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Pré-Exílicos
Reginaldo Pereira de Moraes
Curitiba
2021
© Os direitos de autoria e patrimônio são reservados ao(s) autor(es) da obra e às Faculdades
Batista do Paraná (FABAPAR). É expressamente proibida a reprodução total ou parcial desta
obra sem autorização da FABAPAR.
Síntese do Capítulo.........................................................................77
3. O Profeta como um Ser Humano e Emocional:
um Panorama sobre os Profetas Obadias, Jonas e Naum...........80
3.1 O Livro do Profeta Obadias................................................................................... 85
Síntese do Capítulo.........................................................................158
Referências......................................................................................160
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Apresentação
Olá! Sou o professor e pastor Reginaldo Pereira de Moraes. Estudei
Teologia na FABAPAR e fiz a integralização pela FEPAR, especializei-me em
Liderança Pastoral pela FABAPAR e concluí meu Mestrado e Doutorado,
também em Teologia, pelas Faculdades EST. Tenho atuação ministerial como
pastor auxiliar desde 2003, e dedico-me à docência desde os idos de 2004.
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1. Introdução ao Movimento
Profético na Bíblia
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Legenda: GREBBER, Pieter de. O Profeta Davi – Rei Davi em Oração (original: David the
Prophet – King David in Prayer). Entre 1635-1640. 1 original de arte: colorida.
Nashville, TN, Estados Unidos da América. Coleção: Art in the Christian Tradition
(Vanderbilt University). Disponível em: http://diglib.library.vanderbilt.edu/act-imagelink.
pl?RC=57280. Acesso em: 14 jan. 2021. Domínio público.
#Pracegover: A imagem mostra uma pintura com um homem ajoelhado com os olhos
fechados em posição de reverência, enquanto um anjo está nas nuvens acima de sua
cabeça, ungindo-o.
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1 Neste livro, quando não houver indicação acerca da versão bíblica utilizada é porque
optamos em traduzir o texto diretamente do hebraico.
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conjuga o verbo meditar no modo incompleto porque por mais que ele
gaste o tempo todo meditando, sempre será uma ação inacabada por
conta da grandeza da Palavra de Deus. Não há como esgotá-la.
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Tradução
Transliteração Texto
para o Significado geral
do hebraico bíblico
português
Dt 13.1-11,
navi’ profeta Aquele que fala, com ou sem transe.
18.20-22
Um dos primeiros títulos utilizados, tinha
mais a conotação de destacar a habili-
ro’eh vidente I Sm 9.9
dade de se fazer predições (Ex.: vamos
ou não à guerra).
I Sm 9.6I
homem de Pessoa consagrada a Deus (Ex.: Samuel,
’ysh ’elohym Rs 17.18
Deus Elias, Eliseu).
II Rs 4.40
servo de Mesmo com o status que tinham entre o
‘avdey yhwh Am 3.7
Javé povo, ainda eram servos de Deus.
O nome Malaquias pode ser um
mensageiro nome próprio, mas seu significado é
mal’achy Ml 3.1
de Javé “Meu mensageiro”, designando que a
mensagem não era do profeta.
Atalaia,
Mostra a função de se avisar o perigo Ez 3.17 e
tsopheh sentinela,
que está chegando. 33.7
vigia
Destaca a humanidade do profeta,
filho do Ez 3.17,
ben-’adam colocando-o como representante dos
homem 33.7 e Dn 7
humanos.
I Cr 25.5, II
Outra forma de vidente, que recebe sua
hozeh visionário Cr 35.15,
mensagem por meio de visões.
Am 7.12
FONTE: Elaboração a partir de GUSSO, 2014, p. 15-16 e a última linha em SICRE, 2008, p. 76.
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Você deve ter notado que diante de tantas palavras, não é tão simples
achar ou chegar a uma definição que abarque todas as possibilidades que
a terminologia “profeta” leva em seu bojo. No entanto, a partir deste leque
de possibilidades, fica mais fácil entender como e por que homens como
Enoque, Abraão, Moisés, Saul e Davi foram reconhecidos pelo próprio
texto bíblico como profetas. Mesmo que aos nossos olhos, não seriam
de jeito algum. Note que, no fundo, nossa compreensão acerca dos
profetas ainda anda muito atrelada à questão da profecia em si (seja ela
vaticinadora ou não, como aprendemos há pouco). Todavia, precisamos
abrir mais nossas mentes, porque se a Bíblia os chama de profetas, de
fato são. Afinal, é muito mais fácil nossa compreensão estar equivocada
do que a Bíblia estar errada, não é mesmo?
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Quando Moisés é usado por Deus para retirar seu povo do Egito, a
intenção divina é que eles não possuíssem sempre um líder, como um
rei ou comandante. A ideia seria manter a filosofia nômade, na qual o pai
cuida de sua casa, o avô cuida da aldeia (formada pelas casas de cada
filho), o tataravô seria o zelador da tradição do clã, a reunião no dia a dia
de anciãos (formada pelos líderes de cada clã) tomavam as decisões
de cada tribo, e a reunião esporádica com os principais anciãos de cada
tribo decidiam questões e resolviam problemas relacionados a todas as
tribos. Quando lemos sobre os príncipes do povo, no livro de Números,
não se referem a filhos de reis com direito a algum trono. Pelo contrário,
diz respeito aos representantes do povo.
Observe que quando Saul, Davi e Salomão são ungidos rei sobre
Israel, os anciãos já estavam, gradativamente, perdendo sua influência,
mas os sacerdotes ainda detinham seu poder e autoridade. Ou seja, a
função político-administrativa foi assumida pela monarquia e sua estrutura;
no entanto, as questões relacionadas ao sagrado continuavam com os
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Os profetas tinham noção disto e por isso eles viviam de tal modo
a proclamar e enaltecer o seu Deus. Além disso, segundo Crabtree, eles
tinham como missão: “persuadir o povo a permanecer fiel e obediente à
vontade de Deus” (CRABTREE, 1947, p. 16), isto porque mais do que qualquer
pessoa ou líder, os profetas compreenderam exatamente os perigos que
cercavam o povo de Deus, que embora tão abençoado, era bem pequeno,
quando comparado às nações inimigas. Todavia, não apenas conheciam
o tamanho do perigo, mas tinham uma doutrina coerente e sólida, a
partir da qual conseguiam ser “portadores da mensagem de esperança
da vitória do reino de Deus sobre todos os seus inimigos” (CRABTREE,
1947, p. 17). Eles ensinavam ao povo sua própria história, os princípios
divinos extraídos da Lei dada por Deus ao seu povo e, consequentemente,
“grandes verdades sobre o caráter de Deus” (CRABTREE, 1947, p. 19).
