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2º CICLO DE ESTUDO

MESTRADO EM LINGUÍSITCA

Marcadores de reformulação
parafrásticos no género artigo científico
Ana Sofia Freixo Pinto

M
2018
Ana Sofia Freixo Pinto

Marcadores de reformulação parafrásticos no género artigo


científico

Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em Linguística, orientada pela Professora


Doutora Maria de Fátima Henriques da Silva

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Setembro de 2018
Marcadores de reformulação parafrásticos no género artigo
científico

Ana Sofia Freixo Pinto

Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em Linguística, orientada pela Professora


Doutora Maria de Fátima Henriques da Silva

Membros do Júri

Professora Doutora Maria de Fátima Henriques da Silva


Faculdade de Letras - Universidade do Porto

Professora Doutora Ana Maria Brito


Faculdade de Letras – Universidade do Porto

Professora Doutora Matilde Gonçalves


Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa

Classificação obtida: 18 valores


«Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser.
Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não
em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer
terra larga, mas onde estará o palácio se o não fizerem ali?»
(Fernando Pessoa)

Dedico este trabalho aos meus pais, Alberto e Conceição, por


cada sacrifício que passaram para que eu pudesse ser aquilo que
quero ser!
Sumário

Declaração de honra ............................................................................................................ 7


Agradecimentos ................................................................................................................... 8
Resumo ................................................................................................................................ 9
Abstract ............................................................................................................................. 10
Índice de tabelas, esquemas e gráficos................................................................................ 11
Introdução ......................................................................................................................... 13
Capítulo 1 – O género artigo científico ............................................................................... 15
1.1. O género textual como prática social .................................................................................. 15
1.2. História e evolução do género artigo científico .................................................................. 16
1.3. Características do género artigo científico .......................................................................... 19
1.3.1. O plano de texto do artigo científico ........................................................................... 20
1.3.2. O tipo de discurso do artigo científico ......................................................................... 25
1.3.3. A textualização no artigo científico ............................................................................. 27
Capítulo 2. – A reformulação ............................................................................................. 30
2.1. A reformulação ................................................................................................................... 30
2.1.1. Reformulação parafrástica ........................................................................................... 33
2.1.2. Reformulação não parafrástica .................................................................................... 34
2.2. Mecanismos de reformulação ............................................................................................. 35
2.2.1. Marcadores de reformulação ....................................................................................... 35
2.3. Movimentos de reformulação ............................................................................................. 38
2.4. Os marcadores e os processos de reformulação .................................................................. 39
2.4.1. Marcadores de reformulação explicativos ................................................................... 40
2.4.2. Marcadores de reformulação retificativos ................................................................... 44
2.4.3. Marcadores de reformulação de distanciamento ......................................................... 48
2.5. Marcadores de reformulação no Português ......................................................................... 55
Capítulo 3 - O estudo ......................................................................................................... 59
3.1. Descrição do corpus ............................................................................................................ 59
3.2. Metodologia de análise ....................................................................................................... 60
3.3. Análise dos dados ............................................................................................................... 62
3.3.1. Descrição do plano de texto......................................................................................... 62

5
3.3.2. Contributo dos marcadores de reformulação para a textualização do artigo científico72
3.3.2.1. Contexto sintático em que surgem os marcadores de reformulação .................... 72
3.3.2.1.1. Ou seja .......................................................................................................... 75
3.3.2.1.2 Quer dizer ...................................................................................................... 76
3.3.2.1.3. Isto é.............................................................................................................. 78
3.3.2.1.4. Por outras palavras ...................................................................................... 79
3.3.2.1.5. Ou melhor ..................................................................................................... 81
3.3.2.1.6. Aliás .............................................................................................................. 83
3.3.3. Valores semântico-discursivos de explicação e retificação..................................... 85
3.3.3.1. Atribuição de referência/identificação ............................................................. 86
3.3.3.2. Especificação ................................................................................................... 87
3.3.3.3. Explicação ........................................................................................................ 88
3.3.3.4. Tradução .......................................................................................................... 88
3.3.3.5. Definição .......................................................................................................... 88
3.3.3.6. Denominação ................................................................................................... 89
3.3.3.7. Correção ........................................................................................................... 89
3.3.3.8. Precisão ............................................................................................................ 90
3.3.3.9. Alternativa ....................................................................................................... 91
3.3.3.10. Equivalência total........................................................................................... 91
3.3.4. Os valores semântico-discursivos no corpus ........................................................... 91
3.3.5. Distribuição dos marcadores de reformulação parafrástica no plano de texto do artigo
científico ...................................................................................................................................... 96
3.4. Discussão dos resultados..................................................................................................... 98
3.4.1. Artigo científico........................................................................................................... 98
3.4.2. Marcadores de reformulação no artigo científico ...................................................... 100
Considerações finais......................................................................................................... 104
Referências bibliográficas ................................................................................................ 106
Anexo 1 ............................................................................................................................ 112

6
Declaração de honra

Declaro que a presente dissertação é de minha autoria e não foi utilizada previamente
noutro curso ou unidade curricular, desta ou de outra instituição. As referências a outros
autores (afirmações, ideias, pensamentos) respeitam escrupulosamente as regras da
atribuição, e encontram-se devidamente indicadas no texto e nas referências
bibliográficas, de acordo com as normas de referenciação. Tenho consciência de que a
prática de plágio e auto-plágio constitui um ilícito académico.

Porto e Faculdade de Letras, 30 de setembro

Ana Sofia Freixo Pinto

7
Agradecimentos
Agradeço, antes e acima de tudo, a Deus.
Agradeço à Professora Doutora Maria de Fátima Henriques da Silva por ter aceitado
orientar-me, por todo o apoio, boa disposição, sugestões, correções e pelo entusiasmo com
que trabalhou comigo este tema.
Agradeço a todos os professores da Licenciatura e do Mestrado em Linguística pelo
conhecimento transmitido e pelo acompanhamento que sempre disponibilizaram.
Agradeço à Dra. Françoise Bacquelaine pela ajuda que me deu com o uso do
Corpógrafo e pela disponibilidade.
Agradeço aos meus pais por nunca me terem ensinado a desistir. Agradeço ao meu pai
por todas as vezes que se ofereceu para me ajudar e agradeço à minha mãe toda a
compreensão e paciência nos dias mais difíceis. A vós, agradeço eternamente a minha vida.
À minha irmã Débora, agradeço por ser um exemplo de persistência e coragem, e por
todo o apoio e confiança que me deu.
Agradeço ao André por ter estado sempre ao meu lado, por ter acreditado em mim
mais do que eu própria, por nunca me deixar baixar os braços e pela enorme paciência que
teve.
Agradeço a toda a minha família, em especial à minha avó Emília que nunca deixou
que eu me esquecesse que o mais importante é ter sempre fé.
Ao meu avô Quim, ao avô Manel, à avó Rosária, à Carolina e à Margarida, agradeço
o facto de estarem sempre comigo.
A todos os meus amigos, agradeço o ânimo, o incentivo e a compreensão de algumas
ausências.
Às minhas colegas de mestrado, agradeço os momentos tão divertidos que
partilhamos, dentro e fora da sala de aula e, acima de tudo, agradeço a amizade.
Às Vozes Brancas agradeço por serem o meu escape nestes dias tão exigentes.
A todos os que contribuíram para a realização deste trabalho: Muito obrigada!

8
Resumo

O objetivo principal deste estudo é analisar a reformulação no âmbito do artigo científico.


Este trabalho está dividido em três capítulos: o primeiro relaciona-se com o artigo científico e,
sobretudo, com o seu plano de texto, para o qual serviram de suporte teórico as teorias de Swales
(1990) e de Marconi e Lakatos (2001); o segundo capítulo diz respeito à reformulação, com
especial incidência nos marcadores de reformulação, tendo por base as propostas teóricas de
Zorraquino e Portóles (1999) e de Gómez (2008); por último, o terceiro capítulo apresenta o
corpus que é composto por 90 artigos científicos de duas revistas científicas de cada uma das
seguintes áreas: Filosofia (Filosofia. Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto
e Revista Filosófica de Coimbra), História (História. Revista da FLUP e Revista Portuguesa
de História) e Linguística (Estudos Linguísticos/Linguistic Studies e Revista de Estudos
Linguísticos da Universidade do Porto), publicados entre os anos de 2008 e 2018. Em primeiro
lugar, tentamos perceber de que forma estas revistas apresentam normas editoriais para o plano
de texto. Em seguida, na análise dos marcadores de reformulação, optamos por estudar os
parafrásticos, dos quais selecionamos os seguintes: ou seja, isto é, quer dizer, por outras
palavras, ou melhor e aliás. Estes marcadores discursivos são estudados tendo por base os
valores semântico-discursivos com que relacionam dois segmentos discursivos. A hipótese
colocada, e confirmada, foi a de que, sendo o artigo científico um género textual escrito, a
função mais frequente da reformulação é a mais explicativa em detrimento da retificativa.

Palavras-chave: género artigo científico; plano de texto; reformulação, marcadores de


reformulação

9
Abstract

The aim of this study is to analyse the reformulation within the scientific article. This
work is divided into three chapters: the first chapter relates to the scientific article and, above
all, to its text plan for which the theories of Swales (1990) and Marconi e Lakatos (2001) served
as theoretical support; the second chapter concerns the reformulation, with special emphasis on
reformulation markers, based on the theoretical proposals of Zorraquino and Portóles (1999)
and Gómez (2008). Finally, the third chapter presents the corpus that is composed of 90
scientific articles from two scientific journals of each of the following subjects: Philosophy
(Filosofia. Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto and Revista Filosófica de
Coimbra), History (História. Revista da FLUP and Revista Portuguesa de História) and
Linguistic (Estudos Linguísticos/Linguistic Studies and Revista de Estudos Linguísticos da
Universidade do Porto), published between 2008 and 2018. First, we try to understand if these
journals present editorial norms for the texto plan. Then, in the analysis of the reformulative
markers we chose to study the paraphrastic markers from which we selected the following: ou
seja, isto é, quer dizer, por outras palavras, ou melhor and aliás.These discourse markers are
studied based on the semantic-discoursive values with which they relate two discoursive
segments. The scientific article is a written textual genre, so the hypothesis (that was confirmed)
was that the reformulation will occur here with a more explanatory function rather than a
rectifying function.

Keywords: genre “scientific article”; texto plan; reformulation; reformulative markers

10
Índice de tabelas, esquemas e gráficos
Tabelas

Tabela 1: Tipos de discurso e mundos discursivos ....................................................... 26

Tabela 2: Valores semântico-discursivos de explicação propostos por Gómez (2008) 44

Tabela 3: Valores semântico-discursivos de retificação propostos por Gómez (2008) . 48

Tabela 4: Valores semântico-discursivos de separação propostos por Gómez (2008) . 55

Tabela 5: Contagem inicial dos tokens obtida no Corpógrafo ...................................... 61

Tabela 6: Número de ocorrências no corpus de tokens com valor de marcador de reformulação


........................................................................................................................................ 62

Tabela 7: Número de artigos por revista com a designação “Introdução”, com outra designação
ou sem designação .......................................................................................................... 66

Tabela 8: Síntese do estudo dos marcadores de reformulação quanto à sua posição sintática,
composição e comutabilidade ........................................................................................ 85

Tabela 9: Frequência de ocorrências ........................................................................... 103

Esquemas

Esquema 1: Progressão do artigo académico-científico proposta por Motta-Roth (2009) 19

Esquema 2: Níveis de arquitetura interna dos textos in Miranda (2008) ....................... 20

Esquema 3: Artigo científico das ciências naturais e das ciências sociais e humanas ... 25

Gráficos

Gráfico 1: Número de artigos por revista com as subsecções dos preliminares ........... 63

Gráfico 2: Número de artigos por revista com as subsecções do corpo do texto .......... 64

Gráfico 3: Número de artigos por revista com as subsecções da parte referencial ....... 65

Gráfico 4: Percentagem de ocorrências relativa à posição sintática dos marcadores de


reformulação parafrástica .............................................................................................. 73
Gráfico 5: Número de ocorrências de cada valor semântico-discursivo em F-FLUP ... 92
11
Gráfico 6: Número de ocorrências de cada valor semântico-discursivo em F-UC ....... 93

Gráfico 7: Número de ocorrências de cada valor semântico-discursivo em H-UC ...... 93

Gráfico 8: Número de ocorrências de cada valor semântico-discursivo em H-FLUP .. 94

Gráfico 9: Número de ocorrências de cada valor semântico-discursivo em L-CLUNL 94

Gráfico 10: Número de ocorrências de cada valor semântico-discursivo em L-FLUP .. 95

Gráfico 11: Valores semântico-discursivos no corpus .................................................. 96

Gráfico 12: Distribuição por revista dos marcadores de reformulação parafrástica no plano de
texto do artigo científico ............................................................................................... 97

Gráfico 13: Distribuição dos marcadores de reformulação parafrástica no corpus ...... 97

12
Introdução

O artigo científico é um género textual que tem sido investigado por diversos autores,
que trabalham em áreas científicas e quadros teóricos diversos. Enquanto género textual pode
definir-se como instrumento adequado à realização de ações de linguagem, manifestadas
através de textos empíricos, que constituem exemplares que se caracterizam por serem únicos
e singulares (Coutinho, 2011). Essa singularidade não implica, no entanto, a impossibilidade
de se definirem determinados parâmetros relativamente estáveis que possam caracterizar este
género, como acontece, de resto, para outros géneros (cf. Coutinho, 2006).

Com base neste princípio, selecionamos um corpus de 90 artigos científicos, inseridos


no período temporal de 2008-2018, de três áreas pertencentes às Ciências Sociais e Humanas:
Filosofia, História e Linguística. Para cada área, selecionamos artigos de duas revistas
científicas diferentes. As revistas de Filosofia são Filosofia – Revista da Faculdade de Letras
da Universidade do Porto e Revista Filosófica de Coimbra; para a área de História
selecionaram-se a História – Revista da FLUP e a Revista Portuguesa de História. Finalmente,
as revistas de Linguística são Estudos Linguísticos/Linguistic Sudies, do Centro de Linguística
da Universidade Nova de Lisboa e a Revista de Estudos Linguísticos, da Faculdade de Letras
da Universidade do Porto.

A seleção deste corpus constitui a base para o nosso estudo, que tem essencialmente dois
objetivos. Por um lado, procuramos descrever o género artigo científico, sobretudo atendendo
ao seu plano de texto, a partir de uma revisão da literatura sobre este género e sobre o conceito
de plano de texto. Por outro, pretendemos analisar o comportamento dos marcadores de
reformulação parafrásticos no contexto do género artigo científico, determinando as suas
propriedades e os seus valores semântico-discursivos.

Subjacente à formulação destes objetivos, apresentamos as principais questões de


investigação que orientam este estudo:

— Como se caracteriza o artigo científico do ponto de vista do seu plano de texto?

13
— Como se reflete a área científica em que circulam os textos ao nível do plano de texto
do artigo científico?

— Como se comportam os marcadores de reformulação parafrásticos no artigo


científico?

Através de uma metodologia de análise empírica e da análise qualitativa e quantitativa


dos dados procuraremos dar resposta a estas questões, retomando-as no momento das
considerações finais.

A organização do trabalho está subsumida na estrutura deste trabalho, que se subdivide


em três capítulos. O primeiro capítulo aborda o género textual artigo científico, tendo em conta
a sua origem, evolução e, sobretudo, o seu plano de texto. O segundo capítulo descreve de
forma global os marcadores de reformulação. O terceiro capítulo é constituído pelo estudo,
nele sendo descrito o corpus, explicitada a metodologia de recolha e análise dos dados e feita
a discussão dos seus resultados. Finalmente, apresentaremos algumas considerações finais.

14
Capítulo 1 – O género artigo científico
O constante avanço da ciência obriga a que a sua divulgação caminhe ao mesmo ritmo,
dando a conhecer aos outros cada nova descoberta, através da literatura científica. Há, de facto,
uma relação bidirecional entre o cientista que produz um determinado trabalho científico e o
cientista ou comunidade científica, seus interlocutores, que irão ver e analisar criticamente esse
trabalho. Esta relação é de grande relevância, uma vez que para que um estudo seja considerado
conhecimento científico necessita de passar pela legitimação por parte de outros cientistas.
Reforçando com as palavras de Souto (2014), o discurso científico pressupõe assim um locutor
e um alocutário, estando estes dois papéis ocupados por especialistas de uma determinada área.
Existem vários meios de propagação da ciência, mas há claramente um com um papel
de destaque na sociedade científica: o artigo científico.

1.1. O género textual como prática social

O Interacionismo Sociodiscursivo (ISD) proposto por Bronckart é, provavelmente, o


modelo teórico mais conhecido no que respeita ao estudo da relação entre a linguagem e as
práticas sociais, ou seja, a linguagem como forma de interação. São, no entanto, muitos os
investigadores que estudaram a linguagem como meio privilegiado de interagir e comunicar.
Interessa-nos aqui não um estudo aprofundado sobre os conceitos de texto, género e discurso
e de que forma se diferenciam, mas de que forma é que um texto, pertencente a um determinado
género textual que, por sua vez faz parte de um tipo de discurso, pode manifestar uma dada
atividade social.

Bronckart (1996:34) assume que a linguagem se relaciona com as atividades sociais pelo
facto de ser uma produção interativa e, por isso, os textos (como forma de manifestação dessa
linguagem) são produto da atividade humana. Como já foi dito, um texto inscreve-se dentro de
um género textual e, apesar de vários autores definirem este último conceito, não é tarefa fácil
definir o conceito género textual no seu sentido global e caracterizar isoladamente os vários
géneros relativos a cada prática social. Esta dificuldade advém do facto de os géneros serem a
concretização verbal de uma determinada prática social, ou seja, se os contextos socio-

15
históricos em que se produzem determinados textos vão alterando, o mesmo vai acontecendo
com os géneros textuais, na medida em que estes têm que acompanhar este processo evolutivo
da sociedade e das suas práticas. No entanto, não é apenas a evolução da sociedade que provoca
esta constante atualização dos géneros. Bronckart (1996:76) refere alguns outros motivos, a
saber: o tipo de atividade humana em questão, o objetivo comunicativo pretendido, o tipo de
suporte e o conteúdo temático.

Partindo da definição de Bakhtin (1984), os géneros são tipos relativamente estáveis de


enunciados, permitindo, no entanto, variação, o que nos permite verificar diferenças se
compararmos dois textos pertencentes a um mesmo género. No entanto, essas diferenças não
serão, a priori, tão significativas ao ponto de não sabermos se dois textos pertencem ou não ao
mesmo género. Esta competência que possuímos como falantes está relacionada com a nossa
memória textual, que por sua vez se relaciona com as referências arquitextuais, que são os
conhecimentos que cada um de nós vai apreendendo com a leitura de diferentes géneros
textuais e que nos permitirão reconhecer a que género pertence um determinado texto (Rosa,
2015). Estas últimas noções fazem parte, tal como a noção de arquitexto, do modelo de
arquitetura textual, proposto por Bronckart e que será abordado com mais detalhe adiante.

O género textual que nos propomos a analisar neste estudo é o género artigo científico.
Este género textual faz parte do tipo de discurso académico-científico, do qual fazem parte
também textos como dissertações, teses, relatórios, palestras, entre outros. Tal como em todos
os discursos, o científico também pressupõe um locutor e um alocutário, estando estes dois
papéis ocupados por especialistas de uma determinada área.

1.2. História e evolução do género artigo científico


O género artigo científico surgiu devido à necessidade da partilha de ideias e de pesquisas
entre os cientistas de diversas áreas pois, tal como afirmam Marconi e Lakatos (2001:79),
“Todo estudioso necessita transmitir a outras pessoas, com certa frequência, o fruto de suas
atividades, de seu conhecimento”.
Desde o seu surgimento, o género artigo científico sofreu várias alterações até ser aquilo
que hoje conhecemos. No entanto, tal como em todos os outros géneros textuais, estas

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alterações não se esgotam, isto é, vão surgindo sempre mais ao longo do tempo, mantendo
constante esta alteração de propriedades de cada género de texto. Tal como afirma Miranda
(2010:96), “os géneros são heterogéneos, dinâmicos e em número potencialmente infinito”. É
precisamente o facto de estes géneros se atualizarem que nos é permitido estudar aquilo que
era o artigo científico do século XVII e daí em diante e como se apresenta nos dias de hoje.
Relativamente à origem do artigo científico, esta remonta ao século XVII, mais
precisamente ao ano de 1665. Apesar de vários autores situarem cronologicamente a origem
do artigo científico aquando do surgimento do periódico científico The Philosophical
Transactions of the Royal Society, sendo este considerado o único, Pimenta (2014:9) dá-nos a
conhecer que, a par deste, surgiu um outro periódico, em Paris, o Journal dês Sçavants. Este
género textual surgiu como uma forma de os cientistas comunicarem entre si, utilizando, para
isso, cartas informativas, sendo o formato deste último género de texto o que os artigos
científicos apresentavam nos seus primeiros anos de existência (Swales, 1990). No entanto,
com o estatuto que estes periódicos passaram a assumir na sociedade, era fundamental a criação
de um novo género textual, que se diferenciasse bastante das cartas pessoais. O formato base
com que se apresentam os periódicos científicos atuais pode ser um vestígio da influência que
teve o The Philosophical Transactions of the Royal Society, pois, uma vez editado pela Royal
Society, “uma sociedade científica com tradição nos estudos científicos”, procuraram, na
altura, padronizar um formato para as suas publicações (Pimenta, 2014:9). Já o Journal dês
Sçavants, conhecido como divulgador de conteúdos científicos bastante variados, pode ter
influenciado sobretudo as revistas modernas da área das humanidades (Pimenta, 2014:9).
Quanto à definição de artigo científico, Marconi e Lakatos (2001:84) dizem que “os
artigos científicos são pequenos estudos, porém completos, que tratam de uma questão
verdadeiramente científica, mas que não se constituem em matéria de um livro”. Swales
(1990:93) também define este género textual como sendo um texto escrito “usually limited to
a few thousand words, that reports on some investigation carried out by its author or authors”.
No que respeita ao seu objetivo, Costa (2011) diz-nos que

Seu propósito é comunicar os resultados de pesquisas, ideias e debates de uma


maneira clara, concisa e fidedigna; servir de meio de comunicação e de intercâmbio de
ideias entre cientistas da sua área de atuação e levar os resultados do teste de uma hipótese,
provar uma teoria (tese, trabalho científico).
17
O artigo científico é, sem dúvida, um meio de máxima relevância para a difusão da
ciência. Para Meadows (1999:12), é a partir do século XVII que a estrutura e o estilo dos artigos
científicos entram numa constante mudança de acordo com as necessidades dos editores,
revisores e avaliadores de determinados periódicos eletrónicos. Diz ainda que algumas destas
mudanças verificadas surgiram de forma a acompanhar o aumento e complexidade da
comunidade científica. Neste âmbito, Swales (1990) refere que o artigo científico apresenta,
efetivamente, diferenças comparando os artigos do século XVIII e os do século XIX.
Relativamente à evolução, no século XIX, já os artigos se iniciavam com uma introdução
à problemática sobre o tema em questão. Depois, haveria uma descrição dos experimentos
realizados para estudar determinado fenómeno. Os artigos científicos do século XX começam
a apresentar características diferentes daquelas que eram comuns. Swales (1990) faz uso dos
estudos de Bazerman (1984) para nos dar a conhecer de que forma o artigo científico foi
sofrendo alterações. No que respeita à extensão, de 1893 para 1900, o comprimento médio dos
artigos sofreu uma redução quanto ao número de palavras, passando de 7.000 para 5.000
palavras. Este último número manteve-se quase intacto até 1940. Após 40 anos, a extensão
volta a aumentar, mas, desta vez, para o dobro passando os artigos científicos a apresentarem
cerca de 10.000 palavras. Nos dias correntes, notamos que houve uma diminuição do número
de palavras, reduzindo assim a extensão do artigo científico. No que concerne às referências,
parte fundamental dos artigos científicos, entre 1890 e 1980, o número era de cerca de dez
referências por artigo, contrariamente ao que vemos hoje, uma vez que o número de referências
é substancialmente maior do que o referido anteriormente. Quanto à organização do artigo
científico, só após o ano de 1950 é que se tornou comum intitular as diversas secções que
constituíam o artigo.
Para a elaboração do artigo científico, Souza (2009:3) utiliza o estudo de Motta-Roth
(2009:4) para nos apresentar uma série de etapas que os cientistas-autores devem cumprir para
que a sua produção científica esteja devidamente estruturada. Em primeiro lugar, o autor deve
selecionar as referências bibliográficas consideradas mais úteis para o tema e, seguidamente,
analisar o estado da arte, ou seja, tentar compreender o que tem sido feito sobre o mesmo tema.
Depois de delimitar o problema e a forma como irá abordá-lo, o autor deve criar o corpus do
seu estudo e analisá-lo para, posteriormente, apresentar os resultados que obteve e discuti-los.
18
Finalmente, a última etapa será a conclusão retirada do estudo feito e sugestões de
trabalhos futuros na linha da investigação realizada. Todas estas etapas são apresentadas no
esquema 1.

Esquema 1: Progressão do artigo académico-científico proposta por Motta-Roth


(2009:41) apud Souza (2009:4)

1.3. Características do género artigo científico


Para caracterizar o artigo científico como género textual, teremos em conta dois
parâmetros fundamentais: a sua composicionalidade e a sua textualização. Para estudar estes
conceitos, importa primeiramente referir que se enquadram no modelo da arquitetura textual,
proposto por Bronckart. Neste modelo, Bronckart assume o texto como um “folhado”
composto por três camadas sobrepostas. Assim, baseando-se nos pressupostos de Bronckart,
Rosa (2015) dá-nos a conhecer cada uma das três camadas constituintes de um texto:

A camada mais superficial diz respeito aos mecanismos de responsabilidade


enunciativa (gestão de vozes e modalização) e é aquela que assegura a coerência
19
pragmática do texto; a segunda, a camada intermédia, diz respeito aos mecanismos de
textualização que asseguram a coerência temática, nomeadamente, a conexão e a coesão
verbal e nominal; por último, a camada mais profunda deste modelo, que diz respeito à
infra-estrutura geral do texto e que, por sua vez, integra o plano geral do texto, os tipos
de discurso, as sequências e as formas de articulação entre os tipos de discurso (encaixe e
fusão).

