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Leão Dehon

ANO COM O SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

Volume II

Abril – Maio – Junho

Tradução do P. José Jacinto Ferreira de Farias MÊS DE


pureza de S. João era admirável e encantava particularmente o Coração de Jesus. João também
amava Maria, tinha por ela uma profunda veneração. Se os apóstolos do Sagrado Coração
querem que Maria seja sua mãe, que eles lhe testemunhem o seu afecto e a sua confiança. Ela
será a sua conselheira em todas as suas obras, a sua guia em todos os seus empreendimentos e
sobretudo a grande obreira da sua santificação. Para lhe testemunharmos esta confiança,
havemos de considerar que ela esteve misturada em todas as acções de Nosso Senhor: em
Belém, prodigaliza-lhe os seus cuidados; em Nazaré, está unida a todos os pormenores da sua
vida íntima e escondida; dá com ele o exemplo de todas as virtudes: a pureza, a humildade, a
calma inalterável da alma, a pobreza nobremente suportada; está associada também às dores da
sua Paixão: para o seguir no Calvário, é preciso aí acompanhar a sua mãe.
Resoluções. – Ó Maria, consagro-me a vós para sempre. Quero no começo de cada dia,
de cada acção, ir a vós /606 primeiro e por vós a Jesus. Aceitai-me como vosso servo, vosso
discípulo, vosso filho, vosso S. João. Conduzi-me ao Coração de Jesus e ao seu amor.
Colóquio com Maria.

MÊS DE JUNHO
MÊS DO SAGRADO CORAÇÃO E DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO
Duas meditações para o retiro do mês
I.VIDA DE CARIDADE, A EXEMPLO DO SAGRADO CORAÇÃO
8 Qui non diligit non novit Deum quoniam 8 Aquele que não ama não conhece a
Deus caritas est 9 in hoc apparuit caritas Dei in Deus, pois Deus é amor. 9 Nisto se manifestou o
nobis quoniam Filium suum unigenitum misit Deus amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o
in mundum ut vivamus per eum (1Jo 4, 8-9). seu Filho unigénito ao mundo, para vivermos por
meio dele (1Jo 4,8-9).
Primeiro Prelúdio. – Verei o Coração de Jesus no Santíssimo Sacramento, todo inflamado de
amor pelo seu Pai e todo radiante de amor pelas suas criaturas.
Segundo Prelúdio. – Divino Coração de Jesus, comunicai-me um pouco do vosso amor: infunde
amorem cordibus.
PRIMEIRO PONTO: Amar a Deus pelo Coração de Jesus. – O amor do Coração de
Jesus pelo seu Pai é o modelo do nosso amor. Jesus é o corifeu do amor das criaturas por Deus.
Há certamente o amor dos Anjos e de algumas boas almas, mas o que é isto para Deus? Jesus
veio e oferece ao seu Pai um amor digno dele. O seu Pai compraz-se neste amor, disse-o nas
margens do Jordão.
Jesus ama o seu Pai, é a sua vida. Amou-o na sua vida mortal, ama-o na Eucaristia e no
céu. Cumpre sempre o grande preceito: «Amarás o Senhor com todo o teu coração, com toda a
sua alma, com todas as tuas forças».
Entre os homens, Deus é tão pouco amado! Somos ingratos. Esquecemos aquele de
quem temos tudo: a vida, o perdão, a graça, a esperança do céu. E, no entanto, pede-nos o nosso
coração: Praebe, fili, cor tuum mihi. Incapazes de o amarmos bem por nós mesmos, amemo-lo
pelo Coração de Jesus. Este divino Coração pertence-nos, suprirá à nossa impotência. /608
Começarei, portanto, esta vida de amor em união com o Coração de Jesus. Amigo de
Deus, amarei tudo o que me aproxima dele: a oração, o recolhimento, a visita ao Santíssimo
Sacramento, a santa comunhão.
SEGUNDO PONTO: Amar o próximo como o Coração de Jesus e com ele. – O amor
de Jesus pelos homens é o modelo daquele que devemos ter. Quanto Jesus nos amou! Porque é
que o Filho de Deus se fez homem? Porque é que escolheu uma vida de pobreza, de trabalho e
de sofrimento? Por nós e pela nossa salvação! O seu amor é a única explicação dos mistérios de
Belém, de Nazaré, da Agonia e do Calvário. «Amou-me e entregou-se por mim» (Gal 2). Foi
por nós também que quis permanecer na Eucaristia, e por nós ainda que intercede no céu.
Jesus é caridade, como Deus é caridade. – A caridade é também o seu mandamento:
«Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei», diz-nos (Jo 15). - «Se Jesus, diz S. João,
sacrificou por nós a sua vida, devemos também estar prontos a sacrificar a nossa pelos nossos
irmãos» (1Jo 3).
Deus pede raramente um tal sacrifício, mas pede ao menos que pratiquemos a doçura e a
paciência. Devemos mostrar-nos serviçais, sofrer as contrariedades, assistir aos infelizes, rezar
pelos pecadores. Devemos ser afáveis e delicados, prestar serviços ao próximo, não o criticar
nem o desprezar.
Examinemo-nos! Foi isto que fizemos até ao presente?
Corrijamo-nos durante este mês de graças dedicado ao Sagrado Coração.
TERCEIRO PONTO: Amor constante e generoso. – A bem-aventurada Margarida
Maria recomenda sem cessar o amor de Nosso Senhor Jesus Cristo e do seu Coração Sagrado,
mas ela repete muitas vezes também que Jesus não pode contentar-se com um amor tíbio e
indolente. Pede um amor constante e generoso. Quer um amor que se sustenha igualmente nas
aflições e nas consolações. «Que fraqueza não amar Nosso Senhor senão quando ele nos
acaricia, dizia, e de arrefecer logo que ele nos prova! Isto não é um verdadeiro amor. Quem ama
assim, ama-se demasiado a si mesmo para amar Jesus Cristo de todo o seu coração».
«O fruto deste amor constante, generoso e uniforme, dizia ainda, é uma adesão absoluta
a todas as vontades de Deus. Quem ama generosamente está pronto a sofrer com paciência os
acontecimentos que o desgostam». /609.
«Deus ama aqueles que se dão a ele com alegria e com satisfação», diz-nos S. Paulo (2
Cor 11).
A bem-aventurada dizia também: «A verdadeira marca do espírito de Deus é servi-lo
com paz e contentamento. – Fazei todas as coisas, dizia, com um espírito livre na presença de
Deus, com o único desejo de lhe agradar».
O sinal do amor de Deus bem consolidado é a alegria calma e pacífica, santificada pela
união com o Coração de Jesus.
Resoluções. – Senhor, dai-me (a graça) de vos amar. Da minha parte, quero aplicar-me
ao vosso amor. Oferecer-vos-ei todas as minhas acções melhor do que no passado e perguntar-
vos-ei muitas vezes o que quereis que eu faça.
Colóquio com o Coração amoroso de Jesus.

II. A MORTE DO PECADOR


39 Unus autem de his qui pendebant 39 Um dos malfeitores crucificados
latronibus blasphemabat eum dicens si tu es blasfemava contra ele, dizendo: Não és tu o Cristo?
Christus salvum fac temet ipsum et nos (Lc 23, 39). Salva-te a ti mesmo e a nós também (Lc 23, 39).
Primeiro Prelúdio. Consideremos esta morte horrível do mau ladrão, que blasfema no momento
de comparecer diante de Deus.
Segundo Prelúdio. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, agora e na hora da nossa morte.
PRIMEIRO PONTO: A morte é ordinariamente semelhante à vida. – O livro do
Eclesiástico, tão cheio de graves conselhos, adverte-nos disso: «A árvore cai para o lado a que
está inclinada e permanece aí» (c. 11).
Uma vida descuidada deixa temer uma má morte. Uma vida habitualmente culpada
prepara uma morte terrível. A morte dos prevaricadores é pavorosa, diz o salmista: Mors
peccatorum pessima (Sl 33). Aqueles que não observam a justiça durante a sua vida, diz ainda,
têm uma morte miserável: Virum injustum mala capient in interitu (Sl 139).
Que exemplo terrível de má morte, a do mau ladrão! Blasfema! É insensível num
momento e diante de um espectáculo em que todas as testemunhas estão emocionadas, em que
mesmo a natureza está perturbada. Os judeus batiam no peito, o centurião dizia: «Este
condenado era verdadeiramente um justo». A terra tremia, as rochas fendiam-se, o sol /610
ocultava a sua face.
Oh! O endurecimento! A que ponto uma alma pode iludir-se sacrificar, por orgulho ou
por baixeza, os seus interesses eternos!
SEGUNDO PONTO: Morte do pecador indiferente. – Há a morte do homem
negligente. A sua vida foi tíbia e mundana. O interesse, a recriação, a vida fácil, foram os únicos
cuidados da sua alma.
Rezou? Como é que o fez?
Que vigilância teve sobre os seus olhares, sobre os seus pensamentos, sobre os seus
afectos? - «Há homens, diz Job, que bebem a iniquidade como água» (c. 15). Isto quer dizer que
pecam com indiferença e sem prestarem atenção. E o autor inspirado acrescenta que isto é uma
coisa abominável.
Têm pouco cuidado com as leis da Igreja, com a reputação do próximo. E se recebem os
sacramentos, em que disposições os recebem?
Estão instalados na sua tibieza e Deus deixa-os assim. Abusaram tanto da oração, das
graças quotidianas, e talvez dos sacramentos, que já nada lhes faz impressão. Tudo isso os
deixou frios durante a sua vida e deixa-os frios na morte.
Nosso Senhor exalou a sua amargura a seu respeito no Apocalipse e nas suas revelações
à bem-aventurada Margarida Maria. Isso durou demasiado tempo, Nosso Senhor vomitou-os da
sua boca. Morrem numa paz aparente, que não é a indiferença glacial das pessoas do mundo
descrentes, mas que é a enganadora segurança de uma falsa consciência.
TERCEIRO PONTO: Morte perturbada e desesperada. – Outras almas são agitadas
pelas torturas da dúvida, do medo ou da falsa vergonha. Mil pecados que elas consideravam
como nada lhes voltam ao espírito. Mil dúvidas se levantam no seu pensamento. Tudo se lhes
torna suspeito: os falsos princípios que seguiram sobre certos mandamentos do decálogo ou
sobre os compromissos pessoais que assumiram perante Deus; as liberdades que se deram na
prática dos seus deveres ou no cumprimento dos votos; os sentimentos que alimentaram contra a
caridade; os sacramentos mesmo que receberam mal.
A humildade e o arrependimento salvá-las-iam; a perturbação e o desespero oprimem-
nas. Compreendem as suas faltas, mas sem proveito, como Antíoco se recordava na sua morte,
dos sacrilégios que tinha cometido em Jerusalém: /611 Nunc reminiscor malorum quae feci in
Jerusalém (Mac). E depois, há confissões difíceis, ou então falta o tempo, a morte é muitas
vezes brusca, imprevista. Ela chega como um ladrão.
Oh! Como estas mortes são tristes! Como são terríveis! E é um momento decisivo,
donde depende uma eternidade!
Como é que eu vou morrer?
Tal vida, tal morte; não é esta a regra ordinária?
Resoluções. – Porque me importa tanto morrer bem, não vou começar a viver bem, a
viver no fervor, na amizade com Nosso Senhor, que será o meu juiz?
Quais eram as disposições do Coração de Jesus na sua morte? «Tudo está consumado».
Cumpri em tudo a vontade de meu Pai. Morro na paz mais perfeita: «Meu Pai, entrego a minha
alma nas vossas mãos». Cumpramos toda a lei, para morrermos na paz.
Colóquio com Jesus morrendo na cruz.

01 de Junho
A DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO TEM UM DUPLO OBJECTO:
O CORAÇÃO DE CARNE DO SALVADOR E O SEU AMOR POR NÓS
23 Erat ergo recumbens unus ex discipulis 23 Ora, ali estava aconchegado a Jesus um
eius in sinu Iesu quem diligebat Iesus 24 innuit dos seus discípulos, aquele a quem ele amava; 24 a
ergo huic Simon Petrus et dicit ei quis est de quo esse fez Simão Pedro sinal, dizendo-lhe: Pergunta a
dicit 25 itaque cum recubuisset ille supra pectus quem ele se refere. 25 Então, aquele discípulo,
Iesu dicit ei Domine quis est (Jo 13, 23-25). reclinando-se sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe:
Senhor, quem é? (Jo 13, 23-25).
Primeiro Prelúdio. S. João reclina a sua cabeça sobre o coração de Jesus, para que aí sinta
palpitar o amor do Salvador.
Segundo Prelúdio. Este órgão tão unido pelos seus batimentos ao amor do Salvador merece
evidentemente uma honra particular.
PRIMEIRO PONTO: Duplo objecto da devoção ao Sagrado Coração: o Coração de
carne de Nosso Senhor e o amor do Salvador por nós. – Isto resulta primeiro das revelações de
Margarida Maria. É, de facto, o seu Coração de carne que Nosso Senhor lhe mostra sem cessar,
mas chamando sempre também a sua atenção para o seu amor: «Eis este Coração que tanto
amou os homens…». Há, portanto, dois elementos nesta devoção: um elemento sensível, o
coração de carne; um elemento espiritual, o que recorda e representa este coração de carne. E os
dois elementos não fazem senão um, como não fazem senão um, o signo e a coisa significada.
Os autores dizem correntemente que há dois objectos na devoção: um principal, que
eles reconduzem ao amor; o outro secundário que é o coração, e isto é verdadeiro. Estes dois
elementos são essenciais. Estão unidos como a alma e o corpo estão unidos no homem.
Margarida Maria não nos apresenta nunca um sem o outro. É sempre o «coração amabilíssimo e
amorosíssimo de Jesus que ela vê e que propõe às nossas adorações» (R.P. Bainvel).
SEGUNDO PONTO: O amor do Filho de Deus é o objecto principal deste culto. – É o
que dizem muito claramente os teólogos desta devoção. O P. Croiset começa assim a sua obra
sobre a devoção ao Sagrado Coração. «O objecto /614 particular desta devoção é o amor imenso
do Filho de Deus, que o levou a entregar-se por nós à morte e a dar-se todo a nós no Santíssimo
Sacramento do altar». E depois de algumas explicações: «É fácil de ver que o objecto e o
motivo principal desta devoção é o amor imenso que Jesus Cristo tem pelos homens, que não
têm, na maior parte deles, senão desprezo ou indiferença para com ele».
O P. de Gallifet, àqueles que pretendiam que a festa nova não se distinguisse das outras
festas do Salvador, como a da Paixão, do Santíssimo Sacramento, etc.., respondia: «O objecto
imediato destas festas não é propriamente o amor de Cristo. Na do Coração de Jesus, ao
contrário, o amor de que arde este Coração santíssimo, é o objecto imediato da festa, em união
com o seu Coração; de modo que pode dizer-se na verdade que o amor de Cristo pelos homens é
própria e imediatamente visado nesta festa». Dizia um pouco mais tarde: «Ninguém pode
examinar com um pouco de atenção a natureza desta festa sem ver imediatamente que, sob o
nome e o título do Coração de Jesus, se trata na realidade da festa do amor de Jesus, porque esta
é a essência do coração de Jesus».
Os documentos oficiais dizem a mesma coisa. «Sob a imagem simbólica do coração, diz
o decreto de Pio VI, nós meditamos e veneramos a imensa caridade e o amor liberal do nosso
divino Redentor». A oração da festa convida-nos também a meditar nos principais benefícios do
amor divino.
Como esta doutrina ilumina bem esta devoção! É a devoção ao amor, à caridade de
Cristo.
TERCEIRO PONTO: O coração de carne é o símbolo do amor e está tão estreitamente
unido à faculdade de amar, que nos dá a ilusão de o tomar pelo órgão mesmo do amor. – O
coração de carne é o símbolo do amor. É um facto, é o uso geral de o tomar como símbolo do
afecto, da ternura, do amor. Não se diz: «Dou-vos o meu coração», para dizer que vos prometo
o meu afecto?
Mas porque foi que a linguagem humana adoptou esta expressão simbólica? É porque o
coração está intimamente ligado aos movimentos dos nossos afectos. Quando amamos
verdadeiramente, o nosso coração bate mais forte, sob a pressão de um sangue mais quente e
mais vivo. O coração comporta-se como se fosse o órgão dos afectos. Mas não é o órgão
principal, diz-nos a ciência. Seja! Mas está bastante ligado a todos os seus movimentos para que
a linguagem humana tenha podido instintivamente tomar o seu nome para designar o órgão do
amor. /615
Honrando o Sagrado Coração de Jesus, honramos, portanto, principalmente o amor do
Filho de Deus e secundariamente o coração de carne que está tão intimamente unido a este amor
para ser chamado familiarmente o seu órgão e o seu símbolo.
Quando S. João quer unir-se ao amor de Jesus, que gesto faz? Apoia a sua cabeça sobre
este coração que bate por ele com um amor tão terno e tão forte.
Qual não é a nobreza deste coração de carne, que esteve unido com todos os seus
batimentos aos afectos, às alegrias, aos sofrimentos do Homem-Deus!
Resoluções. – A minha natureza que é mista aplica-se mais facilmente a um objecto que
é misto como ela. Compreenderei melhor o amor do Salvador considerando-o no seu Coração
de carne.
Obrigado, ó Jesus, por me terdes revelado devoção tão tocante, quero aplicar-me a ela
vivendo em união com o vosso divino Coração.
Colóquio com o Sagrado Coração de Jesus.
02 de Junho
POR EXTENSÃO, O CORAÇÃO DE JESUS ENTENDE-SE DE TODO O
INTERIOR DE JESUS E MESMO DA PESSOA DE JESUS ENQUANTO É AMANTE
2 Implete gaudium meum ut idem sapiatis 2 Completai a minha alegria, de modo que
eandem caritatem habentes unanimes id ipsum penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor,
sentientes 3 nihil per contentionem neque per sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento.
inanem gloriam sed in humilitate superiores sibi 3 Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas
invicem arbitrantes 4 non quae sua sunt singuli por humildade, considerando cada um os outros
considerantes sed et ea quae aliorum 5 hoc enim superiores a si mesmo. 4 Não tenha cada um em
sentite in vobis quod et in Christo Iesu (Fil 2, 2-5). vista o que é propriamente seu, senão também cada
qual o que é dos outros. 5 Tende em vós o mesmo
sentimento que houve também em Cristo Jesus (Fil
2, 2-5).
Primeiro Prelúdio. S. Paulo dá-nos como modelo o interior de Jesus, a sua humildade, a sua
caridade; na realidade, é o seu Sagrado Coração.
Segundo Prelúdio. Senhor, dai-me a graça de compreender bem o vosso interior, isto é, o vosso
Coração sagrado.
PRIMEIRO PONTO: Na linguagem piedosa, o Sagrado Coração entende-se de todo o
interior de Jesus. – Nosso Senhor mesmo no-lo autorizou. Não disse ele: «Aprendei de mim que
sou doce e humilde de coração?». Não se trata aqui do seu coração propriamente dito, mas da
sua alma, do seu interior, das suas virtudes.
É a linguagem de Margarida Maria e dos seus intérpretes, os Padres de la Colombière e
de Gallifet. Sob o nome do Sagrado Coração, Margarida Maria apresenta-nos todas as virtudes
de Nosso Senhor, todos os actos da sua vida interior.
«Muitos enganam-se, diz o P. de Gallifet (Liv. 1, c.4). Ao escutarem este nome sagrado,
o Coração de Jesus, limitam o seu pensamento ao coração material de Jesus Cristo. Mas como
há-de ser diferente e magnífica a ideia que dele devemos ter! É preciso que o consideremos
intimamente unido à alma e à pessoa de Jesus Cristo, cheio de vida, de sentimento e de
inteligência; como o mais nobre e principal órgão dos afectos sensíveis de Jesus Cristo, do seu
amor, do seu zelo, da sua obediência, dos seus desejos, das suas dores, das suas alegrias, das
suas tristezas; como o princípio e a sede destes mesmos afectos e de todas as virtudes do
Homem-Deus…». - «A oferta do Sagrado Coração, diz o P. de la Colombière, faz-se para
honrar o seu divino Coração, a sede de todas as virtudes, a fonte de todas as bênçãos e o retiro
de todas as almas santas…».
As ladainhas do Sagrado Coração enumeram também todas as riquezas escondidas / 617
na humanidade santa de Nosso Senhor, na sua vida terrestre, na sua Paixão, na Eucaristia e
mesmo no céu3.
SEGUNDO PONTO: Porque é que é assim? – Primeiro, porque na linguagem comum
nós tomamos muitas vezes o coração pela alma toda. É também e muito especialmente porque
Jesus é todo amor, porque o seu amor pelo seu Pai e por nós animava toda a sua vida, dirigia
todas as suas acções. É o pensamento de Sto. Agostinho, de S. Tomás, de Bossuet. Porquê as
dores de Jesus? Porque amou. Que são os seus milagres? Efeitos do seu amor e da sua bondade.
A linguagem corrente está, aliás, baseada em realidades profundas quando liga ao
coração toda a vida moral e afectiva do homem: as virtudes como os sentimentos, os princípios
de acção e as motivações íntimas. É que o coração é o eco de toda a nossa vida afectiva, é
impressionado por todas as nossas disposições morais.
É, portanto, uma extensão legítima e natural conceber a devoção ao Sagrado Coração
como indo ao coração real e vivo de Jesus, para aí honrar tudo o que ele é, tudo o que faz, tudo

3
Cor Jesu virtutum omnium abyssus. – Cor patiens. – Cor obediens. – Fons vitae et sanctitatis…
o que ele recorda e representa ao espírito. Deste modo, a devoção ao Sagrado Coração já não é
apenas a devoção ao amor do coração de Jesus, ela torna-se a devoção a todo o íntimo do
Salvador, enquanto este íntimo tem no coração vivo um eco, um centro de ressonância, um
símbolo ou um signo de recordação (Bainvel).
TERCEIRO PONTO: Por extensão, o Sagrado Coração é ainda toda a pessoa de
Jesus. – Na linguagem corrente, a palavra coração é muitas vezes utilizada (por uma figura que
os gramáticos chamaram com o nome grego de sinédoque) para designar a pessoa. Diz-se: é um
grande coração, é um bom coração.
Isto aconteceu muito naturalmente na devoção ao Sagrado Coração. Margarida Maria
diz: Este Sagrado Coração, como ela dizia: Jesus. Este uso tornou-se corrente. É preciso notar,
todavia, que se considera então especialmente a pessoa de Jesus na sua vida afectiva, no seu
íntimo, nos seus princípios de conduta.
Assim entendido, o Sagrado Coração recorda-me Jesus em toda a sua vida afectiva e
moral, Jesus íntimo, Jesus todo amante e todo amável, Jesus modelo de todas as virtudes. Toda
a vida de Nosso Senhor pode assim concentrar-se no seu coração. /618
No mesmo sentido, uma estátua do Sagrado Coração é uma estátua na qual Jesus,
mostrando-nos o seu coração, procura traduzir aos nossos olhos toda a sua vida íntima, o seu
amor sobretudo e as suas amabilidades.
Graças a esta extensão, podemos descrever a devoção ao Sagrado Coração como a
devoção a Jesus mostrando-se a nós ou mostrando-nos o seu coração, na sua vida íntima e nos
seus sentimentos mais pessoais, os quais mais não dizem, aliás, senão amor e amabilidade. É
Jesus revelando-nos o fundo de si mesmo dizendo-nos: «Eis o coração» (Bainvel).
Resolução. – Oh! A admirável devoção, que chama a minha atenção para todo o interior
de Jesus, sobretudo para o seu amor, mas também para todas as suas virtudes, todos os seus
sentimentos, o princípio e a alma de todos os seus mistérios. É a manifestação da regra de vida
traçada por S. Paulo: Formai em vós os sentimentos de Jesus: Hoc sentite in vobis quod et in
Christo Jesus.
Colóquio com o Sagrado Coração.

