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Apresentação 3

1º dia - Um relojoeiro e uma rendeira 4


2º dia - Um casal apaixonado 7
3º dia - A sobrevivente 10
4º dia - A morte não é nada 13
5º dia - Os dias ensolarados da infância 16
6º dia - Eu escolho tudo 18
7º dia - Uma nova mãe 22
8º dia - Um rei e uma rainha 26
9º dia - A escola 29
10º dia - A cura 33
11º dia - A conversão completa 36
12º dia - O criminoso 40
13º dia - Imitação de Cristo 43
14º dia - De Roma até o Carmelo 46
15º dia - A subida ao Monte Carmelo 51
16º dia - A Carmelita descalça 54
17º dia - As gloriosas provações 56
18º dia - No Céu 60
19º dia - O elevador 62
20º dia - A pequena via 64
21º dia - A caridade 67
22º dia - O chamado do esposo 70
23º dia - Meu Deus, eu te amo! 73
24º dia - Era apenas o começo 76
Bibliografia 78
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a
depressão é uma doença que afeta mais de 300 milhões de pessoas
no mundo e surge por inúmeros motivos. Muitas vezes, é confundida
com uma tristeza natural e nem sempre recebe a devida importância
para sua prevenção e tratamento. Há quem nem queira tocar no Serão 24 dias de intensa oração e súplica.
assunto, pois ainda é considerada tabu para muitas famílias. Vamos pedir a intercessão de amigos tão
É preciso se abrir, abordar o tema, procurar ou aceitar ajuda. Vale queridos que estão no céu rezando por nós.
lembrar que nem todos estão preparados e capacitados para escutar
adequadamente, sem preconceitos e julgamentos equivocados.
A primeira “pessoa” com quem devemos conversar sobre o que Para viver bem cada dia de leitura, é necessário tirar um bom
sentimos é Deus. Em seguida, com os médicos, que são presentes que tempo para rezar e meditar. Aconselhamos que procure um ambiente
Ele nos dá. Com o tempo, o Senhor colocará pessoas e instrumentos adequado e, se possível, silencioso e isolado. Você pode rezar diante
adequados para nos auxiliar na luta para vencer esse mal. De de uma imagem de Jesus das Santas Chagas, de Santa Teresinha ou
forma alguma devemos abandonar a ajuda médica ou substituí-la. de alguma outra que tenha em sua casa. Se preferir, acenda uma vela
Nesse intuito, não recomendamos que esse material de leitura seja enquanto lê e medita com os textos abaixo.
considerado como suficiente ou satisfatório para livrar alguém da
Neste livreto, existe uma leitura para cada dia, que deve ser feita
depressão. Pelo contrário, ele é apenas um apoio que deve somar ao
em espírito de oração e esperança em Deus. Como se trata de uma
tratamento médico e psicológico.
leitura oracional, não se deve ler tudo de uma vez só, como se fosse
Pensando nisso, queremos convidar você, a iniciar hoje uma um livro comum.
conversa com uma pessoa que lutou bravamente contra a depressão.
Cada dia apresenta uma dinâmica de oração própria e, por isso, as
Ela vai dar, além de ótimas dicas, um verdadeiro testemunho de fé
etapas não devem ser puladas ou adiantadas. Lembre-se de anotar
e esperança. Trata-se de Santa Teresinha do Menino Jesus. A partir
tudo em seu Diário Espiritual. Ele será sua ferramenta de oração ao
daqui, ela será nossa amiga e confidente. Você terá a oportunidade
longo desses dias sublimes. Se algum dia não conseguir realizar a
de conhecer a sua trajetória e de sua família até o altar do Senhor,
leitura, não desista! Continue de onde parou e peça que o Senhor
que prova que os altos e baixos da vida podem ter sentido e que
ajude naquilo que você mais necessita. Sempre vale a pena tentar de
também podem ser instrumento para alcançarmos uma felicidade
novo e quantas vezes precisar. Serão 24 dias intensos e queremos
maior.
chegar ao fim deles ao seu lado.

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São Luís Martin, pai da nossa pequena Teresa, era filho de Pedro
Isso aconteceu um ano após
François Martin, capitão do Exército francês, e Maria Ana Fanil, filha
Nossa Senhora aparecer em
do capitão de Boureau. Pedro (Pierre em francês) era reconhecido
La Salete para três humildes
pelos seus companheiros de batalha como um homem piedoso, já que
crianças, alertando sobre as
não tinha a mínima vergonha de se ajoelhar para rezar em frente aos
revoluções militares e culturais
demais soldados. Relata-se que muitos até mesmo se emocionavam
que já estavam acontecendo na
ao ouvi-lo recitar o Pai-Nosso. Ao perguntarem o motivo de passar
época e traziam preocupação
tanto tempo em oração, ele respondeu:
para toda população. Por isso,
o jovem Luís decidiu se dedicar
ao trabalho de relojoeiro e
“Dizei-lhes que o faço, porque creio.” joalheiro, em algum lugar bem
distante dos revolucionários
parisienses.
Pedro Martin e Maria tiveram cinco filhos, sendo: o primogênito
Pedro, que morreu jovem em um naufrágio; Maria, que morreu com
apenas 22 anos; Luís, nosso Santo amigo; Fanny, que deixou a terra Depois de três anos de estudo no novo ofício, abriu seu próprio
da família; e Sofia, que morreu aos nove anos de idade. negócio em Alençon e, diferente dos demais comerciantes, jamais abria
Luís estudou em escolas cristãs, assim como seus irmãos. Também sua loja aos domingos, dia do Senhor, mesmo que isso lhe custasse
pertenceu ao Clube Militar e fazia atividades físicas regulares. Foi perder grandes vendas.
apresentado a uma moça da alta sociedade, com a intenção de que Bom pescador, sempre mandava boa parte de seus peixes para
se casassem, mas recusou sem pestanejar. Aos 19 anos, no outono de o Mosteiro das Irmãs Clarissas. Ótimo jardineiro, apaixonado por
1845, foi passar as férias nos Alpes Suíços, onde visitou os Cônegos plantas, também demonstrava muita aptidão artística para os
de Santo Agostinho, que zelavam pelo Hospício do Mosteiro do desenhos. Participava da Missa diariamente, fazia adorações noturnas,
Grande São Bernardo. Com o desejo de se tornar religioso, ouviu peregrinações periódicas e participou de um grupo da Ação Católica
do prior do mosteiro que, primeiro, deveria aprender latim, para só que tinha sido fundado por um amigo próximo. Mas, como todo bom
então poder ingressar na vida religiosa. Luís retornou para casa e, por jovem também tinha dias de diversões e passava alguns momentos
um ano, estudou com muita dedicação, mas com o passar daquele jogando bilhar com seus companheiros.
período a sua saúde frágil, a falta de aptidão e a percepção de que
não era aquela sua vocação falaram bem mais alto.

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Dentro de casa, Zélia teve o grande exemplo de sua irmã Maria Louise,
que era como uma segunda mãe, a qual se tornou religiosa junto das
Irmãs da Visitação. Zélia também tinha muito amor pelos pobres e em
especial pelos doentes, sentimento que, em união à imagem virtuosa de
sua irmã, a fez tentar ingressar nas Filhas da Caridade de São Vicente
de Paulo do Hôtel-Dieu (a “Santa Casa”). No entanto, foi rejeitada pela
prioresa do local que, iluminada pelo Espírito Santo, lhe exortou que essa
não era sua vocação. Desapontada, fez a seguinte oração:

“Meu Deus, já que não sou digna de ser Vossa


Já Santa Zélia Guérin, (se pronuncia Guerran), mãe de Teresinha, esposa, aceitarei o matrimônio para cumprir a
também era filha de um militar, Isidoro Guérin, e foi educada com Vossa Santa vontade. Então, dai-me, vos peço,
rígida disciplina. Nascida em 1931, um ano após as aparições de
Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, Zélia sofria pela saúde muitos filhos, e que todos se consagrem a Vós.”
extremamente frágil e tinha fortes crises de enxaqueca que a
deixavam muito abatida. Mas a crise financeira chegou para a família Guérin quando seu pai,
Sua mãe, Dona Luiza Joana Mace, era uma mulher fidelíssima a Isidoro, precisou se aposentar em 1844. Os negócios não conseguiam
Deus, mas não tinha muito tato pedagógico, o que causava certo ir para frente, o que trouxe problemas e desconforto para todos. Zélia
distanciamento emocional da filha. Em uma das cartas destinadas passou um tempo ajudando na administração da loja de sua família,
ao seu irmão Isidoro, Zélia chegou a desabafar sobre o que sentia: mas ainda desnorteada e sem saber direito o que precisava fazer de seu
que sua mãe era muito boa, mas tremendamente severa e, por não futuro, buscava em Nossa Senhora uma inspiração que lhe ajudasse.
saber lhe dar carinho, a fazia sofrer muito. Ela chegou a confessar Foi quando, na festa da Imaculada Conceição de 1851, ouviu uma voz
que, por conta disso, seus dias de juventude foram “tristes como interior que dizia claramente: “vá e faça ponto de Alençon”.
uma mortalha”. O Ponto de Alençon era um tipo de renda famoso, que dava o nome
Estudou com as Irmãs do Sagrado Coração, com quem aprendeu à cidade. Zélia acabou aprendendo a confeccioná-lo no internato das
a nutrir grande amor por Jesus. Em uma de suas cartas, revelou seu irmãs da Adoração Perpétua. Depois, ela se especializou na “Ecole
grande desejo: Dentellière” (escola de rendas), ganhou o certificado e pôde ajudar na
renda da sofrida família. Esse ofício de rendeira lhe garantiu discreto
“Quero ser santa. Não vai ser fácil. Há muito sucesso, a ponto de possibilitar a Zélia que abrisse seu próprio negócio.

que devastar, e o tronco é duro como a pedra.”


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Para rezar:

Vimos que os pais de Santa Teresinha eram pessoas como nós. A partir das perguntas abaixo, escreva em seu
Diário Espiritual quais são as suas impressões sobre esses dois personagens, São Luís e Santa Zélia.

Quais problemas você e esses dois Santos tiveram em comum? Assim como eles, você também teve
problemas financeiros, familiares, vocacionais e até emocionais? Conseguiu se identificar com alguma
qualidade deles?

São Martin e Santa Zélia tiveram uma saúde frágil. Em oração, peça a intercessão de Santa Teresinha e desse
Santo casal pela sua saúde, principalmente a emocional.

Missão do dia:
A missão de hoje é separar uma folha de papel em branco, anotar todos os horários e cada atividade que você realiza
durante os dias da semana. Deixe um espaço entre uma coisa e outra. Se quiser, pode usar o modelo abaixo e preencher de
acordo com sua rotina.

Acordar Acordar Acordar Acordar Acordar

Acordar Trabalhar Faxina

Almoço Almoço Almoço Almoço Almoço

Fazer janta

Descanso

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Foi na ponte de São Leonardo, em Alençon, que enquanto passeava, Zélia
passou por um homem de semblante reservado e de modos dignos que lhe
chamou muito a atenção. Assim como outrora, ouviu uma voz que lhe chamava
a ser rendeira. Dessa vez, a mesma voz disse: este é aquele que preparei para
você.
Tomada por essa inspiração, que ela sentia ser de origem divina, aproximou-
se daquele homem elegante, de nobre fisionomia e lhe fez discretas perguntas.
Ela então soube que se tratava de Luís Martin, um homem afável, cristão, mas
ainda um pouco solitário.
Esse encontro ocorreu em abril de 1858. Aqueles dois jovens se apaixonaram
e, três meses depois, se casaram na Basílica de Notre Dame de Alençon (Nossa
Senhora de Alençon). Esse matrimônio, cercado de beleza e espiritualidade,
também foi marcado por um medalhão de prata que Luiz mesmo projetou:
de um lado gravou as imagens de Sara e Tobias, do livro de Tobias do Antigo
Dos bebês que nasceram, Maria Helena foi para
Testamento, e do outro lado, as iniciais de seus nomes com a data de seu
o céu com quase cinco anos de idade. Não se sabe
casamento, 13 de julho, exatamente à meia-noite. Sendo que, seu casamento
ao certo o que aconteceu, mas provavelmente não
civil aconteceu um pouco antes, às 22 horas do dia anterior. Três dias depois de
foi amamentada por sua ama de leite, que já não
efetivarem seus laços matrimoniais, Nossa Senhora de Lourdes faria sua última
conseguia desempenhar sua função por conta de
aparição à menina francesa Bernadete Subirous, confirmando o Dogma da
frequentes episódios de alcoolismo. José Maria Luís
Imaculada Conceição já proclamado quatro anos antes destes acontecimentos.
foi para o céu aos cinco meses e José Maria João
Inicialmente, a proposta de Luís era que ambos vivessem como irmãos, e Batista antes de completar nove meses, ambos com
foi aceita foi aceita por Zélia. Mas depois de dez meses, convencidos pelo seu infecção intestinal. Maria Melânia Teresa faleceu
confessor de que essa não era a vontade de Deus para eles, acabaram por antes de completar três meses. Sobreviveram Maria
conceber nove filhos entre o ano de 1859 e 1870. O objetivo de Zélia era que Luiza, Maria Paulina, Maria Leonia, Maria Celina e
fundassem uma família de santos, desejo que foi levado muito a sério por Deus, Maria Francisca Teresa Martin, que conhecemos
como veremos no decorrer desses dias. Nesse meio tempo, morre o capitão por Santa Teresinha do Menino Jesus. Mais tarde as
Pedro Martin, condecorado como um Cavalheiro de São Luiz, que era uma crianças sobreviventes se tornariam todas religiosas,
grande honra para um católico daquela época. assim como o sonho de sua mãe.

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Assim, seu martírio, por mais doloroso que fosse, ainda
era sustentado pelo amor incondicional que tinha à Deus
e a família. Zélia conseguiu transformar toda sua dor em
um amor sem limites. Jamais se paralisou nos próprios
sofrimentos, mas a todo instante buscou dar sentido aos
desafios que surgiam, enfrentando o que fosse preciso
com a cabeça erguida, atitude digna de uma mulher cristã.
Luís, também apaixonado pelas suas crianças e
inspirado nas joias que trabalhava e nas virtudes que
admirava, logo tratou de nomear cada uma das filhas com
um apelido carinhoso. Pelo que se sabe, Maria Luiza (ou
simplesmente Maria) era chamada de “diamante”. Pauline
Zélia conseguiu por si mesma alimentar suas crianças por um tempo, mas era sua “pérola”. Celine era conhecida como “destemida”.
depois descobriu um câncer que a incapacitou de produzir leite. Após a morte Leonia, pelo seu temperamento forte, era chamada de
de Maria Helena, Zélia escreve: “intrépida”. E Teresa, como ela relatou em seu diário, era
a pequena “rainha”.
“Quando eu fechei os olhos de minhas pequenas e queridas crianças, e Luís e Zélia optaram por uma vida conjugal segundo
quando as enterrei, eu senti grande dor, mas foi sempre de forma resignada. Eu o Evangelho de Jesus. Participavam da Santa Missa
não me arrependo das tristezas e dos problemas que enfrentei por elas. Muitas diariamente e tentavam não faltar. Faziam oração pessoal
pessoas me disseram: ‘Seria muito melhor nunca as ter tido’. Eu não suporto e com os irmãos. Confessavam-se frequentemente e
esse tipo de conversa. Eu não penso que as tristezas e os problemas podem participavam assiduamente da vida paroquial. Também
ser comparados à felicidade eterna de minhas crianças. Note que elas não se se sabe que muitas vezes socorriam quem mais precisava.
perderam para sempre. A vida é curta e cheia de misérias. Nós as veremos de Não poucas vezes foram obrigados a hospedar em sua
novo no Céu. Foi sobretudo na morte de minha primeira filha que senti mais casa os soldados revolucionários, mas não perderam com
fundo a alegria de ter uma criança no Céu, porque Deus me mostrou de modo isso a oportunidade de lhes testemunhar um Evangelho
evidente que Ele aceitara meu sacrifício. Veja você, minha querida irmã, é uma vivo.
coisa muito boa ter anjinhos no Céu, mas não é menos doloroso perdê-los.
Essas são as grandes tristezas de nossa vida. Amo crianças com loucura, eu
nasci para tê-las... Para mim, os nossos filhos foram uma grande alegria, então
eu queria ter um monte deles, a fim de criá-los para o Céu.”

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Para rezar:

Como você já deve ter percebido, a vida desse casal foi marcada por muitas perdas, desde seus pais, irmãos e
até seus próprios filhos. Porém, seu olhar estava voltado para a eternidade, para o céu onde todos vamos morar.

Leia novamente o sexto parágrafo e, brevemente, converse com Santa Teresinha sobre o que você pensa do
céu. Diga para ela quem você gostaria de encontrar lá.

Você já percebeu que Nossa Senhora está sempre presente na vida desta família? Que tal escrever uma
pequena oração pedindo que Maria lhe acompanhe e ajude a alcançar a graça da cura da depressão?

Agora escreva uma oração louvando a Deus pelas suas virtudes e bons exemplos da sua mãe (pode ser de
criação). Se achar necessário, também poderá rezar e pedir a graça de perdoá-la.

Missão do dia:

Hoje sugerimos que encaixe na organização


de seus horários 15 minutos para rezar o Terço
Mariano diariamente, se possível. Se já o faz,
sugerimos então que inclua o Terço de Jesus das
Santas Chagas.

