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Revista Casa Da Filosofia Clinica Ed Especial Outono 2024
Revista Casa Da Filosofia Clinica Ed Especial Outono 2024
Edição 08 - Outono|2024
Dicionário de
Filosofia Clínica
REVISTA
Expediente
Carina Dalsoto
Diagramação e Edição
Hélio Strassburger
Conselho Editorial
Fernando Fontoura
Conselho Editorial
Dionéia Gaiardo
Conselho Editorial
casadafilosofiaclinica.blogspot.com
Edição 08 - Outono/24
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Ilustração: Márcia Ribeiro Baroni
Revista Casa da Filosofia Clínica - Outono/24
Apresentação
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Revista Casa da Filosofia Clínica - Outono/24
Apresentação
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Revista Casa da Filosofia Clínica - Outono/24
Talvez seja importante dizer que em Filosofia cunstância; lugar; tempo e relação. As categorias
Clínica partimos de um não saber, causa de incômo- foram inspiradas em Aristóteles e Kant e englobam
do porque os princípios de verdade que regem as questões objetivas e subjetivas, como nos ensina
epistemologias vigentes e aceitas em nossa socie- Miguel Angelo Caruzo no livro “Introdução à Filoso-
dade estão relacionados ao saber-poder, mas isso fia Clínica”. Então, “a terapia começa com aquele
fica como provocação e assunto para um próximo que parece o motivo pelo qual a pessoa procurou o
texto. Agora, partindo de um não saber, recebemos filósofo clínico”, trata-se da queixa inicial ou assunto
a pessoa em clínica e com isso passamos a constru- imediato.
ir juntas os conhecimentos singulares àquela O assunto imediato pode durar algumas
existência, a aprender, ela e eu, sobre ela. Antropo- sessões até que este se esgote e o clínico consiga
logia e alquimia acontecem no decorrer dos encon- solicitar ao partilhante o relato de sua historicidade,
tros. entrando na categoria circunstância, onde a pessoa
Uma das primeiras coisas que Lúcio Packter vai contar a história de vida na perspectiva dela. Em
relata em seus estudos sua movimentação epis-
no “Caderno A” é que, a temológica, o filósofo
partir dos exames cate- clínico estará cuidando
goriais, o filósofo clínico “Filósofo clínico vislumbra para trabalhar com a-
vislumbra “uma repre- gendamento mínimo e
sentação para si uma representação dado literal, o que exige
mesmo da repre-
sentação do outro”.
para si mesmo da uma postura fenome-
nológica descritiva com
Motivo pelo qual em representação do outro. suspensão dos pré-juí-
Filosofia Clínica tra- zos para que o discurso
balhamos com aproxi- partilhante flua. O as-
mações, ou seja, pode- sunto último vai apare-
mos conhecer a pessoa cendo no decorrer das
de modo aproximado. Também é fundamental o sessões, com ajuda da coleta da historicidade, mon-
acolhimento de quem nos procura e um zelo pela tagem da estrutura de pensamento (EP) e identifi-
interseção entre filósofo clínico e partilhante. cação dos submodos informais e demarca a
Os exames categoriais compõem a primeira autogenia da pessoa, suas questões em conflito,
etapa do método e têm o objetivo de localizar exis- possíveis causas do sofrimento.
tencialmente a pessoa, quem ela é, onde habita, o Já trabalhei com um caso onde a pessoa não
que faz, quais suas relações. Ocorrem a partir da abriu nos nossos encontros um dos conteúdos que
escuta atenta e observação de cinco categorias, são lhe causou sofrimentos e conflitos. Meses depois,
elas: assunto imediato e assunto último; cir- solicitou uma sessão para contar algo que eu
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suspeitava e sabia que, pela montagem de sua (EP) formar e agora com 23 e empregada, posso me
se viesse a relatar seria delicado. Além do mais, dedicar e pagar para fazer”. Temos aí uma busca
notei que isso não nos impedia de trabalhar em prol envolta na categoria tempo e circunstâncias que a
de sua autogenia e bem-estar subjetivo. O impor- levam ao desfecho de nos procurar.
tante nesses casos é perceber que, mesmo o fato
Especialmente nesta fase inicial, é natural
estando à margem, aparecem os tópicos determi-
alguma pessoa solicitar respostas prontas sobre
nantes, a somaticidade e a esteticidade vivenciadas
quem ela é, o que deve fazer, etc. Ao filósofo clínico
pela pessoa. Agindo assim, respeitamos a categoria
cabe expressões como “vamos trabalhar para
tempo da partilhante que abriu informações quando
entender” ou “precisamos de mais dados para
sentiu-se preparada.
saber”... e seguir trabalhando com o máximo de
Bem, então sabemos que na prática as infor- respeito pela existência que se apresenta, sem
mações se entrelaçam, formando um conjunto, ou interpretações. O foco nos exames categoriais
seja, as três etapas do nesses primeiros con-
método: exames catego- tatos com a pessoa é
riais, (EP) e submodos essencial para ir per-
aparecem entrelaçados, cebendo seus assuntos
no decorrer do discurso
da pessoa que se
“Sabemos que na imediatos até que o
assunto último apa-
revela. É esse conjunto, prática as informações reça, para entender a
com suas conexões circunstância vivenciada
entre categorias, tópicos se entrelaçam, pela pessoa, para a-
e submodos, que
descortina a singulari-
formando um conjunto.” prender sobre suas re-
lações com o tempo
dade do sujeito em sua objetivo, cronológico, e
autogenia. A obser- seu tempo subjetivo,
vação das categorias sobre o lugar onde
acontece com ênfase no início dos trabalhos e habita desde sua cidade, seu trabalho até o lugar
também ao longo do processo clínico. interno, seus sentimentos, suas ideias, buscas e
Seguindo, tanto no momento em que a pessoa também para aprender com quem se relaciona e
chega à clínica com seu assunto imediato quanto na qual a qualidade dessas interseções, consigo
fase em que passamos a trabalhar a circunstância mesma, com o mundo, bichos, plantas, livros,
ou historicidade do ponto de vista dela, o funciona- vida...
mento e importância das categorias lugar, tempo e
relação vão aparecendo. A partilhante pode chegar
ao consultório relatando que: “desde os 15 anos
penso em fazer terapia, mas antes eu precisava me
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Como escreveu Mário Luiz Pardal em seu livro eixo fundamental é a EP, pois é ela que propicia a
“Filosofia como Terapia”: “Para a Filosofia Clínica identificação da singularidade, daquilo que é único e
estes altos e baixos da existência decorrem da mo- irrepetível em cada pessoa.
vimentação tópica na Estrutura de Pensamento, Como filósofo clínico, já ouvi algumas vezes
considerada como sendo o “eixo das experiências
frases como “Não mudou nada, mas mudou tudo”!
