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A. INFORMAÇÃO
Todo mestre comunica certas verdades que seus discípulos têm que
conhecer. Extrai de seu arquivo uma série de dados que transmite
pedagogicamente. Trata-se de elementos teóricos, a ferramenta
fundamental que o discípulo deve aprender a utilizar. Nesse sentido,
Jesus comunicou alguns conhecimentos. Por exemplo:
_ a indissolubilidade do matrimônio;
B. FORMAÇÃO
C. REVELAÇÃO
Por isso São Paulo, que tinha experiência de revelações especiais, escreveu
à comunidade de Éfeso:
Jesus reservou a seus discípulos certas coisas que não eram transmitidas a
todos. Reis e profetas desejariam ter ouvido o que esses privilegiados
experimentaram na intimidade. Todavia, não lhes foram ditas muitas outras
coisas. Era necessário que o Revelador revelasse aos discípulos os segredos
de Deus. Ou seja, até o próprio Jesus deixou pendente uma tarefa que não
podia ser contida em suas palavras e seus ensinamentos. Por isso, repetiu-
lhes uma e outra vez:
É de vosso interesse que eu parta, pois, se não for, o paráclito não virá a
vós. [...] Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos guiará na verdade
plena (Jo 16,7-13).
Eles não terão mais que instruir seu próximo ou seu irmão[...] Porque todos
me conhecerão, dos menores aos maiores (Jr 31,34).
Por outro lado, ao guiar outros na vida do Espírito, devemos ter em conta o
seguinte: dizer a eles que não iremos lhes ensinar tudo, porque existe um
caudal inédito que somente o Espírito revela aos que se abrem a seu sopro
inspirador. Teremos que calar para que o Espírito fale, ir para que ele
venha. Não basta que ensinemos com a verdade. Nem sequer é suficiente o
testemunho. É necessário que os demais vivam a sua própria experiência.
D. TRANSFORMAÇÃO
CONCLUSÃO
Catequese Permanente:
Formação Espiritual: A metodologia de Jesus I
Jesus tinha uma grande empresa, e precisava preparar seu pessoal com os
critérios e valores adequados. Para converter cada um de seus seguidores
em um autêntico discípulo, levou a cabo um programa de formação que
delineava à perfeição as diferentes etapas pelas quais teriam de passar seus
colaboradores, a fim de continuar e expandir sua obra neste mundo.
_ Abençoou-o.
_ Partiu-o.
_ Repartiu-o.
Como o barro na mão do oleiro, assim sereis vós na minha mão, ó casa
de Israel! (Jr 18,6b).
O relato do Gênesis nos diz que Deus tomou barro em suas mãos e
começou a modelar o homem. O homem novo é produto apenas do artesão
divino, que vai delineando esta figura, devemos entender bem o que é o
barro.
O ser humano, feito de barro, é então formado pela água de suas qualidades
e pela terra de suas carências. Na água se mostram sua fecundidade e suas
enormes possibilidades. Na terra aparecem suas carências e necessidades.
Não somos apenas qualidades e virtudes, mas tampouco somos apenas
defeitos e limitações; os dois elementos constituem um binômio perfeito,
que não se pode separar sem dilacerar a essência do ser humano.
Ninguém melhor do que o filho da filha de Faraó, por sua cultura e sua
preparação, para tirar do Egito o povo oprimido. Mas teve primeiro que
renunciar a essas qualidades, fugindo para o deserto de Madiã, deixando a
casa de Faraó com todos os seus privilégios; e assim depois, e somente
depois, chegou a ser um instrumento útil na libertação do povo.
Por outro lado, nossas debilidades e carências não são razão suficientes
para que Deus detenha seu plano. Nossa fraqueza nunca será maior que
seus poder. Deus não pode depender de nós, e muito menos de nossos
defeitos. Moisés, ao mesmo tempo, é exemplo disso:
O Senhor que gravar sua imagem em nós com o selo de seu Santo Espírito
(2Cor 3,18), para que cheguemos a ser cartas de Cristo (2Cor 3,3). Todavia,
para imprimir a Palavra do Senhor, há que apagar tudo o que se escreveu
antes.
Saulo, fariseu zeloso que depusera sua confiança na santa Lei do Sinai,
estava certo de que ao cumpri-la fazia a vontade de Deus, tendo sido
instruído aos pés do grande mestre. Ao deparar-se, porém, com o Cristo
ressuscitado, caiu rendido. Depôs as seguranças em que havia depositado
sua confiança e, em lugar de decidir, fazer ou ensinar como era seu
costume, fez apenas uma pergunta: “Senhor, o que queres que eu faça?”
(At 22,10).
Temos sido todos programadores de nossa vida e até da vida dos outros.
Devemos abandonar essa tarefa, que não nos cabe, para nos abrirmos ás
surpresa do Espírito.