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Batizada com o nome de Marie Françoise Thérèse Martin (Maria
Francisca Teresa Martan), nossa querida amiga nasceu no dia 2 de
janeiro de 1873, em Alençon. Mas ela veio fraquinha, franzina e com
pouca saúde. Claro que a situação da criança era preocupante, devido
ao alto índice de mortalidade infantil que assolava a população da
época. Assim relatou sua mãe:

“Não tenho mais esperança de salvá-la. Esta pobre


criança sofre horrivelmente, corta o coração de vê-
la... ela não tem repouso nem de dia de noite: minha
filhinha está doente e eu tenho medo de perdê-
la. Estou atormentada. Vejo os mesmos sintomas
alarmantes dos meus filhos que morreram...” Mas a força para suportar este fardo veio do seu ato de fé.
Inúmeras vezes ela repetiu para si a sua mais firme convicção:
Para a sobrevivência de Teresa era essencial que Zélia tivesse uma
postura firme diante dos problemas que apareciam. Para dar conta “Nosso Senhor que é um bom Pai nunca dá as suas
do sufoco, passou a trabalhar muito mais do que o costume. Ela criaturas mais do que elas podem aguentar.”
realmente estava disposta ao que fosse necessário para garantir que
suas filhas tivessem boa saúde e um futuro adequado: Como Teresa estava rejeitando o seio materno, a pouca alimentação
quase a levou a morte, como relatou Zélia: “(a menina) caiu como
morta... não tinha nenhuma respiração aparente. Por mais que se
“Tenho ainda outra preocupação que me faz sofrer procurasse um sinal de vida, não se encontrava nada.” Sua mãe então
muito: meu pobre comércio não vai bem.... Não é o subiu às pressas para o quarto para clamar que São José restituísse
desejo de fazer fortuna que me move.... Devo ir até o a vida de sua filha, mas resignada, também declarou que aceitaria o
fim por causa delas e vejo-me embaraçada por ter que pior se essa fosse a vontade de Deus. A criança sobreviveu, mas às
custas de muitas lágrimas.
fornecer trabalho às rendeiras e não poder fazê-lo.”

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A família então se viu obrigada a contratar novamente a enfermeira
Rosa Taillé, que já havia lhes ajudado em momentos anteriores.
Rosa se tornou a ama-de-leite de Teresa desde seus 3 meses até E em outra carta ela explica:
em torno de um ano e meio. Neste período ela costumava levar
a pequenina para conhecer os campos e os animais da cidade de
Samalé. Provavelmente aí começou uma longa relação de amor entre “Se Deus quiser me curar, ficarei muito contente
Teresa e as flores, especialmente com as rosas.
porque, no fundo do m0eu coração, desejo viver; o que
Rosa descrevia Teresa como uma criança com grande inteligência me custa é deixar meu marido e minhas filhas. Mas, por
precoce, sorridente e animada, todavia, tinha seus acessos de outro lado, digo a mim mesma: se eu não me curar, é
sensibilidade, de cólera e de choro. A separação dela e de sua ama- porque, talvez, seja mais útil que eu parta.”
de-leite se dá de maneira muito dolorosa, pois Teresa sentiu-se
rejeitada, e quando retornou para os braços de sua mãe, foi como se
estivesse encontrando uma estranha.
Zélia, que já estava trabalhando muito mais do que podia, não se
Isso tornava o martírio de Zélia ainda mais agudo. Onze anos antes preocupava com a morte. Ela sabia que, se esta viesse, seria apenas de
do nascimento de nossa pequena santa, ela já sentia fortes dores uma passagem para uma condição muito melhor e muito mais útil. Esse
nos seios. Mas em 1876, o médico lhe dá um diagnóstico: câncer de comportamento revela sua profunda maturidade humana e espiritual, a
mama, que já estava em um estágio muito avançado e seus efeitos qual todos nós devemos almejar alcançar. Enquanto esteve viva, amou
estavam tomando a sua vida aos poucos. Amparadíssima pelo a caçula Teresa e suas irmãs com todas as forças que lhe restavam,
esposo, enfrentou tudo como a mais forte das mulheres, conforme conforme relata na carta para sua cunhada em 1873:
relatou em outubro de 1876:

“O que me consola é pensar que Nosso Senhor quer


“Não penseis que vou afligir-me demasiadamente assim, por que fiz tudo o que pude para criá-la eu própria.”
por causa de meu triste caroço. Se Nosso Senhor
permitir que eu morra disso procurarei resignar-me do
melhor modo possível e suportar minha moléstia com
paciência.”

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Para rezar:

Hoje descobrimos mais um personagem que participou ativamente na vida desta santa família: São José. Todos
os filhos de Luís e Zélia eram consagrados a este glorioso patriarca.

Que tal hoje você escrever uma oração espontânea, se consagrando a ele, assim como sua saúde mental e
emocional?

Uma característica que chama a atenção em Santa Zélia é o fato de ela jamais desistir, mesmo que tudo
pareça perdido. Escreva uma oração à Santa Teresinha pedindo paciência e forças para jamais desistir.

Missão do dia:

Hoje sugerimos que escreva, em uma


folha separada, todos os seus sonhos,
mesmo aqueles nos quais já não acredita
que pode realizar. Escreva-os e coloque
a folha dentro de sua Bíblia.

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Teresinha era extremamente carinhosa desde seus primeiros anos de idade.
Muito apegada a mãe, não a larga em nenhum instante, conforme Zélia relatou
em uma de suas cartas:

“O bebezinho veio passar sua mãozinha em meu rosto e abraçar-


me. A pobrezinha não quer deixar-me, fica contente comigo.”

Sendo a caçula, logo tornou-se o centro das atenções da família. Parte dessa
atenção também se devia ao seu jeito vivo e à sua esperteza. Como cresceu
recebendo a sabedoria que lhe era transmitida pelos pais, adquiriu a habilidade
de intuir com facilidade coisas sobre a fé que um adulto de hoje talvez não tenha
tanta facilidade de entender. Isso causa espanto e graça para toda família. É o que
prova seus diálogos com sua mãe:

“A Teresinha perguntava-me, outro dia, se ela iria para o Céu.


Disse-lhe que sim, se fosse bem ajuizada. Ela me respondeu: ‘Sim,
mas se eu não for boazinha, iria para o Inferno... Mas bem sei o que
iria fazer: voaria para junto de ti que estarias no Céu. Como o Bom
Deus faria para me apanhar? Tu me apertarias bem forte em teus
braços’. Vi em seus olhos que acreditava piamente que Deus nada
poderia fazer, se ela estivesse nos braços de sua mãe.”

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A fé de que Deus queria lhe dar o céu marcou a espiritualidade de Teresinha até
sua morte. Aliás, ela conclui que a morte não é nada diante de um Deus tão bom.
Em um conhecido episódio, Zélia relata que mesmo tão pequena, já sabia que o
Senhor jamais se negaria a ser generoso com sua família:

“A menina é uma verdadeira traquinas sem par, que vem acariciar-


me, desejando-me a morte: ‘Oh! Como eu gostaria que morresses, Ser uma criança nos braços de Deus! Isso é
minha mãezinha!’ Repreendem-na mas ela responde: ‘Mas é para que muito difícil para adultos amargos e cheios de
possas ir para o céu, pois dizes que precisamos morrer para ir para lá’. pretensas certezas como nós. São tantas as coisas
que nos distraem e nos perturbam que acabamos
Em seus excessos de amor, deseja também a morte de seu pai.” esquecendo que nos basta ser humilde e pequenos
diante do Senhor. E mais do que isso, esquecemos
que as coisas deste mundo passam, e que logo
Essa perspicaz compreensão parece ter sido inspirada pelo próprio Espírito
receberemos os frutos da alegria que não têm fim.
Santo, que gosta de revelar aos pequenos as coisas do coração de Deus (cf. Mateus
Foi a lembrança do paraíso que se tornou para
11,25). Seu pequeno coraçãozinho já era um terreno bom e fecundo para receber
Teresa fonte de inspiração e conforto para suportar
a boa semente da santidade que Jesus queria ali plantar. Não havia nela nenhuma
os maiores desafios que lhe sobrevieram, conforme
desconfiança. Não havia medo de Deus. Só havia esperança em sua misericórdia.
veremos em muitos de seus poemas:
Esse foi o motivo pelo qual ela conquistou o Céu: por ser exatamente o tipo de
pessoa que “cabe” nele.
“Quando em meu coração se forma a
“Eu afirmo a vocês que isto é verdade: se vocês não mudarem de tempestade, a Ti, Jesus, elevo minha fronte e
vida e não ficarem iguais às crianças, nunca entrarão no Reino do Céu. em Teu olhar, repleto de bondade, eu leio: ―
A pessoa mais importante no Reino do Céu é aquela que se humilha e ‘Filha, foi para ti que fiz os Céus!’”
fica igual a esta criança.” (Verso do poema 25)
(Mateus 18,3-4).

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Para rezar:
Na leitura de hoje, percebemos que nossa pequena amiga, mesmo que de forma inocente, se entrega inteiramente nos
braços de Deus, até mesmo a ponto de desejar que seus pais morram logo para que eles possam ir desfrutar do Paraíso. Vamos
refletir um pouco sobre isso?

Alguma vez você já deve ter escutado algo do tipo: Se você não se comportar Deus vai ficar bravo com você! Ou: Deus não
gosta de criança que faz birra! Ou: Deus vai te castigar se você fizer tal coisa! Ou ainda: Deus está triste com você.

Por mais que nossos pais tivessem a boa intenção de nos educar e nos colocar no caminho virtuoso, essas frases sempre
foram inadequadas para expressar a verdade sobre os sentimentos do Senhor para conosco. Claro que nunca devemos ofender
a Deus, mas Ele jamais vai deixar de nos amar e também jamais nos rejeitará. O maior desejo dEle é o de nos dar todas as coisas
que um Bom Pai pode oferecer (cf. Mateus 7,7-11). Claro que Ele não deseja que nós caiamos no inferno! Aliás, segundo o
Catecismo da Igreja Católica, só vai para lá quem o faz voluntariamente por não querer ser amado (confira no número 1037 do
seu Catecismo).

Peça a ajuda de Santa Teresinha para que sua consciência seja iluminada pela verdade que só o Espírito Santo pode revelar.

Escreva em seu Diário tudo aquilo que já te fez sentir vergonha diante de Deus. Vale a pena lembrar de tudo: pensamentos
indevidos, pecados graves, programas a que assistiu, envolvimento com superstições, com pessoas que lhe induziram ao
pecado, etc. Somente depois de escrever tudo é que deve ler e proceder o próximo passo.

Escreveu tudo? Ok. Agora faça o seguinte: arranque essa página e a guarde na Bíblia. O próximo parágrafo explicará onde
usar essas palavras escritas.

Missão do dia:
A sugestão desse dia é que anote em sua agenda um dia específico no qual, todo mês, vai buscar confessar seus pecados
com um Sacerdote. Caso tenha algum impedimento para realizar a confissão, marque um horário com o Sacerdote a fim de
solicitar Direção Espiritual. Depois de realizado, queime ou descarte a sua folha em um lugar adequado.

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“Ah! Como passaram rapidamente os anos
ensolarados de minha infância, mas que doce
impressão deixaram em minha alma!”

Foram com esses termos que Teresa descreveu a luz que brilhou
durante seus primeiros anos em Alençon. Por mais que suas palavras
pareçam demasiadamente adocicadas, é realmente com doçura que
ela se recorda de tantos fatos de sua vida, os quais, longe de serem
extraordinários, revelavam nos detalhes a condução de Deus que
já modelava sua índole. Mas como toda criança, seus pais também
precisaram lhe aplicar certa disciplina a fim de que ela aprendesse a
controlar o próprio temperamento, como narra sua mãe:
“É uma criança que se emociona facilmente. Se faz
“Sou obrigada a corrigir o pobre bebê que se põe qualquer travessura, é preciso que todo mundo o saiba.
em terríveis fúrias quando as coisas não são do seu Ontem, tendo arrancado, sem querer, um cantinho do
agrado. Rola pelo chão como uma desesperada, crendo papel que recobre as paredes, pôs-se num estado de
que está tudo perdido; há momentos em que vai além fazer dó e queria que o dissessem logo a seu pai. Este
de suas forças e fica sufocada. É uma criança muito chegou quatro horas depois; ninguém mais pensava
nervosa, entretanto, é muito engraçadinha e bastante naquilo, mas ela foi bem depressa dizer a Maria: ‘Conta
inteligente, lembra-se de tudo.” depressa para o papai que eu rasguei o papel’. E fica
como uma criminosa que espera sua condenação, mas
Quem já viu os retratos nos quais ela aparece como uma menina imagina, em sua cabecinha, que será mais facilmente
tão meiga e comportada nunca imaginaria que ela também aprontou perdoada, se ela se acusar.”
suas traquinagens. Talvez se equivoque quem não espere isso de
uma criança normal. Mas a diferença é que Teresa, sempre reflexiva
de suas culpas como uma “Madalena arrependida”, logo corria para
buscar a misericórdia:
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Como dito, dela podia se esperar tudo o que uma criança normal Até mesmo a altivez de seu temperamento era muito evidente. Ela
faz. Seria um grande erro acreditar que os santos não tinham o direito não costumava se conter em dizer o que pensava. Era uma criança
de demonstrar as características próprias de cada fase de suas vidas, “sabida”, como popularmente dizemos por aí, pois não ficava por baixo
e o mesmo se aplica a Teresa, pois, apesar do seu jeito sensível e e nem permitia que lhe enganassem.
delicado, nossa pequena também precisava de certa atenção para
que não se machucasse em nenhuma de suas estripulias. Não se
podia tirar o olhar dela sequer enquanto dormia: “Um dia mamãe me disse: ‘Minha Teresinha, se beijares
o chão, darte-ei um soldo’ (algo próximo de cinco
centavo). Um soldo era uma riqueza para mim e para
“Vede, minha madre, como estava longe de ser ganhá-lo não era necessário abaixar minha grandeza,
uma menina sem defeitos! Não se podia nem sequer
pois minha pequena estatura não punha grande distância
dizer que era ‘quieta quando dormia,’ pois, durante
entre mim e o chão. Contudo, minha altivez revoltou-se
a noite era ainda mais agitada do que de dia; manda
com o pensamento de ‘beijar o chão’ e, mantendo-me
todas as cobertas pelos ares, e depois (dormindo)
bem ereta, disse para mamãe: ‘Oh! Não, minha mãezinha,
batia-me contra a madeira de meu bercinho. A dor me
prefiro não ganhar o soldo’...”
acordava e, então, dizia: ‘Mamãe, estou machucada...’
a pobre mãezinha era obrigada a levantar-se e via
que, com efeito, eu tinha galos na testa e que estava Tais lembranças marcadas em sua alma são envoltas por um mistério
de amor. Teresa compreendeu que aquela menina estabanada era
machucada. Cobria-me e ia deitar-se, mas dali a amada por Deus, e por isso, ela também precisava se amar. Se o amor
pouco, eu recomeçava a me machucar, de tal modo de Deus era presente, então ela era livre para ter afetos por si mesma,
que foram obrigados a amarrar-me em meu berço. não importando muito a censura alheia.
Vamos aprender muito mais sobre isso ao longo dos dias.
Todas as noites, a Celinazinha ia prender os numerosos
cordões destinados a impedir que a pequena travessa
se machucasse acordasse a sua mãe.”

17
Para rezar:
Hoje vamos passear na nossa infância junto de Jesus das Santas Chagas. Por isso queremos lhe convidar para fazer um
exercício de oração diferente:

a) Faça duas colunas em seu diário de oração.

b) Na primeira coluna, escreva toda as lembranças boas que tem de sua infância.

c) Na segunda, escreva todas as lembranças tristes e ruins.

d) Leia todas em oração e, a cada lembrança lida, suplique que Jesus das Santas Chagas derrame uma gota de Seu
Sangue precioso em cada momento de sua história.

Por exemplo:
Jesus, Te peço que visite essa minha memória aos meus 5 anos de idade, quando fulano fez um grande mal contra mim. Peço,
Jesus, que derrame uma gota do Seu precioso Sangue e transforme essa memória ruim em amor.

Ou ainda:
Jesus, Te peço que visite essa minha lembrança de quando ganhei minha primeira bicicleta. Que dia feliz! Peço, Jesus, que
derrame uma gota do Seu Sangue precioso sobre essa boa lembrança e que ela sirva para curar o meu coração.

Missão do dia:
Você se recorda que no primeiro dia sugerimos que organizasse seus horários, não é verdade? Pois hoje a missão é encaixar
na sua semana algum tempo para fazer exercícios físicos. Sugerimos que converse com seu médico para discernir sobre qual
tipo de exercício lhe convém.

Caso você já faça algum, sugerimos então que organize seu quarto ou sua casa ou pense na possibilidade de mudar alguns
móveis de lugar para dar outra cara ao ambiente.

18
Talvez um dos episódios mais impactantes de sua autobiografia,
não pela existência de algum acontecimento espetacular, mas
justamente pela sua profundidade espiritual e profética, foi o dia
em que Teresa nos presenteou com essa pérola:

“Um dia, julgando-se muito crescida para brincar


com bonecas, Leônia veio ter com nós duas, trazendo
uma cesta cheia de vestidos e de lindos retalhos para
fazer outros, e por cima estava deitada sua boneca.
‘Tomai, minhas irmãzinhas – disse-nos ela – escolhei, Uma leitura desatenta pode supor que esse episódio não passou
dou-vos tudo isto’. Celina estendeu a mão e tomou de um ato egoísta de nossa pequena, que pegou todos os presentes
um pacote de cordões que lhe agradava. Depois de para si sem pestanejar. Mas Teresinha fará uma outra leitura desse
acontecimento. Com o passar do tempo, ela mesma descobre que a
um momento de reflexão, estendi a mão, por minha perfeição da santidade exige também acolher os sofrimentos que Deus
vez, dizendo: ‘Eu escolho tudo!’ e tomei a cesta sem permite em nosso dia a dia. Deus sempre nos dá abundantes bênçãos
mais cerimônia. As testemunhas da cena acharam o (cf. Marcos 10,29-30), mas também nos permite carregar a cruz que nos
caso muito justo e a própria Celina não pensou em salva (cf. Mateus 10,38). Convicta disso, sem nenhum juízo medíocre
sobre o que é ser cristã, em uma de suas orações ela nos presenteia com
se queixar (aliás, não lhe faltavam brinquedos; seu mais uma pérola:
padrinho cumulava-a de presentes e Luísa achava
meios de lhe arrumar tudo quanto desejava).” “Não quero ser santa pela metade, não tenho medo de
sofrer por Vós, a única coisa que temo é guardar minha
vontade, tomai-a Vós, pois ‘escolho tudo’ o que quiserdes!”

19
“Não querer ser santa pela metade” foi para Teresinha uma atitude que colocou Deus como Senhor
absoluto de sua vida, não obstante as dificuldades que pudesse lhe sobrevir. A sobriedade de pensamento
não lhe permitia equívocos, pois ela sabia indubitavelmente que Deus é o Senhor que também fala da
tempestade, como Jó mesmo pôde atestar:

“Do meio da tempestade, o Senhor deu a Jó a seguinte resposta: as suas palavras só


mostram a sua ignorância; quem é você par pôr em dúvida a minha sabedoria?”
(Jó 38,1-2)

Todos os detalhes da doença de nossa querida mãe estão ainda


vivos em meu coração; Lembro-me, sobretudo, das últimas semanas
que passou sobre a terra...