possíveis”. Portanto, qualquer modificação da
ou “Tudo está exatamente igual, mas ao mesmo
existência implica em agir no modo como experien-
tempo, está tudo diferente”! Como posso com-
ciamos os tópicos da nossa Estrutura de Pensamen-
to” (PARDAL, 2001, p. 17). Ou seja, tudo passa, preender isso à luz da EP?
começa ou termina na estrutura de pensamento Uma pessoa pode efetivar seus modos de ser
(EP). É neste horizonte que as alterações terapêuti- exatamente iguais como efetivava, pode trabalhar,
cas acontecem. É quando muda, altera ou movimen- cuidar dos filhos, sair com amigos e manter toda a
ta a estrutura interna de cada um que realmente há rotina ou práticas existen- ciais no mundo da vida
alterações terapêuti- como antes. Mas se
cas que poderão ser algo alterou em sua
efetivadas em dife- EP, mesmo que nada
rentes modos de ser. “Tudo passa, tenha mudado em
Essas mu- danças são
chamadas de au-
começa ou termina suas práticas de vida
ou modos de ser,
togenia em filosofia na estrutura “tudo” pode mudar.
clínica. É por isso que Onde “nada” mudou?
neste método a EP é o de pensamento.” No nível das práticas
eixo fundamental da no mundo, diárias e
terapêutica, pois é lá rotineiras. Mas, por
que, no final, aconte- alguma razão, como
cerá – ou não – as mudanças significativas que efeti- uma grande emoção, um insight, ou um novo juízo
varão novos modos de ser tanto externos quanto sobre alguma coisa, a estrutura interna fez uma
internos. revolução, uma alteração significativa e, a partir
A singularidade é a base conceitual da filosofia disso, “tudo” mudou. A vida se torna mais leve, mais
clínica, pois temos que partir dela para desenvolver- clara, mais “colorida”, mais significativa etc - ou tudo
mos todo o processo terapêutico. Se a metodologia ao inverso. Mesmo que “nada” tenha mudado na
for aplicada sem a noção de singularidade, se perde rotina das práticas diárias, “tudo” mudou.
a filosofia clínica como um todo. E o eixo fundamen- O contrário também acontece. Às vezes, por
tal da metodologia é a EP. Embora o método tenha força da pressão da vida, das coisas “externas”,
três eixos – exames categoriais, EP e submodos – o alguém tem que efetivar mudanças em seu modo de
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ser, em suas práticas do dia-a-dia e, quem vê essa e as possibilidades de movimento entre esses
pessoa de fora, pensa que ela “mudou” muito, que tópicos para formar novas “frases” - na metáfora do
se “adaptou” às mudanças impostas pela vida. alfabeto - ou reconhecer antigos caminhos e movi-
Porém, essa pessoa, em sua EP, não realizou as mentos que se perderam no tempo da vida.
alterações que acomodam essas mudanças que Sem a compreensão da EP a metodologia da
efetivou na vida. E ainda sofre, se angustia com “as filosofia clínica não serve para nada, pois somente
mesmas coisas”, embora ela tenha mudado na com exames categoriais e submodos não se pode
prática. Mas se não mudou na EP, “nada” mudou. efetivar uma terapia séria, responsável e que defen-
Algumas vezes, só pessoas próximas dela saberão da a singularidade. Neste sentido, podemos dizer
que ainda está sofrendo e não alterou suas que a filosofia clínica é uma terapia fundamental-
emoções, perspectivas de mundo, o que acha de si mente estruturalista, que traz em sua metodologia a
mesma etc. Às vezes, somente seu terapeuta busca do singular, sua “defesa” todo o tempo - do
poderá saber disso. início ao final do proces-
Pois ele tem a perspec- so terapêutico - e a
tiva de sua estrutura
interna. “Sem a compreensão da compreensão
singularidade através
desta
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Sobre os submodos
Miguel Angelo Caruzo
miguelcaruzo@gmail.com
O método da filosofia clínica constitui-se de três quanto as suas utilizações – estão presentes em
bases fundamentais: os exames categoriais, a toda a trajetória da clínica.
estrutura de pensamento (EP) e os submodos. Com O primeiro momento no qual os submodos
a primeira, compreendemos o mundo do partilhan- aparecem ou são utilizados ocorrem no acolhimento
te, onde existencialmente ele está inserido, infor- do partilhante. Para qualificar a interseção, o filóso-
mado a partir da sua experiência. Em seguida, fo clínico utiliza sua semiose: um sorriso, um aperto
identificamos a constituição do indivíduo, carac- de mão, palavras acolhedoras etc. Também identifi-
terísticas próprias de cada singularidade. Por fim, ca os dados de semiose de quem acolhe: o choro,
os modos como o sujeito viabiliza quem é em seu as palavras ou a ausência delas, entre outras. Na
devir tanto interno quanto interagindo com seu impossibilidade de haver qualquer tipo de neutrali-
mundo. Trataremos deste dade, o cuidador busca o
terceiro pilar da clínica agendamento mínimo.
filosófica.
Ao iniciar a sessão,
Os submodos podem “Os submodos podem abre-se a possibilidade de
ser identificados como escuta do assunto imediato.
aqueles usados pelo parti- ser identificados como Quais dados de semiose
lhante em seu cotidiano.
São denominados de
aqueles usados surgem. Nesse momento, a
pessoa pode desabafar com
submodos informais. Mas,
ao longo das sessões, os
pelo partilhante em esteticidades brutas como
gritos ou choros. Também
submodos também são seu cotidiano.” pode trazer elementos de
utilizados nos procedimen- esteticidade seletiva como
tos clínicos a fim de lidar anotações, letras de música
com os assuntos imediatos etc. Chegar à clínica em
e últimos. Para isso, o filósofo clínico pode aproveit- alguns casos é fruto de longa ponderação, esque-
ar os submodos informais ou sugerir novos submo- mas resolutivos ou análises indiretas até que se
dos cabíveis após a identificação autogênica. tenha chegado em direção ao desfecho.
Diante disso, refletiremos sobre a identificação É importante ressaltar que há situações com
e o uso dos submodos ao longo da clínica. É demandas imediatas. São casos nos quais o filóso-
possível utilizá-los no início do atendimento, como fo clínico precisa realizar os procedimentos emer-
acolhimento, em ocasiões nas quais os procedi- genciais. Nestes casos, se ocorre antes mesmo da
mentos emergenciais são solicitados, como recurso colheita da historicidade, as informações mínimas
para obter dados do assunto imediato, dos dados precisam ser aproveitadas para o uso a favor da
atualizados e da historicidade e, por fim, elaborar pessoa em desajuste de seu próprio eixo.
caminhos para o uso no assunto último. Em outras Trabalhar em deslocamento longo, dialogar com
palavras, os submodos – tanto a identificação alguém em direção às ideias complexas repletas de
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Dicionário de
Filosofia Clínica
Dionéia Gaiardo | Fernando Fontoura | Hélio Strassburger | Miguel Angelo Caruzo
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facilitadores de seu discurso existencial. é o assunto que tem uma questão mais ampla ou
mais relevante na estrutura de pensamento (EP).