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E a figura do falso profeta? Embora seja tão comum nos dias de hoje
e no Novo Testamento, o Antigo Testamento não usa esta terminologia,
mas o reconhece como sendo aquela pessoa que diz falar em nome de
Deus, mas não o faz. Por exemplo, em Dt 18.20-22, Deus manda matar
o profeta que disser que falou em seu nome e não o fez. Mas, como
reconhecer este tipo de agente que se diz ser enviado por Deus e não foi?
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Ainda, segundo este mesmo autor, havia três grandes temas que
norteavam e serviam de baliza para o olhar dos profetas: o monoteísmo,
a eleição e a missão do povo entre as nações. O que levava os profetas
a se verem responsáveis por relembrar a história e transmitir a grande
mensagem de que: a) Deus é único e, consequentemente, é o Senhor
absoluto, assim, nada ocorre sem ser de seu agrado; b) Quando Yavé
fez uma aliança com Israel, não significava que as demais nações foram
excluídas de seus planos, tampouco que Israel poderia viver de qualquer
forma, como se fosse um “filho mimado”, pelo contrário, se pecassem
contra Deus, seriam castigados, mas não para sua própria ruína, mas
com o intento de se arrependerem de seus maus caminhos; c) Deus não
escolheu Israel para que tirasse proveito próprio; antes, como um bom
servo de Yavé, deveria levar a bênção e o conhecimento de seu Deus às
outras pessoas e nações.
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#Pracegover: A imagem
mostra uma pintura com um
homem dormindo e dois anjos
estendendo a mão sobre sua
cabeça lhe conduzindo os
sonhos.
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Davis (1996, p. 570) nos lembra que nem todo sonho tem uma
mensagem especial ou é algo comum e cotidiano, como os citados por
Jó 20.8 e Sl 73.20. Todavia, quando utilizados por Deus, eles podem: a)
afetar o ânimo das pessoas, como em Jz 7.13-15 que narra os midianitas
aterrorizados com o sonho que um deles teve e, por outro lado, Gideão se
sente confortado, com o mesmo sonho; b) instruir as pessoas, como no
caso em que Abimeleque foi orientado em como proceder com relação
a Abraão (Gn 20.2-3) ou Nabucodonosor (Dn 2.1,4,36) e o próprio Daniel
(Dn 7.1); c) servir como mensagem profética, anunciando algo que irá
acontecer. Os maiores exemplos desta última categoria estão com
José e Daniel, narrados respectivamente em Gn 41.16 e Dn 2.25-28,47.
Davis ainda nos lembra que quanto mais rara era a revelação especial
de Deus, maior a quantidade de sonhos sendo utilizados como meios de
sua manifestação e orientação. E, assim, como havia recomendações
para os que profetizavam falsamente, Dt 13.1-5 também recriminava os
sonhadores ou seus intérpretes que usassem esta técnica para proceder
de modo leviano.
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momento seu subconsciente conseguia captar algo que sua mente “sã”
não conseguiria. Quando retornava a si, sabia diferenciar as duas coisas,
mesmo que não a compreendesse por completo (Cf. Dn 8.27). O mais
comum era um profeta entrar em transe por estar muito tempo sem se
alimentar, como ocorreu com Daniel (10.2-4), mas também podia ocorrer
de o êxtase acontecer sem um motivo aparente, como em Dn 7.15 e II Rs
8.11 ou causado especificamente pelo Espírito de Deus (I Sm 19.23-24).
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A sexta forma de Deus revelar seus planos é por meio de sua voz, como
trovão. Embora a palavra hebraica kol possa significar voz e som, quando
relacionada a este tipo de revelação geralmente é uma fala mais “subjetiva”,
por exemplo, como no caso em que Deus falava com Moisés no Monte Sinai,
mas o povo só ouvia o barulho dos trovões (Êx 19.16-19). Outros textos como
Jó 37.4-5 e 40.9 e o Salmo 29 mostram a grandeza divina e sua predileção
em se comunicar por meio dos trovões. Teologicamente, a comparação
da voz de Deus com a de trovões é uma figura de linguagem para mostrar
o quão profunda, impactante e clara é essa voz, além de declarar seu
poder e majestade. Obviamente, você já deve ter notado que este uso não
nos ajuda muito a compreender como era de fato o falar de Yavé. Mesmo
porque, enquanto para o profeta era algo nítido e certeiro, para as demais
pessoas era simplesmente um som barulhento e quase insuportável.
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Para uma melhor compreensão dos termos, toda vez que lermos
as seguintes expressões “e veio a palavra do Senhor” ou “e disse Deus”,
o melhor seria interpretá-las da seguinte forma: “e veio a revelação do
Senhor”, ou “e comunicou Deus”. Afinal, volto a enfatizar que a intenção do
texto bíblico não era descrever como a revelação foi obtida (pela fala ou
pelo dizer), pelo contrário, são expressões genéricas que enfatizam muito
mais quem agiu do que como foi sua ação.
Aqui, resta-nos ainda esclarecer que por maior que fosse qualquer
uma destas formas de revelação escolhida por Deus para se revelar ao
seu servo, a revelação divina sempre foi gradual, progressiva e nunca em
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ali mesmo interpretou e disse seu significado para o rei (Dn 5.17-28), ou
Jonas que gritava pela cidade sua pequena frase de condenação (Jn 3.4);
dentre outros exemplos que mostram os mensageiros de Yavé falando
diretamente sua mensagem a quem de direito.
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Quando falo que Jeremias era o que mais escrevia, digo isto
me referindo à sua apresentação imediata; pois muitos outros também
escreveram ou tiveram suas mensagens escritas, algum tempo depois de
ela der sido pronunciada a seu público-alvo. Como Jonas, por exemplo, que
tem uma escrita muito depois do acontecido. Quanto a esta importância
de se escrever a mensagem, de imediato ou algum tempo depois, Zimmerli
(citado por SICRE, 2008, p. 174) nos aponta pelo menos três razões para
as quais isso ocorria: a) para ficar ainda mais impregnada, pois além de
ouvir a mensagem, o ouvinte poderia depois olha-la e lê-la; b) para servir
de testemunho de que a desgraça ocorrida poderia ser evitada, caso os
ouvintes se arrependessem; c) para causar um impacto ainda maior, como
se estivesse sacudindo os ouvintes, uma vez que era escrita.