Para explicitar este modelo proposto por Bronckart, Miranda (2008:84) elabora o
seguinte esquema:

Esquema 2: Níveis de arquitetura interna dos textos, apud Miranda (2008:84)

Apesar de serem três as camadas constituintes de um texto, voltamos a referir que este
estudo abordará apenas duas delas, mantendo por base a proposta de Bronckart: os mecanismos
de textualização e a infraestrutura geral do texto onde, dentro desta, terá papel de destaque o
plano de texto.

1.3.1. O plano de texto do artigo científico

O conceito de plano de texto revela elevada pertinência nos estudos da Linguística


Textual e da Análise do Discurso, uma vez que é uma forma de caracterizar e limitar os géneros
textuais. A importância de se estudar o plano de texto prende-se com o facto de este contribuir

20
para a coerência textual e para facilitar a interpretação da informação, como diz Silva
(2016:182):

Os textos caracterizam-se por ser coerentes, para o que contribui decisivamente o


facto de lhes subjazer um plano de texto, ou seja, uma ordenação e articulação dos
conteúdos que permite ao interlocutor processar a informação e interpretá-la
adequadamente.

Relativamente à definição do conceito de plano de texto, Silva (2016:193) afirma que


este “consiste na distribuição dos conteúdos manifestados e, em suporte escrito, na
segmentação formal atestada num texto”. Van Dijk utiliza o termo superestrutura e define-a
dizendo que “Superstructures are schemata for conventional text forms” (1983:54). Adam foi
dos estudiosos que mais se debruçou sobre o estudo do plano de texto, nomeadamente no seu
trabalho de 2002, Plan de texte. Como sabemos, os géneros textuais, no que respeita à
convencionalidade dos seus planos de texto, sugerem uma escala entre os menos convencionais
e os mais convencionais. Apesar de Adam (2002) aplicar estes termos à retórica clássica,
conseguimos também, pelo nosso conhecimento da língua e do seu uso, aplicar esses conceitos
a géneros de textos atuais. É através da nossa memória textual que conseguimos com alguma
facilidade identificar a que género pertence determinado texto e, além disso, somos também
capazes de reconhecer quais os géneros textuais que apresentam uma maior ou menor rigidez
na sua estruturação. Assim, se compararmos um anúncio publicitário e uma tese de
doutoramento, sabemos que o anúncio publicitário permite uma maior alteração das suas
propriedades, sendo até permeável a outros géneros textuais, devido também ao seu objetivo
comunicativo, onde a diferença e certos aspetos não esperados são, geralmente, bem vistos aos
olhos do interlocutor. No caso da tese de doutoramento, não é tão facilmente permitida esta
flexibilidade de características uma vez que o aspeto rígido e convencional é importante para
a sua credibilidade.
Uma outra distinção relevante para este estudo é a que Adam faz entre os planos de textos
de áreas de investigação experimental e os planos de texto de áreas de investigação reflexivo-
ensaística, onde se inserem as ciências sociais e humanas. Para o primeiro caso, a estruturação
prototipicamente utilizada é a do tipo IMRDC, ou seja, Introdução, Metodologia, Resultados,

21
Discussão e Conclusões. No caso dos textos de investigação reflexivo-ensaística, estes
“estruturam-se geralmente por tópicos definidos pelo autor em função do percurso de pesquisa
efetuado, o qual está dependente, entre outros fatores, do tema abordado” (Silva, 2016:189),
ou seja, o autor diz não haver uma organização pré-determinada como no caso das ciências
experimentais. É importante referir que Silva (2016) aborda um outro tipo de plano de texto
que surge quando é verificada a junção das propriedades dos dois tipos referidos anteriormente,
chamando-se assim plano misto.
Focalizemos agora o estudo do plano de texto no âmbito do género artigo científico, para
o qual contribuíram estudos como o de Swales (1990) e de Marconi e Lakatos (1991, 2001). A
organização de cada artigo será ditada sobretudo pelas normas de publicação específicas de
cada revista científica. Torna-se, assim, relevante perceber se é de facto estável o plano de
texto dos artigos científicos ou se apresenta alterações e, se assim for, compreender se é a área
científica que impõe essas alterações. Van Dijk assume ainda que as partes de um discurso têm
determinadas funções e são essas funções que determinarão as categorias do discurso
(1983:235).
Uma vez estudada a história do artigo científico e certas diferenças estruturais que se
foram verificando desde a sua origem até aos dias atuais, importa estudar o seu plano de texto,
uma vez que é desde há muito tempo e continua a ser objeto de várias investigações. Como já
tínhamos visto, o final do século XVIII foi a altura em que se deu a reconfiguração do artigo
científico. Para dar conta desta reconfiguração, Bazerman (1983: 16-17; apud Swales, 1990:
113) diz o seguinte:

As phenomena began to be treated as more problematic, articles began to take on a


diferent organization, opening with an introduction to the problematic phenomenon, often
substantiated with the story of an experiment that did not go as expected. With the problem
established, the article would chronologically described a series of experiments aimed at
getting to the bottom of the mystery. Transactions between each two experiments and point
to the rationale or need for the subsequent one. In the highly developed continuity we see
the experimenter gradually come to an adequate understanding of the phenomenon, which
would then be pulled together in a concluding synthesis or explanation of the phenomenon,
as in Hewson’s investigations into the nature of blood.

Swales (1990:131-132) mostra-nos ainda alguns estudos realizados no âmbito da


estrutura geral dos artigos científicos em inglês, como os de Hill et al. (1982) e Stanley (1984).

22
Para além destes, Swales dá-nos a conhecer trabalhos de autores que estudaram
especificamente uma determinada parte do artigo científico. 1A introdução foi estudada por
autores como Hepworth (1979), Swales (1981), Cooper (1985), entre outros. Para os métodos
e resultados existem os estudos de Wood (1982) e Bruce (1983) e a secção da discussão foi
estudada, por exemplo, por Belanger (1982) e Peng (1987). Swales (1990:133) explicita ainda
algumas das propostas referidas relativamente à macroestrutura do artigo. Assim, Stanley
(1984) propõe uma estrutura problema-solução, enquanto Bruce (1983) sugere a seguinte:
Introdução – Métodos – Resultados – Discussão.
Swales (1990) admite que o plano de texto do artigo científico se apresenta de certa
forma estabelecido, sendo então constituído por uma introdução, os métodos, os resultados, a
discussão e a conclusão. Contudo, sabemos que apesar destas categorias serem as prototípicas,
nem sempre se verificam na estrutura do artigo científico.
Analisando agora a proposta de Marconi e Lakatos (1991), estas afirmam que é o fim a
que se destina o artigo científico que deve impor a forma como este se estrutura. No entanto,
as autoras não deixam de apresentar uma proposta para a divisão dos artigos científicos. Assim
sendo, Marconi e Lakatos (2001:85) dizem-nos que o artigo científico se divide sobretudo em
três grandes partes: os preliminares, o corpo do texto e a parte referencial. Deve assim iniciar-
se pelos preliminares, onde se incluem o cabeçalho (título e subtítulo do trabalho), o nome
do(s) autor(es), as respetivas credenciais e o local onde se realiza a atividade. Em segundo
lugar, as autoras sugerem uma sinopse que não é mais do que o que outros autores chamam de
resumo, devendo este ser escrito em português, inglês ou noutra língua de difusão
internacional. Depois do resumo surge então o corpo do artigo e este divide-se em introdução,
texto, comentários e conclusões. No que respeita à introdução, esta deve conter informações
que digam ao leitor qual o assunto que está a ser tratado, qual o objetivo do artigo, qual a
metodologia utilizada pelo autor do artigo, podendo apresentar algumas limitações sentidas no
decorrer da atividade, e apresenta, finalmente, a proposição. Na secção reservada para o texto,
apresenta-se uma exposição do tema que está a ser estudado, explica-se e demonstra-se o
material utilizado, apresentam-se os resultados e respetiva avaliação e faz-se uma comparação

1
Neste contexto, assumimos como referências indiretas a remissão aos autores citados por Swales (1990), tal
como referimos no corpo do texto.
23
com outras obras referentes ao mesmo tema. Por fim, surgem os comentários e conclusões
onde se resume aquilo que foi estudado no artigo fazendo deduções lógicas. Seguidamente à
secção do texto vem uma secção de grande pertinência a que as autoras chamam de parte
referencial. Esta secção deve ser composta pela bibliografia utilizada, por apêndices ou anexos
(no caso de existirem), agradecimentos e a data. Apesar desta proposta bem dividida, Marconi
e Lakatos (2001) também afirmam que não é a única passível de ser utilizada e, apesar de
muitas categorias ou secções se apresentarem intactas, as autoras afirmam que a secção do
corpo do trabalho pode subdividir-se de outra forma. Assim, as autoras apresentam a seguinte
divisão para o corpo do trabalho: introdução, material e método, resultados, discussão e
conclusões.
Não podemos deixar de notar que Marconi e Lakatos (2001) apresentam também como
hipótese de estruturação a que é utilizada por Swales (1990), ou seja, IMRDC, embora não seja
essa a sua proposta tipológica.
Apesar de serem vários os investigadores a estudar o plano de texto do artigo científico,
foi notória a semelhança nas propostas analisadas, estando sempre presentes os elementos que
nos parecem ser mais frequentes aquando da elaboração de um artigo científico: a introdução,
a metodologia e materiais, os resultados e a discussão. No entanto, nem sempre esta
estruturação se mantém tão estável, provavelmente devido ao que é imposto pela área científica
em questão e pelas normas de publicação exigidas pelas editoras.
Assim, Souza (2009), adaptando um esquema de Feltrim et al (2000:4), permite-nos
comparar a estrutura de artigos científicos das ciências exatas e das ciências sociais e humanas:

24
Esquema 3: Artigo científico das ciências naturais e das ciências sociais e humanas, in
Souza (2009), adaptado de Feltrim et al (2000:4)

Como vemos, há categorias que permanecem em ambos os esquemas, o resumo e a


introdução; no entanto, as outras categorias alteram-se. Como explica Souza (2009),

O círculo em vermelho marca a diferença que se pode verificar nos artigos de


ciências mais exatas como a Física ou Biologia, por exemplo, quando Materiais e Métodos
e Resultados são listados ou focados muito especificamente no corpo textual. Já nas
ciências de feição social ou humana, a Pressuposição Teórica e a análise de corpus de
textos, por exemplo, revelam, por vezes, uma organização que pode usar títulos bem
específicos os quais delimitam a(s) metodologia(s) empregada(s) no estudo.

1.3.2. O tipo de discurso do artigo científico

Ainda fazendo referência ao modelo de arquitetura textual, um outro conceito central é


o de tipo de discurso, inserido na infraestrutura. Os tipos de discurso são unidades linguísticas
superiores das quais fazem parte unidades linguísticas como os tempos verbais, os pronomes,
os marcadores argumentativos, os marcadores modais, etc. (Bronckart, 2012).
Bronckart apresentou quatro tipos de discurso, a saber: o interativo, o teórico, a narração
e o relato interativo, identificáveis através das unidades linguísticas que os compõem. Na
análise da composição dos géneros, é possível verificar mundos discursivos ou atitudes de
elocução que “surgem da relação que se estabelece na produção textual entre as coordenadas
que organizam o conteúdo temático mobilizado no texto e as coordenadas do mundo ordinário
(relativo à situação de acção) ” (Miranda, 2008:85).

25
Para explicar estas relações entre mundos discursivos e tipos de discurso, Bronckart
(2012:42-43) diz que os quatro tipos de discurso se baseiam em duas relações binárias: a
primeira (disjunção-conjunção) remete para as coordenadas relativas ao conteúdo temático
verbalizado, apresentando dois modos: o narrativo e o expositivo. O modo narrativo dá-se
quando as coordenadas do conteúdo temático estão separadas das coordenadas gerais de
produção e o modo expositivo, quando as coordenadas do conteúdo temático estão articuladas
às coordenadas gerais de produção.
A segunda decisão binária está relacionada não com o conteúdo temático verbalizado
mas com os agentes verbalizados, ou seja, se os agentes verbalizados estiverem conectados
diretamente com os agentes produtores do texto e à situação na qual é realizada a ação verbal,
há uma relação de implicação; por outro lado, quando estes agentes verbalizados não estão
diretamente ligados aos agentes produtores do texto e à situação de ação verbal, há uma relação
de autonomia. É através da combinação destas decisões binárias que se obtêm os quatro
mundos discursivos, nos quais se inserem os tipos de discurso.
Podemos ver esta relação entre tipos de discurso e mundos discursivos na tabela 1:

Tabela 1: Tipos de discurso e mundos discursivos, traduzido de Bronckart (1997: 159), apud Miranda
(2008:85)

Assim, relativamente ao género artigo científico, este insere-se no Mundo do Expor uma
vez que “há relação entre as coordenadas gerais do conteúdo temático de qualquer artigo com
as coordenadas do mundo ordinário do locutor, onde se desenvolve a ação de linguagem do
texto” (Souto, 2014:22). Dentro do mundo do expor, o género artigo científico apresenta-se
como discurso teórico, uma vez que há uma relação de autonomia entre os agentes verbalizados
e os agentes produtores do texto assim como com a situação de ação verbal.

26
1.3.3. A textualização no artigo científico

A textualização é, no modelo da arquitetura textual de Bronckart, uma das três camadas


que constitui um texto. Se anteriormente estudamos o plano de texto do artigo científico, ou
seja, a sua macroestrutura, passamos agora para uma análise do plano microestrutural.
São os géneros textuais que exigem o tipo de linguagem a ser utilizada e, para o género
artigo científico, Quinta (s/d) diz-nos que a linguagem apropriada deve ser económica, ou seja,
tentar utilizar o menor número de palavras na comunicação de ideias, deve ser clara para que
o alocutário compreenda aquilo que está a ser exposto e deve ser objetiva, evitando para isso
ambiguidades e tentando atenuar a presença do locutor. Ainda sobre a linguagem dos artigos
científicos, Adinolfi (2007:2) baseia-se nas palavras de Foucault (2004), afirmando que é
necessária uma “linguagem diferenciada, uma metalinguagem científica que permite o controle
e estabelecimento de um conjunto de regras segundo as quais se distingue o verdadeiro do falso
e se atribui ao verdadeiro efeitos específicos de poder”. Acrescenta que esta metalinguagem é
de tal forma restrita à comunidade científica que apenas os seus membros são capazes de a
dominar. Andrade (1995) e Sá et al. (1994), apud Sanches (2009:10), afirmam que a linguagem
científica deve evitar prolixidade, adjetivos supérfluos, perífrases e rodeios, sempre com a
finalidade de tornar a linguagem objetiva.
A importância do estudo deste nível mais gramatical prende-se com o facto de

L’analyse de la manière dont sont agencés les mots et les signes de ponctuation
pour construire des phrases, des textes, des discours, ainsi que l’examen de la distribution
des catégories grammaticales, peuvent révéler certaines caractéristiques de l’écriture d’un
genre ou du style d’un auteur (Ablali, 2007).

Os mecanismos de textualização relacionam-se, assim, com tudo aquilo que permite


manter a coesão e a coerência textuais. Assim, os mecanismos de textualização dividem-se em
três tipos: os mecanismos de conexão, os mecanismos de coesão verbal e os mecanismos de
coesão nominal. O que se dirá a seguir acerca dos mecanismos de textualização é baseado no
trabalho de Costa (2003).
Os mecanismos de conexão têm como objetivo assinalar grandes articulações ligadas à
progressão temática e assinalam de igual forma as relações existentes entre os níveis de
organização textual. Esta tarefa é realizada através do uso de organizadores textuais, que
27
apresentam como uma das suas funções a articulação de duas ou mais frases sintáticas numa
só frase gráfica, desempenhando aqui uma função de ligação. Estes organizadores textuais
dividem-se em quatro categorias principais e, por isso, podem manifestar-se textualmente
através dos seguintes elementos:

• Advérbios ou locuções adverbiais


• Um subconjunto de sintagmas preposicionais
• Conjunções ou locuções coordenativas
• Conjunções ou locuções subordinativas

Passando para a coesão nominal, os mecanismos aqui realizados assinalam “relações de


dependência e/ou descontinuidade entre dois subconjuntos de constituintes internos às
estruturas de frase” (2003:53). Os mecanismos de conexão nominal apresentam duas funções
centrais: a função de introdução e a função de retoma. A função de introdução dá-se quando
são introduzidos novos elementos no discurso, sendo eles temas ou personagens e a função de
retoma é precisamente retomar e substituir no decorrer do discurso esses elementos que já
foram introduzidos previamente. Esta retoma de elementos é realizada através de relações
anafóricas, sendo as mais típicas, neste caso, as anáforas pronominais e as anáforas nominais.
Finalmente, o último mecanismo de textualização é a coesão verbal. Os mecanismos ao
serviço da coesão verbal não só garantem a organização temporal como nos mostram a
hierarquia dos processos verbalizados no texto. O mecanismo mais típico da coesão verbal é o
uso dos tempos verbais, ou seja, de sintagmas verbais. Estes sintagmas verbais atuam no
discurso na medida em que permitem a expressão de relações temporais, de aspetualidade e de
algumas modalizações. Assim, a coesão verbal incide sobretudo sobre dois aspetos: a
temporalidade e a aspetualidade.

Síntese
Neste primeiro capítulo, estudamos o artigo científico partindo do princípio de que tal
como todos os outros géneros textuais, o artigo científico está inserido numa prática social.
Além disso, analisamos o artigo científico tendo em conta a sua origem e evolução. De seguida

28
e tendo presente que é um dos conceitos centrais neste estudo, abordamos o plano de texto do
artigo científico, fazendo referência a algumas propostas, sobretudo a de Swales (1990) e a de
Marconi e Lakatos (2001). Finalmente, este capítulo encerra abordando a textualização deste
género textual, onde estão inseridos os mecanismos de conexão, os mecanismos de coesão
verbal e os mecanismos de coesão nominal. É este ponto que nos possibilita uma ligação entre
este primeiro capítulo e o segundo, no qual estudamos a reformulação como mecanismo de
textualização no artigo científico.

29
Capítulo 2. – A reformulação

A reformulação é um mecanismo de coesão textual com implicações ao nível da


coerência textual, sendo, por conseguinte, um mecanismo da estrutura formal dos textos que
contribui para a configuração do seu sentido. Começamos por definir o conceito de
reformulação, para passarmos, depois, para a nossa análise dos marcadores de reformulação,
que constituem o foco deste estudo.

2.1. A reformulação

O termo reformulação foi introduzido na França e na Alemanha, nos anos 80, por Gülich
e Kotschi e praticamente na mesma altura por Roulet em Genebra. Apesar de terem sido as
pioneiras no estudo da reformulação, são vários os autores que desde essa altura até aos dias
atuais, incidem os seus estudos sobre este tema. Para começar, convém referir que a
reformulação faz parte de uma função mais abrangente, a formulação. Formular permite assim
organizar a informação e resolver problemas que podem surgir aquando da construção
discursiva (Martínez, 2016).
É possível vermos em muitos trabalhos várias definições de reformulação e, apesar de os
investigadores poderem analisar a reformulação de diferentes formas tendo em conta os seus
objetivos, a definição é quase consensual. Depois de lidos vários estudos, a noção global é a
de que a reformulação é um retorno sobre algo que foi dito para dizê-lo de uma forma mais
clara. Comprovaremos esta afirmação com as definições apresentadas por alguns autores.
Gómez (2003, 2008) define a reformulação como um meio organizador do discurso que
“permite al hablante volver sobre un segmento anterior para reinterpretalo y presentarlo desde
una perspectiva distinta”. Diz-nos ainda que as relações de reformulação são do tipo
hierárquico unidirecional, uma vez que se dá mais relevância ao que é expressado no segmento
reformulado.
A mesma autora continua dizendo que a reformulação “es el processo retroactivo que
permite explicar, rectificar, reconsiderar, recapitular o separarse de la formulacíon anterior”
(2008:69). No caso de Lopes e Carapinha (2013), a reformulação é entendida como uma

30
operação metadiscursiva e é ativada pelo falante devido à intenção que este tem de tornar o seu
discurso o mais inteligível possível. Na definição de Richard (2008), a palavra reformulação
supõe que há uma primeira formulação, ou seja, formula-se de novo aquilo que se disse
anteriormente e, por isso, apresenta a reformulação como uma sequência de dois enunciados
sucessivos. Na esteira de Blakemore (1993:107), Cuenca (2003) também apresenta uma
definição de reformulação definindo-a assim como uma função discursiva na qual uma
determinada ideia é reelaborada pelo seu locutor com o objetivo de se tornar mais específica,
facilitando assim a intercompreensão por parte do interlocutor. Martínez (2016) apresenta a
reformulação como a produção de uma nova versão do que foi dito anteriormente, através de
um retorno ao assunto anterior para “aclara-lo, sintetiza-lo ou corrigi-lo”. Para Gonçalves e
Valentim (2017:26), “Le recours à la reformulation et aux marqueurs démontre une
préoccupation de la part de l´énonciateur à être compris et une préoccupation à gérer
l’interprétation de ses propos”.

Quando se utiliza este procedimento discursivo, o objetivo principal é o de corrigir


eventuais erros que possam ocorrer no discurso. Ou seja, se um locutor recua perante uma dada
formulação é porque encontrou obstáculos na produção do seu discurso. Como nos dizem
Lopes e Carapinha (2013), a reformulação procura solucionar problemas de formulação para
que a intercompreensão seja sempre garantida. Cuenca e Bach (2007) admitem que é esta
tentativa de reduzir os defeitos ou erros comunicativos que possibilita garantir a coesão textual
e a progressão discursiva, permitindo ver assim a reformulação como um meio que facilita a
comunicação. Desta forma, a reformulação dá-se quando há um determinado problema que é
captado após a sua formulação, ou seja, é identificável na superfície textual. Este mecanismo
discursivo explica-se da seguinte forma:

re + formulare = formular de novo (Fávero, Andrade e Aquino, 1995).

Relativamente à estrutura básica de um processo de reformulação, Gómez (2008:76)


apresenta-nos o seguinte esquema:

Segmento A + (conetor) + Segmento B

31
O segmento A diz respeito à primeira formulação, ou seja, o enunciado-fonte (na
proposta de Gülich e Kotschi (1983)); neste caso, Gómez apresenta o conetor como meio de
expressão da reformulação, podendo ser utilizado um outro mecanismo. É, portanto, este
mecanismo (neste caso, um conetor) que irá introduzir o segmento B, que se apresenta assim
como a nova formulação do segmento A. Como se referiu, os conetores não são os únicos
meios de que uma língua dispõe para elaborar uma reformulação e, por isso, Martínez
(2016:20) apresenta um esquema mais global para o processo de reformulação:

[A reformulación A']

A reformulação pode ter ainda diferentes objetivos tendo em conta as condições em que
surge, isto é, se surge num discurso planificado ou num discurso não planificado.
O discurso não planificado surge e é transmitido num momento quase único, ou seja, o
processo de cognição e de verbalização são quase conjuntos. Neste caso, os defeitos ou erros
na produção discursiva são detetados após a sua verbalização e, por isso, há a necessidade de
voltar a um enunciado anterior para formulá-lo de maneira diferente. É no discurso não
planificado que se associa mais facilmente a típica função da reformulação, que é a de corrigir
erros de produção do discurso. No entanto, a reformulação também surge no discurso
planificado, de que é exemplo o género textual tratado neste estudo – o artigo científico. No
texto escrito, o momento de produção e o momento de transmissão não são únicos, o que
possibilita a realização de um texto mais elaborado, tendo em conta o tempo disponível que
tem para a sua produção. O artigo científico é um género textual escrito e planificado, onde há
a possibilidade de se corrigir no momento da sua produção e antes de ser publicado. Por isso,
o papel da reformulação deverá ser distinto do papel que esta realiza no discurso não
planificado. Assim, no discurso planificado, a reformulação converte-se “en un mecanismo
para alcanzar determinados efectos contextuales, no transmitidos por la primera formulacíon”
(Blakemore, 1993, 2002, apud Gómez, 2008:70).
Finalmente, há uma outra distinção importante a respeito da reformulação:
autorreformulação e heterorreformulação. Quando o processo de reformulação é iniciado pelo
próprio falante chama-se autorreformulação, ou seja, é o locutor que dá conta de algum defeito
na produção do seu discurso que poderá pôr em causa a interpretação por parte do alocutário.
32
No outro caso, a heterorreformulação acontece quando é o alocutário quem sugere uma
reformulação, dando a conhecer ao locutor que este poderá não ter formulado o seu discurso
da maneira mais explícita (Gómez, 2008:69).
No caso da autorreformulação, podemos ter exemplos como o de (1):

(1) No seu documento final, esta sessão extraordinária proclamou a semana a começar na
data do aniversário da Constituição da ONU, ou seja, a 24 de Outubro, como a Semana
Mundial do Desarmamento. (Lopes, 2014:42)

A heterorreformulação pode ser verificada a seguir:

(2) L1: Não basta querer, é preciso investir.