Argumentação Derivada – é o submodo 10 da Esse é um dos sentidos do termo autogenia, ou
tabela. Refere-se ao movimento intelectivo que seja, quando o filósofo clínico consegue identificar
procura evidenciar as razões próximas associadas a qualidade da interseção dos tópicos determi-
a um comportamento. Busca as causas, as origens nantes de uma (EP).
ou os “por quês”. É um submodo que propõe
encontrar as causas de uma problemática. Via de Atalho – é o submodo 11 da tabela e refere-se ao
regra pode ser encontrado na estrutura de pensa- movimento do pensamento do indivíduo quando
mento (EP) do partilhante. necessita ultrapassar eventuais problemas cuja
solução exigiria tempo e esforços desnecessários
Armadilha Conceitual – faz parte do tópico 17 da
e dispendiosos. Consiste no manuseio do que se
estrutura de pensamento (EP). O tópico é padrão e
encontra entre o conhecimento e o não-saber.
armadilha conceitual. Armadilha conceitual é
“Doxa”, é uma opinião, um “achismo”. Ex: “Eu acho
quando o indivíduo se enreda em conceitos ou
que...” é um submodo que abre a questão, cami-
pensamentos que podem produzir pontos cegos
nhos. Talvez, quem sabe etc. Serve para desblo-
dos quais não consegue compreender e, por isso,
quear um “beco sem saída” conceitual ou episte-
não consegue se desvencilhar, como uma armadi-
mológico, quando não se tem ideia do que pode ter
lha. Nem toda armadilha conceitual é negativa,
acontecido ou do que pode fazer, quando dá um
pode haver algumas que levam o indivíduo a bons
“branco”. Pode exigir a criatividade do filósofo clíni-
resultados existenciais. Pode ser identificada pelo
co em identificar possibilidades de outros cami-
critério do dado padrão, ou seja, a tendência que a
nhos para qualificar o funcionamento existencial
pessoa apresenta em ser existencialmente repetiti-
va. Pode não bastar o entendimento de um proble- do partilhante. Pode ser encontrado na narrativa
ma ou dar-se conta do mesmo. Tem de se encon- da historicidade do partilhante ou ser adicionado à
trar, pela via da construção compartilhada, saídas sua estrutura subjetiva, numa conformação didáti-
viáveis para sua desconstrução. O dado padrão ca de parte do filósofo clínico. Algo que se acres-
que nos ajuda a identificar as armadilhas conceitu- centa ao “modus operandi” do partilhante como
ais ocorre tanto pelos pensamentos quanto por alternativa criativa, inventiva. Também pode
comportamentos. funcionar como a habilidade de uma pessoa sair
de situações de forma mais “prática”. Penso que
Assunto Imediato – é uma das categorias dos um exemplo seria aquele personagem de uma
exames categoriais. Refere-se à questão inicial série antiga o Magaiver onde com um clipe de
que leva o partilhante à terapia. Pode ser uma metal e um chiclete desarma uma bomba atômica.
queixa, um sofrimento, uma mudança próxima, um
objetivo profissional, um relacionamento amoroso Autogenia – tópico 30 da tabela da estrutura de
ou qualquer outro assunto que tenha força para pensamento (EP) e submodo 27 da tabela. Tem
levar a pessoa à terapia. três significações dentro da filosofia clínica e todas
coincidem com a noção de movimento ou
Assunto Último – é a questão “fundamental” a ser mudança. Em um sentido, é como se processa ou
tratada em terapia. Pode coincidir com o assunto como se desenvolvem as interseções, as relações,
imediato ou pode ser diferente dele. Normalmente a configuração, a associação, a inter-relação entre
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os tópicos determinantes da EP. Enquanto tópico demandas e dos fins alcançados ao longo da clíni-
ou submodo refere-se à movimentação existencial, ca.
com alterações sutis ou mudanças maiores na vida
da pessoa. A configuração singular dos tópicos da Borogodó - aquilo que caracteriza a essência do
EP de cada indivíduo pode ser chamada também filósofo clínico e que não pode ser aprendido
de padrão autogênico. Padrão no sentido de ser adequadamente em sua formação, uma espécie de
para aquele indivíduo enquanto sua própria singularidade cuidadora. Algo que não se conse-
história e estruturação, ou seja, não é padronizado gue descrever adequadamente, mas se pode
ou medido por nada externo a ele mesmo, e sentir na prática de consultório. Também pode se
autogênico porque pode ser passível de mudanças referir ao partilhante que encontra a filosofia clínica
ou alte- rações pelo próprio indivíduo. Pode ser
e, com ela, elabora construções compartilhadas
considerado como a sintonia existencial onde a
pessoa se encontra. Pode ter uma durabilidade que tenham a ver consigo em busca de melhores
maior ou menor, de acordo com o contexto de vida, dias.
as circunstâncias da pessoa. Esta autogenia não
se refere a alguma classificação ou tipologia, como Busca – é o tópico 11 na estrutura de pensamento
melhor ou pior, agradável ou desagradável, (EP) e também o submodo 12 na tabela. Ele
horizontal, vertical, transcendental. Trata-se de remete a objetivos, projetos, ambições, metas.
uma sustentação da forma de vida ou modificação Para onde se dirige o pensamento ou a pessoa.
desta mesma forma de vida, dentro ou fora do Para onde a pessoa se dirige existencialmente.
processo da clínica. Nem sempre coincide com o que ela refere querer,
mas para onde efetivamente se direciona na vida.
Axiologia – é o tópico 18 da estrutura de pensa- Podem se apresentar na forma de planos, projetos,
mento (EP) e também o submodo 26 na tabela. Ele sonhos, que podem ser realizados ou o contrário
lida com a questão dos valores ou importâncias disso. Por exemplo, resoluções de ano-novo.