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por Hananias (Jr. 27.1-12); e) a ida de Ezequiel para o deserto (Ez 12); f) a
ordem para Ezequiel não ficar de luto pela morte da esposa (Ez 24.15-27);
g) a confecção de duas coroas por Zacarias (Zc 6.9-15), entre outros casos.
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Nosso foco, aqui, é falar não sobre os profetas e suas mensagens em si,
mas enfocar o texto escrito e, principalmente, a estrutura por trás desse texto.
Quando estudamos e lemos os livros proféticos, percebemos que certas
profecias acabam se parecendo umas com as outras. Em outras palavras,
parece haver certo padrão ao se relatar determinados tipos de mensagens.
Quanto a isso, Sicre (2008, p. 102) nos diz que as principais fórmulas proféticas
podem ser enquadradas em dois grupos distintos. Um que enfatiza que
a mensagem chegou ao profeta por meio de sua interpretação e outro que
evidencia que a palavra é de Deus e não do profeta. Ele dá como exemplo,
na primeira categoria, as 233 vezes em que aparecem as expressões do tipo:
“veio a palavra do Senhor” ou “disse o Senhor”.
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“fala o Senhor”. Todavia, não me parece ser algo tão distinto e claro assim.
Acredito muito mais que estas duas formas de fórmulas especiais em
vez de se distinguirem se complementam. Ou seja, nestas 1133 vezes em
que uma destas afirmações aparecem, a intenção dos profetas é muito
clara em declarar que “a palavra transmitida não é ocorrência pessoal,
nem fruto das ideias próprias, mas palavra de Deus.” (SICRE, 2008, p. 102).
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Síntese do Capítulo
Neste capítulo você viu algumas definições importantes sobre o
profeta e sua mensagem. Ele não é como os magos que procuravam
manipular seus deuses, muito pelo contrário, como servos que são,
procuram estar atentos àquilo que Yavé os revela. Tiveram seu surgimento
quando os líderes deixaram de comunicar e ensinar o povo acerca dos
desígnios divinos e quanto maior era o distanciamento do povo de seu
objetivo inicial, mais enfáticos eram os profetas em alertá-los.
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2. Deus não Tolera a
Pecaminosidade: um Panorama
aos Profetas Oséias, Amós e
Miquéias
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O envolvimento do profeta foi tão grande que até os seus próprios filhos
fizeram parte da mensagem. Eles se chamavam Jezreel (Os 1.4), Lo-Ruama
(Os 1.6) e Lo-Ami (Os 1.9), significando literal e respectivamente: Carnificina,
Sem misericórdia e Deserdado. Isto porque, ao perguntarem o nome das
crianças e ouvirem o som de seu significado, Israel deveria estar atento ao fato
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de que o julgamento divino estava bem próximo e que traria muita destruição,
sem qualquer misericórdia porque Deus havia rompido os laços filiais com
seu povo. Com estes três nomes, Deus estava dizendo que não reconhecia
mais Israel como seu próprio povo e por isso estaria castigando de forma
extremamente severa sem qualquer tipo de misericórdia.
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amor de Yavé, que faz tudo ao seu alcance para resgatar e reavivar o
relacionamento com seu povo.
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tarde apoiada por Thiele (citados por SICRE, 2008, p. 252). Todavia não dá
para afirmar sua veracidade porque entre os textos poéticos também era
muito comum o uso de nomes diferentes, como sinônimos, sem pensar
em qualquer distinção entre si.
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Sim, Amós não era do Norte, ele era de Judá, da cidade de Tecoa
(Am 1.1), ela ficava “há uns dezessete quilômetros ao sul de Jerusalém”
(SICRE, 2008, p. 244) e, principalmente, não pertencia à chamada classe
profética (II Rs 3.4; Am 7.14). Embora não haja nenhuma referência bíblica
para este uso, mas diante do fato de que o profeta anterior teve toda sua
vida usada como mensagem dramatizada, torna-se, no mínimo, curioso
que a cidade de Tecoa era considerada, segundo Gusso (2017, p. 51), “um
lugar de se tocar a trombeta de alarme (Jr 6.1)”.
Talvez por isso este profeta tenha sido tão enérgico em suas
palavras, que embora poucas, menos de duas mil, no livro todo, produzem
um impacto tão grande que ainda hoje, dentre os profetas, é o mais
estudado. Principalmente porque sua mensagem continua tão atual
quanto o jornal desta manhã. Suas críticas contra a injustiça, a corrupção
e a favor de uma religião verdadeiramente capaz de unir o eterno com o
dia a dia daquele que se diz adorador, continua essencial e extremamente
relevantes ainda hoje.
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I – Am 1.-2 Prólogo;
II – Am 1.3-2.16 Profecias de proclamação de castigo para Israel e
as nações vizinhas;
III – Am 3.1-6.14 Sermões contra a Infidelidade do povo;
IV – Am 7.1-9.10 Descrição de cinco maneiras que mostram a
indiferença e oposição de Israel contra o Senhor;
V – Am 9.11-15 Promessa de restauração, caso haja arrependimento.
Aqui também é interessante destacar a grande relação entre a
profecia de Amós e as questões morais expressas no pentateuco. Para
isso, apresentaremos tais informações, em forma de quadro, para uma
melhor visualização:
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um símbolo da morada divina, mas ele de fato habita entre o seu povo,
desde que este de fato viva a sua palavra.
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Fazer parte do povo escolhido por Yavé não significa apenas privilégios,
antes, tem muito mais uma característica de responsabilidade direta e
indireta. Pois, enquanto vai se vivendo de forma a cuidar de si mesmo e,
simultaneamente, a agradar a Deus, também vamos fazendo com que o
seu nome seja conhecido em toda a terra, como nosso testemunho.
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Legenda: EYCK, Hubert van. Altar da Ovelha Mística – Profeta Miquéias (original: Altar
of the Mystical Lamb – Prophet Micah). Entre 1426-1432. Retábulo. Nashville, TN,
Estados Unidos da América. Coleção: Art in the Christian Tradition (Vanderbilt University).
