARCUSE, Herbert. O homem unidimensional. Trad. Robespierre de Oliveira,
Débora Cristina Antunes e Rafael Cordeiro Silva. São Paulo: Edipro, 2015.
MARCUSE, Herbert. Um ensaio para a libertação. Trad. Maria Ondina Braga.
Lisboa: Libravia Bertrad, 1977.
MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel. Trad. Rubens Enderle e
Leonardo de Deus. São Paulo: Boitempo, 2013.
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã
yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

303
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
KRENAK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia
das Letras, 2019.
KRENAK, Ailton. Futuro Ancestral. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
SHIVA, Vandana. Monoculturas da mente: perspectivas da biodiversidade e da
biotecnologia. São Paulo: Global, 2003.

304
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Princípios de justiça social: a importância da


posição original e do véu da ignorância em Rawls

Bred Patrik Oliveira Mugnol1


Orientadora: Nelsi Kistemacher Welter1

Resumo
A presente pesquisa pretende mostrar porque Rawls recorre ao
método contratualista, utilizando a posição original e o véu da
ignorância para a escolha dos princípios da justiça social. Para tanto,
primeiramente precisamos entender as circunstâncias que levam o
autor a pensar o problema da justiça. Na primeira sessão da obra Uma
teoria da justiça, Rawls explana o contexto em que pretende trabalhar
e aplicar sua teoria. No início da obra de 1971, quando afirma que “a
justiça é a primeira virtude das instituições sociais, assim como a
verdade é dos sistemas de pensamento” (Rawls, 1997, p. 3), notamos
que o autor relaciona a justiça com as instituições sociais, indicando
que abordará o problema da justiça social. Isso quer dizer que o
objeto da justiça é a estrutura básica da sociedade e suas instituições
básicas. Também é importante compreendermos que Rawls entende
sociedade como um sistema de cooperação social. Porém, segundo o
autor, como há divergentes opiniões dentro da sociedade, há
problemas quanto à melhor forma da distribuição dos benefícios
provenientes da cooperação, pois cada qual tem sua ideia de como
devem ser distribuídos, levando-os a conflituarem e,
consequentemente, à necessidade de buscar resposta aos problemas
em questão. Nesse contexto, é preciso voltar o olhar para a justiça e
suas definições, pois, se cabe às instituições sociais básicas atribuir
direitos e deveres, e benefícios gerados pela cooperação social, é de
suma importância pensar o que é justiça, e qual seu objeto primário,
ou seja, onde ela deve ser aplicada. Conforme já mencionamos, a

1Doutora em Filosofia e professora da UNIOESTE – Campus de Toledo.


E-mail: nelsi.welter@unioeste.br

305
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

abordagem do problema de justiça feita por Rawls se volta apenas à


justiça social, não havendo a preocupação do autor com questões de
justiça interpessoal ou internacional, por exemplo. Nessa
perspectiva, o que ele considera como objeto da justiça é o modo
como as instituições sociais distribuem direitos e deveres e
determinam a divisão das vantagens obtidas pela cooperação social,
além de influenciar os projetos de vida dos cidadãos. Porém, a
estrutura básica enfrenta um problema de desigualdade, já que as
circunstâncias de nascença das pessoas são determinadas pela
‘‘loteria da vida’’, o que leva a posições de favorecimento e a vantagens
imerecidas de uns em relação aos outros. Cabe ao Estado, nesse
sentido, a promoção da justiça social com o intuito de corrigir as
desigualdades sociais e econômicas. Para John Rawls, é aí que os
princípios de justiça têm que atuar primeiro, pois regularão a escolha
de uma constituição e dos elementos que regerão os sistemas sociais.
Para que esses princípios sejam escolhidos de forma equitativa, ele
recorre ao método contratualista, lançando mão das ideias de
posição original e véu da ignorância. O propósito de recorrer ao
contratualismo é de estabelecer um mecanismo imparcial para a
escolha dos princípios que deverão regular a sociedade, garantindo
que todos os membros da sociedade sejam beneficiados de modo
equitativo.

Palavras-chave
Justiça social. Posição Original. Véu da ignorância. Princípios de
Justiça.

Referências
RAWLS, John. Uma Teoria da justiça. Trad. Almiro Pisetta e Lenita M. R.
Esteves. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
WELTER, Nelsi. John Rawls: a importância da posição original como
procedimento equitativo de determinação de princípios de justiça. In: Tempo
de ciência, v. 14, n. 27, 2007.

306
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
WELTER, Nelsi. O conceito de justiça na teoria rawlsiana: considerações
introdutórias. In: Diaphonía. v. 9, n. 2, 2023.

307
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Propriedade e contrato em Guilherme de Ockham:


intersecções e influências no contratualismo moderno

Anderson D’Arc Ferreira 1

Resumo
No presente trabalho pretende-se estabelecer as linhas gerais do
pensamento político de Guilherme de Ockham. Sabemos, no campo
da História da Filosofia, que a todo conjunto teórico temos
subjacente um grande debate de ideias operado em um momento
específico. Isso não ocorreu, de forma diferente, com algumas das
noções basilares do Contratualismo desenvolvido na Modernidade,
o qual refletia um enorme debate ocorrido no medievo. Um dos
maiores influenciadores dessas noções políticas modernas foi o
pensamento do Frade Franciscano Guilherme de Ockham. Inserido
no contexto do debate político entre papistas e anti-papistas do
século XIV, nosso autor é precursor de algumas ideias que
fortaleceram as defesas de Ludovico da Baviera frente às pretensões
da plenitudo potestatis pretendida pelos teocratas. Nesse sentido,
nosso autor defende a existência de dois poderes distintos, o
espiritual e o secular, ambos com campos de atuação específicos e
diferentes entre si. O Papa somente teria poder sobre as coisas
espirituais, não sobre os reinos ou as coisas relativas à sociedade
humana. O contexto dos debates em que ele está inserido não
poderia deixar de conduzi-lo à defesa da autonomia do poder civil,
oriundo do imperador, em relação ao poder espiritual, oriundo do
Papa. Nesse estudo apontaremos apenas dois pontos basilares no
pensamento político ockhamista, a saber, a defesa do direito de
propriedade e a necessidade de um acordo, contrato, entre os

1Doutor em Filosofia. Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em


Filosofia da Universidade Federal da Paraíba.
E-mail: anderson.darc@academico.ufpb.br

308
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

homens para se estabelecer uma autoridade que possa gerir a vida em


sociedade.

Palavras-chave
Ockham. Domínio. Propriedade. Contrato Social. Secularização.

Referências
CULLETON, Alfredo. Três marcas (estigmas) de Ockham no pensamento de
Hobbes (O subsídio ockhamiano ao pensamento hobbesiano). In: Veritas,
Porto Alegre, v. 45, n. 3, 2000.
FRAGA, Fernando Aranda. Acerca de los antecedentes ockhamianos del
contractualismo britânico moderno e del neocontractualismo
contemporâneo. In: Veritas, v. 45, n. 3, 2000.
GHISALBERTI, Alessandro. Guilherme de Ockham. Trad. Luís A. De Boni.
Porto Alegre: EDIPUCRS, 1997.
MIETHKE, Jürgen. Las ideas políticas de la Edad Media. Trad. Francisco
Berteloni. Biblos, 1993.
OCKHAM, Guilherme de. Brevilóquio sobre o principado tirânico. Trad. Luis
A. De Boni. Petrópolis: Vozes, 1988.
OCKHAM, Guilherme de. Obras Políticas. Trad. José Antônio de Camargo R.
S. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999.
OCKHAM, Guilherme de. Oito Questões sobre o Poder do Papa. Trad. José
Antônio de Camargo R. S. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.

309
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Propriedade privada no estado de


natureza em Locke e Kant

Vanderson Lopes Coelho1

Resumo
O presente resumo tem como problema a questão da propriedade
privada no estado de natureza em John Locke e Immanuel Kant2. Os
objetivos são; a) Mostrar que para Locke a propriedade, no estado de
natureza, são os frutos de um território adquiridos através do
trabalho b) Que o território, que pertencia originariamente à toda a
humanidade, também é adquirido através do trabalho; c) Ver, em
Kant, que no estado de natureza, a propriedade consiste na exclusão
dos outros do uso privativo da coisa sobre da qual todos estão de
posse comum originária; d) Que a coisa é um terreno delimitado da
superfície Terra, adquirida via ocupação. As obras trabalhadas, e que
vão orientar a comunicação são: o Segundo Tratado do governo civil,
de Locke, e A Metafísica dos Costumes, de Kant. Para Locke, o Estado
de natureza é regido por um direito natural, que toda a humanidade
aprende devem respeitar a vida, a saúde, a liberdade e propriedade
recíproca, ele entende, portanto, que há propriedade no estado de
natureza. A propriedade de um indivíduo no estado de natureza é a
dos frutos que consegue extrair de um território, bem como os frutos
que produz ao trabalhar sobre ele, pois ao fazê-lo o indivíduo coloca
um pouco de sua pessoa nele, pessoa que pertence apenas a ele
mesmo, de modo que os frutos produzidos são sua propriedade
privada, como uma extensão da propriedade sobre si mesmo. A
propriedade privada também é do território em si, que antes
pertencia em comum à toda humanidade, pois quando um indivíduo
é o primeiro a cercá-lo, trabalhar sobre ele, melhorando-o, se torna

1Mestrando em Filosofia. UNIOESTE. E-mail: pig.morrison@hotmail.com


2Nos baseamos em fragmentos da dissertação apresentada no curso de Mestrado
em filosofia da UNIOESTE.

310
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

sua propriedade privada, pois o separa do bem comum. Ninguém é


lesado pela apropriação de um indivíduo sobre uma parte da Terra
tendo em vista melhorá-la, se resta o bastante de terra para os outros
em quantidade e qualidade. Para Kant, a propriedade privada de um
indivíduo é aquela que que está ligada a ele, mesmo que não a esteja
detendo: a posse jurídica. Kant afirma, a princípio, que só a
constituição civil, ou estado civil, pode assegurar a propriedade
privada de cada um face aos demais, tornando-a peremptória. O
filósofo afirma, contudo, que a constituição civil apenas assegura a
cada um sua propriedade privada, mas não a fixa, nem a determina,
toda segurança já pressupõe o seu de cada um, de modo que tem que
se admitir que ela existe no estado de natureza. Para Kant, um
indivíduo pode possuir uma coisa corpórea (substância), a prestação
de outrem, ou conjugue e a prole. Nos atendo à coisas corpóreas, um
indivíduo ter propriedade privada sobre uma coisa, uma substância,
consiste nele excluir todos os outros do uso privativo da mesma. A
condição de possiblidade de fazer essa exclusão é que o indivíduo se
encontra em posse comum originária com todos os outros sobre a
coisa em questão. A coisa corpórea, a substância, é uma parte da
superfície da Terra e é primeiramente adquirida através da ocupação,
ocupação que só pode ocorrer sobre uma coisa.

Palavras-Chave
Locke. Kant. Propriedade.

Referências
KANT, I. A Metafísica dos Costumes. Trad. José Lamego. Lisboa: Fundação
Calouste, 2011.
LOCKE, J. Segundo Tratado do Governo Civil. Trad. Magda Lopes e Marisa
Lobo da Costa. Rio de Janeiro: Vozes, 2001.
TERRA. R. A doutrina Kantiana da propriedade. São Paulo: Polis, 1993.

311
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Qual a relação entre direitos e liberdade


na teoria de Mary Wollstonecraft?

Sarah Bonfim 1

Resumo
Nessa apresentação me proponho a responder a seguinte pergunta:
qual a relação entre direitos e liberdade na teoria de Mary
Wollstonecraft? Duas de suas mais importantes obras possuem no
título uma referência a direitos, a Reivindicação dos Direitos dos
Homens e a Reivindicação dos Direitos da Mulher. Mas diferente de
outros teóricos contemporâneos, ela não elabora direitos
propriamente ditos. Na Reivindicação dos Direitos dos Homens, que
é o objeto principal de análise dessa apresentação, Wollstonecraft
identifica quais são os obstáculos que impedem que se alcance uma
sociedade mais justa e mais igualitária e, portanto, mais livre. Sua
argumentação é feita em oposição às Reflexões sobre a Revolução na
França, de Edmund Burke. Com o objetivo de estabelecer uma
relação entre direitos e liberdade, reconstruo o entendimento de
Edmund Burke sobre o direito dos ingleses, como feito na obra
Reflexões sobre a Revolução na França para, em seguida, apresentar
os contrapontos de Wollstonecraft, expostos pela Reivindicação dos
Direitos do Homem. Esse percurso se justifica, pois é na
contraposição das referidas obras que percebemos a avanço proposto
por Wollstonecraft. Seja na ironia dos argumentos, infelizmente não
abordados aqui, seja no modo com que ela se posiciona, o que
pretendo evidenciar nessa apresentação. De antemão, posso afirmar
que ela estabelece uma relação de dependência entre direitos e
liberdade, em que só é livre quem possui direitos assegurados. Ela
exclui a propriedade como um pré-requisito, uma garantia para os

1 Doutoranda em Filosofia pelo programa de pós-graduação em Filosofia da


Universidade Estadual de Campinas. Bolsista FAPESP, processo nº 2021-02257-5.
E-mail: sarah_bonfim@yahoo.com.br

312
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

direitos, diferente de Burke. Wollstonecraft advoga por uma


sociedade em que a liberdade só é possível se o igualitarismo for uma
ordem. O direito é um status adquirido, que é vinculado à
racionalidade presente em todos os seres humanos, sem distinção.
Essa concepção de direitos é o que permite que ela se oponha ao
conservadorismo de Burke, bem como ao universalismo excludente
dos revolucionários franceses.

Palavras-chave
Direitos. Liberdade. Propriedade.

Referências
BURKE, Edmund. Reflexões sobre a Revolução em França. Trad. Ivone
Moreira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2015.
HALLDENIUS, Lena. Mary Wollstonecraft’s Feminist Critique of Property:
On Becoming a Thief from Principle. In: Hypatia, v. 29, n. 4, 2014.
JAMES, Susan. Mary Wollstonecraft’s Conception of Rights. In: BERGÈS,
Sandrine. COFFEE, Alan. (Eds.), The Social and Political Philosophy of Mary
Wollstonecraft. Oxford: Oxford University Press, 2016.
WOLLSTONECRAFT, M. Vindication of the Rights of Men. In:
WOLLSTONECRAFT, Mary. Todd, Janet & Butler, Marilyn. (Eds.). The Works
of Mary Wollstonecraft. v. 5. London / New York: Routledge, 2016.