B. ABENÇOOU-O
“Abençoou-o” pode se referir tanto a abençoar o pão (texto de Marcos e
Mateus) como a abençoar a Deus (texto de Lucas e Paulo). Iremos
considerar aqui as duas possibilidades.
Nessa etapa, a Palavra de Deus vai nos configurando para que assimilemos
os critérios de Cristo Jesus e sigamos nos identificando com seus próprios
valores.
Assim como a água encharca a terra e a fecunda, a Palavra de Deus irá nos
penetrando até a raiz de nossas decisões.
Se nessa etapa o Senhor se manifesta como Mestre que nos ensina, nossa
principal atitude há de ser a do discípulo que ouve para aprender. Em certa
ocasião, um escriba perguntou a Jesus qual era o maior dos mandamentos.
O Mestre respondeu: Ouve, ó Israel...(Mc 12,28-2). O primeiro e maior dos
mandamentos é ouvir a voz do Pastor, porque ao ouvi-lo Ele nos expressa
seu amor, nos apaixona e nos capacita a responder a Ele de todo o nosso
coração.
Quem nasce surdo normalmente não pode falar, já que ao não escutar as
palavras torna-se difícil pronunciá-las. O mesmo ocorre na vida espiritual e
pastoral: se não sabemos ouvir a Deus, não podemos falar em seu nome.
Por outro lado, a oração que se concentra em falar a Deus, sem lhe dar a
oportunidade de se comunicar, vai atrofiando o crescimento espiritual.
Os piores são aqueles que pensam que por ter certa autoridade ou título
gozam da infalibilidade e que suas diretrizes são automaticamente vontade
divina, como se o senhor dependesse dos servos. Em lugar de perguntar ao
Senhor o que Ele quer, dizem o que pensam e cuidam logo de que os
demais acreditem naquilo que eles mesmos não sabem, que esse projeto e,
sobretudo, essa proibição são vontade celestial.
Há três coisas que afogam a Palavra de Deus, não permitindo que ela se
enraíze e dê frutos:
C. PARTIU-O
Tendo tomado e transformado o pão com sua palavra de benção, Jesus o
partiu. O terceiro aspecto da formação de um discípulo consiste em ser
partido, na etapa de purificação por meio da qual o Senhor nos consagra
totalmente a Ele. Sem esta condição, não seriamos capazes de ser oferendas
do culto espiritual.
Purificai-vos do velho fermento para serdes nova massa, já que sois sem
fermento (pães ázimos. Pois nossa Páscoa, Cristo, foi imolado (1Cor 5,7).
Assim como o ouro se depura, assim também nós temos de ser purificados
e santificados para poder servir como ministros da nova aliança; cada um
de acordo com sua própria vocação. Esta etapa consiste,
fundamentalmente, em nos despojarmos de tudo o que sobra em nós e nos
prejudica.
Deus nos destinou a ser uma obra de arte em suas mãos. Mas antes tem que
tirar de nós tudo o que nos atrapalha. Nosso principal problema é que
trazemos ainda demasiadas coisas que nos impedem de ser livres para
servir ao Senhor.
a) A pureza de intenção
Por isso Jesus atacava tanto o formalismo dos fariseus, que aparentavam
proceder sempre bem e cumprir esmeradamente toda a Lei, mas de
quem as motivações não eram puras:
_ Buscavam se fazer notar por suas esmolas, para que o povo falasse
bem deles.
_ Copos limpos por fora, mas sujos por dentro (Mt 7,27).
Em todos esses casos se apresenta uma aparência que não corresponde à
realidade. Disfarça-se o mal com máscara de bondade, com o sacrifício
do essencial, para aparentar aquilo que não se é.
O Senhor nos aceita com nossa impureza, mas jamais pactuará com
nossa hipocrisia. Foi exatamente isso o que nunca pôde tolerar dos
fariseus, que posavam de justos perante os homens. Deus nos ama com
nossos erros, mas vomita os corações falsos. Nem ás prostitutas ou aos
coletores de impostos falou tão duramente como aos hipócritas fariseus,
que se consideravam justos perante todos. Não obstante, não se trata de
julgar tais pessoas daqueles tempos, mas de descobrir o fariseu que há
dentro de cada um de nós sempre que atuamos com falsidade de
coração.
Certo dia um casal bom entrego a Pedro uma vultuosa oferenda, fruto da
venda de seu terreno. Mas o apóstolo, em vez de agradecer-lhes com
uma placa comemorativa, encolerizou-se.