Já adulta, Teresa entende que a vida acontece em um ritmo Brincando com as (outras) crianças, o pensamento de nossa querida
semelhante às estações do ano. Há os ensolarados dias da mãe acompanhava-nos sempre.
infância feliz. Há a primavera de virtudes que brotam desde muito
pequena. Há o outono, quando se deixam para traz a fúria do Uma vez, tendo Celina ganhado um belo damasco, inclinou-se
comportamento ansioso, mas há também um inverno rigoroso, para mim e cochichou: ‘Não vamos comê-lo, vou dá-lo à mamãe.’ Ah!
um frio que é capaz de abater até a mais altiva das almas. Nossa pobre mãezinha já estava muito doente para comer os frutos
da terra. Não devia mais se saciar senão no Céu, da glória de Deus
“Oh! Verdadeiramente, tudo me sorria sobre a terra; encontrava e beber com Jesus o vinho misterioso de que fala na Última Ceia
flores a cada passo e meu bom caráter contribuía também para dizendo que o partilhará conosco no reino de seu Pai.
tornar minha vida agradável. Contudo, um novo período ia começar
para minha alma; devia passar pelo cadinho da provação e sofrer Zélia faleceu aos 45 anos, no dia 28 de agosto do ano de 1877.
desde a minha infância, a fim de ser oferecida, mais depressa, a Jesus. Teresa tinha apenas 4 anos e 8 meses de idade.
Assim como as flores da primavera começam a germinar sob a neve
e desabrocham nos primeiros raios de sol, assim a florzinha, cujas “A tocante cerimônia da Extrema-Unção imprimiu-se também
memórias escrevo teve que passar pelo inverno da provação... em minha alma. Vejo, ainda, o lugar onde eu me achava, ao lado
de Celina; nós cinco estávamos por ordem de idade e nosso pobre
Paizinho estava também, soluçando”...

20
Perder um familiar é uma dor para qualquer indivíduo, mesmo que seja adulto. Perder a mãe tão nova foi
realmente difícil. Que palavras diríamos se lá estivéssemos ante o olhar perdido e abatido deste pequeno botão
que se desprendeu de sua roseira? Com que coragem nos aproximaríamos da bebê que perdeu parte da alegria
de seu coração? Conseguiríamos lhe dizer alguma palavra de consolo? Sem ter sequer seus 5 anos completos
e, embora Teresa não soubesse o que de fato estava acontecendo, sentiu no seu íntimo o impacto de tão duro
golpe da morte. Foi ali, na mesma Igreja onde sua mãe e seu pai se casaram que agora ela haveria de se despedir:

“No dia da morte de mamãe ou no dia seguinte, ele tomou-me em seus braços, dizendo-me: ‘vem beijar, pela última
vez, tua pobre mãezinha.’ Sem dizer uma única palavra, aproximei meus lábios da pobre fronte de minha mãe querida...
Não me lembro ter chorado muito. Não falava a ninguém dos sentimentos profundos que experimentava... Olhava
e escutava em silêncio... Ninguém tinha tempo de ocupar-se comigo... Eu era tão pequena que, apesar do corpo da
mamãe estar um pouco baixo, eu era obrigada a erguer a cabeça para o avistar de cima, e ele me parecia bem grande...
bem triste... Quinze anos mais tarde, achei-me diante de outro caixão, o de Madre Genoveva. Era do mesmo tamanho
que o da mamãe e julguei estar ainda nos dias de minha infância! Era a mesma Teresinha que o olhava, mas ele tinha
crescido e o caixão parecia-lhe pequeno. Não tinha mais necessidade de erguer a cabeça para vê-lo. Ergueria somente
para contemplar o Céu que lhe parecia bem alegre, pois todas as suas provações tinham terminado e o inverno de sua
alma passado para sempre...”

O pouco tempo que pode passar com sua filha, foi suficiente para Zélia testemunhar algo que marcou o
coração de Teresa para sempre, conforme ela vai relatar em seu diário:

“Da mamãe encantava-me o sorriso. O seu profundo olhar parecia dizer: a Eternidade deslumbra-me e atrai-me. Irei
para o Céu azul ver a Deus! (Poema 18)”

21
Para rezar:

Ao escolher tudo, Teresinha também escolhe se reconciliar com os acontecimentos mais doloridos de sua história. Pode-se
dizer que ela escolheu se reconciliar consigo, não mais permitindo que as tristezas do passado definissem seu presente e seu
futuro. Ela se permitiu amadurecer, crescer, tornar-se Santa.

Pensando nisso, escreva em seu Diário Espiritual todos os momentos de inverno que já passou em sua vida.

Terminado o passo anterior, escreva uma oração se comprometendo a não permitir que os acontecimentos do passado
definam a maneira como você encara a vida.

Termine com o pedido de intercessão de Santa Teresinha para ser forte nas batalhas contra a tristeza.

Missão do dia:

Hoje sugerimos que faça, em uma folha separada, uma


lista de qualidades nobres que as pessoas já falaram que
você tem. Após terminar, se possível, coloque a folha em
um lugar que lhe seja visível: no espelho, na porta, na
geladeira, na mesa, na bolsa, etc. Ao longo dos próximos
dias, leia novamente esses elogios sempre antes de
começar sua manhã.

22
A escolha por Paulina para ser sua nova mãe não é aleatória.
Teresa nutria tal amor a irmã ao ponto que a mesma já confessou
que esta era seu ideal de criança.

“Quando comecei a falar mamãe me perguntava: ‘Em


quem estás pensando?’, a resposta era sempre a mesma:
‘Em Paulina...!’ Certa vez, passava meu dedinho na vidraça
e dizia: ‘Estou escrevendo: Paulina!’”

Quando pela casa se tocava no assunto da possível ida de Paulina


para a vida religiosa, Teresa, mesmo sem saber direito o que isso
significava, rapidamente se prontificava: “eu também serei religiosa”.
Assim, em Paulina se espelhava, como que em uma heroína da
Uma semana de diálogo com Teresa: até hoje, ela já nos relatou um infância. Não tinha receios de se deixar atrair pelas virtudes de tão
pouco sobre a história de seus pais, sobre como foi dura a luta pela generosa irmã. Por sua parte, Paulina levou muito a sério essa escolha,
sobrevivência, sobre seus primeiros anos de vida e, também, sobre buscando sempre corresponder carinhosamente ao seu novo papel
a perda de sua mãe. Hoje, vamos continuar conversando com essa de mãe.
santinha, em oração, sobre as próximas etapas de sua vida.
Luís, agora sozinho para cuidar destas moças, mudou-se com elas
para a cidade de Lisieux (lê-se Liziê) na Normandia (região Noroeste
“O Bom Deus quis dar-me outra (mãe) na terra, e quis que da França colonizada pelos normandos). Sua intenção era a de obter
eu a escolhesse livremente. Nós cinco estávamos juntas, o apoio da tia Celina, esposa de Isidoro (irmão de Zélia), para cuidar
olhando-nos tristemente; Luísa também estava ali e disse, das crianças que tanto necessitariam de uma figura feminina. Joana
olhando para Celina: ‘Pobres pequenas, já não tendes mais e Maria, primas de Teresa, já lhe esperava às portas da casa para
poderem se divertir.
Mãe!’ Então Celina lançou-se aos braços de Maria e disse:
‘Pois bem! Mamãe serás tu’. Eu, habituada a fazer tudo igual Luís, que já havia vendido sua loja para seu sobrinho, comprou uma
a ela, voltei-me para vós, minha Mãe, e como se o futuro casa que ficou conhecida como Les Buissonnets, (lê-se lê bissonê, que
já tivesse rasgado seu véu, atirei-me em vossos braços, significa arbustos). O tempo que passou nessa casa Teresa reconheceu
como o mais doloroso de sua história, ou como ela prefere chamar,
exclamando, “Pois bem, para mim Paulina será minha nova
o segundo período de sua vida, que se trata dos 4 anos e meio até
mamãe!” seus 14 anos.
23
Teresa, no entanto, experimenta a fragilidade que a perda de sua mãe biológica causaria, e este espírito
escolhido se tornará um espírito aflito. Seu sorriso se apaga e aquela alegria que lhe era própria lhe abandona,
tal qual sua mãe, deixando um grande vazio em uma pequena garota que se tornou retraída e quieta. Ela mesma
admite que só se sentia feliz quando ninguém a notava, mas bastava um olhar ou alguma reprovação para que
ela se desfizesse em lágrimas.

“Depois, minha mãezinha tomava-me nos braços e levava-me à cama de Celina. Então eu
dizia: ‘Paulina, fui boazinha hoje? Os anjinhos voarão ao meu redor?’ A resposta era sempre que
sim. Do contrário, passaria a noite inteira chorando.”

Mais do que uma nova mãe adotiva, quis Deus que Paulina fosse uma mãe espiritual para Teresa, inserindo-a
nos mistérios da fé com grande pedagogia e clareza. Além de uma ótima professora, foi-lhe também uma ótima
catequista. Bastava um “dedinho de prosa” com ela e as dúvidas de Teresa se dissipavam, tal qual fumaça levada
pelo vento. Paulina tinha a unção e a poesia necessárias para ensinar e encantar a alma de nossa santa.

“Certa vez, estranhei que Deus não dessa glória igual no Céu a todos os eleitos e receava
que não fossem todos felizes. Então, Paulina fez-me buscar o copo grande de papai e colocá-lo
ao lado do meu pequeno dedal e disse para encher os dois. A seguir, perguntou-me qual dos
dois estava mais cheio. Respondi que os dois estavam cheios e não podiam conter mais. Minha
mãe querida fez-me então compreender que no Céu, Deus dá aos seus eleitos toda glória que
pudessem conter, e que assim, o último nada tem que invejar do primeiro. Era desta forma que,
pondo ao meu alcance os mais sublimes mistérios, sabíeis, Madre, dar à minha alma o alimento
que lhe era necessário...”

24
Para rezar:

Paulina tornou-se mãe espiritual de Teresa, dando-lhe a catequese necessária para que conhecesse o amor de Deus em sua
grandeza.

Tendo isso em mente, escreva em seu Diário Espiritual uma oração de agradecimento por todas as pessoas que lhe
evangelizaram, na catequese, em casa, na Paróquia, nos retiros, etc. Se quiser, pode citar nomes.

Vimos que Teresa passou a demonstrar sintomas de uma emoção abatida. Reflita sobre isso e escreva uma oração
pedindo que Santa Teresinha te ajude no autoconhecimento, principalmente das tuas próprias reações mediante a dor.

Missão do dia:

A missão de hoje será encaixar em seus horários um


momento para estudar a Bíblia. Sugerimos o tempo inicial de
15 minutos. Caso você já leia a Bíblia diariamente, encontre
um espaço na sua agenda para fazer a leitura de algum livro
espiritual, de preferência a história de algum santo ou santa.

Você também pode ler o portal de conteúdo IDe+ que traz


diversos posts sobre como começar a ler a Bíblia.

25
“Toda a tarde ia a um pequeno passeio com papai. Fazíamos
juntos nossa visita ao Santíssimo Sacramento, e cada dia
visitávamos uma nova igreja. Foi assim que entrei pela
primeira vez na capela do Carmelo. Papai mostrou-me as
grades do coro, dizendo-me que atrás delas havia religiosas.
Eu estava muito longe de pensar que, nove anos mais tarde
me encontraria entre elas!”

Mas com certeza a maior herança que ele deixou para estas lindas
jovens foi a sua fé, provada e purificada pelo fogo, como verdadeiramente
deve ser.

“A seguir, ficava todo o resto no jardim a saltitar em volta do


Luís Martin chamava sua caçula de “minha rainha”, apelido papai, pois eu não sabia brincar com boneca. Era grande alegria
que garantiu que Teresa reinasse em seu coração de maneira
única. Ela mesma perceberá que palavras serão insuficientes para mim preparar chás com grãozinhos cascas de árvores
para verbalizar o tamanho amor que seu pai lhe dispensava. Se que encontrava pelo chão. Levava-os em seguida ao papai
fazendo presente a todo custo, levava e trazia as meninas da numa linda xícara pequena. O coitado do paizinho largava seu
escola, garantindo proteção e guarda para as fragilidades de trabalho e depois, sorridente, fingia que bebia. Antes de me
suas pequenas. Confeccionava brinquedos, recitava poemas,
devolver a xícara perguntava-me (como que em segredo) se
contava histórias e se divertia muito antes da oração da noite.
De modo algum foi leniente com alguma travessura ou mau era para jogar fora o conteúdo.”
comportamento, corrigiu suas filhas quando necessário e lhes
passou os valores mais admiráveis. Ensinou que deveriam comer
de tudo e, para que elas não ficassem ociosas, tratava logo de
lhes ensinar alguma atividade.

26
Devido ao exemplo de santidade que seu pai lhe deu, Teresa não tardou a
reconhecer nele um referencial a ser seguido. Sua admiração por esse homem
de mansidão crescia a cada dia. Estar com ele era como estar no céu, pois era
exatamente o que carregava em seu coração.

“Ah! como me era agradável, após a partida de dama, ir sentar-me com


Celina sobre os joelhos de Papai... Com sua bela voz, entoava canções
que enchiam a alma de pensamentos elevados... ou então, embalando-
Sem dúvida, a imagem paterna que Teresa tinha na
nos de mansinho, recitava poesias inspiradas nas verdades eternas... terra contribuiu para que ela tivesse uma imagem muito
Depois, subíamos para fazer a oração em comum, e a rainhazinha ficava sóbria da paternidade divina. Por toda sua vida ela jamais
só ao pé do seu Rei, não precisando senão olhar para ele para saber vai deixar de reconhecer que Deus é um Pai muito bom,
como rezam os Santos... Por fim, íamos por ordem de idade dar boa generoso e atencioso.
noite a Papai e receber um beijo. A “rainha” era naturalmente a última;
para beijá-la, o “rei” tomava-a pelos cotovelos, e ela exclamava bem
alto: “Boa noite, Papai, boa noite, dorme bem”. Todas as noites era a
“Quando o pregador falava de Santa Teresa, papai
mesma repetição...”
inclinava-se para me dizer baixinho: ‘escuta bem,
minha rainhazinha, ele fala de tua Santa Padroeira.’
Sem sua mãe, Teresa tinha em seu pai um conforto que ninguém mais poderia Realmente eu estava escutando bem, mas olhava
lhe dar. O amor que por ele sentia era imenso, e ela estava disposta a tudo fazer
mais vezes para o papai do que para o pregador.
para lhe provar isso:
Seu belo semblante dizia-me tantas coisas! Por
vezes, seus olhos se enchiam de lágrimas. Em vão
“Certa vez ele subiu ao topo de uma escada e como me encontrava procurava enxugá-las. Parecia estar já desligado
justamente embaixo, gritou-me: ‘Afaste-se, pequerrucha. Se eu da terra, por tanto que sua alma gostava de imergir
despencar, esmago-te.’ Ao ouvir isso, tive uma reação interior. Ao invés nas verdades eternas... Sua carreira, porém, estava
de me afastar, apoiei-me contra a escada, pensando comigo: ‘Se o papai longe do termo final.”
cair, pelo menos não terei a dor de vê-lo morrer, pois morrerei com ele.’
Não consigo dizer o quanto eu amava o papai. Tudo nele me causava
admiração. Quando me explicava seus pensamentos (como se eu fosse
adulta), respondia-lhe com sinceridade que se ele falasse tudo isso aos
grandes homens do governo, com certeza o levariam para constituí-lo
um rei, e que então a França seria feliz como nunca o fora antes...”

27
Para rezar:

Teresa viu em seu pai um homem com muitas virtudes. Claro que ele também devia ter defeitos, mas ela preferiu lembrar das
coisas boas, e não daquilo que era ruim.

Seguindo esse raciocínio, escreva em seu Diário sobre as virtudes de seu pai (biológico ou de criação). Por um momento,
faça de conta que não lembra de seus defeitos e, em um gesto de caridade, louve a Deus pelas coisas boas que ele representa
para você. Se for preciso, escreva uma oração de perdão (caso ele tenha lhe ofendido).

Por pelo menos 4 vezes, leia em oração o Evangelho de Lucas 12,6-7. Escreva o que essa palavra te inspira em relação
aos sentimentos de Deus sobre você. Não se preocupe em escrever palavras bonitas. Apenas escreva o que vier a mente
conforme você entende.

Peça a ajuda de Santa Teresinha para que a partir de hoje você consiga enxergar o Pai do Céu como Ele realmente o é
(bom, generoso, paciente...)

Missão do dia:

Uma das responsabilidades de um pai é nos ensinar a enfrentar o


medo, que não é algo que tenhamos que negar, mas sim reconhecer
como parte da nossa humanidade. Todos sentimos medo de algo.
Por isso, a missão de hoje é pensar o que te causa medo e fazer
um plano para enfrentá-lo (de maneira segura). Comece com algo
simples. Dê um passo pequeno, mas que seja significativo. Peça
ajuda para seu terapeuta ou diretor espiritual para descobrir a
maneira mais adequada de fazer esse enfrentamento. Anote em
sua agenda o dia e horário em que vai fazer isso. Depois escreva
no Diário Espiritual qual foi sua sensação.
28
Teresa, que já tinha sua saúde bem abalada por vários
motivos, agora precisará enfrentar um grande desafio: nossa Ir para a escola foi se tornando
pequena aos 8 anos e meio, entrou para o internato das freiras cada vez mais difícil para essa
da Abadia de Nossa Senhora do Prado (Notre-Dame-du-Pré). criança. Mas um fato que a abalaria
Apesar de não conseguir ir tão bem em aritmética e redação muito mais aconteceu. Certo dia,
(o que parece ironia), ela ganhou muito prestígio por parte Teresa ouviu uma conversa entre as
das freiras, pois se revelou uma aluna brilhante. Em parte, sua irmãs, na qual Paulina relata a Maria
inteligência brilha graças ao preparo dado em casa por sua que logo entraria no Carmelo.
irmã Maria e, claro, Paulina, que lhe apoiou no aprendizado das
Saber disso causou no coração da pequena uma grande dor, pois sem
matérias mais básicas.
entender direito o que era o Carmelo, supôs que Paulina a estava abandonando.
Ela sentiu essa prova como se fosse algo muito além de suas forças e chorou
Mas com a ausência das irmãs e com muito brilho, logo não
grossas lágrimas de dor. Apesar de Paulina posteriormente a consolar, ainda
faltaram colegas que invejassem seu sucesso. Teresa relata que
sim a ausência de sua segunda mãe a feriria profundamente.
sofreu certo tipo de bullyng por parte das crianças maiores.
Sem saber se defender, só lhe restava chorar resignada e em
silêncio. Também era difícil para ele participar dos jogos com “Confesso que os sofrimentos que precederam a sua entrada
as crianças barulhentas, o que lhe fazia recorrer às distrações
com o jardim e com as crianças menores. Esse conjunto de
não eram nada em comparação com o que viria depois... Todas as
circunstâncias foram suficientes para que ela declarasse que os quinta-feiras, íamos toda a família ao Carmelo, e eu, habituada
anos que ali passou foram os mais tristes de sua vida. que era a entreter-me com Paulina, de coração a coração,
conseguia a muito custo, apenas dois ou três minutos para
conversar com ela no final da visita. Entende-se que os passasse
“Felizmente, todas as tardes retornava ao lar chorando, e me fosse embora como o coração partido... Eu não
paterno, e então meu coração se expandia. Pulava compreendia que, por atenção e delicadeza à titia, que preferíeis
aos joelhos do meu Rei, a quem eu dizia as notas dirigir a palavra a Joana e a Maria, em vez de falar com vossas
que tinha recebido, e o seu beijo fazia-me esquecer filhinhas... Não o percebia, e no fundo do coração punha-me
todas as minhas mágoas...” a dizer: ‘Paulina está perdida para mim!!!’ É surpreendente ver
como meu espírito se abriu no meio do sofrimento. Abriu-se a
tal ponto que não tardei em cair doente.”

