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Praça: Revista Discente da Pós-Graduação em Sociologia da UFPE, Recife, v. 2, n. 1, 2018, pp.

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Onde os deuses se encontram:


reflexões acerca das categorias “apolíneo” e “dionisíaco” a partir da construção de
representações sobre Pelé

Diano Albernaz Massarani1

Resumo

O presente artigo se insere no conjunto de discussões sobre o “estilo de jogo” brasileiro, o chamado
futebol-arte, focando as ideias elaboradas por Gilberto Freyre, principalmente as presentes em
Foot-Ball Mulato (1938). Mais particularmente, objetiva-se compreender como as categorias “apolíneo” e
“dionisíaco”, basilares na definição freyriana do “estilo de jogo” brasileiro, são acionadas na construção de
representações sobre Pelé, dado que sua pessoa surge frequentemente representada como detentora de
características futebolísticas que ultrapassam os limites sugeridos pelas categorias em questão. Pensando a
produção de representações como um processo complexo e dinâmico, argumenta-se que não existe um
Pelé “verdadeiro”, definido a priori como absolutamente apolíneo ou absolutamente dionisíaco, mas que a
construção de representações sobre sua pessoa depende do contexto.

Palavras-chave: Pelé; representações; apolíneo; dionisíaco; futebol-arte.

Where gods meet:


reflections upon the categories “Apollonian” and “Dionysian” given the construction
of representations of Pelé

Abstract

This paper is part of the set of discussions about the Brazilian “style of play”, namely the “futebol-arte”,
focusing on the ideas elaborated by Gilberto Freyre, mainly those presented in Foot-Ball Mulato (1938).
Particularly, this study aims to understand how the categories “Apollonian” and “Dionysian”
– basic concepts in the Freyrian definition of the Brazilian “style of play” –, are triggered in the
construction of representations of Pelé, given that Pelé is often represented as the holder of football
characteristics that go beyond the categories in views. Having the creation of representations as a complex
and dynamic process in mind, this study proposes that the production of representations of Pelé is a
process that depends on the context, so that there is no “true” Pelé, defined a priori as either absolutely
Apollonian or absolutely Dionysian.

Keywords: Pelé; representations; Apollonian; Dionysian; “futebol-arte”.

***

1Graduado em Engenharia Química pela Universidade Federal Fluminense (UFF); graduado em Comunicação
Social – Jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF); mestre em Antropologia pelo Programa de
Pós-Graduação em Antropologia (PPGA) da Universidade Federal Fluminense (UFF); doutorando
em Antropologia no Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGA) da Universidade Federal
Fluminense (UFF). E-mail: diano_am@yahoo.com.br.
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1. Introdução

Já se caminhou o suficiente na área da Antropologia dos Esportes para que não seja
arriscado iniciar um artigo afirmando que o futebol coloca-se, no Brasil, como protagonista na
produção, difusão e expressão de símbolos e identidades nacionais. Tal espaço ocupado pelo
futebol no país nada tem de natural, sendo, pelo contrário, fruto de um complexo processo, em
vigência desde no mínimo a década de 1930, que envolve a construção de uma relação entre a
seleção brasileira de futebol e a nação, na qual a primeira surge como metáfora e metonímia da
segunda. Pensando mais profundamente os mecanismos desse processo, a antropóloga Simoni
Guedes propõe a noção de “estilo de jogo” como um operador simbólico capaz de promover o
“trânsito entre as representações próprias ao campo desportivo e aquelas referentes à produção
das especificidades nacionais” (GUEDES, 2014, p.156-157).
O presente estudo se insere inicialmente no conjunto de discussões acerca do “estilo de
jogo” brasileiro, o chamado futebol-arte, focando as ideias elaboradas por Gilberto Freyre
(1900-1987) – tido como um dos agentes responsáveis por “‘inventar’, do ponto de vista
sociológico, a própria idéia de futebol-arte” (VELHO BARRETO, 2004, p.234) – e o artigo de
sua autoria intitulado Foot-Ball Mulato (1938), “uma das primeiras e mais influentes construções
do que viria a ser conhecido como ‘futebol-arte’ brasileiro” (GUEDES, 2014, p.154). De forma
mais delimitada, objetiva-se compreender, a partir da análise de escritos na área de Antropologia
dos Esportes, como as categorias “apolíneo” e “dionisíaco”, basilares na definição freyriana do
“estilo de jogo” brasileiro, são acionadas na construção de representações sobre Pelé2, dado que
sua pessoa surge frequentemente representada como detentora de características futebolísticas
que ultrapassam os limites sugeridos pelas categorias em questão.
Se a proposta é tomar o “estilo de jogo” brasileiro definido por Gilberto Freyre como
um operador simbólico capaz de promover o fluxo de mão dupla entre as expressões produzidas
pelos jogadores brasileiros nos gramados e as singularidades nacionais, acredita-se que um
primeiro passo necessário é o de apresentar, mesmo que de maneira sintética, tanto os
argumentos desenvolvidos pelo autor sobre a identidade nacional, como as características
singulares do que definiu como “Foot-Ball Mulato”.

2 Edson Arantes do Nascimento.


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2. Gilberto Freyre e o “foot-ball mulato”

Como apontado por Maria Isaura Pereira de Queiroz, ao longo da década de 1920,
gradativamente, deu-se a emergência de uma nova perspectiva intelectual de definição do “ser
brasileiro”, perspectiva esta que contestava a “negação da existência de uma identidade brasileira
porque a civilização que a sustentava era heterogênea” (QUEIROZ, 1988, p.73), propondo, em
lugar disto, “a admissão da existência dessa identidade justamente porque esta civilização era
sincrética” (QUEIROZ, 1988, p.73). Essa nova perspectiva, prossegue a autora, encontrou
ressonância em agentes os mais diversos, tais como, por exemplo, os artistas e literatos que
participaram, em São Paulo, da Semana de Arte Moderna de 1922, e os autores de estudos
etnológicos realizados nos anos 1930 que “buscaram comprovar a existência e a excelência de um
conjunto vigoroso composto pela interpenetração de civilizações no Brasil” (QUEIROZ, 1988,
p. 69).
Indubitavelmente Gilberto Freyre é um dos mais proeminentes intelectuais que então
argumentavam em prol da tese de que o valor e a riqueza da cultura nacional encontravam-se nas
fontes diversas que originavam seus elementos: os portugueses, os negros e os índios. No
prefácio à primeira edição de Casa-Grande & Senzala, originalmente publicado em 1933, Freyre
(2003, p.31) afirma que, dos problemas brasileiros, aquele que mais o inquietava era o da
miscigenação. Pode-se dizer que a inquietação do autor era alimentada pela visão dos intelectuais
que reconheciam na miscigenação uma barreira a impedir o desenvolvimento sociocultural
brasileiro. Neste sentido, uma das estratégias adotadas por Gilberto Freyre para lidar com essa
questão e, ao mesmo tempo, propor uma nova forma de interpretação da identidade nacional
residiu na adoção paulatina de uma perspectiva culturalista, inspirada nas ideias do antropólogo
Franz Boas (1858-1942), com quem teria mantido contato intelectual durante um período de
estudos nos Estados Unidos. Nas palavras do próprio Freyre, acerca das estratégias
teórico-metodológicas adotadas em Casa-Grande & Senzala:

Foi o estudo de antropologia sob a orientação do professor Boas que primeiro


me revelou o negro e o mulato no seu justo valor – separados dos traços de
raça os efeitos do ambiente ou da experiência cultural. Aprendi a considerar
fundamental a diferença entre raça e cultura; a discriminar entre os efeitos de
relações puramente genéticas e os de influências sociais, de herança cultural e de
meio. Neste critério de diferenciação fundamental entre raça e cultura assenta
todo o plano deste ensaio (FREYRE, 2003, p. 32).

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É segundo essa linha de pensamento que Gilberto Freyre procura, aos poucos, suplantar
a tese que afirmava a existência de uma superioridade natural dos europeus em relação aos
brasileiros devido a uma suposta superioridade da raça branca pura, de modo que uma raça
produzida a partir da mistura entre lusos, índios e negros, como era o caso do Brasil, seria sempre
inferior àquelas que a originaram. Separando raça e cultura, ou, em outros termos, o genético do
social, Gilberto Freyre vai compreender, através da paulatina adoção do relativismo cultural, a
formação do brasileiro como um “processo de equilíbrio de antagonismos” (FREYRE, 2003,
p. 116), no sentido de nele se verificar “o encontro, a intercomunicação e até a fusão harmoniosa
de tradições diversas, ou antes, antagônicas, de cultura [...]” (FREYRE, 2003, p. 115). Desta
forma, ao amortecer os conflitos e harmonizar os antagonismos presentes na formação do
brasileiro como “o tipo ideal do homem moderno para os trópicos, europeu com sangue negro
ou índio a avivar-lhe a energia” (FREYRE, 2003, p.110), Freyre não só encara a mestiçagem
como algo positivo como a eleva ao posto de maior símbolo da cultura brasileira.
A mestiçagem, segundo Gilberto Freyre, estaria presente em todas as expressões
culturais genuinamente brasileiras. Não haveria de ser diferente com o futebol praticado em
clubes dos anos 1930, em processo de massificação, popularização e já repleto de jogadores
negros e mulatos ao lado dos brancos, que antes eram maioria quase absoluta. Ocorre que, para
assumir o futebol como um demonstrativo empírico da mestiçagem, logo, da brasilidade,
Freyre necessitou de uma construção que fosse capaz de fazer convergir as representações do que
os jogadores faziam em campo com aquelas relacionadas ao que os brasileiros faziam fora dele.
Como tem sido proposto desde a introdução deste artigo, essa construção simbólica é justamente
o “estilo de jogo” brasileiro.
As argumentações de Gilberto Freyre no artigo Foot-Ball Mulato (1938) buscam explicar
as peculiaridades do “estilo de jogo” brasileiro “em termos culturais, tomando-as como
manifestações próprias daquela singularidade maior que distinguiria o povo brasileiro”
(FRANZINI, 2000, p.4). Ou seja, se a mestiçagem trazia traços culturais singulares à identidade
nacional, tais singularidades haveriam de se expressar também na maneira através da qual o
brasileiro jogava futebol. Daí Gilberto Freyre constatar que as notáveis diferenças entre a forma
de jogar da seleção brasileira que disputava a Copa do Mundo de 1938 e aquela apresentada pelas
vencidas equipes da Polônia e da Tchecoslováquia se deviam a “nossa formação social
democrática como nenhuma” (FREYRE, 1938, s/n). Para realçar o modo como o autor
enxergava a relação entre “formação social democrática” e “estilo de jogo”, vale citar os seguintes
comentários sobre as apresentações da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1938:
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Respondi ao repórter – que depois inventou ter conversado comigo em plena


praça pública, entre solavancos da multidão patriótica na própria tarde da
vitória dos brasileiros contra os tchecoslovacos – que uma das condições dos
nossos triunfos, este ano, me parecia a coragem, que afinal tivéramos completa,
de mandar à Europa um team fortemente afro-brasileiro. Brancos, alguns, é
certo; mas um grande número de pretalhões bem brasileiros e mulatos ainda
mais brasileiros (FREYRE, 1938, s/n).

No entanto, mais até do que os supracitados poloneses e tchecoslovacos, foram os


ingleses, difusores das metodologias dominantes nos primeiros anos de prática do futebol no
Brasil, ainda no século XIX, que serviram a Gilberto Freyre como alteridades relacionais no
movimento de construção da identidade nacional brasileira a partir de um “estilo de jogo”
próprio. Sim, porque os processos de produção de identidades precisam “construir ao mesmo
tempo o ‘nós’ e o ‘outro’, ou seja, para produzir a identidade é necessário produzir alteridades
relacionais e contrastivas” (GUEDES, 2014, p.163-164). Destarte, no mesmo movimento que
tencionava por em evidência o que considerava o “estilo de jogo” verdadeiramente brasileiro,
Freyre precisou “criar”, simultaneamente, o “estilo de jogo” inglês/europeu, e, nessa elaboração,
as categorias “apolíneo” e “dionisíaco” surgem como basilares:

No foot-ball, como na política, o mulatismo brasileiro se faz marcar por um


gosto de flexão, de surpresa, de floreio que lembra passos de dança e de
capoeiragem. Mas sobretudo de dança. Dança dionisíaca. Dança que permita o
improviso, a diversidade, a espontaneidade individual. Dança lírica. Enquanto o
foot-ball europeu é uma expressão apolínea – no sentido spengleriano –
de método científico e de esporte socialista em que a pessoa humana resulta
mecanizada e subordinada ao todo – o brasileiro é uma forma de dança, em que
a pessoa humana se destaca e brilha (FREYRE, 1938, s/n).