E somos precisamente nós os prejudicados por ela, razão por que Jesus
nos quer purificar a qualquer preço
Catequese Permanente:
Formação Espiritual: A metodologia de Jesus III
Mas o que é esse Reino? O mistério do Reino foi expresso com tamanha
variedade de imagens que não é possível reduzi-lo a um modelo. É um
mistério que cada um terá de ir descobrindo dentro de si mesmo, de
modo a que se perfile o arco-íris das características expressas nas
parábolas evangélicas. Todavia, o essencial é que esteja acima de tudo o
mais.
Quem encontrou o tesouro não somente vende com alegria todos os seus
outros valores. O texto grego do Evangelho dá a entender que é “por
causa da alegria” por sua descoberta que se vai vender suas posses.
Tudo passa a segundo lugar: a fama, as recompensas humanas, a riqueza
e até os êxitos pastorais. Tudo está submetido à supremacia absoluta do
Reino.
Esse é “teu reino”, que está acima de tudo. Para que o seja de fato, deve-
se responder a duas perguntas:
Somos livres para aceitar ou recusar que o Senhor nos lave os pés, mas não
podemos fazer nada para que nos lave as mãos e a cabeça. Isto depende
somente e unicamente d’Ele e de seu plano para nós.
Deus nos purifica basicamente por duas razões: porque disso necessitamos
ou pela missão que nos reservou.
_ Porque necessitamos
O senhor nos purifica pela simples razão de que necessitamos. Ninguém
pode afirmar que não precisa ser limpo. Nossos pés têm se empoeirado nos
caminhos da vida e necessitamos ser lavados com água ou purificados pelo
fogo abrasador. Sobretudo quando se teve uma vida repleta de
sensualidade, materialismo ou mentira, é preciso mudar a fundo para
conseguir cumprir os critérios do Reino, que se opõem diariamente aos do
mundo. A conduta moral pode ser transformada em um minuto, mas a
mudança de mentalidade leva muito mais tempo e carece de uma
metodologia especial.
Sua conduta mudou em um instante, mas precisou de toda a sua vida para
ser transformada completamente. Jesus a foi polindo pouco a pouco, até
que a converteu na primeira evangelizadora que anunciou sua ressurreição.
Se se lavam e até mesmo se desinfetam os alimentos, assim temos que ser
purificados por dentro e por fora, para não contaminar os demais, já que
somos pão que vai ser comido por eles.
Catequese Permanente:
Formação Espiritual: A metodologia de Jesus IV
_ Pela missão que o Senhor nos confere
Por certo todos precisamos da purificação, mas esta será tanto mais intensa
quanto maior seja a missão à qual o Senhor nos chame. Quanto mais
importante for o plano do Senhor sobre nossa vida, tanto mais profunda
será a purificação que Ele realizará em nós.
Quanto mais valiosa for, com mais esmero será lapidada uma pedra
preciosa. Esta é a razão última da purificação que o Senhor quer fazer de
nós. Todos os grandes profetas passaram pelo forno da purificação:
_ Isaías teve que ser purificado com uma brasa acesa (Is 6,1-11).
Para torna-se o maior evangelizador da Igreja, teve que ser purificado por
muitos anos e de diversas maneiras. É que a vocação especial a fora
chamado exigia dele uma transformação mais profunda.
d) Meios de purificação
Vejamos agora algumas das formas mais frequentes pelas quais Deus nos
purifica.
_ A perseguição do mundo
Se fosseis desse mundo, o mundo amaria o que é seu; mas, porque não sois
do mundo e minha escolha vos separou do mundo, o mundo, por isso, vos
odeia (Jo 15,19).
Baseado nessa experiência, São Paulo afirma que nossos inimigos nos
abençoam, já que nos oferecem o fogo necessário para a purificação (Rm
11,28).
Jesus não foi condenado nem pelos injustos nem pelos malvados de seu
tempo, mas sim pelas autoridades religiosas. Os pastores designados por
Deus para orientar seu povo no caminho da salvação foram os que se
opuseram ao desígnio divino e crucificaram o Senhor da vida.
Na vida dos profetas e dos santos vemos como se repete esse fenômeno:
não são compreendidos pelos que se encontram no topo da pirâmide
religiosa. Os pastores e responsáveis por representar Deus os obrigam a
guardar silencio, impedindo-os de realizar seu ministério, tachando - os de
inimigos da ordem estabelecida. Por que amiúde a instituição cuida de
abafar a voz profética?
A Francisco de Assis não lhe reconheceu nem se lhe aceitou a regra de vida
que ele havia escolhido para seus frades: o Evangelho. Obrigaram-no a
complicar o simples.
Não obstante, isto não é senão a superfície. Para os que amam a Deus,
todas as coisas concorrem para o seu bem, a firma a Palavra de Deus (Rm
8,28). Se padecemos apenas do sintoma do fenômeno, jamais
descobriremos o desígnio divino.
