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MESTRADO EM LINGUÍSITCA
Marcadores de reformulação
parafrásticos no género artigo científico
Ana Sofia Freixo Pinto
M
2018
Ana Sofia Freixo Pinto
Setembro de 2018
Marcadores de reformulação parafrásticos no género artigo
científico
Membros do Júri
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3.3.2. Contributo dos marcadores de reformulação para a textualização do artigo científico72
3.3.2.1. Contexto sintático em que surgem os marcadores de reformulação .................... 72
3.3.2.1.1. Ou seja .......................................................................................................... 75
3.3.2.1.2 Quer dizer ...................................................................................................... 76
3.3.2.1.3. Isto é.............................................................................................................. 78
3.3.2.1.4. Por outras palavras ...................................................................................... 79
3.3.2.1.5. Ou melhor ..................................................................................................... 81
3.3.2.1.6. Aliás .............................................................................................................. 83
3.3.3. Valores semântico-discursivos de explicação e retificação..................................... 85
3.3.3.1. Atribuição de referência/identificação ............................................................. 86
3.3.3.2. Especificação ................................................................................................... 87
3.3.3.3. Explicação ........................................................................................................ 88
3.3.3.4. Tradução .......................................................................................................... 88
3.3.3.5. Definição .......................................................................................................... 88
3.3.3.6. Denominação ................................................................................................... 89
3.3.3.7. Correção ........................................................................................................... 89
3.3.3.8. Precisão ............................................................................................................ 90
3.3.3.9. Alternativa ....................................................................................................... 91
3.3.3.10. Equivalência total........................................................................................... 91
3.3.4. Os valores semântico-discursivos no corpus ........................................................... 91
3.3.5. Distribuição dos marcadores de reformulação parafrástica no plano de texto do artigo
científico ...................................................................................................................................... 96
3.4. Discussão dos resultados..................................................................................................... 98
3.4.1. Artigo científico........................................................................................................... 98
3.4.2. Marcadores de reformulação no artigo científico ...................................................... 100
Considerações finais......................................................................................................... 104
Referências bibliográficas ................................................................................................ 106
Anexo 1 ............................................................................................................................ 112
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Declaração de honra
Declaro que a presente dissertação é de minha autoria e não foi utilizada previamente
noutro curso ou unidade curricular, desta ou de outra instituição. As referências a outros
autores (afirmações, ideias, pensamentos) respeitam escrupulosamente as regras da
atribuição, e encontram-se devidamente indicadas no texto e nas referências
bibliográficas, de acordo com as normas de referenciação. Tenho consciência de que a
prática de plágio e auto-plágio constitui um ilícito académico.
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Agradecimentos
Agradeço, antes e acima de tudo, a Deus.
Agradeço à Professora Doutora Maria de Fátima Henriques da Silva por ter aceitado
orientar-me, por todo o apoio, boa disposição, sugestões, correções e pelo entusiasmo com
que trabalhou comigo este tema.
Agradeço a todos os professores da Licenciatura e do Mestrado em Linguística pelo
conhecimento transmitido e pelo acompanhamento que sempre disponibilizaram.
Agradeço à Dra. Françoise Bacquelaine pela ajuda que me deu com o uso do
Corpógrafo e pela disponibilidade.
Agradeço aos meus pais por nunca me terem ensinado a desistir. Agradeço ao meu pai
por todas as vezes que se ofereceu para me ajudar e agradeço à minha mãe toda a
compreensão e paciência nos dias mais difíceis. A vós, agradeço eternamente a minha vida.
À minha irmã Débora, agradeço por ser um exemplo de persistência e coragem, e por
todo o apoio e confiança que me deu.
Agradeço ao André por ter estado sempre ao meu lado, por ter acreditado em mim
mais do que eu própria, por nunca me deixar baixar os braços e pela enorme paciência que
teve.
Agradeço a toda a minha família, em especial à minha avó Emília que nunca deixou
que eu me esquecesse que o mais importante é ter sempre fé.
Ao meu avô Quim, ao avô Manel, à avó Rosária, à Carolina e à Margarida, agradeço
o facto de estarem sempre comigo.
A todos os meus amigos, agradeço o ânimo, o incentivo e a compreensão de algumas
ausências.
Às minhas colegas de mestrado, agradeço os momentos tão divertidos que
partilhamos, dentro e fora da sala de aula e, acima de tudo, agradeço a amizade.
Às Vozes Brancas agradeço por serem o meu escape nestes dias tão exigentes.
A todos os que contribuíram para a realização deste trabalho: Muito obrigada!
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Resumo
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Abstract
The aim of this study is to analyse the reformulation within the scientific article. This
work is divided into three chapters: the first chapter relates to the scientific article and, above
all, to its text plan for which the theories of Swales (1990) and Marconi e Lakatos (2001) served
as theoretical support; the second chapter concerns the reformulation, with special emphasis on
reformulation markers, based on the theoretical proposals of Zorraquino and Portóles (1999)
and Gómez (2008). Finally, the third chapter presents the corpus that is composed of 90
scientific articles from two scientific journals of each of the following subjects: Philosophy
(Filosofia. Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto and Revista Filosófica de
Coimbra), History (História. Revista da FLUP and Revista Portuguesa de História) and
Linguistic (Estudos Linguísticos/Linguistic Studies and Revista de Estudos Linguísticos da
Universidade do Porto), published between 2008 and 2018. First, we try to understand if these
journals present editorial norms for the texto plan. Then, in the analysis of the reformulative
markers we chose to study the paraphrastic markers from which we selected the following: ou
seja, isto é, quer dizer, por outras palavras, ou melhor and aliás.These discourse markers are
studied based on the semantic-discoursive values with which they relate two discoursive
segments. The scientific article is a written textual genre, so the hypothesis (that was confirmed)
was that the reformulation will occur here with a more explanatory function rather than a
rectifying function.
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Índice de tabelas, esquemas e gráficos
Tabelas
Tabela 7: Número de artigos por revista com a designação “Introdução”, com outra designação
ou sem designação .......................................................................................................... 66
Tabela 8: Síntese do estudo dos marcadores de reformulação quanto à sua posição sintática,
composição e comutabilidade ........................................................................................ 85
Esquemas
Esquema 3: Artigo científico das ciências naturais e das ciências sociais e humanas ... 25
Gráficos
Gráfico 1: Número de artigos por revista com as subsecções dos preliminares ........... 63
Gráfico 2: Número de artigos por revista com as subsecções do corpo do texto .......... 64
Gráfico 3: Número de artigos por revista com as subsecções da parte referencial ....... 65
Gráfico 12: Distribuição por revista dos marcadores de reformulação parafrástica no plano de
texto do artigo científico ............................................................................................... 97
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Introdução
O artigo científico é um género textual que tem sido investigado por diversos autores,
que trabalham em áreas científicas e quadros teóricos diversos. Enquanto género textual pode
definir-se como instrumento adequado à realização de ações de linguagem, manifestadas
através de textos empíricos, que constituem exemplares que se caracterizam por serem únicos
e singulares (Coutinho, 2011). Essa singularidade não implica, no entanto, a impossibilidade
de se definirem determinados parâmetros relativamente estáveis que possam caracterizar este
género, como acontece, de resto, para outros géneros (cf. Coutinho, 2006).
A seleção deste corpus constitui a base para o nosso estudo, que tem essencialmente dois
objetivos. Por um lado, procuramos descrever o género artigo científico, sobretudo atendendo
ao seu plano de texto, a partir de uma revisão da literatura sobre este género e sobre o conceito
de plano de texto. Por outro, pretendemos analisar o comportamento dos marcadores de
reformulação parafrásticos no contexto do género artigo científico, determinando as suas
propriedades e os seus valores semântico-discursivos.
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— Como se reflete a área científica em que circulam os textos ao nível do plano de texto
do artigo científico?
14
Capítulo 1 – O género artigo científico
O constante avanço da ciência obriga a que a sua divulgação caminhe ao mesmo ritmo,
dando a conhecer aos outros cada nova descoberta, através da literatura científica. Há, de facto,
uma relação bidirecional entre o cientista que produz um determinado trabalho científico e o
cientista ou comunidade científica, seus interlocutores, que irão ver e analisar criticamente esse
trabalho. Esta relação é de grande relevância, uma vez que para que um estudo seja considerado
conhecimento científico necessita de passar pela legitimação por parte de outros cientistas.
Reforçando com as palavras de Souto (2014), o discurso científico pressupõe assim um locutor
e um alocutário, estando estes dois papéis ocupados por especialistas de uma determinada área.
Existem vários meios de propagação da ciência, mas há claramente um com um papel
de destaque na sociedade científica: o artigo científico.
Bronckart (1996:34) assume que a linguagem se relaciona com as atividades sociais pelo
facto de ser uma produção interativa e, por isso, os textos (como forma de manifestação dessa
linguagem) são produto da atividade humana. Como já foi dito, um texto inscreve-se dentro de
um género textual e, apesar de vários autores definirem este último conceito, não é tarefa fácil
definir o conceito género textual no seu sentido global e caracterizar isoladamente os vários
géneros relativos a cada prática social. Esta dificuldade advém do facto de os géneros serem a
concretização verbal de uma determinada prática social, ou seja, se os contextos socio-
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históricos em que se produzem determinados textos vão alterando, o mesmo vai acontecendo
com os géneros textuais, na medida em que estes têm que acompanhar este processo evolutivo
da sociedade e das suas práticas. No entanto, não é apenas a evolução da sociedade que provoca
esta constante atualização dos géneros. Bronckart (1996:76) refere alguns outros motivos, a
saber: o tipo de atividade humana em questão, o objetivo comunicativo pretendido, o tipo de
suporte e o conteúdo temático.
O género textual que nos propomos a analisar neste estudo é o género artigo científico.
Este género textual faz parte do tipo de discurso académico-científico, do qual fazem parte
também textos como dissertações, teses, relatórios, palestras, entre outros. Tal como em todos
os discursos, o científico também pressupõe um locutor e um alocutário, estando estes dois
papéis ocupados por especialistas de uma determinada área.
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alterações não se esgotam, isto é, vão surgindo sempre mais ao longo do tempo, mantendo
constante esta alteração de propriedades de cada género de texto. Tal como afirma Miranda
(2010:96), “os géneros são heterogéneos, dinâmicos e em número potencialmente infinito”. É
precisamente o facto de estes géneros se atualizarem que nos é permitido estudar aquilo que
era o artigo científico do século XVII e daí em diante e como se apresenta nos dias de hoje.
Relativamente à origem do artigo científico, esta remonta ao século XVII, mais
precisamente ao ano de 1665. Apesar de vários autores situarem cronologicamente a origem
do artigo científico aquando do surgimento do periódico científico The Philosophical
Transactions of the Royal Society, sendo este considerado o único, Pimenta (2014:9) dá-nos a
conhecer que, a par deste, surgiu um outro periódico, em Paris, o Journal dês Sçavants. Este
género textual surgiu como uma forma de os cientistas comunicarem entre si, utilizando, para
isso, cartas informativas, sendo o formato deste último género de texto o que os artigos
científicos apresentavam nos seus primeiros anos de existência (Swales, 1990). No entanto,
com o estatuto que estes periódicos passaram a assumir na sociedade, era fundamental a criação
de um novo género textual, que se diferenciasse bastante das cartas pessoais. O formato base
com que se apresentam os periódicos científicos atuais pode ser um vestígio da influência que
teve o The Philosophical Transactions of the Royal Society, pois, uma vez editado pela Royal
Society, “uma sociedade científica com tradição nos estudos científicos”, procuraram, na
altura, padronizar um formato para as suas publicações (Pimenta, 2014:9). Já o Journal dês
Sçavants, conhecido como divulgador de conteúdos científicos bastante variados, pode ter
influenciado sobretudo as revistas modernas da área das humanidades (Pimenta, 2014:9).
Quanto à definição de artigo científico, Marconi e Lakatos (2001:84) dizem que “os
artigos científicos são pequenos estudos, porém completos, que tratam de uma questão
verdadeiramente científica, mas que não se constituem em matéria de um livro”. Swales
(1990:93) também define este género textual como sendo um texto escrito “usually limited to
a few thousand words, that reports on some investigation carried out by its author or authors”.
No que respeita ao seu objetivo, Costa (2011) diz-nos que
Para explicitar este modelo proposto por Bronckart, Miranda (2008:84) elabora o
seguinte esquema:
Apesar de serem três as camadas constituintes de um texto, voltamos a referir que este
estudo abordará apenas duas delas, mantendo por base a proposta de Bronckart: os mecanismos
de textualização e a infraestrutura geral do texto onde, dentro desta, terá papel de destaque o
plano de texto.
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para a coerência textual e para facilitar a interpretação da informação, como diz Silva
(2016:182):
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Discussão e Conclusões. No caso dos textos de investigação reflexivo-ensaística, estes
“estruturam-se geralmente por tópicos definidos pelo autor em função do percurso de pesquisa
efetuado, o qual está dependente, entre outros fatores, do tema abordado” (Silva, 2016:189),
ou seja, o autor diz não haver uma organização pré-determinada como no caso das ciências
experimentais. É importante referir que Silva (2016) aborda um outro tipo de plano de texto
que surge quando é verificada a junção das propriedades dos dois tipos referidos anteriormente,
chamando-se assim plano misto.
Focalizemos agora o estudo do plano de texto no âmbito do género artigo científico, para
o qual contribuíram estudos como o de Swales (1990) e de Marconi e Lakatos (1991, 2001). A
organização de cada artigo será ditada sobretudo pelas normas de publicação específicas de
cada revista científica. Torna-se, assim, relevante perceber se é de facto estável o plano de
texto dos artigos científicos ou se apresenta alterações e, se assim for, compreender se é a área
científica que impõe essas alterações. Van Dijk assume ainda que as partes de um discurso têm
determinadas funções e são essas funções que determinarão as categorias do discurso
(1983:235).
