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O impacto da comunicação dos enfermeiros no

acolhimento da criança e família num serviço de


urgência

Revisão Sistemática da Literatura

Adriana Silva
Cláudia Pinto
Dora Martins
Introdução
Acolher

A pessoa que acolhe A pessoa que é acolhida

Comunicação e apresentação do desconhecido

O acolhimento num serviço de urgência acontece frequentemente num ambiente de


tensão e em condições de saúde características, exigindo ao enfermeiro capacidade de
adaptação e profissionalismo de modo a estabelecer uma relação que valorize os aspetos
psicológicos e emocionais, sentimentos e expetativas da criança e família (Silva, 2010).
Os serviços de urgência são o primeiro nível de acolhimento de maior proximidade
das populações em situações de urgência e constituem um nível de abordagem e
resolução, desde as situações mais simples e mais comuns às mais complexas
(Ministério da Saúde, 2014).

As incertezas e os desafios para as crianças e famílias são constantes, pelo que as idas
ao serviço de urgência podem transformar-se em experiências de ansiedade e medo
(Hermann et al., 2019).
A criança necessita de respostas de acordo com as suas habilidades e perceções e,
consoante o estadio de desenvolvimento cognitivo, socioafetivo, físico e moral. Atender
a criança e família em situação de urgência exige do enfermeiro especificidade nos
cuidados que presta sendo que, a atitude do enfermeiro é decisiva para que a criança
e família se sintam seguras e confiantes (Locke et al., 2011).

O enfermeiro tem a responsabilidade de assegurar que todas as crianças recebam


cuidados de saúde com qualidade e que sejam envolvidas nos seus próprios cuidados
(UNICEF, 2009).
Num serviço de urgência a comunicação estabelecida pelos enfermeiros com a
criança e família é promotora de emoções positivas, isto é, favorece a tranquilidade, a
autoconfiança, o respeito, a individualidade, a ética, a compreensão e a empatia pela
criança e família, aspetos essenciais para a parceria de cuidados (Coelho, 2014).

O paradigma de cuidados de enfermagem atual exige que os enfermeiros


demonstrem competências avançadas na resolução de conflitos, na educação para a
mudança e na promoção de emoções positivas nos cuidados (Apker et al., 2006).
Metodologia
• criança, família, enfermeiros
P

“Qual o impacto da comunicação • comunicação dos enfermeiros


I
dos enfermeiros no acolhimento
da criança e família num serviço
• serviço de urgência
de urgência?” C

• impacto da comunicação dos


enfermeiros
O
Artigos científicos identificados nas bases de dados

Web of Science (n= 344) e Scopus (n=350)

Identificação 694 artigos científicos

Keywords

nurs* AND (child* OR family) AND communication AND


emergency service

Artigos excluídos por estarem duplicados


(n= 83)
Seleção

Artigos excluídos após leitura do título e


palavras chave (n=583)

Artigos excluídos após leitura do resumo


(n=18)
Elegibilidade

Artigos científicos completos para avaliar a elegibilidade Artigos excluídos após leitura integral
(n=10)
Critérios exclusão:

 2 artigos não dirigidos para idade


pediátrica
 2 artigos por não envolver a comunicação
 3 artigos por não se encontrarem em
Inclusão

língua portuguesa, inglesa ou espanhola

Artigos incluídos para a revisão sistemática da literatura (n=3) (n=7)


Score de qualidade
Título/Autor/Ano Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7 Q8
metodológica JBI

Artigo 1 - Estudo Quantitativo


Impact of patient and family communication in a
pediatric emergency department on likelihood to S S N S N N S S 63%
recommend
Johnson, M. B. et al., 2012

Tabela 1 - Resultados da avaliação da qualidade metodológica do estudo quantitativo (JBI, 2020). S - Sim; N - Não; NC - Não claro.

Score de qualidade
Título/Autor/Ano Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7 Q8 Q9 Q10
metodológica JBI

Artigo 2 - Estudo Qualitativo


Interactions Between Children and Pediatric Nurses at
S NC S S S N N S S S 75%
the Emergency Department: A Swedish Interview Study
Grahn, M. et al., 2016

Artigo 3 - Estudo Qualitativo


The experiences and meanings of nurses´ smiles to
S NC S S S N N S S S 75%
patients in the emergency departement
Fitriana, V. et al., 2021

Tabela 2 - Resultados da avaliação da qualidade metodológica dos estudos qualitativos (JBI, 2020). S - Sim; N - Não; NC - Não claro.
Johnson, M. B. et al., 2012

Impact of patient and family communication in a pediatric emergency department on


likelihood to recommend

Pediatric Emergency Care

Avaliar o impacto
Estudo n= 3135 da comunicação
quantitativo Todas as crianças dos enfermeiros
descritivo e suas famílias com a criança e
atendidas entre família e a
Questionário
novembro de probabilidade de
Análise 2006 e fevereiro recomendarem
retrospetiva de 2007 este serviço de
urgência
Grahn, M. et al., 2016

Interactions Between Children and Pediatric Nurses at the Emergency Department: A Swedish
Interview Study

Journal of Pediatric Nursing

n= 7
Descrever os
Estudo qualitativo Enfermeiros com métodos dos
Entrevistas experiência em enfermeiros na
semiestruturadas serviço de interação com
urgência crianças de 3 a 6
Análise de pediátrica. 6 dos anos num serviço
conteúdo participantes são de urgência
EESIP
Fitriana, V. et al., 2021