Catequese Permanente:
Formação Espiritual: A metodologia de Jesus V
_ O fracasso
O fracasso nos permite fazer uma parada no caminho e verificar a trilha que
escolhemos. Quase todas as obras importantes do mundo brotaram das
cinzas de um fracasso. A Nova Jerusalém se constrói sempre com as ruínas
da que foi antes destruída.
Quando Jesus enviou seus discípulos, não disse “Vão e convertam a todos”,
mas sim “Ide e anunciai a Boa-nova a toda a criação!”. Isto significa
realizar uma missão independente do êxito pastoral. No plano de Deus,
alguns são chamados a semear, outros a regar e outros mais a recolher o
fruto.
_ Os problemas
Esse critério não vale para a obra de Deus. Baste para isso considerar que
se Cristo Jesus houvesse pensando dessa maneira jamais se teria realizado o
mistério de nossa redenção. Mais: poderíamos afirmar que é
antievangélico, pois o Senhor abençoa as pessoas purificando-as de tudo o
que impeça ser instrumentos de sua salvação.
Jesus nunca nos enganou prometendo-nos que tudo seria fácil e sincero. Ao
contrário, falou-nos com bastante clareza, afirmando que iriamos como
ovelhas entre lobos. Nunca nos disse que as coisas nos seriam facilitadas
mas que teríamos um poder especial para vencer as provas e superar as
dificuldades.
O Senhor não lhe suprimiu a adversidade, mas lhe concedeu uma graça
especial para conviver com o problema, uma sabedoria para brigar com ele
e uma força que o apóstolo não tinha antes. Paulo saiu ganhando; havia
nele um poder de que antes carecia. Paulo era mais forte com seu aguilhão.
Muitas vezes o Senhor não nos evita problemas porque quer nos dar a
vitória na batalha. O Senhor não nos evita a luta, mas nos dá sim uma
armadura para sairmos vitoriosos. A verdadeira fé se mostra nas
adversidades. Bastam três exemplos para prová-lo.
_ Os Macabeus, que afirmam: “Se Deus nos salva, acreditamos Nele, mas
se não nos salva, nem por isto diminuíra a nossa fé, antes, acreditaremos
mais”.
_ A calúnia
Moisés tratou de fazê-lo quando perguntou a Deus: “Para que tiraste teu
povo do Egito, onde tinha pão e água? Foi por não haver tumbas em
número suficiente no país dos faraós que nos fizestes vir a este ingrato
deserto para sermos pasto das aves de rapina? Mais: Que irão dizer os
outros povos de Ti, ó Deus? Teu Nome será pisoteado por todas as nações,
por causa de nossa desgraça. Surgiras perante eles como um Deus incapaz
de salvar os seus. Quem, então, quererá seguir-te e crerá em Ti? Salva-nos,
Senhor, pela honra do teu nome”.
Moisés cuidava de chantagear a Deus, fazendo-o ver como seu Santo Nome
seria profanado entre as nações: os demais fariam chacota de Deus de
Israel, e nenhum homem acreditaria em sua bondade. Mas nessas
circunstancias o plano de Deus não era mostrar seu poder, mas sim
purificar os que haviam vivido sob o complexo da escravidão, forjando um
povo novo, capaz de conquistar a terra prometida. Deus sacrificou sua
glória visando a seguir com a obra de purificação dos seus. Este aspecto é
tremendo: Deus nos ama tanto que corre o risco de perder seu prestígio
diante de todo o mundo. É tão transcendente fazer-nos criaturas novas que
não lhe importa ser mal interpretado. E, se Deus está disposto a perder sua
reputação pessoal, estamos nós preparados para ver nossa imagem
escarnecida e nossa estátua posta no chão?
Por certo devemos ter claro que Deus não quer nosso sofrimento, mas tão
somente nossa purificação, ainda que seta seja sempre dolorosa.
Catequese Permanente:
Formação Espiritual: A metodologia de Jesus VI
_ O pecado
Paulo afirma: Para os que amam a Deus, todas as coisas concorrem para
seu bem; “até mesmo o pecado”, contato que o deploremos, acrescenta o
padre Pierre Teilhard de Chardin. O pecado pode ser reciclado e
aproveitado para purificar-nos de nossas falsas posturas. Não é que o
pecado seja bom em si, mas que nosso Deus tem poder para convertê-lo em
feliz culpa em favor dos seus.
Toda a vida de Davi esteve iluminada por uma boa estrela. Nasceu na tribo
de Judá, herdeira da promessa, em não pequena cidade: Belém. Jamais
conheceu o fracasso ou a derrota. Todas as suas empresas tinham êxito e
saía vitorioso em cada batalha. Como se isso não bastasse, possuía dotes
excepcionais, simpatia natural e beleza física.