Uma vez estudada a história do artigo científico e certas diferenças estruturais que se
foram verificando desde a sua origem até aos dias atuais, importa estudar o seu plano de texto,
uma vez que é desde há muito tempo e continua a ser objeto de várias investigações. Como já
tínhamos visto, o final do século XVIII foi a altura em que se deu a reconfiguração do artigo
científico. Para dar conta desta reconfiguração, Bazerman (1983: 16-17; apud Swales, 1990:
113) diz o seguinte:
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Para além destes, Swales dá-nos a conhecer trabalhos de autores que estudaram
especificamente uma determinada parte do artigo científico. 1A introdução foi estudada por
autores como Hepworth (1979), Swales (1981), Cooper (1985), entre outros. Para os métodos
e resultados existem os estudos de Wood (1982) e Bruce (1983) e a secção da discussão foi
estudada, por exemplo, por Belanger (1982) e Peng (1987). Swales (1990:133) explicita ainda
algumas das propostas referidas relativamente à macroestrutura do artigo. Assim, Stanley
(1984) propõe uma estrutura problema-solução, enquanto Bruce (1983) sugere a seguinte:
Introdução – Métodos – Resultados – Discussão.
Swales (1990) admite que o plano de texto do artigo científico se apresenta de certa
forma estabelecido, sendo então constituído por uma introdução, os métodos, os resultados, a
discussão e a conclusão. Contudo, sabemos que apesar destas categorias serem as prototípicas,
nem sempre se verificam na estrutura do artigo científico.
Analisando agora a proposta de Marconi e Lakatos (1991), estas afirmam que é o fim a
que se destina o artigo científico que deve impor a forma como este se estrutura. No entanto,
as autoras não deixam de apresentar uma proposta para a divisão dos artigos científicos. Assim
sendo, Marconi e Lakatos (2001:85) dizem-nos que o artigo científico se divide sobretudo em
três grandes partes: os preliminares, o corpo do texto e a parte referencial. Deve assim iniciar-
se pelos preliminares, onde se incluem o cabeçalho (título e subtítulo do trabalho), o nome
do(s) autor(es), as respetivas credenciais e o local onde se realiza a atividade. Em segundo
lugar, as autoras sugerem uma sinopse que não é mais do que o que outros autores chamam de
resumo, devendo este ser escrito em português, inglês ou noutra língua de difusão
internacional. Depois do resumo surge então o corpo do artigo e este divide-se em introdução,
texto, comentários e conclusões. No que respeita à introdução, esta deve conter informações
que digam ao leitor qual o assunto que está a ser tratado, qual o objetivo do artigo, qual a
metodologia utilizada pelo autor do artigo, podendo apresentar algumas limitações sentidas no
decorrer da atividade, e apresenta, finalmente, a proposição. Na secção reservada para o texto,
apresenta-se uma exposição do tema que está a ser estudado, explica-se e demonstra-se o
material utilizado, apresentam-se os resultados e respetiva avaliação e faz-se uma comparação
1
Neste contexto, assumimos como referências indiretas a remissão aos autores citados por Swales (1990), tal
como referimos no corpo do texto.
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com outras obras referentes ao mesmo tema. Por fim, surgem os comentários e conclusões
onde se resume aquilo que foi estudado no artigo fazendo deduções lógicas. Seguidamente à
secção do texto vem uma secção de grande pertinência a que as autoras chamam de parte
referencial. Esta secção deve ser composta pela bibliografia utilizada, por apêndices ou anexos
(no caso de existirem), agradecimentos e a data. Apesar desta proposta bem dividida, Marconi
e Lakatos (2001) também afirmam que não é a única passível de ser utilizada e, apesar de
muitas categorias ou secções se apresentarem intactas, as autoras afirmam que a secção do
corpo do trabalho pode subdividir-se de outra forma. Assim, as autoras apresentam a seguinte
divisão para o corpo do trabalho: introdução, material e método, resultados, discussão e
conclusões.
Não podemos deixar de notar que Marconi e Lakatos (2001) apresentam também como
hipótese de estruturação a que é utilizada por Swales (1990), ou seja, IMRDC, embora não seja
essa a sua proposta tipológica.
Apesar de serem vários os investigadores a estudar o plano de texto do artigo científico,
foi notória a semelhança nas propostas analisadas, estando sempre presentes os elementos que
nos parecem ser mais frequentes aquando da elaboração de um artigo científico: a introdução,
a metodologia e materiais, os resultados e a discussão. No entanto, nem sempre esta
estruturação se mantém tão estável, provavelmente devido ao que é imposto pela área científica
em questão e pelas normas de publicação exigidas pelas editoras.
Assim, Souza (2009), adaptando um esquema de Feltrim et al (2000:4), permite-nos
comparar a estrutura de artigos científicos das ciências exatas e das ciências sociais e humanas:
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Esquema 3: Artigo científico das ciências naturais e das ciências sociais e humanas, in
Souza (2009), adaptado de Feltrim et al (2000:4)
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Para explicar estas relações entre mundos discursivos e tipos de discurso, Bronckart
(2012:42-43) diz que os quatro tipos de discurso se baseiam em duas relações binárias: a
primeira (disjunção-conjunção) remete para as coordenadas relativas ao conteúdo temático
verbalizado, apresentando dois modos: o narrativo e o expositivo. O modo narrativo dá-se
quando as coordenadas do conteúdo temático estão separadas das coordenadas gerais de
produção e o modo expositivo, quando as coordenadas do conteúdo temático estão articuladas
às coordenadas gerais de produção.
A segunda decisão binária está relacionada não com o conteúdo temático verbalizado
mas com os agentes verbalizados, ou seja, se os agentes verbalizados estiverem conectados
diretamente com os agentes produtores do texto e à situação na qual é realizada a ação verbal,
há uma relação de implicação; por outro lado, quando estes agentes verbalizados não estão
diretamente ligados aos agentes produtores do texto e à situação de ação verbal, há uma relação
de autonomia. É através da combinação destas decisões binárias que se obtêm os quatro
mundos discursivos, nos quais se inserem os tipos de discurso.
Podemos ver esta relação entre tipos de discurso e mundos discursivos na tabela 1:
Tabela 1: Tipos de discurso e mundos discursivos, traduzido de Bronckart (1997: 159), apud Miranda
(2008:85)
Assim, relativamente ao género artigo científico, este insere-se no Mundo do Expor uma
vez que “há relação entre as coordenadas gerais do conteúdo temático de qualquer artigo com
as coordenadas do mundo ordinário do locutor, onde se desenvolve a ação de linguagem do
texto” (Souto, 2014:22). Dentro do mundo do expor, o género artigo científico apresenta-se
como discurso teórico, uma vez que há uma relação de autonomia entre os agentes verbalizados
e os agentes produtores do texto assim como com a situação de ação verbal.
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1.3.3. A textualização no artigo científico
L’analyse de la manière dont sont agencés les mots et les signes de ponctuation
pour construire des phrases, des textes, des discours, ainsi que l’examen de la distribution
des catégories grammaticales, peuvent révéler certaines caractéristiques de l’écriture d’un
genre ou du style d’un auteur (Ablali, 2007).
Síntese
Neste primeiro capítulo, estudamos o artigo científico partindo do princípio de que tal
como todos os outros géneros textuais, o artigo científico está inserido numa prática social.
Além disso, analisamos o artigo científico tendo em conta a sua origem e evolução. De seguida
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e tendo presente que é um dos conceitos centrais neste estudo, abordamos o plano de texto do
artigo científico, fazendo referência a algumas propostas, sobretudo a de Swales (1990) e a de
Marconi e Lakatos (2001). Finalmente, este capítulo encerra abordando a textualização deste
género textual, onde estão inseridos os mecanismos de conexão, os mecanismos de coesão
verbal e os mecanismos de coesão nominal. É este ponto que nos possibilita uma ligação entre
este primeiro capítulo e o segundo, no qual estudamos a reformulação como mecanismo de
textualização no artigo científico.
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Capítulo 2. – A reformulação
2.1. A reformulação
O termo reformulação foi introduzido na França e na Alemanha, nos anos 80, por Gülich
e Kotschi e praticamente na mesma altura por Roulet em Genebra. Apesar de terem sido as
pioneiras no estudo da reformulação, são vários os autores que desde essa altura até aos dias
atuais, incidem os seus estudos sobre este tema. Para começar, convém referir que a
reformulação faz parte de uma função mais abrangente, a formulação. Formular permite assim
organizar a informação e resolver problemas que podem surgir aquando da construção
discursiva (Martínez, 2016).
É possível vermos em muitos trabalhos várias definições de reformulação e, apesar de os
investigadores poderem analisar a reformulação de diferentes formas tendo em conta os seus
objetivos, a definição é quase consensual. Depois de lidos vários estudos, a noção global é a
de que a reformulação é um retorno sobre algo que foi dito para dizê-lo de uma forma mais
clara. Comprovaremos esta afirmação com as definições apresentadas por alguns autores.
Gómez (2003, 2008) define a reformulação como um meio organizador do discurso que
“permite al hablante volver sobre un segmento anterior para reinterpretalo y presentarlo desde
una perspectiva distinta”. Diz-nos ainda que as relações de reformulação são do tipo
hierárquico unidirecional, uma vez que se dá mais relevância ao que é expressado no segmento
reformulado.
A mesma autora continua dizendo que a reformulação “es el processo retroactivo que
permite explicar, rectificar, reconsiderar, recapitular o separarse de la formulacíon anterior”
(2008:69). No caso de Lopes e Carapinha (2013), a reformulação é entendida como uma
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operação metadiscursiva e é ativada pelo falante devido à intenção que este tem de tornar o seu
discurso o mais inteligível possível. Na definição de Richard (2008), a palavra reformulação
supõe que há uma primeira formulação, ou seja, formula-se de novo aquilo que se disse
anteriormente e, por isso, apresenta a reformulação como uma sequência de dois enunciados
sucessivos. Na esteira de Blakemore (1993:107), Cuenca (2003) também apresenta uma
definição de reformulação definindo-a assim como uma função discursiva na qual uma
determinada ideia é reelaborada pelo seu locutor com o objetivo de se tornar mais específica,
facilitando assim a intercompreensão por parte do interlocutor. Martínez (2016) apresenta a
reformulação como a produção de uma nova versão do que foi dito anteriormente, através de
um retorno ao assunto anterior para “aclara-lo, sintetiza-lo ou corrigi-lo”. Para Gonçalves e
Valentim (2017:26), “Le recours à la reformulation et aux marqueurs démontre une
préoccupation de la part de l´énonciateur à être compris et une préoccupation à gérer
l’interprétation de ses propos”.
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O segmento A diz respeito à primeira formulação, ou seja, o enunciado-fonte (na
proposta de Gülich e Kotschi (1983)); neste caso, Gómez apresenta o conetor como meio de
expressão da reformulação, podendo ser utilizado um outro mecanismo. É, portanto, este
mecanismo (neste caso, um conetor) que irá introduzir o segmento B, que se apresenta assim
como a nova formulação do segmento A. Como se referiu, os conetores não são os únicos
meios de que uma língua dispõe para elaborar uma reformulação e, por isso, Martínez
(2016:20) apresenta um esquema mais global para o processo de reformulação:
[A reformulación A']
A reformulação pode ter ainda diferentes objetivos tendo em conta as condições em que
surge, isto é, se surge num discurso planificado ou num discurso não planificado.
O discurso não planificado surge e é transmitido num momento quase único, ou seja, o
processo de cognição e de verbalização são quase conjuntos. Neste caso, os defeitos ou erros
na produção discursiva são detetados após a sua verbalização e, por isso, há a necessidade de
voltar a um enunciado anterior para formulá-lo de maneira diferente. É no discurso não
planificado que se associa mais facilmente a típica função da reformulação, que é a de corrigir
erros de produção do discurso. No entanto, a reformulação também surge no discurso
planificado, de que é exemplo o género textual tratado neste estudo – o artigo científico. No
texto escrito, o momento de produção e o momento de transmissão não são únicos, o que
possibilita a realização de um texto mais elaborado, tendo em conta o tempo disponível que
tem para a sua produção. O artigo científico é um género textual escrito e planificado, onde há
a possibilidade de se corrigir no momento da sua produção e antes de ser publicado. Por isso,
o papel da reformulação deverá ser distinto do papel que esta realiza no discurso não
planificado. Assim, no discurso planificado, a reformulação converte-se “en un mecanismo
para alcanzar determinados efectos contextuales, no transmitidos por la primera formulacíon”
(Blakemore, 1993, 2002, apud Gómez, 2008:70).
Finalmente, há uma outra distinção importante a respeito da reformulação:
autorreformulação e heterorreformulação. Quando o processo de reformulação é iniciado pelo
próprio falante chama-se autorreformulação, ou seja, é o locutor que dá conta de algum defeito
na produção do seu discurso que poderá pôr em causa a interpretação por parte do alocutário.
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No outro caso, a heterorreformulação acontece quando é o alocutário quem sugere uma
reformulação, dando a conhecer ao locutor que este poderá não ter formulado o seu discurso
da maneira mais explícita (Gómez, 2008:69).
No caso da autorreformulação, podemos ter exemplos como o de (1):
(1) No seu documento final, esta sessão extraordinária proclamou a semana a começar na
data do aniversário da Constituição da ONU, ou seja, a 24 de Outubro, como a Semana
Mundial do Desarmamento. (Lopes, 2014:42)
Fuchs (1985) diz que a paráfrase pode ser estudada sob três perspetivas: a paráfrase como
equivalência formal entre frases, a paráfrase como sinonímia de frases e a paráfrase como
reformulação. Interessa-nos esta última aplicação da paráfrase. Segundo a mesma autora, a
paráfrase a nível do discurso tem sido vista como “uma atividade efetiva de reformulação pela
qual o locutor restaura (bem ou mal, na totalidade ou em parte, fielmente ou não) o conteúdo
de um texto-fonte sob a forma de um texto-secundo” (1985:133). Caracterizando ainda mais a
reformulação parafrástica, Fuchs (1985) afirma que esta deve assentar numa interpretação
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prévia do texto-fonte, deve ser capaz de identificar o sentido do texto-fonte reconstruindo-o e
deve ser traduzido por características metalinguísticas da linguagem.