Sempre em tom contrastivo – ora tomando como referência o europeu, ora, mais
particularmente, o inglês –, Gilberto Freyre expõe ao longo do texto diversas características do
modo de jogar brasileiro procurando sustentar a conclusão de que o “estilo mulato,
afro-brasileiro, de foot-ball é uma forma de dança dionisíaca” (FREYRE, 1938, s/n). É assim
que, para o autor, “os europeus têm procurado eliminar quase todo o floreio artístico, quase toda
a variação individual, quase toda a espontaneidade pessoal para acentuar a beleza dos efeitos
geométricos e a pureza de técnica científica” (FREYRE, 1938, s/n), enquanto o estilo brasileiro –
“Inimigo do formalismo apolíneo e amigo das variações” (FREYRE, 1938, s/n) – caracteriza-se
da seguinte maneira: “Rebelde a excessos de ordenação interna e externa; a excessos de
uniformização, de standartização; a totalitarismos que façam desaparecer a variação individual ou
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espontaneidade pessoal” (FREYRE, 1938, s/n). Com o perdão da redundância, até porque o
próprio Gilberto Freyre muito se utiliza desta estratégia discursiva, é válido apresentar mais uma
argumentação repleta de representações contrastivas acerca dos “estilos de jogo” brasileiro e
europeu, dionisíaco e apolíneo:

Acaba de se definir de maneira inconfundível um estilo brasileiro de foot-ball;


e esse estilo é mais uma expressão do nosso mulatismo ágil em assimilar,
dominar, amolecer em dança, em curvas ou em músicas técnicas européias ou
norte-americanas mais angulosas para o nosso gosto: sejam elas de jogo ou de
arquitetura. Porque é um mulatismo, o nosso – psicologicamente, ser brasileiro
é ser mulato – inimigo do formalismo apolíneo – para usarmos com alguma
pedanteria a classificação de Spengler – e dionisíaco a seu jeito – o grande jeitão
mulato (FREYRE, 1938, s/n).

Como toda e qualquer criação de símbolos e identidades nacionais, as construções do


“estilo de jogo” brasileiro e do próprio brasileiro idealizadas por Gilberto Freyre em Foot-Ball
Mulato (1938) são produzidas mediante o acobertamento de diferenças culturais. Entretanto,
“esses processos simultâneos, ambos homogeneizantes, não ocorrem sem tensões e
contradições” (GUEDES, 2014, p.165). Surge daí a necessidade de se estar sempre atento “para o
facto de que a categoria futebol-arte não deve ser percebida como uma forma-representação
homogênea, consensual e que aplacaria no domínio esportivo nossas contradições sociais [...]”
(TOLEDO, 2004, p.164). Observando a construção do “estilo de jogo” brasileiro sob a ótica das
categorias “apolíneo” e “dionisíaco” tais como definidas por Gilberto Freyre, um caso típico de
emergência de contradições ocorre quando a produção de representações sobre um jogador
brasileiro, principalmente se classificado como negro ou mestiço, põe em evidência características
apolíneas. No vasto inventário de conteúdos simbólicos sobre o futebol, chama a atenção a
ambiguidade do processo de construção de representações sobre o estilo de jogar de Pelé,
personagem que não se “encaixa” em apenas uma dentre as categorias “apolíneo” e “dionisíaco”.
Seguindo a orientação de que pensar estilos de jogar futebol é caminhar pela estrada da
construção e do compartilhamento de representações (GUEDES, 2006, 2014), acredita-se que os
argumentos desenvolvidos por Serge Moscovici (1928-2014) na elaboração da teoria das
representações sociais oferecem valiosos direcionamentos na busca por entender como as
categorias “apolíneo” e “dionisíaco” são acionadas ao se produzir representações sobre Pelé.

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3. Serge Moscovici e a teoria das representações sociais

Uma alternativa inicial para se compreender as ideias-chave da teoria das representações


sociais é começar por analisá-la como um movimento de afastamento em relação a uma
perspectiva que interpreta os fenômenos psicossociais como centrados exclusivamente no
indivíduo. Para Moscovici, essa perspectiva se expressa com intensidade em três argumentos.
O primeiro é o de que “alguém atinge os verdadeiros processos do conhecimento quando esses
processos são pensados dentro do indivíduo, independentemente de sua cultura e,
concretamente, de qualquer cultura” (MOSCOVICI, 2009, p.170). O segundo argumento,
o de que “as pessoas se comportam de maneira correta e racional quando sozinhas, mas tornam-
se imorais e irracionais quando agem em grupo” (MOSCOVICI, 2009, p.170). Finalmente,
o autor rejeita a ideia de que os processos cognitivos associados aos fenômenos individuais,
por serem mais simples e elementares, seriam regidos por leis que servem de referência para os
processos associados a fenômenos sociais.
Pelo tom dos argumentos supracitados, é possível notar que o distanciamento tomado
por Moscovici daquilo que classifica como uma “psicologia individual” (MOSCOVICI, 2009,
p. 181) pode ser lido como uma simultânea aproximação a pressupostos que, sob a ótica da
relação indivíduo-sociedade, valorizam o segundo termo da expressão na interpretação dos
fenômenos psicossociais. Três são as proposições que vão ao encontro dessa valorização e são
destacadas pelo autor como “pano de fundo sobre o qual a teoria das representações sociais se
desenvolveu” (MOSCOVICI, 2009, p.176-177). A primeira proposição nega que o conhecimento
do mundo produzido pelas pessoas que vivem em sociedade possa ser criado pela experiência
individual, visto que estas pessoas “possuem um modo comum de vida que mostra como os seres
ou objetos devem ser classificados, como julgá-los de acordo com seu valor, que informação é
digna de crença e assim por diante” (MOSCOVICI, 2009, p.175). A segunda proposição afirma a
origem social das percepções individuais, dado que aquilo que é aprendido por uma pessoa em
sociedade nasce de um “conhecimento ligado ao tipo mais antigo, cujas raízes estão submersas no
modo de vida e nas práticas coletivas das quais todos participam e que necessitam ser renovadas a
cada instante” (MOSCOVICI, 2009, p.176). Por fim, a terceira proposição ressalta o impacto
exercido pelas formas coletivas de pensamento, que são cristalizadas em instituições sociais e cuja
influência não pode ser desprezada “no desempenho de nossas atividades comuns e das
atividades que esperamos de outros” (MOSCOVICI, 2009, p.176).