Não obstante, aquele que havia vencido o gigante Golias foi derrotado pela
beleza de Betsabá, mulher de Urias, a quem Davi mandou a uma guerra
suicida, para que morresse e o rei pudesse assim unir-se “honestamente”
com a viúva. Com gesto assim tão “generoso” a coroa real parecia um
seguro para todas as viúvas dos heróis mortos no campo de batalha.
Julgou que se seu pecado permanecesse oculto perante todos poderia passar
despercebido perante o Deus oculto no santuário. Mas, em quem dia
inesperado, foi surpreendido pelo profeta Natã, que em nome de Deus o
reprendeu por sua falta. Davi, não se desculpou e nem negou seu erro; ao
contrário, reconheceu sua queda.
Ó Deus, cria em mim um coração que seja puro, renova um espírito firme
no meu peito.
Deus prometeu que todo trabalhador merece um salário (Lc 10,7). Quem
serve o altar deve viver do altar (1Cor 9,13). Tomando esta palavra em seu
sentido unilateral, há quem justifique suas riquezas como prêmio a seu
serviço e a sua entrega ao Senhor.
Esses critérios são mais antievangélicos que os escritos de Karl Marx, pois
esse “suposto embaixador” se esqueceu de que representava aquele que
disse que o filho do homem não tem onde reclinar a cabeça (Lc 9.58) e que
nunca buscou nada para si, mas entregou tudo por nós e para nós. A carta
de apresentação de todo embaixador de Jesus é viver conforme o estilo de
vida de seu Mestre, a quem representa.
Às vezes o Senhor nos priva do devido salário para purificar nossa entrega
a seu serviço. Até nos manda sem nada e nos proíbe de receber o que for,
para assim nos manter livres, servindo somente a Ele (Mt 10,9-10; Lc 9, 3-
4). Se eles se ocupassem das coisas do Reino, o Senhor se encarrega de
todas as suas necessidade. Jesus queria ensinar-lhes a separar
completamente o ministério da economia. Não somente não depender do
dinheiro, mas jamais misturá-lo.
A única vez que Jesus parece perder o controle é diante dos comerciantes
do Templo de Jerusalém, que converteram a casa de oração em um covil de
ladrões.
O profeta Eliseu não quis receber nada de Naamã, o sírio curado da lepra.
Mas quando seu servo Giezi foi buscar os talentos de prata contagiou-se
com a lepra (2Rs 5).
Paulo jamais cobiçou ouro de ninguém, nem recebeu oferenda alguma, para
não ser mal interpretado. Renunciou a direitos que lhe eram devidos.
O pior foi quando aqueles piedosos judeus, que jamais tocavam sangue
algum por medo de tornar-se impuros, ouviram que havia de beber o
sangue do Filho do homem para poder ter a vida eterna. Ninguém suportou
tal condição, e os assentos foram todos ficando vazios. Jesus não pode
sequer terminar seu discurso, pois já não restava ninguém na sinagoga.
Imediatamente depois do maior de seus êxitos, experimentou o pior de seus
fracassos.
Somente seus doze incondicionais haviam permanecido ao lado do Mestre.
Com a cabeça enterrada no peito, compartilhavam a vergonha do fracasso.
Depois de um tenso silencio, Jesus os encarou com ternura e lhes disse: “Se
querem, podem ir também. Não estão obrigados a me seguir...”.
Catequese Permanente:
Formação Espiritual: A metodologia de Jesus VII
Trata-se de assinar um cheque em branco, para que faça de nós como lhe
aprouver. Isso implica dar um “sim” a qualquer coisa, como Maria, que
respondeu: Faça-se em mim segundo a tua Palavra (Lc 1,38). À
semelhança de quando entramos numa sala de cirurgia e nos abandonamos
por completo ás mãos do cirurgião para que corte, extirpe ou transplante o
que seja necessário, assim devemos nos entregar nas mão do Médico
Divino para que faça de nós o que ele quiser. Confiamos Nele e aceitamos
seu plano sem condições.
Ele deseja fazer uma obra tão maravilhosa que está disposto a transplantar
nosso coração:
Não é o Senhor que nos despoja ou nos violenta, mas nós que nisso
consentimos. De que serviria que o Senhor nos quitasse algo se nosso
coração seguisse apegado a essa coisa perdida? De que valeria que o
Senhor nos libertasse da escravidão do Egito se seguíssemos recordando
com nostalgia os alhos e as cebolas do país dos faraós?
D. REPARTIU-O
Uma vez que o pão foi tomado nas mão, abençoado e partido, se reparte.
Não fica nas mãos de Jesus, mas se dá aos demais.
Não podemos permanecer toda a vida no cume do Tabor, nem ficar nossas
tendas para estabelecer-nos definitivamente junto a Jesus. O Evangelho
esclarece que Jesus chamou a seus discípulos para que estivessem com ele
e logo para enviá-los a evangelizar. Aquele que esteve ao lado de Jesus não
permanece inativo, mas vai em busca de seus irmãos.