Acerca do mesmo assunto, Gómez (2008:71) define a reformulação parafrástica como
“una relación de equivalencia discursiva, basada en una equivalência semántica establecida
entre los membros, que se muestra de modo gradual de un máximo a un mínimo (…) ”.
Esta função da paráfrase de realizar uma equivalência semântica pode ser marcada
linguisticamente na superfície textual pelos marcadores de reformulação parafrástica.
Rossari (1994), apud Zorraquino e Portóles (1999), explica que os marcadores de
reformulação introduzem um membro do discurso como uma nova formulação do que foi dito,
acabando por dar maior relevância a este segundo membro, ao contrário do que acontece com
outro tipo de conetores. Gülich e Kotschi (1983) subdividem os reformuladores parafrásticos
em dois subgrupos: “marqueurs de fonction illocutoire réactive” e os “marqueurs de fonction
interactive”. No primeiro caso, estão inseridos marcadores cuja função é marcar um enunciado
como uma reação/confirmação ao enunciado anterior de outro interlocutor. No segundo caso,
os marcadores de função interativa caracterizam-se por vincular os diferentes atos existentes
numa intervenção. É nesta última categoria que as autoras inserem os marcadores
reformuladores.
A reformulação não parafrástica foi proposta por Roulet, em 1987 (Gómez, 2008). Como
vimos anteriormente, a reformulação parafrástica caracteriza-se pela existência de uma
equivalência semântica entre dois membros do discurso. Contrariamente a esta, a reformulação
não parafrástica define-se por corresponder a uma mudança de perspetiva enunciativa e, além
disso, sugere uma relação hierárquica entre o enunciado-fonte e a nova formulação. Rossari
(1990, 1997), apud Gómez (2008), distingue os dois tipos de reformulação tendo por base a
função do marcador utilizado:
(…) a pragmatic class, lexical expressions drawn from the syntactic classes of
conjunctions, adverbials, and prepositional phrases. With certain exceptions, they signal a
relationship between the segment they introduce, $2, and the prior segment, S1. They have
a core meaning which is procedural, not conceptual, and their more specific interpretation
is 'negotiated' by the context, both linguistic and conceptual.
36
Focar-nos-emos nos marcadores discursivos que fazem parte do tema central deste
estudo: os marcadores de reformulação. Estes podem ser divididos em dois subtipos
correspondentes aos dois subtipos de reformulação: os marcadores de reformulação
parafrásticos e os marcadores de reformulação não parafrásticos. Relativamente ao lugar que
ocupam na frase, os marcadores de reformulação podem ocupar três posições diferentes, ou
seja, podem surgir antes, depois ou integrados no segundo enunciado (Gülich e Kotschi,
1983:317). Assim, dois enunciados ligados por um marcador de reformulação podem ser
apresentados das seguintes formas:
EF – Enunciado-fonte
MR- Marcador reformulador
ER- Marcador reformulado
(3) A compra era proposta em «leasing», quer dizer, numa espécie de aluguer-venda.
(CETEMPublico, par=ext128184-pol-94a-2)
No exemplo (3), verificamos que o marcador de reformulação quer dizer surge na sua
posição mais típica, isto é, entre os dois membros constituintes do discurso. Manipularemos
agora este exemplo de modo a que seja possível demonstrar se realmente é possível que o
marcador de reformulação ocupe as outras duas posições:
(a) A compra era proposta em «leasing», numa espécie, quer dizer, de aluguer-venda.
(b) A compra era proposta em «leasing», numa espécie de aluguer-venda, quer dizer.
37
Como enunciado-fonte temos “A compra era proposta em «leasing»”, o marcador de
reformulação é, neste caso, “quer dizer” e o segmento reformulado é “numa espécie de
aluguer-venda”.
Vimos, nos exemplos (3a) e (3b), que é possível variar a posição do marcador
reformulador sem que o seu significado seja alterado.
Testaremos agora estas noções com um marcador reformulador não parafrástico:
(4) O mesmo se passa com os coxos, manetas, zarolhos ou ciganos, porque, em suma,
somos minorias. (CETEMPublico, par=ext88103-nd-93b-1)
(a) O mesmo se passa com os coxos, manetas, zarolhos ou ciganos, porque somos, em
suma, minorias.
(b) O mesmo se passa com os coxos, manetas, zarolhos ou ciganos, porque somos
minorias, em suma.
Nos exemplos (4a) e (4b), temos como primeiro membro discursivo ou enunciado-fonte
“O mesmo se passa com os coxos, manetas, zarolhos ou ciganos”, o marcador não parafrástico
é “em suma” e o segundo membro discursivo é “porque somos minorias”.
38
No caso de existir uma relação de equivalência, esta pode ser de dois tipos: de
identificação ou de especificação, ou seja, aquilo que é apresentado no segundo membro
discursivo é tido como uma conclusão derivada “por los tópicos creados por el hablante en el
próprio discurso o bien por los conocimientos compartidos com los interlocutores” (Gómez,
2008:87). Quando estamos perante uma relação de distanciamento, o que é visível no membro
discursivo introduzido pelo marcador é uma extração do essencial, ou seja, na passagem do
primeiro para o segundo membro do discurso permanece aquilo que é considerado mais
relevante para o ato comunicativo. Com isto, aquilo que se infere é que houve uma separação
entre o que foi dito e o que passou a ser dito ou a introdução de uma nova perspetiva discursiva
(Gómez, 2008:115). Desta forma, podemos distinguir dois tipos de movimentos
reformulativos: um movimento variacional e um movimento não variacional que, por sua vez,
se subdividem dando origem a outros movimentos: “movimento no variaciona expansional, no
variacional reductivo, y variacional virante, variacional permutante” (Morales, 2017:67).
(5) Ao mesmo tempo, deve ser alguém que esteja bem na Igreja, quer dizer, que conheça
bem o conjunto dos «dossiers» da Conferência Episcopal, para poder transmiti-los,
transcrevê-los. (CETEMPublico, par=ext13744-soc-92a-1)
(6) «Propomos então um compromisso religioso total por um período limitado, quer dizer,
um compromisso religioso temporário» (CETEMPublico, par=ext36982-soc-94b-1)
(7) Num discurso teatral e cheio de «veneno» contra Mário Soares, Sérgio Palma Brito,
um nome com eco no meio algarvio, afirmou alto e bom som que «ser contra a
massificação é tão anormal como ser contra a chuva», e verberou aqueles que «só
sabem dizer lugares comuns contra a ânsia do lucro fácil, ainda por cima com
referências às Massamás e às Reboleiras», quer dizer: chegara a hora do Presidente
entrar na berlinda. (CETEMPublico, par=ext124155-clt-soc-94a-1)
Este marcador estabelece una relación entre los membros concatenados que se
configura mediante asignación de referencia; o mediante processos de explicitación del
significado a través de la aclaración, ejemplificación o rectificación; o de ampliación
significativa en la definición o de reducción en la denominación.
Como é possível verificar no estudo de Gómez (2008), o marcador o sea exibe um grande
número quanto às possibilidades de emprego, podendo apresentar entre os membros
discursivos uma relação de atribuição de referência, de especificação, de explicação, de
tradução, de definição, de recapitulação, de conclusão, entre outras.
2
Embora saibamos que não é possível fazer corresponder os marcadores discursivos em Português e em
Espanhol de forma direta, mesmo quando são aparentemente iguais, decidimos, na revisão da proposta
tipológica de alguns autores espanhóis, ensaiar uma tradução para esses marcadores e ilustrá-los com exemplos
autênticos do Português por considerarmos que, dessa forma, poderíamos estabelecer um quadro explicativo
mais adaptado ao Português.
41
Comprovaremos algumas destas relações com os exemplos (8)-(10):
(11) A nota que o aluno irá ter na sua prova depende principalmente do professor que a
classifica, isto é, do avaliador. (CETEMPublico, par=ext1276762-nd-91b-3)
(12) Ao mesmo tempo, juram que tal manobra não implicará custos directos para os
contribuintes -- isto é, não aumentará os impostos. (CETEMPublico,
par=ext144331pol-97a-1)
42
(13) A guerra fria tinha pelo menos um mérito: os enormes arsenais que se coleccionavam
de ambos os lados da cortina de ferro garantiam, paradoxalmente ou não, a
desactivação permanente das máquinas de guerra, isto é, a paz. (CETEMPublico,
par=ext726671pol-93a-1)
(14) «Carpe diem! ", isto é, gozem este dia! (CETEMPublico, par=ext1092984-nd-94b-1)
(15) " ` Anomalia ' é a diferença entre os padrões observados no âmbito de uma avaliação
climática a longo prazo, isto é, são registos que estão fora da média», explica Sousa
Brito. (CETEMPublico, par=ext448305-nd-95a-2)
É possível assim comprovar os diferentes usos do marcador esto es (isto é) através dos
exemplos anteriores, uma vez que temos, entre outros, casos de denominação (13), tradução
(14) e explicação (15).
Finalmente, o último marcador que ambas as propostas consideram como reformulativo
explicativo é o marcador discursivo a saber. Segundo Zorraquino e Portóles (1999:4125), este
marcador é utilizado quase exclusivamente no discurso escrito e, tal como no marcador isto é,
o tópico mantém-se no segundo membro discursivo. Quanto às relações que podem assinalar,
a saber pode atribuir referência a expressões deíticas (16), pode especificar um segmento
anterior e pode enumerar as partes de um constituinte (17) (Gómez, 2008:103-104).
Verifiquemos os exemplos (16) e (17):
(16) O que não consegue é iludir o verdadeiro problema, a saber: as tradutoras não
produziram um texto legível. (CETEMPublico, par=ext16323-clt-94a-1)
(17) Antes do encontro com os jornalistas, Carlos Lage, coordenador da Federação, tinha
reunido num almoço sete autarcas, a saber: Fernando Gomes (Porto), Narciso Miranda
(Matosinhos), Mário de Almeida (Vila do Conde e presidente da ANMP) , Joaquim
Couto (Santo Tirso e presidente da Associação Nacional de Autarcas do PS) , Heitor
Carvalheiras (Gaia) Anibal Lira (Gondomar) e João Moreira Dias (Valongo).
(CETEMPublico, par=ext28254-pol-91a-1)
43
possibilidade de relações, podendo estas ser de definição, denominação, conclusão e
explicação. Todas estas conclusões são baseadas no quadro de Gómez (2008:113) que dá conta
dos marcadores explicativos e respetivas operações:
Atribuição de referência
(18) No entanto, este ano, a arbitragem, melhor dito, a sua direcção, foi muito contestada...
(CETEMPublico, par=ext260476-des-91a-1)
(19) Ninguém interveio -- melhor dito, houve duas brevíssimas intervenções.
(CETEMPublico, par=ext271323-soc-97a-1)
(20) Contudo, quando foi assinado, o decreto pecava já por tardio ou, melhor dito, por
anacronismo. (CETEMPublico, par=ext614729-soc-95a-2)
Os exemplos (18)-(20) dão-nos conta de uma retificação parcial por precisão, no exemplo
(18), uma retificação plena através da correção, no exemplo (19) que invalida o que foi dito e
uma correção parcial no exemplo (20) que não invalida totalmente o segmento 1.
O marcador retificativo más bien (melhor) também realiza a retificação de um membro
anterior e tal como o marcador mejor dicho também pode ser precedido pela conjunção ou (o
45
más bien/ ou melhor). Com a utilização deste marcador discursivo, fica disponível uma nova
formulação que modifica e melhora o conteúdo do primeiro membro discursivo (Gómez, 2008).
A mesma autora refere ainda que “La modificación introducida se refiere al grado de
precisión, exactitud o adecuación de lo expressado en el segmento precedente y se distinguen
vários casos de formulación (…) “ (2008:109). Relativamente a estes casos de formulação ou
as relações retificativas que os dois elementos discursivos podem manter entre si, estas podem
ser de modificação mínima do aspeto, pode ser apresentada no segundo membro uma
alternativa do que foi dito no primeiro, pode também verificar-se uma correção do primeiro
enunciado e pode ainda haver uma relação de precisão entre os membros do discurso.
Procuraremos demonstrar estas relações nos exemplos (21)-(24):
(21) E promete que a nova produção, ou melhor, que a superprodução de Cascais terá
apenas três horas de duração com dois intervalos pelo meio. (CETEMPublico,
par=ext7378clt-93b-1)
(22) E, ao fechar em círculo, ou melhor em espiral, o filme de Winkler (uma excelente
estreia como realizador) adquire tensão e uma extraordinária densidade dramática.
(CETEMPublico, par=ext28049-nd-91a-2)
(23) De ambas as vezes escapou de um destino que abominava e exasperou os que o viram
partir -- melhor, os que estão na origem dessa partida. (CETEMPublico,
par=ext7452nd-91b-2)
(24) Será mesmo verdade que não sabem que o nosso Governo prometeu, melhor, garantiu,
uma piscina, uma, por cada golo metido (menos cinco metros por cada sofrido, no
entanto...) , um gimnodesportivo, um, por cada desafio ganho, uma pista de atletismo,
uma, por cada fase ultrapassada e, caso ganhássemos a final, revisão do valor do Iva
para todos os artigos e equipamentos desportivos? (CETEMPublico, par=ext12402-
opi96a-2)
46
(25) De entre as disciplinas, digo, unidades curriculares, destacamos: (CETEMPublico,
par=ext56267-nd-91b-2)
(26) O aumento, digo, a actualização das taxas do imposto sobre os produtos petrolíferos,
vulgarmente conhecido como o «aumento da gasolina», surgiu, inopinado e envolto em
denso nevoeiro, com data de 6 de Fevereiro e sob o nome de Portaria 25-A / 96 (B).