L2: Ou seja?
L1: Não te faças de ingénuo, sabes muito bem o que quero dizer. (Lopes, 2014:44)

2.1.1. Reformulação parafrástica

Antes de definirmos os marcadores de reformulação parafrástica, devemos, em primeiro


lugar, definir o que é a reformulação parafrástica. Este conceito é abordado no estudo de Gülich
e Kotschi (1983), Les Marqueurs de la reformulation paraphrastique, onde este tema é
estudado tendo por base comunicações espontâneas em discurso oral. Assim, as autoras
referidas acima definem a paráfrase da seguinte forma:

La paraphrase est ansi considérée essentiellement en tant que “duplication


discursive” plutôt que comme la mise en relief d’une équivalence sémantique qui relie la
paraphrase à la notion de transformation grammaticale. (Gülich e Kotschi, 1983:308)

Fuchs (1985) diz que a paráfrase pode ser estudada sob três perspetivas: a paráfrase como
equivalência formal entre frases, a paráfrase como sinonímia de frases e a paráfrase como
reformulação. Interessa-nos esta última aplicação da paráfrase. Segundo a mesma autora, a
paráfrase a nível do discurso tem sido vista como “uma atividade efetiva de reformulação pela
qual o locutor restaura (bem ou mal, na totalidade ou em parte, fielmente ou não) o conteúdo
de um texto-fonte sob a forma de um texto-secundo” (1985:133). Caracterizando ainda mais a
reformulação parafrástica, Fuchs (1985) afirma que esta deve assentar numa interpretação
33
prévia do texto-fonte, deve ser capaz de identificar o sentido do texto-fonte reconstruindo-o e
deve ser traduzido por características metalinguísticas da linguagem.
Acerca do mesmo assunto, Gómez (2008:71) define a reformulação parafrástica como
“una relación de equivalencia discursiva, basada en una equivalência semántica establecida
entre los membros, que se muestra de modo gradual de un máximo a un mínimo (…) ”.
Esta função da paráfrase de realizar uma equivalência semântica pode ser marcada
linguisticamente na superfície textual pelos marcadores de reformulação parafrástica.
Rossari (1994), apud Zorraquino e Portóles (1999), explica que os marcadores de
reformulação introduzem um membro do discurso como uma nova formulação do que foi dito,
acabando por dar maior relevância a este segundo membro, ao contrário do que acontece com
outro tipo de conetores. Gülich e Kotschi (1983) subdividem os reformuladores parafrásticos
em dois subgrupos: “marqueurs de fonction illocutoire réactive” e os “marqueurs de fonction
interactive”. No primeiro caso, estão inseridos marcadores cuja função é marcar um enunciado
como uma reação/confirmação ao enunciado anterior de outro interlocutor. No segundo caso,
os marcadores de função interativa caracterizam-se por vincular os diferentes atos existentes
numa intervenção. É nesta última categoria que as autoras inserem os marcadores
reformuladores.

2.1.2. Reformulação não parafrástica

A reformulação não parafrástica foi proposta por Roulet, em 1987 (Gómez, 2008). Como
vimos anteriormente, a reformulação parafrástica caracteriza-se pela existência de uma
equivalência semântica entre dois membros do discurso. Contrariamente a esta, a reformulação
não parafrástica define-se por corresponder a uma mudança de perspetiva enunciativa e, além
disso, sugere uma relação hierárquica entre o enunciado-fonte e a nova formulação. Rossari
(1990, 1997), apud Gómez (2008), distingue os dois tipos de reformulação tendo por base a
função do marcador utilizado:

Si el marcador estabelece una predicación de identidade entre los membros


relacionados, se tratará de una operación de reformulación parafrástica; si el marcador
permite reinterpretar el segmento que se reformula, según una nueva perspectiva
enunciativa configurada por las instrucciones semántico-pragmáticas del marcador, resulta
una operación de reformulación no parafrástica.
34
2.2. Mecanismos de reformulação

A reformulação é uma estratégia discursiva que pode ser manifestada na superfície


textual através de diferentes mecanismos. Nos estudos sobre a reformulação é, efetivamente,
notável a quantidade de investigações que existem sobre um tipo de mecanismo de
reformulação em comparação com outros. O mecanismo mais estudado é, sem dúvida, o uso
dos marcadores reformulativos, no entanto, daremos a conhecer quais as outras formas de
manifestação da reformulação.
Núñez, Muñoz e Mihovilovic (2006) dão-nos a conhecer as estratégias discursivas de
reformulação dizendo o seguinte:

Entre los recursos de reformulación cabe destacar el uso de sinónimos, hipónimos,


repeticiones léxicas, frases explicativas, verbos com función metalinguística, parêntesis,
notas al pie de página y marcadores de reformulación. (Núñez, Muñoz e Mihovilovic,
2006:476477)

Acerca deste assunto, as autoras dizem-nos que os diferentes mecanismos reformulativos


estão presentes nos estudos relativos à reformulação. Todas as estratégias reformulativas que
estão ao dispor do falante afetam o discurso em diferentes níveis, com maior incidência no
plano sintático e no léxico.
Reforçando o que foi dito anteriormente, Hernández Alonso (1996), Bach (2001, 2005)
e Muñoz (2004), apud Morales (2017), também fazem uma seleção dos vários mecanismos de
reformulação dizendo que destes fazem parte a estrutura oracional, a coordenação de
equivalência, os marcadores, os sinónimos, os hipónimos, os verbos, as notas de rodapé, os
apositivos explicativos, algumas formas sintáticas, etc. Serão então os marcadores (mais
especificamente, os reformulativos) o mecanismo de reformulação escolhido para ser estudado
neste trabalho.

2.2.1. Marcadores de reformulação


Os marcadores do discurso são estudados por vários autores e, em parte devido a isso,
recebem designações tão distintas.
35
Fraser (1999), no seu estudo What are discourse markers?, dá-nos a conhecer estas
designações e respetivos autores. Desta forma, os marcadores discursivos (designação utilizada
por Fraser) podem também ser chamados de “cue phrases (Knott and Dale, 1994), discourse
connectives (Blakemore, 1987, 1992), discourse operators (Redeker, 1990, 1991), discourse
particles (Schorup, 1985), discourse signalling devices (Polanyi and Scha, 1983), phatic
connectives (Bazanella, 1990), pragmatic connectives (van Dijk, 1979; Stubbs, 1983),
pragmatic expressions (Erman, 1992), pragmatic formatives (Fraser, 1987), pragmatic markers
(Fraser, 1988, 1990; Schiffrin, 1987), pragmatic operators (Ariel, 1994), pragmatic particles
(Ostman, 1995), semantic conjuncts (Quirk et al., 1985), sentence connectives (Halliday and
Hasan, 1976) ” (1999:932). Como refere ainda o autor, estas expressões partilham uma
propriedade que se relaciona com a sua função: os marcadores discursivos dão-nos conta da
existência de uma relação entre um determinado aspeto do segmento discursivo do qual fazem
parte, o segmento 2 (S2), e um aspeto do segmento anterior ou segmento 1 (S1). Esta relação
existente entre o marcador discursivo e os segmentos são representados esquematicamente da
seguinte forma: <S 1. DM+S2>.
Assim, definindo pelas palavras de Fraser (1999), os marcadores discursivos são

(…) a pragmatic class, lexical expressions drawn from the syntactic classes of
conjunctions, adverbials, and prepositional phrases. With certain exceptions, they signal a
relationship between the segment they introduce, $2, and the prior segment, S1. They have
a core meaning which is procedural, not conceptual, and their more specific interpretation
is 'negotiated' by the context, both linguistic and conceptual.

Zorraquino e Portóles (1999) também se debruçaram sobre os marcadores do discurso e


realizaram um estudo que ainda hoje é considerado dos mais importantes, sobretudo para as
investigações sobre os marcadores do discurso em espanhol. Os autores admitem que os
marcadores do discurso

son unidades lingüísticas invariables, no ejercen una función sintáctica en el


marco de la predicación oracional -son, pues, elementos marginales- y poseen un
cometido coincidente en el discurso: el de guiar, de acuerdo con sus distintas
propiedades morfosintácticas, semánticas y pragmáticas, las inferencias que se
realizan en la comunicación” (1999:4057).

36
Focar-nos-emos nos marcadores discursivos que fazem parte do tema central deste
estudo: os marcadores de reformulação. Estes podem ser divididos em dois subtipos
correspondentes aos dois subtipos de reformulação: os marcadores de reformulação
parafrásticos e os marcadores de reformulação não parafrásticos. Relativamente ao lugar que
ocupam na frase, os marcadores de reformulação podem ocupar três posições diferentes, ou
seja, podem surgir antes, depois ou integrados no segundo enunciado (Gülich e Kotschi,
1983:317). Assim, dois enunciados ligados por um marcador de reformulação podem ser
apresentados das seguintes formas:

[EF] – [MR] – [ER]


[EF] – [ER] – [MR]
[EF] – [ E [MR] R ]

EF – Enunciado-fonte
MR- Marcador reformulador
ER- Marcador reformulado

(3) A compra era proposta em «leasing», quer dizer, numa espécie de aluguer-venda.
(CETEMPublico, par=ext128184-pol-94a-2)

No exemplo (3), verificamos que o marcador de reformulação quer dizer surge na sua
posição mais típica, isto é, entre os dois membros constituintes do discurso. Manipularemos
agora este exemplo de modo a que seja possível demonstrar se realmente é possível que o
marcador de reformulação ocupe as outras duas posições:

(a) A compra era proposta em «leasing», numa espécie, quer dizer, de aluguer-venda.

(b) A compra era proposta em «leasing», numa espécie de aluguer-venda, quer dizer.

37
Como enunciado-fonte temos “A compra era proposta em «leasing»”, o marcador de
reformulação é, neste caso, “quer dizer” e o segmento reformulado é “numa espécie de
aluguer-venda”.
Vimos, nos exemplos (3a) e (3b), que é possível variar a posição do marcador
reformulador sem que o seu significado seja alterado.
Testaremos agora estas noções com um marcador reformulador não parafrástico:

(4) O mesmo se passa com os coxos, manetas, zarolhos ou ciganos, porque, em suma,
somos minorias. (CETEMPublico, par=ext88103-nd-93b-1)
(a) O mesmo se passa com os coxos, manetas, zarolhos ou ciganos, porque somos, em
suma, minorias.
(b) O mesmo se passa com os coxos, manetas, zarolhos ou ciganos, porque somos
minorias, em suma.

Nos exemplos (4a) e (4b), temos como primeiro membro discursivo ou enunciado-fonte
“O mesmo se passa com os coxos, manetas, zarolhos ou ciganos”, o marcador não parafrástico
é “em suma” e o segundo membro discursivo é “porque somos minorias”.

2.3. Movimentos de reformulação

Como vimos anteriormente, o que distinguia a reformulação parafrástica da


reformulação não parafrástica era o facto de na primeira existir uma equivalência semântica.
É precisamente este fator que torna possível a existência de movimentos de reformulação que
se tornam claros devido ao marcador de reformulação utilizado. Por outras palavras, é o
marcador de reformulação utilizado que dirá qual o movimento de reformulação que está a
relacionar os dois membros de um enunciado. Os movimentos de reformulação são assim
polarizados entre dois extremos de equivalência ou distanciamento. Relacionamos os tipos de
reformulação com os mecanismos, admitindo que, no caso de um marcador de reformulação
dar uma instrução semântico-pragmática de equivalência, estamos perante um caso de
reformulação parafrástica; por outro lado, se um marcador der uma instrução de
distanciamento, então estamos perante uma reformulação não parafrástica.

38
No caso de existir uma relação de equivalência, esta pode ser de dois tipos: de
identificação ou de especificação, ou seja, aquilo que é apresentado no segundo membro
discursivo é tido como uma conclusão derivada “por los tópicos creados por el hablante en el
próprio discurso o bien por los conocimientos compartidos com los interlocutores” (Gómez,
2008:87). Quando estamos perante uma relação de distanciamento, o que é visível no membro
discursivo introduzido pelo marcador é uma extração do essencial, ou seja, na passagem do
primeiro para o segundo membro do discurso permanece aquilo que é considerado mais
relevante para o ato comunicativo. Com isto, aquilo que se infere é que houve uma separação
entre o que foi dito e o que passou a ser dito ou a introdução de uma nova perspetiva discursiva
(Gómez, 2008:115). Desta forma, podemos distinguir dois tipos de movimentos
reformulativos: um movimento variacional e um movimento não variacional que, por sua vez,
se subdividem dando origem a outros movimentos: “movimento no variaciona expansional, no
variacional reductivo, y variacional virante, variacional permutante” (Morales, 2017:67).

2.4. Os marcadores e os processos de reformulação

Existem várias propostas de classificação dos marcadores de reformulação. No entanto,


utilizaremos para análise as propostas de Zorraquino e Portóles (1999) e de Gómez (2008),
uma vez que nestes estudos é realizada uma análise exaustiva dos marcadores, tendo em conta
a sua aplicação, ou seja, as instruções procedimentais que implicam. Será realizada uma análise
comparativa de ambas as propostas, tentando compreender de que forma se assemelham e de
que forma se distanciam.
Iniciamos este estudo analisando a proposta tipológica de Zorraquino e Portóles (1999),
na qual os autores começam por afirmar que a reformulação vai desde a explicitação do
primeiro membro discursivo até à sua retificação. De uma forma muito breve e antes de abordar
com mais precisão os tipos de reformuladores, Zorraquino e Portóles (1999:4122) afirmam o
seguinte:

Los reformuladores se pueden situar en cuatro grupos según su significado. Los


‘reformuladores explicativos’ presentan el segundo membro del discurso como una
explicación del anterior; com los ‘reformuladores rectificativos’, este mismo membro
discursivo corrige outro anterior; los ‘reformuladores de distanciamento’ privan de
pertinencia al membro discursivo anterior al suyo; y, por último, los ‘reformuladores
39
recapitulativos’ introducen un membro del discurso como una recapitulación o una
conclusión a outro – o a otros – membros precedentes.

2.4.1. Marcadores de reformulação explicativos

Em primeiro lugar, a função discursiva de explicação, manifestada linguisticamente


pelos marcadores de reformulação explicativos, acontece quando o membro do discurso que é
encabeçado pelo reformulador explicativo surge com o objetivo de aclarar ou explicar o que
se pretendeu dizer no primeiro membro. Além disso, esta relação pode ser manifestada de duas
formas distintas, ou seja, o segundo membro pode ser ou não uma repetição do tópico presente
no primeiro membro. Por outras palavras, se o marcador de reformulação explicativo introduz
um membro que apenas vem expressar de forma mais clara o que tinha sido dito, há uma
reformulação com repetição do tópico; se o segundo membro der conta apenas das conclusões
que se podem inferir do primeiro, então há uma reformulação mas sem repetição do tópico
(Zorraquino e Portóles, 1999; Gómez, 2008). Tendo agora em conta os marcadores
explicativos que expressam esta função discursiva, ambas as propostas enumeram os seguintes:
es decir, a saber, esto es e o sea. Relativamente a estes quatro marcadores discursivos, Gómez
(2008: 8788) afirma:

Con es decir la implicación es menor ya que el recorrido inferencial propuesto al


interlocutor se funda en los conocimientos comunes que ambos poseen; com o sea la
vinculación es mayor, dado que entre varias opciones, el hablante elige aquella que ha de
inferirse necessariamente. El marcador esto es señala una identificación o especificación
de algún elemento del segmento de referencia o una aclaración del significado o del
sentido de lo expressado antes y, en determinados contextos, muestra la conclusión
derivada de lo anterior. El marcador a saber se emplea para identificar, especificar o
enumerar los componentes de lo que se acaba de decir.

Para Zorraquino e Portóles (1999:4124), o marcador es decir assemelha-se ao marcador


discursivo o sea sendo menos utilizado no discurso coloquial. Relativamente ao que se observa
num segundo membro discursivo, podemos ter ou uma paráfrase ou uma conclusão do que foi
dito no primeiro membro do discurso. Gómez (2008:88) dá-nos conta de mais funções típicas
deste marcador dizendo que as relações que existem entre os dois membros discursivos podem
ter na base procedimentos de base referencial, aclaração do significado do que foi dito no
40
primeiro membro discursivo, ampliação do significado e pode ainda, como os outros autores
referiram, extrair conclusões do membro que antecede o marcador es decir.
Tendo por base as duas funções globais apresentadas por Zorraquino e Portóles (1999),
vejamos os exemplos (5)-(7) dos respetivos marcadores em Português2:

(5) Ao mesmo tempo, deve ser alguém que esteja bem na Igreja, quer dizer, que conheça
bem o conjunto dos «dossiers» da Conferência Episcopal, para poder transmiti-los,
transcrevê-los. (CETEMPublico, par=ext13744-soc-92a-1)
(6) «Propomos então um compromisso religioso total por um período limitado, quer dizer,
um compromisso religioso temporário» (CETEMPublico, par=ext36982-soc-94b-1)
(7) Num discurso teatral e cheio de «veneno» contra Mário Soares, Sérgio Palma Brito,
um nome com eco no meio algarvio, afirmou alto e bom som que «ser contra a
massificação é tão anormal como ser contra a chuva», e verberou aqueles que «só
sabem dizer lugares comuns contra a ânsia do lucro fácil, ainda por cima com
referências às Massamás e às Reboleiras», quer dizer: chegara a hora do Presidente
entrar na berlinda. (CETEMPublico, par=ext124155-clt-soc-94a-1)

Relativamente ao marcador discursivo o sea (ou seja), este é considerado o reformulador


mais utilizado, sobretudo na oralidade (Zorraquino e Portóles, 1999). No que respeita às
funções deste marcador, Gómez (2008:94) enumera-as dizendo que

Este marcador estabelece una relación entre los membros concatenados que se
configura mediante asignación de referencia; o mediante processos de explicitación del
significado a través de la aclaración, ejemplificación o rectificación; o de ampliación
significativa en la definición o de reducción en la denominación.

Como é possível verificar no estudo de Gómez (2008), o marcador o sea exibe um grande
número quanto às possibilidades de emprego, podendo apresentar entre os membros
discursivos uma relação de atribuição de referência, de especificação, de explicação, de
tradução, de definição, de recapitulação, de conclusão, entre outras.

2
Embora saibamos que não é possível fazer corresponder os marcadores discursivos em Português e em
Espanhol de forma direta, mesmo quando são aparentemente iguais, decidimos, na revisão da proposta
tipológica de alguns autores espanhóis, ensaiar uma tradução para esses marcadores e ilustrá-los com exemplos
autênticos do Português por considerarmos que, dessa forma, poderíamos estabelecer um quadro explicativo
mais adaptado ao Português.

41
Comprovaremos algumas destas relações com os exemplos (8)-(10):

(8) Um jovem de 25 anos, com o ar de «americano típico», ou seja, cabelo despenteado,


feições voluntariosas, aspecto despretensioso, em suma, «simpático», pegou na aposta
e lançou-se na aventura. (CETEMPublico, par=ext1184694-soc-97a-1)
(9) Para Philipe Maystadt, a situação ideal seria, aliás, um prolongamento da vigência do
Pacote Delors II por mais dois anos, ou seja, até 1999. (CETEMPublico,
par=ext950235-pol-92a-1)
(10) O resultado foi uma interface que resolve o velho paradoxo dos produtos deste tipo, ou
seja, quanto mais fácil de utilizar menos potente é para o utilizador. (CETEMPublico,
par=ext473953-clt-soc-94b-2)

É possível observar apenas nestes três exemplos empregos distintos do marcador ou


seja. Assim, no exemplo (8) verificamos uma relação de definição, uma vez que o membro
discursivo introduzido pelo marcador reformulador apresenta características que definem o que
é um “americano típico”. O exemplo (9) apresenta um caso de especificação, pois o marcador
discursivo transformou as informações presentes no primeiro membro do discurso (“por mais
dois anos”) em informações concretas (“até 1999”). Finalmente, o exemplo (10) apresenta-se
como uma relação atribuição de referência ou identificação, visto que o segundo segmento
discursivo vem identificar qual é “o velho paradoxo dos produtos deste tipo”.
Passando agora à análise do marcador esto es (isto é), este também é visto como um
marcador que é utilizado para aclarar ou explicar o membro que o antecede, verificando-se
maioritariamente um movimento não variacional uma vez que o tópico discursivo não é
alterado (Zorraquino e Portóles, 1999:4124). Os valores tipicamente associados a este
marcador discursivo são os de identificação e de explicação, no entanto, outros valores são
verificáveis, como aponta Gómez (2008:101-103). Assim, a par de outros reformuladores
explicativos, esto es também pode apresentar relações de tradução, definição, denominação e
conclusão. Vejamos os exemplos (11)-(15):

(11) A nota que o aluno irá ter na sua prova depende principalmente do professor que a
classifica, isto é, do avaliador. (CETEMPublico, par=ext1276762-nd-91b-3)
(12) Ao mesmo tempo, juram que tal manobra não implicará custos directos para os
contribuintes -- isto é, não aumentará os impostos. (CETEMPublico,
par=ext144331pol-97a-1)
42
(13) A guerra fria tinha pelo menos um mérito: os enormes arsenais que se coleccionavam
de ambos os lados da cortina de ferro garantiam, paradoxalmente ou não, a
desactivação permanente das máquinas de guerra, isto é, a paz. (CETEMPublico,
par=ext726671pol-93a-1)
(14) «Carpe diem! ", isto é, gozem este dia! (CETEMPublico, par=ext1092984-nd-94b-1)

(15) " ` Anomalia ' é a diferença entre os padrões observados no âmbito de uma avaliação
climática a longo prazo, isto é, são registos que estão fora da média», explica Sousa
Brito. (CETEMPublico, par=ext448305-nd-95a-2)

É possível assim comprovar os diferentes usos do marcador esto es (isto é) através dos
exemplos anteriores, uma vez que temos, entre outros, casos de denominação (13), tradução
(14) e explicação (15).
Finalmente, o último marcador que ambas as propostas consideram como reformulativo
explicativo é o marcador discursivo a saber. Segundo Zorraquino e Portóles (1999:4125), este
marcador é utilizado quase exclusivamente no discurso escrito e, tal como no marcador isto é,
o tópico mantém-se no segundo membro discursivo. Quanto às relações que podem assinalar,
a saber pode atribuir referência a expressões deíticas (16), pode especificar um segmento
anterior e pode enumerar as partes de um constituinte (17) (Gómez, 2008:103-104).
Verifiquemos os exemplos (16) e (17):

(16) O que não consegue é iludir o verdadeiro problema, a saber: as tradutoras não
produziram um texto legível. (CETEMPublico, par=ext16323-clt-94a-1)
(17) Antes do encontro com os jornalistas, Carlos Lage, coordenador da Federação, tinha
reunido num almoço sete autarcas, a saber: Fernando Gomes (Porto), Narciso Miranda
(Matosinhos), Mário de Almeida (Vila do Conde e presidente da ANMP) , Joaquim
Couto (Santo Tirso e presidente da Associação Nacional de Autarcas do PS) , Heitor
Carvalheiras (Gaia) Anibal Lira (Gondomar) e João Moreira Dias (Valongo).
(CETEMPublico, par=ext28254-pol-91a-1)

Concluindo esta análise dos marcadores reformulativos explicativos, constatamos que os


quatro marcadores (quer dizer, ou seja, isto é e a saber) têm uma relação comum que é a de
atribuição de referência. O marcador discursivo a saber é o que apresenta um menor número
de relações possíveis entre os membros discursivos sendo elas, a atribuição de referência e a
relação de componentes. Todos os outros marcadores discursivos apresentam uma maior

43
possibilidade de relações, podendo estas ser de definição, denominação, conclusão e
explicação. Todas estas conclusões são baseadas no quadro de Gómez (2008:113) que dá conta
dos marcadores explicativos e respetivas operações:

Atribuição de referência

Quer dizer Aclaração do significado ou do sentido contextual


Ampliação significativa: definição
Concreção significativa: denominação
Processos inferenciais: conclusão/consequência
Atribuição de referência
Explicitação do significado

Ou seja Ampliação significativa: definição


Redução significativa: denominação
Processos inferenciais: conclusão/consequência
Valor modal
Atribuição de referência

Isto é Explicação do significado ou do sentido


Redução significativa: denominação
Ampliação significativa: definição
Explicitação de conclusões
A saber Atribuição de referência
Relação de componentes
Tabela 2: Valores semântico-discursivos de explicação propostos por Gómez (2008:113)

2.4.2. Marcadores de reformulação retificativos

Tanto a proposta de Zorraquino e Portóles (1999) como a de Gómez (2008) concordam


que os marcadores reformulativos retificativos são utilizados quando o primeiro membro
discursivo é apresentado de forma incorreta ou, pelo menos, não é a melhor formulação. Para
isso, introduz-se um segundo membro encabeçado por um marcador retificativo que irá
substituir o membro que antecede o marcador, corrigindo-o ou melhorando-o. Tendo em conta
os procedimentos ou as relações que estes marcadores podem realizar, Gómez (2008:104)
afirma o seguinte:
44
La función de rectificación se desarrolla mediante diferentes procedimientos: a)
rectificación de lo anterior a través de una nueva expresión que modifica la referencia o
corrige el contenido de lo dicho en el segmento prévio; b) rectificación mediante una
expresión alternativa que mejora la precedente, dando una información más adecuada; c)
rectificación mediante una nueva formulación que modifica o invalida el estado de cosas
expressado en el primer segmento y lo sustituye por lo referido en el membro reformulado.

Tendo em conta os marcadores discursivos aos quais atribuem a operação de retificação,


a classificação distingue-se muito ligeiramente. Assim sendo, na proposta de Zorraquino e
Portóles (1999), os marcadores considerados retificativos são: mejor dicho (melhor dito e
algumas variantes: mejor, mejor aún e mejor decir), más bien (melhor), e digo. Para Gómez
(2008) os marcadores que apresentam uma operação de retificação são: mejor dicho, mejor
aún (melhor ainda) e más bien.
O primeiro marcador, considerado em ambas as propostas é o marcador retificativo mejor
dicho. Para Gómez (2008) este marcador pode retificar ou a forma de expressão ou o conteúdo.
Além disso, admite que a retificação pode ser de dois tipos: retificação parcial e retificação
plena. Quando se dá uma retificação plena, o enunciado correspondente ao primeiro membro
discursivo é invalidado e substituído por um que muda a perspetiva discursiva. No caso da
retificação parcial, não se invalida todo o enunciado que precede o marcador discursivo, mas
modificam-se as referências estabelecidas entre os elementos deíticos:

(18) No entanto, este ano, a arbitragem, melhor dito, a sua direcção, foi muito contestada...
(CETEMPublico, par=ext260476-des-91a-1)
(19) Ninguém interveio -- melhor dito, houve duas brevíssimas intervenções.
(CETEMPublico, par=ext271323-soc-97a-1)
(20) Contudo, quando foi assinado, o decreto pecava já por tardio ou, melhor dito, por
anacronismo. (CETEMPublico, par=ext614729-soc-95a-2)

Os exemplos (18)-(20) dão-nos conta de uma retificação parcial por precisão, no exemplo
(18), uma retificação plena através da correção, no exemplo (19) que invalida o que foi dito e
uma correção parcial no exemplo (20) que não invalida totalmente o segmento 1.
O marcador retificativo más bien (melhor) também realiza a retificação de um membro
anterior e tal como o marcador mejor dicho também pode ser precedido pela conjunção ou (o

45
más bien/ ou melhor). Com a utilização deste marcador discursivo, fica disponível uma nova
formulação que modifica e melhora o conteúdo do primeiro membro discursivo (Gómez, 2008).