(relevância), preferências. Preferir X a Y ou pala-
“Quero melhorar minha saúde”; “Quero aprender a
vras e conceitos que expressem bom/mau,
dar importância à minha família”, “Pretendo
certo/errado, justo/injusto, melhor/pior. Aspecto
que se relaciona com as preferências do partilhan- começar a me exercitar mais daqui a dois meses”
te. Pode se apresentar na forma de julgamentos etc. Como submodo refere-se ao movimento exis-
sobre melhor ou pior, certo e errado. Como submo- tencial de iniciar projetos ou ir em direção ao
do refere-se ao movimento existencial da pessoa desfecho executando projetos a realizar na vida.
que se relaciona consigo, com os outros ou com o
mundo através daquilo que considera um valor Categorias – faz parte dos exames categoriais.
para ela. Dentro dos exames categoriais tem-se 5 catego-
rias, sendo assunto imediato/último, circunstân-
Bem-estar Subjetivo - trata-se da identificação do cia/historicidade, lugar, tempo e relação. É o
que constitui um bem para cada partilhante. primeiro eixo da metodologia terapêutica da filoso-
Também pode ser a finalidade do filósofo clínico fia clínica e tem por objetivo geral compreender o
quando trabalha no assunto último. Ao afirmarmos horizonte existencial do partilhante, sempre refe-
a subjetividade desse bem-estar no sentido do rente ao assunto imediato/assunto último trazido
partilhante, resguardamos a singularidade das por ele. É a localização existencial da pessoa, a
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partir de seu próprio relato da história de vida. tante da hora-sessão. Se refere à qualidade dos
agendamentos recíprocos na terapia. Qualidade da
Circunstância – uma das categorias dos exames interseção entre os participantes de uma atividade
categoriais. Refere-se aos eventos ou aconteci- clínica. Cumplicidade em direção ao bem estar
mentos que se passam na historicidade do parti- subjetivo do partilhante. Buscas por encontrar um
lhante quando ele narra sua própria história. É a
lugar de melhor acomodação subjetiva para a
história de vida do partilhante em relato próprio, de
pessoa, como consequência de um trabalho
preferência sem a influência de intermediários. É o
terapêutico. É uma relação horizontal no sentido de
ponto de vista do partilhante.
não ter um saber-poder do filósofo clínico em
Como o Mundo Parece – tópico 1 da estrutura de direção ao partilhante. Ambos partilham do mesmo
pensamento (EP). Refere-se literalmente ao que o nível de compreensão e diálogo, pois é o filósofo
partilhante relata com roteiro histórico: cidade, clínico que precisa encontrar a sintonia com seu
país, metafísica, universo, ética, temporalidade, partilhante em nível de compreensão e entendi-
crenças, social etc. Como o mundo se apresenta mento.
nos relatos da historicidade, quando for determi-
nante. O sistema métrico pelo qual ela mede o Dado Atualizado - Um dos critérios utilizados pelo
mundo, a si mesma e aos outros. Pode usar frases filósofo clínico no consultório para compreender o
ou palavras como vida, mundo, pessoas, socie- partilhante, consiste em identificar as mudanças
dade. Por exemplo, “A sociedade hoje em dia é ocorridas ao longo das sessões e até mesmo
podre”. durante uma sessão. Essas mudanças podem
ocorrer diante de movimentos autogênicos do
Comportamento e Função – é o tópico 13 da próprio partilhante, por influência das vivências do
estrutura de pensamento (EP). Refere-se a rituais, espaço entre os atendimentos como desdobramen-
hábitos. Fazer alguma coisa em função de outra, tos dos procedimentos clínicos.
por exemplo, correr para ficar calmo. Função como
causa e comportamento como consequência. Entre Dado Literal - Critério utilizado pelo filósofo clínico
diversas situações possíveis de serem encontra- para colher informações do partilhante. Pode-se
das no consultório, mencionemos algumas. Pode compreender essa colheita a partir da fenomenolo-
haver um comportamento cumprindo uma função: gia e da hermenêutica compreensiva. Com a
correr diariamente para emagrecer. Um comporta- primeira, as informações são recebidas tal como
mento para mais de uma função: correr para aparece na fala, nos gestos, nas expressões etc.
emagrecer, melhorar a saúde e ficar apto para Neste sentido, não se interpreta, subentende ou
correr a São Silvestre no fim do ano. Vários com- supõe nada. As informações são compreendidas a
portamentos para uma função: correr diariamente, partir do próprio partilhante. É ele quem se traduz
seguir uma dieta e fazer terapia para ser alguém ao longo da clínica.
mais saudável.
Dado Padrão – Trata-se da identificação das
Construção Compartilhada – é a maneira pela formas – categorias, tópicos e submodos – e dos
qual se realiza a interseção entre filósofo clínico e conteúdos – historicidade – que se repetem no
partilhante durante o processo terapêutico. Resul- partilhante. A partir desses dados, o filósofo clínico
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identifica a constituição do partilhante, seus tópicos rumo a objetos ao alcance dos sentidos –
determinantes, seu padrão autogênico entre outras presença real e atual.
informações a fim de auxiliá-lo em seu assunto
último. Deslocamento Longo - faz parte do tópico 14 da
tabela da estrutura de pensamento (EP) e é o
Dados da Matemática Simbólica – É o tópico 29 submodo 14 da tabela. Este tópico se chama
da estrutura de pensamento (EP). Refere-se à espacialidade intelectiva e é composto de 2
noção estrutural da EP da pessoa e/ou da EP onde pares ou 4 elementos, sendo inversão e recípro-
ela se encontra vivenciando sua condição existen- ca de inversão; deslocamento curto e desloca-
cial, onde o filósofo clínico tem a noção do conjunto mento longo. Deslocamento longo refere-se à
das categorias + tópicos + submodos. Nas primei- atenção do pensamento ao que está no passado
ras edições dos cadernos didáticos, se referia ao ou no futuro, portanto longe do alcance dos senti-
conjunto da obra. Pode incluir a situação da dos (olfato, audição, paladar, visão, tato etc.), ou
pessoa com ela mesma, seu ambiente, os sons, seja, da presença real e atual. Como voltar-se
imagens, cheiros, suspeitas, interseções, modifi- para algo fora do alcance dos sentidos, por
cações exis- tenciais em acordo ou desacordo exemplo, pensar na minha casa enquanto estou
consigo mesma em ação. Uma consequência dos em outro lugar. Co mo submodo refere-se à manei-
exames catego- riais e EP, sem os quais seria uma ra de viver a partir das coisas distantes da
continuação do que já existe (tipologias, classifi- presença real e atual, portanto em movimentos do
cação “a priori”). O processo do “ser terapeuta”, em pensamento para o passado ou para o futuro.
