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Coautoria:
Judimar da Silva Gomes
Administrador, Mestre em Tecnologia/ CEFET/RJ Celso Suckow da Fonseca Coordenador
Docente do curso de Administração da Faculdade de Duque de Caxias/RJ
E-mail: judimar.gomes@uol.com.br
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Revista EDUC-Faculdade de Duque de Caxias/Vol. 06-Nº 1/Jan-Jun 2019
1- INTRODUÇÃO
Esse descarte inadequado provoca diversos problemas para o meio ambiente e para a
população: ocorre o crescimento do volume destinado aos aterros, consumo de recursos
naturais, poluição do ar, das águas e dos lençóis freáticos, aumento dos custos que envolvem a
coleta de resíduos, esgotamentos dos aterros próximos aos pontos de geração de resíduos, o
acúmulo da água e o aumento de insetos e mosquitos que podem transmitir doenças, como é o
caso do Aede Aegypti, que é o transmissor da Dengue, Febre Amarela, a Chikungunya, e do
Anopholes, que é o transmissor da malária, e esta situação se intensifica no período do verão
quando as condições climáticas são favoráveis e ocorre a reprodução. A Agência Brasil
divulgou em março de 2019 dados do Ministério da Saúde que apontam que o Brasil registrou
229.064 casos de dengue apenas nas 11 primeiras semanas de 2019. O número significa um
aumento de 264% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando foram
contabilizados 62,9 mil casos.
Considerando a importância do tema nos dias atuais, este estudo tem por objetivo
analisar a eficácia da aplicabilidade da logística reversa dos pneus como instrumento de
prevenção do meio ambiente por meio da diminuição de resíduos, e observar de que forma as
empresas estão utilizando a logística reversa como estratégia para reduzir o excesso de pneus,
incentivando a população a se conscientizar sobre o descarte correto.
reversa de pneus e avaliar duas empresas que fazem utilização dessa estratégia,
implementando ações que visem contribuir para com a preservação do meio ambiente.
A pesquisa que embasa este artigo é de natureza descritiva, realizada a partir de uma
revisão bibliográfica sistematizada e baseada em teóricos de renome e sites acadêmicos que
abordam o tema em questão. O espaço temporal da pesquisa se concentra entre outubro de
2009 a setembro de 2019. A Revisão de Literatura foi realizada através de uma consulta em
dissertações, teses e artigos científicos selecionados através da busca em sites de revistas e
catálogos de dissertações e teses e, principalmente, em bases de dados e fontes de informação
relacionadas com as áreas de logística e administração.
Uma pesquisa apresentada por Leite (2003) mostra os motivos estratégicos que levam
as empresas a trabalhar com logística reversa. São eles: o aumento de competitividade
(65,2%), a limpeza de canal (33,4%), o respeito às legislações (28,9%), a revalorização
econômica (27,5%) e a recuperação de ativos (26,5%); e ressalta que a logística reversa
contribui com a preservação do meio ambiente e que, na atualidade, tem se tornado um
diferencial competitivo para as empresas.
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Isso demonstra que a logística reversa se tornou uma ação necessária em diversos tipos
de indústria para o aproveitamento de materiais residuais. Segundo Leite (2009), ela é
definida como o fluxo de materiais de pós-consumo até a sua reintegração ao ciclo produtivo,
na forma de um produto equivalente ou diverso do produto original, ou o retorno do bem
usado ao mercado. Leite (2009, p.17) destaca ainda que:
Entende-se, neste sentido, que o processo de logística reversa, mesmo que se encontre
em construção teórica, é fundamental para pôr em prática novas possibilidades de negócio,
pois garantem o reparo, a reciclagem e reutilização dos produtos.
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Ainda conforme Carvalho, Silva e Carvalho (2017) já na década de 1940, após o fim
da Segunda Guerra Mundial, iniciou-se o apoio à reciclagem de materiais como resultado das
inúmeras críticas aos materiais utilizados durante a Guerra, predominantemente ao metal e à
borracha, o que ocasionou inclusive o surgimento da remanufatura.