A mesma autora refere ainda que “La modificación introducida se refiere al grado de
precisión, exactitud o adecuación de lo expressado en el segmento precedente y se distinguen
vários casos de formulación (…) “ (2008:109). Relativamente a estes casos de formulação ou
as relações retificativas que os dois elementos discursivos podem manter entre si, estas podem
ser de modificação mínima do aspeto, pode ser apresentada no segundo membro uma
alternativa do que foi dito no primeiro, pode também verificar-se uma correção do primeiro
enunciado e pode ainda haver uma relação de precisão entre os membros do discurso.
Procuraremos demonstrar estas relações nos exemplos (21)-(24):

(21) E promete que a nova produção, ou melhor, que a superprodução de Cascais terá
apenas três horas de duração com dois intervalos pelo meio. (CETEMPublico,
par=ext7378clt-93b-1)
(22) E, ao fechar em círculo, ou melhor em espiral, o filme de Winkler (uma excelente
estreia como realizador) adquire tensão e uma extraordinária densidade dramática.
(CETEMPublico, par=ext28049-nd-91a-2)
(23) De ambas as vezes escapou de um destino que abominava e exasperou os que o viram
partir -- melhor, os que estão na origem dessa partida. (CETEMPublico,
par=ext7452nd-91b-2)
(24) Será mesmo verdade que não sabem que o nosso Governo prometeu, melhor, garantiu,
uma piscina, uma, por cada golo metido (menos cinco metros por cada sofrido, no
entanto...) , um gimnodesportivo, um, por cada desafio ganho, uma pista de atletismo,
uma, por cada fase ultrapassada e, caso ganhássemos a final, revisão do valor do Iva
para todos os artigos e equipamentos desportivos? (CETEMPublico, par=ext12402-
opi96a-2)

Nos exemplos anteriores, relativos ao marcador ou melhor, podemos ver exemplos de


valores semântico-discursivos como a precisão (21) e (23) e correção (22) e (24).
O marcador retificativo digo (digo) não é tido em consideração na proposta de Gómez
(2008), mas é analisado na proposta de Zorraquino e Portóles (1999). Este marcador é tido
pelos autores como a forma menos gramaticalizada do conjunto dos reformuladores
retificativos e serve também para retificar um membro discursivo anterior. Vejamos os
exemplos (25) e (26):

46
(25) De entre as disciplinas, digo, unidades curriculares, destacamos: (CETEMPublico,
par=ext56267-nd-91b-2)
(26) O aumento, digo, a actualização das taxas do imposto sobre os produtos petrolíferos,
vulgarmente conhecido como o «aumento da gasolina», surgiu, inopinado e envolto em
denso nevoeiro, com data de 6 de Fevereiro e sob o nome de Portaria 25-A / 96 (B).
(CETEMPublico, par=ext184157-opi-96a-2: 10)

O último marcador reformulador retificativo é o marcador mejor aún (melhor ainda) que
é tido em conta nas duas propostas. No entanto, na proposta de Zorraquino e Portóles (1999)
não é tido como um dos retificativos principais, uma vez que é menos frequente do que, por
exemplo, mejor dicho. Para Gómez (2008), mejor aún apresenta uma retificação do que foi
dito de uma forma gradual que vai desde a modificação até à invalidação. No que concerne às
relações que este marcador pode realizar, estas podem ser de modificação através do uso de
uma formulação mais específica e adequada, poderá ser adicionada uma opção alternativa,
poderá haver uma especificação através de uma retificação parcial e, ainda, a invalidação total
do que foi dito anteriormente. Atentemos nos exemplos (27)-(29):

(27) Num tempo de morte das ideologias e agonia das crenças, que utopias podem ainda
subsistir ou, melhor ainda, nascer? (CETEMPublico, par=ext111486-clt-93a-1)
(28) Dois projectos, ou antes, duas intenções, melhor ainda, dois anúncios do Governo
merecem atenção. (CETEMPublico, par=ext306478-pol-93a-2)
(29) Se se acha com capacidade para escrever um problema deste tipo, ou outro qualquer
que encerre um mistério, uma questão técnica ou, melhor ainda, a conjugação de
ambos, não hesite. (CETEMPublico, par=ext392976-soc-92b-1)

Nestes últimos exemplos podemos ver que o marcador de reformulação melhor ainda
pode expressar casos de correção (28) e precisão (29).
Vimos acima os marcadores discursivos que se inserem no grupo dos marcadores
reformuladores retificativos e que relações podem surgir entre os dois membros discursivos.
Assim, tendo por base a proposta de Gómez (2008:113), apresentar-se-á um quadro que
sintetizará estes dados:

47
Retificação da forma de expressão
Mejor dicho Retificação do conteúdo Genuína
Não genuína
Retificação de pressuposições ou inferências
Modificação mínima
Modificação dos estados de Modificação média
coisas representados ou parcial
Mejor aún
Modificação plena
Modificação mínima
Formulação alternativa que modifica a Modificação parcial
Más bien
anterior Modificação plena
Tabela 3: Valores semântico-discursivos de retificação propostos por Gómez (2008:113)

2.4.3. Marcadores de reformulação de distanciamento

Começaremos por apresentar esta secção de marcadores discursivos dizendo que é aqui
que se verifica a maior diferença entre as duas propostas que estão a ser analisadas. Esta secção
tratará de marcadores de distanciamento, isto é, de marcadores não parafrásticos, uma vez que
não é verificada uma equivalência semântica entre os dois membros discursivos concatenados
pelo marcador reformulativo. Assim, analisaremos separadamente as duas propostas,
começando por estudar a de Gómez (2008).
De uma forma muito geral, o que podemos verificar na proposta de Gómez (2008) é que
a autora apresenta um conjunto maior de operações que funciona como um hiperónimo –
operações de distanciamento – cujos hipónimos serão os marcadores de recapitulação, de
reconsideração e de separação, sendo então subgrupos do referido anteriormente. Antes de
passarmos à análise específica de cada um destes marcadores, verifiquemos o que diz a autora
de forma resumida acerca destes subgrupos:

Dentro de este grupo de marcadores, hemos distinguido los que indican una
recapitalación de lo expressado antes, com la intención de extraer lo essencial; los que
señalam una reconsideración y la expresión de una nueva perspectiva que justifica o se
opone a la formulación anterior; y, por último, los que muestran una separación del
segmento de referencia que supone la modificación o supresión parcial o total de su
pertinência para continuar el discurso. (Gómez, 2008:115)

48
Em primeiro lugar, temos os marcadores de recapitulação que, como já foi dito, têm
como função voltar ao primeiro membro discursivo para dele extrair aquilo que é essencial. O
segundo membro do discurso, aquele que é acompanhado pelo marcador recapitulativo “es el
resultado sintético, objetivo o subjetivo, de una visión englobadora de lo expressado en los
segmentos anteriores” (Gómez, 2008:115). Os marcadores que a autora insere no leque de
marcadores recapitulativos são: en suma (em suma), en resumen (em resumo), en síntesis (em
síntese), en conclusión (em conclusão) e en fin (enfim).
O marcador discursivo en suma (em suma) apresenta o segundo membro discursivo
como a reformulação de um conjunto de membros que o antecedem, realçando um determinado
traço comum a estes membros. Relativamente às restrições sintáticas, este marcador
recapitulativo aparece sobretudo no início do segundo membro. Tal como os outros
marcadores, as funções deste também podem ser variadas, assim em suma pode indicar “una
suma de lo expressado en los segmentos precedentes, que se integran en un segmento final de
sentido más general que los incluye a todos”, pode corresponder a um denominador comum
(31), ou seja, uma característica que seja partilhada por todos os membros de referência, pode
apresentar uma conclusão derivada do que é apresentado no primeiro membro do discurso e
pode ainda apresentar uma equivalência ou explicação entre os membros discursivos (30) e
(32). Os exemplos (30)-(32) demonstrarão algumas destas funções:

(30) Na reunião do G24, o grupo dos países em vias de desenvolvimento, em suma os


deserdados do planeta, os seus representantes reclamaram por uma maior participação
no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial. (CETEMPublico,
par=ext5288-eco-94b-1)
(31) O mesmo se passa com os coxos, manetas, zarolhos ou ciganos, porque, em suma,
somos minorias. (CETEMPublico, par=ext88103-nd-93b-1)
(32) Da análise da totalidade da documentação relativa a deslocações ao estrangeiro
arquivada no Conselho de Administração da AR, verificou-se que não foram entregues
27 bilhetes de avião e comprovativos de deslocações no montante de 6.447.44600 " -
em suma, quase 6500 contos. (CETEMPublico, par=ext215027-pol-97b-1)

Passando agora à análise do marcador recapitulativo en síntesis (em síntese), este supõe
que se apresente de forma sintética aquilo que é referido no membro que antecede o marcador
discursivo. Por outras palavras, há uma condensação das informações do primeiro membro.

49
(33) Melhorar a iluminação do palco, encenar o espaço para as câmaras de televisão, em
síntese pôr António Guterres a falar mais para o país do que para os presentes no
comício. (CETEMPublico, par=ext115356-pol-95b-2)
(34) As estratégias de investigação de crimes como a corrupção, a droga e a criminalidade
mais violenta, em síntese, o crime organizado, estarão em cima da mesa, em reuniões
que decorrerão rigorosamente à porta fechada e serão coordenadas por relatores
escolhidos previamente para cada tema. (CETEMPublico, par=ext464421-soc-96a-2)

Um outro marcador considerado por Gómez (2008) como recapitulativo é o marcador en


resumen (em resumo). A relação que este marcador apresenta entre os membros discursivos é
a de que do primeiro para o segundo realçam-se apenas as informações mais representativas
através do resumo de uma série de informações (35), podendo também apresentar uma
conclusão (36).

(35) Um menino-prodígio, pianista e pintor, brilhante matemático, em resumo, um pequeno


génio. (CETEMPublico, par=ext63177-clt-92a-2)
(36) «Caros amigos de Abrantes, o negócio é de 150 milhões, mas a escritura é celebrada
por apenas 27 milhões, já que nós somos o Estado, mas também fugimos às escrituras,
ou fazemos várias, ou, em resumo, não queremos pagar. " (CETEMPublico,
par=ext237057-eco-94a-1)

Quanto ao marcador reformulativo recapitulativo en conclusión (em conclusão), Gómez


(2008:121) afirma que este “supone una recapitulación de lo anterior y la presentatión del
resultado que se deriva de lo expressado en los segmentos de referencia ”.

(37) No entanto, no mesmo acórdão, os juízes consideraram que a concessão de subsídios


«não resultou de uma conduta dolosa ou fraudulenta por parte dos gerentes, os quais
terão tido um comportamento meramente culposo» e, por isso, em conclusão, julgaram
«quites» os responsáveis pela gerência do município. (CETEMPublico,
par=ext160080-soc-97a-2)
(38) Mas a questão decisiva é que o sr. ministro da Justiça pensa, em conclusão, que esta
situação se resolve esvaziando as prisões, mediante a aplicação de uma lei penal que
alivie as pressões sobre o sistema prisional. (CETEMPublico, par=ext744220-soc-
93a1)

O último marcador recapitulativo a ser considerado pela autora é o marcador en fin, cuja
função principal é a de dar por encerrada uma série de segmentos que se sucedem. A autora
refere que este marcador possui dois valores reformulativos, sendo eles:
50
“a) el valor de recapitulación, si se vuelve sobre lo dicho para extraer lo essencial,
para hacer una sínteses o sacar conclusiones, al que se añade el de explicación cuando el
membro reformulado aclara o hace más comprensible el contenido de lo expressado antes;
b) el valor de cancelación de la validez de lo dicho previamente, si el hablante vuelve sobre
la primera formulación para indicar que la información mencionada carece de relevancia
o que no se tiene la intención de continuar com esse tema”. (Gómez, 2008:122)

O exemplo (39) pode apresentar um valor de síntese ou conclusão.

(39) Vamos dar-lhe a força para que todo o futebol português se coloque dentro da mesma
Federação, mas com o respeito do direito e obrigações de cada parte integrante, o
futebol profissional, o futebol amador, as regiões, enfim, todos os componentes e
protagonistas do futebol. " (CETEMPublico, par=ext20960-des-95a-1)

Analisados os marcadores de recapitulação, passamos agora a um outro subgrupo dos


marcadores de distanciamento: os marcadores de reconsideração. Podemos distinguir este
tipo de marcadores dos marcadores recapitulativos uma vez que estes últimos tinham como
objetivo extrair o essencial das informações dadas e os marcadores de reconsideração são
definidos pela possibilidade de apresentarem uma nova perspetiva discursiva. Relativamente
aos marcadores específicos deste tipo de operação, temos os que mantêm a perspetiva do
primeiro membro discursivo (en definitiva, a fin de cuentas, al fin y al cabo) e os que
apresentam uma nova perspetiva discursiva (después de todo, total).
Em primeiro lugar, o marcador en definitiva3 (em definitivo) sugere um novo ponto de
vista sobre o que foi expressado e esta nova formulação é tida como a definitiva, como
podemos ver no exemplo (40):

(40) O director-geral da EMP forneceu-me uma cópia do documento, com mais de 20


páginas, mas, em definitivo, não existe nenhuma decisão. (CETEMPúblico,
par=ext32143-soc-98a-2)

O marcador discursivo a fin de cuentas (no fim de contas) caracteriza-se por apresentar
um membro que se impõe entre várias alternativas, explícitas ou não, podendo implicar uma
mudança do ponto de vista. Veja-se o exemplo (41).

3
Agradecemos ao Professor Rogelio Ponce de León Romeo a disponibilidade para discutir uma tradução possível
para os marcadores en definitiva e total para Português.
51
(41) «Uma grande confusão, realmente», diz David Stern, «mas, no fim de contas, nem foi
assim tão mau. (CETEMPúblico, par=ext359496-des-93b-1)

Relativamente ao marcador al fin y al cabo (ao fim e ao cabo), este apresenta, no segundo
membro discursivo, pontos de vista diferentes e que são opostos aqueles esperados pelo
interlocutor, como ilustra o seu uso nos exemplos (42) e (43).

(42) E é muito importante que, apesar de 25 anos de afastamento e de hostilidade, a


sociedade de Israel tenha, ao fim e ao cabo, conservado sentimentos positivos face à
Rússia. (CETEMPublico, par=ext115081-nd-92b-2)
(43) O empate acaba, ao fim e ao cabo, por premiar o labor da turma boavisteira que revelou
possuir capacidades acima da média, ainda que amplamente dominada neste encontro.
(CETEMPublico, par=ext270514-des-91b-2)

O marcador después de todo (depois de tudo) “señala una reconsideración de los


membros precedentes y la elección y justificación de una perspetiva contraria a la anterior”
(2008:137), como exemplifica o segmento (44).

(44) De um marxismo-leninismo que excede a lucidez, ainda hoje, depois do XX Congresso


do PCUS, depois da perestroika, depois do golpe de Agosto passado, depois de tudo,
considera que a revolução soviética se «desviou» dos seus princípios não em 1924,
como seria aceitável, mas em 56, justamente com a morte de Estaline.
(CETEMPublico, par=ext1289149-nd-91b-1)

O último dos marcadores de reconsideração é total (conclusão), que Gómez assume


como apresentando uma conclusão geral que engloba todas as informações analisadas. Além
disso, a autora refere que “Puede tratarse de una enumeración de sucesos o de informaciones
orientadas en una misma dirección de la que se deriva una conclusión general” (2008:141).
Vejamos o exemplo (45), que atesta este valor.

(45) A princípio, até o revisor ficou surpreso. Eu olhei para todas as portas e não vi casal
nenhum a namorar. Utilizando três neurónios, concluí que a cena estava-se a passar em
outra carruagem e que o maquinista, incomodado por não poder pôr a composição em
marcha, resolvera pôr a boca no trombone através do sistema interno de comunicação.
Conclusão: toda a gente ouviu, perplexa, a reprimenda.
(https://www.publico.pt/2005/10/09/jornal/pecados-a-porta-do-comboio-42882)
52
O último subgrupo de marcadores a fazer parte dos marcadores de distanciamento são
os marcadores de separação. A autora classifica estes marcadores como sendo um grupo que
“se caracteriza por indicar que una parte o la totalidade de lo expressado en los segmentos de
referencia o de lo que se presupone o se infiere de ellos no se considera relevante para la
prosecución del discurso” (2008:142). É realizada assim uma revisão sobre aquilo que foi dito
para ser feita uma nova formulação. Os marcadores aqui inseridos são: de todas maneras, de
todos modos, de todas formas, en cualquier caso e en todo caso.
Os primeiros três marcadores mencionados (de todas maneras, de todos modos, de todas
formas) são considerados pela autora como sinónimos e, por isso, podem ser substituídos uns
pelos outros. Relativamente às suas funções, estes marcadores de separação fazem uma revisão
dos pontos de vista presentes no primeiro membro, realizando dois processos:

a) la supresión de la relevância del miembro anterior y de sus posibles inferências; b)


la consideración de que tanto el estado de cosas referido como el contrario son indiferentes
para llegar a la conclusión expressada en el segmento reformulado” (2008:143).

Vejamos os exemplos (46)-(48), tentando comprovar a possibilidade de comutação entre


eles. Verificamos que essa comutação é possível em todos os casos apresentados.

(46) Mas esta situação não deixa margem para dúvidas de que a defesa europeia só será
comum a alguns dos Quinze, que terão, de todos os modos, ainda um longo caminho
a percorrer antes de conseguirem torná-la realidade. (CETEMPublico,
par=ext627251pol-95b-1)
(a) Mas esta situação não deixa margem para dúvidas de que a defesa europeia só será
comum a alguns dos Quinze, que terão, de todas as formas, ainda um longo caminho
a percorrer antes de conseguirem torná-la realidade.
(b) Mas esta situação não deixa margem para dúvidas de que a defesa europeia só será
comum a alguns dos Quinze, que terão, de todas as maneiras, ainda um longo caminho
a percorrer antes de conseguirem torná-la realidade.

(47) Guerra, de todas as formas, não pode deixar de ser olhado como um potencial
candidato para Durham (25 de Março): desde o início da época, em Outubro, que
venceu oito crosses, incluindo o de ontem, e o pior que lhe sucedeu foi ser segundo em
dois, o último dos quais a 18 de Dezembro! (CETEMPublico, par=ext1220222-
des95a-2)

53
(a) Guerra, de todos os modos, não pode deixar de ser olhado como um potencial
candidato para Durham (25 de Março): desde o início da época, em Outubro, que
venceu oito crosses, incluindo o de ontem, e o pior que lhe sucedeu foi ser segundo em
dois, o último dos quais a 18 de Dezembro!
(b) Guerra, de todas as maneiras, não pode deixar de ser olhado como um potencial
candidato para Durham (25 de Março): desde o início da época, em Outubro, que
venceu oito crosses, incluindo o de ontem, e o pior que lhe sucedeu foi ser segundo em
dois, o último dos quais a 18 de Dezembro!

(48) «Penso, de todas as maneiras, que 90m chegarão para a vitória em Barcelona."
(CETEMPublico, par=ext899587-des-92b-1)
(a) «Penso, de todos os modos, que 90m chegarão para a vitória em Barcelona."
(b) «Penso, de todas as formas, que 90m chegarão para a vitória em Barcelona."

Um outro exemplo de marcador de separação é en cualquier caso (em qualquer caso),


que, segundo Gómez (2008:146), “supone una revisión de las alternativas planteadas en el
segmento de referencia, tanto de las reales como de las virtuales, y de las inferencias derivadas
de ellas, porque no modifican la conclusión manifestada en el membro reformulado”. O
exemplo (49) ilustra esse valor.

(49) «Alguém que venha da imprensa, um jornalista profissional ou, em qualquer caso,
que conheça bem o que a imprensa necessita. (CETEMPublico, par=ext244388-soc-
92a-1)

O último marcador de separação tido em conta por Gómez é en todo caso (em todo o
caso), cuja função é a de diminuir a relevância ou até mesmo invalidar as informações presentes
no primeiro membro discursivo, como podemos verificar nos exemplos (50) e (51).

(50) Esta estrutura, integrada por especialistas de entidades públicas e de institutos de


investigação, seria a chave de um «regime de tutela rápido, simples e eficiente», mas,
em todo o caso, «transitório». (CETEMPublico, par=ext27066-soc-97b-1)
(51) Este esforço surtiu certos resultados, em todo o caso foi inglório. (CETEMPublico,
par=ext102069-eco-95b-1)

Resumindo todas estas noções relacionadas com os marcadores de distanciamento,


apresentamos o seguinte quadro:

54
Supressão da relevância do membro anterior e das suas
De todas as maneiras, de
possíveis inferências.
todos os modos, de todas as
Indiferença tanto a respeito do estado de coisas referidos
formas
Separação

como dos opostos para chegar a uma conclusão.


Revisão de alternativas anteriores que não se têm em conta
Em qualquer caso
pela maior relevância do membro reformulado.
Substituição do anterior por uma nova formulação.
Em todo o caso
Atenuação da força argumentativa do membro precedente.
Tabela 4: Valores semântico-discursivos de separação propostos por Gómez (2008:154)

Uma vez estudada a proposta de Gómez (2008) relativamente aos marcadores não
parafrásticos, passamos à análise da proposta de Zorraquino e Portóles (1999). Ao contrário de
Gómez (2008), Zorraquino e Portóles (1999) não admitem os marcadores de distanciamento
como um hiperónimo de outros tipos de marcadores. Aqui, o que iremos observar é que os
marcadores de distanciamento correspondem a um tipo de marcadores tal como os explicativos
e os retificativos. Além destes, consideram ainda um outro conjunto: os marcadores de
recapitulação, não integrando na sua proposta o conjunto rotulado de marcadores de
reconsideração. Assim, as diferenças verificadas são as seguintes: ao grupo de marcadores a
que Zorraquino e Portóles chamam de recapitulativos correspondem dois grupos de
marcadores na proposta de Gómez: os recapitulativos e os de reconsideração; os marcadores
de distanciamento de Zorraquino e Portóles são os marcadores de separação de Gómez.
Resumindo, os exemplos de marcadores não-parafrásticos que ambas as propostas consideram
são praticamente os mesmos, podendo ser inseridos em grupos de marcadores diferentes tendo
em conta as operações discursivas.

2.5. Marcadores de reformulação no Português


Vimos, na secção anterior, duas propostas de marcadores de reformulação para o
Espanhol, onde foram mencionados os dois grandes conjuntos de marcadores de reformulação
55
(parafrásticos e não parafrásticos) e os seus subgrupos. Além disso, identificamos os
marcadores que podem fazer parte destes subconjuntos, classificando-os e descrevendo-os
quanto às funções semântico-pragmáticas que podem desempenhar.
Uma vez que esta tese estuda um corpus do Português Europeu, importa conhecer o que
é dito acerca dos marcadores de reformulação desta variedade do Português. Há, normalmente,
duas tendências quanto ao estudo dos marcadores de reformulação: uma delas é estudar os
marcadores de reformulação no âmbito dos marcadores discursivos, fazendo parte de uma
descrição global; a outra é fazer uma descrição independente no âmbito da análise textual. O
que pretendemos em seguida é dar conta de alguns estudos para o português sobre os
marcadores de reformulação, não sendo, no entanto, uma análise exaustiva. A maioria dos
trabalhos que referenciamos são trabalhos cujo estudo incide sobre um ou mais marcadores
especificamente.
Dentro desta última orientação, Lopes (2014) faz uma descrição independente acerca dos
marcadores discursivos quer dizer, ou seja e isto é no Português Europeu Contemporâneo. A
autora estuda estes marcadores tendo em conta os valores que estes podem apresentar, entre
eles, o valor reformulativo. Estes marcadores não são assumidos como sendo apenas de
reformulação, sendo estudados em quatro valores diferentes: valor de reformulação, de
atenuador, de conclusão e de formulação. Lopes e Carapinha (2017) continuam no âmbito da
descrição independente, realizando um estudo sobre os marcadores discursivos por outras
palavras e digamos. O objetivo deste trabalho é verificar se estes marcadores discursivos são
marcadores de reformulação. Para tal, testam a comutabilidade com outros marcadores, os
aspetos sintáticos e os aspetos semântico-pragmáticos. Lopes e Carapinha concluem deste
estudo que estes marcadores discursivos são, efetivamente, marcadores de reformulação. León
e Duarte (2013), na linha das descrições independentes, estudam o marcador discursivo aliás,
contrastando o seu emprego no Português e no Espanhol. São dadas a conhecer todas as
funções relativas a este marcador no Português atual, onde se insere também a função de
reformulação. Acerca do mesmo marcador discursivo, Lopes (2015) também realiza um estudo
de descrição independente, analisando o marcador aliás, numa análise sincrónica e numa
análise histórica. Numa orientação distinta, Gonçalves e Valentim (2017) estudam a
reformulação em textos académicos e humorísticos, privilegiando a relação texto-enunciado.
Neste âmbito, focalizam o seu estudo nos marcadores de reformulação, considerando a sua
56
função e natureza linguística, utilizando para exemplificar os marcadores de reformulação quer
dizer e isto é.
Dentro de uma orientação de descrição global dos marcadores discursivos do Português,
destacamos o trabalho de Duarte (2003) que estudou os tipos de conexão e, contrariamente à
designação atual de reformulação, utiliza o termo Explicitação-Particularização, dando os
seguintes exemplos de conetores: especificamente, nomeadamente, isto é, ou seja, quer dizer,
por exemplo e em particular. Define a Explicitação-Particularização como um tipo de
conexão “caracterizada por o segundo membro conectado constituir uma paráfrase ou uma
exemplificação do primeiro” (2003:102). Dá ainda exemplos de outros marcadores que
consideramos atualmente como reformulativos. No entanto, Duarte (2003) insere-os no tipo de
conexão chamada Contraste Substitutivo: mais correctamente, mais precisamente, ou melhor,
e por outras palavras.