conformidade ao método, leva naturalmente à Quase nenhum movimento existencial se dá sem a
matemática simbólica. pessoa se deslocar intelectivamente para esses
espaços mais abstratos. Refere-se às lembranças,
Deslocamento Curto – faz parte do tópico 14 da
sonhos e memórias. Tudo aquilo que se apresenta
tabela da estrutura de pensamento (EP). Este
nos relatos da historicidade como vivências,
tópico se chama espacialidade intelectiva e é com-
posto de 2 pares ou 4 elementos, sendo inversão e relações, lugares onde viveu, sensações experien-
recíproca de inversão; deslocamento curto e deslo- ciadas naquele lugar do passado. Também inclui as
camento longo. Deslocamento curto refere-se aos ideias, propostas de futuro, buscas, imaginação do
sentidos onde percebe-se o mundo ou as coisas que poderá acontecer amanhã.
nele através de estímulos corporais, olfato, tato, Discurso Completo e Incompleto – é o tópico 9
visão, paladar, audição. Refere-se à percepção de da estrutura de pensamento (EP). Originalmente
algo aqui-agora, ao dado senso-rial. Pode ser referia-se exclusivamente à linguagem, em como o
utilizado como base para submodos como o partilhante expressava seus pensamentos. Neste
percepcionar ou em direção às sensações. Assim, sentido, discurso incompleto é aquele fragmenta-
a ênfase estaria mais no que é percebido do que do, confuso, não tem início, meio e fim, não é orde-
no órgão que percebe. Também faz parte da nado logicamente, induz a entendimentos dúbios,
tabela dos submodos como submodo 13. Neste vem fragmentado, com espaços em branco,
sentido, é a maneira de viver nas coisas próxi- reticências. Discurso completo é aquele que tem
mas à própria subjetividade. O indivíduo vai início, meio e fim definidos, é ordenado e sistemáti-
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formar um emaranhado intelectivo que pode saber (das coisas). Como submodo, refere-se à
causar eventos como: freio existencial. Pode maneira como a pessoa aprende, conhece, anali-
significar imaginação, criatividade, capacidade de sa. É a racionalidade. Capacidade de entendimen-
qualificar roteiros existenciais. to, compreensão. Precisa saber das coisas, even-
tos, de si mesmo. Busca conhecer, identificar.
Em Direção às Sensações – é o submodo 3 da Muitas vezes, essa própria identificação já atua
tabela. Refere-se ao movimento intelectivo ou num processo de desconstrução.
corporal em direção às coisas pelos sentidos, no
real e imediato. Cheirar uma flor, olhar uma pai- Espacialidade Intelectiva – é o tópico 14 da estru-
sagem, sentir o frio no rosto, por exemplo. Quente, tura de pensamento (EP). Refere-se ao movimento
frio. Agradável, desagradável. Refere-se aos dados intelectivo ou mental da pessoa. Em qual espaço
sensoriais. Vivências objetivas da pessoa com seu ou lugar está focada sua atenção naquele momen-
ambiente de trabalho, residência, passeio. Esse to. Há dois pares de espacialidade intelectiva,
dado pode aparecer em meio a um deslocamento sendo 1. Inversão/Recíproca de Inversão e, 2.
longo, como consequência de rememorações Deslocamento curto/deslocamento longo. O que os
determinantes a pessoa em alguma época de sua une, a todos eles, é o “foco da atenção” da mente
vida. ou do pensamento. Inversão é quando a pessoa
está com a atenção voltada a si mesma, em seus
Emoções – é o tópico 4 da tabela da estutura de
pensamentos; recíproca de inversão é quando a
pensamento (EP). Refere-se às emoções ou senti-
atenção está voltada para o outro, para os pensa-
mentos quando o indivíduo expressa palavras
mentos ou história ou roteiro de outra pessoa. Este
como tristeza, alegria, medo, amor, ódio, paixão
par de espacialidade refere-se somente a pessoas;
etc, ou seja, dados afetivos. Sentimentos idealiza-
no outro par, deslocamento curto é quando a
dos ou não. Resultante de vivências, imaginação.
atenção está voltada aos sentidos no real e imedia-
Enraizamento – é o procedimento terapêutico que to; deslocamento longo é quando a atenção do
o filósofo clínico utiliza para dar ênfase a um pensamento viaja ao que está no passado ou no
aspecto ou circunstância ou evento ou momento da futuro e não no aqui/agora. Também são os deslo-
historicidade do partilhante quando este está camentos intelectivos do filósofo clínico e do parti-
contando sua história. Aprofundamento de um lhante. Ao filósofo clínico compete manejar
tema qualquer. Busca esclarecer, melhorar a com- adequadamente esse trânsito de sua espaciali-
preensão. Raramente é usado nas fases iniciais da dade, para interagir com a espacialidade do parti-
clínica, pelo risco que apresenta de se destacar lhante. É comum o filósofo clínico trabalhar na
algo que poderia passar como não determinante à perspectiva partilhante, ao encontrar seu lugar de
pessoa. Serve para conseguir mais informações preferência quanto à espacialidade, por exemplo: o
específicas sobre algo que seja importante segun- deslocamento longo.
do o assunto imediato ou último.
Esquema Resolutivo – é o submodo 5 da tabela.
Epistemologia – é o tópico 20 da estrutura de Refere-se ao movimento do pensamento a um
pensamento (EP) e o submodo 28 na tabela. esquema mental que a pessoa usa com objetivos
Refere-se à racionalidade, análise, conhecimento, de resolução entre aspectos positivos e negativos
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para uma decisão ou desfecho mental ou para localizar os tópicos significativos da pessoa e sua
manter o pensamento em atividade. Refere-se à relação subjetiva, com desdobramentos objetivos.
tomada de decisões. Uma tendência que a pessoa
apresenta de fazer escolhas, pesar prós e contras. Evolução do Assunto Imediato - como o assunto
Elencar aspectos positivos e negativos e tomar imediato, relatado no(s) primeiro(s) atendimento(s)
uma decisão a partir desses dados. vem modificando ao longo das sessões. Via de
regra, aquele que vai desaparecendo, no curso da
Esteticidade Bruta – é o submodo 18 da tabela. clínica, dando espaço para um acesso aprofunda-
Refere-se ao movimento que se chama de desafo- do dos estudos da estrutura de pensamento (EP)
go ou “vômito” existencial, como o choro, o grito, a do partilhante. Raras vezes se confunde com o
violência física ou verbal. Trata-se de uma expres- assunto último. Refere um movimento entre o
sividade em estado crítico, por onde a pessoa início da clínica e seu desenvolvimento.
necessita um desafogo, um caminho emergencial
para traduzir sua dor. Pode, por exemplo: gritar, Exames Categoriais – é a investigação inicial na
quebrar uma janela, agredir uma pessoa, socar filosofia clínica enquanto o partilhante narra seu
uma parede, machucar-se. assunto imediato. São cinco as categorias: Assun-
to Imediato/Último, Circunstância, Lugar, Tempo e
Esteticidade Seletiva – é o submodo 19 na tabela. Relação. É a localização existencial do partilhante.