Quando André encontrou Jesus no deserto, seguiu-o e passou com ele toda
a tarde e a noite. Ao amanhecer, porém, levantou-se e foi buscar seu irmão,
Simão, para leva-lo a Jesus.
O sinal de que nos garante que encontramos Jesus é que vamos buscar
outros para que também o conheçam e o sigam. Quem o descobriu partilha
sua descoberta com outros. Não pode deixar de falar do que viu e ouviu.
Como o Senhor quer multiplicar-nos, por isso Ele nos reparte, quer que
atinjamos muitos. Cabe a nós levar os cinco pães e dois peixes que temos, o
Senhor se encarregará de multiplica-los. Ele faz o milagre, mas sempre
com nossa colaboração. Nossa fecundidade não depende de nossas
qualidades, pois é Deus que dá o crescimento. O que se pede a nós é que
enchamos nossos barris com a água que temos. O milagre da
transformação, é Ele que o realiza, mas partindo do que nós lhe
apresentamos.
Catequese Permanente:
Formação Espiritual: A metodologia de Jesus VII
Nosso Deus é Um, declara uma e mil vezes a Bíblia. Não há outro Deus
fora d’Ele. Por esta razão é que não admite nenhum ídolo que ouse tomar o
seu lugar. Nosso Deus, por ser único, não aceita compartilhar nosso
coração com nada nem com ninguém. Por esta razão, é absolutamente
necessário desprendermo-nos de tudo aquilo que concorro com sua
supremacia.
No desprendimento não conta o que damos, mas sim a entrega total.
Certa vez, Jesus estava em frente ao lugar das esmolas, onde os ricos, com
luxo ostentatório, depositavam vultosas oferenda. De modo humilde e
silencioso, aproximou-se uma pobre viúva, que depositou tão somente duas
moedas.
É por isso que ao longo da Bíblia Deus sempre pede algum tipo de
renúncia:
_ Abraão tem que deixar sua família e partir para longe dos seus.
Nessa etapa não se trata somente de deixar pecados ou vícios, mas de não
depender de nenhum dom de Deus. Chegou-se à fronteira da gloriosa
liberdade dos filhos de Deus: somente Deus basta.
Não lhe pediu que renunciasse a nada mau, senão que entregasse o filho da
promessa, o dom de Deus, o testamento da fidelidade divina.
A todo aquele que persevera na vida do Espírito Deus pede um dia o filho
da promessa. Não porque seja mau, antes para que já não dependa nem dos
dons Deus, mas apenas do Deus dos dons.
Nesta etapa, a comunicação com Deus não se faz através de nenhum meio:
chega-se a uma etapa de comunhão intima profunda. Já não há
comunicação, mas comunhão. Não se depende de nenhuma graça,
consolação ou recompensa, mas a relação de fé com Ele é o mais
importante.
Catequese Permanente:
Formação Espiritual: A metodologia de Jesus VIII
O Espírito Santo não finda seu trabalho em nós antes que reflitamos a
imagem de Cristo Jesus.
Não obstante, não podemos pensar que cada um de nós deva ser outro
Cristo, formando assim muitos cristão por toda parte. Esta seria uma visão
muito individualista e, portanto, antievagélica.
Deus quer que todos juntos formemos o corpo de seu Filho, sendo
membros uns dos outros, mas unidos por uma só fé. Com diversidade de
carismas, mas animados por um só e único Espírito.
O que Paulo menos permitia nas comunidades cristãs era a divisão, já que
era um atentado direto contra a essência da vida cristã. O exemplo mais
claro nos é dado em sua primeira carta aos Coríntios (1Cor 1,10-16;3,3).
Nossa atitude: formar Corpo de Cristo, Igreja
Cada um de nós necessita dos demais, os quais, por sua vez, precisam de
cada um. Por menores ou insignificantes que pareçamos, somos
necessários. Por isso, uma característica indiscutível do discípulo de Jesus é
que é construtor da unidade e inimigo da divisão.
A comunidade de líderes
Nesse relato tão simples nos é dada a pauta dos elementos essenciais de
uma comunidade:
_ Há quatro pessoas que sabem ser mais importantes para mim que meu
trabalho, meu descanso ou meus planos?
O bom pastor se entrega favor de todos, não tem preferências, a não ser
pelo mais necessitado ou por aquele de quem ninguém pode esperar
nada em troca. Os pastores interessados servem aos que depois possam
gratificar seus serviços ou lhes retribuir de algum modo.
Catequese Permanente:
Formação Espiritual: A metodologia de Jesus IX
O verdadeiro apóstolo é trigo que morre para dar furto. Não firma sua
felicidade em mandar ou organizar, mas em desaparecer no tempo
oportuno. Sabe que um dia vai morrer, por isso prefere ir se entregando
como alimento de forma a produzir vida.