03 de Junho
OBJECTOPRECISO DESTA DEVOÇÃO:
O CORAÇÃO QUE AMA OS HOMENS
1 Estote ergo imitatores Dei sicut filii Sede, pois, imitadores de Deus, como
carissimi 2 et ambulate in dilectione sicut et filhos amados; 2 e andai em amor, como também
Christus dilexit nos et tradidit se ipsum pro nobis Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós,
oblationem et hostiam Deo in odorem suavitatis (Ef como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave
5, 1-2). (Ef 5, 1-2).
Primeiro Prelúdio. Jesus amou-nos simultaneamente com o seu amor divino e humano e
entregou-se por nós.
Segundo Prelúdio. É o vosso admirável amor, Senhor, que quero sobretudo honrar no símbolo do
vosso Coração.
PRIMEIRO PONTO: É sobretudo o seu amor pelos homens que honramos no Coração
de Jesus. – O amor que honramos neste culto é sobretudo o amor de Jesus pelos homens, o amor
que pede uma reciprocidade de amor. Quem é que melhor nos pode instruir senão Nosso Senhor
mesmo? Ora o que foi que ele disse a Margarida Maria? Quando da sua primeira grande
revelação, no dia 27 de Dezembro de 1673, na festa de S. João, mostra-lhe o seu coração sobre
um trono com uma coroa de espinhos e a cruz, e diz-lhe que estes instrumentos da Paixão
significavam o amor imenso que manifestou pelos homens e pelo qual pedia um amor recíproco.
Na segunda grande revelação, na primeira sexta-feira de Junho de 1674, Nosso Senhor
descobre à sua serva «as maravilhas inexplicáveis do puro amor, e até àquele excesso que o
tinha levado a amor os homens dos quais não recebia senão ingratidões e desconhecimentos…».
Finalmente, na terceira grande revelação, durante a oitava do Santíssimo Sacramento
em 1675, Nosso Senhor dá a fórmula definitiva desta devoção: «Eis o Coração que tanto amou
os homens, que nada poupou, até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar o seu amor, e
que não recebe em troca, na maior parte das vezes, senão ingratidões e desprezos…». Nada mais
claro, Nosso Senhor queria sobretudo recordar-nos os seu amor por nos e pedir-nos um amor
recíproco.
SEGUNDO PONTO: É também, por extensão, o seu amor por Deus. – O amor de Jesus
pelos homens não vai sem o seu amor pelo seu Pai; está por ele todo penetrado, colhe nele a sua
fonte, tem nele o seu motivo, Jesus sabe o grande /620 mandamento: «Amarás o Senhor teu Deus
com todo o teu coração…» e o segundo mandamento, que é semelhante ao primeiro: «Amarás o
teu próximo como a ti mesmo e por Deus».
Chama a nossa atenção sobre o seu amor por nós, mas espontaneamente nós estendemos
a nossa contemplação a todo o seu Coração, a todo o seu interior, a todas as suas virtudes, e o
sentimento mais elevado que aí encontramos é o seu amor pelo seu Pai. «As principais virtudes
que se pretende honrar no Coração de Jesus, diz o P. Cláudio de la Colombière, são
primeiramente um amor ardentíssimo de Deus seu Pai». O P. Croiset e o P. de Gallifet não
falam de modo diferente. A devoção ao Coração de Jesus é, no seu objecto directo e imediato, a
devoção ao Coração de Jesus ardente de amor por nós; mas é também, por uma extensão
legítima e natural, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus em toda a sua vida íntima, nas suas
virtudes e particularmente no seu amor por Deus.
Enquanto emblema, é o seu amor por nós que Jesus nos revela ao descobrir-nos o seu
coração, mas convida-nos indirectamente a contemplar este divino Coração em toda a sua vida
íntima e em todas as suas virtudes, das quais a primeira é o amor pelo seu Pai.
TERCEIRO PONTO: É o seu amor criado antes que o seu amor incriado. – Qual é o
amor de Jesus que é preciso honrar na devoção ao Sagrado Coração, o seu amor criado ou
incriado? O amor com que nos ama como homem na sua natureza humana, ou aquele com que
nos ama como Deus na sua natureza divina e, para repetir uma expressão clara e curta, aquele
que criou Lázaro ou aquele que chorou sobre Lázaro? (P. Bainvel)
Não há dúvida que o objecto preciso e formal da nossa devoção é o Coração humano de
Jesus, animado do seu amor divino e humano. É o Coração do Verbo incarnado que tanto amou
os homens; é o imenso amor do Verbo incarnado, que se manifesta em toda a sua vida, na sua
morte, no Santíssimo Sacramento. Assim falam aqueles que tinham a missão de propagar esta
devoção, o P. de la Colombière, o P. Croiset, o P. de Gallifet.
Mas aconteceu, e isto era natural que se passasse facilmente à consideração do amor
puramente divino, que levou o Verbo de Deus a nos criar, a nos conservar e sobretudo a tomar
um corpo mortal para nos salvar. Isto não é estritamente a devoção ao Sagrado Coração, é uma
consequência. Tendo-nos tornado mais amantes a respeito do Coração do Verbo Incarnado,
tornamo-nos também mais gratos para com o Verbo divino/621 que quis tomar um corpo humano
para o oferecer como vítima em nosso proveito.
Resoluções. – Quanto mais a minha devoção se esclarece, mais amo o Coração de Jesus.
Conheço-o melhor, medito-o mais facilmente. Quero viver e morrer neste Coração, que viveu
por meu amor. Quero unir-me a ele sempre mais fielmente no começo das minhas acções.
Colóquio com o Sagrado Coração.
04 de Junho
O ACTO PRÓPRIO DA DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO:
É O AMOR DE NOSSO SENHOR
7 Carissimi diligamus invicem quoniam 7 Amados, amemo-nos uns aos outros,
caritas ex Deo est et omnis qui diligit ex Deo natus porque o amor procede de Deus; e todo aquele que
est et cognoscit Deum 8 qui non diligit non novit ama é nascido de Deus e conhece a Deus. 8 Aquele
Deum quoniam Deus caritas est 9 in hoc apparuit que não ama não conhece a Deus, pois Deus é
caritas Dei in nobis quoniam Filium suum amor. 9 Nisto se manifestou o amor de Deus em
unigenitum misit Deus in mundum ut vivamus per nós: em haver Deus enviado o seu Filho unigénito
eum (1Jo 4, 7-9). ao mundo, para vivermos por meio dele (1Jo 4, 7-
9).

Primeiro Prelúdio. Deus manifestou-nos o seu amor enviando-nos o seu Filho que deu a sua vida
por nós.
Segundo Prelúdio. O amor chama o amor; o amor menosprezado chama o amor reparador.
PRIMEIRO PONTO: A manifestação do Sagrado Coração a Margarida Maria é a
manifestação do amor. – Quando Jesus mostrava a Margarida Maria o seu Coração apaixonado
de amor pelos homens, e incapaz de conter mais longamente as chamas que o devoravam, que
queria ele senão atrair a atenção sobre este amor, levar-nos a prestar-lhe homenagem, convidar-
nos e irmo-nos alimentar neste Coração infinitamente rico? (Bainvel).
Ao dizer-nos que encontra um singular prazer em ser honrado sob a figura de um
coração de carne, que objectivo tem? Que é que nos pede senão honrarmos o seu amor e
responder-lhe dando-lhe amor por amor? A manifestação do Sagrado Coração a Margarida
Maria é a manifestação do amor.
A devoção ao Sagrado Coração reconduz-se, portanto, segundo a palavra de Pio V, a
venerar a imensa caridade e o amor pródigo (effusum) de Nosso Senhor, acendendo o nosso
amor neste fogo de amor.
Margarida Maria, resumindo as suas visões, escrevia ao P. Croiset: «Era-me mostrado
um Coração sempre presente, lançando chamas de toda a parte, com estas palavras: Se
soubesses como estou sedento de me fazer amar pelos homens, não descuidarias nada por isto…
Tenho sede, ardo por ser amado».
SEGUNDO PONTO: O amor apela ao amor. – O fim da nova devoção, dizia o
postulador de 1697, é pagar um tributo de amor à fonte mesma do amor. – O primeiro fim que
temos em vista, dizia o postulador de 1727, o P. de Gallifet, é responder ao amor de Cristo. – E
o P. Croiset: Isto aqui não é senão um exercício de amor; /623 o amor é o seu objecto, o amor é o
seu motivo principal, e é o amor que deve ser também o seu fim.
É assim de facto que o entende a Igreja. Ela diz na secreta da missa Egredimini: «Nós
vos suplicamos, Senhor, que o Espírito Santo nos inflame do amor que Nosso Senhor Jesus
Cristo fez jorrar do seu Coração sobre a terra, e do qual quer que ela se abrase». Quando Pio IX,
em 1856, estendia a festa do Sagrado Coração à Igreja inteira, era para «fornecer aos fiéis
estímulos para amar e pagar com amor o Coração daquele que nos amou e lavou os nossos
pecados no seu sangue».
Quando eleva a festa a um rito superior, é para que «a devoção de amor ao Coração do
nosso Redentor se propague sempre mais, e desça mais adiante no coração dos fiéis, e que assim
a caridade, que em muitos arrefeceu, se reanime nos fogos do divino amor».
Leão XIII repetiu os mesmos ensinamentos. Na sua Encíclica de 28 de Junho de 1889,
escreve: «Jesus não tem desejo mais ardente que o de ver acender-se nas almas o amor do qual o
seu próprio Coração é devorado. Vamos, portanto, àquele que não nos pede como preço da sua
caridade senão a reciprocidade do amor».
Nada de mais claro; o acto próprio da devoção ao Sagrado Coração é o amor.
TERCEIRO PONTO: O amor menosprezado chama o amor reparador. – A devoção ao
Sagrado Coração sendo uma resposta de amor ao amor menosprezado e ultrajado, apresenta-se
naturalmente como um amor de reparação. Assim todos os documentos autorizados falam-nos
da reparação ao mesmo tempo que do amor.
O amor de Jesus, tal como se mostrou a Margarida Maria, é especialmente o amor
menosprezado e ultrajado, e é isso que dá a sua importância ao acto de reparação no culto do
Sagrado Coração.
O P. Eudes não esqueceu a reparação, mas deixa-a em segundo plano, ele está
totalmente absorvido pelo amor, canta o amor.
Margarida Maria, a pedido de Nosso Senhor, coloca no mesmo plano o amor e a
reparação. Mas é uma reparação de amor sobretudo que ela pede, antes que uma reparação de
justiça ou de expiação.
Esta reparação de amor traduz-se na pública retratação, que se dirige precisamente ao
amor menosprezado e ultrajado.
O amor, a consagração ou dom amoroso de si ao Sagrado Coração, / 624 a vida toda para
ele e dele, mantêm o primeiro lugar nos escritos de Margarida Maria. A reparação e a pública
retratação vêm depois, como um testemunho especial de amor para com o amor menosprezado e
ultrajado do Salvador.
Resoluções. – Amor e reparação, consagração assídua de mim mesmo, eis o que o
Sagrado Coração espera de mim. Mas esta consagração deve abraçar todos os meus actos. Devo
renová-la no começo de cada uma das minhas acções, e é preciso para isso viver num piedoso e
constante recolhimento, sob o olhar de Nosso Senhor no espírito de amor e de reparação.
Colóquio com Margarida Maria.

05 de Junho
VISITAS EUCARÍSTICAS:
O BOM PASTOR, O REDENTOR, O MODELO DE TODA A SANTIDADE
14 Ego sum pastor bonus et cognosco 14 Eu sou o bom pastor; conheço as
meas et cognoscunt me meae 15 sicut novit me minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, 15
Pater et ego agnosco Patrem et animam meam pono assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço
pro ovibus 16 et alias oves habeo quae non sunt ex o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas. 16 Ainda
hoc ovili et illas oportet me adducere et vocem tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me
meam audient et fiet unum ovile unus pastor (Jo convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz;
10, 14-16). então, haverá um rebanho e um pastor (Jo 10, 14-
16).
Primeiro Prelúdio. É o Redentor, que está no tabernáculo, é o pastor amante e dedicado, é o
modelo da santidade.
Segundo Prelúdio. Senhor, aplicai-me o preço do vosso sangue. Tomai-me sobre os vossos
ombros, para me levar ao redil, eu sou a ovelha tresmalhada.
PRIMEIRO PONTO: Quem vem? É o Bom Pastor com toda a sua ternura pelas suas
ovelhas. – O bom Pastor tem um coração cheio de afecto e de dedicação pelas suas ovelhas (Jo
10). Conhece-as pelo seu nome e elas seguem-no. Dá a vida para as salvar: «Dou a minha vida
pela glória de meu Pai, diz o Salvador, porque o amo e ele ama-me porque dou a minha vida
pela sua glória (Jo 10, 17). Ora bem, dou também a minha vida pelas minhas ovelhas, pela sua
salvação eterna. Assim, as minhas verdadeiras ovelhas conhecem-me e amam-me».
Sou do número destas verdadeiras ovelhas, que amam ardentemente o Bom Pastor do
tabernáculo? Infelizmente não, sou uma pobre ovelha imprudente, que erra pelos bosques
expostos aos animais ferozes.
E o Bom Pastor quer procurar-me, chama-me, quer pegar-me nos seus ombros, perto do
seu coração. Será uma grande alegria para ele encontrar-me, comunicará aos seus amigos,
convidá-los-á a alegrarem-se com ele (Lc 15).
Posso ler esta parábola do Salvador e ficar indiferente? Ele chama-me, espera-me, está
triste pela minha ausência, pela minha frieza, pela minha indiferença. Oh! Como o Salvador tem
um Coração amoroso e como eu tenho um coração duro! Senhor, fazei violência ao meu
coração.
SEGUNDO PONTO: Quem vem? É o Redentor com o preço do seu sangue. – S. Pedro
(1Pd) compraze-se em explicar-nos: «Nós não fomos /626resgatados da escravatura do pecado
pelo preço do ouro nem da prata, mas pelo sangue precioso do Cordeiro imaculado predestinado
desde o começo e manifestado nestes últimos tempos para a nossa salvação, se formos fiéis na
obediência amorosa para com Deus, na caridade pelo próximo».
A nossa alma era como as filhas de Sião cativas, e desoladas sobre as margens do
Eufrates em Babilónia. «Levanta-te, Sião, canta Isaías, alegra-te Jerusalém, solta os laços do teu
pescoço, filha de Sião, porque o Salvador te resgata gratuitamente» (Is 52).
Cantai a vossa gratidão, diz-nos David (Sl 102), porque a misericórdia divina vem até
nós com a abundância dos seus dons que não podemos comparar senão à altura do céu acima da
terra.
Sim, digamos o nosso reconhecimento ao coração eucarístico de Jesus, que deu todo o
seu sangue para nos resgatar.
TERCEIRO PONTO: Quem está lá? É o modelo de toda a santidade e de toda a
virtude. – Jesus está lá com todo o seu coração, com as virtudes admiráveis que praticava
durante a sua vida mortal. Pode dizer-nos ainda: «Aprendei de mim que sou doce e humilde de
coração. – Dei-vos o exemplo para que façais como eu fiz. – Amo o meu Pai e faço sempre a
sua vontade».
Não há diferença senão pela paciência, que estava então unida a sofrimentos reais, e que
já não está unida hoje senão a sofrimentos e a humilhações místicas.
Nosso Senhor não nos ama menos que então. Está sempre na disposição de sofrer, se
fosse necessário, tanto ou ainda mais do que sofreu pela salvação das nossas almas.
Jesus-Hóstia é Jesus vivente, ardente de amor pelo seu Pai e pelas nossas almas. É Jesus
amando a humildade, a doçura, a paciência. Está lá apaixonado pela pureza, pela obediência,
pela oração.
Como é que posso apresentar-me diante dele com as minhas afeições totalmente
terrestres? A minha alma está toda desfigurada. Como diz o salmo, tornei-me semelhante aos
animais que não têm inteligência. Mas Jesus está precisamente lá para me transformar pelo seu
exemplo e pelas suas graças e para me elevar de virtude em virtude pela acção do Espírito
Santo. (2Cor 3).
Resoluções. – Senhor, apresentai ainda ao vosso Pai o sangue do vosso divino Coração
para me resgatar e me purificar. – Amável e bom Pastor acolhei a ovelha tresmalhada, perdoai-
me, não me recuseis as vossas carícias. /627 Retomai-me de novo no vosso seguimento. – Divino
modelo de todas as virtudes, instruí-me, transformai-me, uni-me a vós.
Colóquio com Jesus-Hóstia.
06 de Junho
VISITAS EUCARÍSTICAS:
O CELESTE MÉDICO, O CAÇADOR DEALMAS, O CELESTE CAPITÃO
4 Vere languores nostros ipse tulit et 4 Certamente, ele tomou sobre si as nossas
dolores nostros ipse portavit et nos putavimus eum enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e
quasi leprosum et percussum a Deo et humiliatum nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e
5 ipse autem vulneratus est propter iniquitates oprimido. 5 Mas ele foi traspassado pelas nossas
nostras adtritus est propter scelera nostra disciplina transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o
pacis nostrae super eum et livore eius sanati sumus castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas
(Is 53, 4-5). suas chagas fomos sarados (Is 53, 4-5).
Primeiro Prelúdio. Foi o celeste médico quem tomou sobre si as nossas enfermidades, é o
caçador de almas, é o capitão que quer conduzir-nos ao combate.
Segundo Prelúdio. Senhor, curai-me, ganhai a minha vontade, guiai-me.
PRIMEIRO PONTO: Quem vem? É o celeste médico que tomou sobre si as nossas
enfermidades, para nos curar. – O profeta Isaías descreve longamente esta substituição (c. 53).
Nós é que estamos moralmente doentes. Afastámo-nos como ovelhas errantes, desviámo-nos da
via do Senhor. Éramos como leprosos pelos nossos pecados, merecíamos ser abandonados ao
sofrimento e à morte; mas o celeste médico tomou tudo sobre si. Ergue-se diante do Senhor
como um arbusto ressequido, está coberto de chagas e cheio de desprezos. Já não tem beleza.
Vai para a morte como um cordeiro que se deixa levar. É que ele tomou sobre si todas as nossas
responsabilidades e todos os nossos sofrimentos redentores que nós mesmos deveríamos ter
sofrido.
Fez mais do que o bom samaritano, não apenas pensou as nossas feridas, tomou-as
sobre si.
Nada se aproxima desta generosidade. O Coração do celeste médico ultrapassa todos os
corações pela sua bondade, pelo seu desinteresse.
SEGUNDO PONTO: Quem vem? É o caçador de almas. – Sim, o Salvador que parece
lá inactivo no tabernáculo é um caçador ardente. Tem para ganhar as nossas almas toda a paixão
que têm os caçadores para pegarem na caça, Jeremias (16, 16) apresenta-nos Deus que envia
grupos de pescadores e de caçadores contra o seu povo. S. Jerónimo interpreta isto como
reportando-se aos nossos tempos de graça. O Salvador fez ele mesmo a caça das almas
percorrendo a Galileia e a Judeia. Depois, organizou /628 esta caça e esta pesca com os apóstolos
e com os homens apostólicos; mas permanece ele mesmo o chefe desta caça nos tabernáculos.
Inspira os homens apostólicos. Derrama nos seus corações o ardor e o zelo pela salvação das
almas. Depois lança ele mesmo as suas flechas de amor nos corações dos fiéis que o recebem ou
que o visitam. O Coração do bom Mestre é o coração de um caçador ardente e apaixonado que
quer a todo o custo tornar-se o senhor dos nossos corações.
As suas flechas são a sua beleza e a sua bondade que tocam os nossos corações e os
ferem de amor. David, no salmo 44, descreveu bem esta caça das almas: «Ó rei, diz, vós
ultrapassais em graça e em beleza os filhos dos homens. Isto vos torna todo-poderoso sobre os
corações. Servi-vos dos vossos atractivos como de flechas para submeter os corações ao vosso
império, pela potência da verdade, da doçura e da justiça. As vossas flechas são agudas, elas
ferirão no coração aqueles que quereis atingir».
Ó divino caçador, lançai ao meu coração uma destas flechas vitoriosas. Feri-o pelo
vosso amor e ganhai-o para sempre.
TERCEIRO PONTO: Quem vem? É o celeste capitão, para me armar com a fé, com a
justiça e com o amor. – Vou fazer aliança convosco, diz o Senhor em Isaías (55, 3); vou realizar
a promessa que fiz a David, dar-vos-ei o Salvador prometido; será o testemunho da verdade,
mas será também um chefe, um capitão e um preceptor: ducem ac praeceptorem… Saireis com
alegria da escravatura em que estáveis reduzidos e sereis conduzidos na paz.
A quem vem o celeste capitão? A um soldado sem coragem, a um desertor, porque não
passo disto. Não desertei já, por diversas vezes, do serviço do divino Rei? Não escapei ao meu
capitão? E, no entanto, ele vem sem cólera. Ele quer dar-me o meu lugar e voltar a fazer-me
cavaleiro do Rei dos reis.
S. Paulo descreve aos Efésios (c. 6) esta armadura espiritual que devemos revestir.
«Revesti-vos, diz, com todas as armas de Deus, porque tendes de combater contra as potências
infernais. Que a verdade seja a cintura dos vossos rins e a justiça a vossa couraça. Tende o
calçado firme que simboliza o apostolado; levai o escudo da fé e o capacete dos pensamentos
celestes. E como almas amantes, vivei na união com Nosso Senhor, no recolhimento, na oração
habitual».
É este laço de amor que será a vossa melhor arma.
Resoluções. – A união ao Coração de Jesus será a minha salvação e a minha força. Feri
o meu coração com as vossas flechas, ó divino caçador; curai este pobre /630 coração doente, ó
celeste médico; armai-me com fé e amor, ó Rei do céu e fazei de mim o cavaleiro fiel, assíduo e
dedicado do vosso Coração.
Colóquio com o Rei do tabernáculo.