Lopes (2016) propõe uma tipologia de marcadores discursivos na qual distingue a


subclasse dos marcadores de reformulação dividindo-os em parafrásticos e corretivos. Neste
sentido, a sua proposta afasta-se de propostas anteriores, visto que não considera os marcadores
não parafrásticos como marcadores de reformulação e separa os marcadores corretivos dos
marcadores parafrásticos.
No caso dos marcadores parafrásticos, a autora afirma que a instrução dada por este
conjunto de marcadores é a de que devemos interpretar o enunciado encabeçado pelo marcador
como uma melhor formulação do que foi dito no primeiro segmento. Já os marcadores
corretivos exprimem precisamente uma correção ou retificação do anteriormente dito, tornando
mais válido o segundo segmento e, consequentemente, dando ao primeiro membro um caráter
provisório. Para o conjunto dos marcadores parafrásticos, Lopes (2016) enumera os seguintes:
ou seja, quer dizer, isto é, por outras palavras e noutros termos. Os marcadores corretivos são,
nesta proposta, os seguintes: ou melhor, ou antes, mais exatamente, mais corretamente, mais
precisamente e aliás.
Embora tomemos como ponto de partida esta autora, porque a sua proposta reúne o
conjunto de marcadores de reformulação tipicamente considerados para o Português e
apresenta uma análise muito rigorosa, a nossa orientação será parcialmente diferente, pois,

57
ao contrário de Lopes (2016), incluímos os marcadores com valor de correção no contexto
dos marcadores parafrásticos, na linha da proposta de Gómez (2008), entre outros autores.

Síntese

O capítulo 2 estuda a reformulação como um mecanismo de conexão, ou seja, de


textualização. Começamos este capítulo pela definição deste conceito e concluímos que, apesar
de muitas propostas de definição, todas se resumem essencialmente ao seguinte: a
reformulação é um processo que permite voltar sobre um membro discursivo anterior para o
apresentar de forma mais adequada de modo a garantir a total compreensão por parte do
interlocutor. Seguidamente, identificamos os dois grandes tipos de reformulação: parafrástica
e não parafrástica. Referimos ainda os mecanismos de reformulação dos quais destacamos os
marcadores de reformulação, passando também à sua descrição. Foram ainda analisados os
movimentos de reformulação e, finalmente, os marcadores e processos de reformulação, onde
são indicados os marcadores e os valores semântico-discursivos que podem apresentar. Como
base teórica para estudar os marcadores de reformulação e os valores semântico-discursivos
utilizamos as propostas de Zorraquino e Portóles (1999) e de Gómez (2008). Além disso, foram
referidos alguns estudos de marcadores de reformulação para o Português, tendo em conta duas
tendências de análise: uma que estuda os marcadores de reformulação no âmbito dos
marcadores discursivos e outra que estuda os marcadores de reformulação no âmbito da análise
textual.

58
Capítulo 3 - O estudo
3.1. Descrição do corpus
Os artigos recolhidos para este trabalho pertencem a três áreas das Ciências Sociais e
Humanas, sendo elas a Filosofia, a História e a Linguística. Foram recolhidos artigos de duas
revistas diferentes (em formato online) para cada área e, por isso, temos para análise artigos de
duas revistas da área de História, duas revistas de Linguística e duas revistas da área de
Filosofia.
O corpus apresenta um total de 90 artigos científicos, tendo sido, portanto, extraídos 15
artigos de cada revista. Relativamente às revistas científicas escolhidas, a sua seleção teve em
conta a existência de um número suficiente de artigos científicos em Português Europeu entre
os anos de 2008 e 2018. Assim sendo, para a área de História foram selecionadas a Revista da
Faculdade de Letras – História, da Universidade do Porto, e a Revista Portuguesa de História,
da Universidade de Coimbra. No caso de Filosofia, selecionaram-se as revistas pertencentes às
Universidades anteriormente referidas, ou seja, utilizaram-se para análise artigos da Revista da
Faculdade de Letras – Filosofia, da Universidade do Porto, e a Revista Filosófica de Coimbra.
Finalmente, os artigos de Linguística foram extraídos da Revista de Estudos Linguísticos da
Universidade do Porto e da revista Estudos Linguísticos, do Centro de Linguística da
Universidade Nova de Lisboa.
Depois de feita a seleção dos artigos de cada revista, estes foram inseridos na ferramenta
de análise Corpógrafo, que nos permitiu, além de outras coisas, fazer a contagem do número
de tokens de cada artigo para mais tarde termos as médias por revista. Assim, as médias de
tokens para cada revista são as seguintes: o conjunto de artigos da revista de Filosofia da
Faculdade de Letras da Universidade do Porto apresenta uma média de 10131,933 tokens e a
revista da Universidade de Coimbra da mesma área apresenta a média de 13776,13. No caso
de História, o conjunto pertencente à revista de História da Faculdade de Letras da
Universidade do Porto perfaz uma média de 10604,466 de tokens e na revista da Universidade
de Coimbra uma média de 10174,733 tokens. Finalmente, nas revistas de Linguística, a do
Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa apresenta uma média de 7925,8 tokens
e a da Faculdade de Letras apresenta uma média de 10126,666 tokens.

59
3.2. Metodologia de análise
Antes de analisarmos os marcadores de reformulação, começamos este estudo analisando
o plano de texto dos artigos em questão. Para tal, utilizamos a proposta de Marconi e Lakatos
(2001) e elaboraram-se tabelas para que nos fosse possível compreender de que forma o plano
de texto dos artigos do corpus concordavam com a proposta referida.
Seguidamente e depois de analisadas as tabelas decidimos analisar apenas o corpo do
texto e, dentro deste, a introdução e a conclusão. O que motivou esta seleção foi o facto de
haver uma variação considerável na presença ou ausência de designações que delimitassem
estas secções do texto propriamente dito, uma vez que são, normalmente, considerados
constituintes fundamentais na elaboração de um artigo científico. Fez-se uma análise
quantitativa do número de introduções e conclusões com as designações habituais, com outras
designações e até mesmo sem qualquer designação. Tentamos assim verificar de que forma
seria ainda possível delimitar estas secções (quando não designadas) através de pistas dadas
pelos autores na superfície textual.
Passando para a análise da reformulação, começamos por inserir os 90 artigos que
constituem o corpus na ferramenta Corpógrafo. A seguir, fizemos uma listagem de marcadores
de reformulação, tendo em conta os marcadores considerados por Lopes (2016) aos quais
adicionamos outros exemplos de marcadores. Seguiu-se uma análise quantitativa dos tokens
selecionados, o que nos possibilitou observar que a sua totalidade no corpus era de 740
ocorrências (cf. Tabela 5).

60
Corpus

Marcador FIL-FLUP FIL-UC HIST-FLUP HIST-UC LING-CLUNL LING-FLUP Total


Ou seja 82 76 22 24 35 52 291
Quer dizer 28 29 5 1 0 3 66
Isto é 66 62 15 20 19 27 209
Noutros termos 1 0 0 0 0 1 2
Aliás 27 32 10 9 8 4 90
Ou melhor 1 7 0 1 2 7 18
Ou antes 0 2 0 0 1 1 4
Mais exatamente 0 0 0 0 0 0 0
Mais exactamente 2 0 0 0 0 0 2
Mais corretamente 0 0 0 0 0 0 0
Mais precisamente 1 5 0 1 1 1 9
Por outras palavras 16 5 1 3 2 13 40
Digamos 5 1 0 0 0 1 7
Melhor dizendo 0 1 0 0 0 1 2
Mais 0 0 0 0 0 0 0
correctamente
Total de 229 220 53 59 68 111 740
tokens/corpus
Tabela 5: Contagem inicial obtida no Corpógrafo

Na sequência destes resultados, fizemos uma anotação manual no sentido de verificar


quais eram, de facto, os contextos em que estes tokens ocorriam como marcadores de
reformulação. O resultado, que pode ser observado na tabela 5, evidencia a existência de
muitos contextos em que não estamos perante marcadores de reformulação no sentido em que
os assumimos neste trabalho. A título de exemplo, vejamos os enunciados (52)-(54), em que
claramente quer pela construção sintática no caso dos dois primeiros exemplos, quer pelo valor
semântico-discursivo, se verifica a sua exclusão dos marcadores em análise.

(52) Isto quer dizer que os computadores foram inventados para resolver um problema de
metamatemática, ou de losoa da matemática, mas deixemos agora de lado esse aspecto.
(02-F-FLUP)
(53) Isto é sempre ilustrado por um exemplo. (06-F-FLUP)

61
(54) Este assunto é, aliás, interessante contrastivamente no par de línguas português-
norueguês. (12-L-FLUP)

Neste estudo, vamos concentrar-nos nos marcadores que têm uma frequência superior a
10 ocorrências, apenas fazendo uma referência global àqueles que apresentam uma frequência
inferior.
Assim, a nossa análise centra-se nos seguintes marcadores de reformulação: ou seja, isto
é, quer dizer, aliás, por outras palavras e ou melhor. Não serão objeto de análise os marcadores
noutros termos, ou antes, mais exa(c)tamente, mais corre(c)tamente, mais precisamente,
digamos e melhor dizendo. Na sua maioria, trata-se de marcadores de retificação que podem
exprimir explicitamente essa orientação como é o caso de mais corre(c)tamente, melhor
dizendo, ou de forma mais implícita aproximando-se de um sentido de precisão, como é o caso
de mais precisamente e mais exa(c)tamente.
No final deste trabalho, obtivemos a lista de marcadores de reformulação que se
apresenta na tabela 6.

Ou seja Quer dizer Isto é Por outras Ou melhor Aliás Total de


palavras ocorrências

260 49 191 37 18 11 566


Tabela 6: Número de ocorrências dos tokens com valor de marcador de reformulação.

Finalmente, fizemos uma análise qualitativa das 566 ocorrências para determinar o valor
semântico-discursivo presente em cada uma.

3.3. Análise dos dados


3.3.1. Descrição do plano de texto

Vimos anteriormente que são vários os estudos que incidem sobre o plano de texto do
género artigo científico, na sua globalidade ou em partes específicas. Embora as propostas não
sejam todas exatamente iguais, há entre elas semelhanças óbvias. As propostas referidas
anteriormente neste estudo foram a de Swales (1990) e a de Marconi e Lakatos (2001). Muitas

62
das tipologias relativas ao plano de texto do artigo científico remetem sobretudo para aquilo
que Marconi e Lakatos chamam de corpo do texto, acabando muitas vezes por não dar
importância aos elementos pré e pós textuais. Assim, a tipologia que será utilizada para analisar
o corpus deste estudo será a de Marconi e Lakatos (2001), porque faz uma divisão do plano de
texto bastante completa e consegue condensar todas estas subseções nos três grandes
constituintes de um artigo científico: os preliminares, o corpo do texto e a parte referencial.
Relembremos brevemente esta proposta: na parte relativa aos preliminares inserem-se o título
do artigo, o nome do(s) autor(es) e respetivas credenciais e a sinopse ou resumo. A secção do
corpo do texto inclui a introdução, o texto e a conclusão. Finalmente, a parte referencial
apresenta-se dividida em bibliografia, anexos, agradecimentos e data. Apresentar-se-ão, em
seguida, os resultados obtidos relativos à presença de todos estes constituintes no conjunto dos
90 artigos que constituem o corpus deste estudo. Os três gráficos que serão apresentados
referem-se a cada uma das três grandes partes do artigo científico.
Em primeiro lugar, o gráfico 1 é relativo à secção denominada de Preliminares, onde é
possível verificar a quantidade de artigos por revista que apresentam no seu plano de texto as
respetivas subsecções:

Preliminares

L-FLUP

L-CLUNL

H-UC

H-FLUP

F-UC

F-FLUP

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Sinopse Credenciais Nome(s) do(s) autor(es) Título

Gráfico 1: Número de artigos por revista com as subsecções dos preliminares.

63
Em seguida, poderemos ver de que forma se manifestam as subsecções da introdução,
texto e conclusão, na totalidade de artigos por revista:

Corpo do texto

L-FLUP

L-CLUNL

H-UC

H-FLUP

F-UC

F-FLUP

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Conclusão Texto Introdução

Gráfico 2: Número de artigos por revista com as subsecções do corpo do texto.

Finalmente, procedeu-se à mesma análise para a parte referencial dos artigos científicos
e os resultados foram os seguintes:

64
Parte referencial

L-FLUP

L-CLUNL

H-UC

H-FLUP

F-UC

F-FLUP

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Data Agradecimentos Anexos Bibliografia

Gráfico 3: Número de artigos por revista com as subsecções da parte referencial.

No gráfico 1, relativo aos Preliminares, podemos ver que a identificação do autor e o


título do artigo são obrigatórios enquanto os outros dois elementos (sinopse e credenciais)
surgem na maioria dos artigos. No Corpo do texto, verificamos que são as revistas de
Linguística que apresentam uma maior frequência de introdução e conclusão (seja com a
designação habitual ou com outra designação). Mais uma vez, se pensarmos que a proposta
IMRDC especifica que haja uma introdução e uma conclusão, podemos reforçar o facto de os
artigos de Linguística se inserirem provavelmente nesta proposta, uma vez que é quase total a
presença destas secções. Finalmente, na parte referencial, podemos verificar que não existem
agradecimentos e os anexos surgem muito raramente, ao contrário da data e da bibliografia4,
cuja ocorrência é quase total.

Podemos admitir que a parte central de um texto (seja ele de que género textual for) é a
parte onde está inserido precisamente o texto propriamente dito. Assim, a centralidade do
artigo científico poderia residir no Corpo do texto, com as suas subdivisões incluídas. O que
seria de esperar de um artigo científico - e tendo em conta aquilo que as propostas apresentam
– é que estes apresentem uma introdução e uma conclusão, considerando a importância que é

4
Em algumas revistas, a bibliografia surge em nota de rodapé e não no final do artigo.
65
dada as estas subsecções. Ou seja, seria de esperar que todos os quinze artigos de cada uma
das seis revistas exibissem uma introdução e uma conclusão. Porém, o mesmo não se verifica.
De facto, não é nesta parte do artigo que se verifica maior discrepância, por exemplo, é visível
uma grande variação quanto à presença de determinadas subpartes no conjunto relativo à parte
referencial. O que acontece é que esta última parte do artigo é composta por elementos que são
de facto dispensáveis, como é o caso dos anexos. Assim, tendo em conta a relevância que
apresentam no artigo científico, analisaremos com mais precisão as subsecções Introdução e
Conclusão.

Durante a análise do corpus verificaram-se três situações relativas à introdução e


conclusão dos artigos científicos: em alguns casos surgem intitulados como “Introdução” e
“Conclusão” (ou “considerações finais”), noutros casos eram denominados de forma
totalmente distinta e nos restantes casos não eram de todo designados. Poder-se-ão ver estes
factos na tabela 7:

Secção Introdutória Secção Conclusiva


Com Com outra Sem Com Com outra Sem
Revistas designação designação designação designação designação designação
de de
“Introdução” “Conclusão”
F-FLUP 2 5 8 4 1 10

F-UC 2 9 4 3 4 8

H-FLUP 9 4 2 6 3 6

H-UC 5 2 8 5 3 7

L-CLUNL 13 1 1 12 1 2

L-FLUP 9 6 0 10 4 1

Total 40 27 23 40 16 34
Tabela 7: Número de artigos por revista com a designação “Introdução” com outra designação ou
sem designação.

O que pretendemos verificar na tabela 7 é a quantidade de artigos por revista que


apresentam as designações habituais (Introdução e Conclusão), designações distintas e artigos
que não apresentam qualquer designação. Em termos gerais, verificamos que existem em maior
66
número artigos que utilizam as designações “Introdução” e “Conclusão”. Apesar de surgirem
exatamente com o mesmo número, não há uma relação direta entre os números da Introdução
e da Conclusão de cada revista. Isto é, os 40 artigos que apresentam a designação “Introdução”
não são exatamente os mesmos 40 que apresentam a designação “Conclusão”, apesar de os
números serem próximos. Destes 40 artigos, mais uma vez verificamos que a sua maioria são
artigos de ambas as revistas de Linguística. Tendo agora em conta os resultados por revista,
podemos verificar que a Revista de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto
apresenta um maior número de artigos que não designa a parte introdutória e a parte conclusiva;
a Revista Filosófica de Coimbra apresenta mais vezes a Introdução com uma designação
distinta e, contrariamente, apresenta mais vezes a conclusão sem qualquer tipo de designação;
a Revista de História da Faculdade de Letras da Universidade do Porto apresenta mais vezes a
introdução com a sua designação habitual e no caso da conclusão, há um equilíbrio entre
conclusões com a designação habitual e sem qualquer designação; a Revista Portuguesa de
História apresenta maioritariamente artigos que não designam as secções de introdução e
conclusão. Por último, as duas revistas de Linguística apresentam maioritariamente artigos
com as designações habituais, tanto para a introdução como para a conclusão.
Tendo em conta estes resultados, pretende-se verificar duas coisas: a primeira é analisar
que tipo de denominações são utilizadas para designar a introdução e a conclusão de um artigo
e, a segunda é, tendo em conta os casos em que estas duas subsecções são designadas de forma
distinta ou até mesmo não designadas, de que forma as podemos identificar no artigo científico,
ou seja, que tipo de pistas podem ser dadas pelo autor do artigo que nos demonstrem que se
trata da introdução ou conclusão.
A Introdução dos artigos científicos conta já com alguns estudos onde são propostos
modelos de análise como é o caso do modelo de Zappen (1983) 5 intitulado de “A
problemsolution modelo of article introductions”, ou o modelo de Swales (1990) – CARS –
Create a Reasearch Space. No entanto, há quem, apesar de não realizar um estudo tão
aprofundado como estes últimos, teça algumas considerações sobre a Introdução.
Marconi e Lakatos (2001) quando elencam as partes constituintes do plano de texto de
um artigo científico fazem uma breve descrição dessas partes. Assim, sobre a Introdução as

5
Ambos os modelos são analisados em Swales (1990).
67
autoras referem aquilo que deve estar na sua constituição: algumas informações sobre o assunto
abordado no artigo, o objetivo, a metodologia utilizada, entre outras coisas, como o facto de
terem havido ou não limitações. Silva e Santos (2015:328) admitem que “Os textos do género
Introdução servem globalmente para enquadrar a investigação realizada, apresentando
conteúdos-chave, para que o leitor situe, desde o início, o âmbito e o objeto da investigação”.
Referindo muito sucintamente as propostas de Zappen (1983) e de Swales (1990) (in
Swales, 1990), a primeira (“Problem-solution model”) afirma que a Introdução deve conter o
objetivo do estudo, qual é o problema e a respetiva solução e os critérios de avaliação
utilizados. Quanto ao modelo CARS, de Swales (1990), este refere que a Introdução deve
conter tópicos gerais sobre o assunto tratado, pesquisas anteriores, ou seja, o estado da arte,
indicar o problema que está a ser estudado, os objetivos, as descobertas e a estrutura de todo o
artigo científico.
Como é possível verificar, todas as propostas diferem entre si, no entanto, há elementos
que são comuns, o que nos leva a crer que são de certa forma obrigatórios numa Introdução,
sobretudo o objetivo do estudo e algumas informações sobre o tema abordado.
Em primeiro lugar, como já foi dito, iremos dar conta de algumas designações utilizadas
para a Introdução dos artigos que constituem o nosso corpus. Ao analisar todas as partes
introdutórias, surgiram casos em que estas podem designar-se apenas com o cardinal “1”,
dando a ideia de que é a primeira parte do artigo e que, por isso, se relaciona com a introdução
(Ex.: 10-F-FLUP, 08-F-UC, 12-H-UC). Surgiram ainda designações que de certa forma
remetem para a Introdução, como é o caso de “Preâmbulo” (07-F-UC), “Introdução –
Problemática e objectivo de pesquisa” (07-H-FLUP) ou ainda “1. Primeiras opções: objecto de
estudo, tempo, espaço” (15-H-FLUP). Além destas ocorrências, surgem casos em que a
introdução não tem qualquer tipo de designação, o que torna mais complexa a sua identificação.
Destas últimas ocorrências referidas, naquelas em que a introdução não está intitulada é
possível identificá-la através de várias pistas, que podemos verificar nos exemplos (55)-(59):

(55) Vamos procurar, neste texto, ganhar uma perspectiva sobre essas possibilidades abertas
pelas Ciências do Artificial, enquadrando-as numa reflexão mais vasta sobre as
relações entre sociedade e natureza. (02-F-FLUP)
(56) No nosso artigo centrar-nos-emos na análise destas duas objecções, mostrando que
ambas desvalorizam importantes aspectos não apenas da natureza da justiça como
68
equidade, mas também a complexidade da conceptualização da família no pensamento
de Rawls. (05-F-UC)
(57) Sendo assim — e porque talvez o maior tributo que se possa prestar a um teórico seja
o de nos interessarmos pelas suas investigações — um conjunto de reflexões sobre, e a
partir, da definição apresentada poderá ajudar a aprofundá-la, a clarificá-la e a
explicitar: a) Que tarefas descritivas poderão ser levadas a cabo por um analista da
argumentação e como é que elas se ligam com a questão crítica da avaliação dos
argumentos? b) Que procedimentos metodológicos poderão servir de base a uma
didáctica da argumentação? É esse o objectivo deste artigo, no qual procuro ir ao
encontro da importância que Plantin atribui à necessidade de «destacar um conjunto
sistemático de conceitos que permitam o estudo da argumentação no diálogo e no
discurso»
(58) Destaquem-se, pois, nesse sentido, os trabalhos de E. E. Evans-Pritchard, Raymond
Firth ou S. N. Eisenstadt, que chamaram a atenção para a importância dos gestos
externos e dos aspetos visíveis da conduta (…). (06-H-FLUP)
(59) Partindo da assunção basilar em Análise do Discurso de que esta é uma área dispersa
(…) propomos-nos, neste trabalho, analisar os manifestos eleitorais dos dois principais
candidatos às eleições presidenciais portuguesas de janeiro de 2011: Cavaco Silva e
Manuel Alegre. (10-L-CLUNL)

Nestes exemplos, é possível identificar a introdução (quando esta não está designada)
tendo por base aquilo que sabemos que é necessário constar numa introdução. Assim, vemos
exemplos onde a introdução pode ser identificada através da presença do objetivo do estudo,
nas questões que conduzirão o estudo e até na referência a estudos anteriores sobre o mesmo
tema. Vejamos agora um exemplo de uma introdução não intitulada, tentando identificar de
que forma é composta:

69
Neste artigo analisamos as causas do êxodo das minorias brancas das duas
principais colónias portuguesas em África, ou seja, Angola e moçambique. O nosso
objetivo é compreender o contexto histórico e político que enformou o êxodo dessas
populações e, muito especialmente, demonstrar as razões que determinaram a fuga de
cerca de meio milhão de colonos brancos para a ainda metrópole durante a descolonização.
Para o efeito, colocamos em perspetiva os processos de implosão das sociedades coloniais
brancas da África Portuguesa, tendo em consideração o papel de vários agentes político -
militares, nomeadamente do Estado Português, do movimento das Forças Armadas
(mFA), das guerrilhas africanas e dos movimentos políticos formados por brancos. Em
termos cronológicos, focamos fundamentalmente o biénio relativo à derrocada do Império
colonial, ou seja 1974/1975, ainda que o êxodo se tenha prolongado – mas de forma muito
menos intensa – até ao final da década de 1970, em particular no caso de moçambique.
Por sua vez, convém desde já salientar que o êxodo das minorias brancas das colónias
portuguesas permanece um assunto pouco estudado, inclusivamente pelos historiadores
que se debruçaram sobre a descolonização portuguesa, sendo na maior parte das vezes
objeto de um exame sucinto e pouco problematizador dos factos históricos. A este respeito,
constituem exceções os trabalhos pioneiros de Rita- Ferreira, sobre o caso moçambicano,
e de Rui Pena Pires, cuja análise é essencialmente de cariz sociográfico. Falta, contudo,
uma obra de carácter estrutural sobre o tema e que aborde a questão numa perspetiva
comparada. De facto, o êxodo das minorias brancas deve ser entendido no contexto mais
lato do fim dos Impérios coloniais europeus após 1945 (…). (03-H-UC)

Neste exemplo retirado do corpus é possível verificar que se pode identificar esta
introdução não intitulada através da presença de determinadas características. Como vimos, na
primeira parte, é possível identificar o objetivo do estudo, seguidamente é referida a
metodologia adotada para a realização do estudo e fazem-se ainda referências a trabalhos
anteriores relacionados com o tema, ou seja, o seu estado da arte.

Passando agora à análise da secção conclusiva, esta é também referida em Swales (1990)
onde se admite que a conclusão deve apresentar, entre outras coisas, informações sobre os
resultados, resultados que não eram previsíveis, referência a trabalhos anteriores, explicações
e recomendações para trabalhos futuros.
70
Vimos, na tabela 7, que, tal como na introdução, há casos em que os artigos apresentam
a designação “Conclusão”, há casos em que apresentam uma designação diferente e há casos
em que não há qualquer tipo de designação. Relativamente aos casos em que surge com uma
designação diferente, relembramos que, nestes casos, não aparece o rótulo “conclusão”, mas o
que aparece em seu lugar remete-nos para uma conclusão. São exemplos disso, o título
conclusivo “Notas conclusivas: Europa lida em voz alta” (01-F-UC), “Epílogo” (07-F-UC),
“Nota final” (02-H-FLUP), “Em síntese” (01-H-UC), “Reflexão final” (15-L-CLUNL) ou
ainda “Considerações finais com uma breve referência aos mediadores” (06-L-FLUP).
Analisaremos, agora, para os artigos cuja conclusão não está designada, de que forma a
podemos identificar.