(CETEMPublico, par=ext184157-opi-96a-2: 10)
O último marcador reformulador retificativo é o marcador mejor aún (melhor ainda) que
é tido em conta nas duas propostas. No entanto, na proposta de Zorraquino e Portóles (1999)
não é tido como um dos retificativos principais, uma vez que é menos frequente do que, por
exemplo, mejor dicho. Para Gómez (2008), mejor aún apresenta uma retificação do que foi
dito de uma forma gradual que vai desde a modificação até à invalidação. No que concerne às
relações que este marcador pode realizar, estas podem ser de modificação através do uso de
uma formulação mais específica e adequada, poderá ser adicionada uma opção alternativa,
poderá haver uma especificação através de uma retificação parcial e, ainda, a invalidação total
do que foi dito anteriormente. Atentemos nos exemplos (27)-(29):
(27) Num tempo de morte das ideologias e agonia das crenças, que utopias podem ainda
subsistir ou, melhor ainda, nascer? (CETEMPublico, par=ext111486-clt-93a-1)
(28) Dois projectos, ou antes, duas intenções, melhor ainda, dois anúncios do Governo
merecem atenção. (CETEMPublico, par=ext306478-pol-93a-2)
(29) Se se acha com capacidade para escrever um problema deste tipo, ou outro qualquer
que encerre um mistério, uma questão técnica ou, melhor ainda, a conjugação de
ambos, não hesite. (CETEMPublico, par=ext392976-soc-92b-1)
Nestes últimos exemplos podemos ver que o marcador de reformulação melhor ainda
pode expressar casos de correção (28) e precisão (29).
Vimos acima os marcadores discursivos que se inserem no grupo dos marcadores
reformuladores retificativos e que relações podem surgir entre os dois membros discursivos.
Assim, tendo por base a proposta de Gómez (2008:113), apresentar-se-á um quadro que
sintetizará estes dados:
47
Retificação da forma de expressão
Mejor dicho Retificação do conteúdo Genuína
Não genuína
Retificação de pressuposições ou inferências
Modificação mínima
Modificação dos estados de Modificação média
coisas representados ou parcial
Mejor aún
Modificação plena
Modificação mínima
Formulação alternativa que modifica a Modificação parcial
Más bien
anterior Modificação plena
Tabela 3: Valores semântico-discursivos de retificação propostos por Gómez (2008:113)
Começaremos por apresentar esta secção de marcadores discursivos dizendo que é aqui
que se verifica a maior diferença entre as duas propostas que estão a ser analisadas. Esta secção
tratará de marcadores de distanciamento, isto é, de marcadores não parafrásticos, uma vez que
não é verificada uma equivalência semântica entre os dois membros discursivos concatenados
pelo marcador reformulativo. Assim, analisaremos separadamente as duas propostas,
começando por estudar a de Gómez (2008).
De uma forma muito geral, o que podemos verificar na proposta de Gómez (2008) é que
a autora apresenta um conjunto maior de operações que funciona como um hiperónimo –
operações de distanciamento – cujos hipónimos serão os marcadores de recapitulação, de
reconsideração e de separação, sendo então subgrupos do referido anteriormente. Antes de
passarmos à análise específica de cada um destes marcadores, verifiquemos o que diz a autora
de forma resumida acerca destes subgrupos:
Dentro de este grupo de marcadores, hemos distinguido los que indican una
recapitalación de lo expressado antes, com la intención de extraer lo essencial; los que
señalam una reconsideración y la expresión de una nueva perspectiva que justifica o se
opone a la formulación anterior; y, por último, los que muestran una separación del
segmento de referencia que supone la modificación o supresión parcial o total de su
pertinência para continuar el discurso. (Gómez, 2008:115)
48
Em primeiro lugar, temos os marcadores de recapitulação que, como já foi dito, têm
como função voltar ao primeiro membro discursivo para dele extrair aquilo que é essencial. O
segundo membro do discurso, aquele que é acompanhado pelo marcador recapitulativo “es el
resultado sintético, objetivo o subjetivo, de una visión englobadora de lo expressado en los
segmentos anteriores” (Gómez, 2008:115). Os marcadores que a autora insere no leque de
marcadores recapitulativos são: en suma (em suma), en resumen (em resumo), en síntesis (em
síntese), en conclusión (em conclusão) e en fin (enfim).
O marcador discursivo en suma (em suma) apresenta o segundo membro discursivo
como a reformulação de um conjunto de membros que o antecedem, realçando um determinado
traço comum a estes membros. Relativamente às restrições sintáticas, este marcador
recapitulativo aparece sobretudo no início do segundo membro. Tal como os outros
marcadores, as funções deste também podem ser variadas, assim em suma pode indicar “una
suma de lo expressado en los segmentos precedentes, que se integran en un segmento final de
sentido más general que los incluye a todos”, pode corresponder a um denominador comum
(31), ou seja, uma característica que seja partilhada por todos os membros de referência, pode
apresentar uma conclusão derivada do que é apresentado no primeiro membro do discurso e
pode ainda apresentar uma equivalência ou explicação entre os membros discursivos (30) e
(32). Os exemplos (30)-(32) demonstrarão algumas destas funções:
Passando agora à análise do marcador recapitulativo en síntesis (em síntese), este supõe
que se apresente de forma sintética aquilo que é referido no membro que antecede o marcador
discursivo. Por outras palavras, há uma condensação das informações do primeiro membro.
49
(33) Melhorar a iluminação do palco, encenar o espaço para as câmaras de televisão, em
síntese pôr António Guterres a falar mais para o país do que para os presentes no
comício. (CETEMPublico, par=ext115356-pol-95b-2)
(34) As estratégias de investigação de crimes como a corrupção, a droga e a criminalidade
mais violenta, em síntese, o crime organizado, estarão em cima da mesa, em reuniões
que decorrerão rigorosamente à porta fechada e serão coordenadas por relatores
escolhidos previamente para cada tema. (CETEMPublico, par=ext464421-soc-96a-2)
O último marcador recapitulativo a ser considerado pela autora é o marcador en fin, cuja
função principal é a de dar por encerrada uma série de segmentos que se sucedem. A autora
refere que este marcador possui dois valores reformulativos, sendo eles:
50
“a) el valor de recapitulación, si se vuelve sobre lo dicho para extraer lo essencial,
para hacer una sínteses o sacar conclusiones, al que se añade el de explicación cuando el
membro reformulado aclara o hace más comprensible el contenido de lo expressado antes;
b) el valor de cancelación de la validez de lo dicho previamente, si el hablante vuelve sobre
la primera formulación para indicar que la información mencionada carece de relevancia
o que no se tiene la intención de continuar com esse tema”. (Gómez, 2008:122)
(39) Vamos dar-lhe a força para que todo o futebol português se coloque dentro da mesma
Federação, mas com o respeito do direito e obrigações de cada parte integrante, o
futebol profissional, o futebol amador, as regiões, enfim, todos os componentes e
protagonistas do futebol. " (CETEMPublico, par=ext20960-des-95a-1)
O marcador discursivo a fin de cuentas (no fim de contas) caracteriza-se por apresentar
um membro que se impõe entre várias alternativas, explícitas ou não, podendo implicar uma
mudança do ponto de vista. Veja-se o exemplo (41).
3
Agradecemos ao Professor Rogelio Ponce de León Romeo a disponibilidade para discutir uma tradução possível
para os marcadores en definitiva e total para Português.
51
(41) «Uma grande confusão, realmente», diz David Stern, «mas, no fim de contas, nem foi
assim tão mau. (CETEMPúblico, par=ext359496-des-93b-1)
Relativamente ao marcador al fin y al cabo (ao fim e ao cabo), este apresenta, no segundo
membro discursivo, pontos de vista diferentes e que são opostos aqueles esperados pelo
interlocutor, como ilustra o seu uso nos exemplos (42) e (43).
(45) A princípio, até o revisor ficou surpreso. Eu olhei para todas as portas e não vi casal
nenhum a namorar. Utilizando três neurónios, concluí que a cena estava-se a passar em
outra carruagem e que o maquinista, incomodado por não poder pôr a composição em
marcha, resolvera pôr a boca no trombone através do sistema interno de comunicação.
Conclusão: toda a gente ouviu, perplexa, a reprimenda.
(https://www.publico.pt/2005/10/09/jornal/pecados-a-porta-do-comboio-42882)
52
O último subgrupo de marcadores a fazer parte dos marcadores de distanciamento são
os marcadores de separação. A autora classifica estes marcadores como sendo um grupo que
“se caracteriza por indicar que una parte o la totalidade de lo expressado en los segmentos de
referencia o de lo que se presupone o se infiere de ellos no se considera relevante para la
prosecución del discurso” (2008:142). É realizada assim uma revisão sobre aquilo que foi dito
para ser feita uma nova formulação. Os marcadores aqui inseridos são: de todas maneras, de
todos modos, de todas formas, en cualquier caso e en todo caso.
Os primeiros três marcadores mencionados (de todas maneras, de todos modos, de todas
formas) são considerados pela autora como sinónimos e, por isso, podem ser substituídos uns
pelos outros. Relativamente às suas funções, estes marcadores de separação fazem uma revisão
dos pontos de vista presentes no primeiro membro, realizando dois processos:
(46) Mas esta situação não deixa margem para dúvidas de que a defesa europeia só será
comum a alguns dos Quinze, que terão, de todos os modos, ainda um longo caminho
a percorrer antes de conseguirem torná-la realidade. (CETEMPublico,
par=ext627251pol-95b-1)
(a) Mas esta situação não deixa margem para dúvidas de que a defesa europeia só será
comum a alguns dos Quinze, que terão, de todas as formas, ainda um longo caminho
a percorrer antes de conseguirem torná-la realidade.
(b) Mas esta situação não deixa margem para dúvidas de que a defesa europeia só será
comum a alguns dos Quinze, que terão, de todas as maneiras, ainda um longo caminho
a percorrer antes de conseguirem torná-la realidade.
(47) Guerra, de todas as formas, não pode deixar de ser olhado como um potencial
candidato para Durham (25 de Março): desde o início da época, em Outubro, que
venceu oito crosses, incluindo o de ontem, e o pior que lhe sucedeu foi ser segundo em
dois, o último dos quais a 18 de Dezembro! (CETEMPublico, par=ext1220222-
des95a-2)
53
(a) Guerra, de todos os modos, não pode deixar de ser olhado como um potencial
candidato para Durham (25 de Março): desde o início da época, em Outubro, que
venceu oito crosses, incluindo o de ontem, e o pior que lhe sucedeu foi ser segundo em
dois, o último dos quais a 18 de Dezembro!
(b) Guerra, de todas as maneiras, não pode deixar de ser olhado como um potencial
candidato para Durham (25 de Março): desde o início da época, em Outubro, que
venceu oito crosses, incluindo o de ontem, e o pior que lhe sucedeu foi ser segundo em
dois, o último dos quais a 18 de Dezembro!
(48) «Penso, de todas as maneiras, que 90m chegarão para a vitória em Barcelona."
(CETEMPublico, par=ext899587-des-92b-1)
(a) «Penso, de todos os modos, que 90m chegarão para a vitória em Barcelona."
(b) «Penso, de todas as formas, que 90m chegarão para a vitória em Barcelona."
(49) «Alguém que venha da imprensa, um jornalista profissional ou, em qualquer caso,
que conheça bem o que a imprensa necessita. (CETEMPublico, par=ext244388-soc-
92a-1)
O último marcador de separação tido em conta por Gómez é en todo caso (em todo o
caso), cuja função é a de diminuir a relevância ou até mesmo invalidar as informações presentes
no primeiro membro discursivo, como podemos verificar nos exemplos (50) e (51).
54
Supressão da relevância do membro anterior e das suas
De todas as maneiras, de
possíveis inferências.
todos os modos, de todas as
Indiferença tanto a respeito do estado de coisas referidos
formas
Separação
Uma vez estudada a proposta de Gómez (2008) relativamente aos marcadores não
parafrásticos, passamos à análise da proposta de Zorraquino e Portóles (1999). Ao contrário de
Gómez (2008), Zorraquino e Portóles (1999) não admitem os marcadores de distanciamento
como um hiperónimo de outros tipos de marcadores. Aqui, o que iremos observar é que os
marcadores de distanciamento correspondem a um tipo de marcadores tal como os explicativos
e os retificativos. Além destes, consideram ainda um outro conjunto: os marcadores de
recapitulação, não integrando na sua proposta o conjunto rotulado de marcadores de
reconsideração. Assim, as diferenças verificadas são as seguintes: ao grupo de marcadores a
que Zorraquino e Portóles chamam de recapitulativos correspondem dois grupos de
marcadores na proposta de Gómez: os recapitulativos e os de reconsideração; os marcadores
de distanciamento de Zorraquino e Portóles são os marcadores de separação de Gómez.
Resumindo, os exemplos de marcadores não-parafrásticos que ambas as propostas consideram
são praticamente os mesmos, podendo ser inseridos em grupos de marcadores diferentes tendo
em conta as operações discursivas.
57
ao contrário de Lopes (2016), incluímos os marcadores com valor de correção no contexto
dos marcadores parafrásticos, na linha da proposta de Gómez (2008), entre outros autores.
Síntese
58
Capítulo 3 - O estudo
3.1. Descrição do corpus
Os artigos recolhidos para este trabalho pertencem a três áreas das Ciências Sociais e
Humanas, sendo elas a Filosofia, a História e a Linguística. Foram recolhidos artigos de duas
revistas diferentes (em formato online) para cada área e, por isso, temos para análise artigos de
duas revistas da área de História, duas revistas de Linguística e duas revistas da área de
Filosofia.