Refere-se ao movimento existencial de mudança Onde viveu e vive seus dias. As coisas que acredi-
na expressão daquilo que a pessoa tinha em sua ta, seus medos, alegrias e tudo mais que for apare-
estrutura de pensamento (EP). Uma raiva ou dor cendo fenomenologicamente. Etapa fundamental
pode ser expressa em forma de arte ou poesia. É a do novo paradigma da filosofia clínica, de onde se
expressão artística por excelência. Nos espaços retira a matéria-prima para as etapas posteriores.
asilares (hospícios) é comum o desenho, a pintura,
a escultura, a dança, atuarem como coadjuvantes Experimentação – é o tópico 25 da estrutura de
nos tratamentos psiquiátricos. Talvez pudessem pensamento (EP) e refere-se ao experimento men-
ser emancipados à categoria de atores principais, tal/conceitual das hipóteses levantadas. Algo que
sob a batuta de um filósofo clínico. Diálogos inter e pode ocorrer como consequência da formulação
transdisciplinares. de hipóteses. Esse dado, quando significativo,
aparece na etapa da historicidade relatada pelo
Estrutura de Pensamento (EP) – é o eixo funda- partilhante. As possibilidades de ter em sua EP,
mental na terapêutica da filosofia clínica. A tabela esse dado como determinante, o qual poderá ser
da estrutura de pensamento (EP) contém 30 usado pelo filósofo clínico na etapa dos submodos.
tópicos. Resumidamente, é a maneira como estão
associados os sentimentos, os entendimentos, Expressividade – é o tópico 21 da estrutura de
dados éticos, epistemológicos, religiosos, etc, do pensamento (EP) e o submodo 31 na tabela. É o
indivíduo. É o modo como está existencialmente a quanto de si mesmo vai em direção ao outro, ou
pessoa. O mapa da mina. O chão de onde o filósofo seja, o quanto a pessoa mantém de si mesma na
clínico terá acesso a trama existencial da vida da interseção com os outros, a sociedade, consigo
pessoa. Um lugar de excelência que surge como mesma. Autenticidade. Refere-se à relação da
consequência dos exames categoriais. Ponto para pessoa com ela mesma e com o outro. Enquanto
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junto à estrutura de pensamento (EP) e por isso é algo mais que a epistemologia para se traduzir ou
necessário compreender esse todo que aparece revelar.
através de uma noção de conjunto e não isolada-
mente cada submodo ou os submodos separados Inversão – faz parte do tópico 14 da estrutura de
dos tópicos predominantes da EP da pessoa. pensamento (EP) (espacialidade intelectiva) e é o
Também como associação de submodos em busca submodo 7 da tabela. Refere-se ao movimento
de desconstrução, reconstrução, bem estar ao intelectivo e/ou de modo de ser que tem como foco
partilhante. Nem sempre somente favorável ao da atenção, de ações ou práticas voltadas para si
partilhante, algumas vezes pode ser necessário mesmo, em direção aos próprios tópicos ou inter-
alguma provocação, através de agendamentos esses ou pensamentos. Enquanto submodo
como informação dirigida, roteiro, busca despro- refere-se ao movimento existencial de estar focado
positada em meio ao que a pessoa acha que vai em ações ou práticas, primeiramente a partir de e
acontecer e não para onde está existencialmente para si mesmo. Movimento intelectivo que indica
se dirigindo. uma espécie de ensimesmar-se, voltar-se predo-
minantemente para si em relação ao outro, ao
Interseção de Estrutura de Pensamento – é o mundo. Fundamento para análise, reflexão,
tópico 28 da estrutura de pensamento (EP). programação, organização do filósofo clínico em
Também é a forma técnica que a filosofia clínica relação ao seu planejamento clínico, muitas vezes
usa para se referir às relações entre pessoas. na vertigem da hora-sessão. Não é necessaria-
Portanto, interseção de estrutura de pensamento é mente o individualismo ou o egoísmo de forma
a relação entre pessoas. Ela, fundamentalmente, pejorativa, mas a ação de estar “ensimesmado”
se dá entre o filósofo clínico e o partilhante. Há seja em uma atividade criadora, laboral, do pensa-
quatro tipos de qualidades de interseção na filoso- mento, etc.
fia clínica: a positiva, a negativa, a confusa e a
indeterminada. Pode ser entre pessoas, bairros, Lugar – é uma das categorias dos exames catego-
ruas, cidades, cultura. Também é possível identifi- riais. Refere-se à descrição dada pelo partilhante
car os tópicos na EP que viabilizam a proximidade de como se relaciona com os lugares externos ou
ou o distanciamento. como seu lugar interno é afetado ou não pelos
lugares externos que frequenta e interage. Como a
Intuição – é o submodo 23 da tabela. Refere-se, pessoa se sente onde se encontra. Pode ser em
originalmente, ao movimento do pensamento como relação a uma casa, trabalho, contexto social,
uma varredura instantânea da mente. Pode-se consigo mesma.
referir também aos dados fora do raciocínio
consciente ou lógico que alguns indivíduos Malha Intelectiva – é outro nome informal dado à
chamam de sexto sentido ou coisas do gênero. estrutura de pensamento (EP). Sinônimo de EP.
Como delimitar um conceito de intuição? Talvez Originalmente pensada por Lúcio Packter a partir
aproximações, indícios, rascunhos, suspeitas e, da rede de pescadores no sul de Santa Catarina.
ainda assim, teremos fragmentos instantâneos que
O que Acha de si Mesmo – é o tópico 2 da estru-
aparecem e desaparecem. Algo que escapa
tura de pensamento (EP). É uma expressão qualifi-
quando aparece num instante fugaz. Reivindica
cada ou adjetivada de si mesmo. Por exemplo, “Eu
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sou muito lento”, “Me acho muito esperto” etc. É um criança e não se considerar mãe, mesmo, social-
indicativo de auto referência. Quando determinante, mente ela tendo esse “papel”. Possibilidade de
reivindica uma leitura autogênica de seu funciona- uma pessoa ser mais de uma e isso não ser um
mento em relação aos demais tópicos principais. crime. Desenvoltura com que alguém exercita
diferentes papéis, às vezes num único dia. Exemp-
Padrão – faz parte do tópico 17 da estrutura de lo: pai, mãe, professor, amante, marido, esposa,
pensamento (EP) (padrão e armadilha conceitual) e motorista.
refere-se à tendência do sujeito ser existencial ou
conceitualmente repetitivo quando em relação a um Partilhante – é o nome que a filosofia clínica dá a
determinado contexto. quem faz terapia com um filósofo clínico. É aquele
que partilha sua história, que compartilha um
Padrão Autogênico – é a noção de conjunto que o espaço de clínica.