07 de Junho
VISITAS EUCARÍSTICAS:
A FONTE DA VIDA, A ÁRVORE DA VIDA, A PEDRA PRECIOSA
10 Si scires donum Dei et quis est qui 10 Se conheceras o dom de Deus e quem é
dicit tibi da mihi bibere tu forsitan petisses ab eo et o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele
dedisset tibi aquam vivam 11 dicit ei mulier te daria água viva. 11 Respondeu-lhe ela: Senhor,
Domine neque in quo haurias habes et puteus altus tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde,
est unde ergo habes aquam vivam 12 numquid tu pois, tens a água viva? 12 És tu, porventura, maior
maior es patre nostro Iacob qui dedit nobis puteum do que Jacob, o nosso pai, que nos deu o poço, do
et ipse ex eo bibit et filii eius et pecora eius 13 qual ele mesmo bebeu, e, bem assim, seus filhos, e
respondit Iesus et dixit ei omnis qui bibit ex aqua seu gado? 13 Afirmou-lhe Jesus: Quem beber desta
hac sitiet iterum qui autem biberit ex aqua quam água tornará a ter sede; 14 aquele, porém, que
ego dabo ei non sitiet in aeternum 14 sed aqua beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede;
quam dabo ei fiet in eo fons aquae salientis in pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma
vitam aeternam (Jo 4, 10-14). fonte a jorrar para a vida eterna (Jo 4, 10-14).
Primeiro Prelúdio. Temos no tabernáculo a árvore da vida, a fonte da vida, a pedra preciosa que
é preciso comprar a todo o custo.
Segundo Prelúdio. Senhor, é o vosso divino Coração que é o fruto da vida e a pedra preciosa,
quero adquiri-lo e vós mo quereis dar.
PRIMEIRO PONTO: Quem está lá? É a fonte da vida. – O paraíso terrestre tinha
também a sua nascente fecundante. A eucaristia é a nascente que rega toda a terra com uma
corrente de graças.
A Jerusalém celeste, diz S. João, tem também o seu rio de vida, límpido como o cristal e
brotando do trono de Deus e do cordeiro. No céu serão a vida e o amor de Deus que hão-de
saciar os eleitos; mas, aguardando, é a Eucaristia que nos dá o antegosto do céu. Ela brota do
Coração de Jesus, como uma fonte inesgotável. Ela traz às almas o refrigério e a purificação de
que têm necessidade (Ap 22).
No profeta Jeremias, Deus reprova ao seu povo terem-no deixado, a ele, fonte de vida,
para irem às cisternas vazias, isto é, aos ídolos ou às criaturas que não podem suster a vida
espiritual. Não é isso que eu faço todos os dias? Quando é que terei a coragem de me agarrar
somente a Jesus, à sua Eucaristia, ao seu Coração que é a verdadeira fonte de vida? Ele convida-
me como convidava a Samaritana: «Aquele que bebe da água que eu dou, dizia, será saciado.
Nunca mais sentirá a sede doentia de uma alma desgarrada, porque eu sou a fonte de vida…».
Senhor, dir-vos-ei como a pobre Samaritana: Dai-me desta água, para que eu não tenha
mais sede. Fazei-me saborear o amor do vosso coração, para que me desapegue das criaturas.
/632
SEGUNDO PONTO: Quem está lá? É a árvore da vida. – É a verdadeira árvore da
vida, da qual a do paraíso não era senão uma figura. Aquela dava um pão que sustentava a vida
do corpo, mas a Eucaristia é o pão espiritual, o pão da vida descido do céu, que dá a
imortalidade da alma àqueles que o comem dignamente.
A cidade celeste descrita por S. João terá também a sua árvore da vida que dará os seus
frutos variados para cada mês e folhas próprias que curarão todas as enfermidades. Nós temos
também isso na Eucaristia. É um fruto variado que não gera saciedade. Alimenta a vida
espiritual; as folhas simbolizam os dons que acompanham a graça: a alegria, a paz, o zelo.
Nosso Senhor descreveu ele mesmo a Margarida Maria a devoção ao seu Coração
Eucarístico como «uma árvore sagrada, carregada de frutos excelentes e salutares, que este
coração divino quer que seja distribuído com abundância a todos os que dele desejarem
comer…» (Carta ao P. Croiset).
TERCEIRO PONTO: Quem está lá? É a pedra preciosa, junto da qual o ouro não é
nada. O reino dos céus, diz Nosso Senhor (Mt 13), é semelhante a uma pedra preciosa que um
negociante descobre. Vende tudo o que tem para a conseguir. Nós temos no tabernáculo o Rei
dos reis.
Está à nossa disposição com o seu reino que é a sua graça sobre a terra aguardando a sua
glória no céu. Não deveríamos deixar tudo e tudo sacrificar por este reino?
Infelizmente deixei muitas vezes a Eucaristia e o Coração de Jesus pelas criaturas, como
o povo de Israel que sacrificava o serviço de Deus por um bocado de pão (Ez 13, 19).
Mas a pedra preciosa não está longe. Ainda é tempo. Posso encontrá-la e comprá-la, se
faço os sacrifícios necessários. A Eucaristia está lá, o Coração de Jesus está lá no tabernáculo.
Mas Nosso Senhor fixa-me um preço de resgate, é o tal sacrifício que é preciso fazer, é o tal
apego que é preciso romper. Conheço este preço pelo meu exame particular, conheço-o pelas
minhas confissões habituais. Sei o que é preciso sacrificar, mas a coragem falta-me.
Senhor, ajudai-me, peço-vos pela bondade do vosso coração e pela intercessão de
Maria.
Resoluções. – Eis a árvore da vida, continuarei a abandoná-la para correr ao fruto
proibido? Eis a fonte de vida, irei ainda beber ao riacho envenenado? Eis a jóia de um preço
infinito, vou desdenhá-la /633 por um prazer sensual? Não, quero hoje voltar às minhas
resoluções salutares. Hei-de ir buscar a minha força junto do sacrário.
Colóquio com Jesus-Hóstia.
08 de Junho
VISITAS EUCARÍSTICAS:
O PÃO DO CÉU, O VINHO MÍSTICO, O FOGO CONSUMANTE
25 At illa venit et adoravit eum dicens 25 Ela, porém, veio e o adorou, dizendo:
Domine adiuva me 26 qui respondens ait non est Senhor, socorre-me! 26 Então, ele, respondendo,
bonum sumere panem filiorum et mittere canibus disse: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo
27 at illa dixit etiam Domine nam et catelli edunt aos cachorrinhos. 27 Ela, contudo, replicou: Sim,
de micis quae cadunt de mensa dominorum suorum Senhor, porém os cachorrinhos comem das
(Mt 15, 25-27). migalhas que caem da mesa dos seus donos (Mt 15,
25-27).
Primeiro Prelúdio. É o pão divino, o pão do céu, o pão real, Nosso Senhor, não desdenha todavia
de o oferecer a todos.
Segundo Prelúdio. Senhor, sou indigno deste dom celeste, por piedade dai-mo mesmo assim para
me fortificar.
PRIMEIRO PONTO: Quem está lá? É o pão da vida, o pão do céu. – O patriarca Jacob
promete à tribo de Aser um pão suculento e digno dos reis (Gen 49). O pão verdadeiramente
real é o que nós possuímos. É o pão divino, é o pão do céu. É a Eucaristia. O povo de Israel teve
o maná, mas não sustentava senão a vida terrestre. O nosso maná entretém a vida espiritual. «Eu
sou o pão da vida, diz-nos o bom Mestre. Os vossos pais tiveram o maná, um pão terrestre, eu
sou o pão da vida, descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente; o pão que eu hei-
de dar é a minha carne para a vida do mundo» (Jo 6).
Vós ofereceis este pão, Senhor, à minha pobre alma. Podíeis dizer-me como à Cananeia:
não é bom tomar o pão dos filhos para o atirar aos cães. Mas o vosso coração é infinitamente
compassivo e misericordioso.
Dais-me este pão para me alimentar e para me fortificar contra todo o desfalecimento: et
panis cor hominis confirmet (Sl 103). A minha acção de graças dirige-se ao vosso coração.
SEGUNDO PONTO: Quem está lá? É o vinho místico das virgens. – Nosso Senhor
escolheu este símbolo porque o vinho fortifica e dá alegria. O vinho dá alegria ao coração, diz o
salmo (Sl 103).
O rei de Sião virá, diz o profeta Zacarias, anunciará a paz às nações, libertará e
protegerá o seu povo; dará ao trigo aos eleitos e o vinho que faz germinar as virgens (9, 17). /635
Era a Eucaristia que o profeta anunciava. O Salvador dá-nos o trigo que forma uma
juventude de escol, jovens fortes e valentes, intrépidos para o bem e vitoriosos nas tentações.
Dá-nos também o vinho que torna castos e puros os que recebem bem os santos mistérios.
São os dons do coração de Jesus.
A quem dá este vinho generoso?
Às almas entristecidas pelos seus pecados e pelas suas tentações. Elas recuperam a
alegria e a paz na santa comunhão.
O Esposo divino dá à sua esposa o vinho eucarístico para aquecer o seu coração e nele
desenvolver o seu amor. A esposa, por sua vez, dá ao esposo o seu terno amor que é como um
vinho aromatizado, para consolar o Coração deste divino esposo (Cant 8, 2).
Senhor, dai-me este vinho inebriante do amor que encherá o meu coração de uma santa
alegria e de uma ardente afeição por vós.
TERCEIRO PONTO: Quem está lá? É o fogo consumador, que vem abrasar os
corações. – Os anjos que vêem a beleza divina estão abrasados de amor. Estão ardentes como o
fogo para amarem e servirem a Deus. Os anjos de Deus, diz S. Paulo depois de David, são como
chamas ardentes (Heb 1, 7).
Nós não vemos a beleza divina, mas sabemos a bondade do Salvador nos mistérios da
redenção e na sua vida eucarística. Há lá com que abrasar os nossos corações como os dos anjos
e é isso que Nosso Senhor quer. «Vim, diz, para atear o incêndio e não tenho senão um desejo,
que ele se propague» (Lc 12).
Está lá para isso na hóstia, para amar e para se fazer amar. É o sacramento do amor, é o
mistério do amor. «Como tinha amado os seus, diz S. João, amou-os até ao fim, até ao limite do
amor». Era muito dar-se uma vez por nós na cruz, mas isso não bastava ao seu coração. Queria
dar-se todos os dias e em toda a parte. Queria estar todos os dias junto de nós, para nos escutar,
para nos dar audiência, para nos consolar nas nossas tristezas, para nos curar das nossas
enfermidades, para nos fortificar nas nossas fraquezas. E amando-nos a este ponto, prega-nos o
amor, prega-nos o apostolado, a dedicação, a caridade pelo próximo. É um fogo sempre pronto a
se propagar.
Resoluções. – Irei alimentar-me do pão de vida para aí receber a força, como Elias a
recebeu num pão simbólico. Irei beber o vinho que faz / 636 as almas castas. Irei aquecer o meu
pobre coração tão frio junto do coração de Jesus ardendo de amor no tabernáculo. Ensinai-me,
Senhor, a dedicar-me como vós.
Colóquio com Jesus-Hóstia.

08 de Junho
PARA O CORPO DE DEUS
56 Caro enim mea vere est cibus et 56 Pois a minha carne é verdadeira
sanguis meus vere est potus 57 qui manducat comida, e o meu sangue é verdadeira bebida.57
meam carnem et bibit meum sanguinem in me Quem comer a minha carne e beber o meu sangue
manet et ego in illo 58 sicut misit me vivens Pater permanece em mim, e eu, nele. 58 Assim como o
et ego vivo propter Patrem et qui manducat me et Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo
ipse vivet propter me (Jo 6, 56-58). Pai, também quem de mim se alimenta por mim
viverá (Jo 6, 56-58).

Primeiro Prelúdio. Os ímpios blasfemam o Santíssimo Sacramento: os cristãos honram-no, mas


quão imperfeitamente!
Segundo Prelúdio. Senhor, escuto a reprovação de Isaías: O meu povo honra-me com os lábios,
mas o seu coração está longe de mim. Mudai o meu coração e tornai-me fervoroso.
PRIMEIRO PONTO: A indiferença dos cristãos e sobretudo do povo escolhido é mais
sensível a Nosso Senhor do que a impiedade dos seus inimigos. – Muitas homenagens são
prestadas hoje a Nosso Senhor, mas pode aplicar a um grande número a censura do profeta: O
meu povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.
O mistério da presença real de Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento, mistério
concebível somente pela fé verdadeira, humilde e submissa, é tomado como ponto alvo de
zombarias, de desprezo e do ódio dos ímpios, e no entanto isto é menos doloroso ao coração
amoroso de Nosso Senhor do que a indiferença, a tibieza, a frieza de tantos corações cristãos e
mesmo consagrados. – Segundo as aparências exteriores, faz-se muito, dispensa-se mesmo
muito, mas muitas vezes, é pelo ídolo da vaidade e do amor-próprio. Antes de tudo, é o coração,
a boa e pura intenção que tem um valor aos olhos de Nosso Senhor, mas não é raro que o
coração não esteja lá, sem o qual, todavia, todos os outros dons não têm valor. Quantos
interesses mesquinhos ou satisfações pueris muitas vezes se tem em vista, mesmo nestas coisas
santas! Não há mesmo ministros de Deus que se preocupam mais do que seria necessário com o
calor e com a fadiga? No entanto, há por aqui e por ali na multidão uma alma verdadeiramente
amante, são estas almas ignoradas e esquecidas que consolam o Sagrado Coração.
SEGUNDO PONTO: Analogias das nossas festas do Corpo de Deus e do domingo de
Ramos em Jerusalém. – Este dia tem muita semelhança com o domingo dos Ramos, com a
entrada de Nosso Senhor em Jerusalém. /638
O caminho está semeado de flores, todas as homenagens exteriores são prodigalizadas e
grita-se também: «Bendito seja aquele que vem no nome do Senhor». Mas alguns dias depois,
muitas vezes no mesmo dia, à primeira ocasião, ouvem-se estas palavras: «Tirai-o daí, que seja
crucificado!». Há de novo Judas que atraiçoam Nosso Senhor depois de lhe ter dado o beijo da
hipocrisia; há Pedros que o renegam, que agem como se o não tivessem conhecido, que por
curiosidade vão a lugares e frequentam sociedades aonde não vão senão os inimigos do
Salvador, os inimigos da cruz. Há sempre discípulos que por medo de serem desprezados ou de
terem de sofrer, se mantêm afastados, se lamentam dos ultrajes feitos ao seu Mestre, mas não
têm coragem para o seguir. No entanto, há também ainda alguns S. João, que o seguem até junto
da cruz, o reconhecem diante de todo o universo e se mostram prontos a partilharem a sorte do
seu Mestre Bem-amado.
Há ainda mulheres generosas que sobem o Calvário caminhando sobre os passos
sangrentos do seu Redentor, do Cordeiro-vítima.
TERCEIRO PONTO: A Paixão de Nosso Senhor é renovada no Santíssimo
Sacramento, e espera a homenagem dos nossos corações. – No Santíssimo Sacramento, Nosso
Senhor experimenta ainda coisas análogas às cenas da sua Paixão. É de novo maltratado por um
grande número. É tomado e ligado por aqueles que prendem as suas mãos cheias de graças para
que as não possa dar. É posto a ridículo, olhado como um sedutor e um mentiroso por aqueles
cuja fé fraca parece dizer que o julgam assim. É ofendido e arrastado na lama pelas mãos e
pelos corações impuros. É revestido com um manto de escárnio pela profanação que vários
fazem do seu santo estado e da sua dignidade. É preso nos corações escurecidos e infectados
pelo pecado e pelas paixões. É flagelado pelos pecados da carne, coroado de espinhos pelo
orgulho e pela vaidade, ultrajado pela desobediência, a ambição, a revolta. As suas quedas
dolorosas são renovadas pelas recaídas frequentes nos antigos hábitos. O despojamento dos seus
vestidos é renovado pela imodéstia e pelos pecados da carne. Mas o seu coração é
principalmente ferido pela ingratidão, pela indiferença, pela tibieza e pelo abuso das graças do
seu povo escolhido.
São os corações, é o amor, é a vontade que ele pede. São de mais valor que toda a
pompa e as decorações exteriores. Se o puro amor e a boa intenção faltam, tudo o resto é sem
valor/639 aos seus olhos.
Ofereçamos para o consolar os actos de adoração e de amor que lhe oferecia a sua santa
Mãe, como também os do seu discípulo bem amado S. João e todas as almas que ternamente o
amaram.
Resoluções. – Senhor, para reparar os ultrajes que vos são feitos na Eucaristia e a frieza
das almas que tanto vos deveriam amar, ofereço-vos o amor de Maria, de S. João, dos corações
que mais vos amaram, de Sta. Gertrudes, de Margarida Maria, de todos os santos do Sagrado
Coração.
Quero-vos servir eu mesmo com amor, com intenções muito puras e cuidados delicados,
particularmente no santo altar.
Colóquio com Jesus no Santíssimo Sacramento.
09 de Junho
VISITAS EUCARÍSTICAS:
É O DESEJO DAS NAÇÕES; É UMA MÃE E MAIS QUE UMA MÃE; É O
HOMEM DAS DORES FERIDO POR NÓS
2 Vidimus eum et non erat aspectus et 2 Não tinha aparência nem formosura;
desideravimus eum 3 despectum et novissimum olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos
virorum virum dolorum et scientem infirmitatem et agradasse. 3 Era desprezado e o mais rejeitado
quasi absconditus vultus eius et despectus unde nec entre os homens; homem de dores e que sabe o que
reputavimus eum 4 vere languores nostros ipse tulit é padecer; e, como um de quem os homens
et dolores nostros ipse portavit et nos putavimus escondem o rosto, era desprezado, e dele não
eum quasi leprosum et percussum a Deo et fizemos caso. 4 Certamente, ele tomou sobre si as
humiliatum 5 ipse autem vulneratus est propter nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre
iniquitates nostras adtritus est propter scelera nostra si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e
disciplina pacis nostrae super eum et livore eius oprimido. 5 Mas ele foi traspassado pelas nossas
sanati sumus (Is 53, 2-5). transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o
castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas
suas chagas fomos sarados (Is 53, 2-5).
Primeiro Prelúdio. Jesus-Hóstia era o desejado das nações. Tem por nós um coração de mãe. Foi
oprimido de sofrimento pelos nossos pecados.
Segundo Prelúdio. Ganhai, enfim, o meu coração, ó meu Salvador, tenho sede do vosso amor.
PRIMEIRO PONTO: Quem vem? É o Salvador desejado e esperado pelas nações. – O
patriarca Jacob dizia-o abençoando o seu filho Judá: «O ceptro não sairá de Judá, dizia, até que
venha aquele que deve vir e será o desejado de todos os povos» (Gen 41). Nós o sabemos, Israel
esperava o Messias e todos os povos desejavam um Salvador. Nós o possuímos, nós, este
Salvador, no tabernáculo, e não vamos ter com ele!
E Jesus, por sua vez, desejava esta Páscoa na qual se comunicaria a nós (Lc22). Deseja
ainda ardentemente as nossas visitas, as nossas comunhões, E nós, nós permanecemos tíbios. A
nossa alma quer e não quer. Não tem senão veleidades (Prov. 21, 25). O Coração de Jesus está
triste com isso.
Quer a nossa visita para acender nos nossos corações o fogo dos santos desejos.
A minha alma é esta Jerusalém descrita por Jeremias (Lam 1), toda desolada, devastada,
sem energia e sem força. Irei ao sacrário receber os eflúvios da sabedoria e da força divinas.
SEGUNDO PONTO: Quem vem? É o Salvador que se diz nossa mãe e mais do que
nossa mãe. - «Sião, dizia: O Senhor me abandona e me esquece. – Não, responde o Senhor, é
que uma mãe pode esquecer o seu filho e o fruto das suas entranhas? E mesmo que uma mãe
pudesse esquecer o seu filho, eu nunca vos esqueceria» (Is 49, 14).
Nós temos, portanto, no sacrário, uma mãe e mais do que uma mãe. Donde vem que não
vamos com mais confiança ao Coração eucarístico /641 de Jesus?
Quem sou eu? Um bebé que precisa de ser aleitado com leite real. O Salvador está lá
para mo dar. O profeta prometeu-o: «Tu terás o leite real, dizia a Sião, e tu saberás que sou o teu
Salvador, o teu Redentor e a tua força (Is 60).
Tenho lá no sacrário o pão dos fortes, o maná que deleita e que alimenta. Se não
negligencio este banquete, este alimento divino, crescerei em força e em graça. É a intenção de
Nosso Senhor.
Como bebés, diz S. Pedro, desejai e saboreai o leite espiritual, para que a graça da
salvação cresça em vós (1Pd 2, 2).
Crescei, diz-nos S. Paulo, até ao desenvolvimento do homem perfeito, para que não
sejais mais como crianças sem vontade; cumpri os vossos deveres por amor, a fim de crescerdes
sem cessar em Cristo que é o vosso chefe (Ef 4, 13).
Irei, portanto, ao sacrário buscar o leite da sabedoria e o espírito de caridade ao coração
de Cristo.
TERCEIRO PONTO: Quem vem? É o homem de dores, ferido por nós. – Jesus guardou
os seus estigmas. No tabernáculo, não sofre mais, mas está ainda marcado pelos sinais do
homem das dores. É ainda o cordeiro imolado e oferecido como vítima ao seu Pai. A aparência
do pão recorda-nos que foi triturado como trigo.
Aceitou esta atitude humilhada, esta vida escondida sob a hóstia. Está lá, exposto a
todos os desprezos, a todos os esquecimentos, a todos os sacrilégios.
Que contraste! Vem à minha alma que está ávida das suas comodidades; à minha alma
que é inimiga da cruz e que prefere uma coroa de rosas à coroa de espinhos; mas vem para me
ensinar a via do sacrifício, que conduz ao céu. Os que são de Cristo, diz S. Paulo, os que
conhecem e que amam a Cristo, crucificam a sua carne com os seus vícios e as suas
concupiscências (Gal 5, 24).
Estou pregado à cruz com Cristo, diz ainda, já não vivo, é Cristo que vive em mim, o
Cristo crucificado, humilde, obediente, desapegado das criaturas (Gal 2, 19).
Irei ao pé do sacrário pedir estas lições ao Coração de Jesus.
Resoluções. – Não serei mais indiferente pelo Salvador que todas as nações esperavam.
Hei-de ir buscar junto dele as graças da salvação. É para mim como uma mãe, irei com uma
afeição filial alimentar-me do leite da graça. Irei ao homem das dores aprender o sacrifício, a
obediência e a abnegação.
Colóquio com Jesus-Hóstia.

10 de Junho
VISITAS EUCARÍSTICAS:
O BOM SAMARITANO, O FILHO DO REI QUE ME CONVIDA PARA AS
SUAS BODAS, O HÓSPEDE QUE BETE À PORTA DO MEU CORAÇÃO
33 Samaritanus autem quidam iter faciens 33 Certo samaritano, que seguia o seu
venit secus eum et videns eum misericordia motus caminho, passou-lhe perto e, vendo-o,
est 34 et adpropians alligavit vulnera eius compadeceu-se dele. 34 E, chegando-se, pensou-
infundens oleum et vinum et inponens illum in lhe os ferimentos, aplicando-lhes óleo e vinho; e,
iumentum suum duxit in stabulum et curam eius colocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o
egit (Lc 10, 33-34). para uma hospedaria e tratou dele (Lc 10, 33-34).
Primeiro Prelúdio. Jesus-Hóstia é o bom Samaritano, é o Filho do Rei que convida às suas
bodas, é o hóspede que bate para ser recebido no meu coração.
Segundo Prelúdio. Eu, Senhor, sou o pobre ferido do caminho. Socorrei-me, curai-me.
PRIMEIRO PONTO: Quem vem? O bom samaritano que passa junto dos feridos. – É
certo que Nosso Senhor quis descrever-se a si mesmo sob os traços do bom samaritano. Quis
revelar-nos sob esta parábola toda a bondade e a compaixão do seu Coração. E se foi o bom
samaritano na sua vida mortal semeando por toda a parte os seus cuidados, as suas consolações,
socorrendo e curando todos os feridos e os doentes, não endureceu o seu Coração na Eucaristia.
Está lá com a mesma bondade, a mesma ternura por aqueles que sofrem. E diz ainda: «Vinde a
mim, vós todos que penais e sofreis, e eu vos aliviarei».
Irei ter com ele, mostrar-lhe-ei as minhas chagas, as chagas espirituais sobretudo. Ele
pôr-lhes-á óleo que adoça e o vinho que cauteriza. Aliviar-me-á, estou seguro.
Vede, Senhor, em que estado me reduziram as tentações da carne, do mundo e do
demónio, revelai-me, curai-me.
SEGUNDO PONTO: Quem vem? O Filho do Rei para me convidar para as bodas. –
Isaías tinha entrevisto o festim quotidiano da nova aliança. «O Senhor dos exércitos, dizia,
preparará para os povos fiéis sobre a montanha de Sião, que é a Igreja, um festim de carnes
deliciosas, um festim de vinhos esquisitos, de carnes cheias de suco e de moela, de vinho puro e
límpido». Será o antegosto do céu (Is 25, 6).
No Evangelho, Nosso Senhor chama a este festim as núpcias do Filho do Rei (Mt 22). O
Rei convida os seus servos, não vêm; convida /643 então os desconhecidos, as pessoas de fora.
Vários vêm, mas um deles não tem a veste nupcial, tem uma veste suja, deitam-no fora.
Os servos, era o povo judeu. As pessoas de fora, somos nós.
Apresentamo-nos talvez ao festim com alguma mancha. Se, pelo menos, tivéssemos a
humildade e o arrependimento, como a Madalena, como a Samaritana, como o bom ladrão! O
filho do Rei tem o Coração tão bom e tão misericordioso, purificar-nos-ia e acolher-nos-ia.
Vamos ter com ele nestas disposições, acolher-nos-á. Teremos parte no festim delicioso
da Eucaristia. Saciar-nos-á, dar-nos-á o desgosto das carnes prejudiciais. Far-nos-á desejar o
grande festim das bodas reais do céu entrevisto por S. João no Apocalipse (Ap 19).
TERCEIRO PONTO: Quem vem? É o hóspede que bate à porta do meu coração para
que o abra. – Eis-me à porta, diz Nosso Senhor, bato, abri-me. Se alguém escuta a minha voz e
me abre a porta, entrarei em sua casa e nós cearemos juntos (Ap 3,20).
Nosso Senhor deseja a nossa amizade, a nossa intimidade e a união connosco. Quando
responderemos ao seu desejo, à espera do seu coração?
Abre-me, minha esposa, diz, abre-me, sacudirei o orvalho dos meus cabelos (Cant 5, 2).
Aqui está um símbolo das graças prometidas.
Mas até ao presente a minha alma foi ingrata e o meu coração duro. Voltei-me para as
criaturas, como fizeram as virgens loucas. Não alimentei na lâmpada do meu coração o óleo do
fervor (Mt 25).
Como o servo infiel, não fiz frutificar o meu talento.
Se este fosse o dia do juízo, Nosso Senhor poderia dizer-me: tive fome e sede do vosso
amor, das vossas visitas, das vossas reparações no tabernáculo, não me saciastes. Estava preso e
não me visitastes. Estava triste e sofrendo e não me consolastes.
É verdade, Senhor. Sou um ingrato, tenho um coração duro como a pedra. Sou
dissipado e agarrado às criaturas. Mudai-me, convertei-me. Experimento hoje uma sede
indizível do vosso amor.
Resolução. – Apresentar-me-ei todos os dias ao bom Samaritano, ele pensará as minhas
chagas, responderei ao convite do Filho do Rei, mas apresentar-me-ei com a veste nupcial, com
a minha alma purificada pela penitência.
Responderei finalmente aos apelos do prisioneiro do sacrário.
Colóquio com Jesus-Hóstia.
11 de Junho
S. BARNABÉ, APÓSTOLO
36 Ioseph autem qui cognominatus est 36 José, a quem os apóstolos deram o
Barnabas ab apostolis quod est interpretatum Filius sobrenome de Barnabé, que quer dizer filho de
consolationis Levites Cyprius genere 37 cum exortação, levita, natural de Chipre, 37 como
haberet agrum vendidit illum et adtulit pretium et tivesse um campo, vendendo-o, trouxe o preço e o
posuit ante pedes apostolorum (Act 4, 36-37). depositou aos pés dos apóstolos (Act 4, 36-37).
Primeiro Prelúdio. S. Barnabé aparece neste texto como um apóstolo amável, generoso e
dedicado. Devia ser caro ao Sagrado Coração.
Segundo Prelúdio. Santo apóstolo, pedi a Nosso Senhor por mim o gosto do estudo e da piedade,
o desapego dos bens da terra e o zelo pela salvação das almas.
PRIMEIRO PONTO: O desapego. S. Barnabé não era do número dos doze apóstolos,
mas foi-lhe acrescentado e trabalhou muito com S. Paulo. Levita e cipriota, estudava as santas
Letras em Jerusalém sob a direcção do Rabino Gamaliel, quando foi testemunha da cura do
paralítico na piscina. Uniu-se então imediatamente aos discípulos de Nosso Senhor. Era um
homem jovem, amável e bom. Era bom, dizem os Actos, e cheio de fé e ricamente dotado com
os dons do Espírito Santo. Os apóstolos chamaram-no Barnabé, o que quer dizer «o Filho da
consolação». Depois do Pentecostes, estava em Damasco quando aconteceu o milagre da
conversão de S. Paulo. Fez-se o anjo da guarda de S. Paulo, conduziu-o a Jerusalém e
apresentou-o aos apóstolos. Trabalharam juntos vários anos, e receberam a missão de pregarem
a fé aos gentios. Ganharam quase toda a cidade de Antioquia.
Barnabé era de uma família abastada. Tinha uma bela propriedade na ilha de Chipre.
Vendeu-a e apresentou o valor aos apóstolos. Dava assim o grande exemplo do desapego e da
vida religiosa.
SEGUNDO PONTO: O zelo. – Havia em Antioquia um grupo de padres, de profetas e
de doutores. O Espírito Santo revelou-lhes positivamente a missão de Paulo e de Barnabé para a
conversão dos gentios. Enviaram, portanto, estes dois apóstolos para os países do ocidente.
Barnabé e Paulo passaram na ilha de Chipre onde fizeram maravilhas e ganharam para a fé o
próprio procônsul, Sérgio Paulo. De lá foram para a Ásia Menor e pregaram em Pisídia, em
Perga, em Antioquia, em Icónio, em Listra. Foi uma alternativa de sucessos e de perseguições.
Em Listra um curioso incidente mostra bem como os dois apóstolos eram admiráveis no
seu zelo, no poder da sua palavra e /645 na sua dignidade de vida. O povo, testemunha dos seus
milagres, tomou-os por deuses. Paulo, o brilhante orador devia ser Mercúrio, Barnabé, o santo
levita com porte majestoso parecia ser Júpiter. Já lhes queriam oferecer sacrifícios. Tiveram de
se desembaraçar para impedirem este sacrilégio. Mas no dia seguinte Judeus de Antioquia e de
Icónio vêm persegui-los com as suas calúnias, e o povo tão móvel nos seus sentimentos
expulsa-os à pedrada. Regressaram a Antioquia e separaram-se em seguida. Barnabé voltou a
passar por Chipre e aí consolidou as cristandades que tinha fundado precedentemente. Foi em
seguida pregar na Itália, e depois regressou a Chipre onde morreu.
TERCEIRO PONTO: A caridade. – Tinha o coração ardente e generoso de um
discípulo e de um apóstolo de Nosso Senhor. Deixou tudo por Nosso Senhor e deu os seus bens
aos pobres. Ama tanto a Cristo que toma o seu nome. Chama-se cristão e dá este nome aos
convertidos de Antioquia. Como é bom para S. Paulo. Acompanha-o de Damasco a Jerusalém,
apresenta-o aos apóstolos, vive com ele vários anos, partilhando as suas fadigas, os seus
trabalhos, as suas privações, as suas perseguições. Prende-se às pessoas de Chipre, de Salamina,
a capital da ilha e dedica-se a santificá-la. É lá que Nosso Senhor lhe pedirá o sacrifício da vida,
depois de o ter confirmado no fervor e na caridade.
Barnabé tinha tanto sucesso em Salamina que os judeus recalcitrantes resolveram perdê-
lo. Partilhou esta honra com Nosso Senhor. Como tinham crucificado o Mestre, apedrejaram o
discípulo. Quiseram queimar o seu corpo, mas as chamas deixaram-no intacto, como pouparam
S. João, o discípulo bem-amado. Alguns séculos mais tarde, em 465, abriram o seu túmulo, para
transportarem as suas relíquias para Constantinopla, encontraram-no inteiro e, sobre o seu peito
o Evangelho de S. Mateus, que tinha transcrito com a sua própria mão. Os seus discípulos
tinham posto junto dele o Evangelho que tanto amava.
Resoluções. – Eis um belo modelo a imitar. S. Barnabé é um discípulo bem amável, é
bom, piedoso, caridoso para com o próximo. Tem também as virtudes mais austeras, despojou-
se dos seus bens, desafiou todas as contradições. Quero a seu exemplo sacudir a minha tibieza.
Colóquio com S. Barnabé.