(60) O que quisemos com este texto foi mobilizar a questão do totemismo para tentar ver
mais fundo nas formas concretas de participação cruzada entre o mundo dos humanos
e o mundo das máquinas. Para isso fizemos uma viagem por experiências e ideias que
concebem um computador composto por elementos humanos (…) (02-F-FLUP)
(61) Concluamos. (15-F-UC)
(62) Em síntese: Realmente as ideias não têm tempo nem espaço. As boas acabam sempre
por vingar, por ser retomadas, por saírem do esquecimento. Não podemos é transformar
a sua aplicação ou ressurreição numa novidade porque elas não são órfãs e
geneticamente não pertencem apenas ao nosso tempo. (04-H-FLUP)
(63) Por tudo isto, parece-nos que a problemática abordada ao longo destas páginas merece
algumas reflexões. (07-H-UC)
(64) Foram estes aspetos que, através de uma abordagem enquadrada pela Análise
linguística do Discurso, julgámos ter ajudado a desconstruir nos manifestos eleitorais
dos dois principais candidatos presidenciais de 2011. (10-L-CLUNL)
(65) Deseja-se que futuras investigações permitam: (i) continuar a testar o efeito
(des)promotor da interface fonologia / morfologia na aquisição; (ii) avaliar a forma
como as crianças adquirem os processos fonológicos que integram as suas
gramáticasalvo; (iii) contribuir com evidência empírica decorrente da aquisição das
variantes alofónicas e alomórficas do input para a discussão do modo como as crianças
constroem as suas representações fonológicas durante o processo de desenvolvimento
linguístico; (iv) exportar, para os domínios clínico e educacional, informação cada vez
mais detalhada sobre o desenvolvimento fonológico infantil, no sentido de promover o
potencial dos instrumentos de avaliação linguística e a eficácia das estratégias de
intervenção clínica e educacional. (14-L-FLUP)

Como é possível observar nos exemplos (60)-(65), mesmo que a conclusão não esteja
devidamente identificada no plano de texto do artigo, é possível ainda assim delimitá-la.

71
Deste modo, é possível ver um resumo do que se pretendeu realizar durante o estudo,
expressões como “Concluamos” e “Em síntese”, tipicamente conclusivas, e ainda
recomendações para trabalhos futuros.

3.3.2. Contributo dos marcadores de reformulação para a textualização do artigo científico

Nas tipologias analisadas neste trabalho relativas aos marcadores de reformulação é


possível ver que este conjunto é composto por um número bastante significativo de
marcadores. Assim, numa primeira contagem6 (ver Tabela 5) dos marcadores de reformulação,
foram tidos em conta os mencionados por Lopes (2016) e foram ainda adicionados outros
marcadores para completar esta pesquisa. Com isto, os marcadores que foram sujeitos a
contagens foram: ou seja, quer dizer, isto é, noutros termos, aliás, ou melhor, ou antes, mais
exatamente, mais exactamente, mais corretamente, mais correctamente, mais precisamente,
por outras palavras, digamos e melhor dizendo.
No entanto, para elaborar um corpus que permitisse um estudo mais rigoroso, optamos
por selecionar para análise apenas os marcadores que perfizessem um total superior a 10
ocorrências. Deste modo, os marcadores que serão, de facto, analisados neste estudo são: ou
seja, quer dizer, isto é, aliás, ou melhor e por outras palavras.
De seguida, dar-se-ão informações mais específicas acerca dos seis marcadores em
questão, tendo em conta a sua posição sintática, a sua composição e ainda a comutabilidade
existente entre eles. Em relação a este último aspeto, teremos nesta análise inicial apenas em
consideração os valores semântico-discursivos básicos associados aos diferentes marcadores,
cabendo a sua especificação mais pormenorizada na análise proposta na secção seguinte.

3.3.2.1. Contexto sintático em que surgem os marcadores de reformulação

O gráfico 4 dá-nos informações relativamente à posição sintática em que cada marcador


de reformulação em análise pode ocorrer.7 A posição sintática é analisada em relação ao S2.

6
Esta contagem não é filtrada, isto é, os dados que compõem a tabela são fornecidos pela ferramenta
Corpógrafo e, por isso, estão incluídas ocorrências em que os marcadores são reformuladores e outras em que
não são.
7
O facto de o nosso corpus não apresentar maior variabilidade na mobilidade dos marcadores não implica que
ela não exista, como, a título de exemplo, mostramos com o marcador quer dizer:
72
Posição sintática dos marcadores de reformulação no total do
corpus (%)

Por outras palavras

Aliás

Ou melhor

Isto é

Quer dizer

Ou seja

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Final Medial Inicial

Gráfico 4: Percentagem de ocorrências relativa à posição sintática dos marcadores de reformulação


parafrástica.

Podemos comprovar estes resultados nos exemplos (66)-(76):

Marcador de reformulação parafrástica em posição inicial:

(66) Quando falamos dos deveres jurídicos, falamos de uma legislação externa, ou seja, de
uma coacção alheia. (03-F-FLUP)
(67) A dialética foi compreendida em termos clássicos como lógica racional, arte de
raciocinar, ou melhor, a arte de debater. (13-F-UC)
(68) A consciência moral surge como um tribunal interno, ao qual não conseguimos escapar,
mesmo que tentemos «lançar poeira nos próprios olhos». Por outras palavras, a
consciência é a lei em nós; daí a sua extrema relevância. (03-F-FLUP)
(69) Uma política atenta e aberta ao que a excede e lhe dita reinvenção e «à sua própria
«impossibilidade», quer dizer, a uma realidade de direito infinita amor, arte, justiça,
pensamento». (01-F-UC)

Desempenha, quer dizer. (CETEMPúblico, par=ext308036-pol-94a-1)


Este dado é importante, na medida em que a mobilidade dos marcadores é um teste comumente usado para
comprovar a sua gramaticalização, uma característica central na definição destes marcadores discursivos.

73
(70) A ideia de uma justiça penal divina é aqui personificada; quem a exerce não é um ser
particular que julga (…), mas a justiça como substância (aliás, denominada justiça
eterna)». (12-F-FLUP)
(71) Estas formas foram usadas também em gestos combinados, isto é, gestos que
simultaneamente apontam e representam/ilustram caraterísticas semânticas do
conteúdo dos enunciados. (08-L-FLUP)

Os exemplos que acabamos de verificar respeitam o seguinte esquema:

<Segmento1> MRP <Segmento2>

Tal como foi dito, temos casos em que o marcador de reformulação surge integrado no
segmento 2, ou seja, numa posição medial:

(72) Assim, e ainda na esteira de Wood, poder-se-á considerar que, conferir ao princípio da
moralidade prioridade motivacional relativamente ao princípio da nossa felicidade
própria, «não é excluir a possibilidade de agir de modo a que conduza largamente à
nossa felicidade própria. A visão de Kant, por outras palavras, é que não devemos
deixar que o princípio da nossa felicidade própria nos motive em qualquer situação em
que a lei moral não seja tida em linha de conta». (01-F-FLUP)
(73) Depois da enunciação da questão filosófica relativa à dificuldade de pensar e dizer o
amor, e depois de referido o atraso irredutível e operativo da filosofia relativamente à
matinalidade do amor, façamos agora uma pausa para um breve desvio - iremos aliás
aqui de desvio em desvio... (02-F-UC)
(74) Carlos Pires, por sua vez, afirma que “até ao momento jamais foi provada uma tal causa
biológica para os diversos tipos de depressão. As poucas exceções, isto é, em que existe
um determinante biológico para a depressão, são justamente aquelas que resultam da
toma prolongada de algumas medicações psicotrópicas, nomeadamente as
benzodiazepinas. (13-F-UC)

Se tentarmos esquematizar a relação entre os segmentos discursivos e o marcador de


reformulação, obtemos um esquema como o seguinte:

<Segmento 1> <Segmento [MRP] 2>

Como foi referido, das contagens iniciais realizadas com os marcadores de reformulação
parafrástica, apenas uma parte delas foi analisada, ou seja, aquelas em que os marcadores em
análise surgiam com a sua função de marcador de reformulação parafrástica. Daqui é-nos
74
permitido inferir que as outras ocorrências dizem respeito a outros valores que não são aqui
considerados, mas que podemos exemplificar como forma de comprovar a sua ocorrência no
corpus. Um desses valores é, por exemplo, o valor de conclusão:

(75) Para tal, será analisada à luz deste instrumento a articulação entre unidades verbais e
não verbais (espaços brancos, manchas negras) ao nível do plano de texto, em dois
géneros: a poesia visual e a escrita fragmentária; ou seja, ambas as unidades são
consideradas unidades textuais e a interacção entre elas constrói o conteúdo temático.
(03-L-CLUNL)
(76) Por fim, refira‑se que, concomitante ao êxodo dos brancos, ocorreu a fuga de um
número significativo de mestiços e de africanos de origem indiana, bem como de alguns
negros, que optaram por viver na metrópole. Isto é, nem todos os deslocados eram
brancos. (03-H-UC)

3.3.2.1.1. Ou seja

O marcador de reformulação “ou seja” é estudado por Lopes (2014). No que respeita à
sua composição, este marcador é formado através da junção da conjunção disjuntiva “ou” e
pelo verbo ser na 3ª pessoa do presente do conjuntivo. Os valores semântico-discursivos
ditados por este marcador podem ser os de conclusão, formulação e reformulação. Mais uma
vez, basear-nos-emos neste último valor. Tal como o marcador quer dizer, ou seja também se
apresenta totalmente gramaticalizado, uma vez que, segundo Lopes (2014), esta expressão
funciona como uma única entrada lexical, além de que também não admite flexão:

(77) No caso das caves, o espaço longitudinal é o significante cujo significado é a função
que este torna possível, ou seja, tem um sentido prático e funcional, que é a
optimização do esquema distributivo das filas de pipas e corredores, chamados lotes.
(02-H-FLUP)
(a) *No caso das caves, o espaço longitudinal é o significante cujo significado é a função
que este torna possível, ou sejam, tem um sentido prático e funcional, que é a
optimização do esquema distributivo das filas de pipas e corredores, chamados lotes.

Relativamente à sua função como marcador de reformulação, ou seja tem como


objetivos semântico-discursivos tornar os enunciados mais precisos e as informações mais
claras. Vejamos agora de que forma este marcador se relaciona com os restantes marcadores
de reformulação em estudo, verificando se é possível comutá-lo com marcadores como quer
75
dizer, isto é, por outras palavras, ou melhor e aliás. Para isso, manipulamos o mesmo
exemplo (77):

(b) No caso das caves, o espaço longitudinal é o significante cujo significado é a função
que este torna possível, quer dizer, tem um sentido prático e funcional, que é a
optimização do esquema distributivo das filas de pipas e corredores, chamados lotes.
(c) No caso das caves, o espaço longitudinal é o significante cujo significado é a função
que este torna possível, isto é, tem um sentido prático e funcional, que é a optimização
do esquema distributivo das filas de pipas e corredores, chamados lotes.
(d) No caso das caves, o espaço longitudinal é o significante cujo significado é a função
que este torna possível, por outras palavras, tem um sentido prático e funcional, que
é a optimização do esquema distributivo das filas de pipas e corredores, chamados
lotes.
(e) ?No caso das caves, o espaço longitudinal é o significante cujo significado é a função
que este torna possível, ou melhor, tem um sentido prático e funcional, que é a
optimização do esquema distributivo das filas de pipas e corredores, chamados lotes.
(f) ? No caso das caves, o espaço longitudinal é o significante cujo significado é a função
que este torna possível, aliás, tem um sentido prático e funcional, que é a optimização
do esquema distributivo das filas de pipas e corredores, chamados lotes.

No que se refere aos 3 primeiros, consideramos que a comutação pode acontecer


mantendo-se o valor básico semântico-discursivo que é o de explicação. Em contrapartida, nos
exemplos (e) e (f), a comutação altera esse valor básico introduzindo-lhe um traço de correção
pelo que a comutação não nos parece aceitável.

3.3.2.1.2 Quer dizer

O marcador de reformulação quer dizer também é estudado por Lopes (2014) quanto à
sua composição e aos seus valores. Em primeiro lugar, importa compreender de que forma este
marcador discursivo é composto. Assim, quer dizer constrói-se a partir da junção de duas
formas verbais: primeiramente, o verbo querer, na 3ª pessoa do singular do presente do
indicativo e depois o verbo dizer no modo infinitivo. Esta união de duas formas verbais, através
de um processo de gramaticalização, passa a constituir uma combinatória fixa. Esta
característica é visível pelo facto de a forma quer dizer não admitir flexão ou complementação,
como poderemos ver a seguir:

76
(78) Esta admissão não parece pôr em causa a tese aristotélica de que a alma nasce
desprovida de quaisquer espécies, quer dizer, que o intelecto passivo, sob a
perspectiva gnoseológica, é originariamente (ex sua primaeua origini) pura potência.
(07-F-UC)
(a) * Esta admissão não parece pôr em causa a tese aristotélica de que a alma nasce
desprovida de quaisquer espécies, querem dizer, que o intelecto passivo, sob a
perspectiva gnoseológica, é originariamente (ex sua primaeua origini) pura potência
(b) * Esta admissão não parece pôr em causa a tese aristotélica de que a alma nasce
desprovida de quaisquer espécies, quer dizer que o intelecto passivo, sob a perspectiva
gnoseológica, é originariamente (ex sua primaeua origini) pura potência.

Relativamente ao significado deste marcador discursivo, as formas de origem a partir das


quais é construído apresentam uma relação bastante evidente com a sua função pragmática. No
estudo de Lopes (2014), a autora elenca os vários valores que o marcador em questão pode
apresentar, sendo estes: marcador reformulador, atenuador, conclusivo e filler. Interessa-nos,
pois, apenas analisar a função de reformulação.
Por sua vez, Gómez (2008) insere-o no grupo de reformuladores que têm como principal
função explicar de outra forma aquilo que foi dito anteriormente, podendo apresentar valores
semântico-discursivos como os de atribuição de referência, clarificação ou explicação,
definição, denominação e conclusão.
Tentaremos agora analisar de que forma os marcadores que estamos a estudar são ou não
comutáveis entre si, ou seja, de que forma é que no exemplo acima podemos substituir o
marcador quer dizer por outros marcadores de reformulação.

(c) Esta admissão não parece pôr em causa a tese aristotélica de que a alma nasce
desprovida de quaisquer espécies, ou seja, que o intelecto passivo, sob a perspectiva
gnoseológica, é originariamente (ex sua primaeua origini) pura potência.
(d) Esta admissão não parece pôr em causa a tese aristotélica de que a alma nasce
desprovida de quaisquer espécies, isto é, que o intelecto passivo, sob a perspectiva
gnoseológica, é originariamente (ex sua primaeua origini) pura potência.
(e) Esta admissão não parece pôr em causa a tese aristotélica de que a alma nasce
desprovida de quaisquer espécies, por outras palavras, que o intelecto passivo, sob a
perspectiva gnoseológica, é originariamente (ex sua primaeua origini) pura potência.
(f) ? Esta admissão não parece pôr em causa a tese aristotélica de que a alma nasce
desprovida de quaisquer espécies, ou melhor, que o intelecto passivo, sob a perspectiva
gnoseológica, é originariamente (ex sua primaeua origini) pura potência.

77
(g) ? Esta admissão não parece pôr em causa a tese aristotélica de que a alma nasce
desprovida de quaisquer espécies, aliás, que o intelecto passivo, sob a perspectiva
gnoseológica, é originariamente (ex sua primaeua origini) pura potência.

No que se refere à possibilidade de comutação com outros marcadores, a análise dos


enunciados permite verificar que, da mesma forma que acontecia com o marcador ou seja, a
manutenção do valor semântico-discursivo básico parece manter-se com os 3 primeiros, não
sendo possível com os 2 últimos, pelo facto de estes introduzirem um valor de natureza
retificativa que está ausente do uso de quer dizer no exemplo (78). No entanto, é possível
comutar este marcador com ou melhor e aliás em enunciados como (79a) e (79b), na medida
em que neste contexto há, mais do que um valor explicativo, um valor retificativo. Contudo,
os casos que encontramos no corpus com este valor são residuais quando comparados com o
valor prototípico básico que é o explicativo.

(79) A posição de escrita, quer dizer, a escrita como posicionamento, é o agir da gratidão
que a Graça reconhece. (06-F-FLUP)
(a) A posição de escrita, ou melhor, a escrita como posicionamento, é o agir da gratidão
que a Graça reconhece.
(b) A posição de escrita, aliás, a escrita como posicionamento, é o agir da gratidão que a
Graça reconhece.

3.3.2.1.3. Isto é

O marcador discursivo isto é é formado pela união do demonstrativo invariável “isto” e


pela 3ª pessoa do singular do verbo ser, no presente do indicativo. Igualmente às outras
expressões analisadas, esta está também gramaticalizada uma vez que não admite qualquer tipo
de variação.

(80) Muitos destes movimentos, à semelhança de alguns gestos de apontar com o polegar
parecem ser perfeitamente inconscientes, isto é, são executados de um modo pouco
amplo, ilustrando o modo como a localização em questão se encontra conceptualizada
a nível cognitivo. (08-L-FLUP)
(a) * Muitos destes movimentos, à semelhança de alguns gestos de apontar com o polegar
parecem ser perfeitamente inconscientes, isto era, são executados de um modo pouco

78
amplo, ilustrando o modo como a localização em questão se encontra conceptualizada
a nível cognitivo.

Vamos agora analisar a comutabilidade entre isto é e os restantes marcadores em análise:

(b) Muitos destes movimentos, à semelhança de alguns gestos de apontar com o polegar
parecem ser perfeitamente inconscientes, quer dizer, são executados de um modo
pouco amplo, ilustrando o modo como a localização em questão se encontra
conceptualizada a nível cognitivo.
(c) Muitos destes movimentos, à semelhança de alguns gestos de apontar com o polegar
parecem ser perfeitamente inconscientes, ou seja, são executados de um modo pouco
amplo, ilustrando o modo como a localização em questão se encontra conceptualizada
a nível cognitivo.
(d) Muitos destes movimentos, à semelhança de alguns gestos de apontar com o polegar
parecem ser perfeitamente inconscientes, por outras palavras, são executados de um
modo pouco amplo, ilustrando o modo como a localização em questão se encontra
conceptualizada a nível cognitivo.
(e) * Muitos destes movimentos, à semelhança de alguns gestos de apontar com o polegar
parecem ser perfeitamente inconscientes, ou melhor, são executados de um modo
pouco amplo, ilustrando o modo como a localização em questão se encontra
conceptualizada a nível cognitivo.
(f) * Muitos destes movimentos, à semelhança de alguns gestos de apontar com o polegar
parecem ser perfeitamente inconscientes, aliás, são executados de um modo pouco
amplo, ilustrando o modo como a localização em questão se encontra conceptualizada
a nível cognitivo.

Nos casos em que o marcador isto é comuta com quer dizer, ou seja e por outras palavras
mantém-se o seu valor básico explicativo, o que não acontece, mais uma vez com a comutação
operada com ou melhor e aliás, pois estes marcadores introduzem um valor semântico-
discursivo que altera a interpretação do enunciado.

3.3.2.1.4. Por outras palavras

Num outro estudo, Lopes e Carapinha (2017) analisam o marcador por outras palavras,
admitindo que este também se encontra totalmente gramaticalizado. Relativamente ao seu uso,
este marcador pode ser utilizado de duas formas distintas: “(i) com o seu significado
composicional, desempenhando uma função sintática e semântica no âmbito da proposição em
que ocorre, (ii) como MD” (2017:120).

79
No primeiro caso, poderemos ver o uso do significado composicional no seguinte
exemplo:

(81) O Vaticano disse o mesmo por outras palavras e rejeitou todo o capítulo.
(CETEMPublico, par=ext113696-soc-94b-2)

Vejamos agora o uso de por outras palavras como marcador de reformulação, analisando
também a impossibilidade de este ser alterado, o que comprova a sua gramaticalização.

(82) Assim, o caráter abstrato dos géneros contrasta com o caráter empírico dos textos, que
atualizam sempre um determinado género (ou mais do que um), porquanto manifestam
propriedades tipicamente associadas a um ou mais géneros. Por outras palavras, os
textos adotam e adaptam de forma contínua as propriedades típicas dos géneros em que
se inserem (Bronckart, 1996). (12-L-CLUNL)

(a) *Assim, o caráter abstrato dos géneros contrasta com o caráter empírico dos textos, que
atualizam sempre um determinado género (ou mais do que um), porquanto manifestam
propriedades tipicamente associadas a um ou mais géneros. Por outras novas
palavras, os textos adotam e adaptam de forma contínua as propriedades típicas dos
géneros em que se inserem (Bronckart, 1996).

Tal como o marcador quer dizer, as fontes lexicais de por outras palavras também
apresentam uma relação evidente com a sua função pragmática. Quanto aos valores semântico-
discursivos, estes podem ser de explicação e síntese. Analisaremos agora a possibilidade de
comutação com os outros marcadores de reformulação:

(b) Assim, o caráter abstrato dos géneros contrasta com o caráter empírico dos textos, que
atualizam sempre um determinado género (ou mais do que um), porquanto manifestam
propriedades tipicamente associadas a um ou mais géneros. Quer dizer, os textos
adotam e adaptam de forma contínua as propriedades típicas dos géneros em que se
inserem (Bronckart, 1996).
(c) Assim, o caráter abstrato dos géneros contrasta com o caráter empírico dos textos, que
atualizam sempre um determinado género (ou mais do que um), porquanto manifestam
propriedades tipicamente associadas a um ou mais géneros. Ou seja, os textos adotam
e adaptam de forma contínua as propriedades típicas dos géneros em que se inserem
(Bronckart, 1996).
(d) Assim, o caráter abstrato dos géneros contrasta com o caráter empírico dos textos, que
atualizam sempre um determinado género (ou mais do que um), porquanto manifestam
80
propriedades tipicamente associadas a um ou mais géneros. Isto é, os textos adotam e
adaptam de forma contínua as propriedades típicas dos géneros em que se inserem
(Bronckart, 1996).
(e) Assim, o caráter abstrato dos géneros contrasta com o caráter empírico dos textos, que
atualizam sempre um determinado género (ou mais do que um), porquanto manifestam
propriedades tipicamente associadas a um ou mais géneros. Ou melhor, os textos
adotam e adaptam de forma contínua as propriedades típicas dos géneros em que se
inserem (Bronckart, 1996).
(f) * Assim, o caráter abstrato dos géneros contrasta com o caráter empírico dos textos,
que atualizam sempre um determinado género (ou mais do que um), porquanto
manifestam propriedades tipicamente associadas a um ou mais géneros. Aliás, os textos
adotam e adaptam de forma contínua as propriedades típicas dos géneros em que se
inserem (Bronckart, 1996).

Tal como acontece com os outros marcadores analisados, verificamos que se mantém o
mesmo valor básico semântico-discursivo com os marcadores quer dizer, ou seja e isto é. De
forma mais aceitável do que nos casos precedentes, é também a comutação com o marcador
ou melhor, embora na sua interpretação não esteja completamente ausente o traço de
retificação, o que também pode caracterizar o marcador por outras palavras. Já o caráter mais
central de retificação contido em aliás não legitima uma comutação sem alteração do valor
semântico-discursivo básico.

3.3.2.1.5. Ou melhor

O marcador de reformulação ou melhor é composto pela conjunção disjuntiva “ou” e


pelo advérbio comparativo de superioridade de bem. Através do marcador discursivo “melhor”,
são vários os marcadores de reformulação que dele podem derivar, entre eles: melhor ainda,
melhor dizendo, melhor dito, etc. No entanto, apesar de surgirem no corpus ocorrências destes
marcadores, são em número muito reduzido, incluindo melhor sozinho8. Por isso, analisa-se
apenas o marcador ou melhor, uma vez que a sua presença é mais significativa.

8
Esta tendência parece ser contrária àquilo que se passa em Espanhol, pois, de acordo com Zorraquino e
Portóles (1999), o marcador discursivo mejor surge muito mais frequentemente do que quando é antecedido
pela conjunção disjuntiva o (o mejor).
81
No que se refere à sua composição, verificamos que este marcador está completamente
gramaticalizado, não admitindo, por isso, qualquer tipo de modificação, como se pode observar
no resultado da manipulação da alínea a do exemplo (83a).
O surgimento deste marcador discursivo sugere que o segmento encabeçado por si vem
trazer mais exatidão ao que foi anteriormente dito, como é o caso do enunciado (83). Vejamos
as possibilidades de comutabilidade deste marcador com os outros marcadores do mesmo tipo:

(83) Este movimento vê-se significativamente intensificado com o fenómeno da


globalização, ou melhor, das globalizações, já que dele só falaremos adequadamente
se o perspectivarmos na sua realidade plural, não só em termos históricos, mas também
em termos ético-políticos.
(a) *Este movimento vê-se significativamente intensificado com o fenómeno da
globalização, ou bastante melhor, das globalizações, já que dele só falaremos
adequadamente se o perspectivarmos na sua realidade plural, não só em termos
históricos, mas também em termos ético-políticos.
(b) ?Este movimento vê-se significativamente intensificado com o fenómeno da
globalização, quer dizer, das globalizações, já que dele só falaremos adequadamente
se o perspectivarmos na sua realidade plural, não só em termos históricos, mas também
em termos ético-políticos.
(c) * Este movimento vê-se significativamente intensificado com o fenómeno da
globalização, ou seja, das globalizações, já que dele só falaremos adequadamente se o
perspectivarmos na sua realidade plural, não só em termos históricos, mas também em
termos ético-políticos.
(d) *Este movimento vê-se significativamente intensificado com o fenómeno da
globalização, isto é, das globalizações, já que dele só falaremos adequadamente se o
perspectivarmos na sua realidade plural, não só em termos históricos, mas também em
termos ético-políticos.
(e) *Este movimento vê-se significativamente intensificado com o fenómeno da
globalização, por outras palavras, das globalizações, já que dele só falaremos
adequadamente se o perspectivarmos na sua realidade plural, não só em termos
históricos, mas também em termos ético-políticos.
(f) Este movimento vê-se significativamente intensificado com o fenómeno da
globalização, aliás, das globalizações, já que dele só falaremos adequadamente se o
perspectivarmos na sua realidade plural, não só em termos históricos, mas também em
termos ético-políticos.