O corpus apresenta um total de 90 artigos científicos, tendo sido, portanto, extraídos 15
artigos de cada revista. Relativamente às revistas científicas escolhidas, a sua seleção teve em
conta a existência de um número suficiente de artigos científicos em Português Europeu entre
os anos de 2008 e 2018. Assim sendo, para a área de História foram selecionadas a Revista da
Faculdade de Letras – História, da Universidade do Porto, e a Revista Portuguesa de História,
da Universidade de Coimbra. No caso de Filosofia, selecionaram-se as revistas pertencentes às
Universidades anteriormente referidas, ou seja, utilizaram-se para análise artigos da Revista da
Faculdade de Letras – Filosofia, da Universidade do Porto, e a Revista Filosófica de Coimbra.
Finalmente, os artigos de Linguística foram extraídos da Revista de Estudos Linguísticos da
Universidade do Porto e da revista Estudos Linguísticos, do Centro de Linguística da
Universidade Nova de Lisboa.
Depois de feita a seleção dos artigos de cada revista, estes foram inseridos na ferramenta
de análise Corpógrafo, que nos permitiu, além de outras coisas, fazer a contagem do número
de tokens de cada artigo para mais tarde termos as médias por revista. Assim, as médias de
tokens para cada revista são as seguintes: o conjunto de artigos da revista de Filosofia da
Faculdade de Letras da Universidade do Porto apresenta uma média de 10131,933 tokens e a
revista da Universidade de Coimbra da mesma área apresenta a média de 13776,13. No caso
de História, o conjunto pertencente à revista de História da Faculdade de Letras da
Universidade do Porto perfaz uma média de 10604,466 de tokens e na revista da Universidade
de Coimbra uma média de 10174,733 tokens. Finalmente, nas revistas de Linguística, a do
Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa apresenta uma média de 7925,8 tokens
e a da Faculdade de Letras apresenta uma média de 10126,666 tokens.
59
3.2. Metodologia de análise
Antes de analisarmos os marcadores de reformulação, começamos este estudo analisando
o plano de texto dos artigos em questão. Para tal, utilizamos a proposta de Marconi e Lakatos
(2001) e elaboraram-se tabelas para que nos fosse possível compreender de que forma o plano
de texto dos artigos do corpus concordavam com a proposta referida.
Seguidamente e depois de analisadas as tabelas decidimos analisar apenas o corpo do
texto e, dentro deste, a introdução e a conclusão. O que motivou esta seleção foi o facto de
haver uma variação considerável na presença ou ausência de designações que delimitassem
estas secções do texto propriamente dito, uma vez que são, normalmente, considerados
constituintes fundamentais na elaboração de um artigo científico. Fez-se uma análise
quantitativa do número de introduções e conclusões com as designações habituais, com outras
designações e até mesmo sem qualquer designação. Tentamos assim verificar de que forma
seria ainda possível delimitar estas secções (quando não designadas) através de pistas dadas
pelos autores na superfície textual.
Passando para a análise da reformulação, começamos por inserir os 90 artigos que
constituem o corpus na ferramenta Corpógrafo. A seguir, fizemos uma listagem de marcadores
de reformulação, tendo em conta os marcadores considerados por Lopes (2016) aos quais
adicionamos outros exemplos de marcadores. Seguiu-se uma análise quantitativa dos tokens
selecionados, o que nos possibilitou observar que a sua totalidade no corpus era de 740
ocorrências (cf. Tabela 5).
60
Corpus
(52) Isto quer dizer que os computadores foram inventados para resolver um problema de
metamatemática, ou de losoa da matemática, mas deixemos agora de lado esse aspecto.
(02-F-FLUP)
(53) Isto é sempre ilustrado por um exemplo. (06-F-FLUP)
61
(54) Este assunto é, aliás, interessante contrastivamente no par de línguas português-
norueguês. (12-L-FLUP)
Neste estudo, vamos concentrar-nos nos marcadores que têm uma frequência superior a
10 ocorrências, apenas fazendo uma referência global àqueles que apresentam uma frequência
inferior.
Assim, a nossa análise centra-se nos seguintes marcadores de reformulação: ou seja, isto
é, quer dizer, aliás, por outras palavras e ou melhor. Não serão objeto de análise os marcadores
noutros termos, ou antes, mais exa(c)tamente, mais corre(c)tamente, mais precisamente,
digamos e melhor dizendo. Na sua maioria, trata-se de marcadores de retificação que podem
exprimir explicitamente essa orientação como é o caso de mais corre(c)tamente, melhor
dizendo, ou de forma mais implícita aproximando-se de um sentido de precisão, como é o caso
de mais precisamente e mais exa(c)tamente.
No final deste trabalho, obtivemos a lista de marcadores de reformulação que se
apresenta na tabela 6.
Finalmente, fizemos uma análise qualitativa das 566 ocorrências para determinar o valor
semântico-discursivo presente em cada uma.
Vimos anteriormente que são vários os estudos que incidem sobre o plano de texto do
género artigo científico, na sua globalidade ou em partes específicas. Embora as propostas não
sejam todas exatamente iguais, há entre elas semelhanças óbvias. As propostas referidas
anteriormente neste estudo foram a de Swales (1990) e a de Marconi e Lakatos (2001). Muitas
62
das tipologias relativas ao plano de texto do artigo científico remetem sobretudo para aquilo
que Marconi e Lakatos chamam de corpo do texto, acabando muitas vezes por não dar
importância aos elementos pré e pós textuais. Assim, a tipologia que será utilizada para analisar
o corpus deste estudo será a de Marconi e Lakatos (2001), porque faz uma divisão do plano de
texto bastante completa e consegue condensar todas estas subseções nos três grandes
constituintes de um artigo científico: os preliminares, o corpo do texto e a parte referencial.
Relembremos brevemente esta proposta: na parte relativa aos preliminares inserem-se o título
do artigo, o nome do(s) autor(es) e respetivas credenciais e a sinopse ou resumo. A secção do
corpo do texto inclui a introdução, o texto e a conclusão. Finalmente, a parte referencial
apresenta-se dividida em bibliografia, anexos, agradecimentos e data. Apresentar-se-ão, em
seguida, os resultados obtidos relativos à presença de todos estes constituintes no conjunto dos
90 artigos que constituem o corpus deste estudo. Os três gráficos que serão apresentados
referem-se a cada uma das três grandes partes do artigo científico.
Em primeiro lugar, o gráfico 1 é relativo à secção denominada de Preliminares, onde é
possível verificar a quantidade de artigos por revista que apresentam no seu plano de texto as
respetivas subsecções:
Preliminares
L-FLUP
L-CLUNL
H-UC
H-FLUP
F-UC
F-FLUP
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
63
Em seguida, poderemos ver de que forma se manifestam as subsecções da introdução,
texto e conclusão, na totalidade de artigos por revista:
Corpo do texto
L-FLUP
L-CLUNL
H-UC
H-FLUP
F-UC
F-FLUP
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Finalmente, procedeu-se à mesma análise para a parte referencial dos artigos científicos
e os resultados foram os seguintes:
64
Parte referencial
L-FLUP
L-CLUNL
H-UC
H-FLUP
F-UC
F-FLUP
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Data Agradecimentos Anexos Bibliografia
Podemos admitir que a parte central de um texto (seja ele de que género textual for) é a
parte onde está inserido precisamente o texto propriamente dito. Assim, a centralidade do
artigo científico poderia residir no Corpo do texto, com as suas subdivisões incluídas. O que
seria de esperar de um artigo científico - e tendo em conta aquilo que as propostas apresentam
– é que estes apresentem uma introdução e uma conclusão, considerando a importância que é
4
Em algumas revistas, a bibliografia surge em nota de rodapé e não no final do artigo.
65
dada as estas subsecções. Ou seja, seria de esperar que todos os quinze artigos de cada uma
das seis revistas exibissem uma introdução e uma conclusão. Porém, o mesmo não se verifica.
De facto, não é nesta parte do artigo que se verifica maior discrepância, por exemplo, é visível
uma grande variação quanto à presença de determinadas subpartes no conjunto relativo à parte
referencial. O que acontece é que esta última parte do artigo é composta por elementos que são
de facto dispensáveis, como é o caso dos anexos. Assim, tendo em conta a relevância que
apresentam no artigo científico, analisaremos com mais precisão as subsecções Introdução e
Conclusão.
F-UC 2 9 4 3 4 8
H-FLUP 9 4 2 6 3 6
H-UC 5 2 8 5 3 7
L-CLUNL 13 1 1 12 1 2
L-FLUP 9 6 0 10 4 1
Total 40 27 23 40 16 34
Tabela 7: Número de artigos por revista com a designação “Introdução” com outra designação ou
sem designação.
5
Ambos os modelos são analisados em Swales (1990).
67
autoras referem aquilo que deve estar na sua constituição: algumas informações sobre o assunto
abordado no artigo, o objetivo, a metodologia utilizada, entre outras coisas, como o facto de
terem havido ou não limitações. Silva e Santos (2015:328) admitem que “Os textos do género
Introdução servem globalmente para enquadrar a investigação realizada, apresentando
conteúdos-chave, para que o leitor situe, desde o início, o âmbito e o objeto da investigação”.
Referindo muito sucintamente as propostas de Zappen (1983) e de Swales (1990) (in
Swales, 1990), a primeira (“Problem-solution model”) afirma que a Introdução deve conter o
objetivo do estudo, qual é o problema e a respetiva solução e os critérios de avaliação
utilizados. Quanto ao modelo CARS, de Swales (1990), este refere que a Introdução deve
conter tópicos gerais sobre o assunto tratado, pesquisas anteriores, ou seja, o estado da arte,
indicar o problema que está a ser estudado, os objetivos, as descobertas e a estrutura de todo o
artigo científico.
Como é possível verificar, todas as propostas diferem entre si, no entanto, há elementos
que são comuns, o que nos leva a crer que são de certa forma obrigatórios numa Introdução,
sobretudo o objetivo do estudo e algumas informações sobre o tema abordado.
Em primeiro lugar, como já foi dito, iremos dar conta de algumas designações utilizadas
para a Introdução dos artigos que constituem o nosso corpus. Ao analisar todas as partes
introdutórias, surgiram casos em que estas podem designar-se apenas com o cardinal “1”,
dando a ideia de que é a primeira parte do artigo e que, por isso, se relaciona com a introdução
(Ex.: 10-F-FLUP, 08-F-UC, 12-H-UC). Surgiram ainda designações que de certa forma
remetem para a Introdução, como é o caso de “Preâmbulo” (07-F-UC), “Introdução –
Problemática e objectivo de pesquisa” (07-H-FLUP) ou ainda “1. Primeiras opções: objecto de
estudo, tempo, espaço” (15-H-FLUP). Além destas ocorrências, surgem casos em que a
introdução não tem qualquer tipo de designação, o que torna mais complexa a sua identificação.
Destas últimas ocorrências referidas, naquelas em que a introdução não está intitulada é
possível identificá-la através de várias pistas, que podemos verificar nos exemplos (55)-(59):
(55) Vamos procurar, neste texto, ganhar uma perspectiva sobre essas possibilidades abertas
pelas Ciências do Artificial, enquadrando-as numa reflexão mais vasta sobre as
relações entre sociedade e natureza. (02-F-FLUP)
(56) No nosso artigo centrar-nos-emos na análise destas duas objecções, mostrando que
ambas desvalorizam importantes aspectos não apenas da natureza da justiça como
68
equidade, mas também a complexidade da conceptualização da família no pensamento
de Rawls. (05-F-UC)
(57) Sendo assim — e porque talvez o maior tributo que se possa prestar a um teórico seja
o de nos interessarmos pelas suas investigações — um conjunto de reflexões sobre, e a
partir, da definição apresentada poderá ajudar a aprofundá-la, a clarificá-la e a
explicitar: a) Que tarefas descritivas poderão ser levadas a cabo por um analista da
argumentação e como é que elas se ligam com a questão crítica da avaliação dos
argumentos? b) Que procedimentos metodológicos poderão servir de base a uma
didáctica da argumentação? É esse o objectivo deste artigo, no qual procuro ir ao
encontro da importância que Plantin atribui à necessidade de «destacar um conjunto
sistemático de conceitos que permitam o estudo da argumentação no diálogo e no
discurso»
(58) Destaquem-se, pois, nesse sentido, os trabalhos de E. E. Evans-Pritchard, Raymond
Firth ou S. N. Eisenstadt, que chamaram a atenção para a importância dos gestos
externos e dos aspetos visíveis da conduta (…). (06-H-FLUP)
(59) Partindo da assunção basilar em Análise do Discurso de que esta é uma área dispersa
(…) propomos-nos, neste trabalho, analisar os manifestos eleitorais dos dois principais
candidatos às eleições presidenciais portuguesas de janeiro de 2011: Cavaco Silva e
Manuel Alegre. (10-L-CLUNL)
Nestes exemplos, é possível identificar a introdução (quando esta não está designada)
tendo por base aquilo que sabemos que é necessário constar numa introdução. Assim, vemos
exemplos onde a introdução pode ser identificada através da presença do objetivo do estudo,
nas questões que conduzirão o estudo e até na referência a estudos anteriores sobre o mesmo
tema. Vejamos agora um exemplo de uma introdução não intitulada, tentando identificar de
que forma é composta:
69
Neste artigo analisamos as causas do êxodo das minorias brancas das duas
principais colónias portuguesas em África, ou seja, Angola e moçambique. O nosso
objetivo é compreender o contexto histórico e político que enformou o êxodo dessas
populações e, muito especialmente, demonstrar as razões que determinaram a fuga de
cerca de meio milhão de colonos brancos para a ainda metrópole durante a descolonização.