12 de Junho
VISITAS EUCARÍSTICAS:
O DEUS ESCONDIDO, O SOBERANO SACERDOTE, O RICO HERDEIRO DE
SEU PAI
20 Et erat quidam mendicus nomine Lazarus qui 20 Havia também certo mendigo, chamado
iacebat ad ianuam eius ulceribus plenus 21 cupiens Lázaro, coberto de chagas, que jazia à porta daquele; 21 e
saturari de micis quae cadebant de mensa divitis sed et desejava alimentar-se das migalhas que caíam da mesa do
canes veniebant et lingebant ulcera eius 22 factum est rico; e até os cães vinham lamber-lhe as úlceras. 22
autem ut moreretur mendicus et portaretur ab angelis in Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para
sinum Abrahae (Lc 16, 20-22). o seio de Abraão (Lc 16, 20-22).
Primeiro Prelúdio. Jesus-Hóstia é o Deus escondido, é o sacerdote dedicado, é o rico herdeiro,
que concede parte da sua herança.
Segundo Prelúdio. Senhor, sou pobre espiritualmente e coberto de úlceras como Lázaro. Sois o
bom rico, dai-me os restos da vossa mesa.
PRIMEIRO PONTO: Quem vem? É o Deus escondido. – Sim, Senhor, sois
verdadeiramente o Deus escondido, como dizia profeticamente Isaías (45, 15). Éreis o Deus
escondido na humildade e pobreza de Belém e nos sofrimentos da Paixão. Sois ainda o Deus
escondido na hóstia do tabernáculo.
Convidais a minha alma a esconder-se também na humildade e no recolhimento para se
entreter convosco.
Já o dizíeis ao povo de Israel pelo mesmo profeta Isaías (16, 20): Vinde, meu povo,
entrai no segredo do vosso quarto, fechai sobre vós as portas e mantende-vos um pouco
escondido por um momento, até que a minha cólera passe e castigue os maus. – Muitas vezes
convidastes os vossos apóstolos a se retirarem na solidão. Chamais-me diante do sacrário, para
lançardes no meu coração uma medida cheia de graças.
SEGUNDO PONTO: Quem vem? O Soberano Sacerdote, santo e poderoso na sua
oração. – O sacerdócio da antiga lei era muito imperfeito. Deus jurou estabelecer um sacerdócio
novo, segundo a ordem de Melquisedec. Jesus é o único sacerdote, permanece eternamente,
possui um sacerdócio eterno, e está sempre pronto para salvar os que se aproximam de Deus
pelo seu intermédio, estando sempre vivo para interceder por nós. É o pontífice santo que nos
faltava, o pontífice inocente, separado dos pecadores e mais elevado que os céus, que não é
obrigado, como os outros, a oferecer todos os dias vítimas pelos seus próprios pecados (Heb 7).
/647
Ele é sacerdote e é vítima de propiciação. Ofereceu-se por nós (1Jo 2,2).
Vem a uma alma sacerdotal. «Vós sois, diz-nos S. Pedro, uma ordem de santos
sacerdotes, destinados a oferecer a Deus hóstias espirituais que lhe sejam agradáveis por Jesus
Cristo. O Coração de Jesus é o altar dos vossos sacrifícios, vós sois a raça escolhida, a ordem
dos sacerdotes reis, a nação santa, o povo conquistado, a fim de que publiqueis as grandezas
daquele que vos chamou das trevas à sua grande luz» (1Pd 2).
Irei, portanto, diante do tabernáculo, Jesus aí aceitará a consagração do meu coração,
para dele fazer um coração verdadeiramente sacerdotal. Aí oferecerei hóstias de louvor, de
amor, de impetração, de reparação. Apresentá-las-ei a Deus sobre o Coração de Jesus que é o
altar por excelência. Só ele pode oferecer ao seu Pai hóstias que sejam agradáveis, porque ele é
o único sacerdote eterno.
TERCEIRO PONTO: Quem vem? É o rico herdeiro de seu Pai, que vem despojar-se
para nos enriquecer. - «Vós sabeis, diz S. Paulo, qual é a bondade de Nosso Senhor Jesus
Cristo, que sendo rico, se fez pobre por amor de nós, para que nos tornássemos ricos pela sua
pobreza» (2Cor 8).
Senhor, sou um pobre mendigo todo coberto de úlceras, como este Lázaro que
descrevestes no Evangelho (Lc 16). Esperava à porta do mau rico e teria sido feliz por receber
os restos ou as migalhas do festim.
Mas eu sou mais feliz do que Lázaro, porque me dirijo a um bom rico, a um rico, cujo
Coração está repleto de misericórdia e de generosidade. Vós sois este rico. Diante do
tabernáculo, estou à vossa porta. Não são apenas as migalhas que me dareis. Ofereceis-me todo
o tesouro dos vossos méritos. Despojastes-vos para me enriquecerdes, tudo sacrificastes por
mim. Desposastes a pobreza, a humildade, os desprezos, os sofrimentos, para pagardes todas as
minhas dívidas e para me enriquecerdes com os vossos sacrifícios.
Que vos darei, Senhor, por esta infinita bondade do vosso Coração? Irei ter convosco
com toda a confiança, é o que pedis de mim. Esperais-me para me cumulardes com os vossos
benefícios.
Resoluções. – Irei ter com o meu Deus, o Deus escondido, que me espera para me
sustentar no retiro.
Irei ter com o Sacerdote eterno, que quer unir-me ao seu sacerdócio. Deporei /648 sobre o
seu Coração as minhas hóstias de louvor, de reparação e de amor. Irei ter com o meu rico
benfeitor, que quer dar-me parte das suas riquezas.
Colóquio com Jesus-Eucaristia.

13 de Junho
SANTO ANTÓNIO DE PÁDUA
1195-1231
8 Beatus dives qui inventus est sine Feliz o rico que permanece sem pecado,
macula et qui post aurum non abiit nec speravit in que não se liga à procura do ouro nem coloca a sua
pecunia et thesauris 9 quis est hic et laudabimus esperança na riqueza! Quem é ele? Não o
eum fecit enim mirabilia in vita sua (Eccl. 31, 8-9). louvaremos, porque fez maravilhas na sua vida
(Eccl. 31, 8-9).
Primeiro Prelúdio. – Santo António era de nobre família, abraçou a pobreza por um ardente
amor por Nosso Senhor, e para o recompensar, Nosso Senhor amou-o, visitou-o e concedeu-lhe o dom
dos milagres.
Segundo Prelúdio. – Grande santo, éreis pelo vosso ardente amor por Nosso Senhor um santo do
Sagrado Coração, ajudai-nos a fazer reinar o Coração de Jesus nos nossos corações e na sociedade.
PRIMEIRO PONTO: Amou Nosso Senhor até desejar o martírio. – Santo António de
Pádua foi um dos santos mais amorosos para com Nosso Senhor, por isso agradou a Nosso
Senhor dar um grande brilho ao seu culto no momento mesmo em que se propaga a devoção ao
Sagrado Coração.
António de Pádua, no mundo Fernando de Bulhão, era de uma família de santos. Era
segundo sobrinho de Godefroy de Bouillon, o qual era filho de Sta. Ida, condessa de Bolonha.
Nasceu em Lisboa, no palacete da sua família, perto da catedral. Aos cinco anos, já todo
penetrado de santidade, faz voto de virgindade. Aos dez anos, é colocado na escola dos clérigos
de Nossa Senhora do Pilar. É o modelo dos alunos. O demónio vem tentá-lo sob uma forma
hedionda, o pequeno clérigo expulsa-o com um sinal da cruz traçado sobre o chão e que ficou
marcado miraculosamente sobre o mármore.
Torna-se religioso agostinho no convento de Sta. Cruz, em Coimbra. O seu amor por
Nosso Senhor crescia sempre. Inveja a sorte de piedosos religiosos franciscanos que vão levar a
fé a Marrocos com perigo das suas vidas, e quando trazem os seus despojos a Coimbra, depois
que foram martirizados, arde no desejo de morrer também pelo Salvador que morreu por nós.
Faz-se franciscano para ir também para Marrocos. E nós, sentimos bastante o amor de Nosso
Senhor nos nossos corações, para desejarmos fazer por ele alguns sacrifícios?
SEGUNDO PONTO: O apóstolo do Sagrado Coração. – A Providência não quis que
chegasse a Marrocos, foi lançado sobre as costas da Sicília. Vai aquecer / 650 ainda o seu coração
junto do de S. Francisco de Assis. O seu talento revela-se, fazem-no professor, depois
missionário. Ganha almas inumeráveis ao amor de Nosso Senhor. Foi, no séc. XIII, diz o P.
Marie-Antoine, o doutor e o escritor do Coração de Jesus. Conduz sempre os seus auditores ao
pensamento do amor, como objectivo final da vida cristã, e é no Coração do Salvador que
mostra a fonte e o trono deste amor.
Diz: «Sim, a ferida do lado de Jesus é um sol que ilumina todo o homem. Pela abertura
do Sagrado Coração foi aberta a porta do paraíso donde nos vem toda a luz. É lá que está o asilo
assegurado da arca da paz e da salvação. O Salvador abriu o seu lado e o seu Coração à pomba,
isto é, à alma religiosa, a fim de que pudesse encontrar um lugar de refúgio.
Sede como a pomba que estabelece o seu ninho no mais profundo da pedra. Se Jesus
Cristo é a pedra, a cavidade da pedra é a chaga do lado de Jesus, que leva ao seu Coração.
Havia na antiga lei dois altares, o altar de bronze ou dos holocaustos, que estava fora do
santuário, e o altar de ouro do santuário mesmo. O altar de bronze da lei nova é o corpo
sangrento de Cristo imolado em presença do povo; o altar de ouro é o seu Coração ardente de
amor, e lá está o incenso que sobe para o céu».
Os seus sucessos eram maravilhosos.
Se queremos ganhar almas para Nosso Senhor, é preciso primeiro excitar-nos ao seu
amor. O fervor do nosso coração comunicar-se-á facilmente àqueles que estiverem em relação
connosco.
TERCEIRO PONTO: Os belos milagres são uma recompensa do seu amor por Nosso
Senhor. – Os seus prodígios são inumeráveis. Mas o seu carácter mesmo mostra como estava
unido a Nosso Senhor por um terno amor. – Numa noite de Natal, como estava retido na
enfermaria pelos deveres do seu cargo, em Coimbra, ouviu tocar a elevação. Bem desejava ele
ver a Hóstia e adorar o seu Salvador nascente, pôs-se de joelhos, os muros abriram-se e assistiu
à elevação.
Mais tarde, era em Puy, quando rezava à noite, o Menino Jesus desceu até ele, pôs-se
nos seus braços e fez-lhe mil carícias. O seu hospedeiro que passava diante do seu quarto viu
isso. É o milagre que se representa normalmente.
Estes prodígios mostram o terno amor recíproco de Jesus e de António.
Agora, Santo António é o provedor dos pobres. O seu Coração / 651 identificou-se com o
de Jesus. Tem piedade das multidões, como Jesus tinha piedade delas na Galileia. Distribui o
pão por um milagre de providência. Diz às almas: «Dai-me pão para os pobres, e obterei para
vós junto de Deus as graças de que tendes necessidade».
Tenhamos confiança neste grande amigo do Sagrado Coração. Peçamos-lhe para
pacificar as dissensões sociais que reinam hoje. Rezemos-lhe para nos ajudar a fazer reinar o
Coração de Jesus.
Resoluções. – Tenhamos uma grande devoção a Santo António referindo-a ao Sagrado
Coração. Tem a missão de fazer amar o Sagrado Coração. Manifesta a sua bondade pelas almas
e pelos pobres.
Ajudemo-nos da sua intervenção poderosa junto do Coração de Jesus.
Colóquio com Santo António.

14 de Junho
VISITAS EUCARÍSTICAS:
O AMIGO, O IRMÃO, O PAI MISERICORDIOSO
22 Dixit autem pater ad servos suos cito 22 O pai, porém, disse aos seus servos:
proferte stolam primam et induite illum et date Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe
anulum in manum eius et calciamenta in pedes 23 um anel no dedo e sandálias nos pés; 23 trazei
et adducite vitulum saginatum et occidite et também e matai o novilho cevado. Comamos e
manducemus et epulemur 24 quia hic filius meus regozijemo-nos, 24 porque este meu filho estava
mortuus erat et revixit perierat et inventus est (Lc morto e reviveu, estava perdido e foi achado (Lc
15, 22-24). 15, 22-24).
Primeiro Prelúdio. Jesus-Eucaristia é o amigo, o irmão compassivo, o pai misericordioso.
Segundo Prelúdio. Levantar-me-ei e irei ter com meu Pai com humildade e ele me restituirá tudo
o que perdi.
PRIMEIRO PONTO: Quem vem? É o amigo fiel e generoso. – Quem vem? É o amigo
verdadeiro. Ele no-lo disse: «Vós sois meus amigos», e sabe o que é o verdadeiro amigo.
Descreveu-o no livro do Eclesiástico e no seu discurso depois da Ceia.
O Eclesiástico louva os amigos fiéis, aqueles que têm uma conversa amável e que amam
a paz, os que não se afastam no dia da aflição, os que são firmes e constantes. O amigo fiel é
uma forte protecção. Quem o encontrou, encontrou um tesouro. Nada é comparável a um amigo
fiel. Vale mais do que o ouro e a prata. É um remédio que dá a vida e a imortalidade… (Eccl 6).
Nosso Senhor é para nós este tesouro, porque nos chamou seus amigos (Jo 15, 15).
Descreveu-se também quando disse que o verdadeiro amigo dá a sua vida pelos seus amigos.
Vamos ao Coração eucarístico de Jesus como ao Coração de um amigo fiel, de um
verdadeiro amigo dedicado sem medida. Não nos permite duvidar da sua terna amizade.
SEGUNDO PONTO: Quem vem? O irmão ao seu irmão culpado, para o reconduzir e
lhe perdoar. – Sim, embora Deus, não se envergonha de nos chamar seus irmãos: non
confunditur fratres eos vocare. S. Paulo exprime abundantemente a sua admiração sobre este
assunto, nos primeiros capítulos da sua carta aos Hebreus. «Outrora, diz, Deus falou aos nossos
pais pelos profetas, mas nos nossos dias foi pelo seu próprio Filho, que criou o mundo com ele e
que o fez herdeiro de todas as coisas. Ele é o esplendor da sua glória e / 653 imagem da sua
substância; tudo sustém pelo poder da sua palavra, e depois de nos ter purificado dos nossos
pecados, sentou-se no mais alto dos céus, à direita da Majestade divina, sendo também elevado
acima dos anjos que o seu nome comporta, porque quem é o anjo ao qual Deus tenha alguma
vez dito: Vós sois meu Filho, hoje vos gerei, e ainda: serei o seu Pai e ele será meu Filho?... A
Escritura diz dos anjos que Deus os fez seus ministros, mas diz ao Filho de Deus: o vosso trono,
ó Deus, será um trono eterno… E, noutro lugar, reconhecendo-o como Criador de todas as
coisas, ela diz-lhe: Senhor, criastes a terra desde o começo do mundo… Também, quem é o anjo
ao qual o Senhor tenha dito: Sentai-vos à minha direita até que eu tenha reduzido os vossos
inimigos a servir de escabelo?...
«Entretanto o seu Filho adorável, Deus tornou-o por um pouco de tempo inferior aos
anjos, tornando-o passível e mortal, mas em seguida coroou-o de glória e de honra.
Era digno de Deus que, para conduzir à glória os seus filhos, consumisse pelos
sofrimentos aquele de entre eles que devia ser o autor da sua salvação. Porque o Salvador e os
resgatados são da mesma raça humana e não se envergonha de os chamar seus irmãos…».
Tal é o magnífico ensino de S. Paulo. O hóspede do sacrário é nosso irmão, um irmão
amoroso, que se sacrificou por nós, como haveríamos de hesitar em ir dizer-lhe o nosso amor?
TERCEIRO PONTO: Quem vem? O Pai de misericórdia que nos ama ternamente. –
Chama-nos seus filhinhos: filioli. Descreveu-se com complacência na parábola do filho pródigo.
Eu sou este filho pródigo, que viveu, se não na luxúria, pelo menos na vaidade e na
inutilidade.
Volto para o meu Pai, hesitante, tímido, temeroso, mas ele está lá, que me acolhe com
amor. O seu coração bate fortemente no seu peito. Deseja-me com ardor, observa, procura. E se
regresso, atira-se ao meu pescoço e aperta-me contra si, coração contra coração.
E chama os seus servos, os seus anjos, para me darem tudo o que perdi. Nada falta: o
manto de outrora, o anel de nobreza, os sapatos, e o vitelo gordo para a festa. O Coração de
Jesus está emocionado; os seus olhos choram de ternura, mas sorriem de alegria: «Alegremo-
nos, diz o bom Mestre, este filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado». /654
Resoluções. – Irei ter com o meu amigo, com o meu irmão, com o meu pai. Hesitarei
ainda, agora que conheço o hóspede do tabernáculo? Que há a temer quando alguém se dirige ao
coração de um amigo, de um irmão, de um pai? Para expandir o meu coração, para pedir
conselho, para me consolar das minhas mágoas, para fruir da amizade, irei ao sacrário, irei
muitas vezes. Esta será a minha melhor alegria.
Colóquio com Jesus-Eucaristia.