313
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Ricahrd Rorty e as estratégias redescritivas

Lucas Sartoretto 1
Orientador: Marcelo do Amaral Penna-Forte 2

Resumo
O tema de nossa reflexão é a redescrição, conceito utilizado pelo
filósofo neopragmatista Richard Rorty. O problema que procuramos
investigar é como ocorrem as estratégias de redescrição e o nosso
objetivo geral é mostrar como a redescrição pode ser utilizada para a
recriação de novas descrições sobre o a natureza, a sociedade e o
homem. Especificamente objetivamos avaliar como a hermenêutica
filosófica pode nos oferecer novas estratégias de compreensão destes
fenômenos. Utilizaremos também o conceito de
incomensurabilidade dos paradigmas, formulado pelo filósofo e
historiador da ciência Thomas Kuhn para compreender estratégias
de redescrição que ocorreram na história da ciência, buscaremos
assim estendê-las à história da filosofia e da cultura. Nesse sentido,
procuraremos desenvolver a ideia segundo a qual é possível
compreender que culturas são criadas sem que se fundamente suas
descrições por meio de conceitos como substâncias e essências,
conceitos esses caros a metafísica. A partir desse ponto, poderemos
exemplificar que não existem propriamente essências a serem mais e
mais apreendidas no processo epistemológico, mas apenas diversas
descrições e suas relações. Com isso, podemos defender que a
filosofia e as demais ciências podem fundamentar suas investigações,
antes, em uma forma de inquirição baseada na conversação ao modo
socrático, do que, em uma investigação fundamentada em uma assim
chamada teoria do conhecimento. Essa investigação se orienta
segundo obras de Richard Rorty e de seus comentadores

1 Licenciado em Educação Física e licenciando em filosofia. Unioeste.


E-mail: filo.lucas@hotmail.com
2 Doutor em filosofia. Unicamp. E-mail: marcelo.forte@unioeste.br

314
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

qualificados. Nossa intenção é, sobretudo, compreender como esse


conceito de redescrição pode atuar no desenvolvimento de uma
cultura desprovida de qualquer essencialismo filosófico. Este, por sua
vez, poderia ser então considerado como o fundamento de
concepções arbitrárias e sociedades totalitárias. Já a redescrição, por
outro lado, essa só poderia ter sucesso em sociedades onde imperam
valores democráticos e de solidariedade. Ao constatar a estratégia de
uma fundamentação pela busca de essências à de uma conversação
pela partilha de redescrições, amplia-se a defesa da concepção
segundo a qual uma sociedade democrática encontra justificação em
saberes históricos, adaptáveis e sofísticos, em oposição a supostas
descrições definitivas, inflexíveis e de origem metafísica.

Palavras-chave
Richard Rorty. Neopragmatismo. Redescrição.

Referências
CALDER, Gideon. Rorty e a redescrição. São Paulo: UNESP, 2006.
RORTY, Richard. A filosofia e o espelho da natureza. 3. ed. Rio de Janeiro:
Relume Dumará, 1995.
RORTY, Richard. Pragmatismo: a filosofia da criação e da mudança. Belo
horizonte: UFMG, 2000.

315
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Ruptura metabólica: a visão de Marx sobre a desconexão


do ser humano com a natureza pelo capitalismo

Leina Maria Glaeser1


Orientador: Rosalvo Schutz 2

Resumo
Karl Marx, no mundo acadêmico, é frequentemente associado à
teoria do materialismo histórico e à luta de classes. No entanto, há
um conceito menos conhecido que Marx também explorou em suas
obras: metabolismo. Embora muitos associem a palavra apenas a
processos físicos de consumo e digestão, Marx adotou o conceito de
“metabolismo” para descrever, primordialmente, o trabalho como
um processo de interação entre o ser humano e a natureza. A
natureza vista como o sustento vital da humanidade, um “corpo
inorgânico” que deve ser protegido, no qual, inclusive, o próprio ser
humano está inserido enquanto parte constitutiva. Marx preocupou-
se com as questões ambientais ao perceber que o ser humano está
integrado à natureza e que o sistema capitalista degradou os recursos
naturais a um simples instrumento em vista do lucro. Estudiosos da
filosofia marxiana, por vezes, fazem referência ao metabolismo
homem-natureza enquanto um tema que se fez presente apenas na
fase inicial do trabalho de Marx, especialmente nos Manuscritos
econômicos e filosóficos. Porém estudiosos contemporâneos do
pensamento de Marx, como John Bellamy Foster e Kohei Saito,
enfatizam que o referido conceito também é encontrado em outras
obras, como no caso da: A ideologia alemã, Grundrisse, dos Cadernos
de Londres e em O capital. Ou seja, é um tema recorrente e digno de
meticulosa atenção, por poder nos indicar novas possibilidade
teóricas e práticas quanto a compreensão das raízes e possibilidades
de superação da atual crise ambiental. Foster, em seu livro A ecologia

1 Mestranda. UNIOESTE. E-mail: leinaglaeser@gmail.com


2 Doutor Instituição. UNIOESTE. E-mail: rosalvoschutz@hotmail.com

316
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

de Marx: materialismo e natureza criou o conceito de “falha


metabólica”, ao analisar a ruptura da conexão do ser humano com a
natureza dentro do sistema capitalista, que explora recursos naturais
e mão de obra de forma abusiva, ocasionando tanto o
empobrecimento do solo como o adoecimento do trabalhador. Saito
se aprofunda no tema, encontrando vieses ecológicos nas obras de
Marx e citações do termo metabolismo em diversas partes de O
capital, como “metabolismo entre homem e natureza”, “metabolismo
social” e “metabolismo da natureza”, contrariando analistas críticos
da obra marxista que dizem ter sido Marx, antiecológico. O objetivo
que norteia esta pesquisa é a análise dos conceitos de metabolismo
entre homem e natureza, a partir de Marx, e suposta falha, ou ruptura
metabólica que, segundo Foster, teria sido causada pelo capitalismo.
A abordagem do tema tem como base as obras A ecologia de Marx:
materialismo e natureza (2005) de John Bellamy Foster e O
ecossocialismo de Karl Mark: capitalismo, natureza e crítica
inacabada à economia política (2021) de Kohei Saito. São leituras
essenciais para compreender o pensamento de Karl Marx quanto à
dissociação do ser humano com a natureza causada pelo sistema
capitalista.

Palavras-chave
Natureza. Metabolismo. Trabalho. Capital.

Referências
BILHALVA VITÓRIA, Fernando; FONTANA, Cleder. Natureza e
sociometabolismo em Marx: contribuições à leitura da crise socioecológica do
capital. In: Germinal: marxismo e educação em debate, v. 13, n. 2, 2021.
Disponível em: Vista do Natureza e sociometabolismo em Marx: contribuições
à leitura da crise socioecológica do capital (ufba.br). Acesso em: 27 jul. 2023.
FOSTER John Bellamy. A ecologia de Marx: materialismo e natureza. Trad.
Maria Teresa Machado. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
MARX, Karl, Manuscritos econômicos-filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2004.

317
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
SAITO, Kohei. O ecossocialismo de Karl Mark: capitalismo, natureza e crítica
inacabada à economia política. Trad. Pedro Davoglio. São Paulo: Boitempo,
2021.
SOUZA ARAÚJO, Nailsa Maria; SILVA Maria das Graças E. Metabolismo
social e sua ruptura no capitalismo: aspectos históricos e sua configuração na
etapa de financeirização da natureza. In: Germinal: marxismo e educação em
debate, v. 13, n. 2, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/
revistagerminal/article/view/45306/25204
Pod Cast Ecologia Marxista. 2020. Disponível em: https://open.spotify.com/
show/6O8qqsCDPAo33CVECkh5t6?si=3fd865f417a0418d&nd=1

318
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Schopenhauer: história e a lei da motivação

Caio Miguel Viante 1

Resumo
O objetivo desse texto é analisar a lei da motivação como organum
do saber histórico na filosofia de Schopenhauer. Trataremos da lei da
motivação como razão que determina os limites do modo de saber
histórico. Nesse sentido, a nossa investigação tem como pauta a
compreensão e a descrição da lei da motivação na concepção de
história de Schopenhauer. Entendemos que a história tem “os fatos
humanos ocorridos em seu conjunto como problema, e a lei da
motivação como órganon” (Schopenhauer, 2005, p.73). À afirmação
de que modo de saber proporcionado pela história está subordinado
a uma lei anterior, contrapõe-se em certa medida a ideia que a
história não possui uma organização esquemática. Diz
Schopenhauer que “não há sistema de história, como há de qualquer
outro ramo de conhecimento” (Schopenhauer, 2019, p. 118). Foi
diante desse contexto de tensão que entendemos a importância de
analisar a lei da motivação e sua relação com o objeto da história que
permanece no âmbito da compreensão da experiência humana no
tempo. Para afim de esclarecimento do nosso trabalho elencamos
dois objetivos específicos que contribuem para o elucidação dessa
tensão entre lei da motivação e objeto da história. O primeiro
consiste em compreender a lei da motivação circunscrita a quarta
classe de objetos do princípio de razão. E a segunda, consiste na
questão do por que o historiador em sua exposição atua sobre o
abrigo dessa lei que, a rigor, determina os limites do seu modo de
atuar sobre o saber histórico. Para alcançarmos as metas propostas
por esse trabalho, entendemos que O mundo como vontade e

1 Mestre em Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem


experiência na área de Filosofia e História com ênfase em estudos
schopenhaurianos. Atualmente doutorando da Pontifícia Universidade Católica do
Paraná orientando do professor Dr. Eduardo Ribeiro da Fonseca.

319
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

representação tomo I parágrafo 51, bem como, capítulo 38 do Tomo


II são de grande relevância para nossa exposição. No que concerne ao
vínculo da lei da motivação com ao princípio de razão, buscaremos
analisar a tese schopenhaueriana Sobre a quadrúplice raiz do
princípio de razão suficiente. Esse importante texto serve de
“introdução a O mundo como Vontade e Representação [...] sem
familiaridade com essa introdução e propedêutica é completamente
impossível a compreensão propriamente dita do presente escrito”
(Schopenhauer, 2005, p. 21).

Palavras-chave
História. Lei da motivação. Princípio de razão. Schopenhauer.

Referências
CACCIOLA, M. L. O conceito de interesse. In: Cadernos De Filosofia Alemã:
Crítica e Modernidade, v. 5, 1999.
CACCIOLA, M. L. M. O. A questão do finalismo na filosofia de Schopenhauer.
In: Discurso, n. 20, 1993.
FONSECA, E. R. O transcorrer do tempo em Schopenhauer: recorrência,
lembrança, memória e história. In: Voluntas, v. 12, 2021.
SCHOPENHAUER, A. Sobre a quadrúplice raiz do princípio de razão
suficiente. Trad. Oswaldo Giacoia Jr. e Gabriel Valladão Silva. Campinas:
Unicamp, 2019.
SCHOPENHAUER, A. O Mundo como Vontade e como Representação. Tomo
I. Trad. Jair Barboza. São Paulo: UNESP, 2005.
SCHOPENHAUER, A. O Mundo como vontade e representação. Tomo II. Trad.
Eduardo Ribeiro da Fonseca. Curitiba: UFPR, 2014.
SCHOPENHAUER, A. O Mundo como Vontade e como Representação. Tomo
II. Trad. Jair Barboza. São Paulo: UNESP, 2015.
SCHOPENHAUER, A. Metafísica do Belo. Trad. Jair Barboza. São Paulo:
UNESP, 2003.
SCHOPENHAUER, A. Fragmentos para a História da Filosofia. Trad. Maria
Lúcia Cacciola. São Paulo: Iluminuras, 2003b.

320
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
SCHOPENHAUER, A. Metafísica do Amor/ Metafísica da Morte (Sobre a
morte e sua relação com a indestrutibilidade de nosso ser em si). Trad. De Jair
Barboza. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
SCHOPENHAUER, A. A Necessidade Metafísica. Trad. Arthur Versiani
Velloso. Belo Horizonte: Itatiaia Limitada, 1960.

321
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Sensibilidade ao contexto e indexicalidade: John


Macfarlane e o contextualismo epistêmico não-indexical

Matheos Mattoso Maia 1

Resumo
O presente trabalho tem por objetivo analisar, a partir da distinção
empreendida por John MacFarlane entre sensibilidade ao contexto e
indexicalidade, as vantagens apresentadas pelas teorias semânticas
contextualistas não-indexicais em relação as teorias contextualistas
indexicais padrão, acerca de sentenças que expressam uma
atribuição de conhecimento (S “sabe” que P). O Contextualismo, tal
como tradicionalmente concebido, assumia que o conteúdo
proposicional daquilo que é expresso por sentenças do tipo “S sabe
que P” (knowledge-attributing sentences) varia de acordo com o
contexto de proferimento. Assim, diz-se que o termo “sabe” (know) é
indexical na medida em que o conteúdo expresso por sentenças do
tipo em questão depende das características relevantes do contexto
de uso, à saber, o mundo “w” e o padrão epistêmico “e” (o par
ordenado <w,e>). No entanto, tal como MacFarlane observou, além
da dependência do conteúdo em relação as características do
contexto (indexicalidade), existe ainda outro conceito que designa a
dependência da verdade ou extensões em relação as características
do contexto (sensibilidade ao contexto). Sendo assim, uma leitura
não-indexical do termo “sabe” surge a partir dessa distinção, de modo
que os valores de verdade de sentenças que contenham o referido
termo dependem do contexto <w,e> somente na medida em que este
determina em quais circunstâncias de avaliação a proposição deve ser
avaliada. Nesse caso, tais sentenças não são, portanto, padrão-
epistêmico-indexicais pois expressam a mesma relação em todo
contexto de uso (isto é, o conteúdo proposicional se mantém o

1Graduando em Filosofia (Licenciatura). Universidade Federal Fluminense (UFF).


E-mail: matheosmaia@id.uff.br

322
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

mesmo); contudo são padrão-epistêmico-sensíveis-ao-contexto, na


medida em que a circunstância do contexto <w,e> em que a
proposição expressa é avaliada, é determinada pelo contexto <w,e>
em que a sentença é proferida. Com isso, a partir do artigo canônico
intitulado Nonindexical Contextualism (2007), e de seu livro
Assessment Sensitiviy: Relative Truth and its Applications (2014,
cap.8) o presente estudo se propôs a investigar as vantagens que esse
contextualismo da forma não-indexical apresenta acerca da
semântica do termo “sabe”. Assim, partindo da identificação do
problema/impasse paradigmático (conundrum) gerado por nossas
práticas de atribuição de conhecimento, procurou-se analisar de que
forma a solução contextualista não-indexical consegue capturar os
elementos que são, segundo MacFarlane, corretos na solução
contextualista padrão.

Palavras-chave
Indexicalidade. Sensibilidade ao contexto. Contextualismo não-
indexical. Padrão epistêmico.

Referências
CANÇADO, Márcia. Manual de Semântica: noções básicas e exercícios. 2. ed.
Belo Horizonte: UFMG, 2008.
JACKENDOFF, Ray. The Architecture of the Language Faculty. 2. ed.
Cambridge: MIT Press, 1997.
KAPLAN, D. Demonstratives: An Essay on the Semantics, Logic, Metaphysics,
and Epistemology of Demonstratives and other Indexicals. In: ALMOG, J.;
PERRY, J.; WETTSTEIN, H. (Org.). Themes from Kaplan. Oxford: Oxford
University Press, 1989.
KOLBEL, Max. Introduction: Motivations for Relativism. In: GARCÍA-
CARPINTERO, M & KOLBEL, M. (Eds.). Relative Truth. Oxford: Oxford
University Press, 2008.
LEWIS, David K. Index, context, and content. In: KANGER, S.; ÖHMAN, S.
(Eds.). Philosophy and Grammar. Dordrecht: Reidel, 1980.
MACFARLANE, John. Nonindexical contextualism. In: Synthese, v. 166, n. 2,
2009.