Da observação dos exemplos, podemos concluir que o marcador ou melhor comuta de


forma totalmente aceitável com aliás mas não com os marcadores ou seja, isto é e por outras
palavras, na medida em que o traço retificativo que lhe é inerente não existe no uso dos últimos
82
três marcadores indicados em contexto similar, mas está presente no marcador aliás. No que
se refere ao marcador quer dizer, consideramos que a sua comutação também é aceitável, na
medida em que neste contexto lhe pode ser atribuído um traço de retificação e não de
explicação, ou seja, o marcador que introduz S2 retifica o número do nome integrado no SPrep
em S1 (globalização  Globalizações).

3.3.2.1.6. Aliás

León e Duarte (2013), baseados num estudo de Lopes (2010), analisam o marcador aliás
tendo em conta a sua origem e as suas diversificadas funções. Relativamente à sua origem, o
marcador discursivo aliás surgiu do advérbio alias, do Latim, que significava, entre outras
possibilidades, “noutro momento”, “noutro lugar”, “porém”.
Como já foi dito, este marcador apresenta um grande número de valores discursivos,
entre eles: marcação de uma hipótese negativa, função concessiva, comentário lateral ou
parentético, marcação de argumentos relevantes e reformulação (León e Duarte, 2013:138). Os
mesmos autores admitem que, atualmente, o uso mais frequente de aliás é precisamente como
marcador de reformulação. O seu valor como marcador de reformulação será, tipicamente, o
de correção, valor esse que ocorre no exemplo (84).

(84) No caso dos restantes géneros, cabe notar que as frases imperativas são pouco
frequentes nas entrevistas (aliás, não se verificaram casos nas entrevistas escritas
analisadas), mas dominam nas receitas de cozinha e ocorrem também nos horóscopos.
(04-L-CLUNL)
(a) No caso dos restantes géneros, cabe notar que as frases imperativas são pouco
frequentes nas entrevistas (quer dizer, não se verificaram casos nas entrevistas escritas
analisadas), mas dominam nas receitas de cozinha e ocorrem também nos horóscopos.
(b) *No caso dos restantes géneros, cabe notar que as frases imperativas são pouco
frequentes nas entrevistas (ou seja, não se verificaram casos nas entrevistas escritas
analisadas), mas dominam nas receitas de cozinha e ocorrem também nos horóscopos.
(c) *No caso dos restantes géneros, cabe notar que as frases imperativas são pouco
frequentes nas entrevistas (isto é, não se verificaram casos nas entrevistas escritas
analisadas), mas dominam nas receitas de cozinha e ocorrem também nos horóscopos.
(d) *No caso dos restantes géneros, cabe notar que as frases imperativas são pouco
frequentes nas entrevistas (por outras palavras, não se verificaram casos nas

83
entrevistas escritas analisadas), mas dominam nas receitas de cozinha e ocorrem
também nos horóscopos.
(e) No caso dos restantes géneros, cabe notar que as frases imperativas são pouco
frequentes nas entrevistas (ou melhor, não se verificaram casos nas entrevistas escritas
analisadas), mas dominam nas receitas de cozinha e ocorrem também nos horóscopos.

Quando comutamos este marcador com os outros marcadores em análise verificamos


que, do ponto de vista do seu valor semântico-discursivo, aquele que melhor traduz a
interpretação do marcador aliás é o marcador ou melhor, dado o traço retificativo que o
caracteriza. No caso dos marcadores ou seja, isto é e por outras palavras, embora a
gramaticalidade não seja minimamente comprometida, considera-se que induzem uma
interpretação de natureza mais explicativa, o que altera a interpretação de base associada a este
exemplo. Nestes casos, não podemos assumir como equivalente o conteúdo proposicional de
S1 e S2. No caso do marcador quer dizer, parece-nos que é aceitável a comutação, desde que
lhe atribuamos um valor próximo da retificação.

Síntese

Antes de passarmos à discriminação dos valores semântico-discursivos de explicação e


retificação, apresentamos o quadro-síntese das variáveis observadas no corpus relativamente
aos marcadores de reformulação em estudo.

84
Quadro-síntese das propriedades dos marcadores de reformulação9

Posição sintática em
Composição Comutabilidade
relação ao S2
Por
Ou Isto Quer Ou
MRP Inicial Medial Final Fixa Variável outras Aliás
seja é dizer melhor
palavras

Ou seja X __ __ X __ X X X __ __

Isto é X X __ X __ X X X __ __

Quer
X __ __ X __ X X X __ __
dizer
Por
outras X X __ X __ X X X (X) __
palavras
Ou
X __ __ X __ __ __ (X) __ X
melhor

Aliás X X __ X __ __ __ (X) __ X
Tabela 8: Síntese do estudo dos marcadores de reformulação quanto à sua posição sintática,
composição e comutabilidade.

3.3.3. Valores semântico-discursivos de explicação e retificação

Como já vimos, os valores semântico-discursivos relacionam-se com a instrução dada


por determinado marcador, isto é, de que forma devemos interpretar o uso de um marcador
numa frase. No contexto deste trabalho, consideramos os valores relacionados com a
reformulação parafrástica, que são os de explicação e retificação.

No entanto, é importante referir que há autores que não consideram os marcadores


retificativos como marcadores parafrásticos, enquanto outros admitem que podem ser
classificados como um grupo misto, ou seja, parafrásticos e não parafrásticos. No nosso estudo,
os marcadores retificativos serão estudados na sua vertente parafrástica, isto é, mantendo um
movimento não variacional e daí os valores descritos nesta secção serem os de explicação e

9
Na determinação do comportamento dos marcadores de reformulação em relação a estas propriedades,
marcamos com X a presença dessa propriedade e com (X) os casos em que ela pode estar presente ou ausente
dependendo do contexto.
85
retificação. A proposta de Gómez (2008) será a que servirá de base para esta descrição, embora,
nos casos em que nos pareça relevante, consideremos também outras propostas.

No capítulo 2 vimos tabelas baseadas na proposta de Gómez (2008) onde a autora elenca
os valores semântico-discursivos de cada marcador. Se analisarmos os exemplos ao longo do
trabalho de Gómez (2008) e se compararmos com as tabelas finais, percebemos que as tabelas
são uma síntese, onde um valor pode incluir outros. O que decidimos fazer aqui foi utilizar os
valores que a autora vai descrevendo ao longo do seu trabalho em vez de nos basearmos apenas
nos valores finais das tabelas. Além disso, os valores semântico-discursivos que são descritos
são apenas aqueles que conseguimos identificar na análise do nosso corpus, que é usado na
exemplificação de todos os valores elencados.

Assim, são, de seguida, explicitados os seguintes valores semântico-discursivos dos


marcadores de reformulação: atribuição de referência/identificação, especificação,
explicação, tradução, definição, denominação, correção, precisão, alternativa e equivalência
total.

3.3.3.1. Atribuição de referência/identificação

A atribuição de referência/identificação é um valor identificativo, isto é, a informação


que surge no primeiro membro discursivo apenas será identificada através da informação dada
pelo segundo segmento discursivo. Por outras palavras, para que o alocutário interprete
devidamente a informação, esta deve estar identificada, caso contrário não será possível saturar
semanticamente a entidade referida em S1. Assim, quer em (85), quer em (86), é a atribuição
de referência que permite interpretar a entidade relevante: no primeiro caso, algo essencial e,
no segundo, desta maneira. Em ambos os casos, verificamos que se trata de expressões às
quais poderemos atribuir uma certa indeterminação, no sentido em que não referem nenhuma
entidade específica.

(85) Como realça Robinson dos Santos, esta consideração kantiana remete-se claramente
para algo essencial, ou seja , para o plano da comunidade universal, para a perspetiva
de uma cidadania cosmopolita. (12-F-FLUP)
(86) Mas se desta maneira, isto é, se atribuindo ao intelecto único a capacidade de informar
o de cada indivíduo e de lhe conferir o ser, este professor da Faculdade das Artes, no

86
século XIII, corrigia Averróis, Bernardi, no século XVI, não quis deixar de inovar. (07-
F-UC)

Apesar de o valor Identificação poder ocorrer separadamente, uma vez que está mais
relacionado com expressões de lugar e de tempo, decidimos inseri-lo no valor de atribuição de
referência pois há uma visível semelhança quanto à instrução dada. Ou seja, é necessário
atribuir referência a uma determinada informação para que o alocutário possa realizar a sua
localização espacial ou temporal.

(87) Consequentemente, talvez apenas c-comanda localmente os elementos que ocorrem no


interior do termo coordenado que o integra, i.e., o primeiro termo em (44). (10-L-
FLUP)
(88) Para a reabilitação apontamos esta dificuldade de esgravatar as paredes espessas das
caves, para criar espaços passíveis de vivência, ou seja, os espaços arquitectónicos a
que se referia L. Kahn. (02-H-FLUP)

3.3.3.2. Especificação

O valor de especificação é, de certa forma, bastante semelhante aos dois últimos valores
descritos. Aqui, também o locutor fornece informação adicional para dar ao referente uma
determinada entidade. O que distingue a especificação da atribuição de referência/identificação
é sobretudo o primeiro segmento. Enquanto no caso da atribuição de referência/identificação,
como vimos, o S2 introduzido pelo marcador de reformulação é fundamental para a
interpretação de S1, no caso da especificação, pelo menos nas ocorrências do nosso corpus, a
interpretação de S1 é especificada, mas não depende da ocorrência de S2, pois pode ser
interpretada com base em elementos de natureza contextual e também, em grande medida, pelo
conhecimento enciclopédico ou partilhado dos falantes.

Assim, a interpretação do SN o biénio relativo à derrocada do Império colonial não


depende de S2, embora seja facilitada a sua interpretação. O mesmo acontece no exemplo (90)
na especificação das duas principais colónias portuguesas.

87
(89) Em termos cronológicos, focamos fundamentalmente o biénio relativo à derrocada do
Império colonial, ou seja 1974/1975, ainda que o êxodo se tenha prolongado mas de
forma muito menos intensa até ao final da década de 1970, em particular no caso de
moçambique. (03-H-UC)

(90) Neste artigo analisamos as causas do êxodo das minorias brancas das duas principais
colónias portuguesas em África, ou seja, Angola e moçambique. (03-H-UC)

3.3.3.3. Explicação
O valor de explicação é tido aqui no sentido de aclarar o significado, ou seja, surge para
formular o que foi dito com o objetivo de o dizer de forma mais clara e adequada.

(91) Assim, o caráter abstrato dos géneros contrasta com o caráter empírico dos textos, que
atualizam sempre um determinado género (ou mais do que um), porquanto manifestam
propriedades tipicamente associadas a um ou mais géneros. Por outras palavras, os
textos adotam e adaptam de forma contínua as propriedades típicas dos géneros em que
se inserem (Bronckart, 1996).
(92) Uma vez assimilada a estrutura das contabilidades do Porto impunha-se dar-lhe
consistência através do conhecimento daqueles que a gerem e que a controlam ou seja,
identificar os agentes que intervinham nestas contabilidades: quem as administrava e
quem as fiscalizava. (15-H-FLUP)

3.3.3.4. Tradução

O valor semântico-discursivo de tradução implica que o segundo membro discursivo


traduza ou adapte expressões de outras línguas, de modo que seja possível manter uma
paráfrase.

(93) Esta metáfora do espelho estava imbuída, na época medieval, de uma conotação
moralista, ligada à imagem do speculum perfectionis, ou seja, do espelho como reflexo
perfeito e irrepreensível. (02-L-CLUNL)
(94) “…quod nomen imaginatio ab ipso lumine sumpsit, phantasia que dicitur, quia sine
lumine visio fieri nequit”, quer dizer: “…é pelo facto de o termo ‘imaginação’ ser
tomado da própria luz que lhe damos o nome de ‘fantasia’, pois sem a luz é impossível
a visão”. (07-F-UC)

3.3.3.5. Definição
A definição é um valor semântico-discursivo cuja função é a de definir o conteúdo de
determinada palavra ou sintagma.

88
(95) Estas formas foram usadas também em gestos combinados, isto é , gestos que
simultaneamente apontam e representam/ilustram caraterísticas semânticas do
conteúdo dos enunciados. (08-L-FLUP)
(96) Por isso, aplicasse-lhes melhor a classificação de deslocado, ou seja, pessoas que foram
constrangidas a deixar as suas casas, mas que não cruzaram nenhuma fronteira
internacional. (03-H-UC)

3.3.3.6. Denominação

Podemos dizer que o valor de denominação dá-se num movimento oposto ao da


definição. Enquanto a definição expande o significado de determinada palavra ou enunciado,
a denominação reduz num único conceito a informação presente no primeiro segmento.

(97) A grande tarefa da educação, no que a este assunto respeita, é ensinar o ser humano a
não ceder à preguiça e à cobardia, ou seja, à menoridade. (12-F-FLUP)
(98) Firmemente alicerçada na perspectiva diacrónica da gramaticalização, baseia-
se a assunção (já que são muito poucos os contra-exemplos citados na literatura)
do princípio da não ocorrência da reversibilidade do processo, ou seja, o da
unidireccionalidade. (07-L-CLUNL)

3.3.3.7. Correção

Como o nome indica, o valor de correção surge quando o segundo membro discursivo
corrige a informação dita no primeiro membro discursivo, substituindo-a por uma expressão
que permita interpretar a informação de uma maneira mais adequada. Há autores que afirmam
que a correção é um valor semântico-discursivo próprio da reformulação não-parafrástica.
Gómez (2010), por exemplo, considera os processos de correção e retificação isoladamente.
Através de um estudo e baseadas na proposta de Charolles (1987), Fávero, Andrade e Aquino
(1995) afirmam haver dois tipos de correção: “a infirmação (do latim infirmare = anular,
revogar, invalidar) e a retificação (do latim rectificare = que segue sempre a mesma direção)”
(1995:273). Além destes autores, Cortés e Camacho (2005) in Gómez (2008) também admitem
a correção como um grupo misto, ou seja, “que comparte características com la reformulatión
parafrástica y no parafrástica” (2008:105). É nesta linha que analisamos a correção neste

89
estudo, como retificação do que foi dito no primeiro membro discursivo e não como
invalidação.

(99) Este movimento vê-se significativamente intensificado com o fenómeno da


globalização, ou melhor, das globalizações, já que dele só falaremos adequadamente
se o perspectivarmos na sua realidade plural, não só em termos históricos, mas também
em termos ético-políticos. (08-F-UC)
(100) Mas a formulação pode facilmente expandir-se: não há – ou, mais exactamente, não
pode haver – uma diferença psicológica sem – quer dizer, à qual não corresponda –
uma diferença neurológica (física ou neurofisiológica). (10-F-FLUP)

3.3.3.8. Precisão
Quando o segundo membro discursivo vem adicionar informação mais precisa ao
primeiro membro discursivo focalizando apenas um aspeto de algo mais abrangente, estamos
perante um valor semântico-discursivo de precisão.

(101) Este processo deverá ter sido gradual (como, aliás, o são todos os fenómenos de
gramaticalização). (07-L-CLUNL)

Tentamos procurar um padrão de marcas linguísticas que permitisse fazer uma distinção
clara entre os processos de precisão e especificação. Ou seja, tentamos verificar a natureza
sintagmática dos segmentos discursivos mas não verificamos um padrão consistente. O critério
encontrado para distinguir estes valores semântico-discursivos é o critério da equivalência
entre o segmento 1 e o segmento 2. Vejamos os exemplos (102) e (103):

(102) Neste artigo analisamos as causas do êxodo das minorias brancas das duas principais
colónias portuguesas em África, ou seja, Angola e Moçambique. (03-H-UC)
(103) Permita-se-nos a liberdade de glosarmos ou adaptarmos uma célebre equação
queirosiana, ou melhor, da personagem de Jacinto em A Cidade e as Serras (1901), no
sentido de também nós forjarmos o que poderia ser a inusitada equação antropológica
de D. Duarte. (15-F-UC)

Como é possível verificar, no exemplo (102) temos um caso de especificação, uma vez
que há uma relação de equivalência entre os dois segmentos discursivos. No entanto, no
exemplo (103) podemos admitir que há uma espécie de especificação retificativa uma vez que

90
é realizada de facto uma especificação entre os segmentos mas é retificativa porque não há
uma exata equivalência entre os membros discursivos, ou seja, estamos perante um valor de
precisão.

3.3.3.9. Alternativa

O valor de alternativa dá-se quando há a possibilidade de escolher uma formulação, entre


mais do que uma opção, e escolhe-se aquela que transmite a informação mais devidamente.

(104) Caso se admita que o português é sensível à Condição de Minimalidade, como será ela
parametrizada na gramática da língua? Por outras palavras: se se aceitar que a
fonologia do português inclui, efetivamente, uma CM, o que é que esta estatui como
material fonológico mínimo que deve estar presente em qualquer palavra da língua?
(15-L-CLUNL)

3.3.3.10. Equivalência total

Decidimos acrescentar à proposta de Gómez (2008) o valor semântico-discursivo de


equivalência total. A necessidade de acrescentar este valor surgiu pelo facto de nenhum dos
outros ser, na nossa opinião, capaz de dar conta de casos em que, por exemplo, o primeiro
segmento é uma sigla e o segundo vem explicitar essa sigla ou ainda, quando é dado em S1 um
número exato e em S2 a percentagem correspondente.

(105) De Angola teriam vindo 290.504 indivíduos, ou seja 61,6% do total, e de moçambique
158.945, ou seja 33,7%. (03-H-UC)
(106) O segundo bloco textual – no qual se manifesta a figura de O. S., ou seja, Oliveira
Salazar – “como se fosse possível celebrar verdadeiramente a festa (…) retroceder
séculos atrás” irrompe, de certa forma, no texto, visto o primeiro bloco ser inacabado.
(03-L-CLUNL)

3.3.4. Os valores semântico-discursivos no corpus

Nesta secção são apresentados os resultados quantitativos relacionados com os valores


semântico-discursivos analisados. No que respeita aos valores semântico-discursivos, foi

91
realizada uma análise por revista (cf. Gráfico 5-10), para determinar os valores mais frequentes
e, em seguida, fez-se uma análise global onde é possível verificar a expressão de cada valor na
globalidade do corpus (cf. Gráfico 11). Nos gráficos relativos a cada revista, são analisados
todos os marcadores de reformulação parafrástica em estudo que fazem parte dessa revista.
Deste modo, os resultados são os seguintes:

F-FLUP

Especificação - 2 Atribuição de referência/identificação - 21


Explicação - 85 Tradução - 4
Definição - 27 Denominação - 15
Alternativa - 0 Correção - 4
Precisão - 8 Total de ocorrências - 170
Equivalência total - 4

Gráfico 5: Número de ocorrências de cada valor semântico-discursivo em F-FLUP.

92
F-UC

Especificação - 3 Atribuição de referência/identificação - 17


Explicação - 65 Tradução - 6
Definição - 32 Denominação - 15
Alternativa - 0 Correção - 10
Precisão - 16 Total de ocorrências - 166
Equivalência total - 2

Gráfico 6: Número de ocorrências de cada valor semântico-discursivo em F-UC.

H-UC

Especificação - 6 Atribuição de referência/identificação - 8


Explicação - 11 Tradução - 2
Definição - 8 Denominação - 1
Alternativa - 0 Correção - 1
Precisão - 6 Total de ocorrências - 46
Equivalência total - 3

Gráfico 7: Número de ocorrências de cada valor semântico-discursivo em H-UC.

93
H-FLUP

Especificação - 5 Atribuição de referência/identificação - 3


Explicação - 17 Tradução - 1
Definição - 5 Denominação - 0
Alternativa - 0 Correção - 0
Precisão - 5 Total de ocorrências - 38
Equivalência total - 2

Gráfico 8: Número de ocorrências de cada valor semântico-discursivo em H-FLUP.

L-CLUNL

Especificação - 3 Atribuição de referência/identificação - 4


Explicação - 24 Tradução - 1
Definição - 11 Denominação - 2
Alternativa - 0 Correção - 3
Precisão - 2 Total de ocorrências - 53
Equivalência total - 3

Gráfico 9: Número de ocorrências de cada valor semântico-discursivo em L-CLUNL.

94
Gráfico 10: Número de ocorrências de cada valor semântico-discursivo em L-FLUP.

No que se refere aos resultados relativos aos valores semântico-discursivos, verificamos


gráficos que expressavam os valores em cada uma das revistas e um gráfico final que nos
possibilitou verificar a expressão de cada valor no total do corpus deste trabalho. No que diz
respeito ao primeiro gráfico, relativo à Filosofia. Revista da Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, é possível verificar que apenas o valor de alternativa não tem expressão
nesta revista. Relativamente aos outros valores, o menos frequente é o de especificação e o
valor que apresenta maior número de ocorrências é o de explicação. No que concerne à Revista
Filosófica de Coimbra podemos ver igualmente a ausência total do valor de alternativa. O valor
mais frequente continua a ser o de explicação, porém, o menos frequente é o de equivalência
total. Analisando as revistas da área de História, na Revista Portuguesa de História
continuamos a ver o valor de alternativa sem expressão. Mais uma vez, verifica-se que o valor
mais comum é o de explicação e os menos frequentes são os valores de correção e
denominação, apresentando apenas uma ocorrência cada um. No caso de História. Revista da
FLUP, estamos perante um panorama diferente uma vez que são três os valores que não
apresentam expressão nesta revista, a saber: alternativa, denominação e correção. Quem
delimita a maior e a menor frequência são, respetivamente, a explicação e a tradução. Esta
delimitação mantém-se na revista Estudos Linguísticos/Linguistic Studies, mantendo-se
95
também a total ausência do valor de alternativa. Para terminar a análise dos gráficos relativos
às revistas isoladamente, observamos que a Revista de Estudos Linguísticos da Universidade
do Porto apresenta expressão em todos os valores, sendo novamente o mais frequente a
explicação e o menos frequente a alternativa.

Gráfico 11: Valores semântico-discursivos no corpus.

O gráfico final mostra a presença dos valores semântico-discursivos num nível geral, ou
seja, na totalidade dos 90 artigos que constituem o nosso corpus. Podemos assim concluir que
a explicação é, com uma diferença significativa, o valor mais frequente em todo o corpus, com
um total de 249 ocorrências em 566, seguido do valor de definição com 97 ocorrências.
Relativamente aos valores com expressão mais baixa, temos o de alternativa, apenas com 1
ocorrência em 566 e os de equivalência e tradução, ambos com 16 ocorrências cada um.

3.3.6. Distribuição dos marcadores de reformulação parafrástica no plano de texto do artigo


científico

Os gráficos 12 e 13 permitem observar a distribuição dos marcadores de reformulação


parafrástica por revista e, em seguida, na globalidade do nosso corpus.
96
Distribuição dos marcadores de reformulação parafrástica

L-FLUP

L-CLUNL

H-UC

H-FLUP

F-UC

F-FLUP

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220

Anexos Conclusão Corpo do texto Introdução Resumo

Gráfico 12: Distribuição por revista dos marcadores de reformulação parafrástica no


plano de texto do artigo científico.

Distribuição dos marcadores de reformulação parafrástica

Anexo

Resumo

Conclusão

Corpo do texto

Introdução

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100

Número de marcadores (%)

Gráfico 13: Distribuição dos marcadores de reformulação parafrástica no corpus.

Relativamente à distribuição dos marcadores em questão no corpus, as secções do plano


de texto presentes nos gráficos foram escolhidas por nelas estarem presentes pelo menos uma

97
ocorrência de marcadores de reformulação parafrástica. Assim, as secções onde foi possível
verificar a presença dos marcadores de reformulação analisados foram a introdução, o corpo
do texto (no caso de linguística estão aqui incluídas secções como material, métodos,
resultados), conclusão, anexos e resumo. No gráfico que mostra os resultados por revista,
podemos verificar que é unânime o facto de a maior parte dos marcadores surgirem no corpo
do texto. No caso dos anexos e resumo, verificamos também que são raras as ocorrências
registadas.

3.4. Discussão dos resultados

Nesta secção, discutimos os principais resultados obtidos na análise do corpus,


subdividindo essa discussão em dois níveis: o do género artigo científico e o dos marcadores
de reformulação no artigo científico.

3.4.1. Artigo científico

Começamos esta secção pela discussão relacionada com os resultados obtidos na análise
do plano de texto do artigo científico. Como sabemos, cada um dos 90 artigos estudados está
inseridos em 6 revistas diferentes. Cada revista científica deve ter normas próprias que cada
autor deve respeitar para que o seu artigo seja aceite para publicação. Desta forma, as 6 revistas
analisadas neste trabalho também possuem um documento onde estão contidas as normas para
publicação. O que pretendíamos verificar era até que ponto estas normas fazem referência a
questões relativas ao plano de texto, isto é, se os autores devem ou não intitular cada secção
do seu artigo.

O que foi possível verificar foi que uma das revistas (Revista Filosófica de Coimbra)
apenas apresenta normas para as referências bibliográficas e citações. Nas restantes revistas,
observamos que as normas apenas dão indicações para as questões relacionadas com a
identificação do autor e da sua afiliação, o título do artigo, resumo, palavras-chave, e, com
grande incidência, sobre os aspetos configuracionais, isto é, extensão do artigo, tamanho e tipo
de letra, etc. O que concluímos desta análise das normas editoriais é que não há qualquer

98
indicação para a existência ou, pelo menos, para a marcação de secções como a introdução e a
conclusão, o que pode dar, neste aspeto, uma certa liberdade ao autor.

Partimos do princípio de que a proposta de Marconi e Lakatos (2001) seria a indicada


para estudar o plano de texto dos artigos científicos em questão por nos parecer bastante
completa. Apesar de conseguirmos identificar quase todas as secções propostas pelas autoras
nos artigos, há outras sobre as quais esta proposta não pode dar conta. Ao contrário das revistas
de Filosofia e de História, as revistas de Linguística apresentam, em alguns artigos, secções
como “Material”, “Metodologia”, “Resultados”, “Apresentação do corpus” e “Discussão de
resultados”. Estas secções poderiam ser tidas em conta numa proposta do tipo IMRDC (como
a de Swales, 1990). No entanto, uma proposta do tipo IMRDC não seria a mais indicada para
analisar o plano de texto dos artigos de Filosofia e de História, dadas as características da
investigação desenvolvida nestas áreas.