Para o efeito, colocamos em perspetiva os processos de implosão das sociedades coloniais
brancas da África Portuguesa, tendo em consideração o papel de vários agentes político -
militares, nomeadamente do Estado Português, do movimento das Forças Armadas
(mFA), das guerrilhas africanas e dos movimentos políticos formados por brancos. Em
termos cronológicos, focamos fundamentalmente o biénio relativo à derrocada do Império
colonial, ou seja 1974/1975, ainda que o êxodo se tenha prolongado – mas de forma muito
menos intensa – até ao final da década de 1970, em particular no caso de moçambique.
Por sua vez, convém desde já salientar que o êxodo das minorias brancas das colónias
portuguesas permanece um assunto pouco estudado, inclusivamente pelos historiadores
que se debruçaram sobre a descolonização portuguesa, sendo na maior parte das vezes
objeto de um exame sucinto e pouco problematizador dos factos históricos. A este respeito,
constituem exceções os trabalhos pioneiros de Rita- Ferreira, sobre o caso moçambicano,
e de Rui Pena Pires, cuja análise é essencialmente de cariz sociográfico. Falta, contudo,
uma obra de carácter estrutural sobre o tema e que aborde a questão numa perspetiva
comparada. De facto, o êxodo das minorias brancas deve ser entendido no contexto mais
lato do fim dos Impérios coloniais europeus após 1945 (…). (03-H-UC)
Neste exemplo retirado do corpus é possível verificar que se pode identificar esta
introdução não intitulada através da presença de determinadas características. Como vimos, na
primeira parte, é possível identificar o objetivo do estudo, seguidamente é referida a
metodologia adotada para a realização do estudo e fazem-se ainda referências a trabalhos
anteriores relacionados com o tema, ou seja, o seu estado da arte.
Passando agora à análise da secção conclusiva, esta é também referida em Swales (1990)
onde se admite que a conclusão deve apresentar, entre outras coisas, informações sobre os
resultados, resultados que não eram previsíveis, referência a trabalhos anteriores, explicações
e recomendações para trabalhos futuros.
70
Vimos, na tabela 7, que, tal como na introdução, há casos em que os artigos apresentam
a designação “Conclusão”, há casos em que apresentam uma designação diferente e há casos
em que não há qualquer tipo de designação. Relativamente aos casos em que surge com uma
designação diferente, relembramos que, nestes casos, não aparece o rótulo “conclusão”, mas o
que aparece em seu lugar remete-nos para uma conclusão. São exemplos disso, o título
conclusivo “Notas conclusivas: Europa lida em voz alta” (01-F-UC), “Epílogo” (07-F-UC),
“Nota final” (02-H-FLUP), “Em síntese” (01-H-UC), “Reflexão final” (15-L-CLUNL) ou
ainda “Considerações finais com uma breve referência aos mediadores” (06-L-FLUP).
Analisaremos, agora, para os artigos cuja conclusão não está designada, de que forma a
podemos identificar.
(60) O que quisemos com este texto foi mobilizar a questão do totemismo para tentar ver
mais fundo nas formas concretas de participação cruzada entre o mundo dos humanos
e o mundo das máquinas. Para isso fizemos uma viagem por experiências e ideias que
concebem um computador composto por elementos humanos (…) (02-F-FLUP)
(61) Concluamos. (15-F-UC)
(62) Em síntese: Realmente as ideias não têm tempo nem espaço. As boas acabam sempre
por vingar, por ser retomadas, por saírem do esquecimento. Não podemos é transformar
a sua aplicação ou ressurreição numa novidade porque elas não são órfãs e
geneticamente não pertencem apenas ao nosso tempo. (04-H-FLUP)
(63) Por tudo isto, parece-nos que a problemática abordada ao longo destas páginas merece
algumas reflexões. (07-H-UC)
(64) Foram estes aspetos que, através de uma abordagem enquadrada pela Análise
linguística do Discurso, julgámos ter ajudado a desconstruir nos manifestos eleitorais
dos dois principais candidatos presidenciais de 2011. (10-L-CLUNL)
(65) Deseja-se que futuras investigações permitam: (i) continuar a testar o efeito
(des)promotor da interface fonologia / morfologia na aquisição; (ii) avaliar a forma
como as crianças adquirem os processos fonológicos que integram as suas
gramáticasalvo; (iii) contribuir com evidência empírica decorrente da aquisição das
variantes alofónicas e alomórficas do input para a discussão do modo como as crianças
constroem as suas representações fonológicas durante o processo de desenvolvimento
linguístico; (iv) exportar, para os domínios clínico e educacional, informação cada vez
mais detalhada sobre o desenvolvimento fonológico infantil, no sentido de promover o
potencial dos instrumentos de avaliação linguística e a eficácia das estratégias de
intervenção clínica e educacional. (14-L-FLUP)
Como é possível observar nos exemplos (60)-(65), mesmo que a conclusão não esteja
devidamente identificada no plano de texto do artigo, é possível ainda assim delimitá-la.
71
Deste modo, é possível ver um resumo do que se pretendeu realizar durante o estudo,
expressões como “Concluamos” e “Em síntese”, tipicamente conclusivas, e ainda
recomendações para trabalhos futuros.
6
Esta contagem não é filtrada, isto é, os dados que compõem a tabela são fornecidos pela ferramenta
Corpógrafo e, por isso, estão incluídas ocorrências em que os marcadores são reformuladores e outras em que
não são.
7
O facto de o nosso corpus não apresentar maior variabilidade na mobilidade dos marcadores não implica que
ela não exista, como, a título de exemplo, mostramos com o marcador quer dizer:
72
Posição sintática dos marcadores de reformulação no total do
corpus (%)
Aliás
Ou melhor
Isto é
Quer dizer
Ou seja
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
(66) Quando falamos dos deveres jurídicos, falamos de uma legislação externa, ou seja, de
uma coacção alheia. (03-F-FLUP)
(67) A dialética foi compreendida em termos clássicos como lógica racional, arte de
raciocinar, ou melhor, a arte de debater. (13-F-UC)
(68) A consciência moral surge como um tribunal interno, ao qual não conseguimos escapar,
mesmo que tentemos «lançar poeira nos próprios olhos». Por outras palavras, a
consciência é a lei em nós; daí a sua extrema relevância. (03-F-FLUP)
(69) Uma política atenta e aberta ao que a excede e lhe dita reinvenção e «à sua própria
«impossibilidade», quer dizer, a uma realidade de direito infinita amor, arte, justiça,
pensamento». (01-F-UC)
73
(70) A ideia de uma justiça penal divina é aqui personificada; quem a exerce não é um ser
particular que julga (…), mas a justiça como substância (aliás, denominada justiça
eterna)». (12-F-FLUP)
(71) Estas formas foram usadas também em gestos combinados, isto é, gestos que
simultaneamente apontam e representam/ilustram caraterísticas semânticas do
conteúdo dos enunciados. (08-L-FLUP)
Tal como foi dito, temos casos em que o marcador de reformulação surge integrado no
segmento 2, ou seja, numa posição medial:
(72) Assim, e ainda na esteira de Wood, poder-se-á considerar que, conferir ao princípio da
moralidade prioridade motivacional relativamente ao princípio da nossa felicidade
própria, «não é excluir a possibilidade de agir de modo a que conduza largamente à
nossa felicidade própria. A visão de Kant, por outras palavras, é que não devemos
deixar que o princípio da nossa felicidade própria nos motive em qualquer situação em
que a lei moral não seja tida em linha de conta». (01-F-FLUP)
(73) Depois da enunciação da questão filosófica relativa à dificuldade de pensar e dizer o
amor, e depois de referido o atraso irredutível e operativo da filosofia relativamente à
matinalidade do amor, façamos agora uma pausa para um breve desvio - iremos aliás
aqui de desvio em desvio... (02-F-UC)
(74) Carlos Pires, por sua vez, afirma que “até ao momento jamais foi provada uma tal causa
biológica para os diversos tipos de depressão. As poucas exceções, isto é, em que existe
um determinante biológico para a depressão, são justamente aquelas que resultam da
toma prolongada de algumas medicações psicotrópicas, nomeadamente as
benzodiazepinas. (13-F-UC)
Como foi referido, das contagens iniciais realizadas com os marcadores de reformulação
parafrástica, apenas uma parte delas foi analisada, ou seja, aquelas em que os marcadores em
análise surgiam com a sua função de marcador de reformulação parafrástica. Daqui é-nos
74
permitido inferir que as outras ocorrências dizem respeito a outros valores que não são aqui
considerados, mas que podemos exemplificar como forma de comprovar a sua ocorrência no
corpus. Um desses valores é, por exemplo, o valor de conclusão:
(75) Para tal, será analisada à luz deste instrumento a articulação entre unidades verbais e
não verbais (espaços brancos, manchas negras) ao nível do plano de texto, em dois
géneros: a poesia visual e a escrita fragmentária; ou seja, ambas as unidades são
consideradas unidades textuais e a interacção entre elas constrói o conteúdo temático.
(03-L-CLUNL)
(76) Por fim, refira‑se que, concomitante ao êxodo dos brancos, ocorreu a fuga de um
número significativo de mestiços e de africanos de origem indiana, bem como de alguns
negros, que optaram por viver na metrópole. Isto é, nem todos os deslocados eram
brancos. (03-H-UC)
3.3.2.1.1. Ou seja
O marcador de reformulação “ou seja” é estudado por Lopes (2014). No que respeita à
sua composição, este marcador é formado através da junção da conjunção disjuntiva “ou” e
pelo verbo ser na 3ª pessoa do presente do conjuntivo. Os valores semântico-discursivos
ditados por este marcador podem ser os de conclusão, formulação e reformulação. Mais uma
vez, basear-nos-emos neste último valor. Tal como o marcador quer dizer, ou seja também se
apresenta totalmente gramaticalizado, uma vez que, segundo Lopes (2014), esta expressão
funciona como uma única entrada lexical, além de que também não admite flexão:
(77) No caso das caves, o espaço longitudinal é o significante cujo significado é a função
que este torna possível, ou seja, tem um sentido prático e funcional, que é a
optimização do esquema distributivo das filas de pipas e corredores, chamados lotes.
(02-H-FLUP)
(a) *No caso das caves, o espaço longitudinal é o significante cujo significado é a função
que este torna possível, ou sejam, tem um sentido prático e funcional, que é a
optimização do esquema distributivo das filas de pipas e corredores, chamados lotes.
(b) No caso das caves, o espaço longitudinal é o significante cujo significado é a função
que este torna possível, quer dizer, tem um sentido prático e funcional, que é a
optimização do esquema distributivo das filas de pipas e corredores, chamados lotes.
(c) No caso das caves, o espaço longitudinal é o significante cujo significado é a função
que este torna possível, isto é, tem um sentido prático e funcional, que é a optimização
do esquema distributivo das filas de pipas e corredores, chamados lotes.
(d) No caso das caves, o espaço longitudinal é o significante cujo significado é a função
que este torna possível, por outras palavras, tem um sentido prático e funcional, que
é a optimização do esquema distributivo das filas de pipas e corredores, chamados
lotes.
(e) ?No caso das caves, o espaço longitudinal é o significante cujo significado é a função
que este torna possível, ou melhor, tem um sentido prático e funcional, que é a
optimização do esquema distributivo das filas de pipas e corredores, chamados lotes.
(f) ? No caso das caves, o espaço longitudinal é o significante cujo significado é a função
que este torna possível, aliás, tem um sentido prático e funcional, que é a optimização
do esquema distributivo das filas de pipas e corredores, chamados lotes.
O marcador de reformulação quer dizer também é estudado por Lopes (2014) quanto à
sua composição e aos seus valores. Em primeiro lugar, importa compreender de que forma este
marcador discursivo é composto. Assim, quer dizer constrói-se a partir da junção de duas
formas verbais: primeiramente, o verbo querer, na 3ª pessoa do singular do presente do
indicativo e depois o verbo dizer no modo infinitivo. Esta união de duas formas verbais, através
de um processo de gramaticalização, passa a constituir uma combinatória fixa. Esta
característica é visível pelo facto de a forma quer dizer não admitir flexão ou complementação,
como poderemos ver a seguir:
76
(78) Esta admissão não parece pôr em causa a tese aristotélica de que a alma nasce
desprovida de quaisquer espécies, quer dizer, que o intelecto passivo, sob a
perspectiva gnoseológica, é originariamente (ex sua primaeua origini) pura potência.
(07-F-UC)
(a) * Esta admissão não parece pôr em causa a tese aristotélica de que a alma nasce
desprovida de quaisquer espécies, querem dizer, que o intelecto passivo, sob a
perspectiva gnoseológica, é originariamente (ex sua primaeua origini) pura potência
(b) * Esta admissão não parece pôr em causa a tese aristotélica de que a alma nasce
desprovida de quaisquer espécies, quer dizer que o intelecto passivo, sob a perspectiva
gnoseológica, é originariamente (ex sua primaeua origini) pura potência.
(c) Esta admissão não parece pôr em causa a tese aristotélica de que a alma nasce
desprovida de quaisquer espécies, ou seja, que o intelecto passivo, sob a perspectiva
gnoseológica, é originariamente (ex sua primaeua origini) pura potência.
(d) Esta admissão não parece pôr em causa a tese aristotélica de que a alma nasce
desprovida de quaisquer espécies, isto é, que o intelecto passivo, sob a perspectiva
gnoseológica, é originariamente (ex sua primaeua origini) pura potência.
(e) Esta admissão não parece pôr em causa a tese aristotélica de que a alma nasce
desprovida de quaisquer espécies, por outras palavras, que o intelecto passivo, sob a
perspectiva gnoseológica, é originariamente (ex sua primaeua origini) pura potência.
(f) ? Esta admissão não parece pôr em causa a tese aristotélica de que a alma nasce
desprovida de quaisquer espécies, ou melhor, que o intelecto passivo, sob a perspectiva
gnoseológica, é originariamente (ex sua primaeua origini) pura potência.