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Buscando compreender problemas relacionados a fenômenos psicossociais a partir


dessas proposições, Moscovici se apropria da noção de representações coletivas desenvolvida por
Émile Durkheim, medida que levará a teoria das representações sociais a ser “freqüentemente
classificada, com muita propriedade, como uma forma sociológica de psicologia social”
(FARR, 1995, p. 44). Neste sentido, não é exagero afirmar que o modo de Moscovici enxergar as
percepções individuais como produtos sociais floresce do contato com as ideias de Durkheim,
como percebe-se na maneira de: a) pensar a sociedade como mais do que uma simples reunião de
indivíduos com interesses mútuos; b) sugerir que atos experimentados pelos indivíduos na vida
social aparecem como “sem coerência se nós afirmamos que eles são deduzidos de raciocínio ou
expressões individuais” (MOSCOVICI, 2009, p.181); c) afirmar a racionalidade das concepções
coletivas, justamente por serem de origem coletiva, ou seja, uma negação da ideia de que “razão e
sociedade ou cultura são antitéticas” (MOSCOVICI, 2009, p.171); d) notar o impacto das formas
coletivas de pensamento nos modos de comportar, agir e sentir dos indivíduos; e) defender a
impossibilidade da “tentativa de compreender o conhecimento e as crenças complexas de uma
sociedade à base de leis elementares de conhecimento individual, que estão, em última análise,
fundamentadas em dados sensoriais ou experiência sensorial [...]” (MOSCOVICI, 2009, p. 175).
Em precisas palavras: “Existe uma clara continuidade entre o estudo das representações coletivas
de Durkheim e o estudo mais moderno, de Moscovici, sobre representações sociais”
(FARR, 1995, p. 32).
Ocorre que se um primeiro movimento tomado por Moscovici na criação da teoria das
representações sociais foi de aproximação à tese durkheimiana, o movimento seguinte é
justamente o de relativizar alguns fundamentos da noção de representação coletiva, como torna-
se explícito na polida justificativa dada pelo autor pela opção por adotar a expressão
“representações sociais” ao invés de simplesmente reproduzir “representações coletivas”: “Ao
falar de representações sociais em lugar de representações coletivas, quis romper com as associações
que o termo coletivo tinha herdado do passado e também com as interpretações sociológicas e
psicológicas que determinaram sua natureza no procedimento clássico” (MOSCOVICI, 2009,
p. 198).
É notório que embora o diálogo teórico com Durkheim tenha contribuído para
Moscovici perceber o quanto de social há no individual, isso não o levou a colocar uma barreira a
separar indivíduo e sociedade, muito pelo contrário: “Do mesmo modo que muitos psicólogos e
sociólogos, eu sinto repulsa diante do dualismo do mundo individual e do mundo social”
(MOSCOVICI, 1995, p.11). Aqui, entende-se tanto o desejo de Moscovici de se aproximar da
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Escola Sociológica Francesa no intuito de negar que “todos os comportamentos e todas as


percepções são compreendidos como resultantes de processos íntimos, às vezes de natureza
fisiológica” (MOSCOVICI, 1995, p.11), como sua opção por não reproduzir a noção de
representação coletiva exatamente como definida por Durkheim, já que fazê-lo seria, de certa
forma, “uma redução inversa, negando a especificidade do indivíduo e fazendo do consenso o
resultado de uma interação que faça desaparecer as distinções entre os indivíduos”
(MOSCOVICI, 1995, p.12).
Rejeitando tendências que separem fenômenos psíquicos de fenômenos sociais,
Moscovici busca um caminho que não negligencia a observação das articulações intersubjetivas e
dos conflitos que ocorrem na vida cotidiana, abrindo espaço tanto para a força que a sociedade
exerce sobre os indivíduos, quanto para a agência dos sujeitos nas transformações sociais.
Dito de forma sucinta, o “indivíduo tanto é um agente de mudança na sociedade como é um
produto dessa sociedade” (FARR, 1995, p.51). É neste sentido de ultrapassar as perspectivas que
enxergam a relação indivíduo-sociedade como uma antítese, não raro argumentando em prol da
dominância de um dos polos sobre o outro, que Moscovici propõe as representações sociais
como uma síntese capaz de assegurar a coexistência entre indivíduo e sociedade, sendo o estudo
destas representações uma forma de “elucidar os elos que unem a psicologia humana com as
questões sociais e culturais contemporâneas” (MOSCOVICI, 2009, p. 206).
O eixo central da teoria das representações sociais é a comunicação, sendo a função
destas representações a de tornar familiar o que é estranho. Para Moscovici, sempre que ocorre
uma ruptura nas experiências da vida cotidiana pela emergência de algo sem explicação,
produz-se um curto-circuito na comunicação intergrupal, o que acaba por motivar a construção
de representações sociais como forma de estabelecer uma ponte entre o estranho e o familiar.
Seguindo tal raciocínio, tem-se que as representações sociais nem são produzidas por indivíduos
isolados com base em percepções sensoriais, nem são internalizadas pelos indivíduos de forma
inerte devido a um absoluto poder de coerção exercido pela sociedade, mas são construídas
“através de influências recíprocas, através de negociações implícitas no curso das conversações,
onde as pessoas se orientam para modelos simbólicos, imagens e valores compartilhados
específicos” (MOSCOVICI, 2009, p.208). Daí, portanto, a definição de representações sociais
como representações compartilhadas:

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Muitas vezes me perguntaram o que quero dizer com partilhar uma


representação ou por representações compartilhadas. O que lhes dá esse caráter
não é o fato de elas serem autônomas, ou que elas sejam comuns, mas sim o
fato de seus elementos terem sido construídos através da comunicação e
estarem relacionados pela comunicação (MOSCOVICI, 2009, p. 209).

Além da função comunicativa e da origem compartilhada, as representações sociais são


definidas como possuindo uma natureza fluida. Para Moscovici, uma representação social
consiste em um “modelo recorrente e compreensivo de imagens, crenças e comportamentos
simbólicos” (MOSCOVICI, 2009, p.209) que permite que as pessoas classifiquem, descrevam e
expliquem elementos da vida social. Moscovici rechaça qualquer ideia que enxergue o conteúdo
desses modelos como reflexos imutáveis de uma realidade definida a priori. Segundo o autor,
os conteúdos das representações sociais variam não apenas de uma sociedade a outra, mas dentro
de um mesmo grupo, sendo que “os contextos da comunicação em que essas representações são
elaboradas, são responsáveis por essas diferenças” (MOSCOVICI, 2009, p.213). Isto posto,
tem-se que as representações sociais definem-se como construções contextuais que envolvem
tanto a agência dos indivíduos que a partilham como a cultura a que eles pertencem. Nos termos
de Moscovici:
[...] as categorias e sentidos através dos quais nós “escolhemos” conferir uma
característica às pessoas, ou propriedades aos objetos, se modificam. Como
exemplos, nós “escolhemos” descrever um alimento pelo seu gosto ou pelo seu
valor proteico, de acordo com a cultura à qual pertencemos ou pelo uso que
nós queremos fazer dele. Torna-se impossível exigir que todas essas qualidades
sejam reduzidas a uma única qualidade “verdadeira”. Isso implicaria que exista
uma realidade dada, totalmente acabada, para esse alimento, que é imposta a
nós independentemente da representação que nós compartilhamos
(MOSCOVICI, 2009, p. 212).