29
Golpeada com a ausência de Paulina, Teresa passará por uma Maria passou a se acomodar na casa de sua tia para que
dura provação que marcará sua vida para sempre. Pelo fim do pudesse ficar ao lado de Teresa. Além de prestar-lhe cuidados,
ano de 1882, ela passou a ser acometida por fortes dores de constantemente orava e clamava a Nossa Senhora que a
cabeça que continuaram até à Páscoa do ano seguinte. Em uma curasse, pois a pequena tinha grande dificuldade para tomar
determinada noite, depois de ouvir do próprio tio que ela era seus remédios.
demasiada sensível, Teresa começou a sentir um forte tremor
no corpo que durou aquela noite quase por inteira. “Como lhe sou grata pelos cuidados que com tão grande
desprendimento me prodigalizou... O coração ditava-lhe o que me
“No dia seguinte, mandou chamar o Dr. Notta, que achou, como era necessário.”
titio, que eu estava com uma doença muito grave, da qual nenhuma
jovem já tivesse sido atingida. Todo o mundo ficou consternado.” Teresa constantemente delirava, pronunciava palavras sem
sentido e não poucas vezes ficava imóvel, como que morta. No
Por conta da dificuldade em lhe transferir para a Buissonnets, entanto, de todo coração desejava ir assistir à cerimônia onde
Teresa precisou permanecer na casa de sua tia, a qual a cuidou Paulina receberia o seu hábito de carmelita. O medo de que
como uma verdadeira mãe. Logo seu pai e sua irmã mais velha, não conseguisse aguentar o deslocamento era imenso, mas
Maria, retornaram de Paris para ficar a par da situação. Deus a ajudou e, mesmo com grande dificuldade, conseguiu se
aproximar de Paulina nesse dia tão significativo:
“Quando Papai voltou de Paris com minhas irmãs mais velhas,
a cozinheira Aimeé recebeu-os com um ar tão desconsolado, que “Pude, pois abraçar minha mãe querida, assentar-me em seus
Maria supôs que eu já estivesse morta...” joelhos e cobri-la de carícias... Pude contemplá-la, tão encantadora,
em seu branco vestido de noiva... Oh! Foi um dia radiante..., mas o
“Mas esta doença não era para me matar. Era, antes, como a de dia passou depressa... Logo tive que subir na carruagem que dali
Lázaro, para que Deus fosse glorificado... e de fato, assim o foi pela me levou para bem longe de Paulina.”
admirável resignação do meu pobre paizinho, que chegou a pensar
que ‘ou sua filhinha ficaria louca, ou então morreria.’ Deus também
foi glorificado, graças à resignação de Maria! .... Oh! Quanto não
sofreu por minha causa...”

30
No dia seguinte Teresa sofreu um agravamento da doença de tal maneira que muitos julgaram sua
recuperação como algo impossível. Unido a isso, o medo e a carência fizeram com que ela se agarrasse ainda
mais a Maria, como uma criança que não consegue ficar longe de sua mãe:

“Nunca manifestou o menor aborrecimento, e eu, no entanto, lhe dava muito trabalho, não admitindo que se
afastasse de mim.”

Apesar de ela mesma e de algumas pessoas próximas atribuírem a causa de sua doença a um ataque do
demônio, especialistas posteriormente teorizaram outros possíveis diagnósticos para Teresinha. Um dos mais
aceitos foi o do Dr. Gayral, que baseado nos sintomas, concluiu que nossa pequena passou por um quadro de
neurose depressiva. Mesmo que não exista um consenso, é bem evidente que a hipersensibilidade, a tristeza,
a inconstância emocional e as perdas que Teresinha sofreu possam ter contribuído para o surgimento da tal
doença.

Para aumentar ainda mais o seu martírio, surgiu em Teresa a dúvida se ela não teria ficado doente por
acinte, ou seja, de maneira proposital para que recebesse alguma atenção. Nada lhe seria tão vergonhoso.
Apesar de Maria ter lhe acalmado em relação a isso, mais tarde ela quis tirar a prova junto de seu confessor,
que a tranquilizou ainda mais afirmando que seria impossível produzir tais sintomas propositalmente dada
a realidade de sua fraqueza.

31
Para rezar:

Vimos o relato de Teresa sobre seu tempo de escola. Para ela foi muito difícil. E como foi para você?

Em oração, escreva em seu Diário as lembranças e impressões que teve de seu tempo na escola. Apresente para Santa
Teresinha e peça que ela lhe ajude a perdoar quem for preciso. E se não houver ninguém para se perdoar, reze pedindo as
bênçãos de Deus sobre seus amigos daquele tempo.

Você deve ter percebido que a doença de Teresa também tinha origem emocional. Você entende que seu corpo manifesta
aquilo que não está resolvido no seu coração? Você consegue falar sobre isso? Consegue expressar suas tristezas e
frustrações? Anote em seu Diário Espiritual cada sentimento que lhe aflige e escreva uma oração pedindo a intervenção
de Deus pela intercessão de Santa Teresinha.

Missão do dia:

A missão de hoje é tentar conversar com alguém


que você não vê há muito tempo. Tire um tempinho
para colocar o papo em dia.

32
As orações pela recuperação de Teresa se tornaram constantes. Sua família
fazia todo tipo de suplica e clamor para que Deus a libertasse de tal fardo. Luís, na
sua incomparável postura, sempre mandava moedas de ouro para Paris, pedindo
que fossem celebradas as Missas à Nossa Senhora das Vitórias, tudo em favor da
cura de sua filha.

“Oh! Como me comoveu ao ver a fé e o amor do meu querido rei!


Queria poder dizer-lhe que estava curada, mas já eram demais as
falsas alegrias que eu lhe tinha dado. Não eram, pois, meus desejos
que poderiam produzir milagre, e para minha cura se fazia necessário
um milagre...”

E o milagre poderia vir das mãos daquela que um dia guiou Zélia. Certo domingo,
em uma de suas crises, Teresa constantemente chamava por sua irmã Maria, e
mesmo ela estando presente, não conseguia a reconhecer. Era uma luta violenta
e inexplicável entre a realidade e a dor, entre o amor e o sofrimento, luta essa que
lançou sua irmã Maria aos pés de uma imagem de Nossa Senhora das Vitórias que
havia naquele quarto, afim de pedir socorro imediato.

“Em seguida, voltando-se para a Santíssima Virgem, e rezando-lhe


com o fervor de uma mãe que pede pela vida de sua filha, Maria lhe
alcançou o que desejava...”

33
Teresa também se voltou para a mesma imagem, pedindo que Nossa senhora enfim tivesse piedade de sua
condição. Naquele momento algo incrível aconteceu:

“De repente, a Santíssima Virgem me pareceu bela, tão bela, como nunca eu tinha visto nada tão formoso. O rosto
irradiava bondade e ternura inefáveis, mas o que me calou no fundo da alma foi o ‘encantador sorriso da Santíssima
Virgem’”

Este sorriso que tanto impressionou Teresa foi o responsável para que seus sofrimentos cessassem. Ela
chorou, mas dessa vez de alegria, pois estava experimentando algo extraordinário.

“Oh! Pensei comigo, a Santíssima Virgem sorriu para mim, como sou feliz...”

Logo Teresa voltou a reconhecer sua irmã Maria, que estava olhando-a com grande amor. Mas Maria intuiu
que algo diferente havia acontecido naquele momento, e estando a sós, lhe fez algumas carinhosas perguntas
para entender do que se tratava. Por mais que quisesse guardar segredo, não foi possível resistir as indagações
de sua irmã, e nossa pequena contou tudo o sentiu.

A partir desse episódio, ficou famosa a devoção à “Virgem do Sorriso”. Muitas pessoas tristes ainda hoje
recorrem a ela para ter de volta o sorriso e a alegria de viver.

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Para rezar:

Como é emocionante o relato de Teresa, não é verdade?

A graça da cura veio pelo sorriso de Nossa Senhora. Da mesma forma, a Virgem Santíssima quer sorrir para você neste dia.
Faça uma longa oração, conversando com Ela sobre o que você está passando, e assim como Teresa, do fundo do coração,
clame que lhe ajude. Se quiser, pode escrever em seu Diário Espiritual.

Missão do dia:

A missão de hoje é planejar um dia para se cuidar. Cuidar do


cabelo, unhas, barba ou mesmo para se vestir mais arrumado. Se
puder, vá a um salão de beleza ou barbearia. Se não for possível,
que tal fazer algo em casa mesmo?

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É normal que passemos por transformações. Conforme a vida
passa, as coisas mudam e exigem que tomemos novas atitudes
e façamos novas escolhas. Isso é natural e, na medida que nos
deixamos tomar pelo medo, corremos o risco de não amadurecer o
suficiente para conduzir a própria história.

Desde que nasceu, a vida apertou Teresa por todos os lados, por
assim dizer, de maneira que ela precisou, a duras penas, se deixar
moldar pelos desafios. A sua sobrevivência passou a depender da
capacidade de se tornar flexível e firme diante das intempéries que
se apresentavam. Para uma garotinha sensível parecia ser uma luta
desigual.

Mas não suponha o leitor que ela estava abandonada. Seria,


não apenas errôneo, como precipitado, se inclinar ao sentimento
de pena dessa singular figura. Por trás das cortinas das dúvidas e Teresa, que ainda sofria com a tendência de chamar a atenção para si,
acasos reina um artífice sábio e capaz de tirar beleza de onde só também sentiria o impacto da notícia:
enxergamos o hediondo. E assim como o pequeno Davi recebeu
força para vencer Golias (cf. 1Samuel 17), Teresa também bebeu da
fortaleza divina.
“Ao saber da partida de Maria, meu quarto perdeu para mim
No período em que Leônia ingressou junto das Irmãs Clarissas todos os seus encantos. Não queria deixar um só instante a
(mesmo sem pedir a permissão de seu pai), Maria, sua irmã mais querida irmã que dentro em breve levantaria voo... Quantos
velha também decidiu se tornar monja carmelita, assim como o atos de paciência não a obriguei a praticar! Todas as vezes que
fizera Paulina anteriormente. “Ah... mas... sem você!... Pensei que eu passava diante da porta de seu quarto, batia até que ela
você nunca fosse me deixar”. Lamentou seu querido pai. abrisse, e abraçava-a de todo o coração. Queria fazer provisão
(DA SANTA FACE, Irmã Genoveva. O pai de Santa Teresa do de beijos por todo o tempo que ficaria privada deles.”
Menino Jesus (trad. do Carmelo do Imaculado Coração de Maria e
Santa Teresinha). Cotia, 1965, p. 63).

36
Mas ela mesma, no entanto, já estava se cansando de seu próprio comportamento. As reprimendas da família feriam
seu coração e faziam com que refletisse seriamente sobre suas atitudes:

“Tinha me tornado verdadeiramente insuportável devido minha sensibilidade excessiva. Se me


acontecesse causar, involuntariamente, algum pequeno desgosto a alguém a quem amava, ao invés
de me controlar e não chorar (...), chorava como uma Madalena, e quando começava a consolar-me
pela coisa que me levara a chorar, chorava por ter chorado...”

Aos poucos, surgiu em seu coração o desejo de se controlar. Ela queria não mais ser uma “chorona”, mas alguém que
resplandecesse virtudes, assim como suas irmãs tanto demonstravam.

“Verdade é que eu desejava ter ‘sobre minhas ações um domínio absoluto, ser a senhora, não a
escrava’. Essas palavras da Imitação de Cristo impressionavam-me profundamente, mas eu devia, por
assim dizer, comprar essa graça inestimável pelos meus desejos; eu ainda parecia uma criança que só
quer o que os outros querem. O que fazia as pessoas de Alençon dizerem que eu era fraca de caráter. “

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Teresa então clamou a Deus que a ajudasse. Ela contava com um pequeno milagre, que a livrasse de tamanha
sensibilidade emocional e finalmente pudesse crescer. Deus com certeza a escutaria:

“Foi em 25 de dezembro de 1886 que recebi a graça de sair da infância, em uma palavra, a graça
da minha conversão completa. Estávamos voltando da Missa do galo, em que tinha tido a felicidade
de receber o Deus forte e poderoso (na Eucaristia). Ao chegar aos Buissonnets, era uma alegria, para
mim, pegar meus sapatos na lareira. Esse costume antigo nos causou tanta alegria durante a infância
que Celina queria continuar a me tratar corno um bebê, por ser a menor da família... Papai gostava de
ver minha felicidade, ouvir meus gritos de alegria ao tirar cada surpresa dos sapatos encantados, e o
contentamento do meu querido rei aumentava ainda mais a minha felicidade. Mas, querendo Jesus
mostrar-me que devia me desfazer dos defeitos da infância, tirou de mim também as inocentes alegrias
infantis; permitiu que papai, cansado da Missa do galo, sentisse tédio ao ver meus sapatos na lareira e
dissesse essas palavras que me magoaram: ‘Ainda bem que este é o último ano!’ Eu subia então a escada
para ir tirar meu chapéu. Celina, conhecendo minha sensibilidade e vendo já as lágrimas brilharem em
meus olhos, ficou também com vontade de chorar, pois me amava muito e compreendia meu sofrimento:
‘Oh, Teresa!’, disse-me, ‘não desce, te causará tristeza demais olhar já teus sapatos.’ Mas Teresa não era
mais a mesma; Jesus havia mudado o coração dela! Reprimindo minhas lágrimas, desci rapidamente
e, comprimindo as batidas do coração, peguei meus sapatos... então, colocando-os diante de papai,
tirei alegremente todos os objetos, parecendo feliz como uma rainha. Papai ria também, voltara a ficar
alegre e Celina pensava sonhar! Felizmente, era uma doce realidade. A Teresinha reencontrou a força
da alma que perdeu aos 4 anos e meio e ia conservar para sempre!”

A partir dessa atitude na qual buscou se controlar, contando com a força de Deus, Teresa cresceu, como que em um
único instante. Esse verdadeiro milagre de Natal, que ela vai chamar de conversão completa, se tornará um marco. Muito
mais milagres acontecerão daqui em diante.

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Para rezar:

Assim como Teresa desejou se tornar “dona de si” para deixar de sofrer com os próprios vícios de comportamento, escreva
uma sincera oração pedindo que o Senhor lhe dê a graça do autodomínio em todas as áreas do teu ser. Peça, pela intercessão
de Santa Teresinha, um pequeno milagre, a fim de crescer na maturidade e na santidade.

Missão do dia:

A missão de hoje é colocar em seus


horários pelo menos 10 minutos diários
para praticar uma boa ação. A intenção
desse exercício é substituir o tempo ficar muito tempo nas redes oração pelos doentes
gasto em coisas não tão necessárias
por momentos de amor, de prática do ver fotos alheias enviar cartões afetuosos
serviço ao outro e de atitudes virtuosas.
Se quiser, pode fazer uma tabela, como dormir muito servir na minha comunidade
por exemplo:

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Percebendo-se amada por Jesus e já sem tantas dificuldades
Teresa acreditou que, depois do milagre de Natal, sua vida para ter carinho por si mesma, nossa pequena não precisava mais
entraria em um terceiro período, o qual considerou o mais feliz de agrados para existir. Seu maior agrado era pensar nos mais
e produtivo. Como é próprio de uma conversão verdadeira, sua sofridos, principalmente naqueles que poderiam perder o céu.
luta interna não tinha mais como foco os desejos egoístas, mas Isso satisfez o coração de Deus, que logo tratou de colocar em
o amor sincero e desmedido ao outro. Assim, o olhar de Teresa seu caminho uma alma por quem ela precisaria interceder.
voltou-se principalmente para os pecadores. Ela percebeu que
Jesus estava fazendo dela uma verdadeira pescadora de almas, “Ouvi falar de um grande criminoso que acabava de
como outrora Ele fez com os discípulos. ser condenado à morte por crimes horríveis. Tudo levava
a crer que morreria na impenitência. Quis, a qualquer
custo, impedi-lo de cair no inferno. Para conseguir isso,
“Em uma palavra, senti a caridade entrar em meu usei de todos os meios imagináveis. Mas, sentindo que,
coração, a necessidade de me esquecer para agradar e, por mim mesma, nada poderia, ofereci a Deus todos os
desde então, fui feliz! Em um domingo, ao olhar uma foto méritos infinitos de Nosso Senhor, os tesouros da Santa
de Nosso Senhor na Cruz, fiquei impressionada com o Igreja e, por fim, pedi a Celina que mandasse celebrar
sangue que caía de uma das Suas mãos divinas. Senti uma Missa nas minhas intenções, não ousando eu
grande inquietação pensando que esse sangue caía no mesma fazer, temendo ser obrigada a dizer que era para
chão sem que ninguém se apressasse em recolhê-lo. Pranzini, o grande criminoso.”
Resolvi ficar, em espírito, ao pé da Cruz para receber o
divino orvalho que se desprendia, compreendendo que
precisaria, em seguida, espalhá-lo sobre as almas. O
grito de Jesus na Cruz ressoava continuamente em meu
coração: ‘Tenho sede’. Essas palavras despertavam em
mim um ardor desconhecido e muito vivo. Queria dar de
beber a meu Bem-amado e eu sentia-me devorada pela
sede das almas. Não eram, ainda, as almas dos sacerdotes
que me atraíam, mas as dos grandes pecadores. Eu ardia
de desejo de arrancá-los das chamas eternas.”