323
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
MACFARLANE, John. The Assessment Sensitivity of Knowledge Attributions.
In: T. S. GENDLER; J. HAWTHORNE. (Eds.). Oxford Studies in Epistemology.
Oxford: Oxford University Press, 2005.
MACFARLANE, John. Assessment Sensitivity: Relative Truth and its
Applications. Oxford: Oxford University Press, 2014.
MENDONÇA, Wilson. Contextualismo e Relativismo na Ética. In:
Trans/Form/Ação, v. 46, 2023.
RECANATI, François. Truth-conditional pragmatics. New York: Oxford
University Press, 2010.

324
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Ser filósofo nas luzes francesas: sobre


O verdadeiro filósofo de César Chesneau Du Marsais

Paulo Jonas de Lima Piva 1

Resumo
No século XVIII, nascedouro do Iluminismo, mais precisamente no
submundo dos manuscritos e livros clandestinos do absolutismo
monárquico francês, um texto descrevendo em detalhes o que é ser
um filósofo de verdade — dado o contexto, explicando o que é ser um
filósofo iluminista —, teve muitos leitores, o que chamou a atenção
de vários intelectuais importantes da época, dentre eles, D’Alembert
e Voltaire. Por sua celebridade o texto acabou ganhando uma
segunda versão, condensada, porém, legalizada. Trata-se do texto do
gramático, advogado e enciclopedista César Chesneau Du Marsais
(1676-1756), ou Dumarsais, intitulado O verdadeiro filósofo, e que se
popularizou como O filósofo. Concebido em 1730 e publicado em 1743
por Du Marsais, o texto foi transformado postumamente, no ano de
1765, no verbete “Filósofo” da Enciclopédia de Diderot e D’Alembert,
até receber a sua última versão em 1796. É sobre esse documento das
Luzes francesas menos comentado entre nós mas muito conhecido
na França absolutista, em particular da sua concepção de filósofo,
que trata esta comunicação, no fundo, um desafio para pensarmos o
que é ser iluminista no século XXI.

Palavras-chave
Dumarsais. Enciclopédia. Filósofo. Iluminismo. Luzes.

1Doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Professor no Centro de


Ciências Naturais e Humanas da Universidade Federal do ABC (UFABC).

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XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Referências
BALADI, M.; SCHOPKE, R. Os subterrâneos da filosofia. In: DU MARSAIS, C.
C. et al. Filosofia clandestina: cinco tratados franceses do século XVIII. São
Paulo: Martins, 2008.
DU MARSAIS, C. C. Philosophe. In: D’ALEMBERT, J. R.; DIDEROT, D.
Encyclopédie, ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers, v.
12, 1765. Disponível em: https://fr.wikisource.org/wiki/L%E2%80%99
Encyclop%C3%A9die/1re_%C3%A9dition/PHILOSOPHE. Acesso em: 26 de
janeiro de 2023.
DU MARSAIS, C. C. O verdadeiro filósofo. In: DU MARSAIS, C. C. Filosofia
clandestina: cinco tratados franceses do século XVIII. São Paulo: Martins,
2008.
MARECHAL, S. Dictionnaire des athées anciens et modernes. Paris: Coda,
2008.
ONFRAY, M. Traité d’athéologie: physique de la métaphysique. Paris: Grasset
& Fasquelle, 2005.
ONFRAY, M. Contre-histoire de la philosophie 4: les ultras des Lumières. Paris:
Grasset & Fasquelle, 2007.
PINKER, S. O novo Iluminismo: em defesa da razão, da ciência e do
humanismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
ROUANET, S. P. O olhar iluminista. In: NOVAES, A. (Org.). O olhar. São
Paulo: Companhia das Letras, 1988.
TODOROV, T. O espírito das Luzes. São Paulo: Barcarolla, 2008.

326
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Sob o sol de dasein: a descoberta do


ser-aí na Teologia da Esperança

Jaqueline Thais de Souza 1

Resumo
A hermenêutica da facticidade de Heidegger inaugurou uma forma
diferente de compreender, colocando a própria compreensão sob um
foco ontológico (Gadamer, 2003, p. 40). Pelo fato de sermos seres
históricos, a historicidade do ser-aí conduz à conclusão que o
conhecimento é também histórico, devendo ser analisado e
considerado desse modo (Gadamer, 2003, p. 43). Considerando a
historicidade do aí do século passado, especificamente da Segunda
Guerra Mundial, a Teologia da Esperança do teólogo protestante
Jürgen Moltmann ricamente influenciada pela sua história pessoal e
de todos aqueles que viveram a experiência nefasta dos campos de
concentração, confirmam a ontologia do ser-aí de Heidegger. Desse
modo, este trabalho tem como propósito tecer algumas
considerações sobre a hermenêutica da facticidade heideggeriana, a
fim de analisar também a forma como se dá a interpretação da
teologia de Moltmann sob o enfoque histórico proposto por
Heidegger para, por fim, compreender o ser-aí da Teologia da
Esperança. Trata-se de pesquisa que utilizou o método de abordagem
indutivo, fundamentado basicamente em pesquisa bibliográfica
explicativa.

Palavras-chave
Hermenêutica da faticidade. Teologia da Esperança. Compreensão.
Teoria do Conhecimento.

1 Bacharela em Direito pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná –


UNIOESTE, Campus Marechal Cândido Rondon/PR. Bacharela em Teologia –
Doutrina Católica pelo Centro Universitário Internacional – UNINTER.
E-mail: jaqueline.th.souza@hotmail.com

327
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Referências
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Contraponto: EDUERJ, 2006.
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Ave-Maria, 2012.
CHACON, Vamireh. Jornada entre Heréticos (com Bloch, Lukács e Dubsky).
Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, n. 17/18, 1968.
COSTA, Maria de Fátima Tardin. A utopia na perspectiva de Ernst Bloch. In:
Anais de trabalhos completos do XV Encontro Nacional da ABRAPSO, 2009.
Disponível em: http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/images/Anais_
XVENABRAPSO/526.%20%20a%20utopia%20na%20perspectiva%20de%20er
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FIALHO, Rodrigo Sousa. Notas Reflexivas sobre conceitos que fundamentam
a utopia como possibilidade cocnreta n’o Princípio Esperança de Ernst Bloch.
In: Complexitas – Revista de Filosofia Temática, v. 2, n. 2, 2019. Disponível em:
https://periodicos.ufpa.br/index.php/complexitas/article/view/5419. Acesso
em: 15 set. 2023.
GAMADER, Hans Georg. O problema da consciência histórica. Trad. Paulo
César Duque Estrada. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2003.
GONÇALVES, Alonso S. A angústia em Heidegger e a esperança em
Moltmann: um diálogo especulativo. In: UNITAS – Revista eletrônica de
Teologia e Ciência das Religiões, v. 3, n. 1, 2015. Disponível em:
https://revista.fuv.edu.br/index.php/unitas/article/view/213/288. Acesso em
30 set. 2023.
GUERCHE, Ronaldo Palma. Hermenêutica da facticidade e coexistência
cotidiana com outros: Heidegger e a retórica de Aristóteles. 2011. Santa Maria.
79f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Santa Maria, Centro de
Ciências Sociais e Humanas, Programa de Pós-Graduação em Filosofia, RS,
2011.
HEIDEGGER, Martin. Interpretações fenomenológicas sobre Aristóteles:
introdução à pesquisa fenomenológica. Trad. Enio Paulo Giachini. Petrópolis:
Vozes, 2011.
HEIDEGGER, Martin. Ontologia: Hermenêutica da faticidade. 2. ed.
Petrópolis: Vozes, 2013.
KUZMA, Cesar. O teólogo Jürgen Moltmann e o seu caminhar teológico
realizado na esperança: acenos teo-biográficos. In: Atualidade Teológica –
Revista do Departamento de Teologia da PUC-Rio, n. 43, ano XVII, 2013.

328
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
MOLTMANN, Jürgen. Teologia da Esperança: estudos sobre os fundamentos e
as consequências de uma escatologia cristã. Trad. Helmuth Alfredo Simon. 3.
ed. São Paulo: Teológica / Loyola, 2005.
NISSA, São Gregório de. A criação do homem; A alma e a ressurreição; A
grande catequese. São Paulo: Paulus, 2011.
OLIVEIRA, Hudson Mandotti de. A força utópica do messianismo político de
Ernst Bloch. In: Revista UFMG, v. 24, n. 1 e 2, 2017. Disponível em:
https://www.ufmg.br/revistaufmg/downloads/24/02_HudsonOliveira_Forca
Utopica_pags_16a39_Revista_UFMG_24.pdf. Acesso em: 13 set. 2023.
PORTO, Douglas Michel Ribeiro. Afetos em movimento: Esperança e angústia
como chaves interpretativas de movimentos sociais. 2022. Porto Alegre. 168 f.
Tese (Doutorado) – Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais, PUCRS,
Porto Alegre, 2022.
PROVINCIATTO, L. G. O retorno à vida fática como proposta filosófica em
Heidegger. In: Princípios: Revista de Filosofia, v. 26, n. 49, 2019. Disponível
em: https://periodicos.ufrn.br/principios/article/view/13561. Acesso em: 1 out.
2023.
ROCHA, Fernanda Brito da; PELINSKI, Márcio José. Por uma Teologia da
Esperança: uma leitura bíblica e dos documentos da Igreja Católica sobre a
Escatologia. In: Caderno Intersaberes, v. 10, n. 28, 2021. Disponível em:
https://www.cadernosuninter.com/index.php/intersaberes/issue/view/
128. Acesso em: 25 set. 2023.
SANTOS, Jandir Silva dos. A hermenêutica da facticidade no pensamento
heideggeriano. In: Filosofando: Revista de Filosofia da UESB, ano 1, n. 1, 2013.
SOUZA, Clayton Lima de. Uma breve análise da teologia de Jürgen Moltmann:
Da Teologia da Esperança ao Universalismo. In: Revista Via Teológica. v. 20, n.
40, 2019.

329
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Sobre a teoria do duplo efeito e a guerra justa

Napoleão Schoeller de Azevedo Júnior 1

Resumo
A análise acerca da existência de uma guerra justa é assunto
recorrente ao longo da história da filosofia. Mesmo que haja a
aceitação de tal possibilidade, o assunto não está encerrado, pois
ainda restaria definir as condições que precisam estar satisfeitas para
que a qualificação “justa” possa ser atribuída ao conflito. Autores
como Aquino (2010) e Vitoria (2016) deram suas contribuições para o
estudo do Jus ad Bellum, do Jus in Bello e do Jus post Bellum. Nas
relações internacionais, a Teoria Realista engloba, de maneira
central, discussões acerca o tema. Pois, segundo seus autores, os
Estados utilizam todos os seus recursos para preservar a sua
existência e para satisfazer os seus interesses (Morgenthau, 2006 e
Waltz, 1979). Uma consequência desta tese parece ser a de que um
Estado, quando em conflito com outro, utilizará todo seu poder para
prevalecer sobre o adversário. Em conjunção com outro postulado,
aquele que afirma a separação radical entre a política e os princípios
morais, e, aparentemente, tem-se a seguinte tese: a ação de um
Estado em conflito armado com outro se dá em uma situação de
liberdade total e ilimitada. Se for assim, a dúvida não parecer ser
acerca da existência de uma guerra justa, mas sim de uma guerra
injusta, dada a falta de limitações jurídicas, morais e políticas. O fato
é que um importante marco para o estudo sobre o tema é o texto de
Santo Tomás Aquino no qual responde se é lícito matar alguém para
se defender (S. Th. IIaIIae, q. 64, a. 7), além da análise específica sobre
a guerra (S. Th. IIaIIae, q. 40). É neste contexto que o autor
apresentará aquilo que ficou conhecido como A Doutrina do Duplo
Efeito. Posteriormente, Francisco de Vitoria desenvolve os conceitos

1Doutor em Filosofia na Universidade Federal da Integração Latino-Americana


(UNILA). E-mail: napoleao.azevedo@unila.edu.br

330
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

e expande a teoria. Contemporaneamente, positivou-se, no Direito


Internacional, os princípios da guerra justa, surgindo a figura do
“Direito humanitário” (Rezek, 2022). No entanto, a Carta das Nações
Unidas (1945) parece condenar qualquer tipo de guerra. No mesmo
sentido, em 1949, o “direito de Genebra”, inaugurado pelas Quatro
Convenções de Genebra, parece indicar que, em última instância, a
guerra, de maneira geral, torna-se proibida. No entanto, mesmo na
Carta das Nações Unidas, é feita referência ao “direito inerente de
legítima defesa individual ou coletiva”, conforme se lê no artigo,
mesmo que não haja muita clareza sobre em que condições tal
legitimidade está presente. Neste trabalho, pretendemos expor a
Teoria do Duplo Efeito e analisar algumas consequências da sua
adoção, principalmente no contexto de um estudo acerca da guerra
justa.

Palavras-chave
Guerra Justa. Duplo-Efeito. Ética. Legítima defesa

Referências
AQUINO, Santo Tomás de. Suma Teológica VI. São Paulo: Loyola, 2012.
MORGENTHAU, Hans Joachim. Politics Among Nations: the struggle for
power and peace. New York: McGraw-Hill Companies, 2006.
ONU. United Nations Charter. 1945. Disponível em: https://www.un.org/en/
about-us/un-charter. Acesso em: 20 set. 2023.
REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público. São Paulo: Saraiva, 2022.
VITORIA, Francisco de. Relectiones sobre os índios e o poder civil. Brasília:
Universidade de Brasília/Fundação Alexandre Gusmão, 2016.
WALTZ, Kenneth N. Theory of International Politics. New York: McGraw-Hill,
1979.