São Paulo afirma ter, como os demais apóstolos, o direito de levar uma
mulher crente em suas viagens missionárias. Todavia, prefere renunciar
a esse direito para não ser mal interpretado por quem quer que seja.
Deixar-se comer significa não ser servido, mas estar a serviço dos
demais, como nosso Mestre, que veio dar sua vida por nós.
Essa palavra deve ser por nós entendida primeiramente em voz passiva:
devemos fazer pelo Mestre. Consentir em que Ele nos leve por esse
processo que nos transforma em discípulos à sua imagem e semelhança.
Vale dizer, o discípulo nas mãos de Jesus deve chegar a ser Eucaristia,
hóstia viva que se oferece ao Pai pela salvação de todos os homens. O
discípulo é pão que se transforma, mas o mesmo tempo é altar onde o
próprio Jesus se consagra a Deus e aos homens.
Em segundo lugar, o Senhor quer nos dizer: repitam também vocês esse
caminho. Não se trata, pois, simplesmente de treinar nossa gente em
técnicas ou dinâmicas de grupo ou capacitá-la em linguagem da
comunicação; sua vida tem que ser Eucaristia: de outro modo não podem
chegar a ser discípulos.
Jesus nos enviou a ensinar tudo o que nos havia mandado. Pois bem, o
sumo de seu programa de vida o encontramos sintetizado na Eucaristia. O
que devemos, pois, ensinar aos outros é a ser Eucaristia em quem se repita
o mesmo processo pelo qual Jesus passou. A sabedoria de um formador de
discípulos está em conhecer esse caminho e percorrê-lo junto àqueles aos
quais está lapidando como discípulos.
Todavia, atrás de Pedro, príncipe da Igreja, está seu irmão André, que foi
quem o chamou e levou até Jesus. Sem esse gesto fraternal, o pedestal da
Igreja estaria vazio.
Como resposta a esta confiança que o Senhor depositou em nós não temos
senão que fazer uma opção preferencial em nosso trabalho apostólico:
formar discípulos. Isso, implica renunciar a outros planos que são bons e
maravilhosos. Como não podemos realizar tudo, a cada discípulo cabe
reproduzir exatamente o que fez seu Mestre: formar outros que continuem
por sua vez a obra de instauração do Reino de Deus neste mundo.
Trata-se de tomar uma decisão que vai mudar nossa vida e a vida de
muitos. Esta decisão vai se cristalizar em um projeto de vida em que a
única coisa a importar será ser facilitador para que o Espírito Santo vá
reproduzindo a imagem de Jesus em todos aqueles que proclamam seu
nome.
Conclusão
Catequese Permanente:
Formação Espiritual: Nossa Missão I
Jesus tinha por missão salvar todos os homens de todos os tempos e até os
confins da terra. Não obstante, limitado pelas circunstâncias, pregou apenas
em um estreito pedaço de terra, e sua voz somente soou por três anos no
concerto da história. Como romper esta barreira do tempo e ultrapassar as
fronteiras do espaço? Formou seus discípulos e capacitou uma dezena de
mestres para, desse modo, multiplicar-se, participando-lhes exatamente a
mesma missão que a ele se havia confiado. São quatro os aspectos
complementares que configuram a missão dos enviados por Jesus.
a. Prolonga sua missão
Nossa missão, pois, não pode ser outra que a de estender no tempo e no
espaço a obra salvifica de Cristo Jesus, para com ele realizar a mesma obra
que o Pai lhe encomendou.
Esses são os sinais que acompanharão os que tiverem crido: em meu nome
expulsarão os demônios, falarão em novas línguas, pegarão em serpentes,
e se beberem algum veneno mortífero nada sofrerão; imporão as mãos
sobre os enfermos e estes ficarão curados (Mc 16,17-18).
Se nossa pregação está animada pelo Espírito de Deus, não é lógico que
não existam carismas. Assim como o fogo sempre queima, o Espírito
sempre produz esses dons na comunidade tendo em vista a proclamação.
Um dia objetaram ao padre Emiliano Tardif que havia bispos que não
apreciavam os carismas, e até cardeais que acreditam ser os carismas
assuntos do passado. O padre, com sinceridade suprema e lógica
irrefutável, argumentou: “Mas isso não depende de gostarem ou não dos
carismas. Se lerem o Evangelho perceberão que Jesus, que é o mesmo
ontem, hoje e sempre, valia-se deles constantemente.
O senhor não está de acordo com que escondamos os talentos que nos
confiou, mas sim que sejamos como lâmpada acesas que iluminam todos os
que estão na casa. Temos de ser como cidades edificadas no cume da
montanha, luz do mundo e sal da terra. O Senhor não nos pede pouco.