Isto sugere que os governos já não mais se responsabilizam pelo impacto ambiental,
pois são as cadeias industriais as encarregadas de reduzir esses impactos, principalmente a
partir da reutilização dos produtos e, mais especificamente, da logística reversa deles após o
consumo.
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A definição de resíduos sólidos, conforme a NBR 10004 sugere que são todos os
“resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades de origem industrial,
doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição” (ABNT, 2004), sendo
que sua classificação envolve a identificação tanto do processo ou atividade que lhes deu
origem, quanto de seus constituintes e características próprias, bem como da comparação
destes constituintes com listagens de resíduos e substâncias, dos quais se conhece o impacto à
saúde e ao meio ambiente.
A produção brasileira de pneus tem início durante o ano de 1934, com a implantação
do Plano Geral de Viação Nacional e concretizou-se em 1936 com a instalação, na cidade do
Rio de Janeiro, da Companhia Brasileira de Artefatos de Borracha, também conhecida como
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Pneus Brasil; essa companhia, só em seu primeiro ano de atuação no mercado fabricou mais
de 29 mil pneus, cifra que tinha se multiplicado até o final dos anos 80, devido a que outras
grandes fábricas mundiais iniciaram sua produção no país, atingindo uma cifra de mais de 29
milhões de pneus fabricados no território brasileiro (SINPEC, 2019).
Alguns estudos têm estimado que o tempo de decomposição dos pneus fica em torno
de 600 anos. Só no Brasil a produção de pneus é de em torno de 40 milhões de unidades por
ano e a geração de pneus velhos é de160 milhões de unidades durante o mesmo período,
sendo uma cifra assustadora, considerando os prejuízos que o descarte desses pneus
representam para o meio ambiente e para a sociedade de forma geral, a demanda de matérias
primas para a fabricação desta ferramenta, considerando que os pneus são 100%
reaproveitáveis, principalmente na fabricação de asfalto ecológico e de combustível
(DINÂMICA AMBIENTAL, 2017).
A respeito desse tópico Gagliardi e Lanzotti (2018) sugerem que, apesar das empresas
terem algum tipo de resistência na implementação de medidas de logística reversa, este é um
processo que reduz efetivamente os impactos negativos sofridos pelo meio ambiente,
fundamental no caso dos pneus por se tratar de um material de difícil decomposição, sendo
inclusive, por este motivo, considerada uma das principais estratégias de desenvolvimento
sustentável das empresas pertencentes a este setor por estar focada na produção e no consumo
consciente.
Dentro desta mesma perspectiva, Santos, Botinha e Leal (2013) propuseram que o
investimento em desenvolvimento sustentável traz vantagens competitivas e,
consequentemente, para a economia, pois além da redução do desperdício, promove a geração
de novos empregos, principalmente no caso de funcionários com menos qualificações,
considerada uma de suas grandes vantagens.
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Por outro lado, Santos, Botinha e Leal (2013) sugerem uma atenção especial no
sentido econômico, governamental, de responsabilidade corporativa e logística; no primeiro
caso ressalta-se o custo de produção e a necessidade de adaptar os produtos e processos para
garantir a redução do impacto ambiental; no segundo caso os autores abordam problemas na
legislação e políticas de meio ambiente; no terceiro caso sugerem que as empresas fabricantes
são comprometidas a coletar seus produtos ao final de sua vida útil; no quarto caso, elencam
as dificuldades de coletar os produtos da cadeia.
4.1. A Logística Reversa de Pneus como estratégia para evitar o descarte irregular no
meio ambiente
A obsolescência de muitos produtos nos últimos anos tem feito com que as
organizações (de todos os tamanhos e setores) assumam o desafio de grandes mudanças em
suas estratégias, integrando todo seu sistema gerencial e operativo para atender as exigências
de seus clientes e, ao mesmo tempo, as leis estabelecidas pelos governos locais, pela
população e sua preocupação com a sustentabilidade ambiental, tanto nos processos
produtivos quanto na “extensão de responsabilidade do produto”, relacionada com a fase de
pós-consumo (LEITE, 2002, p. 109).
