Hoje rezamos com profunda piedade a paixão de Nosso
Senhor Jesus Cristo. O primeiro ponto a se destacar é o seguimento dos discípulos no seu esvaziamento por amor a todo mundo, por amor a cada um dos homens por Ele amado. Neste momento Jesus trava uma luta intensa em que está sozinho, uma luta pela salvação de toda a humanidade, dando sim ao Pai, concretizando sua missão de dar esse sim total e definitivo em nome de toda a humanidade. Após a ceia, Jesus se retira para rezar com seus amados discípulos e eles acabam adormecendo, cedendo ao cansaço. Jesus neste momento sente o peso da solidão, ali ele compreende a dificuldade de se encontrar sozinho, tentando não, uma, nem duas, mas três vezes fazer com que seus discípulos estivessem com ele naquele momento, mas eles permanecem rendidos ao sono. Jesus sente o peso dos pecados de toda a humanidade, sente o peso da natureza humana que se corrompe com toda a mancha do pecado e tem uma ruptura com o Pai que está nos céus, o menosprezo do carinho de deus. Na narrativa de São João, quando o soldado trespassa o lado de Jesus, emergem sangue e água, dirigindo a nossa atenção para o seu coração e suscitando a contemplação do seu amor, fonte de onde brotam todos os mistérios da salvação. Este amor abrange as promessas do Antigo Testamento, as mensagens proféticas e representações simbólicas dentro da lei, a intervenção divina na vida do povo escolhido de Deus, a manifestação de Deus em forma humana, a totalidade da vida de Jesus, seus ensinamentos e, em última análise, sua morte sacrificial. A abertura no lado de Jesus pode ser comparada a uma fonte que alimenta o paraíso terrestre, lembrando as diversas fendas nas rochas que forneciam água para saciar a sede dos israelitas. Através desta ferida tão específica e impactante, ganhamos acesso às profundezas do coração de Jesus, permitindo-nos compreender mais plenamente a imensa extensão do amor que Cristo nos concedeu. É dentro deste amor profundo que compreendemos o motivo e o objetivo que seguem a cada ato divino: Deus nos trouxe à existência, libertou-nos do perigo e separou-nos para a santidade, tudo por um amor pleno e gratuito. Nas profundezas do coração de Jesus, a essência divina cobre o nosso ser, revelando-se na sua forma mais perfeita e completa. Toda angústia e aflição encontram seu ápice neste coração sagrado, transbordando em abundância. Mergulhando nas profundezas, exploremos a multidão de aflições suportadas pelos corações mais ternos: os insultos, as difamações, as traições, as deserções, as rejeições. Toda agonia converge para este Coração, extravasando seus limites. Ele experimentou todos eles, santificando cada um. Diante de nossas dolorosas tristezas, por mais intensas que sejam, devemos depositar nossa confiança na empatia e na bondade deste Coração, que escolheu acolher nosso sofrimento para demonstrar ainda maior compaixão e misericórdia. A abertura do Coração do Senhor nos relembra constantemente seu amor, a sua generosidade, cada momento de angustia e sofrimentos passados por Ele em nome da justiça, da paz e da igualdade para todos, mas sobretudo, pelos nossos pecados. Que ofereçamos em troca tamanha entrega a mais sincera gratidão, a compaixão, testemunhando esse espírito que por ele foi deixado a cada um de nós para perpetuarmos a sua presença salvadora no meio dos homens. Que assim seja, amém!