14 de Junho
VISITAS EUCARÍSTICAS:
O AMIGO, O IRMÃO, O PAI MISERICORDIOSO
22 Dixit autem pater ad servos suos cito 22 O pai, porém, disse aos seus servos:
proferte stolam primam et induite illum et date Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe
anulum in manum eius et calciamenta in pedes 23 um anel no dedo e sandálias nos pés; 23 trazei
et adducite vitulum saginatum et occidite et também e matai o novilho cevado. Comamos e
manducemus et epulemur 24 quia hic filius meus regozijemo-nos, 24 porque este meu filho estava
mortuus erat et revixit perierat et inventus est (Lc morto e reviveu, estava perdido e foi achado (Lc
15, 22-24). 15, 22-24).
Primeiro Prelúdio. Jesus-Eucaristia é o amigo, o irmão compassivo, o pai misericordioso.
Segundo Prelúdio. Levantar-me-ei e irei ter com meu Pai com humildade e ele me restituirá tudo
o que perdi.
PRIMEIRO PONTO: Quem vem? É o amigo fiel e generoso. – Quem vem? É o amigo
verdadeiro. Ele no-lo disse: «Vós sois meus amigos», e sabe o que é o verdadeiro amigo.
Descreveu-o no livro do Eclesiástico e no seu discurso depois da Ceia.
O Eclesiástico louva os amigos fiéis, aqueles que têm uma conversa amável e que amam
a paz, os que não se afastam no dia da aflição, os que são firmes e constantes. O amigo fiel é
uma forte protecção. Quem o encontrou, encontrou um tesouro. Nada é comparável a um amigo
fiel. Vale mais do que o ouro e a prata. É um remédio que dá a vida e a imortalidade… (Eccl 6).
Nosso Senhor é para nós este tesouro, porque nos chamou seus amigos (Jo 15, 15).
Descreveu-se também quando disse que o verdadeiro amigo dá a sua vida pelos seus amigos.
Vamos ao Coração eucarístico de Jesus como ao Coração de um amigo fiel, de um
verdadeiro amigo dedicado sem medida. Não nos permite duvidar da sua terna amizade.
SEGUNDO PONTO: Quem vem? O irmão ao seu irmão culpado, para o reconduzir e
lhe perdoar. – Sim, embora Deus, não se envergonha de nos chamar seus irmãos: non
confunditur fratres eos vocare. S. Paulo exprime abundantemente a sua admiração sobre este
assunto, nos primeiros capítulos da sua carta aos Hebreus. «Outrora, diz, Deus falou aos nossos
pais pelos profetas, mas nos nossos dias foi pelo seu próprio Filho, que criou o mundo com ele e
que o fez herdeiro de todas as coisas. Ele é o esplendor da sua glória e /653 imagem da sua
substância; tudo sustém pelo poder da sua palavra, e depois de nos ter purificado dos nossos
pecados, sentou-se no mais alto dos céus, à direita da Majestade divina, sendo também elevado
acima dos anjos que o seu nome comporta, porque quem é o anjo ao qual Deus tenha alguma
vez dito: Vós sois meu Filho, hoje vos gerei, e ainda: serei o seu Pai e ele será meu Filho?... A
Escritura diz dos anjos que Deus os fez seus ministros, mas diz ao Filho de Deus: o vosso trono,
ó Deus, será um trono eterno… E, noutro lugar, reconhecendo-o como Criador de todas as
coisas, ela diz-lhe: Senhor, criastes a terra desde o começo do mundo… Também, quem é o anjo
ao qual o Senhor tenha dito: Sentai-vos à minha direita até que eu tenha reduzido os vossos
inimigos a servir de escabelo?...
«Entretanto o seu Filho adorável, Deus tornou-o por um pouco de tempo inferior aos
anjos, tornando-o passível e mortal, mas em seguida coroou-o de glória e de honra.
Era digno de Deus que, para conduzir à glória os seus filhos, consumisse pelos
sofrimentos aquele de entre eles que devia ser o autor da sua salvação. Porque o Salvador e os
resgatados são da mesma raça humana e não se envergonha de os chamar seus irmãos…».
Tal é o magnífico ensino de S. Paulo. O hóspede do sacrário é nosso irmão, um irmão
amoroso, que se sacrificou por nós, como haveríamos de hesitar em ir dizer-lhe o nosso amor?
TERCEIRO PONTO: Quem vem? O Pai de misericórdia que nos ama ternamente. –
Chama-nos seus filhinhos: filioli. Descreveu-se com complacência na parábola do filho pródigo.
Eu sou este filho pródigo, que viveu, se não na luxúria, pelo menos na vaidade e na
inutilidade.
Volto para o meu Pai, hesitante, tímido, temeroso, mas ele está lá, que me acolhe com
amor. O seu coração bate fortemente no seu peito. Deseja-me com ardor, observa, procura. E se
regresso, atira-se ao meu pescoço e aperta-me contra si, coração contra coração.
E chama os seus servos, os seus anjos, para me darem tudo o que perdi. Nada falta: o
manto de outrora, o anel de nobreza, os sapatos, e o vitelo gordo para a festa. O Coração de
Jesus está emocionado; os seus olhos choram de ternura, mas sorriem de alegria: «Alegremo-
nos, diz o bom Mestre, este filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado». /654
Resoluções. – Irei ter com o meu amigo, com o meu irmão, com o meu pai. Hesitarei
ainda, agora que conheço o hóspede do tabernáculo? Que há a temer quando alguém se dirige ao
coração de um amigo, de um irmão, de um pai? Para expandir o meu coração, para pedir
conselho, para me consolar das minhas mágoas, para fruir da amizade, irei ao sacrário, irei
muitas vezes. Esta será a minha melhor alegria.
Colóquio com Jesus-Eucaristia.
15 de Junho
OITAVA DA FESTA DO CORPO DE DEUS:
AS RELAÇÕES DA EUCARISTIA E DO CORAÇÃO DE JESUS
23 Erat ergo recumbens unus ex discipulis 23 Ora, ali estava aconchegado a Jesus um
eius in sinu Iesu quem diligebat Iesus 24 innuit dos seus discípulos, aquele a quem ele amava; 24 a
ergo huic Simon Petrus et dicit ei quis est de quo esse fez Simão Pedro sinal, dizendo-lhe: Pergunta a
dicit 25 itaque cum recubuisset ille supra pectus quem ele se refere. 25 Então, aquele discípulo,
Iesu dicit ei Domine quis est (Jo 13, 23-25). reclinando-se sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe:
Senhor, quem é? (Jo 13, 23-25).
Primeiro Prelúdio. S. João compreendeu imediatamente que a Eucaristia é o dom do Coração de
Jesus.
Segundo Prelúdio. Coração eucarístico de Jesus, ganhai o meu coração à união convosco.
PRIMEIRO PONTO: No Cenáculo, S. João compreende que o dom da Eucaristia vem
do Coração de Jesus. – É no seio de Jesus, in sinu Jesu; é sobre o peito de Jesus, supra pectus
Jesu, que S. João faz a sua acção de graças. Mal comungou, inclina-se sobre o seio de Jesus.
Recebeu a eucaristia, vai à sua fonte. Não se contenta com o dom, como os outros, vai até ao
tesouro donde o dom saiu.
O seu gesto prega-nos. É como se nos dissesse: «Vedes, é de lá que vem este dom
inefável. Apoiando-me lá, bebo na fonte. Como os israelitas bebiam a água vivificante que
brotava da fenda do rochedo, assim eu bebo com alegria nas fontes donde brota a Eucaristia. É
lá que eu levo a minha acção de graças, à fonte mesma, ao Coração generoso de Jesus…».
Como S. João, unamos a Eucaristia ao Coração de Jesus. Ele é a sua fonte, espera o
nosso agradecimento pela sua bondade infinita…
SEGUNDO PONTO: Em Paray, é na Eucaristia que o Sagrado Coração revela o seu
amor. – Enquanto os anjos e os santos contemplam, admiram, adoram e cantam o amor do
Coração de Jesus, nos esplendores da glória, os homens são chamados a honrá-lo, a amá-lo, de
preferência, na vida eucarística. É ordinariamente na Eucaristia que ele se manifesta em Paray-
le-Monial, para solicitar o nosso amor.
«Um dos meus mais rudes suplícios, diz Margarida Maria, era quando este divino
Coração me era apresentado com estas palavras: Tenho sede, mas de uma sede tão ardente de
ser amado pelos homens no Santíssimo Sacramento, que esta sede me consome; e não encontro
ninguém que se esforce, segundo o meu desejo, para me dessedentar, / 659 dando alguma
compensação ao meu amor».
Foi diante do Santíssimo Sacramento que Margarida Maria recebeu as suas grandes
revelações.
Na primeira, a começar: «Uma vez, diz, estando diante do Santíssimo Sacramento,
encontrei-me toda investida desta divina presença… Abandonei-me a este divino espírito. Fez-
me reconhecer que o grande desejo que ele tem de ser perfeitamente amado pelos homens,
tinha-o levado a formar o desígnio de lhes manifestar o seu Coração».
Noutra vez, em que o Santíssimo Sacramento estava exposto, manifestou-lhe as
maravilhas do seu puro amor, que não é pago senão por ingratidões. Diz-lhe: «É o que me é
mais sensível que tudo o que sofri na minha paixão, tanto que se os homens me dessem alguma
troca de amor, consideraria pouco tudo o que fiz por eles, e quereria, se pudesse, ainda fazer
mais…».
Foi diante da Eucaristia também que ela ouviu a grande revelação tão conhecida: Eis
Coração que tanto amou os homens! Noutra vez, escreve, estando diante do Santíssimo
Sacramento, num dia da sua oitava, o meu Deus, descobrindo-me o seu divino Coração, disse-
me: «Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e consumir,
para lhes testemunhar o seu amor».
TERCEIRO PONTO: É também na Eucaristia que Nosso Senhor pede reparação. –
Num dia de comunhão, contam os contemporâneos, como a venerável Irmã, durante a sua
acção de graças sentisse um vivo desejo de fazer alguma coisa pelo seu Deus, o Bem-Amado
da sua alma pediu-lhe interiormente se ela não se importaria de sofrer todas as penas que os
pecadores mereciam, a fim de que ele fosse glorificado por todas estas almas.
Noutra vez, conta, num tempo de Carnaval, Nosso Senhor apresentou-se a mim depois
da santa comunhão, sob a figura de um Ecce homo, carregado com a sua cruz, todo coberto de
chagas e de contusões. O seu sangue adorável corria de todas as partes; disse com uma voz
dolorosamente triste: «Não haverá ninguém que tenha piedade de mim, e que queira
compadecer e tomar parte na minha dor, no lamentável estado em que me colocam os
pecadores, sobretudo no presente?».
É sempre a Eucaristia. A devoção ao Sagrado Coração é sobretudo eucarística. Onde
procuramos o Coração de Jesus melhor que na Eucaristia? Os abaixamentos do presépio e as
angústias da Paixão não são mais do que uma recordação; a glória do céu não é mais do que
uma esperança; Jesus não nos é acessível senão na Eucaristia. Lá o seu Coração bate junto de
nós. /660
Resoluções. – Bom Mestre, quero unir estas duas devoções, como me haveis ensinado
vós mesmo nas manifestações a Margarida Maria. Na Eucaristia encontra-se o vosso Coração
vivo, amante e ofendido. Visitá-lo-ei muitas vezes, voltar-me-ei muitas vezes para ele, como
fazia a vossa fiel serva.
Colóquio com o Coração Eucarístico de Jesus.

16 de Junho
SOBRE A TERNURA QUE NOSSO SENHOR
NOS TESTEMUNHA NO SANTÍSSIMO SACRAMENTO
19 Et accepto pane gratias egit et fregit et 19 E, tomando um pão, tendo dado graças,
dedit eis dicens hoc est corpus meum quod pro o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo
vobis datur hoc facite in meam commemorationem oferecido por vós; fazei isto em memória de mim.
20 similiter et calicem postquam cenavit dicens hic 20 Semelhantemente, depois de cear, tomou o
est calix novum testamentum in sanguine meo quod cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no
pro vobis fundetur. meu sangue derramado por vós (Lc 22, 19-20).
Primeiro Prelúdio. O Sacramento da Eucaristia é o dom do amor por excelência.
Segundo Prelúdio. Ensinai-me, Senhor, a ir ter convosco com amizade, com confiança e com
abandono.
PRIMEIRO PONTO: O sacramento da Eucaristia é o mistério de amor por excelência.
– Nosso Senhor está lá, para nos amar e para ser amado por nós. Não recebe neste sacramento as
consolações que o seu Coração queria nele encontrar. Não falamos neste momento dos
sacrilégios que o ultrajam, queremos falar dos padres e dos fiéis que o recebem em disposições
suficientes, mas sem amor. Recebendo este sacramento, como recebem os outros, pensam em si
e muito raramente em Nosso Senhor. Isto tem a ver com a fraqueza humana, mas também com a
formação que é dada aos clérigos e aos fiéis.
Os sacramentos colocam à disposição de todos os méritos de Nosso Senhor e os frutos
da Redenção. Os bons são diligentes em recolher estes frutos preciosos, mas quão pouco
pensam em agradecer a Nosso Senhor por estes sinais de amor que nos prodigalizou! A sua
presença no sacramento do altar é uma habitação permanente no meio de nós, os seus irmãos.
Está corporalmente no meio de nós, como estava corporalmente no meio dos seus amigos
durante a sua vida mortal: não pensamos o suficiente nisto. Deixamo-lo demasiadas vezes
sozinho nos tabernáculos. No entanto, ele está lá como amigo, como amigo cheio de ternura.
Espera que as pessoas venham oferecer-lhe o seu coração, falar com ele, confiar-lhe as
próprias mágoas e as próprias alegrias. Abre-se a amigos que não o merecem; as pessoas não
pensam abrir-se a ele. Seria necessário que os fiéis fossem desde a infância formados a irem ter
com ele com simplicidade; que se lhes ensinasse que o Deus do Tabernáculo não está lá sobre
um trono de justiça, que lá se mantém como amigo, que não pede senão que se escutem as
confidências dos homens seus irmãos e especialmente das crianças, pelas quais tem uma terna
afeição. /662
SEGUNDO PONTO: Indiferença geral por Jesus-Hóstia. – As pessoas passam
indiferentes junto das igrejas onde está Nosso Senhor. Se alguém visita uma igreja, faz é
verdade uma genuflexão diante do tabernáculo, murmura algumas vezes com os lábios uma
fórmula de oração. Tudo isto é feito maquinalmente. Não se sente como uma visita cordial, na
qual se expandiria o coração no Coração de Jesus, o alegraria e consolaria. É honrado como se
honraria uma estátua de mármore fria e insensível.
A homenagem distraída que lhe é prestada faz-lhe sentir quanto está afastado do
coração mesmo dos seus servos. No entanto, é um amigo, o melhor dos amigos. Queria que os
padres que sabem isto o consolassem dos seus esquecimentos. Queria mais, queria que falassem
mais frequentemente e com mais coração da sua amizade pelos homens seus irmãos.
Habituando as crianças a estas relações de amizade com Nosso Senhor, preparar-se-ia
uma geração de cristãos menos frios e menos indiferentes. Semear-se-iam germes de afeição por
ele. Estes germes dariam um dia os seus frutos. Os padres que compreendem estas coisas e as
põem em prática produzem grandes frutos.
TERCEIRO PONTO: O que Nosso Senhor pede aos homens é o dom do seu coração. –
É pelo coração que os homens se dão. É pelo coração que se conduzem. Em Nosso Senhor, o
seu coração foi o inspirador de todos os sacrifícios que fez pelos seus irmãos. É pelo coração
que deve reconhecer-se o que o seu coração fez pelos homens. O que se faz sem o coração não
pode tocar o Coração de Jesus.
Deve dirigir-se para Nosso Senhor os sentimentos do coração e dar-lhes por objecto
principal e dominante um afectuoso reconhecimento pelos seus benefícios, uma confiança sem
limites na sua ternura, uma afeição doce pela sua pessoa e a sua humanidade.
É preciso que os cristãos saibam que ele, o mais afectuoso, o mais amoroso, o mais
terno, o mais delicado de todos os homens, nada ama tanto como o dom dos corações, que tem
fome e sede do coração dos seus irmãos.
Pensemos, portanto, muitas vezes, sobretudo se somos padres, no prisioneiro do
tabernáculo. Habita perto de nós e connosco, visitemo-lo muitas vezes. Vamos consolá-lo das
ofensas que lhe são feitas. Vamos pedir-lhe os seus conselhos para trabalharmos no seu reino de
amor; vamos agradecer-lhe algum sucesso, oferecer-lhe uma prova que nos chega, recomendar-
lhe um assunto, uma necessidade da nossa alma ou dos nossos irmãos. Tratemo-lo finalmente
como nosso amigo principal, como um amigo que merece a nossa confiança e que conquistou
por mil benefícios o direito de não ser esquecido. Vamos ter com ele por / 663 reconhecimento;
vamos ter com ele com confiança; vamos ter com ele por amizade, como vem ele mesmo por
amizade até nós que tão pouco o merecemos.
Resoluções. – Senhor, sois o melhor dos amigos, o mais fiel, o mais indulgente, o mais
generoso, o mais compassivo. Como é que não hei-de ir ter convosco? Porque é que,
infelizmente, tenho sido tão duro e tão ingrato para convosco até ao presente? Prometo-vos um
pensamento mais habitual na vossa presença eucarística e visitas mais frequentes e sobretudo
mais cordiais.
Colóquio com Jesus-Eucaristia.
17 de Junho
SOBRE A BONDADE QUE NOSSO SENHOR
NOS TESTEMUNHA NA SANTA COMUNHÃO
1 Ante diem autem festum paschae sciens 1 Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo
Iesus quia venit eius hora ut transeat ex hoc mundo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste
ad Patrem cum dilexisset suos qui erant in mundo mundo para o Pai, tendo amado os seus que
in finem dilexit eos (Jo13, 1). estavam no mundo, amou-os até ao fim (Jo 13,1).
Primeiro Prelúdio. O Sacramento da Eucaristia é o prodígio do amor do Coração de Jesus pelos
homens.
Segundo Prelúdio. Senhor, fazei que eu responda como devo à afeição e à ternura que me
testemunhais na santa comunhão.
PRIMEIRO PONTO: Neste sacramento, Nosso Senhor dá-nos o exemplo da mais
admirável ternura. – O sacramento da Eucaristia, a maravilha da omnipotência divina, é
também o prodígio do amor do Coração de Jesus pelos homens. É por isso que o apóstolo S.
João recorda a sua instituição com estas simples palavras: «Como Nosso Senhor tinha amado os
seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim».
Este sacramento mostra que não se deve ter medo de ir ter com Nosso Senhor pelos
afectos do coração. É fácil compreender que a comunhão do corpo e do sangue de Nosso Senhor
é um prodígio de afecto e de amor terno.
No sacramento do altar, Nosso Senhor está vivo. Lá é Deus e homem, homem em corpo
e alma. Funde-se total e simultaneamente no corpo e na alma do comungante. Não é isto uma
loucura de amor e de amor terno? Somente o seu Coração, o seu Coração transbordante de amor
pôde encontrar uma semelhante loucura que exigia pôr em acção todo o seu poder divino. Pôs
todo o seu poder ao serviço das loucuras da sua ternura. À loucura da cruz, juntou a loucura de
uma comunicação tão íntima que os homens têm dificuldade em concebê-la. É verdade que a
sua carne se funde na carne do comungante, a sua alma na alma, o seu coração no coração do
fiel, e este abraço inspirado pelo Coração de Jesus ardente de amor dura enquanto durarem as
espécies sacramentais. Ele disse: «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece
em mim e eu nele».
Há na santa comunhão, diz S. Cirilo, como dois círios que se fundem e juntos se
misturam.
O mesmo Pai aplica à Eucaristia o exemplo que S. Paulo dá / 665 do fermento que ganha
toda a massa da farinha: «Assim, diz, a Hóstia enche todo o homem com a sua graça».
SEGUNDO PONTO: Esta ternura de Nosso Senhor por nós é semelhante à de uma
mãe. – Para nos fazer uma ideia da ternura de Nosso Senhor pelos homens, pensemos na de uma
mãe pelo seu filhinho. Nosso Senhor disse-o pelo profeta Isaías: «Pode uma mãe esquecer o seu
filhinho e não ter piedade do fruto do seu seio? Ora bem! Mesmo que ela o possa fazer, eu
nunca vos esquecerei». O que Deus disse do povo de Israel aplica-se melhor ainda às almas
cristãs.
Maria teve pelo seu Jesus Menino uma ternura tão grande que nenhuma criatura pôde
nem jamais poderá igualar. Esta ternura de Maria empalidece junto da do Salvador, que
inventou a maravilha da Eucaristia. Os que vêm a Nosso Senhor com o amor de ternura são
sempre recebidos com complacência. Que se compreenda enfim que o amor de um Deus não é,
não pode ser um amor sem coração, um amor glacial, um amor sem amor. Purificar o coração,
não é expulsar o amor, é dele expulsar tudo o que não é amor por Jesus.
Amar Jesus, é tudo o que ele pede. Ele quer expandir a devoção ao seu coração sagrado,
para que vamos ter com ele com o coração. É preciso nesta devoção distinguir duas coisas: o
culto público e oculto interior. As solenidades do culto público glorificam o Sagrado Coração e
ele é muito sensível a isso. Deus Pai compraz-se nisso e responde com graças abundantes, mas é
preciso mais e melhor para Nosso Senhor. É preciso que ele tenha adoradores em espírito e
verdade, adoradores que lhe dêem /666 o seu coração, que lhe dêem todos os seus batimentos,
todas as suas aspirações, todos os afectos.
Resoluções. – Senhor Jesus, tomai o meu coração, pertence-vos. Quero vo-lo dar com
ternura pensando habitualmente em vós e conversando intimamente convosco. Quero vo-lo dar
com força consumindo-me por vós nos trabalhos, na acção, nas dores e até na morte.
Colóquio com Jesus-Hóstia.

18 de Junho
O CORAÇÃO DE JESUS, SEDE DE TODAS AS VIRTUDES
1 Volo enim vos scire qualem 1 Gostaria, pois, que soubésseis quão
sollicitudinem habeam pro vobis et pro his qui sunt grande luta venho mantendo por vós, pelos
Laodiciae et quicumque non viderunt faciem meam laodicenses e por quantos não me viram face a
in carne 2 ut consolentur corda ipsorum instructi in face; 2 para que o coração deles seja confortado e
caritate et in omnes divitias plenitudinis intellectus vinculado juntamente em amor, e eles tenham toda
in agnitionem mysterii Dei Patris Christi Iesu 3 in a riqueza da forte convicção do entendimento, para
quo sunt omnes thesauri sapientiae et scientiae compreenderem plenamente o mistério de Deus,
absconditi (Col 2,1). Cristo, 3 em quem todos os tesouros da sabedoria e
do conhecimento estão ocultos (Col 2, 1-2).
Primeiro Prelúdio. Em Jesus, no seu Coração, estão escondidos todos os tesouros da caridade, da
sabedoria e da virtude.
Segundo Prelúdio. Dai-me, Senhor, alguma esmola deste rico tesouro.
PRIMEIRO PONTO: Humildade. – Esta meditação e as duas seguintes foram-nos
inspiradas pelo P. Cláudio de la Colombière. «O Coração de Jesus, diz-nos no seu acto de
oblação, é a sede de todas as virtudes, a fonte de todas as bênçãos, e o retrato de todas as almas
santas». O santo religioso inspirava-se nas comunicações e nas cartas de Margarida Maria.
«A primeira virtude que deve honrar-se nele, diz, é um ardentíssimo amor de Deus seu
Pai, junto a um respeito muito profundo e à maior humildade que jamais existiu». Não disse
Nosso Senhor mesmo: «Aprendei de mim que sou doce e humilde de coração!».
Falamos aqui da humildade fundamental, que consiste em reconhecer o nada da criatura
e a grandeza infinita de Deus. É esta humildade do Coração de Jesus que estabelecia Nosso
Senhor no respeito mais profundo da Majestade divina e no amor ardente pelas infinitas
perfeições do seu Pai celeste.
Esta deve ser para nós também a virtude principal e o fundamento de todas as outras.
Não é senão pôr em prática o primeiro mandamento em toda a sua integridade: Um só Deus
adorarás e amarás perfeitamente.
SEGUNDO PONTO: Paciência. - «A segunda virtude a honrar no Sagrado Coração,
diz o P. Cláudio de la Colombière, é uma paciência infinita nos males, uma contrição e uma dor
extremas pelos pecados de que se carregou, a confiança de um filho muito terno aliada à
confusão de um grande pecador». – Sabia que Nosso Senhor, manifestando /668 o seu coração a
Margarida Maria, tinha sobretudo atraído a nossa atenção sobre os seus mistérios dolorosos,
sobre a sua Paixão e os seus sofrimentos reparadores.
«O Sagrado Coração foi-me representado sobre um trono de fogo, tinha-lhe dito
Margarida Maria, e a chaga que tinha recebido sobre a cruz aparecia-lhe visivelmente. Havia
uma coroa de espinhos em volta deste Sagrado Coração e uma cruz em cima. O divino Salvador
fez-me conhecer que estes instrumentos da Paixão significavam que o amor imenso que tem
pelos homens tinha sido a fonte de todos os sofrimentos e humilhações que quis sofrer por nós;
que desde o primeiro instante da sua incarnação, todos estes tormentos e todos estes desprezos
lhe tinham sido preparados, que a cruz foi, por assim dizer, plantada no seu Coração, e que foi
desde aquele primeiro instante que aceitou, para nos testemunhar todo o seu amor, todas as
humilhações, a pobreza, as dores que a sua sagrada humanidade devia sofrer em todo o curso da
sua vida mortal, e os ultrajes aos quais o amor devia expô-lo até ao fim dos séculos, sobre os
nossos altares, no santíssimo e augustíssimo Sacramento…».
Paciência, reparação, abandono, aí está toda a vida do Coração de Jesus. Deu-nos este
exemplo com a graça para o imitarmos.
Era a resolução do P. Cláudio de la Colombière: «Abraço, dizia, a amável cruz da
obediência até à minha morte. Ela será todo o meu prazer, toda a minha glória e as minhas
delícias. A Deus não agrada que eu me glorifique, que jamais me regozije que não seja na cruz
de Jesus Cristo. A Deus não agrada que jamais tenha outro tesouro que não seja a sua pobreza,
outras delícias que não sejam os seus sofrimentos, outro amor que não seja ele mesmo!». Tal
deve ser também o meu ideal.
TERCEIRO PONTO: Caridade. - «A terceira virtude que é preciso honrar no Sagrado
Coração, diz ainda o P. Cláudio de la Colombière, é a sua compaixão muito sensível pelas
nossas misérias, o seu amor imenso por nós apesar destas mesmas misérias, e, apesar destes
movimentos e impressões, a sua igualdade inalterável causada por uma conformidade tão
perfeita à vontade de Deus, que não podia ser perturbada por nenhum acontecimento».
Não foi na misericórdia do seu Coração que ele nos visitou: Per viscera misericordiae
in quibus visitavit nos (Lc 1, 78). Quando Jesus encontra doentes, mortos, o seu Coração não
pode resistir às lágrimas daqueles que os envolvem. Emudecido de piedade, cura-os, dá-lhes a
vida: misericordia motus (Lc 7, 13).
Vendo a multidão sem provisões para a sua refeição, tem compaixão dela: misereor
super turbam (Lc 10, 33). /669
«Este Coração está ainda, quanto isso ainda possa ser, nos mesmos sentimentos, observa
o P. Cláudio de la Colombière, está sempre ardente de amor pelos homens, sempre aberto para
espalhar todas as espécies de graças e de bênçãos, sempre tocado pelos nossos males, sempre
pressionado pelo desejo de nos dar a participar nos seus tesouros e a dar-se a si mesmo a nós,
sempre disposto a nos receber, e a nos servir de asilo, de morada e de paraíso, desde esta vida».
Mantendo-me unido ao Coração de Jesus e meditando nos seus mistérios, participarei
cada vez mais nas suas virtudes.
Resoluções. – Tenho ao meu alcance, no Coração de Jesus, a fonte de todas as virtudes,
que podem resumir-se na humildade, na paciência, na caridade; mas é preciso que resolutamente
beba nesta fonte. É preciso que me una sempre mais fielmente ao Coração de Jesus em cada
uma das minhas acções.
Colóquio com o Sagrado Coração.
18 de Junho
FESTA DO SAGRADO CORAÇÃO DE MARIA
48 Dixit mater eius ad illum fili quid 48 E sua mãe disse-lhe: Filho, porque
fecisti nobis sic ecce pater tuus et ego dolentes fizeste assim conosco? Teu pai e eu, aflitos,
quaerebamus te 49 et ait ad illos quid est quod me estamos à tua procura. 49 Ele lhes respondeu: Por
quaerebatis nesciebatis quia in his quae Patris mei que me procuráveis? Não sabíeis que me cumpria
sunt oportet me esse 50 et ipsi non intellexerunt estar na casa de meu Pai? 50 Não compreenderam,
verbum quod locutus est ad illos 51 et descendit porém, as palavras que lhes dissera. 51 E desceu
cum eis et venit Nazareth et erat subditus illis et com eles para Nazaré; e era-lhes submisso. Sua
mater eius conservabat omnia verba haec in corde mãe, porém, guardava todas estas coisas no coração
suo (Lc 2, 48-51). (Lc 2, 48-51).
Primeiro Prelúdio. Maria conservava no seu coração todas as lições de Jesus, lições de vida
interior e lições de misericórdia pelos homens.
Segundo Prelúdio. Ó Maria, refúgio dos pecadores, saúde dos enfermos, consoladora dos aflitos,
rogai por mim, tende piedade de mim.
PRIMEIRO PONTO: O Coração de Maria é o refúgio dos pecadores. – Deus quis
muito particularmente fazer de Maria a esperança e a salvação dos pecadores. Os Padres da
Igreja não se calam sobre este privilégio de Maria.
A Idade Média, muito ávida de símbolos, comparou Maria ao astro da noite, porque
ilumina o pecador, que caminha na noite dos seus pecados. «O sol, criado para brilhar durante o
dia, é, diz o cardeal Hugo, a figura de Jesus, cuja luz alegra os justos que vivem no grande dia
da graça divina; a lua, criada para luzir durante a noite, é a figura de Maria, cuja luz ilumina
ainda os pecadores, mergulhados na noite do pecado». - «Se alguém, diz Inocente III, se
encontra miseravelmente empenhado na noite do pecado, que levante os olhos para o astro do
noite, que invoque Maria!».
«A divina misericórdia, diz o P. Eudes, reina tão perfeitamente no Coração de Maria,
que lhe faz levar o nome de Rainha e de Mãe de misericórdia. Ganhou de tal modo o coração da
divina misericórdia, que lhe deu as chaves de todos os seus tesouros, e tornou-a absolutamente
senhora». Recusará ela o seu concurso aos pecadores, ela que durante a sua vida ofereceu o seu
divino Filho por eles, no Templo e no Calvário?
SEGUNDO PONTO: O Coração de Maria, saúde dos enfermos. – Maria é só bondade,
assim pode tudo esperar-se da generosidade do seu Coração, a cura dos corpos como a das
almas. Muitas vezes mesmo os seus benefícios revestem o brilho de um milagre, como acontece
em Lourdes e em tantos outros santuários.
«Maria, diz S. Bernardo, é como a terra prometida, onde Deus faz / 671 correr o leite e o
mel das suas bênçãos (sobre a Salve Regina).
«Tais são, diz S. Leão, os tesouros de bondade e de clemência depostos no seio de
Maria, que nós devemos proclamá-la não somente misericordiosa, mas a misericórdia mesma».
«Quando vos contemplo, diz S. Boaventura, ó minha Soberana, de nada mais me
apercebo senão da misericórdia; porque é em favor dos miseráveis que Deus vos escolheu para
sua Mãe, e foi o ofício da sua misericórdia que ele vos confiou. Sem cessar ocupada dos
infelizes, apareceis-me como envolvida de misericórdia e pareceis não ter a peito senão exercer
misericórdia».
Toda a história publica a misericórdia de Maria. Invocam-na na doença, no sofrimento,
na provação, e os ex-votos dos nossos santuários dizem quando ela é prestável.
«Maria, diz S. João Crisóstomo, é um oceano de misericórdia.
TERCEIRO PONTO: O Coração de Maria é a esperança de todos os aflitos. – A
divina Providência tinha reservado este papel a Maria. Era figurada por Ester e Judite que
salvaram o povo de Deus.
Por toda a parte os fiéis, confiantes e reconhecidos, ergueram-lhe santuários sob os
títulos graciosos de Nossa Senhora do Bom Socorro, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Maria
Auxiliadora, Maria Consoladora dos aflitos.
Preludiou na sua vida mortal a este ministério de misericórdia, correndo para assistir a
sua prima Isabel, indo em ajuda dos esposos de Caná, assumindo o encargo de dar a S. João,
depois da morte do Salvador, os seus cuidados maternais.
Em Caná, é a protectora das famílias. Adoptando S. João, toda a tutela e o cuidado do
sacerdócio e da Igreja, representados por S. João ao pé da cruz.
É então surpreendente, depois disto, ver por toda a parte os particulares e as nações
reclamarem o seu patrocínio, recorrer à sua assistência, apelar ao seu coração de Mãe e
testemunhar-lhe através de monumentos e de oferendas de todo o género o seu reconhecimento
pelos benefícios recebidos?
A Igreja canta em sua honra este hino de confiança: «Salve, ó Rainha, Mãe de
misericórdia, nossa vida, nossa doçura e nossa esperança?».
Os Doutores e os Santos procuram as expressões mais fortes para dizerem quanto o seu
Coração é prestável: «Ela é, diz S. João Damasceno, o único alívio de todos os aflitos e a
soberana consoladora de todos os corações angustiados». /672
Resoluções. – Ó Virgem bendita, socorro dos cristãos, protegei-nos, protegei as nossas
famílias, protegei as nações cristãs nestes tempos difíceis que atravessamos.
Ó Mãe do meu Deus, o vosso Coração nunca desdenhou socorrer nenhum pecador, por
enormes que fossem os seus crimes, desde que tenha sido recomendado a vós. Deixai-vos
portanto levar a socorrer-me pela vossa bondade que é sem medida. Farei cada dia alguma coisa
por vosso culto.
Colóquio com o Sagrado Coração de Maria.