The experiences and meanings of nurses´ smiles to patients in the emergency departement

Nurse Media Journal of Nursing

n= 13
Enfermeiros com Explorar as
Estudo qualitativo experiências e os
mais de 3 anos de
Entrevistas experiência significados do
semiestruturadas profissional e que sorriso dos
participaram em enfermeiros no
Abordagem
treinos sobre serviço de
fenomenológica
comunicação urgência
eficaz
Resultados
Impact of patient and family communication in a pediatric
emergency department on likelihood to recommend

Johnson, M. B. et al., 2012

Forte correlação entre a comunicação do enfermeiro e a satisfação da criança e


família e a probabilidade de recomendarem este serviço de urgência

A variável com maior impacto na satisfação da criança e família, com uma


percentagem de 94,5% foi “manter a criança e família informadas”
ao longo dos procedimentos e exames realizados no serviço de urgência

A comunicação dos enfermeiros sobre simples atualizações dos tempos


de espera e atrasos, tem um impacto favorável e significativo no grau de
satisfação da criança e família

A comunicação com as crianças e suas famílias melhora eficientemente as


perceções sobre os seus cuidados
Interactions Between Children and Pediatric Nurses at the
Emergency Department: A Swedish Interview Study

Grahn, M. et al., 2016

Um bom encontro e uma boa comunicação entre o enfermeiro, criança e família


tem por base o profissionalismo, o conhecimento e a experiência do enfermeiro

É da competência do enfermeiro adaptar-se às necessidades individuais da


criança, adequando o ambiente e estimulando a participação da criança no seu
cuidado

Comunicar e ouvir as propostas das crianças e famílias desenvolvem formas


eficazes de lidar com a dor e desconforto nos procedimentos invasivos

São barreiras à comunicação e ao acolhimento, o medo infantil, o ambiente


desconhecido, as restrições do tempo e a falta de recursos
The experiences and meanings of nurses´ smiles to
patients in the emergency departement

Fitriana, V. et al., 2021

Os sorrisos e o humor como forma de comunicação não-verbal são vistos


como componente essencial para minimizar o medo e a
ansiedade da criança e família

Na comunicação o sorriso é a expressão facial que aproxima o ser humano e cria


boas relações interpessoais, empatia, aceitação e compreensão mútua

Os sorrisos são uma forma de comunicação não-verbal essenciais nos


serviços de urgência pois permitem reduzir os stressores entre
criança, família e enfermeiro. O sorriso é capaz de trazer felicidade e conforto

Existem barreiras que impedem o enfermeiro de sorrir tais como, a sobrecarga


de trabalho, o cansaço, os recursos humanos limitados e os problemas pessoais
inerentes ao enfermeiro
Discussão/Conclusão
A evidência científica…

❑A comunicação dos enfermeiros é um fator determinante no acolhimento da criança e


família em contexto de urgência.

❑É essencial manter a criança e família informadas, valorizar a escuta ativa e a comunicação


não-verbal, envolver a criança nos cuidados e promover a parceria de cuidados.

❑O profissionalismo, o conhecimento e a experiência do enfermeiro são consideradas variáveis


que regulam a qualidade da interação com a criança e família.

❑O serviço de urgência é um contexto complexo e desafiante em que o enfermeiro deve


utilizar uma comunicação eficaz de forma a garantir um ambiente acolhedor e seguro,
transmissor de confiança para a criança e família.
❑As atitudes, os comportamentos e os sorrisos dos enfermeiros são partes integrantes no
processo de comunicação facilitador de uma relação de confiança e promotora de um
cuidado humanizado.

❑A família deve ser considerada parte integrante do cuidado à criança. A parceria de cuidados
é uma responsabilidade partilhada e negociada entre todos os intervenientes no processo de
cuidados.

❑O estilo de parentalidade também tem impacto no processo de acolhimento. Pais


superprotetores expressam os seus sentimentos de medo e ansiedade, já um estilo parental
persuasivo e tranquilizador será facilitador para manter uma boa comunicação com a
criança.
❑As barreiras à comunicação não são suficientemente valorizadas na prática diária dos
cuidados de enfermagem.

❑A falta de recursos humanos, a falta de formação na área, a estrutura dos serviços, as


tradições dos enfermeiros e o método de trabalho direcionado para a tarefa, com
predomínio do modelo biomédico, podem ser verdadeiros entraves à comunicação e
traduzir-se num impacto negativo no acolhimento à criança e família em contexto de
urgência.

❑Como limitações a esta RSL destaca-se o facto de não existir evidência científica que nos
permita conhecer a realidade dos serviços de urgência em Portugal, uma vez que só
encontramos artigos realizados no estrangeiro.
“pensar o cuidado à criança e sua família, obriga a pensar em conceitos
de diálogo, do inter-humano, do encontro, do estar-com e fazer-com, a
fim de viabilizar uma vida com mais qualidade”

(Mendes, 2013).
Referências Bibliográficas
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Paulo: Cultrix.
Obrigada pela vossa atenção

Adriana Silva | Cláudia Pinto | Dora Martins

adriportilho92@hotmail.com | lp.claudia87@hotmail.com | dora.martins82@gmail.com

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