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Apesar de não contar para ninguém quem era a pessoa de suas orações, o
próprio Deus sabia, e Teresinha sentia-se segura de que Ele atenderia seu apelo
por Pranzini. Ela confiava que a misericórdia infinita de Jesus haveria de realizar
um milagre e, com a mesma confiança, pediu um sinal de que sua prece seria
escutada.

“Minha oração foi atendida ao pé da letra! Apesar da proibição que papai “Era uma verdadeira troca de amor; às almas,
nos fizera de ler qualquer jornal, não julgava estar desobedecendo ao ler eu dava o sangue de Jesus; a Jesus, oferecia essas
as passagens que falavam de Pranzini. No dia seguinte à sua execução, mesmas almas refrescadas pelo Seu divino orvalho.
caiu em minhas mãos o jornal La Croix. Abro-o apressadamente e o que Dessa forma, eu parecia saciá-lo e quanto mais lhe
vejo? Ah! Minhas lágrimas traíram minha emoção e fui obrigada a me dava de beber, mais a sede da minha pequena alma
esconder. Pranzini não se confessou, subiu ao cadafalso e preparava- aumentava. E esta sede ardente que Ele me dava
se para colocar a cabeça no buraco lúgubre quando, tocado por uma era como a mais deliciosa bebida do seu amor.”
inspiração repentina, virou-se, tomou o Crucifixo que o sacerdote lhe
apresentava e beijou por três vezes Suas Chagas sagradas! Sua alma foi
receber a sentença misericordiosa Daquele que declarou que no Céu Esse episódio teve uma importância enorme para que
nossa pequena desenvolvesse sua maturidade cristã. A
haverá mais alegria por um só pecador que se converte do que por
espiritualidade desprendia-se do peso da sensibilidade
noventa e nove justos que não precisam de arrependimento!” excessiva e do contínuo sentimento de vítima. Ela
entendeu que a única vítima era o próprio Jesus, que
mesmo sendo inocente, quis sofrer as penas em nosso
Teresa, inundada de alegria pelo sinal recebido, nunca mais deixara de rezar lugar. Teresa quis imitar o Senhor colocando-se no lugar
pelos pobres pecadores. Assim como a sede pelas almas foi incutida em seu dos verdadeiros pobres: os pobres de Deus.
coração diante de uma imagem das Chagas de Jesus, da mesma forma Pranzini
se rendia a essas Chagas redentoras, lavando-se no Sangue Imaculado que o
limparia de suas sujeiras. A partir daquele dia, aquele criminoso não seria apenas
um estranho por quem Teresa intercedeu um dia, mas se tornaria seu “primeiro
filho” espiritual, alguém que, por suas orações, ela gerou para Deus.

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Para rezar:

Teresa se compadeceu pela possibilidade de Pranzine perder sua alma para sempre. Por isso, ela tornou-se intercessora e
“mãe espiritual” dessa pobre alma.

O que aconteceria com aquele rapaz se Teresa não tivesse rezado por ele? Escreva no Diário a sua opinião.

E que tal você se tornar pai ou mãe espiritual de alguém? Converse com Santa Teresinha sobre essa missão que Deus quer
lhe dar. Anote o que vier ao seu coração.

Missão do dia:

A missão de hoje é se comprometer em rezar por quem


você vai adotar como filho espiritual. Pode ser através de
uma dezena do terço, na Santa Missa ou nas novenas. O
importante é que essa pessoa seja lembrada diariamente
por você. Anote esse compromisso em sua tabela de
horários.

42
Até aqui, prezado leitor, muito vimos e rezamos sobre a transformação espiritual que Teresa passou, deixando de ser apenas uma
pequena e frágil criança mimada para começar a brilhar as virtudes de uma grande Santa. Também vamos pedagogicamente nos valer de
uma leitura mais aprofundada e densa, para que deixemos nossa atitude espiritual “infantil” de se contentar com a papinha, enquanto
Jesus deseja que comamos alimentos mais sólidos (cf Hebreus 4,12-14).

Após sua conversão completa e a experiência com Pranzini, Teresa,


mais animada com as coisas da vida, passou um bom tempo estudando
e aprendendo sobre as ciências e sobre a história. Suas horas de leitura Encontrar estes escritos foi uma das maiores graças de sua
lhe eram deliciosas, mas um livro específico haveria de lhe arrematar o vida. Ela sentia como se os tesouros do Evangelho lhe fossem
coração. revelados de maneira mais robusta, e não mais como uma beleza
apenas teórica e distante.
Com a alma em paz e a cabeça muito mais atenta, Teresa havia se
identificado com o livro “A Imitação de Cristo”, de Tomás de Kempis, o
qual lia continuamente até o ponto de conseguir decorar vários capítulos. “Todas as grandes verdades da religião, os mistérios da
Era o único livro que lhe fazia realmente bem, como ela mesma relatou. eternidade, mergulhavam minha alma numa felicidade
O seu apego pela obra era tanto, que este nunca saia de seu bolso, não que não era da terra. Já pressentia o que Deus reserva
importava o local onde ia. a quem o ama (não com o olho do homem, mas com
o do coração) e, vendo que as recompensas eternas
Mas Teresa reconhece que esse livro ainda lhe era apenas “farinha”, e que
não tinham proporção alguma com os leves sacrifícios
precisaria do favor de Jesus para encontrar “mel e azeite em abundância”
nas palestras transcritas de um conhecido abade: da vida, quis amar, amar Jesus com paixão, dar-lhe mil
provas de amor, enquanto ainda o podia.”
“Esse mel e esse azeite fez-me encontrá-los nas conferências
do padre Arminjon, sobre o fim do mundo atual e os mistérios
da vida futura. Esse livro havia sido emprestado ao papai pelas
minhas queridas carmelitas; por isso, contrariamente a meu
costume (pois eu não lia os livros de papai), pedi para lê-lo.”
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Tais aspirações vão gerar em seu coração uma docilidade ao Espírito Santo, que lhe moveria a alma para algo maior
que Deus gostaria de lhe presentear.

“Quando um jardineiro cerca de cuidados uma fruta que quer fazer amadurecer prematuramente,
nunca é para deixá-la na árvore, mas para apresentá-la numa mesa brilhantemente servida. Era com
uma intenção semelhante que Jesus prodigalizava graças a sua florzinha.”

Conforme vivenciava as práticas virtuosas, crescia também o desejo de corresponder aos apelos que Deus fazia no
seu íntimo. Apelos que se tratavam da existência de uma vocação que, silenciosa e amorosamente, Ele já havia plantado
e cercado de cuidados para que livremente crescesse em sua pequena alma. De maneira maravilhosa, Deus quis revelar
sua misericórdia naquela que, para muitos, não passava de uma menina sensível e mimada.

“Como diz São João da Cruz em seu cântico: ‘Eu não tinha outra luz e nem guia, fora aquela que
brilhava em meu coração. Essa luz guiava-me com mais clareza que a do meio-dia para o lugar onde me
aguardava Aquele que me conhece perfeitamente.’ Esse lugar era o Carmelo.”

Teresa compreendeu que o Carmelo era o lugar para onde Deus a chamava, para lhe fazer beber da doçura de Sua
graça. Desde que colocou no coração a ideia de que poderia ser carmelita, muitas graças vieram em seu favor, preparando
seu espírito, mas também modificando as disposições de sua inteligência para acolher e levar a termo tal missão.

Receosa, Teresa se questionou sobre qual seria a reação de suas irmãs. Celina já havia oferecido para Paulina, Maria e
Leonia a Deus. Mas oferecer sua irmã caçula talvez lhe fosse mortificante. Mas felizmente, longe de uma rejeição à ideia,
Celina acabou por apoiar o bom propósito de Teresa. O mesmo se deu com suas outras irmãs. Faltava, no entanto, um
personagem que precisaria dar seu veredito: Luiz Martin, seu pai.

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Para rezar:

A conversão de Teresa gerou em seu íntimo o desejo de corresponder à vontade de Deus. Sua intuição lhe dizia que só
seria feliz se buscasse aquilo que Ele já sonhou para ela. Mas, para isso, ela precisou deixar de ser mimada e buscar formação
espiritual. No caso dela, além da família, os livros foram muito importantes.

Missão do dia:

Hoje sua missão é memorizar algum ensinamento


do livro “A Imitação de Cristo”, ou de algum outro
livro espiritual. Pode ser mais de uma frase se
preferir. Anote-a em um lugar visível.

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Era uma tarde de domingo e seu pai descansava no jardim, tentando se recuperar
de um ataque de paralisia que sofrera no dia 1° de maio daquele mesmo ano.
A família estava preocupada, pois sendo Sr. Martin tão dinâmico, estava agora
enfraquecido, evitando viajar e priorizando sua saúde: “Sofro muito, mas sinto
que posso suportar provações ainda maiores”, dizia. Sentado à beira da cisterna,
Luiz contemplava a beleza da natureza e via em cada coisa a mão de Deus. Como
que banhado em um clima de paz, percebe que sua caçula logo se aproximou.

“Sem dizer uma única palavra, fui sentar-me a seu lado, já com os olhos
cheios de lágrimas, ele me olhou com ternura e, tocando minha cabeça,
encostou-a no seu peito dizendo: ‘Que tens, minha rainhazinha?... Me
conte...’”

Em meio a lágrimas Teresa lhe revelou seu propósito de ingressar no Carmelo


e de se tornar uma monja. Ao ouvir isso, Luiz também verteu lágrimas, mas em
momento algum ousou dizer algo contra a essa possível vocação. Não deixou, no
entanto, de demonstrar suas ressalvas por conta da idade na qual estava tomando
esta decisão tão séria, mas como Teresa tão bem defendeu sua causa, ele se
limitou a aceitar com gratidão aquilo que entendeu como vontade do Senhor.

“... Na sua fé profunda, exclamou que Nosso Senhor lhe fazia uma
grande honra pedindo-lhe assim suas filhas.”

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Continuaram a conversar e Luís refletia a oferta que
apresentava a Deus, tal qual Jacó apresentando Isaque.
Mais do que um motivo de revolta ou tristeza, sua fé o fazia
compreender a alegria que existe em tudo dar ao Senhor,
inclusive seus tesouros mais preciosos. Tesouros esses que
eram carne de sua carne, sangue de seu sangue. Deus honrará
Mas Teresa ainda enfrentará alguma resistência, e precisará que
tal generosidade, recompensando com dádivas que só Ele é
Deus vença por ela esses obstáculos aos poucos. O primeiro a se opor
capaz de cumular aos seus.
à sua entrada ao Carmelo foi seu tio Isidoro Guérin. No entanto, como
um homem digno, acabou por dar sua benção. Mais tarde o próprio
padre-superior do Carmelo não poderia permitir sua entrada, pois ela
“Aproximando-se de um muro baixo, mostrou- precisaria ter pelo menos 21 anos de idade para fazer seu ingresso.
me florezinhas brancas semelhantes a lírios em
miniatura e, colhendo uma dessas flores, entregou-a
a mim, explicando o cuidado com que Deus a fizera
“Ele nos recebeu muito friamente. Embora meu
e a conservara até aquele dia. Ouvindo-o falar,
incomparável paizinho tivesse juntado seus argumentos
parecia-me escutar sobre minha história, tal era a
aos meus, nada pôde alterar sua disposição. Disse que não
semelhança entre o que Jesus fizera a sua florzinha
havia perigo na demora, que eu poderia levar uma vida de
e pela Teresinha... Recebi essa florzinha como uma
carmelita em casa, que embora não tomasse a disciplina
relíquia e vi que, ao colhê-la, papai arrancara as raízes
nem tudo seria perdido etc... etc... Enfim, acrescentou ser
todas sem quebrar uma. Parecia destinada a viver
apenas o representante do senhor bispo e, se esse me
ainda, numa outra terra, mais fértil que o tenro limo
autorizasse a ingressar, não teria mais nada a dizer...”
onde vivera suas primeiras manhãs... Era essa mesma
ação que papai acabava de fazer para mim alguns
instantes antes, permitindo-me subir a montanha do
Carmelo e deixar o manso vale testemunho dos meus
primeiros passos na vida.”

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Teresa saiu chorando e seu pobre pai não sabia o que fazer para poder lhe
consolar. De outro modo, lhe prometeu que se o Bispo não permitisse sua
entrada, eles recorreriam ao Papa se fosse necessário. E assim o foi. Três dias
após a visita ao Bispo em Bayeux, se dirigiram para Roma, a fim de obterem uma
resposta positiva.
Depois de seis dias visitando as catacumbas dos
primeiros cristãos e os templos ao redor, finalmente
“... Ah! Que viagem aquela!... Mas vi muitas coisas bonitas, contemplei chegou o dia de se encontrar com a maior maravilha de
todas as maravilhas da arte e da religião, sobretudo pisei a mesma terra Roma: o Santo Padre.
que os Santos apóstolos, a terra regada com o sangue dos mártires e
Às 8h da manhã do dia 20 de novembro de 1887,
minha alma cresceu em contato com essas coisas santas...”
Teresa, trajada segundo as exigências do cerimonial, foi
tomada de uma súbita emoção. O Papa adentrava às
A sua atração pelos mártires não era sem motivo. Ouviu muitas vezes seu pai instalações para celebrar a Missa, abençoando os fiéis
lhe contar muitas histórias sobre os grandes santos, que sem demora deram presentes e demonstrando grande piedade para com
seu sangue para honrar a fé na qual foram batizados. Mais do que nunca Teresa as coisas de Deus. Logo após a Celebração, chegou o
também queria ser mártir. Acostumada a ler sobre as batalhas de Joana Darc, momento de audiência, na qual as pessoas poderiam
desejava também combater um bom combate, empunhando sua espada e se aproximar de sua santidade. Ajoelhada aos seus pés,
cavalgando imponente para onde ela jamais imaginaria que pudesse chegar. beijou-lhe a sandália e a mão, tentando conter a emoção
e pedir o favor que tanto desejava:

“Uma das mais agradáveis foi a que me fez estremecer de alegria à


vista do Coliseu...” “‘Santíssimo Padre, tenho um grande favor para
vos pedir!...”’ Então, o Soberano Pontífice inclinou a
cabeça de maneira que meu rosto quase encostou
“Mais precavida que eu, Celina tinha escutado o guia e lembrou-se no dele e vi seus olhos pretos e profundos fixarem-
de que falara de uma certa laje em forma de cruz como sendo o lugar se sobre mim e parecer penetrar-me até o fundo da
onde combatiam os mártires e pôs-se a procurá-la. Daí a pouco, tendo-a alma. ‘Santíssimo Padre,’ disse, ‘em honra do vosso
encontrado, nos ajoelhamos sobre essa terra sagrada e nossas almas se jubileu dai-me a permissão para que eu entre no
uniram numa mesma oração... Meu coração batia fortemente quando Carmelo aos 15 anos!...’”
meus lábios se aproximaram do pó tingido pelo sangue dos primeiros
cristãos. Pedi a eles a graça de também ser mártir para Jesus e senti no
fundo do meu coração que minha oração seria atendida!...”

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Avisado naquele instante de que o caso dela já estava sendo examinado pelos superiores do Carmelo, o
Papa orientou que Teresa aguardasse a vontade de Deus acontecer. Ela insiste dizendo que se ele o permitisse,
ninguém se oporia, e que logo ela poderia entrar no Carmelo.

“Vamos... Vamos... Se o Bom Deus quiser, entrará...”

Respondeu o Papa animando-a para o que haveria de vir. Mais ainda emocionada, queria conversar um pouco
mais com ele.

“A bondade do Santo Padre me animava e eu queria falar mais, mas os dois guardas tocaram
me polidamente para fazer-me levantar. Vendo que isso não era suficiente, seguraram-me pelos
braços e o padre Révérony os ajudou a levantar-me, pois ainda estava com as mãos juntas,
apoiadas nos joelhos de Leão XIII, e foi a força que me arrancaram dos seus pés... No momento
em que estava sendo retirada, o Santo Padre colocou sua mão nos meus lábios e levantou-a para
me benzer... Os dois guardas carregaram-me, pode-se dizer, até a porta e um terceiro me deu
uma medalha de Leão XIII.”

49
Para rezar:

São Luís Martin indicou para sua filha que às vezes Deus precisa nos mudar de lugar para podermos avançar na vida.

Você precisa se mudar para outra casa? Precisa mudar de empresa? Gostaria de mudar de cidade? Se sim, reze intensamente
pedindo que Santa Teresinha te ajude a perceber se já é tempo de fazer isso, ou se deve esperar mais um pouco.

Também vemos na história de Teresa que ela tinha muita pressa que as coisas acontecessem logo. A pressa em si não é
ruim. Mas se ela se tornar imediatismo, corre-se o risco de perder a virtude da paciência. Para qual situação você tem muita
pressa hoje? Consegue praticar a paciência como forma de maturidade no relacionamento com as pessoas e com as coisas?
Anote em seu Diário.

Para Teresa, Deus mostrou o tempo certo de abraçar sua vocação por meio das autoridades da Igreja. Mesmo recebendo
vários nãos, ela aprendeu a confiar que Deus tem o Seu tempo devido para que aconteça cada coisa. Como você reage
quando recebe um não? Bate o desespero? Consegue confiar em Deus? A revolta te faz agir agressivamente? Chora muito?
Escreva em seu Diário uma oração pedindo que Deus gere em você a graça de se abandonar na providência divina. Use da
sua sinceridade nessa conversa.

Missão do dia:

Você percebeu como foi importante para Teresa conhecer a terra dos mártires? Que tal você também programar uma visita
para um lugar santo? Não precisa ser muito longe. Pode ser um santuário de sua cidade, uma gruta, o túmulo de um santo,
etc. Com um pouquinho de esforço tudo é possível. A missão de hoje é pesquisar na internet qual o local que você pode
visitar e anotar em seu Diário o mês e o dia para fazer tal ação.