19 de Junho
O CORAÇÃO DE JESUS, FONTE DE TODAS AS BÊNÇÃOS
16 Et erit firmamentum in terra in summis 16 Haja na terra abundância de cereais,
montium superextolletur super Libanum fructus que ondulem até aos cimos dos montes; seja a sua
eius et florebunt de civitate sicut faenum terrae 17 messe como o Líbano, e das cidades floresçam os
sit nomen eius benedictum in saecula ante solem habitantes como a erva da terra. 17 Subsista para
permanet nomen eius et benedicentur in ipso omnes sempre o seu nome e prospere enquanto
tribus terrae omnes gentes beatificabunt eum (Sl resplandecer o sol; nele sejam abençoados todos os
71, 16-17). homens, e as nações lhe chamem bem-aventurado
(Sl 71, 16-17).
Primeiro Prelúdio. Muitas vezes Deus nos prometeu pelos patriarcas e pelos profetas bênçãos
maravilhosas para os tempos da redenção. Podemos ver no Sl 71 o Coração de Jesus semelhante ao sol
que faz desabrochar as flores e amadurecer os frutos.
Segundo Prelúdio. Radioso sol do divino Coração iluminai, aquecei e fecundai o meu coração.
PRIMEIRO PONTO: Carta de Margarida Maria ao P. Cláudio de la Colombière. – O
P. Cláudio sabia melhor que ninguém quanto a devoção ao Sagrado Coração era rica em
bênçãos, Margarida Maria tinha-lhe comunicado promessas que tinha recebido de Nosso
Senhor. - «Que não lhe posso contar, escrevia-lhe, tudo o que sei desta amável devoção ao
Sagrado Coração de Jesus, e descobrir a toda a terra os tesouros de graças que Jesus Cristo
encerra neste Coração adorável, e que tem o desígnio de espalhar com profusão sobre todos os
que a praticarem!...
Os tesouros de bênçãos e de graças que este Sagrado Coração encerra são infinitos;
desconheço que haja um exercício de devoção na vida espiritual, que seja mais apropriado para
elevar em pouco tempo uma alma à mais alta perfeição e lhe fazer saborear as verdadeiras
delícias que se encontra no serviço de Jesus Cristo…
Fazei de modo a que as pessoas religiosas a abracem, porque dela retirarão tantos
socorros que não seria necessário outro meio para restabelecer o primeiro fervor e a mais exacta
regularidade nas comunidades menos regradas, e para levar ao cúmulo da perfeição aquelas que
vivem na mais exacta regularidade.
SEGUNDO PONTO: Promessas especiais. – Margarida Maria anunciava também ao P.
Cláudio graças especiais para os apóstolos do Sagrado Coração, para as pessoas seculares, para
a boa morte. - «O meu divino Salvador, escrevia, deu-me a entender que aqueles que trabalham
pela salvação das almas /674 terão a arte de tocar nos corações mais endurecidos e trabalharão
com um sucesso maravilhoso, se estiverem eles mesmos penetrados de uma terna devoção ao
seu divino coração. – Para as pessoas seculares, encontrarão por meio desta amável devoção
todos os socorros necessários ao seu estado; isto é, a paz nas suas famílias, o alívio nos seus
trabalhos, a bênção do céu em todos os seus empreendimentos, a consolação nas suas misérias;
e é propriamente neste Sagrado Coração que hão-de encontrar o seu refúgio durante toda a sua
vida e principalmente na hora da sua morte. Ah! Como é doce morrer depois de ter tido uma
constante devoção ao Coração daquele que nos deve julgar! – Finalmente, é visível que não
haveria ninguém no mundo que não ressentisse todas as espécies de socorro do céu, se tivesse
por Jesus Cristo um amor reconhecido tal como é aquele que se testemunha pela devoção ao seu
Sagrado Coração».
TERCEIRO PONTO: Carta à madre Greyfié. – Estas promessas de bênçãos são
repetidas, com mais insistência ainda se é possível, numa carta à madre Greyfié. - «Se
soubésseis, diz Margarida Maria, como me sinto pressionada para amar o Sagrado Coração de
Nosso Senhor Jesus Cristo! Ele gratificou-me com uma visita que me foi extremamente
favorável pelas boas impressões que deixou no meu coração. Então confirmou-me que o prazer
que recebe de ser amado, conhecido e honrado pelas suas criaturas é tão grande que, se não me
engano, me prometeu que todos os que lhe tiverem sido devotos e consagrados jamais hão-de
perecer; e que, como é a fonte de todas as bênçãos, as expandirá com abundância em todos os
lugares em que for colocada e honrada a imagem do seu divino Coração; que reunirá as famílias
divididas e protegerá e assistirá aquelas que estiverem em alguma necessidade e que a ele se
dirigirem com confiança; que espalhará a suave unção da sua ardente caridade sobre todas as
comunidades que o honrarem e se colocarem sob a sua especial protecção; que delas desviará
todos os golpes da justiça divina, para as repor em graça quando dela decaírem. Deu-me a
conhecer que o seu Sagrado Coração é o Santo dos Santos, o Santo do amor! Que queria que
fosse conhecido no presente para o Mediador entre Deus e os homens, porque é todo-poderoso
para fazer a sua paz afastando os castigos que os nossos pecados atraíram, e para nos obter
misericórdia».
É surpreendente que o P. de la Colombière, tendo tido conhecimento das maravilhosas
promessas de Nosso Senhor, tenha chamado o Sagrado Coração a fonte de todas as bênçãos?
Sim, a devoção ao Sagrado Coração é o pleno desenvolvimento da profecia de David que nos
mostra o reino /675 de Cristo dando montanhas de frutos altos como o Líbano e molhos de flores
abundantes como a erva dos campos.
Mas para participar nestas bênçãos, não esqueçamos a condição: é preciso que sejamos
verdadeiramente devotos e consagrados ao Sagrado Coração.
Resoluções. – Crescer no vosso amor, Senhor, é a bênção que eu peço antes de tudo.
Sair da tibieza, avançar na perfeição, é o meu mais ardente desejo. Para isso quero-vos
consagrar sempre mais fielmente os meus pensamentos, as minhas disposições, as minhas
acções.
Colóquio com o Sagrado Coração.
20 de Junho
O CORAÇÃO DE JESUS,
RETIRO DE TODAS AS ALMAS SANTAS
13 Surge amica mea speciosa mea et veni 13 Levanta-te, querida minha, formosa
14 columba mea in foraminibus petrae in caverna minha, e vem. 14 Pomba minha, que andas pelas
maceriae ostende mihi faciem tuam sonet vox tua fendas dos penhascos, no esconderijo das rochas
in auribus meis vox enim tua dulcis et facies tua escarpadas, mostra-me o rosto, faz-me ouvir a tua
decora (Cant 2, 13-14). voz, porque a tua voz é doce, e o teu rosto, amável
(Cant 2, 13-14).
Primeiro Prelúdio. Jesus digna-se comprazer-se com a nossa presença, a nossa conversa,
convida-nos a nos refugiarmos no seu seio e no seu Coração, como a pomba no buraco do rochedo.
Segundo Prelúdio. É demasiada bondade, Senhor, mas pois que me convidais, entrarei no vosso
Coração e nele fixarei a minha morada.
PRIMEIRO PONTO: O Coração de Jesus é o nosso doce retiro. – É desde os Padres da
Igreja que a tradição interpreta neste sentido o nosso texto do Cântico dos Cânticos. Sto.
Agostinho diz no seu Manual (c. 2): «Longino abriu-me com a sua lança o lado de Jesus, e eu
entrei e repouso lá em segurança». – S. Bernardo tem páginas deliciosas no seu tratado da
Paixão (c. 3): «O vosso coração foi ferido, diz a Nosso Senhor, para que eu possa nele e em vós
habitar… como é bom habitar neste coração!...». S. Boaventura dizia: «Penetrando nas chagas
de Jesus, chego até ao fundo do seu amor… entremos lá todo inteiros, aí encontraremos o nosso
repouso e uma inefável doçura» (Stim. Div. Amoris, c.1). Nosso Senhor dizia a Sta. Matilde:
«Dar-te-ei o meu coração como um lugar de refúgio». S. Francisco de Sales escrevia a uma
visitandina (Carta 64): «Não sei onde estareis nesta Quaresma segundo o corpo; segundo o
espírito, espero que estareis na caverna da rola e no lado ferido de Nosso Senhor; quero
esforçar-me por estar lá muitas vezes convosco; Deus, pela sua soberana bondade, nos faça essa
graça!... Como este Senhor é bom, minha muito querida filha, como o seu coração é amável!
Permaneçamos lá neste santo domicílio!».
O P. Cláudio de la Colombière tem por tanto razão ao dizer que o Coração de Jesus é o
retiro de todas as almas santas.
SEGUNDO PONTO: É um lugar de refúgio. – Margarida Maria, muito assídua à
permanência no Coração de Jesus, tomava lá funções muito variadas, considerando-se aí ora
como discípula na escola do divino Coração, ora como uma doente no hospício, ou uma cativa
na prisão do amor, ou uma mendiga /677 no palácio do rei. Mas o mais das vezes vê no Coração
de Jesus um lugar de refúgio, um porto de segurança, uma cidadela de protecção contra os
inimigos da salvação, um asilo para os pecadores.
«É preciso retirar-nos, diz, para a chaga do Sagrado Coração como um pobre viajante
que procura um porto seguro para se colocar ao abrigo dos escolhos e das tempestades do mar
tempestuoso do mundo, onde estamos expostos a um contínuo naufrágio. – O Coração adorável
é um delicioso retiro onde vivemos ao abrigo de todas as tempestades. – Este divino Coração é
como um forte inexpugnável contra os assaltos do inimigo».
O Sagrado Coração é o asilo da misericórdia e do perdão: «Os pecadores, diz Nosso
Senhor, encontrarão no meu coração o oceano infinito da misericórdia». - «Que podeis temer
em irdes lá, diz Margarida Maria, uma vez que ele vos convida a lá irdes? Não é ele o trono da
misericórdia onde os miseráveis são os mais bem recebidos, desde que o amor os apresente no
abismo da sua miséria?». - «O Pai eterno, por um excesso de misericórdia, fez deste ouro
precioso uma moeda inapreciável, marcado no cunho da sua divindade, para que os homens com
ela possam pagar as suas dívidas e negociar o grande assunto da sua salvação eterna». -
«Permanecereis no Sagrado Coração de Jesus como um criminoso que, pelos desgostos e pela
dor das suas faltas, deseja apaziguar o seu juiz fechando-se nesta prisão de amor». - «Deu-me a
conhecer que o seu Sagrado Coração é o Santo dos Santos, que queria que fosse conhecido
agora para ser o mediador entre Deus e os homens, porque é todo-poderoso para fazer a sua paz
e para obter misericórdia».
TERCEIRO PONTO: É um oratório sagrado. - «Escolhei o Coração de Nosso Senhor,
diz-nos Margarida Maria, para vosso oratório sagrado. Entrai lá para aí fazerdes as vossas
preces e orações, a fim de que elas sejam agradáveis a Deus. Aí encontrareis com que lhe dar o
que lhe deveis». - «Encontrai-vos enfraquecido no serviço de Deus, não vos perturbeis. Para vos
satisfazerdes neste ponto, nada tendes a fazer senão unir-vos, em tudo o que fizerdes, ao
Sagrado Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo, no começo, para vos servir disposições, e no
fim satisfação. – Não podeis fazer nada na oração? Contentai-vos em oferecer a de Nosso
Senhor no Santíssimo Sacramento do altar, oferecendo os seus ardores para reparar as vossas
tibiezas. – Dizei em cada uma das vossas acções: Meu Deus, quero fazer ou sofrer isto no
Coração sagrado do vosso divino Filho, e segundo as suas santas intenções que vos ofereço para
reparar tudo o que há de impuro e de imperfeito nas minhas. Ele suprirá em tudo / 678 o que
poderá faltar-vos da vossa parte; amará a Deus por vós, e amá-lo-eis nele e por ele». - «Este
divino Coração é uma fonte inesgotável onde há três canais que correm sem cessar:
primeiramente, o de misericórdia pelos pecadores donde brota o espírito de contrição e de
penitência; o segundo, de caridade por todos os necessitados, e particularmente por aqueles que
tendem à perfeição, que aí encontrarão com que vencerem os obstáculos; do terceiro, correm o
amor e a luz para aqueles que quer unir a si para lhes comunicar a sua ciência e as suas luzes.
Procuremos neste divino Coração tudo aquilo de que tivermos necessidade; recorramos a ele em
todo o tempo e em todo o lugar. É um tesouro escondido e infinito que não pede senão a abrir-se
a nós».
Resoluções. – O divino Coração é portanto um doce retiro, quero nele permanecer
sempre; é um asilo, um refúgio onde encontrarei o perdão das minhas faltas e a protecção em
todos os perigos; é o oratório sagrado onde rezarei para ser sempre atendido.
Colóquio com o Sagrado Coração.

21 de Junho
S. LUÍS DE GONZAGA
1568-1591
10 Placens Deo factus dilectus et vivens inter Como era agradável a Deus, foi por ele
peccatores translatus est 11 raptus est ne malitia amado, e Deus retirou-o do meio dos pecadores,
mutaret intellectum illius aut fictio decipiat animam com medo que o seu espírito não fosse ganho
illius 12 fascinatio enim nugacitatis obscurat bona et pela malícia dos ímpios ou seduzido pelos falsos
inconstantia concupiscentiae transvertit sensum sine bens do mundo. Tendo vivido pouco, encheu o
malitia 13 consummatus in brevi explevit tempora curso de uma longa vida (Sab 4, 10-13).
multa (Sab 4, 10-13).
Primeiro Prelúdio. O amável jovem santo foi amado do Sagrado Coração, que muito cedo o
chamou para si.
Segundo Prelúdio. S. Luís de Gonzaga, ensinai-nos a merecer a afeição do Coração de Jesus.
PRIMEIRO PONTO: O santo do Sagrado Coração. – S. Luís de Gonzaga é chamado
com razão o santo do Sagrado Coração. Ele bebeu talvez esta devoção com o leite, estando a sua
família, por um favor especial, em posse do sangue precioso que tinha corrido das feridas do
Salvador.
Tinha uma união contínua ao Coração de Jesus nos actos da sua vida.
Nove anos depois da sua morte, Sta. Madalena de Pazzi, num dos seus arroubamentos,
viu S. Luís de Gonzaga na glória celeste. Quando acordou do seu êxtase, exclamou: «Ó que
glória tem Luís, o filho de Inácio! É um grande santo e um mártir desconhecido». Acrescentava:
«Quando Luís estava na sua vida mortal, disparava sem cessar flechas de amor para o Coração
de Jesus».
Pode ver-se um sinal providencial no facto de o caro santo morrer na noite que segue a
oitava do Santíssimo Sacramento, depois da meia-noite, isto é, no dia que Nosso Senhor devia
escolher para a festa do Sagrado Coração.
Margarida Maria considerava-o de tal modo como o santo do Sagrado Coração que
escolheu o dia 21 de Junho, dia da sua morte e da sua festa, para se consagrar ao Sagrado
Coração com o Padre de la Colombière.
O Padre Croiset, tão unido a Margarida Maria, no primeiro livro que trata oficialmente
da devoção ao Sagrado Coração, indica o recurso a S. Luís Gonzaga como um dos meios
principais para obter esta devoção. /680
SEGUNDO PONTO: A sua vida santa e a sua preciosa morte. – Este caro padroeiro da
juventude elevou-se a uma grande santidade: «Depois do glorioso Sto. Inácio e de S. Francisco
Xavier, dizia Belarmino, embora tenha havia já na Companhia muitos perfeitos religiosos e
heróicos mártires, Deus não fez brilhar ninguém com tanto esplendor como este bem-
aventurado jovem».
Com a idade de sete anos, consagrou-se a Maria e começou a recitar todos os dias o
ofício da Santa Virgem. Com nove anos, fez o voto de virgindade.
Era a modéstia mesma. Amava a oração como as outras crianças amam o jogo.
Recebeu a primeira comunhão da mão de S. Carlos Borromeu, e desde então comungou
todos os domingos, consagrando três dias da semana à preparação e três dias à acção de Graças.
Amava as vigílias, as disciplinas e a abstinência como um asceta.
A oração era o seu refúgio habitual. «Nunca recomendei a Deus, dizia, um grande ou
um pequeno assunto que não tenha sido terminado como desejava».
A sua oração era sem distracções.
Não passava de uma criança e amava a Nosso Senhor como um serafim. Alimentava
este amor na meditação da Paixão e da Eucaristia.
No noviciado, era o modelo de todos pela sua regularidade e pelo seu fervor.
Morreu mártir da sua caridade. Tinha pedido a autorização para ir cuidar os empestados.
Ganhou ele mesmo os germes da doença.
Na noite da oitava do Corpo de Deus, disse ao Padre Provincial: «Vamo-nos embora
com alegria. – Aonde ides, diz-lhe o Padre. – Para o Paraíso», respondeu o jovem santo. E
expirava depois da meia-noite com o sorriso nos lábios.
TERCEIRO PONTO: O apóstolo do Sagrado Coração. – Todo dedicado na terra ao
amor de Nosso Senhor e ao culto íntimo do Coração de Jesus, o nosso santo tornou-se do alto
céu o seu promotor e o seu apóstolo.
No dia 6 de Janeiro de 1735, aparece, com o Padre de la Colombière e outros servos do
Sagrado Coração, para confirmar a missão confiada ao P. de Hoyas, de promover em toda a
Espanha este culto sagrado.
No dia 6 de Fevereiro de 1765, três dias depois da aprovação do ofício e da missa do
Sagrado Coração por Clemente XIII, veio do céu declarar que este ofício estava ratificado, e
como prova da sua missão, curou Nicolau Celestini / 681 ao qual diz: «Pela minha oração Deus
cura-te, mas é preciso que te apliques a adquirir a perfeição religiosa, e que durante toda a vida
te esforces por propagar a devoção ao Sagrado Coração, muito agradável ao céu».
Alguns dias depois, mostrava-se ainda, brilhante de glória, a um jovem órfão de Roma,
e curava-o também, fazendo-lhe prometer honrar os santos Corações de Jesus e de Maria.
Façamos dele o nosso auxiliar do nosso apostolado do Sagrado Coração.
Resoluções. – Caro santo, obtende-me a graça de ser como vós bem unido ao Coração
de Jesus e de lançar sem cessar flechas de amor a este divino Coração, pelas minhas orações
jaculatórias e pela oferta fiel de todas as minhas acções em espírito de amor e de reparação.
É ao pé do crucifixo e do tabernáculo que hei-de alimentar, a vosso exemplo, o fervor
do amor.
Colóquio com S. Luís de Gonzaga.