77
(g) ? Esta admissão não parece pôr em causa a tese aristotélica de que a alma nasce
desprovida de quaisquer espécies, aliás, que o intelecto passivo, sob a perspectiva
gnoseológica, é originariamente (ex sua primaeua origini) pura potência.
(79) A posição de escrita, quer dizer, a escrita como posicionamento, é o agir da gratidão
que a Graça reconhece. (06-F-FLUP)
(a) A posição de escrita, ou melhor, a escrita como posicionamento, é o agir da gratidão
que a Graça reconhece.
(b) A posição de escrita, aliás, a escrita como posicionamento, é o agir da gratidão que a
Graça reconhece.
3.3.2.1.3. Isto é
(80) Muitos destes movimentos, à semelhança de alguns gestos de apontar com o polegar
parecem ser perfeitamente inconscientes, isto é, são executados de um modo pouco
amplo, ilustrando o modo como a localização em questão se encontra conceptualizada
a nível cognitivo. (08-L-FLUP)
(a) * Muitos destes movimentos, à semelhança de alguns gestos de apontar com o polegar
parecem ser perfeitamente inconscientes, isto era, são executados de um modo pouco
78
amplo, ilustrando o modo como a localização em questão se encontra conceptualizada
a nível cognitivo.
(b) Muitos destes movimentos, à semelhança de alguns gestos de apontar com o polegar
parecem ser perfeitamente inconscientes, quer dizer, são executados de um modo
pouco amplo, ilustrando o modo como a localização em questão se encontra
conceptualizada a nível cognitivo.
(c) Muitos destes movimentos, à semelhança de alguns gestos de apontar com o polegar
parecem ser perfeitamente inconscientes, ou seja, são executados de um modo pouco
amplo, ilustrando o modo como a localização em questão se encontra conceptualizada
a nível cognitivo.
(d) Muitos destes movimentos, à semelhança de alguns gestos de apontar com o polegar
parecem ser perfeitamente inconscientes, por outras palavras, são executados de um
modo pouco amplo, ilustrando o modo como a localização em questão se encontra
conceptualizada a nível cognitivo.
(e) * Muitos destes movimentos, à semelhança de alguns gestos de apontar com o polegar
parecem ser perfeitamente inconscientes, ou melhor, são executados de um modo
pouco amplo, ilustrando o modo como a localização em questão se encontra
conceptualizada a nível cognitivo.
(f) * Muitos destes movimentos, à semelhança de alguns gestos de apontar com o polegar
parecem ser perfeitamente inconscientes, aliás, são executados de um modo pouco
amplo, ilustrando o modo como a localização em questão se encontra conceptualizada
a nível cognitivo.
Nos casos em que o marcador isto é comuta com quer dizer, ou seja e por outras palavras
mantém-se o seu valor básico explicativo, o que não acontece, mais uma vez com a comutação
operada com ou melhor e aliás, pois estes marcadores introduzem um valor semântico-
discursivo que altera a interpretação do enunciado.
Num outro estudo, Lopes e Carapinha (2017) analisam o marcador por outras palavras,
admitindo que este também se encontra totalmente gramaticalizado. Relativamente ao seu uso,
este marcador pode ser utilizado de duas formas distintas: “(i) com o seu significado
composicional, desempenhando uma função sintática e semântica no âmbito da proposição em
que ocorre, (ii) como MD” (2017:120).
79
No primeiro caso, poderemos ver o uso do significado composicional no seguinte
exemplo:
(81) O Vaticano disse o mesmo por outras palavras e rejeitou todo o capítulo.
(CETEMPublico, par=ext113696-soc-94b-2)
Vejamos agora o uso de por outras palavras como marcador de reformulação, analisando
também a impossibilidade de este ser alterado, o que comprova a sua gramaticalização.
(82) Assim, o caráter abstrato dos géneros contrasta com o caráter empírico dos textos, que
atualizam sempre um determinado género (ou mais do que um), porquanto manifestam
propriedades tipicamente associadas a um ou mais géneros. Por outras palavras, os
textos adotam e adaptam de forma contínua as propriedades típicas dos géneros em que
se inserem (Bronckart, 1996). (12-L-CLUNL)
(a) *Assim, o caráter abstrato dos géneros contrasta com o caráter empírico dos textos, que
atualizam sempre um determinado género (ou mais do que um), porquanto manifestam
propriedades tipicamente associadas a um ou mais géneros. Por outras novas
palavras, os textos adotam e adaptam de forma contínua as propriedades típicas dos
géneros em que se inserem (Bronckart, 1996).
Tal como o marcador quer dizer, as fontes lexicais de por outras palavras também
apresentam uma relação evidente com a sua função pragmática. Quanto aos valores semântico-
discursivos, estes podem ser de explicação e síntese. Analisaremos agora a possibilidade de
comutação com os outros marcadores de reformulação:
(b) Assim, o caráter abstrato dos géneros contrasta com o caráter empírico dos textos, que
atualizam sempre um determinado género (ou mais do que um), porquanto manifestam
propriedades tipicamente associadas a um ou mais géneros. Quer dizer, os textos
adotam e adaptam de forma contínua as propriedades típicas dos géneros em que se
inserem (Bronckart, 1996).
(c) Assim, o caráter abstrato dos géneros contrasta com o caráter empírico dos textos, que
atualizam sempre um determinado género (ou mais do que um), porquanto manifestam
propriedades tipicamente associadas a um ou mais géneros. Ou seja, os textos adotam
e adaptam de forma contínua as propriedades típicas dos géneros em que se inserem
(Bronckart, 1996).
(d) Assim, o caráter abstrato dos géneros contrasta com o caráter empírico dos textos, que
atualizam sempre um determinado género (ou mais do que um), porquanto manifestam
80
propriedades tipicamente associadas a um ou mais géneros. Isto é, os textos adotam e
adaptam de forma contínua as propriedades típicas dos géneros em que se inserem
(Bronckart, 1996).
(e) Assim, o caráter abstrato dos géneros contrasta com o caráter empírico dos textos, que
atualizam sempre um determinado género (ou mais do que um), porquanto manifestam
propriedades tipicamente associadas a um ou mais géneros. Ou melhor, os textos
adotam e adaptam de forma contínua as propriedades típicas dos géneros em que se
inserem (Bronckart, 1996).
(f) * Assim, o caráter abstrato dos géneros contrasta com o caráter empírico dos textos,
que atualizam sempre um determinado género (ou mais do que um), porquanto
manifestam propriedades tipicamente associadas a um ou mais géneros. Aliás, os textos
adotam e adaptam de forma contínua as propriedades típicas dos géneros em que se
inserem (Bronckart, 1996).
Tal como acontece com os outros marcadores analisados, verificamos que se mantém o
mesmo valor básico semântico-discursivo com os marcadores quer dizer, ou seja e isto é. De
forma mais aceitável do que nos casos precedentes, é também a comutação com o marcador
ou melhor, embora na sua interpretação não esteja completamente ausente o traço de
retificação, o que também pode caracterizar o marcador por outras palavras. Já o caráter mais
central de retificação contido em aliás não legitima uma comutação sem alteração do valor
semântico-discursivo básico.
3.3.2.1.5. Ou melhor
8
Esta tendência parece ser contrária àquilo que se passa em Espanhol, pois, de acordo com Zorraquino e
Portóles (1999), o marcador discursivo mejor surge muito mais frequentemente do que quando é antecedido
pela conjunção disjuntiva o (o mejor).
81
No que se refere à sua composição, verificamos que este marcador está completamente
gramaticalizado, não admitindo, por isso, qualquer tipo de modificação, como se pode observar
no resultado da manipulação da alínea a do exemplo (83a).
O surgimento deste marcador discursivo sugere que o segmento encabeçado por si vem
trazer mais exatidão ao que foi anteriormente dito, como é o caso do enunciado (83). Vejamos
as possibilidades de comutabilidade deste marcador com os outros marcadores do mesmo tipo:
3.3.2.1.6. Aliás
León e Duarte (2013), baseados num estudo de Lopes (2010), analisam o marcador aliás
tendo em conta a sua origem e as suas diversificadas funções. Relativamente à sua origem, o
marcador discursivo aliás surgiu do advérbio alias, do Latim, que significava, entre outras
possibilidades, “noutro momento”, “noutro lugar”, “porém”.
Como já foi dito, este marcador apresenta um grande número de valores discursivos,
entre eles: marcação de uma hipótese negativa, função concessiva, comentário lateral ou
parentético, marcação de argumentos relevantes e reformulação (León e Duarte, 2013:138). Os
mesmos autores admitem que, atualmente, o uso mais frequente de aliás é precisamente como
marcador de reformulação. O seu valor como marcador de reformulação será, tipicamente, o
de correção, valor esse que ocorre no exemplo (84).
(84) No caso dos restantes géneros, cabe notar que as frases imperativas são pouco
frequentes nas entrevistas (aliás, não se verificaram casos nas entrevistas escritas
analisadas), mas dominam nas receitas de cozinha e ocorrem também nos horóscopos.
(04-L-CLUNL)
(a) No caso dos restantes géneros, cabe notar que as frases imperativas são pouco
frequentes nas entrevistas (quer dizer, não se verificaram casos nas entrevistas escritas
analisadas), mas dominam nas receitas de cozinha e ocorrem também nos horóscopos.
(b) *No caso dos restantes géneros, cabe notar que as frases imperativas são pouco
frequentes nas entrevistas (ou seja, não se verificaram casos nas entrevistas escritas
analisadas), mas dominam nas receitas de cozinha e ocorrem também nos horóscopos.
(c) *No caso dos restantes géneros, cabe notar que as frases imperativas são pouco
frequentes nas entrevistas (isto é, não se verificaram casos nas entrevistas escritas
analisadas), mas dominam nas receitas de cozinha e ocorrem também nos horóscopos.
(d) *No caso dos restantes géneros, cabe notar que as frases imperativas são pouco
frequentes nas entrevistas (por outras palavras, não se verificaram casos nas
83
entrevistas escritas analisadas), mas dominam nas receitas de cozinha e ocorrem
também nos horóscopos.
(e) No caso dos restantes géneros, cabe notar que as frases imperativas são pouco
frequentes nas entrevistas (ou melhor, não se verificaram casos nas entrevistas escritas
analisadas), mas dominam nas receitas de cozinha e ocorrem também nos horóscopos.
Síntese
84
Quadro-síntese das propriedades dos marcadores de reformulação9
Posição sintática em
Composição Comutabilidade
relação ao S2
Por
Ou Isto Quer Ou
MRP Inicial Medial Final Fixa Variável outras Aliás
seja é dizer melhor
palavras
Ou seja X __ __ X __ X X X __ __
Isto é X X __ X __ X X X __ __
Quer
X __ __ X __ X X X __ __
dizer
Por
outras X X __ X __ X X X (X) __
palavras
Ou
X __ __ X __ __ __ (X) __ X
melhor
Aliás X X __ X __ __ __ (X) __ X
Tabela 8: Síntese do estudo dos marcadores de reformulação quanto à sua posição sintática,
composição e comutabilidade.
9
Na determinação do comportamento dos marcadores de reformulação em relação a estas propriedades,
marcamos com X a presença dessa propriedade e com (X) os casos em que ela pode estar presente ou ausente
dependendo do contexto.
85
retificação. A proposta de Gómez (2008) será a que servirá de base para esta descrição, embora,
nos casos em que nos pareça relevante, consideremos também outras propostas.
No capítulo 2 vimos tabelas baseadas na proposta de Gómez (2008) onde a autora elenca
os valores semântico-discursivos de cada marcador. Se analisarmos os exemplos ao longo do
trabalho de Gómez (2008) e se compararmos com as tabelas finais, percebemos que as tabelas
são uma síntese, onde um valor pode incluir outros. O que decidimos fazer aqui foi utilizar os
valores que a autora vai descrevendo ao longo do seu trabalho em vez de nos basearmos apenas
nos valores finais das tabelas. Além disso, os valores semântico-discursivos que são descritos
são apenas aqueles que conseguimos identificar na análise do nosso corpus, que é usado na
exemplificação de todos os valores elencados.
(85) Como realça Robinson dos Santos, esta consideração kantiana remete-se claramente
para algo essencial, ou seja , para o plano da comunidade universal, para a perspetiva
de uma cidadania cosmopolita. (12-F-FLUP)
(86) Mas se desta maneira, isto é, se atribuindo ao intelecto único a capacidade de informar
o de cada indivíduo e de lhe conferir o ser, este professor da Faculdade das Artes, no
86
século XIII, corrigia Averróis, Bernardi, no século XVI, não quis deixar de inovar. (07-
F-UC)
Apesar de o valor Identificação poder ocorrer separadamente, uma vez que está mais
relacionado com expressões de lugar e de tempo, decidimos inseri-lo no valor de atribuição de
referência pois há uma visível semelhança quanto à instrução dada. Ou seja, é necessário
atribuir referência a uma determinada informação para que o alocutário possa realizar a sua
localização espacial ou temporal.
3.3.3.2. Especificação
O valor de especificação é, de certa forma, bastante semelhante aos dois últimos valores
descritos. Aqui, também o locutor fornece informação adicional para dar ao referente uma
determinada entidade. O que distingue a especificação da atribuição de referência/identificação
é sobretudo o primeiro segmento. Enquanto no caso da atribuição de referência/identificação,
como vimos, o S2 introduzido pelo marcador de reformulação é fundamental para a
interpretação de S1, no caso da especificação, pelo menos nas ocorrências do nosso corpus, a
interpretação de S1 é especificada, mas não depende da ocorrência de S2, pois pode ser
interpretada com base em elementos de natureza contextual e também, em grande medida, pelo
conhecimento enciclopédico ou partilhado dos falantes.