331
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

“Somos um povo como os outros”:


Deleuze e a causa palestina

Ester Maria Dreher Heuser 1

Resumo
A temática desta comunicação está mobilizada pelos acontecimentos
terroristas que vêm ocorrendo no Oriente Médio, intensificados
desde o início de outubro de 2023, impetrados pelo grupo que
governa e controla a estreita e superpovoada Faixa de Gaza, o Hamas,
e pelo Estado de Israel que manifestou discursos e ações
determinados a exterminar a população palestina daquela região,
com o mais bem treinado exército do planeta, o que, tudo indica,
alcançará êxito brevemente. Diante do horror produzido pelas
imagens que nos atingem em tempo real, pela internet, e das
informações e contrainformações que produzem uma outra forma de
guerra, mas que, porém, é extensão daquela, um ponto de vista
filosófico precisa desviar-se do caminho mais fácil produzido por
ideias inadequadas, porque confusas e mutiladas, cujos efeitos são
distintos de suas causas e nos impedem de compreender, tendo como
consequência a moralização e o julgamento generalizados, que
tendem ao fácil maniqueísmo. Para produzir ideias adequadas que
criarão noções comuns e, consequentemente, uma complexa
compreensão, aspectos históricos são indispensáveis, especialmente
os considerados e narrados por quem ocupa o território e por quem
foi enxotado dele. Também a problematização filosófica pode
auxiliar na criação de ideias adequadas, é sobre uma perspectiva
desse tipo que esta comunicação se ocupa, propriamente de ideias
desenvolvidas por Deleuze em breves textos que se ocupam da causa
palestina: “o conjunto das injustiças que esse povo sofreu e não para

1Professora-pesquisadora Associada da UNIOESTE, Campus Toledo (PR), no curso


de Filosofia - Licenciatura, Mestrado e Doutorado (Linha: Ética e Filosofia Política).
E-mail: ester.heuser@gmail.com

332
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

de sofrer” (2016, p. 252). Quarenta e um anos nos separam do


primeiro registro escrito de Gilles Deleuze sobre essa causa. Trata-se
de uma conversa publicada no Jornal Libération, 8-9 de maio de 1982,
intitulada Os índios da Palestina, com o amigo Elias Sanbar – nascido
na Palestina em 1947, com 15 meses, após a proclamação do Estado
de Israel, passou a morar com a família no Líbano; em 1969 mudou-
se para Paris onde estudou e lecionou Direito internacional; foi,
ainda, professor no Líbano e nos Estados Unidos; em 1981, ajudou a
criar, em Paris, a Revista de estudos palestinos, da qual foi redator-
chefe por 25 anos; atualmente é embaixador palestino na UNESCO.
Além da recém-criada Revista, que Deleuze (2016, p. 202) percebe
como o amadurecimento do “tom” palestino que testemunha uma
“nova consciência” capaz de falar de “igual para igual com todo
mundo” que lembra, mostra, afirma e insiste que os palestinos
existem, apesar de terem sido evacuados de seu território, o filósofo
menciona uma comparação feita por Sanbar no livro Palestina 1948,
a expulsão: os palestinos são os peles-vermelhas dos colonos judeus
da Palestina, e devem desaparecer, tal como foi o processo que fez
nascer os Estados Unidos. Essa comparação dá azo para o
direcionamento da conversa entre os amigos, mas também para o
texto do ano seguinte, A grandeza de Yasser Arafat, no qual Deleuze
problematiza as consequências da visão religiosa e mística
alimentada pelo sionismo e resumida na fórmula de Israel: “Não
somos um povo como os outros” ao que os palestinos respondem:
“somos um povo como os outros, queremos ser apenas isso...” (2016,
p. 255). É em torno dessas vozes, fórmula e resposta que esta
comunicação espera contribuir para a produção de noções comuns
em torno da causa palestina.

Palavras-chave
Palestina. Povo. Visão religiosa. Visão histórica.

333
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Referências
DELEUZE, Gilles. Dois regimes de loucos: textos e entrevistas (1975-1995).
Trad. Guilherme Ivo. São Paulo: Editora 34, 2016.

334
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Tédio em Heidegger: interpretações


na contemporaneidade

Klênio Antônio Sousa1


Orientador: Roberto Saraiva Kahlmeyer-Mertens 2

Resumo
Este trabalho apresenta as hipóteses levantadas quando da
apresentação do projeto de pesquisa para o Programa de Pós-
graduação em Filosofia — Doutorado da Unioeste — Campus Toledo
sob orientação do professor Roberto S. Kahlmeyer-Mertens. A
pesquisa, que se encontra em sua fase inicial, levantou hipóteses das
interpretações da tonalidade afetiva tedio, descrita por Heidegger,
nas áreas da Filosofia e Psicologia fenomenológico-existencial.
Estando em seu início, espera-se poder comunicar uma busca
preliminar dos autores que se debruçam nos estudos e pesquisas
sobre a temática do tédio em nossa atualidade. A hipótese é de que
diferentes interpretações e nominações para essa tonalidade têm
contribuído para a expansão dos diálogos heideggerianos em um
contínuo progresso e evolução de suas teorias, não havendo um
engessamento do pensamento heideggeriano, pelo contrário, uma
ampliação desse para a interlocução entre autores contemporâneos
de Heidegger e autores modernos em nossa atualidade. A obra Os
conceitos Fundamentais da Metafísica: Mundo, Finitude e Solidão, na
qual o autor discorre sobre as diferentes modalidades do tédio na
contemporaneidade, será a base para a pesquisa. Serão apresentadas
hipóteses de alguns desses autores: Casanova, Feijoo, Borges-Duarte,
Kahlmeyer-Mertens, dentre outros. Alguns desses autores, como
Costa (2020, p. 68) questiona sobre a instalação do tédio e se ele não
seria uma simples opinião, confrontando o pensamento

1 Aluno do Doutorado do PPGFil UNIOESTE – Campus Toledo.


E-mail: klenio.antonio@gmail.com
2 Orientador. Professor do PPGFil UNIOESTE – Campus Toledo.

E-mail: kahlmeyermertens@gmail.com

335
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

heideggeriano. Por sua vez, dirá Silva (2012, p. 26) que o tédio é,
segundo Heidegger, um humor fundamental para o filosofar ao
discorrer sobre a possibilidade de que, entediados, possamos ler
filosofia ou mesmo em uma festa, por mais entediados que
estejamos, podemos nos enveredar por discussões filosóficas com os
convidados. Pó (2015) intui que “...o tédio poderia ser um sinal de
mal-estar existencial e que poderia até assumir contornos
patológicos” em sua busca pela compreensão do tédio. Portanto,
apresentar-se-á uma exposição das ideias produzidas por autores que
trazem suas interpretações sob a luz de nossa contemporaneidade.

Palavras-chave
Heidegger. Tédio. Analítica Existencial. Fenomenologia.

Referências
BORGES-DUARTE, Irene. Arte e técnica em Heidegger. Rio de Janeiro: Via
Verita, 2019.
BOREGES-DUARTE, Irene. A afectividade no caminho fenomenológico
Heideggeriano. In: Phainomenon – Revista de fenomenologia, Lisboa, v. 24,
2012. Disponível em: http://phainomenon-journal.pt/index.php/
phainomenon/article/view/308. 19.12.2022.
CASANOVA, Marco A. Tédio e tempo: sobre uma tonalidade afetiva
fundamental fática de nosso filosofar atual. Rio de Janeiro: ViaVerita,2021.
DA COSTA, Paulo Victor R. Do ser-aí singular ao outro início: uma crítica à
interpretação milenarista da obra de Martin Heidegger. Tese de doutorado,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2019.
DA COSTA, Paulo Victor R.; DE FEIJOO, Ana Maria L. C. Daseinsanálise e a
tonalidade afetiva do tédio: diálogos entre psicologia e filosofia. In:
Phenomenological studies – Revista da abordagem gestáltica, v. 26, n. 3, 2020.
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rag/v26n3/v26n3a08.pdf.
Acesso em: 05 jan. 2023.
HEIDEGGER, Martin. Os conceitos fundamentais da Metafísica: mundo,
finitude, solidão. Rio de Janeiro, 2003.
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista:
Universitária São Francisco, 2008.

336
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
PÓ, Gabriela S. M. A fenomenologia do tédio no livro do Desassossego: de
Martin Heidegger a Fernando Pessoa. Tese de doutorado, Universidade de
Évora, 2015.
SILVA, Rodrigo C. O tédio enquanto humor fundamental. Um caminho para o
Filosofar em Heidegger. Brasília: UnB, 2012.

337
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Teoria dos sistemas intencionais: uma prospecção

Marcos Bragato 1

Resumo
A Teoria dos sistemas intencionais proposta pelo filósofo
estadunidense Daniel Dennett abarca o entendimento de
necessariamente uma evolução ter ocorrida no cérebro naquilo que
denomina como natureza humana, e essa alteração provocada pela
Mãe Natureza envolve funções adicionais ao que funcionava na
filogenia, especialmente a humana. Mas no caso das funções
capturadas pelas atribuições intencionais, na visão de Dennett, são
produtos não somente de uma história seletiva da espécie ou uma
história de reforço, mas também de uma evolução ocorrida no
cérebro ou “ambiente interno” na natureza humana.
Intencionalidade no sentido filosófico difere do uso corrente. Ela é
uma propriedade de algo ser a respeito de outro. Trata-se da
sobretude: A postura intencional é acerca daquilo acerca do qual os
agentes estão a pensar. Não é algo que intencionalmente adotamos
em circunstâncias normais; tipicamente é involuntário e são raras as
vezes que nos advertimos pensar acerca do pensamento, falar acerca
da fala, racionalizar acerca de outra linguagem. São níveis
diferenciados de intencionalidade que correspondem a
diferenciados tipos de mentes sob a organização de uma ordem
desenhada pela evolução. Nesse sentido, as três diferentes posturas
para se acessar a um comportamento dos sistemas intencionais são:
postura física, postura de planejamento (design) e a postura
intencional. Portanto, o modelo de explicação proposto por Dennett
alcança todas as esferas da vida, e não apenas o ser biológico. É o que
ele chama de Espaço de Projeto (Dennett, 1998), no qual qualquer
sistema que obedeça determinado passo a passo será objeto da

1Professor Associado IV do Departamento de Artes da Universidade Federal do Rio


Grande do Norte/UFRN. E-mail: marcos.bragato@ufrn.br

338
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

seleção natural. Esse passo a passo se dá (1) quando da existência


contínua de elementos diferenciados — Variação — os quais têm a
capacidade de desenvolverem réplicas de si mesmos —
Hereditariedade — mas com graus diferenciados dessa capacidade
— Aptidão Diferencial. Isso se dá porque se esbarra na oferta limitada
de recursos. O que Daniel Dennett (1995, 1999) propõe é um modelo
de intencionalidade ou denotabilidade para solucionar
determinados problemas do comportamento e de ações de
organismos simples e complexos.

Palavras-chave
Daniel Dennet. Postura Intencional. Modelo de denotabilidade.
Solução comportamental.

Referências
DENNETT, Daniel C. From Bacteira to bach and back: the evolutions of
minds. New York / London: W. W. Norton & Company, 2017.
DENNETT, Daniel C. A Perfect and Beautiful Machine’: What Darwin’s Theory
of Evolution Reveals About Artificial Intelligence. The Atlantic Monthly
Group. Disponível em: http://www.theatlantic.com/technology/archive/
2012/06/a-perfect-and-beautiful-machine-what-darwins-theory-of-evolution-
reveals-about-artificial-intelligence/258829/. Acesso em : 15 de fevereiro de
2013.
DENNETT, Daniel C. Intuition Pumps and Other Tools for Thinking. New
York: W. W. Norton & Company, 2013.
DENNETT, Daniel C. Intencional Systems Theory. In: MCLAUGHLIN, Brian
P.; BECKERMANN Ansgar; WALTER, Sven. (Eds.). Oxford Handbook of the
Philosophy of Mind. Oxford: Clarendon Press – Oxford, 2009.
DENNETT, Daniel C. Brainstorms: Ensaios sobre a Mente e a Psicologia. Trad.
Luiz Henrique de Araújo Dutra. São Paulo: Unesp, 1999.
DENNETT, Daniel C. A Perigosa Idéia de Darwin: a evolução e os significados
da vida. Trad. Talita M. Rodrigues. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
DENNETT, Daniel C. La Actitud Intencional. Trad. Daniel Zadunaisky
Barcelona: Paidós, 1998.
DENNETT, Daniel C. Tipos de Mentes: rumo a uma compreensão da
consciência. Trad. Alexandre Tort. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

339
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
DENNETT, Daniel C. Precis of The Intentional Stance. Behavioral and Brain
Science, 11, 1988a.
DENNETT, Daniel C. The intentional stance in theory and practice. In:
BYRNE, R.; WHITEN, A. (Eds.). Machiavellian Intelligence. Oxford: Oxford
University Press, 1988b.

340
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Testamento vital: reflexões sobre vida digna e morte justa

Dayane Móz 1
Orientador: José Francisco de Assis Dias 2

Resumo
O presente resumo faz parte do desenvolvimento da dissertação que
está sendo produzida pela autora, portanto um recorte da pesquisa
que ainda está em andamento. Esta pesquisa se concentra na análise
do equilíbrio entre uma vida digna e a perspectiva de uma morte
justa, à luz dos princípios de direitos humanos e dignidade humana
de Norberto Bobbio (1909-2004). O cerne desta investigação gira em
torno da seguinte questão fundamental: Como é possível harmonizar
o princípio da preservação da vida com a valorização da dignidade
humana, conforme delineado na filosofia de Norberto Bobbio, no
contexto dos direitos humanos? O objetivo geral deste estudo é
avaliar a coerência de afirmar que uma morte justa é intrínseca a uma
vida digna, à luz do pensamento de Bobbio, sem transgredir os seus
preceitos fundamentais, notadamente a proteção da vida e da
dignidade humana. Neste contexto, os objetivos específicos que
emergem deste problema central incluem: explorar as eventuais
contradições subjacentes à defesa da vida em relação à viabilidade de
uma morte justa; avaliar os elementos que possam conferir
legitimidade ao testamento vital como um instrumento facilitador
da expressão da vontade do indivíduo, reconhecendo que o assunto
lhe é pertinente, embora seja inalienável; investigar as diretrizes
antecipadas de vontade e seu papel em permitir que o indivíduo
determine o curso de sua morte, caso a situação exija, enquanto ele
mantém suas faculdades físicas e mentais intactas; conduzir uma
análise abrangente que abranja os conceitos de bioética, testamento
vital e a dignidade da pessoa, em uma abordagem multidisciplinar. A

1 Mestranda. Unioeste. E-mail: daymoz@icloud.com


2 Doutor. Unioeste. E-mail: prof.dias.br@gmail.com

341
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

relevância dessa pesquisa reside nas questões fundamentais que ela


aborda em relação aos direitos humanos, dignidade, autonomia
individual e ética nas decisões relacionadas ao fim da vida. A
aparente contradição dentro da filosofia de Bobbio, que preza a vida,
suscita questionamentos sobre como reconciliar o respeito à vida
com a possibilidade de uma morte justa. Nesse contexto, esta
pesquisa busca contribuir para uma compreensão mais aprofundada
dessas questões complexas e suas implicações éticas e jurídicas. A
abordagem metodológica adotada será multidisciplinar, baseada em
uma análise minuciosa da obra de Norberto Bobbio, abrangendo
tanto as traduções disponíveis no Brasil quanto os textos originais
acessíveis no Centro Studi Piero Gobetti. Além disso, serão
consultadas fontes do campo do Direito que abordem questões
relacionadas ao testamento vital e direitos humanos, bem como
discussões na área da saúde que se concentrem na bioética.
Antecipamos que esse estudo aprofundado nos permitirá lançar luz
sobre o tema proposto, esclarecendo as nuances da relação entre vida
digna e morte justa na perspectiva de Norberto Bobbio. Os resultados
desta pesquisa têm o potencial de incitar reflexões e debates
significativos nas áreas de ética, direitos humanos e bioética,
contribuindo para o desenvolvimento de políticas e práticas que
honrem a autonomia e a dignidade dos indivíduos nas decisões
relativas ao fim da vida. Através desta análise minuciosa, busca-se
traçar um caminho para a harmonização da defesa da vida com a
possibilidade de uma morte justa, em consonância com os princípios
filosóficos de Norberto Bobbio.

Palavras-chave
Vida digna. Morte justa. Direitos humanos. Testamento vital.
Bioética.