Ressaltando as dificuldades existentes na síntese de um fenômeno tão complexo quanto


o das representações sociais, Celso Pereira de Sá (1993, p.32) e Angela Arruda (2002, p. 138)
destacam haver um certo consenso no campo de estudos sobre representações sociais em torno
da definição elaborada por Denise Jodelet, para quem representações sociais são “uma forma de
conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para a
construção de uma realidade comum a um conjunto social” (JODELET, 1989 apud SÁ, 1993,
p. 32). Neste caminho, e possuindo em mente os pressupostos de que a construção de
representações é um processo complexo, dinâmico e contextual, a próxima seção concentra-se

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em analisar o acionamento das categorias “apolíneo” e “dionisíaco” na construção de


representações sobre Pelé em textos escritos na área da Antropologia dos Esportes.

4. Dionísio e Apolo se encontram em Pelé

Seria demasiado imprudente iniciar uma análise sobre textos que lançam mão das
categorias “apolíneo” e “dionisíaco” sem realizar a ressalva de que uma mesma categoria pode
apresentar diferentes significados. Para aprofundar um pouco mais esse cuidado teórico, traz-se
aqui as reflexões realizadas por Alfred Smith no artigo The Dionysian Innovation (1964), estudo que
realiza uma ampla revisão bibliográfica da noção “dionisíaco” desde que, segundo o autor, o
termo foi introduzido na antropologia por Ruth Benedict, em 1928.
Tendo organizado uma espécie de inventário de definições da noção “dionisíaco”,
Smith argumenta que os antropólogos não promovem uma mera reprodução do que foi
elaborado por Ruth Benedict, muito pelo contrário: “The historical inventory reveals that the
Dionysian concept has, and always has had, many different meanings”3 (SMITH, 1964, p. 252).
Inclusive, prossegue o autor, não são raros os casos nos quais surgem definições contraditórias da
noção “dionisíaco”: “Herskovits' extravert and Keesing's introvert, Hoebel's sensate and what we
may call Benedict's exosensate, are only four of the seemingly contradictory meanings that
anthropologists have given the term”4 (SMITH, 1964, p. 252). Após ressaltar que nenhuma das
definições propostas deve ser pensada como certa ou errada, Smith justifica o polimorfismo da
categoria “dionisíaco” tanto por esta aglutinar variadas características, fazendo com que
significados diferentes surjam dependendo da ênfase dada por cada autor, quanto pelos diferentes
resultados que podem surgir da combinação entre a noção de “dionisíaco” e outras, também
polimorfas.
Destarte, ao mesmo tempo em que os próximos parágrafos se focam em entender o
acionamento das categorias “apolíneo” e “dionisíaco” na construção de representações sobre
Pelé, realiza-se um esforço simultâneo para justificar a procedência do presente estudo a partir da
demonstração de que os conteúdos simbólicos analisados se aproximam das ideias de
Gilberto Freyre não apenas por tomarem “dionisíaco” e “apolíneo” como categorias antagônicas

3 “O inventário histórico revela que o conceito Dionisíaco tem, e sempre teve, muitos significados diferentes”
(Tradução nossa).
4 “O ‘extrovertido’ de Herskovits e o ‘introvertido’ de Keesing, o ‘sensato’ de Hoebel e o que nós poderíamos

chamar de o ‘exosensato’ de Benedict são apenas quatro dos aparentemente contraditórios significados que
antropólogos têm dado ao termo” (Tradução nossa).
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basilares na construção do “estilo de jogo” brasileiro, mas, também, por significá-las de forma
bastante convergente à apresentada em Foot-Ball Mulato (1938).
Iniciando por materiais que colocam em relevo características de Pelé como dionisíaco,
o antropólogo Roberto DaMatta escreveu, em 1998, um texto para o Jornal da Tarde intitulado
Dionísio contra Apolo (2006), texto em que apresenta suas expectativas para a partida entre a seleção
brasileira e a seleção dinamarquesa pela Copa do Mundo de 1998. Para DaMatta, embora a
globalização tenha promovido uma padronização nas formas de se jogar futebol, as equipes do
Brasil e da Dinamarca exibiriam diferentes técnicas corporais no sentido maussiano, ou seja,
“técnicas reveladoras dos modos pelas quais as sociedades se imprimem em nossos corpos,
revelando-se no modo de andar, gesticular, sentar, correr, brigar e, claro está, jogar bola”
(DAMATTA, 2006, p.83-84). Descrevendo essas diferentes formas de uso do corpo,
DaMatta afirma que os dinamarqueses “correm e tocam a bola separando as pernas do resto do
corpo, como se a parte de baixo pouco tivesse a ver com a parte de cima, daí certamente a antiga
designação de ‘perna de pau’ para esses jogadores” (DAMATTA, 2006, p.84), enquanto os
brasileiros “jogam bola usando todo o corpo. Como se o emprego das pernas envolvesse
integralmente toda a pessoa, sobretudo os quadris, no nosso famoso, bonito e malandro
‘jogo de cintura’” (DAMATTA, 2006, p.84).
Baseia-se muito nessa descrição de técnicas corporais o argumento de DaMatta de que
os dinamarqueses, jogadores coletivos, racionais e rotineiros, seriam os representantes do
futebol-força – daí o sugestivo apelido de “seleção ‘Dina-Máquina’” (DAMATTA, 2006, p. 83) –
e os brasileiros, artistas habilidosos e individualistas, os representantes do futebol-arte, “capazes
da superjogada individual – típica do modelo imortalizado por Heleno de Freitas, Ademir,
Zizinho, Garrincha e Pelé –, quando o megacraque dribla toda a defesa adversária, engana o
goleiro, desmoralizando-o, cumprimenta calmamente a torcida e faz um gol de letra”
(DAMATTA, 2006, p.84). Sintetizando toda sua concatenação, DaMatta conclui:

Trata-se do confronto de um futebol que Gilberto Freyre — invocando o deus


grego da ambigüidade e do excesso — chamou de dionisíaco, o nosso; em luta
com um estilo de jogar, no qual o carisma que leva às jogadas individuais dá
lugar ao entrosamento automático e rotineiro da equipe, num jeito de jogo
sistemático, previsível, racional e apolíneo: o deles (DAMATTA, 2006, p. 83).

