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Cinzas No Paraíso
Cinzas No Paraíso
Teatro Imagético
Roteiro de:
JULIO CARRARA
Escrita em 2003
Julio Carrara Cinzas no Paraíso 1
PERSONAGENS:
CLARINHA
BERNARDO
DANIEL
e grupos de:
MENINOS E MENINAS
RAPAZES E MOÇAS
VELHOS E VELHAS
com as necessidades das cenas, como uma cadeira de balanço, uma caixa
O espetáculo tem como objetivo, através das cores, mostrar para o público todas as
etapas da vida de uma mulher, (que foi esquecida em um asilo pelos familiares), dos 5
PRÓLOGO
“O ANIVERSÁRIO DE CLARINHA”
(cinza)
revelando Clarinha, uma velhinha, sentada numa cadeira de balanço. Silêncio absoluto.
Nada se move, ou melhor, quase nada, exceto a cadeira de balanço. Luz na janela sobe
lentamente. Uma forte chuva chicoteia a vidraça. O dia cinzento revela o estado de
espírito de Clarinha.
começa a tricotar lentamente uma meia de bebê. Seus movimentos são lentos e suas
velhinha suspira profundamente, enquanto uma lágrima escorre pela sua face. Pára
A luz se apaga.
Cantam “Parabéns pra você” para a Clarinha, que sorri, mas mantém no rosto uma
Black-out.
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CENA 1
(amarelo)
Crianças correm de um lado para o outro. Clarinha, uma menina com fitinhas
anos. Todas as crianças cantam “Parabéns pra você” para a menina, que está
comovida. Ela assopra a vela e corta o primeiro pedaço, fazendo um pedido. Depois
carinhosamente em seu rosto. Outras crianças fazem uma algazarra colocando a garota
e o garoto no centro e cantam batendo palmas, empolgadíssimas: “Com quem será, com
Quando todos se silenciam, o palhaço pega uma cesta e entrega para cada um, um
menina se olham, ambos encantados um com o outro. O palhaço volta para a caixa.
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Black-out.
CENA 2
“PRIMEIRA COMUNHÃO”
(branco)
Clarinha junto com outros garotos e garotas entram em procissão pelo corredor,
cada um com uma vela na mão. É a primeira comunhão. O padre está no centro,
realiza o ritual e entrega para cada criança, uma hóstia. Após receberem a hóstia, todos
se ajoelham e rezam.
CENA 3
“O PRIMEIRO AMOR”
(laranja)
Clarinha combina algo com outra garota. Essa garota tapa os olhos dela e
começa a brincadeira.
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MENINA
CLARINHA
Tem.
MENINA
Pra esse?
CLARINHA
Não.
MENINA
Pra esse?
CLARINHA
Não.
MENINA
Pra esse?
CLARINHA
Não.
MENINA
Pra esse?
CLARINHA
É.
MENINA
CLARINHA
(Berrando.) Salada-mista.
Bernardo, o garoto escolhido por Clarinha se levanta e vem até ela. Quando os
olhos de Clarinha se livram das mãos da outra garota, ela abre um enorme sorriso para
o menino. Ambos se beijam enquanto outros torcem. Bernardo faz Clarinha perder o
fôlego. Clarinha recupera o fôlego e beija novamente o rapaz com enorme paixão.
uma cena envolvendo outras pessoas e fatos, até o momento em que todos ficam
CENA 4
“FORMATURA”
(verde)
formada pelo Corpo Docente da Faculdade está cheia. Ouvimos no áudio o “Hino
que caminha até a mesa, assina a lista, beija alguns professores e pega o canudo com o
CENA 5
“O MATRIMÔNIO”
(vermelho)
proscênio. Ela está com um vestido de noiva vermelho e ele com um smoking também
vermelho. É o casamento.
Bernardo pega Clarinha no colo e coloca-a no chão. Com muito carinho faz
massagem nela, acariciando seus pés e jogando em seu corpo pétalas de rosas vermelhas
É uma cena onde a sensualidade deve ser bem explorada, mas sem apelação
CENA 6
“O PRIMEIRO FILHO”
(azul)
Clarinha grávida, caminha com dificuldade até a mesa de parto, auxiliada por
o pai, que chora de emoção. Bernardo entrega o bebê à Clarinha, que suada e exausta,
Passagem de tempo...
momento, Clarinha vem com um carrinho de bebê. Num segundo momento, entra com
o filho já com 5 anos brincando de pega-pega. Noutro momento, o garoto com 12 anos,
brincando de esconde-esconde. Num último momento, o garoto com 18 anos, joga bola
A bola vai parar na rua. Bernardo vai buscar o objeto fora de cena e ouvimos no
áudio uma freada brusca seguida por um enorme estrondo. Todos ficam estatelados.
Clarinha e Daniel olham para a rua e ambos dão um grito silencioso. Ouve-se
uma sirene ao longe que se aproxima. Aos poucos o barulho vai se tornando
CENA 7
“O ENTERRO DE BERNARDO”
(preto)
A mulher, trajando luto chora sobre o caixão do marido e é amparada pelo filho
Daniel, o fruto do amor que uniu ambos durante todos esses anos.
Atores com véus negros pegam o caixão e dão um volta lenta pelo palco.
O cortejo sai de cena, enquanto Clarinha e Daniel param no centro. Ela olha
para o filho, que retribui o olhar e ambos se entregam num abraço apertado.
CENA 8
“O NOVO LAR”
(violeta)
Daniel, sua mulher e Clarinha trajam roupas violetas. O filho olha para a mãe e
faz um gesto de negação. Ele está acompanhado por sua mulher, que não aceita de
Clarinha olha para o ambiente, não quer ir, mas Daniel obriga-a, deixando-a
sem alternativa. Pega uma mala, coloca algumas roupas da mãe ali e saem.
Na saída, olha para a mãe fixamente, com a expressão neutra. A mãe, olha para
o filho e chora. Um choro contido, mas sentido. O filho sai com a mulher, deixando
permanece ali.
Black-out.
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EPÍLOGO
(cinza)
asilo. A cena deve ser idêntica à cena que ela entrega o bolo para Bernardo. O bolo é
dividido para os outros velhinhos que comem com imenso prazer. Após todos
Tempo.
Instantes depois entra Bernardo, ainda jovem. Ele tapa os olhos dela, que tateia
suas mãos, tentando adivinhar quem é. Ao perceber, que é seu grande amor, sorri feliz
e vira-se pra ele. Começa a acariciar seu rosto, desenhando nele figuras geométricas.
Black-out final.
FIM
Janeiro/2003