342
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Referências
BOBBIO, Norberto. Teoria geral da política: a filosofia política e as lições dos
clássicos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000.
BOBBIO, Norberto. Elogio da Serenidade e outros escritos morais. Trad. Marco
Aurélio Nogueira. São Paulo: UNESP, 2002.
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
BIOÉTICA. Revista publicada pelo Conselho Federal de Medicina.
SIMPÓSIO: Eutanásia. n. 1, 1999.
BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Direito de morrer dignamente:
eutanásia, ortotanásia, consentimento informado, testamento vital, análise
constitucional e penal e direito comparado. In: SANTOS, Maria Celeste
Cordeiro Leite dos.(Org.). In: Biodireito: ciência da vida, os novos desafios. São
Paulo: RT, 2001.
Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1995/2012. Disponível em:
http://www.portalmedico.org.br/resolucoes. acesso em: jul. 2023.
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 7. ed., São Paulo: Saraiva,
2010.
ENGELHARDT, Tristram. Fundamentos da bioética. Trad. José A. Ceschin. São
Paulo: Loyola, 2008.
KANT, Immanuel. A metafísica dos costumes. Bauru: Edipro, 2003.
KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade Civil do médico. 8. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2013.
PENALVA, Luciana Dadalto. Testamento Vital. 3. ed. São Paulo: Atlas,2014.
PENALVA; TEIXEIRA, Luciana Dadalto; Ana Carolina Brochado. Dos
Hospitais aos tribunais. São Paulo: Del Rey, 2013.
TORRES, António Maria Machado Pereira e Cunha Pinheiro. Em defesa dos
direitos de família – bioética. Lisboa: Reis dos Livros, 2000.
TOSI, Giuseppe. (Org.). Norberto Bobbio: Democracia, Direitos Humanos,
Guerra e Paz. João Pessoa: UFPB, 2012.
VIEIRA, Tereza Rodrigues. Bioética e direito. São Paulo: Jurídica Brasileira,
1999.

343
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Um caso contra o reducionismo ontológico: perspectivas


à luz de Herman Dooyeweerd e Roy Clouser

Israel Pacheco da Costa1


Orientador: Libanio Cardoso Neto 2

Resumo
O propósito da presente comunicação é apresentar um argumento
contra o reducionismo ontológico a partir das obras do neerlandês
Herman Dooyeweerd e de seu discípulo norteamericano Roy
Clouser, sobretudo tal como apresentado nas obras A New Critique
of Theoretical Thought, O Mito da Neutralidade Religiosa e An
Experiment in Thought. Uma vez apresentado a tese básica da
postura reducionista, avaliamos a partir dos autores mencionados
sobre a consistência de tal posição. A perspectiva reducionista
consiste na tese de que a realidade ou os conceitos teóricos que nos
dão acesso a ela é (a) configurada por um único aspecto ou (b) que a
mesma é multifacetada, mas que um aspecto específico tem primazia
ontológica sob todos os outros, que se referem ao reducionismo forte
e fraco, respectivamente. De modo alternativo, a ontologia dos
aspectos modais da realidade proposta por Dooyeweerd e seguida
por Clouser propõe uma versão sistematicamente não-reducionista,
na qual nenhum aspecto da realidade possui primazia em relação aos
demais, mas existem em absoluta coerência. A partir de tal quadro
teórico, apresentamos a concepção dooyeweerdiana de “principium
exclusae antinomiae”, que pretende demonstrar, a partir das
contradições que recaem no uso dos conceitos científicos, a
incoerência da posição reducionista. Na visão aqui proposta, os
conceitos básicos das ciências especiais demandam que seus sentidos
sejam delimitados de acordo com os distintos aspectos da realidade

1 Mestrando em Filosofia. UNIOESTE-TOLEDO.


E-mail: israel.costa01@outlook.com
2 Doutor em Filosofia (UFRJ/2009). Instituição. UNIOESTE-TOLEDO.

E-mail: libanio.neto@unioeste.br

344
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

a que se referem. A tentativa de compreender um conceito científico


de um aspecto a partir de outro envolve necessariamente o
pensamento em contradições de natureza ontológica. Num segundo
momento, apresentamos, a partir de Roy Clouser, um experimento
de pensamento que pretende demonstrar que, assumindo a tese
reducionista, a impossibilidade de formar um conceito de uma coisa
qualquer que seja. O itinerário seguido consiste, primeiramente, em
escolher um aspecto da realidade, depois escolher e utilizar como
exemplo um objeto da nossa experiência, isolar mentalmente todas
as propriedades deste objeto que são distintas do aspecto escolhido
anteriormente e averiguar o que sobra de inteligibilidade do objeto
em questão.

Palavras-chave
Metafísica. Ontologia. Reducionismo ontológico. Herman
Dooyeweerd. Roy Clouser.

Referências
CLOUSER, Roy. O Mito da Neutralidade Religiosa. Brasília: Monergismo 2022.
CLOUSER, Roy. An Experimente in Thought. In: Philosophia Reformata. v. 87,
n. 2, 2022.
DOOYEWEERD, Herman. A New Critique of Theoretical Thought. Vol. 2. 2.
ed. Ontário: Paideia Press, 1984.

345
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Uma análise da guerra e do racismo de Estado


para pensar a governamentalidade em Foucault

Simony Silva Campello 1


Orientadora: Silvana de Souza Ramos 2

Resumo
O objeto de estudo principal de análise da pesquisa que venho
realizando, parte do curso: Em defesa da Sociedade, ministrado por
Michel Foucault no Collège de France entre os anos de 1975 e 1976. O
problema que apresento a partir da leitura do curso é que: o abando
da hipótese da guerra e, portanto, da concepção de poder
foucaultina, que acontece na última aula do curso, representaria um
problema para pensar o biopoder e o racismo de Estado, da forma
como eles se justificam e operam, sem o pressuposto de uma guerra
interna. A hipótese que quero tratar é a de que, a guerra, é parte
fundamental para o funcionamento do biopoder e para que o racismo
de Estado opere. Assim as políticas de governo só se justificam e são
efetivas, porque há no fundamento da sociedade uma gestão tática
da vida, que opera através de uma guerra interna. Tese corroborada
por Allliez e Lazzarato na obra: Guerras e Capital. Para compreender
melhor tanto o problema como a hipótese, é necessário fazer um
movimento de recuo e de avanço nos cursos. Primeiro para
compreender o que Foucault entende por guerra civil no curso:
Sociedade Punitiva; e as concepções de governo que são apresentadas
no curso: Segurança, território, população. Ambos ministrados no
Collège de France, respectivamente entre os anos de 1973-1974 e 1977-
1978. Ambos cursos permeiam o curso: Em defesa da sociedade,
conjurando um movimento de pesquisa foucaultiana e sendo

1 Bacharel em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da


Universidade de São Paulo.
2 Professora Associada (livre docente) do Departamento de Filosofia da Faculdade

de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Graduada,


mestra e Doutora pela Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de São Paulo.

346
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

essenciais para compreender os movimentos, problemas e hipóteses


que levam Foucault a ir do poder a governamentalidade. Sendo esse
movimento, visto por Stival e Lemke, como um refinamento da
análise política de Foucault. Tese que pretendo analisar de maneira
crítica, a partir de posição de Alliez e Lazzarato. Apresento no projeto
de mestrado e quero comunicar, o desenvolvimento desse problema
e da hipótese a partir da leitura do curso: Em defesa da sociedade em
três movimentos possíveis. Primeiro através do título da obra e
algumas traduções, depois sobre o problema da guerra a partir de
Clausewitz e do movimento textual das aulas e por fim, trago uma
breve análise, do problema a partir dos comentadores.

Palavras-chave
Biopoder. Biopolítica. Racismo de Estado. Poder.
Governamentalidade.

Referências
ALLIEZ. LAZZARATO. Guerras e Capital. São Paulo: Ubu. 2021.
CLAUSEWITZ. Da guerra. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2020.
FOUCAULT. Em defesa da sociedade – Curso no Collège de France (1975-1976).
2. ed. São Paulo: Martins Fontes. 2018.
FOUCAULT. Genealogia del racismo. Traudção: Alfredo Tzveibel. ed. s/n.
Editora Altamira - Caronte Ensayos. La Plata, Argentina.
FOUCAULT. História da Sexualidade. Vol. 1 – A vontade de saber. 13. ed. Rio de
Janeiro: Graal, 1999.
FOUCAULT. Microfísica do Poder. Org. MACHADO. Rio de Janeiro: Graal,
2011.
FOUCAULT. Segurança, território, população – Curso dado no Collège de
France (1977-1978). 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2023.
FOUCAULT. Sociedade Punitiva – Curso no Collège de France (1972-1973). São
Paulo: Martins Fontes, 2020.
FOUCAULT. Vigiar e Punir – Nascimento da Prisão. 40. ed. Petrópolis: Vozes,
2012.
LEBRUN. O que é o poder. São Paulo: Brasiliense, 1981.

347
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
LEMKE. Biopolítica: críticas, debates, perspectivas. São Paulo, 2018.
STIVAL. Foucault e o fim do Poder Moderno. Doispontos, v. 13, n. 2, 2016.
STIVAL. Governo e Poder em Michel Foucault. In: Trans/Forma/Ação, v. 39, n.
4, 2016.

348
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Uma estranha ecologia: do Anti-Édipo a Mil Platôs

Alan Rodrigo Padilha 1


Orientadora: Ester Maria Dreher Heuser2

Resumo
O presente trabalho tem por objetivo explorar a concepção de uma
‘ecologia do pensamento’, a partir dos dois tomos de Capitalismo e
esquizofrenia, a saber, O Anti-Édipo e Mil Platôs, de Deleuze e
Guattari. Além disso, busca compreender como a concepção
ecosófica, proposta por Félix-Guattari se articula com o ecossistema
conceitual do projeto Capitalismo e esquizofrenia, considerando
desde uma ecologia maquínica que compreende homo natura como
uma só realidade de composição heterogênea de homem-natureza,
no sentido de que não há uma relação extrínseca entre homem e
natureza, indústria e natureza, sociedade e natureza. Há, portanto,
uma ‘ecologia maquínica’ em que tudo está em conexão
maquinicamente, sejam máquinas celestes, máquinas clorofílicas,
máquinas geológicas, máquinas produtoras e desejantes, máquinas
sociais e linguísticas. O homo natura contrapõe-se à distinção
homem e natureza, não se trata de compreender o homem como rei
da criação, mas como aquele que é encarregado de todas as máquinas
do universo, desde as estrelas até as rochas, os metais e a água, assim
como dos animais e das plantas. Trata-se, portanto de uma estranha
ecologia ou de uma imagem anômala da natureza que se faz por
princípio de conexão e heterogeneidade, de estratos geológicos,
físico-químicos, biológicos e antropomórficos, chamada por
Guattari e “ecosofia”. Os conceitos de rizoma, geologia e etologia
contrapõem-se ao modelo arbóreo que submeteu o pensamento

1Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Filosofia – PPGFil - UNIOESTE,


Campus Toledo – Paraná. E-mail: alan.padilha@ifpr.edu.br
2 Professora-pesquisadora Associada da UNIOESTE, Campus Toledo (PR), no curso

de Filosofia - Licenciatura, Mestrado e Doutorado (Linha: Ética e Filosofia Política).


E-mail: ester.heuser@gmail.com.

349
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

ocidental à lógica binária, universalista e transcendente sobre a


natureza. O pensamento árvore-raiz tem por referência a
representação icônica da escala predicamental da substância,
também conhecida como a árvore de Porfírio. Essa representação
consiste em um organograma de subordinação hierárquica e
dicotômica, que estabelece uma conexão entre a concepção platônica
de universalidade do ser às categorias da lógica aristotélica, que
classifica a substância em: gênero, espécie, diferença, próprio e
acidente, entendido como as cinco vozes na qual o ser se diz. O
modelo arbóreo do pensamento ultrapassa os domínios da teologia e
filosofia, estendendo-se às ciências sociais e naturais. O sistema
arbóreo está fortemente arraigado no estruturalismo de Lévi-Strauss,
principalmente na representação simbólica das relações de
parentesco na forma da árvore genealógica; assim como na
estruturação taxonômica que classifica os seres vivos em categorias e
reinos hierárquicos, classe, ordem, gênero, espécies e variedades,
nem mesmo a linguística e a psicanálise escapam da lógica arbórea.
A ecosofia não constitui um tratado linear sobre ecologia ambiental,
ecologia política e ecologia da mente, mas compreende uma
composição prática e especulativa, ética-estética e política
comprometida em produzir novas práticas sociais e políticas,
capazes de desfazer os processos de serialização modelizadora de
subjetivação capitalística, produzindo uma nova relação com a
natureza, com a sociabilidade, com a democracia, um novo tipo de
amor, uma relação inédita com os modos de produção e consumo,
mas também novas práticas estéticas e analíticas sobre as formações
do inconsciente.

Palavras-chave
Ecosofia. Ecologia. Pensamento.

350
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Referências
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia 2.
Vol. 1. Trad. Ana Lúcia de Oliveira, Aurélio Guerra Neto e Célia Pinto Costa.
São Paulo: Editora 34, 2011.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia 2.
Vol. 4. Trad. Suely Rolnik. São Paulo: Editora 34, 2012.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O Anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia
1. Trad. Luiz. B. Orlandi. São Paulo: Editora 34, 2010.
GUATTARI, Félix. As três ecologias. Trad. Maria Cristina F. Bittencourt. 11. ed.
Campinas: Papirus, 1990.
GUATTARI, Félix. Caosmose: um novo paradigma estético. Trad.Ana Lúcia de
Oliveira e Lúcia Cláudia Leão. São Paulo: Editora 34, 2000.
GUATTARI, Félix. Qué es la Ecosofía? Textos presentados y agenciados por
Stéphane Nadaud. Trad. Pablo Ires. Buenos Aires: Cactus, 2015.
GUATTARI, Félix. O inconsciente maquínico Ensaios de Esquizoanálise. Trad.
Marcondes C., Constança e Moreira César, L. Campinas: Papirus. 1988.
LACAN, Jacques. Escritos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

351
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Utopia contra a Matrix e a excelência


do excedente em Ersnt Bloch

Luciano Carlos Utteich 1

Resumo
“Billions of people just living our their lives, oblivious” — (“bilhões
de pessoas vivendo suas vidas, distraídas” — isto é, alheias,
desatentas. “Sempre gostei dessa frase. Foi você quem a criou, não é?”
— é indagado Thomas Anderson (Neo). Essa cena e linha inicial do
filme, que dá re-início e resgata o tema da personagem Neo no quarto
filme da série: Matrix Resurrections [Ressurreição da Matrix], possui,
em particular, um vínculo com a tematização inicial de Ernst Bloch
em O Princípio Esperança: o tema do esquecimento e da distração
[Ablenkung] que acomete o ser humano, conduzindo-o a um tipo de
comportamento errático, impedindo de propiciar a si divisar diante
de seus próprios olhos as distintas possibilidades ínsitas no
presentes. Pela tematização da noção de “excedente” como elemento
constitutivo da ação humana, Bloch encaminhou o debate para
oferecer uma saída desse estado. Se é certo que tal saída se converte,
ao final, no conteúdo utópico (Utopia) propriamente dito, ou na
chamada ciência utópica, por sua vez, a recusa ou resistência a
enveredar no caminho da utopia fora também por Bloch constatada
e descrita: a recusa em adotar a efetiva saída conduziu, como
consequência, a tipos de comportamento que denunciavam uma
postura em prol da decadência social. Daí que a noção de excedente,
considerada em sua dupla natureza, uma apropriada (positiva) e a
outra contrária a ela (negativa), permite ponderar que o estado de
distração/desatenção, à revelia das mais boas intenções residentes no
íntimo humano, pode se perpetuar e permitir a expansão indefinida

1Doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul


(PUCRS), Docente dos Programas de Pós-graduação e Licenciatura em Filosofia na
UNIOESTE, Campus Toledo. E-mail: lucautteich@terra.com.br

352
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

do caos social e da decadência. Trata-se de averiguar em que sentido


a interpretação da teoria dos impulsos (Trieben), que constitui o
excedente, fornecida em O Princípio Esperança, permite não apenas
compreender essa má condução dos impulsos — que rejeita avistar,
com exclusividade, no presente as possibilidades de continuação
qualitativa da vida social —, mas ainda intervir para a consecutiva e
efetiva conversão e saída do lado avesso do excedente para adotá-lo
do seu lado apropriado, como num legítimo despertar e evidente
saída da distração (Matrix). Na medida em que tal perspectiva requer
uma exposição da concepção blochiana dos impulsos, vê-se como
complementar à exposição da dupla natureza do excedente o
exercício de uma hermenêutica dos impulsos enquanto eles são os
que motivam, verdadeiramente, a ação humana. Assim, no sentido
de haver um lado excelente para a consideração do excedente,
exclusivamente desde sua excelência tem que ser levada em conta a
proposta blochiana em favor da Utopia, como concepção
efetivamente virtuosa no pensamento e que, por não ser nem
abstrata, nem teórica/prática, mas antes real e concreta, mostra-se
válida pelo fato de possuir suas raízes lançadas sempre no presente.
Por isso a interpretação adequada dos impulsos, em detrimento de
sua interpretação equivocada pelo ser humano, ganha o efetivo
destaque em prol de um presente utópico, inteiramente resistente
aos casos em que, por ele, seja preferida a permanência em estados
distópicos (matríxicos), enquanto inautênticos estados de sono
(desperto), mas autênticos estados de sonolência em face das
próprias potencialidades e possibilidades.

Palavras-chave
Utopia. Excedente. Impulso. Distração.

Referências
BLOCH, Ernst. O Princípio Esperança. Vol. I. Trad. Nélio Schneider. Rio de
Janeiro: EDUERJ/Contraponto, 2005.

353
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste
BLOCH, Ernst. Herencia de esta Época. Trad. Miguel S. Infante. Madrid:
Tecnos, 2019.
HAHM, Paulo. Dignidade e Utopia no pensamento de Ernst Bloch. In: Revista
Dialectus, ano 10, n. 21, 2021.

354
Resumos das Comunicações dos(as)
doutores(as) formados(as) no
PPG-Filosofia da Unioeste:
Afinal, qual a tese da tua tese? 5 anos de teses
defendidas no PPG-Filosofia da Unioeste
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

356
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A influência nietzschiana para um ensino a favor da vida

Abraão Lincoln Ferreira Costa


Orientador: Wilson Antonio Frezzatti Jr.

Resumo
O estudo expõe preliminarmente alguns pensamentos a serem
considerados como a “tese da minha tese”. Nesse sentido, a pesquisa
concernente às reflexões de Nietzsche e o tema da formação atendem
as inquietações de um professor de filosofia da rede pública. Essa
articulação provém do reconhecimento de dois problemas, sendo o
primeiro a razão de este docente verificar a cobrança incisiva do
Estado com resolução de tarefas burocráticas, geralmente
incompatíveis com a necessidade de um ensino destinado a vida e o
crescimento de potência. Logo, o “professor ideal” não seria alguém
competente, ao lecionar, mas apenas quando encarna o papel de
servidor público, cumpridor de tarefas aquém dos desígnios
pedagógicos. O segundo problema é a preocupação estadista com os
assuntos econômicos que restringe a preparação do estudante a um
estilo de vida ganancioso e servil. A preferência por uma educação
antinatural não somente distancia o jovem da sua vocação verdadeira
como ainda compromete o reconhecimento dos talentos, quer
estejam nos diferentes campos do saber. Em suma saliento,
fomentado pelos escritos nietzschianos e outras referências não
menos fundamentais para a construção da tese de doutoramento,
defender que o estilo de vida pautado no experimento tornou-se a
tese da tese a ser apresentada.

Palavras-chave
Estado. Formação. Experimento. Nietzsche. Vida.

357
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Referência
COSTA, Abraão L. F. Das Extemporâneas a Humano, demasiado humano: as
noções de formação, cultura e história em Nietzsche. Tese (Doutorado em
Filosofia) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Toledo,
2020. Disponível em: https://tede.unioeste.br/handle/tede/593.

358
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A insurgência das margens: filosofia da


diferença e um anarquismo por vir

Roberto Scienza 1
Orientadora: Ester Maria Dreher Heuser2

Resumo
Como criar uma ética para além de qualquer moral em que outrem
possa afirmar-se como diferença? Ou seja, como fazer com que todos
os outros tenham lugar nesse mundo? Mesmo aqueles tomados
como marginais e indignos de viver. Diante dessas questões, a tese da
minha tese é a relação entre a anarquia coroada da diferença,
apresentada por Gilles Deleuze em sua obra Diferença e Repetição, e
filosofias anarquistas. Estabeleço uma coerência entre a crítica à
representação e à moral no âmbito filosófico e a crítica anarquista à
política representativa e à dominação. Argumento que o anarquismo
é capaz de quebrar os paradigmas das velhas instituições morais
(como o capitalismo, a religião e o Estado), contribuindo para a
criação de novas propostas éticas. O anarquista é um resistente
criativo, pois resiste aos valores estabelecidos, compondo novos
valores para si. A perspectiva anarquista propõe uma ética dos
processos que se faz todos os dias, dedicando-se à valores observáveis
e abertos para discussão, e não pressupostos universais. Tais valores
são imanentes às práticas e relações sociais. Sem fronteiras, sem a
palavra final de um suposto Deus. Sem outrem-cídios. Assim, o
anarquismo suspende a suposta barreira entre ética e política.

Palavras-chave
Alteridade. Anarquismo. Filosofia da Diferença. Ética da Diferença.

1 Doutor em filosofia (UNIOESTE). Doutorando em Literatura na Université de


Montréal (UdeM). E-mail: bobscienza@gmail.com
2 Doutora em Educação. Professora-Pesquisadora associada da Unioeste.

E-mail: ester.heuser@gmail.com

359
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Referência
SCIENZA, Roberto. A Insurgência das Margens: Filosofia da Diferença e um
Anarquismo Por Vir. 211 f. Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade
Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Toledo, 2022. Disponível em:
https://tede.unioeste.br/handle/tede/6245.

360
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A política na ontologia de Lukács:


um debate contemporâneo

Bruno Gonçalves da Paixão 1


Orientador: Jadir Antunes 2

Resumo
Desenvolvi meu trabalho de doutoramento, a partir do tema da
política na Ontologia de György Lukács, isto é, queria entender qual
a gênese (surge com o ser social?), reprodução (é uma esfera do poder
de classe) e a função social da política (por que ela surge?). Imprimir
uma discussão que partia do complexo fundante do ser social, que,
conforme Lukács, é o trabalho, mostrando como categorias que o
compunha seriam operantes também em práxis afastadas da esfera
da produção, como o Direito e a política. Essas práxis, por sua vez, na
ontologia lukacsiana, pertencem ao complexo da ideologia. Neste
sentido, investiguei a diferença, não tão clara, entre ideologia ampla
e estrita. Daí, obtive resultados que apontavam para essa distinção
em torno da ideologia: Lukács usava a ideologia ampla para referir-
se às ideologias surgidas desde que o ser social é ser social, enquanto
a ideologia estrita seria determinada historicamente pela sociedade
de classes. Essa constatação foi decisiva para chegar à tese da minha
tese: a política, em Lukács, é tratada como ideologia estrita, isto é,
surge nos marcos da sociedade cindida em classes sociais, se
reproduzindo como mediação das lutas entre essas classes,
cumprindo uma função social de manutenção do domínio do
homem sobre o homem. Essa foi a tese da minha tese.

Palavras-chave
Ideologia. Estado. Classes sociais.

1 Doutor em Filosofia pela UNIOESTE. Professor, substituto, da UFRN.


E-mail: brunog.paixao@gmail.com
2 Doutor em Filosofia. Professor da UNIOESTE.

E-mail: jadir.antunes@yahoo.com.br

361
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Referência
PAIXÃO, Bruno Gonçalves da. A política na ontologia de Lukács: um debate
contemporâneo. f. Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade Estadual do
Oeste do Paraná – UNIOESTE, 2021. 169 f. Toledo, Ano. Disponível em:
https://tede.unioeste.br/handle/tede/5803.

362
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A pré-reflexividade do personagem na ficção sartriana

Tiago Soares dos Santos 1


Orientador: Claudinei Aparecido da Silva Freitas 2

Resumo
Este trabalho apresenta um duplo enigma: o do existir e o do
conhecer na filosofia sartriana. Ambas estão imbricadas no humano,
sendo impossível a separação delas para além do campo acadêmico,
no entanto, Sartre sustenta a tese de que há uma precedência
ontológica da existência, do vivido (vecú) sobre o conhecido. Para
alicerçar essa perspectiva, alguns enfrentamentos foram
propositivos, quais sejam, a desconstrução do cogito proposto por
Descartes, o de um inconsciente freudiano em detrimento à uma
consciência fluida e, por fim, a expulsão de um Eu puro aos moldes
husserlianos. Isso se fez necessário, para ser fiel ao conceito de
intencionalidade, o corolário da fenomenologia. Neste sentido, o
entendimento da consciência é intencional, fluida, em constante
movimento para fora e em um fazer-se no mundo. Nesse aspecto, o
vivido está no próprio fluir da consciência e o conhecido, está lá
adiante. É disso que provém a precedência ontológica da existência.
O reconhecimento humano dessa precedência do existir, bem como
do pleno conhecer dessa condição extrinsecamente humana,
acontecem em uma interlocução íntima pela arte, em especial, a
literatura. A partir disso, debruçou-se em analisar, se as obras
literárias sartrianas cumprem essa função pré-reflexiva, destacada
pelo próprio autor.

Palavras-chave
Liberdade. Literatura. Pré-reflexividade. Consciência.

1 Doutor. Instituto Federal do Paraná – Campus Umuarama.


E-mail: tiago.soares@ifpr.edu.br
2 Doutor. Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

E-mail: cafsilva@uol.com.br

363
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Referência
SANTOS, Tiago Soares dos. A pré-reflexividade do personagem na ficção
sartriana. 190 f. Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade Estadual do
Oeste do Paraná – UNIOESTE, Toledo, 2019. Disponível em:
https://tede.unioeste.br/handle/tede/4727.

364
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A presença do Direito em Maquiavel

Jaqueline Fátima Roman 1


Orientador: Rosalvo Schütz 2

Resumo
As leituras da tradição clássica, fortemente influenciadas pelo
antimaquiavelismo, fomentado pela igreja católica romana,
associaram Maquiavel ao desrespeito e violação de qualquer lei
(religiosa ou civil). Entretanto, as leituras contemporâneas de
Maquiavel apontam para um pensador republicano. Mas o que
significa ser um republicano ao tempo de Maquiavel? A resposta
exige uma conjugação de requisitos, perpassando, necessariamente,
pelo respeito às leis. E, embora Maquiavel não seja um filósofo do
Direito, demonstra apreço pela observação da lei como conceito
estrutural e central, quando estabelece que tanto repúblicas, quanto
principados, devem obedecer à lei; quando indica que a lei é uma
forma de inculcar bondade cívica; quando deposita nela a máxima
expressão da liberdade. O Direito está fortemente presente em sua
vida e escritos, podendo ser constatado na educação humanista
recebida por ele, voltada às questões da justiça; no exercício da
atividade prático-profissional junto à chancelaria florentina.
Maquiavel reproduz o Direito Romano quando afirma que todos os
estados se fundamentam nas leis e nas armas — regra explícita do
Corpus Juris Civilis do Imperador Justiniano, que compilou o Direito
Romano. Esta afirmação se repete em várias obras de Maquiavel, o
que demonstra que se trata de verdadeira premissa estrutural de seu
pensamento político.

Palavras-chave
Maquiavel. Linguagem. Poder. Direito. Lei.

1 Doutora em Filosofia. IFPR. E-mail: jaque_roman@hotmail.com


2 Doutor em Filosofia. UNIOESTE. E-mail: rosalvoschutz@htomail.com

365
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Referência
ROMAN, Jaqueline. A Presença do Direito em Maquiavel. 000 f. Tese
(Doutorado em Filosofia) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
UNIOESTE, Toledo, 2021. Disponível em: https://tede.unioeste.br/bitstream/
tede/5802/2/Jaqueline_Roman_2021.pdf.

366
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A temporalidade descrita em Ser e Tempo como chave de


leitura das duas primeiras Meditações de Descartes

Geder Paulo Friedrich Cominetti 1


Orientador: César Augusto Battisti 2

Resumo
A tese que defendemos resolve um problema mui debatido entre
comentaristas de Descartes, que é o seguinte: qual o motor que
impulsiona a passagem de uma Meditação à sua sequente? As
respostas estão concentradas em duas correntes de pensamento: a
primeira, aduz a uma ordem das razões; a segunda, à ordem dos
problemas. Ambas nos parecem falhas. A primeira, porque as razões
são sempre reféns de seus objetivos; a segunda, porque os problemas
são os débitos das razões dadas. Assim, mostramos que a
temporalidade, em Ser e Tempo, explica a passagem entre as
Meditações: como toda ekstase presente é uma temporalização
equacionada entre sua ekstase futuro e sua ekstase passado, e como
cada uma dessas também se temporaliza constantemente
equacionada com as duas outras, então, se cada etapa meditativa for
encarada como a ekstase presente do “eu meditante”, temos que a
ekstase presente renova sempre suas ekstases futuro e passado. Isso
torna o “instante” meditativo como temporalizante, e não
“substancialmente” estático. Para nós, o instante tem sido
substancializado como suporte do cogito, ainda que Descartes
confesse que o tempo nada é fora da mente. Portanto, a passagem de
uma Meditação à outra é fruto da dinâmica temporalizante do
instante meditativo.

1 Doutor em Filosofia. Universidade Estadual do Oeste do Paraná.


E-mail: gdr.paulo@gmail.com
2 Doutor em Filosofia. Universidade de São Paulo.

E-mail: cesar.battisti@hotmail.com

367
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Palavras-chave
Descartes. Heidegger. Meditações de filosofia primeira. Ser e Tempo.
Temporalidade, ordem das razões e ordem dos problemas.

