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Esse Velho e Um Moço

Um moço entrou na sala. Vestido num sobretudo preto que casava bem
com o seu terno preto, que casava bem com o seu corpo em forma, que da
mesma forma casava bem com seu cabelo bem cortado e barba bem feita.
Esse moço de 20 anos era a antítese a minha pessoa, que já era calvo numa
roupa social amarrotada que não escondia em nada o meu sobrepeso. A vaga
de emprego já era desse moço, dava para sentir isso só da presença dele.
O moço se sentou e começou a mexer no relógio digital dele, parecia ser
o clima se eu não me engano, mas eu nunca soube mexer nessas porcarias
digitais. Bem, mas de uma coisa eu sabia: ele estava um tanto impaciente com
a espera da entrevista, mas era de um jeito sutil. Bem, para fazer o tempo, e
com sorte o meu medo, passar eu resolvi conversar um pouco com o moço em
minha frente. Dei um oi, que ele respondeu com um “Oi, meu velho.” Doeu um
pouquinho no ego.
Perguntei o porquê de ter vindo para a entrevista. Ele disse que sonhava
em obter poder e ser alguém grande, mudar o mundo. Eu só queria ter esse
emprego para sobreviver, já que era desempregado e haviam me rejeitado por
gente como ele. Ele, por indiferença eu acho, nem perguntou mas eu quis
adicionar isso mesmo assim. 5 minutos que pareceram horas se passaram.
Bem, um momento se passou enquanto eu esperava pela entrevista,
prevendo que o moço sonhador teria o emprego ate que o momento chegou
para a entrevista dele, apesar de eu chegar primeiro. Ele orgulhosamente se
levantou e foi para a sala da entrevista. Mas, após poucos minutos, ele foi
dispensado. Ele parecia confuso e irritado. Eu estava confuso e aliviado.
E foi assim que eu consegui meu emprego. Falando nesse moço, a ideia
de crescer e mudar o mundo não me parece nada ruim. Pois afinal, quem disse
que cachorro velho não pode aprender umas coisas novas?

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