filósofo clínico tem da totalidade do que aparece de
predominante no processo terapêutico do partilhan- Percepcionar – é o submodo 17 da tabela. É o
te: exames categoriais + tópicos da estrutura de movimento da atenção do pensamento quando a
pensamento EP + submodos. É o movimento inter- pessoa percebe os detalhes de algo presente
no da EP, indicativo de adição de eventos na vida através da visão. Dar um foco intenso em algo bem
da pessoa. Possui ao menos dois sentidos: específico. Pode ser com fotos, imagens ou dados
interseção tópica da EP e a resultante dos eventos presenciais, uma flor, por exemplo. Também pode
da hora-sessão. Sem tipologias ou referências de ser nos outros sentidos como o paladar, a audição,
melhor ou pior. Respeito radical ao fenômeno da o tato ou o olfato. Refere-se ao dado sensorial, de
singularidade. onde retira subsídios para compor uma interseção
com a estrutura de pensamento EP do partilhante.
Paixão Dominante – é o tópico 12 da tabela da Utiliza de todos os meios ao seu alcance, tendo
estrutura de pensamento (EP). Refere-se à como referência a singularidade partilhante. Exem-
frequência com que uma ideia, um conceito, um plo: visão, tato, audição, paladar.
pensamento age na malha intelectiva. Tem a ver
com regularidade em um espaço de tempo e não Planejamento Clínico - Atividade realizada pelo
com intensidade. Paixão, neste tópico, não tem filósofo clínico durante as sessões, como aliado de
nada a ver com emoções, que é outro tópico. Tem a suas intervenções clínicas. O planejamento deve
ver com a qualidade de “afetar” a malha intelectiva. ser dinâmico, vivo, plástico, de acordo com a reali-
Também pode se referir à frequência de ações dade dos atendimentos de cada pessoa. Também
como ir à praia aos fins de semana, praticar a atividade organizativa antes das próximas
esportes às segundas, quartas e sextas etc. sessões a fim de pensar os próximos passos de
sua clínica, como a realização de dados divisórios,
Papel Existencial – é o tópico 22 da estrutura de de enraizamentos ou outras aplicações de submo-
pensamento (EP). Refere-se a um “personagem” dos de acordo com as demandas do partilhante.
em certo contexto. É o que a própria pessoa nomeia
a si mesma em certo papel existencial. É diferente Plasticidade – a noção de que a estrutura de
do “papel social”, ou seja, atribuído pelo contexto pensamento (EP) é maleável ou flexível e que os
social. Por exemplo, uma mulher pode gerar uma indivíduos podem, em potência, a partir de sua
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própria EP, modificarem seus modos de ser inter- dados divisórios e dos enraizamentos – quanto
nos e/ou externos. É a capacidade clínica funda- para trabalhar as demandas do partilhante como
mental ao filósofo clínico, para exercer a filosofia ajudá-lo em seu assunto último.
clínica. Quanto ao partilhante, se refere à possibili-
dade de trânsito entre os tópicos da sua EP, bem Procedimentos Emergenciais – quando o filósofo
assim a utilização dinâmica ou não de seus submo- clínico faz uso de submodos para lidar com
dos. Mobilidade. Flexibilidade. questões ou situações imediatas do partilhante. É
utilizado em casos de perda de controle, de soma-
Ponto Cego – é a limitação de compreensão sobre tizações, de possível perigo para a integridade da
algum assunto ou sobre si mesmo, no sentido de pessoa ou de quem está próximo dela.
que há circunstâncias ou relações que impedem a
percepção total ou abrangente delas. Como algo Raciocínio – é o tópico 10 da estrutura de pensa-
que impede a visão, audição, percepção, por ser mento (EP). Refere-se à ação mental expressa
um evento que ocorre com base na própria capaci- naquele momento. Coerência e objetividade são
dade (epistemológica) de enxergar ou sentir algo. suas características principais. Aqui pensamento e
discurso tem íntima relação. Facilita o entendimen-
Pré-juízos – é o tópico 5 da estrutura de pensa- to do que o partilhante diz e faz. Estrutura de forma
mento (EP). Refere-se às verdades subjetivas que coerente no discurso (estruturado) ou à ação
habitam os pensamentos da pessoa e que anteci- mental dispersa ou confusa (desestruturada).
pam a experiência. Isso é assim para ela, antes
mesmo de saber mais a respeito ou de vivenciar. Recíproca de Inversão – está dentro do tópico 14
São afirmações tais como “Quem lê mais, escreve da estrutura de pensamento (EP), fazendo par com
melhor”, “A vida é uma viagem onde entramos no a inversão. É também o submodo 8 da tabela.
meio do caminho” etc. Refere-se a pessoas e é o movimento da atenção
em direção ao outro, seja no pensamento seja na
Princípios de Verdade – é o tópico 26 da estrutura ação. Enquanto submodo refere-se ao movimento
de pensamento (EP) e o submodo 32 da tabela. existencial que passa a conjecturar as coisas do
São as verdades compartilhadas por um grupo ou ponto de existência da outra pessoa e age a partir
sociedade (2 já é “grupo”). Regras, práticas, disso. Pessoas que realizam ajudas comunitárias
rotinas, ideias, buscas comuns dentro de clubes, ou humanitárias, por exemplo. É o pressuposto
associações, famílias, clãs, grupos etc. Como fundamental ao ser filósofo clínico, ou seja, boro-
submodo, refere-se ao movimento existencial de godó para acolher, ouvir sem julgar, compreender,
associar-se ou procurar pessoas ou grupos que desdobrar-se em relação aos desdobramentos
partilhem as mesmas verdades subjetivas sejam existenciais do outro em terapia. Visitas ao mundo
emoções, como o mundo parece, pré-juízos, axio- como vontade e representação do outro.
logias etc.
Reconstrução – é o submodo 29 da tabela.
Procedimentos Clínicos – ações realizadas pelo Refere-se ao movimento intelectivo ou conceitual
filósofo clínico a partir do uso dos submodos. Os de resgatar lembranças que se perderam, refazer
procedimentos clínicos podem ser utilizados tanto caminhos tortuosos, para cicatrizar “feridas” ou
para obter mais informações – como no caso dos refazer agendamentos. Capacidade para refazer,
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seja desconstruindo ou reconstruindo, em etapas à recíproca de inversão. Por exemplo, "Era uma
do mesmo processo clínico. A reconstrução se dá vez...". Pode ser uma narrativa inventada, uma
em um âmbito maior do quebra-cabeça, não referência histórica, exemplos de outras pessoas
apenas em algumas peças. Pode ser fruto de um etc.
enraizamento.