Disponível em: http://diglib.library.vanderbilt.edu/act-imagelink.pl?RC=48723. Acesso
em: 14 jan. 2021. Domínio público.
#Pracegover: A imagem mostra um homem olhando para baixo com um livro ao seu lado
e uma faixa acima de sua cabeça com dizeres em latim.
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seu extermínio e, a julgar pelos relatos históricos, embora Judá não tenha
sido dizimada pelos Assírios, como foram as tribos do Norte, dezenas
de suas cidades foram destruídas e a queda da grandeza adquirida por
Uzias foi gritante. Ou seja, mesmo que Judá não tenha sido totalmente
devastada, ela foi de forma terrível e vergonhosa, o que não tiraria o crédito
e a destreza de tal profecia.
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de o povo não querer a Deus, o Senhor estará sempre com aqueles que o
invocarem (Mq 2.13). Aqui, as palavras rei e senhor se referem à mesma
pessoa, ao próprio Yavé, que estaria no meio do próprio povo.
Por fim, convém lembrar mais uma vez do constante uso de paralelos
e sinônimos pelo profeta. Como fazer-se calvo e tosquear-se (Mq 1.16);
Jacó, Israel, Jerusalém e Sião (Mq 3); Assíria e Ninrode (Mq 5.6); perdoar/
esquecer e pecado/transgressão (Mq 7.18). Chamamos especial atenção
para esta última citação. Normalmente, este versículo tem sido utilizado
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Síntese do Capítulo
Neste capítulo aprendemos que Deus tem aversão imensa contra
todo e qualquer tipo de pecado. Quando o pecador é arrogante, parece
que o deixa ainda mais indignado. Todavia, da mesma forma que sua fúria
é imensa, sua benignidade também o é. Yavé sempre se mostra disposto
a perdoar o pecador contrito e arrependido. Neste capítulo, também
conhecemos um pouco sobre a história de três profetas que tiveram um
papel de extrema importância na exposição do pecado de seu próprio povo
e das nações vizinhas. Foram eles, Oséias, Amós e Miquéias. Escolhidos
e arrolados neste primeiro grupo porque a mensagem e a ênfase dos três
foram bastante parecidas.
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assim como um leão não vacila em seu território, o Senhor trará a juízo
os perversos. Isto é tão forte que só se passaram cerca de três décadas
após o final do ministério de Oséias, e, talvez, umas duas décadas a mais,
depois das palavras de Amós, para Israel, tão altivas e soberbas em sua
ganância e corrupção, cair ao ponto de nunca mais se poder reconhecer
quem são os descendentes de suas tribos.
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3. O Profeta como um Ser
Humano e Emocional: um
Panorama sobre os Profetas
Obadias, Jonas e Naum
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Como você deve lembrar, aqui não se segue a ordem bíblica. Eles
foram agrupados a partir desta temática em comum. Se você já os leu
provavelmente deve ter tido a sensação de que o amor cristão passou
longe do coração e das palavras destes três profetas. Alguns são tidos
como iracundos, vingativos e prontos para se alegrar com a desgraça
alheia. Definitivamente, nenhuma atitude considerada cristã.
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Por outro lado, Yavé sempre permitiu que seus filhos o procurassem
e, principalmente, abrissem seus corações, expondo o que realmente
estavam pensando. Desde que se deixasse ser enchido pela presença
divina. Assim como faz Habacuque, que será estudado no capítulo
seguinte, nos dá um ótimo exemplo neste sentido: ele fica em sua torre
de vigia, seu lugar escolhido para se relacionar com Deus e lá, diante de
Deus, expõe sua inquietação e lá, diante de Deus, continua em adoração
aguardando por uma resposta que possa acalmar a sua alma.
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precisavam ser punidos ali, na hora e, muitas vezes, de forma tão cruel,
aos nossos olhos, mas sem nunca perder o senso de justiça divina.
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tivesse muito presente em sua vida e teologia a lei do talião, seu livro
mostra a luta dele contra Deus, simplesmente porque não queria que
Nínive fosse poupada. Precisamos lembrar que Jonas viveu cerca de 120
anos antes de Naum, por isso Nínive, aqui, está sendo poupada e no livro
de Naum ela havia sido destruída.
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Por esta razão, mesmo que num primeiro momento sua leitura
possa passar a ideia de um júbilo pela desgraça alheia ou que Deus é tão
poderoso que até dá dicas de como será a destruição da cidade de Edom,
tradicionalmente tem sido aceito que o real objetivo desta obra é advertir
os descendentes de Esaú, além, é claro, de também relembrar a Judá que
a justiça pertence a Deus e Ele agirá punindo as maldades praticadas,
mesmo que o praticante seja um povo bem seguro e poderoso.
Por esta razão temos para o livro de Obadias, embora tão curto,
pelo menos três grupos bem distintos de objetivos principais e seus
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Sua região, hoje, é muito conhecida por conta dos estudos atuais da
arqueologia acerca da deslumbrante cidade de Petra e suas construções
esculpidas na rocha. Ela é a capital dos nabateus, edificada sobre a
cidade de Seir, depois que os árabes conquistaram a região por volta do
ano 312 a.C. A Petra como conhecemos hoje foi construída três séculos
mais tarde, durante os dois primeiros séculos da era cristã (https://www.
nationalgeographic.com/history/article/lost-city-petra).
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pecado de vanglória estava ainda o fato de, por conta da antiga rivalidade
entre os irmãos Esaú e Jacó, estendida a seus descendentes, os edomitas
auxiliaram algum povo inimigo enquanto estes estavam atacando os
habitantes de Jerusalém, capital de Judá.
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Referência
Período (a.C.) Rei de Israel Invasor além dos edomitas
bíblica
848-841 (845) Jeorão Filisteus e árabes. II Cr 21.8-17
Amazias derrota os edomitas,
796-767 (790) Amazias II Cr 25.11-24
mas é vencido por Jeoás.
732-716 (597) Acaz Filisteus e assírios. II Cr 28. 16-21
Babilônios, sob o domínio de
597 Joaquim II Rs 25.1-12
Nabucodonosor.
Babilônios, sob o domínio de
597 a 586 (586) Zedequias II Cr 36.11-21
Nabucodonosor.