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Exaltando a individualidade frente à coletividade, o improviso frente à rotina, os floreios


frente à racionalidade, DaMatta reproduz quase na íntegra o “estilo de jogo” brasileiro construído
por Gilberto Freyre em Foot-Ball Mulato (1938), um estilo praticado por “Artistas do uso do
corpo” (DAMATTA, 2006, p.84). Assim, a partir do momento em que retoma Freyre para definir
a forma brasileira de jogar como dionisíaca, e aponta Pelé como um dos encarregados de
imortalizar este estilo, acredita-se não estar em solo movediço ao se afirmar que DaMatta
categoriza Pelé como dionisíaco. Argumento semelhante pode ser elaborado diante das
conclusões alcançadas por Filipe Mostaro, Ronaldo Helal e Fausto Amaro no artigo Futebol, nação
e representações: a importância do estilo “futebol-arte” na construção da identidade nacional (2015), cujo título
já sinaliza os objetivos gerais do trabalho em questão.
Na investigação do processo de construção da crença, muito divulgada por veículos
midiáticos, de que apenas os brasileiros seriam capazes de praticar o futebol-arte, os autores
enxergam a Copa do Mundo de 1938 como “emblemática nesta construção” (MOSTARO et al.,
2015, p. 281) e o artigo Foot-Ball Mulato (1938) “como o ‘embrião’ do futebol-arte, principalmente
ao apresentar as características que vão defini-lo como tipicamente nacional” (MOSTARO et al.,
2015, p. 279). Essas características se encontrariam inicialmente condensadas em Leônidas da
Silva, jogador brasileiro no Mundial de 1938, nome que “surge como exemplo do futebol-arte,
malabarista e dionisíaco, e será o fio condutor de tais representações” (MOSTARO et al., 2015,
p. 281). Com o passar do tempo, prosseguem os autores, novos jogadores surgiram no Brasil
com características dionisíacas semelhantes às de Leônidas da Silva, o que acabou por reforçar o
discurso de que somente os brasileiros seriam capazes de praticar o futebol-arte. Dentre esses
jogadores, Pelé e Garricha são destacados como fortes contribuidores tanto para a consolidação
de uma visão positiva da mestiçagem como da narrativa de que os brasileiros seriam detentores
de um singular “estilo de jogo” freyrianamente definido por “improviso, intensidade,
ofensividade, dribles, floreios com a bola e jogadas inesperadas” (MOSTARO et al., 2015,
p. 281). Assim, concluem os autores:

Após a Copa do Mundo de 1958, [...] observamos que os principais jogadores


da seleção, Garrincha e Pelé, ajudaram a moldar este estilo, atuando como
exemplos evidentes desta miscigenação como algo positivo sob a ótica
esportiva, o que contribuiu para que se consolidasse de maneira intensa tal
ideologia sobre o que representaria o futebol-arte e, consequentemente,
o que seria nossa identidade (MOSTARO et al., 2015, p. 281).

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Muito acrescenta a observação de que a categorização de Pelé como dionisíaco porque


personifica o “estilo de jogo” brasileiro é um argumento levantado pelo próprio Gilberto Freyre,
para quem o futebol, originalmente inglês, ao ser apropriado pelo brasileiro, “tornou-se um jogo
dionisíaco e não apolíneo, como era a sua forma original ou ortodoxa europeia” (FREYRE, 1967
apud CAPRARO, 2011, p. 143). Refletindo sobre o caráter dionisíaco do estilo brasileiro, Freyre
defende que quando o futebol é jogado “especialmente por brasileiros de origem negra africana,
como Pelé e outros rapazes de cor, é mais uma dança onde o dançarino se sente livre de variar, só
ou em conjuntos de dois ou três jogadores, os passos convencionais, e não já o jogo sistemático,
uniforme dos nórdicos” (FREYRE, 1967 apud CAPRARO, 2011, p. 143).
Nos conteúdos simbólicos analisados, Pelé é categorizado como dionisíaco sempre em
conjunto com outros futebolistas brasileiros, também representados como dionisíacos.
Ocorre que se Garrincha e Leônidas da Silva apresentam uma compatibilidade quase integral com
aquilo que está condensado na categoria “dionisíaco” tal como construída por Gilberto Freyre,
Pelé tem sido frequentemente representado como detentor de características que ultrapassam e às
vezes até se opõem a esta categoria, como aponta a definição realizada por Maurício Murad de
Pelé como dono de um futebol “muito bem jogado, com arte, habilidade, forte preparação
atlética e alta objetividade. Um jogador completo. Um gênio, com a bola nos pés”
(MURAD, 2012, s/n). Mais poeticamente, Roberto Drummond concorda que arte e força se
encontram em Pelé: “Quem dizia que Pelé não era futebol-força? Pelé era força e arte. Não
aquela arte acadêmica. Pelé era a arte revolucionária, explosiva” (ENTREVISTA, 1986, p. 10).
Destaca-se que as representações de Pelé como jogador completo datam de suas primeiras
vivências como futebolista (MASSARANI, 2016), como se vê em uma reportagem da revista
A Gazeta Esportiva Ilustrada, ainda no início da década de 1960, na qual é possível encontrar
comentaristas afirmando o seguinte: Pelé “é produto de um coquetel reunindo um pouco do
virtuosismo de todos os grandes atacantes que já conheci” (REIS; RICARDO, 1961, p. 8).
Tamanho é o acervo de características futebolísticas associadas a Pelé que não raramente
é possível encontrar materiais que evidenciam representações sobre sua pessoa como “apolíneo”.
Este é o caso do artigo Garrincha x Pelé: futebol, cinema, literatura e a construção da identidade nacional
(2006), no qual Victor Andrade de Melo analisa a construção de representações sobre Pelé e
Garrincha através dos debates produzidos por veículos midiáticos que foram suscitados pelos
lançamentos dos filmes Garrincha, alegria do povo e Rei Pelé, ambos em 1963. De acordo com Melo,
esses debates, ao representarem Garrincha como “o carioca, o drible menos eficaz, a alegoria que
retarda a chegada ao objetivo (o gol), uma certa perda de tempo” (MELO, 2006, p. 288),
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e Pelé como “o paulista, a eficiência, o exemplo de atleta, a objetividade do gol, do drible que leva
à meta” (MELO, 2006, p.288), oferecem um caminho para se pensar a construção da identidade
nacional:
O futebol, importante elemento de construção da identidade nacional, inclusive
através de sua veiculação cinematográfica, mais uma vez reproduzia o velho
debate: o Brasil deve ser a eficiência de Pelé ou a malandragem de Garrincha?
Deve ser o processo industrial da produção cinematográfica da Vera Cruz ou a
peculiaridade e originalidade do Cinema Novo? Deve ser a objetividade do
atleta Pelé (o porte de um rei) ou a transgressão do moleque Garrincha
(o mestiço que se supera)? É o trabalhador de São Paulo ou o “flaneur” do
Rio de Janeiro? (MELO, 2006, p. 288).