50
Cinco meses depois de sua visita ao Papa, o Bispo autorizou que a
prioresa recebesse Teresa no Carmelo, mas ela só poderia ir depois
da Quaresma. Apesar da alegria, a espera e a demora foram um tanto
quanto mortificantes para a jovem.

“Na manhã do grande dia, depois de ter


“... Concordo que devo ter parecido manhosa por
lançado um último olhar aos Buissonnets,
não aceitar alegremente meus três meses de exílio,
este doce ninho de minha infância, que não
mas também penso que, sem deixar transparecer,
haveria mais de rever, parti de braços dados
essa provação foi muito grande e me fez crescer
com meu Rei querido para subir a montanha
muito no abando e nas outras virtudes.”
do Carmelo...

Nesses dias que antecederam seu ingresso, Teresa se sentiu Depois de ter abraçado todos os membros
inspirada a viver uma vida regrada e com muitas mortificações. O
tempo que ela estava oferecendo para Deus era muito precioso para da minha querida família, pus-me de joelhos
gastar com lamentação. diante do meu incomparável pai e pedi-
lhe a bênção. Ele mesmo ajoelhou-se e me
abençoou chorando... Era um espetáculo
“Minhas mortificações consistiam em não ceder
de fazer os anjos sorrir, esse de um ancião
às minhas vontades que estavam sempre prestes
apresentando ao Senhor sua criança ainda
a se impor, em reprimir uma palavra de réplica, em
na primavera da vida!...”
prestar pequenos serviços sem retribuição, em não
me encostar quando sentada, etc...”

Finalmente chegou o dia 9 de abril de 1888. O Carmelo celebrava


a festa da Anunciação, mas foi esse também o dia escolhido para
Teresa ingressar na vida que tanto sonhou.

51
A partir daquele dia, assumiria diante da Igreja, representada pelos
presentes e pelo Monsenhor Hugonin, o nome de Teresinha do
Menino Jesus. Agora ela já era uma postulante, ou seja, estava em
período de discernimento para conhecer a vida religiosa para a qual
se candidatou. E como toda postulante, logo foi encaminhada para Três meses depois de ter se tornado uma linda postulante,
conhecer os recintos de sua nova casa. Teresinha já sonhava e interiormente se preparava para o dia que
iria receber o hábito marrom para ingressar no noviciado. Em
contrapartida, seu pai começou a apresentar os primeiros sintomas
“Tudo me parecia bonito. Tinha impressão de ter sido do que mais tarde se suspeitará ser o endurecimento de suas
transportada para o deserto... veias cerebrais. As notícias que corriam eram de que ele estava
Ah! Estava plenamente recompensada por todas as tendo episódios de alucinações, sentia-se perseguido e temia que
minhas provações.... Com que alegria profunda repetia houvesse algum atentado repentino contra suas filhas. O Sr. Martin,
estas palavras: ‘É para sempre, sempre, que estou aqui!...’” sempre sereno, de repente se viu agitado, sem conseguir reconhecer
mais ninguém, até que um dia algo inusitado aconteceu: no dia 25
de julho de 1988 ele foge de casa.
Ali também conheceu a Madre Genoveva, a fundadora daquele
Carmelo em Lisieux, a quem admirava e que lhe ensinou muitas O susto e o pânico tomaram conta da família. As buscas começaram
coisas sobre a vida religiosa. Com o passar dos dias logo adaptou-se por toda parte. Todos se movimentaram para encontrá-lo. Teresinha,
ao local. No entanto, como estava na mesma casa que duas de suas porém, sofria silenciosamente. Pesava em seu coração não só a
irmãs de sangue, Teresinha fazia de tudo para manter uma distância distância e o sentimento de impotência para salvar seu querido
que não causasse ciúmes ou inveja nas demais monjas. rei, mas também o fato de que muitos a consideravam responsável
por tal tormento. Sentia que era seu dever filial sair às pressas para
cuidar de tudo, mas sabia também que Deus cuidaria melhor dele
“... O Bom Deus concedeu-me a graça de não ter do que ela. Entregou nas mãos de Jesus e fervorosamente rezou.
NENHUMA ilusão ao entrar para o Carmelo. Encontrei Ela sabia que era o melhor que poderia fazer.
a vida religiosa tal como a imaginara, nenhum sacrifício No dia 27 de julho, chegou um telegrama especial, dando a
me surpreendeu e, contudo, vós sabeis, Madre querida, localização de onde seu pai fora visto. Ele estava em Havre, em
meus primeiros passos encontraram mais espinhos do torno de quase 60 km de Lisieux. Apesar da falta de memória, foi
que rosas!... Sim, o sofrimento estendeu-me os braços resgatado sem nenhum arranhão. Mas a preocupação pairava no ar,
e atirei-me a ele com amor... O que eu vinha fazer no pois temiam novas fugas e algum episódio de delírio.
Carmelo, declarei-o aos pés de Jesus Hóstia, durante o
exame que antecedeu minha profissão: ‘Vim para salvar
as almas e sobretudo, para rezar pelos sacerdotes’”...

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Para rezar:

Para Teresinha foi muito difícil ter que reconhecer que ela pouco ou nada poderia fazer. É normal que as pessoas fiquem
inquietas por não conseguirem dar conta de tudo. Pensando nisso, responda em seu Diário:

Você tem algum problema que parece impossível de solucionar? Qual? Como você reage quando precisa de uma solução
rápida para algo e você não consegue resolver?

Agora, como um gesto de confiança, escreva uma oração sincera, entregando tudo nas mãos de Jesus e de Santa
Teresinha. E se o problema for de outra pessoa, reze por essa pessoa, pedindo força e sabedoria para que ela consiga se
autoajudar.

Missão do dia:

A missão de hoje é descansar a cabeça de tantos problemas. Separe um horário em sua agenda para praticar um hobby,
ou seja, uma atividade de lazer. Se você não tem nenhum, seguem abaixo algumas sugestões:

Começar uma coleção, praticar jardinagem, pintar quadros, cavalgar, nadar, tocar um
instrumento musical, cozinhar pratos novos, dançar, pescar, fotografar, aprender mágica,
restaurar ou consertar coisas, carpintaria, costurar as próprias roupas, etc.

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Depois que entrou na vida religiosa, Teresa se esforçou que nossas conversas não alcançavam o fim desejado. Deus fez-
para cuidar de si mesma, de seu modo de agir e de se -me sentir, então, que chegara o momento em que eu devia falar
relacionar com as pessoas. Apesar da presença das irmãs, ou encerrar essas conversações que mais se pareciam com as das
quis se esforçar para se comportar bem, como fruto de uma amigas do mundo. Isto foi num sábado. No dia seguinte, durante
escolha própria, e não por haver quem pudesse a repreender. minha ação de graças, pedi a Deus para que pusesse em minha
Ela buscou se policiar e ser mais sóbria possível em todas as boca palavras suaves e convincentes, ou melhor, que Ele mes-
coisas, inclusive nas amizades. mo falasse por meu intermédio. Jesus atendeu ao meu pedido
e permitiu que o resultado satisfizesse completamente à minha
“Quando, aos quinze anos tive a felicidade de entrar para o expectativa, pois: ‘olhai para ele e sereis esclarecidos’ (sl 33) e
Carmelo, encontrei uma companheira de noviciado que me tinha ‘brilha para os retos, qual farol nas trevas, o Benigno, o Miseri-
precedido alguns meses. Era mais velha do que eu oito anos, cordioso e o Justo.’ A primeira citação dirige-se a mim e a segun-
mas seu caráter infantil fazia esquecer a diferença de idade; da à minha companheira que, na verdade, tinha o coração reto...
por isso, tivestes, Madre, a alegria de ver vossas duas pequenas
postulantes entenderem-se maravilhosamente e se tornarem Tendo chegado a hora que tínhamos combinado para estar jun-
inseparáveis. Minha querida companheirinha encantava-me tas, ao olhar para mim, a pobre irmãzinha percebeu logo que eu
com sua inocência, seu caráter expansivo, mas por outro lado, não era a mesma. Sentou-se ao meu lado enrubescendo e eu,
admirava-me vendo quanto a afeição que ela tinha por vós era apoiando sua cabeça no meu coração, disse-lhe com lágrimas
diferente da minha. Havia ainda em sua conduta com as irmãs na voz tudo o que pensava dela, mas com expressões de muita
muitas coisas que eu desejaria que ela mudasse... Desde essa ternura, manifestando-lhe tão grande afeto que logo as lágrimas
época, o Bom Deus me fez compreender que há almas que sua dela misturaram-se às minhas. Admitiu com muita humildade
misericórdia não se cansa de esperar e às quais dá sua luz aos que tudo o que eu lhe dizia era verdade, prometeu começar uma
poucos. Por isso, eu tinha o cuidado de não apressar sua hora e vida nova e pediu como um favor avisá-la sempre das suas faltas.
esperava pacientemente que Jesus a fizesse chegar. Enfim, no momento de nos separar, nosso afeto passara a ser
totalmente espiritual, nada de mundano subsistia. Realizava-se
Refletindo sobre a permissão concedida para nos entreter, em nós esta passagem da Escritura: ‘O irmão, ajudado pelo seu
como é previsto em nossas santas Constituições, para nos irmão é mais do que uma cidade fortificada’.”
inflamar mais no amor por nosso Esposo, pensei com tristeza

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Para rezar:
Este breve relato já é suficiente para extrairmos muitas reflexões e questionamentos, principalmente sobre nossas relações com
as pessoas. Nele Teresinha percebe o quanto é bom ter uma amiga para poder conviver. No entanto, sabe também que as conversas
que tinham nem sempre atingiam o objetivo de crescerem nas coisas de Deus. Pensando nisso, escreva em seu Diário Espiritual:

Quem são seus amigos? Quem são as pessoas com as quais você mais conversa?

Essas conversas te ajudam a ser uma pessoa melhor? E mesmo quando brincam, são brincadeiras saudáveis? Por que?

Você costuma falar o que vem à cabeça? Acha isso virtuoso? Por quê?

Alguém já repreendeu sobre sua maneira de falar? Já disseram que você foi inconveniente alguma vez? Como você reagiu?

Alguém já disse que você é uma pessoa carente ou grudenta? Tem alguma verdade nisso?

Já lhe falaram que você só reclama ou lamenta por qualquer coisa? Como você reagiu?

Sente seu ego ferido quando alguém chama a sua atenção (injustamente ou não)?

Você consegue expressar sua mágoa com palavras quando alguém lhe ofende ou guarda tudo para si?

Quando e como foi a última vez que você precisou corrigir uma pessoa?

Consegue aplicar a sinceridade e a caridade na correção? Ou não consegue se conter e se excede?

Tem alguém que por mais que você converse, a pessoa não muda o comportamento? O que essa pessoa precisa para que
enfim amadureça?

Missão do dia:
Conforme o ato de caridade que Teresinha fez com sua irmã de mosteiro, sugerimos que hoje faça o mesmo. Pense em seu
coração como ajudar uma pessoa a ser alguém melhor. Não se preocupe se a pessoa vai ouvir ou não. Apenas se preocupe em
rezar e conversar. O Espírito Santo dará as palavras necessárias.
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Após alguns meses, finalmente Teresinha receberia o hábito marrom
das monjas carmelitas. Era 10 de janeiro de 1889, e a cerimônia foi
presidida pelo Monsenhor Hugonin, o mesmo Bispo que autorizou
seu ingresso na ordem. Nada faltou. Nem a sua querida neve que caiu
milagrosamente, nem as flores que tanto admirava, principalmente
aquela que era a mais imponente de seu jardim:

“Na manhã seguinte, o céu não havia mudado. No


entanto, a festa foi encantadora, e a flor mais bela, a
mais encantadora, era meu querido rei. Jamais ele se
mostrou tão belo e tão digno.... Foi admirado por todos.
Esse dia foi seu triunfo, sua última festa na terra...”

Chegado o dia 12 de fevereiro, Luís Martin, nomeado por Teresinha


como o Rei da França e de Navarra, sofreria outro golpe na sua saúde.
Luís começa a enxergar coisas horrendas, como mortes, carnificina,
guerras, e numa tentativa desesperada para defender suas filhas, se
armou de um revólver. Chegando a esse ponto, a fim de manter sua
integridade o tio Isidoro precisou interná-lo na casa O Salvador, na Era o que dizia Teresinha sobre tal sofrimento que passavam. Nesse
cidade de Caen, onde ficou até o ano de 1892. meio tempo, houve a anulação do contrato da casa onde moravam.
Todos os móveis precisaram ser retirados da residência, sendo
divididos entre o tio Isidoro e o próprio Carmelo. Teresinha contava
“Um dia, no Céu, gostaremos de nos recordar das que sua irmã Celina seria competente o suficiente para cuidar dos
pormenores, e não duvidava em nenhum momento do devotamento
nossas gloriosas provações.” dela por seu pai, cuidando dele enquanto necessário. Enquanto isso,
viveria ao lado de seu Amado, como noiva e noviça na Montanha do
Carmelo.

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Em meio a tantos desafios, o seu coração também precisava se preparar para o dia que fosse realizar seus votos. Junto do hábito marrom,
faltava o véu preto, sinal de seu casamento com o Eterno Senhor. Por conta da pouca idade, a Madre a sugere que não alimente expectativas
em seu coração. Muito sofrida, mas resignada, Teresinha esperou mais oito meses além do período comum de um ano para poder fazer seus
votos. Mas Deus, que a ali a plantou, garantiu que ali permanecesse até germinar para o céu. Com pequenas mortificações novamente ela se
preparou para um novo tempo em sua vida.

Conforme a data se aproxima, Teresinha voltou a sofrer com fortes inquietações , suspeitando de que tudo o que estava almejando não
fosse mais do que um capricho próprio. A pressão por conta da realidade da família unida às investidas que o inimigo fazia contra sua vocação
a levou para um período de aridez espiritual muito grande.

“Chegou, enfim, o belo dia das minhas núpcias. Foi um dia sem nuvem, mas na véspera levantou-se em minha alma uma
tempestade como nunca vivi antes.... Nenhuma dúvida quanto à minha vocação tinha surgido antes em meu pensamento,
mas eu precisava passar por esta provação.... Achava a vida do Carmelo muito bonita, mas o demônio me assegurava
que não era para mim, que eu enganaria meus superiores prosseguindo num caminho para o qual eu não era chamada...
chamei, pois, minha mestra e, cheia de confusão, contei-lhe o estado de minha alma... Felizmente, ela enxergou com
mais clareza que eu e me tranquilizou completamente. Aliás, o ato de humildade que eu tinha feito acabava de afugentar
o demônio, que talvez pensasse que eu não ia ousar confessar a minha tentação...”

No dia de sua profissão interna para a clausura, milagrosamente um rio de paz invadiu sua alma. Ela pode rezar por muitos pecadores e se
ofereceu a Jesus, afim de que cumprisse perfeitamente nela a Sua vontade, e pediu que nenhuma criatura colocasse obstáculos para isso.

Mas além desse dia, haveria outro, que seria sua profissão pública, da qual outras pessoas poderiam participar e testemunhar esse momento
tão santo. Sr. Martin não estava lá para abençoar sua rainha. Todavia, ainda era um dia de alegria por ser a festa da Natividade de Nossa Senhora
e era o dia no qual receberia a maior das recompensas: o próprio Deus por Esposo. A partir daquela profissão, ao seu nome acrescentou mais
uma parte. Seria agora conhecida como Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, nome pelo qual a invocamos até hoje.

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Em 5 de dezembro de 1891, morre Madre Genoveva. Para Teresinha essa irmã deixou uma perfumada lembrança, pois lhe
ensinou muitas coisas sobre como ser uma boa carmelita. Mas um mês depois de sua partida, muitas outras irmãs iriam partir.
Uma forte epidemia de gripe chegou comunidade abalando a saúde de quase todas as monjas. Apenas Teresinha com mais duas
irmãs conseguiram se manter em pé. Como as tarefas se acumularam para elas, Teresinha teve de se desdobrar para garantir que
não lhes faltasse nada.

“Durante este tempo, o Bom Deus me deu muitas graças de força; pergunto-me agora como pude fazer, sem medo, tudo o que fiz. A morte
reinava por toda parte, as mais doentes eram cuidadas pelas que mal conseguiam se arrastar. Logo que uma irmã soltava o último suspiro,
éramos obrigadas a deixá-la sozinha. Numa manhã, ao me levantar, tive o pressentimento de que Irmã Madalena estava morta. O corredor
do dormitório estava escuro, ninguém saía das celas. Por fim, decidi-me a entrar na de Irmã Madalena, cuja porta estava aberta. Eu a vi, com
efeito, vestida e deitada sobre a enxerga. Não senti o menor medo. Vendo que estava sem vela, fui busca-la, assim como também uma coroa
de rosas.”

Mas onde havia a morte do corpo, Teresinha contemplava a vida que nascia para o céu. Ela entendia que suas irmãs, mais do que
vítimas de uma pandemia, eram rosas que se ofertavam por amor ao Senhor. Tantos testemunhos não deixaram de frutificar no seu
coração. Em 9 de junho daquele mesmo ano, Teresinha também desejou ardentemente se oferecer ao Amor Misericordioso:

“Pensava nas almas que se oferecem como vítimas à Justiça divina, a fim de desviar e atrair sobre si os castigos reservados aos culpados.
Esse oferecimento parecia-me grande e generoso, mas eu estava longe de sentir-me inclinada a fazê-lo. “Oh, meu Deus!”, exclamei no fundo
do meu coração, “Só vossa Justiça recebe almas que se imolam como vítimas?”... Vosso Amor Misericordioso não precisa delas também?
Em todo lugar ele é desconhecido e, rejeitado. Os corações, aos quais o quereis oferecer, voltam-se para as criaturas, mendigando-lhes a
felicidade com sua miserável afeição, ao invés de se lançarem em vossos braços e aceitar vosso amor infinito... Oh, meu Deus! Vosso Amor
desprezado ficará confinado em vosso Coração? Parece-me que, se encontrásseis almas que se oferecessem como vítimas de holocausto ao
vosso Amor, haveríeis de consumi-las rapidamente. Parece-me que vos sentiríeis feliz em não conter as ondas de infinitas ternuras que estão
em vós... Se vossa justiça gosta de descarregar-se, embora só se estenda somente sobre a terra, quanto mais vosso Amor Misericordioso que
se eleva até os Céus desejaria abrasar as almas... Oh, meu Jesus! Que seja eu essa feliz vítima, consumais vosso holocausto pelo fogo do vosso
divino Amor!...”