FONTE: Elaborado com base nos dados de Halley (1970, p. 322) e Coelho Filho (2004, p. 117).
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O verso dois continua muito atual. Deus não tolera o orgulhoso e, a seu
determinado tempo, o Senhor o humilhará, dando-lhe a devida retribuição
para sua atitude altiva e prepotente. Num dia, Edom era imbatível e
impenetrável, orgulhoso por até mesmo ocupar ou se aproveitar das posses
de Judá, mas pouco tempo depois não restaria nada de sua morada.
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Algumas versões bíblicas não mostram, mas o verso oito possui duas
perguntas retóricas. Mas outras ainda as mantém: “Acaso não acontecerá
naquele dia, que eu, o Senhor, farei perecer os sábios de Edom? Retirarei
o entendimento de Edom?”. Não significa que Deus estava na dúvida.
Pelo contrário. Lembremos que toda pergunta retórica serve muito mais
como uma declaração enfática porque, automaticamente, ela mesma dá
uma resposta afirmativa. Uma resposta implícita e, às vezes, oculta, mas
totalmente afirmativa.
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também que, por conta desta dificuldade do povo de entender este domínio
divino global, muitos teólogos acabam achando que dos versos quinze ao
final de Obadias deveria ser do período pós-exílico porque estaria em maior
sintonia com a compreensão teológica do povo como um todo.
Mesmo que seja tratado de forma tão curta, o dia do Senhor, aqui
em Obadias já é passivo de ser visto com um dia com um quádruplo
propósito: a) os versos quinze e dezesseis declaram sobre o julgamento
das nações, b) os versos dezessete e dezoito encorajam o povo
prometendo um domínio final para o povo de Israel, c) os versos dezenove
e vinte tratam da restauração do território que pertencia aos hebreus,
d) o último verso declara que o reino será do Senhor. Não podemos ser
ingênuos e acreditar que eles compreendiam isso em sua totalidade,
como nós o temos hoje em dia, mas também não dá para dizer que só
pelo conteúdo tão extraordinariamente novo este trecho foi produzido
após o exílio babilônico.
Por fim, Dillard e Longman III (2006, p. 373) nos lembram que numa
leitura rápida até pode transparecer que os edomitas estariam sendo
punidos de forma muito enérgica. Mas, Obadias propõe muitas associações
com toda a história desde a rivalidade entre o seu ancestral e seu irmão
Jacó. O que hoje seria considerado como intertextualidade, na qual o texto
atual está sendo elaborado em cima de todo um conceito anterior, que se
mantém vívido na memória do povo. Eis alguns destes usos: a) as várias
referências ao nome Esaú (v. 6, 8, 9, 18 e 21) e duas vezes Jacó (v. 10 e
12), assim não se estaria falando apenas de dois povos distintos, mas
de um conflito familiar; b) quando o profeta diz que os edomitas seriam
desprezados (v.2), ele usa a mesma palavra de Gn 25.34.
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se refere à relevância destas palavras. Não importa como foi dito, mas
quem disse e, principalmente, qual o conteúdo desta mensagem que,
como diria Isaías (55.11), “nunca volta vazia”.
Por fim, a maior das lições, não há orgulhoso algum que consiga
subsistir na presença de nosso Deus. Isto é tão verdadeiro e, em mesma
intensidade, tão desprezado que talvez por isso a Bíblia seja muito clara
ao declarar e nos lembrar: Deus galardoa os humildes, mas não tolera
aquele se se exalta (Cf. Pv 3.34, 29.23; Is 2.12; Mt 23.12; Lc 14.11, 18.9-14;
Tg 4.6,10; II Pe 5.5). E, com este lembrete de servirmos a um Deus que
está acima de nossas atitudes, vamos conhecer agora um pouco mais
sobre o livro do profeta Jonas, que como pessoa foi um tanto patética,
mas mesmo assim Deus foi glorificado por meio de sua vida e trajetória.
Jonas de fato foi uma exceção, fugiu de seu chamado e foi desleixado
com sua tarefa. Por conta desta peculiaridade, bem característica a esse
nosso “ator principal”, Lima (2006, p. 379) não o considera como um
livro profético, à altura dos demais. Ela o considera como “sendo uma
narrativa didática, [que] parece ter sido colocado entre os livros proféticos
simplesmente porque seu protagonista recebe uma palavra de Deus, com
missão de anunciá-la.”.
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1 Tradução livre da obra em inglês, com uma pequena distinção: na citação original,
não existe a aspa nas letras da segunda seção poética. Todavia, para seguirmos o nosso
padrão, já conhecido, optamos por sinalizar na tradução.
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Tipo de
Defensor Descrição
interpretação
Jonas foi um personagem real, não há
Narrativa Silas Alves
contrariedade de uma conversão em massa,
histórica Falcão
e Jesus reconheceu a história como real.
Aage Bentzen A história teria sido criada para ensinar
Parábola e Asa Routh a grande lição de misericórdia de Deus a
Crabtree outros povos.
O livro tem muitas narrativas legitima-
Narrativa mente históricas, com algumas partes que
D. F. Payne
parabólica poderiam ser consideradas características
parabólicas.
Uma historinha inventada para provocar no
Historieta Norman K. judeu a reflexão de cuidado antes de sair
satírica Gottwald criando estereótipos ou preconceito em
relação aos demais povos.
Um relato de algo real, mas acrescido de
detalhes extras. Algo bem peculiar à cultu-
História T. Desmond ra hebreia que não se preocupa tanto com
didática Alexander os detalhes históricos, como hoje fazemos,
mas com a intenção maior de se transmitir
um ensinamento teológico.
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2 Convém salientar que Coelho Filho faz esta citação, explicando o pensamento alegórico
de alguns, mas ele mesmo não pensa assim. Mas, como ele não mencionou nenhum possível
nome que defenda esta ideia, em nossa citação só podemos indicar o nome dele.
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Outro fato que não precisamos levar para sua literalidade total é a
declaração de que “Jonas esteve três dias e três noites nas entranhas do
peixe”. O número três para a cultura hebraica é bastante simbólico. Não
precisamos imaginar que tenha passado exatamente 72 horas lá dentro.
Entretanto, não pode significar tão somente alguns minutos ou poucas
horas. Afinal, Jesus aplicou este evento para descrever sua temporada
dentro da sepultura.