22 de Junho
AS PRÁTICAS DA DEVOÇÃO
AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
7 Exerce te ipsum ad pietatem 8 nam 7 Exercita-te, pessoalmente, na piedade. 8
corporalis exercitatio ad modicum utilis est pietas Pois o exercício físico para pouco é proveitoso,
autem ad omnia utilis est promissionem habens mas a piedade para tudo é proveitosa, porque tem a
vitae quae nunc est et futurae (1Tim 4, 7-8). promessa da vida que agora é e da que há de ser
(1Tim 4, 7-8).
Primeiro Prelúdio. Exercitemo-nos nas práticas da devoção ao Sagrado Coração, que é a forma
providencial da piedade para o tempo presente.
Segundo Prelúdio. Sagrado Coração de Jesus, ajudai-me a amar-vos praticamente.
PRIMEIRO PONTO: Imagem do Sagrado Coração. – Consagração. – A imagem
ocupa um grande lugar nas visões de Margarida Maria, nos desejos e nas promessas do Sagrado
Coração. É simultaneamente um meio de propagar esta devoção e uma prática especial desejada
por Jesus e à qual prometeu ligar grandes graças. Assim como Margarida Maria insiste! Como
ela é feliz por propagar estas imagens! Não tem ela promessas do Sagrado Coração para aqueles
que as levarem, e a garantia de bênçãos especiais para as casas onde ela estiver exposta e
honrada? Não quer Jesus que ela tenha o seu lugar de honra no palácio dos reis e mesmo na
bandeira nacional?
Nas visões de Margarida Maria, é ora o Coração sozinho que lhe é mostrado com as
insígnias da Paixão, ora é Jesus mesmo mostrando o seu Coração sobre o seu peito.
A consagração que Margarida Maria nos pede ao Sagrado Coração é um dom de si
mesmo, que é preciso renovar muitas vezes, a fim de não mais vivermos senão para o Sagrado
Coração, para os seus interesses e para o seu amor. Às vezes, a doação é pedida sob uma forma
especial, é uma vítima que deve oferecer-se para ser imolada em expiação pelos pecados ou pela
comunidade ou pelas almas do purgatório. Aqui está uma via particular. Façamos a consagração
comum e realizemo-la publicamente pelo dom de todas as nossas acções.
SEGUNDO PONTO: A comunhão e a pública retratação. – Um dos pedidos de Jesus a
Margarida Maria é de comungar tão frequentemente quanto ela possa. Este é o verdadeiro
espírito do Evangelho, reposto em honra por Pio X.
Na vida de Margarida Maria, a devoção ao Santíssimo Sacramento está estreitamente
unida à devoção ao Sagrado Coração. É diante do Santíssimo /683 Sacramento que ela tem as
suas principais revelações. É no altar que ela vê Jesus ultrajado, que ela lhe faz pública
retratação e lhe oferece as suas homenagens e as suas reparações. Ela ama e recomenda a
adoração do Santíssimo Sacramento; deseja consumir-se como um círio que arde diante do altar.
A pública retratação ocupa um grande lugar na vida de Margarida Maria e nas suas
recomendações. É a melhor forma de reparação amorosa pelo amor ultrajado. É assim que
Nosso Senhor a apresenta na grande aparição. Pede que no dia da festa futura o seu Coração seja
honrado «comungando neste dia e fazendo-lhe reparação com um pública retratação para
reparar as indignidades que recebeu durante o tempo em que esteve exposto sobre os altares».
A pública retratação é um acto preciso, determinado, mas é ao mesmo tempo uma
tendência geral da alma devota, ciumenta pela honra daquele que ama. Este espírito de
reparação está por toda a parte na vida de Margarida Maria e nos seus escritos. Ela pedia
também a comunhão reparadora. Aos padres, teria pedido a missa reparadora. «Vós fareis, dizia
às suas noviças, uma comunhão para fazer pública retratação ao Sagrado Coração de Jesus e
implorar-lhe misericórdia por todas as más comunhões que se fazem e que foram feitas por nós
e pelos maus cristãos».
TERCEIRO PONTO: Hora Santa e união a Jesus sofredor. – Pode dizer-se da Paixão,
como da Eucaristia: é uma devoção inseparável, para Margarida Maria, da devoção ao Sagrado
Coração. A Hora Santa que Jesus pediu a Margarida Maria, não é outra coisa senão o exercício
de união a Jesus sofredor.
Ela passava no coro a noite de Quinta-feira Santa e uma vez passou lá toda a noite de
joelhos, sem apoio e com as mãos juntas, em união mística com os mistérios da agonia. A
imagem do Sagrado Coração que ela nos revelou está toda impregnada da Paixão: chaga, cruz,
coroa de espinhos (Bainvel).
Os seus escritos dão-nos a impressão de uma alma toda unida a Jesus sofredor, sem
outra alegria senão a alegria mesma «de sofrer amando».
Conhecemos a famosa visão na qual Nosso Senhor lhe apresentou um duplo quadro, o
de uma via «toda na paz e na consolação» e o de uma vida toda crucificada; e como ele mesmo
escolheu para ela a segunda.
Nosso Senhor tinha-lhe ensinado, por ocasião do jubileu, a oferecer muitas vezes /684 ao
Pai eterno as amplas satisfações que fez à sua justiça pelos pecadores na árvore da cruz,
pedindo-lhe para tornar eficaz o mérito do seu sangue precioso a todas as almas criminosas.
Resoluções. – Ligo-me sobretudo à consagração e à pública retratação. Amor e
reparação, é a minha divisa. É o espírito no qual quero viver e morrer. Quero repetir a minha
divisa no começo de todas as minhas acções. Quero oferecê-las nesta intenção ao coração do
meu Jesus para sua consolação.
Colóquio com Margarida Maria.

23 de Junho
O CORAÇÃO SACERDOTAL DE JESUS
7 Sacrificium et oblationem noluisti aures 7 Sacrifícios e ofertas não quiseste; abriste
autem perfecisti mihi holocaustum et pro peccato os meus ouvidos; holocaustos e ofertas pelo pecado
non postulasti 8 tunc dixi ecce venio in capite libri não requeres. 8 Então, eu disse: eis aqui estou, no
scriptum est de me 9 ut facerem voluntatem tuam rolo do livro está escrito a meu respeito; 9 agrada-
Deus meus volui et legem tuam in medio cordis me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu
mei (Sl 39, 7-9). coração, está a tua lei (Sl 39, 7-9).
Primeiro Prelúdio. Deus não quis mais sacrifícios da antiga lei, mas colocou no coração de
Nosso Senhor a lei do sacrifício novo. O Coração de Jesus é o sacerdote da nova lei, como Aarão e a sua
raça eram os sacerdotes da antiga.
Segundo Prelúdio. Ofereço, Senhor, a vosso Pai, os sacrifícios do vosso Coração e a eles uno os
meus.
PRIMEIRO PONTO: É pelo seu Coração que Jesus exerce principalmente o seu
sacerdócio. – O salmo no-lo diz: Deus escreveu no Coração de Jesus a lei do sacrifício novo. S.
Paulo repete-o: Pela oblação de si mesmo, Jesus santificou-nos (Heb 10, 14). É o amor do
Coração de Jesus pelo seu Pai e por nós que inspira e dirige a sua oblação e a sua imolação. A
Igreja no-lo recorda na santa liturgia: no hino do tempo pascal, Ad regias agni dapes, mostra-
nos o amor-sacerdote, ou o Coração sacerdotal de Jesus oferecendo o sacrifício redentor:
Divina cujus caritas
Sacrum propinat sanguinem
Almique membra corporis
Amor sacerdos immolat.
«É a caridade, é o amor-sacerdote, que derramou o sangue e imolou a carne do divino
cordeiro sobre a cruz».
«Como amava os seus, Jesus amou-os até ao fim» (Jo13). Depois de uma vida toda de
sacrifício, entrega-se aos perseguidores e aos seus carrascos que o crucificam. «É, diz, para que
o mundo seja testemunha do amor que tenho pelo meu Pai» (Jo 14). «Amou-me, diz S. Paulo, e
entregou-se por mim» (Gal 2).
SEGUNDO PONTO: O Coração sacerdotal de Jesus é o órgão de um culto perfeito de
amor e de reparação para com o seu Pai, de expiação e de impetração pelos homens. – O
louvor infinito que o Verbo é em pessoa na eternidade, / 686 transportou-o para o mundo. A este
louvor eterno acrescentam-se a adoração, o reconhecimento, a oração da humanidade que uniu
hipostaticamente a si.
E como Cristo, embora puro e perfeito em si mesmo, é o chefe da humanidade decaída,
oferecerá também ao seu Pai um sacrifício de expiação para reparar a glória do seu Pai
ultrajada.
Mas que vítima oferecerá ele a seu Pai? Uma vítima de um preço infinito, uma vítima
divina pode unicamente ser adequada à glória de Deus. O Coração de Jesus oferecer-se-á,
portanto, a si mesmo. Sacerdote e vítima, imolar-se-á como uma hóstia de amor, de
reconhecimento, de reparação e de oração. Imolar-se-á morrendo de amor, dando a sua vida, ao
mesmo tempo em que os seus carrascos se esforçam por tirá-la: «Dou a minha alma por mim
mesmo, diz, e ninguém ma poderia tirar» (Jo 10).
Este Coração adorável queria ao mesmo tempo glorificar o seu Pai, salvar as nossas
almas até ao fim e sem limites, quis perpetuar o seu sacrifício, multiplicá-lo por toda a terra e
eternizá-lo no céu. Vítima oferecida desde o primeiro instante da sua Conceição, sacrificou-se
no Calvário, imola-se na Eucaristia, oferece-se no céu, «sempre vivo para interceder por nós»
(Heb 7, 25).
TERCEIRO PONTO: O sacerdócio da nova lei saiu do Coração de Jesus como um rio
de amor e de vida. – Até à Quinta-feira santa a plenitude do sacerdócio eterno estava
concentrada em Nosso Senhor Jesus Cristo. O seu coração é um abismo infinito de glória pelo
seu Pai e de salvação pelos homens. Deste abismo, o céu viu sair naquele dia, um duplo rio de
amor e de vida: o sacerdócio e a Eucaristia. Este duplo rio ia espalhar as suas águas divinas em
toda a Igreja de Deus para tudo inundar, tudo vivificar, regenerar e santificar.
Naquele dia, duas presenças de Jesus aqui em baixo foram fundadas: a sua presença
física nos tabernáculos, a sua presença moral no sacerdócio católico. Nosso Senhor permanece
connosco de uma maneira invisível e velada na Eucaristia. E encarregou os seus sacerdotes de o
consagrarem, de o darem a conhecer, de o distribuírem, de serem os propagadores da sua luz, do
seu amor, da sua vida.
A Providência ilumina, aquece e vivifica a natureza, sobretudo pelo sol. O sacerdócio é
o sol sobrenatural de que Jesus se serve para iluminar, vivificar, divinizar as almas.
Os padres são como o coração da Igreja, o órgão mais íntimo e /687 mais influente de
Jesus, o principal motor pelo qual o seu sacerdócio divino leva por toda a parte a vida (SAUVÉ,
Jesus intime).
Resoluções. – Sacerdote e vítima, todo o cristão deve sê-lo numa certa medida. O padre
mais do que qualquer outro deve estar unido ao Coração sacerdotal de Jesus. Uno, ó Jesus, os
meus pequenos sacrifícios de cada dia, de cada hora ao sacrifício perpétuo de amor e de
reparação do vosso divino Coração.
Colóquio com o Coração sacerdotal de Jesus.

24 de Junho
NATIVIDADE DE S. JOÃO BAPTISTA
76 Et tu puer propheta Altissimi vocaberis 76 Tu, menino, serás chamado profeta do
praeibis enim ante faciem Domini parare vias eius Altíssimo, porque precederás o Senhor,
77 ad dandam scientiam salutis plebi eius in preparando-lhe os caminhos, 77 para dar ao seu
remissionem peccatorum eorum (Lc 1, 76-77). povo conhecimento da salvação, no redimi-lo dos
seus pecados (Lc 1, 76-77).
Primeiro Prelúdio. O precursor, parente e amigo de Jesus, tem uma grande semelhança com ele.
A sua missão é conduzir a Jesus.
Segundo Prelúdio. Santo Precursor, conduzi-me a Jesus, ao seu amor, à sua imitação, ao seu
Coração.
PRIMEIRO PONTO: Penitência e reparação. – S. João Baptista entrega-se à penitência
e à reparação pelo seu povo, como os profetas. Como Jeremias, é santificado no seio de sua
mãe. É o novo Elias, predito por Malaquias.
Desde a sua infância entrega-se à penitência. «Não beberá nem vinho nem cidra», diz o
anjo a Zacarias.
Passa a sua adolescência no deserto, está vestido com uma túnica de peles de camelo
apertada por um cinto de couro; come mel silvestre e gafanhotos.
«Que fostes ver ao deserto? diz Jesus aos seus discípulos. Não é um homem molemente
vestido. É um anjo, que não come nem bebe» (Mt 11, 18). Nosso Senhor exprime assim a
extrema mortificação do Precursor.
É um profeta, um asceta. S. Bernardo chama-o patriarca, o mestre e o guia dos
religiosos. Como os religiosos contemplativos, amou a solidão, a oração, a penitência; como os
religiosos apostólicos, pregou a todas as classes da sociedade, reconduziu um grande número de
pecadores, conduziu as almas a Jesus Cristo.
Imitemos a sua penitência e o seu zelo.
SEGUNDO PONTO: Foi mártir da pureza. – S. João Baptista amava ardentemente a
virgindade. Viveu virgem. Não podia sofrer a visão da impureza. Atacava nos seus discursos
todas as desordens de costumes, sem medo de ofender os grandes. Censurou mesmo a Herodes
ter tomado por esposa a mulher do seu irmão ainda vivo. É esta firmeza apostólica e este amor
da pureza que lhe atraíram a perseguição e lhe valeram o martírio. / 689
Herodes e esta mulher que ele tinha desposado contrariamente às leis e à decência não
lhe perdoavam as suas censuras. Foi nos excessos mesmos da sua vida sensual e desordenada
que conjuraram contra a sua vida. Foi no meio das danças e dos festins que o mandaram matar.
Era ao mesmo tempo mártir ou testemunha da santa virtude de pureza, e reparador pelas
orgias nas quais pronunciavam a sua condenação.
Era um anjo pela sua pureza. O evangelho e os profetas dão-lhe este belo título:
«Enviarei o meu anjo diante do Messias», tinha dito o Senhor na profecia de Malaquias (3, 1).
Nosso Senhor mesmo faz a aplicação desta profecia: «Foi dele, diz, que o profeta disse:
Enviarei um anjo diante de vós para vos preparar os caminhos» (Mt 11, 10).
S. João Baptista é, portanto, para nós um admirável modelo de pureza. Ensina-nos os
meios de conservar as nossas almas puras. Estes meios são a oração, o afastamento do mundo e
a mortificação.
TERCEIRO PONTO: A sua união com Jesus e Maria. – Ainda não nasceu quando
Jesus e Maria vão visitá-lo na Judeia. Estremece no seio de sua mãe. É abençoado e santificado
pela presença de Jesus e a visita de Maria.
É um amigo para Jesus, di-lo ele mesmo: «O amigo do esposo, diz, alegra-se quando
escuta a voz do seu amigo, é por isso que hoje estou alegre» (Jo 3, 29). Quando Jesus menino
volta do Egipto, visita o seu pequeno amigo passando na Judeia. Cada ano, nos dias de Páscoa,
estão juntos em Jerusalém. Reencontram-se no Jordão. S. João conhece a missão do seu amigo e
parente, proclama a sua missão: «Eis, diz, o Cordeiro de Deus, eis aquele que apaga os pecados
do mundo».
Pregam um ao outro, mas S. João envia os seus discípulos a Cristo. Recebe as suas
graças de Jesus e conduz as almas a Jesus.
Tal deve ser a nossa união com Jesus e Maria. Maria dar-nos-á Jesus. Sede amigos para
Jesus pela vossa assiduidade, pelo vosso afecto, pela vossa confiança. Conduzamos-lhe as
almas, não procuremos em nada reter a sua afeição por nós, admiremos nisto o desapego de S.
João. Ide a Jesus, diz a todos, nada sou senão uma voz que prega no deserto, não sou digno de
desatar os seus sapatos. /690
Resoluções. – A penitência e o amor da pureza são os prelúdios de uma união sempre
maior com Jesus e Maria. Quero procurar esta união em cada uma das minhas acções. Quereria
que a minha ternura por Jesus fosse parecida com a de S. João.
Colóquio com S. João Baptista.

25 de Junho
O CORAÇÃO DE JESUS NA EUCARISTIA:
SOLIDÃO E RECOLHIMENTO
15 Rex Israel Dominus in medio tui non 15 O Rei de Israel, o Senhor, está no meio
timebis malum ultra 16 in die illa dicetur de ti; tu já não verás mal algum. 16 Naquele dia, se
Hierusalem noli timere Sion non dissolvantur dirá a Jerusalém: Não temas, ó Sião, não se
manus tuae 17 Dominus Deus tuus in medio tui afrouxem os teus braços. 17 O Senhor, teu Deus,
Fortis ipse salvabit gaudebit super te in laetitia está no meio de ti, poderoso para te salvar; ele se
silebit in dilectione tua exultabit super te in laude deleitará em ti com alegria; renovar-te-á no seu
(Sof 3,15-17). amor, regozijar-se-á em ti com júbilo (Sof 3, 15-
17).
Primeiro Prelúdio. O profeta Sofonias predisse a habitação de Nosso Senhor entre nós e entreviu
a sua vida de silêncio, cheia do seu amor por nós e pelo seu reconhecimento pelo seu Pai.
Segundo Prelúdio. Como gostaria também eu de saber calar-me frente às criaturas e viver na
adoração e no amor do meu Deus!
PRIMEIRO PONTO: A solidão do Coração de Jesus no tabernáculo. – Não saberíamos
descrever melhor a vida eucarística do Coração de Jesus, do que o fez a irmã Maria Verónica, a
santa fundadora das religiosas vítimas do Coração de Jesus. Tomar-lhe-emos alguns
pensamentos nesta meditação e nas três que seguem (Ver a Sua Vida pelo P. Prévost).
Há uma dupla solidão de Nosso Senhor no tabernáculo, a que lhe impõem os homens, e
aquela que ele escolheu.
Entrai nos santuários: muitas vezes, infelizmente, a indiferença e a ingratidão dos
homens fazem deles um deserto. Aqui está uma solidão que custa a Nosso Senhor. Aceitou-a
pela nossa salvação.
Mas mesmo que uma multidão piedosa se comprimisse nos nossos templos, não pode aí
interromper a solidão do tabernáculo. O Verbo de Deus condenou-se na Eucaristia a um eterno
silêncio. Que lição para nós! Quer significar-nos que é bom calar-se muitas vezes, subtrair-se à
agitação e ao barulho para cultivar a vida interior. Devemos esquecer as criaturas, se o dever
não nos obriga a delas nos ocuparmos. Se devemos tratar com elas, que seja unicamente para a
glória e o amor do Coração de Jesus. «A nossa conversa deve estar nos céus» (Fil 8, 7).
SEGUNDO PONTO: A vida interior do Coração de Jesus no tabernáculo. – O divino
Mestre na Eucaristia está inteiramente desprendido da vida exterior. / 692 «Contempla, ama, adora
as perfeições de Deus; imola-se à glória de seu Pai, fora de todo o criado, como numa vasta
solidão onde os objectos da terra não o podem atingir.
«É preciso tudo perder de vista, tudo esquecer e esquecer-se de si mesmo para imitar
esta vida divina.
Peçamos ao Sagrado Coração como um favor sermos por vezes retirados nesta solidão
perfeita, somente sob o olhar de Deus, na companhia do nosso bem-amado Jesus, não tendo
liberdade nem acção senão para amar e adorar o nosso Deus, para nos sacrificarmos e
perdermos nele.
Do seu tabernáculo, Jesus não fala a nenhuma criatura. Nenhum barulho, nenhum
movimento não se faz aí ouvir, mas, diante do seu Pai, o seu silêncio é bem mais profundo e
mais sublime. Dir-se-ia que toda a sua ocupação seja calar-se. É todo amor, aniquilamento,
imolação, prece; mas tudo se passa no silêncio, nas profundidades de si mesmo e da sua
divindade. Como este silêncio é uma linguagem poderosa e forte! Presta homenagem à grandeza
de Deus, às suas perfeições infinitas, ao seu domínio soberano, a todos os seus atributos que
Jesus louva com um hino eterno e sem fim e num misterioso silêncio».
Quereria nas minhas adorações fazer calar em mim as criaturas para me unir à adoração
de Jesus para com o seu Pai.
TERCEIRO PONTO: A solidão e o silêncio preparam-nos para a conversa com Nosso
Senhor. - «Uma alma que quer dispor-se a uma conversa íntima com Nosso Senhor deve amar a
solidão e o silêncio. Isto deve ser um ponto essencial do seu regulamento de vida. Deve
encontrar aí a sua felicidade, o seu repouso e a sua vida. Deve ser então para ela uma pena
quando é obrigada a entregar-se a ocupações profanas. Sem o silêncio, de facto, não há
recolhimento, união com Deus, correspondência aos seus desejos.
«O silêncio exterior estende-se ainda às mágoas, às contradições, às observações que
nos são feitas. Ó meu Deus, comunicai às almas devotadas ao divino Coração de Jesus o gosto
deste silêncio divino e a prática do silêncio exterior!
Jesus no santo tabernáculo expia pelo seu silêncio tantas conversas frívolas, palavras
inúteis e más de que as suas criaturas se tornam culpadas. É vítima pelos pecados da língua.
Sofre particularmente pelas faltas das almas que lhe são consagradas e pelas quais tem uma
ternura especial.
Depois disto, será que posso hesitar em amar o silêncio? Não devo ser vítima com Jesus
e como Jesus?». /693
Nas minhas adorações e na minha acção de graças sobretudo farei calar em mim as
criaturas para me unir a Nosso Senhor. Não posso escutar Jesus senão no silêncio do meu
coração.
Resoluções. – Renovo todas as minhas resoluções de silêncio e de recolhimento.
Compreendo que a união com Jesus é a este preço. Vinde, ó meu bem-amado, o vosso servo
escuta-vos. Falai ao meu coração, tenho sede de escutar as vossas doces conversas.
Colóquio com o coração eucarístico de Jesus.

26 de Junho
O CORAÇÃO DE JESUS NA EUCARISTIA:
ABNEGAÇÃO E ANIQUILAMENTO
5 Hoc enim sentite in vobis quod et in 5 Tende em vós o mesmo sentimento que
Christo Iesu 6 qui cum in forma Dei esset non houve também em Cristo Jesus, 6 pois ele,
rapinam arbitratus est esse se aequalem Deo 7 sed subsistindo em forma de Deus, não julgou como
semet ipsum exinanivit formam servi accipiens in usurpação o ser igual a Deus; 7 antes, a si mesmo
similitudinem hominum factus et habitu inventus ut se esvaziou, assumindo a forma de servo,
homo 8 humiliavit semet ipsum factus oboediens tornando-se em semelhança de homens; e,
usque ad mortem mortem autem crucis (Fil 2, 5-8). reconhecido em figura humana, 8 a si mesmo se
humilhou, tornando-se obediente até à morte e
morte de cruz (Fil 2, 5-8).

Primeiro Prelúdio. Se Jesus se humilhou e se aniquilou tomando a natureza de um homem, que


dizer da forma eucarística onde se colocou?
Segundo Prelúdio. Dai-me, Senhor, o sentimento da humildade e do aniquilamento a vossos pés
para honrar a vossa majestade eterna.
PRIMEIRO PONTO: Os abaixamentos eucarísticos. - «Quem poderia descobrir um
Deus sob as frágeis espécies sacramentais, sob o véu que o recobre e a obscuridade que o
envolve? Somente a fé pode penetrar no mistério destes incompreensíveis abaixamentos.
«É esta aparência de pão que me esconde um Deus! Poderia usar do seu poder, mostrar
a sua glória e atrair todos os corações a si, não o faz!... A obra de seu Pai há-de realizar-se no
cúmulo do aniquilamento, da humilhação, do opróbrio, da pequenez. – Ó humildade! Virtude
por excelência, que encadeais Jesus sob estas aparentes impotências, passai bem adiante no
coração dos vossos amigos e das vossas vítimas, que a sua solidão, as suas humilhações e os
seus opróbrios constituam as suas delícias e o seu tesouro!
O sentimento da grandeza de Deus e da sua Majestade ultrajada inspira-nos o desejo
profundo da humildade e do aniquilamento aos seus pés para melhor honrarmos o seu ser eterno
e repararmos as ofensas que lhe são feitas».
SEGUNDO PONTO: Como uma alma devota do Sagrado Coração e vítima do Sagrado
Coração deve comungar no aniquilamento eucarístico. - «Se uma alma tem a atracção pela vida
de vítima, se quer oferecer-se como hóstia de reparação e de propiciação ao Sagrado Coração de
Jesus, deve comungar muito especialmente /695 nos aniquilamentos eucarísticos. Desde que ela
se constituiu em vítima, a sua detenção está pronunciada, e é preciso que até ao fim ele leve a
graça deste sagrado e divino carácter que faz dela um ser abandonado e desprezado, um ser de
nada, até que tenha tomado sobre si o pecado e a miséria de todos…
«Jesus no Santíssimo Sacramento desapareceu sob as aparências mais comuns e dá-se
em alimento ao homem. Pode haver um abaixamento mais profundo? Orgulho humano como tu
estás confundido! O aniquilamento diante de Deus é portanto infinitamente necessário à vítima
que leva a qualidade de pecador em si mesma e nos pecados dos outros pelos quais quer pedir
graça».
«Deve ter a mais elevada ideia da grandeza e da santidade de Deus e um amor
apaixonado pelo seu próprio abaixamento. Deve honrar a Deus sobretudo pelos abismos de
aniquilamento onde Deus a mergulha».
Se formos abandonados por Deus na vida interior, se os homens nos desconhecerem,
nos esquecerem, não nos contarem para nada, consideremo-nos felizes por participarmos nos
aniquilamentos do bom Mestre. «Os apóstolos estavam felizes e sentiam-se honrados por
sofrerem perseguição pelo nome de Jesus» (Act 5, 41). Consideremos uma graça participar nos
aniquilamentos do Salvador, para contribuirmos para a glória de Deus, para a salvação das
almas e para o progresso da Igreja.
TERCEIRO PONTO: Jesus desconhecido e ultrajado na Eucaristia. – Falando da vida
mortal do salvador, S. Paulo diz-nos que Nosso Senhor Jesus Cristo se humilhou fazendo-se
obediente até à morte da cruz. Na Eucaristia, Nosso Senhor abaixou-se e humilhou-se até se
expor a todos os desprezos, até se deixar tocar por mãos profanas e colocar em corações
sacrílegos, que o crucificam moralmente.
Jesus não sofre na Eucaristia, é impassível, mas às vezes mostra-se aos seus amigos sob
as aparências do sofrimento. Aparecia a Margarida Maria todo coberto de chagas. «Um dia, diz,
o meu Salvador apresentou-se a mim como um Ecce homo, todo dilacerado e desfigurado,
dizendo: Cinco almas consagradas ao meu serviço trataram-me assim, comungando sem
fervor». E o bom Mestre pedia-lhe para beijar as suas chagas para suavizar-lhes a dor. Isto quer
dizer somente que os nossos pecados seriam capazes de lhe arrancar lágrimas e de o
crucificarem de novo, se pudesse ainda sofrer. Mas os seus amigos devem provar alguma coisa
dos sofrimentos que o bom Mestre já não pode levar. A visão das desordens do mundo deve
manter os nossos corações sob a prensa. Devemos sobretudo reduplicar de amor para compensar
da ingratidão /696 de tantas almas. Foi o que nos pediu por Margarida Maria: «Tenho sede, dizia,
de ser amado pelos homens no Santíssimo Sacramento».
Resoluções. – Humildade e aniquilamento no pensamento do meu nada e na obediência,
é o que Nosso Senhor espera de mim. – Renovarei também o meu fervor por todos os exercícios
eucarísticos, pela santa missa, pela comunhão, pela visita ao Santíssimo Sacramento.
Colóquio com Jesus-Hóstia.