Isto leva-nos a concluir que, provavelmente devido ao objeto de estudo, a revista de


Linguística não pode ser estudada a partir da mesma proposta que as de Filosofia e de História.
Estes factos podem levar-nos a duas conclusões: a primeira é a de que nenhuma proposta de
plano de texto genérico será a ideal para estudar as três áreas em simultâneo e a segunda é a de
que, mesmo pertencendo às ciências sociais e humanas, estas áreas não são iguais, ou seja, a
Linguística poderá mais facilmente ser estudada a partir de uma proposta IMRDC,
aproximando-a ou aproximando os seus artigos científicos das ciências naturais, e a Filosofia
e a História podem estar mais sujeitas a um plano textual de Tópicos, como mencionou Silva
(2016), baseando-se em Adam (2002).

Ainda no contexto da análise composicional dos artigos científicos, detivemo-nos de


forma mais pormenorizada na análise da Introdução e Conclusão por termos verificado que
estas partes, embora sejam consideradas como constitutivas do plano de texto de um artigo
científico, nem sempre são demarcadas por este termo. No entanto, verificamos que isso não
constitui um fator que comprometa a organização tipicamente associada ao plano textual
previsto nas diferentes áreas científicas, porque há, nos contextos em que eles não ocorrem,
pistas linguísticas que permitem de forma clara demarcar textualmente as macroestruturas que
lhes correspondem. Nesse sentido, ainda que a esquematização textual possa ser diferente, pela

99
ausência de marcação explícita dessa macroestrutura, o conteúdo que lhe corresponde está
linearizado no texto.
No que se refere à ocorrência dos marcadores em questão nas diferentes partes do artigo
científico, concluímos que a maior parte dos marcadores surge no corpo do texto, sendo muito
escassas as ocorrências registadas nos anexos e resumo e, em número semelhante, as que
ocorrem na introdução e conclusão. Tendo em conta as características deste género textual e
as funcionalidades de cada uma das partes que configuram a estrutura composicional, assim
como os valores semântico-discursivos dos marcadores de reformulação analisados,
consideramos que estes resultados são os previsíveis, pois é no corpo do texto (que inclui
secções como material, métodos e resultados) que se processam de forma mais evidente os
movimentos explicativos e argumentativos do texto.

3.4.2. Marcadores de reformulação no artigo científico

Tendo em conta os resultados relativos aos marcadores de reformulação selecionados,


verificamos que todos os marcadores estão completamente gramaticalizados, pelo que não
admitem alteração da sua composição.
Relativamente à posição sintática em que podem ocorrer, estudamos o contexto sintático
de um marcador de reformulação tendo em conta o segmento discursivo encabeçado por ele,
ou seja, S2. Desta forma, os marcadores de reformulação parafrástica podem ocorrer no início,
a meio ou no final do segundo segmento discursivo. O que se pretendeu verificar foi qual a
posição típica dos marcadores reformuladores em questão na globalidade do corpus, isto é, nos
90 artigos científicos. No gráfico relativo à posição sintática foi possível verificar que a maior
parte dos marcadores de reformulação parafrástica ocorre na posição inicial, encabeçando o
segundo segmento discursivo. No entanto, foi possível também verificar algumas ocorrências
em posição medial no caso dos marcadores por outras palavras, aliás e isto é.
Comparativamente, é o marcador aliás que apresenta um maior número de ocorrências em que
ocupa posição medial. Aliás, este marcador apresenta no total mais ocorrências em posição
medial do que em posição inicial. Relativamente à posição final, não foi possível verificar
nenhuma ocorrência. Assim, na posição inicial, ocorre o esquema <Segmento1> MRP
<Segmento2> e na posição medial o esquema é <Segmento 1> <Segmento [MRP] 2>.
100
No que se refere à propriedade da comutabilidade, os dados mostraram que ela é possível
com todos os marcadores analisados, embora com graus de aceitabilidade distintos em função
dos valores semântico-discursivos próprios de cada marcador. Na verdade, se tivermos em
conta a proposta de Gómez (2008), que seguimos neste trabalho, que consiste na classificação
dos marcadores quer dizer, isto é, ou seja e por outras palavras como marcadores explicativos
e os marcadores ou melhor e aliás como marcadores retificativos, percebemos que será, como
os resultados da análise demonstram, mais aceitável comutar marcadores que pertençam a um
mesmo grupo, excetuando, de forma mais evidente, o marcador quer dizer, que, por poder
acumular um traço retificativo ao seu valor típico de explicação, é comutável em contextos
retificativos com os marcadores ou melhor e aliás.
Relembrando os movimentos de reformulação referidos no capítulo 2, que podem ser
variacionais e não variacionais e ter movimentos de redução ou expansão, concluímos que,
uma vez que o nosso corpus apenas analisou marcadores de reformulação parafrástica, os
resultados são apenas de movimentos não variacionais, isto é, apenas foram delimitadas
ocorrências em que o tópico discursivo se mantém do primeiro para o segundo segmento. No
entanto, é possível distinguir os valores semântico-discursivos em expansão e redução. Assim,
atribuímos ao movimento de expansão não variacional os valores de explicação, definição e
alternativa, e, ao movimento de redução não variacional, os valores de denominação,
especificação, correção e precisão. Na nossa opinião, os valores de tradução, atribuição de
referência/identificação e equivalência não sofrem qualquer movimento de expansão ou
redução.
Em relação aos dois grandes grupos de reformulação considerados na literatura, a
parafrástica e a não parafrástica, apenas analisamos a primeira, como já foi referido. Neste
contexto, associamos a reformulação explicativa e retificativa, em parte, à reformulação
parafrástica. Baseados na instrução semântico-discursiva dada pelos marcadores que se
integram neste tipo de reformulação, concluímos que os valores de explicação, tradução,
definição, atribuição de referência/identificação, denominação e equivalência pertencem à
reformulação parafrástica explicativa, enquanto os valores de alternativa, correção e precisão
fazem parte da reformulação retificativa. Tendo em conta os resultados obtidos na análise do
corpus, concluímos que o valor de explicação tem uma frequência muito mais acentuada do
que o valor de retificação e que os marcadores mais frequentes são isto é e ou seja. Este
101
resultado corrobora as propriedades que caracterizam o género artigo científico na medida em
que não seria previsível a ocorrência de um número acentuado de marcadores de reformulação
retificativos, não só pelas condições de produção deste género descritas no capítulo 1, mas
também pelas características linguístico-discursivas que lhe são inerentes.
Antes de terminar a discussão dos resultados obtidos na análise deste corpus de artigos
científicos, retomamos os marcadores de reformulação que optamos por não analisar em
profundidade dada a sua escassa representatividade no corpus, no sentido de problematizar
essa escassez de ocorrências. Como dissemos, trata-se de marcadores que podem ser
maioritariamente integrados no grupo dos reformuladores parafrásticos retificativos. Embora
tenhamos concluído que os marcadores que apresentam como valor semântico-discursivo de
explicação sejam claramente mais numerosos no corpus, não nos parece ser essa a única razão
que justifique o índice tão baixo da sua ocorrência. Para testar o seu comportamento noutros
corpora escritos e verificar se a mesma orientação se mantinha, consultamos o Skecth Engine
e o CRPC- Corpus de Referência do Português Contemporâneo, que analisamos em relação
ao número de ocorrências dos marcadores noutros termos, mais exactamente, mais correctamente,
mais precisamente e melhor dizendo.

O Sketch Engine é uma ferramenta que permite estudar o funcionamento das línguas,
contendo 500 corpora em mais de 90 línguas. O corpus utilizado para a nossa análise foi o
Portuguese Web 2011, que apresenta um total de 3 896 392 719 palavras. Este corpus é
composto por textos recolhidos da internet em duas variedades do português: europeu e
brasileiro.
O CRPC- Corpus de Referência do Português Contemporâneo é um corpus que
apresenta textos das várias variedades do Português, entre elas, o Português do Brasil, de
Angola, de Cabo Verde e da Guiné-Bissau. A totalidade deste corpus é de 311,4 milhões de
palavras, sendo composto por textos escritos (literários, jornalísticos, técnicos) e orais (formais
e informais), pertencentes a um período temporal que se inicia na segunda metade do século
XIX e vai até ao ano de 2006. Para a nossa análise, selecionamos apenas o corpus referente ao
Português europeu escrito, que apresenta 289 840 619 palavras. O resultado da comparação é
apresentado na tabela 9.

102
Ocorre no nosso corpus x Ocorre no nosso corpus x vezes
Frequência vezes mais que no CRPC mais que no Sketch Engine

Noutros termos 3,918 24,634

Mais exactamente 2,427 3,049

Mais correctamente 0 0

Mais precisamente 3,764 1,805

Melhor dizendo 1,316 1,488


Tabela 9 – Frequência de ocorrências

Da comparação entre o nosso corpus e os dois corpora referidos, podemos verificar que,
à exceção do marcador melhor dizendo, que não tem uma frequência muito diferente naqueles
corpora em relação ao que acontece no nosso, os outros marcadores ocorrem
proporcionalmente com maior frequência no nosso corpus, havendo variação entre corpora.
Assim, por exemplo, se tivermos em conta o marcador noutros termos, verificamos que ele
ocorre quase 4 vezes mais no nosso corpus do que no corpus CRPC e 24 vezes mais no nosso
corpus do que no corpus Sketch Engine. Essa diferença mantém-se, embora com uma
expressão bastante mais reduzida para os marcadores mais precisamente e mais exatamente.
Dada a inexistência de ocorrências do marcador mais corretamente no nosso corpus, a
comparação com os outros dois corpora não foi possível. Em síntese, esta comparação mostrou
que, pelo menos no texto escrito, parece haver, independentemente do corpus, uma tendência
para um uso reduzido destes marcadores comparativamente ao número total de palavras. No
entanto, verifica-se que há uma grande variabilidade no uso dos marcadores dentro de cada
corpus e entre corpora, pelo que é necessário realizar uma mais fina, que tenha em conta os
diferentes géneros textuais.

103
Considerações finais

No momento de concluir, retomamos o percurso efetuado nesta investigação, no sentido


de fazer o ponto da situação relativamente ao trabalho realizado. No primeiro capítulo, relativo
ao género textual artigo científico, estudamos aspetos como a sua origem e evolução e o seu
plano de texto e textualização. No plano de texto foram estudadas com maior destaque duas
propostas: Swales (1990) e Marconi e Lakatos (2001). O segundo capítulo centrou-se na
reformulação, onde foram analisados os tipos de reformulação (parafrástica e não parafrástica),
e os seus mecanismos, tendo sido selecionados os marcadores de reformulação para análise, e
os movimentos de reformulação. Ainda no capítulo 2 estudamos os procedimentos e fizemos
uma descrição dos tipos de marcadores de reformulação baseando-nos nos pressupostos
teóricos de Zorraquino e Portóles (1999) e Gómez (2008). No capítulo 3, procedemos ao estudo
empírico, no qual analisamos 90 artigos científicos provenientes de 6 revistas, distribuídas por
3 áreas do saber, integradas nas ciências sociais e humanas.

De forma global, verificamos que, apesar de as três áreas estudadas pertencerem às


ciências sociais e humanas, o plano de texto dos artigos científicos apresenta diferenças
significativas. Além disso, as revistas não apresentam, normalmente, normas estritas quanto
ao plano de texto. As diferenças observadas permitem-nos verificar que o plano de texto dos
artigos científicos de Linguística se aproximam dos artigos das ciências naturais.
Relativamente à análise das introduções e conclusões, verificamos que, nas revistas em que
estas secções não estão peritextualmente delimitadas, há pistas que nos permitem estabelecer
a sua macroestrutura.

Quanto ao estudo da reformulação no género textual em questão, verificamos que os


marcadores de reformulação parafrásticos são polifuncionais, na medida em que podem
apresentar-se com diferentes valores semântico-discursivos. Além disso, validamos a hipótese
de que o valor semântico-discursivo de explicação é o mais frequente, o que pode explicar-se
pelo facto de ser um texto escrito, de natureza bastante formal e técnica, pelo que não seria
previsível uma dominância de marcadores de retificação. Neste corpus, o valor semântico-
discursivo de explicação ocorre muito frequentemente como uma clarificação do que foi dito
anteriormente. Apesar de termos podido responder ao longo do nosso trabalho às questões de
104
investigação enunciadas na introdução, várias outras questões se colocam nesta fase final da
sua elaboração, estimulando investigações futuras. Assim, na continuidade deste trabalho, são
várias as pistas que surgem para trabalhos futuros, entre elas, estudar o mesmo tema num
corpus mais significativo, estudar a reformulação comparando artigos científicos das ciências
naturais e das ciências sociais e humanas, fazer um estudo comparativo entre discurso escrito
e discurso oral (onde poderemos incluir estudos relacionados com a prosódia), analisar o tipo
de discurso em correlação com a ocorrência de marcadores de reformulação ou ainda analisar
a reformulação em géneros textuais diferentes.

105
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Espasacalpe.

110
Anexos

111
Anexo 1

Filosofia – Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Ano de
Código Autor (es) Título publicação Número

O conceito de felicidade na filosofia moral


01-F-FLUP Silva, Cláudia kantiana. Principais considerações 2012 29

O totem máquina. O futuro da identidade e o


02-F-FLUP Silva, Porfírio futuro da comunidade na máquina universal. 2012 29

O conceito de virtude nos estóicos e em Kant.


03-F-FLUP Silva, Cláudia Uma abordagem ao seu paralelismo. 2013 30

04-F-FLUP Baptista, Pedro A magia do tempo na génese do logos 2013 30

05-F-FLUP Araújo, Luís de Kierkegaard – Prelúdio ao existencialismo 2014 31

A escrita kierkegaardiana: A palavra que


06-F-FLUP Rosa, Jorge continua a abrir a filosofia 2014 31

07-F-FLUP Couto, Maria João Comunicação: o impróprio da filosofia? 2015 32

Haverá uma viável objeção de jure à crença


08-F-FLUP Faria, Domingos teísta? 2015 32

Martins, Maria Em torno de Plotino e da sua importância para


09-F-FLUP Manuela a filosofia medieval 2010/2011 27-28

O epifenomenismo, o dualismo e o estranho


Pinto, João caso da psicologia científica segundo W.
10-F-FLUP 2010/2011 27-28
Alberto James

Proença, Nuno James e Freud: estética das emoções e


11-F-FLUP Miguel fisiologia dos afectos 2010/2011 27-28

Silva, Cláudia
12-F-FLUP Maria da Kant – uma educação para a humanidade 2016 33

Veríssimo, Luís; Será a análise condicional uma resposta


13-F-FLUP Faria, Domingos satisfatória ao incompatibilismo? 2016 33

Será o conteúdo semântico de uma elocução


Falcato, Ana determinado pelo contexto em que pode ser
14-F-FLUP 2008/2009 25-26
Cristina proferida?
«O que é a filosofia?» - Uma abordagem da
15-F-FLUP Silveira, Daniela questão a partir de elogio da filosofia de M. 2008/2009 25-26
Merleau-Ponty

112
Revista Filosófica de Coimbra

Ano de
Código Autor (es) Título Número
publicação
De uma frágil radicalidade a passo de gato
01-F-UC Monteiro, Hugo no pensamento (político) de Jean-Luc 2017 51
Nancy
Contratempos – do amor: Filosofia, Amor e
02-F-UC Bernardo, Fernanda Melancolia 2014 46

Do desencanto pelas palavras e da


03-F-UC Henriques, Marisa necessidade de um léxico filosófico 2011 39
medieval português
Está a serenidade em nosso poder? Do
04-F-UC Lima, Paulo controlo das disposições segundo os antigos 2015 47
Estóicos
05-F-UC Queiroz, Regina Família, Justiça e Amor 2008 34

06-F-UC Braga, Joaquim Formas imagéticas e formas discursivas 2010 37

Imaginação, pensamento e conhecimento de


07-F-UC Carvalho, Mário si no comentário jesuíta conimbricense à 2010 37
psicologia de Aristóteles
Interpretações do mundo e
08-F-UC André, João multiculturalismo: incomensurabilidade e 2009 35
diálogo entre culturas
Fernando Pessoa e o movimento racionalista
09-F-UC Ribeiro, Nuno – um estudo a partir do espólio 2016 49

Particularidades do parentesco português: a


Santos, Armindo memória do nome de família feminino e a
10-F-UC 2008 34
dos sua outorga aos filhos
Potencialidades, limites e operadores do
11-F-UC André, João diálogo inter-religioso face ao diálogo 2012 42
intercultural
Que fenómenos estuda a teoria da
12-F-UC Grácio, Rui argumentação? Em que consistem as suas 2008 33
tarefas descritivas?
Filosofia, Psicologia e psiquiatria: a
inconsistência do modelo mecanicista da
13-F-UC Caldeira, Rui psique. Inconsciente e dialética na 2017 52
antropologia de Hegel: esboço de uma
filosofia da psicologia.
Sobre a experiência da vida consciente.
14-F-UC Umbelino, Luís Leituras biranianas 2008 33

Uma modernidade perdida. Da melancolia à


15-F-UC Carvalho, Mário alegria racional na antropologia do Homem 2013 43
superior, segundo D. Duarte

113
História – Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Ano de
Código Autor (es) Título publicação Número

Os agentes diplomáticos da Baixa Idade


01-H-FLUP Marinho, Duarte Média portuguesa (1431-1474): uma elite 2017 2
ao serviço da Coroa
As Arquitecturas do vinho de um porto
02-H-FLUP Pereira, Mariana monofuncional 2008 9

Imagens de França do Século XVIII através


Coutinho, Ana da Colecção Cartográfica do Visconde de
03-H-FLUP 2009 10
Sofia Balsemão
República e Educação: Dos princípios da
Alves, Luís Escola Nova ao Manifesto dos Pioneiros da
04-H-FLUP 2010 11
Alberto Educação
05-H-FLUP Ribeiro, Carla O “heróico cinema português”: 1930-1950. 2011 1

Intimidade, transgressão e privança na


dinâmica dos «afetos» do Antigo Regime:
06-H-FLUP Pinto, Ricardo o caso de António Conti, o príncipe dos 2012 2
favoritos de D. Afonso VI (1656-1662)
07-H-FLUP Pereira, Hugo O Banco Popular Português do Porto 2012 2

Conhecer para ocupar. Ocupar para


08-H-FLUP Costa, Luís Dominar. Ocupação Científica do Ultramar 2013 3
e Estado Novo.
09-H-FLUP Cunha, Adrião da Humberto Delgado e o seu exílio no Brasil 2014 4

A torre defensiva que D. João II mandou


10-H-FLUP Borges, Marco construir em Cascais: novos elementos para 2015 5
o seu estudo
Aprender a palavra ao ar livre. Estratégias
11-H-FLUP Amaral, Anabela de modernidade sanitária em Portugal no 2016 6
início do séc. XX.
Trilhos da Educação e do Português em
12-H-FLUP Neves, Catarina Angola 2016 6

Só ou acompanhado? A emigração para os


13-H-FLUP Sousa, Diogo territórios ultramarinos nos séculos XVI e 2017 7
XVII
As relações Portugal-Brasil e a emigração
14-H-FLUP Santos, Paula portuguesa. O impacto da legislação 2017 7
nacionalista de Getúlio Vargas
Abrindo as sete chaves: percurso de estudo
15-H-FLUP Costa, Patrícia em torno das despesas municipais do Porto 2011 1
(1668-1696)
114
Revista Portuguesa de História

Ano de
Código Autor (es) Título publicação Volume

Entre a tradição e a inovação: a agricultura da


01-H-UC Oliveira, João Beira Alta nos séculos XVIII e XIX 2010 41

Coelho, Maria “Morrer pela fé e pela Pátria”: um modelo


02-H-UC Helena hagiográfico 2008/2009 40

Causas do êxodo das minorias brancas da


03-H-UC Pimenta, Fernando África Portuguesa: Angola e Moçambique 2017 48
(1974/1975)
04-H-UC Santos, João Ceuta não foi conquista, mas começo dela 2015 46

Circulação de instrumentos musicais no


05-H-UC Monteiro, Isabel espaço português quinhentista 2015 46

Cristãos-novos na cidade de Viseu e a devassa


Cordeiro, Maria inquisitorial: entendimentos sobre uma
06-H-UC 2016 47
Teresa comunidade específica (sécs. XVI-XVII)
Em busca da perfeição cristã: práticas
07-H-UC Mendes, Paula espirituais e devotas dos leigos em Portugal 2016 47
(séculos XVI-XVII)
Exposições oitocentistas fora de portas e o
08-H-UC Pinto, Carla contributo dos objectos coloniais para a 2015 46
criação imaginal do Império português
Refugiados em Portugal: fronteira e vigilância
09-H-UC Faria, Fábio no tempo da Guerra Civil de Espanha (1936- 2017 48
1939)

A primitiva Faculdade de Letras do Porto e a


10-H-UC Ramos, Luís Universidade de Coimbra 2011 42

Coelho, Maria
11-H-UC Helena Portugal: um reino “Plantador de Naus” 2012 43

O papel das rainhas viúvas na consolidação do


12-H-UC Marques, Maria reino: os testamentos dos primeiros reis de 2013 44
Portugal
13-H-UC Oliveira, António O irrequieto cancioneiro profano do Rei Sábio 2013 44

Da dívida de guerra ao empréstimo externo:


14-H-UC Silva, Pedro perspectivas dos movimentos políticos e da 2014 45
opinião pública
Os “maluquinhos” de Arroios… A
15-H-UC Ribeiro, Cláudia reedeucação dos mutilados da Guerra no 2014 45
Instituto de Arroios (1916/1923)

115
Revista Estudos Linguísticos – CLUNL

Ano de
Código Autor (es) Título publicação Volume

Expresões idiomáticas: frases fixas


01-L-CLUNL Fernandes, Graça intransitivas do Português europeu 2008 -

A palavra mómada. Contributos para o estudo


02-L- CLUNL Seara, Isabel do género epistolar 2008 -

Entre unidades verbais e não verbais: a


03-L- CLUNL Gonçalves, Matilde construção do conteúdo temático e a literatura 2009 3
como actividade de linguagem
O discurso interactivo em diferentes géneros:
04-L- CLUNL Miranda, Florencia uma abordagem empírica 2009 3

Sobre os valores de ficar em Português


05-L- CLUNL Correia, Clara europeu 2010 5

Cunha, Luís Filipe;


Ferreira, Idalina; A distinção massivo/contável em diferentes
06-L- CLUNL 2010 5
Leal, António categorias gramaticais

A gramaticalização e a lexicalização como


07-L- CLUNL Carvalho, Maria José processos históricos 2012 6-7

A influência de propriedades fonológicas na


08-L- CLUNL Castelo, Adelina segmentação: estudo-piloto com alunos do 5º e 2012 6-7
do 10º ano de escolaridade
Contributos para a caracterização das orações
09-L- CLUNL Lopes, Ana Cristina adverbiais introduzidas por sem em Português 2015 10
europeu contemporâneo
Marcas de dialogismo e polifonia nos
10-L- CLUNL Pinto, Alexandra manifestos políticos das presidenciais de 2011 2012 8

Parâmetros e marcadores do género


Silva, Paulo Nunes dissertação de mestrado: análise de um corpus
11-L- CLUNL 2012 8
da do Português europeu
Da introdução ao resumo/abstract: o
Silva, Paulo; Santos, surgimento de um género híbrido nas atas da
12-L- CLUNL 2015 10
Joana Associação Portuguesa de Linguística
A escrita argumentativa à saída do ensino
13-L- CLUNL Rodrigues, Sónia secundário: análise de produções textuais 2015 10

Enunciação mediatizada na imprensa


14- L- CLUNL Oliveira, Teresa portuguesa e brasileira: um estudo de caso 2015 10

Cardoso, Adriana;
Pereira, Susana; Gramática & Texto: Uma experiência na
15-L- CLUNL 2015 10
Silva, Maria formação de professores

116
Revista de Estudos Linguísticos da Universidade do Porto

Ano de
Código Autor (es) Título publicação Volume

Relativização de Predicados Nominais na História


01-L-FLUP Cardoso, Adriana do Português 2008 3

A descrição do vocalismo átono quinhentista:


Paiva, Maria linhas e entrelinhas nos textos metalinguísticos
02-L-FLUP 2008 3
Helena coevos
03-L-FLUP Emiliano, António O primado da escrita 2009 4

Bernardo, Ana O léxico mental no ensino e aprendizagem de


04-L-FLUP Maria vocabulário na L2 (Alemão) 2010 5

Lopes, Ana Do tempo à condição: contributos para o estudo


05-L-FLUP Cristina das construções com o conector desde que em PE 2010 5

Pinto, Maria da Dos construtos teóricos para as aplicações: o


06-L-FLUP Graça professor como um dos mediadores 2011 6

Oliveira, Fátima; Sobre a iteração do Pretérito Perfeito Composto


07-L-FLUP Leal, António em Português Europeu 2012 7

Galhano- “Vou buscar ali, ali acima!” A multimodalidade da


08-L-FLUP Rodrigues, Isabel deixis no português europeu 2012 7

A princesa ficou *adormir ou a dormir? Dados


09-L-FLUP Afonso, Catarina sobre a consciência da unidade palavra em 2014 9
Português Europeu
Matos, Gabriela;
10-L-FLUP Colaço, Madalena Ênclise e próclise na coordenação 2014 9

Quem é que faz uma coisa destas? – Estratégias de


11-L-FLUP Morais, Armindo ratificação de Enunciados Narrativos produzidos 2015 10
em Situação de Interação Oral
«Os possessivos estão-me a complicar o ensino»:-)
12-L-FLUP Santos, Diana Um estudo do dativo possessivo em português 2015 10
baseado em corpos
Martins, Mariana; Conexões interfrásicas manuais e não-manuais em
13-L-FLUP Mata, Ana Isabel LGP: Um estudo preliminar 2016 11

Os *caracoles são *azules? Dados espontâneos e


Freitas, Maria; experimentais sobre a aquisição dos plurais das
14-L-FLUP 2017 12
Afonso, Catarina palavras com lateral final
Monossílabos CV do português: leves e
degenerados? Sonoridade vocálica e iteração de
15-L-FLUP Veloso, João elementos na atribuição de peso e na preservação 2017 12
da minimalidade em português

117

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