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Deus é quem fala iniciando e finalizando a obra (p. 137).O peixe não
deve ser o centro de nossas atenções. Infelizmente acabamos perdendo
nosso foco na mensagem por conta de nossa curiosidade. Ele cita o
exemplo de um comentarista judeu que chegou a defender “que quando
Deus criou o mundo já havia colocado o peixe ali, esperando por Jonas.”
(p. 140).Não podemos deixar de lado nossa missão. Jonas é “um profeta
que não se assume como profeta nem mesmo age como profeta, pois não
quer proclamar a palavra de Yavé.” devemos, nós hoje, cuidar para não cair
no mesmo erro (p. 141).Temos que ser equilibrados em nossas palavras e
ações. Jonas chega a declarar que é hebreu (do povo de Deus) e que teme
a Deus. Mas sua atitude de ir para Társis mostra que não queria obedecê-
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Talvez, por isso, o grande objetivo deste livro seja mostrar que
a paciência de Deus tem limite e jamais deverá ser interpretada como
fraqueza. Se Deus, aparentemente, não faz nada em uma determinada
situação, definitivamente não é por conta de algum tipo de limitação. Por
isso, podemos dizer que o tema central de Naum seria um verdadeiro
alerta contra a arrogância dos povos. Por conta disso mesmo é que não
devemos esperar nenhuma palavra no sentido de se nutrir o amor fraternal
uns para com os outros. Seu contexto é a declaração da manifestação
divina, que está prestes a punir o pecador e, concomitantemente, devolver
a devida honra ao nome santo de Deus.
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Por fim, a maior lição que este livro nos ensina é que não importa
o nosso tamanho, nossas posses, nossa habilidade de fazer aliados,
nossos conhecimentos ou vitórias conquistadas, dentre tantas outras
realizações, possíveis ou imagináveis. Aquilo que Deus falou para seu povo,
pouco antes de eles entrarem na terra prometida, continua valendo pelos
séculos dos séculos: temos à nossa disposição a benção ou a maldição
(Dt 11.26-32). Se escolhermos ser fiéis ao nosso Deus ele graciosamente
nos recompensará, mas se ousarmos seguir outros caminhos sua ira
certamente nos alcançará.
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Síntese do Capítulo
Neste capítulo aprendemos que podemos ser sinceros e abertos
com nosso Deus, nunca deixando de lado o fato de o considerarmos como
nosso Senhor. Infelizmente tem sido cada vez mais comum vivermos
numa certa falsa religiosidade. Achamos que, ou tratamos, Deus como se
fosse nosso coleguinha. Volta e meia nos esquecemos que Deus continua
sendo o Senhor do Universo e, tão somente por conta de sua infinita,
superabundante e incrivelmente maravilhosa graça temos o direito de
sermos chamados de seus filhos.
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de amor para com os inimigos. Cá entre nós, qual discurso teria mais ibope
nos dias de hoje: “sente-se e aguarde a ira de Deus se manifestar” ou “a
qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra” (Mt 5.39).
Qual fala teria uma maior aceitação em nossos corações? Infelizmente
tenho percebido que há muito mais Jonas do que gostaríamos de ver em
nosso dia a dia e, às vezes, corremos o risco de sermos discípulos de
Jesus, em vez de sermos seguidores de Cristo.
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4. A Hora de Prestar Contas:
O Dia do Senhor a partir
dos Profetas Joel, Isaías,
Habacuque e Sofonias
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Não será, pois, o dia do Senhor trevas e não luz? Não será
completa escuridade, sem nenhum resplendor?
Algo que até então era evocado apenas como positivo para com o
povo como um todo, os profetas começam a dar novos esclarecimentos.
Não significa que Yavé só começou a fazer tal distinção agora, com
mais de um milênio de história desde Abraão. O povo é que estava tão
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distante dele e tão cego em seu próprio orgulho que os profetas precisam
explicar de forma tão clara. Afinal, basta uma leitura rápida no livro de
Juízes para perceberemos o nítido desgosto de Yavé para com as atitudes
pecaminosas de seu povo.
Outro profeta que traz uma nova amplitude para o dia de Yavé, é Isaías.
Ele teve seu ministério voltado para as tribos de Judá, em cerca de 740
a.C., e foi contemporâneo dos profetas Amós e Oséias, que profetizaram
contra o norte. Segundo (NIEWÖHNER, 2016, p. 33), ele pega a lembrança
popular da grande vitória dos israelitas contra os midianitas, sob a liderança
de Gideão, e transforma numa imagem vívida do que seria a vitória do dia
de Yavé, como sendo um grande livramento do povo por uma “intervenção
guerreira de Yavé também no futuro, livrando-os e libertando-os dos
inimigos e ameaças externas”, mas numa dimensão nunca vista antes. A
partir deste profeta, o juízo de Deus também passa a ser vislumbrado de
forma universal, para além de uma fronteira aqui ou acolá.
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Expressões
Passagem
traduzidas do Ideia principal
bíblica
hebraico
Os falsos profetas são acusados de não terem
“no dia de Yavé” Ez 13.5 impedido a destruição advinda deste dia de
julgamento.
Virá sobre todas as nações e cada um pagará
“o dia de Yavé” Ob v.15
por seus pecados.
Jamais visto de tão grande e terrível. Todo
“aquele dia” Jr 30.7 povo de Deus sofreria, para que se expurgasse
a pecaminosidade.
Será dia de trevas e destruição total de toda
“aquele dia” Sf 1.15-18
terra.
“aquele dia” Ez 39.8 Dia em que Israel se vingará de seus inimigos.
“naquele dia” Am 2.16
Será uma manifestação contra soberbos,
“naquele dia” Is 2.11
arrogantes e altivos.
Virá contra todos os canaanitas, causando
“naquele dia” Sf 1.9,10;
grande choro e tristeza.
“naquele dia” Sf 3.11 Dia de extinção dos arrogantes.
“naquele dia” Sf 3.16 Dia de alegria e júbilo para os justos.
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QUADRO 08: Principais pontos para as duas datas mais aceitas para
Joel
Indícios que apontam para uma data Contrapontos que continuam apoiando
mais recente (400 ou 325 a.C.) uma data mais antiga (837 a.C.)
Não é mencionado nenhum rei A preeminência de assuntos sacerdotais
no poder, como nos demais livros pode ser porque Joiada é quem liderava,
pré-exílicos. enquanto era o tutor do rei Joás.