Referência
COMINETTI, Geder Paulo Friedrich Cominetti. A temporalidade descrita em
Ser e Tempo como chave de leitura das duas primeiras Meditações de
Descartes. 115 f. Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade Estadual do
Oeste do Paraná – UNIOESTE, Toledo, 2023. Disponível em:
https://tede.unioeste.br/bitstream/tede/6644/2/Geder_Cominetti_2023.pdf.

368
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A tirania do juízo no berço das civilizações helênica e


judaica e seu modus operandi na contemporaneidade

Douglas Meneghatti1
Orientadora: Ester Maria Dreher Heuser2

Resumo
A pesquisa versa sobre a tirania do juízo de Deus e sua persistência
em aprisionar os corpos, tendo como linha investigativa a mitologia
e a religião ocidental e seus desdobramentos na atualidade. Para se
contrapor à tirania do juízo, segue-se uma linha investigativa que
advém da imanência filosófica de Spinoza e se estende por Nietzsche,
Deleuze, Guattari e Lawrence. A tese da minha tese é que o juízo de
Deus, entendido como uma “dívida infinita” para com a divindade,
não é passível de ser aniquilado ou superado; que ele se retroalimenta
do movimento de afecção dos corpos e que se incorpora
historicamente nas religiões; que, embora haja um movimento de
tensão entre juízo e afetos e que não podemos falar de dominação ou
predomínio de um sobre o outro, o juízo faz parte da constituição
histórica do humano e, mais que isso, se atualiza nas recentes
nominações religiosas que ascendem sobre a forma neopentecostal.

Palavras-chave
Juízo. Religião. Transcendência. Imanência.

Referência
MENEGHATTI, Douglas. A tirania do juízo no berço das civilizações helênica e
judaica e seu modus operandi na contemporaneidade. Tese (Doutorado em
Filosofia) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Toledo,
2023.

1 Doutor em Filosofia pela UNIOESTE. Professor EBTT do IFPR – Campus


Capanema. E-mail: douglas.meneghatti@ifpr.edu.br
2 Professora-pesquisadora Associada da UNIOESTE, Campus Toledo (PR), no curso

de Filosofia - Licenciatura, Mestrado e Doutorado (Linha: Ética e Filosofia Política).


E-mail: ester.heuser@gmail.com

369
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

A vida da lei: reconhecimento, liberdade e


dominação na Filosofia do Direito de Hegel

Patrícia Riffel de Almeida 1


Orientador: Rosalvo Schütz 2

Resumo
Este trabalho constitui uma tese em filosofia social que enfatiza o
potencial da teoria do reconhecimento hegeliana para a renovação da
crítica social contemporânea de linha marxiana e teórico-crítica. De
maneira histórica, consiste em um estudo da teoria do
reconhecimento como princípio da filosofia prática de Hegel no
sistema de Jena e no sistema de maturidade; de maneira conceitual,
em uma tentativa de “entender-se” com alguns dos principais
problemas teóricos os quais se enfrenta em tal empreita, como o
modelo e as bases da crítica, a discussão em torno do conceito de
alienação e o tratamento discreto e (inclusive por isso) insuficiente
de categorias provenientes de discussões sobre patologias sociais nos
paradigmas liberal e marxiano. Neste sentido o intuito é o de
estabelecer a necessidade de uma articulação entre categorias como
justiça e raça, liberdade e alienação, liberdade e gênero etc.,
eliminando o hiato entre discussões sobre justiça, bem-estar ou
relações não-alienadas em ambos aqueles paradigmas. A ideia de
“vida da lei” alude ao entendimento hegeliano do direito como um
processo histórico social vivo e também ao fato de que o que torna e
mantém a relação do direito “viva” para o indivíduo é o processo de
libertação em que ele é reconhecido.

1Doutora em Filosofia pela Unioeste – Universidade Estadual do Oeste do Paraná


(2021), com estágio na UniKassel - Universität Kassel. Professora colaboradora no
Departamento de Filosofia da Unicentro - Universidade Estadual do Centro-Oeste
do Paraná. E-mail: patriciariffel@gmail.com
2 Doutor em Filosofia pela UniKassel – Universität Kassel. Professor Associado na

Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, onde leciona na graduação


em Filosofia e no Programa de Pós-Graduação em Filosofia.

370
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Palavras-chave
Hegel. Liberdade. Dominação.

Referência
ALMEIDA, Patrícia Riffel de. A vida da lei: reconhecimento, liberdade e
dominação na Filosofia do Direito de Hegel. 222 f. Tese (Doutorado em
Filosofia) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Toledo,
Ano. Disponível em: https://tede.unioeste.br/bitstream/tede/5728/2/
Patricia_Riffel_Almeida_2021.pdf.

371
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

As sutilezas metafísicas e manhas teológicas da


mercadoria: contribuições da crítica feuerbachiana
da religião para a crítica da economia e da política
em Karl Marx

Péricles Ariza 1
Orientador: Rosalvo Schütz 2

Resumo
Em vários momentos da obra de Marx, tanto de sua juventude como
em O Capital (1867), o leitor irá se deparar com constantes analogias
e comparações entre a alienação religiosa e a alienação política, assim
como entre a alienação religiosa e a alienação econômica. Procurei
em minha tese mostrar a contribuição da crítica feuerbachiana da
religião para à crítica da economia política em Karl Marx, buscando,
com isso, por meio de uma leitura feuerbachiana de O Capital, provar
que para Marx a economia política moderna não foi capaz de
desenvolver uma “ciência econômica” propriamente dita, mas, antes,
uma espécie de “teologia econômica”. A “tese da tese” que nasce em
meio as reflexões e conclusões finais de minha pesquisa, a partir de
um estudo e tradução de cartas trocadas entre Marx e Feuerbach nos
anos de 1843 e 1844, busca apresentar não apenas o interesse de Marx
pelo 2º Prefácio de A Essência do Cristianismo de Feuerbach, como,
também, apresentar a defesa de que o método de Marx, tal como
explicitado por este em seu Posfácio de O Capital (1873), encontra-se
profundamente relacionado, também, à Feuerbach e o método
elaborado pelo mesmo.

1 Doutor em Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE,


Campus de Toledo e professor de História e Filosofia na Rede Estadual de Ensino do
Paraná. E-mail: periclesariza2@gmail.com
2 Doutor em filosofia e docente da UNIOESTE. E-mail: rosalvoschutz@hotmail.com

372
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Palavras-chave
Marx. Feuerbach. Teologia. Economia. Hegelianismo.

Referência
ARIZA, Péricles. As sutilezas metafísicas e manhas teológicas da economia
política: Contribuições da crítica feuerbachiana da religião para a crítica da
economia e da política em Karl Marx. 000 f. Tese (Doutorado em Filosofia) –
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Toledo, 2023.
Disponível em: https://tede.unioeste.br/handle/tede/593.

373
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Bergson e o retorno à experiência:


raison élargie e devir poético negro

Adeilson Lobato Vilhena 1


Orientador: Claudinei Aparecido de Freitas da Silva 2

Resumo
A presente pesquisa realiza dois movimentos teóricos: o primeiro;
reconstrói a noção bergsoniana de retorno à experiência. O segundo;
mostra como aquele solo temático tornou-se basilar às intersecções
com as filosofias de Merleau-ponty e de Leopold Sédar Senghor. Este
último, em especial, nos fornece o sentido de devir poético negro,
desde a base vitalista bergsoniana, o que torna possível pensarmos a
reconstituição de uma ontologia pré-colonial. Essa imbricação
teórica leva a requerer, por meio do exercício de alargamento da razão
— raison élargie — a descolonização da experiência, isto é, o retorno
ao originário. Assim, “a tese de minha tese” afirma a existência de um
devir poético negro que se atualiza via experiências, afrodiaspóricas,
e que dão ânimo a construção de um novo humanismo. Quer dizer;
o sentido de retorno à experiência, a partir de Bergson, nos remete a
um território ancestral, anterior aos domínios da razão que inibi
qualquer tentativa de mobilidade. Ora, a atualização do vivido, das
experiências múltiplas emergidas do âmbito da memória, reclama
uma linguagem outra, que perpasse o campo do puro conceito e da
estaticidade, para traduzir o movimento de pulsação, portanto, de
devir. Nesse sentido, pensamos à luz da obra de Senghor a
constituição de um novo modelo de universalismo, agora, forjado
pelo encontro e pela troca das experiências, e convertido em um
humanismo híbrido, que dialogue, que dance e que gingue.

1 Doutorado em filosofia. Universidade do Estado do Amapá - Ueap.


E-mail: advilhena@yahoo.com.br
2 Doutor em filosofia. Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste.

E-mail: cafs69@gmail.com

374
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Palavras-chave
Bergson. Merleau-Ponty. Senghor. Experiência. Devir. Negritude.
Vida.

Referência
VILHENA, Adeilson Lobato. Bergson e o retorno à experiência: raison élargie e
devir poético negro, 191 p. Tese (Doutorado em filosofia) – Universidade
Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE-, Toledo, 2022. Disponível em:
https://tede.unioeste.br/handle/tede/6322.

375
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Da servidão à liberdade: o aprender como problema e


conceito filosóficos entre Rousseau e Deleuze

Caio Cezar Pontim Scholz 1


Orientadora: Ester Maria Dreher Heuser2

Resumo
A fim de responder à questão: “afinal, qual é a tese da tua Tese?”, o
presente percurso teórico e argumentativo cumpre a pretensão de
propor uma abordagem eminentemente filosófica acerca do
aprender, com o intuito de fornecer-lhe uma consistência conceitual
e, por consequência, afirmá-lo como um acontecimento que ocorre
em um movimento que leva da servidão ao vislumbre da liberdade.
Para tanto, incialmente, o aprender é pensado como uma noção
pressuposta e subjetiva na filosofia antiga e na medieval; em seguida,
na modernidade, ele ascende ao protagonismo filosófico, ao ser
colocado como um problema; e, por fim, na contemporaneidade, ele
transita da via do problema para a via do conceito filosófico. Ademais,
tal percurso é composto a partir de ressonâncias entre as filosofias de
Rousseau e de Deleuze, com o auxílio da literatura, em um cenário
caracterizado pelo entrelace da ética com a política. Logo, esta Tese
promove a abertura de um espaço de incentivo para se pensar o
aprender por outras possibilidades, em primeiro plano, para além do
ensino e da educação.

Palavras-chave
Aprender. Servidão. Liberdade. Rousseau. Deleuze.

1 Doutor em Filosofia. UniAlfa Faculdade. E-mail: cezar.cs@hotmail.com


2 Doutora em Educação. Unioeste. E-mail: esterheu@hotmail.com

376
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Referência
SCHOLZ, Caio Cezar Pontim. Da servidão à liberdade: o aprender como
problema e conceito filosóficos entre Rousseau e Deleuze. 2023. 214 f. Tese
(Doutorado em Filosofia) - Universidade Estadual do Oeste do Paraná,
Toledo, 2023. Disponível em: https://tede.unioeste.br/handle/tede/6750.

377
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Ilusão concreta: a função estruturante do fetichismo


na sustentação ideológica e material da sociedade
capitalista, segundo Karl Marx

Gerson Lucas Padilha de Lima 1


Orientador: Rosalvo Schütz 2

Resumo
O objetivo da tese é apresentar os pressupostos e determinações
estruturantes da teoria do fetichismo no pensamento de Karl Marx.
Para tanto, a tese que se sustenta aqui é afirmar que o fetichismo se
determina pela ideia de inversão mística constitutiva da lógica da
sociedade burguesa. Assim, tal ordenamento social aparece como
algo um tanto misterioso, mágico, ocultando seus fundamentos
reais, exercendo assim a função social de sustentação/legitimação
ideológica e material da dinâmica contraditória do capital que, no
entanto, a abordagem de sua processualidade histórica aponta para a
possibilidade concreta de sua superação mediante a práxis
revolucionária dos indivíduos organizados coletivamente. Nesta
perspectiva, o fetichismo constitui a forma imaterial objetiva do
aparecer da materialidade do mundo invertido. Desse modo, o
fetichismo se estabelece como uma forma invertida em que a visão da
economia clássica e a experiência reificada dos indivíduos concebem
a realidade contraditória em que são engendradas as relações sociais
na ordem capitalista. Nesse contexto, os indivíduos captam
subjetivamente na consciência a aparência do real como
supostamente manifestasse sua essência. Todavia, a aparência do
capital, embora constitua o primeiro nível de sua manifestação
objetiva, oculta, mistifica, mascara suas contradições reais.

1 Doutorado em Filosofia. UNIOESTE. E-mail: gersonlucas.padilha@gmail.com


2 Doutorado em Filosofia. UNIOESTE. E-mail: rosalvoschutz@hotmail.com

378
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Palavras-chave
Fetichismo. Inversão. Práxis. Emancipação.

Referência
LIMA, Gerson Lucas Padilha. Ilusão concreta: A função estruturante do
fetichismo na sustentação ideológica e material da sociedade capitalista,
segundo Karl Marx. 200 f. Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade
Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Toledo, 2022. Disponível em:
https://tede.unioeste.br/handle/tede/6634.

379
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Jurisprudência expressionista de direitos:


uma perspectiva deleuziana

Paulo Roberto Schneider 1


Orientadora: Ester Maria Dreher Heuser2

Resumo
Esta pesquisa investigou os sentidos da afirmação paradoxal de
Deleuze, feita em algumas entrevistas constantes em Conversações e
O abecedário de Gilles Deleuze, de que não é a lei, nem os Direitos
Humanos que criam o Direito, mas a jurisprudência. A investigação
considerou a via das relações de encontro entre a macro e a
micropolítica, na qual a vertigem do direito se expressa, não
condicionado ao espaço da segmentação molar do Estado e de seus
agentes legisladores e juízes, mas levando em conta a dimensão
molecular, pela ação dos usuários do direito. O que permitiu elaborar
a seguinte tese: a noção de jurisprudência como criadora de direitos
pode ser concebida sob o enfoque expressionista de superfície como
uma competência de ordem linguística, ético e política que, via a
experimentação, é capaz de criar direitos mediante o critério da vida,
diversa, portanto, de um dispositivo técnico ou jurisdicional,
conforme um conjunto de operários da Justiça, com função
interpretativa da lei. Em suma: o que é expresso como direito, não
pode ser explicado ou representado em separado do próprio ato em
que é expresso em seu processo de constituição, na superfície das
relações sociais e políticas, pelas quais a vida se exprime.

1 Doutorado em Filosofia. Programa de Pós-Graduação em Filosofia do Centro de


Ciências Humanas e Sociais da Universidade Estadual do Oeste do Paraná-
UNIOESTE. E-mail: pauloschneiders@gmail.com
2 Professora-pesquisadora Associada da UNIOESTE, Campus Toledo (PR), no curso

de Filosofia - Licenciatura, Mestrado e Doutorado (Linha: Ética e Filosofia Política).


E-mail: ester.heuser@gmail.com

380
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Palavras-chave
Direitos. Expressionismo. Jurisprudência.

Referência
SCHNEIDER, Paulo Roberto Schneider. Jurisprudência expressionista de
direitos: uma perspectiva deleuziana. 223f. Tese (Doutorado em Filosofia) –
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Toledo, 2021.
Disponível em: https://tede.unioeste.br/handle/tede/5436.