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O Ciclo PDCA (Figura 1) está dividido em quatro fases, segundo Pacheco et all.
(2006):
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- Fase C: Verificar: que se caracteriza pela comparação entre os dados obtidos por
meio da execução do plano de ação e o estabelecido inicialmente, no intuito de
verificar se os resultados esperados estão sendo atingidos.
- Fase A: Agir: fase caracterizada pela correção das ações corretivas necessárias para
evitar problemas repetitivos ou para melhorar os resultados obtidos.
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produção de asfalto de borracha. Primeira camada é de brita, depois uma mistura que contém
asfalto e por último a camada que contém os grãos de pneus. Caso não haja a possibilidade de
se executar aquilo que foi planejado, será preciso o retorno à primeira fase e analisar os
motivos que levaram aos desvios. Nesta fase do PDCA é a hora de verificar o que está
funcionando e o que precisa ser mudado.
Checar: Orientação dos resultados devendo estar implementado com o plano de ação.
Quanto mais prematura a verificação significará maior possibilidade que os resultados
positivos sejam atingidos. Acompanhar se o previsto foi realizado; identificar se os desvios
foram sanados e possíveis melhorias; avaliar a sistemática do exercício proposto.
Essa quarta etapa simboliza fim e começo simultaneamente, todavia, após uma
meticulosa verificação dos problemas e erros anteriores do ciclo do PDCA, recomeçam-se
novas diretrizes. Por isso, é de grande valia recordar que, ao encerrar o ciclo (fim das
contramedidas), um novo planejamento se inicia. Observa-se que a ferramenta do Ciclo
PDCA pode ser relacionada com os procedimentos de logística reversa, pois as máquinas de
reciclagem com pneus elaboram todo um ciclo para o aproveitamento destes resíduos,
tornando o processo uma vantagem competitiva, que permite às empresas se sobrepor aos
concorrentes significativos. Uma vez tendo vantagens competitivas caracteriza algo
estratégico.
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- RECICLANIP: entidade que surgiu no ano de 1999 por meio do Programa Nacional
de Coleta e Destinação de Pneus Inservíveis, implantado pela ANIP (Associação Nacional da
Indústria de Pneumáticos), tornando-se gestora do sistema de Logística Reversa de pneus
inservíveis e uma das maiores iniciativas de destinação de resíduos sólidos (especificamente
de pneus) entre os países da América Latina.
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A correta destinação dos pneus inservíveis é feita por meio do programa de coleta,
gerenciado pela empresa Reciclanip, antes mencionada. Desta forma, a Bridgestone (2019)
assume seu compromisso com o meio ambiente através de suas práticas ambientais verdes
que são orientadas a:
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio deste estudo foi possível analisar a aplicabilidade da logística reversa de
pneus como um instrumento de prevenção a favor do meio ambiente, que permite a
diminuição dos impactos causados pelos resíduos sólidos e, ao mesmo tempo, a criação de
estratégias voltadas à redução do descarte inadequado dos pneus e as vantagens competitivas
para as organizações.
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7- REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Diário Oficial da União, Brasília DF, 02
ago. 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2010/Lei/L12305.htm>. Acesso em 28 mar. 2019.
______ Lei nº 9.264, de 16 de julho de 2009. Diário Oficial da União, Brasília DF, 16 jul.
2009. Disponível em: <https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=126748>. Acesso em 28
mar. 2019.
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LEITE, P. R. Logística reversa: meio ambiente e competitividade. 2. ed. 6. reimp. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2009.
LEITE, P. R. Logística reversa: Meio ambiente e competitividade. São Paulo: Prentice Hall,
2003.
FONSECA, A.; MIYAKE, D. I. Uma análise sobre o ciclo PDCA como um método para
solução de problemas da qualidade. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE
PRODUÇÃO, XXVI, 2006, Fortaleza. Anais. Fortaleza: ABEPRO, 2006.
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