Espera que façamos coisas maiores que as que Ele fez (Jo 14,12).
Os frutos não precisam ser presumidos: mostram-se por si sós. São Paulo
disse:
O fruto, por outro lado, não é algo forçado, mas tão somente o que há de
mais natural em uma árvore. O que há de extraordinário em que uma
macieira produza maças? Uma laranjeira não tem que fazer o mínimo
esforço para não produzir limões azedos, pois oferece naturalmente frutos
doces e apetitosos.
A videira e a figueira
Por, outro lado, Jesus fala com muita clareza da árvore que não dá fruto. Se
o ramo que dar fruto é podado para que dê mais, e se a videira que não
frutifica é arrancada para ser queimada, deve-se destituir o servo que não
capitaliza os talentos, tirar dele o que possui e jogar fora.
Catequese Permanente:
Formação Espiritual: Nossa Missão I
Isso explica porque Jesus afirmou: O que produz fruto, Ele o podará (Jo
15,2). Isso é, será purificado para que não se engane pensando que o
importante é ter fruto. O essencial é ter bom fruto, ou seja, fruto de
qualidade. Aplicando-se isso a nós, temos que podar tudo aquilo que nos
impeça de dar frutos de qualidade.
O sinal pelo qual se identifica uma árvore é pelo fruto que produz. Uma
árvore boa não produz frutos maus, nem uma árvore má produz frutos
bons. Os galhos e a folhagem são secundários. As flores são enganosas. O
que importa são os frutos.
Nisto reconhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos
outros, como eu vos amei (Jo 13,35).
Jesus não disse que nos identificariam pela associação piedosa a que
pertencemos, por uma cruz no peito, pelo rosário que rezamos, pelas
doações que fazemos ou pela teologia que conhecemos, senão pelos frutos
que damos.
Esta é nossa primeira responsabilidade. Ele não nos pediu que chegássemos
a ser magníficos organizadores, comerciantes ou chefes de Estado, nem
mesmo pregadores internacionais, mas simplesmente formadores de
discípulos. Nunca nos disse que o êxito de nosso trabalho pastoral residia
em nossos títulos e graus acadêmicos, mas sim que o povo estivesse
disposto a carregar a sua cruz até a morte.
Com clareza de que esta é nossa primeira vocação, não seria mal fazermos
um exame de consciência com as seguintes perguntas: Quantos discípulos
fiz? Quanto tempo faz que formei o último? Estou produzindo discípulos
que por sua vez formem discípulos, ou sou apenas o animador que
entusiasma a multidão no domingo de Ramos?
Nossa meta não se reduz a ser discípulos, mas sim a produzi-los, o que
implica, necessariamente, que cheguemos antes a ser mestres. Somos
mestres não pela doutrina que transmitimos, mas por lapidar novos
discípulos.
O único método para assegurar que a cadeia não se rompa e continue a obra
que Deus nos encomendou é formar formadores. O único caminho para nos
multiplicar é formar outros que, por sua vez, capacitem muitos como
discípulos.
A eficiência não se mede pelo que fazemos, mas pelo que conseguimos que
outros façam. Não basta que sejamos discípulos. Não basta que
produzamos discípulos. É necessário capacitar mestres. Não basta somar
nossas forças, há que multiplicar. Como? Formando mestres que ensinem
outros a chegar a ser mestres por sua vez.
Essa primavera de tanta esperança viu-se detida pelo fato de que já não
chegavam mais missionários do continente. Por outro lado, Taiwan não
preenchia as expectativas de nenhum missionário do Ocidente.
Nossa passagem por este mundo é transitória. Se não deixarmos algo que
permaneça, quando morrermos se acabará tudo o que fizemos.
Para que a corrente não se rompa, urge formar mestres que sejam como nós
ou melhores, que sejam como Jesus. O verdadeiro mestre não é o que tem
muitos alunos, nem mesmo o que produz discípulos, mas o que produz
mestres. Esta é a meta que deve ser alcançada. Por isso, o autor da epístola
aos Hebreus se queixa de seus destinatários, porque não chegaram todavia
a ser mestres que ensinem a outros e têm que voltar a ser instruídos (Hb
5,11-14).
Nossa meta, pois, não se limita a ter um rebanho muito grande, mas uma
escola apostólica que forme discípulos que, por sua vez, cheguem a ser
mestres.
_ Acompanhantes na fé.
Nesse itinerário, o que importa não é caminhar, mas marchar juntos, pois
de outro modo corre-se o perigo de fatigar-se sem conseguir avançar.
Conclusão
_ Fazer
Significa que não nascem por geração espontânea, mas sim por um
processo que exige um plano e um método.
_Discípulos
Que sejam como seu Mestre, para que façam o mesmo que ele.