87
(89) Em termos cronológicos, focamos fundamentalmente o biénio relativo à derrocada do
Império colonial, ou seja 1974/1975, ainda que o êxodo se tenha prolongado mas de
forma muito menos intensa até ao final da década de 1970, em particular no caso de
moçambique. (03-H-UC)
(90) Neste artigo analisamos as causas do êxodo das minorias brancas das duas principais
colónias portuguesas em África, ou seja, Angola e moçambique. (03-H-UC)
3.3.3.3. Explicação
O valor de explicação é tido aqui no sentido de aclarar o significado, ou seja, surge para
formular o que foi dito com o objetivo de o dizer de forma mais clara e adequada.
(91) Assim, o caráter abstrato dos géneros contrasta com o caráter empírico dos textos, que
atualizam sempre um determinado género (ou mais do que um), porquanto manifestam
propriedades tipicamente associadas a um ou mais géneros. Por outras palavras, os
textos adotam e adaptam de forma contínua as propriedades típicas dos géneros em que
se inserem (Bronckart, 1996).
(92) Uma vez assimilada a estrutura das contabilidades do Porto impunha-se dar-lhe
consistência através do conhecimento daqueles que a gerem e que a controlam ou seja,
identificar os agentes que intervinham nestas contabilidades: quem as administrava e
quem as fiscalizava. (15-H-FLUP)
3.3.3.4. Tradução
(93) Esta metáfora do espelho estava imbuída, na época medieval, de uma conotação
moralista, ligada à imagem do speculum perfectionis, ou seja, do espelho como reflexo
perfeito e irrepreensível. (02-L-CLUNL)
(94) “…quod nomen imaginatio ab ipso lumine sumpsit, phantasia que dicitur, quia sine
lumine visio fieri nequit”, quer dizer: “…é pelo facto de o termo ‘imaginação’ ser
tomado da própria luz que lhe damos o nome de ‘fantasia’, pois sem a luz é impossível
a visão”. (07-F-UC)
3.3.3.5. Definição
A definição é um valor semântico-discursivo cuja função é a de definir o conteúdo de
determinada palavra ou sintagma.
88
(95) Estas formas foram usadas também em gestos combinados, isto é , gestos que
simultaneamente apontam e representam/ilustram caraterísticas semânticas do
conteúdo dos enunciados. (08-L-FLUP)
(96) Por isso, aplicasse-lhes melhor a classificação de deslocado, ou seja, pessoas que foram
constrangidas a deixar as suas casas, mas que não cruzaram nenhuma fronteira
internacional. (03-H-UC)
3.3.3.6. Denominação
(97) A grande tarefa da educação, no que a este assunto respeita, é ensinar o ser humano a
não ceder à preguiça e à cobardia, ou seja, à menoridade. (12-F-FLUP)
(98) Firmemente alicerçada na perspectiva diacrónica da gramaticalização, baseia-
se a assunção (já que são muito poucos os contra-exemplos citados na literatura)
do princípio da não ocorrência da reversibilidade do processo, ou seja, o da
unidireccionalidade. (07-L-CLUNL)
3.3.3.7. Correção
Como o nome indica, o valor de correção surge quando o segundo membro discursivo
corrige a informação dita no primeiro membro discursivo, substituindo-a por uma expressão
que permita interpretar a informação de uma maneira mais adequada. Há autores que afirmam
que a correção é um valor semântico-discursivo próprio da reformulação não-parafrástica.
Gómez (2010), por exemplo, considera os processos de correção e retificação isoladamente.
Através de um estudo e baseadas na proposta de Charolles (1987), Fávero, Andrade e Aquino
(1995) afirmam haver dois tipos de correção: “a infirmação (do latim infirmare = anular,
revogar, invalidar) e a retificação (do latim rectificare = que segue sempre a mesma direção)”
(1995:273). Além destes autores, Cortés e Camacho (2005) in Gómez (2008) também admitem
a correção como um grupo misto, ou seja, “que comparte características com la reformulatión
parafrástica y no parafrástica” (2008:105). É nesta linha que analisamos a correção neste
89
estudo, como retificação do que foi dito no primeiro membro discursivo e não como
invalidação.
3.3.3.8. Precisão
Quando o segundo membro discursivo vem adicionar informação mais precisa ao
primeiro membro discursivo focalizando apenas um aspeto de algo mais abrangente, estamos
perante um valor semântico-discursivo de precisão.
(101) Este processo deverá ter sido gradual (como, aliás, o são todos os fenómenos de
gramaticalização). (07-L-CLUNL)
Tentamos procurar um padrão de marcas linguísticas que permitisse fazer uma distinção
clara entre os processos de precisão e especificação. Ou seja, tentamos verificar a natureza
sintagmática dos segmentos discursivos mas não verificamos um padrão consistente. O critério
encontrado para distinguir estes valores semântico-discursivos é o critério da equivalência
entre o segmento 1 e o segmento 2. Vejamos os exemplos (102) e (103):
(102) Neste artigo analisamos as causas do êxodo das minorias brancas das duas principais
colónias portuguesas em África, ou seja, Angola e Moçambique. (03-H-UC)
(103) Permita-se-nos a liberdade de glosarmos ou adaptarmos uma célebre equação
queirosiana, ou melhor, da personagem de Jacinto em A Cidade e as Serras (1901), no
sentido de também nós forjarmos o que poderia ser a inusitada equação antropológica
de D. Duarte. (15-F-UC)
Como é possível verificar, no exemplo (102) temos um caso de especificação, uma vez
que há uma relação de equivalência entre os dois segmentos discursivos. No entanto, no
exemplo (103) podemos admitir que há uma espécie de especificação retificativa uma vez que
90
é realizada de facto uma especificação entre os segmentos mas é retificativa porque não há
uma exata equivalência entre os membros discursivos, ou seja, estamos perante um valor de
precisão.
3.3.3.9. Alternativa
(104) Caso se admita que o português é sensível à Condição de Minimalidade, como será ela
parametrizada na gramática da língua? Por outras palavras: se se aceitar que a
fonologia do português inclui, efetivamente, uma CM, o que é que esta estatui como
material fonológico mínimo que deve estar presente em qualquer palavra da língua?
(15-L-CLUNL)
(105) De Angola teriam vindo 290.504 indivíduos, ou seja 61,6% do total, e de moçambique
158.945, ou seja 33,7%. (03-H-UC)
(106) O segundo bloco textual – no qual se manifesta a figura de O. S., ou seja, Oliveira
Salazar – “como se fosse possível celebrar verdadeiramente a festa (…) retroceder
séculos atrás” irrompe, de certa forma, no texto, visto o primeiro bloco ser inacabado.
(03-L-CLUNL)
91
realizada uma análise por revista (cf. Gráfico 5-10), para determinar os valores mais frequentes
e, em seguida, fez-se uma análise global onde é possível verificar a expressão de cada valor na
globalidade do corpus (cf. Gráfico 11). Nos gráficos relativos a cada revista, são analisados
todos os marcadores de reformulação parafrástica em estudo que fazem parte dessa revista.
Deste modo, os resultados são os seguintes:
F-FLUP
92
F-UC
H-UC
93
H-FLUP
L-CLUNL
94
Gráfico 10: Número de ocorrências de cada valor semântico-discursivo em L-FLUP.
O gráfico final mostra a presença dos valores semântico-discursivos num nível geral, ou
seja, na totalidade dos 90 artigos que constituem o nosso corpus. Podemos assim concluir que
a explicação é, com uma diferença significativa, o valor mais frequente em todo o corpus, com
um total de 249 ocorrências em 566, seguido do valor de definição com 97 ocorrências.
Relativamente aos valores com expressão mais baixa, temos o de alternativa, apenas com 1
ocorrência em 566 e os de equivalência e tradução, ambos com 16 ocorrências cada um.
L-FLUP
L-CLUNL
H-UC
H-FLUP
F-UC
F-FLUP
Anexo
Resumo
Conclusão
Corpo do texto
Introdução
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
97
ocorrência de marcadores de reformulação parafrástica. Assim, as secções onde foi possível
verificar a presença dos marcadores de reformulação analisados foram a introdução, o corpo
do texto (no caso de linguística estão aqui incluídas secções como material, métodos,
resultados), conclusão, anexos e resumo. No gráfico que mostra os resultados por revista,
podemos verificar que é unânime o facto de a maior parte dos marcadores surgirem no corpo
do texto. No caso dos anexos e resumo, verificamos também que são raras as ocorrências
registadas.
Começamos esta secção pela discussão relacionada com os resultados obtidos na análise
do plano de texto do artigo científico. Como sabemos, cada um dos 90 artigos estudados está
inseridos em 6 revistas diferentes. Cada revista científica deve ter normas próprias que cada
autor deve respeitar para que o seu artigo seja aceite para publicação. Desta forma, as 6 revistas
analisadas neste trabalho também possuem um documento onde estão contidas as normas para
publicação. O que pretendíamos verificar era até que ponto estas normas fazem referência a
questões relativas ao plano de texto, isto é, se os autores devem ou não intitular cada secção
do seu artigo.
O que foi possível verificar foi que uma das revistas (Revista Filosófica de Coimbra)
apenas apresenta normas para as referências bibliográficas e citações. Nas restantes revistas,
observamos que as normas apenas dão indicações para as questões relacionadas com a
identificação do autor e da sua afiliação, o título do artigo, resumo, palavras-chave, e, com
grande incidência, sobre os aspetos configuracionais, isto é, extensão do artigo, tamanho e tipo
de letra, etc. O que concluímos desta análise das normas editoriais é que não há qualquer
98
indicação para a existência ou, pelo menos, para a marcação de secções como a introdução e a
conclusão, o que pode dar, neste aspeto, uma certa liberdade ao autor.
99
ausência de marcação explícita dessa macroestrutura, o conteúdo que lhe corresponde está
linearizado no texto.
No que se refere à ocorrência dos marcadores em questão nas diferentes partes do artigo
científico, concluímos que a maior parte dos marcadores surge no corpo do texto, sendo muito
escassas as ocorrências registadas nos anexos e resumo e, em número semelhante, as que
ocorrem na introdução e conclusão. Tendo em conta as características deste género textual e
as funcionalidades de cada uma das partes que configuram a estrutura composicional, assim
como os valores semântico-discursivos dos marcadores de reformulação analisados,
consideramos que estes resultados são os previsíveis, pois é no corpo do texto (que inclui
secções como material, métodos e resultados) que se processam de forma mais evidente os
movimentos explicativos e argumentativos do texto.
O Sketch Engine é uma ferramenta que permite estudar o funcionamento das línguas,
contendo 500 corpora em mais de 90 línguas. O corpus utilizado para a nossa análise foi o
Portuguese Web 2011, que apresenta um total de 3 896 392 719 palavras. Este corpus é
composto por textos recolhidos da internet em duas variedades do português: europeu e
brasileiro.
O CRPC- Corpus de Referência do Português Contemporâneo é um corpus que
apresenta textos das várias variedades do Português, entre elas, o Português do Brasil, de
Angola, de Cabo Verde e da Guiné-Bissau. A totalidade deste corpus é de 311,4 milhões de
palavras, sendo composto por textos escritos (literários, jornalísticos, técnicos) e orais (formais
e informais), pertencentes a um período temporal que se inicia na segunda metade do século
XIX e vai até ao ano de 2006. Para a nossa análise, selecionamos apenas o corpus referente ao
Português europeu escrito, que apresenta 289 840 619 palavras. O resultado da comparação é
apresentado na tabela 9.
102
Ocorre no nosso corpus x Ocorre no nosso corpus x vezes
Frequência vezes mais que no CRPC mais que no Sketch Engine
Mais correctamente 0 0
Da comparação entre o nosso corpus e os dois corpora referidos, podemos verificar que,
à exceção do marcador melhor dizendo, que não tem uma frequência muito diferente naqueles
corpora em relação ao que acontece no nosso, os outros marcadores ocorrem
proporcionalmente com maior frequência no nosso corpus, havendo variação entre corpora.
Assim, por exemplo, se tivermos em conta o marcador noutros termos, verificamos que ele
ocorre quase 4 vezes mais no nosso corpus do que no corpus CRPC e 24 vezes mais no nosso
corpus do que no corpus Sketch Engine. Essa diferença mantém-se, embora com uma
expressão bastante mais reduzida para os marcadores mais precisamente e mais exatamente.
Dada a inexistência de ocorrências do marcador mais corretamente no nosso corpus, a
comparação com os outros dois corpora não foi possível. Em síntese, esta comparação mostrou
que, pelo menos no texto escrito, parece haver, independentemente do corpus, uma tendência
para um uso reduzido destes marcadores comparativamente ao número total de palavras. No
entanto, verifica-se que há uma grande variabilidade no uso dos marcadores dentro de cada
corpus e entre corpora, pelo que é necessário realizar uma mais fina, que tenha em conta os
diferentes géneros textuais.
103
Considerações finais
105
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Espasacalpe.
110
Anexos
111
Anexo 1
Ano de
Código Autor (es) Título publicação Número
Silva, Cláudia
12-F-FLUP Maria da Kant – uma educação para a humanidade 2016 33
112
Revista Filosófica de Coimbra
Ano de
Código Autor (es) Título Número
publicação
De uma frágil radicalidade a passo de gato
01-F-UC Monteiro, Hugo no pensamento (político) de Jean-Luc 2017 51
Nancy
Contratempos – do amor: Filosofia, Amor e
02-F-UC Bernardo, Fernanda Melancolia 2014 46
113
História – Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Ano de
Código Autor (es) Título publicação Número
Ano de
Código Autor (es) Título publicação Volume
Coelho, Maria
11-H-UC Helena Portugal: um reino “Plantador de Naus” 2012 43
115
Revista Estudos Linguísticos – CLUNL
Ano de
Código Autor (es) Título publicação Volume
Cardoso, Adriana;
Pereira, Susana; Gramática & Texto: Uma experiência na
15-L- CLUNL 2015 10
Silva, Maria formação de professores
116
Revista de Estudos Linguísticos da Universidade do Porto
Ano de
Código Autor (es) Título publicação Volume
117