Semiose (Dado de Semiose) – O signo ou sinal
Redução Fenomenológica (epoché) – faz parte que a pessoa utiliza para comunicar. É o que a
da fenomenologia enquanto postura do filósofo pessoa utiliza para dar sentido ao que quer comu-
clínico em relação ao partilhante. É o movimento nicar. Canal ou veículo por onde a pessoa se
interno do filósofo clínico de não deixar que seus expressa existencialmente. Por exemplo: beijo,
pensamentos, juízos, valores, visão de mundo, flores, carinho tátil íntimo, passeio, conversa, riso,
dogmas etc. interfiram na narrativa do partilhante estar junto etc. Está em íntima ligação com a
sobre suas representações de mundo. Faz parte da expressividade e significado.
postura de acolhimento que o filósofo clínico tem
que exercitar. Sensorial – faz parte do tópico 3 da estrutura de
pensamento (EP) que se chama sensorial e abstra-
Relação – é uma das categorias dos exames cate- to. Refere-se por onde o indivíduo mostra suas
goriais. Refere-se a toda interação ou relação que o representações, neste caso, prioritariamente
partilhante expresse em sua narrativa. Pode ser através de conceitos ou ideias que se referem aos
com coisas, pessoas, instituições, animais, lugares, dados dos sentidos como olfato, paladar, visão, tato
etc., ou, inclusive, consigo mesma. e audição. É a capacidade prioritária de sentir o
vento no rosto, a temperatura da água, de um café
Representação de Mundo – é a totalidade literal recém passado, o calor ou a frieza de um abraço.
do que parece pela narrativa do partilhante refe- Não é o que a pessoa diz, mas o que a pessoa sente
rente ao seu mundo existencial: lugar, tempo, efetivamente, tendo como referência sua vivência
relação, pessoas, etc. Não lida com “dados obje- efetiva, objetivada pela recordação ou no próprio
tivos da realidade” tal como ele é, mas como ele evento.
representa para si os fatos, acontecimentos, even-
tos, etc. Significado – é o tópico 16 da estrutura de pensam-
ento (EP). Refere-se às interpretações que o outro
Retroação – é o submodo 24 da tabela. Refere-se dá ao que ele vivencia. Também refere-se ao signifi-
ao movimento intelectivo de andar para trás. Refaz cado que a pessoa quer dar quando expressa algo.
o roteiro em marcha ré para reestruturar o raciocí- Como uma pessoa significa a vida, as relações, os
nio. Pode ser uma adição para trás. Tem uma força eventos ao seu redor ou remotos.
organizativa muito grande. Por exemplo, “Um pouco
antes de você chegar aqui, onde estava ou o que Singularidade (singular) – é o caráter que identifica
estava fazendo”? cada pessoa como irrepetível e única em toda sua
complexidade estrutural, modos de ser e circunstân-
Roteirizar – é o submodo 16 da tabela. Refere-se cias históricas. O indivíduo singular não pode ser
ao movimento narrativo, onde a pessoa conta as comparado ou medido por nenhum padrão externo a
coisas como uma história onde pode trazer o outro ele mesmo, por isso a filosofia clínica não usa
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tipologias, conceitos universais ou particulares para malha intelectiva do indivíduo e às quais ele
se referir ou compreender o outro. expressa por palavras, ações ou qualquer outra
expressividade. Pode ser uma ideia, imagem ou
Somaticidade - É uma intervenção clínica que verbo mental que a pessoa vivencia conceitual-
trabalha pela via sensorial (toques) os desloca- mente quando se expressa (palavra, som, desen-
mentos intelectivos como inversão e recíproca de ho, gesto, movimento, cheiro, etc.). É o voca-
inversão. Esse recurso permite explorar alternati- bulário com que o partilhante se utiliza para
vas de desconstrução de choques intelectivos e traduzir sua versão das coisas, eventos, historici-
outras possibilidades de reconstrução, através da dade. Tem intimidade com o contexto social onde a
estrutura de pensamento (EP) do corpo, utilizando pessoa vive seus dias e noites.
os submodos necessários para cada caso. Na
somaticidade básica os toques são oferecidos pelo Termos Unívoco e Equívoco – é o tópico 8 da
filósofo clínico em sintonia dialogada com o parti- estrutura de pensamento (EP). Acompanha o
lhante. Na avançada, são toques interativos, sob a conteúdo dos outros tópicos no sentido de evocar
orientação do filósofo clínico. Busca trabalhar a um significado ou sentido determinado da palavra
autogenia da EP intelectiva através da EP somáti- ou frase, portanto unívoco, ou seja, com um só
ca. sentido, o que facilita o entendimento de uma
expressão; ou de não evocar um significado ou
Submodos – a tabela tem 32 submodos. Em sentido determinado da palavra ou frase , portanto
conjunto, eles designam a maneira como informal- equívoco, ou seja, com vários sentidos possíveis,
mente a pessoa exercita ou efetiva aquilo que está o que pode dificultar o entendimento de uma
em sua estrutura de pensamento (EP). Em outro expressão. A univocidade ou equivocidade de um
sentido, os submodos também são procedimentos termo pode se dar além dos sentidos propostos
clínicos do filósofo clínico em direção à EP do por dicionários, pois podem ocorrer segundo os
partilhante, via construção compartilhada. São os jogos de linguagem, isto é, os contextos, a cultura
“remédios existenciais”. Podem, via de regra, ser ou as relações podem determinar a univocidade
encontrados na “farmácia” subjetiva do partilhante. de alguns termos. A palavra equívoco aqui não
Outras vezes, quando necessário, são elaborados sugere “erro”, mas pluralidade de sentidos ou
pelo filósofo clínico, de acordo com as necessi- significados, pois o partilhante pode usar mais de
dades da terapia. um sentido/significado para um mesmo termo ou
conceito. Por exemplo, quando um partilhante
Tempo – é uma das categorias dos exames cate- relata que vive em um “relacionamento tóxico”,
goriais. Refere-se à relação temporal que a pessoa nesta frase pode haver mais de um sentido ou
tem ou percebe, seja com o tempo externo do significado, portanto é importante saber qual é o
relógio, dos compromissos, dos anos (objetivo) significado ou significados e sentidos que o parti-
etc., seja com seu próprio tempo interno (subjetivo) lhante quer dizer com ela. O termo equívoco pode
em relação ao tempo externo. também ser a semiose da qual o partilhante
Termos Agendados no Intelecto (agendamento) normalmente expressa sua narrativa.
– agendamento é aquilo que ficou de influências na Termos Universal, Particular, Singular – é o
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Ilustração: Márcia Ribeiro Baroni
Revista Casa da Filosofia Clínica - Outono/24
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