Nas representações estudadas por Melo, Pelé, tido como eficiente, e Garrincha, como
malandro, se aproximam, respectivamente, das categorias “apolíneo” e “dionisíaco” tais como
definidas por Gilberto Freyre. Contudo, mesmo que essas categorias não sejam acionadas
diretamente na construção dos dois futebolistas, isso ocorre quando as representações sobre Pelé
e Garrincha são pensadas como reproduzindo a questão sobre se a cultura brasileira seria melhor
caracterizada pela “eficiência do paulistano ou o jogo de cintura do carioca” (MELO, 2006,
p. 281) e que esta “guerra simbólica travada entre Rio de Janeiro e São Paulo poderia ser vista
como um duelo entre Apolo e Dionísio [...]” (ANTUNES, 2004 apud MELO, 2006, p. 289).
Se a categorização de Pelé como apolíneo encontra-se um tanto quanto implícita na
análise de Melo, o mesmo não pode se dizer do artigo Pelé e Maradona: núcleos da retórica jornalística
(2009), quando Ronaldo Helal e Hugo Lovisolo expõem um detalhado processo de construção
de Pelé como apolíneo. Nessa pesquisa, os autores propõem a hipótese de que Brasil e Argentina
produzem heróis nacionais exaltando valores contrários às representações dominantes sobre as
identidades nacionais. Segundo os autores, estudos comparativos entre os países sugerem uma
interpretação de que o Brasil, devido à influência africana, é culturalmente “macunaímico, mulato,
antropofágico e dançarino dionisíaco” (HELAL; LOVISOLO, 2009, p. 6), enquanto a Argentina,
mais europeizada, apresenta-se “mais letrada e de razão instrumental mais desenvolvida, talvez
mais padronizada e esquematizada” (HELAL; LOVISOLO, 2009, p. 6), sendo, portanto,
culturalmente apolínea. Porém, quando o foco se direciona para os processos de construção dos
heróis nacionais, as argumentações tomam um caminho oposto, no sentido de que “a Argentina
se caracteriza pela geração e manutenção tanto de maior número de heróis quanto de heróis que
parecem ser mais dionisíacos que os brasileiros” (HELAL; LOVISOLO, 2009, p. 6).

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Estudando materiais produzidos pela mídia brasileira e argentina, Helal e Lovisolo


analisam as diferenças existentes na construção de Pelé e Maradona como heróis nacionais e
desenvolvem os seguintes argumentos. Primeiro, se Maradona possui uma trajetória de vida
repleta de ascensões e quedas, à semelhança dos heróis dos contos populares, Pelé apresenta uma
trajetória de vida que parece “feita a partir de uma monótona equação linear”
(HELAL; LOVISOLO, 2009, p. 3). Em segundo lugar, Maradona estaria incluído em um grupo
de heróis argentinos – como Carlos Gardel e Che Guevara – que “não podem ser postos como
guiados pela razão, [...] e, não raro, possuem um perfil mais dionisíaco que apolíneo”
(HELAL; LOVISOLO, 2009, p. 6), mas Pelé, assim como Ayrton Senna, “esportista claramente
apolíneo” (HELAL; LOVISOLO, 2009, p. 4), se destaca “pela enorme habilidade e competência
estratégica” (HELAL; LOVISOLO, 2009, p. 6). Por último, os autores ressaltam que Maradona
“está perto e que incide no cotidiano com suas diabruras, malandragens e ditos que se tornam
êxito editorial” (HELAL; LOVISOLO, 2009, p. 6), enquanto que acerca de Pelé, “sua
proximidade emotiva com o povo é difícil de ser registrada” (HELAL; LOVISOLO, 2009, p. 6).
À medida que constroem Pelé como apolíneo e Maradona como dionisíaco, os autores
produzem uma série de representações sobre estes personagens, sendo que algumas, como as que
dialogam com teses sobre a trajetória do herói clássico, são independentes das reflexões realizadas
por Gilberto Freyre em Foot-Ball Mulato (1938). Porém, não há riscos em afirmar que a
convergência dos autores com as ideias freyrianas emerge nitidamente na conclusão de que
“Maradona aparece como um herói dionisíaco, paixão e emoção; Pelé como um rei apolíneo,
razão e técnica” (HELAL; LOVISOLO, 2009, p. 3).
Há no mínimo seis décadas conteúdos simbólicos produzem representações sobre a
forma de Pelé jogar futebol. Ao longo desse período, em se tratando de “estilo de jogo”,
três personagens adquiriram status de alteridades privilegiadas5 na construção de representações
sobre Pelé: Garrincha, Maradona e, genericamente falando, o “jogador europeu”. Com base nas
análises aqui realizadas e na ideia de que a construção de representações é um processo
contextual, argumenta-se que a categorização de Pelé como dionisíaco e apolíneo encontra-se
fortemente associada com o personagem que, durante o processo, ocupa a posição de alteridade
privilegiada. Quando a construção de representações sobre Pelé se dá em oposição ao “jogador
europeu”, Pelé surge como símbolo do “futebol-arte” e tem exaltadas características que o
definem como dionisíaco, como são o drible, a individualidade e a espontaneidade.

5 A expressão “alteridade privilegiada” foi cunhada por Guedes (2006) em suas elaborações acerca das
construções do “estilo de jogo” brasileiro e argentino.
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Já quando Maradona e Garrincha aparecem como alteridades privilegiadas na construção de


representações sobre Pelé, este é celebrado pela eficiência, racionalidade, objetividade e técnica,
sendo, portanto, definido como apolíneo. Seguindo a argumentação e retomando a perspectiva
de Moscovici em sua teoria das representações sociais, conclui-se que as categorias que são
escolhidas para conferir características a Pelé se modificam, sendo possível descrevê-lo tanto com
base em características tidas como dionisíacas, como características tidas como apolíneas.
Daí a impossibilidade de reduzir todas as características de Pelé a apenas uma dessas categorias e
tomá-las como definitivas de um “verdadeiro” Pelé.