O reino do norte não é mencionado O profeta escreve para o sul e por isso
no livro. não precisa mencionar o norte.
O termo “Israel” poderia aqui ser usado
O profeta usa a palavra Israel para se
como descendentes de Jacó e não
referir à tribo de Judá.
como uma descrição de qual tribo seria.
“Rasgar o coração e não o vestido” é um
O ritualismo é mais enfatizado do
apelo elevado a uma ética para além dos
que a ética.
rituais.
Pode ser pela mesma razão da primei-
A classe sacerdotal é vista como
ra linha: o sumo sacerdote era o tutor
os líderes, tal qual no período
do rei, até que este tivesse idade para
pós-exílico.
governar.
Não é impossível imaginar que o
comércio entre Tiro e Grécia já tivesse
Jl 3.6 menciona que havia contato iniciado muitos séculos antes. Mesmo
entre os israelitas e os gregos. porque, em Joel, os gregos não são
reconhecidos como nação, mas um
“bando de traficantes de escravos”.
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Ainda, segundo este mesmo autor, embora não tenhamos claro qual
teria sido o momento de sua escrita, o contexto econômico e ecológico é
bastante preciso. O profeta narra uma fome devastadora (HALLEY, 1970,
p. 318). Esta terrível tragédia foi causada por dois (ou três) fenômenos
naturais: uma seca (Jl 1.20), uma invasão de gafanhotos (Jl 1.4), e muito
provavelmente queimadas (Jl 1.19s). Independentemente da época, por ser
uma sociedade dependente da agricultura e do manejo pastoril, qualquer
um dos dois eventos já seriam uma grande catástrofe, quanto mais os dois
juntos. Seria algo realmente destruidor (COELHO FILHO, 2004, p. 60).
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Por fim, eis uma proposta de se dividir o livro em apenas duas partes,
feita por Crabtree:
1.1-2.27 As pragas da locusta e da seca, e a influência do
sofrimento na vida do povo
Dillard e Longman III (2006, p. 353) ainda nos alertam para o fato
de as canções escritas pelo nosso profeta serem muito parecidas com
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Joel 1.4 trabalha sobre a praga dos gafanhotos. O que tem gerado
muita controvérsia são as quatro palavras utilizadas no hebraico.
Normalmente, a palavra mais utilizada para se referir a um gafanhoto é
arbeh. Mas, por conta deste acréscimo de outras três palavras, segundo
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Literal com
Alegórica Apocalíptica Literal
aplicação
Os gafanhotos
Como a destru-
seriam a repre- A descrição do
ição relatada pelo
sentação militar capítulo 1 seria
profeta, bem como
dos inimigos. uma invasão literal
As locustas a restauração,
Como não dos gafanhotos,
do primeiro ficou limitada à
sabemos exata- ocorrida nos dias do
capítulo seriam vida das plantas,
mente quando povo (v. 11, 12, 16),
criaturas ambos os capítulos
ocorreu, a mas a descrição
apocalípticas trabalham evento
locusta poderia do capítulo 2 seria
e símbolos natural: uma terrível
significar os uma analogia com
de exércitos nuvem de gafan-
egípcios, os as invasões que
dos fins dos hoto, com quatro
babilônios, os Yavé estaria provi-
tempos. E as tipos diferentes ou,
assírios ou os denciando no Seu
do capítulo 2, o que seria mais
gregos. Outros dia. A partir de uma
simbolismo provável, com os
não especifi- catástrofe natural, o
da catástrofe quatro estágios da
cam a origem, povo estaria sendo
futura. vida deste inseto:
mas atribuem preparado para um
a larva, a ninfa e o
a invasores em julgamento bélico
inseto ainda jovem
vários períodos tão terrível quanto.
e a vida adulta.
da história.
FONTE: Criação nossa, a partir das informações de CRABTREE, 1971, p. 23.
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Em Joel 1.5, continua sendo uma palavra direta aos líderes do povo,
que se achavam acima dos demais. O profeta está esclarecendo que eles
precisariam estar alertas. Afinal, esta era a função do líder: cuidar do povo,
mas principalmente porque eles também sofreriam com a praga. Mesmo
porque não há como fazer vinho se não houver uvas para a colheita.
Joel 1.15 faz sua primeira declaração acerca do dia de Yavé. Segundo
Gusso (2017, p. 44), neste pequeno livro são citadas cinco das dezesseis
vezes que a expressão é usada em todo o AT. Certamente, simbolizando a
grande importância deste tema para o profeta. E teria duas interpretações:
castigo para o povo de Deus, que estava em pecado, e “em seguida, após o
arrependimento, como dia de livramento para os fiéis, castigo e vingança
para os inimigos da nação”.
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Por fim, convém registrar que, como resumo geral acerca do dia
de Yavé, segundo o ponto de vista do profeta Joel, é que este dia vem
depressa e será dia de destruição (1.15), “dia de trevas e de escuridão”
(2.2), “é grande e terrível” (2.11,30), dia de transformação e livramento
para “todo aquele que invocar o nome do Senhor” (2.28,32), e ainda, como
destaca Kunstmann (1983, p. 55), será “dia de juízo para os incrédulos e
como dia de glória para os seus crentes”.
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Por fim, convém, ainda nos dias de hoje, ressaltar a grande verdade
iniciada em Joel 2.32, e escancarada em todo Novo Testamento. A salvação
é por meio da graça divina. A salvação prometida pelo profeta era a partir
de uma invocação genuína ao nome do Senhor. Ou seja, mesmo vivendo
num período em que os rituais e cerimoniais eram muito presentes e até
indiscutíveis, o profeta deixa claro que o povo podia ser salvo tão somente
se invocassem ao Deus verdadeiro. Isso nos faz lembrar as palavras de
Smith (2001, p. 127-131), que Israel foi eleito por Deus antes mesmo de
as tábuas da lei serem entregues. Todavia, tal escolha não pode ser vista
como sinônimo de liberdade total. Mesmo porque em toda eleição está
implícita um chamado ou missão.