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Para rezar:

Teresinha compreende que o sofrimento pode se transformar em amor. A dor que ninguém quer pode ser tornar prova de
sincera afeição.

Você também quer transformar suas dores em amor? Então, faça uma tabela em seu Diário Espiritual e escreva de
um lado, todos os sofrimentos e dores que sente, e do outro, que sentido de amor ele pode receber. Siga conforme os
exemplos abaixo:

Dor física Posso oferecê-la a Deus pelo alívio das almas do purgatório

Se tornar como uma criança que depende do pai do céu e aprender a


Desemprego/dificuldade financeira dividir o pouco

Doença incurável Unir-me a Jesus na cruz e oferecê-la pela salvação dos pecadores

Luto Posso esforçar-me para dar amizade as pessoas mais abandonadas

Sentimento de culpa Posso ensinar as pessoas a não cometerem determinados erros

Por fim, releia em oração o último parágrafo do texto e escreva em seu Diário Espiritual um ato de oferecimento ao Amor
Misericordioso de Jesus.

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Ao sair do locutório, Luiz ainda quis tentar dizer algo para suas amadas
Outrora conhecido por salvar vítimas de afogamentos, resgatar filhas. Com algum esforço conseguiu levantar uma das mãos para o alto, e
pessoas em meio a incêndios e ser um bom “apartador” de brigas, Luiz com o dedo indicado apontando para cima, sussurrou em meio aos soluços:
agora era reconhecido como o “idoso venerável” e “bom patriarca”.
Os demais doentes e funcionários da clínica nunca tinham visto um
“No céu!”
homem tão bom como ele. Recusou o quarto particular para ficar
em um mais simples. Às vezes comprava guloseimas e distribuía
Depois de algum tempo, Luiz teve um ataque cardíaco e sofreu uma queda.
entre os doentes do hospital. Não faltava a nenhuma Missa se
Dia 28 de julho de 1894, sábado, recebeu a Unção dos Enfermos. No domingo
tivesse condições. E assim como antes ia e voltava com suas filhas
seguinte, 29 de julho, Celina estava à cabeceira da cama de Luiz, representando
da escola, ouvindo pacientemente seus relatos, agora ele andava ao todas as filhas e também Zélia. Já fazia um tempo que o enfermo não abria
lado dos doentes, ouvindo suas histórias de vida e consolando os os olhos e seu corpo parecia gelar aos poucos. Celina sentiu a necessidade
que mais precisavam falando-lhes sobre a conversão. de chamar por Jesus, Maria e José para socorrerem o pobre moribundo. De
pronto seu pai abriu os olhos e lançou um terno olhar sobre sua filha, como
que agradecido por tamanho cuidado. Instantes depois sua respiração tornou-
“Por mim, eu seria apóstolo em algum outro lugar. se ofegante. Celina chamou por Isidoro que, instintivamente trouxe-lhe o
Mas esta é a vontade de Deus. Eu acho que é assim para crucifixo para com ele tocar os lábios de Luiz. Eram 8h15. Finalmente Luiz foi
domar meu orgulho.” para o “Domingo Eterno”, o dia sem fim, o Céu que tanto mereceu.

Enquanto tudo isso se passava com a família, Paulina foi eleita priora
do Carmelo. Um de seus primeiros atos foi nomear a ex-priora, Irmã Maria
Era 12 de maio de 1892, Isidoro fez uma surpresa para Teresinha
Gonzaga, como mestra de noviças. Teresinha, por sua vez, foi nomeada para ser
e suas irmãs. Ele entrou no locutório do Carmelo trazendo Luiz sua ajudante, além de ficar encarregada pelas pinturas, confecções de imagens
em uma cadeira de rodas. Sentia que precisava fazer isso por toda e das festas conventuais. Com a morte de seu pai, Celina também poderia subir
família e, audaciosamente, solicitou a permissão do hospital para o monte Carmelo e viver para sempre com seu Esposo, ao lado de suas irmãs.
retirar o idoso venerável para que pudesse ter dias mais felizes.
Todas ficaram tomadas de tristeza, pois ele já estava muito magro, Luís sempre dizia o fato de Celina ser uma ótima artista. Quis levá-la para
quase sem cor e com pouca lucidez. Teresinha não conseguiu dizer Paris, para que pudesse ter aula com os melhores professores. Mas quando
outra coisa a não ser uma breve oração: ela lhe contou sobre seu desejo de se tornar carmelita, ele a consolou com a
seguinte resposta:

“Muito obrigada, ó Deus, pelo bom pai que nos destes.


“Venha, vamos juntos ao Santíssimo Sacramento agradecer
Pudemos ver nele uma imagem do amor que tens por
a Ele pela honra que me faz em escolher Suas esposas em
todos os homens.”
minha casa.”

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Para rezar:

Você percebeu que, mesmo doente, Luiz não se entregava? Não choramingou para que o tratassem com pena ou que lhe
mimassem muito. Ele também não se apegou ao fato de não poder mais nadar, correr, pular e etc. A doença tirou dele o trabalho, a
capacidade de se locomover, seu status e até sua capacidade de raciocinar direito, mas em nenhum momento ele considerou que
sua vida se resumia a isso. Pelo contrário, ele tinha muita clareza de que sua identidade não era o que ele fazia, mas o que Deus
pensava dele.

E você? Já resumiu sua vida e até mesmo sua identidade a alguma coisa que você faz? Escreva em seu Diário.

Como você reagiria se lhe fosse tirado a sua capacidade de trabalhar, estudar e ganhar dinheiro? Escreva.

Alguém já lhe falou que você é mais do que seu trabalho ou ocupação? O que pensa sobre isso?

Agora lhe convidamos a conversar com Deus e Santa Teresinha sobre a seguinte frase: EU SOU O QUE DEUS PENSA DE
MIM (frase tradicionalmente atribuída à Santa Teresinha do Menino Jesus).

Uma grande tentação que todos passam é pensar que Deus se frustra. Deus jamais se frustra e ele não enxerga ninguém como
um fracasso. Pelo contrário: Ele sabe as qualidades que colocou em cada pessoa e aguarda que elas as aceitem como um presente.
Quais são essas qualidades? Lembra da lista que pedimos que você colocasse em um lugar visível? Busque essa lista e a leia
novamente. Aí está apenas uma amostra das muitas coisas boas que tem dentro de sua alma. Muito mais Deus quer mostrar.
Converse com o Pai sobre isso.

Missão do dia:
A missão de hoje é encaixar em seus horários semanais, pelo menos, 20 minutos de adoração ao Santíssimo Sacramento.
Para aqueles que não conseguem se locomover, poderão fazer via internet ou pela televisão. Mas o importante é que 20
minutos seja apenas o tempo inicial. Com o passar do mês, você pode aumentá-lo se quiser.

61
Na leitura de hoje vamos nos deparar com um episódio singular da vida espiritual
de Teresinha. Ela nos ensinará um pouco sobre sua pequena doutrina espiritual
e nos encantará com a grandeza de seu entendimento sobre as coisas de Deus:

“Como sabeis, Madre, sempre desejei ser santa. Mas ai! Sempre constatei, quando
me comparei com os santos, haver entre eles e mim a mesma diferença que existe
entre uma montanha cujos cimos se perdem nos céus, e o obscuro grão de areia pisado
pelos caminhantes. Ao invés de me desanimar, disse a mim mesma: o bom Deus não
poderia me inspirar desejos irrealizáveis, portanto posso, apesar da minha pequenez,
aspirar à santidade. Crescer me é impossível, devo suportar-me tal qual como sou, com
todas as minhas imperfeições; mas quero encontrar o meio de ir para o Céu por uma
via muito direta, muito curta, uma pequena via, totalmente nova. Estamos num século
de invenções. Agora, não se tem mais o trabalho de subir os degraus de uma escada:
nas casas dos ricos, um elevador a substitui vantajosamente. Eu também gostaria de
encontrar um elevador para subir até Jesus, pois sou pequena demais para subir a
íngreme escada da perfeição. Enfim, fui procurar nas Sagradas Escrituras a indicação
do elevador, objeto do meu desejo, e li estas palavras da eterna sabedoria: quem for
pequenino, venha a mim; ao que falta entendimento vou falar (Pr 9,4). Aproximei-me,
pois, adivinhando ter encontrado aquilo que eu procurava. Querendo saber, oh, meu
Deus, o que faríeis ao pequenino que respondesse ao vosso chamado, continuei com
minhas pesquisas e eis o que encontrei: assim como uma mãe acaricia seu filhinho,
assim eu vos consolarei. Sereis amamentados, levados ao colo, e acariciados sobre os
joelhos! (Is 66,12-3). Ah! Nunca palavras mais suaves, mais melodiosas, vieram alegrar
minha alma. O elevador que deve me fazer subir até o Céu são os vossos braços, ó Jesus!
Para isso, eu não preciso crescer, pelo contrário, preciso permanecer pequena e que o
venha a ser sempre mais. Ó meu Deus, superastes minha expectativa e quero cantar as
vossas misericórdias.”

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Para rezar:

Releia este ensinamento de Teresinha pelo menos 3 vezes. Anote em seu Diário Espiritual tudo o que você entender que
significa para você.
Vimos que ela se reconhecia como uma pessoa imperfeita, com muitos defeitos e limites. Mas isso não a desanimou.
Buscou uma via para ser uma pessoa melhor. Pensando nisso, responda em seu Diário:

Como você lida com o fato de não ser uma pessoa perfeita?

Você é paciente consigo mesmo? Por quê?

Você se contenta em ser do jeito que é?

Qual foi sua última atitude para crescer em alguma virtude?

Que meios usou para isso?

Se você deseja se tornar uma pessoa melhor, então escreva uma oração pedindo que Santa Teresinha te ajude a crescer
nas virtudes santas.

Missão do dia:

A missão de hoje é assistir a um filme sobre a vida de algum santo ou santa da Igreja. Faça o esforço de perceber quais as
virtudes que essa pessoa adquiriu ao longo da vida.

63
Quando uma pessoa se sente amada, não há outra atitude que
deseja tomar a não ser a de corresponder de formar sincera a esse
amor. Da mesma maneira, Teresinha ao perceber até onde Jesus era
capaz de ir por ela, e o quanto Ele não é indiferente aos detalhes de
seu coração, ansiou mais do que nunca a amá-lo loucamente. Ser
uma simples carmelita não lhe parecia suficiente. Ela desejava poder
levar Jesus Eucarístico aos mais necessitados. Desejou ser doutora
para iluminar os menos esclarecidos. Desejava ser missionária para
pregar o Evangelho a todas as criaturas. Também desejou o martírio,
e de todo o coração quis derramar seu sangue pelo Senhor.

Mas não poder fazer tudo isso causou alguma inquietação em seu
coração. Ela se sentia frágil e pequena para viver a vida dos grandes
santos, mas ainda ansiosamente aspirava todas as suas virtudes. O
que fazer? Ela então buscou a resposta no próprio Deus:
“Ó meu Jesus! O que vais responder a todas essas
loucuras? Há alma menor, mais impotente que a
minha? Porém, por causa da minha fraqueza, achaste
prazer, Senhor, em atender aos meus pequenos desejos
infantis e queres, hoje, realizar outros desejos, maiores
que o próprio universo...”

64
“Como meus desejos me faziam sofrer um verdadeiro martírio na oração, abri as epístolas de São Paulo a fim de encontrar
alguma resposta. Meus olhos caíram sobre os capítulos 12 e 13 da primeira epístola aos Coríntios.... No primeiro, li que
nem todos podem ser apóstolos, profetas, doutores etc.… que a igreja é composta de diferentes membros e que o olho não
poderia ser, ao mesmo tempo, a mão... A resposta estava clara, mas não satisfazia aos meus desejos, não me propiciava
paz... Como Madalena se inclinando sem cessar junto ao túmulo vazio acabou por encontrar o que procurava, também
me abaixei até às profundezas do meu nada e elevei-me tão alto até que consegui atingir minha meta.... Sem desanimar,
prossegui com minha leitura e esta frase me trouxe alívio: ‘Aspirai, também, aos dons mais elevados. Mas vou mostrar-vos
ainda uma via sobre todas sublimes’. E o apóstolo explica como todos os mais perfeitos dons não valem nada sem o Amor...
Que a caridade é a via excelente para levar seguramente a Deus. Enfim, tinha encontrado a resposta.... Considerando o
corpo místico da Igreja, não me reconheci em nenhum dos membros descritos por são Paulo, mas pelo contrário, queria
reconhecer-me em todos... A Caridade deu-me a chave da minha vocação. Compreendi que se a Igreja tem um corpo,
composto de diversos membros e o mais necessário, o mais nobre de todos não lhe faltava. Compreendi que a Igreja
tem um coração e que esse coração arde de amor. Compreendi que só o Amor leva os membros da Igreja a agir, e que
se o Amor viesse a extinguir-se os apóstolos não anunciariam mais o Evangelho, os mártires se recusariam a derramar o
sangue... Compreendi que o Amor abrange todas as vocações, que o Amor é tudo, que abrange todos os tempos e todos
os lugares... numa palavra, que ele é Eterno!..

Então, na minha alegria delirante, exclamei: ó Jesus, meu Amor... enfim, encontrei minha vocação; minha vocação é o Amor!...

Sim, achei meu lugar na Igreja, e esse lugar, meu Deus, fostes vós quem o destes a mim... no Coração da Igreja, minha
Mãe, serei o Amor... Assim serei tudo... Assim será realizado meu sonho!!!...”

Descobrir que sua vocação era o amor trouxe uma grande paz para o coração de Teresinha. Ela agora tinha a clareza do que Deus lhe
chamou para viver. O sentido de sua existência é amar.

65
Para rezar:

O Catecismo da Igreja Católica, nos números 356 até 359, ensina que o homem foi criado para amar e conhecer a Deus,
aos irmãos e toda a criação. Sendo assim, a ontologia cristã quer afirmar que amar e conhecer é o sentido de nossa existência.
Fomos criados para isso e apenas assim seremos felizes.

Teresinha, intuitivamente, captou essa verdade por meio da leitura das Sagradas Escrituras, e Deus, a todo momento,
também nos fala dela por tudo o que está à nossa volta. Mas não entendamos o amor como apenas um sentimento. Muito
mais do que isso, é uma resolução da nossa parte, ou seja, é algo que fazemos com bravura e audácia. É ser decidido por
alguém até o fim.

Algumas condições como traição, ciúmes excessivos, relacionamentos abusivos, violência doméstica e dependência afetiva
não têm características de amor, mas de egoísmo e doença. Precisam ser tratadas com oração e com ajuda de profissionais,
para que a cura possa vir e libertar o coração do falso amor.
Refletindo um pouco sobre as palavras de Teresinha, escreva em seu Diário uma oração pedindo que Santa Teresinha te
ajude a viver uma vida de amor sincero. Também peça a docilidade para amar e conhecer, a Deus, aos irmãos e a toda criação.

Missão do dia:

A missão de hoje consiste em dar uma prova de amor verdadeiro a Deus. Peça que o Espírito Santo lhe mostre qual prova
pode ser essa. Ela pode ser simples, mas também pode ser algo muito significativo para você.

66
Teresinha sabia que sem Jesus ela seria fraca no amor. Mas Deus não se
negou a dar todas as graças necessárias para amar nas pequenas coisas:
No ano de 1897, Teresinha fez uma profunda experiência
“Há na comunidade uma irmã que tem o dom de desagradar-me em tudo. Suas
com o significado da caridade.
maneiras, suas palavras, seu caráter, tudo me parecia muito desagradável, porém
é uma santa religiosa que deve ser muito agradável a Deus. Assim, não querendo
“Sinto que quando sou caridosa é só Jesus que entregar-me à antipatia natural que eu sentia, disse a mim mesma que a caridade
não deveria consistir em sentimentos, mas em obras. Então, apliquei-me em fazer
age em mim. Quanto mais estou unida a Ele,
por essa irmã o que teria feito pela pessoa que mais amo no mundo. Cada vez
mais amo todas as minhas irmãs. Quando quero que a encontrava, rezava por ela, oferecendo a Deus todas as suas virtudes e
aumentar em mim esse amor, sobretudo quando méritos. Sentia que isso agradava a Jesus, pois não há artista que não goste de
o demônio procura colocar perante os meus receber elogios pelas suas obras, e Jesus, o artista das almas, fica feliz quando
olhos os defeitos dessa ou daquela irmã que me não olhamos apenas para o exterior, mas penetramos até o íntimo santuário que
é menos simpática, apresso-me em procurar ver ele escolheu para morada e admiramos sua beleza. Não me dava por satisfeita
suas virtudes, seus bons desejos...” apenas em rezar muito pela irmã que me causava tantas coisas, mas também
procurava prestar-lhe todos os serviços possíveis. Quando estava tentada a
responder-lhe de modo grosseiro, contentava-me em lhe dar meu mais agradável
sorriso e procurava desviar a conversa, pois assim se diz na Imitação de Cristo: É
melhor deixar cada um no seu sentimento que se entregar à contestação.

Muitas vezes também quando não estava no recreio (quero dizer, durante as
horas de trabalho), tendo algumas relações de serviço com essa irmã, quando os
combates se faziam violentos demais, eu fugia como uma desertora. Como ela
ignorava completamente o que eu sentia por ela, nunca suspeitou os motivos
do meu comportamento e está convencida de que o seu caráter me é agradável.
Um dia, no recreio, com um ar contentíssimo, disse-me mais ou menos as
seguintes palavras: ‘Pode dizer-me, Irmã Teresa do Menino Jesus, o que tanto
vos atrai em mim, pois cada vez que me olha, te vejo sorrir?’ Ah! O que me atraía
era Jesus escondido no fundo de sua alma... Jesus, que torna doce o que há de
mais amargo... Respondi que sorria por estar contente em vê-la (obviamente não
acrescentei que era do ponto de vista espiritual).”