Permite-se levar esse raciocínio adiante a partir dos postulados teóricos apresentados
por Louis Dumont (1911-1998) em Homo Hierarchicus – O sistema das castas e suas implicações (2008),
publicado pela primeira vez em 1966. Isso porque da mesma maneira que categorizar Pelé como
apolíneo não significa negar que seu “estilo de jogo” tenha características dionisíacas, categorizá-
lo como dionisíaco não é o mesmo que rejeitar suas características apolíneas. Para utilizar um
vocabulário dumontiano, não há uma relação de complementaridade exclusiva entre as
características futebolísticas de Pelé, na qual a exaltação de certas características resulta em um
processo que promove o apagamento absoluto das características divergentes. Para escapar desse
reducionismo, Dumont sugere uma teoria da hierarquia cuja pedra basilar é a negação das
relações hierárquicas como mera ordenação ou taxonomia:

Acredito que a hierarquia não seja essencialmente uma cadeia de ordens


superpostas, ou mesmo de seres de dignidade decrescente, nem uma árvore
taxonômica, mas uma relação a qual se pode chamar sucintamente de
englobamento do contrário (DUMONT, 2008, p. 370).

O estudo da produção de representações sobre Pelé em conformidade com o princípio


de englobamento do contrário permite a seguinte elaboração. Em um primeiro nível, todas as
características futebolísticas possíveis associam-se a um ser único e indiferenciado: Pelé
representado como jogador completo e que apresenta um acervo tão amplo de qualidades
futebolísticas que algumas delas se opõem. Já em um segundo nível, as características dionisíacas
e as características apolíneas de Pelé encontram-se em contradição. Portanto, como afirma
Dumont, “no nível superior existe unidade; no nível inferior, existe distinção [...]” (DUMONT,
2008, p. 372-373). Essa é a base de uma relação hierárquica:

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Essa relação hierárquica é muito geralmente aquela que existe entre um todo
(ou um conjunto) e um elemento desse todo (ou desse conjunto): o elemento
faz parte do conjunto, é-lhe nesse sentido consubstancial ou idêntico, e ao
mesmo tempo dele se distingue ou se opõe a ele. É isso o que designo com a
expressão englobamento do contrário (DUMONT, 2008, p. 370).

Pois bem, se Dumont coloca que “todas as vezes que uma noção assume importância,
ela adquire a faculdade de englobar seu contrário” (DUMONT, 2008, p. 374), argumenta-se que
nos contextos em que o “jogador europeu” se coloca como alteridade privilegiada, as
características dionisíacas de Pelé assumem importância e adquirem a faculdade de englobar
aquelas que lhes são contrárias. Nesses cenários, Pelé é categorizado como dionisíaco. Por outro
lado, nos contextos em que Garrincha e Maradona surgem como alteridades privilegiadas, as
características apolíneas de Pelé assumem importância, englobando, consequentemente, as
características dionisíacas. Aqui, nessas situações, Pelé é categorizado como apolíneo. Portanto,
nem categorizar Pelé como apolíneo significa apagar as representações que o definem como
dionisíaco, nem categorizá-lo como dionisíaco significa negar as representações que o descrevem
como apolíneo.

5. Considerações finais

Nos argumentos conclusivos que apresentam em Pelé e Maradona: núcleos da retórica


jornalística (2009), Helal e Lovisolo deixam em aberto a seguinte questão: “a oposição descritiva
entre o apolíneo e o dionisíaco não se prestará a interpretações fracas e conflitantes por serem
seus indicadores muito amplos e também bastante indefinidos?” (HELAL; LOVISOLO, 2009,
p. 7). Sem o intuito – dir-se-ia a audácia – de tentar oferecer uma resposta definitiva para essa
pertinente questão, acredita-se que o estudo do processo de construção de representações sobre
Pelé aqui realizado pode contribuir para o entendimento de como as categorias “apolíneo” e
“dionisíaco” são acionadas na descrição de diferentes formas de jogar futebol.
As reflexões realizadas por Gilberto Freyre sobre a singularidade do “estilo de jogo”
brasileiro – um estilo dionisíaco, em oposição ao estilo apolíneo – ainda se mostram presentes em
diversos conteúdos simbólicos. Um olhar panorâmico sobre esses materiais recentes demonstra
que Pelé, recorrentemente exaltado como um dos maiores símbolos do futebol brasileiro, surge
como um problema na medida em que algumas de suas características futebolísticas possibilitam
a ativação de um processo de construção de representações que o categoriza como apolíneo.

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A princípio, esse cenário ambíguo no qual Pelé surge categorizado como dionisíaco e como
apolíneo, pode fertilizar a ideia de que estas noções produzem interpretações frágeis e
incoerentes. Entretanto, toda a ambiguidade da construção de Pelé torna-se compreensível a
partir do momento em que o acionamento das categorias “apolíneo” e “dionisíaco” é pensado
sob a ótica dos pressupostos teóricos que afirmam que as representações são construídas através
de processos contextuais, dinâmicos e dependentes tanto de fatores culturais como da agência
dos indivíduos envolvidos na comunicação.
Entender a construção de representações sobre Pelé passa por reconhecer quem ocupa
a posição de alteridade privilegiada no contexto do processo. Em certos contextos, por exemplo
quando em oposição ao genérico “jogador europeu”, características de Pelé como
espontaneidade, individualidade e plasticidade assumem importância, tornam-se englobantes,
e aciona-se a categoria “dionisíaco” para representar sua pessoa. Em outros contextos, os mais
evidentes são os que Garrincha e Maradona assumem a posição de alteridade privilegiada,
a racionalidade, a técnica e a objetividade de Pelé tornam-se englobantes e, desta feita, aciona-se a
categoria “apolíneo” para representar sua pessoa. Conclui-se, assim, que não existe um Pelé
“verdadeiro”, definido a priori como absolutamente apolíneo ou absolutamente dionisíaco, com a
construção de representações sobre sua pessoa sendo independente do contexto. Mais ainda:
é somente através do entendimento dos contextos que a suposta fraqueza da interpretação de que
Pelé é apolíneo e é dionisíaco se apaga.

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