27 de Junho
O CORAÇÃO DE JESUS NA EUCARISTIA:
DESAPEGO E POBREZA
9 Scitis enim gratiam Domini nostri Iesu 9 Pois conheceis a graça de nosso Senhor
Christi quoniam propter vos egenus factus est cum Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor
esset dives ut illius inopia vos divites essetis 10 et de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis
consilium in hoc do hoc enim vobis utile est qui ricos. 10 E nisto dou minha opinião; pois a vós,
non solum facere sed et velle coepistis ab anno que, desde o ano passado, principiastes não só a
priore 11 nunc vero et facto perficite (2Cor 8, 9- prática, mas também o querer, convém isto. 11
11). Completai, agora, a obra começada (2Cor 8, 9-11).
Primeiro Prelúdio. Nosso Senhor fez-se pobre para nos enriquecer. S. Paulo fala da pobreza de
Belém e de Nazaré, mas as suas palavras podem entender-se também da pobreza de Jesus-Eucaristia.
Segundo Prelúdio. Senhor, dai-me a graça de compreender e de praticar o desapego.
PRIMEIRO PONTO: Pobreza exterior. - «A pobreza eucarística foi levada aos últimos
limites do possível na nossa santa vítima do altar.
Sem dúvida, nós damos à divina Hóstia vasos de ouro, tabernáculos de mármores
preciosos, mas tudo isto fica fora dele, tudo isto é-lhe totalmente exterior e como estranho. Não
tomou para si senão as aparências mais vulgares e mais frágeis. Contenta-se com um
tabernáculo de madeira como com um tabernáculo de mármore. Expôs-se a tudo, mesmo à
profanação, ao desprezo, aos ultrajes. Prefere o tabernáculo de madeira do missionário ao altar
de mármore das cidades, onde muitas vezes está esquecido. Permanece mesmo sob a pequena
partícula que cai e se perde sobre o chão poeirento da igreja (Ver as nossas meditações sobre a
coroa do Sagrado Coração).
É esta pobreza que nos enriquece de Deus, como S. Paulo o diz aos Coríntios. O
apóstolo faz alusão à pobreza de Belém e de Nazaré e ao despojamento do Calvário; mas os
despojamentos da Eucaristia são mais sublimes ainda, e são tão desconhecidos e esquecidos!».
SEGUNDO PONTO: Pobreza interior. - «A pobreza exterior abre uma bela via para a
pobreza interior que faz o fundo da virtude da pobreza. Jesus praticou esta última com uma
perfeição que só ele jamais poderá alcançar, porque foi nele que Deus reinou plenamente. O
reino de Deus não se estabelece senão num verdadeiro pobre, que está desnudado de si mesmo e
/698 das criaturas, que não se procura nos dons de Deus, que morre incessantemente para todas as
coisas sensíveis, que já não tem nem desejos, nem pensamentos, nem movimentos que lhe sejam
próprios, que não vive senão do espírito de Deus, que nada procura fora dele, que permanece na
sua pequenez e na sua dependência. Vai direito ao puro amor. Não está aí todo o Coração de
Jesus? Um pobre religioso tem ainda algum cuidado com o vestuário e com o pão, e o seu
coração está ocupado com isso. Jesus-Eucaristia não tem nenhum cuidado com os véus que o
cobrem, são bem pouca coisa!
«Ó adorável Jesus! O único pobre e o único onde Deus tenha reinado plenamente e sem
resistência, quem poderá compreender o prodígio da vossa pobreza eucarística? Esta pobreza
única dá uma glória infinita a Deus vosso Pai.
Ó bem-aventurada pobreza! Bendito seja o dia em que vendo-nos perfeitamente
desapegados de tudo o terrestre, seremos ricos de Nosso Senhor, da sua vida em nós, do seu
coração divino, vivendo e reinando nos nossos corações!».
TERCEIRO PONTO: Aplicações. – A pobreza eucarística de Jesus não oferece como a
sua pobreza de Nazaré um exemplo sensível e fácil a imitar, mas inspira um espírito de pobreza
que encontrará a sua realização na nossa vida, segundo a vocação de cada um de nós.
Cabe-nos procurar que grau de pobreza, mesmo exterior, a vontade divina pede de nós.
E se o nosso estado de vida não pede a pobreza exterior absoluta, resta praticar a pobreza
espiritual, o desapego que constitui a primeira bem-aventurança promulgada por Nosso Senhor:
«Bem-aventurados os pobres em espírito, porque o reino de Deus lhes pertence». Resta também
a pobreza interior, o dom total de nós mesmos a Nosso Senhor, à sua vontade, à sua direcção,
manifestada pela nossa regra de vida e pela sua Providência.
A santa visitandina, Margarida Maria nos diz, sob a inspiração do Sagrado Coração, que
a alma mais desnudada e mais despojada de tudo possuirá mais o Coração de Jesus e encontrará
nela a paz e a felicidade.
Ó feliz pobreza! Bendito seja o dia em que, vendo-nos perfeitamente desapegados de
tudo o terrestre, seremos ricos de Nosso Senhor, da sua vida em nós, do seu divino Coração,
vivendo e reinando nos nossos corações.
Resoluções. – Para ganhar o Coração todo amável de Jesus, diz Margarida Maria, é
preciso imitá-lo na sua pobreza, deixando-nos dar ou tirar as coisas, como se estivéssemos
mortos e insensíveis a tudo; /669 considerando-nos como pobres e pensando que se nos
despojassem de tudo, não nos fariam injustiça (Sa Vie, 14).
Colóquio com Jesus-Eucaristia.
28 de Junho
O CORAÇÃO DE JESUS NA EUCARISTIA:
A SUA OBEDIÊNCIA
31 Interea rogabant eum discipuli dicentes 31 Entretanto, os discípulos lhe rogavam,
rabbi manduca 32 ille autem dixit eis ego cibum dizendo: Mestre, come! 32 Mas ele lhes disse: Uma
habeo manducare quem vos nescitis 33 dicebant comida tenho para comer, que vós não conheceis.
ergo discipuli ad invicem numquid aliquis adtulit ei 33 Diziam, então, os discípulos uns aos outros:
manducare 34 dicit eis Iesus meus cibus est ut Ter-lhe-ia, porventura, alguém trazido o que
faciam voluntatem eius qui misit me (Jo 4, 31-34). comer? 34 Disse-lhes Jesus: A minha comida
consiste em fazer a vontade daquele que me enviou
(Jo 4, 31-34).
Primeiro Prelúdio. Para Jesus, obedecer e fazer a vontade de seu Pai, é o seu alimento, o seu
repouso, a sua beatitude e toda a sua vida.
Segundo Prelúdio. Não faz outra coisa na Eucaristia. Obedece aos homens porque o seu Pai o
deu a eles para a sua salvação.
PRIMEIRO PONTO: Perfeita obediência de Jesus. - «É um ensinamento maravilhoso,
cheio de luzes e de graças, o da obediência de Jesus no Santíssimo Sacramento. Jesus obedece a
todos os padres, bons ou maus. Desce aos corações profanos e manchados pelo demónio. Não
recusa colocar-se em presença do seu inimigo, porque tem uma lei inviolável: a obediência, por
amor pelo seu Pai. Nada o retém nem o arrasta para fora desta via, nenhum pretexto de
dignidade ou de conveniência.
Jesus-Eucaristia não tem mais vida própria que um morto. O seu movimento é somente
a obediência, da qual Deus recebe um louvor sem fim. Ó que exemplo! Jesus já não tem vida
senão pelo impulso de seu Pai; a sua dependência de Deus é tão perfeita que o seu amor por ele
é infinito… Se está à nossa disposição, se obedece ao padre, é ainda ao seu Pai que obedece,
porque prometeu ao seu Pai dar-se a nós. Não se retrata. É assim que obedecendo aos nossos
superiores, obedecemos a Deus, porque Deus quer que lhes obedeçamos».
SEGUNDO PONTO: A obediência de Nosso Senhor glorifica o seu Pai e merece-nos
graças. - «Ó que glória Jesus dá a Deus, e que complacência Deus toma neste Filho bem-
amado, vendo-o nesta atitude abaixada e aniquilada! Tomou a forma de escravo, ele que é Deus,
que exemplo sublime! Meu Jesus, quem não quereria seguir-vos, para a honra de vosso Pai e
para a consolação do vosso Coração, vítima de obediência? /701
Sem a obediência, a obra da redenção teria sido nula, e isto compreende-se: todo o
pecado é uma desobediência, todo o acto de reparação e de resgate deve ser um acto de
obediência.
Para que a obediência seja perfeita e verdadeiramente redentora, deve ser recebida no
coração; o seu princípio deve ser o amor. Também David nos mostra o Redentor trazendo ao
mundo a vontade de Deus escrita no seu Coração (Sl 39). A verdadeira marca da perfeição de
uma alma é que ela tenha chegado ao ponto de estar totalmente morta para a sua vontade, que
não pretenda, que não deseje de modo nenhum fazer o que quereria; a todos obedece por Deus.
Ó Jesus! Quem nos dará destas almas, verdadeiramente mortas para si mesmas, para
continuarem o vosso sacrifício do Calvário e da Eucaristia».
TERCEIRO PONTO: A prática da obediência. – Margarida Maria ensina-nos a prática
desta obediência perfeita: «Para o interior, escrevia (Carta 29), obedecereis fielmente aos
movimentos da graça pelos actos das virtudes; quanto ao exterior, obedecereis amorosamente
àqueles que têm poder de vos mandarem, pensando nestas palavras: «Jesus foi obediente até à
morte». Obedecereis até ao último suspiro da vossa vida. E as vossas obediências serão para
honrar as de Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento; se fordes fiéis em fazer a vontade de Deus
no tempo, a vossa cumprir-se-á durante toda a eternidade».
«Jesus, diz a venerável Madre Maria Verónica, não recebe impulso senão por Deus seu
Pai: «Não faço a minha vontade, dizia, mas a de meu Pai». Nós não devemos receber impulso
senão do espírito de Jesus. Deve ser o nosso pensamento, a nossa palavra, os nossos actos, os
nossos movimentos, a nossa alma, a nossa vida. «Já não sou eu que vivo, é Jesus, é o seu
espírito, é o seu Coração que vive em mim». – Obediência inteira a Deus, dependência dele
apenas; que extensão e que profundidade nestas duas palavras! A minha alma é chamada a aí
entrar, aí viver, a desaparecer sob Jesus e o seu divino Espírito. Jesus no tabernáculo nada mais
é sob este pão que o cobre: a alma vítima não tem outro modelo a seguir.
Terei sempre este modelo diante dos olhos. Amarei a obediência como a ama o meu
Jesus. Viverei nela sem reserva. Faço um pacto com toda a minha vida pessoal, com todas as
minhas vontades e apreciações naturais. É para sempre que digo adeus ao eu humano, às obras e
aos desejos do velho Adão que quer sempre ser alguma coisa e governar-se. /702
Resoluções. – Toda a felicidade de uma alma, diz Margarida Maria, consiste em tornar-
se conforme à santíssima vontade de Deus. É lá que o nosso coração encontra paz, o nosso
espírito a sua alegria e o seu repouso, porque aquele que adere a Deus torna-se um mesmo
espírito com ele. No começo das minhas acções direi com S. Paulo: Senhor, que quereis que eu
faça?
Colóquio com Jesus-Eucaristia.

29 de Junho
S. PEDRO
15 Cum ergo prandissent dicit Simoni 15 Depois de terem comido, perguntou
Petro Iesus Simon Iohannis diligis me plus his Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me
dicit ei etiam Domine tu scis quia amo te dicit ei mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim,
pasce agnos meos 16 dicit ei iterum Simon Senhor, tu sabes que te amo. Ele lhe disse:
Iohannis diligis me ait illi etiam Domine tu scis Apascenta os meus cordeiros. 16 Tornou a
quia amo te dicit ei pasce agnos meos 17 dicit ei perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de
tertio Simon Iohannis amas me contristatus est João, tu amas-me? Ele lhe respondeu: Sim, Senhor,
Petrus quia dixit ei tertio amas me et dicit ei tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os
Domine tu omnia scis tu scis quia amo te dicit ei meus cordeiros. 17 Pela terceira vez Jesus lhe
pasce oves meas (Jo 21, 15-17). perguntou: Simão, filho de João, tu amas-me? Pedro
entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez:
Tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes
todas as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus disse-
lhe: Apascenta as minhas ovelhas (Jo 21,15-17).
Primeiro Prelúdio. Há uma grande amizade entre Jesus e S. Pedro. S. Pedro é um dos apóstolos
do Sagrado Coração.
Segundo Prelúdio. Santo apóstolo, amado do Salvador, obtende-me a graça de amar
generosamente o coração de Jesus.
PRIMEIRO PONTO: Pedro e a Igreja são os primeiros frutos e os primeiros dons do
Coração de Jesus. – Esta festa vem depois do ciclo dos mistérios de Cristo, depois do
Pentecostes, o Santíssimo Sacramento e o Sagrado Coração, e no começo do tempo que
simboliza a Igreja.
Foi pelos apóstolos que a Igreja começou: Per quos Ecclesia sumpsit exordium (Lit.).
Esta festa vem na plenitude da estação, quando as flores ainda estão lá, os frutos
começam, os dias são longos, luminosos e quentes.
Pedro é a flor da Igreja e o primeiro fruto do Coração de Jesus.
Para fazer um padre era necessária a hóstia do sacrifício, e esta hóstia formou-se no
Calvário. Pedro é o chefe do sacerdócio. Para que houvesse um Pedro, um Papa, não foi preciso
menos que todos os trabalhos, todas as dores e o sacrifício inteiro de Jesus.
Pedro é o primeiro salário do crucificado. É o sacramento, o seu órgão, a continuação de
Cristo e do Coração de Jesus.
É o chefe da hierarquia, a fonte visível da graça; o tesouro divino, vivente e inseparável
dos dons celestes; a imagem da paternidade divina, soberana e universal, o guia e o pastor de
todos.
SEGUNDO PONTO: Pedro é apóstolo do Sagrado Coração. – Pedro está entre os
íntimos do Coração de Jesus. Está sempre junto de Jesus com João e Tiago. / 704
S. João amava Jesus mais ternamente. S. Pedro amava fortemente, amava muito porque
muito lhe tinha sido perdoado.
Caminhou sobre as águas para ir ter com Jesus.
Defende Jesus ferindo Malco. Tem um momento de fraqueza no Sinédrio, mas repara-o
generosamente com as suas lágrimas.
Opõe a sua tríplice confissão de amor à sua tríplice negação.
Jesus tinha-o mantido sempre entre os seus preferidos, com André, Tiago e João. Foram
os primeiros que chamou. Foi viver em casa de Pedro. Toma-o consigo no Tabor, envia-o a
preparar a Ceia com João, leva-o também para junto de si na agonia.
Pedro e João correm ao túmulo. Jesus manda avisar Pedro a respeito da sua ressurreição
e aparece-lhe em particular.
É sempre a intimidade, sempre a união.
O chefe da Igreja deve aliás possuir eminentemente o que possuem os seus membros.
João é o apóstolo do Sagrado Coração, Pedro devia sê-lo também, embora com matizes na
forma.
TERCEIRO PONTO: Pedro, sacramento e órgão do Sagrado Coração. – Pedro é o
continuador de Cristo, o substituto, o vigário de Cristo. É de certo modo o Cristo velado, como
na Eucaristia.
O seu ensino é o de Cristo. É o órgão do Sagrado Coração.
Nosso Senhor preparou e figurou esta união com Pedro. Há várias barcas em
Cafarnaum, mas é sobre a de Pedro que Jesus sobe para ensinar o povo.
Há mais do que um pescador no lago, mas é a Pedro que Nosso Senhor manda fazer a
pesca milagrosa, que simbolizava a propagação da Igreja.
Nosso Senhor prometeu antecipadamente a Pedro a sua primazia, que é a continuação
do poder de Cristo: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as potências do
inferno não prevalecerão contra ela» (Mt 16, 18).
«Dar-te-ei as chaves do reino dos céus: tudo o que ligares será ligado e tudo o que
desligares será desligado» (Mt 16, 19).
«Quando fores convertido, confirmarás os teus irmãos» (Lc 22, 32).
Quando chegou o dia, Nosso Senhor realiza a sua promessa. Transmite a Pedro a sua
autoridade de pastor: «Pedro, porque me amas muito, porque me amas mais do que os outros,
apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas».
Pedro, pastor supremo da Igreja, é depositário e administrador /705 de todos os dons do
Coração de Jesus. Preside à administração dos sacramentos. Da sua autoridade brotam a ordem
e a jurisdição na Igreja. Detém a chave das indulgências. Abre e fecha o tesouro do Coração de
Jesus.
Que respeito, que obediência devo a Pedro e aos seus sucessores!
Resoluções. – Para mim, o Papa é como Cristo sobre a terra. Devo honrá-lo, amá-lo,
obedecer-lhe. As ovelhas fiéis escutam o pastor, seguem-no e acautelam-se para não irem
procurar longe dele pastagens envenenadas. Os amigos do Sagrado Coração são amigos de
Pedro.
Colóquio com S. Pedro.

30 de Junho
S. PAULO
14 Mihi autem absit gloriari nisi in cruce 14 Mas longe esteja de mim gloriar-me,
Domini nostri Iesu Christi per quem mihi mundus senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela
crucifixus est et ego mundo 15 in Christo enim qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para
Iesu neque circumcisio aliquid valet neque o mundo. 15 Pois nem a circuncisão é coisa
praeputium sed nova creatura 16 et quicumque alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova
hanc regulam secuti fuerint pax super illos et criatura. 16 E, a todos quantos andarem de
misericordia et super Israel Dei 17 de cetero nemo conformidade com esta regra, paz e misericórdia
mihi molestus sit ego enim stigmata Iesu in corpore sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus. 17
meo porto (Gal 6, 14-17). Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu
trago no corpo as marcas de Jesus (Gal 6, 14-17).
Primeiro Prelúdio. S. Paulo é, para Jesus, o apóstolo ardente, o amigo devotado, a vítima
generosa.
Segundo Prelúdio. Grande apóstolo, obtende-me a graça de caminhar no vosso seguimento na
via do amor e da imolação.
PRIMEIRO PONTO: Apostolado. – S. Paulo é da tribo de Benjamim. Nasceu em Tarso,
estudava em Jerusalém com os Rabinos no momento do martírio de Sto. Estêvão. Convertido
em Damasco pelo milagre que se conhece, torna-se por sua vez apóstolo e o mundo inteiro mal
cabe no seu zelo. Ama tanto Jesus! E recebeu uma graça poderosa de apostolado. «Este, disse
Jesus a Ananias, é um vaso de eleição que levará o meu nome às nações, aos reis e aos filhos de
Israel».
Era necessário para o seu zelo um grande teatro. As suas demoras mais longas foram em
Antioquia, em Corinto e em Roma, as metrópoles daquele tempo.
Em três anos, converteu uma boa parte de Antioquia. Vá depois várias vezes e sempre
mais avante em direcção ao Ocidente. A primeira vez evangeliza Chipre e a Pisídia. Tem
discípulos ilustres: Sérgio Paulo e Sta. Tecla. Na segunda vez, depois do concílio de Jerusalém,
volta a passar na Ásia Menor, onde ganha o jovem Timóteo. Passa na Macedónia e na Grécia:
em Filipos, em Salónica, em Atenas onde ganha Dinis o areopagita, em Corinto onde prega dois
anos e onde deixa uma grande cristandade, depois retorna a Antioquia. Na terceira vez, revê a
Ásia Menor, passa três anos em Éfeso, depois volta a passar por Corinto e reentra em Jerusalém
onde o aguarda a perseguição. É em cadeias que é conduzido a Roma onde a sua prisão se torna
durante dois anos uma escola de evangelização. Tornado livre, vai pregar a Espanha, depois
regressa ao Oriente e volta a Roma para dar a sua vida por Cristo.
Qual é o nosso zelo perante semelhante espectáculo?
SEGUNDO PONTO: Caridade. – S. Paulo está apaixonado de amor por Cristo. O nome
de Jesus está sempre nos seus lábios e na sua pena. /707 A sua vida é Cristo: Mihi vivere Christus
est. Os seus êxtases e as suas visões foram o fruto do seu fervor. O seu amor por Cristo é
indomável e invencível: «Quem poderia, diz, separar-nos do amor de Cristo? As tribulações? As
angústias? A fome? O despojamento? Os perigos? As perseguições? A espada? Não, diz,
ultrapassaremos tudo isso pelo amor daquele que nos amou primeiro. – Estou certo, diz, que
nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as virtudes, nem o presente,
nem o futuro, nem a força, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura poderá
jamais separar-nos do amor de Cristo Jesus» (Rom 8). Nenhum homem formulou alguma vez
um acto de amor mais vivamente apaixonado.
Deu também o código da santa caridade pelo próximo! A caridade é paciente, é
benevolente: não tem inveja, sem malevolência, sem orgulho, sem ambição, sem egoísmo e sem
cólera. Não pensa mal nem se regozija com as faltas dos outros. Tudo sofre, crê, espera, suporta.
É sem desfalecimento (1Cor 13). Que tema de meditação!
TERCEIRO PONTO: Reparação. – S. Paulo foi uma vítima sempre imolada pela glória
de Deus e a salvação das almas.
Nosso Senhor tinha dito: «Mostrar-lhe-ei tudo o que terá de sofrer pelo meu nome» (Act
1, 16). Sabia-se vítima. Dizia: «Não quero gloriar-me senão na cruz de Jesus. – Levo no meu
corpo os seus estigmas» (Gal 6). «Gastar-me-ei e gastarei tudo pela salvação das vossas almas»
(2Cor 12, 15).
Enumera na sua segunda carta aos Coríntios tudo o que sofreu por Cristo: foi flagelado
pelos Judeus; por três vezes foi flagelado e apedrejado três vezes. Três vezes naufragado;
passou um dia e uma noite no fundo do mar. Sofreu a fome, a sede, o frio, a nudez.
Deu a fórmula do puro amor quando disse: «Quer comais, quer bebais, quer façais
qualquer outra coisa, fazei tudo pela glória de Deus» (1Cor 10, 31).
Finalmente, morreu por Cristo como desejava, feliz por dar a sua vida por aquele que
morreu por nós. S. Paulo tinha eminentemente o espírito da devoção ao Sagrado Coração.
Resoluções. – Grande apóstolo, admiti-me no número dos vossos discípulos. Ensinai-me
este amor invencível que tínheis por Deus e esta caridade eminente que praticáveis para com o
próximo. /708 Fazei de mim, como o desejastes, uma hóstia viva, santa e agradável a Deus (Rom
12, 1).
Colóquio com S. Paulo.

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