67
Vejamos outro relato de uma verdadeira aplicação do amor cristão:

“Quero, Madre, citar um exemplo que, creio, vos fará sorrir. Durante um dos vossos ataques de bronquite, fui uma manhã, de
mansinho, entregar-vos as chaves da grade de comunhão, pois eu era sacristã. No fundo, eu não estava aborrecida por ter essa
ocasião de vos ver, estava mesmo era muito contente, mas evitava deixar transparecê-lo. Uma irmã, animada por um santo
zelo e que, todavia, gostava muito de mim, vendo-me entrar em vossos aposentos, pensou que eu ia vos acordar. Quis tomar
de mim as chaves, mas eu quis me fazer de esperta para não as entregar e não lhe ceder os meus direitos. Disse-lhe, o mais
educadamente possível, que eu cuidava tanto quanto ela de não vos acordar, mas que cabia a mim entregar as chaves.... Agora
compreendo que teria sido mais perfeito ceder a essa irmã, jovem, é verdade, mas mais antiga que eu. Naquele tempo, não
o compreendia. Querendo eu de todo jeito entrar atrás dela, que empurrava a porta para me impedir de passar, provocamos
o que não queríamos: o barulho vos acordou... Então, Madre, tudo recaiu sobre mim. A pobre irmã a quem resisti iniciou um
discurso parecido com este: Foi Irmã Teresa do Menino Jesus quem fez barulho... Meu Deus como ela é insuportável... etc.
Eu, que sentia justamente o contrário, tive vontade de me defender. Felizmente, veio-me uma ideia brilhante. Pensei comigo
mesma que se eu começasse me justificar, não conseguiria, certamente, manter a paz da alma. Sentia também que não tinha
virtude suficiente para deixar que me acusasse sem que eu reagisse. Minha última tábua de salvação foi a fuga. Dito e feito.
Saí em surdina sem tambor e trombelas, deixando a irmã continuar seu discurso, que parecia com as imprecações de Camilo
contra Roma. Meu coração batia com tanta força que não pude ir longe e sentei-me num degrau da escada para saborear em
paz os frutos da minha vitória.”

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Para rezar:

Vimos nesses dois relatos verdadeiras aulas de amor sincero, que é aquele que não espera nada em troca. Coloque-se por
um instante no lugar de Teresinha e responda em seu Diário:

Você conseguiria agir da mesma maneira?

Tem alguma pessoa, ou mais de uma, que lhe é difícil de conviver? Que estratégia tem usado para suportar? Você
consegue entender que Jesus está nessa pessoa?

Escreva uma oração pedindo a Deus que lhe dê forças para amar gratuitamente aquelas pessoas que lhe são mais difíceis.
Peça que o Espírito Santo lhe encha com a fortaleza necessária para isso.

Missão do dia:

A missão de hoje é fazer um ato de amor gratuito para


alguém que você tem difícil convivência. Se for possível,
faça uma estratégia, como Teresinha, para sempre oferecer
sua melhor atitude.

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3 de abril de 1896, uma Quinta-Feira Santa, como de costume, Teresinha fez
seu momento de adoração no coro, se demorando até em torno da meia noite.
Indo repousar, apagou a luz e tratou logo de deitar. De imediato sentiu como uma
ânsia de vômito que lhe sobiu até a boca. Não querendo acender a luz novamente,
adormeceu. Na manhã seguinte constatou que haviam manchas de sangue. Apesar
do medo, não se rendeu, pois bem sabia que era um anúncio do seu Esposo que já
estava para lhe chamar

Depois de contar o ocorrido a sua priora, Teresinha pediu que não receba nenhum
tratamento especial e que permanecesse trabalhando normalmente. Sem perceber
que poderia ser algo grave, ela foi autorizada pela priora a continuar sua vida ordinária
como uma boa irmã. Mas só foi possível até o dia seguinte, pois novamente teve um
episódio de vômito de sangue que tornou a se repetir por algum tempo. Sua prima
Maria Guérin, agora com o nome de Irmã Maria da Eucaristia, expressou a situação
de Teresinha em uma de suas cartas para o tio Isidoro:

“O Doutor de Cornière veio vê-la ontem durante o dia, duas vezes,


e está visivelmente inquieto. Não se trata de tuberculose, mas de
um acidente acontecido nos pulmões, uma verdadeira congestão
pulmonar. Ontem, nossa Irmãzinha teve duas hemoptises: são pedaços
de sangue como se vomitasse fígado; continuou com estes vômitos
todo o resto do dia.

70
...dizia-nos esta manhã que, no purgatório não se pode arder
mais, tanta era a sua febre; também são cada vez mais frequentes
as crises de sufocação...

.... Hoje, encontra-se um pouco melhor; a febre baixou, mas sua


prostração é tão grande que não consegue nem mesmo levar a mão
à boca: a mãe cai por si mesma.”

A cada dia que passa, Teresinha vai emagrecendo, com febre, vômitos,
fraqueza, dores nas articulações, entre tantos outros sintomas. O seu médico,
no entanto, foi muito franco e declarou que a doença era incurável. Teresinha “O Bom Deus me dá coragem em
não teria muito tempo de vida. Mas poderia se alimentar com um leite especial proporção aos meus sofrimentos. Sinto
chamado “leite maternizado”, que de certa forma aumentaria seu tempo de vida. que, no momento, não poderia suportar
Madre Inês assim relatou:
mais. Contudo, não tenho medo porque,
se eles aumentarem, Deus aumentará,
“Por diversas razões, essa prescrição lhe causou grandes ao mesmo tempo, a minha coragem.”
sofrimentos e, quando viu as garrafas (de leite), pôs-se a chorar
copiosas lágrimas.”

Não poder comer o que se quer é realmente um tormento para a maioria de


nós. Com Teresinha não foi diferente. Ela mesma se espantou como aumentou
seu desejo de comer toda espécie de coisas gostosas, como frango, costeletas,
arroz de forno de domingo e atum.

Muitas das irmãs do mosteiro cuidaram pacientemente de Teresinha. Por isso


ela fazia o possível para não lhes demonstrar outra coisa a não ser seu sorriso e
gratidão. Não murmurava, mas louvava a Deus por poder se unir a Ele na cruz.

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Para rezar:

A oração de hoje será pedir a intercessão de Santa Teresinha para que Deus aumente a virtude da coragem em você.
Lembrando que coragem não é ausência de medo, mas uma justa decisão de enfrentar as coisas como elas são.

Missão do dia:

Sua missão de hoje é fazer companhia para uma


pessoa doente. Tente levar para ela o sorriso de Jesus
e Nossa Senhora. Leve o consolo de Deus e anote o
que aprendeu com isso.

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“Sinto que vou entrar no repouso... Mas sinto,
sobretudo, que minha missão vai começar, minha missão
de fazer amar o Bom Deus como eu O amo, de dar à
minha Pequena Via às almas. Se o Bom Deus atender
aos meus desejos, meu Céu se passará sobre a terra até Santa Teresinha reconhece que na sua humanidade
seria preferível a morte do que passar por tudo aquilo.
o final dos tempos. Sim, quero passar meu Céu fazendo Mas ela já não pensava mais de acordo com a mentalidade
o bem sobre a terra...” mundana. Ela pensava de acordo com a mentalidade do
Evangelho, e sabia que é muito mais preferível morrer de
Com estas palavras Teresinha declarava sua fé na eternidade. amor do que morrer de forma egoísta ou vazia. E de fato,
Ela entendeu, mais do que ninguém, que o destino de toda pessoa ela lutou para não se paralisar no próprio sofrimento.
batizada é entrar na comunhão dos santos. Isso porque o amor não Seu esforço era para sair de si, para não olhar o próprio
tem limites, e em Deus, nosso amor é misturado ao amor de Cristo umbigo, mas para o bem que Deus poderia tirar de tão
por toda humanidade. Por isso até o mais simples dos sofrimentos grande mal. Ela imitou a Jesus no horto, que aceitou de
tem grande importância, pois ele pode ser transformado em milagres, Deus aquilo que seria instrumento para ressuscitá-lo (cf.
desde que o depositemos no Coração de Jesus. Mateus 26,37-45).

Uma leitura desatenta e superficial poderia supor que uma pessoa


santa não sofre. Mas não se trata disso. Trata-se, antes, de uma “Não teria recolhido um alfinete para evitar
atitude santa, ou seja, de mergulhar a própria vida na vida de Jesus e, o purgatório. Tudo o que fiz foi para dar prazer
assim, deixar que Ele transforme nosso sofrimento em vida. ao Bom Deus, para salvar-lhe as almas.”

“Num impulso natural, prefiro morrer. Mas só me


alegro com a morte por ser a vontade do Bom Deus
para mim.”

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Em 30 de julho recebeu a Extrema Unção e o Viático das mãos
do padre Maupas. Antes da cerimônia, ele consolou Teresinha lhe
falando sobre a grandeza do milagre:
As suas irmãs ali presentes sentiam com pesar o sofrimento de
sua caçula, mas viam nela a imagem de Jesus crucificado: ela não era
“Ficareis como uma criancinha que acaba de receber o digna de pena, mas de veneração. Conforme a noite se aproximava
Batismo. Depois ele me falou só do amor. Fiquei muito para o mundo, o dia eterno se aproximava para Teresinha. Ela estava
comovida!” plenamente reconciliada com seu sofrimento:

Em 10 de setembro as dores voltam a ficar piores. Nada conseguia “Não posso explicar tanto sofrimento senão pelo desejo
lhe trazer alívio para o corpo, porém, as irmãs se revezam para tentar ardente que tive de salvar almas...
lhe dar alívio para a alma. Vez ou outra uma irmã suavemente passa Não me arrependo de me ter entregue ao amor!”
gelo nos seus lábios. Outra lhe traz uma flor do jardim. Outra ainda
lhe traz alguma estampa da Virgem Santíssima, alguma relíquia,
E em um último suspiro, como que em com um grito de paixão, exalou
ou uma caixinha de música. Teresinha agradece a todas com um
sua última declaração:
sorriso humilde. Ela se esforça para também dizer algumas palavras
carinhosas, de sincera gratidão e veneração pela bondade das suas
companheiras. “Meu Deus, eu Te amo! Oh! Amo-te!”

“Sofro apenas por um instante. É por pensarem no De seu rosto resplandeceu uma luminosidade que não parecia ser
natural deste mundo. E com odor de santidade, aproximadamente às
passado e no futuro que as criaturas se desencorajam e
19h30, a Irmã Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face falece com
se desesperam.” um sereno sorriso no rosto. Irmã Inês descreveu o momento emocionante:

No dia 30 de setembro de 1897, Teresinha se sentiu muito “Imediatamente depois de ter pronunciado estas palavras,
ofegante. Alguns pássaros cantavam insistentemente pela janela da caiu docemente para trás, a cabeça inclinada à direita. Nossa
enfermaria, mas sua melodia era insuficiente para alegrar as monjas
Madre mandou tocar rapidamente o sino da enfermaria para
que estavam próximas de sua cama. Com algum esforço, a enferma
humildemente pede um último favor para a prioresa: chamar a comunidade de volta.
‘Abri todas as portas’ – dizia ela ao mesmo tempo. E essas
“Apresente-me depressa à Virgem Maria, eu sou um palavras possuíam qualquer coisa de solene. Fizeram-me
bebê que não pode mais! Prepare-me para morrer bem...” pensar que, no céu, o Bom Deus também as estaria dizendo
aos seus Anjos!”

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Para rezar:

Vimos hoje que até nos momentos de grande agonia Teresinha tenta dar o seu melhor sorriso para suas irmãs. Com alguma
dificuldade, ela ainda se esforça para dizer palavras carinhosas em gratidão a tudo que faziam por ela.

Escreva uma oração pedindo a Deus a graça de imitar tão grande exemplo.

Também escreva uma curta oração, suplicando os mesmos desejos que Teresinha tinha em seu íntimo, como o de agradar
a Deus, de levar almas para o céu e de se entregar ao amor.

Missão do dia:

A sua missão hoje é rezar e pedir que Deus


lhe inspire uma pessoa para a qual você possa
apresentar a história de Santa Teresinha. Pode ser
pessoalmente ou online.

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Alguns relatos apontam que muitos milagres aconteceram já no mesmo dia em que Teresinha faleceu.
Por várias regiões do mundo, pessoas começaram a relatar que viram uma desconhecida monja jovem e
doce que lhes acudia em suas necessidades, inclusive aos soldados nas trincheiras da Primeira Guerra.

Mas mesmo sem saber desses acontecimentos, a priora do Carmelo já estava resolvida a publicar
a história de Teresinha. Coube à Ir. Inês (Paulina) o esforço de reunir tudo o que Teresinha tinha
deixado por escrito. Após 7000 revisões, o primeiro trabalho a chamar a atenção foram seus próprios
manuscritos autobiográficos, que juntos se tornaram o Livro História de Uma Alma. Essa primeira
publicação contou com uma edição de 2000 exemplares, que rapidamente se esgotaram.

A própria providência divina tratou de divulgar e espalhar seus escritos por toda a França, e logo,
para todo o mundo. Não tardou muito para começar a chegar os primeiros peregrinos a Lisieux,
desejosos de conhecer mais sobre Teresinha e sua Pequena Via. Em 1906, o Pe. Prevost iniciou os
primeiros processos em favor da causa de sua canonização. Logo, em apenas quatro anos, um Tribunal
foi constituído em vista de avaliar e levar o processo adiante. Cinco anos depois o processo já estava
sendo conduzido pela Diocese local. E em 1921, o Papa Bento XV assina o Decreto de introdução da
causa de Teresinha como Venerável.

Conforme o processo caminha, em 1923 suas relíquias foram transladadas para o Carmelo de Lisieux.
Em 29 de abril daquele ano ela foi beatificada, atraindo ainda mais devotos do mundo todo. E no dia
17 de maio de 1925, meio milhão de pessoas assistiram à sua canonização presidida pelo Papa PIO XI,
em Roma, cidade tão amada por Teresinha. Estavam presentes 33 cardeais e aproximadamente 250
bispos de todas as partes do mundo.

Dois anos depois, em 14 de dezembro de 1927, Santa Teresinha foi declarada padroeira dos
missionários, junto de São Francisco Xavier. E em 1944 o Papa Pio XII a proclamou Padroeira Secundária
da França, ao lado de Santa Joana D´arc.

Muito mais iria acontecer. Em 1980, o Papa São João Paulo II vai a Lisieux em peregrinação. 17 anos
depois ele a proclamou Doutora da Igreja e Co-Padroeira da Europa. Neste meio tempo, São João
Paulo II também beatificou Zélia e Luiz, que foram beatificados pelo representante do Papa Bento XVI,
Cardeal Saraiva, em 19 de outubro de 2008. E 18 de outubro de 2015, o Papa Francisco os proclama
como São Luiz Martin e Santa Zélia Guérin.
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Para rezar:

Até aqui nos emocionamos com muitas coisas que Santa Teresinha viveu, não é verdade?

O que você tem para dizer para Santa Teresinha hoje? Escreva no seu Diário tudo o que lhe vier em seu coração.

Missão do dia:

Você se recorda da folha na qual você escreveu todos os seus sonhos? Retome-a e reavalie tudo o que nela está
escrita. Gostaria que ela continuasse assim? Se quiser pode reescrever ou acrescentar algo, conforme a inspiração lhe
fizer sentir.

Depois disso, sua missão daqui em diante será lutar para tornar realidade todos a todos os seus sonhos.

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DA SANTA FACE, Irmã Genoveva. O pai de Santa Teresa do Menino Jesus (trad. do Carmelo do Imaculado Coração de Maria e Santa Teresinha). Cotia, 1965;

Flor do Carmelo. Boletim informativo da Ordem Secular dos Carmelitas Descalços. N.º 31 – 2008. Pg. 3; Disponível em: http://www.carmelitas.pt/site/pdf/
seculares/flor/Flor31.pdf Acesso em 19/12/2020;

GAMBI, Orlando. Vida de Santa Teresinha. Editora Santuário, 1997;

O´CONNOR, Patrícia. Thérèse of Lisieux: a biography. 1984 ISBN 0-87973-607-0, page 19;

O Miniatural em Santa Teresa do Menino Jesus - Da mudança de escala na via de santidade - XXXII (2002). Revista DIDASKALIA. 147-243 : https://
repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/18706/1/V03202-147-243.pdf;

PIAT, Joseph Stéphane. História de uma Família. 3ª ed. Portugal, Braga: Apostolado da Imprensa, p. 49;

DESCOUVEMONT. Pierre and LOOSE. Helmuth Nils: Therese and Lisieux. Toronto, 1996. Pg 53;

Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face. História de uma alma: manuscritos autobiográficos. 2ª. ed., São Paulo: Paulus, 2008;

SIX. Jean François. Teresa de Lisieux. Ed. Loyola, 1997;


SCIADINI, Frei Patrício. Os pais de Santa Teresinha: um casal especial. São Paulo, SP. Editora Canção Nova, 2010;

http://felicidadefeminina.com.br/wp-content/uploads/2017/10/A-M%C3%A3e-de-Santa-Teresa-do-Menino-Jesus.pdf p. 76. Acesso em 11/12/2020;

http://www.30giorni.it/articoli_id_18757_l6.htm;

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https://carezia.files.wordpress.com/2016/07/luisezeliamartin.pdf.

https://otcarmo.org/sao-luis-e-santa-zelia-martin-um-modelo-para-a-vida-da-familia-de-hoje/ Acesso em 11/12/2020;


https://padrepauloricardo.org/blog/luis-martin-o-pai-incomparavel-de-santa-teresinha

https://salvaimerainha.org.br/noticias/os-primeiros-milagres-de-santa-teresinha/;

https://sites.google.com/site/madrevirginiabritesdapaixao/a-ligacao-entre-santa-teresinha-do-menino-jesus-e-madre-virginia;

https://www.acidigital.com/noticias/a-linda-historia-de-amor-de-luis-e-zelia-martin-pais-de-santa-teresa-do-menino-jesus-43982. Acesso em 11/12/2020;

https://www.acidigital.com/noticias/a-linda-historia-de-amor-de-luis-e-zelia-martin-pais-de-santa-teresa-do-menino-jesus-43982. Acesso em 11/12/2020;

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Este e-book é uma produção do portal IDe+, que faz parte da Associação Evangelizar É Preciso. Se você gostou e quer ver
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alimento espiritual às pessoas.

Allan Junior Silva é missionário na Comunidade Católica Shalom.


Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUC-PR) e licenciado em Filosofia. Atua em escuta, aconselhamento
pessoal e orientação espiritual. Ministra palestras de formação
humana e religiosa, além de assessorar movimentos e grupos
religiosos. Já atuou na coordenação de grupos para recuperação de
dependências e no serviço pastoral em hospitais. Apaixonado pelas
Chagas Gloriosas de Jesus, também ama a vida de Santa Teresinha,
sua amiga do Céu.

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