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Da mesma forma não dá para dizer que ele seria o resumo de toda
a Bíblia, só porque tem exatamente sessenta e seis capítulos, a mesma
quantidade de livros encontrados na Bíblia toda (juntando AT e NT). Isso foi
mera coincidência. Mesmo porque a divisão dos livros na língua hebraica
era outra. Por exemplo, o que temos como doze livros relacionados aos
profetas menores: dois livros relacionados a Samuel, dois sobre os Reis
e dois para Esdras e Neemias, para a versão hebraica antiga, cada grupo
destes era considerado um único livro.
visaodeisaiasfilhodeamozqueeletevearespeitodejudaejer�salemnosdiasdeuzias
jotaoacazeezequiasreisdejudaouvioceusedaouvidosoter�aporqueosenhorequem
falacrieifilhoseoseng�andeci...
Sem pontos, acentos, sem espaço, indo assim até o final do livro.
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seis capítulos não é tarefa tão difícil. O problema tem início quando se
começa a perguntar se o conteúdo dos capítulos foi, de fato, escrito por
um mesmo autor. Isso porque os capítulos 40-66 acabam tendo um
linguajar um pouco diferente e uma mensagem mais característica sobre
esperança. O que a tradição justificaria dizendo que isso teria ocorrido
pelo longo período de ministério do profeta. Se for assim, ele teria escrito a
parte inicial mais no início de seu chamado e a parte final mais para o fim
do seu chamado, sem contar que há muito mais palavras que aparecem
nas “duas partes” do que vocábulos distintos.
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3 Este quadro foi criado a partir da tabela apresentada pelos autores citados. Com
duas diferenças básicas: eles chamam de abordagem bipartida de Isaías e, em vez de
usar as letras em maiúsculo, sinalizam cada seção com números de 1 a 7.
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Por fim, e talvez o maior destaque quanto a este aspecto, mesmo sendo
um profeta fruto de sua época, mensageiro direto de seus conterrâneos,
o profeta Isaías é o que mais profecias possui que podem ser aplicadas
diretamente na vinda do Messias. Que, como já mencionamos anteriormente,
é quando o dia de Yavé, de fato, se inicia sobre a face da terra.
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Quando Isaías anuncia sua profecia, também o faz para Judá, mas
o faz sob a ótica da corte e, principalmente, quando as tribos do norte
ainda existiam. Agora, Habacuque está percebendo que o julgamento
de Yavé está cada vez mais próximo, o que, poucos anos mais tarde,
virá a ser conhecido como o cativeiro babilônico. Assim como Oséias e
Amós foram decisivos, como os últimos profetas para as dez tribos de
Israel, Habacuque, Sofonias (o profeta ser estudado na próxima seção)
e Jeremias (que será estudado no livro sobre os profetas exílicos) são os
últimos profetas enviados para chamar o povo ao arrependimento. Mas,
como os três são ignorados, o julgamento virá na forma de um rápido
domínio sob o Egito e, principalmente, como cativeiro sob o domínio o
império de Nabucodonosor, rei da Babilônia.
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Isso sem dúvida tem a ver com sua performance como poeta, de grande
qualidade que era. Sua habilidade de estar atento ao mundo ao seu redor,
aos grandes feitos divinos ao longo da história, associada à sua capacidade
poética de estrutura, o ajudou a chegar a este desfecho tão significativo.
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De fato, uma verdade mais do que clara e muito presente em seus dias.
O profeta Oséias já havia dito, de forma semelhante, por meio de um provérbio:
“certamente, os que semeiam vento, colherão tufão” (Os 8.7). O apóstolo Paulo
também concordava com tal filosofia. Tanto que, quase setecentos anos
mais tarde, vem destacar: “Não vos enganeis: Deus não se deixa escarnecer.
Portanto, tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7).
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O profeta ironiza (Sf 1.18) dizendo que o dinheiro não servirá para
nada. Isso porque os poderosos tinham a ilusão de que seu poder resolvia
e comprava tudo. Certamente um ensinamento ainda muito importante
para os dias de hoje. Ainda hoje e, às vezes, até dentro da igreja, há pessoas
que acreditam que estão isentas de qualquer tipo de prestação de contas.
Pior, agem como se seu poder, dinheiro ou status pode resolver e livrá-los
de qualquer situação.
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Data provável da
Nome Significado do nome Para quem
atuação (a.C.)
Isaías “Yavé salva” entre 740 e 687 a respeito de Judá
Oséias “Ajuda” ou “Salvação” entre 750 e 725 contra Israel
aos anciãos da
Joel “Yavé é Deus” 837 ou 400
terra (12 tribos)
Amós “Carga” ou “Carregador” entre 762 e 757 contra Israel
Obadias “Servo de Yavé” 845 ou 587 contra Edom
Jonas “Pomba” entre 781 e 753 contra Nínive
“Quem é como Yavé?” com o
Miquéias sentido de: “Não há ninguém entre 740 e 722 contra Judá
como Yavé”
Naum “Conforto” ou “Confortador” entre 663 e 612 contra Nínive
Habacuque “Abraço” entre 625 e 598 a respeito de Judá
Sofonias “Yavé me esconde” entre 639 e 622/1 a respeito de Judá
FONTE: O autor, 2021. (Construído a partir de: GARDNER, 1999; GUSSO, 2017; BÍBLIA
SAGRADA, 1990.)
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Síntese do Capítulo
Neste capítulo, aprendemos que Yavé é um Deus Zeloso, que está
sempre disposto a cuidar dos seus, mas que de igual modo não tem
favoritismo quando o assunto é pecado. Sua grandeza e pureza não
permitem que ninguém seja poupado das consequências tão terríveis
do pecado. Nem mesmo seu próprio povo. No começo deste período
conhecido como pré-exílico, os dois estados ainda existiam. O povo de
Deus estava dividido, não somente territorialmente, mas também em
suas ações. Israel sempre se mostrou pouco mais contumaz e obstinado
em não seguir os caminhos de seu Deus. Judá, por outro lado, começou
um pouco mais propenso a ser fiel à aliança com Yavé.
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Referências
ARCHER JÚNIOR, G. L. Merece confiança o Antigo Testamento?
Panorama e introdução. São Paulo: Vida Nova, 1986.
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163
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SICRE, José Luis (Org.). Os profetas. 2. ed. Tradução de: SILVA, José
Afonso Beraldin da. São Paulo: Paulinas, 2007.
SICRE, José Luis. Los dioses olvidados: poder y riqueza em los profetas
preexílicos. Madrid, 1979.
STOTT, John R. W. O perfil do pregador. 1. ed. São Paulo: Vida Nova, 2005.
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