381
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

“Não esqueça o melhor”: tema e variações da sinfonia


ética em “O Princípio Esperança”, de Ernst Bloch

Anna Maria Lorenzoni 1


Orientador: Rosalvo Schütz 2

Resumo
A tese é um convite para “escutar” O Princípio Esperança, obra magna
de Bloch, de modo a não só explicitar a coerência ética representada
pela filosofia do autor, mas defender que a temática ética expressa o
centro tonal de sua polifonia, ainda que muitas vezes esse tema não
seja tão evidente quanto outros temas relevantes que perpassam a
composição blochiana. Intercalando sequências de movimentos
rápidos e lentos, a sinfonia blochiana, de maneira um tanto inusual,
divide-se em cinco movimentos, todos eles dedicados, de um modo
ou de outro, a uma questão confessadamente central na obra de
Bloch – “Não esqueça o melhor”, mas também “falta alguma coisa” e
“demora eternamente, és tão lindo!”. Sua dinâmica anuncia um
crescendo, cujo ápice, entretanto, parece nunca encontrar seu cume,
qual seja, a morada por excelência, o lugar de identidade entre ser
humano e natureza, a plenificação existencial.

Palavras-chave
Dignidade humana. Heimat. Marxismo. Sonhos diurnos. Utopia.

Referência
Lorenzoni, Anna Maria. “Não esqueça o melhor”: tema e variações da sinfonia
ética em O Princípio Esperança de Ernst Bloch. 198 f. Tese (Doutorado em
Filosofia) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Toledo,
2019. Disponível em: http://tede.unioeste.br/handle/tede/4585.

1 Doutora em Filosofia, pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná


(UNIOESTE). Docente do curso de graduação em Filosofia da Unioeste.
E-mail: anna.lorenzoni@unioeste.br
2 Doutor em Filosofia pela UNI-Kassel/Alemanha. Docente dos cursos de graduação

e pós-graduação em Filosofia da Unioeste. E-mail: rosalvoschutz@hotmail.com

382
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O ausente-presente: Merleau-Ponty
e o inconsciente primordial

Litiara Kohl Dors 1


Orientador: Claudinei Aparecido de Freitas da Silva 2

Resumo
O filósofo Maurice Merleau-Ponty desenvolveu, ao longo de sua
fenomenologia, um importante diálogo com a obra freudiana,
especialmente no que se refere ao conceito de inconsciente. O
interesse do filósofo recai, sobretudo, nos textos clínicos de Freud, já
que, aos olhos de Merleau-Ponty, é justamente na descrição dos casos
clínicos que o psicanalista acaba por deixar entrever certa
aproximação com o pensamento fenomenológico. Na incessante
busca por escapar de uma visão dualista acerca do homem e da
consciência, Merleau-Ponty efetua uma releitura do inconsciente
freudiano, descrevendo-o nos moldes de uma estrutura ausente-
presente. Neste sentido, o momento de maior insight durante a
construção da tese, é o da descoberta de algumas anotações do
filósofo, que se encontram esparsas em seus últimos escritos, em que
faz referência à noção matemática de grandeza negativa, tal como
Kant a introduziu no campo filosófico. A noção de grandeza negativa
operando uma oposição real entre os pares de opostos é, então, uma
importante chave de leitura merleau-pontyana para a compreensão
de um inconsciente estruturado com a consciência, em que ambos se
encontram amalgamados, revelando, assim, uma oposição real.

Palavras-chave
Inconsciente. Psicanálise. Fenomenologia. Freud. Merleau-Ponty.

1Doutora em Filosofia pela Unioeste/Toledo. E-mail: litiara@hotmail.com


2Doutor em Filosofia pela UFSCar. Professor Associado do Curso de Filosofia da
Unioeste/Toledo. E-mail: cafsilva@uol.com.br

383
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Referência
DORS, Litiara Kohl. O ausente-presente: Merleau-Ponty e o inconsciente
primordial. 280f. Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade Estadual do
Oeste do Paraná – UNIOESTE, Toledo, 2020. Disponível em:
https://tede.unioeste.br/handle/tede/4933.

384
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O conceito de ideia e a resolução do problema do


solipsismo na metafísica cartesiana

Marcos Alexandre Borges 1


Orientador: César Augusto Battisti 2

Resumo
Esta tese propõe uma discussão da metafísica de Descartes a partir
de uma interpretação do seu conceito de ideia, especificamente
aquele construído na terceira das Meditações Metafísicas. Buscamos
compreender o que são as ideias e qual o seu papel principal na
metafísica cartesiana, com resultados diferentes daqueles obtidos
pelos principais comentadores do cartesianismo, especialmente em
relação à já consagrada leitura de Martial Gueroult, segundo a qual o
objetivo primordial da teoria das ideias presente na Meditação
Terceira, bem como dessa meditação como um todo, é resolver o
problema do valor objetivo das ideias. A presente tese propõe uma
leitura da Meditação Terceira segundo a qual há um objetivo mais
fundamental a ser realizado pelas ideias na terceira das Meditações
Metafísicas. A tese desta tese é a seguinte: o objetivo primordial das
ideias na Meditação Terceira está diretamente relacionado ao
problema do solipsismo, o principal problema que Descartes se
propõe a resolver nesta meditação. Ou seja, pretendemos defender
que o objetivo primordial da teoria das ideias presente na Meditação
Terceira é provar que o Eu (sujeito) não existe sozinho, é afirmar a
necessidade da existência de um outro.

Palavras-chave
Descartes. Problema do solipsismo. Ideia. Realidade objetiva.

1 Doutor em Filosofia. Professor da Universidade Estadual de Roraima.


E-mail: marcos.borges@uerr.edu.br
2 Doutor em Filosofia. Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

E-mail: cesar.battisti@hotmail.com

385
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Referência
BORGES, Marcos Alexandre. O conceito de ideia e a resolução do problema do
solipsismo na metafísica cartesiana. 228 f. Tese (Doutorado em Filosofia) –
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Toledo, 2020.
Disponível em: https://tede.unioeste.br/handle/tede/4934.

386
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O conceito de povo nos escritos de Maquiavel

Fabiana de Jesus Benetti1


Orientador: Jadir Antunes 2
Coorientador: José Luiz Ames 3

Resumo
Minha tese, que recebeu como título O conceito de povo nos escritos
de Maquiavel, começou a ser gestada em 2016 e completou seu tempo
de formação em 2021, neste ano ela veio ao mundo e foi apresentada
ao seu núcleo acadêmico. Ao final destes cinco anos de trabalho, à
pergunta: afinal, qual é a tese da tua tese? respondo que: a tese que
apresentei e defendi em meu trabalho foi a de que não há uma
definição que indique de modo substancial o que é povo nos escritos
de Maquiavel, povo se diz não pelo o que é, mas pelo que deseja. A
começar pelo Príncipe, quando Maquiavel apresenta o povo como um
dos humores existentes em todas as cidades, ele não nos oferece
nenhum elemento social ou econômico que nos permita definir
povo, o que ele faz é nos dizer sobre o desejo que constitui o humor
popular: o desejo de não dominação. Assumir esta tese pressupõe que
é apenas na emergência das relações políticas que se pode identificar
quem é povo, antes disto não há face popular que possa se conhecida.

Palavras-chave
Maquiavel. Humores. Povo. Desejos.

1 Doutora pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE.


E-mail: benettifabiana@hotmail.com
2 Doutor. Professor do PPG Filosofia da UNIOESTE.

E-mail: jadir.antunes@yahoo.com.br
3 Doutor. Professor aposentado do PPG Filosofia da UNIOESTE.

E-mail: jluizames@gmail.com

387
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Referência
BENETTI, Fabiana de Jesus. O Conceito de povo nos escritos de Maquiavel. 189
f. Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná
– UNIOESTE, Toledo, 2021. Disponível em: https://tede.unioeste.br/handle/
tede/5569.

388
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O giro retórico na filosofia do jovem Nietzsche

Célia Machado Benvenho1


Orientador: Wilson Antonio Frezzatti Jr. 2

Resumo
Identificamos que há um interesse pela questão da linguagem desde
os primeiros escritos de Nietzsche, quando ainda filólogo e recém-
nomeado professor de filologia clássica na Universidade da Basileia
(1869), e atravessará com persistência significativa e peculiar suas
obras. É, no entanto, nas reflexões do filósofo sobre a retórica, no
período de 1872 a 1874, que ele elabora uma concepção retórica de
linguagem, de modo específico no curso Exposição da retórica antiga
(Darstellung der antiken Rhetorik), geralmente publicado como
Curso de retórica, e no ensaio póstumo Sobre verdade e mentira no
sentido extramoral, de 1873. Buscamos responder em nossa tese se o
modo como o filósofo aborda o fenômeno da linguagem nesses textos
indicaria uma ruptura em seu modo de pensar, conforme vinha
apresentando até então, caracterizando-se como um “giro retórico”
em sua filosofia, ou se trataria apenas de um “desvio” episódico, ou
até mesmo uma estratégia de argumentação. Defendemos que a
dedicação do jovem Nietzsche ao tema da relação entre retórica e
linguagem não parece ter sido ocasional ou episódica, como defende
Lacoue-Labarthe, mas resultará em conceitos axiais no pensamento
nietzschiano, como as críticas que ele fará à linguagem da metafísica
e da epistemologia. De tal forma que podemos dizer que ocorreu um
“giro retórico” em sua filosofia.

1 Doutora em Filosofia, pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná


(UNIOESTE). Docente dos cursos de Graduação e Pós-graduação em Filosofia da
Unioeste. E-mail: celia.benvenho@unioeste.br
2 Doutor em Filosofia pela USP. Docente dos cursos de graduação e pós-graduação

em Filosofia da Unioeste. E-mail: wfrezzatti@uol.com.br

389
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Palavras-chave
Linguagem. Retórica. Giro retórico. Metáfora.

Referência
BENVENHO, Celia Machado. O giro retórico na filosofia do jovem Nietzsche.
270 f. Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade Estadual do Oeste do
Paraná – UNIOESTE, Toledo, 2022. Disponível em: https://tede.unioeste.br/
handle/tede/6610.

390
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

“O que quer uma mulher?”: uma experiência parrhesiásta


em torno dos enigmas da feminilidade

Miriam Izolina Padoin Dalla Rosa 1


Orientador: Ester Maria Dreher Heuser2

Resumo
Em resposta a questão “afinal, qual é a tese da tua Tese?” esta tese
afirma que a parrhesía se contrapõe à submissão e ao sofrimento
psíquico, possibilitando a invenção e a expressão da feminilidade,
seja por meio da palavra falada ou escrita. Portanto, estuda o conceito
de parrhesía relacionado com a mulher, por meio das práticas do
franco-falar sobre si que são operadas em sua construção da
feminilidade. Suas principais referências bibliográficas são os
últimos três cursos desenvolvidos por Foucault e textos psicanalíticos
de Freud à Lacan. Seu objetivo é discutir os enigmas da feminilidade
a partir da questão posta pela clínica psicanalítica “O que quer uma
mulher?” em sua articulação ao conceito de parrhesía elucidado por
Foucault. Elegeram-se a narrativa literária Antígona, de Sófocles; o
texto em que Freud relata clinicamente a história de Ida Bauer;
referências a Safo de Lesbos; Aspásia de Mileto; Hildegarda de
Bingen; Christine de Pisan, Mary Wollstonecraft; Marie-Olympe de
Gouges; Lou Andreas-Salomé; Gabriela Mistral e Nísia Floresta.
Mulheres parrhesiástas que desconfiaram da solidez das formulações
teóricas clássicas, patriarcais, fortemente excludentes, apostando,
com irreverência, nos caminhos tangenciais. Ao final, discute o gozo
suplementar como próprio da sexualidade feminina, sustentando

1 Psicanalista. Doutora em Filosofia pela UNIOESTE/PR. Docente da Pontifícia


Universidade Católica do Paraná, Campus Toledo/PR (Graduação e Pós-
graduação). http://orcid.org/0000-0003-4516-2591. E-mail: miriam.rosa@pucpr.br
2 Orientadora. Docente-pesquisadora na Filosofia da UNIOESTE/PR (Graduação e

Pós-graduação); linha de pesquisa Ética e Filosofia Política. Doutora em Educação


UFRGS. https://orcid.org/0000-0002-1762-7526. E-mail: esterheu@hotmail.com

391
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

uma posição de abertura para o ‘querer’ da mulher, manifestado em


ato por meio da parrhesía.

Palavras-chave:
Feminilidade. Foucault. Gozo. Parrhesía. Psicanálise freudo-
lacaniana.

Referência
PADOIN DALLA ROSA, Miriam Izolina. “O Que Quer Uma Mulher?”: uma
experiência parrhesiásta em torno dos enigmas da feminilidade. 216 f. Tese
(Doutorado em Filosofia) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
UNIOESTE, Toledo, 2022. Disponível em: https://tede.unioeste.br/bitstream/
tede/6171/2/Miriam_Dalla_Rosa_2022.pdf.

392
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

O trabalho (im)produtivo como não-idêntico


ao modo de produção capitalista: uma perspectiva
a partir de K. Marx e T. Adorno

Luana Aparecida de Oliveira 1


Orientador: Rosalvo Schütz 2

Resumo
Nossa tese é composta por duas abordagens inéditas que conduzem
toda a argumentação e reflexão nela desenvolvida. Em primeiro
lugar, a abordagem e problematização do conceito capitalista de
trabalho (im)produtivo a partir do diálogo entre as filosofias de Karl
Marx e Theodor Adorno. Em segundo lugar, o emprego do prefixo
“(im)” no conceito de “produtivo” para denotar que o trabalho que é
produtivo para o capitalismo é improdutivo para o trabalhador. Mas,
afinal, qual é a tese da tese? Trata-se da mais-valia enquanto princípio
de identidade do capitalismo, e que, por conseguinte, o trabalho
considerado produtivo nessa lógica é aquele que produz mais-valia.
Ainda sobre a tese da tese, defendemos o trabalho (im)produtivo
como não-idêntico ao capitalismo. Por fim, também constitui a tese
da tese a elaboração de uma nova constelação conceitual do trabalho
(im)produtivo, configurada de modo que o trabalho seja produtivo
para o trabalhador, e não para o capitalismo. Para finalizar,
discorremos sobre o não-idêntico presente no capitalismo, citamos
como exemplos os sindicatos combativos e os movimentos sociais
antiopressões que têm no horizonte de suas lutas a abolição da
sociedade de classes. Por último, tratamos do sujeito capaz de
promover a superação do capitalismo.

1Doutora em Filosofia. Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE.


E-mail: luanatuba@hotmail.com
2Doutor em Filosofia. Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE.

E-mail: rosalvoschutz@hotmail.com

393
XXVI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da Unioeste

Palavras-chave
Trabalho (im)produtivo. Não-idêntico. Modo de produção
capitalista.

Referência
OLIVEIRA, Luana Aparecida de. O trabalho (im)produtivo como não-idêntico
ao modo de produção capitalista: uma perspectiva a partir de K. Marx e T.
Adorno. 240 f. Tese (Doutorado em Filosofia) - Universidade Estadual do
Oeste do Paraná – UNIOESTE, Toledo, 2023. Disponível em:
https://tede.unioeste.br/handle/tede/593.

394
Instituto Quero Saber
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